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Autor: Prof. Tércio Martins Colaboradores: Prof. Thiago Macrini Profa. Marília Tavares Coutinho da Costa Patrão Terapias Capilares Professor conteudista: Tércio Martins É farmacêutico com modalidade em Indústria pela Universidade Federal do Ceará (UFC), além de especialista em Produção e Controle de Medicamentos, mestre em Produção e Controle de Medicamentos na área de Farmacotécnica e doutor em Produção e Controle de Medicamentos na área de Cosmetologia, títulos esses obtidos pela Universidade de São Paulo (USP). Também faz parte do grupo de pesquisa de Investigação em Farmacognosia e Medicina Tradicional da Universidade Nacional Mayor de San Marcos (Lima, Peru) como investigador adjunto, analisando o uso de produtos naturais da Amazônia peruana com potencial atividade antioxidante em cosméticos. Publicou diversos artigos em revistas nacionais e internacionais, além de ter feito inúmeras apresentações em Congressos. Possui experiência na área acadêmica superior como orientador de pesquisas e professor dos cursos de Farmácia, Nutrição, Estética e Cosmética, atuando também na área acadêmica de pós-graduação. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) M386t Martins, Tércio. Terapias Capilares / Tércio Martins. – São Paulo: Editora Sol, 2021. 196 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Cabelo. 2. Cosmético. 3. Tratamento. I. Título. CDU 687.55 U512.37 – 21 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcello Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Talita Lo Ré Jaci Albuquerque Sumário Terapias Capilares APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 INTRODUÇÃO À ESTÉTICA CAPILAR ......................................................................................................... 11 1.1 O cabelo nas civilizações antigas ................................................................................................... 11 1.2 A importância dos cabelos ............................................................................................................... 14 1.3 Tricologia.................................................................................................................................................. 16 1.4 Anatomia e fisiologia do couro cabeludo .................................................................................. 17 1.5 Anatomia e fisiologia da unidade pilossebácea ....................................................................... 20 1.5.1 Bulbo ............................................................................................................................................................ 22 1.5.2 Bainha dos pelos ..................................................................................................................................... 24 1.6 Embriologia, estrutura do folículo piloso e da haste do pelo ............................................ 24 2 CARACTERÍSTICAS DA HASTE DO PELO .................................................................................................. 25 2.1 Componentes estruturais de pelo e cabelo ............................................................................... 25 2.1.1 Cutícula ....................................................................................................................................................... 26 2.1.2 Complexo da membrana celular (CMC) ......................................................................................... 28 2.1.3 Córtex .......................................................................................................................................................... 28 2.1.4 Medula ........................................................................................................................................................ 30 2.2 Ciclo de crescimento dos cabelos .................................................................................................. 31 2.2.1 Fase anágena ............................................................................................................................................ 31 2.2.2 Fase catágena ........................................................................................................................................... 32 2.2.3 Fase telógena ............................................................................................................................................ 32 2.2.4 Fases exógena e quenógena ............................................................................................................. 33 2.3 Tipos de pelo e cabelo ........................................................................................................................ 33 2.4 Composição química de pelo e cabelo: melanina, cor de pelo e de cabelo ................. 34 Unidade II 3 PELOS ................................................................................................................................................................... 44 3.1 Depilação e epilação ........................................................................................................................... 45 3.2 Técnicas de depilação e epilação e cuidados ............................................................................ 46 3.2.1 Uso de ceras (quente e fria) ................................................................................................................ 46 3.2.2 Lâmina ......................................................................................................................................................... 48 3.2.3 Linha (ou fio) ............................................................................................................................................ 49 3.2.4 Pinça ............................................................................................................................................................. 49 3.3 Técnicas de epilação e cuidados..................................................................................................... 50 3.3.1 Eletrólise ..................................................................................................................................................... 50 3.3.2 Laser ............................................................................................................................................................. 50 3.3.3 Luz pulsada (IPL) ...................................................................................................................................... 58 4 CABELOS .............................................................................................................................................................60 4.1 Tipos de cabelos e diferenças raciais ............................................................................................ 60 4.1.1 Cabelo afro-étnico ................................................................................................................................. 61 4.1.2 Cabelo caucasiano .................................................................................................................................. 62 4.1.3 Cabelo oriental ......................................................................................................................................... 63 4.2 Fatores que interferem no crescimento e na queda do cabelo ......................................... 65 4.2.1 Deficiência nutricional.......................................................................................................................... 65 4.2.2 Alterações hormonais ........................................................................................................................... 66 4.2.3 Genética ...................................................................................................................................................... 67 4.2.4 Oleosidade excessiva ............................................................................................................................ 68 4.2.5 Substâncias químicas e medicamentosas ..................................................................................... 68 4.2.6 Questões climáticas ............................................................................................................................... 68 4.2.7 Envelhecimento ....................................................................................................................................... 68 4.3 Alterações do couro cabeludo e da haste capilar ................................................................... 69 4.3.1 Alterações na haste do cabelo ........................................................................................................... 69 4.3.2 Alterações no couro cabeludo ........................................................................................................... 75 4.4 FICHA DE ANAMNESE COM ESPECIFICAÇÕES CAPILARES ................................................... 91 4.4.1 Análise da haste capilar ....................................................................................................................... 94 4.4.2 Técnicas de higienização capilar ..................................................................................................... 98 Unidade III 5 COLORIMETRIA ...............................................................................................................................................112 5.1 História da coloração ........................................................................................................................112 5.2 Tipos de pigmentos ............................................................................................................................114 5.2.1 Pigmentos naturais .............................................................................................................................. 114 5.2.2 Pigmentos sintéticos ...........................................................................................................................115 5.2.3 Pigmentos metálicos ...........................................................................................................................115 5.3 Sistema de coloração ........................................................................................................................115 5.3.1 Coloração oxidativa ............................................................................................................................. 115 5.3.2 Coloração não oxidativa ................................................................................................................... 117 5.4 Tipos de coloração quanto ao tempo de permanência e sua leitura ............................117 5.4.1 Tinturas temporárias ........................................................................................................................... 117 5.4.2 Tinturas semipermanentes ................................................................................................................ 119 5.4.3 Tinturas permanentes ........................................................................................................................ 120 5.5 Descolorantes .......................................................................................................................................124 5.6 Decapagem ...........................................................................................................................................126 6 COSMÉTICOS QUE ALTERAM A FORMA DOS CABELOS ..................................................................127 6.1 Alisantes temporários ou térmicos .............................................................................................128 6.2 Alisantes definitivos ..........................................................................................................................128 6.3 Classificação dos ativos alisantes definitivos..........................................................................130 6.3.1 Alisantes ácidos (ou redutores) ...................................................................................................... 130 6.3.2 Alisantes alcalinos (ou oxidantes) ................................................................................................. 136 Unidade IV 7 VISAGISMO ......................................................................................................................................................143 7.1 História do visagismo .......................................................................................................................143 7.2 Aplicações ..............................................................................................................................................145 7.2.1 Visagismo e cabelo .............................................................................................................................. 148 7.2.2 Visagismo e cor dos cabelos ............................................................................................................ 153 7.2.3 Maquiagem e visagismo ................................................................................................................... 153 7.2.4 Sobrancelhas e visagismo ................................................................................................................. 158 7.3 Significados e temperamentos .....................................................................................................159 7.3.1 Temperamento colérico ..................................................................................................................... 159 7.3.2 Temperamento sanguíneo ................................................................................................................ 159 7.3.3 Temperamento melancólico ............................................................................................................ 159 7.3.4 Temperamento fleumático ............................................................................................................... 160 8 TERAPIAS CAPILARES PARA HIDRATAÇÃO, NUTRIÇÃO E ALOPECIA .........................................161 8.1 Tratamentos cosméticos ..................................................................................................................161 8.1.1 Hidratação .............................................................................................................................................. 162 8.1.2 Reestruturação e reconstrução ......................................................................................................164 8.1.3 Nutrição .................................................................................................................................................. 165 8.1.4 Argiloterapia capilar ........................................................................................................................... 166 8.1.5 Óleos essenciais .................................................................................................................................... 168 8.2 Tratamentos eletroterápicos ..........................................................................................................170 8.2.1 Alta frequência .....................................................................................................................................170 8.2.2 Laser (light amplification stimulation emission radiation) ..................................................171 8.3 Massagens capilares (couro cabeludo) ......................................................................................174 8.4 PROTOCOLOS ........................................................................................................................................175 8.4.1 Protocolos para tratamentos capilares ....................................................................................... 176 9 APRESENTAÇÃO A presente disciplina tem como objetivo fornecer ao aluno conhecimentos relevantes sobre os cabelos e o couro cabeludo, além dos tratamentos que podem ser aplicados pelos profissionais da área. De forma mais específica, a disciplina pretende instruir sobre depilação e tratamentos capilares, identificar a anatomia e a fisiologia de pelo e cabelo, abordar os diferentes tipos de cabelo e sua composição, além de apresentar as mais modernas técnicas de depilação e tratamentos capilares para diversos fins (hidratação, nutrição e revitalização), proporcionando o reconhecimento de patologias e o desenvolvimento de protocolos capilares específicos para cada caso que venha a surgir. O profissional pode orientar tratamentos capilares e alterações de hábitos que podem promover melhoras nas condições dos cabelos e do couro cabeludo. O estudo dos cabelos em nossa área, assim como de tratamentos preventivos e relacionados a alterações da fibra e do couro cabeludo, tem crescido e se desenvolvido com o passar dos anos, dando origem à disciplina da tricologia. Seu desenvolvimento, aliás, deve-se em grande parte à preocupação, de homens e mulheres, com os cuidados com os cabelos. A tricologia é a ciência que estuda os cabelos possibilitando o entendimento de patologias e problemas relacionados com os fios, utilizando desde cosméticos até tratamentos envolvendo equipamentos modernos, como os eletroterápicos, a fim de minimizar ou até mesmo erradicar as patologias e os danos causados por substâncias externas. INTRODUÇÃO Historicamente, os cabelos sempre tiveram um significado importante para a condição social, o poder e mesmo para a personalidade de cada indivíduo (podendo ser considerado um aliado na diferenciação entre cada um de nós, no ato da conquista e um adorno da estrutura do rosto). Os gregos ofertavam os seus cabelos como forma de conseguir o que se desejava, como no caso de Berenice, que cortou os cabelos e os trocou pela vida de Ptolomeu, homem que amava e que estava na guerra. Vale lembrar que, para os gregos, os cabelos estavam relacionados a um padrão de beleza. No Egito, os cabelos (ou sua substituição por perucas) correspondiam a uma forma de diferenciação social. Já para os muçulmanos, a presença de uma mecha de cabelo no topo da cabeça era a forma de Maomé conduzi-los ao paraíso. Na Idade Média, os cabelos também estavam relacionados com a segregação das classes, como no caso do rei Luiz XIV, também chamado Rei Sol, que utilizava rotineiramente uma peruca, ao contrário de seus vassalos, a quem o uso era proibido e, por isso, acabavam demonstrando os cabelos descuidados. Com o passar dos anos, os cabelos foram tomando formas e cores diferentes, no entanto, ainda sendo considerados uma forma de segregação social, ainda que os cuidados cosméticos tenham se popularizado. 10 Com a modernidade, surgiu a tricologia, a ciência que estuda os cabelos e o couro cabeludo, suas patologias e afecções, bem como seus tratamentos e sua cura. Com a importância dada aos cabelos por grande parte da população mundial, as fibras capilares tornaram-se foco de estudos que tentavam identificar a constituição anatômica, fisiológica e química da fibra capilar. Cientificamente, o cabelo é considerado como uma haste fibrosa e formada por células sem vida, onde o principal componente é a queratina, substância produzida pelos queratinócitos. Quanto à anatomia, sabe-se que a constituição da fibra é composta de quatro estruturas distintas: cutícula, complexo da membrana celular (CMC), córtex e medula. O desenvolvimento, o crescimento e a pigmentação dos fios estão relacionados com o folículo pilossebáceo, unidade constituída por bulbo, glândulas sebáceas e músculo eretor. Já o desenvolvimento do ciclo do cabelo é responsabilidade das células da zona de Bulge, localizada na região abaixo da raiz. Esse ciclo integra três fases principais: anágena, catágena e telógena. A estrutura química do cabelo tem como base elementos como carbono, oxigênio, nitrogênio, hidrogênio e enxofre. Quanto à estrutura química, temos a proteína como principal substância, sendo a queratina o principal componente, além da melanina, a responsável pela pigmentação. A forma dos cabelos é determinada pela presença de ligações químicas, e como as pontes de hidrogênio e as ligações de enxofre, também são conhecidas como pontes dissulfídicas e pontes dissulfeto. A fim de abordar todos esses temas, o material foi dividido em quatro partes. Inicialmente, fazemos uma introdução à estética capilar, destacando a importância do cabelo ao longo da história da humanidade, as características do cabelo em termos de anatomia e fisiologia dos fios, além de observar com mais detalhes as áreas que compõem os fios, os ciclos de crescimento, os tipos de cabelos e sua composição química. Na sequência, são destacadas questões relacionadas ao pelo e a sua retirada (como as técnicas de depilação e epilação), além de alterações envolvidas nos diversos processos de desenvolvimento e crescimento dos cabelos. Abordam-se ainda a importância da ficha de anamnese e questões relacionadas a higienização e finalização dos fios capilares. Posteriormente, são analisados alguns tipos de química que podem ser aplicados nos fios, como a calorimetria, tipos de pigmentos e sistemas de pigmentação, agentes capazes de alterar, temporária ou definitivamente, a estrutura dos fios e a relação do visagismo como o cabelo. Por fim, apresentamos alguns tratamentos e protocolos capilares envolvendo o uso de cosméticos, argilas, óleos essenciais, equipamentos eletroterápicos e massagem capilar. 11 TERAPIAS CAPILARES Unidade I 1 INTRODUÇÃO À ESTÉTICA CAPILAR 1.1 O cabelo nas civilizações antigas De uma forma geral, o conceito de beleza foi se modificando com o passar dos tempos, até chegar aos moldes modernos. As indumentárias de adorno dos cabelos, como pentes e enfeites, e as maquiagens estavam e continuam diretamente relacionadas ao estilo de vida, ao comportamento e a indicações específicas, como forma de chamar a atenção para determinadas características naturais no intuito de exaltar a beleza. Historicamente, o cabelo sempre esteve envolvido com as características de cada período, mudando conforme as mudanças do cotidiano e do comportamento pessoal de cada época. Assim, cortar, pentear, pintar e moldar os cabelos são maneiras de determinar a individualidade de cada ser, podendo levar de uma imagem clássica a uma imagem radical. Dessa maneira, o cabelo pode ser considerado uma forma de representação de um período histórico, designando conceitos de ousadia, juventude, liberdade, sedução e poder,tornando-se uma marca. Durante toda a história das mais diversas civilizações, o cabelo apresentou muitos estágios e significados, estando mesmo presente em importantes rituais de povos primitivos, como descrito em alguns relatos antropológicos. O cabelo também esteve associado a conceitos de força, poder e atração física, algo que pode ser observado na famosa história bíblica de Sansão. Observação Sansão foi um juiz do povo de Israel durante 20 anos e lutou contra seus inimigos, os filisteus. Entre outros fatores, ele se valia da força de seu cabelo, feito de sete tranças e que nunca tinha sido cortado (isso em razão de uma promessa feita a Deus). No contexto religioso, o cabelo pode apresentar dois significados. Um deles está relacionado ao cabelo cortado ou raspado, que pode estar relacionado ao celibato e à castidade, caso de monges budistas e de alguns cristãos. O segundo significado está relacionado ao sacrifício: sabe-se que o cabelo era oferecido aos deuses em religiões da Antiguidade. 12 Unidade I Figura 1 – Monges budistas Disponível em: https://bit.ly/3h4qIqf. Acesso em: 5 maio 2021. Para os hindus, o uso dos cabelos emaranhados e não cortados era um meio de se afastar das preocupações mundanas. Por outro lado, o cabelo longo pode ser uma exigência para algumas religiões. Outra forma da representatividade do cabelo na sociedade, que já foi e ainda é praticada, é o corte como punição. Algumas vezes, pode estar relacionada à perda da honra, como no caso das mulheres japonesas adúlteras, que têm o cabelo raspado. A mesma forma de punição foi utilizada no período da Segunda Guerra Mundial, quando mulheres se envolviam com soldados do exército de ocupação. Em civilizações antigas, o cabelo era uma forma representativa fundamental da personalidade humana, estando relacionado à beleza, ao fascínio, à sedução e até mesmo ao poder e à força, sendo considerado um elemento de elevado valor simbólico. No Egito antigo, o cabelo bem tratado era uma característica do povo, que possuía uma quantidade razoável de objetos empregados nos cuidados capilares, como escovas, tesouras e loções de tratamento. O valor de tais objetos era tão alto que os produtos eram guardados em caixas decoradas com pedras preciosas. Entretanto, com o desenvolvimento e as mudanças na sociedade egípcia, a partir de 3000 a.C., passaram a ser considerados sinais de nobreza as cabeças e os corpos raspados e lisos, utilizando-se perucas confeccionadas com cabelo humano ou, ainda, com lã de carneiro (DAL’PIZZOL; PSCHEIDT, s.d.). Ainda na sociedade egípcia, os homens utilizavam barbas postiças, e a cor preta das perucas era obtida pelo uso de uma tintura azul-escura, e a hena, que era obtida de folhas da alfena egípcia, promovia um tom vermelho-alaranjado aos cabelos e às unhas. As pessoas que não pertenciam à nobreza possuíam cabelos com cortes retos e de comprimento bastante variável, que iam desde a altura do queixo até abaixo dos ombros, no entanto, o mais comum era a presença da franja (DAL’PIZZOL; PSCHEIDT, s.d.) Na Grécia antiga, surgiram os primeiros salões de barbeiro, onde aconteciam conversas entre filósofos, escritores, poetas e políticos sobre vários temas, como política, esportes e eventos sociais. Durante as conversas, os gregos eram barbeados, faziam ondas nos cabelos, cuidavam das mãos e dos pés, além de receberem massagem (CARDOSO, 2020). Os cabelos dos gregos, espessos e escuros, eram usados na forma longa e com ondas, já as mulheres usavam os cabelos presos sob a forma de rabo de cavalo. 13 TERAPIAS CAPILARES Para dar brilho aos cabelos, lançava-se mão de produtos cosméticos, óleos, pomadas, graxas e loções, além de perfumes que agregavam odor agradável. Cabelos claros e loiros não eram comuns entre os gregos, no entanto, eram bastante desejados e admirados por homens e mulheres, que tentavam desvendar a forma de se chegar a colorações mais claras usando infusões de flores amarelas. Até o reinado de Alexandre, o Grande, era muito comum homens utilizarem barbas que poderiam ser verdadeiras ou falsas. Na Roma antiga, os barbeiros exerciam suas funções em mercados e em casas de banhos, mantendo a função social como na Grécia antiga. Diversos tratamentos eram utilizados nos cabelos, tal qual o uso de fórmulas que tratavam e evitavam a queda e o embranquecimento dos fios, além do uso do ferro quente para obter um formato ondulado nos cabelos e nas barbas. Os modelos masculinos mais comuns eram os cabelos curtos, alinhados e organizados para frente, caindo sobre as orelhas e com a presença de ondas. Para as mulheres, os cabelos eram mais elaborados, como o modelo flavianus (emaranhado de cacho que formava uma tiara acomodando-se num coque apertado), além de ser comum a utilização de apliques, tranças (também sob a forma de apliques) ou o cabelo preso com uma fita na cor vermelha. Para demonstrar as diferenças sociais e hierárquicas, prisioneiros, escravos e traidores tinham a cabeça raspada. Em tempos antigos, na China e no Japão, os cabelos tinham o formato de boneco, conhecido como hamizuta, em que os cabelos eram divididos ao meio, amarrando nas laterais da cabeça, acima de cada orelha, em um formato de oito. Entre os períodos Nara e Muromacho, foi adotado o uso do eboshi (tipo de chapéu indicativo da hierarquia, impedindo a visualização da forma do cabelo). Os samurais raspavam o cabelo do topo da cabeça para evitar a umidade e o calor excessivos pelo uso do elmo, uma espécie de capacete característico que protegia o crânio e o pescoço de ataques de flechas e espadas (DAL’PIZZOL; PSCHEIDT, s.d.). Figura 2 – Samurai utilizando o eboshi Disponível em: https://bit.ly/3ukM3Q8. Acesso em: 5 maio 2021. 14 Unidade I Figura 3 – Eboshi Disponível em: https://bit.ly/3h0tLQj. Acesso em: 5 maio 2021. 1.2 A importância dos cabelos Todos os seres humanos apresentam valores e características estéticas e morais, valores e características que são influenciados pela cultura em que vivem; com os cabelos não é diferente. Em todos os períodos e em todas as culturas, os cabelos sempre foram um importante ornamento, além de estarem atrelados a atributos sexuais e arma de sedução. O uso dos termos pelo e cabelos muitas vezes pode gerar dúvidas, no entanto, podem ser utilizados como sinônimos por não apresentarem diferenças químicas e anatômicas. De acordo com dicionários, cabelo é definido como a junção de pelos na cabeça dos humanos, enquanto os pelos são definidos como filamentos da pele, ricos em queratina e com a capacidade de se desenvolver no corpo, com destaque para os mamíferos. A constituição básica de ambos é caracterizada pela queratina e são produzidos por folículos pilosos distribuídos por diversas partes do corpo. No entanto, as diferenças entre eles estão na espessura (os cabelos possuem espessura menor que a dos pelos) e na forma de crescimento (os pelos crescem de forma sincronizada, enquanto uma fibra do cabelo cresce de forma independente em relação às outras). Os cabelos podem ser apresentados das mais diversas formas: curtos, longos, de coloração natural ou artificial, com cortes tradicionais, mais modernos e até radicais, sendo fundamentais para a imagem que se deseja transmitir. Assim, a perda dos cabelos pode atingir de forma bastante representativa a autoestima de todos, independentemente do sexo, no entanto, para as mulheres, a perda pode ser mais traumática do que para os homens. 15 TERAPIAS CAPILARES Quanto às alterações emocionais decorrentes das alterações e perdas capilares, podemos citar: • medo de ficar calvo; • desejo em fazer algo para aumentar a quantidade de cabelos; • preocupação com o que as pessoas irão pensar sobre o que está acontecendo com os cabelos; • preocupação com as áreas próximas da testa, conhecidas como entradas; • pensamentos repetitivos em razão da queda dos cabelos; • acontecimento repetitivo de o cabelo não apresentar as características desejadas (o conhecido bad hair day);• desgosto e revolta com a imagem dos cabelos; • sensibilidade a comentários relacionados aos cabelos; • desejo de cortar o cabelo muito curto ou, ainda, de raspar a cabeça; • sentimento de vergonha pela pequena quantidade de cabelos; • insatisfação constante com a forma, quantidade e características dos cabelos; • vontade de fazer transplantes capilares; • baixa autoestima; • preocupação em perder o parceiro pelas características dos cabelos (ou ausência desses); • inseguranças sociais e profissionais; • depressão e ansiedade pela perda dos cabelos. Quanto às alterações comportamentais decorrentes das alterações e perdas capilares, podemos citar: • mudança de penteado; • apresentar os cabelos sempre presos; • utilização de cosméticos ou adereços que possam promover uma ideia de cabelos com maior volume; • abandono do uso de produtos cosméticos capilares; • contagem constante da quantidade de fios que caíram; 16 Unidade I • menor frequência na lavagem dos cabelos; • retirada total dos cabelos; • evitamento da visualização dos cabelos no espelho; • compulsão de olhar os cabelos; • evitar tocar nos cabelos por medo de caírem; • uso de adereços como chapéus, lenços, toucas e bonés para disfarçar a quantidade de fios; • uso de apliques ou perucas para tentar disfarçar e/ou esconder os cabelos (ou a ausência desses); • isolamento pela perda dos cabelos. Observação Questões como estresse e desequilíbrio emocional podem ser fatores importantes no desequilíbrio hormonal, que, por sua vez, promove um processo inflamatório e, consequentemente, influencia na queda dos fios. 1.3 Tricologia Definida como a ciência que estuda os cabelos e o couro cabeludo, além das disfunções, das patologias e dos tratamentos relacionados. Saiba mais Você pode se aprofundar mais no assunto por meio da leitura do artigo indicado a seguir. PASTANA, C. C; SOUZA, F. G. L. de. Tricologia e terapia capilar: uma abordagem necessária enquanto formação profissional. [s.d.]. (Pós-graduação em Tricologia e Terapia Capilar) – Instituto de Ensino Superior Blauro Cardoso de Mattos, Serra, [s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/2PReLZX. Acesso em: 5 maio 2021. O cabelo apresenta diversas funções, entre as quais podemos destacar: o adorno, a proteção (quanto ao isolamento térmico), a formação de barreira protetora para a radiação UV dos raios solares (por meio da melanina presente na fibra capilar) e, ainda, contra a abrasão mecânica. Além dessas funções, 17 TERAPIAS CAPILARES os cabelos também estão associados à comunicação psicossocial, saúde, fertilidade e sexualidade. Vale ressaltar que o cabelo está em aproximadamente 80% de toda a superfície da pele. As sobrancelhas têm a função de impedir a entrada do suor ou outros materiais na região oftálmica, protegendo a região ocular dos raios solares e auxiliando na comunicação e expressão de emoções. Assim como as sobrancelhas, os cílios também apresentam importância como adornos, proteção dos olhos quanto aos raios solares e de objetos estranhos, além de auxiliar na comunicação. Já os pelos nasais têm a função primordial de filtrar o ar, mas também são responsáveis por retardar seu fluxo dentro do sistema respiratório, aquecendo ou resfriando-o antes de entrar no corpo. De uma forma geral, os pelos estão ligados às terminações de nervos sensoriais, o que aumenta a proteção da cabeça. Pode-se afirmar que a atividade geral dos pelos é agir como receptor sensorial. Atualmente, os cabelos podem ser objeto de estudo em diversas áreas de pesquisa: • resolução de crimes pelo uso de drogas (toxicologia forense); • identificação humana; • contaminação de populações por metais pesados (chumbo, mercúrio, arsênio etc.); • biomarcação de substâncias químicas e contaminantes ambientais; • avaliação e investigação de questões relacionadas à nutrição; • atividade tóxica e química em produtos de cuidados para cabelos; • relação entre o uso de produtos capilares e o surgimento de patologias; • representatividade de uma determinada época, de um tipo de nutrição ou de elementos contaminantes (arqueologia). Lembrete O cabelo está presente em, aproximadamente, 80% de toda a superfície do nosso corpo. 1.4 Anatomia e fisiologia do couro cabeludo Considerada o maior órgão do corpo humano, a pele apresenta uma área que varia entre 2.500 cm² e 25.000 cm², com uma espessura também variável (1,5 mm a 4,0 mm) e um peso seco médio de 2,0 kg a 4,0 Kg, podendo atingir 16% do peso corporal total. Basicamente, o corpo humano é composto de dois tipos de pele, a glabra e a pilificada. 18 Unidade I A pele glabra é lisa, sem pelos, com camada queratínica espessa, nas palmas das mãos e solas dos pés. Já a pele pilificada é mais delgada, apresentando reentrâncias específicas, como o folículo piloso de pelos, cabelos e barba. A principal função da pele é a proteção da parte orgânica interna contra agressões externas, além de agir como barreira contra substâncias estranhas ao organismo. A pele é composta das seguintes camadas: epiderme, derme e tela subcutânea (também conhecida como hipoderme). A camada mais superficial da pele é a epiderme, a qual mantém contato com o meio externo, sendo composta de um epitélio estratificado, pavimentoso queratinizado ou córneo. Esse tecido forra o corpo externamente e sua cavidades externas dão origem às glândulas sudoríparas, às glândulas sebáceas e aos folículos pilosos. Além da função de proteção contra agentes externos, também está relacionada com a captação da sensibilidade térmica e tátil. Abaixo da epiderme encontra-se a derme, uma camada formada por tecido conjuntivo e que, em sua parte mais externa, apresenta saliências que acompanham as reentrâncias da epiderme, conhecidas como papilas dérmicas. Tais papilas são constituídas por tecido conjuntivo frouxo. A derme, segunda camada da pele, é composta de macromoléculas, como a elastina (fibras elásticas), as proteoglicanas, as glicosaminoglicanas e o colágeno. O bulbo capilar, as terminações nervosas, os vasos sanguíneos, o músculo eretor, as glândulas sebáceas e as glândulas sudoríparas estão presentes na derme. A derme possui duas camadas, papilar e reticular. A derme reticular é rica em substâncias gelatinosas sintetizadas pelos fibroblastos, apresentando uma quantidade considerável de vasos sanguíneos e linfáticos. Nessa camada da derme também estão presentes as glândulas sudoríparas e os folículos pilossebáceos, havendo, ainda, um plexo nervoso no entorno do folículo, mais especificamente na área logo abaixo das glândulas sebáceas. A formação da camada reticular acontece de forma contínua com a camada papilar, apresentando espessas fibras de colágeno sob a forma de feixes que conferem resistência à estrutura. A derme papilar é composta por tecido conjuntivo com a presença de uma grande variedade de células, fibras colágenas e fibras elásticas delgadas, organizadas como uma rede frouxa. Uma das principais características dessa camada da derme é a presença de vasos sanguíneos em alças que se estendem até a junção derme-epiderme, sendo responsáveis pela termorregulação corpórea. Também nessa camada é encontrada uma grande quantidade de corpúsculos de Meissner, considerados corpúsculos sensoriais com a capacidade de captar estímulos mecânicos, localizados principalmente em regiões mais sensíveis aos estímulos. Além dos corpúsculos de Meissner, também são encontrados nas regiões mais profundas da derme outros tipos de corpúsculos, como os de Pacini e os de Ruffini, relacionados com a pressão, a vibração e as forças de tensão. Na região mais profunda da pele está localizada a hipoderme, também conhecida como tecido subcutâneo, composta por lóbulos gordurosos, repletos de adipócitos, separados por travessões de fibras de colágeno oriundas da derme. Essa última camada tem a função de reserva nutritiva, energética e, ainda, de proteção do organismo a pressões externas e traumatismos. 19 TERAPIAS CAPILARES EpidermeMelanina A B Derme Hipoderme Melanócitos Figura 4 – Representação esquemática da pele humana: A) camadas da pele; B) esquema ampliado da interface derme-epiderme apresentando camada basal; melanócitos responsáveis pela síntese de melanina Fonte: Chiarelli Neto (2014, p. 17). O couro cabeludo humano é uma extensão da pele, sendo formado por um conjunto de partes moles que revestem a calota craniana. A face posterior da borda do crânio é composta pelos músculos epicraniano, frontal (na parte anterior), occipital (na parte posterior), temporoparietais (nas laterais), gálea aponeurótica (na parte superior do crânio) e subcutâneo. A pele do couro cabeludo é espessa, com pequena concentração do pigmento melânico, sendo protegida pelos cabelos pigmentados, espessos e longos. Os pelos que recobrem nosso corpo possuem denominações diferentes de acordo com a fase de vida. O feto também é recoberto por pelos, no entanto, aqui eles são delgados, macios, não pigmentados e não contém medula, sendo produzidos por folículos fetais e caindo normalmente no sétimo ou oitavo mês de gestação ou logo após o nascimento. O fio de cabelo é uma parte de um mecanismo celular, unidade pilossebácea composta por estruturas localizadas abaixo da superfície da pele. As glândulas sebáceas são estruturas lobulares, constituídas de células epiteliais chamadas sebócitos. Estruturalmente, as glândulas sebáceas possuem canais excretores que se abrem no terço superior do folículo pilossebáceo, logo abaixo da abertura externa, e cada folículo está diretamente ligado a de uma a seis glândulas sebáceas, formando, assim, uma unidade pilossebácea. Os sebócitos apresentam uma pequena área de citoplasma, sendo dominado pelo núcleo; no entanto, durante a diferenciação, o citoplasma possui a capacidade de se estender com gotículas de gordura (lipídios) que se unem, formando, assim, a secreção de sebo. A diminuição na produção do sebo é chamada sebostasis, e está ligada ao ressecamento de pele, pelos e cabelos, como também à fragilização e facilitação da quebradura das estruturas capilares. O excesso de sebo, por sua vez, promove a formação da seborreia. Camada basal 20 Unidade I As glândulas sebáceas são responsáveis pela produção de lipídeos como triglicerídeos, ácidos graxos, esqualeno e colesterol, que têm a função de impermeabilizar o couro cabeludo e os cabelos, promovendo maciez, flexibilidade e brilho. A quantidade deste tipo de glândula varia entre 400 e 900 unidades por cm2. As glândulas sudoríparas produzem o suor, promovem o equilíbrio térmico e eliminam toxinas sintetizadas pelo metabolismo celular. A quantidade normal de glândulas sudoríparas fica em torno de 50 a 350 unidades por cm2. A secreção sintetizada por essas glândulas, conhecida como suor, é constituída principalmente de água, no entanto, também podemos encontrar outros elementos, como cloretos de sódio, cálcio e potássio, ácido lático, ureia, glicose, ácidos orgânicos e aminoácidos. O pH do suor é invariavelmente ácido, ficando entre 3,8 e 6,9 e, exatamente em razão de tal característica, protege a pele contra a ação de microrganismos. As glândulas sudoríparas são classificadas como écrinas e apócrinas. As glândulas écrinas formam o suor que não apresenta odor desagradável; já as apócrinas são responsáveis pelo suor com o odor característico da transpiração. Esse odor é promovido pela degradação de determinadas substâncias por bactérias localizadas na superfície da pele, e, com o desenvolvimento das bactérias, tem-se, então, a brecha para a formação do odor desagradável. No entanto, o odor desagradável do suor também pode ser influenciado por fatores como alimentação, hormônios andrógenos, temperatura e estresse, fatores esses que, de uma forma geral, aumentam a quantidade de suor, facilitando a proliferação das bactérias. Na alimentação, existe uma grande variedade de alimentos com a capacidade de alterar a função sudoral, conhecidos como alimentos termogênicos (como café, chá verde, alho e cebola). Tais alimentos aumentam o metabolismo e a produção de hormônios como a adrenalina, resultando em uma maior transpiração e, como consequência, a possível incidência de odores desagradáveis. Os hormônios têm a capacidade de regular as atividades das glândulas sudoríparas, como o cortisol secretado em situações de estresse e ansiedade, que interfere no funcionamento das glândulas sudoríparas (écrinas e apócrinas), aumentando o volume de suor na transpiração (sem a influência da temperatura externa). A temperatura do meio também pode interferir na quantidade de suor produzido, chegando a aumentar em torno de 10% a cada elevação de 1 °C. A influência do estresse na produção de uma maior proporção de suor está relacionada à liberação de cortisol, que leva a uma maior produção das secreções sudoríparas. 1.5 Anatomia e fisiologia da unidade pilossebácea A quantidade estimada de folículos no couro cabeludo pode variar de 80.000 a 150.000. A formação de um folículo piloso se dá por meio de um processo de invaginação da epiderme, formando um tubo cilíndrico que apresenta compostos oriundos da epiderme (como matriz, bainha interna, bainha externa e haste) e compostos oriundos da derme (como papila dérmica e bainha dérmica). 21 TERAPIAS CAPILARES Os folículos no couro cabeludo se organizam em grupos, formando as unidades foliculares, representadas por músculo eretor do pelo, glândula sebácea e glândula sudorípara. Por meio de cortes transversais, observa-se a distribuição de forma hexagonal das unidades foliculares, com cada uma delas apresentando de 2 a 4 folículos terminais de diâmetro maior que a espessura da bainha radicular interna e 1 ou 2 velos de diâmetro menor que a espessura da bainha radicular interna. O músculo eretor do pelo, um feixe de fibras musculares lisas, encontra-se preso ao terço médio da bainha de tecido conjuntivo do folículo, dirigindo-se obliquamente em direção à derme papilar e sendo inervado pelo sistema nervoso simpático. Com a contração da musculatura, ocorre uma redução na inclinação do pelo e a compressão da glândula sebácea, fazendo com que sua secreção seja liberada na bainha do pelo. Anatomicamente, o folículo piloso pode ser dividido em três segmentos: infundíbulo, istmo e segmento inferior. O infundíbulo representa a porção superior do folículo, sendo considerado uma invaginação que se estende do orifício folicular superior até a entrada do dueto da glândula sebácea. A porção intraepidérmica do folículo é denominada acrotríquio. O istmo é a porção mediana do folículo, sendo limitado, superiormente, pelo dueto da glândula sebácea e, inferiormente, pela inserção do músculo eretor do pelo. O segmento inferior compreende a porção desde a inserção do músculo eretor do pelo até a base do folículo. Levando em consideração as características morfológicas e fisiológicas dos folículos pilosos, esses podem ser divididos em duas regiões distintas: a primeira conhecida como persistente e a segunda chamada transitória. A área dita persistente não sofre alterações significativas durante o ciclo de crescimento dos pelos, sendo composta pelo infundíbulo e pelo istmo, estendendo-se do óstio do folículo até a inserção da musculatura eretora do pelo. A segunda região é variável, apresentando modificações morfológicas ao longo do ciclo do crescimento do pelo e abarcando da inserção da musculatura eretora até a base do folículo ou bulbo piloso. Esse segmento, por sua vez, é dividido em duas porções: bulbo piloso e porção germinativa. Trata-se de uma região variável, com modificações morfológicas ao longo do ciclo do crescimento do pelo. Haste do cabelo Epiderme Glândula sebácea Derme Bulbo Papila Vasos capilares Figura 5 – Ilustração do folículo piloso com detalhes da glândula sebácea Fonte: Lima (2016, p. 3). 22 Unidade I O folículo piloso é um dos poucos tecidos que possuem células germinativas. Anteriormente, acreditava-se que as célulasfoliculares tinham origem no bulbo piloso, no entanto, pesquisas demonstraram uma nova teoria sobre a origem de tais células, modificando a ideia até então aceita sobre o complexo crescimento do cabelo. Glândula sebácea Músculo eretor Segmento inferior Bulbo Matriz Bainha retícula externa Bainha dérmica Bainha retícula interna Cutícula Córtex Medula Istmo Infundíbulo Papila dérmica Figura 6 – Regiões anatômicas do folículo piloso Fonte: Silva (2017, p. 15). Por meio de cortes transversais de couro cabeludo normal, foram identificadas na derme ilhas de células basais em paliçada, com pouca ou nenhuma queratinização, e sob a bainha radicular externa, denominadas unidades germinativas telógenas ou bulge. Com isso, sugeriu-se que as citocinas produzidas pela papila folicular controlam a migração das células germinativas dessas unidades para a matriz folicular, dando origem ao seu desenvolvimento. 1.5.1 Bulbo O bulbo está localizado na parte terminal do pelo, sendo considerado uma estrutura piriforme composta de três regiões: matriz, supramatricial e queratógena. Trata-se da única região do folículo que apresenta células vivas (nas demais regiões encontram-se células queratinizadas e mortas), sendo assim, o bulbo é a região responsável pelo crescimento do pelo. Especificamente a produção e o crescimento do pelo é responsabilidade da matriz do folículo. 23 TERAPIAS CAPILARES A primeira região do pelo é a matriz, composta por células epiteliais imaturas com grandes núcleos, cheios, arredondados e monomórficos. A organização das células da matriz acontece de forma similar à das células da camada basal, isto é, em paliçadas em torno da papila folicular. Com o passar do tempo, as células se dividem, proliferam e amadurecem seguindo a direção do istmo e, à medida que elas se afastam da papila, cessam sua divisão e se tornam queratinizadas. A zona queratógena, ou franja de Adamson (franja A), é a porção distal do bulbo, sendo conceituada como uma região de transição onde as células passam a ser queratinizadas. A região supramatrical, também chamada franja B (em decorrência da expressão em inglês below – abaixo – Adamson’s fringe), está localizada entre a matriz e a zona queratógena do pelo. As células dessa região se diferenciam de forma gradual ao longo do folículo em duas vias: bainha radicular interna e pelo. Ainda na zona matricial estão localizados os melanócitos (síntese de melanina), mais especificamente entre as células matriciais, no entanto, no infundíbulo encontram-se dispostos de forma similar à vista na epiderme. Melanócito Papila dérmica Células corticais Figura 7 – Imagem óptica do bulbo capilar humano Fonte: Silva (2012, p. 24). Toda nutrição e alimentação dos fios ocorre pela papila, que é vascularizada por vasos sanguíneos e linfáticos, responsáveis pelo transporte de nutrientes, sendo assim, de elevada importância para a saúde dos fios. Também cabe ressaltar que a manutenção de hábitos saudáveis, de uma dieta balanceada e do consumo diário de água, em proporções adequadas, favorecem o crescimento dos fios. Os fios de cabelos são completamente produzidos no folículo piloso, formados por um bulbo com uma matriz germinal, responsável pela divisão celular, e também, pelas células corticais, que produzirão a haste capilar. Lembrete Hábitos saudáveis, uma dieta balanceada e o consumo diário de água, em proporções adequadas, são fatores que favorecem o crescimento dos fios. 24 Unidade I 1.5.2 Bainha dos pelos A bainha radicular externa é formada pela ligação entre a matriz e a superfície da pele, unidas por uma proliferação epidérmica, e, na região distal, bem próximo da superfície da pele, a bainha apresenta todas as camadas da epiderme. Com o seu desenvolvimento, de forma progressiva, ela sofre alterações, tornando-se mais fina e deixando de apresentar algumas camadas epidérmicas. As células laterais da papila originam os três componentes da bainha radicular interna, camada de Henle, camada de Huxley e cutícula da bainha radicular interna, de fora para dentro. A camada de Henle apresenta células de formato poligonal com grânulos tricoialinos desde a região profunda do folículo. A camada de Huxley é formada por uma ou duas camadas de células poligonais que adquirem os grânulos tricoialinos distalmente no folículo e são pouco coradas à hematoxilina-eosina. Em um dado momento, as duas camadas se tornam indistinguíveis, queratinizadas e, quando alcançam o istmo, descamam. As células da cutícula da bainha radicular interna são achatadas e formadas por uma camada de células. A membrana vítrea, ou basal, se dispõe externamente às camadas celulares do folículo piloso, consistindo em uma membrana delgada, homogênea e eosinofílica. Um tecido conjuntivo formado por fibras colágenas concêntricas e longitudinais circunda o folículo, compondo a bainha de tecido conjuntivo (ou camada fibrosa). 1.6 Embriologia, estrutura do folículo piloso e da haste do pelo O desenvolvimento dos folículos pilosos tem início na vida embrionária de forma tardia, obedecendo ao sentido craniocaudal e tornando-se completo na metade da vida fetal. A unidade pilosa é formada pelo folículo e pelo seu pelo, considerados uma estrutura única, derivada de células indiferenciadas, formada por alterações da epiderme. Na nona semana de vida do embrião, a epiderme envia projeções (invaginações) para a derme e para o tecido celular subcutâneo subjacente. A formação dos primeiros pelos acontece na região das sobrancelhas, no queixo e na região acima do lábio superior. Na 14a semana, as células germinativas basais que estão agregadas às células mesenquimais da derme subjacente se multiplicam de forma vertical em direção à derme, dando origem ao folículo piloso. A papila do folículo piloso é formada por células mesenquimais. As células germinativas basais se organizam formando três arcos. Depois da 16a semana, ocorre a expansão das células para dentro do mesênquima, originando, assim, a unidade apócrina-pilossebácea. Durante o período intrauterino, ocorre o desenvolvimento de aproximadamente 2 milhões de folículos pilosos e, com o aumento da superfície corporal promovida pelo crescimento, há uma redução na sua densidade. O desenvolvimento e a quantidade total de folículos se dão com, aproximadamente, 22 semanas e, após o nascimento, não se observa a formação de novas unidades foliculares. 25 TERAPIAS CAPILARES O lanugo (pelo muito delicado e sem pigmentação) recobre as sobrancelhas e a região frontal com a chegada da 20a semana e, ao final da 24a, esses pelos já recobrem toda a superfície cutânea embrionária, com exceção das regiões palmoplantares e o dorso dos dedos. Por volta da 28a semana, temos a formação das unidades glandulares apócrina e sebácea, além da proeminência que fixará o músculo eretor do pelo. Na 36a semana de gestação, o lanugo cai, permanecendo apenas em algumas regiões, como sobrancelhas, pálpebras e cabelo, no entanto, depois do nascimento (em meses), os pelos remanescentes da última queda são substituídos por pelos mais grossos. Nas demais áreas corporais surgem novos pelos que recobrem a pele formando um manto aveludado e fino, tais pelos novos são conhecidos como velo. A B C D Figura 8 – Esquema da tricogênese embrionária: A) 9 semanas; B) 14 semanas; C) 16 semanas; D) origem da unidade apócrina-pilossebácea Fonte: Brenner (2000, p. 12). 2 CARACTERÍSTICAS DA HASTE DO PELO 2.1 Componentes estruturais de pelo e cabelo As células matriciais localizadas no ápice da papila originam as estruturas que compõem o pelo, delimitadas e conhecidas como cutícula, córtex e medula. Entretanto, recentemente também foi caracterizado como parte da estrutura do pelo o complexo da membrana celular (CMC). 26 Unidade I Microfibrila Macrofibrila Célula cortical Cutícula Medula Córtex Figura 9 – Ilustração da fibra capilar e das subestruturas de cutícula e córtex Fonte: Lima (2016, p. 8). 2.1.1 CutículaÉ considerada a parte mais externa da fibra, sendo a principal barreira contra a penetração de agentes químicos, enzimáticos e externos no interior da fibra, além de ser responsável pela manutenção das propriedades superficiais do cabelo, controlando a permeação. Constituída por uma camada de células planas, cornificadas, sobrepostas, despigmentadas, tipificadas como escamas e organizadas de forma similar às telhas em um telhado. O tipo de organização das células cuticulares forma uma placa fina e longa com espessura de 0,3 µm a 0,5 µm e 45 µm de largura, com aproximadamente de 6 a 10 camadas de células. Figura 10 – Imagem de microscopia eletrônica de varredura de um fio de cabelo Fonte: Torres et al. (2005, p. 21). 27 TERAPIAS CAPILARES A forma como as células das cutículas estão organizadas, em camadas sobrepostas, promove certa resistência ao ataque de substâncias químicas, como agentes de coloração, alisantes químicos e permanentes, além de ajudar na reflexão da luz, promovendo o brilho da fibra capilar. A constituição das células da cutícula baseia-se na queratina, uma proteína cujo principal aminoácido é a cisteína, substância responsável pela formação das pontes de dissulfeto (ligação entre enxofres S-S). Por meio dessas pontes, há a formação da cistina, intimamente relacionada com a rede tridimensional com alta densidade de ligações cruzadas, responsáveis pela forma do cabelo. COOH C HH2N CH2 S S CH2 C NH2H COOH Figura 11 – Fórmula estrutural da cistina Fonte: Silva (2012, p. 28). As células da cutícula possuem alguns componentes laminares intracelulares que são encarregadas da resistência da fibra capilar a agentes químicos. Os subcomponentes podem ser divididos em epicutícula, camada A (exocutícula A), exocutícula (ou exocutícula B) e endocutícula. Epicutícula Exocutícula A Exocutícula B Endocutícula Cimento intercelular Figura 12 – Detalhamento das camadas que compõem a cutícula Fonte: Dario (2016, p. 35). A camada mais externa da fibra capilar é a epicutícula, também denominada camada F, constituída por ácidos graxos, com destaque para o ácido 18-metil-eicosanoico (18-MEA) e para a matriz proteica. Os ácidos graxos da epicutícula são responsáveis pela hidrofobicidade, isto é, pelo comportamento repelente à água. Na sequência de camadas da cutícula, temos a camada 28 Unidade I A (exocutícula A), constituída por material amorfo rico em cistina (> 30%). Logo abaixo dela, é possível identificar a exocutícula B, que, assim como a camada anterior, também possui elevada concentração de cistina, aproximadamente 15% (no entanto, podem-se observar diferenças estruturais entre essas duas camadas). A endocutícula está junto à exocutícula B e contém restos celulares, podendo ser degradada por enzimas proteolíticas. Observação A diferença de composição entre a endo e a epicutícula é responsável pelo que passa e pelo que não passa pelas cutículas, como diferentes tipos de cosméticos, tensoativos e água. Quando o material consegue se difundir passando por dentro das células cuticulares, o processo é chamado transcelular; no entanto, quando a difusão acontece por entre as células, o processo é conhecido como intercelular. No caso dos cosméticos, de forma geral, o processo mais comum é o intercelular. 2.1.2 Complexo da membrana celular (CMC) O complexo da membrana celular é formado pelo cimento celular, que agrega células cuticulares às corticais; também é chamada camada δ (delta), em associação com as membranas das células cuticulares. O CMC é composto por proteínas não queratinosas que apresentam uma baixa concentração de enxofre e uma grande quantidade de aminoácidos polares, possuindo a capacidade de interagir com a água. Por conta de sua composição, é capaz de transportar substâncias para o interior da fibra, com destaque para as macromoléculas. A penetração de substâncias para o interior da fibra pode acontecer pelas vias intercelular e transcelular. A rota transcelular é importante para pequenas moléculas hidrofílicas, que atravessam regiões da camada cuticular independentemente da quantidade de enxofre (isto é, contendo baixo ou elevado conteúdo de enxofre). A via intercelular é considerada uma alternativa, sendo utilizada por moléculas hidrofóbicas de elevado peso molecular ou, ainda, por moléculas apolares. De uma maneira geral, a difusão de moléculas para o córtex ocorre pelo uso das duas vias. 2.1.3 Córtex A região do córtex está na parte interior do fio, logo abaixo da cutícula, e ocupa aproximadamente 75% da estrutura do cabelo, sendo, assim, a maior região da fibra. É formado por macromoléculas de queratina que se organizam de forma paralela à direção da fibra capilar e apresentam poucos micrômetros de secção transversal. Propriedades como elasticidade e resistência mecânica da fibra estão relacionadas à presença das células corticais. 29 TERAPIAS CAPILARES Ainda no córtex, identifica-se a presença de grânulos de melanina com diversos tipos, tamanhos, quantidades e distribuição no interior das células, conferindo tons distintos aos cabelos. Assim, a cor natural do cabelo é resultado do conteúdo total de melanina, do diâmetro dos grânulos e da proporção dos dois tipos de biopolímeros pertencentes à família da melanina: eumelanina, um polímero insolúvel que confere o tom negro amarronzado, e feomelanina, um polímero solúvel em meio alcalino que confere o tom amarelo-avermelhado. É especificamente nessa região que se dão as alterações químicas resultantes de alisamento, da ondulação definitiva e da tintura, entre muitas outras. A elasticidade da fibra é conferida pela presença das proteínas com estrutura de α-hélice, que estão enroladas umas nas outras como cordas esticadas, enroladas entre si e onduladas. As proteínas enroladas no cabelo organizam-se na forma de microfibrilas, as quais se unem para formar estruturas maiores chamadas de macrofibrilas e, assim, produzir as células do córtex. Essa estrutura encadeada oferece à fibra capilar mais força e elasticidade. Existem três classes de células corticais que podem ser observadas na fibra do cabelo: as ortocorticais, as paracorticais e as mesocorticais. Em alguns casos, as células podem ser separadas em regiões distintas na fibra capilar. As células ortocorticais apresentam baixa relação entre matriz e filamento intermediário (FI) ou microfibrilas. As microfibrilas se organizam em espiral, apresentando poucas ligações cruzadas, pela pouca concentração de proteína rica em cistina e pela elevada proporção de proteínas ricas em tirosina, sendo, assim, mais extensíveis e flexíveis. As células paracorticais possuem propriedades opostas às células ortocorticais, com proteínas ricas em enxofre. Já nas células mesocorticais, as macrofibrilas organizam-se de maneira hexagonal ou pseudo-hexagonal e apresentam razão matriz/FI intermediária à observada entre ortocórtex e paracórtex. Vale ressaltar a importância e a influência do arranjo entre as células ortocorticais, que são responsáveis pela curvatura do cabelo. As células ortocorticais estão localizadas na região convexa, enquanto as células paracorticais estão na região côncava da fibra, que apresenta características onduladas. No caso dos cabelos de aparência lisa, na região central da fibra existe a predominância de células paracorticais, que são circundadas pelas células ortocorticais. Na parte interna das células corticais, as microfibrilas agrupam-se em porções que passam a ser chamadas de macrofibrilas, unidades cilíndricas de comprimento variável entre 0,3 µm e a extensão da célula cortical. Na parte interna das macrofibrilas, uma matriz rica em cistina une as microfibrilas, de maneira que, quando as fibras de queratina são estendidas, a macrofibrila age como uma unidade de resistência mecânica. 30 Unidade I Alfa-hélice Dímero Microfibrila Macrofibrila CMC Paracorticais Mesocorticais Ortocorticais Extremidade da raiz Cutícula Endocutículaa Exocutícula EpicutículaRemanescente nuclear Matriz Figura 13 – Esquema que demonstra a estrutura da fibra capilar, desde a α-hélice, dímeros em estrutura helicoidal, micro e macrofibrilas, célula cortical e fibra de cabelo (a letra a, na imagem, indica que temos dois fios de exocutícula) Fonte: Popescu e Hocker (2007, p. 1284). 2.1.4 Medula Localiza-se na região central da fibra capilar, contém elevada concentração de lipídeos, não está presente em todos os pelos e, de acordo com as últimas pesquisas, não possui uma função definida. Figura 14 – Imagem de microscopia eletrônica de varredura da cutícula do cabelo Fonte: Torres et al. (2005, p. 21). Observação As células que fazem parte da medula resultam de um processo de diferenciação em que as células produzem tricoialina, a qual fica depositada na forma de grânulos no citoplasma. Com a maturação e a desidratação, as células sofrem encolhimento e, por consequência, perdem o ar. As paredes das células medulares maduras são formadas por grânulos fundidos. 31 TERAPIAS CAPILARES 2.2 Ciclo de crescimento dos cabelos O crescimento dos cabelos acontece de forma descontinuada, entre fases de crescimento e de repouso, os fios se encontram em estágios distintos em seus próprios ciclos; as fases dos ciclos dos pelos e cabelos acontecem como se fossem um mosaico, com cada folículo em um estágio distinto. As fases de crescimento em adultos jovens podem se estender por anos, em média 4, e os ciclos de repouso entre 15 e 90 dias. No entanto, os períodos dos ciclos podem variar de acordo com o local em que se encontram os pelos. Por exemplo, no vértex e na nuca, o período de crescimento pode variar entre 5 e 6 anos, e, nas regiões frontal e temporal, entre 2 e 4 anos. O desenvolvimento e a multiplicação celular na matriz folicular não acontecem de forma contínua, mas seguem um padrão cíclico, com alternância de fases de crescimento e de repouso. O ciclo de desenvolvimento está presente em folículos terminais e velo. A porção inferior do folículo sofre alterações que caracterizam três fases bem distintas no ciclo de crescimento: a anágena (ou de crescimento), a catágena (ou de regressão) e a telógena (ou de repouso). Após os ciclos, os cabelos considerados velhos se desprendem e caem, sendo empurrados para fora por cabelos mais jovens. A proporção de queda dos fios é de aproximadamente 0,1%, isto é, a cada 100 mil cabelos, diariamente é esperado que 100 fios se desprendam (no entanto, com a lavagem dos cabelos espera-se uma quantidade maior de fios soltos). As fases de crescimento do cabelo são controladas por hormônios androgênios, hormônios que, de acordo com a concentração, estimulam a atividade das glândulas sexuais masculinas e/ou características femininas, e estas são produzidas pelas glândulas adrenais e sexuais. É importante ressaltar que o ciclo de cada pelo é peculiar a cada indivíduo e a velocidade de crescimento tende a diminuir quando o pelo atinge aproximadamente 20 cm. Outro fator relevante quanto ao crescimento dos pelos é a idade, pois, em um homem de aproximadamente 60 anos, o ciclo de crescimento dura, em média, de 2 meses a 2 anos. Ainda quanto aos fatores relacionados ao crescimento dos cabelos, no período da gravidez tem-se o aumento no número de folículos em fase de crescimento, já no pós-parto eleva-se a quantidade de folículos na fase de repouso. 2.2.1 Fase anágena A fase anágena é caracterizada pelo crescimento do fio e intensa atividade mitótica na matriz do folículo piloso. Com a intensa atividade de forma regular das células, o pelo cresce a uma taxa constante e apresenta sua estrutura completamente desenvolvida. A duração da fase de crescimento é bastante variável entre as espécies e até mesmo na mesma espécie, além de poder apresentar variações entre as diversas localizações do tecido tegumentar. Para folículos velo de ambos os sexos, o crescimento ocorre entre 20 e 40 dias, no entanto, para folículos terminais de jovens japoneses, a fase anágena fica entre 4 e 26 semanas (19 a 26 nas pernas, 6 a 12 nos braços, 4 a 8 nos dedos e 4 a 14 na barba). Já no couro cabeludo, essa fase tem uma duração de 2 a 7 anos, o equivalente a, mais ou menos, 1.000 dias. 32 Unidade I Essa fase tem influência pela atividade dos hormônios ou por estímulos físicos, o que promove a divisão das células que circundam a papila dermal, empurrando as células queratinizadas para cima e, assim, formando o folículo piloso. A localização da papila dermal, em uma região que é ricamente irrigada por vasos sanguíneos, facilita a absorção de nutrientes e de substâncias presentes nos fluidos pelos cabelos. A fase anágena pode ser dividida em 6 estádios distintos. O primeiro corresponde à fase de proliferação das células germinativas no entorno da papila dérmica, o segundo ao crescimento do folículo no sentido da hipoderme, o terceiro ao desenvolvimento da bainha radicular interna, o quarto, ao início da pigmentação, o quinto ao surgimento do pelo na bainha radicular interna, e o último ao crescimento do pelo além da superfície cutânea. Os estádios 1 a 5 formam a fase pró-anágena e o estádio 6, a fase meta-anágena. A sexta e última etapa da fase anágena, em que o fio de cabelo emerge da superfície da pele, é considerada a mais longa: 80% a 90% dos fios estão nessa fase e não conseguem chegar a completar o ciclo. Tal fato se deve a fases de estresse intenso, problemas emocionais, nutricionais, variações de peso, alterações hormonais, anomalias na tireoide, problemas dermatológicos, gravidez, doenças, cirurgia e drogas medicamentosas. 2.2.2 Fase catágena A fase catágena é o período de transição entre a fase de crescimento e a de repouso, também podendo ser denominada como fase de regressão ou involução. Nessa fase ocorre a interrupção na divisão celular, o folículo piloso do fio deixa de ser irrigado pelos vasos sanguíneos, a estrutura do folículo diminui em um terço e, consequentemente, ocorre a parada no crescimento do pelo. No entanto, as células da porção superior do bulbo continuam sua diferenciação em direção à haste do pelo. Na fase catágena também são observadas alterações no bulbo, que passa a ser uma coluna de células desorganizada, a matriz passa por um processo de retração progressiva para a porção superior, além do espessamento da membrana basal. A produção de melanina é paralisada pelos melanócitos da matriz. A observação dos pelos catágenos é muito difícil, pela sua curta duração (a duração da fase é estimada em 3 semanas no couro cabeludo). Outra modificação observada nessa fase é a formação de trato fibroso, que surge na porção inferior do folículo ao final da fase. As células da matriz entram em processo de involução com apoptose, formando uma faixa de células epiteliais envoltas por um tecido conjuntivo enrugado, espessado e muito vascularizado. 2.2.3 Fase telógena A terceira fase é conhecida como telógena ou fase de repouso. Nela, o pelo se separa da papila dérmica, sendo facilmente destacado. Também ocorre um depósito adicional de queratina dura na porção inferior já queratinizada, sob a forma de clava, pelo epitélio folicular (triquelema) e há a redução (pela metade ou, até mesmo, menos da metade) do comprimento do folículo anágeno. 33 TERAPIAS CAPILARES A duração dessa fase pode variar de 3 a 4 meses, ou em torno de 100 dias, e a queda fisiológica de pelos dessa fase pode ocorrer ao pentear, lavar ou friccionar o couro cabeludo. Em muitos casos, a permanência do cabelo dentro do folículo piloso se dá em razão das escamas características das cutículas. Após o aprisionamento do pelo, esse cai, nascendo no mesmo local um novo folículo, iniciando, assim, um novo ciclo. O fim de um ciclo capilar pode ser determinado pela queda de um pelo telógeno normal e o início de outro ciclo pode ser constatado pelo desenvolvimento de um novo folículo anágeno na mesma localização. Ao fim da fase telógena, um trato fibroso pode ser observado em toda a região previamente ocupadapelo folículo A B C D Figura 15 – Fases do crescimento do cabelo: A) anágena; B) catágena; C) telógena; D) término da fase telógena Fonte: Silva (2012, p. 27). 2.2.4 Fases exógena e quenógena Além das fases apresentadas anteriormente, atualmente ainda são relatadas duas novas fases, a exógena e a quenógena. Na fase exógena ocorre a exclusão da haste capilar de forma ativa, de maneira controlada, diferindo da fase telógena. A fase quenógena acontece entre o fim da fase telógena e o início da nova fase anágena (isto é, o folículo encontra-se vazio). A fase quenógena pode ser detectada em pessoas sem patologia, no entanto, é mais facilmente identificada em indivíduos que apresentam alopecia androgenética. Em situações em que a saúde está dentro da normalidade, avaliando o tricograma normal do couro cabeludo, aproximadamente 85% dos cabelos do couro cabeludo devem estar na fase anágena, 14% na catágena e 1% na telógena. No entanto, características genéticas podem influenciar de forma direta no crescimento, na textura, na densidade, na cor e na curvatura do cabelo. 2.3 Tipos de pelo e cabelo Uma das classificações possíveis dos cabelos está relacionada com a origem dos folículos pilosos, que podem ser classificados como velo (lanugem) e terminais (maduros), dando origem, assim, a pelos com a mesma classificação. 34 Unidade I Os pelos produzidos pelos folículos velo crescem após o nascimento na superfície cutânea, apresentando-se como pelos finos (menos de 0,03 mm de diâmetro e 2 cm de comprimento), são macios, não dispondo de medula ou pigmentação em sua estrutura. A secção transversal não excede a espessura da bainha radicular interna e esses pelos possuem grandes glândulas sebáceas e um bulbo piloso pequeno. Também não sofrem influência dos hormônios androgênicos. Os pelos terminais estão restritos ao couro cabeludo, sobrancelhas e cílios antes da puberdade, são pelos longos ou curtos (de acordo com a sua localização), grossos (mais de 0,03 mm de diâmetro), com a presença da medula na estrutura, além de pigmentação. Como o nome demonstra, são produzidos por folículos pilosos terminais. Por meio de estímulos androgênicos, eles se desenvolvem a partir de pelos velo em regiões como as axilas e nas áreas pubianas, em ambos os sexos, no entanto, na face, só crescem em homens. Outra classificação dos cabelos diz respeito à distribuição de oleosidade ao longo dos fios. Importante ressaltar que a oleosidade dos cabelos é proveniente de uma única fonte, as glândulas sebáceas, que, como comentado anteriormente, estão associadas ao folículo piloso. Assim, os cabelos podem ser classificados como normais, secos, oleosos e mistos. Os cabelos normais apresentam aparência natural, com brilho discreto e um toque sedoso e macio. Nesse caso, as glândulas funcionam de forma fisiologicamente adequada, consequentemente, os cabelos possuem uma capacidade adequada para absorver e manter um pouco da oleosidade proveniente dessas glândulas sebáceas Nos cabelos secos, a baixa atividade das glândulas sebáceas promove cabelos com um toque áspero, aspecto opaco e ressecado. No entanto, com tratamentos específicos, tais condições podem ser alteradas e atenuadas. Os cabelos oleosos estão associados à presença de glândulas sebáceas com atividade elevada e, consequentemente, à grande quantidade de substâncias graxas endógenas que chegam às fibras. Com isso, os fios não possuem a capacidade de absorver toda a oleosidade, conferindo um toque oleoso e aparência de cabelo pesado e sujo, pela oleosidade em demasia, que funciona como uma carga excessiva, deixando-os pesados e sem volume. Nessa classe, normalmente, estão os cabelos lisos e finos. Há, ainda, os cabelos mistos, que apresentam oleosidade na raiz e secura nas pontas. A explicação mais aceita para esse tipo de cabelo consiste em uma elevada atividade das glândulas secretoras de sebo, no entanto, a distribuição ao longo da fibra do material produzido não é adequada. 2.4 Composição química de pelo e cabelo: melanina, cor de pelo e de cabelo A composição da fibra dos pelos e cabelos é essencialmente proteica em razão da queratina, que pode apresentar variados teores de enxofre em sua composição. A queratina pode ser classificada como mole ou dura. A queratina mole está presente na pele, principalmente no estrato córneo, enquanto a queratina dura é identificada nas unhas e na fibra capilar. Esse último tipo de queratina é resistente à degradação pela presença de cisteína, que confere a formação de pontes de enxofre, ou ainda, pontes dissulfídicas. 35 TERAPIAS CAPILARES As queratinas duras caracterizam-se também por não se dissolverem em água, caso das moles, e por apresentarem elevada resistência a enzimas proteolíticas. Na fibra capilar, a queratina representa 85% do peso do cabelo. As fibras capilares livres de água são compostas por proteínas (90% a 97%), lipídeos (2%) e traços de ácidos nucleicos, carboidratos e substâncias inorgânicas. Quanto à presença de elementos químicos na massa da fibra, são identificadas substâncias como carbono (50%), hidrogênio (7%), oxigênio (22%), nitrogênio (16%) e enxofre (5%). A grande concentração de enxofre está relacionada com a presença da cistina em grande quantidade, formando as ligações dissulfídicas entre dois aminoácidos cisteína. A presença de lipídios como ácidos graxos (principalmente do tipo saturado com 14 a 24 carbonos na estrutura química – C14 e C24), esteróis, ceramidas, triglicérides e glicolipídeos também são identificados na composição química da fibra capilar. Entre os ácidos graxos com maior destaque na fibra encontram-se os ácidos palmítico e esteárico. Os aminoácidos fazem parte de todas as regiões da fibra capilar, podendo variar de região para região, como apresentado na tabela a seguir. A cutícula normalmente possui quantidades superiores de resíduos de cistina, enquanto o córtex tem uma menor quantidade desse aminoácido. A elevada concentração do aminoácido cistina justifica a resistência da cutícula a agentes externos. Quanto à presença de aminoácidos na composição da queratina, a maior parte dos resíduos cistina, um valor superior a 95%, está envolvida em ligações dissulfídicas, o que proporciona resistência mecânica, química e propriedades elásticas à fibra. Ainda em relação aos aminoácidos, o contato desses com meios de pH elevado leva ao intumescimento das cutículas, pela ionização dos resíduos de aminoácidos diacídicos (como os ácidos glutâmico e aspártico) e pela repulsão entre os elementos com carga negativa. Características como os pontos isoiônicos e isoelétrico são propriedades fundamentais em tratamentos químicos capilares, como tintura, descoloração e alisamento, que dependem da composição da fibra. O ponto isoiônico do cabelo encontra-se em pH 5,8 ± 1,0 e o ponto isoelétrico em pH entre 2,45 e 3,17. Observação Ponto isoiônico refere-se ao pH no qual cátions e ânions estão presentes na mesma quantidade. Já o ponto isoelétrico representa o pH em que a mobilidade eletroforética é zero. 36 Unidade I Tabela 1 – Composição de aminoácidos da fibra capilar total, no córtex e cutícula (µmol/g) Aminoácidos Cabelo total Córtex Cutícula Ácido cisteico 32 27 59 Ácido aspártico e as aspargina 399 416 300 Treonina 544 580 412 Serina 967 850 1.628 Ácido glutâmico e glutamina 916 930 848 Prolina 588 532 900 Glicina 437 368 836 Alanina 347 370 50 Valina 405 374 644 Meia-cistina 1.435 1.350 1.880 Metionina 13 9 39 Isoleucina 174 172 186 Leucina 457 466 404 Tirosina 158 162 134 Fenilalanina 124 126 115 Lisina 196 172 331 Histidina 62 65 53 Arginina 466 496 289 Fonte: Dario (2016, p. 41). O componente da fibra capilar responsável pela pigmentação dos pelos e cabelos é a melanina, um pigmento obtido pela ação da enzima tirosinase sob a tirosina. Esta é transformada em dopaquinona e, seguindo rotas de síntese distintas, obtêm-se monômeros que se polimerizam para formar feomelanina e eumelanina.L-Tirosina Tirosinase 3,4-di-hidroxifenilalanina (DOPA) Tirosinase DOPA quinona DOPA croma Glutationildopa ou cisteinildopa Glutationa ou cisteína TYRP-2 DHICA DHI TYRP-1 Tirosinase 1,4-benzotiazinilalanina Ácido indol- 2-carboxílico- 5,6-quinona Indol-5,6-quinona Feomelanina Eumelanina Figura 16 – Rotas de síntese das melaninas a partir da tirosina Fonte: Malathi e Thappa (2013, p. 843). 37 TERAPIAS CAPILARES A feomelanina promove cores que variam do amarelo ao vermelho, e a eumelanina do preto ao marrom. De uma forma geral, a pigmentação natural da fibra dos pelos e cabelos é o resultado da associação dos dois tipos de polímeros melânicos. A B O O O O HO HO OH N H N H N H (COOH) (COOH) (COOH) O N N N S S S OH H2N H2N HOOC HOOC (COOH) COOH OH OH H N Figura 17 – Estrutura química das melaninas: A) eumelanina; B) feomelanina Fonte: Chiarelli Neto (2014, p. 25). As melaninas agem como fotoprotetores naturais da fibra capilar por estarem presentes no córtex, preservando a estrutura proteica e lipídica do processo oxidativo promovido pela radiação UV. No entanto, quando o processo oxidativo acontece, há uma alteração de cor do cabelo natural, causando principalmente sua descoloração. Grânulos de melanina Medula Córtex Cutícula do cabelo Figura 18 – Representação esquemática da fibra do cabelo por meio de corte transversal com a apresentação de cutícula, córtex, medula e grânulos de melanina (presentes no córtex) Fonte: Chiarelli Neto (2014, p. 22). 38 Unidade I Saiba mais Para conhecer mais detalhes sobre o assunto, você pode ler o artigo indicado a seguir. BEDIN, V. A coloração dos cabelos. BWS Journal, mar. 2019. Disponível em: https://bit.ly/3hjwVPB. Acesso em: 5 maio 2021. A fibra capilar apresenta uma pequena quantidade de minerais, com teor de cinzas de aproximadamente 1%. Elementos como cálcio (Ca), oxigênio (O), magnésio (Mg), potássio (K) e cloro (Cl) estão presentes no cabelo e podem ser considerados como macrominerais, enquanto ferro (Fe), zinco (Zn), cobre (Cu), manganês (Mn), iodo (I), cromo (Cr), selênio (Se) e molibdênio (Mo) são considerados traços (em razão das pequenas quantidades detectadas). Entre as interações intermoleculares envolvidas na estrutura do cabelo, podemos citar as pontes dissulfeto, as ligações de hidrogênio, as ligações iônicas e as forças de Van der Waals. As pontes dissulfeto são consideradas interações fortes, ligações cruzadas entre as moléculas de queratina e responsáveis pela estabilidade da fibra. Já as interações consideradas fracas são facilmente rompidas pela água e geralmente ocorrem por atrações de cargas positivas e negativas na estrutura da fibra. Observação A presença das interações químicas entre as proteínas são as responsáveis pela forma e pela estabilidade dos cabelos. As interações envolvidas são as pontes de hidrogênio (consideradas fracas), ligações iônicas e as pontes dissulfeto (também chamadas de ligações entre enxofres e consideradas ligações fortes). Interações hidrofóbicas e de Van der Waals Esqueleto polipeptídico Ponte dissulfeto Ponte de hidrogênio CH2 CH3H3C CH3H3C CH CH CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 NH3 + -O C O CH2 CH2 CH2 OHC S S O O H Interação iônica Figura 19 – Ponte dissulfeto na cisteína e pontes de hidrogênio entre as cadeias de polipeptídeos Fonte: Silva (2017, p. 32). 39 TERAPIAS CAPILARES Pontes dissulfeto Cisteína Figura 20 – Formação da ponte de enxofre entre dois aminoácidos de cisteína Fonte: França (2014 p. 20). Resumo Nesta unidade foram abordados assuntos relacionados com a estética capilar, enfatizando-se a importância dos cabelos nas mais diversas civilizações e abordando-se vários assuntos relacionados com a tricologia, como anatomia e fisiologia do couro cabeludo e das unidades pilossebáceas. Historicamente, os cabelos permearam o desenvolvimento humano, sendo considerados uma forma de demonstrar segregação social, poder, dor, força e sofrimento. Os cabelos estão diretamente relacionados à cultura de uma época, podendo indicar momentos de rebeldia, romantismo, modernidade e transição, além de influenciar diretamente na autoestima e no comportamento de um indivíduo. O cabelo apresenta funções de adorno, isolamento térmico, barreira contra a radiação ultravioleta e comunicação psicossocial. Os pelos de sobrancelhas e cílios têm a função de proteger a região oftálmica e óssea contra agentes invasores e reforçar as emoções. O couro cabeludo humano é uma extensão da pele, formado por um conjunto de partes moles que revestem a calota craniana, no entanto, a pele do couro cabeludo é espessa, com pequena concentração do pigmento melânico, sendo protegida pelos cabelos pigmentados, espessos e longos. Os pelos e cabelos são produzidos pelos folículos pilosos, no entanto, os folículos no couro cabeludo se organizam em grupos, formando as 40 Unidade I unidades foliculares, representadas por músculo eretor do pelo, glândula sebácea e glândula sudorípara. O desenvolvimento dos folículos pilosos tem início no feto de forma tardia, obedecendo ao sentido craniocaudal, tornando-se completo na metade da vida fetal. As células matriciais localizadas no ápice da papila do folículo dão origem às estruturas que compõem o pelo: cutícula, complexo da membrana celular (CMC), córtex e medula. O crescimento do cabelo acontece pela ação dos hormônios, com fases de crescimento (anágena), transição (catágena) e repouso (telógena). A composição dos cabelos é essencialmente proteica em função de presença da queratina (90% a 97%), lipídeos (2%) e traços de ácidos nucleicos, carboidratos e substâncias inorgânicas, além da presença da melanina (responsável pela cor dos cabelos, pele e olhos). Exercícios Questão 1. (Enade 2016 – com adaptações) A alopecia, conhecida popularmente por calvície, pode ser entendida como um conjunto de desordens que gera a falta de cabelos ou de pelos em determinadas partes do corpo humano. Existem vários tipos de perda capilar, que podem ter causas diferentes. Entre as mais comuns, podemos citar as causas hormonais, os traumas e as doenças sistêmicas. Em 1907, foi relatado o primeiro caso de alopecia por tração, que é a perda de cabelo devido à aplicação de forças de tração no couro cabeludo. Nesses casos, é muito comum, na prática clínica, recorrer-se à aplicação tópica de cosméticos, que pode ser associada à técnica de microagulhamento. Com base no texto anterior e nos seus conhecimentos, avalie as afirmativas a seguir. I – O ciclo de crescimento do cabelo compreende as fases catágena, anágena e telógena. É durante a fase anágena que o fio de cabelo para de crescer, cai e é substituído por um novo. II – No indivíduo hígido, a maioria dos fios de cabelo encontra-se na fase anágena. III – Na alopecia por tração, ocorre tensão prolongada ou repetitiva sobre os folículos capilares. Como resultado, observam-se processo inflamatório local e diminuição do diâmetro e do comprimento dos fios. IV – O tratamento da alopecia por tração pode ser realizado com o uso de agentes vasodilatadores de uso tópico, como a finasterida. V – Tanto o uso tópico de agentes vasodilatadores quanto a realização de sessões de microagulhamento no local afetado resultam no aumento do aporte sanguíneo para o couro cabeludo, o que favorece a nutrição e a oxigenação dos folículos e, consequentemente, o crescimento dos fios. 41 TERAPIAS CAPILARES É correto o que se afirma em: A) I, II e IV, apenas. B) II, III e V, apenas. C) I, III e V, apenas. D) II e IV, apenas. E) I, II, III, IV e V. Resposta correta: alternativa B. Análise das afirmativas. I – Afirmativa incorreta. Justificativa: todo folículo capilar passa por três fases principais durante seu ciclo de crescimento: fase anágena, que compreende o crescimento do cabelo, fase catágena, uma fase transitória em que o cabelo para de crescer, e fase telógena, fase em que o cabelo cai e é substituído por umnovo. A literatura recente descreve mais duas fases do folículo capilar, a exógena e a quenógena. Durante a fase exógena, ocorre a exclusão da haste capilar de forma ativa; e, durante a fase quenógena, compreendida entre as fases telógena e anágena, o folículo permanece vazio. II – Afirmativa correta. Justificativa: em situações em que a saúde está dentro da normalidade, a avaliação do tricograma normal do couro cabeludo mostra que aproximadamente 85% dos cabelos estão na fase anágena (ou seja, em crescimento), 14% na catágena e 1% na telógena. III – Afirmativa correta. Justificativa: a tensão prolongada ou repetitiva sobre os folículos capilares resulta em inflamação, eritema perifolicular e pústulas, o que favorece a conversão da fase anágena em telógena e a cicatrização do bulbo piloso. Como resultado, observa-se a produção de fios mais finos e menores ou a completa ausência de fios. IV – Afirmativa incorreta. Justificativa: o uso tópico de vasodilatadores é efetivo no tratamento dos casos de alopecia por tração. No entanto, o exemplo citado na alternativa (finasterida) não corresponde a um agente vasodilatador, 42 Unidade I mas, sim, a um inibidor da 5-alfarredutase, utilizado no tratamento da alopecia androgenética. Um exemplo de vasodilatador de uso tópico é o minoxidil. V – Afirmativa correta. Justificativa: tanto o uso tópico de vasodilatadores quanto o microagulhamento promovem o aumento da circulação sanguínea local, com nutrição e oxigenação do folículo piloso, o que permite que a fase anágena ocorra dentro de seu ciclo fisiológico, com consequente diminuição na queda de cabelo. Questão 2. Os cabelos são polímeros constituídos essencialmente por proteínas, por lipídeos e por traços de ácidos nucleicos, de carboidratos e de substâncias inorgânicas. Conhecer a composição e as propriedades físico-químicas dos fios de cabelo é essencial para o profissional que realiza terapias capilares. Com base nos seus conhecimentos sobre o assunto, assinale a alternativa correta. A) A queratina, proteína não solúvel em água e resistente à ação de enzimas proteolíticas, é a molécula que predomina nos fios de pelo e de cabelo. B) As pontes de dissulfeto entre os resíduos de cisteína da queratina predominam nos cabelos crespos e praticamente não são encontrados nos cabelos lisos. C) A maleabilidade do cabelo deve-se à presença de queratina mole na região do córtex. D) A feomelanina é uma proteína que confere ao cabelo cor que varia do castanho ao preto. E) Os grânulos de melanina encontram-se principalmente na cutícula dos fios de cabelo. Resposta correta: alternativa A. Análise das alternativas A) Alternativa correta. Justificativa: a queratina é uma proteína estrutural que constitui aproximadamente 85% das fibras de pelo e de cabelo. Ela é rica em um aminoácido sulfurado denominado cisteína, é resistente à ação de enzimas proteolíticas e forma estruturas poliméricas. As principais funções da queratina são conferir aos fios resistência, elasticidade e impermeabilidade à água. B) Alternativa incorreta. Justificativa: dois resíduos de cisteína unidos por pontes de dissulfeto formam o aminoácido cistina, cuja estrutura é apresentada a seguir. 43 TERAPIAS CAPILARES OH OH NH2 H2N O O H H S S Figura 21 – Fórmula estrutural da cistina Disponível em: https://bit.ly/3yUPU9j. Acesso em: 10 abr. 2021. Os resíduos de cistina estão presentes nos cabelos lisos, ondulados e crespos. De fato, sabe-se que, quimicamente, não existe diferença entre as proteínas que constituem os cabelos caucasianos, orientais e afro-étnicos. Os principais determinantes do formato dos fios são o formato do folículo capilar e a distribuição de queratina ao longo do fio. Nos cabelos cacheados e crespos, a luz do folículo é achatada, e ocorre acúmulo de queratina no lado côncavo da curvatura do fio. No cabelo liso, a luz do folículo é circular, e as células corticais são organizadas de forma uniforme em toda a fibra. C) Alternativa incorreta. Justificativa: o corte transversal do cabelo mostra três camadas concêntricas de células queratinizadas: a medula, o córtex e a cutícula. A medula consiste em queratina mole. O córtex e a cutícula contêm queratina dura, cuja proporção de cistinas é maior do que na queratina mole. Assim, a principal queratina presente nos fios de cabelo é a queratina dura. D) Alternativa incorreta. Justificativa: a melanina é a proteína que confere a cor aos cabelos e protege a estrutura dos raios ultravioleta. Existem dois tipos principais de melanina: a feomelanina, que confere o tom avermelhado aos fios, e a eumelanina, que confere o tom loiro, castanho ou preto. Quando apenas a eumelanina marrom está presente na fibra capilar, ela adquire o tom loiro. A presença de eumelanina preta, por sua vez, confere tom escuro aos cabelos. E) Alternativa incorreta. Justificativa: os grânulos de melanina encontram-se principalmente no córtex, que constitui a estrutura intermediária e mais espessa dos fios.