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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO Renata Lucia Baptista Flores A Política de Editais como religião laica: o legado dos governos PT para a Formação Docente Florianópolis – SC 2021 Renata L. B. Flores A Política de Editais como religião laica: o legado dos governos PT para a Formação Docente Tese apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Doutora em Educação na linha Trabalho e Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação do Centro de Ciências da Educação da Universidade Federal de Santa Catarina Orientadora: Profa. Dra. Olinda Evangelista Florianópolis – SC 2021 Renata L. B. Flores A Política de Editais como religião laica: o legado dos governos PT para a Formação Docente O presente trabalho em nível de doutorado foi avaliado e aprovado por banca examinadora composta pelos seguintes membros: Profa. Dra. Olinda Evangelista (Presidente) Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Profa. Dra. Sara Granemann Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Profa. Dra. Olgaíses Maués Universidade Federal do Pará (UFPA) Prof. Dr. João Batista Zanardini Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) Profa. Dra. Rosalba Maria Cardoso Garcia Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Profa. Dra. Eneida Oto Shiroma (suplente) Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Profa. Dra. Priscila Monteiro Chaves (suplente) Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) Certificamos que esta é a versão original e final do trabalho de conclusão que foi julgado adequado para obtenção do título de doutor em Educação. ____________________________ Prof. Dr. Amurabi Pereira de Oliveira Coordenação do Programa de Pós-Graduação ____________________________ Profa. Dra. Olinda Evangelista Orientadora Florianópolis, 2021. Para minha Bárbara menina tão desejada! Ela, que atravessou essa tese como um furacão, mas que dá ainda mais sentido para a busca de um mundo revolucionado, de uma vida com consciência de classe. Para as Professoras e Professores brasileiros, trabalhadores expostos como nunca nessa conjuntura ‘pandemônica’ funesta, com o desejo de contribuir para que reajamos às expropriações que nos impingem; para que nos reconheçamos como classe. AGRADECIMENTOS Ser significa conviver. [...] O homem não tem um território interior soberano, está todo e sempre na fronteira, olhando para dentro de si ele olha o outro nos olhos ou com os olhos do outro. BAKHTIN, 2003 Sou o que sou, porque estou onde estou; tenho a história que tenho, as relações que constituí e constituo ao longo da vida. Sujeita indelével e irremediavelmente coletiva. Palavras gratas ainda que sempre insuficientes. A Olinda Evangelista, meu agradecimento primeiro. Da professora admirada à amiga mais que querida, passando pela valorosa orientadora. Foram tempos muito singulares esses anos do doutorado, na minha vida em especial um tanto mais com a chegada da Bibi, e pude contar com ela durante todo o período – do trabalho/da vida. Sem prescindir da seriedade e do rigor, foi muito humana e acolhedora sempre. Cresci muito, aprendi demais, com ela e a partir de suas ações. Minha maior gratidão é que o doutorado acaba, mas ela é parte da minha vida. A jornada do doutoramento numa cidade tão distante da minha não teria começado tranquila como foi sem o lar que me abrigou: Lívia Volta não piscou em oferecer sua casa e em me deixar a vontade a ponto de fazê-la um tantinho minha também! E, nela, a Íris Mascelani, minha chef, minha companheira de algumas manhãs, almoços e culinária. Queridona. Pra completar o pacote: o Luke <3! Amor demais, primeiro no Itacurubi, depois no Córrego. Sua generosidade, Lili, NUNCA será esquecida; nem as conversas, as risadas, as pizzas, os passeios, o cupcake mais incrível de todos na Fairyland... Vocês são incríveis e foram essenciais nessa caminhada! Obrigada demais! Já na UFSC, foram muuuuuuuiiiitos os encontros! De trabalho e procrastinação; de estudos, reflexões e de CSC. Márcia Donzelli, Marilia Tessarin, Liliam Barcelos, cujos caminhos cruzaram com o meu o tornando mais alegre e com debates que não suspeitei que faria nesses tempos! André, Bruno, João Vicente e Vagner, companheiras/os da Linha Trabalho e Educação, na Turma 2017! Como nos divertimos! E como debatemos. Turma tão fértil que as três mulheres tivemos filhotes! Por isso, aliás, Elaine e Fernanda são colegas a quem destaco especial gratidão. Professoras da EB e mães, em meio a uma pandemia ademais: a gente sabe da dureza dos caminhos acadêmicos para nós, né?! Que as vidas no Rio, em Santa Catarina e no Paraná se entrecruzem de vez em quando ao menos! Obrigada aos seis! No curto espaço de tempo em que pude contribuir com o movimento discente das/os pós-graduandas/os da Universidade, convivi com colegas que somaram demais pra mim, como Amália, que um dia ainda vou visitar na Bahia! (rs) Cheiro, mulher! Tenho a agradecer demais a oportunidade de debates tão profícuos também no Grupo de Estudos sobre Política Educacional e Trabalho – GEPETO! Começar o doutorado com a interlocução de vocês foi um privilégio! Às professoras Eneida Shiroma e Rosalba Garcia gratidão ainda maior pelo aceite em compor a banca da defesa! Aliás, demais professoras e professores do PPGE, da Linha Trabalho e Educação, são destinatários de minha irrestrita gratidão: Célia Vendramini, Luciana Marcassa, Soraya Franzoni, Jéferson Dantas, Marcos Bassi, Patricia Torriglia. Ao Grupo de Investigações em Política Educacional – GIPE-Marx os maiores agradecimentos e as mais profundas saudades! Além de Olinda, Mauro Titton e Astrid, professores e companheiros; Allan Kenji, Artur Gomes, Fernanda Mikolaiczyk (de novo!), Fernando Santos, Leticia Fiera e Thiago Salgado, muito agradecida pelas partilhas! Priscila Chaves, pessoa-presente que Olinda colocou perto, obrigada pelas parcerias, pela atenção, por topar a suplência na banca! Hellen Balbinotti, gratidão por se fazer presente, por se mostrar ponto de apoio caso precisasse. Ao Professor Jean Calegari o profundo agradecimento pela generosidade em contribuir com sua expertise para que não apresentássemos inconsistências nas análises orçamentárias. Aos demais professoras e professores que se dispuseram a contribuir com o trabalho respondendo positivamente ao convite de composição da banca: Olgaíses Maués e João Zanardine, muito obrigada! Um agradecimento mais que especial à Sara Granemann, essa mulher in crí vel, referência acadêmica e de luta, a quem tenho a alegria de chamar de amiga! Mas essa trajetória começa antes de chegar na UFSC... Preciso agradecer ao Coletivo de Estudos em Marxismo e Educação – ColeMarx/UFRJ, em especial ao GT Trabalho e Formação de Professores, por todos os anos de trabalho coletivo que antecederam minha ida para Florianópolis. Ao Professor Jailson Santos o agradecimento pela disponibilidade em contextualizar questões de orçamento e sanar dúvidas existentes. Gratidão também ao ConPAS – Conversas entre Professores, Alteridades e Singularidades, e especialmente à Graça Reis, amiga generosíssima, parceira de realizações acadêmicas e extensionistas no CAp/UFRJ. Nélia Mara, amiga das risadas e das lamentações; dotôra na qual me inspiro, obrigada por dividir a noção de não-álibi para a vida; as dores desses tempos, mas também as alegrias; obrigada por ser referência e me lembrar que não sou ET sozinha nesse mundo! Ao CAp/UFRJ, e ao Setor Curricular Multidisciplinar,assim como às e aos colegas docentes de lá, o agradecimento pela oportunidade do afastamento. Sem ele, em Florianópolis e com filha pequena longe da escola, teria sido impossível. Do CAp para a vida, agradecimentos às amigas Cris Miranda, Graça Reis (mais uma vez!), Celeia Machado, Ana Crélia Dias, Maria Coelho, Marilane Abreu, Sandra Barros e ao bendito fruto André Uzêda. Não posso deixar de agradecer aos companheiros que, na luta sindical, me ensinaram/ensinam tanto, a ponto de terem um papel relevante nos meus interesses e vieses de estudo! Primeiro, da ADUFRJ de outrora, Cris Miranda, Sara (de novo!), Luciana Boiteux, Luciano Coutinho, Mariana Trotta, Roberto Leher, Cláudia Piccinini, Regina Pugliese, Sanglard, Mauro Iasi, Zé Miguel, Cleusa Santos, Roberto Leher, Cláudia Piccinini entre tantos imprescindíveis. Ademais àquelas/es queridas/os que não esmorecem e vêm construindo o ANDES-SN e os quais nem tenho como nomear para não correr o risco de cometer injustiças. Obrigada por tanto! Ah! E minha família! Porto mais que seguro, braços e pernas e abraços meus e para mim sempre que preciso. Vera, minha mãe, que saiu de sua casa por diversas vezes para dar suporte à minha ‘bebeza’ quando das idas para Floripa. Emilia, ou a Dinda, que enquanto pode garantiu minhas quartas de trabalho levando a Bibi pra sua casa, e que é minha personal revisora de inglês. Bu, por seu afeto inequívoco. Marcius e Marilda, família mineira que nos acolheu por mais de um mês, segurando as pontas com a pequena para tese andar. A certeza de poder contar com vocês faz a vida, tão dura, ser mais leve e até ter um tanto de alegrias! Obrigada mesmo! E ao Cláudio, meu amor! Além de parceiro da vida e dos desejos pro mundo, referência acadêmica, leitor de boas partes dessa tese, incentivador. Esses tempos não têm sido nada fáceis; eu não sou exatamente um anjo de candura... Agradeço todos os dias por ter você por perto, partilhando tudo! Sujeita indelével e irremediavelmente coletiva, cujas palavras gratas serão sempre insuficientes, mas ainda assim dignas de serem ditas! Aqui, tomando de empréstimo a belezura dos bordados de Olinda Evangelista! Do pessimismo da razão O mundo ao avesso nos ensina a padecer a realidade ao invés de transformá-la, a esquecer o passado ao invés de escutá-lo e a aceitar o futuro ao invés de imaginá-lo: assim pratica o crime, assim o recomenda. Eduardo Galeano, 1999 Do otimismo da vontade Virá Impávido que nem Muhammad Ali Virá que eu vi Apaixonadamente como Peri Virá que eu vi Tranquilo e infalível como Bruce Lee Virá que eu vi O axé do afoxé Filhos de Gandhi Virá E aquilo que nesse momento se revelará aos povos Surpreenderá a todos não por ser exótico Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto Quando terá sido o óbvio Caetano Veloso, 1977 RESUMO Nesta tese examinamos o advento da Política de Editais (PE) na formação inicial de professores e professoras para Educação Básica, tomando os editais como materialização de estratégia da política do capital. Nossa argumentação é a de que os editais emergem no fluxo das políticas educacionais comprometidas com a manutenção da hegemonia capitalista, produto do Estado burguês, e servem como ferramentas de obscurecimento da realidade. Ao mesmo tempo, têm papel na conformação dos que atuam e atuarão na formação da classe trabalhadora. A mesma foi implantada em meados dos anos 2000, com a ascensão do Partido dos Trabalhadores (PT) ao Governo Federal, tendo Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência da República. Estudamos especialmente o período 2003-2016 e demonstramos a estruturação da política educacional capitaneada por Fernando Haddad (PT) enquanto Ministro da Educação. Sem romper com as políticas desenvolvidas pelos governos que os antecederam, notadamente o de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o processo traz à tona o debate da elaboração da PE no bojo do desenvolvimento do neoliberalismo no Brasil, com ênfase no contexto do gerencialismo na Educação e do aprofundamento dos ajustes orçamentários nas Instituições Públicas de Ensino Superior. Debruçamo-nos sobre os programas de Formação Inicial de Professores desenvolvidos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) – agência que tem a função de induzir e fomentar a Formação Docente no país – que ocorrem por meio de editais: o Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR), o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), o Programa de Residência Docente (PRD)/ o Programa de Residência Pedagógica (RP) e a Universidade Aberta do Brasil (UAB). Examinamos diferentes fontes, incluindo os Relatórios de Gestão da CAPES dos anos de 2008 a 2020; discursos de Fernando Haddad como ministro, as planilhas de execução orçamentária encontradas no sítio eletrônico da Coordenação; editais publicados dos referidos Programas; lives e seminários disponíveis na internet que tematizaram as iniciativas. Tais documentos e materiais lastreiam nossas análises da PE, legado dos governos PT para a Formação Docente nacional, como religião laica a difundir uma cultura, um ethos privado nas Instituições Públicas de Ensino Superior (IPES); a naturalizar práticas crescentemente heterônomas nessas instituições; a aprofundar a alienação da intelectualidade acadêmica. Concluímos inquirindo a hegemonia pós-moderna na adesão acrítica a uma política de fomento que subordina a formação humana aos interesses do Capital. Palavras- Chave: Política de Editais; Formação Docente; Pibid; PARFOR; Residência Pedagógica; UAB. ABSTRACT In this thesis we examine the advent of the Public Notices Policy (PE) in the initial training of teachers for Basic Education, taking the public notices as a materialization of the capital policy strategy. Our argument is that edicts emerge in the flow of educational policies committed to the maintenance of capitalist hegemony, a product of the bourgeois state, and serve as tools for obscuring reality. At the same time, they play a role in shaping those who work and will act in the formation of the working class. It was implemented in the mid-2000s, with the rise of the Workers' Party (PT) to the Federal Government, with Luiz Inácio Lula da Silva as President of the Republic. We studied especially the period 2003-2016 and demonstrated the structuring of the educational policy headed by Fernando Haddad (PT) as Minister of Education. Without breaking with the policies developed by the governments that preceded them, notably that of Fernando Henrique Cardoso (PSDB), the process brings to light the debate on the elaboration of the EP in the midst of the development of neoliberalism in Brazil, with an emphasis on the context of managerialism in Education and the deepening of budget adjustments in Public Institutions of Higher Education. We focus on the Initial Teacher Training programs developed by the Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel (CAPES) – an agency that has the function of inducing and promoting Teacher Training in the country – which take place through public notices: the National Plan of Basic Education Teacher Training (PARFOR), the Institutional Program for Initiation to Teaching Scholarships (Pibid), the Teacher Residency Program (PRD)/ the Pedagogical Residency Program (RP) and the Open University of Brazil (UAB) . We examined different sources, including CAPES Management Reports for the years 2008-2020; speeches by Fernando Haddad as minister, the budget execution spreadsheets found on the Coordination website; published notices ofsuch Programs; lives and seminars available on the internet that focus on the initiatives. Those documents and materials support our analysis of the PE, a legacy of the PT governments for the national Teacher Education, as a secular religion to spread a culture, a private ethos in Public Institutions of Higher Education (IPES); to naturalize increasingly heteronomous practices in these institutions; to deepen the alienation of academic intelligentsia. We conclude by investigating the postmodern hegemony in the uncritical adherence to a development policy that subordinates human formation to the interests of Capital. Keywords: Public notices policy; Teacher trainning; Pibid, PARFOR, RP, UAB. RESUMÉ Dans cette thèse, nous examinons l'avènement de la Politique d'annonces publiques (PE) dans la formation initiale des enseignants de l'Éducation de base, en considérant les annonces publiques comme une matérialisation de la stratégie de politique d'investissement. Notre argument est que les édits émergent dans le flux des politiques éducatives engagées dans le maintien de l'hégémonie capitaliste, un produit de l'État bourgeois, et servent d'outils pour obscurcir la réalité. En même temps, ils ont un rôle à jouer dans la formation de ceux qui travaillent et agiront dans la formation de la classe ouvrière. Il a été mis en œuvre au milieu des années 2000, avec la montée du Parti des travailleurs (PT) au gouvernement fédéral, avec Luiz Inácio Lula da Silva comme président de la République. Nous avons notamment étudié la période 2003-2016 et démontré la structuration de la politique éducative menée par Fernando Haddad (PT) en tant que ministre de l'Éducation. Sans rompre avec les politiques développées par les gouvernements qui les ont précédés, notamment celui de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), le processus met en lumière le débat sur l'élaboration du PE au milieu du développement du néolibéralisme au Brésil, en mettant l'accent sur le contexte du managérialisme dans l'éducation et l'approfondissement des ajustements budgétaires dans les établissements publics d'enseignement supérieur. Nous nous concentrons sur les programmes de formation initiale des enseignants développés par la Coordination pour le perfectionnement du personnel de l'enseignement supérieur (CAPES) - une agence qui a pour fonction d'induire et de promouvoir la formation des enseignants dans le pays - qui se déroulent par le biais d'annonces publiques : le Plan national de formation des enseignants de l'éducation de base (PARFOR), le Programme de bourses institutionnelles d'initiation à l'enseignement (Pibid), le Programme de résidence des enseignants (PRD)/le Programme de résidence pédagogique (RP) et l'Université ouverte du Brésil (UAB) . Nous avons examiné différentes sources, dont les rapports de gestion du CAPES pour les années 2008-2020; les discours de Fernando Haddad en tant que ministre, les feuilles de calcul d'exécution budgétaire trouvées sur le site de la Coordination ; les avis publiés desdits programmes ; vies et séminaires disponibles sur Internet qui se sont concentrés sur les initiatives. Ces documents et matériels soutiennent notre analyse de l'EP, un héritage des gouvernements PT pour la formation nationale des enseignants, en tant que religion laïque pour diffuser une culture, une philosophie privée dans les établissements publics d'enseignement supérieur (IPES) ; naturaliser des pratiques de plus en plus hétérogènes dans ces institutions ; approfondir l'aliénation de l'intelligentsia universitaire. Nous concluons en étudiant l'hégémonie postmoderne dans l'adhésion non critique à une politique de développement qui subordonne la formation humaine aux intérêts du Capital. Mots-clés: Politique d'annonces publiques; Formation des enseignantes; Pibid; PARFOR; RP; UAB. RESUMEN En esta tesis se examina el advenimiento de la Política de Avisos Públicos (EF) en la formación inicial de docentes de Educación Básica, tomando los avisos públicos como materialización de la estrategia de política de capital. Nuestro argumento es que los edictos surgen en el flujo de políticas educativas comprometidas con el mantenimiento de la hegemonía capitalista, producto del estado burgués, y sirven como herramientas para oscurecer la realidad. Al mismo tiempo, tienen un papel en la formación de quienes trabajan y actuarán en la formación de la clase trabajadora. Se implementó a mediados de la década de 2000, con el ascenso del Partido de los Trabajadores (PT) al Gobierno Federal, con Luiz Inácio Lula da Silva como presidente de la República. Estudiamos especialmente el período 2003-2016 y demostramos la estructuración de la política educativa encabezada por Fernando Haddad (PT) como ministro de Educación. Sin romper con las políticas desarrolladas por los gobiernos que los precedieron, en particular la de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), el proceso saca a la luz el debate sobre la elaboración del PE en medio del desarrollo del neoliberalismo en Brasil, con énfasis sobre el contexto del gerencialismo en Educación y la profundización de los ajustes presupuestarios en las Instituciones Públicas de Educación Superior. Nos enfocamos en los programas de Formación Docente Inicial desarrollados por la Coordinación de Perfeccionamiento del Personal de Educación Superior (CAPES) - organismo que tiene la función de inducir y promover la Formación Docente en el país - que se realizan a través de convocatorias públicas: el Plan Nacional de Formación Docente de Educación Básica (PARFOR), el Programa Institucional de Becas de Iniciación a la Docencia (Pibid), el Programa de Residencia Docente (PRD) / Programa de Residencia Pedagógica (RP) y la Universidad Abierta de Brasil (UAB). Examinamos diferentes fuentes, incluidos los informes de gestión de CAPES para los años 2008-2020; los discursos de Fernando Haddad como ministro, las planillas de ejecución presupuestaria que se encuentran en el sitio web de la Coordinación; avisos publicados de dichos Programas; vidas y seminarios disponibles en Internet que se centraron en las iniciativas. Dichos documentos y materiales respaldan nuestro análisis de la EP, un legado de los gobiernos del PT para la Formación Docente nacional, como religión laica para difundir una cultura, un ethos privado en las Instituciones Públicas de Educación Superior (IPES); naturalizar prácticas cada vez más heterónomas en estas instituciones; profundizar la alienación de la intelectualidad académica. Concluimos investigando la hegemonía posmoderna en la adhesión acrítica a una política de desarrollo que subordina la formación humana a los intereses del Capital. Palabras clave: Política de avisos públicos; Formación Docente; Pibid; PARFOR; RP; UAB. LISTA DE FIGURAS Figura 1. Print screen do portal da CAPES, links para os programas (2021) .................... p. 56 Figura 2. Print screen do portal da CAPES, página da UAB (2021) ................................. p. 57 Figura 3. Print screen do portal da CAPES, página de notícias sobre o Parfor (2019) ...... p. 93 Figura 4: Print screen do portal da CAPES, da página de notícias sobre Iniciação à Docência (2019) .............................................................................................................................................. p. 94 Figura 5: Print screen de matéria na página da Revista Nova Escola (2018) .................... p. 94 Figura 6: Quadro da CAPES em 2017 com valores dotados e executados pela agência (2004- 2007) ................................................................................................................................... p. 97Figura 7: Quadro da CAPES em 2017 com valores dotados e executados pela agência (2008- 2011) ................................................................................................................................... p. 97 Figura 8: Print screen de quadro do orçamento de 2012 divulgado na página da CAPES (2019) .................................................................................................................................. p. 99 Figura 9: Esquema PARFOR (2021) ................................................................................ p. 103 Figura 10: Esquema UAB (2021) ..................................................................................... p. 104 Figura 11: Print screen de tabela do Relatório de Gestão de 2010 ................................... p. 104 Figura 12: Print screen da página Dados Abertos da CAPES (2021) ............................................................................................................................................ p. 105 Figura 13: Print screen da página “Orçamento-Evolução em Reais”, da CAPES (2021) ............................................................................................................................................ p. 118 Figura 14: Print screen de detalhe do chat da Mesa Redonda “Programa de Residência Pedagógica: uma prática situada na Formação de Professores” (2020) ............................ p. 129 Figuras 15 e 16: Print screen de slides das apresentações dos professores Alexandre Melo de Souza (Coordenador Institucional do Pibid na UFAC) e Rosane Garcia Silva (Coordenadora Institucional do RP na UFAC), respectivamente, no 1º Encontro PIBID e Residência Pedagógica UFAC 2021 (2021) .................................................................................. p. 138 Figuras 17: Print screen da página-formulário que deveria ser preenchida para concorrer (2020) ................................................................................................................................ p. 179 Figura 18: Print screen de parte do edital (2020) ......................................................... p. 180 LISTA DE TABELAS Tabela 1. IPES integrantes do sistema UAB (2005-2014) ................................................. p. 69 Tabela 2. Polos e matrículas UAB por ano (2005-2013) ................................................... p. 70 Tabela 3. Matrículas nas Licenciaturas a distância por categoria administrativa (2002-2012) .............................................................................................................................................. p. 71 Tabela 4. Variação dos valores investidos em cada Programa em relação ao ano anterior: ano, programa, percentual de variação (2013-2015) ................................................................ p. 115 LISTA DE QUADROS Quadro 1. Programas de Formação de professores, via editais, organizados e fomentados pela CAPES: nome, ano de lançamento/último edital, objetivo (2005-2019) ............................ p. 39 Quadro 2. Editais dos programas de formação inicial de professores publicados: nomes, números dos editais, órgãos responsáveis (2005-2020) ...................................................... p. 42 Quadro 3. Publicações de regulamentação do Pibid: Portarias, números e datas, Ministros da Educação e Presidentes da CAPES responsáveis (2010-2019) .......................................... p. 47 Quadro 4. Dados numéricos acumulados do Parfor (2009-2018) ..................................... p. 66 Quadro 5. Cursos de Formação de Professores passíveis de proposição ao Edital no 5/2018: área, tipo e natureza (2018) ................................................................................................. p. 89 Quadro 6. Total em Reais liquidado pela CAPES anualmente (2013-2016) .................. p. 106 Quadro 7. Total em Reais de empenhos liquidados pela CAPES em favor dos Programas: programas, valores liquidados anualmente, totais gerais liquidados por ano (2013-2016) ............................................................................................................................................ p. 107 Quadro 8. Valores em Reais do total de empenhos liquidados pela CAPES em favor dos Programas: programas, valores liquidados (2013-2015) .................................................. p. 110 Quadro 9. Programas CAPES de formação docente com percepção de bolsas (2013-2016) ............................................................................................................................................ p. 111 Quadro10. Percentual de bolsistas Pibid, por ano, em relação ao total de matrículas em Licenciaturas (presenciais e a distância) no país: ano, total de matrículas, bolsas distribuídas, percentis (2013-2016) ....................................................................................................... p. 114 Quadro 11. Montante anual do orçamento liquidado, por programa (2013-2015) .......... p. 116 Quadro 12. Percentual do montante geral da CAPES, por ano, referente ao orçamento liquidado de cada programa (2013-2015) ......................................................................... p. 117 Quadro 13. Valores totais executados pela CAPES a cada ano (2006-2008) ................. p. 117 Quadro 14. Número de Instituições Públicas de Ensino Superior inscritas no Edital n.2/2020 da CAPES, por esfera administrativa: federais, estaduais, municipais e total .................. p. 130 Quadro 15. Número de resultados preliminares de levantamento de literatura acadêmica (2020) ................................................................................................................................ p. 154 Quadro 16. Produções Acadêmicas sobre Política de Editais na Educação e/ou na Formação de Professores: tipo, título, autoria, fonte, data (2010-2018) ............................................ p. 157 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1. IES parceiras – total, programas, por dependência administrativa (2013) .................................................................................................................................... p. 34 Gráfico 2. Crescimento do número de bolsas Pibid (2009-2013) ............................ p. 63 Gráfico 3. Percentual de instituições com Pibid por esfera administrativa (2013) .. p. 64 Gráfico 4. Percentual de vagas solicitadas ao Parfor, por curso (2013) ................... p. 67 Gráfico 5. Quantidade anual de lançamentos nominais de bolsistas vinculados aos programas CAPES de formação docente (2013-2016) ............................................ p. 112 Gráficos 6, 7, 8 e 9. Distribuição de bolsas pagas anualmente aos Programas de Formação Docente da CAPES (2013-2016) ............................................................ p. 113 Gráficos 10, 11 e 12. Orçamento Federal Executado em 2017, 2018 e 2019 (2017- 2019) ........................................................................................................................ p. 121 Gráficos 13 e 14. Instituições de Ensino Superior selecionadas nos Editais CAPES/RP n. 1/2020 e CAPES/Pibid n. 2/2020, por categoria administrativa (2020) .............. p. 125 Gráfico 15. Número absoluto de matrículas nas IES privadas (em milhões de alunos) (1960-2018) ............................................................................................................. p. 126 Gráfico 16. Número de matrículas em cursos de licenciatura a distância por categoria administrativa (2003, 2007, 2011, 2015) ................................................................. p. 127 Gráfico 17. Evolução históricada execução das despesas para emendas parlamentares (2021) ....................................................................................................................... p. 181 LISTA DE SIGLAS ABMES – Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior ANDES-SN – Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior ANDIFES – Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior APESMI – Associação de Pescadores Artesanais da Vila de São Miguel APHs – Aparelhos Privados de Hegemonia BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CEERT – Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades CEFET – Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca C&T – Ciência e Tecnologia CNE – Conselho Nacional de Educação CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CpE – Rede Nacional de Ciência para a Educação CPII – Colégio Pedro II CT&I – Ciência, Tecnologia e Inovação DEB – Diretoria de Formação de Professores da Educação Básica da CAPES DED – Diretoria de Educação a Distância da CAPES DGES – Diretoria de Gestão da CAPES DRI – Diretoria de Relações Internacionais da CAPES DTI – Diretoria de Tecnologia da Informação da CAPES EaD – Educação a Distância EB – Educação Básica EC – Emenda Constitucional EI – Educação Infantil ENDIPE – Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino ENID – Encontro de Iniciação à Docência EOL – Esquerda Online EPSJV – Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio ES – Ensino Superior FD – Formação Docente FENAE – Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal FHC – Fernando Henrique Cardoso FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação ForPARFOR – Fórum Nacional de Coordenadores Institucionais do PARFOR ForPibid – Fórum Nacional de Coordenadores Institucionais do Pibid FURG – Universidade Federal do Rio Grande GESTAR – Gestão da Aprendizagem Escolar GIPE-Marx – Grupo de Investigação sobre Políticas Educacionais GTO – Grupo de Trabalho e Orientação IAS – Instituto Ayrton Senna IBICT – Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia ID – Iniciação à Docência IFCE – Instituto Federal do Ceará IFF – Instituto Federal Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense IFRJ – Instituto Federal Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira IPES – Instituições Públicas de Ensino Superior LP – Língua Portuguesa MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia MCTIC – Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações MDB – Movimento Democrático Brasileiro MEC – Ministério da Educação MPOG – Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão MRE – Ministério da Relações Exteriores Obeduc – Programa Observatório da Educação Obmep – Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas OM – Organizações Multilaterais OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público PAC – Plano de Aceleração do Crescimento PAR – Plano de Ações Articuladas PARFOR – Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica PDE – Plano de Desenvolvimento da Educação PDT – Partido Democrático Trabalhista PE – Política de Editais Pibid – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência PIB – Produto Interno Bruto PITCE – Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior PLOA – Projeto de Lei Orçamentária Anual PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro PNAP – Programa Nacional de Formação em Administração Pública PP – Partido Progressista PPPs – Parcerias Público-Privadas PRADIME – Programa de Apoio aos Dirigentes Municipais de Educação PRD – Programa de Residência Docente PROEXT – Programa de Apoio à Extensão ProF-Licenciatura – Programa de Fomento à Formação de Professores da Educação Básica ProFEA – Programa de Formação de Educadores Ambientais ProUni – Programa Universidade para Todos PRP – Programa de Residência Pedagógica PSB – Partido Socialista Brasileiro PT – Partido dos Trabalhadores PUC-SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo REUNI - Reestruturação e Expansão das Universidades Federais SciELO – Scientific Electronic Library Online SEED – Secretaria de Educação a Distância SESu – Secretaria de Educação Superior SIGAA – Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas SUS – Sistema Único de Saúde TIC – Tecnologias da Informação e Comunicação TPE – Todos Pela Educação UAB – Universidade Aberta do Brasil UEL – Universidade Estadual de Londrina UESPI – Universidade Estadual do Piauí UF – Unidade da Federação UFAC – Universidade Federal do Acre UFC – Universidade Federal do Ceará UFG – Universidade Federal de Goiás UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais UFPA – Universidade Federal do Pará UFPB – Universidade Federal da Paraíba UFPE – Universidade Federal de Pernambuco UFPel – Universidade Federal de Pelotas UFRA – Universidade Federal Rural do Amazonas UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro UFSB – Universidade Federal do Sul da Bahia UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina UFSCar – Universidade Federal de São Carlos UFU – Universidade Federal de Uberlândia Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura Unicamp – Universidade Estadual de Campinas Unicef – Fundo das Nações Unidas para a Infância UNILAB – Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira USP – Universidade de São Paulo SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... p. 31 1.1 Do recorte da pesquisa ...................................................................................... p. 37 1.2 Documentos, discursos e lives ........................................................................... p. 41 1.3 A organização da tese ...................................................................................... p. 52 2 OS PROGRAMAS DA CAPES DE FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA ............................................................................ p. 55 2.1 A Residência (Docente e/ou Pedagógica) ......................................................... p. 57 2.2 O Pibid ................................................................................................................ p. 62 2.3 O PARFOR ........................................................................................................ p. 65 2.4 A UAB ................................................................................................................. p. 68 3 OS EDITAIS COMO FORMA E CONTEÚDO DA POLÍTICA DO CAPITAL .................................................................................................................................... p. 73 3.1 Fernando Haddad muito além do Ministério da Educação .......................... p. 77 3.1.2 Lobo em pele de cordeiro ................................................................................. p. 83 3.2 Os editais como política do capital .................................................................. p. 90 4 MUITO BARULHO POR NADA? OS PROGRAMAS EM CIFRAS ................................................................................................................................... p. 93 4.1 O duplo caráter da transparência dos dados .................................................. p. 96 4.1.1 Obscurecimento como projeto ........................................................................p. 100 4.2 Dados pormenorizados .................................................................................... p. 105 4.2.1 Dotação e execução orçamentária .................................................................. p. 106 4.2.2 Bolsas para Formação de Professores da Educação Básica ........................... p. 109 4.2.2.1 Quem vê cara não vê coração: Pibid como caso emblemático ................... p. 113 4.3 O que revela o orçamento ............................................................................... p. 115 4.4 Breve caracterização da situação orçamentária ........................................... p.119 4.5 Política Pública abrindo espaço para o benefício privado ............................ p.123 5 A POLÍTICA DE EDITAIS NAS IPES COMO RELIGIÃO LAICA .......... p. 129 5.1 Os editais e a estruturação de uma cultura ................................................... p. 133 5.2 A sociabilidade do capital nas IPES: que cultura é essa? ............................ p. 136 5.3 A adesão ativa aos editais de Formação: alienação dos Docentes intermediários .................................................................................................................................. p. 141 5.4 Para a sociabilidade do capital, a teoria do capital ...................................... p. 149 6 REFLEXOS DA FRAGMENTAÇÃO PÓS-MODERNA .............................. p. 153 6.1 A literatura acadêmica sobre os editais para a Formação Docente ............ p. 154 6.2 Da literatura recolhida .................................................................................... p. 158 6.2.1 O desfile dos editais ........................................................................................ p. 160 6.2.1.1 Do ethos em construção para a reposição da hegemonia burguesa ........... p. 162 6.3 Sobre dar o couro para o tambor ................................................................... p. 166 6.3.1 Nem tudo que reluz ......................................................................................... p. 168 6.3.1.1 Editais para a formação docente: apontamentos a partir da literatura ..... p. 170 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS: O LEGADO DOS GOVERNOS PT PARA A FORMAÇÃO DOCENTE E ALÉM .................................................................... p. 173 REFERÊNCIAS .................................................................................................... p. 185 ANEXOS APÊNDICE A ........................................................................................................ p. 211 APÊNDICE B ........................................................................................................ p. 215 APÊNDICE C ........................................................................................................ p. 218 APÊNDICE D ........................................................................................................ p. 222 APÊNDICE E ........................................................................................................ p. 224 APÊNDICE F ......................................................................................................... p. 226 APÊNDICE G ........................................................................................................ p. 228 APÊNDICE H ........................................................................................................ p. 229 APÊNDICE I .......................................................................................................... p. 231 APÊNDICE J ......................................................................................................... p. 236 31 1 INTRODUÇÃO [...] nada pode ser intelectualmente um problema se não tiver sido, em primeiro lugar, um problema da vida prática. Minayo, 2002. Na década de 1990, momento de advento do neoliberalismo no Brasil em razão das necessárias mudanças econômicas resultantes de crises do capital, pôs-se em discussão, por organizações multilaterais e Estado, a formação de professores para a Educação Básica (EB). De maneira geral, a atenção do Banco Mundial (BM), da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) ou da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) para com os temas educacionais brasileiros é notória, tendo Leher (1999, p.19) indicado o primeiro como “[...] o ministério mundial da educação dos países periféricos”. É irrefutável o compromisso de classe dessas agências com o alinhamento da formação às demandas do capitalismo, à manutenção da hegemonia burguesa, e seus movimentos nesse sentido são constantes. Recorrendo à caracterização do período do capitalismo neoliberal em que nos situamos, Foster (2013, p.87) contribui para que reconheçamos tais necessidades: Vivemos em uma era de crise estrutural associada a uma nova fase do capitalismo: o capital monopolista-financeiro. Esta fase é caracterizada por: (1) estagnação econômica nas economias capitalistas desenvolvidas; (2) uma mudança dramática em direção à financeirização [...]. Analisando a realidade estadunidense o autor ajuda na compreensão das origens da reorganização da ortodoxia neoliberal (MELO; SOUZA; MELO, 2015, p.43) e os rebatimentos gerados no mundo para “[...] atender às necessidades do processo de acumulação do capital e de legitimação social” que levaram à conjuntura de Neoliberalismo de Terceira Via na qual nos encontramos. Tal quadro se caracteriza pela afirmação do capitalismo como caminho único às sociedades mundiais, (1) por meio da diluição da ideia da exploração de classe com base numa nova forma de apresentação das classes e sem negá-las; (2) com a defesa de um novo tipo de relação entre Estado e Sociedade Civil, via aparente essencialização máxima do primeiro, sua dissociação do funcionamento da sociedade capitalista e transferência de responsabilidades políticas e sociais ao terceiro setor; (3) forjando uma ‘moderna’ nova esquerda, que se estrutura 32 sem ressalvas aos mercados; e (4) com caminho aberto para a apologia ao processo de precarização do trabalho via destruição dos direitos dos trabalhadores (MELO; SOUZA; MELO, 2015). Uma ideologia hegemônica que pode ser verificada na materialidade das escolas de Educação Básica brasileiras, seja por meio da análise de sua estrutura político-pedagógica, seja pela aferição das condições de contratação e trabalho1 dos profissionais que nela atuam, seja pelos interesses de classe que perpassam as relações de ensino-aprendizagem. No que tange especificamente à Formação Docente (FD), diversos autores assinalam a atuação prescritiva de Organizações Multilaterais (OM), trabalhando para a conformação de novos vieses formativos, inclusive visando a ressignificação do trabalho dos professores e professoras, como Santos, Silva e Valentini (2019, p.226): Essa reorganização do trabalho docente alinha-se, por sua vez, às diretrizes presentes nos documentos oriundos de organizações multilaterais como Banco Mundial (BM), Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), dentre outros, nos quais impõem a formação de um novo perfil do professor, assentada em novas formas de gerenciar o corpo docente com base nos preceitos de produtividade e eficiência. De nossa parte, lendo menos como imposição e identificando mais um papel ativo da burguesia brasileira nesse processo, vimos acompanhando a reiterada implementação de algumas das políticas governamentais de Formação Docente no Brasil recente. Propostas especificamente dirigidas às Universidades, embora nem sempre exclusivamente a elas, vêm sendo alardeadas por propagandas do governo e de seus agentes, e têm sido expressivamente acolhidas nas Instituições de Ensino Superior (IES). Tais propostastêm sido apresentadas num recorrente formato: como programas e/ou projetos públicos cuja participação se conclama por meio de editais vinculados a financiamentos. Um modelo que merece ser sublinhado e melhor compreendido. Pelo estudo consolidado, sistematizado nesta tese, estamos convencidas de que a Política de Editais, em sua ênfase na Formação Inicial de Professores para a Educação Básica é um 1 Crescentemente precário, o trabalho na docência da Educação Básica brasileira tem sido alvo de estudos. Para além das complexas condições de trabalho – por vezes com ausência de estrutura física e material – são cada vez menos frequentes postos regulares, com direitos trabalhistas minimamente assegurados, caso de processo seletivo nacional para cadastramento de professores num sistema que, segundo Hilda (2019), “É uma espécie de Uber Educacional” que visava organizar cadastro de docentes substitutos para Instituto. No esquema proposto, caso o professor selecionado residisse no local do Instituto a substituição eventual seria presencial; caso habitasse em outra cidade, seria on-line. 33 dos legados da política educacional implementada pelos governos do Partido dos Trabalhadores (PT) no país. Um legado que ajuda a materializar a ausência de ruptura desses governos com as políticas educacionais que os antecederam. Mais que isso, 13 anos de governo PT responsáveis pela estruturação e implementação de políticas que aprofundaram os interesses do capital na FD no Brasil. O trabalho desenvolvido na pesquisa demonstra o papel da Política de Editais (PE) nesse processo no campo da Formação inicial de Docentes para a Educação Básica e, por isso, a datação do estudo se remete preponderantemente ao período do PT no Governo Federal, ou seja, aos anos 2003 a 2016. Os editais e seus programas de Formação Docente materializam nova ferramenta a serviço da manutenção do percurso de obscurecimento da realidade em favor da sorrateira, mas robusta, sanha capitalista. Em pequena medida se realizam criando um veio de destinação de alguma verba pública para a iniciativa privada; de modo mais significativo, e com notável eficiência, têm papel na reposição da hegemonia capitalista pois instauram a sociabilidade ensejada pelo capital no cotidiano das Instituições Públicas de Ensino Superior (IPES). Compreendendo se tratar, enfim, de um recurso que intenta e instaura uma cultura nas IPES, trabalhamos com a ideia de que este é o elemento central na apreensão da real função dos editais no campo. Recorremos, para subsidiar nossas análises, aos estudos gramscianos e, em especial, à categoria de religião laica (GRAMSCI, 2002). O Programa Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR), o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) e o Programa de Residência Pedagógica (PRP) são, por sua notoriedade, bons exemplos deste fenômeno que, indicam nossos dados, teria começado após os anos de 2000. O Pibid, inclusive, mobilizou atenções e movimentações em função de ameaças à sua continuidade em 20162. A mobilização universitária – de docentes principalmente – em defesa do Pibid deu visibilidade ao movimento em torno das referidas políticas: uma postura de adesão às mesmas. Com base em dados recolhidos na empiria da pesquisa empreendida e 2 Desde o golpe que colocou Michel Temer (MDB) na presidência do país, medidas de austeridade econômica foram crescentemente anunciadas e, dentre elas, foram alardeados significativos cortes na CAPES. Neste contexto, a agência enviou a bolsistas e coordenadores do Programa mensagem notificando o encerramento da vigência do edital Pibid então em andamento; e o fez sem a divulgação de nova publicação para prosseguimento dos trabalhos. Na contramão de um processo que vinha se caracterizando pelo crescimento de bolsas oferecidas, uma leitura de ameaça ao referido programa foi forjada, com o receio de sua extinção, o que mobilizou a reação de setores da comunidade universitária na demanda por sua manutenção. Cf. Peres (2018) e UFPEL (2018). 34 analisados, constatamos a aceitação, via adesão aos editais, dos programas propostos pelos governos desde 2007. É majoritária a inserção das Instituições Públicas de Ensino Superior (IPES) nos Programas de Formação Docente via editais, como a CAPES/DEB (2013, p.18) apresenta em seu Relatório de Gestão 2009-2013. Gráfico 1. IES parceiras – total, todos os programas*, por dependência administrativa (2013) Fonte: Relatório de Gestão CAPES/DEB – Parfor 2009-2013 (BRASIL. CAPES. DIRETORIA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA, 2013). * Pibid, PARFOR, Prodocência, Novos Talentos, Observatório da Educação, Observatório da Educação Escolar Indígena Se a diferença em números absolutos parece pequena, apenas 11 IES públicas a mais, é importante pensá-la à luz da quantidade total de Instituições de Ensino Superior no país em 2013: 301 públicas e 2.090 privadas (INEP, 2013). Ou seja, em mais da metade das IPES se desenvolvia algum programa da CAPES sob a responsabilidade da Diretoria de Educação Básica (DEB) – proporção que segue aproximada de acordo com os dados atualizados trabalhados nesta pesquisa. Uma realidade que revela um paradoxo importante: a preponderância nas públicas sugere aos que nela estão imersos uma dimensão falsa dos programas em sua totalidade tendo em vista que as instituições particulares são muito mais numerosas, não só em ‘unidades’ como em número de matrículas. Ou seja, apesar de muito presentes nas IPES, em sua totalidade os Programas são efetivamente demasiado pequenos. A análise da Política de Editais (PE) por meio dos Programas de Formação Inicial dos Docentes para o Magistério na EB e seu papel na preparação das/os 35 futuras/os professoras e professores consolida o objetivo central desta investigação. Nesse sentido, nos debruçamos sobre quatro Programas de Formação Inicial desenvolvidos pela CAPES – agência que tem a função de induzir e fomentar a FD no país – que se estruturam via editais. Além do PARFOR e do Pibid, outros dois fazem parte da empiria selecionada para o estudo: a Universidade Aberta do Brasil (UAB) e os Programas de Residência, Docente (PRD) e Pedagógica (PRP)3. Importante frisar que temos como objetivo compreender o papel dos editais enquanto proposição de política formativa para a docência na Educação Básica e, para tanto, esses Programas nos dão lastro empírico para tal empreitada. Isso quer dizer que não há nesta pesquisa uma proposição de estudo específico dos conteúdos propositivos de cada um desses Programas nas diferentes IPES em que são desenvolvidos. Evangelista et al. (2019) indicam que entre 2003 e 2014 cerca de 61 programas, projetos ou ações que envolvem a formação docente foram organizados em âmbito federal, boa parte deles se realizando por meio de edital público. O escrutínio do levantamento realizado pelos autores dá a ver a amplitude difusa de seu escopo. Trata-se de propostas de formação inicial e/ou continuada, dentre as quais aparece a Residência Docente (RD); que se realizam em Nível Médio – mais de uma indicando o objetivo de “[...] consolidar Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia” (EVANGELISTA ET AL., 2019, p.173) –, em Licenciaturas ou em Pós-Graduação Stricto Sensu, caso dos Mestrados Profissionais; frequentemente anunciando a intenção de aproximar Educação Superior e Educação Básica, exaltando “inovação” e Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). Salta aos olhos a recorrência da modalidade de Educação a Distância (EaD), explícita em cerca de 30% das proposições que ocorrem essencialmente por este meio ou alternando com momentos presenciais – por vezes apontados como realizados nas férias escolares ou nos finais de semana –; e a grande diversidade de grupos aludidos: indígenas, quilombolas, campesinos, aosque estão nas zonas de fronteira; professores alfabetizadores, da Educação Infantil (EI), gestores/dirigentes. Também são dispersas as áreas envolvidas: EI, Alfabetização, Inclusão, Inclusão digital, Saúde, materiais didáticos, Educação Ambiental, Língua Portuguesa (LP), área de exatas, avaliação... No emaranhado de proposições, sobram dificuldades de compreensão quanto à definição das áreas, grupos e regiões 3 As diferenças entre Residência Pedagógica e Docente serão à frente esclarecidas. 36 privilegiados. Ao mesmo tempo, é mister esclarecer que na profusão de propostas e alvos a lógica formativa – instrumental, preponderantemente tecnicista – é constante. Nesse levantamento, chama a atenção a dificuldade encontrada em acessar dados nas páginas oficiais – seja do Ministério da Educação (MEC), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) ou do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) – acerca das iniciativas governamentais. Dificuldade também compartilhada no exercício desta pesquisa, no caso dos objetos de estudo escolhidos, preponderantemente na CAPES. As informações são truncadas, majoritariamente incompletas, se contradizem em fontes distintas embora oriundas dos próprios órgãos oficiais: algumas vezes no sítio eletrônico o dado é um e num relatório publicado o mesmo não se confirma. Segundo Evangelista, Kenji e Souza (2019, p.27), não à toa os órgãos estatais variam suas referências [...] A visão de totalidade se perde na escolha minuciosa e adequada da exposição das informações oficiais pelos arautos do aparelho de Estado e o canto da sereia pode assim ser melhor entoado. De todo modo, o significativo número de editais publicados inspira o enfrentamento das imprecisões e adversidades no levantamento de dados em função da atenção que mobilizam, não apenas por sua recorrência, mas pela ausência de estudos sistemáticos acerca do tema do financiamento da formação docente por meio de editais. Um descompasso que, derivamos, vem contribuindo para a estruturação de um senso comum equivocado acerca dos Programas a eles relacionados, posto que estes têm feito parte do cotidiano de muitas das Universidades públicas brasileiras sem serem pensados, por exemplo, em relação ao contexto de modificações que vêm sendo implementado no campo da FD. Para Gabriel e Leher (2019, p. 221), [...] um contexto em que a formação docente é materialmente alterada pela conjunção de tendências como: (i) a presença maciça nesse processo formativo de instituições privado-mercantis em detrimento das públicas: enquanto as públicas totalizam 596 mil matrículas, as privadas somam 986 mil matrículas (INEP, 2017); (ii) a proliferação de cursos de licenciatura à distância, sem o devido rigor acadêmico (setor público: 109 mil matrículas; setor privado: 633 mil, sendo 485 mil em organizações sob dominância financeira e, em grande parte, com ações na bolsa de valores); (iii) uma curva descendente do prestígio da profissão docente, afetando a procura pelos cursos de licenciatura; (iv) a proliferação de discursos negativos sobre o desempenho das universidades públicas no processo de formação inicial docente; 37 (v) o retorno nos debates políticos de percepções tecnicistas e instrumentais da docência, e (vi) a responsabilização e culpabilização4 do docente por todas as mazelas da educação. Especialmente os dois primeiros aspectos conjunturais aludidos pelos autores – o predomínio das instituições privado-mercantis na formação docente brasileira e a preponderância das matrículas em EaD – têm sido amplamente demonstrados por estudos e pesquisas desenvolvidos no âmbito do Grupo de Investigação sobre Políticas Educacionais (GIPE-Marx), composto por docentes e pós-graduandos da Universidade Federal de Santa Catarina e no bojo do qual esta tese se estruturou. Um quadro que vem se conformando há anos e consolida hoje, nas palavras de Evangelista, Kenji e Souza (2019, p.52), como uma nova forma geral de oferta de licenciatura pelas IES particulares, aquela na qual não importa o sujeito matriculado, o ser social aluno. Está em jogo tão-somente a potência de compra e venda das matrículas enquanto tais e a mesma capacidade no que tange ao valor das instituições educacionais no rentável mercado das compras e vendas de IES. Uma realidade pungente, que aprofunda a problemática da formação humana no seio da sociedade capitalista, levando-a a um extremo de supremacia do capital não reconhecido por muitos brasileiros: o Capital Educador (EVANGELISTA, 2017). Estamos frente à burguesia com seu projeto classista, cuja mediação do Estado é crucial para sobrepor-se na luta de classes. O Capital Educador envolve educadores e educandos como sujeitos da classe trabalhadora, implicando-os “no âmbito das relações de hegemonia, de disputa de poder, de antagonismo de classe” (EVANGELISTA, 2017, p. 15) e vem logrando êxito. Por meio de proposições aparentemente dispersas, os fios do projeto educativo do capital se emaranham criando uma ideia de realizações que turvam a apreensão do real. Trata-se, neste projeto, de discutir a perspectiva marxista, expressa na terceira das Teses sobre Feuerbach, escritas por Marx em 1845: A teoria materialista de que os homens são produto das circunstâncias e da educação e de que, portanto, homens modificados são produto de circunstâncias diferentes e de educação modificada esquece que as 4 Cabe assinalar que os autores usam responsabilização e culpabilização como binômios, mas há importante diferenciação a ser colocada. Enquanto a responsabilização é uma política – accountability – originalmente vinculada à gestão de governança pública e à intenção de controle que foi implementada na Educação notadamente através das avaliações em larga escala, podemos dizer que a culpabilização é uma consequência, um resultado do desenvolvimento dessa política. 38 circunstâncias são modificadas precisamente pelos homens e que o próprio educador precisa ser educado. Leva, pois, forçosamente, à divisão da sociedade em duas partes, uma das quais se sobrepõe à sociedade (como, por exemplo, em Robert Owen). A coincidência da modificação das circunstâncias e da atividade humana só pode ser apreendida e racionalmente compreendida como prática transformadora. (MARX, 2002). Mészáros (2008) chama a atenção para o fato de que a transformação social, a superação da ordem do capital, demanda uma conceituação precisa no âmbito educacional, qual seja, “educação para além do capital” (MÉSZÁROS, 2008). O autor afirma que “desde o início o papel da Educação é de importância vital para romper com a internalização predominante nas escolhas políticas circunscritas à ‘legitimação constitucional democrática’ do Estado Capitalista que defende seus próprios interesses.” (MÉSZÁROS, 2008, p. 61, grifos no original). Manter as condições de acumulação e reprodução do capital é vital e as políticas sociais vinculam-se estreitamente a esse intento. A Educação, a escola e o professor são chamados a dar as condições, em termos ideológicos, para a espinhosa tarefa de combater a pobreza brasileira – tarefa inviável. O número grande de políticas desenvolvidas pelo Governo petista – diferentemente do de FHC – sugere ser possível pensar as políticas educacionais públicas como resultantes da profunda articulação entre o aparelho de Estado e o Capital, o que confere à noção de Capital Educador maior capacidade explicativa. Não se trata de recuperar as teorias reprodutivistas, pois não compreendemos a escola como aparelho ideológico do Estado, a exemplo de Althusser (1985), ou de algum marxismo mecânico. Contrariamente, a escola – como acentuou Mészáros (2008) – é parte importante das ações educativas mediante as quais se constrói, difunde e organiza os projetos históricos de classe, âmbito em que a disputa hegemônica se coloca.A Educação, esfera carregada de contradições, expressa os litígios sociais, de classe. O Estado, como mediador de interesses burgueses hegemônicos, atua nesse campo articulado aos interesses do capital, mais do que aos interesses dos dominados, ou dos subalternos. Nesse processo, e para seu aprofundamento, educa também os educadores que se conformam intermediários da reposição da hegemonia burguesa. A pesquisa mostrou como a Política de Editais se insere nessa dinâmica, servindo a este projeto conformador aos interesses econômicos e ideológicos do capital. 39 1.1 Do recorte da pesquisa Os quatro Programas enfocados em nossas análises – a Universidade Aberta do Brasil (UAB), o mais antigo dos programas de formação inicial via editais e ainda em atividade; o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid); o Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR); e a Residência5 – são desenvolvidos sob a coordenação da CAPES e se dirigem à formação inicial de docentes para a Educação Básica. A circunscrição da análise aos programas desenvolvidos pela CAPES se dá em função de seu histórico na relação com o campo da Formação Docente. Para além de sua histórica atividade em função da pós-graduação nacional, desde a aprovação da Lei n. 11.502, de 11 de julho de 2007 (BRASIL, 2007), a agência aumentou seu escopo de atuação encampando a atenção à EB. Com a nova Lei, a CAPES tem a atribuição de “[...] induzir e fomentar a formação inicial e continuada de profissionais da Educação Básica [...]” (BRASIL.CAPES, s.d.a, p.1). Tal atribuição foi consolidada pelo Decreto nº 6755, de 29 de janeiro de 2009 (BRASIL, 2009), que instituiu a Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica. Nesse processo, o escopo de atuação da Coordenação se ampliou consideravelmente e suas atividades na área precisam ser conhecidas. Na página eletrônica da CAPES, na qual se encontram muitas fontes de pesquisa, encontramos 13 programas6, entre ativos e encerrados, com participação por adesão via edital. O quadro a seguir apresenta uma breve síntese do que apuramos sobre os mesmos, destacando seu ano de lançamento (e encerramento, quando for o caso) e o declarado objetivo principal da proposição. 5 Há uma questão que complexifica o trato com a Residência: no período privilegiado por nós para a análise o Programa de Residência Pedagógica ainda não tinha sido lançado. Naquele momento, se identificava o Programa de Residência Docente. Oportunamente discutiremos os dois Programas. 6 De acordo com a página da CAPES, no link “Formação de Professores da Educação Básica”, há mais um programa: o ‘Projeto Água’. Ocorre que ele não se dedica exatamente à formação docente tendo em vista que se propõe a “[...] selecionar projetos que tenham como objeto a produção de material didático sobre o tema Água [...]”. Por conta dessa interpretação optamos por não incluir a proposição que teve edital único publicado em 2015 no quadro-síntese apresentado. Para mais detalhes sobre este projeto, cf. https://www.capes.gov.br/educacao-basica/programas-encerrados/projeto-agua. 40 Quadro 1. Programas de Formação de professores, via editais, organizados e fomentados pela CAPES: nome, ano de lançamento/último edital, objetivo (2005-2019) Formação de Professores da Educação Básica – Editais CAPES Nome Ano de lançamento/ último edital Objetivo Po lít ic a N ac io na l de F or m aç ão d e Pr of es so re s - O ut . 20 17 Residência Pedagógica Out. 2017 Induzir o aperfeiçoamento da formação prática nos cursos de licenciatura, promovendo a imersão do licenciando na escola de educação básica, a partir da segunda metade de seu curso PIBID Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência 2007 Proporcionar aos discentes na primeira metade do curso de licenciatura uma aproximação prática com o cotidiano das escolas públicas de EB. Prof Licenciatura Programa de Fomento à Formação de Professores da Educação Básica Set 2018 Melhorar a qualidade dos cursos de licenciatura, via integração de Instituições de Ensino Superior (IES) e escolas. Poderão participar IES com ao menos dois núcleos PIBID ou RP. Parfor Programa Nacional de Formação de Professores da Educação Básica 2009 Capacitar os profissionais do magistério que dão aula na rede pública e não têm formação específica na área em que atuam em sala de aula. UAB Universidade Aberta do Brasil 2005 Levar o ensino superior para os municípios do interior do País, capacitando as pessoas para que possam contribuir para o desenvolvimento da região. C oo pe ra çã o In te rn ac io na l PDPI Programa de Desenvolvimento de Profissional para Professores de Língua Inglesa nos Estados Unidos 2010 Capacitar professores de língua inglesa, que estejam em efetivo exercício nas escolas públicas de educação básica Programa de Desenv.de Profissionais da Educação Básica na Irlanda 2019 Promover a capacitação de profissionais que atuam na direção, coordenação ou supervisão pedagógica das escolas de educação básica (colégios militares inclusive) das redes pública ou privada sem fins lucrativos. Especialização em educação com treinamento em língua inglesa e desenv. de habilidades em liderança e gestão pedagógica. ProfCanadá Programa de Desenv. de Profissionais da Educação Básica no Canadá 2019 Promover a capacitação de professores em efetivo exercício nas escolas públicas das redes estadual, municipal e distrital, com curso básico de inglês e curso de formação de professores voltado para gestão de sala de aula e aprendizagem centrada no aluno. Obeduc Observatório da Educação 2006 (Último edital no site 2012) Fomentar estudos e pesquisas em educação, que utilizem a infra-estrut. disponível das IES e as bases de dados existentes no INEP. Novos Talentos 2010 (Último edital no site 2012) Apoiar propostas para realização de atividades extracurriculares para prof. e alunos da EB, visando à disseminação do conhec. científico e à atualização do público-alvo e à melhoria do ensino de ciências. STEM Programa de Cooperação Internacional STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics) 2015 Promover a mobilidade e o intercâmbio de docentes e pesquisadores responsáveis pelo ensino das referidas áreas ao Reino Unido. Podem submeter proposta docentes de ensino superior que atuam como coordenadores de projeto ou de subprojeto vigente no Programa Novos Talentos da Capes, nas áreas envolvidas. Life Programa de Apoio a Laboratórios Interdisciplinares de Formação de Professores 2012 (Último edital no site 2013) Selecionar propostas que tenham por objetivo a criação de laboratórios interdisciplinares de formação de educadores. Prodocência Programa de Consolidação das Licenciaturas 2013 (Único edital no site) Fomento à inovação e à elevação da qualidade dos cursos de formação para o magistério da Educação Básica, na perspectiva de valorização da carreira docente. Fonte: Elaboração própria com base em dados disponíveis na página eletrônica da CAPES (BRASIL. CAPES, 2021a). 41 Dos 13 programas mapeados, cinco foram encerrados. Dentre os oito que funcionam, quatro são voltados à formação inicial de professores, Residência Pedagógica, Pibid, PARFOR e UAB; o Prof. Licenciatura se dedica a apoiar a realização de atividades dos projetos aprovados pelo Pibid e pela RP por meio da concessão de recursos de custeio às instituições; os três programas que compõem a Cooperação Internacional são voltados à formação continuada. No que se refere à datação, tanto pelo apurado com a bibliografia levantada, quanto pelo que verificamos na empiria, os dois primeiros mandatosfederais do Partido dos Trabalhadores (2003-2006 e 2007-2010) – ambos tendo Luís Inácio Lula da Silva na presidência e contando com Fernando Haddad como Ministro da Educação na maior parte deles (2005-2012) – são os precursores desse modelo até então inédito na Formação Docente no país. Constatamos se tratar de uma opção política ratificada pelos mandatos petistas de Dilma Rousseff (2011-2014 e 2015-2016). Com o impedimento da então Presidenta Dilma Rousseff (PT), por meio do golpe de agosto de 2016, poderia se aventar a possibilidade de algum tipo de modificação ter ocorrido na linha política que vinha sendo tomada, mas não foi o que verificamos. Desde então acompanhamos a consolidação do rumo delineado para a formação docente, com publicação e divulgação de editais. Se de um lado aferem-se impactos negativos não desprezíveis, sobretudo no aporte orçamentário dos projetos a partir do golpe, de outro, um dos atos mais alardeados do governo de Michel Temer se deu exatamente no Ministério da Educação e se referiu ao lançamento da “Política Nacional de Formação de Professores” que, além de consolidar programas existentes, lançou o Programa de Residência Pedagógica para o país todo7. Não temos dúvidas de que há programas que atualmente, concreta e subjetivamente, compõem o universo de reconhecidas ações no campo da formação de professores para a Educação Básica e isso se dá também porque as gestões que sucederam as petistas atuaram na manutenção da existência deles. O protagonismo do PT no nascimento da Política de Editais na área da Educação contextualiza a datação definida para o mergulho na pesquisa empírica: analisar a PE na Formação Docente tendo como foco o período de 2003 a 2016, posto que o compreendemos como de extrema importância tanto para o surgimento da política 7 Como explicitaremos em maiores detalhes mais adiante na tese, trabalhamos com a ideia de que a Residência é um projeto que já vinha sendo ensaiado pontualmente, com a gestão e o fomento da CAPES, embora com outro “sobrenome”: Residência Docente. A Política anunciada e implementada na gestão de Mendonça Filho (DEM), com sutis diferenças de formato, representa a nacionalização do mesmo. 42 quanto para seu enraizamento no campo. Levando em consideração que nos 13 anos analisados o universo de editais é robusto, optamos pelo recorte específico dos Programas que estavam em funcionamento em 20178 e que se dirigem à formação inicial de professores para a Educação Básica. 1.2 Documentos, discursos e lives Até que os leões inventem as suas próprias histórias, os caçadores serão sempre os heróis das narrativas de caça. Provérbio Africano Reunimos os editais publicados dos quatro programas de formação inicial estudados: UAB, Pibid, PARFOR e RP. Nesse exercício, as primeiras escolhas foram realizadas tendo em vista que os que concernem à UAB, em especial, são demasiado numerosos e muitos escapam de nosso interesse analítico. Tínhamos claro que nosso foco eram os editais dirigidos às IES para implementação dos referidos programas e grande parte dos que têm relação com o Sistema UAB objetivam a seleção de estudantes para os cursos existentes. Deste modo, não nos detivemos a compila-los e reunimos especificamente as chamadas públicas para criação de polos e cursos, iniciativa do MEC e, depois de 2007, da CAPES. Feito este primeiro recorte, mapeamos 21 editais. Na primeira leitura, constatamos que havia documentos que escapavam de nosso interesse mais direto: dois deles referentes à UAB e dois ao Pibid. Os editais UAB de 2008 (BRASIL. SECAD/MEC, 2008) e 2009 (BRASIL. SECAD/MEC, 2009) não foram incluídos tendo em vista que se dirigiram à chamada para implementação de cursos de formação continuada (extensão, aperfeiçoamento e especialização), fugindo ao escopo do estudo em tela. Por sua vez, no caso do Pibid houve o lançamento de dois editais em 2010 e dois em 2013 sendo, a cada ano, um deles de “Pibid Diversidade”. Segundo a CAPES, a variação “Diversidade” do Programa de Bolsas de Iniciação à Docência intentava “o aperfeiçoamento da formação inicial de professores para o exercício da docência nas 8 A pesquisa que culmina com a tese se inicia no ano de 2017 e por isso este foi escolhido. Vale ressalvar que todos os programas que compõem a empiria do estudo se encontravam ativos em 2021, ano de conclusão da tese. 43 escolas indígenas e do campo” (BRASIL. CAPES, 2021f). Esses dois foram os únicos com tal ênfase e sua extinção se deu sem alarde específico, imiscuída aos protestos pela ameaça de fim do ‘programa-mãe’, em 2016. Optamos pela não inclusão dos documentos referentes ao ‘Diversidade’ nas análises da tese em função do foco do trabalho nos Programas vigentes em 2017, data em que esta variação figurava como extinta. Assim sendo, o quadro a seguir organiza os editais analisados: Quadro 2. Editais dos programas de formação inicial de professores publicados: nomes, números dos editais, órgãos responsáveis, datas, Brasil, 2005-2020 Progra mas Editais selecionados UAB 01/2005 SEED/MEC de 16 de dezembro de 2005 01/2006 SEED/MEC de 18 de outubro de 2006 75/2014 CAPES de 18 de dezembro de 2014 05/2018 CAPES de 1 de março de 2018 Pibid 2007 MEC/ CAPE S/FND E de 12 de dez de 2007 02/2009 CAPES de 25 de setembr o de 2009 18/2010 CAPES de 13 de abril de 2010 01/2011 CAPES de 03 de janeiro de 2011 11/2012 CAPES de 20 de março de 2012 61/2013 CAPES de 02 de agosto de 2013 07/2018 CAPES de 01 de março de 2018 02/2020 CAPES de 06 de janeiro de 2020 Parfor 30/2013 CAPES de 4 de junho de 2013 64/2014 CAPES de 10 de novembro de 2014 19/2018 CAPES de 25 de maio de 2018 RP 06/2018 CAPES de 01 de março de 2018 01/2020 CAPES de 06 de janeiro de 2020 Fonte: Elaboração própria com base nos Editais (BRASIL. CAPES, 2005-2020). Trabalhamos, portanto, com os 17 editais dirigidos às IES para fomentar Programas de Formação Docente inicial, sendo quatro da UAB, oito do Pibid, três do PARFOR e dois de RP. Salta aos olhos com este quadro o destacado papel da CAPES na organização dos programas, no estrito cumprimento da função de induzir e fomentar a formação docente para a educação básica, da qual foi incumbida com a Lei n. 11.502/2007 (BRASIL, 2007). A implementação de programas via editais para o campo da formação de professores se deu num tempo histórico de ajustamentos às demandas do capitalismo neoliberal que se consolidava no país e os editais são os primeiros documentos a 44 registrar suas proposições e seus encaminhamentos. Compreendendo que os documentos não são a política, mas expressões dela (SHIROMA; CAMPOS; GARCIA, 2005), nos dedicamos a conhecê-los e analisá-los para nos aproximarmos de elementos que, explícita ou subliminarmente, trouxessem vestígios esclarecedores do contexto e das intenções que levaram à sua gênese. Isso porque chegar aos documentos, de nossa perspectiva, significa identificá-los como discursos historicamente produzidos e, portanto, em nada inocentes. Como Evangelista e Shiroma (2016, p. 9) alertam: “um discurso é histórica e concretamente produzido e seu conteúdo e forma de disseminação obedecem à determinada intencionalidade.” Assim, o documento é percebido aqui não como um objeto final de explicação, mas como unidade de análise “[...] que nos permite ter acesso ao discurso para compreender a política.” (SHIROMA; CAMPOS; GARCIA, 2005, p.493). Esse movimento supõe que os documentos oficiais sejam tratados como expressão e indícios da política, mas não como seu atestado central. Por essa razão, a análise que realizamos confrontou-os com outros documentos e análises acerca da formação de professores no país. Com tal compreensão cabe observar que à CAPES foi atribuída a função de indução
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