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PEED1606-T

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA 
CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO 
 
 
 
 
Renata Lucia Baptista Flores 
 
 
 
 
 
 
 
A Política de Editais como religião laica: 
o legado dos governos PT para a Formação Docente 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Florianópolis – SC 
2021 
 
 
Renata L. B. Flores 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Política de Editais como religião laica: 
o legado dos governos PT para a Formação Docente 
 
 
 
 
 
Tese apresentada como requisito parcial à obtenção 
do grau de Doutora em Educação na linha Trabalho 
e Educação do Programa de Pós-Graduação em 
Educação do Centro de Ciências da Educação da 
Universidade Federal de Santa Catarina 
Orientadora: Profa. Dra. Olinda Evangelista 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Florianópolis – SC 
2021 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Renata L. B. Flores 
 
A Política de Editais como religião laica: 
o legado dos governos PT para a Formação Docente 
 
O presente trabalho em nível de doutorado foi avaliado e aprovado por banca examinadora 
composta pelos seguintes membros: 
 
Profa. Dra. Olinda Evangelista (Presidente) 
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) 
Profa. Dra. Sara Granemann 
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) 
Profa. Dra. Olgaíses Maués 
Universidade Federal do Pará (UFPA) 
Prof. Dr. João Batista Zanardini 
Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) 
Profa. Dra. Rosalba Maria Cardoso Garcia 
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) 
Profa. Dra. Eneida Oto Shiroma (suplente) 
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) 
Profa. Dra. Priscila Monteiro Chaves (suplente) 
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) 
 
Certificamos que esta é a versão original e final do trabalho de conclusão que foi julgado 
adequado para obtenção do título de doutor em Educação. 
 
 
____________________________ 
Prof. Dr. Amurabi Pereira de Oliveira 
Coordenação do Programa de Pós-Graduação 
 
 
____________________________ 
Profa. Dra. Olinda Evangelista 
Orientadora 
 
Florianópolis, 2021. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Para minha Bárbara menina tão desejada! 
Ela, que atravessou essa tese como um furacão, 
mas que dá ainda mais sentido para a busca de um mundo revolucionado, 
de uma vida com consciência de classe. 
 
 
 
 
 
Para as Professoras e Professores brasileiros, 
trabalhadores expostos como nunca 
nessa conjuntura ‘pandemônica’ funesta, 
com o desejo de contribuir para que reajamos 
às expropriações que nos impingem; 
para que nos reconheçamos como classe. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Ser significa conviver. 
[...] 
O homem não tem um território interior soberano, 
está todo e sempre na fronteira, 
olhando para dentro de si 
ele olha o outro nos olhos 
ou com os olhos do outro. 
BAKHTIN, 2003 
 
Sou o que sou, porque estou onde estou; tenho a história que tenho, as relações que constituí e 
constituo ao longo da vida. Sujeita indelével e irremediavelmente coletiva. Palavras gratas 
ainda que sempre insuficientes. 
A Olinda Evangelista, meu agradecimento primeiro. 
Da professora admirada à amiga mais que querida, 
passando pela valorosa orientadora. Foram tempos 
muito singulares esses anos do doutorado, na minha 
vida em especial um tanto mais com a chegada da Bibi, 
e pude contar com ela durante todo o período – do 
trabalho/da vida. Sem prescindir da seriedade e do 
rigor, foi muito humana e acolhedora sempre. Cresci muito, aprendi demais, com ela e a partir 
de suas ações. Minha maior gratidão é que o doutorado acaba, mas ela é parte da minha vida. 
A jornada do doutoramento numa cidade tão distante da minha não teria começado tranquila 
como foi sem o lar que me abrigou: Lívia Volta não piscou em oferecer sua casa e em me 
deixar a vontade a ponto de fazê-la um tantinho minha também! E, nela, a Íris Mascelani, 
minha chef, minha companheira de algumas manhãs, almoços e culinária. Queridona. Pra 
completar o pacote: o Luke <3! Amor demais, primeiro no Itacurubi, depois no Córrego. Sua 
generosidade, Lili, NUNCA será esquecida; nem as conversas, as risadas, as pizzas, os 
passeios, o cupcake mais incrível de todos na Fairyland... Vocês são incríveis e foram 
essenciais nessa caminhada! Obrigada demais! 
 Já na UFSC, foram muuuuuuuiiiitos os encontros! De trabalho e procrastinação; de estudos, 
reflexões e de CSC. Márcia Donzelli, Marilia Tessarin, Liliam Barcelos, cujos caminhos 
cruzaram com o meu o tornando mais alegre e com debates que não suspeitei que faria nesses 
tempos! André, Bruno, João Vicente e Vagner, companheiras/os da Linha Trabalho e 
Educação, na Turma 2017! Como nos divertimos! E como debatemos. Turma tão fértil que as 
três mulheres tivemos filhotes! Por isso, aliás, Elaine e Fernanda são colegas a quem destaco 
 
 
especial gratidão. Professoras da EB e mães, em meio a uma pandemia ademais: a gente sabe 
da dureza dos caminhos acadêmicos para nós, né?! Que as vidas no Rio, em Santa Catarina e 
no Paraná se entrecruzem de vez em quando ao menos! Obrigada aos seis! No curto espaço de 
tempo em que pude contribuir com o movimento discente das/os pós-graduandas/os da 
Universidade, convivi com colegas que somaram demais pra mim, como Amália, que um dia 
ainda vou visitar na Bahia! (rs) Cheiro, mulher! Tenho a agradecer demais a oportunidade de 
debates tão profícuos também no Grupo de Estudos sobre Política Educacional e Trabalho – 
GEPETO! Começar o doutorado com a interlocução de vocês foi um privilégio! Às 
professoras Eneida Shiroma e Rosalba Garcia gratidão ainda maior pelo aceite em compor 
a banca da defesa! Aliás, demais professoras e professores do PPGE, da Linha Trabalho e 
Educação, são destinatários de minha irrestrita gratidão: Célia Vendramini, Luciana 
Marcassa, Soraya Franzoni, Jéferson Dantas, Marcos Bassi, Patricia Torriglia. Ao 
Grupo de Investigações em Política Educacional – 
GIPE-Marx os maiores agradecimentos e as mais 
profundas saudades! Além de Olinda, Mauro 
Titton e Astrid, professores e companheiros; 
Allan Kenji, Artur Gomes, Fernanda 
Mikolaiczyk (de novo!), Fernando Santos, 
Leticia Fiera e Thiago Salgado, muito 
agradecida pelas partilhas! Priscila Chaves, 
pessoa-presente que Olinda colocou perto, obrigada pelas parcerias, pela atenção, por topar a 
suplência na banca! Hellen Balbinotti, gratidão por se fazer presente, por se mostrar ponto de 
apoio caso precisasse. Ao Professor Jean Calegari o profundo agradecimento pela 
generosidade em contribuir com sua expertise para que não apresentássemos inconsistências 
nas análises orçamentárias. 
Aos demais professoras e professores que se dispuseram a contribuir com o trabalho 
respondendo positivamente ao convite de composição da banca: Olgaíses Maués e João 
Zanardine, muito obrigada! Um agradecimento mais que especial à Sara Granemann, essa 
mulher in crí vel, referência acadêmica e de luta, a quem tenho a alegria de chamar de amiga! 
Mas essa trajetória começa antes de chegar na UFSC... Preciso agradecer ao Coletivo de 
Estudos em Marxismo e Educação – ColeMarx/UFRJ, em especial ao GT Trabalho e 
Formação de Professores, por todos os anos de trabalho coletivo que antecederam minha ida 
para Florianópolis. Ao Professor Jailson Santos o agradecimento pela disponibilidade em 
 
 
contextualizar questões de orçamento e sanar dúvidas existentes. Gratidão também ao 
ConPAS – Conversas entre Professores, Alteridades e Singularidades, e especialmente à 
Graça Reis, amiga generosíssima, parceira de realizações acadêmicas e extensionistas no 
CAp/UFRJ. Nélia Mara, amiga das risadas e das lamentações; dotôra na qual me inspiro, 
obrigada por dividir a noção de não-álibi para a vida; as dores desses tempos, mas também as 
alegrias; obrigada por ser referência e me lembrar que não sou ET sozinha nesse mundo! 
Ao CAp/UFRJ, e ao Setor Curricular Multidisciplinar,assim como às e aos colegas docentes 
de lá, o agradecimento pela oportunidade do afastamento. Sem ele, em Florianópolis e com 
filha pequena longe da escola, teria sido impossível. Do CAp para a vida, agradecimentos às 
amigas Cris Miranda, Graça Reis (mais uma vez!), Celeia Machado, Ana Crélia Dias, 
Maria Coelho, Marilane Abreu, Sandra Barros e ao bendito fruto André Uzêda. 
Não posso deixar de agradecer aos companheiros que, na luta sindical, me ensinaram/ensinam 
tanto, a ponto de terem um papel relevante nos meus interesses e vieses de estudo! Primeiro, 
da ADUFRJ de outrora, Cris Miranda, Sara (de novo!), Luciana Boiteux, Luciano 
Coutinho, Mariana Trotta, Roberto Leher, Cláudia Piccinini, Regina Pugliese, 
Sanglard, Mauro Iasi, Zé Miguel, Cleusa Santos, Roberto Leher, Cláudia Piccinini entre 
tantos imprescindíveis. Ademais àquelas/es queridas/os que não esmorecem e vêm 
construindo o ANDES-SN e os quais nem tenho como nomear para não correr o risco de 
cometer injustiças. Obrigada por tanto! 
Ah! E minha família! Porto mais que seguro, braços e pernas e abraços meus e para mim 
sempre que preciso. Vera, minha mãe, que saiu de sua casa por diversas vezes para dar 
suporte à minha ‘bebeza’ quando das idas para Floripa. Emilia, ou a Dinda, que enquanto 
pode garantiu minhas quartas de trabalho levando a Bibi pra sua casa, e que é minha personal 
revisora de inglês. Bu, por seu afeto inequívoco. Marcius e Marilda, família mineira que nos 
acolheu por mais de um mês, segurando as pontas com a pequena para tese andar. A certeza 
de poder contar com vocês faz a vida, tão dura, ser mais leve e até ter um tanto de alegrias! 
Obrigada mesmo! 
E ao Cláudio, meu amor! Além de parceiro da vida e dos desejos pro 
mundo, referência acadêmica, leitor de boas partes dessa tese, 
incentivador. Esses tempos não têm sido nada fáceis; eu não sou 
exatamente um anjo de candura... Agradeço todos os dias por ter você por perto, partilhando 
tudo! 
 
 
Sujeita indelével e irremediavelmente coletiva, cujas palavras gratas serão sempre 
insuficientes, mas ainda assim dignas de serem ditas! Aqui, tomando de empréstimo a 
belezura dos bordados de Olinda Evangelista! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Do pessimismo da razão 
O mundo ao avesso nos ensina 
a padecer a realidade ao invés de transformá-la, 
a esquecer o passado ao invés de escutá-lo 
e a aceitar o futuro ao invés de imaginá-lo: 
assim pratica o crime, 
assim o recomenda. 
 
Eduardo Galeano, 1999 
 
 
 
Do otimismo da vontade 
Virá 
Impávido que nem Muhammad Ali 
Virá que eu vi 
Apaixonadamente como Peri 
Virá que eu vi 
Tranquilo e infalível como Bruce Lee 
Virá que eu vi 
O axé do afoxé Filhos de Gandhi 
Virá 
E aquilo que nesse momento se revelará aos povos 
Surpreenderá a todos não por ser exótico 
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto 
Quando terá sido o óbvio 
 
Caetano Veloso, 1977 
 
 
 
RESUMO 
 
Nesta tese examinamos o advento da Política de Editais (PE) na formação inicial de 
professores e professoras para Educação Básica, tomando os editais como materialização de 
estratégia da política do capital. Nossa argumentação é a de que os editais emergem no fluxo 
das políticas educacionais comprometidas com a manutenção da hegemonia capitalista, 
produto do Estado burguês, e servem como ferramentas de obscurecimento da realidade. Ao 
mesmo tempo, têm papel na conformação dos que atuam e atuarão na formação da classe 
trabalhadora. A mesma foi implantada em meados dos anos 2000, com a ascensão do Partido 
dos Trabalhadores (PT) ao Governo Federal, tendo Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência 
da República. Estudamos especialmente o período 2003-2016 e demonstramos a estruturação 
da política educacional capitaneada por Fernando Haddad (PT) enquanto Ministro da 
Educação. Sem romper com as políticas desenvolvidas pelos governos que os antecederam, 
notadamente o de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o processo traz à tona o debate da 
elaboração da PE no bojo do desenvolvimento do neoliberalismo no Brasil, com ênfase no 
contexto do gerencialismo na Educação e do aprofundamento dos ajustes orçamentários nas 
Instituições Públicas de Ensino Superior. Debruçamo-nos sobre os programas de Formação 
Inicial de Professores desenvolvidos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de 
Nível Superior (CAPES) – agência que tem a função de induzir e fomentar a Formação 
Docente no país – que ocorrem por meio de editais: o Plano Nacional de Formação de 
Professores da Educação Básica (PARFOR), o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação 
à Docência (Pibid), o Programa de Residência Docente (PRD)/ o Programa de Residência 
Pedagógica (RP) e a Universidade Aberta do Brasil (UAB). Examinamos diferentes fontes, 
incluindo os Relatórios de Gestão da CAPES dos anos de 2008 a 2020; discursos de Fernando 
Haddad como ministro, as planilhas de execução orçamentária encontradas no sítio eletrônico 
da Coordenação; editais publicados dos referidos Programas; lives e seminários disponíveis 
na internet que tematizaram as iniciativas. Tais documentos e materiais lastreiam nossas 
análises da PE, legado dos governos PT para a Formação Docente nacional, como religião 
laica a difundir uma cultura, um ethos privado nas Instituições Públicas de Ensino Superior 
(IPES); a naturalizar práticas crescentemente heterônomas nessas instituições; a aprofundar a 
alienação da intelectualidade acadêmica. Concluímos inquirindo a hegemonia pós-moderna na 
adesão acrítica a uma política de fomento que subordina a formação humana aos interesses do 
Capital. 
 
 
 
Palavras- Chave: Política de Editais; Formação Docente; Pibid; PARFOR; Residência 
Pedagógica; UAB. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
In this thesis we examine the advent of the Public Notices Policy (PE) in the initial training of 
teachers for Basic Education, taking the public notices as a materialization of the capital 
policy strategy. Our argument is that edicts emerge in the flow of educational policies 
committed to the maintenance of capitalist hegemony, a product of the bourgeois state, and 
serve as tools for obscuring reality. At the same time, they play a role in shaping those who 
work and will act in the formation of the working class. It was implemented in the mid-2000s, 
with the rise of the Workers' Party (PT) to the Federal Government, with Luiz Inácio Lula da 
Silva as President of the Republic. We studied especially the period 2003-2016 and 
demonstrated the structuring of the educational policy headed by Fernando Haddad (PT) as 
Minister of Education. Without breaking with the policies developed by the governments that 
preceded them, notably that of Fernando Henrique Cardoso (PSDB), the process brings to 
light the debate on the elaboration of the EP in the midst of the development of neoliberalism 
in Brazil, with an emphasis on the context of managerialism in Education and the deepening 
of budget adjustments in Public Institutions of Higher Education. We focus on the Initial 
Teacher Training programs developed by the Coordination for the Improvement of Higher 
Education Personnel (CAPES) – an agency that has the function of inducing and promoting 
Teacher Training in the country – which take place through public notices: the National Plan 
of Basic Education Teacher Training (PARFOR), the Institutional Program for Initiation to 
Teaching Scholarships (Pibid), the Teacher Residency Program (PRD)/ the Pedagogical 
Residency Program (RP) and the Open University of Brazil (UAB) . We examined different 
sources, including CAPES Management Reports for the years 2008-2020; speeches by 
Fernando Haddad as minister, the budget execution spreadsheets found on the Coordination 
website; published notices ofsuch Programs; lives and seminars available on the internet that 
focus on the initiatives. Those documents and materials support our analysis of the PE, a 
legacy of the PT governments for the national Teacher Education, as a secular religion to 
spread a culture, a private ethos in Public Institutions of Higher Education (IPES); to 
naturalize increasingly heteronomous practices in these institutions; to deepen the alienation 
of academic intelligentsia. We conclude by investigating the postmodern hegemony in the 
uncritical adherence to a development policy that subordinates human formation to the 
interests of Capital. 
 
Keywords: Public notices policy; Teacher trainning; Pibid, PARFOR, RP, UAB. 
 
 
RESUMÉ 
 
Dans cette thèse, nous examinons l'avènement de la Politique d'annonces publiques (PE) dans 
la formation initiale des enseignants de l'Éducation de base, en considérant les annonces 
publiques comme une matérialisation de la stratégie de politique d'investissement. Notre 
argument est que les édits émergent dans le flux des politiques éducatives engagées dans le 
maintien de l'hégémonie capitaliste, un produit de l'État bourgeois, et servent d'outils pour 
obscurcir la réalité. En même temps, ils ont un rôle à jouer dans la formation de ceux qui 
travaillent et agiront dans la formation de la classe ouvrière. Il a été mis en œuvre au milieu 
des années 2000, avec la montée du Parti des travailleurs (PT) au gouvernement fédéral, avec 
Luiz Inácio Lula da Silva comme président de la République. Nous avons notamment étudié 
la période 2003-2016 et démontré la structuration de la politique éducative menée par 
Fernando Haddad (PT) en tant que ministre de l'Éducation. Sans rompre avec les politiques 
développées par les gouvernements qui les ont précédés, notamment celui de Fernando 
Henrique Cardoso (PSDB), le processus met en lumière le débat sur l'élaboration du PE au 
milieu du développement du néolibéralisme au Brésil, en mettant l'accent sur le contexte du 
managérialisme dans l'éducation et l'approfondissement des ajustements budgétaires dans les 
établissements publics d'enseignement supérieur. Nous nous concentrons sur les programmes 
de formation initiale des enseignants développés par la Coordination pour le perfectionnement 
du personnel de l'enseignement supérieur (CAPES) - une agence qui a pour fonction d'induire 
et de promouvoir la formation des enseignants dans le pays - qui se déroulent par le biais 
d'annonces publiques : le Plan national de formation des enseignants de l'éducation de base 
(PARFOR), le Programme de bourses institutionnelles d'initiation à l'enseignement (Pibid), le 
Programme de résidence des enseignants (PRD)/le Programme de résidence pédagogique 
(RP) et l'Université ouverte du Brésil (UAB) . Nous avons examiné différentes sources, dont 
les rapports de gestion du CAPES pour les années 2008-2020; les discours de Fernando 
Haddad en tant que ministre, les feuilles de calcul d'exécution budgétaire trouvées sur le site 
de la Coordination ; les avis publiés desdits programmes ; vies et séminaires disponibles sur 
Internet qui se sont concentrés sur les initiatives. Ces documents et matériels soutiennent 
notre analyse de l'EP, un héritage des gouvernements PT pour la formation nationale des 
enseignants, en tant que religion laïque pour diffuser une culture, une philosophie privée dans 
les établissements publics d'enseignement supérieur (IPES) ; naturaliser des pratiques de plus 
en plus hétérogènes dans ces institutions ; approfondir l'aliénation de l'intelligentsia 
universitaire. Nous concluons en étudiant l'hégémonie postmoderne dans l'adhésion non 
 
 
critique à une politique de développement qui subordonne la formation humaine aux intérêts 
du Capital. 
 
Mots-clés: Politique d'annonces publiques; Formation des enseignantes; Pibid; PARFOR; RP; 
UAB. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMEN 
 
En esta tesis se examina el advenimiento de la Política de Avisos Públicos (EF) en la 
formación inicial de docentes de Educación Básica, tomando los avisos públicos como 
materialización de la estrategia de política de capital. Nuestro argumento es que los edictos 
surgen en el flujo de políticas educativas comprometidas con el mantenimiento de la 
hegemonía capitalista, producto del estado burgués, y sirven como herramientas para 
oscurecer la realidad. Al mismo tiempo, tienen un papel en la formación de quienes trabajan y 
actuarán en la formación de la clase trabajadora. Se implementó a mediados de la década de 
2000, con el ascenso del Partido de los Trabajadores (PT) al Gobierno Federal, con Luiz 
Inácio Lula da Silva como presidente de la República. Estudiamos especialmente el período 
2003-2016 y demostramos la estructuración de la política educativa encabezada por Fernando 
Haddad (PT) como ministro de Educación. Sin romper con las políticas desarrolladas por los 
gobiernos que los precedieron, en particular la de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), el 
proceso saca a la luz el debate sobre la elaboración del PE en medio del desarrollo del 
neoliberalismo en Brasil, con énfasis sobre el contexto del gerencialismo en Educación y la 
profundización de los ajustes presupuestarios en las Instituciones Públicas de Educación 
Superior. Nos enfocamos en los programas de Formación Docente Inicial desarrollados por la 
Coordinación de Perfeccionamiento del Personal de Educación Superior (CAPES) - 
organismo que tiene la función de inducir y promover la Formación Docente en el país - que 
se realizan a través de convocatorias públicas: el Plan Nacional de Formación Docente de 
Educación Básica (PARFOR), el Programa Institucional de Becas de Iniciación a la Docencia 
(Pibid), el Programa de Residencia Docente (PRD) / Programa de Residencia Pedagógica 
(RP) y la Universidad Abierta de Brasil (UAB). Examinamos diferentes fuentes, incluidos los 
informes de gestión de CAPES para los años 2008-2020; los discursos de Fernando Haddad 
como ministro, las planillas de ejecución presupuestaria que se encuentran en el sitio web de 
la Coordinación; avisos publicados de dichos Programas; vidas y seminarios disponibles en 
Internet que se centraron en las iniciativas. Dichos documentos y materiales respaldan nuestro 
análisis de la EP, un legado de los gobiernos del PT para la Formación Docente nacional, 
como religión laica para difundir una cultura, un ethos privado en las Instituciones Públicas de 
Educación Superior (IPES); naturalizar prácticas cada vez más heterónomas en estas 
instituciones; profundizar la alienación de la intelectualidad académica. Concluimos 
investigando la hegemonía posmoderna en la adhesión acrítica a una política de desarrollo que 
subordina la formación humana a los intereses del Capital. 
 
 
Palabras clave: Política de avisos públicos; Formación Docente; Pibid; PARFOR; RP; UAB. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1. Print screen do portal da CAPES, links para os programas (2021) .................... p. 56 
 
Figura 2. Print screen do portal da CAPES, página da UAB (2021) ................................. p. 57 
 
Figura 3. Print screen do portal da CAPES, página de notícias sobre o Parfor (2019) ...... p. 93 
 
Figura 4: Print screen do portal da CAPES, da página de notícias sobre Iniciação à Docência 
(2019) 
.............................................................................................................................................. p. 94 
 
Figura 5: Print screen de matéria na página da Revista Nova Escola (2018) .................... p. 94 
 
Figura 6: Quadro da CAPES em 2017 com valores dotados e executados pela agência (2004-
2007) ................................................................................................................................... p. 97Figura 7: Quadro da CAPES em 2017 com valores dotados e executados pela agência (2008-
2011) ................................................................................................................................... p. 97 
 
Figura 8: Print screen de quadro do orçamento de 2012 divulgado na página da CAPES 
(2019) .................................................................................................................................. p. 99 
 
Figura 9: Esquema PARFOR (2021) ................................................................................ p. 103 
 
Figura 10: Esquema UAB (2021) ..................................................................................... p. 104 
 
Figura 11: Print screen de tabela do Relatório de Gestão de 2010 ................................... p. 104 
 
Figura 12: Print screen da página Dados Abertos da CAPES (2021) 
............................................................................................................................................ p. 105 
 
Figura 13: Print screen da página “Orçamento-Evolução em Reais”, da CAPES (2021) 
............................................................................................................................................ p. 118 
 
Figura 14: Print screen de detalhe do chat da Mesa Redonda “Programa de Residência 
Pedagógica: uma prática situada na Formação de Professores” (2020) ............................ p. 129 
 
Figuras 15 e 16: Print screen de slides das apresentações dos professores Alexandre Melo de 
Souza (Coordenador Institucional do Pibid na UFAC) e Rosane Garcia Silva (Coordenadora 
Institucional do RP na UFAC), respectivamente, no 1º Encontro PIBID e Residência 
Pedagógica UFAC 2021 (2021) .................................................................................. p. 138 
 
Figuras 17: Print screen da página-formulário que deveria ser preenchida para concorrer 
(2020) ................................................................................................................................ p. 179 
 
 
 
 
Figura 18: Print screen de parte do edital (2020) ......................................................... p. 180 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela 1. IPES integrantes do sistema UAB (2005-2014) ................................................. p. 69 
 
Tabela 2. Polos e matrículas UAB por ano (2005-2013) ................................................... p. 70 
 
Tabela 3. Matrículas nas Licenciaturas a distância por categoria administrativa (2002-2012) 
.............................................................................................................................................. p. 71 
 
Tabela 4. Variação dos valores investidos em cada Programa em relação ao ano anterior: ano, 
programa, percentual de variação (2013-2015) ................................................................ p. 115 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE QUADROS 
 
Quadro 1. Programas de Formação de professores, via editais, organizados e fomentados pela 
CAPES: nome, ano de lançamento/último edital, objetivo (2005-2019) ............................ p. 39 
 
Quadro 2. Editais dos programas de formação inicial de professores publicados: nomes, 
números dos editais, órgãos responsáveis (2005-2020) ...................................................... p. 42 
 
Quadro 3. Publicações de regulamentação do Pibid: Portarias, números e datas, Ministros da 
Educação e Presidentes da CAPES responsáveis (2010-2019) .......................................... p. 47 
 
Quadro 4. Dados numéricos acumulados do Parfor (2009-2018) ..................................... p. 66 
 
Quadro 5. Cursos de Formação de Professores passíveis de proposição ao Edital no 5/2018: 
área, tipo e natureza (2018) ................................................................................................. p. 89 
 
Quadro 6. Total em Reais liquidado pela CAPES anualmente (2013-2016) .................. p. 106 
 
Quadro 7. Total em Reais de empenhos liquidados pela CAPES em favor dos Programas: 
programas, valores liquidados anualmente, totais gerais liquidados por ano (2013-2016) 
............................................................................................................................................ p. 107 
 
Quadro 8. Valores em Reais do total de empenhos liquidados pela CAPES em favor dos 
Programas: programas, valores liquidados (2013-2015) .................................................. p. 110 
 
Quadro 9. Programas CAPES de formação docente com percepção de bolsas (2013-2016) 
............................................................................................................................................ p. 111 
 
Quadro10. Percentual de bolsistas Pibid, por ano, em relação ao total de matrículas em 
Licenciaturas (presenciais e a distância) no país: ano, total de matrículas, bolsas distribuídas, 
percentis (2013-2016) ....................................................................................................... p. 114 
 
Quadro 11. Montante anual do orçamento liquidado, por programa (2013-2015) .......... p. 116 
 
Quadro 12. Percentual do montante geral da CAPES, por ano, referente ao orçamento 
liquidado de cada programa (2013-2015) ......................................................................... p. 117 
 
Quadro 13. Valores totais executados pela CAPES a cada ano (2006-2008) ................. p. 117 
 
Quadro 14. Número de Instituições Públicas de Ensino Superior inscritas no Edital n.2/2020 
da CAPES, por esfera administrativa: federais, estaduais, municipais e total .................. p. 130 
 
Quadro 15. Número de resultados preliminares de levantamento de literatura acadêmica 
(2020) ................................................................................................................................ p. 154 
 
 
 
Quadro 16. Produções Acadêmicas sobre Política de Editais na Educação e/ou na Formação 
de Professores: tipo, título, autoria, fonte, data (2010-2018) ............................................ p. 157 
 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
 
Gráfico 1. IES parceiras – total, programas, por dependência administrativa (2013) 
.................................................................................................................................... p. 34 
 
Gráfico 2. Crescimento do número de bolsas Pibid (2009-2013) ............................ p. 63 
 
Gráfico 3. Percentual de instituições com Pibid por esfera administrativa (2013) .. p. 64 
 
Gráfico 4. Percentual de vagas solicitadas ao Parfor, por curso (2013) ................... p. 67 
 
Gráfico 5. Quantidade anual de lançamentos nominais de bolsistas vinculados aos 
programas CAPES de formação docente (2013-2016) ............................................ p. 112 
 
Gráficos 6, 7, 8 e 9. Distribuição de bolsas pagas anualmente aos Programas de 
Formação Docente da CAPES (2013-2016) ............................................................ p. 113 
 
Gráficos 10, 11 e 12. Orçamento Federal Executado em 2017, 2018 e 2019 (2017-
2019) ........................................................................................................................ p. 121 
 
Gráficos 13 e 14. Instituições de Ensino Superior selecionadas nos Editais CAPES/RP 
n. 1/2020 e CAPES/Pibid n. 2/2020, por categoria administrativa (2020) .............. p. 125 
 
Gráfico 15. Número absoluto de matrículas nas IES privadas (em milhões de alunos) 
(1960-2018) ............................................................................................................. p. 126 
 
Gráfico 16. Número de matrículas em cursos de licenciatura a distância por categoria 
administrativa (2003, 2007, 2011, 2015) ................................................................. p. 127 
 
Gráfico 17. Evolução históricada execução das despesas para emendas parlamentares 
(2021) ....................................................................................................................... p. 181 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE SIGLAS 
 
ABMES – Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior 
ANDES-SN – Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior 
ANDIFES – Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino 
Superior 
APESMI – Associação de Pescadores Artesanais da Vila de São Miguel 
APHs – Aparelhos Privados de Hegemonia 
BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento 
BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social 
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior 
CEERT – Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades 
CEFET – Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca 
C&T – Ciência e Tecnologia 
CNE – Conselho Nacional de Educação 
CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico 
CpE – Rede Nacional de Ciência para a Educação 
CPII – Colégio Pedro II 
CT&I – Ciência, Tecnologia e Inovação 
DEB – Diretoria de Formação de Professores da Educação Básica da CAPES 
DED – Diretoria de Educação a Distância da CAPES 
DGES – Diretoria de Gestão da CAPES 
DRI – Diretoria de Relações Internacionais da CAPES 
DTI – Diretoria de Tecnologia da Informação da CAPES 
EaD – Educação a Distância 
EB – Educação Básica 
EC – Emenda Constitucional 
EI – Educação Infantil 
ENDIPE – Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino 
ENID – Encontro de Iniciação à Docência 
EOL – Esquerda Online 
EPSJV – Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio 
ES – Ensino Superior 
 
 
FD – Formação Docente 
FENAE – Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal 
FHC – Fernando Henrique Cardoso 
FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação 
ForPARFOR – Fórum Nacional de Coordenadores Institucionais do PARFOR 
ForPibid – Fórum Nacional de Coordenadores Institucionais do Pibid 
FURG – Universidade Federal do Rio Grande 
GESTAR – Gestão da Aprendizagem Escolar 
GIPE-Marx – Grupo de Investigação sobre Políticas Educacionais 
GTO – Grupo de Trabalho e Orientação 
IAS – Instituto Ayrton Senna 
IBICT – Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia 
ID – Iniciação à Docência 
IFCE – Instituto Federal do Ceará 
IFF – Instituto Federal Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense 
IFRJ – Instituto Federal Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro 
INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira 
IPES – Instituições Públicas de Ensino Superior 
LP – Língua Portuguesa 
MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia 
MCTIC – Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações 
MDB – Movimento Democrático Brasileiro 
MEC – Ministério da Educação 
MPOG – Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão 
MRE – Ministério da Relações Exteriores 
Obeduc – Programa Observatório da Educação 
Obmep – Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas 
OM – Organizações Multilaterais 
OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público 
PAC – Plano de Aceleração do Crescimento 
PAR – Plano de Ações Articuladas 
PARFOR – Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica 
PDE – Plano de Desenvolvimento da Educação 
 
 
PDT – Partido Democrático Trabalhista 
PE – Política de Editais 
Pibid – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência 
PIB – Produto Interno Bruto 
PITCE – Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior 
PLOA – Projeto de Lei Orçamentária Anual 
PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro 
PNAP – Programa Nacional de Formação em Administração Pública 
PP – Partido Progressista 
PPPs – Parcerias Público-Privadas 
PRADIME – Programa de Apoio aos Dirigentes Municipais de Educação 
PRD – Programa de Residência Docente 
PROEXT – Programa de Apoio à Extensão 
ProF-Licenciatura – Programa de Fomento à Formação de Professores da Educação 
Básica 
ProFEA – Programa de Formação de Educadores Ambientais 
ProUni – Programa Universidade para Todos 
PRP – Programa de Residência Pedagógica 
PSB – Partido Socialista Brasileiro 
PT – Partido dos Trabalhadores 
PUC-SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 
REUNI - Reestruturação e Expansão das Universidades Federais 
SciELO – Scientific Electronic Library Online 
SEED – Secretaria de Educação a Distância 
SESu – Secretaria de Educação Superior 
SIGAA – Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas 
SUS – Sistema Único de Saúde 
TIC – Tecnologias da Informação e Comunicação 
TPE – Todos Pela Educação 
UAB – Universidade Aberta do Brasil 
UEL – Universidade Estadual de Londrina 
UESPI – Universidade Estadual do Piauí 
UF – Unidade da Federação 
 
 
UFAC – Universidade Federal do Acre 
UFC – Universidade Federal do Ceará 
UFG – Universidade Federal de Goiás 
UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais 
UFPA – Universidade Federal do Pará 
UFPB – Universidade Federal da Paraíba 
UFPE – Universidade Federal de Pernambuco 
UFPel – Universidade Federal de Pelotas 
UFRA – Universidade Federal Rural do Amazonas 
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro 
UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro 
UFSB – Universidade Federal do Sul da Bahia 
UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina 
UFSCar – Universidade Federal de São Carlos 
UFU – Universidade Federal de Uberlândia 
Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura 
Unicamp – Universidade Estadual de Campinas 
Unicef – Fundo das Nações Unidas para a Infância 
UNILAB – Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira 
USP – Universidade de São Paulo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... p. 31 
1.1 Do recorte da pesquisa ...................................................................................... p. 37 
1.2 Documentos, discursos e lives ........................................................................... p. 41 
1.3 A organização da tese ...................................................................................... p. 52 
2 OS PROGRAMAS DA CAPES DE FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES 
PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA ............................................................................ p. 55 
2.1 A Residência (Docente e/ou Pedagógica) ......................................................... p. 57 
2.2 O Pibid ................................................................................................................ p. 62 
2.3 O PARFOR ........................................................................................................ p. 65 
2.4 A UAB ................................................................................................................. p. 68 
3 OS EDITAIS COMO FORMA E CONTEÚDO DA POLÍTICA DO CAPITAL 
.................................................................................................................................... p. 73 
3.1 Fernando Haddad muito além do Ministério da Educação .......................... p. 77 
3.1.2 Lobo em pele de cordeiro ................................................................................. p. 83 
3.2 Os editais como política do capital .................................................................. p. 90 
4 MUITO BARULHO POR NADA? OS PROGRAMAS EM CIFRAS 
................................................................................................................................... p. 93 
4.1 O duplo caráter da transparência dos dados .................................................. p. 96 
4.1.1 Obscurecimento como projeto ........................................................................p. 100 
4.2 Dados pormenorizados .................................................................................... p. 105 
4.2.1 Dotação e execução orçamentária .................................................................. p. 106 
4.2.2 Bolsas para Formação de Professores da Educação Básica ........................... p. 109 
4.2.2.1 Quem vê cara não vê coração: Pibid como caso emblemático ................... p. 113 
 
 
4.3 O que revela o orçamento ............................................................................... p. 115 
4.4 Breve caracterização da situação orçamentária ........................................... p.119 
4.5 Política Pública abrindo espaço para o benefício privado ............................ p.123 
5 A POLÍTICA DE EDITAIS NAS IPES COMO RELIGIÃO LAICA .......... p. 129 
5.1 Os editais e a estruturação de uma cultura ................................................... p. 133 
5.2 A sociabilidade do capital nas IPES: que cultura é essa? ............................ p. 136 
5.3 A adesão ativa aos editais de Formação: alienação dos Docentes intermediários 
.................................................................................................................................. p. 141 
5.4 Para a sociabilidade do capital, a teoria do capital ...................................... p. 149 
6 REFLEXOS DA FRAGMENTAÇÃO PÓS-MODERNA .............................. p. 153 
6.1 A literatura acadêmica sobre os editais para a Formação Docente ............ p. 154 
6.2 Da literatura recolhida .................................................................................... p. 158 
6.2.1 O desfile dos editais ........................................................................................ p. 160 
6.2.1.1 Do ethos em construção para a reposição da hegemonia burguesa ........... p. 162 
6.3 Sobre dar o couro para o tambor ................................................................... p. 166 
6.3.1 Nem tudo que reluz ......................................................................................... p. 168 
6.3.1.1 Editais para a formação docente: apontamentos a partir da literatura ..... p. 170 
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS: O LEGADO DOS GOVERNOS PT PARA A 
FORMAÇÃO DOCENTE E ALÉM .................................................................... p. 173 
REFERÊNCIAS .................................................................................................... p. 185 
ANEXOS 
APÊNDICE A ........................................................................................................ p. 211 
APÊNDICE B ........................................................................................................ p. 215 
APÊNDICE C ........................................................................................................ p. 218 
APÊNDICE D ........................................................................................................ p. 222 
 
 
APÊNDICE E ........................................................................................................ p. 224 
APÊNDICE F ......................................................................................................... p. 226 
APÊNDICE G ........................................................................................................ p. 228 
APÊNDICE H ........................................................................................................ p. 229 
APÊNDICE I .......................................................................................................... p. 231 
APÊNDICE J ......................................................................................................... p. 236 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
[...] nada pode ser intelectualmente um problema 
se não tiver sido, em primeiro lugar, 
um problema da vida prática. 
Minayo, 2002. 
 
Na década de 1990, momento de advento do neoliberalismo no Brasil em razão 
das necessárias mudanças econômicas resultantes de crises do capital, pôs-se em 
discussão, por organizações multilaterais e Estado, a formação de professores para a 
Educação Básica (EB). De maneira geral, a atenção do Banco Mundial (BM), da 
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) ou 
da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) para com 
os temas educacionais brasileiros é notória, tendo Leher (1999, p.19) indicado o 
primeiro como “[...] o ministério mundial da educação dos países periféricos”. É 
irrefutável o compromisso de classe dessas agências com o alinhamento da formação às 
demandas do capitalismo, à manutenção da hegemonia burguesa, e seus movimentos 
nesse sentido são constantes. Recorrendo à caracterização do período do capitalismo 
neoliberal em que nos situamos, Foster (2013, p.87) contribui para que reconheçamos 
tais necessidades: 
Vivemos em uma era de crise estrutural associada a uma nova fase do 
capitalismo: o capital monopolista-financeiro. Esta fase é 
caracterizada por: (1) estagnação econômica nas economias 
capitalistas desenvolvidas; (2) uma mudança dramática em direção à 
financeirização [...]. 
Analisando a realidade estadunidense o autor ajuda na compreensão das origens 
da reorganização da ortodoxia neoliberal (MELO; SOUZA; MELO, 2015, p.43) e os 
rebatimentos gerados no mundo para “[...] atender às necessidades do processo de 
acumulação do capital e de legitimação social” que levaram à conjuntura de 
Neoliberalismo de Terceira Via na qual nos encontramos. Tal quadro se caracteriza pela 
afirmação do capitalismo como caminho único às sociedades mundiais, (1) por meio da 
diluição da ideia da exploração de classe com base numa nova forma de apresentação 
das classes e sem negá-las; (2) com a defesa de um novo tipo de relação entre Estado e 
Sociedade Civil, via aparente essencialização máxima do primeiro, sua dissociação do 
funcionamento da sociedade capitalista e transferência de responsabilidades políticas e 
sociais ao terceiro setor; (3) forjando uma ‘moderna’ nova esquerda, que se estrutura 
 
32 
 
sem ressalvas aos mercados; e (4) com caminho aberto para a apologia ao processo de 
precarização do trabalho via destruição dos direitos dos trabalhadores (MELO; SOUZA; 
MELO, 2015). Uma ideologia hegemônica que pode ser verificada na materialidade das 
escolas de Educação Básica brasileiras, seja por meio da análise de sua estrutura 
político-pedagógica, seja pela aferição das condições de contratação e trabalho1 dos 
profissionais que nela atuam, seja pelos interesses de classe que perpassam as relações 
de ensino-aprendizagem. 
No que tange especificamente à Formação Docente (FD), diversos autores 
assinalam a atuação prescritiva de Organizações Multilaterais (OM), trabalhando para a 
conformação de novos vieses formativos, inclusive visando a ressignificação do 
trabalho dos professores e professoras, como Santos, Silva e Valentini (2019, p.226): 
 
Essa reorganização do trabalho docente alinha-se, por sua vez, às 
diretrizes presentes nos documentos oriundos de organizações 
multilaterais como Banco Mundial (BM), Organização para a 
Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), dentre outros, 
nos quais impõem a formação de um novo perfil do professor, 
assentada em novas formas de gerenciar o corpo docente com base 
nos preceitos de produtividade e eficiência. 
 
De nossa parte, lendo menos como imposição e identificando mais um papel 
ativo da burguesia brasileira nesse processo, vimos acompanhando a reiterada 
implementação de algumas das políticas governamentais de Formação Docente no 
Brasil recente. Propostas especificamente dirigidas às Universidades, embora nem 
sempre exclusivamente a elas, vêm sendo alardeadas por propagandas do governo e de 
seus agentes, e têm sido expressivamente acolhidas nas Instituições de Ensino Superior 
(IES). Tais propostastêm sido apresentadas num recorrente formato: como programas 
e/ou projetos públicos cuja participação se conclama por meio de editais vinculados a 
financiamentos. Um modelo que merece ser sublinhado e melhor compreendido. Pelo 
estudo consolidado, sistematizado nesta tese, estamos convencidas de que a Política de 
Editais, em sua ênfase na Formação Inicial de Professores para a Educação Básica é um 
 
1 Crescentemente precário, o trabalho na docência da Educação Básica brasileira tem sido alvo de estudos. 
Para além das complexas condições de trabalho – por vezes com ausência de estrutura física e material – 
são cada vez menos frequentes postos regulares, com direitos trabalhistas minimamente assegurados, caso 
de processo seletivo nacional para cadastramento de professores num sistema que, segundo Hilda (2019), 
“É uma espécie de Uber Educacional” que visava organizar cadastro de docentes substitutos para 
Instituto. No esquema proposto, caso o professor selecionado residisse no local do Instituto a substituição 
eventual seria presencial; caso habitasse em outra cidade, seria on-line. 
 
33 
 
dos legados da política educacional implementada pelos governos do Partido dos 
Trabalhadores (PT) no país. Um legado que ajuda a materializar a ausência de ruptura 
desses governos com as políticas educacionais que os antecederam. Mais que isso, 13 
anos de governo PT responsáveis pela estruturação e implementação de políticas que 
aprofundaram os interesses do capital na FD no Brasil. O trabalho desenvolvido na 
pesquisa demonstra o papel da Política de Editais (PE) nesse processo no campo da 
Formação inicial de Docentes para a Educação Básica e, por isso, a datação do estudo se 
remete preponderantemente ao período do PT no Governo Federal, ou seja, aos anos 
2003 a 2016. Os editais e seus programas de Formação Docente materializam nova 
ferramenta a serviço da manutenção do percurso de obscurecimento da realidade em 
favor da sorrateira, mas robusta, sanha capitalista. Em pequena medida se realizam 
criando um veio de destinação de alguma verba pública para a iniciativa privada; de 
modo mais significativo, e com notável eficiência, têm papel na reposição da hegemonia 
capitalista pois instauram a sociabilidade ensejada pelo capital no cotidiano das 
Instituições Públicas de Ensino Superior (IPES). Compreendendo se tratar, enfim, de 
um recurso que intenta e instaura uma cultura nas IPES, trabalhamos com a ideia de que 
este é o elemento central na apreensão da real função dos editais no campo. 
Recorremos, para subsidiar nossas análises, aos estudos gramscianos e, em especial, à 
categoria de religião laica (GRAMSCI, 2002). 
O Programa Nacional de Formação de Professores da Educação Básica 
(PARFOR), o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) e o 
Programa de Residência Pedagógica (PRP) são, por sua notoriedade, bons exemplos 
deste fenômeno que, indicam nossos dados, teria começado após os anos de 2000. O 
Pibid, inclusive, mobilizou atenções e movimentações em função de ameaças à sua 
continuidade em 20162. 
A mobilização universitária – de docentes principalmente – em defesa do Pibid 
deu visibilidade ao movimento em torno das referidas políticas: uma postura de adesão 
às mesmas. Com base em dados recolhidos na empiria da pesquisa empreendida e 
 
2 Desde o golpe que colocou Michel Temer (MDB) na presidência do país, medidas de austeridade 
econômica foram crescentemente anunciadas e, dentre elas, foram alardeados significativos cortes na 
CAPES. Neste contexto, a agência enviou a bolsistas e coordenadores do Programa mensagem 
notificando o encerramento da vigência do edital Pibid então em andamento; e o fez sem a divulgação de 
nova publicação para prosseguimento dos trabalhos. Na contramão de um processo que vinha se 
caracterizando pelo crescimento de bolsas oferecidas, uma leitura de ameaça ao referido programa foi 
forjada, com o receio de sua extinção, o que mobilizou a reação de setores da comunidade universitária na 
demanda por sua manutenção. Cf. Peres (2018) e UFPEL (2018). 
 
34 
 
analisados, constatamos a aceitação, via adesão aos editais, dos programas propostos 
pelos governos desde 2007. É majoritária a inserção das Instituições Públicas de Ensino 
Superior (IPES) nos Programas de Formação Docente via editais, como a CAPES/DEB 
(2013, p.18) apresenta em seu Relatório de Gestão 2009-2013. 
 
Gráfico 1. IES parceiras – total, todos os programas*, por dependência administrativa 
(2013) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Relatório de Gestão CAPES/DEB – Parfor 2009-2013 (BRASIL. CAPES. DIRETORIA 
DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA, 2013). 
* Pibid, PARFOR, Prodocência, Novos Talentos, Observatório da Educação, 
Observatório da Educação Escolar Indígena 
 
 Se a diferença em números absolutos parece pequena, apenas 11 IES públicas a 
mais, é importante pensá-la à luz da quantidade total de Instituições de Ensino Superior 
no país em 2013: 301 públicas e 2.090 privadas (INEP, 2013). Ou seja, em mais da 
metade das IPES se desenvolvia algum programa da CAPES sob a responsabilidade da 
Diretoria de Educação Básica (DEB) – proporção que segue aproximada de acordo com 
os dados atualizados trabalhados nesta pesquisa. Uma realidade que revela um paradoxo 
importante: a preponderância nas públicas sugere aos que nela estão imersos uma 
dimensão falsa dos programas em sua totalidade tendo em vista que as instituições 
particulares são muito mais numerosas, não só em ‘unidades’ como em número de 
matrículas. Ou seja, apesar de muito presentes nas IPES, em sua totalidade os 
Programas são efetivamente demasiado pequenos. 
A análise da Política de Editais (PE) por meio dos Programas de Formação 
Inicial dos Docentes para o Magistério na EB e seu papel na preparação das/os 
 
35 
 
futuras/os professoras e professores consolida o objetivo central desta investigação. 
Nesse sentido, nos debruçamos sobre quatro Programas de Formação Inicial 
desenvolvidos pela CAPES – agência que tem a função de induzir e fomentar a FD no 
país – que se estruturam via editais. Além do PARFOR e do Pibid, outros dois fazem 
parte da empiria selecionada para o estudo: a Universidade Aberta do Brasil (UAB) e os 
Programas de Residência, Docente (PRD) e Pedagógica (PRP)3. Importante frisar que 
temos como objetivo compreender o papel dos editais enquanto proposição de política 
formativa para a docência na Educação Básica e, para tanto, esses Programas nos dão 
lastro empírico para tal empreitada. Isso quer dizer que não há nesta pesquisa uma 
proposição de estudo específico dos conteúdos propositivos de cada um desses 
Programas nas diferentes IPES em que são desenvolvidos. 
Evangelista et al. (2019) indicam que entre 2003 e 2014 cerca de 61 programas, 
projetos ou ações que envolvem a formação docente foram organizados em âmbito 
federal, boa parte deles se realizando por meio de edital público. O escrutínio do 
levantamento realizado pelos autores dá a ver a amplitude difusa de seu escopo. Trata-se 
de propostas de formação inicial e/ou continuada, dentre as quais aparece a Residência 
Docente (RD); que se realizam em Nível Médio – mais de uma indicando o objetivo de 
“[...] consolidar Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia” 
(EVANGELISTA ET AL., 2019, p.173) –, em Licenciaturas ou em Pós-Graduação 
Stricto Sensu, caso dos Mestrados Profissionais; frequentemente anunciando a intenção 
de aproximar Educação Superior e Educação Básica, exaltando “inovação” e 
Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). Salta aos olhos a recorrência da 
modalidade de Educação a Distância (EaD), explícita em cerca de 30% das proposições 
que ocorrem essencialmente por este meio ou alternando com momentos presenciais – 
por vezes apontados como realizados nas férias escolares ou nos finais de semana –; e a 
grande diversidade de grupos aludidos: indígenas, quilombolas, campesinos, aosque 
estão nas zonas de fronteira; professores alfabetizadores, da Educação Infantil (EI), 
gestores/dirigentes. Também são dispersas as áreas envolvidas: EI, Alfabetização, 
Inclusão, Inclusão digital, Saúde, materiais didáticos, Educação Ambiental, Língua 
Portuguesa (LP), área de exatas, avaliação... No emaranhado de proposições, sobram 
dificuldades de compreensão quanto à definição das áreas, grupos e regiões 
 
3 As diferenças entre Residência Pedagógica e Docente serão à frente esclarecidas. 
 
36 
 
privilegiados. Ao mesmo tempo, é mister esclarecer que na profusão de propostas e 
alvos a lógica formativa – instrumental, preponderantemente tecnicista – é constante. 
Nesse levantamento, chama a atenção a dificuldade encontrada em acessar dados 
nas páginas oficiais – seja do Ministério da Educação (MEC), da Coordenação de 
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) ou do Fundo Nacional de 
Desenvolvimento da Educação (FNDE) – acerca das iniciativas governamentais. 
Dificuldade também compartilhada no exercício desta pesquisa, no caso dos objetos de 
estudo escolhidos, preponderantemente na CAPES. As informações são truncadas, 
majoritariamente incompletas, se contradizem em fontes distintas embora oriundas dos 
próprios órgãos oficiais: algumas vezes no sítio eletrônico o dado é um e num relatório 
publicado o mesmo não se confirma. Segundo Evangelista, Kenji e Souza (2019, p.27), 
 
não à toa os órgãos estatais variam suas referências [...] A visão de 
totalidade se perde na escolha minuciosa e adequada da exposição das 
informações oficiais pelos arautos do aparelho de Estado e o canto da 
sereia pode assim ser melhor entoado. 
 
De todo modo, o significativo número de editais publicados inspira o 
enfrentamento das imprecisões e adversidades no levantamento de dados em função da 
atenção que mobilizam, não apenas por sua recorrência, mas pela ausência de estudos 
sistemáticos acerca do tema do financiamento da formação docente por meio de editais. 
Um descompasso que, derivamos, vem contribuindo para a estruturação de um senso 
comum equivocado acerca dos Programas a eles relacionados, posto que estes têm feito 
parte do cotidiano de muitas das Universidades públicas brasileiras sem serem 
pensados, por exemplo, em relação ao contexto de modificações que vêm sendo 
implementado no campo da FD. Para Gabriel e Leher (2019, p. 221), 
 
[...] um contexto em que a formação docente é materialmente alterada 
pela conjunção de tendências como: 
(i) a presença maciça nesse processo formativo de instituições 
privado-mercantis em detrimento das públicas: enquanto as públicas 
totalizam 596 mil matrículas, as privadas somam 986 mil matrículas 
(INEP, 2017); 
(ii) a proliferação de cursos de licenciatura à distância, sem o devido 
rigor acadêmico (setor público: 109 mil matrículas; setor privado: 
633 mil, sendo 485 mil em organizações sob dominância financeira e, 
em grande parte, com ações na bolsa de valores); 
(iii) uma curva descendente do prestígio da profissão docente, 
afetando a procura pelos cursos de licenciatura; 
(iv) a proliferação de discursos negativos sobre o desempenho das 
universidades públicas no processo de formação inicial docente; 
 
37 
 
(v) o retorno nos debates políticos de percepções tecnicistas e 
instrumentais da docência, e 
(vi) a responsabilização e culpabilização4 do docente por todas as 
mazelas da educação. 
 
Especialmente os dois primeiros aspectos conjunturais aludidos pelos autores – o 
predomínio das instituições privado-mercantis na formação docente brasileira e a 
preponderância das matrículas em EaD – têm sido amplamente demonstrados por 
estudos e pesquisas desenvolvidos no âmbito do Grupo de Investigação sobre Políticas 
Educacionais (GIPE-Marx), composto por docentes e pós-graduandos da Universidade 
Federal de Santa Catarina e no bojo do qual esta tese se estruturou. Um quadro que vem 
se conformando há anos e consolida hoje, nas palavras de Evangelista, Kenji e Souza 
(2019, p.52), como 
 
uma nova forma geral de oferta de licenciatura pelas IES particulares, 
aquela na qual não importa o sujeito matriculado, o ser social aluno. 
Está em jogo tão-somente a potência de compra e venda das 
matrículas enquanto tais e a mesma capacidade no que tange ao valor 
das instituições educacionais no rentável mercado das compras e 
vendas de IES. 
 
 Uma realidade pungente, que aprofunda a problemática da formação humana 
no seio da sociedade capitalista, levando-a a um extremo de supremacia do capital não 
reconhecido por muitos brasileiros: o Capital Educador (EVANGELISTA, 2017). 
Estamos frente à burguesia com seu projeto classista, cuja mediação do Estado é crucial 
para sobrepor-se na luta de classes. O Capital Educador envolve educadores e 
educandos como sujeitos da classe trabalhadora, implicando-os “no âmbito das relações 
de hegemonia, de disputa de poder, de antagonismo de classe” (EVANGELISTA, 2017, 
p. 15) e vem logrando êxito. Por meio de proposições aparentemente dispersas, os fios 
do projeto educativo do capital se emaranham criando uma ideia de realizações que 
turvam a apreensão do real. Trata-se, neste projeto, de discutir a perspectiva marxista, 
expressa na terceira das Teses sobre Feuerbach, escritas por Marx em 1845: 
A teoria materialista de que os homens são produto das circunstâncias 
e da educação e de que, portanto, homens modificados são produto de 
circunstâncias diferentes e de educação modificada esquece que as 
 
4 Cabe assinalar que os autores usam responsabilização e culpabilização como binômios, mas há 
importante diferenciação a ser colocada. Enquanto a responsabilização é uma política – accountability – 
originalmente vinculada à gestão de governança pública e à intenção de controle que foi implementada na 
Educação notadamente através das avaliações em larga escala, podemos dizer que a culpabilização é uma 
consequência, um resultado do desenvolvimento dessa política. 
 
38 
 
circunstâncias são modificadas precisamente pelos homens e que o 
próprio educador precisa ser educado. Leva, pois, forçosamente, à 
divisão da sociedade em duas partes, uma das quais se sobrepõe à 
sociedade (como, por exemplo, em Robert Owen). A coincidência da 
modificação das circunstâncias e da atividade humana só pode ser 
apreendida e racionalmente compreendida como prática 
transformadora. (MARX, 2002). 
 
Mészáros (2008) chama a atenção para o fato de que a transformação social, a 
superação da ordem do capital, demanda uma conceituação precisa no âmbito 
educacional, qual seja, “educação para além do capital” (MÉSZÁROS, 2008). O autor 
afirma que “desde o início o papel da Educação é de importância vital para romper com 
a internalização predominante nas escolhas políticas circunscritas à ‘legitimação 
constitucional democrática’ do Estado Capitalista que defende seus próprios interesses.” 
(MÉSZÁROS, 2008, p. 61, grifos no original). Manter as condições de acumulação e 
reprodução do capital é vital e as políticas sociais vinculam-se estreitamente a esse 
intento. A Educação, a escola e o professor são chamados a dar as condições, em termos 
ideológicos, para a espinhosa tarefa de combater a pobreza brasileira – tarefa inviável. 
O número grande de políticas desenvolvidas pelo Governo petista – 
diferentemente do de FHC – sugere ser possível pensar as políticas educacionais 
públicas como resultantes da profunda articulação entre o aparelho de Estado e o 
Capital, o que confere à noção de Capital Educador maior capacidade explicativa. Não 
se trata de recuperar as teorias reprodutivistas, pois não compreendemos a escola como 
aparelho ideológico do Estado, a exemplo de Althusser (1985), ou de algum marxismo 
mecânico. Contrariamente, a escola – como acentuou Mészáros (2008) – é parte 
importante das ações educativas mediante as quais se constrói, difunde e organiza os 
projetos históricos de classe, âmbito em que a disputa hegemônica se coloca.A 
Educação, esfera carregada de contradições, expressa os litígios sociais, de classe. O 
Estado, como mediador de interesses burgueses hegemônicos, atua nesse campo 
articulado aos interesses do capital, mais do que aos interesses dos dominados, ou dos 
subalternos. Nesse processo, e para seu aprofundamento, educa também os educadores 
que se conformam intermediários da reposição da hegemonia burguesa. A pesquisa 
mostrou como a Política de Editais se insere nessa dinâmica, servindo a este projeto 
conformador aos interesses econômicos e ideológicos do capital. 
 
 
 
39 
 
1.1 Do recorte da pesquisa 
 
 Os quatro Programas enfocados em nossas análises – a Universidade Aberta do 
Brasil (UAB), o mais antigo dos programas de formação inicial via editais e ainda em 
atividade; o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid); o Plano 
Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR); e a Residência5 
– são desenvolvidos sob a coordenação da CAPES e se dirigem à formação inicial de 
docentes para a Educação Básica. A circunscrição da análise aos programas 
desenvolvidos pela CAPES se dá em função de seu histórico na relação com o campo da 
Formação Docente. Para além de sua histórica atividade em função da pós-graduação 
nacional, desde a aprovação da Lei n. 11.502, de 11 de julho de 2007 (BRASIL, 2007), 
a agência aumentou seu escopo de atuação encampando a atenção à EB. Com a nova 
Lei, a CAPES tem a atribuição de “[...] induzir e fomentar a formação inicial e 
continuada de profissionais da Educação Básica [...]” (BRASIL.CAPES, s.d.a, p.1). Tal 
atribuição foi consolidada pelo Decreto nº 6755, de 29 de janeiro de 2009 (BRASIL, 
2009), que instituiu a Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da 
Educação Básica. Nesse processo, o escopo de atuação da Coordenação se ampliou 
consideravelmente e suas atividades na área precisam ser conhecidas. 
Na página eletrônica da CAPES, na qual se encontram muitas fontes de 
pesquisa, encontramos 13 programas6, entre ativos e encerrados, com participação por 
adesão via edital. O quadro a seguir apresenta uma breve síntese do que apuramos sobre 
os mesmos, destacando seu ano de lançamento (e encerramento, quando for o caso) e o 
declarado objetivo principal da proposição. 
 
 
 
 
 
5 Há uma questão que complexifica o trato com a Residência: no período privilegiado por nós para a 
análise o Programa de Residência Pedagógica ainda não tinha sido lançado. Naquele momento, se 
identificava o Programa de Residência Docente. Oportunamente discutiremos os dois Programas. 
6 De acordo com a página da CAPES, no link “Formação de Professores da Educação Básica”, há mais 
um programa: o ‘Projeto Água’. Ocorre que ele não se dedica exatamente à formação docente tendo em 
vista que se propõe a “[...] selecionar projetos que tenham como objeto a produção de material didático 
sobre o tema Água [...]”. Por conta dessa interpretação optamos por não incluir a proposição que teve 
edital único publicado em 2015 no quadro-síntese apresentado. Para mais detalhes sobre este projeto, cf. 
https://www.capes.gov.br/educacao-basica/programas-encerrados/projeto-agua. 
 
40 
 
Quadro 1. Programas de Formação de professores, via editais, organizados e fomentados 
pela CAPES: nome, ano de lançamento/último edital, objetivo (2005-2019) 
 Formação de Professores da Educação Básica – Editais CAPES 
 Nome Ano de lançamento/ 
último edital 
Objetivo 
Po
lít
ic
a 
N
ac
io
na
l 
de
 F
or
m
aç
ão
 d
e 
Pr
of
es
so
re
s -
 O
ut
. 
20
17
 
 
Residência Pedagógica 
 
 
Out. 2017 
Induzir o aperfeiçoamento da formação prática nos 
cursos de licenciatura, promovendo a imersão do 
licenciando na escola de educação básica, a partir da 
segunda metade de seu curso 
PIBID 
Programa Institucional de 
Bolsa de Iniciação à 
Docência 
 
2007 
Proporcionar aos discentes na primeira metade do 
curso de licenciatura uma aproximação prática com o 
cotidiano das escolas públicas de EB. 
 Prof Licenciatura 
Programa de Fomento à 
Formação de Professores 
da Educação Básica 
 
 
Set 2018 
 
Melhorar a qualidade dos cursos de licenciatura, via 
integração de Instituições de Ensino Superior (IES) e 
escolas. 
Poderão participar IES com ao menos dois núcleos 
PIBID ou RP. 
 Parfor 
Programa Nacional de 
Formação de Professores da 
Educação Básica 
 
2009 
 
Capacitar os profissionais do magistério que dão aula 
na rede pública e não têm formação específica na área 
em que atuam em sala de aula. 
 
UAB 
Universidade Aberta do 
Brasil 
 
 
2005 
Levar o ensino superior para os municípios do interior 
do País, capacitando as pessoas para que possam 
contribuir para o desenvolvimento da região. 
 
C
oo
pe
ra
çã
o 
In
te
rn
ac
io
na
l 
PDPI 
Programa de 
Desenvolvimento de 
Profissional para 
Professores de Língua 
Inglesa nos Estados Unidos 
 
 
2010 
 
Capacitar professores de língua inglesa, que estejam 
em efetivo exercício nas escolas públicas de educação 
básica 
 
 
 
Programa de Desenv.de 
Profissionais da Educação 
Básica na Irlanda 
 
 
 
 
2019 
Promover a capacitação de profissionais que atuam na 
direção, coordenação ou supervisão pedagógica das 
escolas de educação básica (colégios militares 
inclusive) das redes pública ou privada sem fins 
lucrativos. Especialização em educação com 
treinamento em língua inglesa e desenv. de 
habilidades em liderança e gestão pedagógica. 
 
ProfCanadá 
Programa de Desenv. de 
Profissionais da Educação 
Básica no 
Canadá 
 
 
 
2019 
Promover a capacitação de professores em efetivo 
exercício nas escolas públicas das redes estadual, 
municipal e distrital, com curso básico de inglês e 
curso de formação de professores voltado para gestão 
de sala de aula e aprendizagem centrada no aluno. 
 
Obeduc 
Observatório da Educação 
2006 
(Último edital no site 2012) 
Fomentar estudos e pesquisas em educação, que 
utilizem a infra-estrut. disponível das IES e as bases 
de dados existentes no INEP. 
 
 
Novos Talentos 
 
2010 
(Último edital no site 2012) 
Apoiar propostas para realização de atividades 
extracurriculares para prof. e alunos da EB, visando à 
disseminação do conhec. científico e à atualização do 
público-alvo e à melhoria do ensino de ciências. 
 
STEM 
Programa de Cooperação 
Internacional STEM 
(Science, Technology, 
Engineering and 
Mathematics) 
 
 
 
2015 
Promover a mobilidade e o intercâmbio de docentes e 
pesquisadores responsáveis pelo ensino das referidas 
áreas ao Reino Unido. Podem submeter proposta 
docentes de ensino superior que atuam como 
coordenadores de projeto ou de subprojeto vigente no 
Programa Novos Talentos da Capes, nas áreas 
envolvidas. 
 Life 
Programa de Apoio a 
Laboratórios 
Interdisciplinares de 
Formação de Professores 
 
2012 
(Último edital no site 2013) 
Selecionar propostas que tenham por objetivo a 
criação de laboratórios interdisciplinares de formação 
de educadores. 
 
Prodocência 
Programa de Consolidação 
das Licenciaturas 
 
2013 
(Único edital no site) 
Fomento à inovação e à elevação da qualidade dos 
cursos de formação para o magistério da Educação 
Básica, na perspectiva de valorização da carreira 
docente. 
Fonte: Elaboração própria com base em dados disponíveis na página eletrônica da CAPES 
(BRASIL. CAPES, 2021a). 
 
41 
 
Dos 13 programas mapeados, cinco foram encerrados. Dentre os oito que 
funcionam, quatro são voltados à formação inicial de professores, Residência 
Pedagógica, Pibid, PARFOR e UAB; o Prof. Licenciatura se dedica a apoiar a 
realização de atividades dos projetos aprovados pelo Pibid e pela RP por meio da 
concessão de recursos de custeio às instituições; os três programas que compõem a 
Cooperação Internacional são voltados à formação continuada. 
No que se refere à datação, tanto pelo apurado com a bibliografia levantada, 
quanto pelo que verificamos na empiria, os dois primeiros mandatosfederais do Partido 
dos Trabalhadores (2003-2006 e 2007-2010) – ambos tendo Luís Inácio Lula da Silva 
na presidência e contando com Fernando Haddad como Ministro da Educação na maior 
parte deles (2005-2012) – são os precursores desse modelo até então inédito na 
Formação Docente no país. Constatamos se tratar de uma opção política ratificada pelos 
mandatos petistas de Dilma Rousseff (2011-2014 e 2015-2016). Com o impedimento da 
então Presidenta Dilma Rousseff (PT), por meio do golpe de agosto de 2016, poderia se 
aventar a possibilidade de algum tipo de modificação ter ocorrido na linha política que 
vinha sendo tomada, mas não foi o que verificamos. Desde então acompanhamos a 
consolidação do rumo delineado para a formação docente, com publicação e divulgação 
de editais. Se de um lado aferem-se impactos negativos não desprezíveis, sobretudo no 
aporte orçamentário dos projetos a partir do golpe, de outro, um dos atos mais 
alardeados do governo de Michel Temer se deu exatamente no Ministério da Educação 
e se referiu ao lançamento da “Política Nacional de Formação de Professores” que, além 
de consolidar programas existentes, lançou o Programa de Residência Pedagógica para 
o país todo7. Não temos dúvidas de que há programas que atualmente, concreta e 
subjetivamente, compõem o universo de reconhecidas ações no campo da formação de 
professores para a Educação Básica e isso se dá também porque as gestões que 
sucederam as petistas atuaram na manutenção da existência deles. 
 O protagonismo do PT no nascimento da Política de Editais na área da Educação 
contextualiza a datação definida para o mergulho na pesquisa empírica: analisar a PE na 
Formação Docente tendo como foco o período de 2003 a 2016, posto que o 
compreendemos como de extrema importância tanto para o surgimento da política 
 
7 Como explicitaremos em maiores detalhes mais adiante na tese, trabalhamos com a ideia de que a 
Residência é um projeto que já vinha sendo ensaiado pontualmente, com a gestão e o fomento da CAPES, 
embora com outro “sobrenome”: Residência Docente. A Política anunciada e implementada na gestão de 
Mendonça Filho (DEM), com sutis diferenças de formato, representa a nacionalização do mesmo. 
 
42 
 
quanto para seu enraizamento no campo. Levando em consideração que nos 13 anos 
analisados o universo de editais é robusto, optamos pelo recorte específico dos 
Programas que estavam em funcionamento em 20178 e que se dirigem à formação 
inicial de professores para a Educação Básica. 
 
 
1.2 Documentos, discursos e lives 
 
Até que os leões inventem as suas próprias histórias, 
os caçadores serão sempre 
os heróis das narrativas de caça. 
Provérbio Africano 
 
Reunimos os editais publicados dos quatro programas de formação inicial 
estudados: UAB, Pibid, PARFOR e RP. Nesse exercício, as primeiras escolhas foram 
realizadas tendo em vista que os que concernem à UAB, em especial, são demasiado 
numerosos e muitos escapam de nosso interesse analítico. Tínhamos claro que nosso 
foco eram os editais dirigidos às IES para implementação dos referidos programas e 
grande parte dos que têm relação com o Sistema UAB objetivam a seleção de estudantes 
para os cursos existentes. Deste modo, não nos detivemos a compila-los e reunimos 
especificamente as chamadas públicas para criação de polos e cursos, iniciativa do MEC 
e, depois de 2007, da CAPES. 
Feito este primeiro recorte, mapeamos 21 editais. Na primeira leitura, 
constatamos que havia documentos que escapavam de nosso interesse mais direto: dois 
deles referentes à UAB e dois ao Pibid. Os editais UAB de 2008 (BRASIL. 
SECAD/MEC, 2008) e 2009 (BRASIL. SECAD/MEC, 2009) não foram incluídos tendo 
em vista que se dirigiram à chamada para implementação de cursos de formação 
continuada (extensão, aperfeiçoamento e especialização), fugindo ao escopo do estudo 
em tela. Por sua vez, no caso do Pibid houve o lançamento de dois editais em 2010 e 
dois em 2013 sendo, a cada ano, um deles de “Pibid Diversidade”. Segundo a CAPES, a 
variação “Diversidade” do Programa de Bolsas de Iniciação à Docência intentava “o 
aperfeiçoamento da formação inicial de professores para o exercício da docência nas 
 
8 A pesquisa que culmina com a tese se inicia no ano de 2017 e por isso este foi escolhido. Vale ressalvar 
que todos os programas que compõem a empiria do estudo se encontravam ativos em 2021, ano de 
conclusão da tese. 
 
43 
 
escolas indígenas e do campo” (BRASIL. CAPES, 2021f). Esses dois foram os únicos 
com tal ênfase e sua extinção se deu sem alarde específico, imiscuída aos protestos pela 
ameaça de fim do ‘programa-mãe’, em 2016. Optamos pela não inclusão dos 
documentos referentes ao ‘Diversidade’ nas análises da tese em função do foco do 
trabalho nos Programas vigentes em 2017, data em que esta variação figurava como 
extinta. Assim sendo, o quadro a seguir organiza os editais analisados: 
 
Quadro 2. Editais dos programas de formação inicial de professores publicados: 
nomes, números dos editais, órgãos responsáveis, datas, Brasil, 2005-2020 
Progra 
mas 
Editais selecionados 
 
UAB 
01/2005 
SEED/MEC 
de 16 de dezembro 
de 2005 
01/2006 
SEED/MEC 
de 18 de outubro 
de 2006 
75/2014 
CAPES 
de 18 de dezembro 
de 2014 
05/2018 
CAPES 
de 1 de março 
de 2018 
 
Pibid 
2007 
MEC/ 
CAPE
S/FND
E 
de 12 
de dez 
de 
2007 
 
02/2009 
CAPES 
de 25 de 
setembr
o de 
2009 
 
18/2010 
CAPES 
de 13 de 
abril de 
2010 
 
01/2011 
CAPES 
de 03 de 
janeiro 
de 2011 
 
11/2012 
CAPES 
de 20 de 
março 
de 2012 
 
61/2013 
CAPES 
de 02 de 
agosto 
de 2013 
 
07/2018 
CAPES 
de 01 de 
março 
de 2018 
 
02/2020 
CAPES 
de 06 de 
janeiro 
de 2020 
Parfor 30/2013 
CAPES 
de 4 de junho de 2013 
64/2014 
CAPES 
de 10 de novembro de 2014 
19/2018 
CAPES 
de 25 de maio de 2018 
RP 06/2018 
CAPES 
de 01 de março de 2018 
01/2020 
CAPES 
de 06 de janeiro de 2020 
Fonte: Elaboração própria com base nos Editais (BRASIL. CAPES, 2005-2020). 
 
Trabalhamos, portanto, com os 17 editais dirigidos às IES para fomentar 
Programas de Formação Docente inicial, sendo quatro da UAB, oito do Pibid, três do 
PARFOR e dois de RP. Salta aos olhos com este quadro o destacado papel da CAPES 
na organização dos programas, no estrito cumprimento da função de induzir e fomentar 
a formação docente para a educação básica, da qual foi incumbida com a Lei n. 
11.502/2007 (BRASIL, 2007). 
A implementação de programas via editais para o campo da formação de 
professores se deu num tempo histórico de ajustamentos às demandas do capitalismo 
neoliberal que se consolidava no país e os editais são os primeiros documentos a 
 
44 
 
registrar suas proposições e seus encaminhamentos. Compreendendo que os 
documentos não são a política, mas expressões dela (SHIROMA; CAMPOS; GARCIA, 
2005), nos dedicamos a conhecê-los e analisá-los para nos aproximarmos de elementos 
que, explícita ou subliminarmente, trouxessem vestígios esclarecedores do contexto e 
das intenções que levaram à sua gênese. Isso porque chegar aos documentos, de nossa 
perspectiva, significa identificá-los como discursos historicamente produzidos e, 
portanto, em nada inocentes. Como Evangelista e Shiroma (2016, p. 9) alertam: “um 
discurso é histórica e concretamente produzido e seu conteúdo e forma de disseminação 
obedecem à determinada intencionalidade.” Assim, o documento é percebido aqui não 
como um objeto final de explicação, mas como unidade de análise “[...] que nos permite 
ter acesso ao discurso para compreender a política.” (SHIROMA; CAMPOS; GARCIA, 
2005, p.493). Esse movimento supõe que os documentos oficiais sejam tratados como 
expressão e indícios da política, mas não como seu atestado central. Por essa razão, a 
análise que realizamos confrontou-os com outros documentos e análises acerca da 
formação de professores no país. 
Com tal compreensão cabe observar que à CAPES foi atribuída a função de 
indução

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