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Lista de Figuras e Gráficos FIGURA 1 - Pilares do Acordo de Basileia II .........................................................................11 GRÁFICO 1 - Concessão de Crédito Veículo Pessoa Física ...................................................22 GRÁFICO 2 - Alíquota compulsória deposito à Vista e a Prazo .............................................23 GRÁFICO 3 – Resíduos das séries ..........................................................................................28 GRÁFICO 4 - Concessão de Crédito x Produção de Veículos: janeiro/2008 a dezembro/2010 ...................................................................................................................................................42 GRÁFICO 5 - Concessão de Crédito x Produção de Veículos: janeiro/2012 a dezembro/2014 ...................................................................................................................................................43 Pró-Reitoria Acadêmica Escola de Gestão e Negócios Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Economia REGULAÇÃO BANCÁRIA E A CONCESSÃO DE CRÉDITO VEÍCULO NO BRASIL Brasília - DF 2018 Autor: Alexandre Cardoso Fernandes Orientador: Prof. Dr. José Angelo Divino ALEXANDRE CARDOSO FERNANDES REGULAÇÃO BANCÁRIA E A CONCESSÃO DE CRÉDITO VEÍCULO NO BRASIL Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação Stricto Sensu em Economia da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Economia. Orientador: Prof. Dr. José Angelo Divino Brasília 2018 Ficha elaborada pelo Sistema de Bibliotecas da Universidade Católica de Brasília (SIBI/UCB) Bibliotecária Debora Carvalho CRB1/2.156 F363r Fernandes , Alexandre Cardoso. Regulação bancária e a concessão de crédito veículo no Brasil / Alexandre Cardoso Fernandes – 2018. 64 f.: il. ; 30 cm Dissertação (Mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2018. Orientação: Prof. Dr. José Angelo Divino 1. Política macroprudencial. 2. Crédito veículo. 3. Regressão. I. Divino, José Angelo, orient. II. Título. CDU 33 AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar, à DEUS, já que Ele colocou pessoas tão especiais ao meu lado, sem as quais certamente teria sido muito mais difícil. A minha amada esposa, Ana Paula, por ser tão importante na minha vida. Sempre ao meu lado, me pondo para cima e me fazendo acreditar que posso mais que imagino. Devido ao seu companheirismo, amizade, paciência, compreensão, apoio, alegria e amor, este trabalho foi concretizado. Ao meu filho, Arthur, que chegou a esse mundo no meio do mestrado e me trousse muita felicidade e motivação para concluir essa etapa da minha vida. A meus pais, Roberto e Eliana, meu infinito agradecimento. Mesmo com toda dificuldade, nunca mediram esforços em me criar e educar, transmitindo os seus valores para que eu me tornasse uma pessoa digna e ética. A todos os professores e colegas do mestrado, especialmente, aos colegas de turma, Cíntia Leal, Daniel Lopes e Vivileine, aos quais pude compartilhar momentos de alegrias e dificuldades durante essa trajetória. Ao meu orientador, Dr. José Angelo Divino, muito obrigado pela atenção e auxílio na conclusão desse trabalho. Aos colegas do Banco do Brasil da Diretoria de Finanças, Fernando Sabbi, Flávio Alexandre, Valter Alberto, Elder, João Marcelo, Pedro, Angelo, Ricardo, Sabrina, Júlio e Paula, sei que estive um pouco ausente nesses últimos 2 anos por conta do mestrado, mas mesmo assim nunca me criticaram e sempre me apoiaram. Muito obrigado a todos. RESUMO O objetivo central do trabalho, é analisar os efeitos das políticas macroprudenciais, adotadas pelo Brasil após a crise de 2008, sobre a concessão de crédito para financiamento de veículos para pessoas físicas. Serão estudadas as alterações nas exigibilidades de compulsório sobre depósitos a prazo e à vista, mudança na exigência de capital e alterações nas alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Na parte empírica, será estimada uma regressão múltipla para identificar os principais determinantes da concessão de crédito veículo para pessoas físicas no Brasil. Será feita uma revisão da literatura sobre trajetória da regulação bancária de Basileia I a Basileia III, bem como da regulação Micro e Macroprudencial. Palavras-chaves: política macroprudencial. Crédito veículo. Regressão ABSTRACT The main objective of this study is to analyze the effects of macroprudential policies, adopted by Brazil after the 2008 crisis, on the granting of credit to finance vehicles for individuals. The changes in the compulsory liabilities on time deposits and demand deposits, changes in the capital requirement and changes in the Tax on Financial Transactions (IOF) and Industrialized Products Tax (IPI) rates will be studied. In the empirical part, a multiple regression will be estimated to identify the main determinants of vehicle credit for individuals in Brazil. A review will be made of the literature on the trajectory of banking regulation from Basel I to Basel III, as well as the Micro and Macroprudential regulation. Keywords: macroprudential policy. Vehicle credit. Regression Lista de Figuras e Gráficos FIGURA 1 - Pilares do Acordo de Basileia II .........................................................................19 GRÁFICO 1 - Concessão de Crédito Veículo Pessoa Física ...................................................30 GRÁFICO 2 - Alíquota compulsória deposito à Vista e a Prazo .............................................31 GRÁFICO 3 – Séries de Dados (CONCVC, IPI e PRODAUTO) ...........................................48 GRÁFICO 4 – Resíduos das séries ..........................................................................................52 GRÁFICO 5 - Concessão de Crédito x Produção de Veículos: janeiro/2008 a dezembro/2010 ...................................................................................................................................................56 GRÁFICO 6 - Concessão de Crédito x Produção de Veículos: janeiro/2012 a dezembro/2014 ...................................................................................................................................................57 Lista de Tabelas TABELA 1 - Basileia III - Etapas de Transição ........................................................................23 TABELA 2 - Instrumentos Macroprudenciais ..........................................................................28 TABELA 3 - Diferenças de enfoque entre as medidas de regulação prudencial ......................29 TABELA 4 - Alíquota do IPI Antes e Depois da Redução (Veículos Nacionais) entre dezembro/2008 a março/2010 ...................................................................................................33 TABELA 5 - Requerimento Mínimo de Capital Aquisição de Veículo Circular nº 3.515 .........35 TABELA 6 - Alíquota do IPI Antes e Depois da Redução (Veículos Nacionais) entre maio/2012 e dezembro/2014 .......................................................................................................................38TABELA 7 - Principais Alterações Circular nº 3.714 ...............................................................38 TABELA 8 - Principais Alterações Circular nº 3.715 ...............................................................39 TABELA 9 – Variáveis do Modelo ...........................................................................................45 TABELA 10 - Estatísticas descritivas das séries estudadas ......................................................46 TABELA 11 - Resultados dos Testes de Raiz Unitária para Séries de Tempo ...........................48 TABELA 12 - Resultados dos Testes de Raiz Unitária para Séries de Tempo com Quebra Estrutural ..................................................................................................................................49 TABELA 13 - Especificação da defasagem do modelo VAR....................................................50 TABELA 14 - Teste LM de correlação serial dos Resíduos VAR (Defasagens = 1) .................51 TABELA 15 - Teste LM de correlação serial dos Resíduos VAR (Defasagens = 4) .................51 TABELA 16 - Teste de cointegração de Johansen (traço) .........................................................51 TABELA 17 - Teste de cointegração de Johansen (max. Autovalor) ........................................52 TABELA 18 - Teste de Johansen (traço) com Quebra: Outubro/2008 e Setembro/2012...........53 TABELA 19 - Teste de Saikkonen e Lütkepohl ........................................................................53 TABELA 20 - Concessão de Crédito para Financiamento de Veic. Pessoa Física ....................54 TABELA 21 - Teste LM de Breusch-Godfrey de autocorrelação serial ....................................55 TABELA 22 - Teste de White para heterocedasticidade ...........................................................55 TABELA 23 - Heterocedasticidade Corrigida: Erro padrão e covariância consistentes ...................................................................................................................................................55 SUMÁRIO 1 – INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 12 2 – REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................................................... 15 2.1 – Regulação Bancária .................................................................................................................. 15 2.1.1 – Acordo de Basileia I ............................................................................................................16 2.1.2 – Acordo de Basileia II ...........................................................................................................18 2.1.3 – Acordo de Basileia III ..........................................................................................................21 2.2 – Regulação Microprudencial ..................................................................................................... 23 2.3 – Regulação Macroprudencial .................................................................................................... 25 2.4 – Regulação Microprudencial versus Macroprudencial .............................................................. 28 3 – O USO DAS MEDIDAS MACROPRUDENCIAIS NO BRASIL PÓS-CRISE DE 2008 .............................. 29 3.1 – Medidas Macroprudenciais no período de 2008 a 2009 ......................................................... 30 3.2 – Medidas Macroprudenciais no período de 2010 a 2011 ......................................................... 34 3.3 – Medidas Macroprudenciais no período de 2012 a 2014 ......................................................... 36 4 – METODOLOGIA ............................................................................................................................... 39 4.1 – Testes de Raiz Unitária ............................................................................................................. 40 4.2 – Testes de Cointegração ............................................................................................................ 41 5 – RESULTADOS ................................................................................................................................... 43 5.1 – Dados ........................................................................................................................................ 43 5.2 – Testes de Raiz Unitária ............................................................................................................. 47 5.3 – Testes de Cointegração ............................................................................................................ 49 5.4 – Modelo de Correção de Erros (MCE) ........................................................................................ 53 6 – CONCLUSÃO .................................................................................................................................... 60 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................ 63 ANEXO ................................................................................................................................................... 66 12 1 – INTRODUÇÃO A crise de 2008, que teve início nos EUA com a expansão da demanda por imóveis e a valorização dos preços destes até 2006, através dos empréstimos denominados hipotecas subprime, levou o mundo a uma grande recessão, de acordo com Torres Filho (2008). Parte relevante da crise foi causada pelo baixo grau de regulamentação nos mercados financeiros mundiais, que possibilitaram, não somente, o surgimento da crise, mas sua expansão por todo o mundo. Houve também uma grande discussão a respeito da regulação do sistema financeiro. Desde o final da década de 1980, existia uma certa harmonia em relação ao equilíbrio dos mercados financeiros, conforme Clement (2010). O acordo de supervisão e regulação até então vigente, tinha foco no equilíbrio da empresa individual. Caso todas estivessem em equilíbrio, o mercado como um todo também estaria. A questão da interconectividade entre os mercados era pouco explorada. Ainda de acordo com Clement (2010), a regulação e supervisão bancária era fundamentada em medidas microprudenciais. Com a crise, um grande debate sobre a regulação bancária aconteceu na academia e em organismos internacionais, como Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco da Inglaterra e o Bank of International Settlements (BIS). O quadro de regulação e supervisão dos intermediários financeiros foi mudando de uma orientação microprudencial para uma orientação macroprudencial (ou sistêmica). Consequentemente, a atenção mudou da estabilidade das instituições individuais para a do sistema como um todo, e de uma análise parcial para de equilíbrio geral. Com isso, fez-se necessário a definição de normas mais rigorosas a serem seguidas pelas instituições financeiras, objetivando restaurar a confiança destas instituições, essencialmente, no que tange a solvência e à liquidez do sistema financeiro. Neste contexto surgiu o Acordo de Basileia III. Com o agravamento da crise, muitos países, desenvolvidos e em desenvolvimento, fizeram uso de medidas macroprudenciais no intuito de regularizar os mercados, principalmente o de crédito. Essas medidas se referem a regulação e supervisão do sistema financeiro, que visam manter de um ambiente de estabilidade em seu sentido mais amplo, que transcende os agentes individuais e buscam fortalecer o sistema financeiro, combatendo seu caráter pró- cíclico, portanto, tem um caráter sistêmico. Com elas, a autoridade monetária busca evitar e/ou administraros efeitos de crises financeiras. 13 Dentre as diversas medidas macroprudenciais, a que possui maior destaque por ser utilizada em grande parte dos países no mundo ao longo de muitos anos, são os depósitos compulsórios. Essa medida busca regular a liquidez e reduzir o risco no mercado de crédito. No Brasil, o uso dessas medidas foi intensificado a partir de 2008, com o objetivo de garantir a estabilidade do sistema financeiro. Devido ao temor de uma redução na oferta de crédito na economia, o Banco Central realizou uma redução nos depósitos compulsórios à vista e a prazo e na exigibilidade adicional. Com a recuperação da economia no ano de 2010, parte dessas medidas foram revertidas e outras medidas macroprudenciais foram adotadas para evitar uma elevada expansão do crédito que colocasse em risco o sistema financeiro. No final de 2012, com a economia já mostrando sinais de desaquecimento, novas medidas de incentivo foram implementas. O objetivo central do trabalho, é analisar os efeitos das políticas macroprudenciais, adotadas pelo Brasil após a crise de 2008, sobre a concessão de crédito para financiamento de veículos para pessoas físicas. Serão estudadas as alterações nas exigibilidades de compulsório sobre depósitos a prazo e à vista, mudança na exigência de capital e alterações nas alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Na parte empírica, será estimada uma regressão múltipla para identificar os principais determinantes da concessão de crédito veículo para pessoas físicas no Brasil. Será feita uma revisão da literatura sobre trajetória da regulação bancária de Basileia I a Basileia III, bem como da regulação Micro e Macroprudencial. Na literatura, já há alguns trabalhos empíricos sobre o assunto. Donelian (2012), por exemplo, analisou como as modificações realizadas nos depósitos compulsórios à vista e a prazo em 2008, impactaram as concessões de crédito para financiamento de veículos para pessoas físicas. Como resultado, o autor obteve que a redução nos compulsórios nos depósitos a prazo em 2008 teve um efeito estatisticamente significante no aumento da oferta nas operações de crédito. Ao verificar como as modificações realizadas no compulsório e no requerimento de capital, entre 2010 e 2011, impactaram as concessões de crédito para financiamento de veículos para pessoas físicas, encontrou que o aumento no compulsório realizado em 2010 levou a uma redução na oferta dessas operações. Ademais, o aumento no requerimento de capital reduziu a oferta de crédito para as operações de financiamento de carros, além de reduzir o prazo médio, reduzindo o risco do sistema. 14 Nessa mesma linha, Mendonça e Sachsida (2014) estudaram a demanda por crédito para veículos no Brasil, com base no modelo com mudança de regime tipo Markov-Switching (MS), no período de 2000 a dezembro de 2012. Os resultados mostraram que a demanda por financiamento esteve sujeita a três estados distintos. No período entre 2004 e 2008, a condição da economia permitiu um avanço constante e sustentável do crédito, em um ciclo de forte e contínua expansão que foi interrompido em com a crise financeira de 2008. Já o ciclo entre dezembro de 2008 e outubro de 2010, aconteceu em decorrência das políticas anticíclicas adotadas pelo Banco Central e pelo governo federal, com destaque para redução da base de recolhimento do compulsório e da alíquota do IPI. Essas providências promoveram a imediata expansão do crédito e levaram a um processo de formação de bolha, que culminou com a necessidade de introdução das chamadas medidas macroprudenciais, de modo mais incisivo a partir de dezembro de 2010. Em estudo sobre o mercado de crédito para pessoas físicas, Vartanian e Almeida (2015) mostraram que as medidas macroprudenciais adotadas pelo Banco Central do Brasil em dezembro de 2010, caracterizada em grande parte pelo aumento das taxas de depósitos compulsórios exigidas dos bancos comerciais, aumentou o spread bancário no período. Isso ocasionou redução na concessão de crédito a pessoas físicas no primeiro trimestre de 2011. Que foi impactada, em razão do aumento das taxas de juros praticadas pelos bancos comerciais em financiamentos de longo prazo, mais especificamente os relacionados a financiamento de veículos e crédito consignado. Outros autores também avaliaram o impacto da redução do IPI sobre as vendas de veículos. Alvarenga et al. (2010) em estudo empírico que abrangeu o período de janeiro a novembro de 2009, verificou em que medida a recuperação do setor pode ser creditada à redução do imposto. Adotou-se um modelo econométrico de cointegração em que as vendas são uma função do preço, da renda e do crédito para a aquisição de veículos. O resultado do estudo aponta que a redução do IPI foi importante para a recuperação das vendas, sendo responsável por 20,7% das vendas no período analisado, mas que a concessão de crédito para a compra de veículos não pode ser desprezada. Da mesma forma, Franzoi (2012) analisou o impacto da redução do IPI dos veículos automotores, em virtude da crise financeira de 2008, e concluiu, por meio de uma análise exploratória de dados relacionados à venda de veículos e a arrecadação do IPI, que as vendas de veículos novos no ano de 2009 sofreu um aumento de 11,35% em relação ao ano de 2008, o que mostra que a redução da alíquota do IPI dos veículos automotores realmente fez com que o mercado se aquecesse e as pessoas comprassem mais. 15 Como resultado da parte empírica deste trabalho, a concessão de crédito veículo para pessoas físicas será explicada pela taxa da operação, taxa de inadimplência com mais de 90 dias, produção de veículos, pelo Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e as variáveis macroeconômicas, taxa Selic, PIB, taxa de desemprego, Dívida Bruta do Governo Geral e a alíquota do depósito compulsório. De acordo com os resultados, a concessão de crédito veículo é impactada negativamente pela taxa das operações, inadimplência com mais de 90 dias, taxa Selic, desemprego e IPI. Já as variáveis produção de veículos, PIB, Dívida Bruta do Governo Geral e Alíquota do deposito compulsório, impactam de forma positiva a concessão de crédito. Apesar do aumento da Dívida Bruta do Governo Geral ter contribuído para o aumento da concessão do credito no período analisado, a política fiscal expansionista, que teve início na crise de 2008 e permaneceu até o final de 2014, gerou desequilíbrio nas contas públicas. De acordo com dados do Banco Central do Brasil, a dívida bateu recorde e alcançou 74,4% do PIB em novembro/2017. Tendo em vista que o tema está sempre no centro das discussões, por ser o mercado de veículos um setor estratégico da economia, o presente trabalho contribui para literatura ao estimar um modelo de concessão de crédito mais robusto, com a inclusão de novas variáveis macroeconômicas e microeconômicas ao modelo. 2 – REVISÃO DE LITERATURA 2.1 – Regulação Bancária Com a evolução da atividade bancária internacional, a partir da década de 1960, conforme dispõe Santos (2002), passou a existir uma grande preocupação de que falhas existentes em um único banco, de forma localizada, em decorrência da grande expansão dos depósitos interbancários, se refletissem tanto no país de origem, quanto em outras instituições de diferentes países, por conta das relações interbancárias cada vez mais interligadas. As transformações sucedidas entre os anos de 1960 e 1970, que marcaram uma maior expansão da liquidez dos mercados mundiais, produziram um processo de liberação financeira mundial. Segundo Corazza (2005), a maior autonomia operacional dos bancos ampliou a velocidade de inovações e atividades de maior risco, bem como maior alavancagem das instituições, o que desencadeou uma série de crises financeiras. Os distúrbios gerados por esse16 processo exigiram que a regulação evoluísse da mesma forma no sentido de defender o sistema financeiro de mais crises que pudessem ser transmitidas à economia real. Diante de uma maior necessidade de cooperação internacional para evitar novas crises, em 1974 foi criado o Comitê de Basileia. O Comitê foi instituído em 1975 pelo Comitê de Governadores dos Bancos Centrais dos países-membros do G-10. Segundo Roberts (2000), com as substancias distorções nos mercados bancário e monetário, o Comitê de Basileia instituiu regras e práticas de controle das operações bancárias, visando proteger e reforçar a estabilidade financeira em nível internacional. De acordo com Mendonça (2004), foi elaborado pelo Comitê um sistema para mensuração e padronização dos requerimentos mínimos de capital nos países do G-10, que acabou por produzir o Acordo de Basileia de 1988, Basileia I, e o estabelecimento da convergência internacional dos mecanismos de adequação de capital. O objetivo da padronização era reforçar a solidez e a estabilidade do sistema bancário internacional e minimizar desigualdades competitivas entre Bancos internacionalmente ativos. Em 1999 iniciou-se a revisão pelo Comitê da Basileia das normas do acordo de capital. Em 2004 foi publicado o Segundo Acordo de Capital de Basileia, Basileia II, que em essência buscava um aprimoramento do acordo anterior e uma medida mais precisa dos riscos incorridos pelas Instituições Financeiras. Com o advento da crise em 2008, diversas falhas do sistema de supervisão bancário então vigente foram expostas. De acordo com Leite e Reis (2013), as duas rodadas de regulação internacional, Basiléia I e II, não foram capazes de inibir as práticas arriscadas dos bancos, que resultaram em uma enorme crise no sistema financeiro mundial em 2008. Nesse contexto, em 2010, foram aprovadas novas regras prudenciais para serem adotadas através de algumas fases, a partir de 2013 e com implementação total até 2019. Essas modificações que foram feitas no Acordo de Basileia II, que acrescentou regulações macroprudenciais ao seu arcabouço e melhorou a qualidade das exigências microprudenciais já existentes, fiou conhecido como Acordo de Basileia III. 2.1.1 – Acordo de Basileia I Em julho de 1988, oficialmente denominado de International Convergence of Capital Measurements and Capital Standards, é criado pelo G-10 (mais Espanha) o Acordo de Basileia 17 I. Segundo Balin (2008), inicialmente o acordo foi criado para promover a harmonização de regulação e adequação de padrões de capital apenas nos Estados membros do Comitê de Basileia. Como todos os estados do G-10 são considerados mercados desenvolvidos pela maioria (se não todas) das organizações internacionais, os padrões estabelecidos no Acordo de Basileia seriam para os bancos que operam em tais mercados. O principal objetivo deste Acordo, como dispõe Carvalho (2005), era igualar as condições de concorrência entre bancos internacionais, equiparando as regras regulatórias. Embora não fosse o ponto central do acordo, criado especialmente para combater desigualdades regulatórias internacionais, os novos requerimentos de capital foram um importante passo no caminho de uma regulação prudencial mais robusta. Porém, com o decorrer dos anos, Castro (2007) explica que o Acordo se tornou uma importante referência, seja para países desenvolvidos ou para países em desenvolvimento. O acordo passou a ser aplicado a todos os bancos, independentemente de seu tamanho, de sua atuação (exclusivamente nacional e/ou internacional) e do fato de as instituições reguladas se limitarem a atividades de curto prazo (bancos comerciais) ou de atuarem em todos os segmentos do crédito, como o fazem os bancos múltiplos. De acordo com Balin (2008), o Acordo se divide em quatro pilares: a) A divisão do capital em “Nível I” e “Nível II”; b) Fator de Ponderação de Risco (FPR); c) Alocação mínima de capital de 8%, sendo no mínimo 4% de capital “Nível I”; d) Acordos de transição e de aplicação. Quando Basiléia I foi implementado no Brasil em 1994, a relação Capital/Fator de Ponderação de Risco (FPR) seguiu o padrão internacional, ou seja, era de 8%. Porém, em 1997 foi elevada para 11%. Obviamente, quanto maior o requerimento, menor a capacidade de alavancar o crédito dos bancos. Isso faz com que o sistema financeiro se torne mais seguro. Porém, desde o seu lançamento em 1988, algumas críticas ao acordo de Basileia I já se tornavam evidentes. Conforme enumera Castro (2007): 1. O pequeno número das categorias de risco preestabelecidas provou-se inadequado em face da diversidade das operações bancárias. O capital exigido jamais refletiu adequadamente os distintos perfis de risco dos ativos das instituições. 18 2. O acordo permitia operações de arbitragem entre instituições financeiras não- reguladas e bancos. 3. Abria possibilidade de ganhos de arbitragem (regulatory arbitrage), ao classificar operações com ponderações de risco diversas daquelas observadas nos mercados. Ou seja, havia incentivos a desalinhar a razão risco-retorno apenas para cumprir formalmente os requerimentos estabelecidos pelo Banco Central. 4. Não incentivava a adoção de técnicas de mitigação de risco (hedging), uma vez que os colaterais e as garantias não são ponderados em sua capacidade mitigadora efetiva; e 5. Não considerava avaliação de correlações entre diferentes categorias de risco. (CASTRO, 2007: p. 5) Mudanças foram feitas ao Acordo em 1996, criando-se requerimentos de capital que considerassem também o risco de mercado, e um novo documento começou a ser discutido, sendo finalizado em 2004. 2.1.2 – Acordo de Basileia II Segundo Castro (2007), os requerimentos de capital do Acordo de Basileia I consideravam apenas o risco de crédito, e excluíam riscos cada vez mais importantes para o sistema bancário, em especial o risco de mercado. Isso foi corrigido em 1996, quando passou- se a considerar o risco de mercado. Ainda de acordo com Castro (2007), os bancos passaram a empregar cada vez mais modelos estatísticos para apurar o risco de mercado, normalmente modelos do tipo VaR (Value at Risk). O VaR resume, em um número, o risco de um produto financeiro ou o risco de uma carteira de investimentos, de um montante financeiro. Esse número representa a pior perda esperada em um dado horizonte de tempo e é associado a um intervalo de confiança. O modelo visa quantificar o risco de mercado, ou seja, do risco de perdas monetárias decorrentes da variação de preços, de taxas de juros ou de taxas de câmbio. As críticas ao Acordo de Basileia I, conforme Balin (2008) explica, fizeram com que o Comitê de Basileia em 1999 apresentasse um novo acordo, formalmente conhecido como “Revised Framework on International Convergence of Capital Measurement and Capital Standards”, e informalmente como Basileia II. O acordo foi mais audacioso na tarefa de mitigar o risco sistêmico gerado pelos bancos. Segundo Leite e Reis (2013), o Acordo de Basiléia I focava no nivelamento das condições de concorrência entre bancos internacionalmente ativos, enquanto Basiléia II trata de riscos bancários, o que implica em uma análise mais particular, considerando o conjunto de riscos a que cada instituição financeira está exposta. 19 Para Carvalho (2005), o abandono da perspectiva tutelar da supervisão financeira representava um rompimento com uma tradição quase secular. Nas palavras de Carvalho (2005): O novo acordo da Basiléia, ou Basiléia II como tem sido conhecido, consagra esta reorientação estratégica ao estender a possibilidade do próprio banco definir e mensurar os riscos a que está sujeito também ao risco de crédito. (CARVALHO, 2005: p.23) Conforme Castro (2007), a visão de que as exigências de capital deveriam ser mais suscetíveis aos riscos efetivamente incorridos pelas instituições está no centrodas mudanças propostas em Basiléia II. Ainda de acordo com Castro (2007), passa-se definitivamente de uma estratégia de regulação tutelar para um método em que são dados incentivos às firmas para o controle de seus próprios riscos. De acordo com Balin (2008), o Acordo de Basileia II é baseado em três grandes pilares: i) Exigências Mínimas de Capital; ii) Supervisão Bancária e Governança; e iii) Disciplina de Mercado. O primeiro pilar ainda é dividido em três categorias de risco para as quais existem diferentes métodos de cômputo do capital regulatório: Risco de Crédito, Risco de Mercado e Risco Operacional. Na Figura 1 podemos observar os novos pilares de Basiléia II: FIGURA 1 – Acordo de Basiléia II Fonte: Banco do Brasil: Análise do Desempenho 2T07. O primeiro pilar de Basileia “Exigências Mínimas de Capital” já era considerado em Basileia I, e na revisão foi incluído em seu escopo a exigência de capital para o risco operacional e houve modificações no cálculo do risco de crédito. O requisito mínimo de 8% do capital para ativos ponderados pelo risco foi mantido. 20 Conforme dispõe Leite e Reis (2013), existe a possibilidade de utilização de três métodos alternativos no cálculo da exposição ao risco de crédito: padronizado (Standard) e modelos internos de risco (IRB – Internal Ratings Aproach). Esses podem ser segmentados na versão básica (FIRB – fundation alinternal ratings aproach) e avançada (AIRB – advanced internal ratings aproach). O cerne das exigências de capital incide sobre a cobertura de perdas não esperadas, que devem estar adequadamente cobertas por provisões. Já o Risco de Mercado, segundo Castro (2007) passa a poder ser medido pelo Método “Padrão” ou dos “Ratings Internos”. No primeiro, a entidade reguladora define uma forma de cálculo simples, mas rígida, para determinar o capital exigido. Já no Método dos “Ratings Internos” é permitido o uso de modelos estatísticos. No que tange à inclusão do requerimento de capital para o risco operacional, conforme dispõem Leite e Reis (2013), objetivou-se, fundamentalmente, acrescentar uma prevenção contra possíveis perdas resultantes de erros ou falhas decorrentes de processos internos, ação humana, sistemas inadequados, ou ainda aquelas oriundas de eventos externos. Assim, buscou- se uma proteção contra as fraudes internas e externas, danos a ativos físicos, problemas contábeis e utilização imprópria de softwares e hardwares. O Pilar II reafirma e fortalece a participação e o papel do regulador no processo de supervisão bancária, bem como a avaliação da governança de risco das instituições e como estas gerenciam o capital para fazer frente aos riscos incorridos. Segundo Santos (2002), estimula a revisão contínua da necessidade de capital mínimo disposta no Pilar I, além de possibilitar a opção de adoção de modelos internos pelas instituições, objetivando que a sofisticação dos modelos fosse adequada aos riscos incorridos por cada instituição. O terceiro Pilar de Basileia II, recomenda a criação de instrumentos e condições para reduzir o risco sistêmico gerado pela assimetria da informação, estimulando e favorecendo a disciplina de mercado e a transparência de informações sobre as práticas de gestão de riscos. Conforme dispõe Balin (2008), as divulgações de capital do banco e posição de risco assumido, que antes eram disponíveis apenas para os reguladores, recomenda-se agora que sejam divulgadas para o público em geral. Apesar de Basileia II ter mostrado um avanço regulatório em relação ao primeiro acordo, desde o seu lançamento, diversas críticas foram lançadas. Uma dessas críticas diz respeito a inclusão do risco operacional nos cálculos de coeficientes de capital mínimo, para o qual não 21 existem tantas séries de dados disponíveis. Outro ponto, conforme dispõe Leite e Reis (2013), é a sofisticação e a complexidade dos modelos de controle de risco que torna a regulação financeira mais custosa para a instituição supervisora e paras os bancos. Por último, a crítica recai sobre à natureza pró-cíclica do novo acordo. Conforme Castro (2007), já existe uma tendência de que em momentos expansivos do ciclo econômico ocorra uma abundância de crédito, seguida de contração nos momentos de baixa do ciclo, essa tendência seria, em princípio, reforçada pela nova regulação. 2.1.3 – Acordo de Basileia III A crise internacional de 2008 revelou os problemas relativos à desregulamentação financeira. Por todas as críticas e com a eclosão da crise, Basileia II nunca chegou a ser totalmente implementado. Uma das lições aprendidas com a crise, é que a regulação financeira não pode ser focada no individuo, é preciso reconhecer que o sistema como um todo é maior que a soma de suas partes. Segundo Viñals (2010), os mecanismos até então vigentes não foram suficientes para controlar os riscos sistêmicos. Eles devem ser complementados por uma estrutura macroprudencial abrangente e um conjunto de novas ferramentas para enfrentar os riscos sistêmicos. As diretrizes do terceiro acordo de capital, Basel Committee on Banking Supervision (2010), Basileia III, encontram-se inclusas nos documentos do Bank of International Settements (BIS) divulgados em dezembro de 2010 e denominados: Basel III A global regulatory framework for more resilient banks and banking systems e Basel III: International framework for liquidity risk measurement, standards and monitoring. De acordo com Leite e Reis (2013), resumidamente, os principais pontos do Acordo passam por: Reforço dos requisitos de capital próprio das instituições de crédito; aumento considerável da qualidade desses fundos próprios; redução do risco sistêmico e um período de transição que seja suficiente para acomodar essas exigências. (LEITE e REIS, 2013: p. 14) Conforme disposto em Basel Committee on Banking Supervision (2010) e Leite e Reis (2013), os objetivos mais importantes no novo acordo são os seguintes: i) Elevar a quantidade e a qualidade de capital provisional retido pelos bancos; 22 ii) Aumentar os requerimentos mínimos de capital. O capital principal passa de 2% para 4,5%; iii) Criar um colchão de conservação de capital e de um colchão anticíclico de capital, ambos em 2,5% cada; iv) Diversificar a cobertura do risco, incorporando as atividades de trading, securitizações, exposições fora do balanço e derivativos; v) Estabelecimento de uma taxa de alavancagem para o sistema e medidas sobre requerimentos mínimos de liquidez, tanto para o curto Liquidity Coverage Ratio (LCR) quanto para o longo prazo Net Stable Funding Ratio (NSFR); vi) Ampliar a importância dos pilares II e III de Basileia II no processo de supervisão e de transparência. Nas palavras de Leite e Reis (2013): As instituições serão obrigadas a deter um volume maior de capital e ativos de alta qualidade para limitar os riscos que estão relacionados à concessão de crédito, bem como à negociação de ativos. Ainda, terão que aprimorar seus processos de gerenciamento de risco, disponibilizar ativos de alta qualidade (“colchões” de segurança), aumentar a liquidez para prover a cobertura de desencaixes em períodos de estresse e ampliar a transparência e disponibilidade de informações. (LEITE e REIS, 2013: p. 14) Conforme dispõe Mendonça (2012), em relação aos requerimentos de capital, estes passam a ser divididos da seguinte maneira: i) Capital de nível 1 (Tier 1 Capital): deverá ser igual a 6% de todos os ativos ponderados pelo risco, sendo o capital principal (Common Equity Capital) igual a 4,5%; ii) Capital de nível 2 (Tier 2 Capital): é o capital extra que pode ser aprisionado para momentos de estresse não planejado. No que tange o colchão de conservação de capital e o colchão anticíclico, esses serão de 2,5% cada. O principal objetivo é aumentar a resistência do sistema em caso de desacelerações e formar estoquesde capital para cobrir perdas em momentos de estresse de todo o sistema. Podem ser considerados como a principal modificação macroprudencial de Basiléia III. No que diz respeito à gestão do risco de liquidez, a experiência advinda com a crise de 2008 mostrou que requerimentos de capital maiores são necessários, porém não suficientes, para a manutenção da estabilidade financeira. Esta percepção fez com que o Comitê adicionasse 23 aos instrumentos de controle da solvência das instituições, mecanismos de controle da liquidez. Segundo Mendonça (2012), com o objetivo de tornar os bancos mais resistentes a dificuldades potenciais em captações de curto prazo, assim como enfrentar os desencontros estruturais de prazos de suas posições ativas e passivas, foram criados dois instrumentos complementares, que estabelecem requerimentos mínimos quantitativos de liquidez: índice de cobertura de liquidez (liquidity coverage ratio - LCR) e índice de captação estável líquida (net stable funding ratio - NSFR). Também foi criado um índice de alavancagem, que será de 3% e deverá impedir que os bancos cometam excessos na concessão de empréstimos de alto risco. As alterações impostas pelo Comitê de Basiléia ao acordo anterior demonstraram uma clara preocupação com a questão do risco sistêmico. A constituição de amortecedores anticíclicos e índices de liquidez e alavancagem, representam a incorporação do debate sobre regulação prudencial ocorrido após a crise. Ao considerar um arcabouço macroprudencial dentro do acordo de Basiléia II, o Comitê avança na direção de uma política macroeconômica que seja capaz de reduzir o risco sistêmico do mercado financeiro. 2.2 – Regulação Microprudencial De acordo com Clement (2010), a essência da política microprudencial é diminuir os riscos de bancos individuais e existe para garantir a segurança dos ativos financeiros em 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 A partir de Janeiro de 2019 Índice Mínimo de Capital Próprio 3,500% 4,000% 4,500% 4,500% 4,500% 4,500% 4,500% Capital de Conservação 0,625% 1,250% 1,875% 2,500% Capital Prório mais Capital de Conservação 3,500% 4,000% 4,500% 5,125% 5,750% 6,375% 7,000% Mínimo de Capital Nível 1 4,500% 5,500% 6,000% 6,000% 6,000% 6,000% 6,000% Total Mínimo de Capital 8,000% 8,000% 8,000% 8,000% 8,000% 8,000% 8,000% Capital Mínimo Total mais Conservação 8,000% 8,000% 8,000% 8,625% 9,250% 9,875% 10,500% Liquidity Coverage Ratio - LCR Início do Período de Observação Padrão Mínimo Net Stable Funding Ratio - NSFR Início do Período de Observação Padrão Mínimo Fonte: Basel Committee on Banking Supervision. Basel III: A global regulatory framework for more resilient banks and banking systems (2010: p.77) TABELA 1 - Basileia III - Etapas de Transição 24 momentos de crise. Galati e Moessner (2011) argumentam também que a regulação microprudencial é utilizada para impedir a falência de instituições específicas e garantir a sustentabilidade dessas instituições. A década de 1970, foi marcada por uma falta de regulação financeira em várias economias de grande importância. Segundo Blanchard et al. (2010), a desregulamentação propiciou um afastamento da regulação e supervisão como uma ferramenta macroeconômica sobre a alegação da irrelevância teórica da intermediação financeira, amparada pela hipótese de neutralidade dos preços de ativos em relação às inferências macroeconômicas. Ainda de acordo com Blanchard et al. (2010), a regulação e supervisão bancária passou a ser operada de forma individualizada em mercados financeiros específicos, ou seja, com uma visão microprudencial. Conforme dispõe Blanchard et al. (2010), as instituições depositárias permaneceram sob a supervisão e regulação microprudencial, tendo em vista que elas poderiam afetar a atividade econômica por meio do canal de crédito. Assim, a autoridade monetária poderia dirimir eventuais riscos individuais dos bancos comerciais se valendo de instrumentos clássicos de política monetária, como por exemplo, depósitos compulsórios e empréstimos de liquidez. Porém, a desregulamentação dos mercados financeiros fez com que as instituições não depositárias ficassem sem qualquer forma de regulação e supervisão microprudencial. No entendimento de Clement (2010), a regulação microprudencial conceitua que o risco financeiro é um processo exógeno do sistema, ou seja, não depende da atuação coletiva das instituições financeiras. A suposição é de que em épocas de crise, quando um banco diminui sua base de ativos para evitar perdas, os outros agentes econômicos não fazem o mesmo. Borio (2011) também sustenta que perdas acontecem individualmente e por motivos únicos não antevisto. Assim, contendo os efeitos de instabilidades individuais é possível manter o sistema estável. Como argumenta Borio (2011): And prudential tools were calibrated exclusively with respect to the risk profile of individual institutions, assessed on a stand-alone basis, regardless of their relationship with other institutions. For example, when Basel II was developed, capital standards were in principle set so as to equate the probability of failure across banks (i.e., the solvency standard was the same for all banks), independently of their importance for the system. (BORIO, 2011: p.3) Por considerar o risco financeiro como individual, os controles microprudenciais utilizados anteriormente à crise não foram suficientes para minimizar a propagação do risco sistêmico. Nas palavras de Paula e Saraiva (2015): 25 Esta nova estrutura regulatória e de supervisão, cujo foco era microprudencial e dirigida ao mercado bancário, representou a principal vulnerabilidade da política econômica no período pré-crise, pois nenhuma entidade governamental, na maioria das economias avançadas, tinha autoridade macroprudencial que lhe permitisse adotar medidas de redução do risco sistêmico, seja do sistema bancário, mercado de capitais ou principalmente no sistema bancário “sombra” (shadow bank system). (PAULA e SARAIVA, 2015: p.20) As instituições não depositárias, “Shadow Banking System”, foram as grandes responsáveis pela crise de 2008. Bancos de investimento, seguradoras, fundos de hedge, fundos de pensão e agência hipotecárias ganharam peso no sistema financeiro, embora não jogassem com as mesmas regras dos bancos comerciais, conforme já explicado por Blanchard et al. (2010). Como não eram definidas como instituições bancárias, não existia qualquer forma de regulação e supervisão microprudencial, embora a atuação dessas instituições era bem parecida com a dos bancos comerciais, podiam inclusive conceder empréstimos. A crise de 2008 mostrou a fragilidade dos instrumentos microprudenciais utilizados na busca da estabilidade financeira. Minshkin (2011) dispõe que a visão microprudencial de supervisão e regulação bancária, com foco nas empresas individuais, deve permanecer, embora sozinha não seja mais suficiente para lidar um mercado interconectado, em que falhas de mercado podem gerar riscos de crédito e suscitar bolhas especulativas. É preciso uma abordagem sistêmica na criação da regulação prudencial. 2.3 – Regulação Macroprudencial Apesar de ter ganho notoriedade com a crise americana de 2008, o conceito macroprudencial não surgiu na crise. A mais antiga alusão que ter tem registro sobre o conceito, aconteceu em 1979 em uma reunião do “Cooke Committee”, o comitê sobre regulação e práticas de supervisão bancária. O encontro foi promovido pelo Bank for International Settlements (BIS). Conforme Clement (2010): It is not easy to pinpoint exactly when the term “macroprudential” was first used. BIS records suggest that its first appearance in an international context dates back to 1979, at a meeting of the Cooke Committee (the forerunner of the present Basel Committee on Banking Supervision, BCBS). The meeting, which took placeon 28–29 June 1979, discussed the potential collection of data on maturity transformation in international bank lending. (CLEMENT, 2010: p.1) As autoridades estavam cada vez mais preocupadas com a estabilidade macroeconômica e financeira, devido ao ritmo acelerado de empréstimos para países em desenvolvimento. A estabilidade financeira começava a ganhar novo contorno, mudando do estado de saúde financeira de agentes econômicos autônomos para um sistema integrado. De acordo com 26 Clement (2010), esse processo teve início com a alta taxa de crescimento de empréstimos para países com baixo crescimento econômico durante a década de 1970. Uma segunda aparição do termo "macroprudencial", está em um documento produzido pelo Banco da Inglaterra. O documento, com data de outubro de 1979, examina o uso de medidas prudências como uma das formas de restringir os empréstimos para os países em desenvolvimento. Clement (2010) reproduziu esse documento: Prudential measures are primarily concerned with sound banking practice and the protection of depositors at the level of the individual bank. Much work has been done in this area – which could be described as the ‘micro-prudential’ aspect of banking supervision. […] However, this micro-prudential aspect may need to be matched by prudential considerations with a wider perspective. This ‘macro-prudential’ approach considers problems that bear upon the market as a whole as distinct from an individual bank, and which may not be obvious at the micro-prudential level. (CLEMENT, 2010: p.3) Segundo Clement (2010), a política macroprudencial tem como principal objetivo a redução do risco sistêmico, fazendo com que os choques financeiros não se propaguem para a economia real. Deve-se impedir que os ciclos econômicos sejam potencializados e espalhem- se para a economia real, afetando serviços essenciais. Esse risco não pode ser considerado apenas pelo agregado dos riscos de bancos individuais em um dado momento, pois é potencializado endogenamente pela interdependência entre os agentes financeiros em diversos pontos no tempo. Galati e Moessner (2011) dispõem que a literatura separou os instrumentos macroprudenciais em dois grupos: os voltados para a dimensão temporal e os orientados para a dimensão cross-section. A dimensão da série temporal capta a evolução do risco ao longo do tempo, ou seja, a pró-ciclicidade do risco. Conforme Borio (2011), a fragilidade financeira aumenta e se propaga em momentos de boom do ciclo, ampliando o mecanismo de ligação entre o sistema financeiro e o produtivo. Esta fragilidade se acumula por períodos subsequentes e é altamente pró-cíclica, tornando a economia mais suscetível a choques. Segundo IMF (2011), durante a fase expansão econômica, a pró-ciclicidade torna o sistema financeiro e a economia mais vulnerável a choques, tanto endógenos como exógenos. A acumulação desse risco aumenta a probabilidade de crise financeira. Já a dimensão cross-section, de acordo com IMF (2011), reflete a distribuição de risco no sistema financeiro em um determinado momento. Se a dimensão temporal configura o mecanismo desestabilizador em movimento, a cross-section proporciona um maior ímpeto e 27 amplia o impacto das dificuldades financeiras. O processo de contaminação depende do tamanho das instituições e do nível de exposição que as mesmas possuem entre si, fazendo com o risco agregado, mesmo que pequeno, seja repassado direta e indiretamente para todo o sistema. Nas palavras do IMF (2011): Linkages could arise due to intra-firm exposures (assets, funding) or their vulnerability to common shocks that create prime channels of contagion through spillovers between institutions. These direct and indirect linkages expose all firms to cascading effects of the risk of solvency or liquidity event in any one firm, leading to system-wide liquidity squeeze and runs, as well as fire-sales. (IMF, 2011: p. 8/9) Um ponto de discórdia em relação as políticas macroprudenciais se refere a forma mais eficiente de medir o risco sistêmico. Segundo IMF (2011), a definição do risco é extremamente abrangente e depende das condições de cada mercado. Porém, a crise de 2008 mostrou que existe uma variedade de canais de transmissão pelos quais a instabilidade financeira atinge a economia real e torna-se difícil escolher índices que avaliem todas as possiblidades. A ausência de longas e extensas séries de dados também é um empecilho nesta escolha. Segundo Borio (2010), existe também uma certa dificuldade em calibrar políticas baseadas apenas em índices quantitativos. Por conseguinte, instituições tais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Comitê de Basiléia recomendam que decisões de política macroprudencial sejam analisadas considerando-se também relatórios feitos pelo mercado. A instabilidade do sistema também aumenta a dificuldade de antecipação do risco. Conforme IMF (2011), o resultado é que muitas das decisões que concernem ao uso de políticas macroprudenciais possuem aspecto discricionário. Ainda de acordo com IMF (2011), uma clara delineação de instrumentos prudenciais como “micro” ou “macro”, é difícil, pois os mesmos instrumentos podem servir a múltiplos objetivos, dependendo de como eles são usados. Um bom exemplo é o capital contingencial, que se aplicado a todos os bancos e se ativado antes de um evento sistêmico seria microprudencial; se for aplicado sistemicamente a instituições importantes seria macroprudencial; e se for ativado em resposta a um evento sistêmico seria uma ferramenta de gestão de crises. Um resumo completo dos instrumentos macroprudenciais pode ser visto na Tabela 2, classificando-os de acordo com qual dimensão do risco buscam afetar. 28 2.4 – Regulação Microprudencial versus Macroprudencial Segundo Borio (2011) a abordagem microprudencial da regulação e supervisão financeira que prevalecia antes da crise de 2008 é melhor capturado pelo lema: "todo o sistema financeiro é sólido se somente se cada instituição for sólida”. A instituição individual é o ponto de partida e o ponto final da abordagem. Em contraste com a abordagem microprudencial, a regulação e supervisão macroprudencial tem como foco todo o sistema. Conforme Borio (2011), seu objetivo é limitar o risco de crises financeiras com graves consequências para a economia real (risco sistémico). Fonte: IMF 2011: p.23 TABELA 2 - Instrumentos Macroprudenciais v) Provisão dinâmica; vi) Testes de estresse VaR usados para criar colchões de garantia em momentos de boom; vii) Reescalonamento da ponderação de risco, incorporando condições de recessão na probabilidade de default. i) Empoderamento da autoridade regulatória para que possa desmantelar firmas financeiras por motivos sistêmicos; ii) Encargos de capital para contas a pagar em derivativos; iii) Prêmios de risco sensível ao risco sistêmico para depósitos; iv) Restrições nas atividades permitidas. v) Sobretaxas dinâmicas de liquidez. Categoria 2. Instrumentos Recalibrados i) Tetos máximos dinâmicos para Loan-To-Value (LTV), Debt-To-Income (DTI) e Loan-To-Income (LTI); ii) Limites dinâmicos para defasagem cambial ou exposições; iii) Limites dinâmicos para a proporção entre empréstimos e depósitos; iv) Tetos e limites para o estoque de crédito ou o seu crescimento; Categoria 1. Instrumentos desenvolvidos especificamente para mitigar riscos sistêmicos iii) Taxas para operações não-essenciais; iv) Mudanças contra-cíclicas na ponderação do risco para certos setores da economia; i) Sobretaxas sistêmicas de capital; ii) Sobretaxas sistêmicas de liquidez; iii) Taxas para operações não-essenciais; iv) Encargos de capital mais elevados para comércios não compensados através de CCPs. Ferramentas Dimensão Temporal Dimensão Transversal (cross-section ) Dimensões do Risco ii) Margens de valorização para derivativos e contratosde reporte; i) Colchões de capital contra-cíclicos; 29 A crise financeira de 2008 provocou uma grande reavaliação das políticas para a estabilidade financeira. O quadro de regulação e supervisão dos intermediários financeiros foi mudando de uma orientação microprudencial para uma orientação macroprudencial (ou sistémica). Consequentemente, a atenção mudou da estabilidade das instituições individuais para a do sistema como um todo, e de uma análise parcial para de equilíbrio geral. Na Tabela 3 são diferenciadas as políticas prudenciais em duas dimensões, macro e micro. Evidencia-se a diferença entre objetivos, escopo e instrumentos de cada abordagem. 3 – O USO DAS MEDIDAS MACROPRUDENCIAIS NO BRASIL PÓS-CRISE DE 2008 Com a crise financeira de 2008, as medidas macroprudenciais passaram a ser utilizadas por diversos bancos centrais. No Brasil, o uso dessas medidas foi intensificado a partir de 2008, na tentativa de aperfeiçoar o sistema regulatório e reduzir a probabilidade de riscos sistêmicos na economia. De acordo com Oliveira et al. (2016), tinham também a incumbência de auxiliar na condução da política monetária, fazendo com que os preços convergissem para o centro da meta de inflação. No Brasil, como o Banco Central faz o papel de regulador e autoridade monetária, essas funções podem acabar se misturando. O período foi marcado por uma forte reversão no fluxo de capitais para os países emergentes. Isso ocasionou uma redução da liquidez no mercado de crédito. O receio de uma contração no mercado de crédito, fez com que o Banco Central (BC) diminuísse a alíquota dos Objetivo Inicial Objetivo Final Caracterização do risco Correlações e exposições comum entre instituições Calibragem dos controles Prudenciais Fonte: Borio 2011: p.8 Endógeno ao sistema financeiro (depende do comportamento coletivo dos agentes em seu processo dinâmico de interação) Exógeno (independe do comportamento dos agentes) Importante Irrelevante Sistêmica – de cima para baixo (top-down) Individual – de baixo para cima (bottom-up) MACROPRUDENCIAL MICROPRUDENCIAL Reduzir o risco de quebras de instituições individuais. TABELA 3 - Diferenças de enfoque entre as medidas de regulação prudencial Reduzir os custos macroeconômicos das crises Garantir a segurança dos consumidores de serviços financeiros e dos investidores. Limitar crises financeiras sistêmicas 30 depósitos compulsórios à vista e a prazo e a exigibilidade adicional. A crise gerou, também, uma concentração de depósitos em instituições de grande porte, o que poderia levar à insolvência instituições de menor porte. Para isso, o BC criou incentivos para que as grandes instituições comprassem ativos das pequenas, elevando a liquidez destas. A melhora da economia brasileira em 2010, fez com que o Banco Central iniciasse um processo gradual de retirada dos estímulos introduzidos para minimizar os efeitos da crise financeira internacional de 2008. Além disso, o temor de que a expansão do crédito colocasse em risco o sistema financeiro levou o Banco Central a fazer uso de novas medidas macroprudenciais, porém agora restritivas. Em 2012, com a economia mostrando sinais de fraqueza, o Banco Central reverteu as medidas restritivas impostas anteriormente, e novamente fez uso das medidas macroprudenciais de estimulo a economia. 3.1 – Medidas Macroprudenciais no período de 2008 a 2009 O processo de expansão do crédito, iniciado em meados de 2003, foi interrompido com a deflagração da crise internacional em setembro de 2008. O Gráfico 1 apresenta o comportamento das concessões de crédito com recursos livres para aquisição de veículos para pessoas físicas na economia brasileira, entre 2000 e 2010. Segundo Freitas (2009), os bancos enfrentaram crescente dificuldade em renovar suas linhas de crédito externas durante o ano de 2008. Porém, com a falência do Lehman Brothers, Fonte: Banco Central C o n ce ss ão e m R $ M M 31 ocorreu uma suspensão na concessão de crédito com recursos externos no mercado doméstico, afetando seriamente o financiamento do comércio exterior brasileiro e exigindo providências do governo brasileiro para assegurar o fornecimento de recursos para essa atividade. A crise de liquidez atingiu em cheio as instituições de pequeno e médio porte no Brasil. Conforme dispõe Freitas (2009): Os bancos pequenos e médios foram os mais afetados pelo “empoçamento” da liquidez, pois não dispunham de uma ampla base de depositantes e dependiam da captação de recursos no interbancário e da cessão de crédito para dar continuidade às suas operações ativas. Como os grandes bancos pararam de adquirir carteiras de financiamento de veículos e de crédito consignado originados pelos bancos menores, as concessões de crédito nesses segmentos do mercado foram fortemente afetadas. (FREITAS, 2009: p.9) A reação do Banco Central para aumentar a liquidez do sistema financeira brasileiro e proporcionar uma melhor distribuição desses recursos entre as instituições financeiras, foi mudar a política de recolhimento compulsório, flexibilizando-a logo depois da deflagração crise de 2008. Assim, conforme dispõem Oliveira et al. (2016), o Banco Central buscou atacar o “empoçamento” de liquidez que se criou no mercado interbancário após a falência do Lehman Brothers. O Gráfico 2 mostra a flexibilização das alíquotas dos compulsórios em 2008. Segundo Cavalcanti e Vonbun (2013), a flexibilização do compulsório tinha como objetivo liberar recursos para as instituições financeiras, principalmente as de menor porte, e estimular as concessões de crédito ao setor privado. Ainda segundo Cavalcanti e Vonbun (2013) e Oliveira e Wolf (2016), tivemos as seguintes medidas no compulsório: i) O cancelamento do aumento previsto da alíquota sobre depósitos interfinanceiros de sociedades de arrendamento mercantil, mantendo-a em 15%, em vez de aumentá-la para 20%; Fonte: Banco Central 32 ii) Redução da alíquota sobre os depósitos de poupança rural, de 20% para 15%, bem como sobre os depósitos à vista, de 45% para 42% em outubro; iii) No depósito compulsório adicional, a dedução sobre a exigibilidade foi elevada de R$ 100 milhões para R$ 300 milhões e, depois, para R$ 1 bilhão para os depósitos à vista, a prazo e de poupança; iv) Redução da alíquota adicional de recolhimento sobre recursos à vista, de 8% para 5% em outubro, e dos depósitos a prazo, de 8% para 5% em outubro, e 4% em dezembro; e v) A dedução sobre a exigibilidade dos depósitos a prazo passou de R$ 300 milhões para R$ 700 milhões e, depois, para R$ 2 bilhões. Essas medidas, de cunho macroprudencial, tiveram o objetivo de combater o risco sistêmico causado pela crise financeira de 2008 e que poderiam atingir desfavoravelmente a concessão de crédito no Brasil, o que causaria danos para a economia real. Donelian (2012) em estudo empírico, analisou como as modificações realizadas nos depósitos compulsórios à vista e a prazo em 2008, impactaram as concessões de crédito para financiamento de veículos para pessoas físicas. Como resultado, o autor obteve que a redução nos compulsórios nos depósitos a prazo em 2008 teve um efeito estatisticamente significante no aumento da oferta nas operações de crédito. Diferentemente do presente trabalho em que serão analisadas algumas séries temporais sem considerar mudança de regime, Mendonça e Sachsida (2014) estudaram a demanda por crédito para veículos no Brasil, com base no modelo com mudança de regime tipo Markov- Switching (MS), no período de 2000 a dezembro de 2012. No estudo a concessão de crédito para veículos foi explicada pelas seguintes variáveis: taxa média de financiamento, índice de preço de veículos, prazo de financiamento e taxa de desemprego. Os resultados mostraram que a demanda por financiamento esteve sujeita a três estados distintos.No período entre 2004 e 2008, a condição da economia permitiu um avanço constante e sustentável do crédito, em um ciclo de forte e contínua expansão que foi interrompido em com a crise financeira de 2008. Já o ciclo entre dezembro de 2008 e outubro de 2010, aconteceu em decorrência das políticas anticíclicas adotadas pelo Banco Central e pelo governo federal. Entre elas, pode-se destacar a redução da base de recolhimento do compulsório e da alíquota do IPI. Essas providências promoveram a imediata expansão do crédito e levaram a um 33 processo de formação de bolha, que culminou com a necessidade de introdução das chamadas medidas macroprudenciais, de modo mais incisivo a partir de dezembro de 2010. Dada a importância da indústria automobilística nos encadeamentos produtivos sobre outros setores1, o governo usou outras medidas para estimular o mercado de veículos que tiveram imediata repercussão no mercado de crédito, como a diminuição da alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre veículos automotores que vigorou de dezembro/2008 a março/2010. Alvarenga et al. (2010) em estudo empírico analisou o impacto da redução do IPI sobre as vendas de veículos no período de janeiro a novembro de 2009, com o propósito de verificar em que medida a recuperação do setor pode ser creditada à redução do imposto. Adotou-se um modelo econométrico de cointegração em que as vendas são uma função do preço, da renda e do crédito para a aquisição de veículos. O resultado do estudo aponta que a redução do IPI foi importante para a recuperação das vendas, sendo responsável por 20,7% das vendas no período analisado, mas que a concessão de crédito para a compra de veículos não pode ser desprezada. Em outro estudo, Franzoi (2012) analisou o impacto da redução do IPI dos veículos automotores, em virtude da crise financeira de 2008, e concluiu, por meio de uma análise exploratória de dados relacionados à venda de veículos e a arrecadação do IPI, que as vendas de veículos novos no ano de 2009 sofreu um aumento de 11,35% em relação ao ano de 2008, o que mostra que a redução da alíquota do IPI dos veículos automotores realmente fez com que o mercado se aquecesse e as pessoas comprassem mais. 1 De acordo com Casotti e Goldenstein (2008), a indústria automobilística tem enorme relevância na economia mundial, movimentando cerca de US$ 2,5 trilhões1 por ano. Por causa desses valores e de seu forte efeito multiplicativo, atribui-se a ela 10% do PIB dos países desenvolvidos. Os números de consumo de matéria-prima não são menos impressionantes. Estima-se que 50% do total de borracha, 25% do total de vidro e 15% do total de aço produzidos no mundo se destinem a essa indústria. Mês/Ano Cilindradas Antes da Redução Depois da Redução Até mil (1.0) 7% 0,0% De mil (1.0) a duas mil (2.0) álcool e biocombustível 11% 5,5% De mil (1.) a duas mil (2.0) gasolina 13% 6,5% Veículos utilitários 4% 1,0% Fonte: Wilbert et al. 2014: p. 7 TABELA 4 - Alíquota do IPI Antes e Depois da Redução (Veículos Nacionais) Dezembro/2008 a Março/2010 Dezembro/2008 a Março/2010 34 Outra medida de estímulo a concessão de crédito foi a redução, em dezembro de 2008 por meio do Decreto nº 6.691, da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), de 0,0082% ao dia para 0,0042% ao dia. 3.2 – Medidas Macroprudenciais no período de 2010 a 2011 Após a melhora do cenário internacional e o efeito positivo das medidas tomadas em resposta à crise de 2008, a expansão do crédito voltou a acelerar. Em fevereiro de 2010, a fim de reduzir os riscos dessa expansão de crédito, foram editadas medidas macroprudenciais para recompor o montante de recolhimentos compulsórios sobre os depósitos a níveis pré-crise. O comunicado do Banco Central (2010) dispõe do seguinte teor: Dando continuidade à reversão das medidas anticrise adotadas a partir de outubro de 2008, o Banco Central do Brasil divulgou alterações no recolhimento sobre recursos a prazo e na exigibilidade adicional sobre depósitos. A medida tem por objetivo alterar a liquidez do sistema financeiro, se antecipando a boas práticas prudenciais internacionais. Em setembro de 2008, o montante de compulsório era de R$ 257 bilhões. As medidas adotadas durante a crise liberaram R$ 99,8 bilhões, ajudando a mitigar a escassez de crédito e a melhorar sua distribuição para bancos médios e pequenos. (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 24/02/2010. http://www.bcb.gov.br/textonoticia.asp?codigo=2461&idpai=NOTICIAS) Segundo Cavalcanti e Vonbun (2013), tivemos as seguintes medidas no sistema de compulsório: i) Foram restabelecidas em 8% as alíquotas de recolhimento sobre recursos à vista e a prazo referentes à exigibilidade adicional, que, em 2008, haviam sido reduzidas para 5% e 4%, respectivamente; ii) O limite do recolhimento sobre recursos a prazo passível de dedução com operações de aquisição de ativos e realização de depósitos interfinanceiros foi reduzido de 70% para 45%; iii) A alíquota de recolhimento sobre recursos a prazo voltou a ser de 15%; iv) As deduções, tanto da exigibilidade adicional, quanto da exigibilidade referente ao recolhimento de recursos a prazo, passaram a depender do porte da instituição, sendo de R$ 2 bilhões para as instituições “pequenas” – com patrimônio de referência até R$ 2 bilhões –, de R$ 1,5 bilhão para as instituições “médias” – com patrimônio de referência entre R$ 2 bilhões e R$ 5 bilhões – e nulas para as instituições “grandes” – com patrimônio de referência acima de R$ 5 bilhões; e v) Ambos os recolhimentos sobre recursos a prazo e o recolhimento referente à exigibilidade adicional passaram a ser efetuados exclusivamente em espécie, com 35 remuneração pela taxa Selic, e a ter como limite de isenção o valor de R$ 500 mil, em vez de R$ 10 mil. O Banco Central adotou novas medidas em dezembro de 2010. Essas medidas, consistiam, principalmente, no aumento da taxa dos recolhimentos compulsórios e dos requerimentos mínimos de capital para determinados tipos de empréstimos. Conforme Prates e Cunha (2012), houve uma elevação do adicional do compulsório sobre depósitos à vista e a prazo, em vigor desde 2002, de 8% para 12%. No que tange o requerimento mínimo de capital, a Circular 3.515 de dezembro de 2010 estabeleceu o seguinte: aumento do Fator de Ponderação de Risco (FPR) de 100% para 150% nas operações de empréstimos consignados com prazo superior a 36 meses e para as demais operações de crédito às pessoas físicas com prazo superior a 24 meses, com as seguintes exceções: operações de crédito rural; financiamento habitacional; financiamento de veículos de carga; e, no caso de financiamento de veículos automotores, conforme a tabela abaixo: Conforme Dawid e Takeda (2011), a majoração dos requerimentos mínimos de capital, tiveram como objetivo reduzir o prazo do crédito pessoal e do financiamento de veículos para pessoas físicas. Os requerimentos mínimos de capital foram alterados pela Circular 3.563 de novembro de 2011. Para as operações de financiamento de veículos leves para pessoas físicas passariam a ser considerados a existência de garantia e o prazo de financiamento. Além disso, foi introduzido um novo FPR, de 150% e mantido o FPR de 300%, conforme abaixo: a. FPR de 150% para as operações de financiamento de veículos leves para pessoas físicas, com garantia e prazo entre 24 e 60 meses; Prazo FPR = 150% FPR = 300% 24 a 36 meses Entrada maior ou igual a 20% Entrada inferior a 20% 37 a 48 meses Entrada maior ou igual a 30% Entrada for inferior a 30% 49 a 60 meses Entrada maior ou igual a 40% Entrada for inferior a 40% Maior que 60 meses ----------------------------- Independentemente da entrada Fonte: Circular nº 3.515 de dezembro de 2010. TABELA 5 - Requerimento Mínimo de Capital Aquisição de Veículo Circularnº 3.515 36 b. FPR de 300% par as operações de financiamento de veículos leves para pessoas físicas, sem garantia ou com prazo superior a 60 meses. Donelian (2012) analisou como as modificações realizadas no compulsório e no requerimento de capital, entre 2010 e 2011, impactaram as concessões de crédito para financiamento de veículos para pessoas físicas. Como resultados, verificou que o aumento no compulsório realizado em 2010 levou a uma redução na oferta dessas operações. Ademais, o aumento no requerimento de capital reduziu a oferta de crédito para as operações de financiamento de carros, além de reduzir o prazo médio, reduzindo o risco do sistema. Em outro estudo, Vartanian e Almeida (2015) mostraram que as medidas macroprudenciais adotadas pelo Banco Central do Brasil em dezembro de 2010, caracterizada em grande parte pelo aumento das taxas de depósitos compulsórios exigidas dos bancos comerciais, aumentou o spread bancário no período, e causou uma redução do nível de concessão de crédito a pessoas físicas no primeiro trimestre de 2011, em razão do aumento das taxas de juros praticadas pelos bancos comerciais em financiamentos de longo prazo, mais especificamente os relacionados a financiamento de veículos e crédito consignado. Outras duas medidas macroprudenciais impactaram diretamente o financiamento de veículos leves para pessoas físicas. Em abril de 2010, o IPI sobre veículos automotores voltou a ser cobrado integralmente. E em abril de 2011 por meio do Decreto nº 7.458, o IOF sobre operações de crédito para pessoas físicas foi elevado de 0,0041% ao dia para 0,0082% ao dia. Contudo, em dezembro de 2011 pelo Decreto nº 7.632, com o Brasil já sofrendo os efeitos de uma deterioração do cenário internacional, o IOF foi reduzido para 0,0068% ao dia. 3.3 – Medidas Macroprudenciais no período de 2012 a 2014 Em meio à turbulência dos mercados internacionais, sobretudo com a crise da zona do euro, o governo brasileiro já no final de 2011 voltou a adotar medidas de estímulo à economia. O Banco Central flexibilizou a condução da política monetária, reduziu a taxa básica de juros da economia e estimulou o consumo. O governo esperava uma retomada da atividade econômica via mercado interno, alongando e barateando as linhas de crédito, com o aumento do consumo e do investimento. Com isso, parte das medidas que tinham sido adotadas em 2010 e 2011 para conter a expansão do crédito, começaram a ser desfeitas. A Circular nº 3.563 de novembro de 2011, 37 revogou a exigência de capital adicional para as operações de empréstimo ao consumo com prazo máximo de sessenta meses, passou de um Fator de Ponderação de Risco (FPR) de 150% para um FPR de 100%. Ficou excluído também da exigência adicional de capital, o financiamento de veículo automotor com prazo contratual de até sessenta meses. Em dezembro de 2011, conforme já mencionado na seção anterior, por meio do Decreto nº 7.632, o governo reduziu o IOF sobre operações de crédito para pessoas físicas, de 0,0082% ao dia para 0,0068% ao dia. Nesse primeiro momento, o governo manteve inalteradas as medidas relativas aos recolhimentos compulsórios sobre os depósitos à vista e a prazo feitos pelos bancos. Em maio de 2012, o Banco Central do Brasil, por meio da Circular nº 3.594, promoveu alteração na regra do recolhimento compulsório sobre recursos a prazo. Segundo o próprio Banco Central (2012), isso permitiria que as instituições financeiras utilizassem aproximadamente R$ 18 bilhões a mais na realização de novas operações de crédito para financiamento de automóveis e de veículos comerciais leves, montante que representa cerca de 10% do total de crédito concedido ao segmento. Por ser um setor estratégico da economia, o governo conferia novos estímulos ao financiamento de veículos. De acordo com o Banco Central (2012): Essa medida, além de conferir maior dinamismo a um importante segmento da economia, tem como objetivo criar melhores condições para que as instituições financeiras possam adotar políticas de concessão de crédito anticíclicas, sem, contudo, comprometer os requisitos prudenciais. (BANCO CENTRAL, 21/05/2012) Em conjunto com a redução do compulsório, em maio de 2012 o governo também reduziu, pela segunda vez, o IPI para compra de carros. Inicialmente a medida seria válida até 31 de agosto do mesmo ano, mas foi prorrogado por diversas vezes até dezembro de 2014. Segundo o Ministério da Fazenda (2012), essa medida beneficiaria um setor estratégico da economia e que foi diretamente afetado pelo agravamento da crise internacional. Seria mais uma medida para garantir a continuação do crescimento econômico num momento de crise internacional. 38 O governo também reduziu, em maio de 2012 por meio do Decreto nº 7.726, o IOF para todas as operações de crédito de pessoas físicas, de 0,0068% ao dia para 0,0041% ao dia. Essa medida vigorou até janeiro de 2015, quando o governo voltou a aumentar a alíquota do IOF para 0,0082% ao dia. Nos anos de 2013 e 2014, o governo promoveu uma série de ajustes no nível de capital requerido das instituições financeiras, com impacto direto nas operações de financiamento de veículos. A Circular nº 3.714 de agosto de 2014, alterou os critérios relativos ao requerimento mínimo de capital das operações de varejo, em complemento à Circular nº 3.711 de julho de 2014, alterando os parâmetros de identificação de clientes, extinguindo os Fatores de Ponderação de Risco (FPR) de 150% e 300% e reestabelecendo o FPR de 75% para todas as operações de crédito de varejo (financiamento de veículos é classificado com crédito de varejo), independentemente do prazo. Mês/Ano Cilindradas Antes da Redução Depois da Redução Até mil (1.0) 7% 0,0% De mil (1.0) a duas mil (2.0) álcool e biocombustível 11% 5,5% De mil (1.) a duas mil (2.0) gasolina 13% 6,5% Veículos utilitários 4% 1,0% Até mil (1.0) 7% 2,0% De mil (1.0) a duas mil (2.0) álcool e biocombustível 11% 7,0% De mil (1.) a duas mil (2.0) gasolina 13% 8,0% Veículos utilitários 4% 2,0% Até mil (1.0) 7% 3,5% De mil (1.0) a duas mil (2.0) álcool e biocombustível 11% 9,0% De mil (1.) a duas mil (2.0) gasolina 13% 10,0% Veículos utilitários 4% 3,0% Fonte: Wilbert et al. 2014: p. 7 Maio/2012 a Dezembro/2014 Abril/2013 a Dezembro/2014 Janeiro/2013 a Março/2013 TABELA 6 - Alíquota do IPI Antes e Depois da Redução (Veículos Nacionais) Maio/2012 a Dezembro/2012 Itens Regra Anterior (Circ. 3.644/3.711) Nova Regra (Circ. 3.714) Endividamento: Endividamento: PF: R$ 600 mil PF: R$ 1.500 mil PJ: R$ 1.500 mil PJ: R$ 3.000 mil Faturamento: Faturamento: PJ: R$ 3.600 mil PJ: R$ 15.000 mil Abaixo de 60 meses = FPR de 75% Consignado Público Federal = FPR de 50% Acima de 60 meses = FPR de 150% Demais Consignados = FPR de 75%% Entre 36 e 60 meses = FPR de 150% Acima de 60 meses = FPR de 300% Fonte: Circular n° 3.714 de agosto de 2014. Classificação de Varejo (FPR de 75%) Crédito Consignado Crédito não Consignado FPR de 75% para todos os prazos TABELA 7 - Principais Alterações Circular nº 3.714 39 No que tange a Circular nº 3.715 de agosto de 2014, essa alterou o limite de dedução de 50% para 60% da exigibilidade bruta, a partir do período de cálculo de 25/08/2014 a 29/08/2014 e a parcela de remuneração do recolhimento compulsório de 50% para 40%. Além disso, estabelece regras para dedução de novas operações de veículos considerando as contratadas durante todo o primeiro semestre de 2014, excluídas as renovações. Na tabela abaixo estão resumidas as principais alterações provocadas pela Circular nº 3.715. Conforme explica Oliveira e Wolf (2016), as medidas adotadas desde 2012, acabaram não surtindo o efeito desejado. O cenário de deterioração das condições econômicas, diminuiu consideravelmente a capacidade de contração de dívidas por parte das famílias. Elas cada vez mais se tornavam endividadas,
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