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TEXTO 5 - TEMA 1

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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/283420280
PROFISSIONAIS DE SAÚDE E A MORTE: EMOÇÕES E FORMAS DE GESTÃO
Article  in  Teoria & Sociedade · January 2005
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1 author:
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
Gestão contemporânea do processo do morrer View project
Stem cell research in Brazil, Canada and France View project
Rachel Aisengart Menezes
Federal University of Rio de Janeiro
74 PUBLICATIONS   462 CITATIONS   
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All content following this page was uploaded by Rachel Aisengart Menezes on 02 November 2015.
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https://www.researchgate.net/institution/Federal-University-of-Rio-de-Janeiro2?enrichId=rgreq-7a6451431e6f1ddc567ecd4a050d2a37-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI4MzQyMDI4MDtBUzoyOTEzNzIxNDY5Mzc4NTZAMTQ0NjQ3OTk0MTYyMw%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf
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 1 
PROFISSIONAIS DE SAÚDE E A MORTE: EMOÇÕES E FORMAS DE GESTÃO 
 Rachel Aisengart Menezes 
 
RESUMO 
 
Este artigo versa sobre duas dimensões do universo das relações sociais: o morrer no hospital 
e os modos de gestão das emoções dos profissionais de saúde frente à morte e ao sofrimento. 
O hospital foi escolhido como campo privilegiado de observação por ser um lugar central e 
quase naturalizado no que concerne à prestação de serviços direcionados à saúde, à doença e à 
morte.Partindo da premissa de que esta instituição se tornou, na sociedade ocidental 
contemporânea, o local de delegação social dos cuidados dos doentes, em especial dos que 
estão a morrer, foram tomados como objeto de investigação etnográfica duas unidades 
hospitalares públicas: um Centro de Tratamento Intensivo (CTI) e um hospital de Cuidados 
Paliativos (CP), voltado ao atendimento de pacientes com câncer considerados “fora de 
possibilidades terapêuticas”. Os dois serviços configuram formas de assistência distintas, nas 
quais o espaço e o valor dado à expressão dos sentimentos também são diferentes. A análise é 
centrada nos modos de gestão das emoções das equipes e nos discursos produzidos acerca do 
contato com o sofrimento, a morte e sobre os sentimentos dos atores sociais envolvidos. 
Palavras-chave: emoções, sofrimento, morte, tomada de decisões. 
 
HEALTH PROFESSIONALS AND DEATH: 
EMOTIONS AND WAYS OF MANAGEMENT 
 
ABSTRACT 
 
This article verses about two dimensions of the social relations universe: dying in the hospital, 
and the way in which health professionals manage their emotions regarding death and 
suffering. The hospital has been chosen as a privileged observation location for being a 
central and almost naturalized place concerning services directed to health, disease and death. 
Considering that this institution has become, in the occidental contemporary society, the place 
of social delegation of care for the sick, specially those who are dying, two public hospital 
units where taken as subject of ethnographic research: an Intensive Care Unit (ICU) and a 
Palliative Care hospital (PC), which attends oncological patients “out of therapeutic 
possibilities”. The two units present different forms of assistance to patients, and the space 
 2 
and value given to the expression of feelings in these units are also different. The analysis is 
centered on the way that the staff‟s emotions are managed, as well as on discussions regarding 
the contact with suffering, death and feelings with the social actors involved. 
Key words: emotions, suffering, death, decision-making. 
 
PROFISSIONAIS DE SAÚDE E A MORTE: EMOÇÕES E FORMAS DE GESTÃO 
 
Deixando de lado os motivos, atenhamo-nos à maneira correta de 
chorar, entendendo por isto um choro que não penetre no escândalo, 
que não insulte o sorriso com sua semelhança desajeitada e paralela. 
O choro médico ou comum consiste numa contração geral do rosto e 
um som espasmódico acompanhado de lágrimas e muco, este no fim, 
pois o choro acaba no momento em que a gente se assoa 
energicamente. 
Para chorar, dirija a imaginação a você mesmo, e se isto lhe for 
impossível por ter adquirido o hábito de acreditar no mundo exterior, 
pense num pato coberto de formigas e nesses golfos do estreito de 
Magalhães nos quais não entra ninguém, nunca. 
Quando o choro chegar, você cobrirá o rosto com delicadeza, usando 
ambas as mãos com a palma para dentro. As crianças chorarão 
esfregando a manga do casaco na cara, e de preferência num canto 
do quarto. Duração média do choro, três minutos. (Julio Cortazar 
“Instruções para chorar”, 1973: 6) 
 
O conto de Cortazar (1973: 6) selecionado como epígrafe é ilustrativo de uma visão 
sobre a construção social da expressão das emoções. Com linguagem irônica e bem 
humorada, o autor postula a existência de um aprendizado sobre a forma e duração adequadas 
de chorar. Todas as sociedades constroem modos de expressão dos sentimentos, quaisquer 
que sejam: tristeza, alegria, raiva, dor ou medo. Segundo Mauss (1979: 153), todas as 
expressões dos sentimentos dos indivíduos e do grupo configuram uma linguagem, expressa 
socialmente: manifestação de emoções é essencialmente uma ação simbólica. A expressão 
emocional é, para Mauss, o testemunho da articulação de três domínios: o biológico, o 
psicológico e o sociológico. 
O mesmo pode ser dito em relação à morte: o processo do morrer não é apenas um 
fato biológico, trata-se também de uma construção social. Como outros fenômenos da vida 
social, o morrer pode ser vivido e interpretado de diversas formas, de acordo com os 
significados compartilhados desta experiência, o que varia segundo o momento histórico e os 
contextos sociaise culturais. Todas as sociedades elaboram idéias e organizam rituais em 
 3 
torno da morte, o que, para Elias (2001: 12), constitui um dos aspectos do processo de 
socialização. Assim, a morte não se distingue de outros aspectos referentes à vida social. 
Este artigo versa sobre estas duas dimensões do universo das relações sociais: o 
morrer no hospital e os modos de gestão das emoções dos profissionais de saúde frente à 
morte e ao sofrimento. O hospital foi escolhido como campo privilegiado de observação por 
ser um lugar central e quase naturalizado no que concerne à prestação de serviços 
direcionados à saúde, à doença e à morte. Partindo da premissa de que esta instituição se 
tornou, na sociedade ocidental contemporânea, o local de delegação social dos cuidados aos 
doentes, em especial aos que estão a morrer, foram tomados como objeto de investigação 
etnográfica o trabalho das equipes de saúde de duas unidades hospitalares públicas: um 
Centro de Tratamento Intensivo (CTI) e um hospital de Cuidados Paliativos (CP).
1
 
As duas etnografias foram realizadas pela autora na cidade do Rio de Janeiro. A 
primeira no CTI de um hospital público universitário, totalizou cem horas de observação 
participante, complementada por entrevistas semi-estruturadas gravadas com dez profissionais 
do setor (médicos, fisioterapeutas, psicólogos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem). A 
pesquisadora acompanhou exames nos leitos de pacientes, reuniões formais e informais da 
equipe e observou as trocas de plantões. A etnografia do hospital de Cuidados Paliativos 
consistiu na observação de cursos para médicos e enfermeiros sobre a assistência paliativa, 
acompanhamento de exame de pacientes internados, consultas ambulatoriais, visitas 
domiciliares e reuniões para familiares e de equipe. A observação foi complementada por 
entrevistas com vinte e dois profissionais do hospital e o período de pesquisa se estendeu por 
um ano. O artigo focaliza a gestão das emoções dos profissionais de saúde nestes dois 
serviços, que apresentam discursos e práticas muito distintos. 
OS CAMPOS DE OBSERVAÇÃO 
Em concordância com diversos autores, que postulam que o exercício prático da 
medicina é constituído por uma dupla dimensão – “saber/ sentir”, “tecnologia/ humanismo”, 
“competência/ cuidado”, “objetividade/ subjetividade”, “racionalidade/ experiência”, entre 
outras denominações – é possível considerar que as duas unidades hospitalares selecionadas 
para observação representam exemplarmente os dois pólos.
2
 Segundo Good e Good (1993: 
91), em pesquisa realizada com estudantes de medicina, os médicos devem ser competentes e 
possuir qualidades no cuidar. A “competência” seria associada à linguagem das ciências 
básicas, ao conhecimento, à técnica, ao fazer e à ação, enquanto o “cuidar” seria expresso na 
linguagem dos valores, das relações, da compaixão e da empatia, associado às 
“humanidades”. Estes autores associam a justaposição da “competência” e do “cuidar” a 
 4 
outros pares opostos presentes na racionalidade científica ocidental, como “tecnologia/ 
humanismo” e “ciência/ cultura”. Bonet (1996), em sua etnografia da aprendizagem médica, 
constatou a freqüente manifestação dos dois conjuntos de representações – o “saber” e o 
“sentir” – nas práticas do hospital. Para Camargo (2003: 126), no exercício prático da 
medicina, emerge um paradoxo entre a “subjetividade” da experiência do sofrimento do 
doente e a “objetividade” dos dados laboratoriais com os quais o médico lida. 
O CTI foi escolhido por ser um setor que concentra recursos tecnológicos e pessoal 
altamente especializado, a serviço de doentes em situação crítica. Trata-se de um espaço 
social onde a equipe de saúde privilegia a competência, a tecnologia e a objetividade 
(Menezes 2000a: 7). Já o hospital de CP se propõe a acompanhar o doente até o final de sua 
vida, minimizando sua dor e dando suporte emocional e espiritual a seus familiares (Menezes 
2001b). Ambos os setores hospitalares lidam com situações extremas, na fronteira entre a vida 
e a morte. Os profissionais de CTI trabalham visando a cura da doença e o enfrentamento da 
morte, enquanto a equipe paliativista inicia a assistência quando não há mais possibilidades de 
cura. Uma vez que as duas unidades configuram formas distintas de atendimento, as 
identidades de seus profissionais são construídas sobre princípios diversos, o que acarreta, em 
seu exercício cotidiano, modos diferentes de gestão das emoções face ao contato com o 
sofrimento. 
A morte surge mais sistematicamente como objeto de estudos das ciências sociais a 
partir dos anos 1960, quando diversos autores produziram relevantes estudos sobre o tema. A 
partir dessa produção, pode-se identificar inicialmente duas configurações sociais e 
simbólicas do morrer em momentos históricos distintos, denominadas como “morte 
tradicional” e “morte moderna”. A abordagem histórica de Ariès (1975; 1977) é fundada pela 
concepção de uma degradação progressiva da relação com a morte estabelecida pelos 
indivíduos e sociedades ocidentais. A investigação deste autor abrange um extenso período 
histórico, desde a Alta Idade Média até o século XX, sendo a “morte tradicional” remetida à 
sociedade “tradicional” e a morte “moderna” característica do século XX. Estes modelos de 
morte são tomados e tratados como tipos ideais no sentido weberiano (Weber 1978: 6). 
Em comparação com o século XX, a “morte tradicional” seria menos oculta e mais 
presente. O nascimento e a morte, como outros aspectos animais da vida humana, tinham 
caráter público: eram eventos sociais, menos privatizados do que no último século. A partir da 
consolidação social da instituição hospitalar – medicamente administrada e controlada – 
iniciou-se um processo de medicalização durante o século XIX, desenvolvido ao longo do 
século XX (Foucault 1999: 111). Como conseqüência deste processo, os encargos da morte 
 5 
foram deslocados: das casas, na comunidade, para o hospital, instituição regida pelo 
conhecimento científico do corpo e da saúde. 
Em seus primeiros anos, o século XX assistiu ao declínio da “morte tradicional” e à 
expansão da “morte moderna”, plenamente instaurada a partir da Primeira Grande Guerra. 
Através da delegação social dos doentes ao saber médico e às suas instituições, a família e o 
enfermo são paulatinamente silenciados. A morte passa a ser ocultada socialmente, tornando-
se racionalizada e institucionalizada, configurando o modelo da “morte moderna”. Para Elias 
(1997) este processo de ocultamento da morte faz parte do impulso civilizador iniciado nas 
sociedades européias há cerca de quinhentos anos. Sua análise da história dos costumes (Elias 
1997), considera que ocorreram várias mudanças nas regras sociais, modificando 
comportamentos e sentimentos, produzindo um processo de internalização e 
conseqüentemente um aumento do autocontrole. A vida no século XX – se comparada a 
períodos anteriores – tornou-se mais previsível, exigindo de cada indivíduo um grau mais 
elevado de antecipação e controle das paixões (Elias 2001: 14). A atitude em relação à morte 
e a imagem da morte na atualidade podem ser compreendidas em referência à previsibilidade 
da vida individual, uma vez que atualmente há uma expectativa de vida maior (Elias 2001: 
14). O espetáculo da morte, em conseqüência de doença crônica, não é mais corriqueiro.
3
 
No século XX, com o emprego de tecnologia médica para a manutenção da vida, em 
especial com a criação e utilização do ventilador artificial, ocorreram profundas alterações no 
processo do morrer e no próprio conceito de morte. É construído o diagnóstico de morte 
cerebral, articulado ao transplante de órgãos (Lock 2000: 233). As fronteiras entre a vida e a 
morte são transformadas: a morte de distintas partes do corpo, de que falava Bichat, tornou-se 
uma morte sucessiva do mesmo indivíduo por meio do uso de tecnologia médica(Le Breton 
1995: 62). A imagem temida da morte também foi alterada: o tradicional esqueleto com a 
foice foi substituído, no século XX, pela imagem de um internado em CTI, absolutamente só, 
com seu corpo invadido por tubos e cercado de aparelhos. 
O hospital é o lócus central de referência à doença e à morte. Para Herzlich (1993: 6), 
a angústia está sempre presente nesta instituição, apesar da indiferença que se apresenta em 
suas rotinas. A inscrição da morte no trabalho médico produz uma mudança nas 
representações: não mais inscrita na categoria do sagrado, mas nas da ação e da eficácia 
técnica. Para o médico e para o hospital, a morte tornou-se, antes de tudo, um fracasso: é 
conveniente que este evento perca sua importância e cesse de mobilizar recursos e energias 
(Herzlich 1993: 7). Portanto, é tarefa dos profissionais de saúde administrar a expressão das 
 6 
emoções de todos os envolvidos no processo do morrer: pacientes, familiares e da própria 
equipe de saúde. 
 
O CENTRO DE TRATAMENTO INTENSIVO 
O CTI foi criado e mantém-se com o objetivo de concentrar três componentes críticos: 
os doentes mais graves, o equipamento técnico mais caro e sofisticado e a equipe com 
conhecimento e experiência para cuidar desses pacientes e lidar com esta aparelhagem 
específica (Civetta 1988: 7).
4
 O CTI observado não possui atendimento de emergência, 
somente ambulatorial e internação hospitalar, com cerca de quinhentos leitos. Os pacientes 
internados neste CTI – no máximo sete – são provenientes das diversas enfermarias do 
hospital. 
Este setor apresenta características muito específicas: o primeiro contato que um 
visitante estabelece com a unidade se dá por meio de um vídeo explicativo sobre o serviço e 
sua aparelhagem – o que constitui um indicador da relevância da tecnologia. Seu ambiente é 
muito claro, iluminado artificialmente, com janelas sempre fechadas e recobertas por um 
filtro, não sendo possível a visão da luz do dia. A temperatura é fria e mantida constante por 
aparelhagem de ar condicionado central. Muitos ruídos preenchem o local: vozes dos 
profissionais, sons dos alarmes dos aparelhos, campainhas dos telefones do serviço, dos 
celulares dos profissionais, além de música ambiente – uma cacofonia. Uma mistura de 
odores é onipresente: cheiros de desinfetante, medicações, materiais para curativos e de 
secreções dos pacientes. A combinação é enjoativa e variável. Tais características fazem com 
que o CTI seja um espaço onde há quase uma total abolição do tempo e um isolamento do 
mundo exterior (Menezes 2000b: 30). A estrutura espacial do CTI observado permite uma 
visibilidade máxima do ponto central, possibilitando controle e vigilância permanentes. 
Neste ambiente circulam cerca de cem profissionais de diversas categorias, como 
médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, nutricionistas, psicóloga, fisioterapeutas e 
estagiários de medicina, enfermagem e fisioterapia – uma equipe multidisciplinar. Apesar das 
diferenças entre as distintas categorias profissionais, pode-se afirmar que há uma identidade 
comum à toda a equipe: a de intensivista, fundada no saber técnico e na experiência prática no 
manejo dos recursos tecnológicos, a serviço da preservação da vida. O intensivista ocupa um 
lugar privilegiado no sistema hierárquico de posições no campo das especialidades: seu poder 
se refere à possível regulação, controle e negação da morte, indissociavelmente vinculados à 
sua competência técnica. No CTI consegue-se prolongar artificialmente a vida. 
OS CUIDADOS PALIATIVOS E O MODELO DA “MORTE CONTEMPORÂNEA” 
 7 
A partir do final da década de 1960, em contraposição à crescente expansão do poder 
médico, surgiram movimentos de defesa dos direitos dos doentes e de humanização da 
assistência aos enfermos. As reivindicações abrangeram desde o direito a “morrer com 
dignidade” até a regulamentação da eutanásia, convergindo em um discurso propondo novas 
práticas em relação à morte em conseqüência de doença crônica degenerativa, na qual a 
relação de poder entre o doente (e os de suas relações) e equipe profissional seria 
transformada. Surge assim um novo modelo de morte, nomeada pelos autores que investigam 
o tema como “neo-moderna”, “pós-moderna” ou “contemporânea” (Walter 1996). Este 
modelo é representado pelo Projeto Hospice ou os Cuidados Paliativos.
5
 
Esta proposta surgiu no final da década de 1960 na Inglaterra e nos Estados Unidos e, 
desde então, vem sendo amplamente difundida. Ela corresponde a uma nova representação 
social do morrer e do modo de participação dos atores sociais envolvidos: doentes, familiares 
e profissionais. No bojo desta proposta vêm sendo desenvolvidas novas práticas institucionais 
e uma extensa produção discursiva sobre as deliberações de quem está a morrer. Trata-se de 
um projeto inovador na prática médica – não mais eminentemente curativa, mas priorizando o 
conforto e alívio do paciente. Os CP postulam uma transformação da relação entre 
profissionais de saúde e doentes e seus familiares. A morte torna-se objeto de novas 
construções de significados pela equipe de saúde, nas quais os sentimentos de todos os que 
acompanham o processo do morrer são valorizados e devem ser expressos. A dor, o 
sofrimento e a perda devem ser demonstrados, o que configura uma atitude diversa do que 
ainda ocorre com profissionais de outras especialidades, indicando a construção de um novo 
habitus.
6
 
A filosofia dos CP é centrada na autonomia do doente: seus sentimentos e preferências 
tendo precedência sobre regimes institucionais padronizados. O ideal é que o paciente tenha o 
maior controle possível de seu processo de morte, realizando escolhas a partir das 
informações prestadas pelo médico. O morrer na própria residência é estimulado pela equipe, 
se for o desejado pelo enfermo e sua família. Para que o doente possa escolher é necessário 
que saiba sobre o avanço de sua doença: a tônica do ideário é a comunicação franca, o 
tratamento deve ser discutido, em suas várias etapas, entre todos os atores sociais. A palavra 
de ordem é o diálogo e a recusa de procedimentos heróicos em situações limites.
7
 Uma vez 
explicitadas as possibilidades de ação do médico, o paciente pode deliberar sobre o período de 
vida que lhe resta, optar por certas condutas e se despedir, com o apoio de uma equipe 
multidisciplinar. 
 8 
A proposta dos CP surgiu no Brasil algumas décadas após a fundação dos primeiros 
hospices na Inglaterra e nos Estados Unidos. A primeira unidade pública de assistência 
paliativa implantada no Brasil (Rio de Janeiro) foi o hospital observado: ele possui um 
ambiente distinto de outros e sua decoração é parte da proposta. Há a intenção de torná-lo o 
mais aconchegante e personalizado possível. Seus ambientes são claros, iluminados 
naturalmente, com decoração moderna e colorida. Segundo uma profissional, o propósito é: 
Que os doentes sintam que tem vida aqui dentro: eles não estão chegando 
numa „casa da morte‟, aqui é um lugar em que existe alegria, pessoas 
conversando, não tem sussurro nem coisas escondidas e veladas. 
 
A assistência paliativa visa implementar uma mudança na representação social da 
morte. No entanto, os profissionais são formados no modelo biomédico preeminentemente 
curativo,
8
 com uma postura profissional e formas de reação específicas. Para desenvolver os 
CP, é necessário treinamento, voltado à aquisição de conhecimentos técnicos e à construção 
de um novo habitus profissional, que comporte a escuta e expressão das emoções. São 
desenvolvidas atividades, como cursos, reuniões sociais e oficinas de “sensibilização”, para 
“possibilitar um melhor trabalho com a dor e o sofrimento dos pacientes e familiares”, de 
acordo com uma profissional entrevistada. Faz-se necessária a valorização deste trabalho, pois 
estes profissionais são discriminados por seus colegas de outras especialidades, sendo 
nomeadoscomo “especialistas em atestado de óbito”. É imprescindível a construção de uma 
identidade profissional de paliativista, caracterizada pela aquisição de conhecimentos e pelo 
desenvolvimento de certas características pessoais, como paciência, “ser atencioso”, “ter bom 
senso”, “ter empatia”, “saber ouvir” e “não fazer julgamentos precipitados”, de acordo com 
alguns profissionais observados. Já no que se refere ao lidar com a morte, para uma médica 
entrevistada, o profissional “deve ter preparo emocional e espiritual”, e “elaborar a questão 
da morte dentro da própria vida”. Estas falas evidenciam a amplitude da proposta, em direção 
à aceitação social da morte: sem dúvida, um desafio para os paliativistas. 
GESTÃO DAS EMOÇÕES DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE DIANTE DA MORTE 
Os profissionais de saúde são confrontados cotidianamente com o sofrimento e, para 
que possam exercer seu papel social, atravessam um dos rituais de passagem mais longos do 
mundo ocidental: o processo de socialização na medicina (Becker 1992: 4). Para diversos 
autores, tal processo não consiste apenas na incorporação de novos conhecimentos, nem se 
restringe à discussão dos aspectos técnicos, mas é um processo vivencial de aprender a habitar 
em um novo mundo, construtor de um habitus (Menezes 2001a : 117). A postura profissional 
e as formas de reação ao contato com a morte, a contenção da emoção e dos sentimentos 
 9 
configura o habitus médico. Para Herzlich (1993: 6), a escolha da carreira médica não 
testemunha insensibilidade ao sofrimento, mas revela, ao contrário, uma angústia inconsciente 
– e por vezes consciente – particularmente intensa face ao mesmo. Dependendo das 
representações coletivas nas quais os profissionais estão inseridos, podem ser produzidos 
distintos modos de gestão das emoções. Segundo Le Breton (1998: 133), os profissionais de 
saúde, no enfrentamento cotidiano do sofrimento, devem dominar sua tendência à empatia, 
para não chorar pelo destino de seus pacientes. Para este autor, um dos marcos de sua 
identidade profissional seria o posicionamento a uma distância afetiva adequada. 
EMOÇÕES NO CENTRO DE TRATAMENTO INTENSIVO 
O CTI é um local exemplar do modelo da “morte moderna”, ocultada, rotinizada e 
banalizada. Durante o período de observação não foi percebido nenhum espaço para reflexão 
sobre os sentimentos dos profissionais, doentes e seus familiares. As rotinas são organizadas 
para possibilitar a maior eficiência técnica possível, de modo a silenciar a expressão 
emocional dos atores sociais. A aproximação de um profissional com o doente e seu 
sofrimento, além de certo limite, é percebida como ameaça à sua atuação técnica. Como disse 
uma enfermeira, referindo-se à possibilidade de “envolvimento” emocional: “quando eu vejo 
que a barreira está diminuindo, levanto ela de novo: eu fujo”. A identificação do profissional 
com a situação vivida pelo enfermo ou seu familiar pode produzir sentimentos e influenciar 
decisões técnicas, o que pode ser exemplificado por um episódio observado: um médico 
plantonista “recebia” o plantão de seu colega e, ao ouvir o relato sobre o caso de um paciente 
de onze anos, com o mesmo nome de seu filho, reagiu: “Deus me livre, que caso grave, e tem 
o nome de meu filho...”. A partir desses dados o médico decidiu alterar a dosagem da 
medicação: “aumenta para o menino não chorar e assim o pai não fica estressado, nem a 
gente, Deus me livre”. 
A sensibilização do profissional diante de certos casos não é bem vista pela equipe, 
pois um eventual “envolvimento” é interpretado como dissolução dos limites profissionais. 
Por vezes algum membro da equipe aponta, acusando um colega: “o que é isto, você está 
envolvido com o doente, não pode!”. Contudo, apesar da vigilância e do controle exercidos, 
por vezes ocorrem “envolvimentos”, como o relatado por uma enfermeira: 
“As minhas barreiras não foram suficientes e eu acabei „levando‟ o Fulano 
para minha casa. Eu chegava e meu marido perguntava: como foi com o 
Fulano hoje? Eu trouxe minha filha para conhecer o Fulano... Me envolvi 
tanto com ele que, mesmo sendo enfermeira plantonista, ia prestar 
assistência direta a ele”. 
 
 10 
A fala da enfermeira é demonstrativa do deslocamento de sua função: usualmente a 
enfermeira plantonista não presta assistência direta ao doente. Por outro lado, um afastamento 
emocional, em decorrência de desqualificação social de seu paciente pode ser igualmente 
problemático. Um episódio é ilustrativo: um doente internado com AIDS piorou e um médico 
disse: “provavelmente nosso garçonzinho promíscuo não passa de hoje”. No dia seguinte, a 
respeito do mesmo paciente, uma médica disse: “não vamos desistir deste doente: ele é jovem, 
está reagindo e pode ser salvo”. A expectativa do tempo de vida talvez tenha sido avaliada 
diversamente pelos profissionais a partir do estigma sexual de sua doença. Ao se posicionar a 
uma distância excessiva do paciente e de seu sofrimento, o médico corre o risco de lidar com 
o enfermo como um objeto, perdendo a noção de se tratar de uma pessoa, com uma história 
singular. 
As equipes são formadas de modo a se posicionarem a uma distância “adequada” do 
doente e de seu sofrimento: nem tão próximos que propicie uma identificação com o drama 
vivido, nem tão distante que impeça um mínimo de contato necessário ao desenvolvimento de 
uma boa relação médico/paciente. Para tal, o profissional de CTI constrói uma série de 
artifícios e modos de gestão dos sentimentos, sendo o tempo uma referência central. A equipe 
do CTI observado contava, à época, apenas com uma psicóloga, a profissional encarregada 
oficialmente das emoções, que era freqüentemente excluída e desqualificada pela equipe, 
talvez por se dedicar aos sentimentos – objetos igualmente desvalorizados pelos intensivistas. 
Para alguns membros da equipe, lidar com emoções – sejam as suas, dos doentes ou dos 
familiares – é considerado como “perda de tempo”. O trabalho voltado às funções dos órgãos, 
às medidas, aos procedimentos técnicos e terapêuticas é mais valorizado pela equipe do que o 
contato com sentimentos. Lidar com emoções dos pacientes dos pacientes pode demandar um 
tempo e uma mobilização afetiva dos profissionais, que passam a ser consideradas 
“interferências” ao bom andamento do trabalho (Menezes 2000a: 61). 
Durante o período de observação do CTI, as principais formas de gestão emocional 
utilizadas pela equipe foram: a fragmentação; a passagem para o sentimento oposto e para a 
ação; a medicalização, pelo uso de medicamentos ou de categorias médicas em relação ao 
sofrimento – sendo todos estes mecanismos ainda muito freqüentes em hospitais brasileiros 
(Menezes 2000a: 82). A fragmentação se apresenta quando os profissionais se referem ao 
doente por meio de partes de seu corpo, de seus parâmetros, órgãos e funções. Tal situação 
pode ser ilustrada pela fala de um médico: “o eletroencefalograma está retificando”, o que 
significa morte cerebral. Um episódio é exemplar: diante do quadro clínico de uma senhora 
idosa, com morte cerebral comprovada, uma médica orientava a equipe a não realizar 
 11 
manobras “heróicas”, pois a família já estava ciente. A médica então se dirigiu ao colega 
residente (e, portanto, recém-formado), dizendo: 
“Soube, quando saí do CTI para outro setor do hospital, que você não 
deixou que ela morresse. Porque fez isto? A tendência, com a dosagem 
alterada, seria que o eletrocardiograma fosse retificando aos poucos, até 
chegar a uma linha reta.” 
Ao que o residente respondeu: “chegou a dosagem do cálcio, estava baixo, administrei 
cálcio e normalizou”. A médica mais experiente perguntou: “para quê? Já sabemos que é 
questão de horas”. A psicóloga perguntou ao residente: “o que você sentiu quando viu a 
dosagem baixa?” Ao que ele respondeu: “não senti nada, fiz o que achei que devia fazer: a 
dosagem estava alterada e equilibrei. Sei que se a doente fizeruma parada não é para 
reanimar, mas equilibrar era tão fácil”. O diálogo aponta os distintos focos de atenção dos 
profissionais: o médico mais jovem, com uma visão fragmentada, centrou-se na dosagem, a 
médica mais experiente aceitou os limites de sua atuação e a psicóloga voltou-se aos 
sentimentos dos profissionais. 
A passagem à emoção oposta – usualmente aprendida e incorporada ao longo da 
formação médica – ocorre quando há um evento difícil, como, por exemplo, uma morte, e há 
uma mudança do clima, com uma piada ou comentário jocoso. Durante uma reunião com 
familiares, foi comunicada a morte cerebral de uma paciente. Ao compreenderem a iminência 
da perda, duas senhoras se abraçaram, chorando. Pouco após a saída dos familiares, alguns 
médicos riram, fazendo comentários, como: “mas que ridículo! Elas choraram só porque 
receberam a notícia da piora! E aqui no CTI é lugar para choradeira!”. O grupo ria, 
parodiando o evento. O humor, especialmente a partir da psicanálise, tem sido compreendido 
como revelador de verdades – por vezes dolorosas – que só podem vir à tona através de 
chistes ou metáforas. Como a morte é encarada no modelo “moderno” como fracasso, por 
vezes foram observados comentários jocosos ou piadas de humor negro relacionados a 
situações difíceis. Cabe ressaltar que raramente os intensivistas utilizam o termo morte, 
substituindo-o por eufemismos: está “descendo a ladeira”, “indo embora”, “entregue a Deus” 
ou “parou, tentaram reverter e não deu” (Menezes 2000a : 72). 
A medicalização é outra forma de gestão dos sentimentos, o que pode ser ilustrado 
pelo episódio em que uma mãe recebeu a notícia da morte cerebral de sua filha jovem. A 
senhora, percebendo o movimento da médica em direção ao armário de medicamentos, disse: 
“pode deixar, já tomei bastante calmante hoje. Agora o que tenho a fazer é me despedir de 
minha filha. Sabe, é triste uma mãe se despedir de uma filha”. Esta senhora expressou com 
muita clareza a atitude – praticamente automática – da profissional no sentido de intervenção 
 12 
medicamentosa no momento do contato com a perda. A medicalização, como modo de 
distanciamento do profissional, também pode se dar pelo uso de categorias médicas, como, 
por exemplo, um diagnóstico, o que pode ser ilustrado pela fala de um médico, ao anunciar a 
morte de um paciente de dezesseis anos, filho único, vítima de erro médico: “ele parou. E 
agora a mãe do garoto está lá, histérica”. A fala do intensivista demonstra que até em uma 
situação de extremo sofrimento – uma mãe perder seu filho único jovem – a referência é feita 
por um “diagnóstico”. A atitude dos intensivistas é elucidativa do processo de ocultamento 
dos sentimentos diante da morte, especialmente quando há inversão da seqüência “natural” 
dos acontecimentos: o fato de um jovem morrer antes de seus ancestrais é, em nossa 
sociedade ocidental contemporânea, particularmente triste, pela valorização desta faixa etária. 
A delegação à equipe do CTI dos encargos da morte não fornece ao profissional meios 
de elaboração do contato com o sofrimento e um ônus se apresenta, como disse um médico: 
“o que cansa neste trabalho é o contato com a morte: é muita morte, é morte demais”. Há que 
se destacar que o número de óbitos é alto neste setor hospitalar. Segundo a equipe investigada, 
é necessária uma legislação limitando o tempo de trabalho em CTI, a exemplo de outros 
países, como os Estados Unidos. 
O desgaste físico e emocional do intensivista, associado à carência de espaço para 
reflexão sobre o sofrimento tem sido objeto de novas construções. Após o término da 
observação do CTI, tive notícia da implantação de Programas de Humanização em alguns 
CTIs. Pode-se aventar uma demanda de novas construções em torno do morrer – dos 
profissionais, dos doentes e familiares – como propiciadores de novas formas de gestão das 
emoções e de novas práticas profissionais. 
CUIDADOS PALIATIVOS: UMA PROPOSTA DE NOVAS PRÁTICAS E 
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS FACE À MORTE 
Em um primeiro contato com o hospital de CP, fica evidente se tratar de um hospital 
diferente de tantos outros: além de ser uma construção moderna, o visitante é recepcionado 
pela equipe de forma atenciosa e calma, o que constitui uma indicação da atenção dos 
profissionais aos doentes e/ou familiares. O ideário contemporâneo do morrer apresenta uma 
trajetória ideal para alcançar a meta da “boa morte”: a partir do diagnóstico de “fora de 
possibilidades terapêuticas” (FPT), é necessário que o doente e seus familiares tomem 
conhecimento do avanço da doença, por meio de comunicação franca do profissional de 
saúde. Em seguida, o paciente deve expressar seus desejos para os de suas relações e para a 
equipe. Finalmente, o doente deve ser assistido pelos profissionais e por sua família, no 
atendimento destes desejos e na busca do maior conforto possível. 
 13 
A equipe brasileira é formada no modelo médico paternalista, de modo que os 
profissionais recém-chegados ao hospital não possuem uma prática de diálogo aberto com os 
doentes e familiares. Um curso é administrado ao profissional que ingressa na unidade, 
quando é apresentado um protocolo de comunicação, no qual são destacados temas que 
usualmente não integram cursos para equipes de saúde. A comunicação da situação ao 
paciente é percebida como etapa fundamental na construção de uma “boa” relação 
médico/paciente, objetivando a meta da “boa morte”. Assim, os profissionais são alertados 
para o poder de suas palavras, para os riscos de uma “comunicação iatrogênica”.
9
 De acordo 
com uma médica, a comunicação, “como os tumores, pode ser benigna ou maligna”. Os 
objetivos da informação seriam a redução da incerteza da situação vivida pelo doente; o 
fortalecimento da relação médico/paciente e a necessidade de oferecer uma direção ao 
enfermo e à sua família. Para tal, os profissionais devem estar atentos à sua postura corporal, 
expressão facial, ao tom de voz e à manutenção de contato visual e corporal com o 
interlocutor. 
O profissional deve aprender um código de comportamento e passa por um processo 
de incorporação de uma nova identidade, a paliativista, de modo semelhante ao que ocorre no 
teatro, quando o ator ensaia e incorpora um novo personagem. Um novo sistema de conduta e 
valores é construído, com atenção e espaço para as emoções, há uma transformação do 
habitus do profissional. Contudo, a emergência das emoções é percebida, tal como no CTI, 
como perigosa e é objeto de normatização institucional. 
Para os profissionais observados, o diferencial da assistência paliativa 
comparativamente ao modelo de assistência curativo consiste no foco de atenção: os 
paliativistas voltam-se à “totalidade bio-psico-social-espiritual” do doente, enquanto seus 
colegas de outras especialidades enfocariam somente a enfermidade. A proposta dos CP 
privilegia o aspecto humanístico da assistência e, ao mesmo tempo, depende do 
desenvolvimento de certas características pessoais. Mas, curiosamente, o ensino da 
comunicação das “más notícias” ao doente e seus familiares é efetuado no formato 
preeminente na formação médica: o protocolo é apresentado em etapas, do mesmo modo 
como são transmitidos os estágios das doenças e de seus tratamentos. O profissional deve 
estar atento às condições do paciente: se consegue escutar, qual a sua expectativa, seu desejo 
de conhecer a verdade e qual a influência de sua família. No que se refere ao que foi 
comunicado, é enfatizada a percepção do profissional do quanto foi assimilado sobre sua 
condição e prognóstico. O paliativista é instruído a comunicar “más notícias” e algumas 
estratégias podem facilitar sua difícil tarefa: diante do impacto da informação, enfatizar o que 
 14 
a medicina tem a oferecer, como alívio da dor e sintomas e a melhor “qualidade de vida” 
possível. 
O profissional é treinado a valorizar e a acolher as emoções que possam emergir face 
ao conhecimentodo avanço e de seu prognóstico. Assim, ele recebe pacientes que, por vezes, 
dizem não saber o motivo do encaminhamento. Diante deste dado, os paliativistas ficam 
irritados e responsabilizam seus colegas pelo não esclarecimento, o que pode ser ilustrado 
pela fala de uma enfermeira: “os pacientes vêm sem esclarecimentos, são mal orientados em 
relação à proposta do hospital”. Para uma psicóloga, “eles são pessimamente encaminhados 
e coloco no prontuário: paciente traumatizado pelo encaminhamento”. Enquanto a maior 
parte dos paliativistas queixa-se de seus colegas dos outros hospitais, uma médica possui 
compreensão diversa: 
“O paciente e a família quando vêm para cá já sabem, já foram informados, 
mas eles querem ouvir novamente para fazer a comparação com o que foi 
dito anteriormente. Nós precisamos parar de querer detonar os colegas, e 
não é para ser protecionista com a classe não, e ver que os pacientes estão 
numa situação catastrófica, eles querem ouvir de alguém alguma 
esperança”. 
 
Segundo os profissionais observados, doentes e familiares fazem “cobranças” sobre os 
motivos do encaminhamento e alguns paliativistas inicialmente ficam contrariados mas, 
diante da gravidade do enfermo, a equipe fica sensibilizada. Para uma assistente social, no 
encaminhamento para os CP, o doente “já chega com o segundo diagnóstico: o primeiro é 
quando descobre o câncer e o segundo é quando sabe que não tem mais tratamento”. A tarefa 
do paliativista é elucidar a situação e apresentar a proposta de assistência, acolhendo as 
emoções. Entretanto, ao mesmo tempo em que há indignação pelo não esclarecimento, alguns 
paliativistas podem apresentar dificuldades no diálogo franco, como esta médica entrevistada: 
“É claro que o doente entende que tem câncer, mas é como se ele não 
quisesse acreditar nesta verdade. Ele ainda tem esperança de viver, e com 
isto você pode ouvir o paciente dizer que vai procurar a igreja que vai 
curá-lo. Eu digo vai, quem sou eu para dizer que não vá. Para mim é muito 
difícil mentir, mas é lógico que posso omitir alguns dados. Se ele me 
perguntar se tem um negócio no fígado e ele tem, vou dizer que tem. Mas 
posso dizer que isto pode diminuir, aumentar, ficar parado e não crescer. 
Não vou mentir, mas minha experiência me diz que, quando falo totalmente 
a verdade para o doente... tenho medo dele sair daqui e se suicidar...” 
 
A tarefa do profissional de informar o diagnóstico e o prognóstico revela-se 
extremamente difícil, face à idéia de suicídio construída pelo profissional. O encargo da 
comunicação de uma “má notícia” é produtor de fantasias as mais diversas mas, via de regra, 
 15 
toda a equipe fica mobilizada quando os familiares ocultam a verdade do paciente e desejam 
que os profissionais participem da “trama do silêncio”. 
O cuidado de um paciente FPT é produtor de vários desafios, dentre os quais o 
respeito aos seus desejos. A assistência paliativa privilegia o princípio da autonomia, em 
busca da “boa morte”. Os profissionais encontram diferentes modos de comunicar a verdade 
ao doente e a seus familiares, administrando as emoções emergentes. Durante a observação, 
foi evidenciada uma situação na qual os profissionais apresentam grande dificuldade no 
controle das emoções: quando os enfermos são jovens. A maior mobilização da equipe ocorre 
quando um jovem é internado em enfermaria, sendo o sentimento de impotência expresso pela 
maior parte dos profissionais observados, como disse uma médica: 
“Os adolescentes são pacientes muito difíceis para nós e também para a 
família, pois não é o curso natural da vida um filho morrer antes de seu 
pai”. 
Como uma das condições preconizadas pelo ideário para alcançar a “boa morte” é a 
resolução das pendências da vida, sejam elas jurídicas, financeiras ou afetivas, ao se tratar de 
um jovem surgem dificuldades. A trajetória da “boa morte” foi construída em referência a 
alguém que já teria vivido um certo tempo e poderia “completar bem” sua vida. A idéia de um 
“bom fechamento do ciclo de vida”, ao se tratar de jovens, aponta o limite da atuação do 
paliativista. A impotência da equipe diante deste enfermo usualmente é conjugada a um 
processo de identificação maciço: seja porque o profissional possui filhos em idade próxima 
ao doente, seja pela própria proximidade etária com o paciente. O protocolo preconiza uma 
identificação com o sofrimento, mas, no cotidiano, o profissional aponta seu limiar de 
suportabilidade. 
O segundo requisito da proposta de CP para alcançar a meta da “boa morte” refere-se à 
expressão dos desejos dos doentes. Após o conhecimento do avanço da doença, é necessário 
que o paciente resolva e conclua suas pendências. Os profissionais orientam familiares e 
enfermos sobre seus direitos e consideram que a “morte com dignidade” seja a que ocorre na 
residência, cercada por parentes e amigos. Contudo, nem todos os pacientes possuem famílias 
em condições materiais e/ou emocionais de suportar os encargos do morrer. O doente FPT 
(“fora de possibilidades terapêuticas) que não possua um mínimo de inserção familiar e/ou 
social geralmente mobiliza a equipe, pois contraria o modelo da “boa morte”. Diversamente 
do que ocorria na “morte moderna”, quando os familiares eram percebidos como atores 
sociais que “interferiam negativamente” no tratamento, no modelo da “morte 
contemporânea”, os familiares devem participar ativamente dos cuidados. 
 16 
No que se refere ao segundo requisito, a expressão das vontades do doente, por vezes 
ocorre o almejado pela equipe e pacientes: a realização de desejos. A fala de uma assistente 
social é ilustrativa: 
“Tem o caso de um pai que abandonou a família e os filhos no Norte. Ele 
veio parar aqui e nós conseguimos fazer com que a família viesse para o 
Rio de Janeiro, alugasse uma casa, levasse ele e cuidasse dele. Este 
paciente tinha fugido de lá porque tinha estuprado a própria filha. Mas ela 
veio dar o perdão e cuidou dele até o final.” 
 
Este paciente faleceu em casa, sendo cuidado pela família: um caso exemplar, para os 
paliativistas, de um “bom fechamento da vida” ou de realização de um “resgate”, motivo de 
satisfação da equipe. Os profissionais freqüentemente referiam-se a este episódio, quando 
perguntados sobre a gratificação com seu trabalho. No entanto, nem sempre é possível a 
realização da “boa morte”, o que pode ser frustrante para a equipe. 
O óbito é um evento capaz de gerar a emergência de emoções, dos profissionais e dos 
familiares. Os membros da equipe produzem formas pessoais de lidar com este momento 
crucial: a maioria dos paliativistas entrevistados mentaliza uma reza, como: “vai com Deus”, 
“Deus, tenha piedade, faça com que ele descanse logo”, “Deus, tenha compaixão, que ele 
pare de sofrer porque não é digno morrer sofrendo” ou ainda “Deus, receba-o bem”. Tais 
condutas são realizadas geralmente sem o conhecimento dos doentes e/ou familiares. 
Entretanto, alguns profissionais referiram-se a situações em que foram solicitados por 
familiares – provavelmente após a percepção da possibilidade de concordância – a rezarem 
conjuntamente. Diante da morte, o paliativista volta-se à religião. 
Dependendo de como se dá o falecimento, os sentimentos dos profissionais variam: 
caso ocorra sem dor ou sofrimento aparente, há alívio e bem-estar pela meta alcançada. 
Contudo, quando um doente morre em agonia aparente, com sintomas não controláveis por 
medicação, os profissionais sofrem e expressam sua frustração, muitas vezes chorando. Certa 
ocasião, perguntei a uma médica como estava uma paciente, ao que ela respondeu, chorando: 
“ela morreu ontem, e o pior é que com muita dor. Tudo o que eu estava fazendo era tentar 
controlar sua dor e não consegui...”. O sentimento de tristeza pela perda conjuga-se ao de 
impotência, decorrente dos limites da atuação. Assim, no hospital de CP, diversamente do que 
ocorre em outros hospitais, a morte não émais um fracasso, mas a equipe pode sentir-se 
derrotada com a impossibilidade de alívio do doente e de controle de seus sintomas. 
No momento da morte a emergência de emoções não é exclusiva da equipe: os 
familiares ficam emocionados e os profissionais são receptivos e estimulam a expressão 
emocional. O choro é “acolhido” pelos paliativistas, desde que seja discreto e não ultrapasse o 
 17 
“tom adequado”. No entanto, quando a família apresenta dificuldades na contenção de suas 
emoções, como, por exemplo, um filho desesperado agarrando-se ao corpo de seu pai, 
impedindo seu transporte para a morgue, a equipe intervém, referindo-se às regras 
hospitalares. Um outro tipo de emoção dos familiares pode surgir no momento do óbito: a 
raiva, usualmente direcionada à equipe. Por mais que as famílias tenham sido informadas de 
que o hospital não possui material de reanimação nem CTI, por vezes os parentes, em 
desespero, solicitam que os médicos ressuscitem o doente e, face à recusa, tentam agredi-los. 
Este evento é raro, mas, quando ocorre, a atitude tomada é solicitar a presença do segurança. 
Os profissionais compreendem o sentimento de revolta e oferecem medicação calmante. 
Geralmente, após a catarse, o familiar fica arrependido e aceita, envergonhado, a ajuda. 
Não restam dúvidas acerca da construção de novas formas de gestão das emoções dos 
profissionais. Em busca de uma nova representação social da morte, os paliativistas utilizam 
expressões e termos distintos dos de seus colegas de outras especialidades, tais como: 
“descansou”, “acabou o sofrimento” e “fez a passagem”. Entretanto, por mais que a equipe 
trabalhe tendo em vista a produção da “boa morte”, podem surgir situações que indicam os 
limites do suportável, como em um certo dia, quando faleceram seis doentes em um pequeno 
intervalo de tempo. Como disse uma psicóloga: “foi demais. Toda a equipe sentou e chorou 
junto com os familiares, era o que podíamos fazer”. 
O ônus dos encargos dos cuidados dos que estão em processo de morte pode tornar-se 
excessivos, e o profissional pode adoecer. Tal situação é objeto da atenção da equipe de 
psicologia, que estimula o diálogo entre profissionais, sua expressão de sentimentos para 
colegas e valoriza a busca de atividades de lazer na vida cotidiana. Todos os profissionais 
entrevistados relataram um cansaço e desgaste emocional maiores no hospital de CP do que 
no trabalho em outros hospitais. Além desta constatação, os profissionais encontram soluções 
pessoais para seu equilíbrio, como disse uma médica: “às vezes saio daqui, vou ao shopping e 
não compro uma agulha. Vou para ver gente bonita, colorida, saudável, gente se divertindo”. 
O trabalho do paliativista não é finalizado com a morte do doente: a equipe realiza 
uma reunião mensal denominada “pós-óbito”, para a qual são convocados os familiares de 
pacientes falecidos há, no mínimo, um mês. Sob a coordenação de uma psicóloga, o encontro 
é centrado na expressão dos sentimentos vividos por todos os envolvidos nos 
acompanhamento do recém-falecido. Os participantes são solicitados a apresentar seus 
desejos e projetos, após terem relatado o vivido durante a doença de seu parente. Um dos 
objetivos é a prevenção do luto patológico e a elaboração de algum sentimento de culpa que 
porventura se apresente, vinculado à morte do doente. Deste modo, há mais um espaço criado 
 18 
na instituição voltado à construção de uma nova representação do morrer. O retorno dos 
familiares ao hospital após a perda de seu parente é estimulado, com o propósito de 
dissociação da imagem da instituição e de sua equipe com o pesar. Trata-se de um espaço para 
elaboração do luto não apenas dos familiares, mas de todos os atores sociais, nos quais 
incluem-se os profissionais. Indo além, há um processo de construção de uma nova imagem 
do profissional de saúde, como disse uma familiar, surpresa com choro de uma médica: 
“nunca pensei que médico chorasse. Médico também é gente, mas não imaginava que médico 
sofresse como a gente”. Para a equipe, o retorno dos familiares é indicativo de uma conclusão 
satisfatória de sua tarefa. 
Os ônus dos encargos dos cuidados de pacientes FPT são grandes, mas para a equipe 
paliativista vale a pena suporta-los, em especial quando há reconhecimento por parte dos 
familiares. Contudo, para os profissionais, o ganho mais relevante no trabalho de produção da 
“boa morte” é o “crescimento pessoal”. A bibliografia internacional sobre a “morte 
contemporânea” considera que o acompanhamento de um enfermo FPT pode propiciar um 
“aprendizado da vida” e um “crescimento pessoal”, o que também é referido pelos 
profissionais do hospital brasileiro.
10
 
OCULTAMENTO E CONTROLE NA GESTÃO DAS EMOÇÕES 
Os dois campos investigados constroem diferentes formas de gestão das emoções: 
enquanto no CTI os profissionais tendem a fragmentar e objetificar o doente, lidando com 
seus parâmetros e órgãos, no hospital de CP a equipe volta-se à “totalidade” do paciente e de 
seus familiares. No CTI os profissionais contam com um suporte tecnológico nos cuidados, 
pois muitas vezes os aparelhos são responsáveis pelo equilíbrio e manutenção das funções 
vitais dos doentes. Assim, o contato do intensivista com o paciente é mediado pela 
aparelhagem. O ambiente do CTI é construído segundo os valores ali preeminentes, de modo 
que não há quase espaço físico para os familiares. O paciente internado fica isolado do mundo 
externo, não sabe se é dia ou noite, se chove ou está nublado. É como se a vida de todos 
estivesse em suspenso. Assim como o enfermo internado, os intensivistas permanecem 
enclausurados, conectados às máquinas. Trata-se de um setor hospitalar no qual os horizontes 
são demarcados pela batalha contra a morte, evento que pode ser significado como derrota da 
competência médica. A emergência das emoções é percebida pelos profissionais do CTI como 
transtorno ao “bom” andamento do trabalho e, assim, os intensivistas buscam um 
distanciamento das emoções. Por vezes os profissionais recém-chegados ao setor ficam 
chocados com o humor negro de seus colegas mais experientes. Mas, com o passar do tempo, 
incorporam a mesma linguagem e atitude. Deste modo, pode-se afirmar com Le Breton (1995: 
 19 
150), que as mesmas circunstâncias desencadeiam comportamentos afetivos sensivelmente 
diferentes, segundo o ambiente no qual o indivíduo está inserido. O mesmo pode ser 
observado no hospital de CP: face ao choro de duas pacientes internadas em uma enfermaria, 
uma médica recém-chegada disse, contrariada: “por quê estão chorando? Não quero ver 
ninguém chorando aqui! Todo mundo sorrindo! E tem motivo para chorar?” A reação da 
médica foi semelhante à de sua colega do CTI, que não percebia a notícia de morte cerebral 
de uma paciente como motivo de desespero de suas familiares. Porém, após algum tempo de 
permanência em CP, a médica mudou de atitude, passando a acolher a demonstração de 
sentimentos e a chorar em diversas ocasiões. Esta profissional, como outros deste hospital, 
apreendeu o ideário que rege a assistência paliativa: incorporou a identidade de paliativista. 
O ambiente do hospital de CP é claro, colorido e com muitas janelas, de maneira que é 
possível a visão do exterior. São objetivos primordiais da equipe paliativista a não exclusão 
do paciente FPT da vida cotidiana, uma maior visibilidade social da morte, conjugada à 
aceitação deste evento, que deve ser tratado como “natural”, uma vez que é considerada parte 
da vida. Trata-se de um novo condicionamento diante do morrer. Enquanto no CTI há um 
processo de ocultamento institucional – e mesmo de negação – da morte, no hospital de CP os 
profissionais falam abertamente sobre o morrer e solicitam a permanência dos familiares no 
período final da vida do doente. 
A implementação do modelo da “morte contemporânea” é produtora de tensões entre 
os atores sociais envolvidos no acompanhamentodo paciente FPT. No CTI há uma 
domesticação do processo do morrer, às custas de sua exclusão e ocultamento. Já no hospital 
de CP há uma pacificação da morte através de sua maior visibilidade social. No CTI há um 
silêncio em torno das emoções diante da morte, enquanto na assistência paliativa há uma 
extensa produção de discursos sobre a “boa morte”. As duas formas de construção de gestão 
das emoções remetem à afirmação de Foucault (1993: 27) sobre o dispositivo de poder: é 
tanto o silêncio como o incitamento ao discurso, é tanto o ocultamento social como o tornar 
público. O aspecto central de ambas as construções refere-se ao controle das emoções. 
O modelo de assistência paliativa surgiu em contraposição à crescente expansão do 
poder médico. Entretanto, o projeto de humanização do morrer é construído às custas da 
dependência – de doentes e familiares – de uma rede ampliada de profissionais. O campo de 
atuação da equipe paliativista passa a abranger novas áreas de intervenção, como, por 
exemplo, a “espiritualidade”. Os paliativistas são “sensibilizados” e apreendem uma 
linguagem psicológica. O espaço e a valorização da subjetividade e da interioridade são 
indicativos de um constructo elaborado de domínio dos sentimentos. Todavia, a expressão 
 20 
afetiva e emocional no hospital de CP deve ser restrita a determinados ambientes e situações. 
Assim, um doente, familiar e/ou paliativista que ri ou chore em tom de voz mais alto é 
passível de repreensão, pela referência às regras institucionais explícitas ou implícitas, como, 
por exemplo, a fala de uma médica a uma enfermeira: “o que está havendo, precisa rir tão 
alto?” Para Walter (1997: 132), o ethos pacífico dos CP choca-se com a proposta de 
expressão autêntica dos enfermos, especialmente ao se tratar da exteriorização de raiva, o que 
reitera a hipótese de domesticação da morte no ideário da “morte contemporânea”. Na 
construção do novo modelo de morte, os paliativistas passam por um processo de reeducação 
da expressão das emoções para, a seguir, transformarem-se em agentes pedagógicos de 
doentes, familiares e profissionais recém-chegados. O paliativista torna-se um educador de 
atitudes diante da morte e dos sentimentos, configurando um processo de ampliação da 
medicalização do social. 
A medicalização do social está presente nos dois campos de observação, a diferença 
reside nas formas de expressão deste processo. Apesar do objeto de intervenção dos 
profissionais dos dois serviços ser o mesmo, o indivíduo enfermo, os focos de atenção das 
equipes são distintos, em virtude das distintas concepções construídas acerca de saúde, 
doença, sofrimento, vida, morte e expressão das emoções. Tais desigualdades de foco são 
decorrentes da diferença de valor das duas dimensões constituintes da medicina: “tecnologia/ 
humanismo” ou, dizendo de outro modo, “competência/ cuidado”. O pólo preeminente no CTI 
seria o da tecnologia, da objetividade, da racionalidade, da competência e do saber – 
provavelmente em detrimento do outro pólo. Já nos CP há uma valorização do cuidado, da 
experiência, da subjetividade, do humanismo, sem haver negligência do saber e da 
competência técnica. Ambas as unidades buscam uma resolução da tensão existente entre os 
dois pólos. Deste modo, tanto o espaço como tempo dedicados às emoções são qualitativa e 
quantitativamente desiguais. 
Os valores preeminentes no CTI – a objetividade, a competência, a técnica e a ação – 
podem ser conjugados ao domínio masculino, enquanto a subjetividade, o sentir estariam 
relacionados ao feminino. Assim, o projeto dos CP, compreendido como contraposição ao 
poder médico, poderia constituir uma tentativa de resposta à exclusão do universo das 
emoções. Indo além, seria uma busca de “feminilização” da prática médica, uma inclusão de 
uma atividade eminentemente feminina – o cuidar – ao campo de exercício profissional 
médico. A pioneira da causa da “boa morte”, Cicely Saunders, era originariamente enfermeira 
e posteriormente formou-se em medicina, talvez visando uma legitimidade profissional. 
Atualmente os CP são exercidos no Brasil por uma grande maioria de profissionais do sexo 
 21 
feminino. Como a assistência paliativa é freqüentemente desqualificada pelos profissionais de 
outras especialidades, esta depreciação pode estar vinculada à feminilização deste campo de 
atuação. A fala de uma enfermeira sobre o tema é ilustrativa: 
“A maior parte dos doentes que recebemos provém da clínica de cabeça e 
pescoço do Instituto Nacional do Câncer, que é uma clínica muito machista. 
Para facilitar o encaminhamento, convidamos os médicos desta clínica 
para conhecerem nosso hospital e fizemos um almoço para eles. Aqui, nós 
éramos só mulheres. Um médico disse então: „agora estou entendendo 
porque aqui é tudo bonitinho, arrumadinho e organizadinho, porque só tem 
mulher‟, ao que respondi: „pois é, para vocês verem que nós, além de 
sermos ótimas donas de casa, também somos excelentes executivas, porque 
nossos indicadores apontam que todas as metas foram alcançadas.‟ E 
mostrei a eles nossos resultados”. 
 
Assim, pode-se aventar a hipótese de desqualificação dos CP por se tratar de uma 
atividade feminina, vinculada aos cuidados ao morrer. Indo além, sabe-se que a representação 
histórica e social das emoções é associada ao domínio feminino, enquanto a lógica e a razão 
são referidas ao universo masculino. O modelo contemporâneo da morte compreende uma 
pacificação do morrer e um apaziguamento dos temores associados a este evento, por meio de 
um controle “adequado” das emoções e das circunstâncias em torno do final da vida. 
Diversas indagações ainda permanecem sem respostas, mas concluo com duas falas 
paradigmáticas sobre os dois serviços observados. Segundo um intensivista, com os 
desenvolvimentos tecnológicos voltados à preservação da vida, “a medicina intensiva é a 
medicina do futuro”, enquanto para uma paliativista, com a maior expectativa de vida da 
população, o processo do morrer é prolongado, de modo que “a grande medicina do século 
XXI é a medicina paliativa”. As declarações dos dois profissionais convergem no que tange à 
expansão do domínio da medicina e da medicalização da morte. Ambas as medicinas 
constroem modos de domesticação das emoções e de controle das circunstâncias do morrer. 
As formas de gestão dos sentimentos dos intensivistas indicam seus limites, apontando a 
necessidade de construção de novos espaços e novas formas de relação entre equipe e 
familiares. Quanto à assistência paliativa, foram demonstradas as maneiras de administração 
da expressão emocional, restando a examinar suas conseqüências para todos os envolvidos no 
acompanhamento do processo de morte. 
 
1 A observação do CTI resultou na dissertação de mestrado “Difíceis decisões: uma abordagem antropológica 
sobre a prática médica em CTI” (Menezes 2000a). A investigação do hospital de CP resultou na tese de 
doutorado em Saúde Coletiva (Instituto de Medicina Social/UERJ) “Em busca da „boa morte‟: uma investigação 
sócio-antropológica sobre Cuidados Paliativos” (Menezes 2004a) e no livro Em busca da boa morte. 
Antropologia dos Cuidados Paliativos (Menezes, 2004b). 
 22 
 
2 Esta dupla dimensão também pode ser articulada à “inarredável tensão” entre Romantismo e Racionalismo, 
analisada por vários autores, em especial Duarte (1998: 15). 
3 Há que se destacar que, diversamente do ocultamento social da morte em conseqüência de doença, o século XX 
assistiu a uma crescente exposição midiática do espetáculo da morte por desastres, guerra e violência. 
4 O CTI (ou UTI) surgiu em 1946, nos Estados Unidos, a partir da epidemia de poliomielite e do início do uso 
dos respiradores artificiais, na busca da manutençãoda vida destes doentes. Várias tentativas foram feitas para a 
organização dos CTIs, mas somente com o desenvolvimento de certos equipamentos tornou-se possível a 
concretização e execução dessas unidades (Menezes 2000b: 29). 
5 Utilizo o termo hospice em inglês, uma vez que não há equivalente em português. 
6 Conforme definição de Bourdieu (1994: 15): habitus caracteriza o conjunto de usos e formas de práticas de um 
dado grupo social. Tende, portanto, a conformar e a orientar a ação, mas na medida em que é o produto de 
relações sociais ele tende a assegurar a reprodução dessas mesmas relações objetivas que o engendraram. 
7 Procedimentos heróicos seriam a reanimação ou ressuscitação do doente após parada cárdio-respiratória. O 
aspecto central referente à decisão da não realização de condutas heróicas seria o não prolongamento artificial da 
vida do paciente, especialmente quando se dá às custas de seu sofrimento. 
8 Biomedicina conforme definição de Camargo (2003: 101): a racionalidade médica da Medicina Ocidental 
Contemporânea, constituída pelo conhecimento produzido por disciplinas científicas no campo da Biologia, 
composto por uma morfologia e anatomia humanas; uma fisiologia ou dinâmica vital humana; um sistema de 
diagnósticos; um sistema de intervenções terapêuticas e uma doutrina médica. Além desses elementos 
constitutivos, os fundamentos das racionalidades residem em uma cosmologia. 
9 Iatrogênico: diz-se da alteração patológica provocada por qualquer tipo de tratamento. 
10 Como exemplos desta construção, podem ser citados alguns títulos de publicações sobre o tema: La mort 
intime. Ce que vont mourir nous apprennent à vivre (Hennezel 1995) e Death. The final stage of growth (Kübler-
Ross 1975), entre outros. 
 
 
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Dados sobre a autora: 
Rachel Aisengart Menezes, médica e psicanalista, Mestre e Doutora em Saúde Coletiva pelo 
Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Pós-doutoranda 
em Antropologia Social no PPGAS/Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de 
Janeiro. 
Endereço: Rua Mário Pederneiras, 10/113, Humaitá, Rio de Janeiro, RJ. Cep: 22261-020 
raisengartm@terra.com.br 
raisengartmenezes@cremerj.com.br 
Principais publicações: 
“Difíceis decisões: uma abordagem antropológica da prática médica em CTI”. 2000. Physis, 
vol. 10, n. 2. 
“Etnografia do ensino médico em um CTI”. 2001. Interface, 9. 
“Um modelo para morrer: última etapa na construção social contemporânea da Pessoa?”. 
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“Tecnologia e „morte natural‟: o morrer na contemporaneidade”. 2003. Physis, v. 13, n. 2. 
mailto:raisengartm@terra.com.br
 25 
 
Em busca da boa morte. Antropologia dos Cuidados Paliativos. 2004. Rio de Janeiro: Ed. 
Fiocruz/Garamond. 
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