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O-PROCESSO-DE-LUTO-E-A-HUMANIZAÇÃO-DA-MORTE

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1 
SUMÁRIO 
1 A HUMANIZAÇÃO NO PROCESSO DE MORTE ................................. 2 
1.1 Concisões sobre o morrer .............................................................................. 6 
2 PACIENTE NO PROCESSO DE MORTE/MORRER .......................... 10 
3 A relevância de entender o processo da morte e do morrer e as 
competências profissionais ........................................................................ 12 
4 O PAPEL DO PSICÓLOGO HOSPITALAR ........................................ 15 
5 A psicologia e sua construção como ciência ....................................... 17 
6 A política de humanização hospitalar e os papéis dos profissionais de saúde
 19 
Fonte:amenteemaravilhosa.com.br ........................................................................ 19 
7 PACIENTES EM CRISE E O PAPEL DO PSICÓLOGO HOSPITALAR21 
8 O PROCESSO DE LUTO .................................................................... 24 
8.1 Aspectos Psicológicos da Perda .................................................................. 26 
8.2 O Morrer: processo do luto antecipatório ..................................................... 28 
8.3 Os Profissionais Diante da Morte ................................................................. 32 
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................... 35 
 
 
 
2 
1 A HUMANIZAÇÃO NO PROCESSO DE MORTE 
 
Fonte: experienciasdeumtecnicodeenfermagem.com 
O fim da existência é algo pouco aceito para a sociedade, um assunto pouco 
abordado, embora muito presente no cotidiano das instituições hospitalares, em 
especial no âmbito das unidades de terapia intensiva (UTI), por se tratar de um 
ambiente projetado para lidar com pacientes em estado crítico. 
Em função disso, discussões têm acontecido sobre esse processo de 
morte/morrer e até que ponto tem sido praticado o cuidado humanizado em meio aos 
cuidados paliativos. Nesse sentido Ruiz (2008) aponta que apesar da Política Nacional 
de Humanização (PNH) oferecer processos que visem à construção de serviços 
humanizados, ela não aborda a assistência humanizada em meio ao processo de 
morte, fazendo-se necessária uma reflexão sobre cuidado prestado durante esse 
processo, pois exige também uma assistência humanizada. 
Assim sendo, uma nova temática tem sido levantada no que se refere à questão 
da humanização é a assistência prestada ao paciente em fase terminal, pois tem sido 
discutido como fazer acolhimento de forma humanizada no processo de morte em 
meios aos espaços de saúde. O cuidado paliativo que segundo Silva e Hortale (2006) 
é reconhecido como toda abordagem que visa melhora da qualidade de vida dos 
indivíduos e familiares na presença de doenças terminais. Embora ocorra, a 
humanização nem sempre está envolvida nesse processo, Santana et al. (2009) 
apontam que é fundamental unir os cuidados paliativos a uma proposta de ação mais 
humanizada, não como obrigação, mas sim como um ato de respeito e de 
solidariedade. Sob a ótica da Política Nacional de Humanização (PNH) “Humanizar é, 
 
3 
então, ofertar atendimento de qualidade articulando os avanços tecnológicos com 
acolhimento, com melhoria dos ambientes de cuidado e das condições de trabalho 
dos profissionais” (Brasil, 2004). No entanto, ao refletir sobre esse conceito na 
Unidade de Terapia Intensiva (UTI), é notório que essa prática nem sempre é 
constante, visto que a UTI conforme apontado por Salicio e Gaiva (2006, p. 371) é: 
Uma unidade preparada para atender pacientes graves ou potencialmente 
graves, apesar de contar com assistência médica e de enfermagem 
especializadas e contínuas e dispor de equipamentos diferenciados, expõe o 
paciente a um ambiente hostil, com exposição intensa a estímulos dolorosos, 
onde a luz contínua, bem como procedimentos clínicos invasivos são 
constante em sua rotina de cuidados. 
Diante do exposto anteriormente, a questão a ser respondida é a possibilidade 
de assistência humanizada ao paciente em fase terminal, visando o atendimento 
individualizado em todo o processo de perda. 
Diante do apresentado, cabe ressaltar que a maioria dos profissionais de saúde 
que trabalham com pacientes terminais enfrentam desafios para tentar promover uma 
assistência de qualidade, sem se esquecer do lado humano do cuidar (SANTANA et 
al., 2009). 
Ao consultar a definição de Humanização no Dicionário, obtém-se o seguinte 
conceito “Humanização é o ato ou efeito de humanizar-se, de tornar-se benévolo ou 
mais sociável” (HOUAISS, 2009, p. 1037). Aplicando esse conceito na área da saúde 
a humanização remete a um conjunto de iniciativas que visam à produção de cuidados 
em saúde, que englobam desde a melhor tecnologia disponível, a promoção de 
acolhimento, respeito aos valores e culturas do paciente, ambiente de trabalho 
favorável, bom exercício técnico até a satisfação dos profissionais de saúde e os 
usuários. 
Segundo Ferreira (2000) humanizar significa tornar humano, dar condição 
humana, tornar afável e tratável. A humanização da assistência requer 
conscientização e preparo da equipe para um cuidado diferenciado, entendendo o 
paciente como um ser humano. 
Alguns estudos na área da medicina intensivista apontam para a necessidade 
de mudar o enfoque predominantemente tecnicista, paciente-doença, para uma 
abordagem mais humana, que engloba o paciente de forma holística, ou seja, 
percebendo-o como um ser inserido num contexto, e que necessita ser atendido nos 
aspectos físicos, psicológicos, sociais e espirituais. A medicina paliativa vem sendo 
 
4 
destacada nas literaturas, em geral na área de oncologia, entretanto tem ganhado 
destaque também nas literaturas pertinentes ao intensivismo. (GARROS, 2003). 
 
 
Fonte: www.jexpoente.com.br 
 “A medicina paliativa se desenvolveu como uma reação à medicina moderna 
altamente tecnicista que prioriza a cura, em vez do cuidado”. (PESSINI, 2006). 
A filosofia dos cuidados paliativos: a) afirma a vida e encara o morrer como 
um processo normal; b) não apressa nem adia a morte; c) procura aliviar a 
dor e outros sintomas angustiantes; d) integra os aspectos psicológicos e 
espirituais nos cuidados com o paciente; e) oferece um sistema de apoio para 
ajudar os pacientes a viver ativamente o máximo possível até a morte; f) 
oferece um sistema de apoio para ajudar a família a lidar com a doença do 
paciente e seu próprio luto. (PESSINI, 2003 apud PESSINI, 2006) 
Essa nova perspectiva constitui desafio para os profissionais de saúde visto 
que, o paciente no processo de morte deixa de ser aquele por quem nada se pode 
fazer e passa a ser considerado como aquele que não responde mais as medidas 
terapêuticas de cura. Desta forma, sob a filosofia dos cuidados paliativos, temos muito 
que fazer para proporcionar uma morte mais digna, decente ou aceitável para um ser 
humano. 
A humanização do morrer apoia a concepção de que a morte não é um inimigo 
a ser combatido, ela faz parte do ciclo vital e do adoecer. A proposta dos cuidados 
paliativos é permitir que a pessoa viva intensamente seus dias finais de vida com 
controle da dor, e sendo assistido de forma holística. Partindo da ideia de que “mais 
vale acrescentar vida ao tempo do que tempo à vida”. 
 
5 
O Programa Nacional de Humanização Hospitalar - PNHAH, foi instituído pelo 
Ministério da Saúde, através da portaria nº. 881, de 19 /06/ 2001, no âmbito do 
Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2002). 
O PNHAH faz parte de um processo de discussão e implementação de projetos 
de humanização do atendimento à saúde e de melhoria da qualidade do vínculo 
estabelecido entre trabalhador da saúde, pacientes e familiares. A família, enquanto 
extensão do paciente deverá ser incluída no processo de cuidado deste, porém, não 
como auxiliar ao nosso trabalho, mas como indivíduos a serem cuidados também pela 
enfermagem. Essa deverá oferecer o suporte necessário, esclareceras dúvidas, 
atender e acolher prontamente e de maneira empática esse suporte primário do 
paciente, conquistando assim sua confiança. A inclusão da família no processo de 
cuidado em Unidade de terapia Intensiva (UTI) é indispensável para podermos 
atender o paciente de forma holística. 
Humanizar significa a possibilidade de assumir uma posição ética de respeito 
com o outro, acolher o desconhecido e reconhecer os limites. A humanização requer 
uma interação harmoniosa entre o cuidado técnico e científico. Requer também 
compromisso ético de todos os profissionais envolvidos na assistência, desde os 
atendentes da recepção até a equipe envolvida diretamente com a assistência do 
paciente e família. O processo do cuidado de enfermagem por si só constitui um ato 
humanizado, visto que os objetivos do cuidar envolvem aliviar, confortar, ajudar, 
favorecer, promover, entre outros. (MORAES; GARDA; FONSECA, 2004). Segundo 
esses autores: 
Humanizar de acordo com os valores éticos consiste fundamentalmente, em 
tornar uma prática bela, por mais que ela lide com o que tem de mais 
degradante, doloroso e triste na natureza humana, o sofrimento, a 
deterioração e a morte. Refere-se, portanto, a possibilidade de assumir uma 
posição ética de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites. O ponto 
chave do trabalho de humanização está no fortalecimento desta posição ética 
de articulação do cuidado técnico cientifico, já construído, conhecido e 
dominado, ao cuidado que incorpora a necessidade, a exploração e o 
acolhimento do imprevisível, do incontrolável, ao indiferente e singular. 
Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se 
repensar a formação profissional na área de saúde. Para esse autor, apesar das 
propostas de mudanças de modelo de atenção da saúde, que prega a integralidade e 
a humanização da assistência e da crise da ciência racionalista, predomina ainda o 
aprendizado técnico, racional e individualizado, empregado muitas vezes” sem o 
 
6 
exercício da crítica, criatividade e sensibilidade”. Refletindo, portanto, no despreparo 
dos profissionais em proporcionar um cuidado humanizado cada vez mais exigido nos 
serviços que utilizam alta tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva. 
 
 
Fonte:pebmed.com.br 
Felizmente, percebemos uma série de estudos relacionados à necessidade de 
humanização desses serviços, por força do efeito negativo do ambiente sobre 
pacientes, família e equipe multiprofissional. Os estudos mostram também que os 
profissionais de saúde têm consciência de que humanização é uma palavra 
aparentemente fácil de entender, porém, no dia-a-dia não é tão fácil praticá-la. 
1.1 Concisões sobre o morrer 
A compreensão sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na 
forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer. Ao 
pesquisar sobre a definição das palavras morte e morrer no dicionário de língua 
portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinônimos atribuídos a elas. 
Morte significa: cessação da vida, fim. Já a palavra morrer significa: ”perder a vida; 
falecer, finar-se, fenecer, expirar, desaparecer, descansar, desencarnar, ir, perecer, 
sucumbir, espichar, esticar; estinguir-se, acabar (-se).” (FERREIRA, 2000). Já no 
dicionário médico traz as seguintes considerações: 
 
7 
1-Cessação total e irreversível da função cerebral, função espontânea dos 
sistemas respiratório e circulatório. 2 - A cessação final e irreversível dos 
batimentos cardíacos e respirações perceptíveis. [...] o principal sinal de 
morte é a cessação da ação do coração. Outras indicações são: ausência de 
reflexos, cessação da atividade elétrica do cérebro, determinada pelo eletro 
encefalograma (EEC), manifestação de rigor mortis e uma descoloração 
mosqueada no corpo. (THOMAS, 2000) 
Como podemos observar, existem várias denominações para substituir a 
palavra morte, talvez o objetivo real seja “suavizar” a sua pronúncia tornando-a menos 
temível. A Tanatologia é a ciência que estuda a morte. Segundo este saber, o homem 
é o único ser sobre a terra que tem consciência da sua finitude, o único, a ter 
consciência de que sua passagem neste mundo é transitória e deve terminar um dia. 
Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivência com a morte no 
decorrer da história. 
De forma sintética, seguem as diferentes interpretações da morte segundo 
algumas das grandes correntes religiosas: 
Para os judeus e cristãos, que acreditava na ressurreição após a morte, esta 
seria o acesso para outra dimensão da vida que poderia ser no inferno ou no paraíso, 
conforme os seus feitos terrenos a partir da observância dos mandamentos de Deus. 
De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) “o catolicismo prega que 
os esforços para manter a vida física podem ser encerrados, caso a continuação da 
vida biológica, ao invés de promover a integração da vida espiritual e moral do 
indivíduo, torne-se vã”. 
O budismo não encara a morte como o fim da vida, mas sim como uma 
transição, defendendo o direito do indivíduo de determinar o momento em que deseja 
passar desta existência para a seguinte. Enfatiza que o importante no momento da 
morte é que a mente permaneça em paz e harmonia consigo mesmo. 
No islamismo a concepção de vida é sagrada, a morte é interpretada como a 
conclusão de uma vida e o começo de outra. Apesar das diferentes interpretações das 
diversas correntes religiosas, há consenso de que o apoio espiritual constitui elemento 
valioso dado ao paciente no processo de morrer. A morte é parte integrante do 
processo de desenvolvimento humano e está presente no cotidiano diário de nossas 
vidas. A forma de percepção, significação e comportamento do processo de morte e 
morrer variam conforme o contexto sociocultural e histórico e vem sofrendo alterações 
através das diferentes civilizações até os dias atuais. 
 
8 
Os antigos egípcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os 
alimentos, para que continuassem felizes, e da mesma forma os antigos índios 
americanos, que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia. Esses 
falavam dos espíritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentá-los. Os hebreus 
consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura, que não podia ser tocada. 
(KÜBLER-ROSS, 2008) 
Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lançadas ao 
vento, ou nas águas dos rios, sendo o morto despojado de todos os seus traços de 
identidade. 
 
 
Fonte: espacoespiritual.wordpress.com 
Para os antigos gregos, a incineração determinava dois tipos de mortos: o 
cadáver do homem comum e o cadáver dos grandes heróis. Ao anônimo cabia o 
crematório coletivo e o depósito de suas cinzas em vala comum. Os corpos falecidos 
dos heróis eram cremados na cerimônia da bela morte, onde os seus feitos no campo 
de batalha eram enaltecidos. A própria morte seria a prova de sua virtude, tornando-
o um indivíduo cuja vida é digna de ser lembrada. 
Os primeiros cemitérios surgiram a partir do século V e eram localizados junto 
às igrejas cristãs. Esses cemitérios faziam parte do cenário de vida das pessoas, 
tinham papel de praça pública, eram lugares de julgamentos, das execuções e dos 
encontros amorosos. 
https://espacoespiritual.wordpress.com/
 
9 
Na Idade Média a morte era entendida com naturalidade, fazendo parte do 
ambiente doméstico. O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer como os 
seus parentes e amigos. Naquela época os nobres eram enterrados no interior das 
igrejas, enquanto os pobres erram colocados em covas coletivas. 
Tanto a família como os amigos do morto manifestavam o processo do luto 
através do uso de roupas pretas e da não participação na vida social até que não 
acontecesse a elaboração do óbito. As pessoas que sabiam que iam morrer 
protagonizavam todo o ritual, despedindo-se dos entes queridos, fazendo o 
testamento, buscandose reconciliar com as pessoas e superar as mágoas. A 
comunidade participava ativamente de todo esse processo. (AGRA; ALBUQUERQUE, 
2008). 
Gutierrez (2003), tomando como referencial o estudo de Pessini (1999), fez 
uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade média 
até a década de 70 do século XX. 
Durante os séculos XI e XII iniciaram-se mudanças sutis na maneira tradicional 
de o homem atuar diante da morte; 
 
 No período entre os séculos XII a XV houve uma maior conscientização do 
homem em relação á sua própria morte; 
 Já no século XVI, a morte distanciou-se das situações mais corriqueiras e 
passou a representar uma separação inaceitável, iniciando um processo de 
visualização da morte do outro, que passou a ser dramática e mais complexa; 
 No final do século XVIII surgiram duas mudanças em relação à morte: A 
benevolência com a ideia da morte e a relação entre moribundo e seus 
familiares. O termo benevolência significa boa vontade para com todos. 
 Na primeira metade do século XIX a morte era um fenômeno bastante 
presente e encarado como fato social e público, em que parentes e amigos, 
vizinhos e até mesmo crianças permaneciam no quarto do moribundo. Nessa 
época os ritos que acompanhavam a morte eram realizados com tranquilidade 
e aceitação; 
 No decorrer dos anos a atitude do homem em relação à morte sofreu 
modificações e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaçadora. Poupa-
se o moribundo de saber sobre suas reais condições de saúde. A verdade é 
 
10 
negada com o intuito de privar o doente do sofrimento. A extrema unção, que 
era oferecida ao moribundo, em meados do século XX passou a ser dada 
somente após sua morte; 
 A partir da segunda metade do século XX, a morte foi transferida para os 
hospitais e passou a ser vista como um fenômeno técnico, às vezes adiada 
ou antecipada, a depender dos interesses dos que tentavam domina-la. O 
Médico transformou-se em herói na luta contra a morte; 
 Atualmente, os avanços tecnológicos e científicos tornaram a morte um 
evento institucionalizado. É cada vez mais comum as pessoas morrerem no 
hospital. O doente perde o direito de opinar sobre sua morte, o médico tornou-
se personagem principal e a família passou a sentir-se protegida por não ter 
que presenciar a morte de um ente querido. Nesse contexto a morte passa a 
ocorrer em cenário composto por fios, máquinas, aparelhos e pessoas 
estranhas, geralmente equipe médica e de enfermagem. 
2 PACIENTE NO PROCESSO DE MORTE/MORRER 
 
Fonte: emais.estadao.com.br 
O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa 
maturidade, adquirida com o tempo, e exame consciente da nossa posição diante 
 
11 
desse contexto. O doente moribundo possue necessidades muito especiais que 
podem ser atendidas, se tivermos tempo para nos sentar, ouvir e descobrir quais são. 
Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais será dispensável, ou substituído 
pela tecnologia de ponta – como as que encontramos hoje nas nossas UTIs – Pois 
este passa “ pela comunicação humanizadora que ouve, acolhe e respeita o outro 
como ser humano nas suas verdades, nos seus valores fundamentais e nas suas 
opções de vida”. Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de 
KüblerRoss (2008) onde descreve os estágios que o ser humano passa quando está 
em fase terminal, a saber: 
 
 Primeiro estágio: negação e isolamento – ocorre uma reação de descrédito 
do doente quanto à gravidade da doença e à possibilidade da morte. 
Normalmente ocorre a seguinte frase: “não, não é verdade, isso não pode 
acontecer comigo”. Sabe-se que é saudável que algum grau de negação 
ocorra, posto que é difícil lidar com a morte o tempo todo. 
 Segundo estágio: a raiva - manifestação de raiva, ódio, ressentimento, inveja. 
O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade 
(família ou equipe). É preciso, pois, que não levemos a expressão do ódio e da 
raiva para o lado pessoal. Nesse estágio surge a pergunta: “por que eu?”. 
 Terceiro estágio: barganha – a pessoa aceita a morte, mas propõe alguma 
coisa de volta, exemplo: pede para viver até a formatura do filho. É o estágio 
mais indicado para cuidar de assuntos práticos como o testamento. 
 Quarto estágio: depressão – Expressão de sentimento de tristeza, a princípio. 
São dois tipos de depressão: a reagente, pela perda do emprego, da 
capacidade do autocuidado, etc.; e a preparatória, pela perda da família e da 
vida. 
 Quinto estágio: aceitação – o doente se mostra calado, em paz, sem 
manifestar depressão, nem raiva. É o momento para contemplar o fim que se 
aproxima com certo grau de ansiedade silenciosa. É comum dormir mais nessa 
fase, mas não como fuga, e sim como um repouso antes da grande viagem. 
Suas preocupações já não dizem respeito ao mundo exterior. Essa atitude pode 
ser confundida como rejeição pelas pessoas da família e pelos profissionais. 
 
12 
É importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma 
desistência precoce de lutar contra a doença e a morte e quando se trata da chegada 
ao fim em paz. 
Esses cinco estágios nem sempre acontecem em sequência, pois podem se 
sobrepor um ao outro. É natural que toda pessoa a beira da morte reconheça algum 
dos sinais de que algo não transcorre normalmente, e desenvolva esses estágios, ou 
parte deles. Precisamos adquirir habilidade e preparação psicológica para identificar 
as reações apresentadas pelo doente nesses estágios e, assim, podermos ajudá-los 
a enfrentar a situações de morte iminente. 
3 A RELEVÂNCIA DE ENTENDER O PROCESSO DA MORTE E DO MORRER E 
AS COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS 
A morte nos mostra que há algo que não se pode vencer. Não surpreende 
constatar que os profissionais que lidam com os processos de morte e morrer em 
pacientes moribundos experimentem ansiedade, fracasso e impotência, culpa e 
frustração, associadas aos sentimentos de impotência e tristeza. 
Santos e colaboradores (2013) mencionaram que "... o médico se torna o ator 
social no qual se deposita a função de deter a morte" (p. 2626) e que a formação 
acadêmica em saúde costuma ser voltada para um modelo estritamente biomédico, 
sem abranger os aspectos psicossociais da profissão. Essa lacuna nos cursos de 
medicina, enfermagem, psicologia e em outros da área da saúde faz com que os 
estudantes, futuros profissionais, tenham um preparo insuficiente para lidar com a 
experiência humana de morte, pois esta não se restringe à perda dos sinais vitais 
(Brasil, 2013; Fundação do Desenvolvimento Administrativo [Fundap], 2010). 
As repercussões da ausência da temática do processo de morrer e da morte 
na formação desses profissionais foram abordadas em diferentes publicações nos 
últimos anos e explicitam diversas consequências negativas, como sofrimento 
psíquico, depressão, estresse, angústia, síndrome de burnout, entre outros. 
Quando o psicólogo ou profissional da saúde é capacitado adequadamente, há 
um preparo maior para lidar com situações de morte, como, por exemplo, nas grandes 
catástrofes em que ocorrem óbitos, podendo realizar acompanhamento aos familiares 
no reconhecimento de cadáveres. Um dos objetivos é auxiliar como suporte emocional 
 
13 
aos familiares e no processo de luto. O profissional com melhores condições de 
compreender e apoiar as famílias na dor permite-lhes o sentimento de amparo, bem 
como proporciona a validação dos sentimentos e emoções do enlutado (Ramírez, 
2011; Reverte, García, Penas, & Barahona, 2014). 
 
 
Fonte: humanizaamapa.blogspot.com 
Por que então esse preparo é tão escasso? Pode haver várias razões, como 
as do tipo histórico-culturais (Incontri & Santos, 2011), mas a principal parece 
relacionar-se com a educação e formação que evita falar da morte (Kovács, 2008; 
Percival & Jonhson, 2013). 
Lima e Buys (2008), e Santos e Bueno (2011) identificaram essas atitudescriando instrumentos de educação para a morte: 
 o aumento das discussões sobre morte/luto nas universidades 
(principalmente) por meio de palestras, projetos, vivências e rodas de 
conversa; com abordagem total do ser humano, nas dimensões emocional, 
social, espiritual e física, e não apenas nesta última; 
 o aprofundamento do contato com quem está morrendo, bem como os 
medos, as alegrias, as dores e as necessidades do paciente; e, por fim, 
 uma maior divulgação dos trabalhos realizados na área da tanatologia, não 
só para os profissionais da saúde, como também para toda a sociedade. 
Nesse sentido, Kovács e colaboradores (2014) promoveram um curso para 
os profissionais de funerárias, em que abordaram a questão da morte no 
 
14 
cotidiano, sendo observados: sobrecarga de trabalho, contato com famílias 
enlutadas e despreparo para essas tarefas. 
 
 
Fonte: jornal.fmrp.usp.br 
A desmistificação do tema da morte auxilia os profissionais a conviver melhor 
com aqueles pacientes que não respondem mais aos tratamentos que visam a cura, 
permitindo à equipe aceitar melhor seus próprios limites de intervenção e dedicar-se 
a outros tipos de cuidado, como o paliativo. Os cuidados paliativos (CP) surgiram 
como uma necessidade da sociedade que perdeu as infraestruturas que lhe permitiam 
cuidar dos doentes graves e dependentes que requeriam cuidados constantes, sem 
que necessariamente a morte estivesse próxima. 
Há pacientes que preferem morrer em casa a receber cuidados em atendimento 
hospitalar de alta qualidade, bem como o apoio de que necessitam para alcançar uma 
"boa morte" (ou seja, uma morte acompanhada de dignidade e sem sofrimento). 
Os principais desafios da assistência domiciliar são estabelecer a parceria com 
a família e seu entorno, estabelecer a rede de apoio social e ter os cuidados efetivos 
dos demais serviços que os pacientes necessitam, incluindo os CP nos diversos níveis 
de atenção à saúde. Transferir um paciente do hospital para casa, sobretudo nos 
municípios afastados dos grandes centros, dificulta a otimização da eficácia dos 
serviços, sem uma organização que dê apoio efetivo ao paciente e à família em caso 
de câncer (Breen & O'Connor, 2013; Gomes et al., 2013a). 
Na realidade, hoje a medicina se tornou responsável pela redução de algumas 
taxas de mortalidade, com a intervenção da tecnologia, afastando a morte das 
consciências individuais (Gomes et al., 2013). Assim, o objetivo deste estudo é 
 
15 
identificar e estudar as competências dos profissionais necessárias para lidar com os 
processos de morte e morrer, nas diversas fases do ciclo de vida. 
4 O PAPEL DO PSICÓLOGO HOSPITALAR1 
O adoecimento traz em si uma desorganização da vida do paciente, 
provocando várias transformações em sua subjetividade (CHIATTONE, 2011). Essa 
desorganização pode envolver mudanças de hábitos, de identidade 
(despersonalização) e muitas vezes o paciente pode acabar se tornando apenas mais 
um número de CID e de leito (ESTIVALET, 2000). Sendo assim, junto com a equipe 
multidisciplinar surge a figura do psicólogo com o intuito de escutar e acolher o 
sofrimento do indivíduo frente as suas principais dificuldades no que tange essa fase. 
 
 
Fonte: www.iped.com.br 
O objetivo do psicólogo hospitalar é auxiliar o paciente em seu processo de 
adoecimento, visando à minimização do sofrimento provocado pela hospitalização, 
devendo prestar assistência ao paciente, seus familiares e a toda equipe de serviço, 
levando em conta um amplo leque de atuação e a pluralidade das demandas 
(CHIATTONE, 2011). 
 
1 Texto extraído do link: http://www.fundacaojau.edu.br/revista11/artigos/7.pdf 
 
16 
A atuação do profissional da psicologia no contexto hospitalar não se refere 
apenas à atenção direta ao paciente, refere-se também a atenção à família e a equipe 
de saúde, com o objetivo de promover mudanças, atividades curativas e de 
prevenção, além de possibilitar a diminuição do sofrimento que a hospitalização e a 
doença causam no sujeito. Santos; Jacó-Vilela, (2009) apud Gioia-Martins; Rocha 
Júnior (2001) acreditam que o profissional da psicologia inserido no contexto 
hospitalar não tem consciência de quais sejam suas tarefas e seu papel dentro das 
instituições, ao mesmo tempo em que o hospital também tem dúvidas quanto ao que 
esperar desse profissional, desse modo o distanciamento da realidade institucional e 
a inadequação da assistência mascarada por um falso saber pode gerar experiências 
malsucedidas. 
A psicologia hospitalar por ser uma área que lida diretamente com a 
subjetividade e sofrimento do outro exige que o psicólogo entenda os limites de sua 
atuação para não se tornar um dos elementos invasivos provenientes da 
hospitalização, bem como promover a humanização e a transformação social no 
ambiente hospitalar, sem ficar preso nas teorizações que isolam conflitos mais amplos 
(ESTIVALET, 2000). Conjuntamente com o enfoque da humanização e do 
atendimento em saúde, a interdisciplinaridade é uma das bases da tarefa do psicólogo 
que adentra no hospital, pois partindo desse pressuposto o sujeito doente deve ser 
considerado biopsicossocial (TAVARES et al., 2012). 
Contudo, é um desafio para o profissional da psicologia adentrar em um 
contexto onde se predomina o olhar biomédico, onde há limites institucionais regidos 
por regras, condutas e normas, além disso, o trabalho do psicólogo é muitas vezes 
deficiente no contexto hospitalar, pois a ausência de estrutura física impossibilita o 
espaço de cuidado do psicólogo (CHIATTONE, 2011). Ainda é muito presente o 
modelo tradicional de atuação do mesmo nesse contexto, porém, na verdade, mesmo 
que se busquem novas formas de cuidados psicológicos, nos deparamos com 
situações onde o profissional obriga-se a exercer seu trabalho nos corredores e entre 
macas (SEBASTIANI, 2011). 
O estado precário da saúde da população brasileira é um entrave dentro do 
saber psico, pois exige do profissional uma revisão de seus valores pessoais, 
acadêmicos e emocionais. Assim, nessa perspectiva, o contexto hospitalar difere-se 
do contexto de aprendizagem e orientação acadêmica, já que se percebe uma 
realidade precária nas condições de saúde da população que é alvo constante das 
 
17 
injustiças sociais e aspira por um tratamento hospitalar digno (SALMAN; 
PAULASKAS, 2013). 
Diante dessa concepção e das dúvidas que abarcam a psicologia e o papel do 
psicólogo hospitalar, a pesquisa realizada teve como objetivo entender a construção 
do papel do psicólogo hospitalar na atualidade, verificando a construção histórica do 
perfil desse profissional na realidade brasileira e seus possíveis desdobramentos, 
levando em consideração sua atuação na dimensão assistencial e na saúde pública 
atualmente. 
5 A PSICOLOGIA E SUA CONSTRUÇÃO COMO CIÊNCIA 
 
Fonte:ppsychelogos.blogspot.com 
Segundo Soares (2010), por volta do século XIX, historiadores da medicina 
deram uma grande importância e vasta contribuição para o estudo da Psicologia no 
Brasil, onde através de seus doutoramentos, assim chamado os trabalhos de 
conclusão do curso de medicina, foi possível trazer para o homem de cultura grandes 
conclusões interessantes e que contribuíram para esse processo. 
Com tendência a Neuropsiquiatria, a Psicofisiologia e Neurologia, as 
faculdades de medicina, não excluíam a Psicologia de seus estudos, pois havia muita 
relação da mesma com os campos de estudos e suas pesquisas. Em meados do 
século XX, Ivan Petrovitch Pavlov inicia seus estudos pautados nos reflexos 
condicionados, tendo influência muito grande para a psicologia, denominando então 
 
18 
sua teoria de Psicologia Experimental, onde no Brasil Henrique Roxo foi o primeiro 
autor a orientar estudos relacionados ao tema e com bases no estudo de Binet-Simon 
associou a Psicologia Experimental à Psiquiatria e à Neurologia (SOARES,2010). 
Ainda para Soares (2010), com a grande influência benéfica de correntes 
doutrinárias que as faculdades de Medicina da Bahia e do Rio de Janeiro recebiam no 
período, com teses, atividades e ensaios médicos averiguou-se que estes então 
traziam um caráter científico, preciso e rico no interesse psicológico, por estarem 
voltados aos métodos e técnicas da psicologia de maior objetividade e confiabilidade, 
onde diante deste movimento começaram a surgir nos hospitais e clínicas 
psiquiátricas os laboratórios de Psicologia. 
A atuação do psicólogo brasileiro se consolidou primeiramente no âmbito 
privado com o objetivo da prática psicoterápica clínica, assim para Marcon, Luna e 
Lisboa (2002) após a década de 60, a área da saúde pública abriu o espaço para a 
absorção dos profissionais em diversos segmentos, fazendo com que sua atuação 
nos hospitais se tornasse então uma nova área de atuação. Todavia, sabe-se que 
somente em 1962 a profissão de psicólogo foi regulamentada no Brasil e o primeiro 
curso de Psicologia foi implantado na universidade de São Paulo, quando logo mais 
tarde em 1987 a 1ª Conferência de Saúde Mental aprovou a redução progressiva de 
leitos em hospitais psiquiátricos e sua substituição por serviços alternativos à 
internação psiquiátrica, em seguida no ano de 1992 a 2ª Conferência de Saúde Mental 
aprovou a rede de atenção integral à saúde mental, com o objetivo de substituir os 
hospitais psiquiátricos. 
No âmbito de sua atuação, embora já se visualizasse a passagem para um 
modelo de atenção integral, o psicólogo era visto ainda exercendo seu trabalho clínico 
e não um trabalho ligado à saúde ou ao biopsicossocial e que em relação a sua 
formação os psicólogos não a tiveram pautados na área da saúde (MARCON; LUNA; 
LISBOA, 2002). 
 
19 
6 A POLÍTICA DE HUMANIZAÇÃO HOSPITALAR E OS PAPÉIS DOS 
PROFISSIONAIS DE SAÚDE 
 
Fonte:amenteemaravilhosa.com.br 
Segundo Mota; Martins e Véras (2006) no âmbito hospitalar o movimento de 
humanização é voltado para um processo de educação e treinamento dos 
profissionais da saúde para tornar a experiência da hospitalização algo mais 
confortável para o usuário, desmistificando toda aquela dor que a internação trás a 
ele, visa melhorar o atendimento ao usuário e as condições do ambiente de trabalho 
para os profissionais da saúde. 
Partindo desse pressuposto, podemos falar da ética, que é quando alguém se 
preocupa com a consequência de sua conduta sobre o outro, mas para que haja ética 
é preciso mudar o olhar sobre o outro, mudança essa que culmine no respeito a ele 
como ser humano (MOTA; MARTINS; VÉRAS; 2006). Facilmente se presume que o 
psicólogo passou a ser bem visto no contexto hospitalar, nas enfermarias e nos 
ambulatórios quando sua atenção voltou-se para a humanização, fazendo 
compreender a relação dos profissionais da saúde com o paciente e com os familiares. 
Estudos apontam que buscar informações sobre a história do paciente é algo 
indispensável em sua atuação, pois é o psicólogo quem pode oferecer uma escuta, 
uma ajuda psicológica e oferecer a oportunidade de confronto do paciente com sua 
 
20 
angústia e sofrimento na fase da hospitalização, fase esta que gera muitas crises 
(MOTA, MARTINS e VÉRAS, 2006). 
Para Salman; Paulaskas (2013), a humanização tem como aspecto 
fundamental a valorização do indivíduo como um todo, fazendo com que o psicólogo 
tenha como papel a valorização do ser doente do que a patologia do mesmo, 
aprendendo também a ouvir seus familiares em um local próprio e adequado, nos 
deixando claro que para a prática da humanização dar certo é necessário realizar uma 
execução reflexiva acerca dos valores e princípios que norteiam a prática profissional, 
culminando num tratamento digno, solidário e acolhedor por parte dos profissionais 
da saúde ao doente, garantindo que a humanização busque sempre manter ou 
melhorar a qualidade da comunicação, consequentemente a possibilidade de 
relacionamentos mais saudáveis e próximos. 
Um aspecto importante em relação ao papel dos profissionais da psicologia no 
hospital é que este profissional deve estar pautado nos aspectos do adoecer, das 
crenças e das fragilidades dos pacientes e de seus familiares, assim para os autores 
o psicólogo deve promover a diminuição da angústia e da tensão para então mudar a 
impressão que as pessoas têm sobre o hospital, em contrapartida fazendo os usuários 
perceberem o hospital como um lugar que tenta oferecer condições para uma 
manutenção ou recuperação da saúde, ficando claro que a atuação do psicólogo 
hospitalar consiste de uma rápida capacidade de ação emergencial e para a 
construção de uma política qualificada em relação à saúde a humanização deve ser 
vista como uma das dimensões indispensáveis nesse processo, onde tenha função 
de mostrar que além de um programa, sua aplicação tem objetivo de torna-se uma 
política que opere em toda rede dos hospitais brasileiros (MOTA, MARTINS e VÉRAS, 
2006). 
 
21 
7 PACIENTES EM CRISE E O PAPEL DO PSICÓLOGO HOSPITALAR 
 
Fonte: souzamarques.br 
Ao trabalhar com o paciente enfermo, o psicólogo lida com o sofrimento físico 
e psíquico, tendo que compreender o sujeito em sua integralidade, entendendo e 
considerando o conflito determinado pela situação da doença e da hospitalização, o 
sofrimento físico, a dor e o mal-estar, destacando que a necessidade do atendimento 
psicológico muitas vezes não é percebida pelo paciente, pois diante da situação em 
si, todas as preocupações estão voltadas para o corpo doente, fazendo necessário 
então que a atuação preventiva no contexto hospitalar se torne real, com o objetivo 
de oferecer ajuda para que os pacientes possam alcançar o reconhecimento das 
motivações que estão subjacentes a seus problemas, dedicando-se precocemente ao 
diagnóstico de transtornos psicológicos do paciente e seus familiares, em trabalho 
diário com o objetivo de decodificar suas dificuldades. 
Com um perfil mais emergencial e focal, a intervenção pode ser feita pela 
psicoterapia breve ou pela psicoterapia de emergência, dando total apoio e suporte 
ao paciente, considerando o momento de crise vivenciado pelo mesmo na situação 
especial e crítica da doença e sua hospitalização, sendo assim, tanto a psicoterapia 
de emergência como a intervenção em crise são caracterizadas como técnicas breves 
advindas da psicanálise com especificas adaptações no nível estratégico para 
situações de emergência ou crise (CHIATTONE, 2011). 
 
22 
Chiattone (2011) ressalta ainda a importância do olhar do psicólogo em relação 
aos pacientes hospitalizados, devendo levar em consideração alguns aspectos 
importantes nos processos de resolução da crise, sendo eles: os traços de 
personalidade dos pacientes, suas atitudes frente a vida, a maturidade interna e o 
grau de integração psíquica, as crenças que o mesmo possui sobre sua doença, suas 
reações a crises passadas e suas perdas significativas, os sinais psicológicos ou 
físicos de depressão, a presença de reações ou sinais paranóides e por fim a doença 
instalada, onde a psicoterapia emergencial surge como um apoio caracterizando-se 
de um processo de superação dos problemas ligados a situações de natureza 
traumática, onde dependendo do olhar que a pessoa tem sobre a situação permite 
que a mesma possa expressar livremente seus sentimentos em relação ao seu 
estado, sendo indicada a pacientes que passam por sobrecarga emocional muito 
grande, auxilia o paciente a atravessar o período crítico em que se encontra, 
determinado pelo processo da doença e hospitalização, permitindo-lhe buscar a 
elaboração e integração subjetiva dos acontecimentos. 
Considerando que o hospital é uma instituição marcada pela luta constante 
entre a vida e a morte. Um dos princípios significativos da psicologia no contexto 
hospitalar é a atuação conjunta do psicólogo e as equipes de saúde, onde o objetivo 
é maximizarnos pacientes a esperança de melhora, cura e minimização ou suspensão 
do sofrimento em si, já que a maioria das pessoas tem uma imagem negativa 
relacionada ao ambiente hospitalar, marcada por mortes e sofrimentos, sendo um 
local onde excita uma batalha constante diante das condutas terapêuticas. 
Portanto, a atuação do psicólogo requer uma maturidade que passa pelo 
exame detalhado de sua posição diante da morte e do morrer, sendo de suma 
importância o profissional elaborar o medo e a negação em relação a essa 
problemática, diagnosticar em si as dificuldades de enfrentamento e elaboração da 
própria negação da morte para então entender a negação da própria instituição, do 
paciente e dos familiares, sendo que muitas vezes trabalhar com o sofrimento ou 
perda de significado da existência pelo paciente pode despertar nos profissionais as 
mesmas vivências (CHIATTONE, 2011). 
Sendo assim, para Chiattone (2011), a tarefa do psicólogo se define pela 
capacidade de apoio, compreensão e direcionamento humanizado das diferentes 
situações pelas quais passam esses pacientes e seus familiares, e culminar para que 
todo programa terapêutico eficaz e humano deva incluir apoio psicológico para o 
 
23 
enfrentamento de todo o processo de doença e possibilidade de morte, pois o manejo 
de pacientes hospitalizados inclui a adaptação fisiológica e medica e a adaptação 
psicológica e existencial frente a situação traumática em si. Em relação aos pacientes 
e seus familiares, o psicólogo deve estruturar um trabalho de psicoterapia pautado 
num modelo comunicativo, reforçando o trabalho estrutural e de adaptação dos 
pacientes e seus familiares no enfrentamento da problemática vivenciada por ambos, 
direcionado, então, em um nível de apoio, atenção, compreensão, suporte ao 
tratamento, clarificação dos sentimentos, esclarecimentos sobre a doença e o 
fortalecimento dos vínculos pessoais e familiares. 
Em segundo plano, o psicólogo hospitalar pode ainda realizar a formação de 
grupos com o objetivo de informar, culminando num espaço de reflexão e expressão 
dos sentimentos, minimizando o impacto emocional e estresse vivenciados pelos 
mesmos. Em relação às equipes de saúde, o psicólogo hospitalar pode sistematizar a 
realização de grupos operativos, realizando um treinamento e clarificando o papel de 
cada profissional, além de estimular a realização de atividades para a diminuição do 
estresse visto que em profissionais da área da saúde o nível de estresse é elevado 
(CHIATTONE, 2011). 
Para Salman e Paulauskas (2013) apud Cordioli (1998), um dos principais 
desafios da psicologia tem sido fundamentar e desenvolver técnicas de intervenção 
psicológica quem atendam às demandas específicas de pacientes em ambientes 
hospitalares, tendo como objetivo possuir intervenções que levem aos pacientes uma 
melhor aceitação de sua doença bem como o tratamento, onde as intervenções com 
os pacientes em crise constituam na utilização de técnicas para diminuir a ansiedade, 
favorecendo o desenvolvimento de um estado emocional mais tolerável e capaz de 
restaurar a estabilidade afetiva e suas relações com o ambiente. 
O uso do manejo assistencial centrado na equipe, um diagnóstico diferencial, 
um atendimento psicológico de apoio, um manejo ambulatorial, técnicas 
complementares e intervenção familiar são fortemente recomendadas, onde a 
flexibilidade e a criatividade são condições fundamentais para a percepção das 
necessidades que cada paciente apresenta, com isso a construção de um ambiente 
terapêutico apropriado e a centralização do trabalho com o paciente em crise gera o 
melhor manejo das relações humanas no ambiente hospitalar, o que não é tarefa 
somente do psicólogo, mas também dos outros profissionais da área da saúde 
inseridos nesse contexto, já que os mesmos possuem um contato mais próximo e 
 
24 
contínuos com esses pacientes, no caso das enfermeiras, fisioterapeutas, 
nutricionistas e médicos intensivistas. (SALMAN; PAULAUSKAS, 2013). 
Desse modo, para Salman e Paulauskas (2013), o atendimento psicológico ao 
paciente pode ser caracterizado por intervenção focal pautado na psicoterapia breve 
de apoio, consistindo em avaliar sua situação, analisar a maneira de enfrentamento e 
a manifestação do paciente no momento presente, bem como construir opções de 
pensamento e, consequentemente, o comportamento. 
O que é levado em conta e o que se espera do terapeuta é que o mesmo 
possua uma postura ativa no manejo da assistência, com o intuito de permitir 
continência das manifestações, expressando concordância com ideias e atitudes do 
paciente, assim também reforçar as funções adaptativas do ego, reassegurando a boa 
percepção da realidade, além disso, o psicólogo tem como papel favorecer a 
percepção de novas formas de enfrentamento da situação, promovendo o devido 
suporte para o momento de instabilidade emocional, favorecendo o vínculo de 
confiança com a equipe multiprofissional. 
8 O PROCESSO DE LUTO 
 
 Fonte: perdasmorteeluto.wordpress.com 
 
25 
Segundo Kastenbaum e Aisembesrg (1983), a morte sempre existiu, mas nem 
sempre teve representações nítidas em nossas mentes. Portanto, precisamos morrer, 
até porque iremos ajudar a perpetuar a espécie que se nutre da morte de seus 
indivíduos para se preservar. 
 O processo de luto ocorre quando perdemos alguém muito próximo. A maioria 
das pessoas enlutadas é capaz de com o tempo, e com a ajuda da família e amigos, 
de reconciliar-se com sua perda e retomar as suas atividades normais. Para outras, 
no entanto, é indicado ajuda psicoterapêutica. 
Para Worden (1998), é essencial que a pessoa enlutada realize quatro tarefas 
básicas, antes que o processo de luto possa ser completado. Segundo ele, tarefas de 
luto não elaboradas podem prejudicar o crescimento e desenvolvimento futuros. Diz 
que essas tarefas não precisam ser necessariamente seguidas, em ordem específica, 
mas ele sugere a seguinte ordem: 
I – Aceitar a realidade da perda; 
II – Elaborar a dor da perda; 
III – Ajustar-se a um ambiente onde está faltando a pessoa que faleceu; 
IV – Reposicionar, em termos emocionais, a pessoa que faleceu e continuar a 
vida. 
De acordo com Freud (1913, p.65) “o luto tem uma tarefa física que precisa 
cumprir: a sua missão é deslocar os desejos e lembranças da pessoa que faleceu”. 
Assim, como a criança passa por etapas para seu desenvolvimento saudável as 
etapas do luto também precisam ser vivenciadas para que não ocorram traumas ou 
danos futuros. 
A tanatóloga e psiquiatra Kübler-Ross (2004, p.561) em seu trabalho com 
doentes em fase terminal, verificou que na maioria dos casos os mesmos recebiam 
de bom grado a oportunidade de falar abertamente sobre sua condição e sabiam que 
estavam perto de morrerem, embora não recebessem informação sobre esse fato. 
Depois de falar com 500 pacientes terminais, Kübler-Ross (1969-1970) definiu 
cinco estágios durante o processo de reconciliação com a morte, são eles: 
I - Negação (recusa em aceitar a realidade que está acontecendo); 
II - Raiva (as pessoas ficam frustradas e com raiva por estarem doentes e 
podem transferir sua raiva para o pessoal do hospital e para os médicos); 
III - Barganha (os pacientes podem tentar negociar com médicos, os amigos 
ou mesmo com Deus em troca de cura, prometem, fazem doações, frequentam igreja); 
 
26 
IV - Depressão – neste estágio, os pacientes apresentam sintomas clínicos de 
depressão, retraimento, retardo mental, perturbação do sono, desesperança e 
possivelmente ideia de suicídio; 
V - Aceitação – neste último, os pacientes compreendem que a morte é 
inevitável e aceitam a universalidade da experiência. Seus sentimentos variam de 
humor neutro e eufórico, e em circunstâncias ideais, resolvem seus sentimentos para 
com a inevitabilidade da morte e conseguem falar sobre o enfrentamento do 
desconhecido. 
Para Kübler-Ross (1998), nem todas as pessoas passampor estes estágios e 
algumas podem passar por eles em sequência diferente, oscilando entre a raiva e a 
depressão ou podem sentir ambas ao mesmo tempo. 
8.1 Aspectos Psicológicos da Perda 
 
Fonte: www.biancatrevisan.com.br 
A perda de um ente querido é uma experiência muito difícil, pois quaisquer 
tristezas, sejam elas simples ou graves, impactam negativamente o psiquismo do 
indivíduo. As pessoas que fazem parte da nossa vida têm um significado especial, são 
preciosas e por mais que todos nós saibamos que um dia vamos morrer, e que a 
qualquer momento podemos perder alguém querido, não se pode imaginar o 
sofrimento e as consequências que esta perda pode trazer. 
 
27 
Sabe-se que a perda de um ente querido impõe a familiares e amigos a 
aceitação da morte e de sua irreversibilidade. A partir desse momento essas pessoas 
começam uma nova etapa de suas vidas. Consequentemente desfazem os laços que 
os uniam e reorganizam suas vidas para aprender a viver sem aquele que partiu. 
Acontecem várias mudanças tanto psicológicas quanto espirituais e alterações 
na rotina das pessoas para sempre. De acordo com Pitta (1999) algumas 
características dos aspectos psicológicos são: 
 
 Insensibilidade e descrença: a pessoa se conforma com o que aconteceu, 
mas nada sente, é normal esse sentimento durar horas ou dias. A pessoa 
enlutada diz "eu não posso acreditar.", mostrando que a verdade dolorosa 
ainda não foi aceita. 
 A procura: muitas vezes a pessoa tenta encontrar com aquela que morreu 
indo ao cemitério, perambulando pelos cômodos da casa e outros lugares. 
 Raiva: algumas pessoas tentam responsabilizar alguém pela morte. Muitas 
vezes dirigem essa culpa aos profissionais da área da saúde, outras ficam 
furiosas com Deus e há a negação da fé. 
 Culpa: a pessoa se sente culpada pela morte do ente querido 
 A ansiedade: a pessoa fica inquieta, pois sua rotina foi quebrada. 
 Lamentação: quando a perda foi reconhecida, começa o período de 
lamentação. 
 Sensações corporais: é normal ouvir a voz, os passos, ver o rosto da pessoa 
no meio da multidão. 
 Atitudes e maneiras do falecido: a pessoa enlutada assume alguns papeis 
do falecido, negócios, trabalhos inacabados, etc. 
 Depressão e desespero: a pessoa se sente desamparada sem nenhum 
objetivo de vida, nada mais lhe importa. 
 
Depois das características demonstradas pode-se perceber que cada pessoa 
reage de maneira diferente diante da situação da morte de um ente querido. Apesar 
de a morte ser o que temos de mais concreto em nossas vidas, Zimermam (2000, 
p.117) enfatiza que junto com a perda da pessoa existe o final de uma fase da vida: 
 
28 
As perdas são parte da vida: quando morre a mãe, morre também parte da 
nossa infância e adolescência; quando morre um filho, morre em nós o futuro 
previsto junto àquele filho, o sonho de vê-lo um profissional, pai de nossos 
netos, a pessoa que nos acompanharia até o fim de nossa vida. 
As perdas são necessárias porque para crescer temos de perder, não só pela 
morte, mas também por abandono, pela desistência. Em qualquer idade, perder é 
difícil e doloroso, mas só através das perdas os seres humanos tornam-se plenamente 
desenvolvidos. Cabe salientar que as perdas incluem não apenas separações e 
abandonos, mas também a perda consciente ou inconsciente, de sonhos românticos, 
ilusões de segurança, expectativas irreais e outras. As perdas que enfrentadas ao 
longo da vida e das quais não se foge são basicamente duas: - Que o amor de nossos 
pais não é só nosso. - Que nossos pais vão nos deixar, e que nós vamos deixá-los. 
Vale ressaltar que para o processo de recuperação ser facilitado é 
indispensável a ajuda e amizade de outras pessoas que já tenham passado por essa 
experiência. Os sentimentos de ansiedade e insegurança desaparecem aos poucos, 
dando lugar à confiança. Depois que a tristeza passa a pessoa descobre que pode 
retornar às suas atividades e outros interesses. 
8.2 O Morrer: processo do luto antecipatório 
 
Fonte: www.emotioncard.com.br 
O termo “Luto Antecipatório” foi utilizado, pela primeira vez, por Lindemann, 
por meio da sua observação de esposas de soldados que iam para a 
guerra. Posteriormente, esta denominação foi utilizada para pessoas que recebem o 
 
29 
diagnóstico de doenças terminais e o envolvimento da família nesta perda. Seja 
prolongada ou repentina, quando em decorrência de doenças prolongadas, esta é 
considerada estressante para as famílias e desencadeia um mecanismo de 
enfrentamento diferente. 
Quando uma pessoa morre inesperadamente, os membros das famílias 
carecem de tempo para antecipar e prepararem-se para a perda, para lidar 
com assuntos inconclusos ou, em muitos casos, até para dizer adeus. Quando o 
processo de morrer é prolongado, os recursos financeiros e a prestação de cuidados 
da família podem-se esgotar, e as necessidades de outros membros são colocadas 
suspensas. 
O alivio com o fim do sofrimento do paciente e da tensão familiar costuma vir 
carregado de culpa e cada vez mais as famílias estão no penoso dilema: em manter 
ou não o prolongamento, a manutenção da vida. Por se tratar de pacientes crônicos 
com doenças terminais, sem recursos para cura e à mercê de dores crônicas, 
perdem a esperança de uma possível recuperação. 
O luto antecipatório pode ser entendido, analisado e experimentado por 
quatro perspectivas distintas, sendo cada uma pertinente a cada pessoa que o 
experimenta: 
1. Perspectiva do paciente: sendo ele a figura central do 
drama, desempenha o papel do doente e do enlutado; 
2. Perspectiva dos familiares: refere-se à rede social com quem o 
paciente tem intimidade; 
3. Perspectiva de outras pessoas: as pessoas que tem algum tipo 
de relação, porém pouco interesse e vínculo com o paciente enlutado; 
4. Perspectiva do cuidador: para este, o luto pode variar 
consideravelmente, de acordo com o nível de e significado do 
relacionamento dele com o paciente. 
No luto antecipatório há três focos temporais envolvidos: o passado, presente 
e futuro. Para o paciente nesta situação, o sofrimento de perdas vivenciadas no 
passado pode retornar, e para o familiar, além de lidar com a conscientização da perda 
no presente, irá ter de lidar com as perdas futuras diante da falta do ente querido 
em ocasiões especiais e memoráveis. 
 
30 
Segundo Freud, (1999 apud Torres) “A vida, por, mais breve que seja, 
merecerá sempre ser vivida em toda sua plenitude. Nem a morte consegue ofuscar a 
validade de seus belos e inesquecíveis momentos. ” 
Como os membros de uma sociedade negadora da morte, carecemos de 
recursos para acompanhar esse estágio final da vida, sobretudo quando é uma 
criança que está morrendo. A morte de uma criança é um insulto, é traumática e 
suscita culpa. Não obstante, ”a morte não segue um horário previsível, ela escolhe 
seu próprio tempo e lugar” (KÜBLER-ROSS, s/d). 
No câncer, a título de exemplo, quando de longa duração e sem perspectiva de 
cura, configura-se a fase terminal. Assim, não havendo mais recursos para deter o 
curso da doença e da morte, duelar com a doença somente traria mais sofrimento 
para o paciente e aqueles que o cercam. Neste caso, afirma Perina (1994), com o 
diagnóstico do câncer se conhece o mundo das doenças e com as recaídas, a 
incerteza do futuro e a possibilidade de ficar para sempre aprisionado no mundo 
subterrâneo da morte. 
Feigemberg (1980) diz ser significativo o fato de a terminologia psiquiátrica e 
psicológica ter poucas palavras descritas para variedades de emoções e modos de 
reação ao morrer. A morte, na visão do autor, não é uma doença e não pode ser 
descrita somente em termos médicos e biológicos. Afirma ainda que, por tradição 
prevalece o lado biológico do morrer e da morte, e este é usualmente o ponto de 
referência. Mas o morrer tem um aspecto psicológico que é dominante, pois enquanto 
o componente biológico se torna cada vez maisuniforme – caracterizado por sintomas 
inespecíficos tais como fadiga e dor -, o componente psicológico se torna cada vez 
mais dinâmico e repleto de experiências emocionais. 
O luto, como já se analisou, passa por um curso que vai de um choque inicial 
passando pelo desespero para chegar à recuperação e restituição, e pode se 
manifestar por diversos sintomas tais como choro, perturbações somáticas, 
perturbações do sono, reações hostis, culpa e depressão. Além disso, em todo o luto 
há inevitavelmente tristeza e raiva. A família está triste porque está perdendo uma 
relação significativa e, de certa forma, está morrendo junto com a pessoa querida. 
 
Sugestões de intervenções psicológicas na elaboração do luto: 
 
 
31 
 Identificar o conflito como foco; 
 Identificar em que estado se encontra a pessoa enlutada; 
 Pensar em estratégias de mudanças; 
 Encorajar o paciente a dividir sua experiência de perda com outras 
pessoas; 
 Desenvolver habilidades para novos relacionamentos no âmbito social; 
 
As Reações Psicossomáticas 
 
 
Fonte:zenklub.com.br 
O pesar nunca é limitado pela psique. Há também uma morbidez enorme 
originária das condições relacionadas com a tensão. Os ataques de colite ulcerativa, 
por exemplo, podem coincidir ou estar intimamente ligados com a perda do ente 
querido. De forma igual aumentam outras patologias de caráter autoimune nas 
pessoas recentemente enlutadas. 
Como se sabe, são características aqui as hipocondrias. Quando passageiras, 
fazem parte do pesar típico; mas se persistentes, indicam a necessidade de uma ajuda 
maior. Quando um paciente é deixado sozinho para educar uma jovem família, uma 
preocupação muito grande com sua saúde é uma consequência da ansiedade em que 
viverá sobre quem assumiria as tarefas se ele ou ela adoecessem. Sentir os sintomas 
da moléstia do falecido é um fenômeno de identificação, observado, sobretudo, no 
pesar crônico, ou um substituto parcial do pesar. 
 
32 
Não é de causar surpresa, em alguns casos, que a depressão associada ao 
pesar típico atinja formas mais graves. Nesses casos, pode-se chegar ao risco de 
suicídio. As ideias suicidas, muitas vezes, são uma manifestação do desejo de unir-
se ao falecido e isto pode ser tolerado e elaborado com ajuda. Para outros pacientes, 
a vida realmente parece não valer à pena, ou aparecem ideias delirantes de culpa ou 
de malvadez. Isso deve ser levado a sério e a internação hospitalar de faz necessária, 
especialmente se o paciente vive sozinho. 
A dor da perda, quando normal, pode ser assistida por amigos e familiares do 
enlutado, com a assistência necessária durante os funerais e, talvez por algumas 
semanas mais. Quando esta perda se configura em patologia, precisa de tratamento. 
As pessoas em isolamento social têm a possibilidade de um processo de pesar mais 
complicado, portanto necessitam de uma ajuda maior e mais prolongada. 
8.3 Os Profissionais Diante da Morte 
A maior parte dos profissionais da área da saúde, na sua lide cotidiana, está 
exposta à visão de morte mais que o restante da população, o que não os deve impedir 
de se preocupar e refletir sobre ela. 
De acordo com Pincus (1989), a morte é um acontecimento importante e 
deveria ser dado a estes profissionais o mesmo tempo de pesar que às outras 
pessoas, o que nem sempre acontece. Ao enfrentarem uma morte após outra, os 
profissionais da saúde podem imergir em um quadro de tristeza que pode levá-los ao 
estresse, provocando ora cansaço, ora atividade exagerada, cursando irritabilidade 
com outros problemas, o que eventualmente prejudicará sua eficiência no trabalho, 
podendo interferir na sua vida pessoal e familiar. 
De acordo com Alves criou-se um mito nos dias atuais de que o bom 
profissional não pode demonstrar seus sentimentos, medos e angustias em relação 
aos seus pacientes. Diante de tal postura fria e metodicamente técnica e profissional, 
não há espaço para expressar o seu real sentimento. 
Segundo Baggio, os mecanismos de defesa utilizados pelos profissionais de 
saúde fazem com que eles deixem de perceber a dor do outro, ou seja, deixem de 
perceber as limitações e angústias dos pacientes, o que acaba comprometendo a 
prestação de assistência. O convívio com a dor e a perda traz ao profissional a 
 
33 
vivência de seus processos internos, trazendo à tona a sua fragilidade, medos e 
vulnerabilidade. 
De acordo com Gambatto et al. os profissionais da saúde têm a tendência de 
adotar muitas vezes, inconscientemente mecanismos de defesa, como: negação da 
situação, distanciamento, manutenções de relações superficiais com os doentes, 
instituição de rotinas e protocolos, argumentando falta de tempo e de disponibilidade 
para ouvir e estar junto dos doentes. 
Neste contexto o psicólogo hospitalar pode ajudar a conter os sentimentos da 
equipe que lida com a morte, promovendo “encontros de equipe” (staff meetings), 
onde há espaço para os profissionais poderem falar e trocar suas experiências. 
Segundo Costa et al. o psicólogo tem por objetivo estimular a equipe a perceber 
e falar sobre suas dificuldades, facilitando assim uma melhor elaboração de seus 
medos e angustias, permitindo que a equipe de saúde tenha uma expressão livre de 
seus sentimentos. O Psicólogo Hospitalar pode trabalhar com espaços de diálogos 
em que o profissional da saúde possa refletir sobre suas próprias emoções e 
sentimentos proporcionando uma relação mais humana entre profissional de saúde e 
paciente, onde este possa enxergá-lo como “pessoa” e não apenas como “doença”. 
Ainda há a possibilidade de se trabalhar com os grupos Balint onde os 
participantes podem relatar casos clínicos sem recorrer a nenhuma anotação, em 
associação livre de palavras. 
Vale ressaltar que os profissionais da saúde não são preparados para lidar com 
a morte, uma falha que vem desde a sua formação, onde não são ministradas aulas 
a respeito desta temática, o que acaba colocando no mercado de trabalho, 
profissionais preparados apenas tecnicamente e despreparados psiquicamente. 
Em algumas de suas obras Kübler Ross e Kovács, apontam a importância de 
ser incluída nos currículos dos cursos de saúde a temática sobre a morte e a 
humanização dos atendimentos ao paciente terminal, fazendo com que os 
profissionais possuam uma preparação especial e não saibam apenas sobre questões 
cientificas, mas que possam enxergar todos os pacientes de forma igual, tratando-os 
com respeito e dignidade. 
Aliviar o sofrimento ou ajudar uma pessoa a morrer é um dos ofícios mais 
difíceis para o profissional de saúde. Não poder curar não significa fracasso, mas sim 
um reconhecimento dos próprios limites da técnica. 
 
34 
É necessário investir em uma formação continuada, em criação de grupos de 
apoio aos profissionais da saúde para favorecer as despedidas, prepará-los para o 
processo de separação, comunicação e suporte, estimulando assim os participantes 
a falar sobre os problemas, as dificuldades e angústias que surgem no cuidado de 
clientes terminais, suas famílias e seus sentimentos. 
 
 
35 
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