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1 SUMÁRIO 1 A HUMANIZAÇÃO NO PROCESSO DE MORTE ................................. 2 1.1 Concisões sobre o morrer .............................................................................. 6 2 PACIENTE NO PROCESSO DE MORTE/MORRER .......................... 10 3 A relevância de entender o processo da morte e do morrer e as competências profissionais ........................................................................ 12 4 O PAPEL DO PSICÓLOGO HOSPITALAR ........................................ 15 5 A psicologia e sua construção como ciência ....................................... 17 6 A política de humanização hospitalar e os papéis dos profissionais de saúde 19 Fonte:amenteemaravilhosa.com.br ........................................................................ 19 7 PACIENTES EM CRISE E O PAPEL DO PSICÓLOGO HOSPITALAR21 8 O PROCESSO DE LUTO .................................................................... 24 8.1 Aspectos Psicológicos da Perda .................................................................. 26 8.2 O Morrer: processo do luto antecipatório ..................................................... 28 8.3 Os Profissionais Diante da Morte ................................................................. 32 BIBLIOGRAFIA .......................................................................................... 35 2 1 A HUMANIZAÇÃO NO PROCESSO DE MORTE Fonte: experienciasdeumtecnicodeenfermagem.com O fim da existência é algo pouco aceito para a sociedade, um assunto pouco abordado, embora muito presente no cotidiano das instituições hospitalares, em especial no âmbito das unidades de terapia intensiva (UTI), por se tratar de um ambiente projetado para lidar com pacientes em estado crítico. Em função disso, discussões têm acontecido sobre esse processo de morte/morrer e até que ponto tem sido praticado o cuidado humanizado em meio aos cuidados paliativos. Nesse sentido Ruiz (2008) aponta que apesar da Política Nacional de Humanização (PNH) oferecer processos que visem à construção de serviços humanizados, ela não aborda a assistência humanizada em meio ao processo de morte, fazendo-se necessária uma reflexão sobre cuidado prestado durante esse processo, pois exige também uma assistência humanizada. Assim sendo, uma nova temática tem sido levantada no que se refere à questão da humanização é a assistência prestada ao paciente em fase terminal, pois tem sido discutido como fazer acolhimento de forma humanizada no processo de morte em meios aos espaços de saúde. O cuidado paliativo que segundo Silva e Hortale (2006) é reconhecido como toda abordagem que visa melhora da qualidade de vida dos indivíduos e familiares na presença de doenças terminais. Embora ocorra, a humanização nem sempre está envolvida nesse processo, Santana et al. (2009) apontam que é fundamental unir os cuidados paliativos a uma proposta de ação mais humanizada, não como obrigação, mas sim como um ato de respeito e de solidariedade. Sob a ótica da Política Nacional de Humanização (PNH) “Humanizar é, 3 então, ofertar atendimento de qualidade articulando os avanços tecnológicos com acolhimento, com melhoria dos ambientes de cuidado e das condições de trabalho dos profissionais” (Brasil, 2004). No entanto, ao refletir sobre esse conceito na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), é notório que essa prática nem sempre é constante, visto que a UTI conforme apontado por Salicio e Gaiva (2006, p. 371) é: Uma unidade preparada para atender pacientes graves ou potencialmente graves, apesar de contar com assistência médica e de enfermagem especializadas e contínuas e dispor de equipamentos diferenciados, expõe o paciente a um ambiente hostil, com exposição intensa a estímulos dolorosos, onde a luz contínua, bem como procedimentos clínicos invasivos são constante em sua rotina de cuidados. Diante do exposto anteriormente, a questão a ser respondida é a possibilidade de assistência humanizada ao paciente em fase terminal, visando o atendimento individualizado em todo o processo de perda. Diante do apresentado, cabe ressaltar que a maioria dos profissionais de saúde que trabalham com pacientes terminais enfrentam desafios para tentar promover uma assistência de qualidade, sem se esquecer do lado humano do cuidar (SANTANA et al., 2009). Ao consultar a definição de Humanização no Dicionário, obtém-se o seguinte conceito “Humanização é o ato ou efeito de humanizar-se, de tornar-se benévolo ou mais sociável” (HOUAISS, 2009, p. 1037). Aplicando esse conceito na área da saúde a humanização remete a um conjunto de iniciativas que visam à produção de cuidados em saúde, que englobam desde a melhor tecnologia disponível, a promoção de acolhimento, respeito aos valores e culturas do paciente, ambiente de trabalho favorável, bom exercício técnico até a satisfação dos profissionais de saúde e os usuários. Segundo Ferreira (2000) humanizar significa tornar humano, dar condição humana, tornar afável e tratável. A humanização da assistência requer conscientização e preparo da equipe para um cuidado diferenciado, entendendo o paciente como um ser humano. Alguns estudos na área da medicina intensivista apontam para a necessidade de mudar o enfoque predominantemente tecnicista, paciente-doença, para uma abordagem mais humana, que engloba o paciente de forma holística, ou seja, percebendo-o como um ser inserido num contexto, e que necessita ser atendido nos aspectos físicos, psicológicos, sociais e espirituais. A medicina paliativa vem sendo 4 destacada nas literaturas, em geral na área de oncologia, entretanto tem ganhado destaque também nas literaturas pertinentes ao intensivismo. (GARROS, 2003). Fonte: www.jexpoente.com.br “A medicina paliativa se desenvolveu como uma reação à medicina moderna altamente tecnicista que prioriza a cura, em vez do cuidado”. (PESSINI, 2006). A filosofia dos cuidados paliativos: a) afirma a vida e encara o morrer como um processo normal; b) não apressa nem adia a morte; c) procura aliviar a dor e outros sintomas angustiantes; d) integra os aspectos psicológicos e espirituais nos cuidados com o paciente; e) oferece um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver ativamente o máximo possível até a morte; f) oferece um sistema de apoio para ajudar a família a lidar com a doença do paciente e seu próprio luto. (PESSINI, 2003 apud PESSINI, 2006) Essa nova perspectiva constitui desafio para os profissionais de saúde visto que, o paciente no processo de morte deixa de ser aquele por quem nada se pode fazer e passa a ser considerado como aquele que não responde mais as medidas terapêuticas de cura. Desta forma, sob a filosofia dos cuidados paliativos, temos muito que fazer para proporcionar uma morte mais digna, decente ou aceitável para um ser humano. A humanização do morrer apoia a concepção de que a morte não é um inimigo a ser combatido, ela faz parte do ciclo vital e do adoecer. A proposta dos cuidados paliativos é permitir que a pessoa viva intensamente seus dias finais de vida com controle da dor, e sendo assistido de forma holística. Partindo da ideia de que “mais vale acrescentar vida ao tempo do que tempo à vida”. 5 O Programa Nacional de Humanização Hospitalar - PNHAH, foi instituído pelo Ministério da Saúde, através da portaria nº. 881, de 19 /06/ 2001, no âmbito do Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2002). O PNHAH faz parte de um processo de discussão e implementação de projetos de humanização do atendimento à saúde e de melhoria da qualidade do vínculo estabelecido entre trabalhador da saúde, pacientes e familiares. A família, enquanto extensão do paciente deverá ser incluída no processo de cuidado deste, porém, não como auxiliar ao nosso trabalho, mas como indivíduos a serem cuidados também pela enfermagem. Essa deverá oferecer o suporte necessário, esclareceras dúvidas, atender e acolher prontamente e de maneira empática esse suporte primário do paciente, conquistando assim sua confiança. A inclusão da família no processo de cuidado em Unidade de terapia Intensiva (UTI) é indispensável para podermos atender o paciente de forma holística. Humanizar significa a possibilidade de assumir uma posição ética de respeito com o outro, acolher o desconhecido e reconhecer os limites. A humanização requer uma interação harmoniosa entre o cuidado técnico e científico. Requer também compromisso ético de todos os profissionais envolvidos na assistência, desde os atendentes da recepção até a equipe envolvida diretamente com a assistência do paciente e família. O processo do cuidado de enfermagem por si só constitui um ato humanizado, visto que os objetivos do cuidar envolvem aliviar, confortar, ajudar, favorecer, promover, entre outros. (MORAES; GARDA; FONSECA, 2004). Segundo esses autores: Humanizar de acordo com os valores éticos consiste fundamentalmente, em tornar uma prática bela, por mais que ela lide com o que tem de mais degradante, doloroso e triste na natureza humana, o sofrimento, a deterioração e a morte. Refere-se, portanto, a possibilidade de assumir uma posição ética de respeito ao outro e de reconhecimento dos limites. O ponto chave do trabalho de humanização está no fortalecimento desta posição ética de articulação do cuidado técnico cientifico, já construído, conhecido e dominado, ao cuidado que incorpora a necessidade, a exploração e o acolhimento do imprevisível, do incontrolável, ao indiferente e singular. Minayo (2004) considera que ao se propor um cuidado humanizado deve-se repensar a formação profissional na área de saúde. Para esse autor, apesar das propostas de mudanças de modelo de atenção da saúde, que prega a integralidade e a humanização da assistência e da crise da ciência racionalista, predomina ainda o aprendizado técnico, racional e individualizado, empregado muitas vezes” sem o 6 exercício da crítica, criatividade e sensibilidade”. Refletindo, portanto, no despreparo dos profissionais em proporcionar um cuidado humanizado cada vez mais exigido nos serviços que utilizam alta tecnologia como as Unidades de Terapia Intensiva. Fonte:pebmed.com.br Felizmente, percebemos uma série de estudos relacionados à necessidade de humanização desses serviços, por força do efeito negativo do ambiente sobre pacientes, família e equipe multiprofissional. Os estudos mostram também que os profissionais de saúde têm consciência de que humanização é uma palavra aparentemente fácil de entender, porém, no dia-a-dia não é tão fácil praticá-la. 1.1 Concisões sobre o morrer A compreensão sobre a morte influencia na qualidade de vida da pessoa e na forma como ela interage no seu dia-a-dia com o processo de morte e morrer. Ao pesquisar sobre a definição das palavras morte e morrer no dicionário de língua portuguesa fica-se impressionado com a quantidade de sinônimos atribuídos a elas. Morte significa: cessação da vida, fim. Já a palavra morrer significa: ”perder a vida; falecer, finar-se, fenecer, expirar, desaparecer, descansar, desencarnar, ir, perecer, sucumbir, espichar, esticar; estinguir-se, acabar (-se).” (FERREIRA, 2000). Já no dicionário médico traz as seguintes considerações: 7 1-Cessação total e irreversível da função cerebral, função espontânea dos sistemas respiratório e circulatório. 2 - A cessação final e irreversível dos batimentos cardíacos e respirações perceptíveis. [...] o principal sinal de morte é a cessação da ação do coração. Outras indicações são: ausência de reflexos, cessação da atividade elétrica do cérebro, determinada pelo eletro encefalograma (EEC), manifestação de rigor mortis e uma descoloração mosqueada no corpo. (THOMAS, 2000) Como podemos observar, existem várias denominações para substituir a palavra morte, talvez o objetivo real seja “suavizar” a sua pronúncia tornando-a menos temível. A Tanatologia é a ciência que estuda a morte. Segundo este saber, o homem é o único ser sobre a terra que tem consciência da sua finitude, o único, a ter consciência de que sua passagem neste mundo é transitória e deve terminar um dia. Apesar dessa certeza o homem foi impelido a evitar a convivência com a morte no decorrer da história. De forma sintética, seguem as diferentes interpretações da morte segundo algumas das grandes correntes religiosas: Para os judeus e cristãos, que acreditava na ressurreição após a morte, esta seria o acesso para outra dimensão da vida que poderia ser no inferno ou no paraíso, conforme os seus feitos terrenos a partir da observância dos mandamentos de Deus. De acordo com Pessini (1999) apud Gutierrez (2003) “o catolicismo prega que os esforços para manter a vida física podem ser encerrados, caso a continuação da vida biológica, ao invés de promover a integração da vida espiritual e moral do indivíduo, torne-se vã”. O budismo não encara a morte como o fim da vida, mas sim como uma transição, defendendo o direito do indivíduo de determinar o momento em que deseja passar desta existência para a seguinte. Enfatiza que o importante no momento da morte é que a mente permaneça em paz e harmonia consigo mesmo. No islamismo a concepção de vida é sagrada, a morte é interpretada como a conclusão de uma vida e o começo de outra. Apesar das diferentes interpretações das diversas correntes religiosas, há consenso de que o apoio espiritual constitui elemento valioso dado ao paciente no processo de morrer. A morte é parte integrante do processo de desenvolvimento humano e está presente no cotidiano diário de nossas vidas. A forma de percepção, significação e comportamento do processo de morte e morrer variam conforme o contexto sociocultural e histórico e vem sofrendo alterações através das diferentes civilizações até os dias atuais. 8 Os antigos egípcios sepultavam seus mortos juntamente com as roupas e os alimentos, para que continuassem felizes, e da mesma forma os antigos índios americanos, que enterravam seus parentes com tudo o que lhes pertencia. Esses falavam dos espíritos do mal e atiravam flechas ao ar para afugentá-los. Os hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura, que não podia ser tocada. (KÜBLER-ROSS, 2008) Os antigos hindus incineravam seus mortos e suas cinzas eram lançadas ao vento, ou nas águas dos rios, sendo o morto despojado de todos os seus traços de identidade. Fonte: espacoespiritual.wordpress.com Para os antigos gregos, a incineração determinava dois tipos de mortos: o cadáver do homem comum e o cadáver dos grandes heróis. Ao anônimo cabia o crematório coletivo e o depósito de suas cinzas em vala comum. Os corpos falecidos dos heróis eram cremados na cerimônia da bela morte, onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos. A própria morte seria a prova de sua virtude, tornando- o um indivíduo cuja vida é digna de ser lembrada. Os primeiros cemitérios surgiram a partir do século V e eram localizados junto às igrejas cristãs. Esses cemitérios faziam parte do cenário de vida das pessoas, tinham papel de praça pública, eram lugares de julgamentos, das execuções e dos encontros amorosos. https://espacoespiritual.wordpress.com/ 9 Na Idade Média a morte era entendida com naturalidade, fazendo parte do ambiente doméstico. O ritual da morte envolvia tanto a pessoa que ia morrer como os seus parentes e amigos. Naquela época os nobres eram enterrados no interior das igrejas, enquanto os pobres erram colocados em covas coletivas. Tanto a família como os amigos do morto manifestavam o processo do luto através do uso de roupas pretas e da não participação na vida social até que não acontecesse a elaboração do óbito. As pessoas que sabiam que iam morrer protagonizavam todo o ritual, despedindo-se dos entes queridos, fazendo o testamento, buscandose reconciliar com as pessoas e superar as mágoas. A comunidade participava ativamente de todo esse processo. (AGRA; ALBUQUERQUE, 2008). Gutierrez (2003), tomando como referencial o estudo de Pessini (1999), fez uma breve abordagem sobre o processo de morte e morrer a partir da idade média até a década de 70 do século XX. Durante os séculos XI e XII iniciaram-se mudanças sutis na maneira tradicional de o homem atuar diante da morte; No período entre os séculos XII a XV houve uma maior conscientização do homem em relação á sua própria morte; Já no século XVI, a morte distanciou-se das situações mais corriqueiras e passou a representar uma separação inaceitável, iniciando um processo de visualização da morte do outro, que passou a ser dramática e mais complexa; No final do século XVIII surgiram duas mudanças em relação à morte: A benevolência com a ideia da morte e a relação entre moribundo e seus familiares. O termo benevolência significa boa vontade para com todos. Na primeira metade do século XIX a morte era um fenômeno bastante presente e encarado como fato social e público, em que parentes e amigos, vizinhos e até mesmo crianças permaneciam no quarto do moribundo. Nessa época os ritos que acompanhavam a morte eram realizados com tranquilidade e aceitação; No decorrer dos anos a atitude do homem em relação à morte sofreu modificações e ela tornou-se drasticamente escondida e ameaçadora. Poupa- se o moribundo de saber sobre suas reais condições de saúde. A verdade é 10 negada com o intuito de privar o doente do sofrimento. A extrema unção, que era oferecida ao moribundo, em meados do século XX passou a ser dada somente após sua morte; A partir da segunda metade do século XX, a morte foi transferida para os hospitais e passou a ser vista como um fenômeno técnico, às vezes adiada ou antecipada, a depender dos interesses dos que tentavam domina-la. O Médico transformou-se em herói na luta contra a morte; Atualmente, os avanços tecnológicos e científicos tornaram a morte um evento institucionalizado. É cada vez mais comum as pessoas morrerem no hospital. O doente perde o direito de opinar sobre sua morte, o médico tornou- se personagem principal e a família passou a sentir-se protegida por não ter que presenciar a morte de um ente querido. Nesse contexto a morte passa a ocorrer em cenário composto por fios, máquinas, aparelhos e pessoas estranhas, geralmente equipe médica e de enfermagem. 2 PACIENTE NO PROCESSO DE MORTE/MORRER Fonte: emais.estadao.com.br O trabalho com paciente no processo de morte e do morrer requer certa maturidade, adquirida com o tempo, e exame consciente da nossa posição diante 11 desse contexto. O doente moribundo possue necessidades muito especiais que podem ser atendidas, se tivermos tempo para nos sentar, ouvir e descobrir quais são. Segundo Pessini (2006) o fator humano jamais será dispensável, ou substituído pela tecnologia de ponta – como as que encontramos hoje nas nossas UTIs – Pois este passa “ pela comunicação humanizadora que ouve, acolhe e respeita o outro como ser humano nas suas verdades, nos seus valores fundamentais e nas suas opções de vida”. Para aprendermos a lidar com a morte podemos analisar a obra de KüblerRoss (2008) onde descreve os estágios que o ser humano passa quando está em fase terminal, a saber: Primeiro estágio: negação e isolamento – ocorre uma reação de descrédito do doente quanto à gravidade da doença e à possibilidade da morte. Normalmente ocorre a seguinte frase: “não, não é verdade, isso não pode acontecer comigo”. Sabe-se que é saudável que algum grau de negação ocorra, posto que é difícil lidar com a morte o tempo todo. Segundo estágio: a raiva - manifestação de raiva, ódio, ressentimento, inveja. O paciente projeta esses sentimentos para aqueles de maior proximidade (família ou equipe). É preciso, pois, que não levemos a expressão do ódio e da raiva para o lado pessoal. Nesse estágio surge a pergunta: “por que eu?”. Terceiro estágio: barganha – a pessoa aceita a morte, mas propõe alguma coisa de volta, exemplo: pede para viver até a formatura do filho. É o estágio mais indicado para cuidar de assuntos práticos como o testamento. Quarto estágio: depressão – Expressão de sentimento de tristeza, a princípio. São dois tipos de depressão: a reagente, pela perda do emprego, da capacidade do autocuidado, etc.; e a preparatória, pela perda da família e da vida. Quinto estágio: aceitação – o doente se mostra calado, em paz, sem manifestar depressão, nem raiva. É o momento para contemplar o fim que se aproxima com certo grau de ansiedade silenciosa. É comum dormir mais nessa fase, mas não como fuga, e sim como um repouso antes da grande viagem. Suas preocupações já não dizem respeito ao mundo exterior. Essa atitude pode ser confundida como rejeição pelas pessoas da família e pelos profissionais. 12 É importante que os profissionais identifiquem quando se trata de uma desistência precoce de lutar contra a doença e a morte e quando se trata da chegada ao fim em paz. Esses cinco estágios nem sempre acontecem em sequência, pois podem se sobrepor um ao outro. É natural que toda pessoa a beira da morte reconheça algum dos sinais de que algo não transcorre normalmente, e desenvolva esses estágios, ou parte deles. Precisamos adquirir habilidade e preparação psicológica para identificar as reações apresentadas pelo doente nesses estágios e, assim, podermos ajudá-los a enfrentar a situações de morte iminente. 3 A RELEVÂNCIA DE ENTENDER O PROCESSO DA MORTE E DO MORRER E AS COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS A morte nos mostra que há algo que não se pode vencer. Não surpreende constatar que os profissionais que lidam com os processos de morte e morrer em pacientes moribundos experimentem ansiedade, fracasso e impotência, culpa e frustração, associadas aos sentimentos de impotência e tristeza. Santos e colaboradores (2013) mencionaram que "... o médico se torna o ator social no qual se deposita a função de deter a morte" (p. 2626) e que a formação acadêmica em saúde costuma ser voltada para um modelo estritamente biomédico, sem abranger os aspectos psicossociais da profissão. Essa lacuna nos cursos de medicina, enfermagem, psicologia e em outros da área da saúde faz com que os estudantes, futuros profissionais, tenham um preparo insuficiente para lidar com a experiência humana de morte, pois esta não se restringe à perda dos sinais vitais (Brasil, 2013; Fundação do Desenvolvimento Administrativo [Fundap], 2010). As repercussões da ausência da temática do processo de morrer e da morte na formação desses profissionais foram abordadas em diferentes publicações nos últimos anos e explicitam diversas consequências negativas, como sofrimento psíquico, depressão, estresse, angústia, síndrome de burnout, entre outros. Quando o psicólogo ou profissional da saúde é capacitado adequadamente, há um preparo maior para lidar com situações de morte, como, por exemplo, nas grandes catástrofes em que ocorrem óbitos, podendo realizar acompanhamento aos familiares no reconhecimento de cadáveres. Um dos objetivos é auxiliar como suporte emocional 13 aos familiares e no processo de luto. O profissional com melhores condições de compreender e apoiar as famílias na dor permite-lhes o sentimento de amparo, bem como proporciona a validação dos sentimentos e emoções do enlutado (Ramírez, 2011; Reverte, García, Penas, & Barahona, 2014). Fonte: humanizaamapa.blogspot.com Por que então esse preparo é tão escasso? Pode haver várias razões, como as do tipo histórico-culturais (Incontri & Santos, 2011), mas a principal parece relacionar-se com a educação e formação que evita falar da morte (Kovács, 2008; Percival & Jonhson, 2013). Lima e Buys (2008), e Santos e Bueno (2011) identificaram essas atitudescriando instrumentos de educação para a morte: o aumento das discussões sobre morte/luto nas universidades (principalmente) por meio de palestras, projetos, vivências e rodas de conversa; com abordagem total do ser humano, nas dimensões emocional, social, espiritual e física, e não apenas nesta última; o aprofundamento do contato com quem está morrendo, bem como os medos, as alegrias, as dores e as necessidades do paciente; e, por fim, uma maior divulgação dos trabalhos realizados na área da tanatologia, não só para os profissionais da saúde, como também para toda a sociedade. Nesse sentido, Kovács e colaboradores (2014) promoveram um curso para os profissionais de funerárias, em que abordaram a questão da morte no 14 cotidiano, sendo observados: sobrecarga de trabalho, contato com famílias enlutadas e despreparo para essas tarefas. Fonte: jornal.fmrp.usp.br A desmistificação do tema da morte auxilia os profissionais a conviver melhor com aqueles pacientes que não respondem mais aos tratamentos que visam a cura, permitindo à equipe aceitar melhor seus próprios limites de intervenção e dedicar-se a outros tipos de cuidado, como o paliativo. Os cuidados paliativos (CP) surgiram como uma necessidade da sociedade que perdeu as infraestruturas que lhe permitiam cuidar dos doentes graves e dependentes que requeriam cuidados constantes, sem que necessariamente a morte estivesse próxima. Há pacientes que preferem morrer em casa a receber cuidados em atendimento hospitalar de alta qualidade, bem como o apoio de que necessitam para alcançar uma "boa morte" (ou seja, uma morte acompanhada de dignidade e sem sofrimento). Os principais desafios da assistência domiciliar são estabelecer a parceria com a família e seu entorno, estabelecer a rede de apoio social e ter os cuidados efetivos dos demais serviços que os pacientes necessitam, incluindo os CP nos diversos níveis de atenção à saúde. Transferir um paciente do hospital para casa, sobretudo nos municípios afastados dos grandes centros, dificulta a otimização da eficácia dos serviços, sem uma organização que dê apoio efetivo ao paciente e à família em caso de câncer (Breen & O'Connor, 2013; Gomes et al., 2013a). Na realidade, hoje a medicina se tornou responsável pela redução de algumas taxas de mortalidade, com a intervenção da tecnologia, afastando a morte das consciências individuais (Gomes et al., 2013). Assim, o objetivo deste estudo é 15 identificar e estudar as competências dos profissionais necessárias para lidar com os processos de morte e morrer, nas diversas fases do ciclo de vida. 4 O PAPEL DO PSICÓLOGO HOSPITALAR1 O adoecimento traz em si uma desorganização da vida do paciente, provocando várias transformações em sua subjetividade (CHIATTONE, 2011). Essa desorganização pode envolver mudanças de hábitos, de identidade (despersonalização) e muitas vezes o paciente pode acabar se tornando apenas mais um número de CID e de leito (ESTIVALET, 2000). Sendo assim, junto com a equipe multidisciplinar surge a figura do psicólogo com o intuito de escutar e acolher o sofrimento do indivíduo frente as suas principais dificuldades no que tange essa fase. Fonte: www.iped.com.br O objetivo do psicólogo hospitalar é auxiliar o paciente em seu processo de adoecimento, visando à minimização do sofrimento provocado pela hospitalização, devendo prestar assistência ao paciente, seus familiares e a toda equipe de serviço, levando em conta um amplo leque de atuação e a pluralidade das demandas (CHIATTONE, 2011). 1 Texto extraído do link: http://www.fundacaojau.edu.br/revista11/artigos/7.pdf 16 A atuação do profissional da psicologia no contexto hospitalar não se refere apenas à atenção direta ao paciente, refere-se também a atenção à família e a equipe de saúde, com o objetivo de promover mudanças, atividades curativas e de prevenção, além de possibilitar a diminuição do sofrimento que a hospitalização e a doença causam no sujeito. Santos; Jacó-Vilela, (2009) apud Gioia-Martins; Rocha Júnior (2001) acreditam que o profissional da psicologia inserido no contexto hospitalar não tem consciência de quais sejam suas tarefas e seu papel dentro das instituições, ao mesmo tempo em que o hospital também tem dúvidas quanto ao que esperar desse profissional, desse modo o distanciamento da realidade institucional e a inadequação da assistência mascarada por um falso saber pode gerar experiências malsucedidas. A psicologia hospitalar por ser uma área que lida diretamente com a subjetividade e sofrimento do outro exige que o psicólogo entenda os limites de sua atuação para não se tornar um dos elementos invasivos provenientes da hospitalização, bem como promover a humanização e a transformação social no ambiente hospitalar, sem ficar preso nas teorizações que isolam conflitos mais amplos (ESTIVALET, 2000). Conjuntamente com o enfoque da humanização e do atendimento em saúde, a interdisciplinaridade é uma das bases da tarefa do psicólogo que adentra no hospital, pois partindo desse pressuposto o sujeito doente deve ser considerado biopsicossocial (TAVARES et al., 2012). Contudo, é um desafio para o profissional da psicologia adentrar em um contexto onde se predomina o olhar biomédico, onde há limites institucionais regidos por regras, condutas e normas, além disso, o trabalho do psicólogo é muitas vezes deficiente no contexto hospitalar, pois a ausência de estrutura física impossibilita o espaço de cuidado do psicólogo (CHIATTONE, 2011). Ainda é muito presente o modelo tradicional de atuação do mesmo nesse contexto, porém, na verdade, mesmo que se busquem novas formas de cuidados psicológicos, nos deparamos com situações onde o profissional obriga-se a exercer seu trabalho nos corredores e entre macas (SEBASTIANI, 2011). O estado precário da saúde da população brasileira é um entrave dentro do saber psico, pois exige do profissional uma revisão de seus valores pessoais, acadêmicos e emocionais. Assim, nessa perspectiva, o contexto hospitalar difere-se do contexto de aprendizagem e orientação acadêmica, já que se percebe uma realidade precária nas condições de saúde da população que é alvo constante das 17 injustiças sociais e aspira por um tratamento hospitalar digno (SALMAN; PAULASKAS, 2013). Diante dessa concepção e das dúvidas que abarcam a psicologia e o papel do psicólogo hospitalar, a pesquisa realizada teve como objetivo entender a construção do papel do psicólogo hospitalar na atualidade, verificando a construção histórica do perfil desse profissional na realidade brasileira e seus possíveis desdobramentos, levando em consideração sua atuação na dimensão assistencial e na saúde pública atualmente. 5 A PSICOLOGIA E SUA CONSTRUÇÃO COMO CIÊNCIA Fonte:ppsychelogos.blogspot.com Segundo Soares (2010), por volta do século XIX, historiadores da medicina deram uma grande importância e vasta contribuição para o estudo da Psicologia no Brasil, onde através de seus doutoramentos, assim chamado os trabalhos de conclusão do curso de medicina, foi possível trazer para o homem de cultura grandes conclusões interessantes e que contribuíram para esse processo. Com tendência a Neuropsiquiatria, a Psicofisiologia e Neurologia, as faculdades de medicina, não excluíam a Psicologia de seus estudos, pois havia muita relação da mesma com os campos de estudos e suas pesquisas. Em meados do século XX, Ivan Petrovitch Pavlov inicia seus estudos pautados nos reflexos condicionados, tendo influência muito grande para a psicologia, denominando então 18 sua teoria de Psicologia Experimental, onde no Brasil Henrique Roxo foi o primeiro autor a orientar estudos relacionados ao tema e com bases no estudo de Binet-Simon associou a Psicologia Experimental à Psiquiatria e à Neurologia (SOARES,2010). Ainda para Soares (2010), com a grande influência benéfica de correntes doutrinárias que as faculdades de Medicina da Bahia e do Rio de Janeiro recebiam no período, com teses, atividades e ensaios médicos averiguou-se que estes então traziam um caráter científico, preciso e rico no interesse psicológico, por estarem voltados aos métodos e técnicas da psicologia de maior objetividade e confiabilidade, onde diante deste movimento começaram a surgir nos hospitais e clínicas psiquiátricas os laboratórios de Psicologia. A atuação do psicólogo brasileiro se consolidou primeiramente no âmbito privado com o objetivo da prática psicoterápica clínica, assim para Marcon, Luna e Lisboa (2002) após a década de 60, a área da saúde pública abriu o espaço para a absorção dos profissionais em diversos segmentos, fazendo com que sua atuação nos hospitais se tornasse então uma nova área de atuação. Todavia, sabe-se que somente em 1962 a profissão de psicólogo foi regulamentada no Brasil e o primeiro curso de Psicologia foi implantado na universidade de São Paulo, quando logo mais tarde em 1987 a 1ª Conferência de Saúde Mental aprovou a redução progressiva de leitos em hospitais psiquiátricos e sua substituição por serviços alternativos à internação psiquiátrica, em seguida no ano de 1992 a 2ª Conferência de Saúde Mental aprovou a rede de atenção integral à saúde mental, com o objetivo de substituir os hospitais psiquiátricos. No âmbito de sua atuação, embora já se visualizasse a passagem para um modelo de atenção integral, o psicólogo era visto ainda exercendo seu trabalho clínico e não um trabalho ligado à saúde ou ao biopsicossocial e que em relação a sua formação os psicólogos não a tiveram pautados na área da saúde (MARCON; LUNA; LISBOA, 2002). 19 6 A POLÍTICA DE HUMANIZAÇÃO HOSPITALAR E OS PAPÉIS DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE Fonte:amenteemaravilhosa.com.br Segundo Mota; Martins e Véras (2006) no âmbito hospitalar o movimento de humanização é voltado para um processo de educação e treinamento dos profissionais da saúde para tornar a experiência da hospitalização algo mais confortável para o usuário, desmistificando toda aquela dor que a internação trás a ele, visa melhorar o atendimento ao usuário e as condições do ambiente de trabalho para os profissionais da saúde. Partindo desse pressuposto, podemos falar da ética, que é quando alguém se preocupa com a consequência de sua conduta sobre o outro, mas para que haja ética é preciso mudar o olhar sobre o outro, mudança essa que culmine no respeito a ele como ser humano (MOTA; MARTINS; VÉRAS; 2006). Facilmente se presume que o psicólogo passou a ser bem visto no contexto hospitalar, nas enfermarias e nos ambulatórios quando sua atenção voltou-se para a humanização, fazendo compreender a relação dos profissionais da saúde com o paciente e com os familiares. Estudos apontam que buscar informações sobre a história do paciente é algo indispensável em sua atuação, pois é o psicólogo quem pode oferecer uma escuta, uma ajuda psicológica e oferecer a oportunidade de confronto do paciente com sua 20 angústia e sofrimento na fase da hospitalização, fase esta que gera muitas crises (MOTA, MARTINS e VÉRAS, 2006). Para Salman; Paulaskas (2013), a humanização tem como aspecto fundamental a valorização do indivíduo como um todo, fazendo com que o psicólogo tenha como papel a valorização do ser doente do que a patologia do mesmo, aprendendo também a ouvir seus familiares em um local próprio e adequado, nos deixando claro que para a prática da humanização dar certo é necessário realizar uma execução reflexiva acerca dos valores e princípios que norteiam a prática profissional, culminando num tratamento digno, solidário e acolhedor por parte dos profissionais da saúde ao doente, garantindo que a humanização busque sempre manter ou melhorar a qualidade da comunicação, consequentemente a possibilidade de relacionamentos mais saudáveis e próximos. Um aspecto importante em relação ao papel dos profissionais da psicologia no hospital é que este profissional deve estar pautado nos aspectos do adoecer, das crenças e das fragilidades dos pacientes e de seus familiares, assim para os autores o psicólogo deve promover a diminuição da angústia e da tensão para então mudar a impressão que as pessoas têm sobre o hospital, em contrapartida fazendo os usuários perceberem o hospital como um lugar que tenta oferecer condições para uma manutenção ou recuperação da saúde, ficando claro que a atuação do psicólogo hospitalar consiste de uma rápida capacidade de ação emergencial e para a construção de uma política qualificada em relação à saúde a humanização deve ser vista como uma das dimensões indispensáveis nesse processo, onde tenha função de mostrar que além de um programa, sua aplicação tem objetivo de torna-se uma política que opere em toda rede dos hospitais brasileiros (MOTA, MARTINS e VÉRAS, 2006). 21 7 PACIENTES EM CRISE E O PAPEL DO PSICÓLOGO HOSPITALAR Fonte: souzamarques.br Ao trabalhar com o paciente enfermo, o psicólogo lida com o sofrimento físico e psíquico, tendo que compreender o sujeito em sua integralidade, entendendo e considerando o conflito determinado pela situação da doença e da hospitalização, o sofrimento físico, a dor e o mal-estar, destacando que a necessidade do atendimento psicológico muitas vezes não é percebida pelo paciente, pois diante da situação em si, todas as preocupações estão voltadas para o corpo doente, fazendo necessário então que a atuação preventiva no contexto hospitalar se torne real, com o objetivo de oferecer ajuda para que os pacientes possam alcançar o reconhecimento das motivações que estão subjacentes a seus problemas, dedicando-se precocemente ao diagnóstico de transtornos psicológicos do paciente e seus familiares, em trabalho diário com o objetivo de decodificar suas dificuldades. Com um perfil mais emergencial e focal, a intervenção pode ser feita pela psicoterapia breve ou pela psicoterapia de emergência, dando total apoio e suporte ao paciente, considerando o momento de crise vivenciado pelo mesmo na situação especial e crítica da doença e sua hospitalização, sendo assim, tanto a psicoterapia de emergência como a intervenção em crise são caracterizadas como técnicas breves advindas da psicanálise com especificas adaptações no nível estratégico para situações de emergência ou crise (CHIATTONE, 2011). 22 Chiattone (2011) ressalta ainda a importância do olhar do psicólogo em relação aos pacientes hospitalizados, devendo levar em consideração alguns aspectos importantes nos processos de resolução da crise, sendo eles: os traços de personalidade dos pacientes, suas atitudes frente a vida, a maturidade interna e o grau de integração psíquica, as crenças que o mesmo possui sobre sua doença, suas reações a crises passadas e suas perdas significativas, os sinais psicológicos ou físicos de depressão, a presença de reações ou sinais paranóides e por fim a doença instalada, onde a psicoterapia emergencial surge como um apoio caracterizando-se de um processo de superação dos problemas ligados a situações de natureza traumática, onde dependendo do olhar que a pessoa tem sobre a situação permite que a mesma possa expressar livremente seus sentimentos em relação ao seu estado, sendo indicada a pacientes que passam por sobrecarga emocional muito grande, auxilia o paciente a atravessar o período crítico em que se encontra, determinado pelo processo da doença e hospitalização, permitindo-lhe buscar a elaboração e integração subjetiva dos acontecimentos. Considerando que o hospital é uma instituição marcada pela luta constante entre a vida e a morte. Um dos princípios significativos da psicologia no contexto hospitalar é a atuação conjunta do psicólogo e as equipes de saúde, onde o objetivo é maximizarnos pacientes a esperança de melhora, cura e minimização ou suspensão do sofrimento em si, já que a maioria das pessoas tem uma imagem negativa relacionada ao ambiente hospitalar, marcada por mortes e sofrimentos, sendo um local onde excita uma batalha constante diante das condutas terapêuticas. Portanto, a atuação do psicólogo requer uma maturidade que passa pelo exame detalhado de sua posição diante da morte e do morrer, sendo de suma importância o profissional elaborar o medo e a negação em relação a essa problemática, diagnosticar em si as dificuldades de enfrentamento e elaboração da própria negação da morte para então entender a negação da própria instituição, do paciente e dos familiares, sendo que muitas vezes trabalhar com o sofrimento ou perda de significado da existência pelo paciente pode despertar nos profissionais as mesmas vivências (CHIATTONE, 2011). Sendo assim, para Chiattone (2011), a tarefa do psicólogo se define pela capacidade de apoio, compreensão e direcionamento humanizado das diferentes situações pelas quais passam esses pacientes e seus familiares, e culminar para que todo programa terapêutico eficaz e humano deva incluir apoio psicológico para o 23 enfrentamento de todo o processo de doença e possibilidade de morte, pois o manejo de pacientes hospitalizados inclui a adaptação fisiológica e medica e a adaptação psicológica e existencial frente a situação traumática em si. Em relação aos pacientes e seus familiares, o psicólogo deve estruturar um trabalho de psicoterapia pautado num modelo comunicativo, reforçando o trabalho estrutural e de adaptação dos pacientes e seus familiares no enfrentamento da problemática vivenciada por ambos, direcionado, então, em um nível de apoio, atenção, compreensão, suporte ao tratamento, clarificação dos sentimentos, esclarecimentos sobre a doença e o fortalecimento dos vínculos pessoais e familiares. Em segundo plano, o psicólogo hospitalar pode ainda realizar a formação de grupos com o objetivo de informar, culminando num espaço de reflexão e expressão dos sentimentos, minimizando o impacto emocional e estresse vivenciados pelos mesmos. Em relação às equipes de saúde, o psicólogo hospitalar pode sistematizar a realização de grupos operativos, realizando um treinamento e clarificando o papel de cada profissional, além de estimular a realização de atividades para a diminuição do estresse visto que em profissionais da área da saúde o nível de estresse é elevado (CHIATTONE, 2011). Para Salman e Paulauskas (2013) apud Cordioli (1998), um dos principais desafios da psicologia tem sido fundamentar e desenvolver técnicas de intervenção psicológica quem atendam às demandas específicas de pacientes em ambientes hospitalares, tendo como objetivo possuir intervenções que levem aos pacientes uma melhor aceitação de sua doença bem como o tratamento, onde as intervenções com os pacientes em crise constituam na utilização de técnicas para diminuir a ansiedade, favorecendo o desenvolvimento de um estado emocional mais tolerável e capaz de restaurar a estabilidade afetiva e suas relações com o ambiente. O uso do manejo assistencial centrado na equipe, um diagnóstico diferencial, um atendimento psicológico de apoio, um manejo ambulatorial, técnicas complementares e intervenção familiar são fortemente recomendadas, onde a flexibilidade e a criatividade são condições fundamentais para a percepção das necessidades que cada paciente apresenta, com isso a construção de um ambiente terapêutico apropriado e a centralização do trabalho com o paciente em crise gera o melhor manejo das relações humanas no ambiente hospitalar, o que não é tarefa somente do psicólogo, mas também dos outros profissionais da área da saúde inseridos nesse contexto, já que os mesmos possuem um contato mais próximo e 24 contínuos com esses pacientes, no caso das enfermeiras, fisioterapeutas, nutricionistas e médicos intensivistas. (SALMAN; PAULAUSKAS, 2013). Desse modo, para Salman e Paulauskas (2013), o atendimento psicológico ao paciente pode ser caracterizado por intervenção focal pautado na psicoterapia breve de apoio, consistindo em avaliar sua situação, analisar a maneira de enfrentamento e a manifestação do paciente no momento presente, bem como construir opções de pensamento e, consequentemente, o comportamento. O que é levado em conta e o que se espera do terapeuta é que o mesmo possua uma postura ativa no manejo da assistência, com o intuito de permitir continência das manifestações, expressando concordância com ideias e atitudes do paciente, assim também reforçar as funções adaptativas do ego, reassegurando a boa percepção da realidade, além disso, o psicólogo tem como papel favorecer a percepção de novas formas de enfrentamento da situação, promovendo o devido suporte para o momento de instabilidade emocional, favorecendo o vínculo de confiança com a equipe multiprofissional. 8 O PROCESSO DE LUTO Fonte: perdasmorteeluto.wordpress.com 25 Segundo Kastenbaum e Aisembesrg (1983), a morte sempre existiu, mas nem sempre teve representações nítidas em nossas mentes. Portanto, precisamos morrer, até porque iremos ajudar a perpetuar a espécie que se nutre da morte de seus indivíduos para se preservar. O processo de luto ocorre quando perdemos alguém muito próximo. A maioria das pessoas enlutadas é capaz de com o tempo, e com a ajuda da família e amigos, de reconciliar-se com sua perda e retomar as suas atividades normais. Para outras, no entanto, é indicado ajuda psicoterapêutica. Para Worden (1998), é essencial que a pessoa enlutada realize quatro tarefas básicas, antes que o processo de luto possa ser completado. Segundo ele, tarefas de luto não elaboradas podem prejudicar o crescimento e desenvolvimento futuros. Diz que essas tarefas não precisam ser necessariamente seguidas, em ordem específica, mas ele sugere a seguinte ordem: I – Aceitar a realidade da perda; II – Elaborar a dor da perda; III – Ajustar-se a um ambiente onde está faltando a pessoa que faleceu; IV – Reposicionar, em termos emocionais, a pessoa que faleceu e continuar a vida. De acordo com Freud (1913, p.65) “o luto tem uma tarefa física que precisa cumprir: a sua missão é deslocar os desejos e lembranças da pessoa que faleceu”. Assim, como a criança passa por etapas para seu desenvolvimento saudável as etapas do luto também precisam ser vivenciadas para que não ocorram traumas ou danos futuros. A tanatóloga e psiquiatra Kübler-Ross (2004, p.561) em seu trabalho com doentes em fase terminal, verificou que na maioria dos casos os mesmos recebiam de bom grado a oportunidade de falar abertamente sobre sua condição e sabiam que estavam perto de morrerem, embora não recebessem informação sobre esse fato. Depois de falar com 500 pacientes terminais, Kübler-Ross (1969-1970) definiu cinco estágios durante o processo de reconciliação com a morte, são eles: I - Negação (recusa em aceitar a realidade que está acontecendo); II - Raiva (as pessoas ficam frustradas e com raiva por estarem doentes e podem transferir sua raiva para o pessoal do hospital e para os médicos); III - Barganha (os pacientes podem tentar negociar com médicos, os amigos ou mesmo com Deus em troca de cura, prometem, fazem doações, frequentam igreja); 26 IV - Depressão – neste estágio, os pacientes apresentam sintomas clínicos de depressão, retraimento, retardo mental, perturbação do sono, desesperança e possivelmente ideia de suicídio; V - Aceitação – neste último, os pacientes compreendem que a morte é inevitável e aceitam a universalidade da experiência. Seus sentimentos variam de humor neutro e eufórico, e em circunstâncias ideais, resolvem seus sentimentos para com a inevitabilidade da morte e conseguem falar sobre o enfrentamento do desconhecido. Para Kübler-Ross (1998), nem todas as pessoas passampor estes estágios e algumas podem passar por eles em sequência diferente, oscilando entre a raiva e a depressão ou podem sentir ambas ao mesmo tempo. 8.1 Aspectos Psicológicos da Perda Fonte: www.biancatrevisan.com.br A perda de um ente querido é uma experiência muito difícil, pois quaisquer tristezas, sejam elas simples ou graves, impactam negativamente o psiquismo do indivíduo. As pessoas que fazem parte da nossa vida têm um significado especial, são preciosas e por mais que todos nós saibamos que um dia vamos morrer, e que a qualquer momento podemos perder alguém querido, não se pode imaginar o sofrimento e as consequências que esta perda pode trazer. 27 Sabe-se que a perda de um ente querido impõe a familiares e amigos a aceitação da morte e de sua irreversibilidade. A partir desse momento essas pessoas começam uma nova etapa de suas vidas. Consequentemente desfazem os laços que os uniam e reorganizam suas vidas para aprender a viver sem aquele que partiu. Acontecem várias mudanças tanto psicológicas quanto espirituais e alterações na rotina das pessoas para sempre. De acordo com Pitta (1999) algumas características dos aspectos psicológicos são: Insensibilidade e descrença: a pessoa se conforma com o que aconteceu, mas nada sente, é normal esse sentimento durar horas ou dias. A pessoa enlutada diz "eu não posso acreditar.", mostrando que a verdade dolorosa ainda não foi aceita. A procura: muitas vezes a pessoa tenta encontrar com aquela que morreu indo ao cemitério, perambulando pelos cômodos da casa e outros lugares. Raiva: algumas pessoas tentam responsabilizar alguém pela morte. Muitas vezes dirigem essa culpa aos profissionais da área da saúde, outras ficam furiosas com Deus e há a negação da fé. Culpa: a pessoa se sente culpada pela morte do ente querido A ansiedade: a pessoa fica inquieta, pois sua rotina foi quebrada. Lamentação: quando a perda foi reconhecida, começa o período de lamentação. Sensações corporais: é normal ouvir a voz, os passos, ver o rosto da pessoa no meio da multidão. Atitudes e maneiras do falecido: a pessoa enlutada assume alguns papeis do falecido, negócios, trabalhos inacabados, etc. Depressão e desespero: a pessoa se sente desamparada sem nenhum objetivo de vida, nada mais lhe importa. Depois das características demonstradas pode-se perceber que cada pessoa reage de maneira diferente diante da situação da morte de um ente querido. Apesar de a morte ser o que temos de mais concreto em nossas vidas, Zimermam (2000, p.117) enfatiza que junto com a perda da pessoa existe o final de uma fase da vida: 28 As perdas são parte da vida: quando morre a mãe, morre também parte da nossa infância e adolescência; quando morre um filho, morre em nós o futuro previsto junto àquele filho, o sonho de vê-lo um profissional, pai de nossos netos, a pessoa que nos acompanharia até o fim de nossa vida. As perdas são necessárias porque para crescer temos de perder, não só pela morte, mas também por abandono, pela desistência. Em qualquer idade, perder é difícil e doloroso, mas só através das perdas os seres humanos tornam-se plenamente desenvolvidos. Cabe salientar que as perdas incluem não apenas separações e abandonos, mas também a perda consciente ou inconsciente, de sonhos românticos, ilusões de segurança, expectativas irreais e outras. As perdas que enfrentadas ao longo da vida e das quais não se foge são basicamente duas: - Que o amor de nossos pais não é só nosso. - Que nossos pais vão nos deixar, e que nós vamos deixá-los. Vale ressaltar que para o processo de recuperação ser facilitado é indispensável a ajuda e amizade de outras pessoas que já tenham passado por essa experiência. Os sentimentos de ansiedade e insegurança desaparecem aos poucos, dando lugar à confiança. Depois que a tristeza passa a pessoa descobre que pode retornar às suas atividades e outros interesses. 8.2 O Morrer: processo do luto antecipatório Fonte: www.emotioncard.com.br O termo “Luto Antecipatório” foi utilizado, pela primeira vez, por Lindemann, por meio da sua observação de esposas de soldados que iam para a guerra. Posteriormente, esta denominação foi utilizada para pessoas que recebem o 29 diagnóstico de doenças terminais e o envolvimento da família nesta perda. Seja prolongada ou repentina, quando em decorrência de doenças prolongadas, esta é considerada estressante para as famílias e desencadeia um mecanismo de enfrentamento diferente. Quando uma pessoa morre inesperadamente, os membros das famílias carecem de tempo para antecipar e prepararem-se para a perda, para lidar com assuntos inconclusos ou, em muitos casos, até para dizer adeus. Quando o processo de morrer é prolongado, os recursos financeiros e a prestação de cuidados da família podem-se esgotar, e as necessidades de outros membros são colocadas suspensas. O alivio com o fim do sofrimento do paciente e da tensão familiar costuma vir carregado de culpa e cada vez mais as famílias estão no penoso dilema: em manter ou não o prolongamento, a manutenção da vida. Por se tratar de pacientes crônicos com doenças terminais, sem recursos para cura e à mercê de dores crônicas, perdem a esperança de uma possível recuperação. O luto antecipatório pode ser entendido, analisado e experimentado por quatro perspectivas distintas, sendo cada uma pertinente a cada pessoa que o experimenta: 1. Perspectiva do paciente: sendo ele a figura central do drama, desempenha o papel do doente e do enlutado; 2. Perspectiva dos familiares: refere-se à rede social com quem o paciente tem intimidade; 3. Perspectiva de outras pessoas: as pessoas que tem algum tipo de relação, porém pouco interesse e vínculo com o paciente enlutado; 4. Perspectiva do cuidador: para este, o luto pode variar consideravelmente, de acordo com o nível de e significado do relacionamento dele com o paciente. No luto antecipatório há três focos temporais envolvidos: o passado, presente e futuro. Para o paciente nesta situação, o sofrimento de perdas vivenciadas no passado pode retornar, e para o familiar, além de lidar com a conscientização da perda no presente, irá ter de lidar com as perdas futuras diante da falta do ente querido em ocasiões especiais e memoráveis. 30 Segundo Freud, (1999 apud Torres) “A vida, por, mais breve que seja, merecerá sempre ser vivida em toda sua plenitude. Nem a morte consegue ofuscar a validade de seus belos e inesquecíveis momentos. ” Como os membros de uma sociedade negadora da morte, carecemos de recursos para acompanhar esse estágio final da vida, sobretudo quando é uma criança que está morrendo. A morte de uma criança é um insulto, é traumática e suscita culpa. Não obstante, ”a morte não segue um horário previsível, ela escolhe seu próprio tempo e lugar” (KÜBLER-ROSS, s/d). No câncer, a título de exemplo, quando de longa duração e sem perspectiva de cura, configura-se a fase terminal. Assim, não havendo mais recursos para deter o curso da doença e da morte, duelar com a doença somente traria mais sofrimento para o paciente e aqueles que o cercam. Neste caso, afirma Perina (1994), com o diagnóstico do câncer se conhece o mundo das doenças e com as recaídas, a incerteza do futuro e a possibilidade de ficar para sempre aprisionado no mundo subterrâneo da morte. Feigemberg (1980) diz ser significativo o fato de a terminologia psiquiátrica e psicológica ter poucas palavras descritas para variedades de emoções e modos de reação ao morrer. A morte, na visão do autor, não é uma doença e não pode ser descrita somente em termos médicos e biológicos. Afirma ainda que, por tradição prevalece o lado biológico do morrer e da morte, e este é usualmente o ponto de referência. Mas o morrer tem um aspecto psicológico que é dominante, pois enquanto o componente biológico se torna cada vez maisuniforme – caracterizado por sintomas inespecíficos tais como fadiga e dor -, o componente psicológico se torna cada vez mais dinâmico e repleto de experiências emocionais. O luto, como já se analisou, passa por um curso que vai de um choque inicial passando pelo desespero para chegar à recuperação e restituição, e pode se manifestar por diversos sintomas tais como choro, perturbações somáticas, perturbações do sono, reações hostis, culpa e depressão. Além disso, em todo o luto há inevitavelmente tristeza e raiva. A família está triste porque está perdendo uma relação significativa e, de certa forma, está morrendo junto com a pessoa querida. Sugestões de intervenções psicológicas na elaboração do luto: 31 Identificar o conflito como foco; Identificar em que estado se encontra a pessoa enlutada; Pensar em estratégias de mudanças; Encorajar o paciente a dividir sua experiência de perda com outras pessoas; Desenvolver habilidades para novos relacionamentos no âmbito social; As Reações Psicossomáticas Fonte:zenklub.com.br O pesar nunca é limitado pela psique. Há também uma morbidez enorme originária das condições relacionadas com a tensão. Os ataques de colite ulcerativa, por exemplo, podem coincidir ou estar intimamente ligados com a perda do ente querido. De forma igual aumentam outras patologias de caráter autoimune nas pessoas recentemente enlutadas. Como se sabe, são características aqui as hipocondrias. Quando passageiras, fazem parte do pesar típico; mas se persistentes, indicam a necessidade de uma ajuda maior. Quando um paciente é deixado sozinho para educar uma jovem família, uma preocupação muito grande com sua saúde é uma consequência da ansiedade em que viverá sobre quem assumiria as tarefas se ele ou ela adoecessem. Sentir os sintomas da moléstia do falecido é um fenômeno de identificação, observado, sobretudo, no pesar crônico, ou um substituto parcial do pesar. 32 Não é de causar surpresa, em alguns casos, que a depressão associada ao pesar típico atinja formas mais graves. Nesses casos, pode-se chegar ao risco de suicídio. As ideias suicidas, muitas vezes, são uma manifestação do desejo de unir- se ao falecido e isto pode ser tolerado e elaborado com ajuda. Para outros pacientes, a vida realmente parece não valer à pena, ou aparecem ideias delirantes de culpa ou de malvadez. Isso deve ser levado a sério e a internação hospitalar de faz necessária, especialmente se o paciente vive sozinho. A dor da perda, quando normal, pode ser assistida por amigos e familiares do enlutado, com a assistência necessária durante os funerais e, talvez por algumas semanas mais. Quando esta perda se configura em patologia, precisa de tratamento. As pessoas em isolamento social têm a possibilidade de um processo de pesar mais complicado, portanto necessitam de uma ajuda maior e mais prolongada. 8.3 Os Profissionais Diante da Morte A maior parte dos profissionais da área da saúde, na sua lide cotidiana, está exposta à visão de morte mais que o restante da população, o que não os deve impedir de se preocupar e refletir sobre ela. De acordo com Pincus (1989), a morte é um acontecimento importante e deveria ser dado a estes profissionais o mesmo tempo de pesar que às outras pessoas, o que nem sempre acontece. Ao enfrentarem uma morte após outra, os profissionais da saúde podem imergir em um quadro de tristeza que pode levá-los ao estresse, provocando ora cansaço, ora atividade exagerada, cursando irritabilidade com outros problemas, o que eventualmente prejudicará sua eficiência no trabalho, podendo interferir na sua vida pessoal e familiar. De acordo com Alves criou-se um mito nos dias atuais de que o bom profissional não pode demonstrar seus sentimentos, medos e angustias em relação aos seus pacientes. Diante de tal postura fria e metodicamente técnica e profissional, não há espaço para expressar o seu real sentimento. Segundo Baggio, os mecanismos de defesa utilizados pelos profissionais de saúde fazem com que eles deixem de perceber a dor do outro, ou seja, deixem de perceber as limitações e angústias dos pacientes, o que acaba comprometendo a prestação de assistência. O convívio com a dor e a perda traz ao profissional a 33 vivência de seus processos internos, trazendo à tona a sua fragilidade, medos e vulnerabilidade. De acordo com Gambatto et al. os profissionais da saúde têm a tendência de adotar muitas vezes, inconscientemente mecanismos de defesa, como: negação da situação, distanciamento, manutenções de relações superficiais com os doentes, instituição de rotinas e protocolos, argumentando falta de tempo e de disponibilidade para ouvir e estar junto dos doentes. Neste contexto o psicólogo hospitalar pode ajudar a conter os sentimentos da equipe que lida com a morte, promovendo “encontros de equipe” (staff meetings), onde há espaço para os profissionais poderem falar e trocar suas experiências. Segundo Costa et al. o psicólogo tem por objetivo estimular a equipe a perceber e falar sobre suas dificuldades, facilitando assim uma melhor elaboração de seus medos e angustias, permitindo que a equipe de saúde tenha uma expressão livre de seus sentimentos. O Psicólogo Hospitalar pode trabalhar com espaços de diálogos em que o profissional da saúde possa refletir sobre suas próprias emoções e sentimentos proporcionando uma relação mais humana entre profissional de saúde e paciente, onde este possa enxergá-lo como “pessoa” e não apenas como “doença”. Ainda há a possibilidade de se trabalhar com os grupos Balint onde os participantes podem relatar casos clínicos sem recorrer a nenhuma anotação, em associação livre de palavras. Vale ressaltar que os profissionais da saúde não são preparados para lidar com a morte, uma falha que vem desde a sua formação, onde não são ministradas aulas a respeito desta temática, o que acaba colocando no mercado de trabalho, profissionais preparados apenas tecnicamente e despreparados psiquicamente. Em algumas de suas obras Kübler Ross e Kovács, apontam a importância de ser incluída nos currículos dos cursos de saúde a temática sobre a morte e a humanização dos atendimentos ao paciente terminal, fazendo com que os profissionais possuam uma preparação especial e não saibam apenas sobre questões cientificas, mas que possam enxergar todos os pacientes de forma igual, tratando-os com respeito e dignidade. Aliviar o sofrimento ou ajudar uma pessoa a morrer é um dos ofícios mais difíceis para o profissional de saúde. Não poder curar não significa fracasso, mas sim um reconhecimento dos próprios limites da técnica. 34 É necessário investir em uma formação continuada, em criação de grupos de apoio aos profissionais da saúde para favorecer as despedidas, prepará-los para o processo de separação, comunicação e suporte, estimulando assim os participantes a falar sobre os problemas, as dificuldades e angústias que surgem no cuidado de clientes terminais, suas famílias e seus sentimentos. 35 BIBLIOGRAFIA BRASIL. HumanizaSus: Política Nacional de Humanização - A Humanização como eixo norteador das práticas de atenção e gestão em todas as instâncias do SUS. Ministério da Saúde, Secretaria Executiva, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004. CHIATTONE, Heloisa Benevides de Carvalho. A Significação da Psicologia no Contexto Hospitalar. In:______. Psicologia da Saúde – um novo significado para a prática clínica. 2ª Edição revista e ampliada. 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