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ROTEIRIZAÇÃO E PROGRAMAÇÃO DE TRANSPORTES AULA 2 Prof.ª Liziane Hobmeir 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, vamos abordar as técnicas e iniciar o assunto sobre a roteirização, suas técnicas e entender sobre a importância da operação na logística de transportes. CONTEXTUALIZANDO As empresas em geral, no mundo todo, pensam em atender o cliente da melhor maneira possível, realizando as entregas mais rapidamente. Porém, ainda se têm problemas com os custos logísticos, e um deles é o custo com o transporte e o tempo que se é gasto para realização dessa atividade. Segundo Ballou (2001), os custos de transporte variam tipicamente entre um e dois terços do total dos custos logísticos. Melhorara eficiência, portanto, com a utilização máxima do equipamento e do pessoal de transporte é de grande interesse para as empresas. Um dos problemas frequentes de decisão em transportes é reduzir os custos dos transportes e também melhorar o serviço ao cliente, encontrando os melhores trajetos que um veículo deve fazer através da malha, seja rodoviária, aérea ou ferroviária, os quais minimizarão o tempo total ou a distância. Cordeau e Laporte (2003) citam, de forma geral, o problema de roteirização e programação de veículos, que compartilham vários problemas característicos relacionados com coleta e entrega. No entanto, tem-se um agravante no transporte de pessoas, que se torna mais importante e complexo, pois o nível do critério muda e passa a ser um nível de excelência focado em qualidade para as pessoas. Assim, segundo os autores, pontualidade, redução do tempo de espera e duração das rotas são mais críticos nesse caso do que em outros problemas correlatos de transporte de carga. Em se tratando de cargas, considerando-se o nível de demanda atual, não somente no Brasil, mas em todo o mundo, bem como sua esperada tendência de aumento, faz-se imperativo o uso de métodos automatizados de roteirização e programação dos veículos para otimizar esse tipo de serviço. Saiba mais Para entender o que é roteirização, assista ao vídeo “Conceito de Roteirização – Entenda a Importância desse Setor”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=L4BAw5sHFXM>. 3 TEMA 1 – PROBLEMAS DE ROTEIRIZAÇÃO De acordo com Novaes (2000), para se efetuar um planejamento de transportes é necessário conhecer os seguintes elementos: os fluxos nas diversas ligações da rede; o nível de serviço atual e desejado; a capacidade dos veículos e as características da carga. O planejamento se faz rota por rota. Nesse sentido é que se insere o Problema de Roteirização de Veículos. Segundo Christofides (1985), o problema pode ser definido como aquele em que os veículos, localizados em um depósito central, são requisitados para visitar – durante um dado período de tempo – clientes geograficamente dispersos, para cumprir suas exigências. Esse problema aparece em um grande número de situações práticas relativas à distribuição de mercadorias e é conhecido pelo nome genérico de Problema de Roteirização de Veículos (PRV). Segundo Partika e Hall (2000, citados por Novaes, 2000), um problema real de roteirização é definido por três fatores fundamentais: decisões, objetivos; e restrições. As decisões são a respeito da alocação de veículos e respectivos motoristas, envolvendo também a programação e o sequenciamento das visitas. Como objetivos principais, o processo de roteirização visa propiciar um serviço de alto nível aos clientes, mas ao mesmo tempo mantendo os custos operacionais e de capital tão baixos quanto possível. No entanto, deve obedecer a certas restrições. Alguns tipos de restrições possíveis são: concentração dos pontos de entrega; horários (janelas de tempo); capacidade do veículo; jornada de trabalho dos motoristas; restrições de trânsito (por exemplo: as velocidades máximas permitidas). 4 Dentre a classificação dos problemas de roteirização e programação de veículos, aqueles que envolvem o transporte de passageiros de seus locais de origem a seus destinos são conhecidos genericamente na literatura como problemas do tipo “dial-a-ride” (Znamensky; Cunha, 1998). O problema de roteirização e programação de veículos ou dial-a-ride problem – Darp, conforme Cordeau e Laporte (2003), consiste no desenvolvimento de rotas e escalas de veículos para transportar diversos usuários, os quais especificam requisições de embarque e desembarque (coleta e entrega) entre locais de origem e destino específicos. O objetivo desse processo é planejar um conjunto de rotas para alguns veículos com “custo mínimo”, capaz de acomodar o maior número possível de usuários, e sempre obedecendo a um conjunto de restrições. Em se tratando especificamente do caso de transporte de pessoas com deficiência, um ponto de embarque (coleta) corresponde ao endereço onde determinada pessoa deve ser buscada, e o ponto de desembarque (entrega) associado corresponde ao endereço onde a mesma pessoa deve ser entregue. Cada ponto de embarque e seu respectivo ponto de desembarque, juntamente com suas respectivas “janelas de tempo”, formam uma Requisição de Transporte de um cliente. Uma tendência comum nos modelos do Darp é deixar que os usuários determinem uma “janela de tempo” (isto é, janelas ou intervalos de horários para seu atendimento) para sua partida e sua chegada, pois, segundo Cordeau e Laporte (2003), os usuários devem estar aptos a especificar um intervalo de horários para seu embarque e desembarque, ambos em locais específicos, possibilitando assim um melhor planejamento da programação e roteirização dos veículos como um todo. Cada veículo possui uma capacidade, medida normalmente em número de assentos convencionais e número de cadeiras de rodas, por exemplo. Analogamente, a cada solicitação de atendimento está associada uma ocupação em termos de quantidade de assentos convencionais (eventuais acompanhantes) e em quantidade de cadeiras de rodas (Znamensky; Cunha, 1998). Segundo Cordeau e Laporte (2003), e outros diversos autores, o Darp pode ser abordado de forma estática ou dinâmica. No primeiro caso, todas as requisições de transporte são conhecidas a priori, ao passo que, no segundo 5 caso, são consideradas requisições feitas ao longo do dia (normalmente por telefone), e as rotas dos veículos são ajustadas em tempo real de acordo com a demanda. Porém, na prática, raramente existem Darp dinâmicos “puros”, pois normalmente um subconjunto de requisições é conhecido com antecedência. O Darp pode ser considerado com vários objetivos distintos, por exemplo: minimizar os custos operacionais sujeitos à satisfação de toda a demanda; maximizar a satisfação da demanda, sujeito à disponibilidade dos veículos; ou outras combinações destes que geralmente buscam um equilíbrio entre custo operacional e qualidade do serviço prestado. Os problemas são resumidos entre transporte de cargas e componentes e o transporte de pessoas e os problemas de roteirização são: problema de roteirização pura; problema de programação de veículos e tripulações; problema de roteirização e programação. Saiba mais Assista ao vídeo “Quais são os fatores de relevância para roteirização?” para ver os fatores de relevância dentro da roteirização. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=xWmkjhhae_k>. TEMA 2 – PCV – PRINCÍPIO DA NECESSIDADE DE ROTEIRIZAÇÃO Os problemas de roteirização pura são problemas espaciais que não consideram as variáveis temporais ou precedências entre as atividades para elaboração dos roteiros de coletas e/ou entrega. Em alguns casos, tem-se apenas a restrição de comprimento máximo da rota. Nesse tipo de problema, existe um conjunto de nós e/ou arcos para serem atendidos que formarão uma sequência de locais (rota), buscando alcançara minimização do custo total de transporte. Para Znamensky e Cunha (1997), a principal condicionante que determina a qualidade da solução dos problemas dessa categoria é a natureza espacial. Pertencem a esse grupo: Problema do Caixeiro Viajante – PCV (Travelling Salesman Problem – TSP): citado por Sarkis (2000) como o mais fundamental e conhecido de todos os problemas, consiste em determinar uma rota de mínimo custo que passe por todos os nós uma única vez. Observa-se que esse tipo de 6 problema não possui restrições de tempo nem limitações de capacidade. Sua formulação original é a seguinte: existem N pontos (nós) em uma rede da qual o caixeiro viajante deve partir de um ponto inicial (depósito ou base) e visitar pelo menos uma vez os outros N – 1 pontos, voltando no final da viagem para o ponto inicial, conforme apresenta a Figura 1. Para Botelho (2003), se o custo para ir de um nó qualquer “i” para outro nó qualquer “j” for igual ao custo de ir do nó “j” para o nó “i”, o problema será denominado simétrico. Caso contrário, o problema será assimétrico. Nesse tipo de problema, as demandas estão nos nós e os custos estão nas movimentações de um nó origem até um nó destino. Figura 1 – Exemplo do problema do Caixeiro Viajante Fonte: Adaptado de Ballou, 2001. Problema do Carteiro Chinês – PCC (Chinese Postman Problem – CPP): tem como objetivo determinar uma rota de comprimento mínimo dentro de uma área que parte de um ponto de origem, percorrendo pelo menos uma vez todas as arestas/arcos da rede, e volta à origem. Múltiplos Caixeiros Viajantes: esse problema é uma generalização do PCV, na qual se considera mais de um caixeiro viajante. Os M veículos da frota originam suas rotas de um depósito comum e terminam nesse mesmo local. Não há restrições sobre o número de nós que cada um pode visitar, exceto que cada veículo visite no mínimo um nó. 7 Roteirização em nós com único depósito e vários veículos: esse problema clássico de roteirização é também conhecido como PRV. Para Laporte et al. (2000), o PRV consiste em designar M rotas de veículos com menor custo total, cada rota começando e terminando em um depósito, de modo que cada cliente (nós) é visitado precisamente uma vez. A demanda total de qualquer rota não excede a capacidade Q do veículo, e o comprimento de qualquer rota não excede o comprimento máximo preestabelecido L. Roteirização em nós com vários depósitos e vários veículos: esse problema também é uma generalização do problema de múltiplos caixeiros viajantes, porém com vários depósitos, em que cada veículo é alocado a um único depósito, originando e terminando a viagem em um mesmo depósito. Roteirização em nós com único depósito e vários veículos com demandas incertas: esse problema é semelhante ao PRV, porém as demandas não são conhecidas com certeza, seguindo uma distribuição probabilística. Carteiro Chinês com limite de capacidade: esse problema é uma generalização do PCC, em que há restrições de capacidade dos veículos. O Quadro 1 demonstra as características dos problemas de roteirização pura em que são classificadas a modelagem, citado anteriormente, em problemas específicos de cobertura de nós e em problema específico de cobertura de vias ou arcos. Observa-se que o Problema do Caixeiro Viajante (PCV) destaca-se como clássico entre os problemas envolvendo coberturas de nós e o PCC para cobertura de vias. 8 Quadro 1 – Características dos problemas de roteirização pura Fonte: Adaptado de Bodin et al., 1983. Os problemas de programação podem ser considerados como problemas de roteirização com restrições adicionais relacionadas ao tempo quando várias atividades precisam ser executadas (Naruo, 2003). Conforme Bodin et al. (1983), esse tipo de problema pode ser dividido em dois casos: Programação de Veículos e Programação de Tripulações. O primeiro se preocupa com a sequência das atividades para os veículos no espaço e no tempo, e o segundo com a movimentação da tripulação no espaço e no tempo. Segundo Bodin et al. (1983) e Naruo (2003), os problemas de programação de veículos são classificados em: um único depósito, que consiste no particionamento dos nós de uma rede acíclica em um conjunto de caminhos, de modo que uma determinada função custo seja minimizada. Cada caminho corresponde a um veículo. Uma função objetivo que minimize o número de caminhos efetivamente minimiza os custos de capital, desde que o número de veículos necessários seja igual ao número de caminhos; 9 com restrições de tamanho de rota, que considera as restrições de tempo máximo de viagem ou de distância máxima percorrida pelo veículo antes deste voltar para o depósito. Essa restrição é comumente encontrada na prática e corresponde às restrições de reabastecimento, considerações de manutenção etc.; com múltiplos tipos de veículos, que considera a possibilidade de que veículos com diferentes capacidades estejam disponíveis para a realização das tarefas. É semelhante ao problema anterior; com múltiplos depósitos, que ocorre quando as tarefas podem ser realizadas por veículos por meio de depósitos diferentes, e estes, ao final do serviço, retornam à sua origem. Para o tamanho da frota de cada depósito, deve se especificar um mínimo e o máximo. As restrições que determinam a complexidade do problema de programação no mundo real são: limite de tempo que um veículo pode estar em serviço antes de retornar ao depósito; tarefas que só podem ser realizadas por tipos específicos de veículos; e presença de diferentes depósitos. Para a programação de tripulações, Bodin et al. (1983) consideram os seguintes problemas. Programação de pessoal em um local fixo: consiste em encontrar um conjunto de trabalho capaz de atender a todas as necessidades de tarefas em todos os períodos de tempo. Assume-se que os trabalhadores são intercambiáveis e que um determinado trabalhador possa ser deslocado ao final de cada período de tempo e que outro possa ser alocado no início de cada período. Programação de veículos e tripulações no transporte público: determina a alocação ótima de veículos a um conjunto de viagens programadas de linha, e determina também as jornadas das tripulações, considerando que as trocas de serviço e de turno só podem ser realizadas em pontos específicos dos trajetos das linhas. Programação de tripulações no transporte aéreo: é semelhante ao problema de programação de veículos e tripulações do transporte público, em que as tabelas de partidas e chegadas são previamente definidas. Programação de pessoal em turnos de revezamento: caracteriza-se pela programação diária de um dia para outro, havendo um rodízio de turno de 10 pessoal, em função de restrições trabalhistas, sindicais, dentre outras. Há necessidade de uma equalização das cargas e das condições de trabalho para as atividades que percebem a mesma remuneração. Para Naruo (2003), os problemas de roteirização e programação envolvem relações de precedência entre as atividades envolvidas e também restrições de janelas de tempo para as atividades (horário de atendimento e outros). Esses problemas podem ser considerados como uma combinação de problemas de roteirização e programação. Bodin et al. (1983) apontam os principais problemas para essa categoria. Ônibus escolares: consiste em um número de escolas, e cada uma delas possui um conjunto de paradas de ônibus com um dado número de estudantes atrelados, com janelas de tempo correspondentes aos horários de início e término do período escolar. O principal objetivo do problema é minimizar os custos de transportes para os municípios. Cavalos mecânicos para carretas com carga completa: ocorre quando uma carreta possui apenas uma origem e um destino, com a capacidade de um cavalo mecânico sendopreenchida por apenas uma carreta. Envolve relação de precedência. Cavalos mecânicos para carretas com carga parcial: esse problema é semelhante ao anterior, porém a carga não precisa ser completa e a carreta pode ser separada em diferentes origens e destinos. Serviço de coleta de resíduos domiciliares e de varrição de ruas: é semelhante ao problema do carteiro chinês, mas com restrições de capacidade dos veículos, de duração máxima de jornada e janelas de tempo associadas aos horários de proibições de estacionamento, de forma a possibilitar a execução do serviço de varrição. Em geral, o objetivo é a minimização da frota ou um objetivo correlato. Transporte de pessoas com deficiência ou transporte pré-programado: também conhecidos como dial-a-ride, segundo Znamensky e Cunha (2000), devido à possibilidade de o serviço ser acionado por telefone. Possui origens e destinos diferentes, em geral para serviços porta a porta. A precedência entre tarefas é uma restrição decisiva para a viabilidade da solução. 11 Aeronaves: tem como objetivo programar simultaneamente rotas aéreas (início, final e escalas), alocar as aeronaves e definir as tabelas de horários, levando em consideração dados da demanda entre pares de cidades, frequência do serviço desejado, voos diretos x escalas etc. Esses problemas envolvem tanto o transporte de passageiros como o transporte de cargas e encomendas. Znamensky e Cunha (2000) enfatizam que todos os tipos de problemas de roteirização e programação são de natureza essencialmente operacional, ou seja, fazem parte das tarefas rotineiras de programação da frota, realizadas com frequência regular, em geral diária ou semanal. Esse mesmo autor ressalta que existem também, na literatura, problemas de roteirização de natureza mais tática ou estratégica do que operacional, tais como problemas integrados de localização e roteirização e problemas integrados de estoque e roteirização. Nesses casos, a programação dos atendimentos deve levar em consideração não só aspectos espaciais e os custos dos roteiros, como também questões como o nível de estoque e problemas de faturamento e roteirização, nos quais é preciso definir simultaneamente quem vai ser atendido a cada dia de um período de tempo pré-determinado. No problema de roteirização clássico, todas as demandas são conhecidas antecipadamente. Vídeo Assista ao vídeo “Algoritmo Colônia de Formigas – Aplicado Ao Problema do Caixeiro Viajante”, sobre o problema de Roteirização sobre o Caixeiro Viajante. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=UXSc0j wgZis>. TEMA 3 – TÉCNICAS DE ROTEIRIZAÇÃO Após apresentar os tipos de problemas, são abordados a seguir os possíveis métodos de solução. Os métodos de roteirização continuam em expansão em número de pesquisas e aplicação, comprovando sua importância nas organizações que buscam minimizar os custos e otimizar os tempos de entrega de seus produtos, consolidando suas práticas logísticas. Os principais métodos encontrados na literatura são os métodos heurísticos, problema do caixeiro viajante, método de varredura e método de Clarke e Wright. 12 O método de varredura, também conhecido como Sweep Algorithm, é um método heurístico em que se procura obter a solução dos problemas em duas etapas distintas: a primeira visa agrupar os pontos de demanda segundo algum critério de proximidade; na segunda, cada grupo é solucionado independentemente (Novaes, 2000). Para Ballou (2001), o método de varredura é recomendável pela facilidade de resolução dos problemas de maneira rápida e eficaz, e por apresentar uma margem de erro de 10%, sendo aceitável quando se pretende estabelecer uma solução ótima absoluta. O método de Varredura, para Novaes (2000), é de fácil utilização e pode ser realizado por meio computacional, possuindo as seguintes fases. a. Fase 1: Utilizar o armazém como o ponto central e estabelecer um eixo horizontal, devendo este ser perpendicular àquele ponto. b. Fase 2: Girar o eixo em sentido horário ou anti-horário até a localização de um cliente. c. Fase 3: Experimentar os clientes potenciais, analisando se podem ser inclusos no plano de rotas. d. Fase 4: Na impossibilidade de inclusão, inicia-se um novo roteiro com o encerramento do anterior. e. Fase 5: Aplicar, para cada roteiro, o método 3-opt com a finalidade de reduzir o caminho a ser percorrido. Segundo Ballou (2001), a desvantagem do método diz respeito à maneira como os roteiros são formados. É um processo de dois estágios, em que em primeiro lugar se atribuem as paradas a cada veículo, para somente depois estabelecer a sequência das paradas nas estradas. Em função desse processo de dois estágios, questões de tempo, como a duração total da viagem e a atribuição de janelas de tempo, não são adequadamente tratadas. O método de resolução utilizado é o Algoritmo de Clarke & Wright, publicado por G. Clarke e J. W. Wright (1964) no artigo “Scheduling of Vehicles From a Central Depot to a Number of Delivery Points”, muito aplicado e conhecido na resolução de problemas complexos de roteamento de veículos. Muito utilizado na resolução de problemas isolados, esse método aparece também embutido dentro de muitos softwares de roteirização. Segundo Ballou (2000), enquanto o método de varredura produz um erro médio de 10%, o de Clarke e Wright reduz esse nível a 2% do ótimo absoluto. 13 Este método tem como objetivo gerar roteiros que respeitem as restrições de tempo e capacidade, mas visando, ao mesmo tempo, minimizar a distância total percorrida pela frota. À medida que o método vai construindo os roteiros de forma inteligente, buscando reduzir ao máximo a distância percorrida, o número de veículos necessários para realizar o serviço tende também a ser minimizado, reduzindo assim os investimentos e o custo de operação. É um método baseado no conceito de ganho. Primeira etapa: combinam-se todos os pontos (que representam os clientes) dois a dois e calcula-se o ganho para cada relação. Segunda etapa: ordenam-se todas as combinações (i, j) de forma decrescente segundo os valores dos ganhos. Terceira tapa: inicia-se com a utilização da combinação de dois nós que tenham apresentado o maior ganho. Posteriormente, na análise de outras situações, vai-se descendo na lista de combinações, sempre obedecendo à sequência decrescente de ganhos. Quarta etapa: para um par de pontos (i, j), tirado da sequência de combinações, verifica-se se os dois pontos já fazem parte de um roteiro iniciado: se i e j não foram incluídos em nenhum dos roteiros já iniciados, cria-se um novo roteiro com esses dois pontos; se o ponto i já pertencer a um roteiro iniciado, verifica-se se esse ponto é o primeiro ou o último desse roteiro (sem contar o CD). Se a resposta for positiva, acrescenta-se o par de pontos (i, j) na extremidade apropriada. Faz-se a mesma análise com o ponto j. Se nenhum dos dois pontos satisfazer essa condição separadamente, passa-se para o próximo item dessa etapa; se ambos os pontos i e j fazem parte, cada um deles, de roteiros iniciados, mas diferentes, verifica-se se ambos são extremos dos respectivos roteiros. Se a resposta for positiva, funde-se os dois roteiros em um só, juntando-os de forma a unir i a j. Caso contrário, passa-se para a quinta etapa; se ambos os nós i e j pertencerem a um mesmo roteiro, passa-se para a quinta etapa. 14 Quinta etapa: cada vez que se acrescenta um ou mais pontos em um roteiro, ou quando se fundem dois roteiros em um só, verifica-se se a nova configuração satisfaz as restrições de tempo e de capacidade. Se atender aos limites das restrições, a nova configuração é aceita. Sexta etapa: o processo termina quando todos os pontos (clientes) tiverem sido incluídos em um roteiro. Fechamos, assim, as propostas detécnicas de roteirização escolhidas para essa rota. Saiba mais Vocês já sabem organizar o roteiro no Google Maps? Assista ao vídeo “Roteiro no Google Maps” para conhecer a ferramenta. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=HpqDAjeDIIU>. TEMA 4 – OPERAÇÕES DE TRANSPORTE E IMPACTO NOS PROCESSOS DE ROTEIRIZAÇÃO Para elaborar o modelo de roteirização, foi necessário levantar todos os dados de entrada, características de demanda e limitações do setor de distribuição. Esses dados estão associados aos parâmetros definidos na formulação do problema. Os parâmetros relevantes são a capacidade dos veículos, as demandas de cada cliente e os tempos de deslocamento entre dois pontos. Pode-se então dividir os dados necessários em três categorias distintas, a saber, recursos de distribuição, dados sobre os clientes e dados do processo de distribuição atual. Novaes (2000) comenta que, na prática, problemas de roteirização ocorrem com bastante frequência na distribuição de produtos e serviços, e lista alguns exemplos: entrega, em domicílio, de produtos comprados em lojas de varejo ou pela internet; distribuição de produtos dos centros de distribuição para as lojas de varejo; distribuição de bebidas em bares e restaurantes; distribuição de dinheiro para caixas eletrônicos de bancos; distribuição de combustíveis para postos de gasolina; 15 coleta de lixo urbano; entrega domiciliar de correspondência; transporte de pessoas. Como já vimos, o problema de roteirização de veículos sem restrições recebe o nome de PCV – Problema do Caixeiro Viajante. O PCV consiste no caso em que um caixeiro viajante tem de visitar um certo número de cidades localizadas em uma região, devendo achar a sequência que minimize o custo total. Para o problema de roteirização de veículos com restrições, de acordo com Ribeiro (2001), para se resolver o PRV deve-se analisar, em primeira instância, as seguintes variáveis envolvidas: número de veículos envolvidos; capacidades desses veículos; pontos de paradas em cada roteiro; sequências de paradas. Percebe-se que são muitas as variáveis a se pensar para se ter assertividade no processo entre operações e roteirização. Saiba mais Assista ao vídeo “Distribuição física e transportes: aprenda a gerenciar de forma eficaz sua estrutura de transportes”, para capacitar os gestores a planejar, executar e controlar a operação de transportes em suas empresas, otimizando os resultados logísticos e globais. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=jeWjq_LDdvw>. TEMA 5 – OPERAÇÕES DE PROGRAMAÇAO DE VEÍCULOS Diante do cenário atual de grande competitividade empresarial, é preciso estar sempre em busca de aperfeiçoamento das atividades. A logística é parte integrante e indispensável nesse processo, e suas atividades necessitam ser planejadas e geridas de forma a estarem ligadas aos demais processos da empresa. Assim, é de extrema relevância que o processo de entrega esteja bem consolidado. O campo da logística evoluiu de um tratamento mais restrito, voltado à distribuição física de matérias e bens, para um escopo mais abrangente, em que 16 se considera a cadeia de suprimentos como um todo e as atividades de compras, administração de matérias e distribuição (Bozzi Filho; Liva, 2002). Surge, então, o conceito de Supply Chain Management (“Gestão de cadeia de suprimentos”), definido por Bozzi Filho e Liva (2002) como um processo orientado, com abordagem integrada, para compra, produção e entrega de produtos e serviços aos consumidores. Esse processo inclui fornecedores de diversas camadas, operações internas, operações comerciais, atacado/varejo e consumidores finais, e, com isso, a necessidade de atender aos clientes, agregando valor no processo de distribuição. Dentro dos canais de distribuição, temos o transporte e todos os processos de roteirização e programação, que podem ser descritos como a decisão que se refere ao grupo de clientes a serem visitados, e posteriormente o cronograma de sequenciamento das visitas e a restrição, em que é necessário completar as rotas com os recursos disponíveis (Novaes, 2000). O objetivo é determinar rotas de veículos que minimizem os custos de transporte, de modo que as demandas de todos os clientes sejam atendidas, e que as restrições de capacidade dos veículos sejam respeitadas. A roteirização pode ser caracterizada por n clientes (representados em uma rede de transportes por nós ou arcos) que deverão ser servidos por uma frota de veículos, sem apresentarem restrições à ordem em que deverão ser atendidos. As operações de programação ocorrem em fábricas, indústrias, atacados, varejos e até mesmo no nosso dia a dia. Saiba mais Assista ao vídeo “Roteirização de entregas: 3 dicas para aumentar sua produtividade logística”, para compreender como a roteirização de carga pode representar um grande ganho para a logística de atacadistas e distribuidores. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=n_sbbXJPbfE>. TROCANDO IDEIAS Podemos analisar a importância da disciplina no processo de distribuição. Como citados nos objetivos, é importante trazer o processo de roteirização e programação para as empresas e torná-los um diferencial competitivo. 17 NA PRÁTICA O que é roteirização de transporte? Percebe-se a importância da roteirização de transporte por meio da gestão de custos das empresas. Em diversos sites e blogs de empresas e de gestores da área de logística, é unanime o destaque sobre esse assunto: roteirização de transporte. Para qualquer planejamento de custos logísticos, precisa-se, por exemplo, do planejamento do valor do frete. Para levar uma carga de uma origem até o seu destino, é necessário roteirizar e principalmente considerar as variantes, como melhor caminho, trânsito, distância, pedágios, restrições no trajeto, e riscos no transporte. Pode-se resumir, então, que a roteirização é o planejamento de rotas dos veículos da frota, de terceiros e agregados, com foco em entregas mais eficientes e itinerários mais otimizados. Para tanto, a atividade de roteirizar acaba sendo uma atividade repleta de estratégias, e muitas vezes é desenvolvida manualmente, mas existem softwares que auxiliam nessas atividades. Tais softwares realizam atividades como definição de rotas, otimização de trajetos, verificação da capacidade de veículos e tamanho da frota, tipo de carga, entregas e prioridades. Com a roteirização, é possível reduzir o consumo de combustível, pois as rotas são bem elaboradas e otimizadas, reduzir o tempo gasto nas entregas, ter melhor controle sobre os veículos disponíveis, e, principalmente, otimizar a jornada de trabalho atendendo à CLT. Essas são algumas informações com que as empresas de transporte se preocupam e, por isso, entendem dos benefícios da roteirização de transporte. FINALIZANDO Começamos a aula apresentando a roteirização e seus problemas, o princípio da necessidade de roteirização, apresentando técnicas de roteirização e comentando, ao final da aula, as operações de transporte e os impactos nos processos de roteirização, bem como as operações focadas em programação de veículos. Podemos perceber que é importante entendermos sobre a roteirização para podermos fazer o melhor processo de roteirização e, consequentemente, ter redução de custos no transporte. 18 REFERÊNCIAS BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos: planejamento, organização e logística empresarial. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. BODIN, L.D. et al. Routing and scheduling of vehicles and crews: the state of the art. Computers and Operations Research, v.10, n. 2, 1983. BOTELHO, L. G. Um método para o planejamento operacional da distribuição: aplicação para casos com abastecimento de granéis líquidos. 100p. Dissertação (Mestrado em LogísticaEmpresarial) – Programa de Pós-Graduação em Logística Empresarial, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003. BOZZI FILHO, M.; LIVA, P. B. G. Supply Chain Management – I. TecHoje, uma revista de opinião. Disponível em: <http://www.techoje.com.br/site/techoje/ categoria/detalhe_artigo/304>. Acesso em: 21 set. 2019. CHRISTOFIDES, N. The Traveling Salesman Problem: A Guided Tour of Combinatorial Optimization. Hoboken: John Wiley & Sons, 1985. CORDEAU, J. F.; LAPORTE, G. A tabu search heuristic for the static multi-vehicle dial-aride problem. Transportation Research B, v. 37, p. 579-594, 2003. LAPORTE, G. et al. Classical and modern heuristics for the vehicle routing problem. International Transactions in Operational Research, v. 7, n. 4/5, p. 285-300, 2000. NARUO, M. K. O estudo do consórcio entre municípios de pequeno porte para disposição final de Resíduos Sólidos Urbanos, utilizando Sistemas de Informação Geográficos. 283 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2003. NOVAES, A. G. N. Logística e gerenciamento da cadeia de distribuição. São Paulo: Atlas, 2000. PARTYKA, J. G.; HALL, R. W. On the road to service. OR/MS Today, Catonsville, 2000. Disponível em: <https://www.informs.org/ORMS-Today/Archived-Issues/ 2000/orms-8-00/On-the-Road-to-Service>. Acesso em: 21 set. 2019. RIBEIRO, G. M. e Campos, V. B. G. (2001) Um Procedimento para Roteirização e Programação de Veículos Usando a Heurística de Ganhos para o Planejamento. 19 XXXIII SBPO Routing Systems Informática Ltda – Manual do RoadShow Módulos I e II. SARKIS, L. F. P. G. Resíduos de serviços de saúde em cidades de médio porte: caracterização de sistemas de coleta e aplicação de um sistema de informação geográfica na roteirização e coleta de transporte. 216 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2000. ZNAMENSKY, A.; CUNHA, C. B. Um modelo para o problema de roteirização e programação do transporte de deficientes. In: CONGRESSO DE PESQUISA E ENSINO EM TRANSPORTES, 13., São Carlos. Anais… São Carlos, 1998.
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