Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CAMPUS ARARANGUÁ COORDENADORIA ESPECIAL INTERDISCIPLINAR DE TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO CURSO BACHARELADO EM TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO Milena da Cunha Constante A Desigualdade das Mulheres no Mercado de Trabalho na Área de Tecnologias da Informação e Comunicação Araranguá 2021 15 Milena da Cunha Constante A Desigualdade das Mulheres no Mercado de Trabalho na Área de Tecnologias da Informação e Comunicação Trabalho Conclusão do Curso de Graduação em Tecnologias da Informação e Comunicação do Centro de Ciências, Tecnologias e Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Tecnologias da Informação e Comunicação. Orientadora: Prof . Dra. Andréa Cristina Trierweiller. Araranguá 2021 16 17 18 Este trabalho é dedicado a todas as mulheres que lutaram para que eu pudesse chegar aqui hoje. 19 AGRADECIMENTOS Aos meus pais, Ana Cristina Luiz da Cunha e Renaldino Constante, agradeço, imensamente, por todo o apoio e suporte para que minha formação de nível superior acontecesse. Da mesma forma, agradeço a minha irmã, Brenda da Cunha Constante, por todo o apoio durante essa caminhada. As minhas amigas Leticia Nazário e Gabrielle Macedo por sempre acreditarem que eu sou capaz e que sempre me incentivaram nos estudos e na carreira profissional. Aos amigos feitos em Araranguá, em especial Débora Tomazini que levarei como amizade para o resto da vida. E Luciano Marcelino Fernandes com quem me casei e terei o prazer de passar o resto de meus dias. A minha orientadora, a prof.ª Dra. Andréa Cristina Trierweiller, agradeço por todos os seus ensinamentos ao longo deste trabalho, suas lições foram essenciais para a conclusão deste TCC. À Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), pela oportunidade de obter uma formação gratuita com ensino de qualidade e aos professores que tive contato, pelos conhecimentos repassados a mim. A todos que, de alguma forma, contribuíram para que eu chegasse até a graduação. 20 RESUMO As áreas de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM, acrônimo em inglês) apresentam expressiva desigualdade de gênero, que costuma ser naturalmente aceita pelo senso comum, tanto nos órgãos de ensino, como no mundo do trabalho. Este contexto em que a mulher tem grandes chances de sofrer discriminação ao escolher uma dessas áreas para atuar profissionalmente, é o que leva a muitas desistirem da formação, ou então, nem escolher estas carreiras. Considerando estas questões, o objetivo geral deste trabalho foi analisar a participação das mulheres no segmento de TIC e formular uma visão crítica do cenário atual, destacando pontos em que a mulher, como profissional, pode ser desvalorizada quando comparada aos homens. Na história, com frequência, o sexo biológico foi usado para definir papéis na sociedade para homens e mulheres, plantando e cultivando socialmente a ideia de que a chance biológica de ser mãe deveria fazer com que todas as mulheres fossem responsabilizadas, obrigatoriamente, pelos cuidados do lar, dos filhos e do marido. Este trabalho apresenta uma análise sobre dados atuais e dados históricos que mostram, com clareza, a expressiva desigualdade de gênero nas áreas já citadas. Palavras-chave: gênero, tecnologia da informação, trabalho, mulher, profissão. 21 ABSTRACT The areas of Science and Technology show significant gender inequality, which is usually naturalized by common sense, both in educational bodies and in the world of work. This context, where women have great chances of suffering discrimination when choosing one of these areas to work professionally, is what leads many to give up on training, or else, not choose these careers. Thinking about these issues, the general objective of this work was to analyze the participation of women in the ICT segment and formulate a critical view of the current scenario, highlighting points in which women, as professionals, can be despised when compared to men. In history, biological sex has always been used to define roles in society for men and women. Planting and socially cultivating the idea that the biological chance of be ing a mother should make all women responsible, obligatorily, for the care of the home, children and husband. This work presents an analysis of current data and historical data that clearly show the expressive gender inequality in the aforementioned areas. Keywords: gender, information technology, work, women, profession. 22 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Levantamento exploratório no repositório institucional da UFSC. ......................43 Quadro 2 - Questões baseadas a partir de referencial teórico e pela própria autora deste TCC. .........................................................................................................................................45 23 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Women in Tech: the facts 2016 ..........................................................................33 Figura 2 - Principais ocupações em tecnologia por mulheres e homens ................................34 Figura 3 - Delineamento da pesquisa ..................................................................................40 Figura 4 - Primeiro bloco do questionário da pesquisa.........................................................48 Figura 5 - Segundo bloco do questionário da pesquisa.........................................................49 Figura 6 - Terceiro bloco do questionário da pesquisa .........................................................49 Figura 7 - Quarto bloco do questionário da pesquisa ...........................................................50 Figura 8 - Qual sua faixa de idade?Fonte: elaborado pela autora (2021) ...............................52 Figura 9 - Qual sua cor, raça ou etnia? ................................................................................52 Figura 10 - Qual sua formação profissional? .......................................................................53 Figura 11 - Atualmente, sou: ..............................................................................................54 Figura 12 - Qual o segmento da empresa que você atua? .....................................................54 Figura 13 - Comercio.........................................................................................................55 Figura 14 - Industria ..........................................................................................................55 Figura 15 - Serviço ............................................................................................................56 Figura 16 - Você tem dupla jornada de trabalho? (filhos, cuidados com a casa etc.) .............57 Figura 17 - Você tem percebido alguma mudança na inclusão de mulheres no mercado de trabalho de TI? ..................................................................................................................58 Figura 18 - Atualmente, você se sente segura em relação ao seu trabalho e direitos como mulher? .............................................................................................................................58 Figura 19 - Você se sente acolhida no seu ambiente de trabalho?.........................................59 Figura 20 - Você sente que tem voz ativa no seu ambiente de trabalho? ...............................60 Figura 21 - Já duvidaram ou anularam suaideia durante alguma reunião ou conversa, simplesmente por ser mulher? ............................................................................................60 Figura 22 - Você considera que se esforça muito mais que seus colegas para se manter onde está?..................................................................................................................................61 Figura 23 - Você se sente menos motivada por saber que, mesmo tendo a mesma formação ou ainda, tendo formação superior a de um homem, ainda ganhe menos? .................................62 Figura 24 - Você se sente/sentia intimidada com a quantidade de colegas do sexo oposto no seu ambiente de trabalho? ..................................................................................................62 24 Figura 25 - Durante o período universitário, você se sentiu acolhida ....................................63 Figura 26 - Já fizeram piadas ou comentários maldosos sobre você, por conta da sua escolha de carreira?........................................................................................................................64 Figura 27 - Você se sente/sentia intimidada com a quantidade de colegas do sexo oposto na universidade? ....................................................................................................................64 Figura 28 - Você já se sentiu oprimida em algum momento por colegas na universidade ou no trabalho, apenas por ser mulher? ........................................................................................65 Figura 29 - Você sente a falta de representatividade feminina no segmento em que atua? .....66 Figura 30 - A sua família apoiou sua decisão de carreira?....................................................67 Figura 31 - Se você pudesse, o que mudaria no seu ambiente de trabalho ou universidade? ..67 Figura 32 - O que te motiva a trabalhar nesta área? .............................................................68 25 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS TIC – Tecnologias da Informação e Comunicação C&T – Ciência e Tecnologia TCC – Trabalho de Conclusão de Curso STEM – Science, Technology, Engineering And Mathematics 26 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 27 1.1 OBJETIVOS ................................................................................................... 28 1.1.1 Objetivo Geral ............................................................................................... 28 1.1.2 Objetivos Específicos ..................................................................................... 28 2 REFERENCIAL TEÓRICO ......................................................................... 29 2.1 CONTEXTUALIZANDO TIC E SUAS DESIGUALDADES DE GÊNERO ..... 29 2.2 CONTEXTUALIZANDO A MULHER NO SETOR DE TIC ........................... 30 2.3 A MAIORIA DOS PROFISSIONAIS DE TIC É HOMEM ............................... 32 3 UMA PERSPECTIVA BIOLÓGICA ............................................................ 34 3.1 UMA PERSPECTIVA SOCIOLÓGICA........................................................... 35 3.2 SALÁRIOS DIFERENTES, CARGOS IGUAIS ............................................... 36 4 METODOLOGIA .......................................................................................... 39 4.1 TIPOS DE PESQUISA .................................................................................... 41 4.2 ELABORAÇÃO do INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS .................... 43 4.2.1 Questionário da Pesquisa............................................................................... 43 4.2.2 Questionário junto às colaboradoras de empresas de TIC ............................ 45 4.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................... 51 4.4 INFORMAÇÕES DAS RESPONDENTES ...................................................... 51 4.5 MERCADO E AMBIENTE DE TRABALHO .................................................. 57 4.6 AMBIENTE ACADÊMICO ............................................................................ 63 5 CONCLUSÃO ............................................................................................... 69 REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 71 APÊNDICE A – Questionário junto as mulheres do tic .................................................. 75 27 1 INTRODUÇÃO Em um mundo que está em constante crescimento, as transformações que ocorrem nos âmbitos político, social e econômico, impactam diretamente o ambiente de negócios, e o mercado de trabalho, onde estão inseridas (GOMES, 2005). Apesar da inserção da mulher neste mercado, ainda há questões de igualdade de gênero que não foram resolvidas ao ponto de garantir as mesmas oportunidades profissionais entre homens e mulheres. Ainda que vagarosamente, a participação feminina tem sido maior a cada ano (REVELO, 2020). A desigualdade da mulher no mercado de trabalho, especificamente, na área de TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação), é pouco comentada, são contáveis os que tentam igualar esta situação. Para tanto, alguns estudos como o da REVELO, Carreira, Ajamil e Moreira trazem dados que mostram a discrepância em relação aos salários, oportunidades de carreira e jornadas de trabalho de homens e mulheres neste segmento de atividade, conforme será apresentado no referencial teórico. Diante desse contexto, alguns questionamentos se mostram relevantes. Afinal, essa falta de representatividade que acontece já no âmbito acadêmico pode ser um dos motivos da diminuição da vontade de mulheres participarem destas áreas. Mas, para as poucas que ingressam neste segmento, como se sentem, como é a convivência em meio a tantos homens, será que é um ambiente hostil, pouco receptivo, desigual já durante sua formação? Essas são questões que serão esclarecidas neste trabalho. Por que muitas mulheres desistem da graduação, ou trocam de área assim que formadas? Como a sociedade trata mulheres que trabalham com ciência e tecnologias, a ponto de fazê-las desistir de suas carreiras? Essas questões são essenciais para se compreender o quão sério é esta situação. Quando se entende os porquês, consegue-se fazer mudanças realmente significativas. Para a contextualização desta temática e confirmação de sua relevância, apresentar - se-ão estudos que demonstram o pré-conceito com a mulher neste ambiente, mesmo que seja qualificada para a função. Sendo assim, este trabalho se justifica, pois é essencial compreender sua representatividade e como as mulheres têm atuado nesta área, tipicamente masculina. 28 1.1 OBJETIVOS Esta seção apresenta o Objetivo Geral e os Objetivos Específicos deste trabalho. 1.1.1 Objetivo Geral O presente estudo tem como objetivo geral: Analisar a participação das mulheres no segmento de TIC e formular uma visão crítica do cenário atual, destacando pontos em que a mulher, como profissional, pode ser desvalorizada quando comparada aos homens. 1.1.2 Objetivos Específicos • Realizar levantamento de literatura sobre as definições centrais e temáticas, relacionadas ao desenvolvimento do TCC; • Verificar na literatura, instrumentos de coleta de dados que possam ser utilizados/adaptados para este trabalho; • Analisar a percepção das colaboradoras que trabalham em empresas de TIC, por meio de aplicação de questionário; • A partir das constatações obtidas na fundamentação teórica, aplicação do questionário com mulheres atuantes no segmento de TIC, será possível propor sugestões para trabalhos futuros. 29 2 REFERENCIAL TEÓRICO Para fundamentar este estudo, é necessário apresentar os pressupostos teóricose principais considerações da literatura sobre os temas da pesquisa. Em um primeiro momento, serão abordados alguns conceitos fundamentais para compreensão das desigualdades de gênero, breve histórico sobre feminismos e a categoria gênero, também será analisada a participação das mulheres no segmento de TIC e formulada uma visão crítica do cenário atual. Por fim, apresento alguns estudos sobre mulheres nas áreas de ciência, tecnologias da informação e comunicação. 2.1 CONTEXTUALIZANDO TIC E SUAS DESIGUALDADES DE GÊNERO O setor de Tecnologia da Informação e Comunicação engloba diferentes atividades, incluindo conhecimentos específicos relacionados à tecnologia, desenvolvimento de aplicativos, softwares e hardwares, consultoria, integração, treinamento e suporte técnico (GUTIERREZ; ALEXANDRE, 2004). Conforme apresentado pela Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (BRASSCOM, 2020), o setor de Tecnologia da Inf ormação no Brasil, tem 845 mil empregos e, destes, apenas 33% são ocupados por mulheres. Tais diferenças iniciam ainda na formação profissional, o Censo da Educação Superior (2019) mostra que as mulheres correspondiam a apenas 13,3% das matrículas nos cursos presenciais de graduação na área de Computação e TIC, e 21,6% na área de Engenharia e profissões correlacionadas. Fagundes (2017, p.22) explica que: As desigualdades são evidentes na preferência por homens no setor, principalmente quando são consideradas as atividades com maior reconhecimento e melhor remuneração. [...] A razão desta desigualdade vem sendo discutida ao longo dos anos, mas pouco foi comprovado. Sabe-se, porém, de acordo com os dados, que a situação é desigual. Nesta perspectiva, é plausível associar tais discrepâncias ao conceito de gênero, este que, para Scott (1990), fundamenta relações sociais baseadas nas diferenças entre os sexos e nas convicções que as pessoas têm sobre papéis próprios aos homens e às mulheres, além de ser a primeira forma de significar relações de poder. Na prática, são as concepções de qu e homens desempenham o papel de líderes de seus lares, gerando sustento da família por 30 trabalharem fora e, desta forma, têm certa autoridade sobre as mulheres, estas que devem trabalhar em casa, cuidando do lar e dos filhos. No entanto, as relações sociais que constituem o gênero não devem ser reduzidas apenas ao ambiente doméstico ou da família, mas devem ser analisadas de forma mais ampla, incluindo também: [...] o mercado de trabalho (um mercado de trabalho sexualmente segregado faz parte do processo de construção do gênero), a educação (as instituições de educação socialmente masculinas, não mistas ou mistas fazem parte do mesmo processo), o sistema político (o sufrágio masculino universal faz parte do processo de construção do gênero) (SCOTT, 1990). Assim, torna-se fundamental estudar as disparidades de gênero no mercado de trabalho do setor de TIC, uma vez que as mulheres dessa área ocupam espaços socialmente compreendidos aos homens, o que pode gerar situações de questionamento, opressão e intimidação para com elas. 2.2 CONTEXTUALIZANDO A MULHER NO SETOR DE TIC Um senso comum do início do século mostrava o marido como o provedor do lar, portanto, a mulher - esposa - não precisava ter renda. Essa realidade começou a mudar com as Guerras Mundiais I e II, e a precariedade de mão de obra - pois os profissionais estavam em guerra. Este foi, e ainda é um grande marco histórico, visto que representa o momento em que as mulheres começaram a se inserir no mercado de trabalho (PROBST; RAMOS, 2013). Antes disso, homens e mulheres possuíam responsabilidades totalmente diferentes no núcleo familiar e, assim que as mulheres ingressaram no ambiente dito masculino, as desavenças se tornaram presentes e constantes. Desavenças essas que permearam as relações familiares, mas principalmente as organizações, colocando o gênero como elemento fundamentalmente importante da prática e estudos organizacionais. Para Kanan (2010) o desenvolvimento econômico e a consolidação do sistema capitalista beneficiaram o processo de reflexão sobre a identidade social que até então favorecia o papel de mãe, esposa e dona de casa, fazendo com que a mulher duvidasse de sua posição, de seu papel, de sua identidade e suposta fragilidade. Como consequência, a mulher conquistou, com muito esforço, espaços antes vistos como territórios exclusivos dos homens e 31 os fatores que contribuíram para isto foram a modificação do ideal da mulher no lar; o poder decisório de controlar e decidir o número de filhos (descoberta do anticoncepcional); o direito ao voto; a possibilidade de compor a renda familiar; o direito de dissolução do vínculo matrimonial; a publicação de leis protegendo a mulher trabalhadora; a procura pela qualificação em termos culturais, técnicos e acadêmicos; legitimidade do acesso ao estud o; entre outros. Porém, mesmo com uma alteração significativa nos grupos familiares e na importância da mulher para a renda familiar, as desigualdades se fazem presentes. Um estudo realizado pela McKinsey & Company (2015) sobre as mulheres no mercado de trabalho, apresenta alguns dados relevantes para o debate: as mulheres são sub representadas em todos os níveis nas organizações, e a diferença é maior nos cargos de liderança sênior; as taxas de mulheres que deixam as empresas são inferiores ou iguais aos dos homens; mulheres enfrentam mais barreiras para avançar na carreira do que os homens; as mulheres sacrificam suas carreiras mais facilmente em função da carreira do parceiro. Outro fator relevante é o trabalho doméstico, conforme aponta a pesquisa f eita por Madalozzo, Martins e Shiratori (2010), em que a presença feminina no mercado de trabalho enfrenta diversos obstáculos, como por exemplo, o trabalho doméstico. A existência de um cônjuge, para mulheres, aumenta as horas trabalhadas em casa; por outro lado, para os homens, a presença de uma mulher na família diminui essa participação. Probst e Ramos (2013) colocam que com as pressões da carreira somadas ao trabalho doméstico, as mulheres sofrem muito mais com o estresse da carreira comparado aos homens. Probst e Ramos (2013) falam ainda que não existe um único lugar tipicamente masculino que ainda não tenha sido invadido pelas mulheres. A mulher está cada vez mais presente no mercado de trabalho. Porém, essa inserção vem sendo acompanhada de discriminação e desigualdade. A desculpa para os salários e jornadas de trabalho tão diferentes estava voltada para a questão de que o dever de trabalhar e sustentar a família não é da mulher. Desta forma, não havia razão para igualdade de salários (PROBST; RAMOS, 2013). Gurgel (2010), explana a ideia de que houve uma forte resistência dos homens que já atuavam neste mercado de trabalho, dificultando ainda mais a entrada delas neste segmento, pois a presença feminina representava uma ameaça aos seus empregos e ao mesmo tempo mudava completamente o papel tradicional da mulher na sociedade, elas deixavam de ser a cuidadora do lar e dos filhos e começava a ser a provedora da casa. 32 As mulheres vêm tentando conquistar seu espaço e registrar seu nome na históri a da tecnologia (FERREIRA, 2015). Apesar de não serem a maioria, as mulheres desempenharam um papel fundamental na história da TIC. Desde Ada Lovelace, que desenvolveu o primeiro algoritmo a ser processado por uma máquina, Grace Hopper, que desenvolveu o q ue hoje é considerado o primeiro software de computador, ou então, Mary Kenneth Keller, que f oi a pioneira na obtenção do título de PhD em Ciência da Computação e ajudou na criação da linguagem BASIC. Cristina Junqueira, mulher brasileira considerada uma das mais importantes no mundo tech, ela é co-fundadora da Nubank e serve de inspiração e representatividadepara todas as mulheres que desejam entrar no ramo ou que já estão. É possível citar, também, como um incentivo e caminho para a mudança de paradigmas, o aumento no número de mulheres em altos cargos de grandes empresas de TIC, por exemplo, CEOs de empresas como LATAM, General Motors, Pandora Brasil, Microsoft Brasil e Nubank. Nunes (2016) explica que à medida que a programação e a engenharia de softwa re ganham visibilidade e importância econômica, tornam-se evidentes os efeitos dos princípios da divisão sexual do trabalho. Segundo a professora do IME, Renata Wassermann, em 1970 a computação era dita como “coisa de menina”, visto que ninguém ainda tinha computadores pessoais, a única utilidade dos computadores era para processamento de dados e realização de cálculos . Essa atividade, por sua vez, ficava sob demanda do secretariado, em que a maioria que ocupava esse cargo, eram mulheres. Quando chegaram os computadores pessoais, tudo mudou, os computadores então serviam para jogar e fazer outras atividades que não demandassem mais o saber do cálculo e, sim, da tecnologia. Sendo assim, a sociedade definiu que jogos de computadores eram “coisa de meninos”, afastando as mulheres da tecnologia. 2.3 A MAIORIA DOS PROFISSIONAIS DE TIC É HOMEM Em uma pesquisa feita por Alencar (2013), ele esclarece que, além da quantidade de homens que ingressaram em cursos superiores relacionados a TIC ser maior que a de mulheres, as que ingressam passam por dificuldades e preconceitos durante os cursos, tanto da parte dos discentes como dos docentes e dos familiares, parceiros e amigos. 33 O relatório Women in Tech: the facts 2016, publicado pelo NCWIT (National Center for Women & Information Technology dos Estados Unidos) (ASHCRAFT; MCLAIN; EGER, 2016) indica que, em 2015, somente 25% dos cargos de computação ou correlacionadas, eram ocupados por mulheres, e, destes, a maioria eram de etnia branca, conforme a Figura 1. Figura 1 - Women in Tech: the facts 2016 Fonte: Ashcraft et al. (2016) apud Maestri (2019, p.73) As mulheres ocupam posições menos técnicas, segundo o relatório Women in Tech: the facts (2016) destacado na Figura 2 - Principais ocupações em tecnologia por mulheres e homens, as cinco posições mais ocupados por mulheres nas áreas relacionadas à tecnologia são: gerente de projetos, analista de negócios, analista de testes e recrutadora de TI. Dentre essas funções, a única que necessariamente está relacionada a conhecimentos técnicos, como lógica de programação, é o cargo de analista de testes. Já os homens, preenchem cargos como: engenheiro de software, administrador de sistemas, gerente de projetos, gerente de tecnolog ia e desenvolvedor de aplicações. E, entre todas essas ocupações a única que não exige, profundamente, os saberes técnicos é o cargo de gerente de projetos. 34 Figura 2 - Principais ocupações em tecnologia por mulheres e homens Fonte: Women in tech: the facts. NCWIT (2016, p. 14) apud Maestri (2019, p.74) 3 UMA PERSPECTIVA BIOLÓGICA Este tópico explica algumas diferenças cerebrais de homens e mulheres, e o porquê essas diferenças não são motivo para a desigualdade social. Em Pease e Pease (2000), que destacam um estudo, feito em 1995, na Universidade de Yale, por um grupo de cientistas chefiado pelos doutores Bennet e Sally Shaywitz, estudaram homens e mulheres para determinar qual a parte do cérebro que é responsável pelas rimas. Esse estudo mostrou, através da ressonância magnética, que o homem utiliza principalmente o lado esquerdo para tarefas ligadas à fala, e a mulher usa os dois lados. Este estudos de 1990, comprova que os cérebros masculinos e femininos funcionam de m odos diferentes. A pesquisa identificou que as meninas desenvolvem a parte esquerda muito mais rápido que os meninos, motivo pelo qual geralmente falam melhor e mais depressa, tem facilidade em aprender uma nova linguagem e desenvolvem a habilidade de leitura antes dos meninos. Por outro lado, os homens amadurecem o lado direito antes das mulheres, desta forma desenvolvem melhor as habilidades de lógica, orientação espacial e percepção. Numa visão geral, os homens têm tendência em se sair melhor em matemática, construções, na montagem de quebra-cabeças e na resolução de problemas. 35 Como os homens desenvolvem melhor essas habilidades, têm mais interesse em fazer atividades que estimulem estas funções, enquanto as mulheres têm interesse em outras áreas como saúde, educação, artes. Mas não se pode afirmar, ainda, que essa situação ocorre apenas por fatores biológicos. Um segundo estudo, feito por Berman e Joel (2015), onde centenas de imagens de cérebros de homens e mulheres lado a lado mostraram que não existe provas de que tenha um tipo de cérebro masculino ou feminino. Mesmo existindo, sim, áreas diferentes em determinados locais em função do sexo, ainda não se pode dividir os humanos em duas categorias. As provas, sob o olhar científico da matéria cinzenta, da matéria branca, das conexões neuronais e da espessura do córtex cerebral, levam a crer que não existe diferença sexual cerebral. Para sustentar essas afirmações, um grupo de pesquisadores alemães, suíços e israelenses concluiu, a partir de comparações anatômicas feitas em 1.400 cérebros de homens e mulheres que, não existe uma região nas amostras coletadas que demonstre uma evidente diferença entre uma forma masculina e uma forma feminina (BERMAN e JOEL, 2015). 3.1 UMA PERSPECTIVA SOCIOLÓGICA A discriminação de gênero já vem ocorrendo desde a época de escravidão no Brasil. As mulheres eram submissas ao regime patriarcal, não tendo direitos a quase nada em relação ao que os homens tinham. Trabalhar era raridade para elas, apenas cuidavam da casa e dos filhos, com pouquíssimas exceções. O que fica evidenciado no mercado de trabalho em relação à inserção e aos próprios salários de mulheres, é a menor participação delas. As questões de gênero são extremamente influenciadas pela perspectiva sociológica , e, em estudos atuais como de Soares (2001) e Carreira, Ajamil e Moreira (2001, apud GOMES 2005), é possível verificar que essa desigualdade não se dá apenas pela questão biológica, mas também, social. Um exemplo sobre o enraizamento dessa cultura sociológica é uma pesquisa feita por Almeida (2015), com alunos de ensino fundamental e médio, onde concluiu que se espera um certo comportamento da mulher e um diferente do homem. Os estudantes mostraram como características qualitativas das mulheres a organização, fragilidade, delicadeza, calma, sensibilidade e a paciência. Já, para caracterizar os homens, disseram que estes eram 36 inteligentes, competitivos, ágeis e centrados. Reforçando então, as características da mulher como inferior. Sendo assim, nota-se que a construção do que é “ser homem” e “ser mulher” está implantado na sociedade e este fato ainda direciona as escolhas profissionais. A grande discussão sobre gênero levanta o questionamento da existência de poucas mulheres nas áreas de Ciências, Exatas e Tecnologias, totalmente o contrário ao que ocorre nas áreas de Humanas e da Saúde. Soares (2001) estudou as causas da baixa presença das mulheres no campo do trabalho de Ciência e Tecnologia, e concluiu que existem três principais causas, (1) a questão biológica, já contestada anteriormente; (2) a sociedade – que julga e direciona as pessoas para áreas de conhecimento consideradas femininas ou masculinas; e (3) os obstáculos existentes na carreira das mulheres, como a dupla jornada de trabalho. Observa-se que, a inclusão e a participação das mulheres como força de trabalho crescem de forma expressiva. Entretanto, áreas como a de C&T (Ciência e Tecnologia) ainda contam com uma baixa representatividade do gênero feminino, devido a obstáculos próprios do campo de trabalho que dificultama sua presença, como também as barreiras no que tange os aspectos socioculturais, como a discriminação do gênero numa área predominantemente masculina. Carreira, Ajamil e Moreira (2001, apud GOMES, 2005) discutem o fato que apesar das mulheres estarem incluídas no mercado, elas ainda enfrentam obstáculos para se manterem nas organizações, alguns dos pontos citados estão: salários menores, dupla jornada de trabalho, deficiência nas políticas sociais, menor chance de capacitação e, falta de voz em tomadas de decisões. Soares (2001) aponta, também, outras duas propostas para esclarecer a falta da participação feminina nas áreas de C&T no âmbito acadêmico. A primeira seria a questão biológica, já contestada pela comunidade científica; a segunda seria voltada para as características da sociedade na comunidade que estão inseridas, que geram as próprias dificuldades existentes na carreira das mulheres. 3.2 SALÁRIOS DIFERENTES, CARGOS IGUAIS Este tópico se baseia em trechos do trabalho de Marilane Oliveira Teixeira (2008). No final do século XVIII e início do século XIX, começaram os primeiros debates sobre a 37 desigualdade salarial entre homens e mulheres, este foi um período de transição e reestruturação do cenário social, ligado ao processo de industrialização. Neste período, mulheres que trabalhassem por dinheiro era malvistas, sendo considerado prejudicial, só poderiam ter este direito, aquelas que exercessem atividades de caridade ou em casa. Durante esse período, o salário de mulheres solteiras era equivalente para o sustento delas e nada a mais que isso, este era o consenso da época, não era admitido, que mulheres recebessem salários superiores ao seu sustento. Já, para um homem, o mínimo aceitável, é sempre acima disso, porque, para o consenso da época, o salário do homem precisa ser suficiente para sustentar a si, uma mulher e filhos. Para as mulheres de classe baixa, isso não era aplicado, visto que os empregos que conseguiam e os níveis salariais não permitiam algum poder social, tampouco, econômico. Como conclusão sobre o pensamento da época, pode-se observar que os homens não têm problemas quanto a mulher trabalhar, mas sim em receberem salários. Diferente do mercado de serviços e de produtos, no mercado de trabalho, o salário, que é o preço do trabalho, busca diferenças que ocorrem de pessoa para pe ssoa, de f unção para função, de região para região e de país para país. Essas e várias outras questões têm influência para determinar o salário de alguém, sendo a discriminação e o preconceito fatores determinantes inerentes às desigualdades salariais. Outras questões que influenciam os salários são as influências culturais, institucionais e sociais, e, não menos importante, a oferta de força de trabalho. Segundo a Revelo, empresas estão começando a abrir as portas para mulheres, mas o números ainda são baixos. [...] o número de convites a mulheres para vagas nessas profissões cresceu de 12% em 2017 para 17% em 2019. Já a diferença de remuneração oferecida para homens e mulheres era de 22,4% e passou para 23,4 nesses mesmos anos. Em números, a média da proposta de salário às mulheres em 2019 foi de R$ 5.531, enquanto a para homens foi de R$ 6.829 (REVELO, 2020). Este estudo mostra que as mulheres por se sentirem mais críticas consigo mesmas, e se sentirem mais questionadas por suas habilidades e capacidades acabam exigindo menos na pretensão salarial. Pode haver variações nos dados de acordo com o setor, por exemplo, em 38 marketing digital onde elas representam 54% dos cargos, é a área de menor diferença de pretensão salarial: 10%. Em TI, onde são apenas 5%, a diferença é de 19%. Mas gestão de negócios, com representação feminina de 30%, tem a maior distinção: 28%. (REVELO, 2020.) Mesmo em áreas onde mulheres são maioria, como o marketing digital, os cargos de liderança ainda são em grande maioria ocupados por homens, 57%. Em TI e desenvolvimento essa diferença é ainda mais expressiva, num ambiente onde há apenas 13% e 11% de mulheres, os homens ocupam cerca de 92% das posições de chefia. Aos poucos as mulheres estão se posicionando mais claramente em relação ao valor do seu trabalho. Em 2017, aceitavam mais propostas abaixo de sua pretensão salarial, 64%, enquanto a porcentagem de homens que aceitava era 54%, mas finalmente em 2019 ambos se igualaram em 54%. 39 4 METODOLOGIA Conforme Gil (2010), uma pesquisa é desenvolvida com a utilização de métodos, técnicas e outros procedimentos científicos. Sendo assim, deve-se considerar sua tipologia e as diversas fases percorridas para que os resultados sejam obtidos. Portanto, este ca pítulo pretende descrever como aconteceu a pesquisa neste TCC. Para tanto, inicialmente, apresenta-se a Figura 3, em que consta o delineamento geral da pesquisa deste trabalho. . 40 Figura 3 - Delineamento da pesquisa Fonte: elaborado pela autora (2021) 41 4.1 TIPOS DE PESQUISA Pronadov e Freitas (2013) mostram que a realização de pesquisas é primordial para resolver problemas e dúvidas, através da utilização de métodos científicos. Além disso, há vários pontos de investigação que necessitam de respostas e esclarecimentos; por isso, é importante buscar informações. Especificamente, neste TCC, a pesquisa apresenta caráter exploratório e descritivo tendo por objetivo analisar a percepção das mulheres, que estão trabalhando no mercado de TIC e, dentre os fatores levantados estão o motivo para estarem nesta área e dificuldades enfrentadas. A pesquisa exploratória tem por objetivo aproximar o pesquisador do fenômeno que está sendo estudado, trazendo maior familiaridade (GIL, 2010); e, portanto, propriedade para que ele discuta os assuntos abordados e os resultados obtidos. Também se trata de uma pesquisa descritiva, pois busca descrever a situação em estudo, a relação entre os fenômenos (GIL, 2010). Inicialmente, para o desenvolvimento deste TCC, foi conduzida pesquisa exploratória com o objetivo de que a pesquisadora (autora deste TCC), pudesse se familiarizar com o problema em estudo e assim, tomar conhecimento das palavras-chave e assuntos mais abordados pelos autores para condução da pesquisa bibliográfica mais abrangente (coleta de dados secundários), a qual objetivo fornecer o embasamento teórico do trabalho bem como da construção e/ou adaptação do questionário a ser utilizado para a pesquisa de campo deste TCC (coleta de dados primários), junto as mulheres do mercado de TIC. Neste caso, a pesquisa descritiva busca compreender a relação entre mulheres no mercado de trabalho e na vida academia, como realidade atual de muitas trabalhadoras no Brasil e no mundo, abordando os desafios, oportunidades, vantagens e desvantagens segmento de trabalho. Em relação à classificação da pesquisa, quanto ao tratamento dos dados, há a pesquisa qualitativa e a quantitativa. Conforme Prodanov e Freitas (2013), a pesquisa quantitativa compreende tudo aquilo que é quantificável e, portanto, requer a utilização de recursos e técnicas estatísticas. Já, na pesquisa qualitativa, o pesquisador mantém contato direto com o objeto de estudo e o ambiente, o que requer um trabalho de campo mais intensivo. 42 Neste TCC, há a abordagem qualitativa em menor grau, pois foram buscadas pessoas de referência para entendimento inicial deste tema, tendo contato com trabalhadoras, passíveis de responderem a pesquisa, a ser aplicada via questionário. Contudo, é predominantemente de caráter quantitativo, já que a pesquisa de campo (dados primários) e os resultados obtidos são apresentados na forma de percentuais e gráficos. Porém, apesar desta nuance quantitativa, destaca-se que se trata de uma amostragem não-probabilística, por conveniência, em que a seleção dos sujeitos da população, para compora amostra, não teve a pretensão de ser representativa. Ou seja, a partir dos resultados obtidos nesta pesquisa não se pode fazer inferências para o universo (população), que seriam as mulheres deste segmento. Em parte, a amostra não probabilística, vai do julgamento do pesquisador, neste caso, decidida pela disponibilidade em responder o questionário (MATTAR, 1996). Afinal, foi feita uma survey, em que se enviou um convite por aplicativo de mensagens, para alguns contatos da rede de relacionamento da pesquisadora e sua professora orientadora. Outra forma de classificar a pesquisa é quanto aos dados secundários e dados primários que utiliza. Dessa forma, utilizou-se de fontes de dados primários e secundários. Os dados secundários são aqueles que já foram elaborados por outros autores e portanto, estão disponíveis para consulta de conceitos, tipologias, características do tema que se está estudando, constituindo-se na fundamentação teórica do trabalho (GIL, 2010). Já, os dados primários são obtidos a partir da pesquisa ou estudo de campo; ou seja, são de “primeira mão” e, neste TCC foram obtidos via aplicação de questionário (GIL, 2010). É também caracterizado como um estudo de campo, pois procurou, via a aplicação de um questionário junto as mulheres da área de TIC (Apêndice A), disponibilizado pela ferramenta google forms, na plataforma online, permitindo flexibilidade e conforto ao respondente, já que é possível responder conforme sua disponibilidade. 43 4.2 ELABORAÇÃO DO INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS Destaca-se que a pesquisa de campo envolveu um tipo de instrumento de coleta de dados: o questionário junto às colaboradoras de empresas de TICs. 4.2.1 Questionário da Pesquisa Para a elaboração do questionário de pesquisa, além da fundamentação teórica realizada acerca da inclusão das mulheres no mercado de trabalho de TIC, realizo u-se uma busca exploratória no repositório institucional da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), local de estudo da pesquisadora, com o intuito de identificar trabalhos já realizados com assunto semelhante ao desta pesquisa e que contivessem questionários, envolvendo a temática desigualdade da mulher no mercado de TIC, como meio de coleta de dados. A busca no repositório institucional da UFSC ocorreu em julho de 2021, com os seguintes descritores: "gênero" AND "tecnologia* da informação" AND "trabalho" AND "mulher*" AND "profissão". Filtrou-se, assim, os registros que contivessem esses quatro descritores em seu título, obtendo-se 383 resultados. E, a partir da análise destes títulos, restaram 7 registros relacionados ao tema deste TCC, os quais são apresentados no quadro 1. Quadro 1 - Levantamento exploratório no repositório institucional da UFSC. Título Autor Ano TIPO Possui Questionário? Gênero E Trabalho: Uma Análise Dos Impactos Da Pandemia Da Covid-19 Na Vida Profissional De Homens E Mulheres Iasmin Da Costa Figueiredo 2021 TCC Não Gênero E Mercado De Trabalho: Uma Análise Do Brasil Ana Liria Souza Wagner 2019 TCC Sim Ux Design, Gênero E Tecnologia Desirée Sant’anna Maestri 2019 Dissertação Sim Aplicando Ciência De Dados Para Análise Do Perfil Dos Alunos Em Joice Preuss Cardoso 2019 TCC Não 44 Cursos De Tecnologia Da Ufsc A Influência Do Gênero Sobre A Trajetória Profissional De Mulheres Trabalhadoras No Setor Tecnologia Da Informação: Um Relato A Partir De Suas Histórias De Vida Daiani Fagundes 2017 TCC Sim Um Estudo Sobre Gênero E Escolha Profissional Entre Estudantes Do Instituto Federal De Santa Catarina Milena De Mesquita Brandão 2016 TCC Não Desigualdades Salariais No Mercado De Trabalho Do Brasil: Enfoque Nos Gêneros E Nas Raças Ewerson Carlos Da Silva 2007 TCC Não Só Tem Homem, Pera Né, Eu Também Quero Entrar Nesse Lugar.” Reflexões Sobre A Inserção De Mulheres No Segmento De Vigilância Patrimonial Privada. Maria Fernanda Diogo 2016 TCC Não GÊNERO EM AÇÃO: Rompendo o Teto de Vidro? (Novos Contextos da Tecnociência) Cristina Tavares da Costa Rocha 2006 Tese Sim Ascensão Profissional De Executivas Em Empresas Baseadas No Conhecimento Louise de Lira Roedel Botelho 2008 Dissertação Sim Fonte: elaborado pela autora (2021) Os estudos estão listados do mais atual para o mais antigo, de acordo com a data de publicação. Dos 10 trabalhos descritos no quadro 1, observa-se que todos tratam da mulher no mercado de trabalho sob diferentes aspectos, abordando: acesso ao mercado de tr abalho por esse gênero, processos de contratação e capacitação, questões de adequações e convivência no ambiente de trabalho. 45 4.2.2 Questionário junto às colaboradoras de empresas de TIC Em Diogo (2012) e Carreira, Ajamil e Moreira (2001, apud GOMES, 2005), foi possível se basear, para elaboração das questões relacionadas ao perfil das mulheres no segmento de TIC, em dados relacionados a empresas e universidades, em que essas estão inseridas. Quadro 2 - Questões baseadas a partir de referencial teórico e pela própria autora deste TCC. Num. Questão Autora (2021) Questão Diogo (2012) Questão Carreira, Ajamil e Moreira (2001, apud GOMES, 2005) 1 Qual o seu sexo biológico? 2 Qual sua faixa de idade? Qual a sua idade? 3 Qual sua cor ou raça/etnia? 4 Qual sua formação profissional? Qual sua formação escolar? Você estuda? 5 Atualmente, sou: Você trabalha? Em que? 6 Qual o segmento da empresa que você atua? Você trabalha? Em que? 7 Você tem dupla jornada de trabalho? (filhos, cuidados com a casa etc.) Você tem filhos? Quantos filhos você tem? Qual a idade deles? 8 Você tem percebido alguma mudança na inclusão de mulheres no mercado de trabalho de TI? Você percebe alguma mudança no perfil das vagas de vigilantes? Quais? 9 Atualmente, você se sente segura em relação ao seu trabalho e direitos como mulher? Como é a sua relação com a empresa na qual você trabalha (contratante)? 10 Você se sente acolhida no ambiente de trabalho? Qual a receptividade das empresas contratantes à força de trabalho feminina? 11 Você sente que tem voz ativa no seu ambiente de trabalho? [...] elas ainda enfrentam obstáculos para se manterem nas organizações, alguns dos pontos citados estão: [...] falta de voz em tomadas de decisões. 12 Já duvidaram ou anularam 46 sua ideia durante alguma reunião ou conversa, simplesmente por ser mulher? 13 Você considera que se esforça muito mais que seus colegas para se manter onde está? Você sentiu alguma dificuldade no exercício profissional relacionada ao fato de ser mulher? Qual? 14 Você se sente menos motivada por saber que, mesmo tendo a mesma formação ou ainda, tendo formação superior à de um homem, ainda ganhe menos? [...] elas ainda enfrentam obstáculos para se manterem nas organizações, alguns dos pontos citados estão: salários menores[...] 15 Durante o período universitário, você se sentiu acolhida? Qual seu trabalho atual? Como você se sente em relação a ele? 16 Já fizeram piadas ou comentários maldosos sobre você, por conta da sua escolha de carreira? [...]como também as barreiras no que tange os aspectos socioculturais, como a discriminação do gênero numa área predominantemente masculina. 17 Você se sente/sentia intimidada com a quantidade de colegas do sexo oposto no seu ambiente de trabalho? [...]como também as barreiras no que tange os aspectos socioculturais, como a discriminação do gênero numa área predominantemente masculina. 18 Você se sente/sentia intimidada com a quantidade de colegas do sexo oposto na universidade? [...]como também as barreiras no que tange os aspectos socioculturais, como a discriminação do gênero numa área predominantemente masculina. 19 Você jáse sentiu oprimida em algum momento por colegas na universidade ou no trabalho, apenas por ser mulher? [...]como também as barreiras no que tange os aspectos socioculturais, como a discriminação do gênero numa área predominantemente masculina. 20 Você sente a falta de representatividade feminina no segmento em que atua? [...]como também as barreiras no que tange os aspectos socioculturais, como a discriminação do 47 gênero numa área predominantemente masculina. 21 A sua família apoiou sua decisão de carreira? O que sua família e seus amigos acharam desta escolha que você fez? 22 Se você pudesse, o que mudaria no seu ambiente de trabalho ou universidade? (Ex: contratação de mais mulheres para a área, campanhas para mulheres ingressarem em cursos de TI etc.) Mais alguma coisa a acrescentar que não tenha sido perguntada? 23 O que te motiva a trabalhar nesta área? O que você acha da profissão de vigilante? Fonte: elaborado pela autora (2021) Assim sendo, o trabalho de Diogo (2012) e Carreira, Ajamil e Moreira (2001, apud GOMES, 2005), foram as duas bases de referência para a elaboração do questionário para a pesquisa deste TCC (Trabalho de Conclusão de Curso). Após a leitura de trabalhos e artigos que abordavam o tema da mulher no mercado de trabalho de TIC, a autora deste TCC pôde elaborar um esboço inicial do questionário, para em seguida, em conjunto com a professora orientadora e um especialista, aprimorar e consolidar a versão final do questionário da pesquisa, disponibilizada no Google Forms (Apêndice A). O objetivo do questionário elaborado foi coletar informações acerca das mulheres em empresas da área de TIC e os diferentes cenários em que se encontram. Sendo assim, o público-alvo foram as profissionais nas empresas de TIC ou estudantes de cursos deste segmento. Quanto à estrutura do questionário, este foi dividido em 3 blocos, conforme explicado a seguir. O primeiro bloco (Figura 4), consiste em coletar as informações dos perfis de cada respondente. O segundo bloco (Figura 5) focou em questões sobre a empresa em que as respondentes atuam, e o mercado de TIC. O terceiro bloco (Figura 6), aborda a jornada de trabalho das entrevistadas durante a universidade. 48 O quarto e último bloco (Figura 7), trata de duas questões abertas para coletar dados de possíveis mudanças em empresas e universidades no sentido de atrair mais mulheres para as áreas de STEM, e, entender o que as mantém neste mercado. Destaca-se que, optou-se por não solicitar informações de identificação das respondentes, visto que o questionário tem perguntas de cunho pessoal e sobre a empresa onde estas atuam, o que poderia levar a uma situação de constrangimento ou ainda, intimidação. Figura 4 - Primeiro bloco do questionário da pesquisa Fonte: elaborado pela autora (2021) 49 Figura 5 - Segundo bloco do questionário da pesquisa Fonte: elaborado pela autora (2021) No segundo bloco buscou-se informações a respeito de como as respondestes se sentem em relação as empresas que atuam, deixando em aberto nas questões 8, 9 e 14, para aquelas que tenham a necessidade de relatar algo diferente do proposto na questão. Figura 6 - Terceiro bloco do questionário da pesquisa Fonte: elaborado pela autora (2021) O terceiro bloco, busca coletar dados sobre a vida universitária feminina nos cursos de STEM, com exceção da questão 21, que se trata da opinião familiar das respondes. 50 Figura 7 - Quarto bloco do questionário da pesquisa Fonte: elaborado pela autora (2021) 51 4.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Esta seção apresenta os resultados obtidos por meio da aplicação do questionário (Apêndice A) utilizado nesta pesquisa. Este questionário foi disponibilizado via Google Forms, de forma online, no período de 2 a 12 de setembro de 2021 e teve por objetivo coletar informações de como mulheres se sentem e quais os desafios que passam por estarem inseridas no mercado de trabalho de empresas do segmento de TIC. Assim, obteve-se 70 respostas durante o período em que o questionário estava disponível, e todas foram válidas. Para considerar uma resposta como sendo válida foi utilizado o sexo biológico da respondente. A seguir, a análise do questionário por blocos, como já citado. 4.4 INFORMAÇÕES DAS RESPONDENTES As informações das respondentes fazem parte do primeiro bloco do questionário e, na Figura 8, observa-se que a grande maioria das mulheres está entre as faixas etárias de 18 a 45 anos, 7,1% entre 46-55 e 2,9% acima de 55 anos, que ainda estão em atividade no mercado. 52 Figura 8 - Qual sua faixa de idade? Fonte: elaborado pela autora (2021) De acordo com a Figura 9, observa-se que a maioria das respondes é de cor branca, seguida pela cor parda, sendo apenas 5,7% delas de cor preta e 1,4% de cor amarela; não houve nenhuma respondente indígena. Figura 9 - Qual sua cor, raça ou etnia? Fonte: elaborado pela autora (2021) 53 Na Figura 10, tratou-se da escolaridade das respondes, em que pode-se notar que quase todas completaram, pelo menos, o ensino superior. Apenas, 1,4% ainda não ingressou na universidade e 21,4%, estão cursando o ensino superior. Figura 10 - Qual sua formação profissional? Fonte: elaborado pela autora (2021) De acordo com a Figura 11, se pensarmos que, como mostrado na questão anterior, pelo menos 41,4% das respondes já tem ensino superior completo e 28,6% já possuem pós- graduação completa, se tem, pelo menos, 70% delas com formação para atuar em cargos de gerência e liderança, facilmente, mas, a partir do gráfico abaixo, podemos ver que 64,3% das respondes ocupam cargos de analista e desenvolvimento e apenas 7,1% mulheres ocupam cargo de gerência e 1,4% ocupam cargo de líder de setor. 54 Figura 11 - Atualmente, sou: Fonte: elaborado pela autora (2021) As Figuras 12, 13, 14 e 15 tratam da coleta de dados sobre o segmento das empresas das respondentes. Figura 12 - Qual o segmento da empresa que você atua? Fonte: elaborado pela autora (2021) 55 O segmento onde elas se concentram é o de serviços, como observa-se a partir da Figura 12, com 87,1% das respostas. Figura 13 - Comercio Fonte: elaborado pela autora (2021) Figura 14 - Industria Fonte: elaborado pela autora (2021) 56 Figura 15 - Serviço Fonte: elaborado pela autora (2021) E, das 87,1% das respostas de mulheres que atuam no segmento de serviço, 77% delas está na área das TICs. A Figura 16 mostra o percentual de mulheres que enfrentam a dupla jornada de trabalho, englobando não apenas cuidados com filhos, mas afazeres domésticos e outros tipos de trabalho. Assim, observa-se que a quantidade de mulheres que enfrenta a dupla jornada de trabalho é muito superior comparado com aquelas que não enfrentam, sendo 77,1% delas respondendo como “Sim” para a questão, e, apenas 22,9% responderam negativamente. 57 Figura 16 - Você tem dupla jornada de trabalho? (filhos, cuidados com a casa etc.) Fonte: elaborado pela autora (2021) 4.5 MERCADO E AMBIENTE DE TRABALHO O segundo bloco do questionário trata-se das informações do mercado de trabalho e a empresa onde cada respondente está inserida. Na Figura 17, ao serem questionadas se notaram alguma mudança a favor da inclusão no mercado em que estão inseridas, 84,3% delas responderam que sim, estão notando mudanças, o que significa que o mercado de trabalho de TIC, realmente está buscando incluir mais mulheres. Ainda assim, pode-se levantar o questionamento sobre o porquê elas ainda não estão ocupando cargos de liderança, gerencia e diretoria tão expressivamente quanto os homens. 58 Figura 17 - Você tem percebido alguma mudança na inclusão de mulheres no mercadode trabalho de TI? Fonte: elaborado pela autora (2021) As Figuras 18 e 19 tratam de como elas se sentem em relação a segurança e acolhimento no ambiente de trabalho. Figura 18 - Atualmente, você se sente segura em relação ao seu trabalho e direitos como mulher? Fonte: elaborado pela autora (2021) 59 A grande maioria se sente plenamente segura em relação ao trabalho e direitos como mulher; contudo, 25,7% das entrevistadas não se sentem seguras. Como é de conhecimento geral, existem muitas variáveis para tornar o ambiente de trabalho hostil. Na Figura 19, observa-se que das 70 respondes, 87,1% são bem-vindas no trabalho, tanto por colegas quanto por superiores, mas, infelizmente, 5,7% delas não são acolhidas pelos colegas e 2,9% por seus superiores. Com esses dois últimos dados pode-se observar dois cenários desagradáveis para s e trabalhar, levando em conta que ninguém gosta de ser mal-recebido em um ambiente onde vai passar maior parte do dia. Figura 19 - Você se sente acolhida no seu ambiente de trabalho? Fonte: elaborado pela autora (2021) Quando questionadas se sentem que tem voz ativa no trabalho, 20% das respondentes disseram que não. Em contrapartida 75,7% disseram que sim e 4,3% não souberam opinar, como mostra a Figura 20 a seguir. 60 Figura 20 - Você sente que tem voz ativa no seu ambiente de trabalho? Fonte: elaborado pela autora (2021) Na Figura 21, 55,7% mulheres disseram que nunca duvidaram ou tiveram suas ideias anuladas pelo fato de ser mulher. Já, 38,6% das respondentes, disseram o contrário, que sim, já passaram por algum tipo de situação dessas, e, 5,7% dessas não souberam opinar. Figura 21 - Já duvidaram ou anularam sua ideia durante alguma reunião ou conversa, simplesmente por ser mulher? Fonte: elaborado pela autora (2021) 61 Na Figura 22, observa-se que a maioria das mulheres sente que precisa se esforçar muito mais que alguém do sexo oposto para se manter onde está. (57,1%) Figura 22 - Você considera que se esforça muito mais que seus colegas para se manter onde está? Fonte: elaborado pela autora (2021) Na Figura 23, as respondentes foram questionadas quanto ao seu sentimento em relação à remuneração. Dentre as respondentes, 58,6% delas afirmam estar menos motivadas, 24,3% disseram que não, mas entre as 10% da categoria “Outros”, duas delas afirmaram que não aceitam ganhar menos que um homem na mesma posição. 62 Figura 23 - Você se sente menos motivada por saber que, mesmo tendo a mesma formação ou ainda, tendo formação superior a de um homem, ainda ganhe menos? Fonte: elaborado pela autora (2021) Na Figura 24, os dados coletados se referem ao sentimento da minoria, intimidação, em relação a quantidade de pessoas do sexo oposto no segmento onde as respondentes atuam, 34,3% das mulheres que participaram da pesquisa, disseram que “Sim”, se sentem intimidadas. Figura 24 - Você se sente/sentia intimidada com a quantidade de colegas do sexo oposto no seu ambiente de trabalho? Fonte: elaborado pela autora (2021) 63 4.6 AMBIENTE ACADÊMICO Neste bloco, as perguntas do questionário são voltadas para a jornada na universidade. A questão 15, que se encontra na Figura 25, aborda o assunto acolhimento pelos professores e colegas de turma, o dado que chama atenção desta questão são as 5,7% mulheres que assinalaram a opção onde não foram acolhidas pelos professores, NEM por seus colegas, isso quer dizer que 5,7% das 70 respondentes tiveram uma fase acadêmica solitária, e, consequentemente, mais difícil do que aqueles ao seu redor. Figura 25 - Durante o período universitário, você se sentiu acolhida Fonte: elaborado pela autora (2021) A questão 16, não diz respeito exclusivamente à universidade, mas por conhecimento da autora deste trabalho, as piadas de mal gosto, que nada mais é do que o próprio bullying disfarçado de piada, que vem, majoritariamente do ambiente universitário. A Figura 26, a seguir, mostra os dados coletados, em que percebe-se que pouco mais da metade das mulheres que responderam à pesquisa, já passaram por situação desse tipo, apenas pelo motivo de serem mulheres. 64 Figura 26 - Já fizeram piadas ou comentários maldosos sobre você, por conta da sua escolha de carreira? Fonte: elaborado pela autora (2021) Para a próxima questão, foi perguntado se as respondentes se sentiam intimidadas com a quantidade de homens nos cursos em que estavam, e, 40%, disseram que “Sim”, enquanto 60% responderam o contrário, como mostra a Figura 27. Figura 27 - Você se sente/sentia intimidada com a quantidade de colegas do sexo oposto na universidade? Fonte: elaborado pela autora (2021) 65 Na questão 19, representada pela Figura 28, 57,1% mulheres responderam que se sentem ou já se sentiram oprimidas na universidade ou no próprio trabalho, simplesmente por serem mulheres, este número é mais da metade das entrevistadas. Figura 28 - Você já se sentiu oprimida em algum momento por colegas na universidade ou no trabalho, apenas por ser mulher? Fonte: elaborado pela autora (2021) Ao serem questionadas sobre a falta de representatividade de mulheres nas áreas de TICs (Figura 29), impressionantemente 32,9% das entrevistadas afirmaram não sentir falta desta representatividade, mas a maioria das mulheres sente falta, (64,3%). 66 Figura 29 - Você sente a falta de representatividade feminina no segmento em que atua? Fonte: elaborado pela autora (2021) Conforme a Figura 30, a maioria das respondentes tem o apoio da f amília, o que é algo muito importante para qualquer pessoa, mas principalmente, ao entrar em um mundo predominantemente masculino. Infelizmente, 2,9% das respondentes ainda não adquiriram o apoio familiar. 67 Figura 30 - A sua família apoiou sua decisão de carreira? Fonte: elaborado pela autora (2021) Na Figura 31 se encontram as sugestões de melhoria no ambiente universitário e/ou de trabalho. Figura 31 - Se você pudesse, o que mudaria no seu ambiente de trabalho ou universidade? Fonte: elaborado pela autora (2021) De todas as respostas, as mais sugeridas foram campanhas em colégios para meninas ingressarem na área de STEM, contratação de mais mulheres para o mercado de TIC, cargos de liderança e igualdade salarial. 68 Algumas respostas interessantes sugerem o incentivo do conhecimento das profissões desde a infância, desmistificando este mercado como masculino. Outra sugestão, que chama atenção é para campanhas de conscientização masculina. Ou seja, não se faz necessário apenas trazer mulheres para compor o mercado de TI, mas também, preparar os homens para tal cenário, uma vez que de nada adiantará uma igualdade de mercado, se o ambiente permanecer hostil e as oportunidades continuarem sendo desiguais. A Figura 32, representa porque as respondentes atuam neste mercado, apesar de todos os desafios impostos. É importante observar que apesar de demandar um esforço diário, emocional, e até físico, muitas mulheres amam a tecnologia e estão nesta área por paixão, independentemente de como a sociedade irá julgá-las, ou o quão difícil este mercado pode ser. Figura 32 - O que te motiva a trabalhar nesta área? Fonte: elaborado pela autora (2021) 69 5 CONCLUSÃO Esta pesquisa, no caráter de um trabalho de conclusão de curso, teve como questão norteadora: Quais são as perspectivas das mulheres inseridas no setor de tecnologia da informação e comunicação? Buscando compreender as diferenças de gênero no campo de trabalho de TIC. Neste último capítulo, apresentar-se-ão as conclusões finais da autora referente ao objetivo geral e específicos, além de sugestões de possíveis trabalhos futuros, relacionados à pesquisa. O objetivo desta pesquisafoi trazer maiores contribuições tanto para a academia quanto para os profissionais da área de TIC, no que se refere à questão de gênero neste segmento, lançando oportunidades para pesquisas futuras. Entende-se que os objetivos propostos neste trabalho foram alcançados por intermédio da revisão da literatura e da pesquisa de campo. Ou seja, o objetivo geral: Analisar a participação das mulheres no segmento de TIC e formular uma visão crítica do cenário atual, destacando pontos em que a mulher, como profissional, pode ser desvalorizada quando comparada aos homens; foi alcançado tendo sido demonstrado, via análise do questionário, a baixa participação das mulheres no segmento de TI, ainda dominado pelos homens. As mulheres respondentes destacaram que, no geral, que se sentem menos motivadas por saberem recebem menores salários, que já sofreram algum tipo de bullying ou assédio em ambiente de trabalho ou universitário, os quais foram confirmados pela literatura, apresentada na fundamentação teórica neste TCC. Em relação aos objetivos específicos: Realizar levantamento de literatura sobre as definições centrais e temáticas, relacionadas ao desenvolvimento do TCC; bem como, verificar na literatura, instrumentos de coleta de dados que possam ser utilizados/adaptados para este trabalho – os mesmos foram alcançados, tendo sido demonstrados tanto o tema de gênero, quanto temáticas correlatas, e, ainda, instrumentos de coleta de dados foram identificados tendo sido considerados na composição do questionário aplicado neste TCC. Quanto ao objetivo específico: Analisar a percepção das colaboradoras que trabalham em empresas de TIC, por meio de aplicação de questionário; o mesmo foi atingido aplicando-se o questionário em larga escala, tendo sido feitas sugestões para trabalhos futuros. Para tanto, foi feita uma revisão da literatura sobre a temática e estudo de campo por meio da aplicação de um questionário junto a mulheres atuantes em empresas de TIC. Desta 70 forma, foi possível perceber que a questão de gênero deve ser melhor abordada em estudos futuros, com oportunidades para levantamentos em temáticas correlatas com gênero: inclusão, assédio moral no trabalho, bullying, dentre outros, nos ambientes de TIC, de forma mais ampla e incluindo outras variáveis. Por meio do estudo de campo foi possível observar a relevância de se incentivar meninas e mulheres em fase de aprendizagem a procurar o caminho da tecnologia, de modo a aumentar a representatividade feminina no ensino superior, nos cursos STEM e, consequentemente, no campo de trabalho. Para isso, é de extrema importância que haja uma ação conjunta entre sociedade, governo e empresas para mostrar que é possível se ter mulheres seguindo carreira na área tecnológica, seja programando, analisando ou gerenciando. 71 REFERÊNCIAS COMPUTER WORLD, 2020, Mercado de TI pode apresentar déficit de 290 mil profissionais em 2024. Disponível em: https://computerworld.com.br/carreira/mercado-de-ti-pode-apresentar-deficit-de-290-mil- profissionais-em- 2024/#:~:text=Existem%20atualmente%20845%20mil%20empregos,est%C3%A1%20em%2 070%20mil%20profissionais. Acessado em 14 de abril de 2021. REVELO, Mulheres alavancam na área de tecnologia , mas diferença de salários aumenta, 2020. Disponível em: https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/10/06/mulheres-avancam-na-area-de- tecnologia-mas-diferenca-de-salarios-aumenta.htm?cmpid=copiaecola. Acessado em 20 de maio de 2021. CRIADO, MIGUEL ÁNGEL, 2015, El país - Não existe cérebro masculino ou feminino. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2015/11/30/ciencia/1448904392_009014.html. Acessado em 20 de abril de 2021. DIOGO, Maria Fernanda, 2012, “Só Tem Homem, Pera Né, Eu Também Quero Entrar Nesse Lugar.” Reflexões Sobre A Inserção De Mulheres No Segmento De Vigilância Patrimonial Privada, 259 f. Monografia (Pós-Graduação em Psicologia Curso de doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, 2012. Acessado em 16 de maio de 2021. 72 GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas S.a., 2002. Disponível em: https://cienciassaude.medicina.ufg.br/up/150/o/Anexo_C1_como_elaborar_projeto_de_pesqui sa_-_antonio_carlos_gil.pdf. Acessado em 1 de setembro 2021 TEIXEIRA, Marilane Oliveira, 2008, Desigualdades Salariais Entre Homens E Mulheres A Partir De Uma Abordagem De Economistas Feministas. Disponível em: https://periodicos.uff.br/revistagenero/article/view/30952. Acessado em 15 de maio de 2021. PEASE, Allan e Barbara, 2000, Por que os Homens Fazem Sexo e as Mulheres Fazem Amor? 16ª edição. FAGUNDES, Daiani. A influência do gênero sobre a trajetória profissional de mulheres trabalhadoras no setor de tecnologia da informação : Um relato a partir de suas histórias de vida. 2017. 101 p. TCC (graduação) – Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Socioeconômico, Curso de Administração. Florianópolis, 2017. Acessado em 15 de maio de 2021 GUITERREZ, Regina Maria Vinhais; ALEXANDRE, Patrícia Vieira Machado. Complexo eletrônico: introdução ao software. BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 20, p. 3 - 76, set. 2004. Disponível em: https://www.bndes.gov.br/SitesBDNES/export/sites/default/bdnes_pt/Galerias/Arquivos/conh ecimento/bnset/set2001.pdf. Acesso em 15 de maio de 2021. SCOTT, Joan Wallach. Gênero: Uma categoria útil para análise histórica . Cadernos de história UFPE p. 9-39, 1990. disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/185058/mod_resource/content/2/G%C3%AAnero- Joan%20Scott.pdf. Acessado em 15 de maio de 2021. 73 PROBST, E. R.; RAMOS, P. A Evolução da mulher no mercado de trabalho. Instituto Catarinense de Pós-Graduação, v.1, n.1, p. 1-8, 2013. Disponível em: http://www.posuniasselvi.com.br/artigos/rev02-05.pdf. Acessado em 15 de maio de 2021. MCKINSEY&COMPANY. Women in the workplace 2015. 2015. Disponível em: http://wit.berkeley.edu/docs/Women-in-the-Workplace-2015.pdf. Acessado em 15 de maio de 2021. SOARES, Thereza Amélia. Mulheres em ciência e tecnologia: ascensão limitada. Quím. Nova, São Paulo, v. 24, n. 2, p. 281-285, Apr. 2001. Disponivel em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100- 40422001000200020&lng=en&nrm=iso. Acessado em 15 de maio de 2021. KANAN, L. A. Poder e liderança de mulheres nas organizações de trabalho. Organizações & Sociedade, v.17, n.53, p. 243-257, Salvador, 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/osoc/v17n53/01.pdf. Acessado em 15 de maio de 2021. GURGEL, T. Feminismo e luta de classe: história, movimento e desafios teórico- políticos do feminismo na contemporaneidade. Fazendo Gênero. Diásporas, Diversidades, Deslocamentos, 2010. Disponível em: http://www.fazendogenero.ufsc.br/9/resources/anais/1277667680_ARQUIVO_Feminismoelut adeclasse.pdf. Acessado em 15 de maio de 2021. FERREIRA, N. A mulher no mercado de tecnologia: conquistamos muito, mas ainda estamos longe do ideal. 2015. Disponível em: http://gizmodo.uol.com.br/especial-a- mulherno-mercado-de-tecnologia/. Acessado em 16 de maio de 2021. ALENCAR, M. D. M. Visibilidade de Gênero no Corpo Discente do Curso Ciência e Tecnologia na UFERSA Angicos: Histórias de Vida e Identidades. 2013, 37 f. Monografia (Graduação em Ciência e Tecnologia) - Universidade Federal Rural do Semi- Árido, Angicos, 2013. Acessado em 16 de maio de 2021. 74 ALMEIDA, A. Educação profissional e relações de gênero: razões de escolha e a discriminação. 2015, 111 f. Dissertação (Mestrado em Educação: História, Política, Sociedade) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2015. Acessado em 16 de maio de 2021. NUNES, J. H. Gênero e raça no trabalho em tecnologia da informação (TI). Ciências Sociais Unisinos, v.52, n.3, p. 383-395, São Leopoldo, 2016.Disponível em: http://revistas.unisinos.br/index.php/ciencias_sociais/article/view/csu.2016.52.3.09/5758. Acessado em 30 de maio de 2021. Madalozzo, R.; Martins, S. R. & Shiratori, L. (2010). Participação no mercado de trabalho e no trabalho doméstico: homens e mulheres têm condições iguais? Estudos Feministas, 18(2), 547-566. Retirado em 02.02.2011 de http://www.insper.edu.br/site/default/files2008_wpe125.pdf. Acessado em 30 de maio de 2021. GOMES, Almiralva Ferraz. O outro no trabalho: mulher e gestão. REGE Revista de Gestão, v. 12, n. 3, p. 1-9, 2005. Acessado em 30 de maio de 2021. PRONADOV, C. C.; FREITAS, E. C. de. Metodologia do trabalho científico: Métodos e Técnicas da Pesquisa e do Trabalho Acadêmico. 2. ed. Novo Hamburgo/RS: Universidade Feevale, 2013. 277 p 75 APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO JUNTO AS MULHERES DO TIC 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86
Compartilhar