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FILHOS ADOLESCENTES: Promovendo práticas parentais positivas Edi Cristina Manfroi. Henrique Lima Reis. Isabel Pires Santana. Laize Marinho Cruz. Viviane Martins Sousa Nascimento. Autores: Edi Cristina Manfroi Henrique Lima Reis Isabel Pires Santana Laize Marinho Cruz Viviane M. S. Nascimento Design gráfico: Laize Marinho Cruz FILHOS ADOLESCENTES: Promovendo práticas parentais positivas Copyright 2022. Todos os direitos reservados. Laize Marinho Cruz Professora Associada da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Doutora pela UFSC-Universidade Federal de Santa Catarina. Pós doutorado em Psicologia: cognição e comportamento pela UFMG. Docente dos cursos de graduação em Psicologia e do Mestrado Profissional em Psicologia da Saúde. Coordenadora do Núcleo de Estudos Especializados em Desenvolvimento Humano (NEEDH). Graduando em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia. Bolsista de iniciação científica através da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB/UFBA). Membro do Núcleo de Estudos Especializados em Desenvolvimento Humano (NEEDH). Graduanda em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia. Bolsista de iniciação à extensão pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Extensão Universitária (PIBIEX). Integrante do Projeto Iniciação, Transição e Adaptação para a Parentalidade. Psicóloga, graduada pela Universidade Federal da Bahia. Especialista em Neuropsicologia (Faculdade Única de Ipatinga). Mestranda em Psicologia da Saúde, pela Universidade Federal da Bahia. Técnica do Sistema Único de Assistência Social. Edi Cristina Manfroi Henrique Lima Reis Isabel Pires Santana Viviane Martins Sousa Nascimento Graduanda em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia. Bolsista de iniciação à extensão pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Extensão Universitária (PIBIEX). Integrante do Projeto Iniciação, Transição e Adaptação para a Parentalidade. Educar adolescentes não é tarefa fácil. Diariamente somos desafiados, postos à prova e ficamos em dúvida se o nosso jeito é o melhor para transmitir ensinamentos para eles. Educar é um processo complexo e, apesar de não existir uma receita de bolo, o avanço da ciência nos permitiu compreender de maneira muito mais clara o desenvolvimento do adolescente e a dinâmica de suas interações com os pais e com a sociedade. Dessa forma, podemos dizer que atualmente possuímos informações e referências para pensarmos em maneiras mais eficazes de cuidado. Além disso, é importante lembrar que, no período da adolescência, uma relação de respeito, apego, comunicação e afeto com seu filho é capaz de impactá-lo positivamente ao longo de toda a sua vida. A presente cartilha tem como objetivo, portanto, servir de material de orientação para pais, mães e cuidadores de adolescentes que desejam desenvolver um melhor diálogo e vínculo com seus filhos. A criação do material surge como iniciativa da pesquisa de mestrado da psicóloga Viviane Martins S. Nascimento, na área da Psicologia da Saúde da UFBA, com orientação da professora e pesquisadora Dra. Edi Cristina Manfroi e colaboração do seu Núcleo de Estudos em Desenvolvimento Humano (NEEDH) com os estudantes Laize Marinho Cruz, Isabel Pires Santana e Henrique Lima Reis. O trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES), como requisito para obtenção do título de Mestre em Psicologia da Saúde. Os autores agradecem à FAPESB (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia) e à Universidade Federal da Bahia (UFBA) pelo financiamento de bolsas de iniciação científica e extensão para a realização do projeto. O conteúdo aqui presente baseia-se em estudos, pesquisas científicas e na experiência profissional dos envolvidos. Esperamos que o material contribua para a construção de uma relação positiva e afetuosa com seu filho, oferecendo as ferramentas necessárias para um bom desenvolvimento de práticas educativas positivas no seu dia a dia. Prefácio 01 O que acontece com o meu filhodurante a adolescência? Como a Psicologia pode me ajudar na tarefa de educar meu filho?02 03 04 Diferença entre Orientação Parental, Terapia de família e Psicoterapia Práticas parentais: o que são e quais são as mais adequadas? 05 06 Orientações práticas para o dia a dia: Falando sobre… Meu filho não me obedece. O que eu faço? Limites e regras Uso de telas: computador, notebook, celular e televisão Como me comunicar de maneira adequada com o meu filho? 5.1 5.2 5.3 5.4 Como conversar com o meu filho sobre sexualidade? Como conversar com o meu filho sobre saúde mental? Como conversar com o meu filho sobre escolha profissional? Como conversar com o meu filho sobre uso de drogas? Como conversar com o meu filho sobre amizades? 6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 Sumário 01 04 06 08 15 47 07 Conclusão 71 1. O que acontece com o meu filho durante a adolescência? Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069, 1990), considera-se adolescente o indivíduo entre os 12 e 18 anos de idade incompletos. A adolescência é uma etapa fundamental do crescimento e desenvolvimento humano, na qual o indivíduo passa por várias transformações físicas, sociais, cognitivas e emocionais. Essa fase também é marcada pela transição da infância para a vida adulta e é comum que o adolescente seja considerado muito novo para fazer “coisas de adultos” e muito grande para ter atitudes de crianças. Dentre as alterações físicas presentes nessa fase, pode-se destacar aquelas voltadas à puberdade, como o crescimento esquelético linear (conhecido como estirão), a alteração da composição corporal, as mudanças hormonais, o crescimento dos pelos e o amadurecimento dos órgãos de reprodução. Com o cérebro não é diferente. As funções cerebrais também passam por muitas mudanças que influenciam o comportamento do adolescente. Um exemplo disso é o que ocorre com o que chamamos de sistema de recompensas (conjunto de estruturas no cérebro responsáveis por sinalizar quando algo é prazeroso). Durante a adolescência, o sistema de recompensas perde de 30% a 50% da sua sensibilidade, então é natural que tudo que antes era considerado interessante e satisfatório, de uma hora para outra, perca a graça, fazendo com que o adolescente abandone os prazeres da infância e busque novos prazeres e atividades. Por isso, nessa fase é tão comum o filho preferir a companhia dos amigos em detrimento da família. Os pais já são conhecidos no sistema de recompensa do adolescente e o ambiente de casa não é uma novidade. Nesse sentido, é até mesmo esperado que as amizades assumam maior importância para o indivíduo, ao passo que é exigida dos pais negociação na dinâmica familiar, já que o adolescente cria novas necessidades em relação aos papéis desempenhados na família. Além disso, é normal que eles se identifiquem com outros adolescentes, considerando que estes têm a mesma idade, estão passando pelas mesmas mudanças e possuem os mesmos interesses. A adolescência também apresenta como características marcantes a busca pela independência e a construção da identidade. O adolescente começa a questionar a si mesmo e aos outros quanto aos valores e opiniões, porque ainda está descobrindo, de fato, seus gostos, preferências, quem é e em que acredita. Muitas vezes, isso pode gerar crises na família, mas é importante que sejam estabelecidos acordos saudáveis para que seja possível dar espaço e autonomia para o adolescente de forma cuidadosa. Vale lembrar que as áreas do cérebro responsáveis por controlar os impulsos, prever as consequências dos próprios atos e se colocar no lugar dos outros, não estão totalmente desenvolvidas no início da adolescência e é por isso que o suporte familiar e social é tão fundamental nesse período. 1. O que acontece com o meu filho durante a adolescência? 02 Apesar de todos os conflitos, lembre-se que o seu filho precisa de uma rede de apoio. É importante mencionar que na adolescência o indivíduo é muito mais sensível ao estresse,além de estar mais vulnerável ao desenvolvimento de problemas de saúde mental, principalmente transtornos de ansiedade, depressão e psicoses (dentre elas, a esquizofrenia). O estresse excessivo é um dos fatores de risco para o desenvolvimento destes transtornos. Por isso há a necessidade de oferecer atenção e cuidado ao adolescente. Buscar entender mais sobre a adolescência é necessário porque, muitas vezes, os comportamentos considerados “problemas” pelos pais são normais e até mesmo saudáveis para a fase. Lembre-se que ele está passando por uma transição da infância para a vida adulta e é preciso ter expectativas realistas quanto aos seus comportamentos. Um bom exercício que você pode fazer é buscar diferenciar um comportamento desejável e um comportamento esperado quando se trata dos filhos. O comportamento desejável é aquele que a gente deseja muito que aconteça e o comportamento esperado é aquele que é normal/comum que aconteça. Por exemplo: é desejável que o adolescente passe mais tempo na sala com a família e menos tempo sozinho no quarto? Sim, mas não é esperado que isso aconteça, já que como vimos, nessa fase é comum a busca pelo espaço de intimidade. 1. O que acontece com o meu filho durante a adolescência? Além disso, a adolescência compreende um período extenso (12-18 anos) e é evidente que um jovem de 13 anos é muito diferente de um de 17 anos, por exemplo. Assim, é normal que algumas das suas práticas educativas tenham que ser adaptadas para diferentes faixas etárias, uma vez que os próprios comportamentos e formas de pensar do seu filho irão mudar ao longo da adolescência, apesar de existirem aspectos em comum, como mencionamos anteriormente. Até mesmo essas questões típicas da adolescência não são constantes, podendo variar em intensidade e frequência ao longo do tempo. Dessa forma, talvez a maneira que você educa e lida com um jovem no início da adolescência não seja tão eficaz quando ele estiver no meio ou no fim desse período e vice-versa. Apesar de todos os conflitos, lembre-se que o seu filho precisa de uma rede de apoio. 03 2. Como a Psicologia pode me ajudar na tarefa de educar o meu filho? Apesar de ser muito importante, o processo de criação e educação dos filhos não é algo que nos é ensinado, e acabamos acreditando que é um processo natural que todo ser humano desenvolve automaticamente ao tornar-se pai/mãe. Ao se verem perdidos, é muito comum que os pais sigam as experiências vividas em sua própria criação, conselhos de conhecidos ou até mesmo a própria intuição. Sendo assim, considerando as consequências boas e ruins que as práticas educativas podem ter no desenvolvimento dos filhos, a Orientação Parental (OP) surge como um ótimo aliado nesse ofício. A OP é um tipo de serviço prestado por profissionais da Psicologia que tem como objetivo fortalecer, preparar e capacitar os pais na tarefa de educar os filhos. Quando as instruções fornecidas são colocadas em prática, podemos observar melhorias no comportamento, na comunicação e na expressão das emoções tanto dos responsáveis quanto dos adolescentes, o que também favorece o aumento da qualidade das relações no ambiente familiar. Geralmente, a OP é pensada com base nas necessidades específicas de cada família. Nesse sentido, ela pode ser voltada para resolução de conflitos (com instruções de como lidar com comportamentos problemáticos), assim como pode também assumir caráter preventivo, ajudando pais a desenvolverem práticas parentais positivas (envolvendo comunicação, demonstração de afeto, suporte emocional, tempo de qualidade, etc.). 2. Como a Psicologia pode me ajudar na tarefa de educar o meu filho? 05 3. Diferença entre Orientação Parental, Terapia de Família e Psicoterapia A Terapia familiar é um trabalho psicoterapêutico em que toda a família é foco de intervenção, afinal, cada membro influencia e interfere no processo de interação familiar. É indicada em casos de conflitos interpessoais, problemas conjugais, distúrbios das relações entre os membros da família, ou problemas ligados a fases de transições, como a adolescência, casamento ou chegada de um filho, por exemplo. Você sabe diferenciar Orientação Parental de outros processos terapêuticos, como Terapia de Família e Psicoterapia? Se sua resposta for não, pode deixar que nós te explicamos! 3. Diferença entre Orientação Parental, Terapia de Família e Psicoterapia Já a Psicoterapia é um processo individual mais longo caracterizado pela observação e escuta do indivíduo. Ela pode ter vários objetivos, como o autoconhecimento, o tratamento de um transtorno mental, o desenvolvimento de habilidades ou de recursos para lidar com um sofrimento, etc. Apesar de ser diferente da Orientação Parental, ao levar em conta o contexto e as relações da pessoa atendida, a Psicoterapia pode favorecer também mudanças familiares. A primeira coisa que você deve saber é que na Orientação Parental os atendimentos são realizados somente com os responsáveis e não com as crianças e/ou adolescentes. Além disso, é um processo mais curto e objetivo se compararmos à Terapia de Família e à Psicoterapia. 3 1 2 07 4. Práticas parentais: o que são e quais são as mais adequadas? 4. Práticas parentais: o que são e quais são as mais adequadas? A maneira como estabelecemos vínculos com os nossos pais na infância e adolescência influencia diretamente na forma como nos comportamos, nos enxergamos e construímos relacionamentos no futuro. Com isso, o tipo de relação que vocês irão desenvolver com seus filhos recebe grande influência do relacionamento desenvolvido com seus pais ao longo da infância e adolescência. É normal que nossas condutas enquanto pais (e educadores) sejam pautadas em noções de certo e errado que foram aprendidas na nossa infância e adolescência. Vale lembrar que vivíamos um período cultural bastante diferente do que é hoje, com dinâmicas familiares, valores sociais e formas de se relacionar próprios daquele tempo. Afinal, você consegue imaginar sua infância com um celular ou conversando sobre sentimentos/emoções com seus pais? Para muitos, esse cenário é bastante difícil de se pensar, mas essa é uma realidade bastante comum atualmente. Em resumo, o que queremos dizer com isso é: a relação que vamos estabelecer com os filhos sofre uma enorme influência do contexto cultural e da forma pela qual nós fomos criados e educados. Assim, devemos tentar nos adaptar às mudanças que ocorrem na sociedade e pensar na melhor forma de educar com base na realidade atual. Isso não quer dizer deixar para trás os valores aprendidos na sua época de adolescente, mas sim adaptá-los e, se necessário, reformulá-los. É importante, também, refletirmos sobre nossa própria criação: “será que devo me relacionar com meu filho exatamente da mesma forma que eu fazia com meus pais?”, “existe algo que aconteceu comigo que eu não queria que ocorresse com meu filho?”. A intenção é que tais reflexões nos ajudem a adaptar e filtrar o que nos foi ensinado e usar essa nova roupagem na relação com filho para que esta seja o mais saudável possível. A seguir, discutiremos pontos mais específicos desses comportamentos parentais que irão te ajudar a identificar, em si, certos padrões. Será que devo me relacionar com meu filho exatamente da mesma forma que eu fazia com meus pais? 09 Na Psicologia, estudamos sete práticas educativas parentais. Duas delas estão associadas a comportamentos pró sociais dos filhos, e são elas: Comportamento moral e Monitoria positiva; enquanto as outras cinco estão associadas a comportamentos antissociais dos filhos, e são elas: Negligência, Punição inconsistente, Monitoria negativa, Disciplina relaxada e Abuso físico. Confira todas elas a seguir. Práticas Parentais são as estratégias que os pais utilizam para disciplinar e educar os seus filhos, como, por exemplo, elogiar, gritar, dialogar, bater, etc. Chamamos de Estilo Parental o conjunto desses comportamentos e todo o clima existente em uma relação entre pais e filhos, incluindo a expressãocorporal, o tom de voz, o humor e as práticas parentais usadas com mais frequência. Como vimos, a família tem um papel fundamental nas nossas vidas. Ela é o primeiro grupo social que temos contato e influencia diretamente a formação da nossa personalidade e do nosso comportamento. Pensando nisso, compreender o que são os Estilos Parentais permite que os cuidadores adotem práticas mais saudáveis na relação com os filhos. Estudos já demonstram que as formas de educar os filhos geram impactos no comportamento e nas emoções, como por exemplo: escolha por consumo de drogas, desenvolvimento de habilidades sociais, estresse, depressão, aprendizagem, auto-estima e ansiedade. O que são práticas parentais? Quais são as mais adequadas? 4. Práticas parentais: o que são e quais são as mais adequadas? 10 Comportamento Moral Você apresenta essa prática quando: Pergunta se ele está com dificuldade em terminar a atividade escolar, quando se interessa em conhecer os amigos dele antes de falar que eles são “má companhia”, quando você realmente se interessa em saber se ele se divertiu na festa ao invés de interrogá-lo em tom de desconfiança. Essa prática fica evidente quando você consola e acolhe seu filho após momentos difíceis como decepções, frustrações e derrotas. São aquelas práticas educativas relacionadas à atenção e ao conhecimento dos pais acerca do local onde estão seus filhos, suas companhias e as atividades nas quais estão envolvidos, sem ser invasivo ou controlador. Demonstrações de carinho, afeto e cuidado especialmente nos momentos de necessidade também fazem parte da monitoria positiva. Você apresenta essa prática quando: Você é gentil, justo ou honesto com outras pessoas em situações nas quais o seu filho está presente. Ou quando seu filho não age conforme tais valores e você conversa com ele sobre a importância de tais comportamentos para uma convivência saudável, descrevendo como ele poderia se comportar em situações semelhantes. Nessa prática, os pais transmitem valores como honestidade, senso de justiça e generosidade, assim como buscam estimular a empatia, educação e outros bons comportamentos dos filhos. Através de uma relação de afeto e diálogo, os pais servem de modelo para que o adolescente seja capaz de desenvolver tais habilidades no seu dia a dia. Monitoria Positiva 4. Práticas parentais: o que são e quais são as mais adequadas? 11 Negligência Punição Inconsistente Você apresenta essa prática quando: Ao voltar para casa após um dia estressante no trabalho, você se irrita com pequenas coisas que seu filho faz, gritando e aplicando punições de maneira desproporcional à situação, como deixá-lo uma semana sem ver os amigos porque não lavou a louça. Acontece quando os pais punem os seus filhos de acordo com o seu humor ou estado emocional, e não por conta dos comportamentos deles. Em outras palavras, é o humor dos pais, e não as ações do filho, que determina a forma de educar. Dessa forma, as práticas educativas tornam-se inconsistentes e pouco relacionadas com os comportamentos dos filhos. Como consequência dessa inconstância, o filho não aprende a identificar o humor de seus pais e não aprende de fato se seus comportamentos são adequados ou não, dificultando o desenvolvimento de habilidades sociais. Você apresenta essa prática quando: Trata seu filho com frieza, não se importando em abraçá-lo ou acalmá- lo em momentos de ansiedade ou angústia, como quando ele se machuca. Quando nega ajudá-lo com uma tarefa escolar, mesmo percebendo que ele está com dificuldade. Ocorre quando os pais não se atentam às necessidades dos filhos, não demonstram carinho e afeto quando interagem ou negam auxílio quando o adolescente necessita. Com isso, tornam-se omissos na função de cuidadores e negam suas responsabilidades. Como consequência, o adolescente pode desenvolver sentimentos de insegurança, dificuldade de socialização, baixa autoestima e até comportamentos agressivos. 4. Práticas parentais: o que são e quais são as mais adequadas? 12 Monitoria Negativa Disciplina Relaxada Você apresenta essa prática quando: Fala que seu filho só poderá jogar videogame quando terminar as atividades escolares, mas não cumpre o prometido e deixa ele jogar mesmo com as tarefas incompletas. Ocorre quando os próprios pais não seguem regras que eles mesmos estabeleceram. Eles ameaçam (castigar, não dar presente, tirar algo) e, quando estão de frente ao comportamento inadequado dos filhos, acabam não fazendo valer as regras combinadas. Você apresenta essa prática quando: Seu filho avisa que vai sair com os amigos e você continua ligando para ele repetidas vezes perguntando, em tom de briga, onde ele está ou quando volta para casa. A consequência disso é que, das próximas vezes, seu filho comece a mentir com o objetivo de evitar conflitos. É possível identificar essa prática quando os pais fiscalizam de maneira excessiva a vida dos filhos, dando instruções e impondo regras repetidas vezes. Essa prática educativa gera estresse e geralmente os filhos começam a mentir ou evitar dialogar com os pais como forma de proteger sua privacidade, já que a fiscalização ocorre o tempo todo. 4. Práticas parentais: o que são e quais são as mais adequadas? 13 Abuso Físico Você apresenta essa prática quando: Bate com a mão ou outros objetos (ex. cinto) em seu filho afirmando que é “só uma palmada”. Essa é uma prática ainda muito utilizada, e é possível identificar nos casos quando os cuidadores causam dor, sofrimento e machucam os filhos sob o pretexto de estarem educando. Como consequência, aumenta-se o risco dos adolescentes apresentarem problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão e até ideação suicida. O respeito dos filhos para com os pais é em decorrência do medo, a relação entre pais e filhos se fragiliza, podendo se tornar superficial e, a longo prazo, aumenta as chances dos filhos serem violentos com outras pessoas ou de se submeterem a relações abusivas. Sabemos que nem sempre é fácil para os pais utilizarem sempre as estratégias mais adequadas para educar seus filhos, mas o importante é que na maioria das vezes a escolha seja pelas práticas educativas positivas, e quando por alguma razão isso não acontecer, procure refletir e conversar depois com seu filho. Compreender e saber identificar suas práticas educativas e seu estilo parental vai te ajudar a perceber com mais facilidade quais estratégias estão sendo adequadas ou não. Tente realizar as mudanças de maneira gradual e preste atenção em como seu filho responde a elas para aperfeiçoá-las ao longo do tempo. FIQUE ATENTO 4. Práticas parentais: o que são e quais são as mais adequadas? 14 5. Orientações práticas para o dia a dia 5.1. Meu filho não me obedece. O que eu faço? 5.1. Meu filho não me obedece. O que eu faço? Ao falar em obediência, antes de tudo é importante analisar as suas expectativas quanto ao comportamento do adolescente, pois nem sempre os comportamentos considerados “problemas” pelos pais são, de fato, inadequados. Para entender melhor sobre a diferença de um comportamento esperado e um comportamento desejável durante essa fase, veja o tópico “O que acontece com o meu filho durante a adolescência?” na página 01. Se após o exercício você observa que o seu filho está apresentando algum comportamento realmente inadequado com frequência e intensidade, é necessário entender as situações em que esse comportamento vem ocorrendo. Os nossos comportamentos são aprendidos ao longo da vida, sendo que mantemos e repetimos aqueles que apresentam alguma vantagem. Por exemplo: Se desde pequeno o seu filho grita ou fala alto para conseguir o que quer e vocês, como cuidadores, cedem, conforme ele for crescendo esse comportamento indesejável pode se perpetuar, sendo mais provável que, em outras situações, o seu filho tente resolver problemas e frustrações da mesma maneira. Como consequência, ele pode aprender que o uso de agressividade é uma boa solução para conseguir as coisas, utilizando-a quando for frustradopor não ter o que deseja. Nesse sentido, se o adolescente se comporta mal frequentemente é muito provável que ele esteja obtendo alguma “vantagem” com este comportamento. “Mas quando meu filho se comporta mal, eu grito com ele. Como isso pode ser uma vantagem?” Bom, isso pode estar acontecendo porque o comportamento inadequado do seu filho está sendo seguido por ATENÇÃO, ainda que em forma de críticas, gritos e reclamações. Essas também são formas de dar atenção e podem ser vistas como uma vantagem. Além disso, ele aprende que aquela consequência é previsível: “toda vez que eu desobedeço, meus pais me dão atenção”. E então o ciclo se repete. Podemos trabalhar o desenvolvimento de novos comportamentos dos filhos a partir do desenvolvimento de novos comportamentos dos pais. 17 O modelo ABC, descrito na tabela abaixo, permite que a gente analise essas situações. Você consegue pensar em um exemplo de um comportamento inadequado que seu filho apresenta de forma recorrente? Preencha o campo B. Agora, descreva no campo C o que geralmente você faz quando ele apresenta esse comportamento. Por fim, preencha no campo A, o que ocorre antes ou o que desencadeia esse comportamento. O modelo ABC é dividido de maneira que A corresponde à Antecedente, B Comportamento e C consequência. Primeiro nós identificamos o comportamento (B). Em seguida, seus Antecedentes (A), ou seja, o que causa o comportamento ou é gatilho para que ele aconteça. Vamos fazer um exercício? (A) ANTECEDENTES (B) COMPORTAMENTO (C) CONSEQUÊNCIA Ex: Peço ao meu filho para arrumar o quarto. Ex: Meu filho ignora a minha ordem e vai jogar. Ex: Grito com ele e acabo arrumando no seu lugar. E por último, identificamos a Consequência (C), que é o ocorre depois do comportamento. Essa atividade é chamada de “Análise Funcional” e serve para nos ajudar a entender a relação entre os antecedentes, o comportamento e suas consequências. Lembrando que as consequências podem fazer com que o comportamento se repita ou diminua. No exemplo exposto na tabela podemos observar que a consequência do comportamento está sendo vantajosa (o/a responsável acaba arrumando o quarto no lugar do filho). Dessa forma, o comportamento indesejado tende a se repetir. Seguindo o modelo ABC os pais podem fazer mudanças tanto nos Antecedentes (antes mesmo dele ocorrer) como nas Consequências (depois que ele ocorre) e assim obter outra resposta. 5.1. Meu filho não me obedece. O que eu faço? Tabela 1. Modelo ABC. 18 Sugestões do que pode ser feito para evitar um comportamento indesejado: Abra espaço para acordos junto com o seu filho. Considerando que adolescentes sentem necessidade de autonomia, é possível, por exemplo, negociar os horários e as atividades a serem feitas. Ao se dirigir ao seu filho, dê apenas um comando de cada vez, pois isso aumenta as chances de você obter uma resposta desejada. Esclareça quais serão as consequências caso ele desobedeça. É importante que as consequências sejam ditas antecipadamente e que sejam cumpridas caso o comportamento inadequado aconteça. É importante que os comandos sejam específicos e incluam uma estrutura de tempo (Ex: “Filho, assim como combinamos, você precisa arrumar o seu quarto pela manhã, antes de jogar videogame). Veja mais sobre o tema no tópico “Limites e Regras” na página 24. 5.1. Meu filho não me obedece. O que eu faço? 19 Quando o seu filho não agir conforme combinado, evite: As palavras muitas vezes são formas de agressão. É necessário evitar alguns adjetivos ou rótulos quando os filhos erram. Se for falar, fale do comportamento específico (Ex: “não gostei do que você fez na escola hoje”. Ao invés de: “você não faz nada certo”). As consequências para os filhos nunca devem ser através do uso da violência. Estudos demonstram que o uso da violência para educar é ineficaz e gera sérias consequências para o desenvolvimento das crianças e adolescentes. Lembre-se que a violência gera medo, e o medo não faz com que eles entendam que o comportamento é errado. Aos poucos, os filhos descobrem maneiras de esconder suas atitudes para escapar da dor ou da vergonha. A punição produz efeitos emocionais, como raiva, medo, isolamento e pode afetar o vínculo entre o(a) responsável e o adolescente. Utilizar Agressão Verbal: Utilizar Punição Física: 5.1. Meu filho não me obedece. O que eu faço? 20 Essa é uma das técnicas mais utilizadas pelos pais, embora, na maioria das vezes, seja conduzida de maneira incorreta. Ela tem como objetivo suspender temporariamente uma situação reforçadora/prazerosa para o filho, após o mesmo não se comportar de maneira desejada/adequada. Para que seja eficaz, os pais devem separar um ambiente para que ele permaneça com distrações mínimas e explicá-lo a razão e a duração do Time-out. Lembrando que a duração deve ser de acordo com a idade do filho (ex: um minuto por ano de idade). Vocês nunca devem dar qualquer reforço ao adolescente durante o Time-out (como atenção, elogios ou presentes) e precisam ser firmes quanto ao tempo que estabeleceram. É comum os filhos apresentarem resistência, mas é importante que vocês expliquem que o tempo da suspensão só começa quando ele permanecer no lugar. “Então o que eu faço quando o meu filho se comportar de maneira inadequada?” 5.1. Meu filho não me obedece. O que eu faço? Técnica: Time-outTécnica: Time-out Idade: 12 a 14 anos de idade. Objetivo: Retirar o adolescente do ambiente reforçador e colocá-lo em um local sem distrações, por um tempo definido, a fim de que ele se acalme e repense sobre o seu comportamento inadequado. Caso o adolescente vá para a suspensão porque não fez alguma atividade conforme combinado, após o período de Time-out você deve garantir que ele realize essa tarefa. Caso contrário, a técnica deixa de ter efeito e se torna vantajosa para o filho, porque ele consegue fugir das responsabilidades. FIQUE ATENTO 21 Outra maneira de responder a um comportamento inadequado é a remoção de recompensas e privilégios. De acordo com essa técnica, os pais devem escolher algum privilégio do adolescente que será perdido caso ele não se comporte conforme o combinado. Ex.: não permitir que ele vá a um evento específico, assistir televisão, jogar ou usar o celular durante determinado tempo. A remoção de recompensas e privilégios deve ser proporcional ao nível do comportamento. É recomendado também que seja curta, com duração de no máximo dois dias. Não adianta deixar o adolescente meses sem jogar videogame porque ele brigou com o irmão, por exemplo. É muito provável que ele esqueça os motivos e se acostume com a ausência daquele objeto. Deixe claro para o seu filho qual será a consequência de um comportamento inadequado antes mesmo dele acontecer. Isso evita que na hora da raiva você estabeleça uma punição muito desproporcional. O que estou tentando ensinar a meu filho? Será que uma punição muito rigorosa é realmente uma forma efetiva de ensinar isso? “Então o que eu faço quando o meu filho se comportar de maneira inadequada?” 5.1. Meu filho não me obedece. O que eu faço? Técnica: Time-outTécnica: Remoção de recompensas e privilégios Idade: 12 a 18 anos de idade. Objetivo: Remover ou restringir o acesso do adolescente a objetos e/ou atividades prazerosas por determinado tempo, com o objetivo de diminuir a frequência do seu comportamento inadequado. 22 FIQUE ATENTO Não foque apenas nos erros do seu filho, foque nos comportamentos que você quer que ele repita. Sorrir, abraçar, elogiar e recompensar depois de um bom comportamento são formas de estimulá-lo. Lembre-se que a atenção é um dos reforçadores mais poderosos. Ao invés de só punir os comportamentos indesejáveis, dê mais atenção aos comportamentos desejáveis. No caso dos elogios, eles devem ser feitos imediatamente após o comportamento e não devem ser acompanhados de críticas. Quanto mais você estimular o comportamento positivo, menos tempo você vai gastar com as consequências negativas. Por exemplo, se toda vez que o seufilho não age conforme combinado você grita com ele, mas quando ele cumpre o combinado você não esboça nenhuma reação, ele pode entender que é mais vantajoso não se comportar porque é o único momento em que você dá atenção. Como vimos anteriormente, são as vantagens que mantêm os comportamentos. 5.1. Meu filho não me obedece. O que eu faço? 23 5.2. Limites e Regras Conseguir estabelecer limites na relação cuidador-adolescente é fundamental para um desenvolvimento saudável do seu filho e um clima familiar com mais qualidade. A função desse estabelecimento de regras e limites é deixar claro para o filho quais são os comportamentos adequados e quais são os inadequados. A ausência de limites, permissividade excessiva e falta de orientação acerca do que é certo ou errado podem acarretar em consequências negativas. Por exemplo, é possível que os filhos tenham dificuldade em respeitar os direitos dos outros e em assumir a responsabilidade pelas suas decisões e compromissos. Além disso, com o tempo ele pode desenvolver algumas crenças de superioridade e arrogância, acreditando que suas vontades estão acima das dos outros e praticar ações sem considerar que talvez possa prejudicar outras pessoas. Por fim, podem ter dificuldade em situações que necessitam de autocontrole e sofrer em excesso com frustrações. FIQUE ATENTO 5.2. Limites e Regras Não orienta seu filho sobre o certo e o errado em situações de interação social. Sempre faz tudo o que ele pede, mesmo sabendo que não é o mais justo ou correto. Não aceita que ele se frustre por não ter o que quer e, por isso, evita ao máximo tal desconforto fazendo todas as suas vontades. Você pode estar com dificuldades em estabelecer limites se: Além disso, um ponto fundamental no processo de estabelecimento de limites é compreender que os pais devem servir de modelo para os filhos, ou seja, se comporte da maneira que você gostaria de ver seu filho se comportando e trate as pessoas como você queira que seu filho também trate. 25 Essa é uma palavra muito importante ao tratarmos de estabelecimento de limites. Ambos os pais (ou cuidadores) devem estar alinhados quando se trata da educação do filho. São comuns situações nas quais cada um dos pais orienta o filho de maneira diferente ou reforça um comportamento que o(a) parceiro(a) não acha adequado. Em situações como essa, o mais recomendado é conversar em particular com seu(sua) parceiro(a) e chegar a um acordo sobre como agir em situações semelhantes. Quando cada um dos responsáveis educa e trata o adolescente de maneira muito diferente, a tendência é que ele identifique esses padrões e saiba exatamente o que pedir para cada um, aumentando as chances dele se isolar/distanciar de algum de vocês ou, em casos mais extremos, adotar um comportamento agressivo. Por exemplo, digamos que seu filho adolescente queira ir à uma festa. Primeiro, ele pede a você (que não deixa ele ir) e, em seguida, para seu companheiro(a) que o autoriza a ir. É possível que essa situação gere uma discussão entre vocês que, como consequência, possa fazer com que seu filho fique com raiva ou haja com agressividade com o cuidador que não o deixou sair. Vale lembrar também da prática parental mencionada anteriormente: a Punição Inconsistente (veja mais sobre o tema no tópico “Práticas Parentais” na página 08). Evite-a ao máximo e não estabeleça regras e limites de acordo com seu humor. O importante é ser consistente nas suas ações e orientações, deixando bem claro para o seu filho a razão de suas decisões. Consistência 26 5.2. Limites e Regras Comparações ou comentários negativos na frente de outras pessoas Não fazer nada (permissividade excessiva) Listamos a seguir algumas atitudes que prejudicam o processo de estabelecimento de limites: Além de prejudicar a autoestima, passa a sensação de que os pais não gostam realmente do filho, pois apenas elogiam outros adolescentes. Além de promover a insegurança no filho, falas como “o filho de fulano faz todas as atividades, por que você não é assim?”, podem fazer com que o jovem sinta-se inferiorizado e incapaz. A longo prazo, é possível que essa baixa autoestima faça com que ele se comporte de maneira a sempre querer agradar e buscar aprovação das pessoas, deixando de lado seus valores e vontades. Acontece quando os pais ignoram os comportamentos inadequados do filho e continuam agindo normalmente. Por exemplo, quando os pais continuam usando o celular enquanto o adolescente está brigando e gritando dentro de casa, ou se colocando em perigo, ou seja, está emitindo um comportamento que precisa da atenção dos pais. Isso demonstra abandono por parte dos pais, dificultando também o desenvolvimento de vínculos seguros entre vocês. 27 5.2. Limites e Regras Agredir o filho fragiliza laços, prejudica a comunicação e o relacionamento com o adolescente, além de criar uma associação entre figuras de autoridade e medo/submissão. Catastrofizar situações com o intuito de deixar o filho com medo e, assim, ele realizar o que foi pedido. “Se você não estudar para a prova vai repetir de ano e todos os seus amigos vão passar na sua frente. É isso que você quer?”. Ocorre quando o filho erra e os pais sempre usam dessa situação, mesmo que ele não esteja acontecendo no momento, para que o filho se sinta culpado pelo que fez. A consequência desse comportamento é o desenvolvimento de baixa autoestima e grande culpabilização no jovem, que se sente inferior. Explicações exageradas Agressão Raiva prolongada 28 5.2. Limites e Regras O objetivo dessa prática é incitar o medo no filho, passando a responsabilidade para outra pessoa, por exemplo: “Quando seu pai chegar você vai ver…”. Porém, esse tipo de comportamento pode fazer com que o adolescente comece a mentir para evitar o conflito. Nesse caso, quando o medo se refere a alguém da família (por exemplo, o pai), é possível que o filho se afaste do mesmo e não enxergue nessa figura conforto emocional, apenas medo. Quando os pais ameaçam os filhos com a perda do seu amor ou abandono. Por exemplo, “Vou embora e você vai ficar sozinha”, “Se você fizer isso ninguém vai gostar de você”. Isso é prejudicial para a relação com os filhos porque eles pensam que precisam fazer de tudo para ter o amor dos pais e ter valor. Acontece quando os pais, ao perceberem que não funcionou, repetem diversas vezes a ordem da mesma maneira: “Filho, vai fazer a tarefa. Filho, vai fazer a tarefa…” Abandono Nomear entidades Insistência 29 5.2. Limites e Regras Como posso estabelecer regras e limites? Os filhos não conseguem adivinhar o que você espera deles. É preciso estabelecê- las claramente. Você quer que os seus filhos ajudem nas tarefas de casa? Espera que eles estudem e façam a tarefa de casa em determinado horário? Não quer que fiquem acordados até de madrugada? Então você precisa dizer tudo isso, não só esperar que aconteça. Quando você fala e explica, com o tempo aquilo se transforma em uma regra para os seus filhos, uma dica de como eles devem agir agora e no futuro, inclusive quando você não estiver presente. Ao invés de dizer apenas “arrume essa bagunça", você deve dizer exatamente o que quer com isso, por exemplo “pegue as roupas que estão espalhadas e guarde no seu guarda-roupa”, ou “o nosso combinado é que toda vez que você terminar de estudar, você deve me ajudar com a louça”. Quando você diz arrume essa bagunça o seu filho pode se confundir em relação ao que exatamente você está pedindo e acabar não fazendo nada ou fazendo de qualquer jeito. As regras devem ser ensinadas As regras devem ser bem claras e específicas As consequências precisam ser combinadas antes com os seus filhos e você deve aplicá-las caso eles não cumpram o combinado. Deixe bem claro o motivo da regra e as consequências de não segui-la: “Se você terminar a tarefa, pode usar o videogame depois. Porém, se não fizer, à noite não pode jogar”. Aqui é muito importante ter consistência, ou seja, não mudar a regra ou a consequência a depender do seu humorno dia. Você precisa respeitar a regra também, caso contrário, seu filho também não vai obedecer (lembre-se de ser um modelo para eles), ou seja, deixá-lo jogar videogame caso ele termine a tarefa (Veja mais sobre o tema no tópico “Meu filho não me obedece. O que eu faço?”, na página 16). As consequências precisam ser claras e firmes 30 5.2. Limites e Regras Estabeleceu uma regra e ele não cumpriu? Como falar com o adolescente? O primeiro passo é deixar bem claro o comportamento que você não achou adequado. Fale sobre o comportamento e não sobre a pessoa. Por exemplo, ao invés de falar que ele é preguiçoso por não realizar as tarefas de casa, fale quais sentimentos negativos aquilo despertou em você (“fiquei triste, chateada”) e retome a regra combinada (“lembra o que combinamos sobre a tarefa de casa?”). Relembre quais as consequências de não seguir a regra conforme combinado (“Então hoje você não vai poder jogar videogame”) e as recompensas por cumprir a regra (“Fazendo a atividade você fica com mais tempo livre para jogar”). Pensem, em conjunto, em soluções para o problema (“Quando você não conseguir fazer uma tarefa, marque ela no caderno que eu te ajudo quando chegar do trabalho”). Ao propor esse tipo de solução, não faça a tarefa para ele, apenas auxilie e tire possíveis dúvidas, caso contrário você estará reforçando o comportamento de não realizar atividades. 1 Investigue a razão pela qual ele não fez o combinado (“Teve dificuldade?”). Em alguns momentos, pode ser útil mostrar como realizar determinada tarefa e, depois, pedir para que o filho faça. 2 3 4 Pensem, em conjunto, em soluções para o problema (“Quando você não conseguir fazer uma tarefa, marque ela no caderno que eu te ajudo quando chegar do trabalho”). Ao propor esse tipo de solução, não faça a tarefa para ele, apenas auxilie e tire possíveis dúvidas, caso contrário você estará reforçando o comportamento de não realizar atividades. 5 31 5.2. Limites e Regras No início é normal que exista dificuldade em seguir o estabelecido, mas com o tempo a tendência é que isso vire parte da rotina. Veja mais sobre o tema no tópico “Meu filho não me obedece. O que eu faço?”, na página 16. 32 5.2. Limites e Regras 5.3. Uso de Telas: computador, notebook, celular e televisão De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), os primeiros anos de vida e a adolescência são muito importantes para o desenvolvimento físico, cognitivo, social e emocional de qualquer indivíduo, e o uso excessivo de telas pode gerar sérias consequências nesse período. Pesquisas alertam que a exposição constante dos adolescentes às telas pode aumentar a ansiedade, estimular um comportamento violento ou agressivo, causar irritabilidade, transtornos de sono e/ou de alimentação, prejudicar o rendimento escolar, gerar dificuldade de concentração/aprendizagem, afetar as relações sociais, criar distorções da sua imagem corporal, queda da autoestima, gerar problemas de audição/visão e outras complicações físicas pela postura e repetição de movimentos. 5.3. Uso de Telas: computador, notebook, celular e televisão Na tabela, podemos ver o tempo recomendado para uso de telas de acordo com cada idade. Sabemos que tem sido cada vez mais precoce o acesso a celulares, notebooks, computadores e, com a pandemia e o ensino à distância, isso acabou se intensificando. Se você já nota que o seu filho está exagerando no uso do celular ou dos jogos, tente ajudá-lo a entender os benefícios de realizar essas atividades com moderação e a reconhecer que está gastando muito tempo com essas atividades. TEMPO RECOMENDADO PARA USO DE TELASIDADE Menores de 2 anos Evitar totalmente aexposição Entre 2 e 5 anos Entre 6 e 10 anos Entre 11 e 18 anos Máximo de 1 hora por dia Máximo de 1 a 2 horas por dia Máximo de 2 a 3 horas por dia Tabela 2. Tempo Recomendado para uso de telas de acordo com o Manual de Orientação “Menos tela mais Saúde” produzido pela Sociedade Brasileira de Pediatria (2019-2021). 34 Vale lembrar que tratar as redes sociais e a internet como vilões pode fazer com que seu filho evite falar com você sobre assuntos como o cyberbullying (ameaças e violências ocorridas no ambiente virtual) ou assédio, por medo de ser privado do uso do celular, por exemplo. Por isso, não trate o uso das redes sociais como inimigas, pois elas fazem (e vão continuar fazendo) parte da sua vida e da vida do seu filho adolescente. É possível que, em alguns momentos da vida dele, o ambiente virtual tenha contribuído para aumentar o seu senso de pertencimento a um grupo, desenvolver novas amizades e conhecer pessoas, lugares e hábitos novos, ajudando-o a explorar sua identidade. Assim, o mais recomendável a se fazer é auxiliar o seu filho a desenvolver uma relação mais saudável com o mundo digital, ensinando os limites e perigos da exposição excessiva, consequências que determinados atos podem ter no futuro e estimular comportamentos de socialização no mundo real. Lembre-se que a forma como esses ensinamentos serão feitos podem alterar drasticamente os resultados deles. As orientações abaixo podem te ajudar a controlar melhor esse uso. 35 5.3. Uso de Telas: computador, notebook, celular e televisão Aplicando o estabelecimento de limites ao uso excessivo de telas: Converse com o seu filho e explique o motivo pelo qual ele deve diminuir o uso de telas. Aproveite para explicá-lo sobre os benefícios e malefícios do uso dessas ferramentas, como vimos anteriormente. Proponha alternativas para esse tempo sem as telas (Ex.: jogar cartas, fazer leituras, caminhar, praticar exercícios físicos ou esportes, estudar, transformar algumas obrigações em atividades que possam fazer juntos, etc.). Determine alguns horários em que as telas nunca devem ser utilizada pela família (Ex.: durante as refeições, 1 hora antes de dormir). Desenvolva o "tempo de tela merecido", deixando-o ter acesso às telas por um tempo estipulado, depois de ter feito alguma obrigação (Ex.: após ter feito a tarefa da escola). 36 5.3. Uso de Telas: computador, notebook, celular e televisão Seja firme e paciente. Pode ser difícil no começo, mas com o tempo vocês conseguirão adequar a rotina. Aplicando o estabelecimento de limites ao uso excessivo de telas: Deixe claro desde o início qual será a consequência caso a regra seja quebrada (Veja mais sobre o tema no tópico “Meu filho não me obedece. O que eu faço?”, na página 16). Elogie, parabenize, dê atenção e reconheça quando o combinado for cumprido. Observe e limite seu próprio tempo de uso. Dessa forma, você estará sendo modelo do comportamento que deseja ver no seu filho. 37 5.3. Uso de Telas: computador, notebook, celular e televisão FIQUE ATENTO João tem 15 anos e passa 5 horas por dia em frente às telas para lazer, sem contar o tempo para as obrigações escolares. Ao perceberam os malefícios do exagero, além de utilizarem todas as orientações descritas neste manual, seus pais estabeleceram pequenas metas diárias para redução do uso do seu notebook e celular. Assim, o combinado é que a partir de segunda-feira João irá reduzir 10 minutos por dia, para que no sábado já tenha reduzido 1 hora (60 minutos) do tempo total em frente às telas. Caso ele cumpra o combinado, terá uma recompensa no domingo. Algumas áreas do cérebro dos adolescentes não estão totalmente desenvolvidas e é comum que eles apresentem comportamentos de curiosidade, impulsividade e se envolvam em atividades desafiadoras. Nesse sentido, o uso das telas e, principalmente, da internet ativa os mecanismos de recompensas do cérebro (Veja mais sobre o tema no tópico “O que acontece com o meu filho durante a adolescência?”, na pág x). Como consequência dessa constante e intensa estimulação, é possível que o jovem tenha dificuldades para se engajar em tarefas que são menos estimulantes, como leituras e estudos, por exemplo. A televisão, os jogos virtuais e as redes sociais têm o potencial de provocar dependência porque estimulam a liberaçãode dopamina, hormônio que causa uma sensação de prazer, euforia e recompensa. Dessa forma, não é recomendado que você proíba ou diminua o tempo de telas do seu filho de forma drástica; o ideal é que as telas sejam diminuídas de forma gradativa. Uma boa opção, por exemplo, é o estabelecimento de pequenas metas (veja uma situação- modelo a seguir). 38 5.3. Uso de Telas: computador, notebook, celular e televisão 5.4. Como me comunicar de maneira adequada com o meu filho? É por meio da comunicação (verbal ou não verbal) que expressamos nossos desejos, ordens, sentimentos e emoções. Além disso, a comunicação é peça fundamental para uma boa relação entre pais e filhos, pois a relação se desgasta quando os envolvidos não conseguem se expressar de maneira adequada. Precisamos nos atentar à coerência entre o que comunicamos verbalmente e não verbalmente. Por exemplo, quando você for corrigir algum comportamento do seu filho que te desagradou é importante que a sua expressão facial não seja de riso ou alegria, pois a mensagem que você vai passar é que essa situação não tem a importância devida. Do mesmo modo, quando for elogiar o seu filho o seu rosto não deve transparecer indiferença. Essas situações podem fazer com que os filhos se sintam enganados, por isso é muito importante se comunicar de forma clara e sincera. Outro ponto que devemos nos atentar é quanto ao uso de rótulos. É muito comum reagir com agressividade ao ficarmos incomodados ou chateados, e falar palavras que podem machucar como: “Você é preguiçoso!”, “Você é um filho ruim!”, “Você é muito bobo”, “Você é bagunceiro”. O uso de rótulos é perigoso porque ao invés do seu filho mudar o comportamento indesejado, ele pode passar a se ver da forma como é rotulado. FIQUE ATENTO Foque mais em como VOCÊ se sente em relação à determinada situação do que em como você pensa que SEU FILHO é. Isso vai estimular o seu filho a aprender a nomear os seus próprios sentimentos e fazer com que ele se sinta mais confortável, pois é esperado que ele siga o modelo dos pais. 5.4. Como me comunicar de maneira adequada com o meu filho? Dessa forma, em uma situação que precisa ser mais organizado ele pode pensar “sou bagunceiro mesmo, não preciso organizar nada”. Sendo assim, para evitar a rotulação, foque no comportamento do seu filho que te desagradou trocando o “você é bagunceiro” por “não gosto quando você deixa suas coisas jogadas no quarto”. Também mostre para ele um comportamento alternativo como “você poderia guardar suas roupas no armário, assim que trocá-las”. Cuidados com a expressão facial e com o uso de rótulos 40 “Como expressar meus sentimentos negativos?” É importante que o feedback negativo não seja uma forma de culpar o filho ou fazer com que ele se sinta totalmente responsável pelos seus sentimentos negativos. Esse momento deve ter como foco a mudança do comportamento e a comunicação sincera e saudável entre o cuidador e o adolescente. Veja mais sobre o tema no tópico “Estabeleceu uma regra e ele não cumpriu? Como falar com o adolescente?” na página 31. FIQUE ATENTO Nas nossas relações sociais é muito comum que aconteçam situações que nos deixam tristes, frustrados ou com raiva, e na relação com os filhos não é diferente. Diante desses casos, é importante sabermos como expressar os nossos sentimentos e uma das formas de fazermos isso é através do Feedback Negativo. O Feedback é uma descrição verbal sobre o desempenho ou comportamento de uma pessoa, sendo que essa descrição pode ser escrita ou dita. Assim, a primeira coisa que você deve fazer quando se sentir triste ou com raiva é identificar qual comportamento gerou esse sentimento. Depois de identificar o comportamento desagradável e o seu sentimento, descreva para seu filho a situação e expresse os sentimentos e pensamentos que o ocorrido gerou em você. Depois disso, especifique o quê exatamente você quer que ele mude no comportamento, inserindo-o também nesse processo, perguntando sua opinião e tentando chegar a um acordo para que ele se torne responsável pela mudança. Exemplo: “Não gostei da forma como você me respondeu no momento em que eu te pedi um favor, achei muito ríspida e fiquei chateada com isso. Da próxima vez tente ser mais delicado. Você concorda comigo? Acha que poderia agir de outro jeito?”. 5.4. Como me comunicar de maneira adequada com o meu filho? 41 “Como expressar meus sentimentos positivos?” Talvez essa tarefa seja mais difícil ainda do que expressar sentimentos negativos. Muitos pais têm receio de fazer elogios ou expressar afeto, pois é comum ouvirem julgamentos como “assim você vai estragar o seu filho” ou “ele será dengoso e mimado”. Existem diversos modos de expressar os sentimentos positivos, sendo que uma delas é o Feedback Positivo. Assim como no caso do Feedback Negativo, o Feedback Positivo deve conter uma descrição verbal do comportamento ou desempenho que te agradou no seu filho e também uma descrição das consequências positivas desse comportamento. Por exemplo, você pode pontuar a forma como seu filho limpou o banheiro da sua casa já que este ficou cheiroso, ou até mesmo elogiar o tempo que ele gastou tomando banho, pois economizou água e energia. Outra maneira de expressar sentimentos positivos é através do Elogio. O elogio pode ser pela aparência ou por algo que seu filho fez. Esse comportamento ajuda a aumentar a autoestima e o otimismo do adolescente e faz com que ele se sinta amado, querido e admirado. Ouvir um elogio além de ser uma interação agradável, ajuda a fortalecer os vínculos e gera um ambiente de confiança e respeito. O Agradecimento também é uma ótima forma de expressar sentimentos positivos, pois reforça comportamentos que te agradam no adolescente. Além do mais, faz com que ele se sinta observado e receba atenção pelo seu bom comportamento. Lembre-se que é a partir dos feedbacks positivos, elogios e agradecimentos que o jovem consegue perceber melhor suas próprias potencialidades e qualidades, fortalecendo sua autonomia e “autorreforço”. 5.4. Como me comunicar de maneira adequada com o meu filho? 42 Evite o uso de frases como “vai chover!”, “não fez mais que a sua obrigação” ou “que milagre, até que enfim”. Frases como essas focam mais no comportamento desagradável e não podem ser consideradas elogios. O adolescente pode sentir que independente do que ele faça, ele sempre será o “preguiçoso” ou qualquer outro rótulo estabelecido para ele. Outro ponto importante que devemos observar é se as expressões de carinho e afeto só acontecem quando o filho tem um bom comportamento. Claro que elas podem ser usadas como uma estratégia para reforçar comportamentos agradáveis, mas não devem ser restritas somente a esses momentos, pois podem gerar no adolescente uma sensação de dependência e medo de errar (Ex.: “se eu não fizer tudo certo, não recebo amor e carinho”). Uma solução para isso é demonstrar afeto em situações “neutras”, ou seja, em momentos que não aconteceram comportamentos que precisam ser reforçados ou punidos. 5.4. Como me comunicar de maneira adequada com o meu filho? FIQUE ATENTO 43 EVITE: A ameaça é muito comum em momentos de nervosismo e geralmente envolve situações irreais como “vou te botar pra fora de casa”. É muito provável que isso não vá acontecer, gerando apenas insegurança e medo no adolescente. Não seria melhor expor as consequências do comportamento desagradável, mostrando pra ele o porquê de você se sentir irritado? Às vezes, quando ficamos insatisfeitos com algo, queremos logo achar um culpado e já vamos brigando ou apontando o dedo para o filho (que é o alvo mais fácil). Que tal respirar fundo, contar até 10, e depois perguntar com calma se ele sabe o que pode ter acontecido? O sarcasmo é uma forma de evitarmos expressar como realmente nos sentimos e dificulta a comunicação. Busque se comunicar de forma clara e direta, expondo seus sentimentos e emoções reais. Acusação Ameaça Sarcasmo/ironia 5.4. Como me comunicar de maneira adequada com o meu filho? 44 Émuito comum, principalmente na adolescência, os pais sentirem dificuldade em manter um diálogo com seus filhos. Eles parecem sempre monossilábicos ou desinteressados na interação, e como falamos anteriormente, essa característica é até esperada para a fase do desenvolvimento em que estão. Isso não significa que é impossível conversar com eles, significa apenas que exigirá um pouco mais do nosso esforço. "Meu filho é muito fechado. Como manter um diálogo?" Primeiro, é importante respeitar o espaço do adolescente. Não force a conversa em um momento em que ele não aparenta estar disponível. Perceba um momento de abertura e bom humor para começar a interação. Você pode elogiar uma roupa, perguntar sobre algum interesse dele ou pedir opinião sobre algo, por exemplo. Demonstre seu interesse mantendo o contato visual com seu filho e se mostrando atento ao que ele fala, afinal, não é legal conversar com alguém que nem olha pra você, não é? 1 Procure fazer perguntas mais abertas como “o que você achou do filme?” ao invés de “gostou do filme?”, pois é muito provável que no último caso a resposta seja apenas sim ou não. 2 3 No fim da interação, sempre demonstre para seu filho sua satisfação com esse momento, isso o motiva a fazer mais vezes além de se sentir valorizado. 4 5.4. Como me comunicar de maneira adequada com o meu filho? 45 Outro modo de se comunicar com o adolescente é ouvindo e expressando opiniões (sejam elas iguais ou distintas). Nesse sentido, esteja aberto a ouvir a opinião do seu filho se atentando ao que pensam diferente e ao que pensam de forma semelhante, pensando nos argumentos que sustentem suas crenças mas também estando aberto a mudar de opinião. É muito comum que haja choque de ideias entre pais e filhos, pois várias mudanças culturais ocorrem a cada geração. Nesse cenário, o mais importante é respeitar a liberdade de expressão de cada um. Se você, enquanto cuidador, respeita as ideias do seu filho, é provável que ele vá seguir esse modelo e também respeitar diferentes ideias. Além disso, é provável que ele se sinta confortável para se expressar e se abrir com você, pois encontrará um ambiente seguro e confortável, onde não será atacado por seus pensamentos. Entender as maneiras mais adequadas de educar o adolescente não significa necessariamente que você vai conseguir sempre colocá-las em prática. Assim como qualquer ser humano, você está sujeito a cometer erros. Entretanto, é importante ficar atento a esses momentos e aprender a pedir desculpas. Quando você se desculpa, descrevendo seu comportamento desagradável e admitindo seu erro, além de buscar formas de mudar esse comportamento, você está sendo um exemplo para o seu filho. No momento de se desculpar não fique se justificando e culpabilizando-o (Por exemplo: “desculpe por gritar com você, mas você estava me estressando”). Independente da atitude do outro, você é responsável por como responde a ele. Independente de estar estressado com seu filho, o seu ato de gritar não foi adequado, então utilize apenas o começo da frase: “desculpe por gritar com você". Tá tudo bem pedir desculpas! "Temos opiniões muito diferentes" 5.4. Como me comunicar de maneira adequada com o meu filho? 46 6. Falando sobre... 6.1. Como falar com o meu filho sobre sexualidade? É durante a adolescência que ocorre a expressão da sexualidade, ou seja, quando o adolescente passa a se sentir atraído sexualmente por outras pessoas. Esse processo se dá principalmente pela ação no hipotálamo, estrutura do cérebro que é responsável pela produção de hormônios sexuais. Nessa fase do desenvolvimento, esses hormônios são produzidos em grande quantidade, principalmente em contato com os “paqueras”, tornando o cérebro mais sensível a pessoas sexualmente atraentes ao adolescente. Além disso, durante a puberdade ocorrem grandes mudanças no corpo do adolescente com o desenvolvimento dos órgãos genitais, o que faz com que, nessa fase, ele tenha oportunidade de se descobrir tanto em relação a sua sexualidade como também em relação ao seu gênero. Assim, podemos dizer que a descoberta do interesse sexual não é uma escolha e não depende da vontade do adolescente ou dos seus pais, mas é na verdade sinal de um desenvolvimento saudável e esperado do cérebro. Nesse sentido, a orientação sexual não se forma na adolescência, na verdade, esse processo ocorre já no útero, durante a gestação, o que ocorre na adolescência é a expressão da orientação sexual. Ou seja, não se trata de uma “opção”, mas algo que é determinado por diversos fatores: biológicos, genéticos e hormonais. 6.1. Como falar com o meu filho sobre sexualidade? Heterossexualidade: em que a atração ocorre por pessoas do gênero diferente do seu, ou seja, há um relacionamento entre um homem e uma mulher; Homossexualidade: em que a atração ocorre com pessoas do mesmo gênero que seu, seja de homens se relacionando com homens, ou mulheres com mulheres; Bissexualidade: em que há atração por ambos os gêneros; Assexualidade: em que a pessoa pode se envolver afetivamente e emocionalmente com outra pessoa, seja em um relacionamento heterossexual ou homossexual, mas não há um interesse na prática sexual em si. Nesse processo de descoberta da própria sexualidade, o adolescente se depara com sensações e percepções novas sobre si e sobre o outro, e é nesse período que ele começa a entender quem é atraente para ele. Isso é a orientação sexual, uma das formas de identidade pessoal e social, que diz respeito ao envolvimento emocional, amoroso e/ou sexual dos indivíduos. Assim a orientação sexual pode ser caracterizada em várias dimensões: O que é orientação sexual? 49 Cisgeneridade: em que a pessoa se identifica com o sexo biológico que ela nasceu, por exemplo, uma pessoa que nasceu com o sexo biológico feminino e se identifica como mulher; Transgeneridade: em que não há uma identificação com o sexo biológico com que a pessoa nasceu, por exemplo, a mulher transgênero, que nasceu com caraterísticas físicas do sexo biológico masculino, mas socialmente se identifica com a experiência de vida do gênero feminino. A identidade de gênero, por sua vez, diz respeito a como a pessoa se relaciona com os papéis de gênero, ou seja, como a pessoa se relaciona com o feminino e o masculino. Assim como a orientação sexual, a identidade de gênero também pode ser caracterizada em várias dimensões, dentre elas: Dentro dessa dimensão da transgeneridade, podemos falar também da não- binaridade, em que a pessoa não se identifica nem com o sexo feminino, nem com o sexo masculino, ou seja, ela se insere na sociedade e nas suas relações independente do gênero. E o gênero fluido, em que a pessoa se identifica com ambos os gêneros, como homem e como mulher. E a identidade de gênero? Todas essas dimensões fazem parte da construção de identidade que acontece na adolescência, e podem ser causa de sofrimento para esse adolescente, seja por se perceber como alguém que não será aceito pela família e pela sociedade em geral, ou por não se aceitar da maneira como é, devido sua visão de mundo. Assim, muitos jovens podem não conseguir/querer assumir uma determinada identidade por medo ou por vergonha, entretanto é importante que a família seja um ambiente de apoio e de favorecimento da identidade do adolescente, mas isso requer um esforço e uma procura de mais entendimento e informação. 6.1. Como falar com o meu filho sobre sexualidade? 50 É preciso entender que esse momento pode ser difícil para o adolescente, pois acontecem mudanças radicais, que são observadas no seu próprio corpo, gerando angústias e dúvidas. É nesse sentido que os pais devem estar presentes e adotar uma postura de ajuda. Muitos pais imaginam que falar sobre sexo com seus filhos pode incentivá-los à prática. Mas é preciso saber que, ao contrário, não ter esse tipo de diálogo em casa, pode acabar levando o adolescente a desenvolver práticas sexuais que coloquem em risco sua saúde física e mental, bem como estar mais vulnerável a sofrer violênciasexual. Por vezes, falar sobre a sexualidade pode ser desconfortável e um tabu dentro da sua família, mas essa conversa, além de te aproximar do seu filho, é muito importante para informar esse adolescente sobre as mudanças que ele está passando e sobre a forma que ambos enxergam esse momento. Assim, uma forma de iniciar essa conversa pode ser expondo os seus valores e o que você acredita em relação à sexualidade e perguntar qual é a visão do seu filho. Lembre-se de iniciar essa conversa num momento em que você perceba o adolescente confortável e de bom humor (veja mais sobre o tema no tópico “Como me comunicar de maneira adequada com o meu filho?” na página 39). Os direitos do adolescente sobre si e sobre seu corpo, conversando sobre o que seria considerado abuso sexual, por exemplo, se mostrando aberto a acolher esse jovem em uma possível situação de vulnerabilidade; O respeito pela outra pessoa, reconhecendo seu espaço e aprendendo a lidar com a rejeição, assim como saber impor seus próprios limites; Informar sobre saúde sexual, assegurando o acesso a fontes confiáveis de informação e o acesso à saúde de qualidade, com profissionais especializados, conversando sobre infecções sexualmente transmissíveis (IST) a importância de métodos contraceptivos, etc; Responsabilidade e senso crítico. Afinal, sexo é uma escolha que deve ser tomada com consciência e maturidade, levando em conta seus valores e crenças; Os cuidados com a exposição por meio das redes sociais virtuais, em relação à solicitações e envios de fotos íntimas. É importante adotar uma postura mais aberta, buscando realmente construir junto a seu filho uma noção de prática sexual que seja consciente e responsável. Desse modo, você pode conversar com seu filho sobre tópicos como: “Como posso abordar esse assunto com o meu filho?” 6.1. Como falar com o meu filho sobre sexualidade? 51 A importância desse diálogo aberto com os seus filhos ultrapassa as questões morais e religiosas, pois dizem respeito à saúde e segurança desse adolescente, afinal, o medo, o constrangimento e a falta de conhecimento, seja por parte dos pais, educadores ou profissionais de saúde, estão diretamente relacionados aos casos de gravidez na adolescência, à incidência de infecções sexualmente transmissíveis e à prática de comportamentos sexuais de risco. Além disso, muitos desses jovens não têm acesso à informação, ou quando têm, vêm de fontes não seguras, como a opinião de amigos ou sites não confiáveis, dificultando ainda mais a adoção de práticas sexuais saudáveis. A importância desse diálogo aberto com os seus filhos ultrapassa as questões morais e religiosas, pois dizem respeito à saúde e segurança desse adolescente. 6.1. Como falar com o meu filho sobre sexualidade? 52 Para além da desinformação sobre os métodos contraceptivos, a gravidez na adolescência está relacionada também a questões de gênero. Isso quer dizer que, geralmente, as meninas são incentivadas a manter uma atitude passiva na vivência da sexualidade, a partir de uma postura de "inocência" e despreparo, enquanto os meninos não são responsabilizados pelos cuidados anticoncepcionais, sendo na verdade socialmente estimulados ao não uso de preservativos. Sabendo que essas questões contribuem para casos de gravidez na adolescência e contágio por ISTs, a postura que você deve adotar para orientar seu filho deve partir da informação, do estímulo ao uso de preservativos e do incentivo à ida em consultas com médicos especialistas regularmente (ginecologista, no caso das meninas e urologista, no caso dos meninos). Com isso, pode não ter efeito tentar proibir seu filho de manter relações, considerando que nesta faixa etária ocorre o processo oposto, ou seja, a iniciação e descoberta do interesse sexual. Vale ressaltar que é possível tornar esse processo mais seguro, deixando claro a responsabilidade que ele tem sobre si e as consequências de não adotar um comportamento contraceptivo, como pílulas anticoncepcionais e preservativos. Gravidez na adolescência Caso sua filha já esteja grávida, existem questões de saúde importantes que devem ser levadas em conta, pois a gestação na adolescência pode ser um fator de risco tanto para a mãe quanto para o bebê. Assim como o acompanhamento médico e o pré-natal, é muito importante que a adolescente tenha o apoio da família, pois, além de vivenciar as dificuldades relacionadas à adolescência, ela ainda está vivendo dificuldades relacionadas à maternidade e às mudanças sociais, físicas e emocionais do período gestacional. Para além das questões de saúde, é importante também conversar com seu filho ou a sua filha sobre as possíveis consequências de uma gravidez, como a necessidade de sustentar financeiramente uma criança e o impacto na escolarização e na profissionalização (a curto e longo prazo). Esses são pontos que o adolescente pode ter dificuldade de considerar, já que a impulsividade e a dificuldade de avaliar consequências são comportamentos característicos da adolescência. Assim, o papel dos pais deve ser o de “emprestar o cérebro” para que seus filhos possam avaliar bem as suas escolhas. 6.1. Como falar com o meu filho sobre sexualidade? 53 6.2. Como falar com o meu filho sobre saúde mental? Conversar sobre saúde mental com os filhos nunca foi tão urgente. Durante a adolescência, os jovens passam por uma série de conflitos que incluem a busca pela autonomia, a pressão para tomar decisões, as divergências com a família, a exploração da identidade sexual, alterações cerebrais, maior necessidade de aprovação dos pares, alta sensibilidade ao estresse e o amplo acesso e uso das tecnologias. Esses desafios os tornam ainda mais vulneráveis às manifestações de adoecimento psíquico, como a depressão, a ansiedade, os transtornos de conduta e os transtornos alimentares. Os riscos são ainda maiores se esses fatores estiverem associados a um contexto de violência e problemas socioeconômicos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (2018) e com a Organização Pan- Americana da Saúde (2018), 1 a cada 5 adolescentes enfrenta dificuldades em relação à saúde mental. Além disso, a prevalência de transtornos mentais nesta população é de 16,5% e o suicídio encontra-se como 3ª principal causa de morte nesta faixa etária. Com a pandemia da Covid-19, essas estimativas se tornaram um pouco mais altas, pois aspectos essenciais para os jovens, como o convívio com amigos, tiveram que ser adaptados devido ao isolamento social. Nesse sentido, a falta de privacidade, o afastamento da antiga rotina, do lazer, da sala de aula e dos grupos, em conjunto com a preocupação acerca da saúde nesse contexto, deixaram os adolescentes cada vez mais ansiosos, deprimidos, irritados e/ou amedrontados. Muitas vezes, os pais deixam de abordar esses assuntos por receio, desconhecimento e até mesmo tabu, mas é importante lembrar que uma conversa faz muita diferença para a saúde do seu filho. É necessário um esforço por parte dos pais para que seja possível prevenir, identificar, acolher, encaminhar e tratar dos problemas relacionados à saúde mental nos adolescentes. A família pode ser o principal aliado no enfrentamento dessas condições com menor prejuízo e sofrimento. 6.2. Como falar com o meu filho sobre saúde mental? 55 “Como saber se o meu filho está precisando de ajuda?” Por mais que alguns comportamentos sejam característicos da adolescência, é importante prestar atenção se o seu filho está manifestando alguns sinais com intensidade e frequência, como: Isolamento ou desinteresse por atividades sociais Perda de energia ou motivação Alterações no sono (insônia ou hipersonia) Alterações no apetite e/ou nos padrões alimentares Baixo rendimento escolar (levando em consideração a média dos resultados que ele já apresentava) Baixa autoestima Inquietação ou irritabilidade Agressividade Sentimento excessivo de culpa Pensamentos negativos Choros constantes Marcas de autolesão pelo corpo 6.2. Como falar com o meu filho sobre saúde mental? 56 Lembre-se que essessintomas isolados não são necessariamente indicações de que o adolescente está com ansiedade ou depressão, por exemplo. Por isso, em primeiro lugar, procure conversar com o seu filho. Escolha um ambiente e um momento adequado, para garantir que ele se sinta à vontade e comece o diálogo descrevendo as mudanças que você vem percebendo no seu humor e no seu comportamento. Pergunte se tem algo que ele gostaria de contar e deixe claro que ele pode contar com você: “Filho, nas últimas semanas eu percebi que você tem ficado isolado no quarto, tem recusado as ligações dos seus amigos e está evitando até mesmo as suas atividades preferidas. Tem algo que você gostaria de me contar? O que aconteceu para que você ficasse assim? Eu me preocupo com você e estou disposto a te escutar e te ajudar no que for preciso.” Em conversas como essas, é extremamente necessário que você escute o adolescente sem julgamentos. Nenhum motivo é “besta” ou “pequeno demais” quando causa sofrimento. A maioria dos adolescentes evita contar sobre os seus problemas para os pais, com medo de serem menosprezados ou julgados e, com isso, escondem seus sentimentos acreditando que eles não são válidos. “Meu filho está apresentando esses sintomas. O que eu devo fazer?” Assim, por ser um adulto mais maduro e com experiência de vida, por mais que você não concorde com o que seu filho está sentindo, suspenda tais julgamentos e acolha as suas queixas. Lembre que os problemas e desafios do seu filho não são os mesmos que os seus e que a realidade de hoje é diferente daquela na qual você viveu sua juventude. Se você estivesse nervoso ou triste por alguma situação do trabalho ou perda de uma pessoa querida, ajudaria se alguém dissesse que o que você está sentindo é “frescura”? Se esses sintomas percebidos forem recorrentes, este é o alerta vermelho para que você busque ajuda de profissionais qualificados (como psiquiatra ou psicólogo), que poderão te orientar sobre o que está acontecendo com o seu filho e qual será a melhor conduta nesse caso, que pode envolver Psicoterapia, tratamento medicamentoso e/ou mudanças ambientais (como a prática de exercícios físicos, por exemplo). Não descarte a possibilidade de levá-lo também a um especialista para investigar os padrões alimentares, índices de vitaminas e alterações hormonais. Pesquisas demonstram que a entrada na puberdade, a deficiência de vitaminas e/ou uma má alimentação podem gerar alterações no humor e no comportamento durante essa fase do desenvolvimento. 6.2. Como falar com o meu filho sobre saúde mental? 57 Se o seu filho expressa que possui vontade de morrer, é muito provável que ele esteja em um nível de sofrimento psíquico muito intenso. Ao contrário do que muita gente pensa, as pessoas que cometem suicídio sempre deixam sinais dessa vontade, sejam verbais ou não. Existem diferentes tipos de comportamento suicida. A ideação suicida, acontece quando o indivíduo tem pensamentos ou ideias acerca do suicídio, tais como “a única solução para esse sofrimento seria se eu não estivesse aqui” ou “tudo poderia ser resolvido se eu morresse”. O planejamento suicida, por sua vez, ocorre quando ele esquematiza os métodos ou a forma que gostaria de morrer. Existe também a tentativa de suicídio que é o ato com o intuito de pôr fim à vida e o suicídio consumado em que esse ato leva realmente à morte. Diversos fatores psicológicos, biológicos, familiares, individuais e culturais influenciam pensamentos ou comportamentos suicidas. Não é apenas um fator ou algo isolado. Alguns exemplos podem ser: baixa autoestima, ansiedade, depressão, conflitos familiares, rejeição por parte de amigos, contato reduzido com os pares, divórcio dos pais, cobrança excessiva e/ou falta de suporte. Nesse sentido, o papel da família é observar todos esses aspectos e perceber de que forma eles podem estar comprometendo a saúde mental do adolescente. Prevenção ao suicídio Se o seu filho fala abertamente sobre o assunto com você, isso é um bom sinal, já que, mais de 75% dos pais não sabem quando os filhos estão apresentando ideações ou comportamentos suicidas. Lembre-se que essas manifestações nunca devem ser desvalorizadas, como se fossem besteiras. Diante de uma situação como essa, a melhor opção é sempre conversar e demonstrar assistência ao adolescente. O suporte social é um fator que reduz o risco de suicídio, dessa forma, manifestar apoio pode ajudá-lo a lidar com as suas dificuldades. Tente entender o ponto de vista do seu filho. Ao mesmo tempo em que coleta informações, você deve ouvi-lo de forma compreensiva. Por mais doloroso que seja, não hesite em perguntar se é algo que ele pensa com frequência e se já chegou a planejar e/ou tentar o suicídio. Quanto mais você souber, melhor poderá ajudar. Lembre-se que entre os motivos do sofrimento, o adolescente pode citar alguma situação envolvendo você ou a própria família. Nesse momento, é importante evitar julgamentos ou fazer com que ele se sinta culpado, pois isso pode acabar fazendo com que o adolescente não compartilhe mais o que está acontecendo. 6.2. Como falar com o meu filho sobre saúde mental? 58 Como dito anteriormente, busque ajuda profissional o mais rápido possível. É de extrema importância que o seu filho tenha acesso a um tratamento adequado. Caso vocês não tenham condições financeiras para custeá-lo, podem procurar os locais que oferecem atendimento gratuito ou de baixo custo na sua cidade (como CAPS, serviços de Psicologia vinculados à universidades, etc.). Além disso, não esqueça de pedir para o seu filho te ligar em casos de emergência e informe-o sobre o serviço da CVV (Centro de Valorização da Vida), que promove a prevenção do suicídio disponibilizando atendimentos gratuitos a qualquer pessoa durante 24 horas por dia através do número telefônico 188. 6.2. Como falar com o meu filho sobre saúde mental? 59 Prática de esportes e/ou exercícios físicos Contato com os pares (outros adolescentes) Planejamento da rotina e dos estudos Acesso à arte, cultura e atividades que estimulem a criatividade Alimentação e sono saudável Ambiente familiar acolhedor Uso moderado de telas A saúde mental é influenciada por uma série de fatores sociais, econômicos, genético-biológicos e ambientais, e não deve ser entendida apenas como ausência de doenças e transtornos. Portanto, mesmo que o seu filho não apresente sinais de adoecimento psíquico, algumas intervenções devem ser incentivadas para manter a sua qualidade de vida, como: Todas essas condições favorecem o desenvolvimento saudável durante a adolescência, ou seja, são fatores protetivos para a saúde nesse período. Portanto, é interessante que dentro das possibilidades, você busque incentivá-las. Além disso, não deixe de conversar com o seu filho sobre depressão, ansiedade e suicídio somente porque ele não está em sofrimento. O diálogo aberto sobre essas questões fazem com que ele saiba que será acolhido caso necessário. “Meu filho não apresenta nenhum sinal de adoecimento psíquico” 6.2. Como falar com o meu filho sobre saúde mental? 60 6.3. Como falar com o meu filho sobre escolha profissional? Como mencionado ao longo da cartilha, o período da adolescência é marcado por grandes mudanças no âmbito cognitivo, emocional e social. Nessa fase se inicia um processo de busca pela identidade, sendo esperado que o jovem questione-se acerca de seus valores, ideais, opiniões políticas e qual profissão deve e quer seguir. É comum que os pais e familiares cobrem do adolescente uma decisão de escolha profissional e, com isso, inicia-se um longo percurso de preocupações e dúvidas acerca de seus interesses, realidade do mercado de trabalho e condições socioeconômicas, aptidões, vontades e necessidade de reconhecimento e validação social. Os pais exercem uma enorme influência nesse processo, pois funcionam como modelos de comparação e referência. Assim, muito da decisão do jovem acerca da escolha profissional está baseada na forma como os pais dialogam, validam ou não suas vontades,
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