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Filhos adolescentes Promovendo práticas parentais positivas

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FILHOS
ADOLESCENTES:
Promovendo práticas parentais positivas
Edi Cristina Manfroi. Henrique Lima Reis. Isabel Pires Santana.
Laize Marinho Cruz. Viviane Martins Sousa Nascimento.
Autores:
Edi Cristina Manfroi
Henrique Lima Reis
Isabel Pires Santana
Laize Marinho Cruz
Viviane M. S. Nascimento
 
Design gráfico:
Laize Marinho Cruz 
FILHOS
ADOLESCENTES:
Promovendo práticas parentais positivas
Copyright 2022. Todos os direitos reservados.
Laize Marinho Cruz
Professora Associada da Universidade Federal da Bahia
(UFBA). Doutora pela UFSC-Universidade Federal de
Santa Catarina. Pós doutorado em Psicologia: cognição e
comportamento pela UFMG. Docente dos cursos de
graduação em Psicologia e do Mestrado Profissional em
Psicologia da Saúde. Coordenadora do Núcleo de Estudos
Especializados em Desenvolvimento Humano (NEEDH). 
Graduando em Psicologia pela Universidade Federal
da Bahia. Bolsista de iniciação científica através da
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia
(FAPESB/UFBA). Membro do Núcleo de Estudos
Especializados em Desenvolvimento Humano (NEEDH). 
Graduanda em Psicologia pela Universidade Federal
da Bahia. Bolsista de iniciação à extensão pelo
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à
Extensão Universitária (PIBIEX). Integrante do Projeto
Iniciação, Transição e Adaptação para a
Parentalidade.
Psicóloga, graduada pela Universidade Federal da Bahia.
Especialista em Neuropsicologia (Faculdade Única de
Ipatinga). Mestranda em Psicologia da Saúde, pela
Universidade Federal da Bahia. Técnica do Sistema Único
de Assistência Social.
Edi Cristina Manfroi
Henrique Lima Reis
Isabel Pires Santana
Viviane Martins Sousa Nascimento
Graduanda em Psicologia pela Universidade Federal
da Bahia. Bolsista de iniciação à extensão pelo
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à
Extensão Universitária (PIBIEX). Integrante do Projeto
Iniciação, Transição e Adaptação para a
Parentalidade.
Educar adolescentes não é tarefa fácil. Diariamente somos desafiados,
postos à prova e ficamos em dúvida se o nosso jeito é o melhor para
transmitir ensinamentos para eles. Educar é um processo complexo e,
apesar de não existir uma receita de bolo, o avanço da ciência nos
permitiu compreender de maneira muito mais clara o desenvolvimento
do adolescente e a dinâmica de suas interações com os pais e com a
sociedade. Dessa forma, podemos dizer que atualmente possuímos
informações e referências para pensarmos em maneiras mais eficazes
de cuidado. Além disso, é importante lembrar que, no período da
adolescência, uma relação de respeito, apego, comunicação e afeto
com seu filho é capaz de impactá-lo positivamente ao longo de toda a
sua vida. A presente cartilha tem como objetivo, portanto, servir de
material de orientação para pais, mães e cuidadores de adolescentes
que desejam desenvolver um melhor diálogo e vínculo com seus filhos. 
A criação do material surge como iniciativa da pesquisa de mestrado
da psicóloga Viviane Martins S. Nascimento, na área da Psicologia da
Saúde da UFBA, com orientação da professora e pesquisadora Dra. Edi
Cristina Manfroi e colaboração do seu Núcleo de Estudos em
Desenvolvimento Humano (NEEDH) com os estudantes Laize Marinho
Cruz, Isabel Pires Santana e Henrique Lima Reis. O trabalho foi
realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior – Brasil (CAPES), como requisito para obtenção do
título de Mestre em Psicologia da Saúde. Os autores agradecem à
FAPESB (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia) e à
Universidade Federal da Bahia (UFBA) pelo financiamento de bolsas
de iniciação científica e extensão para a realização do projeto. O
conteúdo aqui presente baseia-se em estudos, pesquisas científicas e
na experiência profissional dos envolvidos. Esperamos que o material
contribua para a construção de uma relação positiva e afetuosa com
seu filho, oferecendo as ferramentas necessárias para um bom
desenvolvimento de práticas educativas positivas no seu dia a dia. 
Prefácio
01 O que acontece com o meu filhodurante a adolescência?
Como a Psicologia pode me ajudar
na tarefa de educar meu filho?02
03
04
Diferença entre Orientação Parental,
Terapia de família e Psicoterapia
Práticas parentais: o que são e
quais são as mais adequadas?
05
06
Orientações práticas
para o dia a dia:
Falando sobre…
Meu filho não me obedece. O que eu faço?
Limites e regras
Uso de telas: computador, notebook, celular e televisão 
Como me comunicar de maneira adequada com o meu filho?
5.1
5.2
5.3
5.4
Como conversar com o meu filho sobre sexualidade?
Como conversar com o meu filho sobre saúde mental?
Como conversar com o meu filho sobre escolha profissional?
Como conversar com o meu filho sobre uso de drogas?
Como conversar com o meu filho sobre amizades?
6.1
6.2
6.3
6.4
6.5
Sumário
01
04
06
08
15
47
07 Conclusão 71
1. O que acontece com o
meu filho durante a
adolescência?
Segundo o Estatuto da Criança e do
Adolescente (Lei n. 8.069, 1990),
considera-se adolescente o indivíduo entre
os 12 e 18 anos de idade incompletos. A
adolescência é uma etapa fundamental do
crescimento e desenvolvimento humano,
na qual o indivíduo passa por várias
transformações físicas, sociais, cognitivas
e emocionais. Essa fase também é
marcada pela transição da infância para a
vida adulta e é comum que o adolescente
seja considerado muito novo para fazer
“coisas de adultos” e muito grande para
ter atitudes de crianças. 
Dentre as alterações físicas presentes
nessa fase, pode-se destacar aquelas
voltadas à puberdade, como o crescimento
esquelético linear (conhecido como
estirão), a alteração da composição
corporal, as mudanças hormonais, o
crescimento dos pelos e o amadurecimento
dos órgãos de reprodução. Com o cérebro
não é diferente. As funções cerebrais
também passam por muitas mudanças que
influenciam o comportamento do
adolescente. Um exemplo disso é o que
ocorre com o que chamamos de sistema de
recompensas (conjunto de estruturas no
cérebro responsáveis por sinalizar quando
algo é prazeroso). Durante a adolescência,
o sistema de recompensas perde de 30% a
50% da sua sensibilidade, então é natural
que tudo que antes era considerado
interessante e satisfatório, de uma hora
para outra, perca a graça, fazendo com
que o adolescente abandone os prazeres
da infância e busque novos prazeres e
atividades.
Por isso, nessa fase é tão comum o filho
preferir a companhia dos amigos em
detrimento da família. Os pais já são
conhecidos no sistema de recompensa do
adolescente e o ambiente de casa não é
uma novidade. Nesse sentido, é até mesmo
esperado que as amizades assumam maior
importância para o indivíduo, ao passo
que é exigida dos pais negociação na
dinâmica familiar, já que o adolescente
cria novas necessidades em relação aos
papéis desempenhados na família. Além
disso, é normal que eles se identifiquem
com outros adolescentes, considerando
que estes têm a mesma idade, estão
passando pelas mesmas mudanças e
possuem os mesmos interesses.
A adolescência também apresenta como
características marcantes a busca pela
independência e a construção da
identidade. O adolescente começa a
questionar a si mesmo e aos outros quanto
aos valores e opiniões, porque ainda está
descobrindo, de fato, seus gostos,
preferências, quem é e em que acredita.
Muitas vezes, isso pode gerar crises na
família, mas é importante que sejam
estabelecidos acordos saudáveis para que
seja possível dar espaço e autonomia para
o adolescente de forma cuidadosa. Vale
lembrar que as áreas do cérebro
responsáveis por controlar os impulsos,
prever as consequências dos próprios atos
e se colocar no lugar dos outros, não estão
totalmente desenvolvidas no início da
adolescência e é por isso que o suporte
familiar e social é tão fundamental nesse
período. 
1. O que acontece com o meu
filho durante a adolescência?
02
Apesar de todos os conflitos, lembre-se
que o seu filho precisa de uma rede de
apoio. É importante mencionar que na
adolescência o indivíduo é muito mais
sensível ao estresse,além de estar mais
vulnerável ao desenvolvimento de
problemas de saúde mental,
principalmente transtornos de ansiedade,
depressão e psicoses (dentre elas, a
esquizofrenia). O estresse excessivo é um
dos fatores de risco para o
desenvolvimento destes transtornos. Por
isso há a necessidade de oferecer atenção
e cuidado ao adolescente.
Buscar entender mais sobre a adolescência
é necessário porque, muitas vezes, os
comportamentos considerados
“problemas” pelos pais são normais e até
mesmo saudáveis para a fase. Lembre-se
que ele está passando por uma transição
da infância para a vida adulta e é preciso
ter expectativas realistas quanto aos seus
comportamentos. Um bom exercício que
você pode fazer é buscar diferenciar um
comportamento desejável e um
comportamento esperado quando se trata
dos filhos. O comportamento desejável é
aquele que a gente deseja muito que
aconteça e o comportamento esperado é
aquele que é normal/comum que aconteça.
Por exemplo: é desejável que o
adolescente passe mais tempo na sala
com a família e menos tempo sozinho no
quarto? Sim, mas não é esperado que isso
aconteça, já que como vimos, nessa fase é
comum a busca pelo espaço de
intimidade.
1. O que acontece com o meu
filho durante a adolescência?
Além disso, a adolescência compreende
um período extenso (12-18 anos) e é
evidente que um jovem de 13 anos é muito
diferente de um de 17 anos, por exemplo.
Assim, é normal que algumas das suas
práticas educativas tenham que ser
adaptadas para diferentes faixas etárias,
uma vez que os próprios comportamentos
e formas de pensar do seu filho irão mudar
ao longo da adolescência, apesar de
existirem aspectos em comum, como
mencionamos anteriormente. Até mesmo
essas questões típicas da adolescência
não são constantes, podendo variar em
intensidade e frequência ao longo do
tempo. Dessa forma, talvez a maneira que
você educa e lida com um jovem no início
da adolescência não seja tão eficaz
quando ele estiver no meio ou no fim desse
período e vice-versa. 
Apesar de todos os
conflitos, lembre-se
que o seu filho precisa
de uma rede de apoio. 
03
2. Como a Psicologia
pode me ajudar na tarefa
de educar o meu filho?
Apesar de ser muito importante, o
processo de criação e educação dos filhos
não é algo que nos é ensinado, e
acabamos acreditando que é um processo
natural que todo ser humano desenvolve
automaticamente ao tornar-se pai/mãe.
Ao se verem perdidos, é muito comum que
os pais sigam as experiências vividas em
sua própria criação, conselhos de
conhecidos ou até mesmo a própria
intuição. Sendo assim, considerando as
consequências boas e ruins que as práticas
educativas podem ter no desenvolvimento
dos filhos, a Orientação Parental (OP)
surge como um ótimo aliado nesse ofício. 
A OP é um tipo de serviço prestado por
profissionais da Psicologia que tem como
objetivo fortalecer, preparar e capacitar os
pais na tarefa de educar os filhos. Quando
as instruções fornecidas são colocadas em
prática, podemos observar melhorias no
comportamento, na comunicação e na
expressão das emoções tanto dos
responsáveis quanto dos adolescentes, o
que também favorece o aumento da
qualidade das relações no ambiente
familiar. Geralmente, a OP é pensada com
base nas necessidades específicas de cada
família. Nesse sentido, ela pode ser
voltada para resolução de conflitos (com
instruções de como lidar com
comportamentos problemáticos), assim
como pode também assumir caráter
preventivo, ajudando pais a
desenvolverem práticas parentais
positivas (envolvendo comunicação,
demonstração de afeto, suporte
emocional, tempo de qualidade, etc.).
2. Como a Psicologia pode me ajudar
 na tarefa de educar o meu filho?
05
3. Diferença entre
Orientação Parental,
Terapia de Família e
Psicoterapia
A Terapia familiar é um trabalho
psicoterapêutico em que toda a
família é foco de intervenção,
afinal, cada membro influencia e
interfere no processo de interação
familiar. É indicada em casos de
conflitos interpessoais, problemas
conjugais, distúrbios das relações
entre os membros da família, ou
problemas ligados a fases de
transições, como a adolescência,
casamento ou chegada de um
filho, por exemplo.
Você sabe diferenciar
Orientação Parental de outros
processos terapêuticos, como
Terapia de Família e
Psicoterapia? Se sua resposta
for não, pode deixar que nós te
explicamos! 
3. Diferença entre Orientação Parental,
Terapia de Família e Psicoterapia
Já a Psicoterapia é um processo
individual mais longo
caracterizado pela observação e
escuta do indivíduo. Ela pode ter
vários objetivos, como o
autoconhecimento, o tratamento
de um transtorno mental, o
desenvolvimento de habilidades
ou de recursos para lidar com um
sofrimento, etc. Apesar de ser
diferente da Orientação Parental,
ao levar em conta o contexto e as
relações da pessoa atendida, a
Psicoterapia pode favorecer
também mudanças familiares. 
A primeira coisa que você deve
saber é que na Orientação
Parental os atendimentos são
realizados somente com os
responsáveis e não com as
crianças e/ou adolescentes. Além
disso, é um processo mais curto e
objetivo se compararmos à
Terapia de Família e à
Psicoterapia.
3
1
2
07
4. Práticas parentais: 
o que são e quais são as
mais adequadas?
4. Práticas parentais: o que são e
quais são as mais adequadas?
A maneira como estabelecemos vínculos
com os nossos pais na infância e
adolescência influencia diretamente na
forma como nos comportamos, nos
enxergamos e construímos
relacionamentos no futuro. Com isso, o
tipo de relação que vocês irão desenvolver
com seus filhos recebe grande influência
do relacionamento desenvolvido com seus
pais ao longo da infância e adolescência. 
É normal que nossas condutas enquanto
pais (e educadores) sejam pautadas em
noções de certo e errado que foram
aprendidas na nossa infância e
adolescência. Vale lembrar que vivíamos
um período cultural bastante diferente do
que é hoje, com dinâmicas familiares,
valores sociais e formas de se relacionar
próprios daquele tempo. Afinal, você
consegue imaginar sua infância com um
celular ou conversando sobre
sentimentos/emoções com seus pais? Para
muitos, esse cenário é bastante difícil de
se pensar, mas essa é uma realidade
bastante comum atualmente.
Em resumo, o que queremos dizer com isso
é: a relação que vamos estabelecer com os
filhos sofre uma enorme influência do
contexto cultural e da forma pela qual nós
fomos criados e educados. Assim, devemos
tentar nos adaptar às mudanças que
ocorrem na sociedade e pensar na melhor
forma de educar com base na realidade
atual. Isso não quer dizer deixar para trás
os valores aprendidos na sua época de
adolescente, mas sim adaptá-los e, se
necessário, reformulá-los. 
É importante, também, refletirmos sobre
nossa própria criação: “será que devo me
relacionar com meu filho exatamente da
mesma forma que eu fazia com meus
pais?”, “existe algo que aconteceu comigo
que eu não queria que ocorresse com meu
filho?”. A intenção é que tais reflexões nos
ajudem a adaptar e filtrar o que nos foi
ensinado e usar essa nova roupagem na
relação com filho para que esta seja o
mais saudável possível. A seguir,
discutiremos pontos mais específicos
desses comportamentos parentais que irão
te ajudar a identificar, em si, certos
padrões. 
Será que devo me
relacionar com meu
filho exatamente da
mesma forma que eu
fazia com meus pais?
09
Na Psicologia, estudamos sete práticas
educativas parentais. Duas delas estão
associadas a comportamentos pró sociais
dos filhos, e são elas: Comportamento
moral e Monitoria positiva; enquanto as
outras cinco estão associadas a
comportamentos antissociais dos filhos, e
são elas: Negligência, Punição
inconsistente, Monitoria negativa,
Disciplina relaxada e Abuso físico. Confira
todas elas a seguir.
Práticas Parentais são as estratégias que
os pais utilizam para disciplinar e educar
os seus filhos, como, por exemplo, elogiar,
gritar, dialogar, bater, etc. Chamamos de
Estilo Parental o conjunto desses
comportamentos e todo o clima existente
em uma relação entre pais e filhos,
incluindo a expressãocorporal, o tom de
voz, o humor e as práticas parentais
usadas com mais frequência.
Como vimos, a família tem um papel
fundamental nas nossas vidas. Ela é o
primeiro grupo social que temos contato e
influencia diretamente a formação da
nossa personalidade e do nosso
comportamento. Pensando nisso,
compreender o que são os Estilos Parentais
permite que os cuidadores adotem
práticas mais saudáveis na relação com os
filhos. Estudos já demonstram que as
formas de educar os filhos geram impactos
no comportamento e nas emoções, como
por exemplo: escolha por consumo de
drogas, desenvolvimento de habilidades
sociais, estresse, depressão,
aprendizagem, auto-estima e ansiedade.
O que são práticas parentais? Quais são as mais adequadas?
4. Práticas parentais: o que são e
quais são as mais adequadas?
10
Comportamento Moral
Você apresenta essa prática quando:
Pergunta se ele está com dificuldade
em terminar a atividade escolar,
quando se interessa em conhecer os
amigos dele antes de falar que eles são
“má companhia”, quando você
realmente se interessa em saber se ele
se divertiu na festa ao invés de
interrogá-lo em tom de desconfiança.
Essa prática fica evidente quando você
consola e acolhe seu filho após
momentos difíceis como decepções,
frustrações e derrotas.
São aquelas práticas educativas
relacionadas à atenção e ao conhecimento
dos pais acerca do local onde estão seus
filhos, suas companhias e as atividades
nas quais estão envolvidos, sem ser
invasivo ou controlador. Demonstrações de
carinho, afeto e cuidado especialmente
nos momentos de necessidade também
fazem parte da monitoria positiva.
Você apresenta essa prática quando:
Você é gentil, justo ou honesto com
outras pessoas em situações nas quais
o seu filho está presente. Ou quando
seu filho não age conforme tais valores
e você conversa com ele sobre a
importância de tais comportamentos
para uma convivência saudável,
descrevendo como ele poderia se
comportar em situações semelhantes. 
Nessa prática, os pais transmitem valores
como honestidade, senso de justiça e
generosidade, assim como buscam
estimular a empatia, educação e outros
bons comportamentos dos filhos. Através
de uma relação de afeto e diálogo, os pais
servem de modelo para que o adolescente
seja capaz de desenvolver tais habilidades
no seu dia a dia. Monitoria Positiva
4. Práticas parentais: o que são e
quais são as mais adequadas?
11
Negligência
Punição Inconsistente
Você apresenta essa prática quando:
Ao voltar para casa após um dia
estressante no trabalho, você se irrita
com pequenas coisas que seu filho faz,
gritando e aplicando punições de
maneira desproporcional à situação,
como deixá-lo uma semana sem ver os
amigos porque não lavou a louça.
Acontece quando os pais punem os seus
filhos de acordo com o seu humor ou
estado emocional, e não por conta dos
comportamentos deles. Em outras
palavras, é o humor dos pais, e não as
ações do filho, que determina a forma de
educar. Dessa forma, as práticas
educativas tornam-se inconsistentes e
pouco relacionadas com os
comportamentos dos filhos. Como
consequência dessa inconstância, o filho
não aprende a identificar o humor de seus
pais e não aprende de fato se seus
comportamentos são adequados ou não,
dificultando o desenvolvimento de
habilidades sociais. 
Você apresenta essa prática quando:
Trata seu filho com frieza, não se
importando em abraçá-lo ou acalmá-
lo em momentos de ansiedade ou
angústia, como quando ele se
machuca. Quando nega ajudá-lo com
uma tarefa escolar, mesmo percebendo
que ele está com dificuldade.
Ocorre quando os pais não se atentam às
necessidades dos filhos, não demonstram
carinho e afeto quando interagem ou
negam auxílio quando o adolescente
necessita. Com isso, tornam-se omissos na
função de cuidadores e negam suas
responsabilidades. Como consequência, o
adolescente pode desenvolver sentimentos
de insegurança, dificuldade de
socialização, baixa autoestima e até
comportamentos agressivos. 
4. Práticas parentais: o que são e
quais são as mais adequadas?
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Monitoria Negativa
Disciplina Relaxada
Você apresenta essa prática quando:
Fala que seu filho só poderá jogar
videogame quando terminar as
atividades escolares, mas não cumpre
o prometido e deixa ele jogar mesmo
com as tarefas incompletas. 
Ocorre quando os próprios pais não
seguem regras que eles mesmos
estabeleceram. Eles ameaçam (castigar,
não dar presente, tirar algo) e, quando
estão de frente ao comportamento
inadequado dos filhos, acabam não
fazendo valer as regras combinadas.
Você apresenta essa prática quando:
Seu filho avisa que vai sair com os
amigos e você continua ligando para
ele repetidas vezes perguntando, em
tom de briga, onde ele está ou quando
volta para casa. A consequência disso
é que, das próximas vezes, seu filho
comece a mentir com o objetivo de
evitar conflitos.
É possível identificar essa prática quando
os pais fiscalizam de maneira excessiva a
vida dos filhos, dando instruções e
impondo regras repetidas vezes. Essa
prática educativa gera estresse e
geralmente os filhos começam a mentir ou
evitar dialogar com os pais como forma de
proteger sua privacidade, já que a
fiscalização ocorre o tempo todo.
4. Práticas parentais: o que são e
quais são as mais adequadas?
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Abuso Físico
Você apresenta essa prática quando:
Bate com a mão ou outros objetos (ex.
cinto) em seu filho afirmando que é “só
uma palmada”.
Essa é uma prática ainda muito utilizada,
e é possível identificar nos casos quando
os cuidadores causam dor, sofrimento e
machucam os filhos sob o pretexto de
estarem educando. Como consequência,
aumenta-se o risco dos adolescentes
apresentarem problemas de saúde mental,
como ansiedade, depressão e até ideação
suicida. O respeito dos filhos para com os
pais é em decorrência do medo, a relação
entre pais e filhos se fragiliza, podendo se
tornar superficial e, a longo prazo,
aumenta as chances dos filhos serem
violentos com outras pessoas ou de se
submeterem a relações abusivas. Sabemos que nem sempre é fácil para os
pais utilizarem sempre as estratégias mais
adequadas para educar seus filhos, mas o
importante é que na maioria das vezes a
escolha seja pelas práticas educativas
positivas, e quando por alguma razão isso
não acontecer, procure refletir e conversar
depois com seu filho. Compreender e saber
identificar suas práticas educativas e seu
estilo parental vai te ajudar a perceber
com mais facilidade quais estratégias
estão sendo adequadas ou não. Tente
realizar as mudanças de maneira gradual
e preste atenção em como seu filho
responde a elas para aperfeiçoá-las ao
longo do tempo.
FIQUE ATENTO
4. Práticas parentais: o que são e
quais são as mais adequadas?
14
5. Orientações práticas
para o dia a dia
5.1. Meu filho
não me obedece. 
O que eu faço?
5.1. Meu filho não me obedece. 
O que eu faço?
Ao falar em obediência, antes de tudo é
importante analisar as suas expectativas
quanto ao comportamento do adolescente,
pois nem sempre os comportamentos
considerados “problemas” pelos pais são,
de fato, inadequados. Para entender
melhor sobre a diferença de um
comportamento esperado e um
comportamento desejável durante essa
fase, veja o tópico “O que acontece com o
meu filho durante a adolescência?” na
página 01. Se após o exercício você
observa que o seu filho está apresentando
algum comportamento realmente
inadequado com frequência e intensidade,
é necessário entender as situações em que
esse comportamento vem ocorrendo. 
Os nossos comportamentos são
aprendidos ao longo da vida, sendo que
mantemos e repetimos aqueles que
apresentam alguma vantagem. Por
exemplo: Se desde pequeno o seu filho
grita ou fala alto para conseguir o que
quer e vocês, como cuidadores, cedem,
conforme ele for crescendo esse
comportamento indesejável pode se
perpetuar, sendo mais provável que, em
outras situações, o seu filho tente resolver
problemas e frustrações da mesma
maneira. Como consequência, ele pode
aprender que o uso de agressividade é
uma boa solução para conseguir as coisas,
utilizando-a quando for frustradopor não
ter o que deseja. Nesse sentido, se o
adolescente se comporta mal
frequentemente é muito provável que ele
esteja obtendo alguma “vantagem” com
este comportamento.
“Mas quando meu filho se
comporta mal, eu grito com
ele. Como isso pode ser uma
vantagem?”
Bom, isso pode estar acontecendo porque
o comportamento inadequado do seu filho
está sendo seguido por ATENÇÃO, ainda
que em forma de críticas, gritos e
reclamações. Essas também são formas de
dar atenção e podem ser vistas como uma
vantagem. Além disso, ele aprende que
aquela consequência é previsível: “toda
vez que eu desobedeço, meus pais me dão
atenção”. E então o ciclo se repete. 
 Podemos trabalhar o
desenvolvimento de
novos comportamentos
dos filhos a partir do
desenvolvimento de
novos comportamentos
dos pais.
17
O modelo ABC, descrito na tabela abaixo,
permite que a gente analise essas
situações. Você consegue pensar em um
exemplo de um comportamento
inadequado que seu filho apresenta de
forma recorrente? Preencha o campo B.
Agora, descreva no campo C o que
geralmente você faz quando ele apresenta
esse comportamento. Por fim, preencha no
campo A, o que ocorre antes ou o que
desencadeia esse comportamento. O
modelo ABC é dividido de maneira que A
corresponde à Antecedente, B
Comportamento e C consequência.
Primeiro nós identificamos o
comportamento (B). Em seguida, seus
Antecedentes (A), ou seja, o que causa o
comportamento ou é gatilho para que ele
aconteça.
Vamos fazer um exercício?
 
 
 
 
(A) 
ANTECEDENTES
(B) 
COMPORTAMENTO
(C) 
CONSEQUÊNCIA
Ex: Peço ao meu
filho para arrumar
o quarto.
Ex: Meu filho
ignora a minha
ordem e vai jogar.
Ex: Grito com ele e
acabo arrumando
no seu lugar.
E por último, identificamos a Consequência
(C), que é o ocorre depois do
comportamento. Essa atividade é
chamada de “Análise Funcional” e serve
para nos ajudar a entender a relação entre
os antecedentes, o comportamento e suas
consequências. Lembrando que as
consequências podem fazer com que o
comportamento se repita ou diminua. No
exemplo exposto na tabela podemos
observar que a consequência do
comportamento está sendo vantajosa (o/a
responsável acaba arrumando o quarto no
lugar do filho). Dessa forma, o
comportamento indesejado tende a se
repetir. Seguindo o modelo ABC os pais
podem fazer mudanças tanto nos
Antecedentes (antes mesmo dele ocorrer)
como nas Consequências (depois que ele
ocorre) e assim obter outra resposta.
5.1. Meu filho não me obedece. 
O que eu faço?
Tabela 1. Modelo ABC.
18
Sugestões do que pode ser feito para
evitar um comportamento indesejado:
Abra espaço para acordos junto
com o seu filho. Considerando
que adolescentes sentem
necessidade de autonomia, é
possível, por exemplo, negociar
os horários e as atividades a
serem feitas. 
Ao se dirigir ao seu filho, dê
apenas um comando de cada
vez, pois isso aumenta as
chances de você obter uma
resposta desejada. 
Esclareça quais serão as
consequências caso ele
desobedeça. É importante que as
consequências sejam ditas
antecipadamente e que sejam
cumpridas caso o
comportamento inadequado
aconteça. 
É importante que os comandos
sejam específicos e incluam uma
estrutura de tempo (Ex: “Filho,
assim como combinamos, você
precisa arrumar o seu quarto
pela manhã, antes de jogar
videogame). 
Veja mais sobre o tema no tópico “Limites e Regras” na página 24.
5.1. Meu filho não me obedece. 
O que eu faço?
19
Quando o seu filho não agir conforme
combinado, evite:
As palavras muitas vezes são formas de
agressão. É necessário evitar alguns
adjetivos ou rótulos quando os filhos
erram. Se for falar, fale do
comportamento específico (Ex: “não
gostei do que você fez na escola hoje”.
Ao invés de: “você não faz nada certo”).
As consequências para os filhos nunca
devem ser através do uso da violência.
Estudos demonstram que o uso da
violência para educar é ineficaz e gera
sérias consequências para o
desenvolvimento das crianças e
adolescentes. Lembre-se que a violência
gera medo, e o medo não faz com que
eles entendam que o comportamento é
errado. Aos poucos, os filhos descobrem
maneiras de esconder suas atitudes para
escapar da dor ou da vergonha.
A punição produz
efeitos emocionais,
como raiva, medo,
isolamento e pode 
afetar o vínculo entre
o(a) responsável e o
adolescente.
Utilizar Agressão Verbal: Utilizar Punição Física:
5.1. Meu filho não me obedece. 
O que eu faço?
20
Essa é uma das técnicas mais utilizadas
pelos pais, embora, na maioria das vezes,
seja conduzida de maneira incorreta. Ela
tem como objetivo suspender
temporariamente uma situação
reforçadora/prazerosa para o filho, após o
mesmo não se comportar de maneira
desejada/adequada. Para que seja eficaz,
os pais devem separar um ambiente para
que ele permaneça com distrações
mínimas e explicá-lo a razão e a duração
do Time-out. Lembrando que a duração
deve ser de acordo com a idade do filho
(ex: um minuto por ano de idade). Vocês
nunca devem dar qualquer reforço ao
adolescente durante o Time-out (como
atenção, elogios ou presentes) e precisam
ser firmes quanto ao tempo que
estabeleceram. É comum os filhos
apresentarem resistência, mas é
importante que vocês expliquem que o
tempo da suspensão só começa quando
ele permanecer no lugar. 
“Então o que eu faço quando o meu filho se
comportar de maneira inadequada?” 
5.1. Meu filho não me obedece. 
O que eu faço?
Técnica: Time-outTécnica: Time-out
Idade: 12 a 14 anos de idade.
Objetivo: Retirar o adolescente do
ambiente reforçador e colocá-lo em um
local sem distrações, por um tempo
definido, a fim de que ele se acalme e
repense sobre o seu comportamento
inadequado.
Caso o adolescente vá para a suspensão
porque não fez alguma atividade
conforme combinado, após o período de
Time-out você deve garantir que ele
realize essa tarefa. Caso contrário, a
técnica deixa de ter efeito e se torna
vantajosa para o filho, porque ele
consegue fugir das responsabilidades.
FIQUE ATENTO
21
Outra maneira de responder a um
comportamento inadequado é a remoção
de recompensas e privilégios. De acordo
com essa técnica, os pais devem escolher
algum privilégio do adolescente que será
perdido caso ele não se comporte
conforme o combinado. Ex.: não permitir
que ele vá a um evento específico, assistir
televisão, jogar ou usar o celular durante
determinado tempo. A remoção de
recompensas e privilégios deve ser
proporcional ao nível do comportamento. É
recomendado também que seja curta, com
duração de no máximo dois dias. Não
adianta deixar o adolescente meses sem
jogar videogame porque ele brigou com o
irmão, por exemplo. É muito provável que
ele esqueça os motivos e se acostume com
a ausência daquele objeto. Deixe claro
para o seu filho qual será a consequência
de um comportamento inadequado antes
mesmo dele acontecer. Isso evita que na
hora da raiva você estabeleça uma
punição muito desproporcional. 
 
O que estou tentando
ensinar a meu filho?
Será que uma punição
muito rigorosa é
realmente uma forma
efetiva de ensinar isso?
“Então o que eu faço quando o meu filho se
comportar de maneira inadequada?” 
5.1. Meu filho não me obedece. 
O que eu faço?
Técnica: Time-outTécnica: Remoção de
recompensas e privilégios
Idade: 12 a 18 anos de idade.
Objetivo: Remover ou restringir o acesso
do adolescente a objetos e/ou atividades
prazerosas por determinado tempo, com o
objetivo de diminuir a frequência do seu
comportamento inadequado.
22
FIQUE ATENTO
Não foque apenas nos erros do seu
filho, foque nos comportamentos que
você quer que ele repita. Sorrir,
abraçar, elogiar e recompensar depois
de um bom comportamento são formas
de estimulá-lo. 
Lembre-se que a atenção é um dos
reforçadores mais poderosos. Ao invés
de só punir os comportamentos
indesejáveis, dê mais atenção aos
comportamentos desejáveis. 
No caso dos elogios, eles devem ser
feitos imediatamente após o
comportamento e não devem ser
acompanhados de críticas.
Quanto mais você estimular o
comportamento positivo, menos tempo
você vai gastar com as consequências
negativas. Por exemplo, se toda vez que o
seufilho não age conforme combinado
você grita com ele, mas quando ele
cumpre o combinado você não esboça
nenhuma reação, ele pode entender que é
mais vantajoso não se comportar porque é
o único momento em que você dá atenção.
Como vimos anteriormente, são as
vantagens que mantêm os
comportamentos.
5.1. Meu filho não me obedece. 
O que eu faço?
23
5.2. Limites 
e Regras
Conseguir estabelecer limites na relação
cuidador-adolescente é fundamental para
um desenvolvimento saudável do seu filho
e um clima familiar com mais qualidade. A
função desse estabelecimento de regras e
limites é deixar claro para o filho quais
são os comportamentos adequados e
quais são os inadequados. A ausência de
limites, permissividade excessiva e falta
de orientação acerca do que é certo ou
errado podem acarretar em consequências
negativas. Por exemplo, é possível que os
filhos tenham dificuldade em respeitar os
direitos dos outros e em assumir a
responsabilidade pelas suas decisões e
compromissos. Além disso, com o tempo
ele pode desenvolver algumas crenças de
superioridade e arrogância, acreditando
que suas vontades estão acima das dos
outros e praticar ações sem considerar que
talvez possa prejudicar outras pessoas. Por
fim, podem ter dificuldade em situações
que necessitam de autocontrole e sofrer
em excesso com frustrações. 
FIQUE ATENTO
5.2. Limites e Regras
Não orienta seu filho sobre o certo e o
errado em situações de interação
social.
Sempre faz tudo o que ele pede, mesmo
sabendo que não é o mais justo ou
correto.
Não aceita que ele se frustre por não
ter o que quer e, por isso, evita ao
máximo tal desconforto fazendo todas
as suas vontades. 
Você pode estar com dificuldades em
estabelecer limites se: 
Além disso, um ponto fundamental no
processo de estabelecimento de limites é
compreender que os pais devem servir de
modelo para os filhos, ou seja, se
comporte da maneira que você gostaria de
ver seu filho se comportando e trate as
pessoas como você queira que seu filho
também trate. 
25
Essa é uma palavra muito importante ao
tratarmos de estabelecimento de limites.
Ambos os pais (ou cuidadores) devem
estar alinhados quando se trata da
educação do filho. São comuns situações
nas quais cada um dos pais orienta o filho
de maneira diferente ou reforça um
comportamento que o(a) parceiro(a) não
acha adequado. Em situações como essa, o
mais recomendado é conversar em
particular com seu(sua) parceiro(a) e
chegar a um acordo sobre como agir em
situações semelhantes.
Quando cada um dos responsáveis educa e
trata o adolescente de maneira muito
diferente, a tendência é que ele identifique
esses padrões e saiba exatamente o que
pedir para cada um, aumentando as
chances dele se isolar/distanciar de algum
de vocês ou, em casos mais extremos,
adotar um comportamento agressivo. Por
exemplo, digamos que seu filho
adolescente queira ir à uma festa.
Primeiro, ele pede a você (que não deixa
ele ir) e, em seguida, para seu
companheiro(a) que o autoriza a ir. É
possível que essa situação gere uma
discussão entre vocês que, como
consequência, possa fazer com que seu
filho fique com raiva ou haja com
agressividade com o cuidador que não o
deixou sair. Vale lembrar também da
prática parental mencionada
anteriormente: a Punição Inconsistente
(veja mais sobre o tema no tópico
“Práticas Parentais” na página 08).
Evite-a ao máximo e não estabeleça
regras e limites de acordo com seu humor.
O importante é ser consistente nas suas
ações e orientações, deixando bem claro
para o seu filho a razão de suas decisões.
Consistência
26
5.2. Limites e Regras
Comparações ou
comentários negativos na
frente de outras pessoas
Não fazer nada
(permissividade excessiva)
Listamos a seguir algumas atitudes que prejudicam
o processo de estabelecimento de limites:
Além de prejudicar a autoestima, passa
a sensação de que os pais não gostam
realmente do filho, pois apenas elogiam
outros adolescentes. Além de promover a
insegurança no filho, falas como “o filho
de fulano faz todas as atividades, por
que você não é assim?”, podem fazer
com que o jovem sinta-se inferiorizado e
incapaz. A longo prazo, é possível que
essa baixa autoestima faça com que ele
se comporte de maneira a sempre querer
agradar e buscar aprovação das
pessoas, deixando de lado seus valores e
vontades. 
Acontece quando os pais ignoram os
comportamentos inadequados do filho e
continuam agindo normalmente. Por
exemplo, quando os pais continuam
usando o celular enquanto o adolescente
está brigando e gritando dentro de casa,
ou se colocando em perigo, ou seja, está
emitindo um comportamento que precisa
da atenção dos pais. Isso demonstra
abandono por parte dos pais,
dificultando também o desenvolvimento
de vínculos seguros entre vocês.
27
5.2. Limites e Regras
Agredir o filho fragiliza laços, prejudica
a comunicação e o relacionamento com o
adolescente, além de criar uma
associação entre figuras de autoridade e
medo/submissão. 
Catastrofizar situações com o intuito de
deixar o filho com medo e, assim, ele
realizar o que foi pedido. “Se você não
estudar para a prova vai repetir de ano e
todos os seus amigos vão passar na sua
frente. É isso que você quer?”.
Ocorre quando o filho erra e os pais
sempre usam dessa situação, mesmo que
ele não esteja acontecendo no momento,
para que o filho se sinta culpado pelo
que fez. A consequência desse
comportamento é o desenvolvimento de
baixa autoestima e grande
culpabilização no jovem, que se sente
inferior.
Explicações exageradas 
Agressão 
Raiva prolongada
28
5.2. Limites e Regras
O objetivo dessa prática é incitar o medo
no filho, passando a responsabilidade
para outra pessoa, por exemplo:
“Quando seu pai chegar você vai ver…”.
Porém, esse tipo de comportamento pode
fazer com que o adolescente comece a
mentir para evitar o conflito. Nesse caso,
quando o medo se refere a alguém da
família (por exemplo, o pai), é possível
que o filho se afaste do mesmo e não
enxergue nessa figura conforto
emocional, apenas medo. 
Quando os pais ameaçam os filhos com
a perda do seu amor ou abandono. Por
exemplo, “Vou embora e você vai ficar
sozinha”, “Se você fizer isso ninguém vai
gostar de você”. Isso é prejudicial para a
relação com os filhos porque eles
pensam que precisam fazer de tudo para
ter o amor dos pais e ter valor.
Acontece quando os pais, ao perceberem
que não funcionou, repetem diversas
vezes a ordem da mesma maneira:
“Filho, vai fazer a tarefa. Filho, vai fazer
a tarefa…”
Abandono
Nomear entidades
Insistência
29
5.2. Limites e Regras
Como posso estabelecer regras e limites?
Os filhos não conseguem adivinhar o que
você espera deles. É preciso estabelecê-
las claramente. Você quer que os seus
filhos ajudem nas tarefas de casa?
Espera que eles estudem e façam a
tarefa de casa em determinado horário?
Não quer que fiquem acordados até de
madrugada? Então você precisa dizer
tudo isso, não só esperar que aconteça.
Quando você fala e explica, com o tempo
aquilo se transforma em uma regra para
os seus filhos, uma dica de como eles
devem agir agora e no futuro, inclusive
quando você não estiver presente.
Ao invés de dizer apenas “arrume essa
bagunça", você deve dizer exatamente o
que quer com isso, por exemplo “pegue
as roupas que estão espalhadas e
guarde no seu guarda-roupa”, ou “o
nosso combinado é que toda vez que
você terminar de estudar, você deve me
ajudar com a louça”. Quando você diz
arrume essa bagunça o seu filho pode se
confundir em relação ao que exatamente
você está pedindo e acabar não fazendo
nada ou fazendo de qualquer jeito.
As regras devem 
ser ensinadas
As regras devem ser bem
claras e específicas
As consequências precisam ser
combinadas antes com os seus filhos e
você deve aplicá-las caso eles não
cumpram o combinado. Deixe bem claro o
motivo da regra e as consequências de não
segui-la: “Se você terminar a tarefa, pode
usar o videogame depois. Porém, se não
fizer, à noite não pode jogar”. Aqui é
muito importante ter consistência, ou seja,
não mudar a regra ou a consequência a
depender do seu humorno dia. Você
precisa respeitar a regra também, caso
contrário, seu filho também não vai
obedecer (lembre-se de ser um modelo
para eles), ou seja, deixá-lo jogar
videogame caso ele termine a tarefa (Veja
mais sobre o tema no tópico “Meu filho
não me obedece. O que eu faço?”, na
página 16).
As consequências precisam
ser claras e firmes
30
5.2. Limites e Regras
Estabeleceu uma regra e ele não cumpriu?
Como falar com o adolescente?
O primeiro passo é deixar bem claro o
comportamento que você não achou
adequado. Fale sobre o comportamento
e não sobre a pessoa. Por exemplo, ao
invés de falar que ele é preguiçoso por
não realizar as tarefas de casa, fale
quais sentimentos negativos aquilo
despertou em você (“fiquei triste,
chateada”) e retome a regra combinada
(“lembra o que combinamos sobre a
tarefa de casa?”).
Relembre quais as consequências de não
seguir a regra conforme combinado
(“Então hoje você não vai poder jogar
videogame”) e as recompensas por
cumprir a regra (“Fazendo a atividade
você fica com mais tempo livre para
jogar”).
Pensem, em conjunto, em soluções para o
problema (“Quando você não conseguir
fazer uma tarefa, marque ela no caderno
que eu te ajudo quando chegar do
trabalho”). Ao propor esse tipo de
solução, não faça a tarefa para ele,
apenas auxilie e tire possíveis dúvidas,
caso contrário você estará reforçando o
comportamento de não realizar
atividades.
1
Investigue a razão pela qual ele não fez
o combinado (“Teve dificuldade?”). Em
alguns momentos, pode ser útil mostrar
como realizar determinada tarefa e,
depois, pedir para que o filho faça.
2
3
4
Pensem, em conjunto, em soluções para o
problema (“Quando você não conseguir
fazer uma tarefa, marque ela no caderno
que eu te ajudo quando chegar do
trabalho”). Ao propor esse tipo de
solução, não faça a tarefa para ele,
apenas auxilie e tire possíveis dúvidas,
caso contrário você estará reforçando o
comportamento de não realizar
atividades.
5
31
5.2. Limites e Regras
No início é normal que
exista dificuldade em
seguir o estabelecido,
mas com o tempo a
tendência é que isso
vire parte da rotina.
Veja mais sobre o tema no tópico “Meu filho não me obedece. O que eu faço?”, na página 16.
32
5.2. Limites e Regras
5.3. Uso de Telas:
computador,
notebook,
celular e
televisão
 
 
 
 
 
De acordo com a Sociedade Brasileira de
Pediatria (SBP), os primeiros anos de vida
e a adolescência são muito importantes
para o desenvolvimento físico, cognitivo,
social e emocional de qualquer indivíduo,
e o uso excessivo de telas pode gerar
sérias consequências nesse período.
Pesquisas alertam que a exposição
constante dos adolescentes às telas pode
aumentar a ansiedade, estimular um
comportamento violento ou agressivo,
causar irritabilidade, transtornos de sono
e/ou de alimentação, prejudicar o
rendimento escolar, gerar dificuldade de
concentração/aprendizagem, afetar as
relações sociais, criar distorções da sua
imagem corporal, queda da autoestima,
gerar problemas de audição/visão e
outras complicações físicas pela postura e
repetição de movimentos.
5.3. Uso de Telas: computador,
notebook, celular e televisão
Na tabela, podemos ver o tempo
recomendado para uso de telas de acordo
com cada idade. Sabemos que tem sido
cada vez mais precoce o acesso a
celulares, notebooks, computadores e, com
a pandemia e o ensino à distância, isso
acabou se intensificando. Se você já nota
que o seu filho está exagerando no uso do
celular ou dos jogos, tente ajudá-lo a
entender os benefícios de realizar essas
atividades com moderação e a reconhecer
que está gastando muito tempo com essas
atividades. 
TEMPO RECOMENDADO
PARA USO DE TELASIDADE
Menores de 2 anos Evitar totalmente aexposição
Entre 2 e 5 anos
Entre 6 e 10 anos 
Entre 11 e 18 anos 
Máximo de 1
 hora por dia
Máximo de 1 a 2 
horas por dia
Máximo de 2 a 3 
horas por dia
Tabela 2. Tempo Recomendado para uso de telas de acordo com o Manual de Orientação “Menos tela mais Saúde”
produzido pela Sociedade Brasileira de Pediatria (2019-2021). 34
Vale lembrar que tratar as redes sociais e
a internet como vilões pode fazer com que
seu filho evite falar com você sobre
assuntos como o cyberbullying (ameaças e
violências ocorridas no ambiente virtual)
ou assédio, por medo de ser privado do
uso do celular, por exemplo. Por isso, não
trate o uso das redes sociais como
inimigas, pois elas fazem (e vão continuar
fazendo) parte da sua vida e da vida do
seu filho adolescente.
É possível que, em alguns momentos da
vida dele, o ambiente virtual tenha
contribuído para aumentar o seu senso de
pertencimento a um grupo, desenvolver
novas amizades e conhecer pessoas,
lugares e hábitos novos, ajudando-o a
explorar sua identidade. Assim, o mais
recomendável a se fazer é auxiliar o seu
filho a desenvolver uma relação mais
saudável com o mundo digital, ensinando
os limites e perigos da exposição
excessiva, consequências que
determinados atos podem ter no futuro e
estimular comportamentos de socialização
no mundo real. Lembre-se que a forma
como esses ensinamentos serão feitos
podem alterar drasticamente os resultados
deles. As orientações abaixo podem te
ajudar a controlar melhor esse uso.
35
5.3. Uso de Telas: computador,
notebook, celular e televisão
Aplicando o estabelecimento de limites
ao uso excessivo de telas:
Converse com o seu filho e explique
o motivo pelo qual ele deve
diminuir o uso de telas. Aproveite
para explicá-lo sobre os benefícios
e malefícios do uso dessas
ferramentas, como vimos
anteriormente.
Proponha alternativas para esse
tempo sem as telas (Ex.: jogar
cartas, fazer leituras, caminhar,
praticar exercícios físicos ou
esportes, estudar, transformar
algumas obrigações em atividades
que possam fazer juntos, etc.).
Determine alguns horários em que
as telas nunca devem ser utilizada
pela família (Ex.: durante as
refeições, 1 hora antes de dormir).
Desenvolva o "tempo de tela
merecido", deixando-o ter acesso
às telas por um tempo estipulado,
depois de ter feito alguma
obrigação (Ex.: após ter feito a
tarefa da escola).
36
5.3. Uso de Telas: computador,
notebook, celular e televisão
Seja firme e paciente. Pode ser
difícil no começo, mas com o tempo
vocês conseguirão adequar a
rotina.
Aplicando o estabelecimento de limites
ao uso excessivo de telas:
Deixe claro desde o início qual será
a consequência caso a regra seja
quebrada (Veja mais sobre o tema
no tópico “Meu filho não me
obedece. O que eu faço?”, na
página 16).
Elogie, parabenize, dê atenção e
reconheça quando o combinado for
cumprido.
Observe e limite seu próprio tempo
de uso. Dessa forma, você estará
sendo modelo do comportamento
que deseja ver no seu filho.
37
5.3. Uso de Telas: computador,
notebook, celular e televisão
FIQUE ATENTO João tem 15 anos e passa 5 horas
por dia em frente às telas para lazer, sem
contar o tempo para as obrigações
escolares. Ao perceberam os malefícios do
exagero, além de utilizarem todas as
orientações descritas neste manual, seus
pais estabeleceram pequenas metas
diárias para redução do uso do seu
notebook e celular. Assim, o combinado é
que a partir de segunda-feira João irá
reduzir 10 minutos por dia, para que no
sábado já tenha reduzido 1 hora (60
minutos) do tempo total em frente às
telas. Caso ele cumpra o combinado, terá
uma recompensa no domingo.
Algumas áreas do cérebro dos
adolescentes não estão totalmente
desenvolvidas e é comum que eles
apresentem comportamentos de
curiosidade, impulsividade e se envolvam
em atividades desafiadoras. Nesse
sentido, o uso das telas e, principalmente,
da internet ativa os mecanismos de
recompensas do cérebro (Veja mais sobre
o tema no tópico “O que acontece com o
meu filho durante a adolescência?”, na
pág x). Como consequência dessa
constante e intensa estimulação, é
possível que o jovem tenha dificuldades
para se engajar em tarefas que são menos
estimulantes, como leituras e estudos, por
exemplo. 
A televisão, os jogos virtuais e as redes
sociais têm o potencial de provocar
dependência porque estimulam a
liberaçãode dopamina, hormônio que
causa uma sensação de prazer, euforia e
recompensa. Dessa forma, não é
recomendado que você proíba ou diminua
o tempo de telas do seu filho de forma
drástica; o ideal é que as telas sejam
diminuídas de forma gradativa. Uma boa
opção, por exemplo, é o estabelecimento
de pequenas metas (veja uma situação-
modelo a seguir). 
38
5.3. Uso de Telas: computador,
notebook, celular e televisão
5.4. Como me
comunicar 
de maneira
adequada com 
o meu filho? 
É por meio da comunicação (verbal ou não
verbal) que expressamos nossos desejos,
ordens, sentimentos e emoções. Além
disso, a comunicação é peça fundamental
para uma boa relação entre pais e filhos,
pois a relação se desgasta quando os
envolvidos não conseguem se expressar de
maneira adequada.
Precisamos nos atentar à coerência entre o
que comunicamos verbalmente e não
verbalmente. Por exemplo, quando você
for corrigir algum comportamento do seu
filho que te desagradou é importante que
a sua expressão facial não seja de riso ou
alegria, pois a mensagem que você vai
passar é que essa situação não tem a
importância devida. Do mesmo modo,
quando for elogiar o seu filho o seu rosto
não deve transparecer indiferença. Essas
situações podem fazer com que os filhos se
sintam enganados, por isso é muito
importante se comunicar de forma clara e
sincera.
Outro ponto que devemos nos atentar é
quanto ao uso de rótulos. É muito comum
reagir com agressividade ao ficarmos
incomodados ou chateados, e falar
palavras que podem machucar como:
“Você é preguiçoso!”, “Você é um filho
ruim!”, “Você é muito bobo”, “Você é
bagunceiro”. O uso de rótulos é perigoso
porque ao invés do seu filho mudar o
comportamento indesejado, ele pode
passar a se ver da forma como é rotulado. 
FIQUE ATENTO
Foque mais em como VOCÊ se sente em
relação à determinada situação do que em
como você pensa que SEU FILHO é. Isso vai
estimular o seu filho a aprender a nomear
os seus próprios sentimentos e fazer com
que ele se sinta mais confortável, pois é
esperado que ele siga o modelo dos pais.
5.4. Como me comunicar de maneira
adequada com o meu filho? 
Dessa forma, em uma situação que precisa
ser mais organizado ele pode pensar “sou
bagunceiro mesmo, não preciso organizar
nada”. Sendo assim, para evitar a
rotulação, foque no comportamento do seu
filho que te desagradou trocando o “você é
bagunceiro” por “não gosto quando você
deixa suas coisas jogadas no quarto”.
Também mostre para ele um
comportamento alternativo como “você
poderia guardar suas roupas no armário,
assim que trocá-las”.
Cuidados com a expressão 
facial e com o uso de rótulos
40
“Como expressar meus sentimentos negativos?” 
É importante que o feedback negativo não
seja uma forma de culpar o filho ou fazer
com que ele se sinta totalmente
responsável pelos seus sentimentos
negativos. Esse momento deve ter como
foco a mudança do comportamento e a
comunicação sincera e saudável entre o
cuidador e o adolescente. Veja mais sobre
o tema no tópico “Estabeleceu uma regra e
ele não cumpriu? Como falar com o
adolescente?” na página 31.
FIQUE ATENTO
Nas nossas relações sociais é muito
comum que aconteçam situações que nos
deixam tristes, frustrados ou com raiva, e
na relação com os filhos não é diferente.
Diante desses casos, é importante
sabermos como expressar os nossos
sentimentos e uma das formas de
fazermos isso é através do Feedback
Negativo.
O Feedback é uma descrição verbal sobre
o desempenho ou comportamento de uma
pessoa, sendo que essa descrição pode ser
escrita ou dita. Assim, a primeira coisa
que você deve fazer quando se sentir triste
ou com raiva é identificar qual
comportamento gerou esse sentimento.
Depois de identificar o comportamento
desagradável e o seu sentimento, descreva
para seu filho a situação e expresse os
sentimentos e pensamentos que o ocorrido
gerou em você. 
Depois disso, especifique o quê
exatamente você quer que ele mude no
comportamento, inserindo-o também
nesse processo, perguntando sua opinião e
tentando chegar a um acordo para que ele
se torne responsável pela mudança.
Exemplo: “Não gostei da forma como você
me respondeu no momento em que eu te
pedi um favor, achei muito ríspida e fiquei
chateada com isso. Da próxima vez tente
ser mais delicado. Você concorda comigo?
Acha que poderia agir de outro jeito?”. 
5.4. Como me comunicar de maneira
adequada com o meu filho? 
41
“Como expressar meus sentimentos positivos?” 
Talvez essa tarefa seja mais difícil ainda
do que expressar sentimentos negativos.
Muitos pais têm receio de fazer elogios ou
expressar afeto, pois é comum ouvirem
julgamentos como “assim você vai
estragar o seu filho” ou “ele será dengoso
e mimado”. Existem diversos modos de
expressar os sentimentos positivos, sendo
que uma delas é o Feedback Positivo.
Assim como no caso do Feedback
Negativo, o Feedback Positivo deve conter
uma descrição verbal do comportamento
ou desempenho que te agradou no seu
filho e também uma descrição das
consequências positivas desse
comportamento. Por exemplo, você pode
pontuar a forma como seu filho limpou o
banheiro da sua casa já que este ficou
cheiroso, ou até mesmo elogiar o tempo
que ele gastou tomando banho, pois
economizou água e energia.
Outra maneira de expressar sentimentos
positivos é através do Elogio. O elogio
pode ser pela aparência ou por algo que
seu filho fez. Esse comportamento ajuda a
aumentar a autoestima e o otimismo do
adolescente e faz com que ele se sinta
amado, querido e admirado. Ouvir um
elogio além de ser uma interação
agradável, ajuda a fortalecer os vínculos e
gera um ambiente de confiança e respeito.
O Agradecimento também é uma ótima
forma de expressar sentimentos positivos,
pois reforça comportamentos que te
agradam no adolescente. 
Além do mais, faz com que ele se sinta
observado e receba atenção pelo seu bom
comportamento. Lembre-se que é a partir
dos feedbacks positivos, elogios e
agradecimentos que o jovem consegue
perceber melhor suas próprias
potencialidades e qualidades,
fortalecendo sua autonomia e
“autorreforço”.
5.4. Como me comunicar de maneira
adequada com o meu filho? 
42
Evite o uso de frases como “vai chover!”,
“não fez mais que a sua obrigação” ou
“que milagre, até que enfim”. Frases como
essas focam mais no comportamento
desagradável e não podem ser
consideradas elogios. O adolescente pode
sentir que independente do que ele faça,
ele sempre será o “preguiçoso” ou
qualquer outro rótulo estabelecido para
ele.
Outro ponto importante que devemos
observar é se as expressões de carinho e
afeto só acontecem quando o filho tem um
bom comportamento. Claro que elas
podem ser usadas como uma estratégia
para reforçar comportamentos agradáveis,
mas não devem ser restritas somente a
esses momentos, pois podem gerar no
adolescente uma sensação de
dependência e medo de errar (Ex.: “se eu
não fizer tudo certo, não recebo amor e
carinho”). Uma solução para isso é
demonstrar afeto em situações “neutras”,
ou seja, em momentos que não
aconteceram comportamentos que
precisam ser reforçados ou punidos.
5.4. Como me comunicar de maneira
adequada com o meu filho? 
FIQUE ATENTO
43
EVITE:
A ameaça é muito comum em
momentos de nervosismo e
geralmente envolve situações irreais
como “vou te botar pra fora de casa”.
É muito provável que isso não vá
acontecer, gerando apenas
insegurança e medo no adolescente.
Não seria melhor expor as
consequências do comportamento
desagradável, mostrando pra ele o
porquê de você se sentir irritado?
Às vezes, quando ficamos
insatisfeitos com algo, queremos logo
achar um culpado e já vamos
brigando ou apontando o dedo para
o filho (que é o alvo mais fácil). Que
tal respirar fundo, contar até 10, e
depois perguntar com calma se ele
sabe o que pode ter acontecido?
O sarcasmo é uma forma de
evitarmos expressar como realmente
nos sentimos e dificulta a
comunicação. Busque se comunicar
de forma clara e direta, expondo seus
sentimentos e emoções reais.
Acusação
Ameaça
Sarcasmo/ironia
5.4. Como me comunicar de maneira
adequada com o meu filho? 
44
Émuito comum, principalmente na
adolescência, os pais sentirem dificuldade
em manter um diálogo com seus filhos.
Eles parecem sempre monossilábicos ou
desinteressados na interação, e como
falamos anteriormente, essa característica
é até esperada para a fase do
desenvolvimento em que estão. Isso não
significa que é impossível conversar com
eles, significa apenas que exigirá um
pouco mais do nosso esforço. 
"Meu filho é muito fechado.
Como manter um diálogo?"
Primeiro, é importante respeitar o espaço
do adolescente. Não force a conversa em
um momento em que ele não aparenta
estar disponível. Perceba um momento de
abertura e bom humor para começar a
interação. Você pode elogiar uma roupa,
perguntar sobre algum interesse dele ou
pedir opinião sobre algo, por exemplo.
Demonstre seu interesse mantendo o
contato visual com seu filho e se
mostrando atento ao que ele fala, afinal,
não é legal conversar com alguém que nem
olha pra você, não é?
1
Procure fazer perguntas mais abertas
como “o que você achou do filme?” ao
invés de “gostou do filme?”, pois é muito
provável que no último caso a resposta
seja apenas sim ou não.
2
3
No fim da interação, sempre demonstre
para seu filho sua satisfação com esse
momento, isso o motiva a fazer mais vezes
além de se sentir valorizado.
4
5.4. Como me comunicar de maneira
adequada com o meu filho? 
45
Outro modo de se comunicar com o
adolescente é ouvindo e expressando
opiniões (sejam elas iguais ou distintas).
Nesse sentido, esteja aberto a ouvir a
opinião do seu filho se atentando ao que
pensam diferente e ao que pensam de
forma semelhante, pensando nos
argumentos que sustentem suas crenças
mas também estando aberto a mudar de
opinião. 
É muito comum que haja choque de ideias
entre pais e filhos, pois várias mudanças
culturais ocorrem a cada geração. Nesse
cenário, o mais importante é respeitar a
liberdade de expressão de cada um. Se
você, enquanto cuidador, respeita as
ideias do seu filho, é provável que ele vá
seguir esse modelo e também respeitar
diferentes ideias. Além disso, é provável
que ele se sinta confortável para se
expressar e se abrir com você, pois
encontrará um ambiente seguro e
confortável, onde não será atacado por
seus pensamentos.
Entender as maneiras mais adequadas de
educar o adolescente não significa
necessariamente que você vai conseguir
sempre colocá-las em prática. Assim como
qualquer ser humano, você está sujeito a
cometer erros. Entretanto, é importante
ficar atento a esses momentos e aprender
a pedir desculpas. Quando você se
desculpa, descrevendo seu comportamento
desagradável e admitindo seu erro, além
de buscar formas de mudar esse
comportamento, você está sendo um
exemplo para o seu filho. 
No momento de se desculpar não fique se
justificando e culpabilizando-o (Por
exemplo: “desculpe por gritar com você,
mas você estava me estressando”).
Independente da atitude do outro, você é
responsável por como responde a ele.
Independente de estar estressado com seu
filho, o seu ato de gritar não foi
adequado, então utilize apenas o começo
da frase: “desculpe por gritar com você".
Tá tudo bem 
pedir desculpas!
"Temos opiniões 
muito diferentes"
5.4. Como me comunicar de maneira
adequada com o meu filho? 
46
6. Falando sobre...
6.1. Como falar
com o meu 
filho sobre
sexualidade?
É durante a adolescência que ocorre a
expressão da sexualidade, ou seja, quando
o adolescente passa a se sentir atraído
sexualmente por outras pessoas. Esse
processo se dá principalmente pela ação
no hipotálamo, estrutura do cérebro que é
responsável pela produção de hormônios
sexuais. Nessa fase do desenvolvimento,
esses hormônios são produzidos em
grande quantidade, principalmente em
contato com os “paqueras”, tornando o
cérebro mais sensível a pessoas
sexualmente atraentes ao adolescente.
Além disso, durante a puberdade ocorrem
grandes mudanças no corpo do
adolescente com o desenvolvimento dos
órgãos genitais, o que faz com que, nessa
fase, ele tenha oportunidade de se
descobrir tanto em relação a sua
sexualidade como também em relação ao
seu gênero. Assim, podemos dizer que a
descoberta do interesse sexual não é uma
escolha e não depende da vontade do
adolescente ou dos seus pais, mas é na
verdade sinal de um desenvolvimento
saudável e esperado do cérebro. 
Nesse sentido, a orientação sexual não se
forma na adolescência, na verdade, esse
processo ocorre já no útero, durante a
gestação, o que ocorre na adolescência é a
expressão da orientação sexual. Ou seja,
não se trata de uma “opção”, mas algo
que é determinado por diversos fatores:
biológicos, genéticos e hormonais.
6.1. Como falar com o meu
filho sobre sexualidade?
Heterossexualidade: em que a atração
ocorre por pessoas do gênero diferente
do seu, ou seja, há um relacionamento
entre um homem e uma mulher;
Homossexualidade: em que a atração
ocorre com pessoas do mesmo gênero
que seu, seja de homens se
relacionando com homens, ou mulheres
com mulheres; 
Bissexualidade: em que há atração por
ambos os gêneros; 
Assexualidade: em que a pessoa pode
se envolver afetivamente e
emocionalmente com outra pessoa,
seja em um relacionamento
heterossexual ou homossexual, mas
não há um interesse na prática sexual
em si.
Nesse processo de descoberta da própria
sexualidade, o adolescente se depara com
sensações e percepções novas sobre si e
sobre o outro, e é nesse período que ele
começa a entender quem é atraente para
ele. Isso é a orientação sexual, uma das
formas de identidade pessoal e social, que
diz respeito ao envolvimento emocional,
amoroso e/ou sexual dos indivíduos. Assim
a orientação sexual pode ser caracterizada
em várias dimensões:
O que é orientação sexual?
49
Cisgeneridade: em que a pessoa se
identifica com o sexo biológico que ela
nasceu, por exemplo, uma pessoa que
nasceu com o sexo biológico feminino e
se identifica como mulher; 
Transgeneridade: em que não há uma
identificação com o sexo biológico com
que a pessoa nasceu, por exemplo, a
mulher transgênero, que nasceu com
caraterísticas físicas do sexo biológico
masculino, mas socialmente se
identifica com a experiência de vida do
gênero feminino.
A identidade de gênero, por sua vez, diz
respeito a como a pessoa se relaciona com
os papéis de gênero, ou seja, como a
pessoa se relaciona com o feminino e o
masculino. Assim como a orientação
sexual, a identidade de gênero também
pode ser caracterizada em várias
dimensões, dentre elas: 
Dentro dessa dimensão da
transgeneridade, podemos falar também
da não- binaridade, em que a pessoa não
se identifica nem com o sexo feminino,
nem com o sexo masculino, ou seja, ela se
insere na sociedade e nas suas relações
independente do gênero. E o gênero fluido,
em que a pessoa se identifica com ambos
os gêneros, como homem e como mulher.
E a identidade de gênero? Todas essas dimensões fazem parte da
construção de identidade que acontece na
adolescência, e podem ser causa de
sofrimento para esse adolescente, seja por
se perceber como alguém que não será
aceito pela família e pela sociedade em
geral, ou por não se aceitar da maneira
como é, devido sua visão de mundo.
Assim, muitos jovens podem não
conseguir/querer assumir uma
determinada identidade por medo ou por
vergonha, entretanto é importante que a
família seja um ambiente de apoio e de
favorecimento da identidade do
adolescente, mas isso requer um esforço e
uma procura de mais entendimento e
informação.
6.1. Como falar com o meu
filho sobre sexualidade?
50
É preciso entender que esse momento pode
ser difícil para o adolescente, pois
acontecem mudanças radicais, que são
observadas no seu próprio corpo, gerando
angústias e dúvidas. É nesse sentido que
os pais devem estar presentes e adotar
uma postura de ajuda. Muitos pais
imaginam que falar sobre sexo com seus
filhos pode incentivá-los à prática. Mas é
preciso saber que, ao contrário, não ter
esse tipo de diálogo em casa, pode acabar
levando o adolescente a desenvolver
práticas sexuais que coloquem em risco
sua saúde física e mental, bem como estar
mais vulnerável a sofrer violênciasexual. 
Por vezes, falar sobre a sexualidade pode
ser desconfortável e um tabu dentro da
sua família, mas essa conversa, além de te
aproximar do seu filho, é muito importante
para informar esse adolescente sobre as
mudanças que ele está passando e sobre a
forma que ambos enxergam esse
momento. Assim, uma forma de iniciar
essa conversa pode ser expondo os seus
valores e o que você acredita em relação à
sexualidade e perguntar qual é a visão do
seu filho. Lembre-se de iniciar essa
conversa num momento em que você
perceba o adolescente confortável e de
bom humor (veja mais sobre o tema no
tópico “Como me comunicar de maneira
adequada com o meu filho?” na página
39).
Os direitos do adolescente sobre si e
sobre seu corpo, conversando sobre o
que seria considerado abuso sexual,
por exemplo, se mostrando aberto a
acolher esse jovem em uma possível
situação de vulnerabilidade;
O respeito pela outra pessoa,
reconhecendo seu espaço e aprendendo
a lidar com a rejeição, assim como
saber impor seus próprios limites; 
Informar sobre saúde sexual,
assegurando o acesso a fontes
confiáveis de informação e o acesso à
saúde de qualidade, com profissionais
especializados, conversando sobre
infecções sexualmente transmissíveis
(IST) a importância de métodos
contraceptivos, etc;
Responsabilidade e senso crítico.
Afinal, sexo é uma escolha que deve ser
tomada com consciência e maturidade,
levando em conta seus valores e
crenças;
Os cuidados com a exposição por meio
das redes sociais virtuais, em relação à
solicitações e envios de fotos íntimas.
É importante adotar uma postura mais
aberta, buscando realmente construir
junto a seu filho uma noção de prática
sexual que seja consciente e responsável.
Desse modo, você pode conversar com seu
filho sobre tópicos como:
“Como posso abordar esse assunto 
com o meu filho?”
6.1. Como falar com o meu
filho sobre sexualidade?
51
A importância desse diálogo aberto com
os seus filhos ultrapassa as questões
morais e religiosas, pois dizem respeito à
saúde e segurança desse adolescente,
afinal, o medo, o constrangimento e a
falta de conhecimento, seja por parte dos
pais, educadores ou profissionais de
saúde, estão diretamente relacionados aos
casos de gravidez na adolescência, à
incidência de infecções sexualmente
transmissíveis e à prática de
comportamentos sexuais de risco. Além
disso, muitos desses jovens não têm
acesso à informação, ou quando têm, vêm
de fontes não seguras, como a opinião de
amigos ou sites não confiáveis,
dificultando ainda mais a adoção de
práticas sexuais saudáveis.
A importância desse
diálogo aberto com os
seus filhos ultrapassa
as questões morais e
religiosas, pois dizem
respeito à saúde e
segurança desse
adolescente.
6.1. Como falar com o meu
filho sobre sexualidade?
52
Para além da desinformação sobre os
métodos contraceptivos, a gravidez na
adolescência está relacionada também a
questões de gênero. Isso quer dizer que,
geralmente, as meninas são incentivadas
a manter uma atitude passiva na vivência
da sexualidade, a partir de uma postura
de "inocência" e despreparo, enquanto os
meninos não são responsabilizados pelos
cuidados anticoncepcionais, sendo na
verdade socialmente estimulados ao não
uso de preservativos. 
Sabendo que essas questões contribuem
para casos de gravidez na adolescência e
contágio por ISTs, a postura que você deve
adotar para orientar seu filho deve partir
da informação, do estímulo ao uso de
preservativos e do incentivo à ida em
consultas com médicos especialistas
regularmente (ginecologista, no caso das
meninas e urologista, no caso dos
meninos). 
Com isso, pode não ter efeito tentar
proibir seu filho de manter relações,
considerando que nesta faixa etária ocorre
o processo oposto, ou seja, a iniciação e
descoberta do interesse sexual. Vale
ressaltar que é possível tornar esse
processo mais seguro, deixando claro a
responsabilidade que ele tem sobre si e as
consequências de não adotar um
comportamento contraceptivo, como
pílulas anticoncepcionais e preservativos. 
Gravidez na adolescência Caso sua filha já esteja grávida, existem
questões de saúde importantes que devem
ser levadas em conta, pois a gestação na
adolescência pode ser um fator de risco
tanto para a mãe quanto para o bebê.
Assim como o acompanhamento médico e
o pré-natal, é muito importante que a
adolescente tenha o apoio da família,
pois, além de vivenciar as dificuldades
relacionadas à adolescência, ela ainda
está vivendo dificuldades relacionadas à
maternidade e às mudanças sociais,
físicas e emocionais do período
gestacional.
Para além das questões de saúde, é
importante também conversar com seu
filho ou a sua filha sobre as possíveis
consequências de uma gravidez, como a
necessidade de sustentar financeiramente
uma criança e o impacto na escolarização
e na profissionalização (a curto e longo
prazo). Esses são pontos que o
adolescente pode ter dificuldade de
considerar, já que a impulsividade e a
dificuldade de avaliar consequências são
comportamentos característicos da
adolescência. Assim, o papel dos pais
deve ser o de “emprestar o cérebro” para
que seus filhos possam avaliar bem as
suas escolhas.
6.1. Como falar com o meu
filho sobre sexualidade?
53
6.2. Como falar
com o meu filho
sobre saúde
mental?
Conversar sobre saúde mental com os
filhos nunca foi tão urgente. Durante a
adolescência, os jovens passam por uma
série de conflitos que incluem a busca pela
autonomia, a pressão para tomar
decisões, as divergências com a família, a
exploração da identidade sexual,
alterações cerebrais, maior necessidade
de aprovação dos pares, alta
sensibilidade ao estresse e o amplo acesso
e uso das tecnologias. Esses desafios os
tornam ainda mais vulneráveis às
manifestações de adoecimento psíquico,
como a depressão, a ansiedade, os
transtornos de conduta e os transtornos
alimentares. Os riscos são ainda maiores
se esses fatores estiverem associados a um
contexto de violência e problemas
socioeconômicos. 
De acordo com a Organização Mundial da
Saúde (2018) e com a Organização Pan-
Americana da Saúde (2018), 1 a cada 5
adolescentes enfrenta dificuldades em
relação à saúde mental. Além disso, a
prevalência de transtornos mentais nesta
população é de 16,5% e o suicídio
encontra-se como 3ª principal causa de
morte nesta faixa etária. Com a pandemia
da Covid-19, essas estimativas se
tornaram um pouco mais altas, pois
aspectos essenciais para os jovens, como o
convívio com amigos, tiveram que ser
adaptados devido ao isolamento social.
Nesse sentido, a falta de privacidade, o
afastamento da antiga rotina, do lazer, da
sala de aula e dos grupos, em conjunto
com a preocupação acerca da saúde nesse 
contexto, deixaram os adolescentes cada
vez mais ansiosos, deprimidos, irritados
e/ou amedrontados. Muitas vezes, os pais
deixam de abordar esses assuntos por
receio, desconhecimento e até mesmo
tabu, mas é importante lembrar que uma
conversa faz muita diferença para a saúde
do seu filho. É necessário um esforço por
parte dos pais para que seja possível
prevenir, identificar, acolher, encaminhar
e tratar dos problemas relacionados à
saúde mental nos adolescentes. A família
pode ser o principal aliado no
enfrentamento dessas condições com
menor prejuízo e sofrimento.
6.2. Como falar com o meu
filho sobre saúde mental?
55
“Como saber se o meu filho está
precisando de ajuda?”
Por mais que alguns comportamentos
sejam característicos da adolescência,
é importante prestar atenção se o seu
filho está manifestando alguns sinais
com intensidade e frequência, como:
Isolamento ou desinteresse por
atividades sociais 
Perda de energia ou motivação
Alterações no sono (insônia ou
hipersonia)
Alterações no apetite e/ou nos
padrões alimentares
Baixo rendimento escolar (levando
em consideração a média dos
resultados que ele já apresentava)
Baixa autoestima 
Inquietação ou irritabilidade
Agressividade
Sentimento excessivo de culpa
Pensamentos negativos 
Choros constantes
Marcas de autolesão pelo corpo 
6.2. Como falar com o meu
filho sobre saúde mental?
56
Lembre-se que essessintomas isolados
não são necessariamente indicações de
que o adolescente está com ansiedade ou
depressão, por exemplo. Por isso, em
primeiro lugar, procure conversar com o
seu filho. Escolha um ambiente e um
momento adequado, para garantir que ele
se sinta à vontade e comece o diálogo
descrevendo as mudanças que você vem
percebendo no seu humor e no seu
comportamento. 
Pergunte se tem algo que ele gostaria de
contar e deixe claro que ele pode contar
com você: “Filho, nas últimas semanas eu
percebi que você tem ficado isolado no
quarto, tem recusado as ligações dos seus
amigos e está evitando até mesmo as suas
atividades preferidas. Tem algo que você
gostaria de me contar? O que aconteceu
para que você ficasse assim? Eu me
preocupo com você e estou disposto a te
escutar e te ajudar no que for preciso.”
Em conversas como essas, é extremamente
necessário que você escute o adolescente
sem julgamentos. Nenhum motivo é
“besta” ou “pequeno demais” quando
causa sofrimento. A maioria dos
adolescentes evita contar sobre os seus
problemas para os pais, com medo de
serem menosprezados ou julgados e, com
isso, escondem seus sentimentos
acreditando que eles não são válidos. 
“Meu filho está apresentando esses
sintomas. O que eu devo fazer?”
Assim, por ser um adulto mais maduro e
com experiência de vida, por mais que
você não concorde com o que seu filho está
sentindo, suspenda tais julgamentos e
acolha as suas queixas. Lembre que os
problemas e desafios do seu filho não são
os mesmos que os seus e que a realidade
de hoje é diferente daquela na qual você
viveu sua juventude. Se você estivesse
nervoso ou triste por alguma situação do
trabalho ou perda de uma pessoa querida,
ajudaria se alguém dissesse que o que
você está sentindo é “frescura”? 
Se esses sintomas percebidos forem
recorrentes, este é o alerta vermelho para
que você busque ajuda de profissionais
qualificados (como psiquiatra ou
psicólogo), que poderão te orientar sobre
o que está acontecendo com o seu filho e
qual será a melhor conduta nesse caso,
que pode envolver Psicoterapia,
tratamento medicamentoso e/ou
mudanças ambientais (como a prática de
exercícios físicos, por exemplo). Não
descarte a possibilidade de levá-lo
também a um especialista para investigar
os padrões alimentares, índices de
vitaminas e alterações hormonais.
Pesquisas demonstram que a entrada na
puberdade, a deficiência de vitaminas
e/ou uma má alimentação podem gerar
alterações no humor e no comportamento
durante essa fase do desenvolvimento. 
6.2. Como falar com o meu
filho sobre saúde mental?
57
Se o seu filho expressa que possui vontade
de morrer, é muito provável que ele esteja
em um nível de sofrimento psíquico muito
intenso. Ao contrário do que muita gente
pensa, as pessoas que cometem suicídio
sempre deixam sinais dessa vontade,
sejam verbais ou não. Existem diferentes
tipos de comportamento suicida. A
ideação suicida, acontece quando o
indivíduo tem pensamentos ou ideias
acerca do suicídio, tais como “a única
solução para esse sofrimento seria se eu
não estivesse aqui” ou “tudo poderia ser
resolvido se eu morresse”. O planejamento
suicida, por sua vez, ocorre quando ele
esquematiza os métodos ou a forma que
gostaria de morrer. Existe também a
tentativa de suicídio que é o ato com o
intuito de pôr fim à vida e o suicídio
consumado em que esse ato leva
realmente à morte.
Diversos fatores psicológicos, biológicos,
familiares, individuais e culturais
influenciam pensamentos ou
comportamentos suicidas. Não é apenas
um fator ou algo isolado. Alguns exemplos
podem ser: baixa autoestima, ansiedade,
depressão, conflitos familiares, rejeição
por parte de amigos, contato reduzido com
os pares, divórcio dos pais, cobrança
excessiva e/ou falta de suporte. Nesse
sentido, o papel da família é observar
todos esses aspectos e perceber de que
forma eles podem estar comprometendo a
saúde mental do adolescente.
Prevenção ao suicídio
Se o seu filho fala abertamente sobre o
assunto com você, isso é um bom sinal, já
que, mais de 75% dos pais não sabem
quando os filhos estão apresentando
ideações ou comportamentos suicidas.
Lembre-se que essas manifestações nunca
devem ser desvalorizadas, como se fossem
besteiras. Diante de uma situação como
essa, a melhor opção é sempre conversar e
demonstrar assistência ao adolescente. O
suporte social é um fator que reduz o risco
de suicídio, dessa forma, manifestar apoio
pode ajudá-lo a lidar com as suas
dificuldades. 
Tente entender o ponto de vista do seu
filho. Ao mesmo tempo em que coleta
informações, você deve ouvi-lo de forma
compreensiva. Por mais doloroso que seja,
não hesite em perguntar se é algo que ele
pensa com frequência e se já chegou a
planejar e/ou tentar o suicídio. Quanto
mais você souber, melhor poderá ajudar.
Lembre-se que entre os motivos do
sofrimento, o adolescente pode citar
alguma situação envolvendo você ou a
própria família. Nesse momento, é
importante evitar julgamentos ou fazer
com que ele se sinta culpado, pois isso
pode acabar fazendo com que o
adolescente não compartilhe mais o que
está acontecendo.
6.2. Como falar com o meu
filho sobre saúde mental?
58
Como dito anteriormente, busque ajuda profissional o
mais rápido possível. É de extrema importância que o
seu filho tenha acesso a um tratamento adequado. Caso
vocês não tenham condições financeiras para custeá-lo,
podem procurar os locais que oferecem atendimento
gratuito ou de baixo custo na sua cidade (como CAPS,
serviços de Psicologia vinculados à universidades, etc.).
Além disso, não esqueça de pedir para o seu filho te
ligar em casos de emergência e informe-o sobre o
serviço da CVV (Centro de Valorização da Vida), que
promove a prevenção do suicídio disponibilizando
atendimentos gratuitos a qualquer pessoa durante 24
horas por dia através do número telefônico 188. 
6.2. Como falar com o meu
filho sobre saúde mental?
59
Prática de esportes e/ou exercícios
físicos 
Contato com os pares (outros
adolescentes)
Planejamento da rotina e dos estudos 
Acesso à arte, cultura e atividades que
estimulem a criatividade
Alimentação e sono saudável
Ambiente familiar acolhedor 
Uso moderado de telas 
A saúde mental é influenciada por uma
série de fatores sociais, econômicos,
genético-biológicos e ambientais, e não
deve ser entendida apenas como ausência
de doenças e transtornos. Portanto, mesmo
que o seu filho não apresente sinais de
adoecimento psíquico, algumas
intervenções devem ser incentivadas para
manter a sua qualidade de vida, como: 
Todas essas condições favorecem o
desenvolvimento saudável durante a
adolescência, ou seja, são fatores
protetivos para a saúde nesse período.
Portanto, é interessante que dentro das
possibilidades, você busque incentivá-las.
Além disso, não deixe de conversar com o
seu filho sobre depressão, ansiedade e
suicídio somente porque ele não está em
sofrimento. O diálogo aberto sobre essas
questões fazem com que ele saiba que
será acolhido caso necessário.
“Meu filho não apresenta nenhum sinal 
de adoecimento psíquico”
6.2. Como falar com o meu
filho sobre saúde mental?
60
6.3. Como falar
com o meu filho
sobre escolha
profissional?
Como mencionado ao longo da cartilha, o
período da adolescência é marcado por
grandes mudanças no âmbito cognitivo,
emocional e social. Nessa fase se inicia um
processo de busca pela identidade, sendo
esperado que o jovem questione-se acerca
de seus valores, ideais, opiniões políticas e
qual profissão deve e quer seguir. É
comum que os pais e familiares cobrem do
adolescente uma decisão de escolha
profissional e, com isso, inicia-se um
longo percurso de preocupações e dúvidas
acerca de seus interesses, realidade do
mercado de trabalho e condições
socioeconômicas, aptidões, vontades e
necessidade de reconhecimento e
validação social. 
 
Os pais exercem uma enorme influência
nesse processo, pois funcionam como
modelos de comparação e referência.
Assim, muito da decisão do jovem acerca
da escolha profissional está baseada na
forma como os pais dialogam, validam ou
não suas vontades,

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