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DESCRIÇÃO Conceitos de proteção radiológica e radiobiologia. Apresentação da legislação sobre modalidade e aplicação do controle de qualidade de sistemas radiográficos. PROPÓSITO Promover o esclarecimento sobre radioproteção e radiobiologia, utilizando referências nacionais e internacionais que embasem as decisões dos profissionais na promoção de suas práticas, assegurando o mais alto índice de segurança aliado ao melhor diagnóstico. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar a radiobiologia e os mecanismos de interação da radiação com o material biológico MÓDULO 2 Descrever as diretrizes da RDC 330 e as aplicações de suas instruções normativas INTRODUÇÃO Por meio da descoberta dos raios X (1895) e da radioatividade (1896), foi possível observar sua incorporação na medicina. Com isso, foram desenvolvidos novos métodos que colaboraram ativamente no desempenho do diagnóstico e desenvolvimento de terapias induzidas pelo uso de radiação. Mesmo com a ampla vantagem obtida quando agregamos exposição à radiação na medicina, é muito comum observarmos receios e medos quando o assunto radiação está em pauta. Desse modo, este conteúdo tem como objetivo desmistificar e orientar para que todos possamos aprender que é possível extrair todas as vantagens oriundas da radiação, com o maior nível de segurança possível e para isso, nossa ferramenta é o desenvolvimento do conhecimento. Existe duas formas principais de radiação, sendo natural ou artificial. No caso da radiação natural, são utilizados elementos encontrados na natureza que apresentam instabilidade nuclear. Para que esses elementos se estabilizem, é necessário que haja emissão de energia ou parte do conteúdo nuclear. Essas emissões radioativas podem ter diferentes formas (alfa, beta e gama). No radiodiagnóstico, o tipo de radiação utilizada é a artificial, através de uma ampola e seus componentes elétricos, com a exposição ocorrendo somente durante o acionamento. MÓDULO 1 Identificar a radiobiologia e os mecanismos de interação da radiação com o material biológico PRIMEIRAS PALAVRAS Pode-se dizer que, desde a descoberta das radiações, foi possível perceber sua potencial capacidade de gerar alterações no meio celular. A nível atômico, sob a forma de ionização ou pela excitação de elétrons, ocorre uma deposição de energia no tecido, gerando modificações nas ligações químicas, quebra molecular e mutações moleculares do átomo dentro da molécula observáveis como danos resultantes. Esses danos serão mensuráveis devido a disfunções e morte celular. Com o mesmo potencial de ocasionar danos celulares e, por consequência, gerar efeitos deletérios no tecido humano, ela também pode proporcionar resultados benéficos graças à sua finalidade terapêutica. EXEMPLO Exposições de células cancerígenas em tratamentos radioterápicos. A radiobiologia é definida como a ciência que integra os diversos efeitos físicos das radiações ionizantes após a ocorrência da exposição de células e tecidos vivos. Seu objetivo é fomentar o conhecimento sobre as ações da interação e seus efeitos indesejados pelos tipos de radiação no organismo. Conheceremos, a seguir, os principais mecanismos da radiação, assim como seus estágios e tipos de interação. Em seguida, falaremos sobre o seu efeito em relação à dose recebida, apresentando ainda a Lei de Bergonie e Tribondeau, além de conceitos ligados à radiossensibilidade e à radiorresistência. Vamos ver os principais mecanismos da radiação. MECANISMOS DE REPARO CELULAR Probabilidades de eventos pós-exposição biológica do tecido humano. TIPOS DE INTERAÇÃO COM A MATÉRIA Para que alcancemos um melhor entendimento sobre a radiobiologia, devemos compreender que, ao expor um determinado corpo, os fótons de raios X vão interagir principalmente de duas formas distintas. No entanto, ambas realizam a mesma ação: transferir a energia para os átomos, produzindo, a depender da energia incidente, o efeito fotoelétrico ou o efeito Compton. Abordaremos os dois efeitos a seguir: EFEITO FOTOELÉTRICO É definido pela interação de um fóton de raios X com um elétron orbital ligado a um átomo do material absorvedor. Durante esse processo, ocorre uma transmissão total da energia do fóton para o tecido com o qual ele interagiu. Assim, a energia dos fótons incidentes é menor ou igual à de ligação do elétron no seu orbital. Seu índice de ocorrência aumenta com a diminuição da energia do fóton incidente. A partir dessa interação, o fóton some, pois transfere toda sua energia. Já o elétron é ejetado, alterando as características químicas do material. Ilustração do efeito fotoelétrico com o fóton incidente interagindo com elétron orbital. ESPALHAMENTO COMPTON É definido pela interação de um fóton de raios X com um elétron orbital ligado a um átomo do material absorvedor. Por meio dessa ação, o elétron é ejetado, enquanto o fóton é espalhado para uma nova direção. Após esse processo, a energia do fóton se tornará menor do que a existente antes da interação. Essa diferença de energia será exatamente o valor gasto para vencer a energia de ligação do elétron no seu orbital. A probabilidade de ocorrência do espalhamento Compton cresce diretamente com o aumento da energia do fóton incidente. Espalhamento Compton com o fóton incidente ejetando um elétron orbital, o que resulta em uma trajetória diferente do fóton espalhado. COM A MOLÉCULA DE DNA Quando um organismo vivo é exposto à radiação, os fótons interagem com os diversos átomos que integram a composição do corpo. Contudo, o evento que mais demanda sua atenção é a interação com a molécula de DNA. Essa interação, afinal, é responsável por apresentar todas as informações genéticas de um indivíduo. Exatamente por esse motivo, ela pode determinar o surgimento de danos celulares capazes de avançar para um efeito radiogênico deletério, caso eles não sejam corrigidos por um mecanismo de reparo celular. EXEMPLO Um exemplo de dano celular causado por radiação é o câncer. A interação entre a radiação e o DNA — e, por consequência, a quebra das ligações entre as bases — pode ocorrer de duas maneiras distintas direta e indiretamente: AÇÃO DIRETA Ocorre graças à interação direta dos fótons com a molécula de DNA, havendo uma transferência da energia da radiação. O choque entre o fóton e o átomo que integra a partícula de DNA promove uma ionização positiva momentânea na molécula. Por esse motivo, ele altera sua funcionalidade ou até ocasiona sua destruição. Ilustração da ação direta da radiação na molécula de DNA. AÇÃO INDIRETA Existe por conta da incidência de radicais livres formados principalmente no corpo humano pela quebra por radiação (radiólise) de moléculas de água. Durante o processo de radiólise, observa-se a formação de radicais livres (H e OH); altamente reativos, eles podem se ligar à molécula de DNA, promovendo, assim, sua ionização. Após interagirem quimicamente com o DNA, esses radicais podem “roubar” seus átomos e indiretamente ionizar a molécula. Ilustração da ação indireta da radiação na molécula de DNA. ESTÁGIOS DA INTERAÇÃO COM O TECIDO BIOLÓGICO Para que você tenha uma melhor compreensão da interação da radiação com o tecido biológico, esse processo será dividido em diferentes estágios na seguinte ordem cronológica: físico, químico e biológico. Além disso, haverá uma subdivisão em dois estágios intermediários: físico-químico e químico-biológico. FÍSICO FÍSICO-QUÍMICO QUÍMICO QUÍMICO-BIOLÓGICO BIOLÓGICO Absorção e deposição de energia que pode gerar ionização e excitação das moléculas. Primeira fase da interação, esse estágio ocorre em período muito curto (10-14 segundos). Ele é determinado por meio de quebras das ligações químicas das moléculas, inclusive da água, gerando radicais livres. Esse estágio intermediário ocorre entre 10-14 e 10-12 segundos. Nesse estágio, são formados compostos do tipo peróxido de hidrogênio (substância de alta toxidade para as células, iniciando a ocorrência de danos aoRNA e ao DNA). O estágio químico opera entre 10-12 e 10-7 segundos. Ocorre a formação de radicais secundários e peróxidos orgânicos. Com isso, o organismo começa a reagir, gerando reparo dos DNAs afetados. Essa ação acontece entre 10-3 e 10 segundos. Completa-se a maioria das reações. A multiplicação mitótica diminui nas células irradiadas: reações bioquímicas são bloqueadas quando existe um rompimento das membranas celulares. Esse último estágio ocorre de 10 segundos até 10 horas. EFEITO EM RELAÇÃO À DOSE RECEBIDA Ao imaginar que um indivíduo foi exposto a uma dose radioativa e que, decorrente dessa ação, efeitos serão observados, verifica-se que eles têm sua ocorrência definida segundo alguns parâmetros: a quantidade de dose, o tempo de manifestação do dano e o tipo de célula afetada. Esses efeitos, portanto, podem ser divididos da seguinte forma: Dose – determinístico ou estocástico; Tempo – imediato e tardio; Tipo de célula – hereditário e somático. Elencaremos adiante os seis tipos de efeito em relação à dose recebida: EFEITOS DETERMINÍSTICOS Efeitos da radiação para os quais geralmente existe um limiar de dose acima da qual a severidade do efeito será maior quanto mais elevada ela for. O nível da dose limite é característico do efeito na saúde em particular, mas ele também pode depender, de certa forma, do indivíduo exposto. A síndrome aguda da radiação (SAR) é o efeito determinístico mais notável na saúde. Ela consiste numa combinação de sintomas que ocorrem entre horas e semanas após a exposição aguda de corpo inteiro. A extensão e a gravidade dos sintomas da SAR são definidas por: Dose de radiação total recebida. Taxa de dose (valor de dose por tempo). Região do corpo mais exposta. Síndromes associadas: sistema cardiovascular, trato pulmonar, gônadas e a pele. Tipos de SAR Síndrome hematopoiética Síndrome gastrointestinal Síndrome cerebrovascular Dose para a ocorrência 1-5 Gy 6-10 Gy > 10 Gy Relação a doses letais < 20 Gy < 20 Gy > 100 Gy Quadro: Relação do limiar de doses em ordem crescente de radiossensibilidade para que haja efeitos visíveis em determinados sistemas do nosso corpo. Elaborado por: Wellington Guimarães Almeida. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal EFEITOS ESTOCÁSTICOS Eles consideram o somatório de todas as doses, mesmo as de magnitudes menores. Dessa forma, nenhuma dose com energia mínima para gerar um dano molecular é considerada isenta de possibilidade de efeitos. Para esse tipo de efeito, não existe um limiar de dose capaz de definir a ocorrência do efeito. Assim, sua manifestação está relacionada a efeitos tardios. ATENÇÃO Diferentemente do que ocorre com o efeito determinístico, em que a severidade do dano aumenta com a dose, o efeito estocástico não possui a relação dose x severidade; em vez disso, sua relação é: dose x probabilidade de ocorrência. EFEITOS IMEDIATOS Eles podem ocorrer após alguns minutos ou dias. Seu efeito mais representativo é: SAR de sistemas hematopoiético, gastrointestinal e cerebrovascular. Lesões teciduais em pele, extremidades e gônadas. Depressão hematológica. Dano citogenético. O EFEITO IMEDIATO (DERIVADO DO TEMPO DE OCORRÊNCIA) ESTÁ SEMPRE CORRELACIONADO AO DETERMINÍSTICO (DERIVADO DA DOSE RECEBIDA). EFEITOS TARDIOS Ocorrem após anos decorrentes da exposição, sendo definidos devido a seu longo tempo de latência entre o dano celular e a efetiva ocorrência manifestada. Seu efeito mais representativo é o câncer (do tipo sólido e líquido, como a leucemia). Caso atinja as gônadas, eles podem causar efeitos hereditários, com o potencial de atravessar diferentes gerações. O EFEITO TARDIO (DERIVADO DO TEMPO DE OCORRÊNCIA) ESTÁ SEMPRE CORRELACIONADO AO ESTOCÁSTICO (DERIVADO DA DOSE RECEBIDA). EFEITOS SOMÁTICOS São aqueles nos quais o próprio indivíduo envolvido com a exposição manifesta os danos biológicos provenientes da interação entre fótons de radiação e átomos do seu corpo. Sua ocorrência depende da: Dose absorvida. Taxa de absorção da energia da radiação. Região. Área do corpo irradiada. EFEITOS HEREDITÁRIOS São aqueles cujas futuras gerações do indivíduo envolvido sofrem o dano da exposição. O surgimento desses efeitos deletérios também são efeitos estocásticos. Sua ocorrência é definida pelo dano em células dos órgãos reprodutores. A INTERAÇÃO DA RADIAÇÃO COM DOSES ACIMA DO LIMIAR NAS GÔNADAS GERA UMA ESTERILIDADE QUE PODE SER TEMPORÁRIA OU PERMANENTE. DESSA FORMA, O INDIVÍDUO NÃO APRESENTARIA CONDIÇÕES FISIOLÓGICAS DE REPRODUÇÃO, E O DANO OBSERVADO SE MANIFESTARIA EM SI PRÓPRIO. LEI DE BERGONIE E TRIBONDEAU HISTÓRIA Em 1906, os cientistas franceses Jean Alban Bergonie e Louis Tribondeau postularam uma teoria que relacionava a sensibilidade celular com características relativas à especialidade, à maturação celular e ao estado metabólico do tecido irradiado. Essa ideia, após a devida comprovação científica, se tornou a lei da radiossensibilidade celular (Lei de Bergonie e Tribondeau). APLICAÇÃO Sua aplicação demonstra, de forma clara, a maior sensibilidade de alguns órgãos e sistemas do nosso corpo ou, até mesmo, o porquê o feto demonstra ser tão radiossensível quando comparado aos demais indivíduos. Eis algumas considerações da Lei de Bergonie e Tribondeau: As células-tronco (célula indiferenciada capaz de gerar células filhas com diferentes especialidades) são as mais radiossensíveis de um organismo vivo. Quanto maior for a especialidade celular, maior será sua radiorresistência. Células jovens são mais radiossensíveis, enquanto as maduras são mais radiorresistentes. Quanto maior a atividade metabólica celular (taxa de multiplicação celular), maior será a radiossensibilidade. RADIOSSENSIBILIDADE E RADIORRESISTÊNCIA A radiossensiblidade é definida como o nível de sensibilidade de células vivas, tecidos, órgãos ou organismos à ação nociva das radiações, ou seja, é uma observação qualitativa de resposta biológica quando eles recebem uma dose absorvida (energia depositada por unidade de massa em Gray). Quanto maior for essa resistência, mais radiorresistente uma região será considerada; caso ocorra o oposto, o tecido será radiossensível. Certos fatores interferem na radiossensibilidade celular. Apontaremos alguns deles adiante: TIPO DE EMISSÃO RADIOATIVA Na médica diagnóstica, toda aplicação se baseia atualmente — embora, nos seus primórdios, fontes radioativas já tenham sido utilizadas — nas exposições a raios X cuja transferência linear de energia por raios X tem o peso (WR) igual a 1 (ou seja, o menor entre todos os tipos de exposição). A RESPOSTA BIOLÓGICA É ELEVADA COM O AUMENTO DA TRANSFERÊNCIA LINEAR DE ENERGIA! Tipos de radiação e intervalos de energia WR (ICRP-60) WR (ICRP-103) Fótons de todas as energias 1 1 Elétrons e múons de todas as energias 1 1 Nêutrons com energias: < 10keV 10 - 100 keV >100keV a 2MeV >2MeV a 20MeV 5 10 20 10 Função contínua da energia do nêutron >20MeV 5 Prótons 5 2 (prótons e píons) Partículas alfa, elementos de fissão, núcleos pesados 20 20 Quadro: Tipo de emissão radioativa. Elaborado por: Wellington Guimarães Almeida. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal FRACIONAMENTO DE DOSE (PRINCÍPIO APLICADO EM TRATAMENTOS TERAPÊUTICOS DE RADIOTERAPIA) Com isso, é possível realizar um planejamento de altas doses de forma fracionada para que as células cancerígenas sejam afetadas, enquanto as normais possam se reestabelecer durante o intervalo entre as sessões do tratamento. Os danos biológicos, que também estão associados à radiossensibilidade do órgão, são apresentados de maneira tabelada em três diferentes publicações da ICRP: ICRP 26, elaborada em 1977; ICRP 60, de 1990; ICRP 103, de 2007. A tabela a seguir apresenta um comparativo entre as ICRPs 26, 60 e 103 para que você compreenda as diferentes ponderações de valores atribuídos aos tecidos. Quanto maiorfor o valor, maior será a radiossensibilidade do tecido. Tecido ou órgão Wt ICRP 26 ICRP 60 ICRP 103 Gônada 0,25 0,2 0,08 Cólon 0 0,12 0,12 Medula óssea (vermelha) 0,12 0,12 0,12 Pulmão 0,12 0,12 0,12 Estômago 0 0,12 0,12 Bexiga 0 0,05 0,04 Mama 0,15 0,05 0,12 Fígado 0 0,05 0,04 Esôfago 0 0,05 0,04 Tireoide 0,03 0,05 0,04 Pele 0 0,01 0,01 Superfície óssea 0,03 0,01 0,01 Cérebro 0 0 0,01 Glândula salivar 0 0 0,01 Restantes* 0,03 0,05 0,12 Quadro: As diferentes ponderações de valores atribuídos aos tecidos. Extraído de: INTERNATIONAL COMMISSION ON RADIOLOGICAL PROTECTION, 1977, 1991, 2007. *Intestino grosso superior, intestino delgado, rins, útero, pâncreas, vesícula, timo, adrenais e músculo. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Somente por intermédio dos conhecimentos científicos contidos na radiobiologia é possível compreender como se dá a interação dos fótons de radiação com o organismo vivo, podendo, dessa forma, prever ou estimar os possíveis riscos e a geração de efeitos deletérios oriundos de exposições à radiação. DICA Com o passar do tempo e a aquisição de mais conhecimentos, a radiobiologia será mais bem delineada, para que práticas cada vez mais seguras aos indivíduos expostos possam ser desenvolvidas. No vídeo a seguir, veremos o que é uma radiolesão e quais as suas fases de desenvolvimento pela ação direta e indireta. VERIFICANDO O APRENDIZADO MÓDULO 2 Descrever as diretrizes da RDC 330 e as aplicações de suas instruções normativas PRIMEIRAS PALAVRAS Após a descoberta da radiação (1895) e da radioatividade (1896), foi possível observar a sua iminente incorporação na Medicina e na Odontologia. Com isso, foram desenvolvidos novos métodos que colaboraram ativamente no desempenho do diagnóstico e no desenvolvimento de terapias induzidas pelo uso de radiação. Mesmo com a ampla vantagem, obtida graças à exposição à radiação na Medicina, é muito comum observar receios e medos quando o assunto “radiação” está em pauta. Desse modo, este conteúdo tem como objetivo desmistificar esses tabus e orientar você para que todos possamos aprender o seguinte postulado: é possível extrair todas as vantagens oriundas da radiação com o maior nível de segurança possível. Para isso, a ferramenta a ser aplicada é o desenvolvimento do conhecimento. Quando se aborda a aplicação da radiação ionizante na Medicina e na Odontologia, é inquestionável o quanto esses métodos contribuíram no desenvolvimento diagnóstico, gerando novas perspectivas por conta das informações mais precisas, o que auxilia os profissionais em suas tomadas de decisão. Contudo, é imprescindível salientar que, durante a aplicação da radiação ionizante, os profissionais devem ter em mente todos os conceitos necessários a fim de proporcionar uma prática que atenda completamente às expectativas. Além disso, eles devem cuidar para que isso ocorra de forma segura tanto para os pacientes quanto para os indivíduos que executam as atividades. Desde essa descoberta até os dias atuais, inúmeras foram as conclusões sobre as características dessas energias. Por meio de eventos danosos, também foi possível conceituar as diretrizes sobre o uso seguro da radiação. Desse modo, não é errado imaginar que a proteção radiológica experimentou um surgimento e um desenvolvimento gradativos, de acordo com o modo como a própria história se apresentou. Ao longo do processo de construção dos conceitos, que são a base da proteção radiológica, em inúmeras oportunidades, teorias foram confirmadas e outras, completamente rechaçadas. Com isso, concluímos que, apesar da extensa jornada percorrida desde a descoberta da radiação até os dias atuais, ainda estamos caminhando na construção do saber, para criar condições cada vez mais seguras de extrair todos os benefícios de uma exposição, minimizando os riscos para todos os indivíduos envolvidos. Imagem de uma ampola de raios X. FORMAS DE RADIAÇÃO Existem duas formas principais de radiação: natural ou artificial. No radiodiagnóstico, o tipo de radiação utilizada é a artificial. Seu uso se dá por meio de uma ampola e de seus componentes elétricos, com a exposição ocorrendo somente durante o acionamento. No caso da radiação natural, são utilizados elementos, encontrados na natureza, que apresentam uma instabilidade nuclear. Para que tais elementos busquem a estabilidade, é necessário haver uma emissão de energia ou de parte do conteúdo nuclear. Essas emissões radioativas podem ter diferentes formas (alfa, beta e gama). SAIBA MAIS Essa forma de exposição já foi aplicada no passado na radiologia odontológica, porém, há muito tempo, essas utilizações estão totalmente excluídas das rotinas. Diferentemente de exposições artificiais, as fontes radioativas emitem radiação sem que haja a necessidade de nenhum acionamento. Por isso, elas requerem maiores medidas de segurança. Como os raios X são ondas eletromagnéticas e tais ondas se propagam na velocidade da luz (3,0 x 108ms), logo após a exposição, não é necessário aguardar para que a radiação se dissipe, pois isso acontece em um curtíssimo intervalo de tempo. Os fótons de radiação vão interagir inúmeras vezes, perdendo energia até que haja sua total absorção. Ilustração de ondas eletromagnéticas. PROTEÇÃO RADIOLÓGICA DEFINIÇÃO Também conhecida como radioproteção, a proteção radiológica pode ser definida como o conjunto de medidas cujo objetivo visa a fornecer ao homem, a seus descendentes e ao ecossistema um padrão adequado de proteção, resguardando-os, assim, de possíveis efeitos indesejáveis causados pela interação entre as radiações e os organismos vivos, sem que isso represente uma inibição de atividades benéficas à sociedade ou ao indivíduo. SAIBA MAIS Os conceitos de radioproteção são constantemente criados, analisados, detalhados e reavaliados por meio de publicações da Comissão Internacional em Proteção Radiológica (ICRP, de International Commission on Radiological Protection). Foi necessário desenvolver grandezas radiológicas para: Entender o conceito físico da exposição do tecido biológico. Esclarecer a razão de se realizar uma avaliação quantitativa/qualitativa. Compreender as consequências e as sequelas à saúde, assim como os riscos associados. Para isso, outra importante organização foi responsável pela elaboração, pelo aperfeiçoamento e pela atualização de todas as grandezas e unidades radiológicas: a Comissão Internacional em Unidades de Radiação e Medições (ICRU, de International Commission on Radiation Units and Measurements). PARÂMETROS Para que o objetivo de radioproteção seja alcançado, de modo a extrair o benefício máximo com a menor dose absorvida possível ao paciente profissional e público, será necessário que, durante a execução de tais práticas, alguns parâmetros de proteção radiológica sejam aplicados em todas as etapas: Parâmetros de proteção radiológica. TEMPO A dose recebida por irradiação externa será diretamente proporcional ao tempo, ou seja, quanto maior for o tempo de irradiação, maior será a dose recebida. Para que haja a redução do tempo de exposição, o profissional deverá considerar a compatibilidade dessa redução com a proposta da prática executada. Relação tempo x dose. DISTÂNCIA A intensidade da radiação tem a característica de ser reduzida quanto maior for a distância (de maneira exponencial negativa) em relação à fonte emissora. Esse comportamento se justifica por: Divergência dos fótons. Atenuação dos fótons de menor energia pela camada de ar presente no seu trajeto. Tal comportamento ainda respeita a regra do inverso do quadrado da distância segundo esta equação: Em que: r1 é a distância inicial. r2 é a distância final. D1 é dose recebida com a fonte na distância r1. D2 é a dose recebida com a fonte na distância r2. Relação da distância e a interação dos fótons com o corpo. EPI Todo dispositivo ou produto de uso individual utilizado pelo trabalhador que édestinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho. BLINDAGEM CONCEITO A blindagem é definida como uma barreira física posicionada entre a fonte e o indivíduo que se deseja proteger. Seu objetivo é conter os fótons de radiação antes que eles interajam e causem danos biológicos nas moléculas de DNA. UTILIZAÇÃO A blindagem pode ser observada em: Projetos físicos dos setores de imagem. Equipamentos de proteção individual (EPI) e coletiva (EPC). Podem ser utilizados diferentes materiais. Contudo, os mais aplicados são a barita e a malha de chumbo nos projetos de blindagem. Já nos EPIs, tradicionalmente são usados o chumbo e (mais recentemente) uma combinação de bismuto, tungstênio e antimônio. Essa combinação é muito mais leve e confortável, embora possua a mesma equivalência de proteção que os confeccionados em chumbo. CONSIDERAÇÕES Estabeleceremos agora algumas considerações sobre dois tipos de projeto: BLINDAGEM EPIS Todo setor deve ser projetado e calculado para que as salas onde se realizam os procedimentos, a fim de que elas não ultrapassem os níveis de restrição de dose estabelecidos na RDC 330, sejam consideradas “áreas controladas” e possuam barreiras físicas com blindagem capazes de garantir que os níveis de dose sejam tão baixos quanto razoavelmente exequíveis. Durante os procedimentos de exposição à radiação, o profissional deve aplicar a blindagem adequada nos pacientes com 0,5mm de proteção equivalente ao chumbo. O objetivo é proteger regiões radiossensíveis que não incluem informações úteis ao diagnóstico. Teste de integridade dos EPIs realizado por análise radiográfica em um equipamento tomográfico. SAIBA MAIS Conservação dos EPIs Para a manutenção dos EPIs, é necessário que os estabelecimentos criem condições para que eles fiquem sempre esticados quando não estiverem sendo utilizados. Essa ação evita a ocorrência de danos à sua estrutura pela dobragem. As normas nacionais determinam que a integridade dos EPIs seja verificada anualmente. Modo correto de guardar os EPIs. PRINCÍPIOS De acordo com a Comissão Nacional de Energia Nuclear (2014), a utilização de radiação ionizante na Medicina e na Odontologia é regida pelas diretrizes de radioproteção. Além dos parâmetros, também são apresentados nesse documento os quatro princípios básicos de proteção radiológica: Justificação da prática Otimização da proteção radiológica Limitação da dose individual Prevenção de acidentes Por meio desses princípios, todas as ações fundamentais tomadas serão apoiadas e servirão de alicerce para o conjunto de condutas radioprotetivas cujo objetivo seja o de garantir a segurança das práticas. Descreveremos cada um desses princípios a seguir: JUSTIFICATIVA Este deve ser o primeiro princípio a ser considerado antes que ocorra uma exposição. Ele define que nenhuma prática ou fonte adscrita a uma prática pode ser executada a menos que a totalidade dos benefícios produzidos para a saúde do indivíduo ou para a sociedade supere o detrimento com o potencial de ser causado. Relação dos benefícios obtidos pela prática versus a probabilidade de danos que podem ser induzidos. Nas exposições oriundas do radiodiagnóstico, devem ser avaliados os benefícios e os riscos de modalidades alternativas com o mesmo objetivo clínico que utilizem diferentes processos físicos na formação da imagem ou menores exposições de radiações ionizantes. EXEMPLO A ressonância magnética e o ultrassom não utilizam radiação ionizante na formação de seus estudos. Já os métodos radiográficos, embora utilizem radiação ionizante, necessitam de uma quantidade consideravelmente menor em comparação a exames de tomografia computadorizada. O princípio da justificativa pode ser dividido em dois diferentes níveis: JUSTIFICAÇÃO GENÉRICA JUSTIFICAÇÃO INDIVIDUAL Ela define que, sempre que houver novas práticas que envolvam exposições médicas, esse método deverá ser previamente justificado antes que sua aplicação seja adotada para realização generalizada. Além disso, a justificação genérica estipula que é preciso haver revisões sistemáticas das práticas já adotadas de modo que sejam adquiridos novos dados significativos acerca de sua eficácia ou de suas consequências. Ela postula que, em todas as circunstâncias que envolvam exposição médica, deve haver uma justificativa individual após a devida consideração dos objetivos específicos da exposição e das características do indivíduo envolvido. ALGUNS PONTOS IMPORTANTES PRECISAM SER DESTACADOS Não é permitido haver exposições deliberadas em humanos com o objetivo de treinamento instrutivos, assim como para fins de pesquisa biomédica, salvo quando tal prática estiver de acordo com a Declaração de Helsinque. Não deve haver a execução de exames radiológicos para fins empregatícios ou periciais, salvo quando as informações geradas forem úteis à saúde do indivíduo examinado ou para melhorar o estado de saúde da população. Não se deve realizar exames radiográficos para o rastreamento em massa de grupos populacionais, salvo quando, por entendimento do Ministério da Saúde, as vantagens esperadas para os indivíduos examinados e a população compensem o custo econômico e social, incluindo o detrimento radiológico. Não se deve realizar imagens radiográficas do tórax de modo rotineiro com o objetivo de internação hospitalar, exceto quando houver uma justificativa no contexto clínico e levando em consideração os métodos alternativos. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal OTIMIZAÇÃO Ela estabelece que todos os projetos e as construções de equipamentos e instalações nos procedimentos de trabalho devem ser planejados, implantados e executados de tal forma que a magnitude das doses individuais, o número de pessoas expostas e a probabilidade de exposições acidentais sejam tão baixos quanto razoavelmente exequíveis. Para isso, devem ser considerados fatores sociais e econômicos, além das restrições de dose aplicáveis. SAIBA MAIS Conceito aplicado no princípio da otimização, Alara (de as low as reasonably achievable) significa “tão baixo quanto razoavelmente exequível”. Seu entendimento busca minimizar as doses em pacientes e profissionais por meio da aplicação de todos os mecanismos disponíveis. LIMITE DE DOSE Consiste em valores de dose (efetiva ou equivalente) que consideram a totalidade das exposições decorrentes de todas as práticas controladas que não podem ser excedidas para indivíduos ocupacionalmente expostos (IOES) e integrantes do público. Contudo, vale ressaltar que sua aplicação não deve ser considerada como uma fronteira entre "seguro" e "perigoso". O princípio de limitação de dose não se aplica para o paciente: basta que a exposição dele seja devidamente justificada e otimizada. SAIBA MAIS No caso dos pacientes, existe o conceito de dose referência. Para procedimentos odontológicos, o valor definido é de 3,5mGy de dose de entrada na pele (DEP). Limites de dose anuais[a] Grandeza Órgão Indivíduo ocupacionalmente exposto Indivíduo do público Dose efetiva Corpo inteiro 20 mSv[b] 1 mSv[c] Dose equivalente Cristalino 20 mSv[b] (alterado pela resolução CNEN 114/2011) 15 mSv Pele[d] 500 mSv 50 mSv Mãos e pés 500 mSv --- [a] Para fins de controle administrativo efetuado pela CNEN, o termo dose anual deve ser considerado como dose no ano calendário, isto é, no período decorrente de janeiro a dezembro de cada ano. [b] Média aritmética em 5 anos consecutivos, desde que não exceda 50mSv em qualquer ano. (Alterado pela Resolução CNEN 114/2011) [c] Em circunstâncias especiais, a CNEN poderá autorizar um valor de dose efetiva de até 5mSv em um ano, desde que a dose efetiva média em um período de 5 anos consecutivos não exceda a 1mSv por ano. [d] Valor médio em 1cm2 de área na região mais irradiada. Os valores de dose efetiva se aplicam à soma das doses efetivas causadas por exposições externas, com as doses efetivascomprometidas (integradas em 50 anos para adultos e até a idade de 70 anos para crianças) causadas por incorporações ocorridas no mesmo ano. Quadro: Limite de dose. Extraída de Comissão Nacional de Energia Nuclear, 2014. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal PREVENÇÃO DE ACIDENTE Deve ser considerado o desenvolvimento de meios, além da implementação de ações nos projetos e na operação de equipamentos e de instalações, para que se minimize o erro humano capaz de fomentar a probabilidade de exposições acidentais. EVOLUÇÃO NORMATIVA APRESENTAÇÃO Quando observamos a evolução tecnológica sofrida nas últimas décadas pelos serviços de radiodiagnóstico e odontológico, fica notório o acréscimo de novas modalidades, assim como mudanças no fluxo de serviço trazidas como o resultado do avanço da informatização de dados. Por esses motivos, fica fácil entender a necessidade da substituição da Portaria nº 453, de 1998, pela RDC 330 (2019). Com a constante implementação da telerradiologia, novas relações de trabalho vão sendo constituídas, diversificando cada vez mais a atuação do serviço de radiologia. EXEMPLO Serviços itinerantes com caminhão de atendimento, centrais de laudo remoto, comando remoto de equipamentos e retirada de laudos e imagens online. Por outro lado, antigas práticas vão se tornando obsoletas e são substituídas por novas modalidades que contribuem para melhores resultados diagnósticos ou que apresentam maior segurança para o profissional e o cliente. A RDC 330 e suas respectivas instruções normativas (INs) foram desenvolvidas para atender a todas essas necessidades, contextualizando os princípios já estabelecidos para a elevação da cultura de proteção radiológica e da qualidade diagnóstica. SAIBA MAIS Após a publicação da RDC 330, em 26 de dezembro de 2019, estabeleceu-se o prazo de 12 meses para que as unidades de saúde se adaptassem às novas regras. Além disso, a Portaria nº 453 (diretriz de proteção radiológica em radiodiagnóstico médico e odontológico) foi automaticamente revogada. PORTARIA Nº 453 Uma portaria é definida como um documento de ato jurídico que, oriundo da presidência da República, contém ordens de acordo com leis ou regulamentos. A Portaria nº 453, criada em 1º de junho de 1998, é definida como um regulamento técnico que define as diretrizes básicas de proteção radiológica em radiodiagnóstico médico e odontológico, sobretudo a respeito da aplicação dos raios X diagnósticos em todo território nacional, além de estabelecer outras providências. Na portaria, está presente um conjunto de normas cujo objetivo é o de promover a radioproteção durante realizações diagnósticas médicas e odontológicas, por meio da aplicação dos parâmetros (tempo, blindagem e distância) e dos princípios básicos (justificativa, otimização, limite de dose e prevenção de acidentes) que devem ser adotados durante todas as etapas das práticas que envolvem a utilização de radiação ionizante. Desde sua descoberta e aplicação na área médica, o diagnóstico por imagem já era uma realidade nas condutas médicas nacionais. Contudo, não existia nenhuma orientação normativa para esse tipo de aplicação. 1987 Somente no ano de 1987 o Decreto nº 93.933 foi criado pelo Conselho Nacional de Saúde para que pudesse ser desenvolvida a Resolução nº 6, em 21 de dezembro de 1988. Essa resolução tinha como principal objetivo a radioproteção. Ela visava à defesa da saúde dos pacientes, dos indivíduos profissionalmente expostos e do público em geral, cumprindo, com isso, o disposto no artigo 9º do Decreto nº 81.384, de 22 de fevereiro de 1978. 1998 No ano de 1998, a Secretaria de Vigilância Sanitária, no uso de suas atribuições legais, tendo em vista as disposições constitucionais e a Lei nº 8.080, de 19 de outubro de 1990, que transcorrem a respeito das condições para a promoção e a recuperação da saúde como direito fundamental do ser humano, criou a Portaria nº 453 como diretriz básica de radioproteção em diagnóstico por imagem e odontologia. Esse documento foi aplicado em todo território nacional por mais de 20 anos até sua revogação pela RDC 330. RESOLUÇÃO RDC 330 SURGIMENTO Após um longo período de aplicação da Portaria nº 453, como principal documento instrutivo de proteção radiológica para o radiodiagnóstico e o setor odontológico (de junho de 1998 até dezembro de 2019), era necessário haver a elaboração de uma nova norma mais abrangente com foco na gestão de: Radiodiagnóstico; Tecnologias, qualidade, processos de trabalho e gerenciamento de risco. Por isso, em 20 de dezembro de 2019, a resolução RDC 330 foi publicada. Ela apresentava novas perspectivas a respeito de aplicações em veterinária, intensificando as ações em radiologia intervencionista e determinando um controle da qualidade específico para a ressonância magnética e a ultrassonografia. Além disso, essa resolução previa aplicações em telerradiologia e radiologia itinerante. RESPONSÁVEIS PELA ELABORAÇÃO Três entidades foram cruciais para a criação da RDC 330: MINISTÉRIO DA SAÚDE Trata-se do órgão do Poder Executivo Federal responsável por organizar e elaborar planos e políticas públicas voltados para a promoção, a prevenção e a assistência à saúde dos brasileiros. Seu foco é dispor de condições que visam à proteção e à recuperação da saúde da população, reduzindo as enfermidades e controlando as doenças endêmicas e parasitárias, além de melhorar a vigilância à saúde e, dessa forma, contribuir com a melhoria da qualidade de vida ao brasileiro. Conforme aponta a Biblioteca virtual em saúde do Ministério da Saúde (2020), sua missão é promover “a saúde da população mediante a integração e a construção de parcerias com os órgãos federais, as unidades da Federação, os municípios, a iniciativa privada e a sociedade, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida e para o exercício da cidadania”. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA Criada pela Lei nº 9.782, de 26 de janeiro de 1999, essa agência reguladora é baseada em uma autarquia de regime especial vinculada ao Ministério da Saúde. Sua função é exercer o controle sanitário de todos os produtos e serviços a elas submetidos: Medicamentos; Alimentos; Cosméticos; Saneantes; Derivados do tabaco; Produtos médicos; Sangue; Hemoderivados; Serviços de saúde. DIRETORIA COLEGIADA A diretoria colegiada integra a estrutura organizacional da Anvisa, sendo a responsável por dirigir a agência. Sua composição deve contar com: Um procurador. Um corregedor. Um ouvidor. Unidades especializadas incumbidas de diferentes funções. PRINCIPAIS MUDANÇAS NA ABORDAGEM Listaremos adiante as principais mudanças na abordagem da RDC 330: Reportar referências de limiares em outras normas em vez de citá-las no corpo da resolução. As recomendações são apresentadas de maneira fragmentada por cada modalidade por intermédio de INs. Criar um nível de restrição para a operação dos equipamentos. Recomendações de controle da qualidade específico para modalidades que antes não eram abordadas, como, por exemplo, RM e USG. Pontuar aplicações em veterinária e intensificar as ações em intervencionista. Prever aplicações em telerradiologia e radiologia itinerante. Norma mais abrangente e com foco geral na gestão do radiodiagnóstico. Fazer a gestão de tecnologias, da qualidade, de processos de trabalho e de risco. ATENÇÃO O que não muda com a alteração da legislação em radiodiagnóstico é a necessidade de todos os IOEs realizarem anualmente um curso de reciclagem em proteção radiológica exigido no Programa de Educação Permanente. Com isso, todas as suas práticas rotineiras terão o mais elevado conceito de radioproteção seja promovido. INSTRUÇÕES NORMATIVAS ADITIVAS As INs consistem em atos administrativos definidos como ordens disciplinares descritas por autoridades, como, por exemplo, o chefe de Estado, os ministros de Estado e seus subordinados. Esses atos devem ser adotados nofuncionamento do poder público recém- formado ou reformulados com o objetivo de disciplinar a execução de determinada atividade. Graças às INs, é possível detalhar de forma mais precisa um conteúdo de determinada lei que consta no ordenamento jurídico pátrio. Não cabe a ela criar direitos ou obrigações; contudo, sua existência possibilita a explicação, de maneira mais clara, de determinado assunto previsto em legislação específica. No caso das INs que acompanham a RDC 330, seu foco reside na realização de testes importantes para o desenvolvimento de um programa de controle da qualidade das diversas modalidades que integram o radiodiagnóstico, inclusive daquelas nunca abordadas antes, como, por exemplo, a ultrassonografia e a ressonância magnética. Indicaremos a seguir as INs de acordo com suas diferentes modalidades: Radiologia convencional Fluoroscopia e radiologia intervencionista Mamografia Tomografia computadorizada Radiologia odontológica extraoral Radiologia odontológica intraoral Ultrassonografia IN nº 59 – Ressonância magnética As duas INs destacadas possuem um foco direcionado nos procedimentos de diagnóstico odontológico (intra e extraoral) e são aplicadas conforme os mais diferentes objetivos. EXEMPLO Aplicações exploratórias com a finalidade de diagnóstico, acompanhamento e documentação do complexo buco-maxilo-facial e das estruturas anexas. A respeito dos dois grupos de estudos radiográficos na Odontologia, sua diferença básica é relativa ao posicionamento do receptor de imagem em relação à cavidade oral do paciente. Enquanto na extraoral o filme radiográfico ou o sensor é posicionado fora da cavidade oral do paciente, na intraoral as imagens são obtidas por meio de filmes radiográficos ou sensores posicionados internamente à cavidade oral do paciente. O mais interessante é que essas duas modalidades da radiologia odontológica apresentam diversas técnicas. Podemos inferir que, apesar de serem duas INs, elas são aplicadas às várias submodalidades de radiodiagnóstico em Odontologia. Veremos adiante exemplos de dois tipos de estudo radiográfico: Imagem de radiografia extraoral panorâmica. EXTRAORAL Panorâmica odontológica; Radiografias do crânio: Perfil (cefalométrica), oblíqua 45º, (PA) frontonaso e mentonaso, localizada para articulações temporomandibulares; Radiografias de mandíbula: (PA) perfil e oblíquas (direita e esquerda); e Radiografias da face: Axial submentovértice. Imagem de radiografia intraoral (técnica do paralelismo). INTRAORAL Periapical: Técnicas da bissetriz e paralelismo. Interproximal (bitwing). Oculsal (total e parcial). É extremamente importante que todos os profissionais que atuam com radiações ionizantes conheçam as diretrizes normativas a respeito de suas práticas. Somente assim será possível reconhecer seus direitos e deveres e saber qual conduta deve ser adotada durante suas atividades laborais. Com isso, é possível extrair todos os benefícios provenientes do uso da radiação ionizante e minimizar ao máximo os riscos ao próprio indivíduo, ao paciente, ao público e ao meio ambiente. No vídeo a seguir, veremos mais sobre grandezas radiológicas. VERIFICANDO O APRENDIZADO CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao pensarmos no diagnóstico em radiologia de forma mais abrangente, vimos que é necessário compreender a atuação de cada componente e acessório do equipamento, assim como suas vantagens e sua participação na formação da imagem. Ainda salientamos que outro ponto importante consiste em avaliar como a evolução tecnológica na formação da imagem influencia de maneira direta na qualidade no procedimento. Como um reforço dos conceitos de segurança, observamos também que é primordial o entendimento dos parâmetros e dos princípios de proteção radiológica. Desse modo, as práticas que utilizam exposições à radiação podem ser realizadas da maneira mais segura. Além disso, destacamos que, com o conhecimento científico de radiobiologia, é possível extrair todo o potencial dessa vantagem, minimizando, com isso, os possíveis detrimentos radiogênicos. Por último, ressaltamos a importância da implementação de um controle da qualidade para que haja um eficiente diagnóstico mesmo em meio a tantas dificuldades encontradas, além daquelas relativas às características das patologias investigadas. PODCAST Agora, o especialista Wellington Guimarães Almeida fará um resumo sobre o conteúdo abordado. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS BIASOLI JR., A. Técnicas radiográficas. Rio de Janeiro: Rubio, 2006. BONTRANGER, K. L. Tratado de técnica radiológica e base anatômica. 5. ed. Rio de Janeiro, 2001. BRASIL. 25/7 — aniversário de criação do Ministério da Saúde. In: Biblioteca virtual em saúde. Publicado em: 24 jul. 2020. Consultado na internet em: 14 maio 2021. BRASIL. Instrução Normativa nº 56, de 20 de dezembro de 2019. BRASIL. Instrução Normativa nº 57, de 20 de dezembro de 2019. BRASIL. Portaria SVS/MS n° 453, de 1 de junho de 1998. BRASIL. Resolução nº 6, de 21 de dezembro de 1988. BRASIL. Resolução - RDC nº 330, de 20 de dezembro de 2019. BUSHONG, S. C. Ciência radiológica para tecnólogos. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. COMISSÃO NACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR. Norma CNEN NN 3.0 - Resolução 164/14: diretrizes básicas de proteção radiológica. Publicado em: mar. 2014. Consultado na internet em: 14 maio 2021. INTERNATIONAL COMMISSION ON RADIOLOGICAL PROTECTION. 1990 Recommendations of the International Commission on Radiological Protection. In: Annals of the ICRP. v. 21. n. 1-3. 1. ed. 1991. INTERNATIONAL COMMISSION ON RADIOLOGICAL PROTECTION. Recommendations of the International Commission on Radiological Protection. In: ICRP Publication 26. Publicado em: 17 jan. 1977. Consultado na internet em: 14 maio 2021. INTERNATIONAL COMMISSION ON RADIOLOGICAL PROTECTION. The 2007 recommendations of the International Commission on Radiological Protection. In: Annals of the ICRP. v. 37. n. 2-4. 2007. TAUHATA, L.; DE PAULA, M. V. Q. Manual de radioproteção radiodiagnóstico intrabucal. Juiz de Fora: UFJF, 2005. EXPLORE+ Consulte os seguintes documentos: BRASIL. Instrução Normativa nº 56, de 20 de dezembro de 2019. BRASIL. Instrução Normativa nº 57, de 20 de dezembro de 2019. BRASIL. Resolução - RDC nº 330, de 20 de dezembro de 2019. CONTEUDISTA Wellington Guimarães Almeida CURRÍCULO LATTES
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