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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM Franciane Schneider Enfermagem de prática avançada em oncologia: proposta de formação profissional Florianópolis 2021 Franciane Schneider Enfermagem de prática avançada em oncologia: proposta de formação profissional Tese submetida ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito parcial para obtenção do Título de Doutora em Enfermagem. Área de Concentração: Educação e trabalho em saúde e enfermagem. Orientadora: Profa. Silvana Silveira Kempfer, Dra. Florianópolis 2021 Franciane Schneider Enfermagem de prática avançada em oncologia: proposta de formação profissional O presente trabalho em nível de doutorado foi avaliado e aprovado por banca examinadora composta pelos seguintes membros: Profa. Vânia Marli Schubert Backes, Dra. Universidade Federal de Santa Catarina Profa. Cibele Andrucioli de Mattos Pimenta, Dra. Universidade de São Paulo Profa. Alacoque Lorenzini Erdmann, Dra. Universidade Federal de Santa Catarina Certificamos que esta é a versão original e final do trabalho de conclusão que foi julgado adequado para obtenção do título de Doutora em Enfermagem. ____________________________ Profa. Mara Ambrosina de Oliveira Vargas, Dra. Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem ____________________________ Profa. Silvana Silveira Kempfer, Dra. Orientadora Florianópolis, 2021. Dedico esta pesquisa à minha família, aos amigos e a todos que acompanharam esta caminhada, torcendo e vibrando com cada conquista. Educação não transforma o mundo. Educação transforma pessoas. Pessoas transformam o mundo. (Paulo Freire) AGRADECIMENTOS Ao encerrar este ciclo na minha trajetória acadêmica e pessoal, gostaria de agradecer: A Deus, pela vida, pela saúde e pela oportunidade de finalizar esta etapa, pela constante presença em minha vida e pelo conforto nos momentos de adversidades. Aos meus pais, Orlando e Ademilde, pelo amor, apoio e compreensão, e por sempre me incentivarem nas minhas escolhas e estarem na torcida. Aos meus irmãos, Fabíola, Fabrício e Fernando, e cunhada, Cintia, pelo suporte, paciência e auxílio em alguns momentos em que precisei. Aos meus sobrinhos, Bianca e Bruno, pelo amor e aprendizados, e por me tirarem algumas vezes da rotina de estudos e produtividade, me fazendo lembrar da importância destes momentos. A toda a minha família, pelo carinho e interesse, por acreditar nos meus objetivos e entender a minha ausência em diversos momentos. Aos meus amigos pessoais, por tornarem os momentos difíceis mais leves e as conquistas mais felizes, pelas reflexões e companheirismo. À minha orientadora, Drª. Silvana, pelas trocas de conhecimentos, direcionamentos, pelas horas dispensadas comigo, por acreditar e confiar em mim, na minha pesquisa, por me incentivar e torcer até o último momento. À professora Drª. Vânia, por me acolher no início desta jornada, pelo apoio, pelos ensinamentos e suas palavras, e por confiar no desenvolvimento desta pesquisa. Ao Grupo de Pesquisa EDEN e seus membros, que me acolheram desde o início desta trajetória, e que me auxiliaram no desenvolvimento deste processo doutoral; e em especial, a Saionara, Marina, Paula, Murielk, Helen, Maria Eduarda e André, pelos momentos de conversas, reflexões e trocas (com cafés). As minhas colegas de turma, Maria Helena e Graciela, por todas as conversas, trocas de experiências e conhecimento, pela solidariedade, pela convivência, que se estenderam para além da sala de aula. Ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), por me proporcionar esta oportunidade e crescimento acadêmico; pela oportunidade de usufruir de uma bolsa por um determinado período de minha formação, possibilidade de desenvolver estágio de docência, cursar disciplinas com professores que são referência nacional e internacional, pelos eventos e parcerias. À agência de fomento CAPES pelo apoio e incentivo financeiro no formato de bolsa, e pelo auxílio em publicações, que contribuíram para minha formação acadêmico-profissional e para a divulgação da ciência. Aos meus colegas de trabalho, pelo apoio, incentivo, compreensão e pela colaboração constante nos momentos em que deles eu precisei. Aos membros especialistas que participaram da pesquisa, pelo tempo dispendido, por colaborar e acreditar na ciência, especialmente na enfermagem oncológica. Aos membros da banca, Alacoque Lorenzini Erdmann, Ana Leonor Alves Ribeiro, Cibele Andrucioli de Mattos Pimenta, Maria Lígia Dos Reis Bellaguarda e Vânia Marli Schubert Backes, por aceitarem com carinho o convite e contribuírem para o aprimoramento da pesquisa. Por fim, ao Universo, por cada pessoa que encontro na minha caminhada, pelas oportunidades que tive e pelas escolhas assertivas e transformadores. Pelos ensinamentos da vida, pela constante evolução e pelo amor ao aprendizado. RESUMO O enfermeiro de prática avançada é aquele que adquiriu o alicerce de conhecimentos especializados, habilidades complexas de tomada de decisão e competências clínicas para uma prática ampliada, cujas características são adaptadas conforme o cenário de cada país e de acordo com os diversos campos de prática existentes. Tem-se como objetivos compreender como se constitui a formação do enfermeiro de prática avançada em oncologia para o melhor cuidado; buscar evidências da formação de enfermeiros de prática avançada mediante a atuação clínica e os cuidados de enfermagem com pacientes oncológicos; mapear e validar as competências centrais do enfermeiro de prática avançada em oncologia; e, propor um modelo de formação profissional de enfermagem de prática avançada em oncologia no Brasil. Trata-se de uma pesquisa exploratório-descritiva, de natureza mista, a qual foi utilizada diversificadas fontes, técnicas de coleta e análise de dados a fim de interconectar os dados e responder aos objetivos propostos, sendo elas: revisão sistemática, coleta em documentos e técnica Delphi. O desenvolvimento da pesquisa ocorreu entre julho de 2018 e julho de 2021. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina sob o parecer número 3.445.887. A revisão sistemática apontou melhora no controle de dor ou outros sintomas relacionados a doença e/ou tratamento, satisfação e melhora na qualidade de vida dos pacientes com câncer assistidos por um enfermeiro de prática avançada. A coleta documental foi realizada a partir da coleta e análise de dados em documentos específicos disponíveis para consulta pública relacionados a instituições educacionais ou de saúde, conselhos, sociedades, associações e/ou organizações de enfermagem de prática avançada e a área de enfermagem oncológica. Estes dados documentais foram a base para o desenvolvimento das etapas seguintes da pesquisa. Na técnica Delphi, foram validadas 125 competências centrais do enfermeiro clínico especialista em oncologia. Mediante estes dados, buscou-se elaborar uma proposta de formação profissional de enfermagem de prática avançada em oncologia para o contexto brasileiro nos moldes de pós-graduação stricto sensu, considerando as normativas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Observa-seque há estudos que demonstram o valor da enfermagem de prática avançada no cenário da oncologia mediante uma formação clínica diferenciada e atuação profissional avançada. A formação em prática avançada propõe o desenvolvimento de competências centrais para a atuação em pacientes com câncer e sua família em todo o continuum de atendimento em conjunto com a equipe interdisciplinar de saúde. A proposta de formação profissional em enfermagem de prática avançada em oncologia poderá ser utilizada por instituições de ensino, associações, organizações e instituições de saúde como um alicerce, com o intuito de uniformizar e instrumentalizar o modelo de formação do enfermeiro clínico especialista em oncologia. Palavras-chave: Enfermagem oncológica. Prática avançada de enfermagem. Competência profissional. Educação em enfermagem. Competência clínica. Educação de pós-graduação em enfermagem. ABSTRACT The advanced practice nurse is known for having acquired specialized knowledge, complex decision-making skills and clinical competencies for an expanded practice, whose characteristics are adapted according to the scenario of each country and the various existing fields of practice. We aim to understand how the training of advanced practice nurses in oncology is constituted; search for evidence of the training of advanced practice nurses through clinical performance and nursing care of patients with cancer; to characterize and validate the core competencies of advanced practice nurses in oncology; and, propose a model of professional training in advanced nursing practice in oncology in Brazil. This exploratory- descriptive research of mixed nature used different sources, data collection, and analysis techniques to interconnect the data and respond to the proposed objectives, namely: systematic review, collection in documents, and Delphi technique. The research took place between July 2018 and July 2021. The research was approved by the Ethics Committee for Research with Human Beings at the Federal University of Santa Catarina under number 3,445,887. The systematic review showed improvement in the pain control or other symptoms related to the disease and/or treatment, satisfaction and increased quality of life of patients with cancer assisted by an advanced practice nurse. Document collection was carried out from the collection and analysis of data in specific documents available for public consultation related to educational or health institutions, councils, societies, associations and/or advanced practice nursing organizations and the area of oncology nursing. These documentary data were the basis for the development of the next stages of the research. In the Delphi technique, 125 core competencies of clinical nurses specializing in oncology were validated. Based on these data, an attempt was made to develop a proposal for professional training in advanced nursing practice in oncology for the Brazilian context in the stricto sensu graduation characteristics, considering the norms of the Coordination for the Improvement of Higher Education. It is observed that there are studies that demonstrate the value of advanced practice nursing in the oncology scenario through differentiated clinical training and advanced professional performance. Advanced practice training proposes developing core competencies for working with patients with cancer and their families across the continuum of care in conjunction with the interdisciplinary health team. The proposal for professional training in advanced nursing practice in oncology can be used by educational institutions, associations, organizations, and health institutions as a foundation to standardize and implement the training model for clinical nurses specializing in oncology. Keywords: Oncology nursing. Advanced nursing practice. Professional competence. Nursing education. Clinical competence. Graduate nursing education. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Número estimado de casos novos no mundo entre 2020 e 2040 de todos os tipos de cânceres em ambos os sexos, idade [0-85 +]..............................................................................43 Figura 2 – Distribuição proporcional dos dez tipos de câncer mais incidentes estimados no Brasil para 2020, ambos os sexos, de todos os tipos de cânceres (exceto pele não melanoma).................................................................................................................................43 Figura 3 – Domínios e competências centrais do enfermeiro clínico especialista em oncologia (ECEO)......................................................................................................................................56 Figura 4 – Rodadas da técnica Delphi desenvolvidas na pesquisa..............................................60 Manuscrito 1 Figura 1 – Fluxograma de seleção dos artigos da revisão sistemática........................................70 Figura 2 – Avaliação individual do risco de viés dos Ensaios Clínicos Controlados Randomizados de acordo com a RoB 1 (n=10)..........................................................................77 Figura 3 – Avaliação individual do risco de viés dos estudos quasi-experimentais de acordo com a ROBINS-I (n=02)............................................................................................................78 Manuscrito 2 Figura 1 – Domínios e competências centrais do enfermeiro clínico especialista em oncologia (ECEO)......................................................................................................................................90 Figura 2 – Rodadas da técnica Delphi desenvolvidas na pesquisa..............................................94 Manuscrito 3 Figura 1 – Domínios e competências centrais do enfermeiro clínico especialista em oncologia (ECEO) – Consenso Delphi.....................................................................................................122 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – O enfermeiro de prática avançada no contexto mundial..........................................28 Manuscrito 1 Quadro 1 – Resumo das características dos estudos incluídos...................................................71 Manuscrito 3 Quadro 1 – Características dos enfermeiros de prática avançada: CNS e NP...........................117 Quadro 2 – Características de cursos de EPA em oncologia existentes nos EUA.....................119 Quadro 3 – Quantitativo de programas e cursos de pós-graduação stricto sensu em enfermagem no Brasil..................................................................................................................................121 Quadro 4 – Proposta de matriz curricular do curso de mestrado profissional de EPA em oncologia.................................................................................................................................123 Quadro 5 – Proposta de matriz curricular do curso de doutorado profissional de EPA em oncologia.................................................................................................................................124 LISTA DE TABELAS Manuscrito 2 Tabela 1 – Caracterização sociodemográfica dos membros especialistas..................................95 Tabela 2 – Competências centrais do enfermeiro clínico especialista em oncologia (ECEO) validadas a partir do desenvolvimento da técnica Delphi...........................................................98 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AACN – American Association of Colleges of Nursing ABEn – Associação Brasileira de Enfermagem APN – Advanced Practice Nursing APRN – Advanced Practice Registered Nurse APS – Atenção Primária à Saúde CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CIE –Conselho Internacional de Enfermeiros CNA – Canadian Nurses Association CNE – Conselho Nacional de Educação CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNS – Clinical Nurse Specialists COFEn – Conselho Federal de Enfermagem COREn – Conselho Regional de Enfermagem CUS – Cobertura Universal de Saúde DNP – Doctor of Nursing Practice DNSc – Doctor of Nursing Science ECEO – Enfermeiro clínico especialista em oncologia EDEN – Grupo Laboratório de Pesquisa e Tecnologia em Enfermagem e Saúde EDEnf – Ensino e Desenvolvimento em Enfermagem EPA – Enfermagem de prática avançada EPAO – Enfermagem de Prática Avançada em Oncologia EUA – Estados Unidos da América GRAACC – Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer ICN – International Council of Nurses IES – Instituições de Ensino Superior INCA – Instituto Nacional do Câncer IOP – Instituto de Oncologia Pediátrica LILACS – Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde MEC – Ministério da Educação NACNS – Associação Nacional de Especialistas em Enfermagem Clínica NP – Nurse Practitioner OMS – Organização Mundial da Saúde ONS – Oncology Nursing Society OPAS – Organização Pan-Americana da Saúde PRISMA – Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses PROSPERO – International Prospective Register of Systematic Reviews SGTES – Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde SOBOPE – Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica SUS – Sistema Único de Saúde TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 21 1.1 OBJETIVOS ................................................................................................................... 26 1.1.1 Objetivo geral ................................................................................................................ 26 1.1.2 Objetivos específicos ..................................................................................................... 26 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................... 27 2.1 CONTEXTO HISTÓRICO DA ENFERMAGEM DE PRÁTICA AVANÇADA NO MUNDO ................................................................................................................................... 27 2.2 DEBATES SOBRE A ENFERMAGEM DE PRÁTICA AVANÇADA PELOS SISTEMAS DE SAÚDE, ENSINO, CONSELHOS E ASSOCIAÇÕES ................................ 36 2.3 ENFERMEIRO DE PRÁTICA AVANÇADA EM ONCOLOGIA .................................. 42 3 MÉTODO ...................................................................................................................... 48 3.1 PERCURSO DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS ................................................... 49 3.1.1 Revisão sistemática ........................................................................................................ 49 3.1.1.1 Coleta de dados ............................................................................................................. 50 3.1.1.2 Estratégia de busca ....................................................................................................... 50 3.1.1.3 Seleção de estudos ........................................................................................................ 51 3.1.1.4 Processo de coleta de dados.......................................................................................... 51 3.1.1.5 Risco de viés de estudos individuais ............................................................................ 52 3.1.2 Coleta em documentos .................................................................................................. 53 3.1.2.1 Processo de coleta e análise de dados ........................................................................... 53 3.1.3 Técnica Delphi ............................................................................................................... 54 3.1.3.1 Desenvolvimento da técnica Delphi ............................................................................. 55 3.2 ASPECTOS ÉTICOS ......................................................................................................... 59 4 RESULTADOS .............................................................................................................. 62 4.1 MANUSCRITO 1: FORMAÇÃO DE ENFERMEIROS DE PRÁTICA AVANÇADA EM ONCOLOGIA PARA O MELHOR CUIDADO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA...............62 4.2 MANUSCRITO 2: COMPETÊNCIAS PARA A FORMAÇÃO DO ENFERMEIRO DE PRÁTICA AVANÇADA EM ONCOLOGIA...........................................................................86 4.3 MANUSCRITO 3: ENFERMEIRO DE PRÁTICA AVANÇADA EM ONCOLOGIA NO BRASIL: PROPOSTA DE UM PROGRAMA PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL . 113 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 133 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 136 APÊNDICES ......................................................................................................................... 144 APÊNDICE A – Instrumento documental ......................................................................... 145 APÊNDICE B – Instrumento Primeira Rodada Técnica Delphi: EXPERTS ................. 146 APÊNDICE C – Material de Apoio .................................................................................... 165 APÊNDICE D – Instrumento Segunda Rodada Técnica Delphi: EXPERTS ................. 171 APÊNDICE E – Instrumento Terceira Rodada Técnica Delphi: EXPERTS ................. 184 APÊNDICE F – Carta de Apresentação e Convite ao Membro Especialista ................. 188 Técnica Delphi (Primeira Rodada) ..................................................................................... 188 ANEXOS ............................................................................................................................... 190 ANEXO A – Registro da Revisão Sistemática ................................................................... 191 ANEXO B – Aprovação da Pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos ................................................................................................................................ 194 MOTIVAÇÕES PARA O ESTUDO Em 2008 iniciei minha trajetória profissional na área de oncologia. Desde então, minhas formações, capacitações e vivências são focadas nesta especialidade, a qual me permitiu atuar e experienciar nas quatro dimensões da enfermagem enquanto enfermeira assistencial, docente, pesquisadora e gestora. No período entre 2009 e 2011 realizei uma especialização em Enfermagem Oncológica na modalidade de Residência Multiprofissional no Hospital Erasto Gaertner (HEG), referência em oncologia na região de Curitiba/PR. A intensa experiência enquanto residente de enfermagem me permitiu conhecer, atuar e me desenvolver em diversificadas áreas relacionadas à oncologia, como por exemplo: quimioterapia, radioterapia, braquiterapia, oncopediatria, cuidados paliativos e controle da dor, transplante de células-tronco hematopoiéticas, terapia intensiva, clínica médica, serviços cirúrgicos (cabeça e pescoço, abdominal/gastroenterologia, ginecologia e mama, pele, tórax, urologia e neurologia) e pesquisa clínica. Logo após, ingressei no mestrado acadêmico em Enfermagem na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Como integrante do Grupo de Pesquisa de Tecnologia e Inovação em Saúde (TIS) realizei um ensaio clínico randomizado duplo cego para a prevenção e tratamento de radiodermatite de pacientes com câncer de cabeça e pescoço, o qual possibilitou resultados de pesquisadiretamente relacionado à prática baseada em evidências. Iniciei o doutorado em 2017, no Grupo Laboratório de Pesquisa e Tecnologia em Enfermagem e Saúde (EDEN), pertencente à área de concentração Educação e Trabalho em Saúde e Enfermagem. Nesse momento, o primeiro desafio foi conciliar um tema de pesquisa da minha área de conhecimento e interesse (oncologia) com a linha de pesquisa Formação e Desenvolvimento Profissional na Saúde e na Enfermagem. Neste mesmo ano, participei de uma capacitação na cidade de São Paulo (SP), onde ouvi o termo “enfermagem de prática avançada (EPA)” pela primeira vez. Esta terminologia me despertou curiosidade e alguns questionamentos iniciais: O que é um enfermeiro de prática avançada? Qual a sua formação profissional e/ou titulação? Seu papel ou atuação profissional é diferenciada dos demais enfermeiros? Estes profissionais possuem maior autonomia profissional? Promovem um cuidado diferenciado? E foi neste momento que surgiu o interesse pelo tema da pesquisa para o doutorado. Realizei inicialmente uma breve investigação sobre a EPA e identifiquei conceitos internacionais, questões educacionais e de formação profissional nos países de origem, desenvolvimento de práticas clínicas e locais de atuação, papel, escopo, regulamentação e proteção do título, assim como a atual situação de implantação no Brasil. Observei que para ser um enfermeiro de prática avançada os países que já a desenvolvem possuem alguns requisitos mínimos de formação, competências centrais, tempo de experiência na especialidade de escolha e registro profissional, para fins de uma atuação clínica de qualidade e com autonomia profissional. Ao pensar na minha prática clínica e formação profissional, fiz a seguinte reflexão: no Brasil, com relação à atuação clínica do enfermeiro, o que possui somente o bacharelado têm em sua grande maioria as mesmas funções e atribuições clínicas regulamentadas em comparação com o enfermeiro pós-graduado em nível latu sensu ou stricto sensu. Ou seja, mesmo sendo um profissional com maior formação, titulação e qualificação, não possui autonomia para uma prática clínica diferenciada e expandida, devido ao modelo atual de assistência à saúde. Sabe-se que o cuidado realizado por este profissional será diferenciado por meio de conhecimentos específicos, competências, expertises, baseado em evidências e pesquisas, tomadas de decisões clínicas, entre outros. Entretanto, não há questões regulamentadas ou normativas para uma atuação distinta e reconhecimento profissional. Sendo assim, é notório que grandes mudanças são necessárias para o início da implantação da EPA no cenário brasileiro, incluindo na especialidade da oncologia. Com o desígnio de contribuir com uma das linhas de pesquisa do Grupo EDEN, com a profissão de enfermagem, com a área de oncologia, com o conceito de EPA e com a implantação dela no Brasil, surgiu o desejo de pesquisar sobre uma das características que considero primordial: a formação profissional do enfermeiro de prática avançada em oncologia, para garantir uma prática clínica segura e de qualidade e uma implantação bem sucedida em nosso país. 21 1 INTRODUÇÃO Há no mundo um interesse crescente em empregar práticas capazes de inovar e melhorar sistemas de saúde para lidar com os problemas decorrentes das necessidades das populações, principalmente com o aumento das condições crônicas. Parte desses problemas relaciona-se à força de trabalho em saúde, como por exemplo a carência de profissionais e formação compatível para a realização de cuidados de saúde com qualidade (MIRANDA NETO et al., 2018). Na contemporaneidade, uma das inovações em pauta e com amplas discussões na saúde é a enfermagem de prática avançada (EPA). A EPA originou-se no Canadá e Estados Unidos da América (EUA) há mais de 40 anos e gradualmente foi sendo implantada em outros países, como o Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia, Irlanda, Alemanha, entre outros (CNA, 2002; ICN, 2014). Há uma percepção crescente de que o papel do enfermeiro de prática avançada tem o potencial de contribuir significativamente nas resolutividades de alguns dos problemas emergentes de saúde. Desta forma, nota-se que o enfermeiro de prática avançada está sendo reconhecido em um número crescente de países ao redor do mundo devido às suas contribuições com os serviços de saúde e com os pacientes que atuam (CNA, 2002). Pesquisas apontam que estes profissionais oferecem serviços de saúde de qualidade em uma variedade de configurações e especialidades, assim como melhoraram o acesso da população aos serviços de saúde (ICN, 2020). Atualmente, mais de 70 países estão interessados em implantar a EPA, incluindo o Brasil. Ainda, existem diferentes estágios de desenvolvimento do papel do enfermeiro de prática avançada em todo o mundo. As funções e escopos de prática deste profissional estão mais estabelecidos em países de alta renda, mas há necessidade documentada e crescente de introduzir a prática avançada em países de baixa e média renda (BRYANT-LUKOSIUS; MARTIN-MISENER, 2016). A Canadian Nurses Association (CNA, 2008) define o enfermeiro de prática avançada como um profissional com nível avançado de prática clínica, sendo necessária a preparação educacional no nível de pós-graduação, conhecimento aprofundado de enfermagem e expertise para o atendimento das necessidades de saúde de indivíduos, famílias, grupos, comunidades e populações. A prática envolve analisar e sintetizar conhecimentos; compreender, interpretar e aplicar teorias e pesquisas de enfermagem; e desenvolver o conhecimento em enfermagem, assim como contribuir com os avanços da profissão como um todo (CNA, 2008). O enfermeiro 22 de prática avançada é aquele que adquiriu o alicerce de conhecimentos especializados, habilidades complexas de tomada de decisão e competências clínicas para uma prática ampliada, cujas características são adaptadas conforme o cenário de cada país e de acordo com os diversos campos de prática existentes (ICN, 2020). A EPA, além de contribuir para uma melhor qualidade da assistência, diminui os custos de saúde, havendo ainda evidências de altos índices de satisfação da população em relação ao cuidado prestado. A implantação de papéis da prática avançada em enfermagem também é identificada como uma importante estratégia de recursos humanos para melhorar o recrutamento e retenção de profissionais na área e para proporcionar oportunidades de avanços na carreira. Destaca-se que o que torna os papéis avançados e os meios pelos quais a reforma e a inovação da assistência à saúde possam ser alcançadas é a integração da prática clínica com responsabilidades ligadas a educação, liderança organizacional, desenvolvimento profissional, prática baseada em evidências e pesquisas (BRYANT-LUKOSIUS; MARTIN-MISENER, 2016). A implantação de forma bem-sucedida do papel do enfermeiro de prática avançada é facilitada por uma abordagem voltada para os objetivos e os resultados, começando com uma avaliação das necessidades da população e do paciente e o engajamento precoce dos principais interessados. É importante discutir o atual modelo de assistência médica, definir e priorizar as mudanças necessárias e identificar o papel do enfermeiro de prática avançada necessário para atingir as metas levantadas, e como essa função colaborará com outros membros da equipe de saúde. Para que haja sucesso, é de extrema relevância o alinhamento de suas funções com as metas de melhoria da qualidade da assistência. Destaca-se ainda a necessidade de desenvolvimento de programas de educação de alta qualidade com requisitos padronizados, legislação e regulamentação que suportam o escopo das expectativas da prática avançada. A clareza sobre o papel do enfermeiro de prática avançada é um facilitador chave durante as fases de desenvolvimento e implantação dessaprática e está interligada com relações da equipe multiprofissional e interdisciplinar (BRYANT-LUKOSIUS; MARTIN-MISENER, 2016). Observa-se que ainda não há uma definição universal das características comuns dos enfermeiros de prática avançada, porém, há um consenso crescente na comunidade de enfermagem. Pesquisas internacionais sugerem, entre um dos principais itens, a preparação educacional em nível avançado, ou seja, o mestrado é recomendado como formação inicial da prática avançada (CNA, 2002; ICN, 2020). Em alguns países, o enfermeiro de prática avançada 23 teve uma formação educacional superior ao nível de mestrado, para que assim, fosse possível a expansão do escopo de sua prática (ZUG et al., 2016). Em 2015, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), em conjunto com o governo canadense e a Universidade de McMaster (School of Nursing), promoveram discussões com líderes de enfermagem da América Latina e Caribe na conferência sobre “Enfermagem de Prática Avançada e o Acesso Universal à Saúde e Cobertura Universal de Saúde”. Neste momento, estratégias foram estabelecidas com o intuito de apresentar e integrar o papel do enfermeiro de prática avançada nos países latinos e caribenhos, a fim de cumprir a Resolução CD 52.R13 da OPAS/OMS, que dispõe sobre os “Recursos Humanos em Saúde: Melhorar o Acesso a Profissionais de Saúde Capacitados nos Sistemas de Saúde Baseados na Atenção Primária à Saúde”. Desde a realização desta conferência, um plano de ação foi estabelecido para reunir dados e planejar a implantação da EPA, assim como foram adotadas novas medidas em relação à colaboração entre os países e o intercâmbio de informações (CASSIANI; ROSALES, 2016; OLDENBURGER et al., 2017). Países como o Brasil, o México, a Colômbia e o Chile iniciaram suas próprias discussões para explorar a viabilidade de introduzir o papel do enfermeiro de prática avançada em seu sistema nacional de saúde (WHO, 2015; PAHO, 2016). Devido à crescente necessidade de saúde da população e desafios de acesso aos recursos humanos, a OPAS e o Conselho Federal de Enfermagem (COFEn) firmaram uma parceria para a implantação da EPA na Atenção Primária à Saúde (APS) no Brasil, tendo como objetivo aumentar o escopo de prática do enfermeiro, desenvolvendo e aprofundando o trabalho interprofissional. Em 2016, foi pactuada a implantação da EPA entre as entidades COFEn, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn) e Ministério da Saúde. Nesta reunião, o presidente do COFEn afirmou que “As práticas avançadas já são uma realidade no Brasil”, ressaltando a importância de aperfeiçoar a formação e estabelecer marcos normativos que garantam a segurança dos profissionais e pacientes (COFEN, 2016a). No que concerne à preparação educacional, na América Latina, considerando a necessidade de estabelecer critérios para a formação de enfermeiros de prática avançada, a OPAS/OMS recomendaram os seguintes modelos: 1) realização de mestrado profissional em programas oferecidos por universidades reconhecidas; 2) experiência profissional e formação clínica adicional oferecidas por universidades reconhecidas; 3) realização do curso de 24 residência uniprofissional ou multiprofissional na área de atuação pretendida em instituições acreditadas e, ao término de dois anos, obtenção do título de mestre e de enfermeiro de prática avançada (OPAS, 2018a). Para o Brasil, é preconizado uma formação preferencial relacionada ao mestrado profissional com residência multiprofissional vinculada, para um perfil profissional de alta resolutividade (COFEN, 2015; SCOCHI et al., 2015). Entretanto, ainda é discutido entre as lideranças de enfermagem e instituições envolvidas se estes programas atendem a todos os requisitos necessários para a titulação de enfermeiro de prática avançada. A formação do enfermeiro de prática avançada envolve, além da sua preparação educacional em um nível avançado, reconhecimento formal de programas educacionais, oferta de cursos com objetivos e conteúdos voltados para a prática avançada e o credenciamento por órgãos competentes. Sendo assim, estratégias devem ser adotadas pelas instituições formadoras, tais como: ampla abordagem de conteúdo em áreas críticas; enfermagem avançada em ciência social e comportamental centrada na população; modelos teóricos de enfermagem; equipe interdisciplinar; liderança; pensamento sistêmico; bioestatística; epidemiologia; saúde ambiental; política de saúde e gestão; informática em saúde; genômica; comunicação em saúde; competência cultural; saúde global; política; e, direito e ética em saúde pública. Salienta-se que a formação deste profissional deve contemplar o conhecimento baseado em evidência, assim como, habilidades e competências para constituir e liderar equipes interdisciplinares, viabilizando soluções criativas, eficazes e de baixo custo à população (OPAS, 2013). Na EPA é imprescindível garantir a formação de recursos humanos altamente qualificados e a construção do conhecimento por meio de um processo de trabalho democrático, comprometido com valores éticos, humanistas e igualitários, em um ambiente organizacional solidário e construtivo, com base em parcerias e colaborações internas e externas. Estes requisitos são fundamentais para alcançar as metas do milênio para a educação em saúde. Embora muitos países estejam comprometidos com a formação do enfermeiro de prática avançada, faz-se necessário ampliar as estratégias de formação com competências em áreas específicas (ZANETTI, 2015). A maioria das discussões sobre o processo de implantação da EPA em países de médio e baixo desenvolvimento, entre eles o Brasil, estão relacionadas à APS (BEZERRIL et. al., 2018; OPAS, 2018a). Entretanto, destaca-se que existem diversificadas esferas de atuação profissional da prática avançada, sendo uma delas a oncologia, foco deste estudo. Seu desenvolvimento representa um desafio no cenário do ensino no Brasil. 25 A estimativa mundial mostra que, em 2020, ocorreram 19,3 milhões de casos novos de câncer e cerca de 10 milhões de óbitos no mundo (SUNG et al., 2021). Estima-se para o Brasil, no biênio 2020-2022, a ocorrência de 625 mil novos casos de câncer, para cada ano. Estas estimativas refletem o perfil de um país que possui os cânceres de próstata, pulmão, mama feminina e cólon e reto entre os mais incidentes, embora ainda apresente altas taxas para os cânceres do colo do útero, estômago e esôfago (INCA, 2019). De acordo com estes dados de incidência, prevalência e estimativas mundiais, é notória a importância de profissionais qualificados, como os enfermeiros de prática avançada, com competências específicas para atuar com esse perfil de paciente com necessidades tão complexas de cuidado. Alguns estudos avaliaram os papéis, responsabilidades, padrões de prática clínica e produtividade dos enfermeiros de prática avançada em oncologia (BRITELL, 2010; FRIESE et al., 2010; HINKEL et al., 2010; NEVIDJON et al., 2010; POLANSKY; ROSS; CONIGLIO, 2010; TOWLE et al., 2011) devido ao aumento da população com diagnóstico de câncer e seus sobreviventes, com o objetivo de obter dados para preencher a lacuna da força de trabalho existente neste campo de atuação (MCCORKLE et al., 2012). Tais estudos demonstram que os enfermeiros de prática avançada em oncologia proporcionam cuidados de alta qualidade, sendo que a sua implementação faz parte da solução para a escassez de mão de obra de qualidade, extremamente necessária no atendimento prestado a esta população (LAURANT et al., 2005; IOM, 2010; BROWN, 2011; TOWLE et al., 2011). Nota-se que este profissional contribui amplamente no atendimento de pacientes com variados tipos de câncer, tanto em hospitais, quanto em clínicas, ambulatórios e na comunidade, sendo a referênciapara articular um movimento de melhoria contínua e organização destes serviços de saúde. Assim sendo, é necessário inseri-lo em todos os níveis de atenção ao câncer (MCKENNA et al., 2004). Nacionalmente, há uma lacuna no conhecimento em relação ao tema proposto, pois ainda são incipientes as pesquisas relacionadas à EPA, principalmente com foco na área da oncologia. Entende-se que a presente pesquisa contribuirá para a identificação de estratégias na formação do enfermeiro de prática avançada em oncologia, visando a sua qualificação, o desenvolvimento de competências centrais e a estruturação e/ou aperfeiçoamento dos cursos de pós-graduação (stricto sensu) para a adequada adaptação do modelo formativo. Salienta-se ainda que, mediante as estimativas de câncer, a pesquisa vai ao encontro das necessidades da população e tem como desígnio discorrer sobre a formação profissional do enfermeiro de prática avançada em oncologia, a fim de garantir um cuidado seguro e de qualidade em todo o 26 continuum do câncer. Destarte, a proposta de dialogar, analisar, consolidar e lançar discussões sobre a EPA em oncologia no Brasil é inovadora. Mediante o exposto, tem-se como questão de pesquisa: Como se constitui a formação do enfermeiro de prática avançada em oncologia para o melhor cuidado? A presente tese parte da premissa que o enfermeiro de prática avançada em oncologia necessita de uma formação educacional em nível de mestrado e/ou doutorado que permitirá uma base de conhecimento especializado e aprofundado na área, assim como, assegurará o desenvolvimento de competências essenciais para a prática expandida e baseada em evidências, a fim de prestar um cuidado de excelência aos pacientes com câncer e suas famílias. 1.1 OBJETIVOS 1.1.1 Objetivo geral Compreender como se constitui a formação do enfermeiro de prática avançada em oncologia para o melhor cuidado. 1.1.2 Objetivos específicos Buscar evidências da formação de enfermeiros de prática avançada mediante a atuação clínica e os cuidados de enfermagem com pacientes oncológicos; Mapear e validar as competências1 centrais do enfermeiro de prática avançada em oncologia; Propor um modelo de formação profissional de enfermagem de prática avançada em oncologia para o Brasil. 1 Competência: capacidade do indivíduo articular e mobilizar três dimensões interdependentes: conhecimentos; habilidades; e, atitudes, a fim de intervir em um determinado contexto e alcançar os resultados almejados (DURANT, 1998). 27 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA O presente capítulo está organizado da seguinte forma: no tópico 2.1 será apresentado o contexto histórico da EPA no mundo; no item 2.2 serão exibidos os debates sobre a enfermagem de prática avançada pelos sistemas de saúde, ensino e conselhos (nacionais e internacionais); e, o tópico 2.3 discorrerá sobre o enfermeiro de prática avançada em oncologia. 2.1 CONTEXTO HISTÓRICO DA ENFERMAGEM DE PRÁTICA AVANÇADA NO MUNDO A EPA teve sua origem no Canadá e EUA há mais de 40 anos. Desde então, gradativamente outros países (Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia, Irlanda, Alemanha e China) vêm estruturando tal prática mediante a criação de legislações e regulações específicas, exigências mínimas necessárias para a formação educacional, definição sobre os locais e formas de atuação e o desenvolvimento de competências necessárias para a realização dos cuidados de saúde à população (CANADIAN, 2002; ICN, 2014). Algumas destas características podem ser observadas no Quadro 1, conforme as particularidades de alguns dos países citados. 28 Quadro 1 – O enfermeiro de prática avançada no contexto mundial. Estados Unidos da América Canadá Reino Unido China (Hong Kong) Irlanda Alemanha Período de origem Na década de 70. Na década de 70. Na década de 80. Em 1993. Em 2001. Em 2008. Termos utilizados Advanced practice nursing. Nurse practitioner. Advanced practice nursing. Nurse practitioner. Clinical nurse specialist. Advanced nurse practitioner. Advanced practice nursing. Clinical nurse specialists. Nurse consultant. Advanced nurse. Midwife practitioner. Advanced practice nursing. Atuação profissional A grande maioria trabalha em ambulatórios, principalmente em atenção primária. Atuam em diferentes serviços, com diagnóstico e tratamento de problemas de saúde agudos e/ou crônicos, realizando cuidados no pré-natal (saúde da mulher e da criança), cuidados de saúde do adulto (check-up), diagnosticando e gerenciando traumas menores. Ensinam os pacientes sobre a promoção da saúde e prevenção de doenças. Em todos os estados possuem algum nível de autonomia para prescrever medicações. A maioria trabalha em unidades de internação, em uma ampla gama de especialidades. Atuam com diagnósticos, tomada de decisão clínica, execução de procedimentos específicos dentro do escopo legislado da prática, fornecendo soluções para problemas complexos de saúde da população. Possuem algum nível de autonomia para prescrever medicações. Atuam em instituições hospitalares, em cirurgias, em serviços de emergência e/ou urgência, clínicas médicas e cirúrgicas, nos cuidados primários e no cuidado com a comunidade. Para prescrever um medicamento o enfermeiro prescritor deve estar registado, ter realizado formação específica e concedido autorização/licença para prescrever a partir do formulário que está ligado à sua qualificação. Inclui-se nessa possibilidade de prescrição alguns medicamentos controlados. Administram clínicas de enfermagem independentes, com o objetivo de atender diferentes grupos de pacientes com problemas de saúde específicos. Atuam na saúde cardíaca, comunitária e pública, cuidados intensivos, educação e pesquisa, emergência, gerontologia, medicina, saúde mental, obstetrícia, gerenciamento de enfermagem e saúde, enfermagem ortopédica, pediátrica, perioperatória e cirúrgica. Atuam em uma ampla variedade de ambientes, cuidando de adultos, idosos, crianças e recém-nascidos, tanto no ambiente hospitalar quanto na comunidade por meio de seus altos níveis de especialização na avaliação, diagnóstico e tratamento de problemas complexos de saúde de indivíduos, grupos e comunidades. A maioria atuante é certificada para prescrever medicação e radiação ionizante. Atuam apoiados por um médico consultor. Áreas de atuação: cuidados agudos de adultos, cuidados psiquiátricos, cuidados pediátricos, cuidados de saúde pública, cuidados de pacientes com distúrbio cognitivo e intelectual, obstetrícia. Atuam com prática avançada, na tomada de decisão clínica, como educador, pesquisador e líder. Atuam em cuidados críticos e cuidados de saúde mental. 29 Estados Unidos da América Canadá Reino Unido China (Hong Kong) Irlanda Alemanha Na maioria dos estados atua sem qualquer exigência de supervisão e colaboração médica. Possuem habilitação/autoridade prescritiva. Exigência educacional Quatro anos de faculdade com bacharelado em enfermagem e aproximadamente dois anos de pós-graduação para obtenção do mestrado como enfermeiro de prática avançada. A preparação educacional mínima para a prática avançada de enfermagem é uma pós-graduação em enfermagem. Embora um diploma de pós-graduação seja essencial para a prática avançada, os enfermeiros que concluíram um ou mais cursos de pós- graduação não podem assumir que sua prática está em um nível avançado com base apenas nessas credenciais educacionais. É a combinação do ensino de pós- graduação e experiência clínica que permite o enfermeirodesenvolver as competências necessárias. Licenciatura em enfermagem ou área equivalente e pós- graduação para obtenção do mestrado ou doutorado (alguns cursos) em enfermagem. Além do diploma, o enfermeiro de prática avançada deverá ter experiência durante um período mínimo de três anos em tempo integral na especialidade de sua escolha. O Reino Unido propõe que os enfermeiros avançados devam ter no mínimo "pensamento de nível de mestrado". Para se tornar um enfermeiro prescritor necessitam realizar cursos específicos, treinamentos e A preparação educacional mínima para a prática avançada de enfermagem é uma pós-graduação para obtenção do título de mestrado ou doutorado em enfermagem. A preparação educacional mínima é uma pós- graduação para obtenção do título de mestrado ou doutorado em enfermagem. O programa de pós- graduação em enfermagem deve ser em uma área que reflita o campo de prática especializada, relacionando as competências descritas para o cargo. Ter um mínimo de 7 anos de experiência pós-registro, incluindo 5 anos de experiência na área escolhida da prática especializada. Ter horas substantivas no nível de prática avançada supervisionada. O número apropriado de horas requeridas pelo profissional para cumprir as competências exigidas pela função será aprovado individualmente pelo Comitê de Registro, sendo normalmente superior a 500 horas. A preparação educacional mínima para a prática avançada de enfermagem é uma pós-graduação para obtenção da titulação de mestrado em enfermagem. 30 Estados Unidos da América Canadá Reino Unido China (Hong Kong) Irlanda Alemanha A preparação educacional mínima do clinical nurse specialist é um mestrado ou doutorado em enfermagem com especialização em uma área de enfermagem clínica. avaliações de desempenho. É necessário o acompanhamento e recomendações de supervisores apropriados (enfermeiros ou outros profissionais de saúde), pertencentes a área de prática avançada. Fonte: CNA (2002; 2008) e ICN (2014). 31 Em um estudo que analisou o desenvolvimento de enfermeiros de prática avançada em 12 países (Austrália, Bélgica, Canadá, Chipre, República Tcheca, Finlândia, França, Irlanda, Japão, Polônia, Reino Unido e EUA), com enfoque nos papéis da APS, foi apresentado a definição de Advanced Practice Registered Nurse (APRN): 1) concluíram a graduação em um curso reconhecido dentre as quatro possíveis funções de enfermeiro de prática avançada nos EUA; 2) passaram no exame de certificação nacional de enfermeiro de prática avançada, tanto para o primeiro registro quanto para recertificações periódicas; 3) adquiriram conhecimento clínico avançado e habilidades que os prepararam para prover o cuidado direto aos pacientes; 4) adquiriram prática baseada nas competências do enfermeiro, pela demonstração de grande, profundo e amplo conhecimento, capacidade de interpretação/síntese de dados, aumentada complexidade de habilidades e intervenções e ampla autonomia profissional; 5) foram educacionalmente preparados para assumir responsabilidade e prestar contas de promoção e manutenção da saúde, avaliação, diagnóstico, manejo dos problemas de pacientes, incluindo o uso e prescrição de intervenções farmacológicas e não-farmacológicas; 6) adquiriram experiência clínica de suficiente profundidade e amplitude para obter a licença pretendida; e, 7) obtiveram a licença para o exercício como enfermeira de prática avançada em um dos quatro tipos possíveis (enfermeiro anestesista, enfermeiro obstétrico, enfermeiro clínico especialista e enfermeiro praticante) (APRN, 2008). Existem algumas terminologias adotadas no mundo para identificar a prática avançada do enfermeiro, sendo que um estudo identificou 13 denominações diferentes (PULCINI et al., 2010). Entretanto, os termos comumente utilizados para se referir ao profissional habilitado para desenvolver práticas avançadas de enfermagem são: 1) nurse practitioner (NP), tendem a ter maior envolvimento no atendimento clínico, possuem um escopo expandido de prática clínica que lhes dá autonomia para coordenar diagnósticos e prescrever tratamentos e/ou medicamentos; foram introduzidas com maior frequência para aumentar o acesso a cuidados primários em comunidades rurais e remotas de difícil acesso e para atuar nas disparidades de acesso a cuidados em populações vulneráveis; 2) clinical nurse specialist (CNS), frequentemente possuem maiores responsabilidades por atividades não clínicas, como por exemplo, educação, melhorias na qualidade dos atendimentos (desenvolvimento de diretrizes e protocolos clínicos) e gestão dos serviços de saúde; têm o mesmo escopo de prática que um enfermeiro registrado; foram introduzidos para fornecer cuidados altamente complexos e especializados, desenvolver práticas de enfermagem e apoiar enfermeiros generalistas, liderar iniciativas de melhorias de qualidades da assistência e práticas baseadas em evidências. Essas diferenças nas funções trazem importantes implicações para a legislação, regulamentação e 32 educação, sendo importante determinar qual é o melhor papel que se adequa às necessidades de cada país para uma implantação efetiva (BRYANT-LUKOSIUS; MARTIN-MISENER, 2016). Observa-se ainda que em alguns países os enfermeiros de prática avançada estão subdivididos em funções e áreas de atuação, sendo especialistas em: saúde mental, saúde da mulher e/ou obstetrícia, saúde da criança, oncologia, clínica cirúrgica, assim como em APS (CNA, 2008; PULCINI et al., 2010; ICN, 2014). No Reino Unido, o papel do enfermeiro de prática avançada tem se expandido ao longo dos últimos 30 anos, assumindo maiores responsabilidades profissionais e legais, em resposta às mudanças na prestação de cuidados de saúde, políticas nacionais, inovação e necessidade de contenção de custos (BALL, 2006; ICN, 2014). Os enfermeiros de prática avançada tornaram- se parte integrante da prestação de cuidados de saúde, entretanto, o debate sobre normas, uso da titulação e regulamentação da profissão permanecem. Salienta-se que as mudanças nas políticas de saúde também influenciaram os programas educacionais ministrados pelo Serviço Nacional de Saúde e pelas Instituições de Ensino Superior (ICN, 2014). Para a implantação da EPA na Alemanha, o país seguiu com cinco principais pilares de desenvolvimento: 1) definição das áreas para a atuação da prática avançada; 2) qualificação dos profissionais; 3) treinamentos e educação sistematizados; 4) valorização e prestígio profissional; e, 5) trajetória de carreira estruturada (ICN, 2014). Na Irlanda, os serviços e a atenção à saúde, assim como a enfermagem, mudaram drasticamente nas últimas décadas em resposta às necessidades dos serviços e da população. Parte dessa mudança atribui-se à introdução do papel do enfermeiro de prática avançada. Pesquisas demonstram de forma conclusiva que os cuidados prestados por estas profissionais melhoram os resultados dos pacientes, são seguros, bem-aceitos e com custo apropriado (BEGLEY et al., 2010). Preconiza-se neste país quatro principais características para o desenvolvimento da EPA (ICN, 2014): a) Autonomia na prática clínica: ser responsável por níveis avançados de tomada de decisão que ocorrem por meio do gerenciamento de casos específicos; realizar uma avaliação abrangente da saúde e demonstrar habilidade especializada no diagnóstico clínico e no tratamento de doenças agudas/crônicas de acordo com um escopo de prática e em conjunto com outros profissionais da saúde. Destaca-se ainda que o fator crucial na determinação da prática avançada de enfermagem é o nível de tomada de decisão e responsabilidades, e não a natureza ou dificuldade da tarefa empreendida pelo profissional. O conhecimento e a experiênciado enfermeiro continuamente 33 apoiam a tomada de decisão, embora algumas partes do papel possam se sobrepor ao papel do médico ou de outro profissional de saúde; b) Prática especializada: demonstrar conhecimentos práticos e teóricos e habilidades de pensamento crítico que são reconhecidos por seus pares; demonstrar capacidade de articular e racionalizar o conceito de prática avançada; a educação deve estar no nível de mestrado (ou superior) em um programa relevante para a área de prática clínica; c) Liderança profissional e clínica: ser líder clínico que inicia e implementa mudanças nos serviços de saúde em resposta à necessidade do paciente e às demandas do serviço; ter visão ampla para o futuro da prática e compromisso com o desenvolvimento dessa além do escopo atual; fornecer serviços inovadores para a população em colaboração com outros profissionais de saúde para atender as necessidades crescentes que são identificadas regional e nacionalmente por organizações governamentais e de gerenciamento de saúde; participar da formação e desenvolvimento de profissionais da área da saúde, além dos enfermeiros, por meio da formulação de papéis, orientações, compartilhamento e facilitação da troca de conhecimento em sala de aula, áreas clínicas e comunidades; d) Pesquisa: identificar e integrar a pesquisa de enfermagem e, em áreas da saúde que possam incorporar a melhor prática baseada em evidências para atender às necessidades do paciente e do serviço; realizar pesquisas que contribuem para a qualidade do atendimento ao mesmo tempo em que avançam no desenvolvimento, implementação e avaliação de enfermagem e de políticas de saúdes; contribuir para o corpo de conhecimento de enfermagem nacional e internacionalmente. Destaca-se que não há um consenso universal sobre as características de enfermeiros de prática avançada. Todavia, pesquisas internacionais sugerem quatro importantes itens: 1) preparação educacional em nível avançado; 2) estruturação dos licenciamentos e regulações – legislação para conferir e proteger o profissional de enfermagem de prática avançada; 3) escopo da prática – autonomia para prescrever medicações e tratamentos para encaminhar pacientes para outros profissionais e para admitir pacientes em instituições de saúde; 4) funções e atuações – contato direto com os pacientes, gerenciamento de casos, cuidados em diagnósticos, tratamentos, prevenção e paliativos (CNA, 2002). O Conselho Internacional de Enfermeiros (CIE) aponta características quanto à natureza da prática avançada, na qual há expectativa de que o enfermeiro possua: 1) habilidade de integrar a pesquisa (evidências baseadas na prática), educação e administração clínica; 2) 34 alto grau de autonomia profissional e de independência na prática; 3) experiência na administração de grande quantidade de casos no nível avançado; 4) reconhecimento de competências clínicas avançadas; 5) habilidade em prestar serviços de consulta junto a outros profissionais da saúde; 6) habilidade de planejar, implementar e avaliar programas; 7) reconhecimento de primeiro contato para usuários (profissional de referência); 8) autoridade para prescrever medicamentos e tratamentos; 9) autoridade para encaminhar pacientes a outros profissionais e admitir pacientes em hospitais; e, 10) reconhecimento oficial do título de enfermeiro de prática avançada e legislação política ou mecanismos regulatórios específicos (OPAS, 2018a). Com relação à formação profissional, na China, as principais diretrizes de desenvolvimento dos enfermeiros de prática avançada visam estabelecer cargos de especialistas com base nas necessidades dos serviços e na padronização de currículos e modelos educacionais. Em Hong Kong, as faculdades credenciadas especificaram as competências mínimas necessárias, a estrutura do currículo e os exames estruturados, a fim de avaliar e certificar as enfermeiras de prática avançada para a atuação clínica, conforme especialidade relacionada, garantindo a manutenção da qualidade do cuidado à população. O Ministério da Saúde é responsável por emitir as normas para os programas de educação e os requisitos para o estabelecimento de treinamento. No Reino Unido, aconselha-se que enfermeiros de prática avançada empreendam programas educacionais para preparar outros enfermeiros de acordo com o perfil necessário para o desenvolvimento da função (ICN, 2014). Destaca-se que na maioria dos países a implementação da EPA ocorreu mediante significativas mudanças na regulamentação e legislação profissional, com normas adicionais e proteção do título. Em alguns países estes aspectos ainda não estão claramente definidos e se mantêm em discussão, assim como a definição dos papéis do enfermeiro de prática avançada, apesar dos órgãos profissionais defenderem tal atuação (CNA, 2002; ICN, 2014). Alguns estudos apontam barreiras políticas na expansão do papel dos enfermeiros de prática avançada em ambientes clínicos, sendo estas relacionadas à ausência de proteção do título, falta de clareza no papel e no desenvolvimento de suas funções, questões financeiras, variabilidade na educação e formação profissional, não desenvolvimento de competências, regulamentos e legislações restritivas, resistências de partes interessadas, atrasando a introdução desse papel em diversos países (BRYANT-LUKOSIUS; MARTIN-MISENER, 2016; MAIER; AIKEN, 2016). O papel do enfermeiro de prática avançada não está bem definido e/ou reconhecido na América Latina e Caribe, principalmente por não existir ainda regulamentação e formação 35 consolidada, de tal modo que se torna um grande desafio a sua implantação na região (OPAS, 2018a). Salienta-se que ainda são insuficientes as discussões e as pesquisas sobre o tema nos países desta região. A proteção legal por meio do estabelecimento de regulamentação é essencial para a formalização das funções do profissional (ZUG et al., 2016). Em muitos países da América Latina e Caribe, o papel do enfermeiro de saúde pública é multifacetado, incluindo a promoção da saúde, a prevenção de doenças, a educação do paciente, família e comunidade, a gestão de programas e em alguns casos as visitas domiciliares (NIGENDA et al., 2010). Porém, estes profissionais possuem uma autonomia limitada no desenvolvimento de sua prática profissional e atuam frequentemente por meio de protocolos institucionais. Em dois países do Caribe, Jamaica e Belize, o papel do enfermeiro de prática avançada foi promovido com variados graus de sucesso, apesar de atualmente encontrar dificuldades para sua implantação efetiva. A Jamaica introduziu o NP na década de 70 devido à escassez de médicos em áreas rurais e carentes. Em 2002, o programa de formação de dois anos oferecido pela Escola de Enfermagem da University of West Indies foi convertido à nível de mestrado. Desde então, o país introduziu programas de NP com foco na saúda da família e saúde mental (JANP, 2015). Jamaica e Porto Rico são os países que mais desenvolveram os programas de formação e regulamentação, assim como instituíram o mercado de trabalho de forma mais efetiva (OPAS, 2018a). No Chile, a Universidad de los Andes possui um programa avançado de CNS para a prática de enfermagem em cuidados intensivos em adultos (BRYANT- LUKOSIUS et al., 2017). Em 2009, no Brasil, se estabeleceu um perfil profissional de CNS em oncologia pediátrica. O Serviço de Enfermagem do Instituto de Oncologia Pediátrica (IOP) do Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (GRAACC) da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), em conjunto à área de Ensino e Desenvolvimento em Enfermagem (EDEnf), implantou uma nova metodologia de organização de trabalho incorporando nas atividades dos enfermeiros competências específicas de prática avançada, atendendo à realidade da instituição. O perfil definido para a função apresentou os seguintespré-requisitos: ter formação acadêmica de nível superior em enfermagem e registro no Conselho Regional de Enfermagem (COREn); título de especialista lato sensu em Oncologia Pediátrica, Enfermagem Oncológica ou Enfermagem Pediátrica; ter ingressado ou estar se preparando para ingressar na pós-graduação stricto sensu em Enfermagem; ser associado à Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE); ter experiência mínima de dois anos na área ambulatorial, além de atuação nas unidades de internação; ser aprovado nos cursos de capacitação em quimioterapia antineoplásica e cateter venoso central totalmente implantável existentes na instituição; ter 36 disponibilidade para trabalho em regime de 40 horas semanais e fluência em inglês. Com relação às competências necessárias para o desenvolvimento da prática avançada de enfermagem na instituição, utilizou-se como base quatro pilares essenciais: assistência qualificada; educação/ensino (paciente, família, profissionais); pesquisa; e, gestão (DIAS et al. 2013). Existe um corpo considerável de evidências internacionais sobre o impacto positivo do papel do enfermeiro de prática avançada na melhoria dos resultados de saúde do paciente, na qualidade da assistência e na resolutividade dos sistemas de saúde (BRYANT-LUKOSIUS et al., 2017). Há um interesse mundial na implantação da EPA como um veículo essencial para a inovação e reformas na saúde, com o objetivo de fornecer modelos mais eficazes e sustentáveis de cuidados (BRYANT-LUKOSIUS, 2014). 2.2 DEBATES SOBRE A ENFERMAGEM DE PRÁTICA AVANÇADA PELOS SISTEMAS DE SAÚDE, ENSINO, CONSELHOS E ASSOCIAÇÕES Para o atendimento das necessidades de saúde atuais na região das Américas, estima- se a necessidade de 800 mil profissionais de saúde a mais. Nota-se ainda que há uma distribuição inadequada dos profissionais, que em sua maioria se concentram nas zonas urbanas e com melhores recursos econômicos. Desta forma, a proporção de enfermeiros por habitantes é desigual. Como países exemplos, destacam-se os EUA com 111,4 profissionais de enfermagem para cada 10 mil habitantes, o Canadá com 106,2 e Cuba 81,3, tendo o Haiti a proporção de 3,5. Assim como a metade dos países da região, esse índice se mantém em torno de 10,4 (CRISP; CHEN, 2014; OPAS, 2018b). Nos EUA, os enfermeiros de prática avançada correspondem a 9% da força de trabalho de enfermagem, seguida da Irlanda com 2% de profissionais (BRYANT-LUKOSIUS; MARTIN-MISENER, 2016). Porém, muitos países não possuem estes dados para fins de avaliações. Desde 2005, a OMS realiza reuniões com a participação dos estados-membros com o objetivo de propor estratégias e ações que visem a Cobertura Universal de Saúde (CUS2), reafirmando esse compromisso em 2012. Identificaram-se duas principais características nestas reuniões: a alta qualidade dos serviços de saúde e a proteção de risco financeiro, representando importantes desafios a serem solucionados. O acesso universal à saúde deve ser oferecido a 2 CUS, todos os indivíduos e comunidades recebem os serviços de saúde de que necessitam; isso inclui toda a gama de serviços de saúde essenciais e de qualidade, desde a promoção da saúde até à prevenção, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos (WHO, 2021). 37 todos os indivíduos em diferentes cenários da saúde, reconhecendo que a saúde está além da dependência dos serviços médicos e consequente despesas inerentes (DYE; REEDER; TERRY, 2013). Com o intuito de colaborar com a implementação de recursos humanos, em setembro de 2013 a OPAS lançou a “Resolução Recursos Humanos para a Saúde: Ampliando o Acesso aos Profissionais de Saúde Qualificados em Sistemas de Saúde Baseados na Atenção Primária à Saúde”, ressaltando especificamente o aumento do número de enfermeiros de prática avançada para apoiar os sistemas de saúde (OPAS, 2013). A partir deste momento, iniciam-se os debates sobre o futuro da enfermagem na América Latina e Caribe, com foco na implantação da EPA. Em maio de 2014, o Comitê Executivo da OPAS propôs o Plano Estratégico para a CUS, com a recomendação de acesso equitativo a serviços de saúde integrais e de qualidade (PAHO, 2014). Em novembro de 2015, a OPAS, a ABEn e o COFEn discutiram estratégias para implementar a EPA no Brasil voltada para a APS, com base na experiência canadense e americana. O objetivo é aumentar o escopo de práticas do enfermeiro, desenvolvendo e aprofundando o trabalho interprofissional e colaborativo, com um perfil profissional de alta resolutividade. Observa-se que a implantação da EPA é uma proposta inovadora e com grande potencial de impacto positivo no acesso à resolutividade da atenção à saúde no Brasil (COFEN, 2015). Em maio de 2016, o COFEn, a CAPES, ABEn, Ministério da Saúde e Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) pactuaram a implementação da EPA no Brasil. A proposta está dividida em três linhas: 1) centros de excelências que fortaleçam linhas de pesquisa em Enfermagem de Práticas Avançadas, realização do mapeamento das atividades já realizadas pelos enfermeiros e formação de docentes e multiplicadores, ressaltando-se a importância de aperfeiçoar a formação profissional e estabelecer marcos normativos que garantam a segurança dos profissionais e pacientes; 2) implementação de currículo nuclear de práticas avançadas para os enfermeiros residentes de programas multiprofissionais, com a possibilidade de complementar estudos e concluir o mestrado profissional; e, 3) medidas para facilitar a implementação de protocolos para utilização nos programas de saúde que regulamentam as atuações, além da criação de módulos temáticos da Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde (SUS) sobre protocolos específicos (COFEN, 2016a). Neste mesmo período, é instituído pelo COFEn a Comissão de Práticas Avançadas em Enfermagem, com a finalidade de discutir estratégias de implementação da EPA na APS 38 (COFEN, 2016b), não sendo ampliada neste momento as discussões para outros campos de atuação profissional e/ou especialidades. Na Austrália, Canadá, EUA, Inglaterra, Irlanda e Finlândia, os profissionais de enfermagem já assumem funções expandidas para satisfazer as necessidades de saúde dos pacientes pois possuem uma formação universitária de quatro a cinco anos. Já na América Latina, ainda não existe uma regulação e/ou uma formação para que os enfermeiros possam atuar com práticas avançadas em qualquer contexto de atuação. O México conta com uma regulação recente, que permite aos enfermeiros prescreverem medicamentos na ausência de um médico e em situações de emergência. O Caribe, a Jamaica e Porto Rico são os países que mais têm desenvolvido programas de formação, regulação e mercado de trabalho instituído. Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México, Panamá e Peru possuem um alto grau de acesso à educação de pós-graduação em enfermagem e são países potenciais para oferecer a formação necessária em práticas avançadas (OPAS, 2018b). A primeira pesquisa internacional realizada com líderes de enfermagem da América Latina e Caribe, o qual contou com a participação de 26 países, apontou como principais barreiras na implantação da enfermeira de prática avançada: modelo biomédico de ensino; o papel do profissional médico; as condições de trabalho atuais; e, a ideia de que este profissional de prática avançada substituirá médicos. Neste mesmo estudo, identificaram-se como facilitadores para a implantação da EPA as universidades ou instituições de educação superior. Porém, uma preocupação foi revelada, sendo que muitos participantes não estavam confiantes sobre a capacidade do corpo docente de ensinar em um nível avançado na APS, mesmo mediante uma amostra de 80% integrante do ambiente universitário (ZUG et al., 2016). Para atender os desafios da saúde na esfera mundial,a profissão de enfermagem está em constante desenvolvimento e aprimoramento, com condições de responder e gerenciar a saúde da população em diversos estágios da vida. Os enfermeiros são profissionais que empregam uma abordagem integrada e holística, incluindo a promoção da saúde, prevenção de doenças, tratamentos, reabilitação e cuidados paliativos. Porém, para que os profissionais de enfermagem possam melhorar consideravelmente a saúde da população e expandir a atuação como enfermeiros de prática avançada na América Latina, são necessárias diversificadas mudanças para que os desafios sejam superados. O desenvolvimento de políticas que fortaleçam a formação nos níveis de graduação e pós-graduação, a regulação, o financiamento, a educação permanente, a prática profissional e a remuneração são aspectos primordiais a serem discutidos neste cenário (CASSIANI; ZUG, 2014). 39 É importante destacar que experiências de países que já possuem a prática avançada instituída, como nos EUA e Canadá, poderão ser a base para a implementação da EPA na América Latina e no Caribe nos próximos anos (CASSIANI; ROSALES, 2016; ZUG et al., 2016). Entretanto, a sua implantação e desenvolvimento não precisam replicar o modelo do canadense e americano, e sim ser construído a partir das lições aprendidas com as experiências destes países. É imprescindível que haja parcerias e colaborações entre as associações de enfermagem, os conselhos de enfermagem, as universidades e o Ministério da Saúde, em âmbito regional, nacional e internacional, e que todos canalizem seus esforços para o estabelecimento do papel deste profissional, visando transformar o modelo de atenção à saúde (ZUG et al., 2016; OPAS, 2018a). Bryant-Lukosius e Dicenso apresentaram um processo participativo, baseado em evidências e focado no paciente, com o objetivo de orientar o desenvolvimento, a implementação e a avaliação da estrutura da EPA. O processo é intitulado como PEPPA, possui nove etapas e foi projetado para superar as barreiras de implementação do enfermeiro de prática avançada por meio do conhecimento e compreensão sobre o seu papel e os locais de atuação. Entre algumas das orientações, estão: definir a população de pacientes e descrever o modelo atual de atendimento; determinar a necessidade de um novo modelo de cuidado; identificar problemas prioritários e metas para melhorar o modelo de atendimento; planejar estratégias de implementação; e, estabelecer programas de educação para a formação do enfermeiro de prática avançada (BRYANT-LUKOSIUS; DICENSO, 2004). De acordo com a assessoria de Enfermagem e Técnicos da Saúde da OPAS: A ampliação do papel dos profissionais de enfermagem licenciados não pretende substituir ou realocar nenhum profissional, mas sim complementar o trabalho de outros profissionais e ampliar habilidades para aumentar a eficiência, melhorar os resultados em saúde e reduzir custos de atenção (OPAS, 2018b). O Brasil apresenta uma posição de destaque entre os países da América Latina e do Caribe por possuir maiores condições de estabelecer programas de pós-graduação em enfermagem de prática avançada (COSTA-MENDES, 2016), tendo instituído 53 programas de mestrado acadêmico, 24 de mestrado profissional, 39 de doutorado acadêmico e 2 de doutorado profissional em enfermagem, totalizando 118 (CAPES, 2021), além de ter como pontos fortes a existência de campos de atuação favoráveis para enfermeiros e as residências em enfermagem, a qual dispendem aproximadamente cinco mil horas de formação em serviço. No entanto, a falta de compreensão sobre o papel do enfermeiro de prática avançada pelo Ministério da Saúde 40 e os programas de pós-graduação com formação predominantemente teórica (mestrado e doutorado acadêmicos), não sendo considerados programas de formação clínica, tornam-se barreiras para esta implantação (MIRANDA NETO et al., 2018). A Resolução n° 7 de 11 de dezembro de 2017 do Conselho Nacional de Educação (CNE), que estabelece normas para o funcionamento de cursos de pós-graduação stricto sensu, apresenta nas suas disposições gerais os seguintes conceitos: os cursos de mestrado e doutorado são orientados ao desenvolvimento da produção intelectual comprometida com o avanço do conhecimento e de suas interfaces com o bem econômico, a cultura, a inclusão social e o bem- estar da sociedade; estes cursos se diferenciam pela duração, complexidade, aprofundamento e natureza do trabalho de conclusão. Alguns dos requisitos a serem considerados na avaliação e reconhecimento dos cursos de mestrado e doutorado são: capacitação profissional qualificada para práticas avançadas, inovadoras e transformadoras dos processos de trabalho, visando atender às demandas sociais, econômicas e organizacionais dos diversos setores da economia; contribuição para agregação de conhecimentos de forma a impulsionar o aumento da produtividade em empresas, organizações públicas e privadas (ABMES, 2017). Em 23 de março de 2017 foi publicada pelo Ministério da Educação a portaria n° 389, que institui o mestrado e doutorado profissional no âmbito da pós-graduação stricto sensu. Nela, está descrito entre alguns dos objetivos: capacitar profissionais qualificados para o exercício da prática profissional avançada e transformadora de procedimentos, visando atender demandas sociais, organizacionais ou profissionais e do mercado de trabalho; promover a articulação integrada da formação profissional com entidades demandantes de naturezas diversas, visando melhorar a eficácia e a eficiência das organizações públicas e privadas por meio da solução de problemas e geração e aplicação de processos de inovação apropriados (BRASIL, 2017). Scochi e colaboradores, em um artigo de reflexão publicado em 2015, apresentaram alguns questionamentos pertinentes ao cenário da enfermagem brasileira, sendo estes: os programas de mestrados profissionais atendem ao que se propõe como prática avançada? Os programas têm permitido instrumentalizar enfermeiros para uma prática avançada, ou seja, a estrutura curricular responde às competências necessárias a essa formação, dando sustentação à prática e também à produção do conhecimento e tecnologia? Há possibilidades de adequações na estrutura curricular de alguns mestrados profissionais de modo a atender também ao escopo da enfermagem de prática avançada? Nota-se que existe ainda a possibilidade de complementar a formação de residência em enfermagem com disciplinas pertinentes à formação profissional stricto sensu, como uma complementação optativa para a titulação de mestre profissional em prática avançada na área pertinente à formação clínica. Contudo, as autoras sugerem amplos 41 debates e reflexões entre os profissionais e instituições envolvidas, de modo que se construa um modelo claro de como cada programa deverá se organizar para atingir a proposta (SCOCHI et al., 2015). Com relação à pós-graduação, é relevante pensar no corpo docente, que necessita ser competente e com titulação em nível de mestrado ou doutorado para preparar o futuro enfermeiro para a prática avançada. É evidente que países da América Latina e Caribe necessitem de ajuda de universidades estrangeiras para que estas contribuam com a geração das primeiras coortes de docentes e/ou profissionais de prática avançada. Trabalhar em parceria com outras categorias profissionais e associações desde o início pode ser eficaz na tarefa de implementar o papel do enfermeiro de prática avançada (ZUG et al., 2016). No entanto, deverá ser realizada uma avaliação das necessidades de cada país para que as universidades ofereçam capacitações especializadas nas áreas identificadas de maior escassez. A esse aspecto se soma a imprescindibilidade de inovar programas universitários, reconhecendo os anos de experiência e de competências adquiridas dos enfermeiros já atuantes (OPAS, 2018a).É importante ressaltar o papel das Instituições de Ensino Superior (IES) na formação de futuros profissionais da área da saúde com uma visão crítica e reflexiva, sendo essencial para a transformação da prática profissional nos diversos cenários da saúde. Para atingir esta meta, é indispensável uma redefinição nos processos de formação, proporcionando uma organização curricular e projetos pedagógicos propícios para a formação de profissionais qualificados para a realização de mudanças que visem fortalecer o SUS (TONHOM; MORAES; PINHEIRO, 2016). Para a implantação da EPA, é fundamental o desenvolvimento de políticas de infraestrutura que apoiem a profissão, incluindo a regulação, escopo da prática, certificação, graduação e a pós-graduação, educação continuada e a reforma salarial. São necessárias iniciativas para o desenvolvimento de consensos e evidências para a implantação e avaliação do papel da EPA, assim como a construção de uma rede de pessoas e instituições interessadas no avanço da profissão, além de fomentar reflexões sobre as barreiras e os facilitadores para o alcance das transformações almejadas no sistema de saúde (BRYANT-LUKOSIUS; MARTIN- MISENER, 2016). Mediante o exposto, percebe-se que a maioria dos debates e ações nacionais estão focadas para a implantação da EPA na APS, contudo, soluções inovadoras são indispensáveis para enfrentar os demais desafios nos diversos campos de atuação profissional e especialidades. Desta forma, propor estratégias e ações para a expansão do papel do enfermeiro de prática avançada na área da oncologia contribuirá com os serviços de saúde e com a população 42 brasileira, considerando a alta incidência e prevalência de câncer. Embora alguns países estejam comprometidos com a formação de enfermeiros para a prática avançada, se faz necessário ampliar as estratégias de formação com enfoque nas competências de especialidades críticas e complexas, como a oncologia. Os enfermeiros oncológicos com educação avançada podem efetivamente promover grandes mudanças e resolutividades na realização dos cuidados em todo o continuum de atendimento. 2.3 ENFERMEIRO DE PRÁTICA AVANÇADA EM ONCOLOGIA Os problemas atuais que fomentam novos modelos de prestação de cuidados e a introdução do papel do enfermeiro de prática avançada incluem: o envelhecimento da população; as necessidades de maior promoção da saúde e prevenção de doenças crônicas; a escassez de trabalhadores; gestão da saúde; o aumento dos custos de cuidados de saúde, entre outros (BRYANT-LUKOSIUS et al., 2017). Assim sendo, nota-se a necessidade de os serviços de saúde possuírem um quantitativo adequado de profissionais, e que estes estejam cada vez mais capacitados para atender com eficiência e qualidade as demandas da população. O aumento da incidência e da prevalência de doenças crônicas, como o câncer, por exemplo, torna imprescindível a atuação de um número considerável de profissionais em todos os níveis de atenção à saúde (CRISP; CHEN, 2014). Importante ressaltar, as estimativas mundiais apontam para cerca de 30 milhões de casos novos até 2040 (Figura 1). Ainda, a Figura 2 aponta as estimativas nacionais dos dez tipos de cânceres (exceto pele não melanoma) mais incidentes. Neste contexto, destaca-se que a implantação da EPA em oncologia torna-se uma tendência, com potencial de impactos positivos, ainda que represente um desafio a ser superado no Brasil. O título de enfermeiro de prática avançada em oncologia designa-se a profissionais que exercem funções de NP ou CNS, os quais são preparados educacionalmente com um mínimo de mestrado em enfermagem, especialização na área afim e experiência no manejo de pacientes com câncer. Estes profissionais estão inseridos em todos os serviços/sistemas de tratamento do câncer para garantir cuidados especializados e com adequada relação de custo- benefício. As complexas necessidades de cuidados oncológicos à população, associadas as novas modalidades de tratamentos, inovações e tecnologias, criam amplas oportunidades de crescimento à EPA (CUNNINGHAM, 2004). 43 Figura 1 – Número estimado de casos novos no mundo entre 2020 e 2040 de todos os tipos de cânceres em ambos os sexos, idade [0-85 +]. Fonte: GCO (2021). Figura 2 – Distribuição proporcional dos dez tipos de câncer mais incidentes estimados no Brasil para 2020, ambos os sexos, de todos os tipos de cânceres (exceto pele não melanoma). Fonte: INCA (2019). Historicamente, o principal papel da prática avançada na enfermagem oncológica era do CNS, entretanto, desde a década de 1990, as necessidades de mudança nas configurações dos atendimentos do câncer e no quantitativo de profissionais impulsionaram o crescimento de NP oncológicos (CUNNINGHAM, 2004). Nesta mesma década, o delineamento curricular da EPA para a especialidade da oncologia foi expandido para apoiar o desenvolvimento tanto do CNS quanto do NP (GALASSI, 2000). Nota-se que a qualidade do tratamento do câncer pode ser comprometida em um futuro próximo por causa de questões relacionadas à força de trabalho (COOMBS; HUNT; CATALDO, 2016), sendo que os papéis existentes atualmente não estarão adequados para atender estas demandas de cuidados. Como solução, há novas funções e novos métodos de trabalho colaborativo que precisam ser desenvolvidos e determinados entre as equipes de saúde. 44 Os cuidados oncológicos continuarão exigindo uma força de trabalho altamente qualificada e a equipe de saúde precisará maximizar o uso de todos os membros da equipe, especialmente os enfermeiros de prática avançada (WUJCIK, 2016). Sugere-se que os enfermeiros de prática avançada em oncologia busquem a certificação e o reconhecimento profissional com base nas competências centrais. Dos mais de 192.000 enfermeiros de prática avançada trabalhando nos EUA, apenas 1%, ou seja, cerca de 1.900 enfermeiros são certificados em oncologia (AANP, 2015). Deste modo, aumentar o número de enfermeiros de prática avançada em oncologia deve ser uma meta contínua das instituições de saúde (WUJCIK, 2016). Ensaios clínicos com enfermeiros de prática avançada na área de cuidados paliativos oncológicos demonstraram com significância estatística uma maior qualidade de vida, humor e aumento da sobrevida (BAKITAS et al., 2009) e melhora nas avaliações emocionais e mentais da qualidade de vida dos pacientes (DYAR et al., 2012). Estudo realizado por enfermeiros de prática avançada com pacientes oncopediátricos trouxeram benefícios para a prática clínica em relação à adição de um aconselhamento a um plano de cuidados de sobrevivência, resultando na preservação da saúde cardíaca com pouco ou nenhum custo adicional (COX et al., 2016). Ainda nesta área de atuação, enfermeiros de prática avançada em oncologia e cirurgia desenvolveram um novo fluxo de consultas para avaliação/inserção de linha/acesso central (pré-tratamento antineoplásico) e realização de educação/orientação do paciente e família. Como resultado, demonstrou que as linhas/acessos centrais foram inseridas em um momento mais oportuno, os procedimentos foram coordenados e o tratamento antineoplásico foi iniciado precocemente, o que aumentou a satisfação de pacientes, familiares e profissionais de saúde (CALLAHAN; DE LA CRUZ, 2004). Em relação a pesquisas realizadas com pacientes em tratamento antineoplásico, Kim (2011) apresentou desfechos positivos com a realização de intervenções assistenciais do CNS, com a diminuição de alguns escores de dor e intensidade de fadiga, aumento da qualidade de vida e da satisfação do paciente com a confiabilidade e facilidade de acesso (KIM, 2011). Uma pesquisa que buscou refinar uma intervenção liderada pelo NP para promover a adesão à medicação oral e o manejo de sintomas constatou que as orientações realizadas por telefone, além da face a face, são viáveis na prática clínica, comdiminuição do número e gravidade de sintomas apresentados pelos pacientes (SPOELSTRA et al., 2017). Um estudo realizado com 368 enfermeiros de prática avançada em oncologia apresentou que a falta de compreensão sobre o papel destes enfermeiros, por parte dos pacientes e outros profissionais de saúde, eram uma prioridade a ser trabalhada. Nesta pesquisa, as principais evidências relacionadas ao atendimento de pacientes oncológicos foram: manejo de 45 sintomas; qualidade de vida; satisfação do paciente e sua família; e, custos dos cuidados. Já os desafios relatados foram: ausência da definição da função e do seu papel; questões relacionadas a pagamentos; registros que demonstrem resultados da prática e de custos; autonomia para prescrever; diversificados modelos de educação/formação; e, padronização de certificação (LYNCH; COPE; MURPHY-ENDE, 2001). A atuação de enfermeiros de prática avançada em oncologia demonstra melhorias estatisticamente significativas nos desfechos clínicos dos pacientes nos serviços de saúde. O aumento do número de enfermeiros de prática avançada em oncologia e a evolução dos seus papéis nos contextos de assistência de câncer oferecem oportunidades para fomentar pesquisas que demonstrem melhor os resultados das práticas avançadas (CUNNINGHAM, 2004). Destaca-se que a formação do enfermeiro de prática avançada envolve preparação educacional em um nível avançado por programas educacionais reconhecidos e cursos com objetivos e conteúdos voltados para a prática clínica (BRYANT-LUKOSIUS; MARTIN- MISENER, 2016), sendo este o ponto de partida de discussões sobre estratégias para a consolidação da formação profissional, tendo em vista que esta é parte integrante para uma atuação efetiva. Nos EUA, um mestrado é o requisito educacional básico para a formação de um enfermeiro de prática avançada. Entretanto, um caminho educacional emergente é a formação em nível de doutorado em prática de enfermagem, acreditando-se ser o futuro para a profissão. Alguns dos fatores que impulsionam essa mudança na educação da enfermagem no nível de pós-graduação incluem a rápida expansão do conhecimento subjacente à prática, a crescente complexidade do atendimento ao paciente, preocupações sobre a qualidade do atendimento e a segurança do paciente e escassez de recursos humanos de enfermagem, que exigem um maior nível de preparação (AACN, 2009; NEVIDJON et al., 2010). Na década de 1950, a Universidade de Boston foi a primeira a trabalhar com o desenvolvimento de um doutorado com prestação de cuidados de enfermagem, atribuindo o título de Doutor em Ciências de Enfermagem (DNSc - Doctor of Nursing Science) (ROBB, 2005). Em 2004, a American Association of Colleges of Nursing (AACN) publicou uma declaração com recomendações sobre o Doctor of Nursing Practice (DNP) e a profissão de enfermagem, enfatizando como estes profissionais poderiam auxiliar na transformação da saúde da população e demostrar resultados de impacto com a formação de doutorado (AACN, 2004). Em 2014, a AACN publicou um relatório com as principais diferenças entre os programas de doutorado (DNP versus PhD/DNS), apresentando algumas características e, entre elas, os objetivos dos programas, sendo que o DNP prepara líderes de enfermagem no mais alto 46 nível de prática de enfermagem com o intuito de melhorar os resultados dos pacientes por meio de pesquisas baseadas em evidências, diferentemente do doutorado tradicional em pesquisa (PhD/DNS), que gera novos conhecimentos (AACN, 2014). Embora o papel do DNP esteja apenas iniciando, o enfermeiro de prática avançada em oncologia com doutorado possuirá as competências necessárias para influenciar novos modelos de prática dentro dos sistemas de saúde, para oferecer um tratamento de qualidade aos pacientes com câncer (WALKER; POLANCICH, 2015). Com relação à formação profissional, em um estudo que objetivou discutir como o ensino de doutorado, especificamente o DNP, promove mudanças na prática avançada de enfermagem, constatou que existem diversificadas variações nos currículos educacionais, planos dos programas e projetos acadêmicos, levando a uma falta de consistência na aprendizagem experiencial. Como implicações para a enfermagem, os autores salientaram que as instituições acadêmicas precisarão utilizar métricas e resultados contínuos de autoavaliação dos programas de educação para garantir a qualidade do curso, do atendimento à população e a otimização da trajetória profissional de prática avançada (PAPLHAM; AUSTIN-KETCH, 2015). Observa-se ainda que o papel tradicional da EPA tem sido desenvolvido como um clínico, diretamente envolvido no atendimento ao paciente. Todavia, outros papéis, como educador, pesquisador, consultor e gerente, também são fundamentais para o reconhecimento e atuação, à medida que ocorrem avanços na profissão. Para progredir ainda mais na prestação de cuidados, os enfermeiros de prática avançada podem buscar educação adicional a fim de melhorar sua prática clínica. Especificamente, o enfermeiro de prática avançada que busca um grau DNP ganha preparação educacional para liderar mudanças dentro de um sistema de saúde por meio da tradução e interpretação de evidências (WALKER; POLANCICH, 2015). Desenvolver novas estratégias para a prestação de cuidados oncológicos, aumentando os números e expandindo os papéis de profissionais não-médicos, como de enfermeiros de prática avançada, é de extrema importância para atender às necessidades atuais e potenciais do tratamento do câncer (NEVIDJON et al., 2010). Melhorar e alinhar a educação são essenciais para proporcionar desfechos clínicos seguros e garantir a satisfação do paciente. Abordagens inovadoras devem ser empregadas para auxiliar os enfermeiros de prática avançada a adquirirem os conhecimentos, as habilidades e as atitudes necessárias para exercer com competência o seu papel no cenário apresentado (WUJCIK, 2016). Um aspecto relevante a ser considerado em âmbito nacional é a existência de uma população com diferentes necessidades de cuidados de saúde e distintas condições econômicas, 47 o que dificulta o apoio ao ensino da EPA e a construção de seus papéis. De tal modo, serão necessários diferentes métodos para introduzir as funções do enfermeiro de prática avançada nos currículos dos cursos que contemplem os contextos heterogêneos, culturais, geográficos, socioeconômicos e políticos no país (BRYANT-LUKOSIUS et al., 2017). Com a EPA tendo como recomendação um nível educacional de mestrado ou doutorado em prática clínica, as instituições de saúde, universidades, profissionais/enfermeiros, coordenadores e docentes de cursos de pós-graduação stricto sensu poderão liderar, discutir, desenhar, conduzir e validar o processo ideal para a ampliação do papel dos enfermeiros, propondo critérios mínimos para a sua formação profissional (OLDENBURGER et al., 2017; OPAS, 2018a). Observa-se que o Brasil possui duas correntes de programas de pós-graduação stricto sensu, o acadêmico e o profissional, com diferentes objetivos de formação. Programas acadêmicos são projetados para produzir pesquisadores e professores de enfermagem, enquanto os programas profissionais são projetados para desenvolver habilidades dos enfermeiros que atuam em diversas funções no sistema de saúde (BRYANT-LUKOSIUS et al., 2017). A principal diferença entre o programa acadêmico e profissional é o produto, isto é, o resultado almejado com a formação. O foco do programa profissional no desenvolvimento de competências e conhecimentos aplicados pode fazer com que estes sejam capazes de se adaptar aos programas educacionais de prática avançada (SCOCHI et al., 2015). É importante considerar ainda a necessidade de regularizar e proteger o título para além da formação, com certificação e registros por órgãos competentes de fiscalização, para o melhor desempenhoda função e prática profissional. Embora o Brasil ofereça condições favoráveis para a implantação da EPA em oncologia, são necessárias pesquisas que colaborem para a compreensão do papel, perspectivas futuras, processos formativos, facilitadores e barreiras do ensino e da prática no cenário nacional. 48 3 MÉTODO Trata-se de uma pesquisa exploratório-descritiva, de natureza mista, com a finalidade de responder à questão de estudo: Como se constitui a formação do enfermeiro de prática avançada em oncologia para o melhor cuidado? O método misto está se expandindo em diversas áreas do conhecimento fornecendo à pesquisa maior força, uma vez que soma as potencialidades de métodos qualitativos e quantitativos, eliminando os questionamentos e fragilidades observados a partir do uso isolado de um destes métodos. Na pesquisa de método misto, o investigador usa dados qualitativos e quantitativos com o desígnio de oferecer um melhor entendimento do problema de pesquisa, diferentes visões de mundo e diferentes suposições. Tal abordagem permite diferentes formas de coleta e análise de dados em lugar de adotar uma forma única, proporcionando um maior número de insights, com maior compreensão sobre o tema pesquisado (CRESWELL, 2013). A pesquisa de métodos mistos é uma pesquisa com suposições filosóficas e também com métodos de investigação. Como uma metodologia, ela envolve suposições filosóficas que guiam a direção da coleta e da análise e a mistura das abordagens qualitativa e quantitativa em muitas fases do processo de pesquisa. Como um método, ela se concentra em coletar, analisar e misturar dados qualitativos e quantitativos em um único estudo ou uma série de estudos. Em combinação, proporciona melhor entendimento dos problemas de pesquisa do que cada uma das abordagens isoladamente. A pesquisa de métodos mistos encoraja o uso de múltiplas visões do mundo, ou paradigmas, em vez de a associação típica de alguns paradigmas com a pesquisa quantitativa e outros para a pesquisa qualitativa (CRESWELL, 2013). A pesquisa exploratória tem como característica desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, buscando ampliar novas perspectivas com um extenso trabalho no levantamento dos dados, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. É utilizada com o intuito de aproximar-se do universo do objeto de estudo e proporcionar uma visão geral acerca de um determinado fato. Já a pesquisa descritiva visa realizar um estudo detalhado, com levantamento de informações através de técnicas de coleta de dados. Uma de suas características mais significativas é a utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados. Ainda, tem como atributo descobrir e especificar características, perfis e propriedades do fenômeno estudado e seu contexto, descrevendo situações, projetos, currículos, contribuindo com o conhecimento mais aprofundado do objeto de estudo. As pesquisas descritivas são, juntamente com as exploratórias, as que habitualmente realizam os pesquisadores preocupados com a atuação prática. São também as mais solicitadas 49 por organizações, como por exemplo as instituições educacionais (DENZIN; LINCOLN, 2006; SAMPIERI; COLADO; LUCIO, 2006; GIL, 2014). A pesquisa qualitativa trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, dos valores e das atitudes, ou seja, se aprofunda no mundo dos processos e definições (MINAYO, 2009). Esta abordagem tem como finalidade alcançar informações mais detalhadas e aprofundadas sobre as experiências, permitindo analisar este conjunto de dados a partir do seu contexto original, considerando os aspectos que influenciam estas informações (CASTRO et al., 2010). A pesquisa quantitativa tem a capacidade de operacionalizar e mensurar dados, proporcionando comparações e associações entre variáveis. Contudo, acaba realizando estas avaliações sem considerar o contexto que envolve estes dados (CASTRO et al., 2010). Desta forma, a junção de elementos qualitativos e quantitativos possibilita ampliar a obtenção de resultados em abordagens investigativas, proporcionando ganhos relevantes para as complexas pesquisas realizadas nas diferentes áreas do conhecimento (DAL-FARRA; LOPES, 2013). 3.1 PERCURSO DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS Este capítulo está estruturado de acordo com as etapas de realização da pesquisa para o alcance dos objetivos propostos, haja vista a utilização de diferentes estratégias para a obtenção dos resultados. 3.1.1 Revisão sistemática A revisão sistemática foi norteada pelas recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) Checklist (MOHER et al., 2009). O protocolo de revisão sistemática foi registrado no International Prospective Register of Systematic Reviews (PROSPERO), conforme ANEXO A, sob o número CRD42018098906 (SCHNEIDER; KEMPFER; BACKES, 2018). 50 3.1.1.1 Coleta de dados A pergunta norteadora da revisão, elaborada com base na estratégia PICO (METHLEY et al., 2014), foi: a formação de enfermeiros de prática avançada resulta em melhor desempenho clínico e cuidados de enfermagem em pacientes com câncer? O levantamento eletrônico dos dados ocorreu nas seguintes bases: Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) – via National Library of Medicine; National Institutes of Health (Pubmed); Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS); Institute for Scientific Information (ISI) Web of Knowledge – via Web of Science; Scopus; Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL- EBSCO); Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL). Além disso, realizou- se uma busca manual na lista de referências dos artigos selecionados, a fim de não perder evidências, e uma busca na literatura cinzenta através do Google Scholar. Como critérios de elegibilidade foram considerados: estudos experimentais (ensaios clínicos randomizados e quasi-experimentos) que demonstrassem resultados de desempenho da EPA no cuidado a pacientes com câncer. Foram incluídos estudos publicados na íntegra, em qualquer idioma, sem limite temporal do ano de publicação. 3.1.1.2 Estratégia de busca Os descritores foram selecionados a partir do Medical Subject Headings Section (MeSH), Descritores em Ciências da Saúde (DeCs) e CINAHL Subject Headings. Foram utilizados os seguintes termos de busca na MEDLINE (via Pubmed), adaptando-se a estratégia para outras bases de dados: ("oncology nursing" OR "oncology" AND "nursing" OR "oncology nursing") AND ("advanced practice nursing" OR "advanced" AND "practice" AND "nursing" OR "advanced practice nursing" OR "nurse practitioners" OR "nurse" AND "practitioners" OR "nurse practitioners" OR "nurse clinicians" OR "nurse" AND "clinicians" OR "nurse clinicians" OR "education, nursing, graduate" OR "education" AND "nursing" AND "graduate" OR "graduate nursing education" OR "education" AND "nursing" AND "graduate" OR "education, nursing, graduate") AND ("treatment outcome" OR "treatment" AND "outcome" OR "treatment outcome" OR "evidence-based practice" OR "evidence-based" AND "practice" OR "evidence-based practice" OR "evidence" AND "based" AND "practice" OR "evidence based practice" OR "evidence-based nursing" OR "evidence-based" AND "nursing" OR "evidence-based nursing" OR "evidence" AND "based" AND "nursing" OR "evidence based 51 nursing" OR "outcome assessment (health care)" OR "outcome" AND "assessment" AND "(health" AND "care)" OR "outcome assessment (health care)" OR ("outcome" AND "assessment" OR "outcome assessment" AND "delivery of health care" OR "delivery" AND "health" AND "care" OR "delivery of health care" OR "health" AND "care" OR "health care" OR "quality of health care" OR "quality" AND "health" AND "care" OR "qualityof health care" OR ("patient outcome assessment" OR "patient" AND "outcome" AND "assessment" OR "patient outcome assessment" OR "patient satisfaction" OR "patient" AND "satisfaction" OR "patient satisfaction"). Após a coleta, os dados foram organizados mediante o uso do software EndNote Web®, no qual foram excluídos os estudos duplicados. A busca nas bases eletrônicas de dados ocorreu em 15 de julho de 2018 e foi atualizada em 15 de dezembro de 2019. 3.1.1.3 Seleção de estudos Com o intuito de assegurar a qualidade da revisão sistemática e evitar vieses, realizou- se a seleção dos estudos em duas etapas: 1) dois investigadores (F.S. e S.S.K.) examinaram individualmente os títulos e resumos dos artigos que possivelmente cumpririam os critérios de inclusão; e, 2) os mesmos investigadores leram, individualmente e na íntegra, os artigos selecionados e excluíram os que não cumpriam os critérios de inclusão. Os casos de divergência entre os investigadores, em qualquer uma das etapas mencionadas, sucederam discussões para o consenso. Na ausência de um acordo, um terceiro investigador (V.M.S.B) foi envolvido no processo de decisão. 3.1.1.4 Processo de coleta de dados Para a extração dos dados utilizou-se um formulário elaborado para o presente estudo, que adotou as orientações fornecidas pela Cochrane Collaboration (HIGGINS; GREEN, 2011) no que se refere ao conteúdo e à estrutura. Esse formulário pré-estabelecido incluiu as seguintes informações: identificação do estudo (título, periódico, ano de publicação, volume, número e autores); e, objetivos e método (método de randomização, ocultação, número de pacientes randomizados, descrição de perda de acompanhamento, critérios de inclusão e exclusão, características clínicas, intervenção nos grupos experimental e controle, análise de dados e desfechos). Assim, também compreendeu outras informações julgadas relevantes, como: país e área/cenário de desenvolvimento do estudo e formação/titulação profissional. A coleta dos 52 dados ocorreu de forma independente pelos dois investigadores (F.S. e S.S.K.), para posterior validação e concordância. O terceiro investigador (V.M.S.B) avaliou todos os dados coletados para decisão final. Uma vez que a maioria dos estudos analisados apresentou diferenças metodológicas significativas, tais como: área de atuação clínica e/ou especialidade heterogêneas; perfil dos participantes; características das intervenções e desfechos clínicos; e, a realização da meta- análise foi inviabilizada. Portanto, na presente revisão sistemática foi realizada uma síntese qualitativa para apresentação dos dados. 3.1.1.5 Risco de viés de estudos individuais No que concerne à avaliação da qualidade metodológica dos ensaios clínicos randomizados selecionados, utilizou-se a ferramenta Cochrane Collaboration Risk of Bias Tool (RoB 1) (HIGGINS; GREEN, 2011), a qual avalia sete domínios: 1) Alocação da sequência de randomização (viés de seleção); 2) Sigilo da alocação (viés de seleção); 3) Cegamento dos participantes e equipe envolvida (viés de performance); 4) Cegamento de avaliadores de desfecho (viés de detecção); 5) Desfechos incompletos (viés de atrito); 6) Relato de desfecho seletivo (viés de publicação); e, 7) Outras fontes de viés. Com base nesses domínios avaliados, os estudos são classificados em risco de viés baixo, alto ou incerto (HIGGINS; GREEN, 2011). Com relação aos estudos quasi-experimentais, utilizou-se a ferramenta Risk of Bias in Non- randomised Studies of Interventions (ROBINS-I) (STERNE et al., 2016), que avalia sete domínios: viés de confusão; viés de seleção dos participantes do estudo; viés de classificação das intervenções; viés devido a desvios das intervenções propostas; viés de informação (missing); viés de mensuração dos desfechos; e, viés de relato seletivo de desfechos. Os dois primeiros domínios referem-se ao período de pré-intervenção, o terceiro está relacionado ao período de intervenção e os quatro últimos domínios estão relacionados ao período pós- intervenção (STERNE et al., 2016). Em cada item os estudos foram classificados como baixo, moderado, sério ou crítico em relação ao risco de viés. Posteriormente, os estudos foram classificados de forma geral em baixo (baixo risco em todos os domínios), moderado (risco baixo ou moderado em todos os domínios), sério (risco sério em pelo menos um domínio) e crítico (risco crítico em pelo menos um domínio). Dois pesquisadores realizaram esse processo de forma independente (F.S. e S.S.K.). As discordâncias entre os dois revisores foram resolvidas por um terceiro pesquisador (V.M.S.B). 53 Para a apresentação gráfica do risco de viés dos estudos utilizou-se a ferramenta The Cochrane Collaboration’s Review Manager 5® (RevMan 5), assim como para os ensaios clínicos randomizados, além do Risk-of-bias VISualization® (Robvis) para os quasi- experimentos. 3.1.2 Coleta em documentos Algumas informações necessárias para o estudo, em geral, só são apreendidas por meio da consulta e análise de documentos específicos, pois não estão disponíveis de outra forma. Assim, a análise documental é caracterizada pelo tratamento analítico de documentos, orientado pelo problema de pesquisa proposto. Dessa forma, pode ser utilizada como um instrumento complementar associada a outro procedimento metodológico (CECHINEL et al., 2016). Uma das formas de realizar o levantamento de dados, primeiro passo de qualquer pesquisa científica, é através da pesquisa documental (ou de fontes primárias). A característica da pesquisa documental é que a fonte de coleta de dados está restrita a documentos (escritos ou não), constituindo o que se denomina fontes primárias (MARCONI; LAKATOS, 2013). 3.1.2.1 Processo de coleta e análise de dados A coleta de dados a partir de documentos foi realizada mediante informações públicas relacionadas ao tema EPA, especialmente ao seu processo de formação profissional e competências centrais nas de instituições educacionais ou de saúde, conselhos, sociedades, associações e/ou organizações de enfermagem de prática avançada e na área de enfermagem oncológica. Esta etapa auxiliou a compreensão de como se desenha a formação profissional da prática avançada em oncologia nos países que já a implementam, como por exemplo os EUA. A busca documental ocorreu entre abril e julho de 2020, por meio de informações on- line de domínio público, divulgado na íntegra, em qualquer idioma, sem limite temporal de ano de publicação. Foi realizada a busca manual por documentos, publicações e/ou informações relacionadas a EPA e seu processo de formação profissional, bem como por palavras-chaves: advanced practice nursing; clinical nurse specialist; nurse practitioner; oncology nursing; education; e, competences. Os dados foram coletados com o auxílio de um instrumento estruturado (APÊNDICE A) contendo: nome da entidade; estado/país; definição/conceito sobre EPA; características da EPA; preparação educacional; e, competências. Os dados foram traduzidos e organizados em quadros (Word®). Posteriormente à coleta dos dados, as 54 informações foram analisadas e compiladas, caracterizando-as conforme os modelos de formação existentes e as competências centrais do enfermeiro clínico especialista em oncologia (ECEO). Com estes dados documentais, buscou-se elaborar inicialmente o instrumento para a primeira rodada da técnica Delphi e, posteriormente, uma proposta de um programa de EPA em oncologia para o Brasil, no formato de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado profissional). Observa-se que o instrumento de coleta de dados para a primeira rodada da técnica Delphi foi pautado no modelo americano de formação e atuação em prática avançada, denominado clinical nurse specialists (enfermeiro clínico especialista). 3.1.3 Técnica Delphi A técnica Delphi possibilitareunir dados de profissionais experts no tema da pesquisa por meio de um ambiente virtual, garantindo um espaço de expressão de opiniões e posicionamentos a partir dos dados gerados. Tem como objetivo obter um consenso de um grupo de especialistas sobre um problema proposto ou para o planejamento e previsões sobre o futuro de uma área. Este processo é controlado pelo pesquisador por meio de uma estrutura de comunicação sistemática, permitindo que os especialistas recebam feedbacks acerca das opiniões expostas, recolocando suas opiniões e respondendo as entradas dos demais participantes, permitindo que ao final das rodadas seja alcançado o consenso do problema em questão (POWELL, 2003; OLIVEIRA; COSTA; WILLE, 2008, MUNARETTO; CORRÊA; CUNHA, 2013). Desde o início da utilização da técnica Delphi encontram-se estudos que destacam a efetividade deste método, descrevendo-o como uma potencialidade para a investigação de diversos temas em variadas áreas do conhecimento, mantendo o anonimato e a interação dos participantes, a possibilidade de repensar sua opinião por meio do feedback controlado e a possibilidade de chegar a um caminho para a resolução de um problema ou definição de um consenso. As duas principais características da técnica Delphi são a consulta a experts sobre um determinado tema e o anonimato dos participantes da pesquisa, conferindo vantagens sobre outros métodos de coleta de dados. Assim, o status profissional não influencia o grupo, proporcionando maior conforto para cada participante sustentar o seu ponto de vista (LINSTONE; TUROFF, 2002; OLIVEIRA; COSTA; WILLE, 2008; KEENEY; HASSON; MCKENNA, 2011; MUNARETTO; CORRÊA; CUNHA, 2013). 55 Um dos pontos de atenção na utilização da técnica Delphi é a consulta aos especialistas, dada a complexidade dos delineamentos de critérios que definirão ou comprovarão a expertise de uma pessoa na área do estudo para integrar o grupo de participantes. Ressalta-se a necessidade de estabelecer rigorosamente os critérios que irão orientar a escolha destes experts evitando prejuízos posteriores no desenvolvimento e nos resultados da pesquisa (LINSTONE; TUROFF, 2002; OLIVEIRA; COSTA; WILLE, 2008; KEENEY; HASSON; MCKENNA, 2011; MUNARETTO; CORRÊA; CUNHA, 2013). Neste contexto, salienta-se que um número adequado de participantes para a realização da técnica Delphi envolve 30 a 50 pessoas para que seja possível estabelecer o debate sobre o tema e a diversidade de opiniões (KEENEY; HASSON; MCKENNA, 2011; COUTINHO et al., 2013). 3.1.3.1 Desenvolvimento da técnica Delphi Após a análise documental relacionada às competências do EPA em oncologia, desenvolveu-se o instrumento de coleta de dados para a primeira rodada da técnica Delphi, a fim de validar as competências do clinical nurse specialists (enfermeiro clínico especialista). Sendo assim, para a elaboração da matriz inicial com as competências centrais do enfermeiro de prática avançada em oncologia, utilizaram-se as seguintes referências: competências do enfermeiro clínico especialista em oncologia (ONS, 2008); Declaração para Educação e Prática do Enfermeiro Clínico Especialista (NACNS, 2019); os fundamentos da educação de doutorado para prática avançada de enfermagem (AACN, 2006); e, enfermeiro de prática avançada registrado: competências em nível de doutorado (AACN, 2017). O instrumento de coleta de dados da primeira rodada (APÊNDICE B) foi elaborado em duas partes: a primeira, contou com questões sobre as características sociodemográficas dos participantes especialistas, e a segunda, foi estruturada mediante os domínios estabelecidos e as competências relacionadas. O modelo inicialmente proposto na primeira rodada com as competências centrais do ECEO foi composto por seis domínios (D1 a D6), com 112 competências, conforme apresentado na Figura 3. 56 Figura 3 – Domínios e competências centrais do enfermeiro clínico especialista em oncologia (ECEO). Fonte: a autora. Foi solicitado ao grupo de especialistas que refletissem sobre as competências centrais apresentadas e que inserissem sua opinião, avaliando-as quanto à sua relevância (a competência é um conhecimento, habilidade ou atitude necessária para o ECEO?), especificidade (a competência é declarada de forma específica e clara?) e abrangência (falta algum aspecto do conhecimento, habilidade ou atitude para o ECEO?). Utilizou-se a Escala de Likert para mensurar o grau de “concordância”, com escores variando de 1 a 3 (1 – concordo, 2 – não estou decidido e 3 – discordo). Para a opção “não estou decidido”, recomendou-se que os especialistas indicassem sugestões de alterações a respeito da competência em questão. O instrumento de coleta de dados foi disponibilizado on-line por meio da plataforma Google Forms®. A seleção dos participantes ocorreu atendendo aos critérios da técnica Delphi, a qual respeita e valoriza a experiência e o conhecimento sobre a área específica do estudo (HSU; SANDFORD, 2017). Para a seleção da amostra realizou-se uma busca na Plataforma Lattes, que é a base de dados de currículos virtuais de grupos de pesquisa e de instituições das áreas de ciência e tecnologia do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A busca avançada (por assunto) foi concretizada de duas formas, utilizando-se as Gestão do cuidado Ética e compromisso profissional Liderança Colaboração interprofissional Prática baseada em evidências Educação em saúde e pesquisa D1 – Gestão do cuidado: 43 competências. Este domínio está subdividido em: promoção da saúde e prevenção do câncer (2 competências); avaliação do estado de saúde/doença (16 competências); diagnóstico e plano de cuidados (18 competências); e, avaliação do plano de cuidados (7 competências). D2 – Ética e compromisso profissional: 13 competências. D3 – Liderança: 24 competências. D4 – Colaboração interprofissional: 10 competências. D5 – Prática baseada em evidências: 17 competências. D6 – Educação em saúde e pesquisa: 5 competências. 57 palavras: 1) oncologia OR onco-hematologia OR câncer AND enfermeiro OR enfermeira OR enfermagem OR enfermagem oncológica; e 2) práticas avançadas OR prática avançada AND enfermagem AND oncologia. Realizou-se ainda uma busca na rede social Linkedin, utilizando as mesmas palavras para selecionar a amostra. Os critérios de inclusão da pesquisa considerados na selação dos currículos nacionais, foram: a) enfermeiro especialista em oncologia ou onco- hematologia, com formação mínima de mestrado (acadêmico ou profissional) e experiência profissional na prática clínica acima de cinco anos como enfermeiro oncológico; e, b) enfermeiro com experiência em ensino e/ou pesquisa na área de oncologia ou onco- hematologia, com formação mínima de doutorado (acadêmico ou profissional). Além destas buscas foi também utilizada a amostragem de conveniência com a técnica bola de neve, em que os contatos iniciais puderam convidar e/ou indicar outros especialistas que se enquadrassem nos critérios de inclusão estabelecidos. Salienta-se que previamente a cada rodada da técnica Delphi foi realizado um teste piloto. Assim, entre dois e três juízes avaliaram o conteúdo e responderam o instrumento de coleta de dados, considerando a clareza e objetividade da linguagem/escrita, possíveis vieses de interpretação, subjetividade e/ou ambiguidade, entre outras considerações ou sugestões que julgassem necessárias. Os participantes dos testes pilotos eram enfermeiros com formação doutoral, com experiência na área assistencial, ensino e/ou pesquisa, visto a necessidade de um julgamento crítico aos formulários desenvolvidos a cada rodada. Estes não fizeram parte da amostra da pesquisa. A coleta de dados com os membros especialistas foi efetivada entre fevereiro e maio de 2021 com a aplicação do formulário em rodadas subsequentes atéobtenção de consenso, que ocorreu na terceira rodada. Para o consenso, destaca-se que o índice de concordância estabelecido na presente pesquisa foi igual ou superior a 85% de respostas na alternativa 1 (“concordo”) da Escala de Likert, em cada uma das competências apresentadas. Para a exclusão do item exibido, considerou-se um valor igual ou inferior a 50% na alternativa 3 (“discordo”). A fim de não influenciar as respostas dos especialistas optou-se por não informar a estatística/porcentagem de “concordância” das competências nos feedbacks das rodadas da técnica Delphi. A cada rodada os dados foram transferidos do Google Forms® para o programa Microsoft Excel® para análise (estatística descritiva). Na primeira rodada foram contatados 143 especialistas via correio eletrônico para o envio da carta convite que continha informações sobre a pesquisa, critérios de inclusão, orientações sobre a técnica Delphi, instruções sobre o preenchimento do instrumento, tempo previsto ao respondê-lo e prazo para a devolução. Além destas informações, também foi 58 encaminhado um material de apoio (APÊNDICE C) sobre o tema “Enfermagem de Prática Avançada em Oncologia” e o link de acesso ao instrumento on-line Google Forms®, com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE B), sendo necessário seu preenchimento para iniciar a pesquisa. No instrumento da primeira rodada foram apresentadas aos especialistas 112 competências estruturadas, divididas entre os seis domínios. Ao final de cada seção/domínio foram apresentadas duas questões abertas, fornecendo aos participantes a possibilidade de apresentarem propostas de novas competências ou sugestões de mudanças/alterações nas competências apresentadas, caso tivessem selecionado “não estou decidido”. Após o período de 01 de fevereiro a 01 de março de 2021 responderam ao formulário 25 especialistas, encerrando-se a primeira rodada. Observa-se que dois participantes foram excluídos da pesquisa nesta rodada inicial, pois quando questionados “Você já ouviu falar sobre a Enfermagem de Prática Avançada?”, a resposta foi “Não”. Desse modo, o total de especialistas permanecendo na pesquisa foi de 23. As respostas das questões abertas foram analisadas de acordo com a similaridade e relevância das opiniões expostas, comparando-as ao conteúdo existente no instrumento. Os dados foram compilados e analisados de forma minuciosa à luz da literatura científica e a partir das sugestões dos especialistas, que propuseram 13 novas competências, assim como sugeriram alterações em 13 das competências apresentadas entre os domínios. A segunda rodada da técnica Delphi ocorreu no período de 26 de março a 21 de abril de 2021. Foi contatado via correio eletrônico os 23 membros especialistas que responderam a primeira rodada, informando-os sobre os objetivos desta etapa da pesquisa, tempo previsto de resposta ao formulário, prazo considerado para o retorno e o link de acesso ao Google Forms®. O instrumento de coleta de dados foi reestruturado (APÊNDICE D), apresentando-se o feedback preliminar da primeira rodada e mantendo-se, para a análise dos especialistas, as competências que não obtiveram consenso, assim como as novas competências propostas e as competências com sugestões de alterações. Nota-se que no total foram reapresentadas 34 competências, as quais 12 não tinham obtido consenso na primeira rodada, 13 eram novas competências e nove receberam sugestões interessantes de alterações na descrição/escrita, apesar de terem atingido o consenso. Para estas nove competências foi considerada na segunda rodada duas alternativas de respostas: “concordo” (com a sugestão proposta) e “discordo” (da sugestão proposta). Assim, os participantes que selecionaram “discordo”, optaram por manter a competência “original”, já consensuada previamente, e não a nova competência proposta (ou seja, discordaram da alteração). O instrumento da segunda rodada contou com questões 59 estruturadas, assim como questões abertas, possibilitando que os participantes que selecionaram a opção “não estou decidido” propusessem novas competências ou sugerissem mudanças/alterações nas competências apresentadas. Para uma adequada avaliação pelos participantes, todas as competências consensuadas foram apresentadas na íntegra no início de cada seção/domínio. Após a análise das respostas das questões estruturadas e abertas observou- se que cinco competências permaneceram sem consenso, sendo necessária a realização de uma nova rodada para que os especialistas apresentassem suas opiniões e sugestões. A terceira rodada ocorreu de 30 de abril a 17 de maio de 2021. Foram contatados via correio eletrônico para o envio da carta convite e link de acesso ao instrumento on-line Google Forms® os 21 especialistas que responderam a segunda rodada. Nesta etapa, foi apresentado o formulário reestruturado (APÊNDICE E), contendo as cinco competências ausentes de consenso, bem como os resultados da segunda rodada, com as competências já consensuadas, o qual foram exibidas no início de cada seção/domínio. Nota-se que por se tratar da última rodada, não houve a possibilidade de sugerir ajustes/melhorias nas competências apresentadas, sendo as opções de resposta reduzidas a duas alternativas: “concordo” (aprovação da competência para o consenso final) e “discordo” (exclusão da competência para o consenso final). A redução para duas alternativas tem o intuito de facilitar a decisão dos participantes e atenuar a dispersão de dados (SCARPARO et al., 2012). Responderam ao instrumento de coleta de dados 15 especialistas, encerrando-se assim a terceira e última rodada da técnica Delphi (Figura 4). Nota-se que este estudo teve por característica o uso de diversificadas fontes, abordagens, técnicas de coleta e análise de dados, a fim de interconectar estes dados e responder a todos os objetivos propostos. 3.2 ASPECTOS ÉTICOS A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina (CEPSH-UFSC) sob o parecer número 3.445.887 e CAAE: 15517119.1.0000.0121 (ANEXO B), seguindo as diretrizes e normas regulamentadoras que envolvem pesquisas em seres humanos, observando os princípios de anonimato, autonomia, não maleficência e beneficência – Resolução n° 466 de 12 de dezembro de 2012 do Conselho Nacional de Saúde. 60 Figura 4 – Rodadas da técnica Delphi desenvolvidas na pesquisa. Fonte: a autora. Os participantes especialistas foram contatados por correio eletrônico para o envio da carta de apresentação e convite (APÊNDICE F) para as rodadas da técnica Delphi. Os Buscas em literaturas científicas e definição do modelo de formação (CNS) V A L ID A Ç Ã O D A S C O M P E T Ê N C IA S ID E N T IF IC A Ç Ã O Pesquisadores Seleção dos participantes (membros especialistas) Teste piloto – Primeira rodada Análise dos resultados do teste piloto e reestruturação do formulário Envio do formulário – Primeira rodada Respostas ao teste piloto – Primeira rodada (n=3) Respostas ao formulário – Primeira rodada (incluídos n=23, excluídos n=2) 112 competências apresentadas Análise dos resultados da primeira rodada e reestruturação do formulário Teste piloto – Segunda rodada Elaboração do formulário – Primeira rodada + Material de apoio sobre o tema Análise dos resultados do teste piloto (segunda rodada) e reestruturação do formulário Envio do formulário – Segunda rodada Análise dos resultados da segunda rodada e reestruturação do formulário Teste piloto – Terceira rodada Análise dos resultados do teste piloto (terceira rodada) e reestruturação do formulário Envio do formulário – Terceira rodada Análise dos resultados da terceira rodada econstrução da lista final de competências Membros especialistas Respostas ao teste piloto – Segunda rodada (n=2) Respostas ao formulário – Segunda rodada (n=21) 34 competências (12 ausentes de consenso, 13 novas competências e 09 reapresentadas) Respostas ao teste piloto – Terceira rodada (n=2) Respostas ao formulário – Terceira rodada (n=15) 05 competências 61 participantes receberam ainda o TCLE (conforme APÊNDICE B) com a descrição dos objetivos da pesquisa e a metodologia adotada, assegurando o direito de acesso aos dados, garantindo a sigilo de identidade, bem como seu direito de retirar o seu consentimento em qualquer momento da pesquisa, sem nenhuma sanção, prejuízo, dano ou desconforto. Somente após a assinatura do TCLE foi iniciado a coleta de dados. A participação neste estudo foi voluntária, não acarretando custos ou pagamentos pela participação. Observa-se que os dados coletados foram utilizados exclusivamente para fins de pesquisa, sendo arquivados em computador pessoal do pesquisador em pasta protegida por senha e armazenado por cinco anos, devendo ser deletado após este período. 62 4 RESULTADOS Os resultados do estudo serão apresentados no formato de três manuscritos, conforme preconizado pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem. 4.1 MANUSCRITO 1: FORMAÇÃO DE ENFERMEIROS DE PRÁTICA AVANÇADA EM ONCOLOGIA PARA O MELHOR CUIDADO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA* Franciane Schneider3 https://orcid.org/0000-0002-7187-0906 Silvana Silveira Kempfer3 https://orcid.org/0000-0003-2950-9049 Vânia Marli Schubert Backes4 https://orcid.org/0000-0002-8898-8521 RESUMO Objetivo: Buscar evidências da formação de enfermeiros de prática avançada mediante a atuação clínica e os cuidados de enfermagem com pacientes oncológicos. Método: Revisão sistemática com busca nas bases de dados: MEDLINE-PubMed, LILACS, Web of Science, Scopus, CINAHL e Cochrane CENTRAL. Realizou-se também uma busca manual na lista de referências e no Google Scholar. Para a avaliação da qualidade metodológica dos estudos utilizaram-se as ferramentas: Cochrane Collaboration Risk of Bias Tool (RoB 1) para os ensaios clínicos randomizados e Risk of Bias in Non-randomised Studies of Interventions (ROBINS-I) para os quasi-experimentais. Resultados: Foram identificados 12 estudos experimentais. A principal intervenção identificada nos estudos foi a orientação educacional. Os estudos apresentaram melhora no controle da dor ou outros sintomas relacionados a doença e/ou tratamento, satisfação e melhora na qualidade de vida dos pacientes com câncer. Conclusão: Observa-se que há estudos que demonstram o valor da enfermagem de prática avançada no cenário da oncologia mediante uma formação clínica diferenciada e atuação profissional avançada. Número de registro da revisão sistemática: CRD42018098906. Palavras-chave: Enfermagem oncológica. Prática avançada de enfermagem. Resultado do tratamento. Enfermagem baseada em evidências. Revisão. *Artigo publicado na Revista da Escola de Enfermagem da USP. SCHNEIDER, F.; KEMPFER, S. S.; BACKES, V. M. S. Training of advanced practice nurses in oncology for the best care: a systematic review. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 55, e03700, 2021. https://doi.org/10.1590/S1980-220X2019043403700. 3 Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Florianópolis, SC, Brasil. 4 Universidade Estadual de Maringá, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Maringá, PR, Brasil. https://orcid.org/0000-0002-7187-0906 https://orcid.org/0000-0003-2950-9049 https://orcid.org/0000-0002-8898-8521 63 ABSTRACT Objective: To search for evidence on the training of advanced practice nurses, through clinical practice and nursing care with cancer patients. Method: Systematic review, searching the databases: MEDLINE-PubMed, LILACS, Web of Science, Scopus, CINAHL and Cochrane CENTRAL. A manual search of the reference list and Google Scholar was also carried out. To assess the methodological quality of the studies, the following tools were used: Cochrane Collaboration Risk of Bias Tool (RoB 1) for randomized controlled trials and Risk of Bias in Non-randomized Studies of Interventions (ROBINS-I) for quasi-experimental studies. Results: A total of 12 experimental studies were identified. The main intervention identified in the studies was educational guidance. The studies showed improvement in pain control or other symptoms related to disease and/or treatment, satisfaction and improvement in the quality of life of cancer patients. Conclusion: It is observed that there are studies that demonstrate the value of advanced practice nursing in oncology, through differentiated clinical training and advanced professional performance. Registration number of the systematic review: CRD42018098906. Keywords: Oncology nursing. Advanced practice nursing. Treatment outcome. Evidence- based nursing. Review. RESUMEN Objetivo: Buscar evidencias de la capacitación de los enfermeros de práctica avanzada mediante la actuación clínica y los cuidados de enfermería de pacientes oncológicos. Método: Se trata de una revisão sistemática, con búsqueda realizada en las bases de datos: MEDLINE- PubMed, Lilacs, Web of Science, Scopus, Cinahl y Cochrane CENTRAL. Se llevó a cabo, también, una búsqueda manual en la lista de referencias y en el Google Scholar. Para evaluar la calidad metodológica de los estudios se utilizaron las herramientas: Cochrane Collaboration Risk of Bias Tool (RoB 1) para los ensayos clínicos randomizados y el Risk of Bias in Non- randomised Studies of Interventions (ROBINS-I) para los cuasi experimentales. Resultados: Se identificaron doce estudios experimentales. La principal intervención encontrada fue la orientación educativa. Los estudios mostraron una mejora en el control del dolor u otros síntomas relacionados con la enfermedad y/o el tratamiento, satisfacción y mejora de la calidad de vida de los pacientes con cáncer. Conclusión: Se observa que hay estudios que demuestran el valor de la enfermería de práctica avanzada en el escenario oncológico, a través de una formación clínica diferenciada y una actuación profesional avanzada. Número de registro de la revisão sistemática: CRD42018098906. Palabras-clave: Enfermería oncológica. Enfermería de práctica avanzada. Resultado del tratamiento. Enfermería basada en la evidencia. Revisión. 64 INTRODUÇÃO Há no mundo um interesse crescente em adotar práticas capazes de inovar e melhorar sistemas de saúde para responder aos problemas decorrentes das necessidades das populações, principalmente com o aumento das doenças crônicas. Parte desses problemas relaciona-se à força de trabalho em saúde, a carência de profissionais, além de formação compatível para prover cuidados de saúde com qualidade (MIRANDA NETO et al., 2018). Na contemporaneidade, uma das inovações em pauta e com amplas discussões na saúde é a enfermagem de prática avançada (EPA). A EPA originou-se no Canadá e nos Estados Unidos da América (EUA) há mais de 40 anos. Desde então, gradativamente, diversos países vêm estruturando tal prática, mediante a preparação educacional, a reformulação e/ou criação de regulamentações específicas, a definição do papel e formas de atuação profissional para um cuidado de saúde expandido e de excelência (ICN, 2014; OLÍMPIO et al., 2018). De acordo com o International Council of Nurses (ICN) (2020), o enfermeiro de prática avançada é aquele que adquiriu a base de conhecimentos especializados, habilidades complexas de tomada de decisão e competências clínicas para uma prática expandida, cujas características são moldadas conforme o contexto de cada país e de acordo com os diversos cenários de prática existente,sendo necessária a preparação educacional a nível avançado – o mestrado é recomendado. Nota-se ainda que, em alguns países, a EPA teve uma formação educacional para além do nível de mestrado, para que assim fosse possível a expansão do escopo de sua prática (ZUG et al., 2016). Há diferentes terminologias adotadas no mundo para identificar a prática avançada do enfermeiro, entretanto, os termos comumente utilizados para se referir a esse profissional habilitado são: nurse practitioner (NP) e clinical nurse specialist (CNS). O NP tende a ter maior envolvimento no atendimento clínico, possui um escopo expandido de prática clínica que lhes dá autonomia para coordenar diagnósticos e prescrever tratamentos e/ou medicamentos. Já o CNS, frequentemente possui maior responsabilidade por atividades não clínicas, como a educação, liderança de melhorias na qualidade da assistência (desenvolvimento de diretrizes e protocolos clínicos) e gestão dos serviços de saúde, além de fornecer cuidados altamente complexos e especializados (BRYANT-LUKOSIUS; MARTIN-MISENER, 2016). Estudos internacionais têm demonstrado o impacto positivo do papel do enfermeiro de prática avançada na melhoria dos resultados de saúde com o paciente, bem como na qualidade da assistência e na resolutividade das adversidades dos sistemas de saúde (BRYANT- 65 LUKOSIUS et al., 2017). Atualmente, mais de 70 países estão interessados em implantar a prática avançada em enfermagem, assim como existem diferentes estágios de desenvolvimento de suas funções (BRYANT-LUKOSIUS; MARTIN-MISENER, 2016). Destaca-se que no Brasil a implantação da EPA na Atenção Primária vem sendo discutida com maior ênfase como uma resposta às crescentes necessidades de saúde da população e dificuldades de acesso aos recursos humanos (BEZERRIL et al., 2018; OPAS, 2018), embora existam distintos campos para a atuação profissional. A estimativa mundial mostra que, em 2018, ocorreram 18,1 milhões de casos novos de câncer e 9,6 milhões de óbitos (BRAY et al., 2018). Estima-se para o Brasil, no biênio 2020- 2022, a ocorrência de 625 mil casos novos de câncer para cada ano (INCA, 2019). De acordo com esses dados de incidência e prevalência, é notória a importância de profissionais qualificados, com conhecimentos, habilidades e atitudes específicas para atuar com o perfil de paciente com necessidades complexas de cuidado, destacando-se assim a implantação da EPA no cenário da oncologia (WUJCIK, 2016). Alguns estudos avaliaram os papéis, as responsabilidades, os padrões de prática clínica e a produtividade dos enfermeiros de prática avançada em oncologia (HINKEL et al., 2010; NEVIDJON et al., 2010; TOWLE et al., 2011), com o objetivo de obter dados para preencher a lacuna da força de trabalho existente nesse campo de atuação devido ao aumento da população com diagnóstico de câncer e seus sobreviventes (MCCORKLE et al., 2012). Os enfermeiros de prática avançada em oncologia proporcionam cuidados de alta qualidade e sua implementação soluciona a carência de profissionais com competências específicas para o cuidado prestado a essa população (CUNNINGHAN, 2004; BROWN, 2011; TOWLE et al., 2011). Contudo, observa-se que a atuação desse profissional se torna um desafio devido à variabilidade e à complexidade da prática, somado ao surgimento de novos e mutáveis conhecimentos da área nos últimos anos. Atualmente, os pacientes são diagnosticados mais precocemente e vivem mais. Há tratamentos com quimioterapia tradicional, porém a genômica, bem como as outras ciências ômicas (transcriptômica/proteômica/epigenômica/metabolômica/farmacogenômica), juntamente com a bioinformática e os biomarcadores - os quais compõem os três pilares interdisciplinares da Medicina Personalizada - vem determinando as escolhas terapêuticas com mais acurácia e precisão, em especial na oncologia. A exemplo da imunoterapia que se tornou um tratamento de primeira linha para alguns tipos de câncer (LOPES-JÚNIOR et al., 2016; ONCOLY NURSING SOCIETY, 2019). Esses avanços tecnológicos mudam continuamente os cuidados aos pacientes com câncer e, consequentemente, refletem no papel da EPA em oncologia desenvolvido nos diversos ambientes de atendimento (ONS, 2019). 66 Dessa forma, o objetivo deste estudo é buscar evidências da formação de enfermeiros de prática avançada mediante a atuação clínica e os cuidados de enfermagem com pacientes oncológicos. MÉTODO Tipo de estudo Trata-se de uma revisão sistemática norteada pelas recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) Checklist (MOHER et al., 2009). O protocolo de revisão sistemática foi registrado no International Prospective Register of Systematic Reviews (PROSPERO), sob o número CRD42018098906 (SCHNEIDER; KEMPFER; BACKES, 2018). Coleta de dados A pergunta norteadora da revisão elaborada com base na estratégia PICO (METHLEY et al., 2014) foi: a formação de enfermeiros de prática avançada resulta em melhor desempenho clínico e cuidados de enfermagem em pacientes com câncer? O levantamento eletrônico dos dados ocorreu nas seguintes bases: Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) – via National Library of Medicine; National Institutes of Health (Pubmed); Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS); Institute for Scientific Information (ISI) Web of Knowledge – via Web of Science; Scopus; Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL- EBSCO); Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL). Além disso, realizou- se uma busca manual na lista de referências dos artigos selecionados a fim de não perder evidências e uma busca na literatura cinzenta através do Google Scholar. Como critérios de elegibilidade foram considerados: estudos experimentais (ensaios clínicos randomizados e quasi-experimentos) que demonstrassem resultados de desempenho da EPA no cuidado a pacientes com câncer. Foram incluídos estudos publicados na íntegra, em qualquer idioma, sem limite temporal do ano de publicação. 67 Estratégia de busca Os descritores foram selecionados a partir do Medical Subject Headings Section (MeSH), Descritores em Ciências da Saúde (DeCs) e CINAHL Subject Headings. Foram utilizados os seguintes termos de busca na MEDLINE (via Pubmed), adaptando-se a estratégia para outras bases de dados: ("oncology nursing" OR "oncology" AND "nursing" OR "oncology nursing") AND ("advanced practice nursing" OR "advanced" AND "practice" AND "nursing" OR "advanced practice nursing" OR "nurse practitioners" OR "nurse" AND "practitioners" OR "nurse practitioners" OR "nurse clinicians" OR "nurse" AND "clinicians" OR "nurse clinicians" OR "education, nursing, graduate" OR "education" AND "nursing" AND "graduate" OR "graduate nursing education" OR "education" AND "nursing" AND "graduate" OR "education, nursing, graduate") AND ("treatment outcome" OR "treatment" AND "outcome" OR "treatment outcome" OR "evidence-based practice" OR "evidence-based" AND "practice" OR "evidence-based practice" OR "evidence" AND "based" AND "practice" OR "evidence based practice" OR "evidence-based nursing" OR "evidence-based" AND "nursing" OR "evidence-based nursing" OR "evidence" AND "based" AND "nursing" OR "evidence based nursing" OR "outcome assessment (health care)" OR "outcome" AND "assessment" AND "(health" AND "care)" OR "outcome assessment (health care)" OR ("outcome" AND "assessment" OR "outcome assessment" AND "delivery of health care" OR "delivery" AND "health" AND "care" OR "delivery of health care" OR "health" AND "care" OR "health care" OR "quality of health care" OR "quality" AND "health" AND "care" OR "quality of health care" OR ("patient outcome assessment" OR "patient" AND "outcome" AND "assessment" OR "patient outcome assessment" OR "patient satisfaction"OR "patient" AND "satisfaction" OR "patient satisfaction"). Após a coleta, os dados foram organizados mediante o uso do software EndNote Web®, que excluiu os estudos duplicados. A busca nas bases eletrônicas de dados ocorreu em 15 de julho de 2018 e foi atualizada em 15 de dezembro de 2019. Seleção de estudos Com o intuito de assegurar a qualidade da revisão sistemática e evitar vieses, realizou- se a seleção dos estudos em duas etapas: 1) dois investigadores (F.S. e S.S.K.) examinaram individualmente os títulos e resumos dos artigos que possivelmente cumpririam os critérios de inclusão; 2) os mesmos investigadores leram, individualmente e na íntegra, os artigos 68 selecionados e excluíram os que não cumpriam os critérios de inclusão. Os casos de divergência entre os investigadores, em qualquer uma das etapas mencionadas, sucederam discussões para o consenso. Na ausência de um acordo, um terceiro investigador (V.M.S.B) foi envolvido no processo de decisão. Processo de coleta de dados Para a extração dos dados utilizou-se um formulário elaborado para o presente estudo que adotou as orientações fornecidas pela Cochrane Collaboration (HIGGINS; GREEN, 2011) no que se refere ao conteúdo e à estrutura. Esse formulário pré-estabelecido incluiu as seguintes informações: identificação do estudo (título, periódico, ano de publicação, volume, número e autores); e, objetivos e método (método de randomização, ocultação, número de pacientes randomizados, descrição de perda de acompanhamento, critérios de inclusão e exclusão, características clínicas, intervenção nos grupos experimental e controle, análise de dados e desfechos). Assim, também compreendeu outras informações julgadas relevantes, como: país e área/cenário de desenvolvimento do estudo e formação/titulação profissional. A coleta dos dados ocorreu de forma independente pelos dois investigadores (F.S. e S.S.K.), para posterior validação e concordância. O terceiro investigador (V.M.S.B) avaliou todos os dados coletados para decisão final. Ao considerar que a maioria dos estudos analisados apresentou diferenças metodológicas significativas, tais como: área de atuação clínica e/ou especialidade heterogêneas; perfil dos participantes; características das intervenções; e, desfechos clínicos, a realização da meta-análise foi inviabilizada. Portanto, foi realizada na presente revisão sistemática uma síntese qualitativa para apresentação dos dados. Risco de viés de estudos individuais No que concerne a avaliação da qualidade metodológica dos ensaios clínicos randomizados selecionados utilizou-se a ferramenta Cochrane Collaboration Risk of Bias Tool (RoB 1) (HIGGINS; GREEN, 2011), a qual avalia sete domínios: 1) Alocação da sequência de randomização (viés de seleção); 2) Sigilo da alocação (viés de seleção); 3) Cegamento dos participantes e equipe envolvida (viés de performance); 4) Cegamento de avaliadores de desfecho (viés de detecção); 5) Desfechos incompletos (viés de atrito); 6) Relato de desfecho seletivo (viés de publicação); e, 7) Outras fontes de viés. Com base nesses domínios avaliados, 69 os estudos são classificados em risco de viés baixo, alto ou incerto (HIGGINS; GREEN, 2011). Com relação aos estudos quasi-experimentais, utilizou-se a ferramenta Risk of Bias in Non- randomised Studies of Interventions (ROBINS-I) (STERNE et al., 2016), que avalia sete domínios: viés de confusão; viés de seleção dos participantes do estudo; viés de classificação das intervenções; viés devido a desvios das intervenções propostas; viés de informação (missing); viés de mensuração dos desfechos; e, viés de relato seletivo de desfechos. Os dois primeiros domínios referem-se ao período de pré-intervenção, o terceiro está relacionado ao período de intervenção e os quatro últimos domínios estão relacionados ao período pós- intervenção (STERNE et al., 2016). Em cada item os estudos foram classificados como baixo, moderado, sério ou crítico em relação ao risco de viés. Posteriormente, os estudos foram classificados de forma geral em baixo (baixo risco em todos os domínios), moderado (risco baixo ou moderado em todos os domínios), sério (risco sério em pelo menos um domínio) e crítico (risco crítico em pelo menos um domínio). Dois pesquisadores realizaram esse processo de forma independente (F.S. e S.S.K.). As discordâncias entre os dois revisores foram resolvidas por um terceiro pesquisador (V.M.S.B). Para a apresentação gráfica do risco de viés dos estudos utilizou-se a ferramenta The Cochrane Collaboration’s Review Manager 5® (RevMan 5), assim como para os ensaios clínicos randomizados, além do Risk-of-bias VISualization® (Robvis) para os quasi- experimentos. RESULTADOS A Figura 1 (Flow Diagram) detalha o processo de identificação, inclusão e exclusão de estudos. Foram identificados 12 estudos experimentais, dez ensaios clínicos randomizados e dois quasi-experimentos, com resultados de desempenho da EPA no cuidado a pacientes com câncer. Os estudos selecionados foram publicados entre os anos de 2000 e 2017, embora a maioria dos estudos (83,3%) tenha sido publicado nos últimos dez anos, e todos na língua inglesa. Os EUA publicaram 75% dos estudos, enquanto a Inglaterra, Holanda e Coréia do Sul publicaram 8,3% cada. Com relação à área de realização dos estudos, estas foram: tratamento quimioterápico (25%); cuidados paliativos (16,7%); câncer ginecológico (16,7%); câncer de mama (8,3%); câncer de pulmão (8,3%); oncologia pediátrica (8,3%); sobreviventes de câncer (8,3%); e, atenção domiciliar (8,3%). No Quadro 1 estão resumidas as características descritivas dos estudos experimentais incluídos nesta revisão sistemática. 70 Figura 1 – Fluxograma de seleção dos artigos da revisão sistemática. Fonte: a autora. Estudos identificados por meio da busca nas bases de dados (n = 1167) CINAHL-EBSCO n = 19 LILACS n = 01 MEDLINE via Pubmed n = 719 Scopus n = 01 ISI Web of Knowledge via Web of Science n = 212 Cochrane CENTRAL n = 215 T R IA G E M IN C L U ÍD O S E L E G IB IL ID A D E ID E N T IF IC A Ç Ã O 1 .1 Estudos adicionais identificados por outras fontes (n = 162) Google Scholar n = 161 Estudos adicionais identificados na lista de referências n = 01 Estudos duplicados removidos (n = 64) Estudos selecionados (n = 1265) Estudos excluídos (n = 1234) Artigos de texto completo avaliados para elegibilidade (n = 31) Artigos de texto completo excluídos (n = 19) Desenho do estudo (n = 10); Outros profissionais envolvidos no estudo ou nos resultados (n = 06); Avaliação de projeto, programa ou serviço (n = 03). Estudos incluídos na análise qualitativa (n = 12) Estudos incluídos na análise quantitativa (meta-análise) (n = 0) 71 Quadro 1 – Resumo das características dos estudos incluídos. Características do estudo População Intervenção Autores, país, ano, revista, área e/ou cenário Desenho / método Objetivo Nº total Formação / titulação GI* / GC† Principais resultados Bakitas et al. EUA 2009 Journal of the American Medical Association Cuidados paliativos Ensaio clínico controlado randomizado (paralelo) Determinar o efeito de uma intervenção de enfermagem na qualidade de vida, intensidade dos sintomas, humor e recursos utilizados em pacientes com câncer avançado 277 EPA‡ Cuidados oncológicos usuais vs intervenção psicoeducacional conduzida por EPA‡ (consistiu em 4 sessões educacionais semanais e sessões de acompanhamento mensais até a morte ou conclusão do estudo) GI*: n=143 GC†: n=134 Maior qualidade de vida (p=0,02), menor humor deprimido (p=0,02)e tendência a menor intensidade dos sintomas (p=0,06) Aumento da sobrevida: 5,5 meses A sobrevida mediana foi de 14 meses (IC95%= [10,6-18,4]) para o grupo de intervenção e 8,5 meses (IC95%= [7,0-11,1]) para o grupo de tratamento habitual (p=0,14) Cox et al. EUA 2016 Oncology Nursing Forum Oncologia Pediátrica Ensaio clínico controlado randomizado (paralelo) Documentar os custos de rastreamento por sobreviventes conforme o plano de cuidados com ou sem aconselhamentos do EPA‡ 411 EPA‡ Envio de um “plano de cuidados de sobrevivência” pelo correio, com aconselhamento por telefone do EPA‡ ou plano de cuidados sem aconselhamento por telefone GI*: n=205 GC†: n=206 A intervenção motivou a participação dos pacientes no estudo de função do ventrículo esquerdo em 30% quando comparado com o controle – aumento do rastreio Adicionar o aconselhamento do EPA‡ a um plano de cuidados de sobrevivência pode ajudar a preservar a saúde cardíaca com pouco ou nenhum custo por sobrevivente Dyar et al. EUA 2012. Journal of Palliative Medicine Cuidados Paliativos Ensaio clínico controlado randomizado (paralelo) Avaliar os resultados de qualidade de vida em pacientes com câncer avançado que receberam intervenções de cuidados paliativos baseados em discussões com NP§ 26 NP§ Tratamento padrão vs intervenção por NP§ (discussões sobre os benefícios do hospice, discussões sobre testamentos em vida e diretivas antecipadas, juntamente com uma avaliação da qualidade de vida). GI*: n=12 GC†: n=14 Melhoras estatisticamente significativas foram observadas nas avaliações iniciais no domínio emocional (p=0,0106) e mental (p=0,02) da qualidade de vida no grupo de intervenção Os pacientes acharam útil ter o testamento vital e os documentos das diretivas oferecidos como parte da intervenção do NP§ Hudson et al. EUA e Canadá 2014 Journal of Clinical Oncology Sobreviventes de Cânceres Ensaio clínico controlado randomizado (paralelo) Determinar se o acréscimo do aconselhamento por telefone do EPA‡ a um plano de cuidados de sobrevivência aumenta significativamente a proporção de sobreviventes em risco 472 EPA‡ O atendimento padrão consistiu de um plano de cuidados de sobrevivência resumindo o tratamento do câncer e recomendações de triagem de saúde cardíaca. A intervenção consistiu do tratamento padrão + 2 sessões de aconselhamento por telefone com EPA‡ GI*: n=238 GC†: n=234 Acompanhamento de 1 ano: 107 (52,2%) de 205 sobreviventes no grupo EPA‡ completaram a triagem comparada com 46 (22,3%) dos 206 sobreviventes no grupo não EPA‡ Os sobreviventes do grupo EPA‡ foram >2 vezes mais provável do que aqueles no grupo controle para completar a triagem cardiomiopatia recomendada nos 2 ou 5 anos 72 Características do estudo População Intervenção que completam a triagem de cardiomiopatia de acompanhamento (RR= 2,31; IC95%: 1,74- 3,07; (p<0,001) Os sobreviventes do grupo controle tinham maior probabilidade de relacionar a falta de recomendação médica como motivo para não concluir a triagem de cardiomiopatia quando comparada com as do grupo de aconselhamento com EPA‡ (p=0,02) Kim Coréia do Sul 2011 Clinical Journal of Oncology Nursing Tratamento quimioterápico Estudo quasi- experimental Demonstrar o efeito de intervenções oncológicas do CNS|| em pacientes com câncer em tratamento quimioterápico 112 EPA‡ CNS|| Intervenção: consistiu de pacientes que foram tratados por um CNS|| oncológico Controle: composto por pacientes que não foram tratados por CNS|| Atuação do CNS||: educação, cuidado direto, aconselhamento, pesquisa e liderança GI*: n=65 GC†: n=47 Intervenções realizadas pelo CNS|| diminuíram a dor em 69% e a fadiga 77% Houve aumento da qualidade de vida relacionada à saúde, sendo 4,43 vezes maior no grupo intervenção (IC95%= [1,34- 14,66]; p=0,02) A satisfação global com o grupo intervenção foi 0,2 vezes maior do que com o grupo controle (IC95%= [0,07-0,57]; p<0,01) e a satisfação com as habilidades técnicas do CNS|| foi 0,24 vezes maior (IC95%= [0,08-0,69]; p<0,01) A facilidade de acesso ao aconselhamento com um CNS|| foi 7,93 vezes maior que o aconselhamento com outros profissionais (IC95%= [1,05- 59,82]; p=0,05) Mccorkle et al. EUA 2000 Journal of the American Geriatrics Society Atenção domiciliar Ensaio clínico controlado randomizado (paralelo) Comparar o tempo de sobrevida de pacientes idosos pós-cirúrgicos que receberam uma intervenção especializada em atenção domiciliar realizada por EPA‡ com a de pacientes que receberam acompanhamento habitual em ambiente ambulatorial 375 EPA‡ Intervenção: um protocolo padronizado que consistiu em avaliação padrão e gerenciamento de orientações pós- cirúrgicas, doses de conteúdo instrucional e horários de contatos por um período de 4 semanas, que consistiu em 3 visitas domiciliares e 5 contatos telefônicos fornecidos por EPA‡. Tanto os pacientes quanto seus familiares receberam avaliações clínicas abrangentes, monitoramento e ensino, incluindo treinamento de habilidades Entre os pacientes em estágio avançado, o tempo de sobrevida foi consideravelmente melhor no grupo de intervenção A sobrevida em 2 anos, nos casos de grupos de intervenção em estágio avançado, foi de 67% em comparação com 40% entre os casos controle O risco relativo de morte no grupo de cuidados habituais foi de 2,04 (IC95%= [1,33-3,12]; p=0,001) Mccorkle et al. EUA Ensaio clínico Avaliar a qualidade de vida relacionada à saúde, necessidades 123 EPA‡ Intervenção: recebeu 6 meses de atendimento por EPA‡; o principal objetivo da intervenção foi ajudar os pacientes a O efeito da intervenção melhora a qualidade de vida das pacientes 73 Características do estudo População Intervenção 2009 Psycho- oncology Câncer ginecológico controlado randomizado (paralelo) físicas e psicológicas complexas após a cirurgia e durante o tratamento quimioterápico desenvolver e manter habilidades de autogerenciamento no pós-operatório e facilitar sua participação ativa nas decisões que afetam o tratamento. Além disso, mulheres com alto sofrimento foram avaliadas e monitoradas por EPA‡ psiquiátrica Controle: foram designados para um assistente de pesquisa que utilizou um manual escrito com informações sobre sintomas comumente experimentados e ligações para o seu oncologista quando necessário GI*: n=63 GC†: n=60 A taxa de melhora na “escala de incertezas” foi significativamente maior para o grupo de intervenção (p=0,0006) O componente EPA‡ psiquiátrica foi encontrado para aumentar significativamente a taxa de melhora ao longo do tempo para incertezas (p=0,0181), sintomas de aflição (p<0,0001), saúde mental (p=0,0001) e física (p<0,0001) Mccorkle et al. EUA 2011 Nursing Research Câncer ginecológico Ensaio clínico controlado randomizado (paralelo) Avaliar a efetividade de intervenções fornecidas por EPA‡ (oncológica e psiquiátrica) em pacientes submetidos a cirurgia ginecológica 121 EPA‡ Intervenção: 16 contatos realizados por EPA‡: manejo dos sintomas, aconselhamento, educação, cuidados diretos de enfermagem, coordenação de recursos e encaminhamentos. Controle: 9 contatos que incluíam instruções sobre o uso de um kit de ferramentas de gerenciamento de sintomas e estratégias sobre como gerenciar os sintomas GI*: n=59 GC†: n=62 Pacientes que receberam a intervenção do EPA‡ relataram menos visitas nos seus prestadores de cuidados primários (p=0,0003) As mulheres que relataram mais visitas (grupo controle) nos seus prestadores de cuidados primários relataramtambém mais sintomas depressivos O grupo de intervenção visitou a emergência com mais frequência porque o EPA‡ instruiu os pacientes a irem quando reconheceram sintomas que necessitavam de cuidados urgentes (0,38 vs 0,28 do grupo controle) Moore et al. Inglaterra 2002 British Medical Journal Câncer de pulmão Ensaio clínico controlado randomizado (paralelo) Avaliar a efetividade do acompanhamento do enfermeiro no manejo de pacientes com câncer de pulmão 203 CNS|| Acompanhamento médico convencional vs intervenção: CNS|| liderou o acompanhamento de pacientes ambulatoriais GI*: n=100 GC†: n=103 A aceitação pelo paciente do acompanhamento conduzido por CNS|| foi alta: 75% (203/271 pacientes) Pacientes da intervenção: apresentaram menos dispneia grave aos 3 meses (p=0,03) e tiveram melhores escores no funcionamento emocional (p=0,03), além de menos neuropatia periférica (p=0,05) aos 12 meses Pontuaram significativamente melhor na maioria das subescalas de satisfação aos 3, 6 e 12 meses (p<0,01 para todas as subescalas aos 3 meses) 74 Características do estudo População Intervenção CNS|| registraram progressão dos sintomas mais cedo que os médicos (p=0,01) Os pacientes que receberam acompanhamento do CNS|| morreram mais em casa ao invés de no hospital (p=0,04), compareceram a menos consultas com um médico durante os primeiros 3 meses (p=0,004), realizaram menos radiografias durante os primeiros 6 meses (p=0,04) Spoelstra et al. EUA 2017 Clinical Journal of Oncology Nursing Tratamento quimioterápico Estudo quasi- experimental Refinar uma intervenção liderada por NP§ para promover a adesão à medicação e ao manejo de sintomas em adultos com câncer recentemente prescritos (fase 1) Explorar viabilidade, eficácia preliminar com adesão e gravidade dos sintomas e satisfação do paciente (fase 2) 54 EPA‡ NP§ Cuidados habituais: instruções sobre o regime do antineoplásico oral, efeitos colaterais comuns, gerenciamento de sintomas, maneiras de lembrar de tomar, segurança da medicação e quando contatar o provedor vs intervenção: uma sessão de 30 min. face a face (semana 1) com NP§ na clínica, seguido de três ligações semanais com NP§ (semanas 2, 3 e 4); a NP§ discutiu adesão à medicação, gestão de sintomas e dicas de segurança, bem como forneceu um kit de ferramentas que consiste em estratégias para apoiar a autogestão GI*: n=24 GC†: n=30 Comparações semanais de número e gravidade dos sintomas favoreceram o grupo intervenção, com significância alcançada nas semanas 2 e 5 (p=0,03-0,05) A grande maioria dos pacientes relataram que estavam satisfeitos com o conteúdo da intervenção, bem como sua utilidade Traeger et al. EUA 2015 Cancer Tratamento quimioterápico Ensaio clínico controlado randomizado (paralelo) Reduzir a carga de sintomas relatados pelo paciente, facilitando a colaboração entre pacientes e NP§ no manejo precoce dos sintomas 120 NP§ Tratamento padrão: os pacientes recebem uma visita clínica no primeiro dia de cada ciclo de administração de quimioterapia e ligavam para a clínica conforme necessidade vs tratamento padrão + intervenção (orientação e apoio pró-ativo do NP§ por telefone durante os dois primeiros ciclos de administração de quimioterapia, utilizando julgamento clínico e intervenção centrada no paciente) GI*: n=60 GC†: n=60 Satisfação com o atendimento foi relativamente alta Independente do grupo randomizado, tanto o número de sintomas (p<0,001) quanto o sintoma de angústia (p<0,001) aumentaram A satisfação com o cuidado aumentou (p=0,004), enquanto a probabilidade de sintomas de ansiedade diminuiu (p=0,02) Aproximadamente 93,3% dos pacientes no grupo de intervenção relataram que a intervenção foi útil (56/60 pacientes) Visser et al. Holanda 2015 Ensaio clínico Avaliar a viabilidade da educação do autoexame de mama 37 NS|| Mulheres em ambos os grupos foram educadas sobre o autoexame de mama por 62% aumentaram a frequência de autoexame de mama depois de receberem educação 75 Características do estudo População Intervenção Clinical Nurse Specialist Journal Câncer de mama controlado randomizado (paralelo) liderada por CNS|| como parte da vigilância do BRCA¶ Avaliar os efeitos e a viabilidade de folhetos de informação escritos sobre o autoexame de mama uma CNS|| especialmente treinada durante a visita anual ao ambulatório Intervenção: recebeu instruções escritas adicionais, além da educação para o autoexame GI*: n=15 GC†: n=14 Aumento global significativo na frequência de autoexame de mama após a educação, em comparação com a frequência antes da educação – independentemente do recebimento de material educativo (p<0,001) A satisfação geral do paciente com a educação sobre autoexame das mamas no ambulatório foi de 4,3 em uma escala de 5 pontos A satisfação do paciente com os materiais educativos escritos obteve pontuação de 4,2 em uma escala de 5 pontos Tendência para uma associação positiva entre a satisfação do paciente com a educação sobre o autoexame de mama liderada pelo CNS|| e a frequência de sua realização (p=0,055) *GI – Grupo Intervenção; †GC – Grupo Controle; ‡EPA – Enfermeiro de Prática Avançada (Advanced Practice Nurse); §NP – Enfermeiro de Cuidados Diretos (Nurse Practitioners); ||CNS – Enfermeiro Clínico Especialista (Clinical Nurse Specialist); ¶BRCA – gene do câncer de mama (do inglês Breast Cancer). (n=12). Fonte: a autora. 76 As principais intervenções identificadas nos estudos realizadas pelos enfermeiros de prática avançada foram: orientações educacionais 58,3% (MCCORKLE et al., 2000; 2009; 2011; BAKITAS et al., 2009; DYAR et al., 2012; VISSER et al., 2015; SPOELSTRA et al., 2017); além de aconselhamentos por telefone 41,7% (MCCORKLE et al., 2000; HUDSON et al., 2014; TRAEGER et al., 2015; COX et al., 2016; SPOELSTRA et al., 2017); coordenação de cuidados 25% (MOORE et al., 2002; 2011; KIM, 2011); manejo e controle de sintomas 25% (KIM, 2011; MCCORKLE et al., 2011; SPOELSTRA et al., 2017); avaliação clínica 16,7% (MCCORKLE et al., 2000; TRAEGER et al., 2015); e, auxílio nas tomadas de decisões clínicas 16,7% (MCCORKLE et al., 2009; DYAR et al., 2012). Como principais resultados e conclusões dos estudos selecionados, identificou-se: satisfação em 36,4% (MOORE et al., 2002; KIM, 2011; TRAEGER et al., 2015; VISSER et al., 2015; SPOELSTRA et al., 2017); melhora no controle de dor ou outros sintomas relacionados a doença e/ou tratamento em 36,4% (MOORE et al., 2002; BAKITAS et al., 2009; KIM, 2011; MCCORKLE et al., 2011; SPOELSTRA et al., 2017); melhora na qualidade de vida dos pacientes com câncer 27,3% (DYAR et al., 2009; MCCORKLE et al., 2009; KIM, 2011; BAKITAS et al., 2012); apoio em relação aos aspectos psicológicos, diminuindo as preocupações dos pacientes com a doença e/ou tratamento, amenizando sintomas como ansiedade (TRAEGER et al., 2015) e melhorando o humor (BAKITAS et al., 2009). Dois estudos (MCORKLE et al., 2000; BAKITAS et al., 2009) apresentaram melhora na sobrevida dos pacientes oncológicos quando acompanhados por um enfermeiro de prática avançada. Outros dois estudos demonstraram a atuação de enfermeiros de prática avançada na realização de educação e desejos dos pacientes em fim de vida, respeitando as preferências e escolhas em relação ao local do seu óbito (MOORE et al., 2002), assim como demonstrando a possibilidade da decisão compartilhada após orientações específicas (DYAR et al., 2012). A Figura 2 detalha o risco de viés individual dos ensaios clínicos randomizados selecionados. Dois estudos foram classificados com baixo risco de viés nos sete domínios avaliados (MCCORKLE et al., 2000;MOORE et al., 2002). Cinco estudos mostraram risco incerto e/ou alto risco de viés de seleção devido à fragilidades na descrição da estratégia de geração da sequência aleatória e ocultação da alocação (BAKITAS et al., 2009; DYAR et al., 2012; HUDSON et al., 2014; VISSER et al., 2015; COX et al., 2016). Um dos estudos (DYAR et al., 2012) apresentou risco incerto de viés de seleção ou alto risco em todos os outros riscos de vieses. Dois estudos (BAKITAS et al., 2009; HUDSON et al., 2014) mostraram o domínio “cegamento de avaliadores de desfecho” com risco incerto e, ainda, outros dois (MCCORKLE et al., 2009; DYAR et al., 2012) com alto risco de viés devido à má descrição das estratégias 77 de avalição. Quatro estudos foram classificados com alto risco de viés pois continham um ou mais domínios comprometidos (MCCORKLE et al., 2009; 2011; DYAR et al., 2012; COX et al., 2016). Quatro estudos foram classificados com risco incerto de viés (BAKITAS et al., 2009; HUDSON et al., 2014; TRAEGER et al., 2015; COX et al., 2016). Figura 2 – Avaliação individual do risco de viés dos Ensaios Clínicos Controlados Randomizados de acordo com a RoB 1 (n=10). Fonte: a autora. Em relação aos estudos não randomizados (quasi-experimentos) selecionados, ambos (KIM, 2011; SPOELSTRA et al., 2017) apresentaram baixo risco de viés em cinco domínios e 78 moderado risco de viés em dois domínios. Um estudo (KIM, 2011) apontou moderado risco de viés nos domínios “viés na medição dos resultados” e “viés na seleção dos resultados descritos”, que se relacionam aos domínios pós-intervenção. Esse julgamento foi atribuído devido aos possíveis erros sistemáticos na mensuração do resultado relacionado à intervenção e pelo fato da medida de resultado poder ter sido influenciada pelo conhecimento da intervenção recebida. Outro estudo (SPOESTRA et al., 2017) apresentou moderado risco de viés nos domínios “viés de confundimento (pré-intervenção)” e “viés na medição dos resultados (pós-intervenção)”. Tal julgamento foi atribuído devido à ausência de evidências no controle das variáveis e co- intervenções estabelecidas, assim como a possibilidade de a medida de resultado poder ter sido influenciada pelo conhecimento da intervenção recebida. De forma geral, os estudos foram classificados em moderado risco de viés. A Figura 3 detalha o risco de viés individual dos dois estudos quasi-experimentais. Figura 3 – Avaliação individual do risco de viés dos estudos quasi-experimentais de acordo com a ROBINS-I (n=02). D1 – viés de confusão (período pré-intervenção); D2 – viés de seleção dos participantes do estudo (período pré- intervenção); D3 – viés de classificação das intervenções (período intervenção); D4 – viés devido a desvios das intervenções propostas (período pós-intervenção); D5 – viés de informação – missing (período pós-intervenção); D6 – viés de mensuração dos desfechos (período pós-intervenção); D7 – viés de relato seletivo de desfechos (período pós-intervenção). Fonte: a autora. DISCUSSÃO A grande maioria dos estudos selecionados nesta revisão foi realizado nos EUA. Acredita-se que esse dado possa estar relacionado à origem da EPA, que nesse país ocorreu na década de 70. Desde então, gradativamente, os países vêm se estruturando para essa prática mediante algumas mudanças organizacionais e estruturações educacionais, assim como definição sobre a atuação profissional e as competências necessárias para a realização dos cuidados de saúde (ICN, 2014). Sabe-se que para a implementação da EPA são necessárias evidências que solidifiquem tal mudança no atual sistema de saúde, destacando-se assim a realização desses estudos sobre o tema, identificados principalmente nos últimos 10 anos. 79 No que concerne aos campos de atuação dos enfermeiros de prática avançada em oncologia, observa-se que se concentram em áreas de maior atuação e desenvolvimento profissional (quimioterapia e cuidados paliativos) ou incidência e prevalência de câncer (pulmão, mama e ginecológico). Destaca-se que, de um modo geral, as maiores taxas de incidência de câncer no mundo foram observadas em países desenvolvidos, principalmente na América do Norte, Europa e Oceania. Nessas localidades, há o predomínio dos tipos de câncer associados à urbanização e ao desenvolvimento (pulmão, mama feminina e próstata) (BRAY et al., 2018), sendo estas as áreas prioritárias para a expansão e atuação clínica da EPA. O título de enfermeiro de prática avançada em oncologia é utilizado para designar os profissionais que exercem funções de NP ou CNS, os quais são preparados educacionalmente no mínimo através de mestrado em enfermagem, especialização na área afim e experiência no manejo de pacientes com câncer. Esses profissionais estão inseridos em todos os sistemas de tratamento de câncer para garantir cuidados especializados e com boa relação custo-benefício. As complexas necessidades de cuidados oncológicos na população com as novas modalidades de tratamentos, inovações e tecnologias, criam amplas oportunidades de crescimento na prática avançada em enfermagem (LOPES-JÚNIOR et al., 2016; ONS, 2020), apoiando os achados da presente revisão em relação aos diferentes locais de atuação profissional identificados. Historicamente, o papel principal da prática avançada na enfermagem oncológica era do CNS, entretanto, desde a década de 1990, as necessidades de mudança nas configurações dos atendimentos do câncer e no quantitativo de profissionais impulsionaram o crescimento de NP oncológicos (LOPES-JÚNIOR et al., 2016). Corroborando com os achados desta revisão, um estudo (LYNCH; COPE; MURPHY- ENDE, 2001) apresentou como principais resultados com pacientes oncológicos o manejo dos sintomas, a melhora na qualidade de vida e a satisfação do paciente e sua família. Observa-se que a EPA, além de contribuir para uma melhor qualidade da assistência, diminui os custos de saúde, havendo ainda evidências de altos índices de satisfação da população em relação ao cuidado prestado (BRYANT-LUKOSIUS; MARTIN-MISENER, 2016). Revisões sistemáticas (NEWHOUSE et al., 2011; DONALD et al., 2013; 2014; MORILLA-HERRERA et al., 2016) sobre a atuação de enfermeiros de prática avançada demonstraram resultados tão bons, ou melhores, do que seus grupos controles, corroborando com os achados de alguns estudos selecionados nesta revisão. Algumas pesquisas apontaram como principais resultados de cuidados prestados pelos enfermeiros de prática avançada: melhoria da qualidade de vida; aumento nas taxas de sobrevida; melhora do bem-estar físico, funcional e psicológico de pacientes; e, melhoria da 80 qualidade do tratamento da doença e dos resultados de saúde (AANP, 2012; BRYANT- LUKPSIUS et al., 2015a; b; KILPATRICK et al., 2014; 2015), confirmando os achados desta revisão sistemática. Salienta-se que os enfermeiros de prática avançada realizam um atendimento eficaz, mantendo a satisfação e melhores resultados aos pacientes e às instituições de saúde. Alguns estudos desta revisão identificaram os enfermeiros de prática avançada como educadores e coordenadores de cuidados, profissionais que atuam de forma colaborativa com pacientes e equipes interprofissionais com o objetivo de promover o cuidado e facilitar o processo de transição, desde o diagnóstico até o fim da vida. Assim sendo, é relevante destacar o seu papel dentro da equipe de saúde e enfatizar que para uma colaboração bem-sucedida é necessário uma comunicação efetiva e bons relacionamentos interpessoais. Os enfermeiros de prática avançada apoiam a equipe de saúde na identificação e abordagem das necessidades físicas, emocionais e sociais desses pacientes e de suas famílias, contribuindo em diversas fases da assistência nos diversificados cenários da oncologia. Esse papel expandido da prática avançada de cuidar de pacientes com câncerem todo o continuum de atendimento como parte indispensável de uma equipe multidisciplinar, pode servir de modelo para a implantação da EPA em todo o país. Entretanto, nota-se que para uma atuação clínica expandida na oncologia é imprescindível que os enfermeiros de prática avançada tenham conhecimentos e habilidades específicas em uma ampla variedade de áreas de estudo, necessitando de diretrizes de formação profissional e de prática clínica, assim como regulamentações para o desenvolvimento do seu papel em nosso país. Um estudo (VISSER et al., 2015) da presente revisão demonstrou a importância da educação liderada pelo CNS como parte de um acompanhamento de pacientes portadoras de mutações BRCA. Nesse contexto, enfatiza-se o papel do enfermeiro no âmbito da oncogenética, como membro integrante e referência da equipe interdisciplinar no que tange os cuidados de saúde baseados na genômica, que incorporam o diagnóstico, a prevenção e o tratamento (FLÓRIA-SANTOS et al., 2013). O enfermeiro de prática avançada com conhecimentos em genética qualifica o atendimento e o acesso de pessoas em risco ou de pacientes diagnosticados com câncer. É por meio do aconselhamento oncogenético que a EPA atua de forma educativa, fornece suporte aos pacientes e familiares, interpreta resultados de testes e/ou exames diagnósticos, entre outros (KERBER; LEDBETTER, 2017). Já um estudo brasileiro desenvolvido em um serviço de aconselhamento genético evidenciou a necessidade de intervenções profissionais com esse perfil de pacientes, sendo o 81 desenvolvimento de atividades de educação em saúde um dos elementos essenciais para o cuidado de enfermagem em oncogenética (SILVA et al., 2013). Existe um corpo de evidências internacionais que apontam resolutividades nos sistemas de saúde com a ampliação do acesso, assim como comprovam melhorias nos desfechos clínicos dos pacientes com a garantia de segurança e qualidade assistencial (BRYANT- LUKOSIUS et al., 2017). Destarte, ressalta-se que há um interesse mundial na implantação da prática avançada de enfermagem como um veículo essencial para a inovação e reformas na saúde, com o objetivo de fornecer modelos mais eficazes e sustentáveis de cuidados (BRYANT- LUKOSIUS, 2014). Esta revisão incluiu estudos que evidenciaram resultados significativos na atuação do enfermeiro de prática avançada, entretanto, de forma individual. Como limitações, apontam-se: as bases de dados devido ao fato de não contemplar estudos indexados em outras bases, assim como, por restringir a artigos publicados na íntegra, o que retrata parte do universo de estudos; a heterogeneidade significativa dos estudos incluídos no que concerne, principalmente, as diferenças metodológicas, tais como, área de atuação clínica e/ou especialidades heterogêneas, perfil dos participantes, características das intervenções e desfechos clínicos, o que impossibilitou a realização da meta-análise dos dados, bem como uma comparação e síntese dos dados de modo mais amplo; outra limitação diz respeito ao fato de diferentes intervenções estarem sendo avaliadas em diferentes contextos do tratamento oncológico (quimioterápico, paliativo, entre outros), analisando tipos tumorais distintos, tornando os estudos heterogêneos, inviabilizando análises quantitativas. Ademais, a ausência de grupo controle e o curto tempo de acompanhamento pode ter prejudicado a mensuração de desfechos em alguns estudos. Nota-se ainda a fragilidade dos ensaios clínicos randomizados, principalmente em relação aos seus desenhos e randomização, proporcionando maiores riscos de vieses. Assim, sugere-se a realização de estudos experimentais com maior qualidade metodológica, com o intuito de buscar evidências da formação profissional e comprovar o desempenho clínico da EPA nos mais diversos cenários da oncologia. CONCLUSÃO Por fim, os estudos selecionados na presente revisão demonstraram o valor da EPA no campo da oncologia mediante uma formação clínica diferenciada e atuação profissional avançada. A maioria dos estudos apresentou resultados clínicos por meio de intervenções 82 educacionais realizadas por estes enfermeiros. Identificou-se em alguns dos estudos melhores desfechos clínicos relacionados ao controle e manejo de sintomas, a qualidade de vida e a sobrevida, com a garantia da satisfação do paciente com câncer quando são assistidos pelo enfermeiro de prática avançada. REFERÊNCIAS AANP. American Association of Nurse Practioners. The clinical nurse specialist: getting a good return on healthcare investment. 2012. Disponível em: https://international.aanp.org/Content/docs/CNS_EN.pdf. Acesso em: 02 set. 2021. BAKITAS, M. et al. Effects of a palliative care intervention on clinical outcomes in patients with advanced cancer: the Project ENABLE II randomized controlled trial. JAMA, v. 302, n. 7, p. 741-749, 2009. BEZERRIL, M. S. et al. Advanced practice nursing in Latin America and the Caribbean: context analysis. Acta Paulista de Enfermagem, v. 31, n. 6, p. 636-643, 2018. BRAY, F. et al. 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Os dados foram compilados e analisados de forma minuciosa e a partir das sugestões de especialistas e da literatura. Resultados: Participaram 23, 21 e 15 especialistas em três rodadas, respectivamente. Foram validadas 125 competências centrais, conforme percentuais de concordância. Considerações finais: formação do enfermeiro clínico especialista em oncologia propõe o desenvolvimento de competências centrais para a atuação em pacientes com câncer e sua família em todo o continuum de atendimento, em conjunto com a equipe interdisciplinar de saúde. Palavras-chave: Enfermagem oncológica. Prática avançada de enfermagem. Enfermagem baseada em evidências. Competência clínica. Competência profissional. ABSTRACT Objective: to validate core competencies of advanced oncology nurses required in professional training. Methods: exploratory-descriptive research with a quantitative approach, using the Delphi technique. Initially, a matrix with 112 core competencies of clinical nurses specializing in oncology was created, comprising six domains. The Likert Scale was used to measure the degree of “agreement”. Data collection took place through the Google Forms® platform from February to May 2021. Data were compiled and analyzed in detail and based on suggestions from experts and the literature. Results: 23, 21, and 15 experts participated in three rounds, respectively. 125 core competencies were validated, according to agreement percentages. Final considerations: training of clinical nurses specializing in oncology proposes the development of core competencies to work with patients with cancer and their families throughout the care process, together with the interdisciplinary health team. 5 Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Florianópolis, SC, Brasil. 6 Universidade Federal do Paraná, Departamento de Estatística, Curitiba, PR, Brasil. https://orcid.org/0000-0002-7187-0906 https://orcid.org/0000-0003-2950-9049 https://orcid.org/0000-0003-1185-7483 87 Keywords: Oncology nursing. Advanced practice nursing. Evidence-based nursing. Clinical competence. Professional competence. INTRODUÇÃO A enfermagem de prática avançada (EPA), originada no Canadá e Estados Unidos da América (EUA) há mais de 40 anos, é caracterizada pela utilização e integração de um extenso conjunto de conhecimentos teóricos e baseados em evidências, exigindo assim a preparação educacional a nível avançado, como mestrado e/ou doutorado. É um campo da enfermagem que expande os limites do escopo da prática por meio de intervenções avançadas que influenciam os resultados clínicos de saúde em indivíduos, famílias e comunidades. O enfermeiro de prática avançada é aquele que adquiriu o alicerce de conhecimentos especializados, habilidades complexas de tomada de decisão e competências clínicas para uma prática ampliada, cujas características são adaptadas conforme o cenário de cada país e de acordo com os diversos campos de prática existentes (ICN, 2020). As terminologias usualmente utilizadas para se referir ao profissional enfermeiro de prática avançada são: nurse practitioner (NP) e clinical nurse specialist (CNS). O NP possui um maior envolvimento no atendimento clínico, tendo um escopo expandido de prática que lhe dá autonomia para coordenar diagnósticos e prescrever tratamentos e/ou medicamentos. O CNS tende a ter uma menor responsabilidade em ações clínicas, com maior foco de atuação em atividades que envolvem educação, liderança, melhorias na qualidade da assistência (diretrizes e protocolos clínicos) e gestão dos serviços de saúde; fornecendo cuidados altamente complexos e especializados (BRYANT-LUKOSIUS; MARTIN-MISENER, 2016). Assim, de acordo com estes conceitos e atributos relacionados à atuação profissional, acredita-se que, no contexto da enfermagem brasileira, a concepção e a implantação da EPA poderão ocorrer mais naturalmente nos moldes do CNS. Atualmente, nota-se que no Brasil há debates sobre o processo de implantação da EPA com maior ênfase na Atenção Primária, principalmente devido às crescentes necessidades de saúde da população e desafios de acesso aos recursos humanos (BEZERRIL et al., 2018; OPAS, 2018). Entretanto, destaca-se que existem diversificadas esferas de atuação profissional, sendo uma delas a oncologia. 88 Estima-se que em 2020 ocorreram 19,3 milhões de casos novos de câncer e cerca de 10 milhões de óbitos no mundo (SUNG et al., 2021). No Brasil, para o biênio 2020-2022, os pressupostos apontam para a ocorrência de 625 mil casos novos de câncer para cada ano (INCA, 2019). Destarte, evidencia-se a importância de formar enfermeiros para a prática avançada em oncologia com competências essenciais para a atuação com esse perfil de paciente, com necessidades tão complexas de cuidado. A formação de enfermeiros de prática avançada precisa ser realizada por meio de programas educacionais reconhecidos e cursos com objetivos e conteúdos voltados para a prática clínica (BRYANT-LUKOSIUS et al., 2017), sendo este o ponto de partida nas discussões sobre as estratégias para a consolidação desta formação e, consequentemente, da atuação profissional. Desenvolver novos métodos para a prestação de cuidados oncológicos, aumentando os números e expandindo os papéis de profissionais não-médicos, como os de enfermeiros de prática avançada, é de extrema importância para atender às lacunas atuais e potenciais no tratamento do câncer (TOWLE et al., 2011). Reconfigurar, desenhar, melhorar e alinhar a educação/formação é essencial para proporcionar cuidados de excelência, desfechos clínicos seguros e garantir a satisfação do paciente. Abordagens inovadoras devem ser utilizadas para apoiar os enfermeiros de prática avançada a adquirirem as competências necessárias para exercer o seu papel no cenário apresentado (HINKEL et al., 2010). Observa-se que a competência é a capacidade do indivíduo articular e mobilizar três dimensões interdependentes: conhecimentos, habilidades e atitudes, a fim de intervir em um determinado contexto e alcançar os resultados almejados (DURANT, 1998). A construção de competências favorece o processo de formação profissional e sua instrumentalização se expressa em um saber agir, querer, e poder agir (LE BOTERF, 2011). É uma capacidade observável, integrando múltiplos componentes, podendo ser avaliada e mensurada; é multidimensional e dinâmica; muda com o tempo, experiências e configurações (AACN, 2006). Salienta-se que as competências centrais do enfermeiro de prática avançada em oncologia necessitam incluir liderança, experiência clínica, gestão do cuidado, prática baseada em evidências, educação em saúde, pesquisa e inovação contínua, tomada de decisão assertiva e ética, colaboração interprofissional, envolvimento com políticas e regulamentos relacionados à oncologia e uso de tecnologias. Diante do panorama exposto, a presente pesquisa teve como pergunta norteadora: quais são as competências centrais do enfermeiro de prática avançada em oncologia necessárias na formaçãoprofissional? 89 OBJETIVO Validar competências centrais do enfermeiro de prática avançada em oncologia necessárias na formação profissional. MÉTODO Trata-se de uma pesquisa exploratório-descritiva de abordagem quantitativa, com utilização da técnica Delphi, que busca obter um consenso de um grupo de especialistas sobre um problema proposto por meio de uma estrutura de comunicação sistemática, garantindo um espaço de expressão de opiniões e posicionamentos a partir dos dados gerados que circulam em uma ou mais rodadas, preservando o anonimato dos participantes (POWELL, 2003; HSU; SANDFORD, 2007; SCARPARO et al., 2012). A presente pesquisa foi pautada no modelo americano de formação e atuação em prática avançada denominado clinical nurse specialists (enfermeiro clínico especialista). Sendo assim, para a elaboração da matriz inicial com as competências centrais do enfermeiro de prática avançada em oncologia – enfermeiro clínico especialista em oncologia (ECEO) – utilizaram-se as seguintes referências: Competências do Enfermeiro Clínico Especialista em Oncologia (ONS, 2008); Declaração para Educação e Prática do Enfermeiro Clínico Especialista (NACNS, 2019); Os Fundamentos da Educação de Doutorado para Prática Avançada de Enfermagem (AACN, 2006); e, Enfermeiro de Prática Avançada Registrado - Competências em Nível de Doutorado (AACN, 2017). O instrumento de coleta de dados (primeira rodada) foi elaborado em duas partes: a primeira, contou com questões sobre as características sociodemográficas dos participantes especialistas; e a segunda, foi estruturada mediante os domínios estabelecidos e as competências relacionadas. O modelo inicialmente proposto na primeira rodada com as competências centrais do ECEO foi composto por seis domínios (D1 a D6), com 112 competências, conforme apresentado na Figura 1. 90 Figura 1 – Domínios e competências centrais do enfermeiro clínico especialista em oncologia (ECEO). Fonte: a autora. Foi solicitado ao grupo de especialistas que refletissem sobre as competências centrais apresentadas e inserissem a sua opinião, avaliando-as quanto à sua relevância (a competência é um conhecimento, habilidade ou atitude necessária para o ECEO?), especificidade (a competência é declarada de forma específica e clara?) e abrangência (falta algum aspecto do conhecimento, habilidade ou atitude para o ECEO?). Utilizou-se a Escala de Likert para mensurar o grau de “concordância” com escores variando de 1 a 3 (1 – “concordo”, 2 – “não estou decidido” e 3 – “discordo”). Para a opção “não estou decidido”, recomendou-se que os especialistas indicassem sugestões de alterações a respeito da competência em questão. O instrumento de coleta de dados foi disponibilizado on-line por meio da plataforma Google Forms®. A seleção dos participantes ocorreu atendendo aos critérios da técnica Delphi, a qual respeita e valoriza a experiência e o conhecimento sobre a área específica do estudo (HSU; SANDFORD, 2007). Para a seleção da amostra realizou-se uma busca na Plataforma Lattes, que é a base de dados de currículos virtuais de grupos de pesquisa e de instituições das áreas de ciência e tecnologia do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Gestão do cuidado Ética e compromisso profissional Liderança Colaboração interprofissional Prática baseada em evidências Educação em saúde e pesquisa D1 – Gestão do cuidado: 43 competências. Este domínio está subdividido em: Promoção da saúde e prevenção do câncer (2 competências); Avaliação do estado de saúde/doença (16 competências); Diagnóstico e plano de cuidados (18 competências); e Avaliação do plano de cuidados (7 competências). D2 – Ética e compromisso profissional: 13 competências. D3 – Liderança: 24 competências. D4 – Colaboração interprofissional: 10 competências. D5 – Prática baseada em evidências: 17 competências. D6 – Educação em saúde e pesquisa: 5 competências. 91 (CNPq). A busca avançada (por assunto) foi concretizada de duas formas, utilizando-se as palavras: 1) oncologia OR onco-hematologia OR câncer AND enfermeiro OR enfermeira OR enfermagem OR enfermagem oncológica; e 2) práticas avançadas OR prática avançada AND enfermagem AND oncologia. Realizou-se ainda uma busca na rede social Linkedin, utilizando as mesmas palavras para selecionar a amostra. Os critérios de inclusão da pesquisa considerados na selação dos currículos nacionais, foram: a) enfermeiro especialista em oncologia ou onco- hematologia, com formação mínima de mestrado (acadêmico ou profissional) e experiência profissional na prática clínica acima de cinco anos como enfermeiro oncológico; e, b) enfermeiro com experiência em ensino e/ou pesquisa na área de oncologia ou onco- hematologia, com formação mínima de doutorado (acadêmico ou profissional). Além destas buscas foi também utilizada a amostragem de conveniência com a técnica bola de neve, em que os contatos iniciais puderam convidar e/ou indicar outros especialistas que se enquadrassem nos critérios de inclusão estabelecidos. Salienta-se que previamente a cada rodada da técnica Delphi foi realizado um teste piloto. Assim, entre dois e três juízes avaliaram o conteúdo e responderam o instrumento de coleta de dados, considerando a clareza e objetividade da linguagem/escrita, possíveis vieses de interpretação, subjetividade e/ou ambiguidade, entre outras considerações ou sugestões que julgassem necessárias. Os participantes dos testes pilotos eram enfermeiros com formação doutoral, com experiência na área assistencial, ensino e/ou pesquisa, visto a necessidade de um julgamento crítico aos formulários desenvolvidos a cada rodada. Estes não fizeram parte da amostra da pesquisa. A coleta de dados com os membros especialistas foi efetivada entre fevereiro e maio de 2021 com a aplicação do formulário em rodadas subsequentes até obtenção de consenso, que ocorreu na terceira rodada. Para o consenso, destaca-se que o índice de concordância estabelecido na presente pesquisa foi igual ou superior a 85% de respostas na alternativa 1 (“concordo”) da Escala de Likert, em cada uma das competências apresentadas. Para a exclusão do item exibido, considerou-se um valor igual ou inferior a 50% na alternativa 3 (“discordo”). A fim de não influenciar as respostas dos especialistas optou-se por não informar a estatística/porcentagem de “concordância” das competências nos feedbacks das rodadas da técnica Delphi. A cada rodada os dados foram transferidos do Google Forms® para o programa Microsoft Excel® para análise (estatística descritiva). Na primeira rodada foram contatados 143 especialistas via correio eletrônico para o envio da carta convite, que continha informações sobre a pesquisa, critérios de inclusão, orientações sobre a técnica Delphi, instruções sobre o preenchimento do instrumento, tempo 92 previsto ao respondê-lo e prazo para a devolução. Além destas informações, também foi encaminhado um material de apoio sobre o tema “Enfermagem de Prática Avançada em Oncologia” e o link de acesso ao instrumento on-line Google Forms®, com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), sendo necessário seu preenchimento para iniciar a pesquisa. No instrumento da primeira rodada foram apresentadas aos especialistas 112 competências estruturadas, divididas entre os seis domínios. Ao final de cada seção/domínio foram apresentadas duas questões abertas, fornecendo assim aos participantes a possibilidade de apresentarem propostas de novas competências ou sugestões de mudanças/alterações nas competências apresentadas, caso tivessem selecionado “não estou decidido”. Após o período de 01 de fevereiro a 01 de março de 2021 responderam ao formulário 25 especialistas, encerrando-se a primeira rodada. Observa-se que dois participantes foram excluídos da pesquisanesta rodada inicial, pois quando questionados “Você já ouviu falar sobre a Enfermagem de Prática Avançada?”, a resposta foi “Não”. Desse modo, o total de especialistas permanecendo na pesquisa foi de 23. As respostas das questões abertas foram analisadas de acordo com a similaridade e relevância das opiniões expostas, comparando-as ao conteúdo existente no instrumento. Os dados foram compilados e analisados de forma minuciosa à luz da literatura científica e a partir das sugestões dos especialistas, que propuseram 13 novas competências, assim como sugeriram alterações em 13 das competências apresentadas entre os domínios. A segunda rodada da técnica Delphi ocorreu no período de 26 de março a 21 de abril de 2021. Foi contatado via correio eletrônico os 23 membros especialistas que responderam a primeira rodada, informando-os sobre os objetivos desta etapa da pesquisa, tempo previsto de resposta ao formulário, prazo considerado para o retorno e o link de acesso ao Google Forms®. O instrumento de coleta de dados foi reestruturado, apresentando-se o feedback preliminar da primeira rodada e mantendo-se, para a análise dos especialistas, as competências que não obtiveram consenso, assim como as novas competências propostas e as competências com sugestões de alterações. Nota-se que no total foram reapresentadas 34 competências, as quais 12 não tinham obtido consenso na primeira rodada, 13 eram novas competências e nove receberam sugestões interessantes de alterações na descrição/escrita, apesar de terem atingido o consenso. Para estas nove competências foi considerada na segunda rodada duas alternativas de respostas: “concordo” (com a sugestão proposta) e “discordo” (da sugestão proposta). Assim, os participantes que selecionaram “discordo”, optaram por manter a competência “original”, já consensuada previamente, e não a nova competência proposta (ou seja, discordaram da alteração). O instrumento da segunda rodada contou com questões estruturadas, assim como 93 questões abertas, possibilitando que os participantes que selecionaram a opção “não estou decidido” propusessem novas competências ou sugerissem mudanças/alterações nas competências apresentadas. Para uma adequada avaliação pelos participantes, todas as competências consensuadas foram apresentadas na íntegra no início de cada seção/domínio. Após a análise das respostas das questões estruturadas e abertas observou-se que cinco competências permaneceram sem consenso, sendo necessária a realização de uma nova rodada para que os especialistas apresentassem suas opiniões e sugestões. A terceira rodada ocorreu de 30 de abril a 17 de maio de 2021. Foram contatados via correio eletrônico para o envio da carta convite e link de acesso ao instrumento on-line Google Forms® os 21 especialistas que responderam a segunda rodada. Nesta etapa, foi apresentado o formulário reestruturado, contendo as cinco competências ausentes de consenso, bem como os resultados da segunda rodada, com as competências já consensuadas, o qual foram exibidas no início de cada seção/domínio. Nota-se que por se tratar da última rodada, não houve a possibilidade de sugerir ajustes/melhorias nas competências apresentadas, sendo as opções de resposta reduzidas a duas alternativas: “concordo” (aprovação da competência para o consenso final) e “discordo” (exclusão da competência para o consenso final). A redução para duas alternativas tem o intuito de facilitar a decisão dos participantes e atenuar a dispersão de dados (SCARPARO et al., 2012). Responderam ao instrumento de coleta de dados 15 especialistas, encerrando-se assim a terceira e última rodada da técnica Delphi (Figura 2). A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina (CEPSH-UFSC) sob o parecer número 3.445.887 e CAAE: 15517119.1.0000.0121, seguindo as diretrizes e normas regulamentadoras que envolvem pesquisas em seres humanos. 94 Figura 2 – Rodadas da técnica Delphi desenvolvidas na pesquisa. Fonte: a autora. Buscas em literaturas científicas e definição do modelo de formação (CNS) V A L ID A Ç Ã O D A S C O M P E T Ê N C IA S ID E N T IF IC A Ç Ã O Pesquisadores Seleção dos participantes (membros especialistas) Teste piloto – Primeira rodada Análise dos resultados do teste piloto e reestruturação do formulário Envio do formulário – Primeira rodada Respostas ao teste piloto – Primeira rodada (n=3) Respostas ao formulário – Primeira rodada (incluídos n=23, excluídos n=2) 112 competências apresentadas Análise dos resultados da primeira rodada e reestruturação do formulário Teste piloto – Segunda rodada Elaboração do formulário – Primeira rodada + Material de apoio sobre o tema Análise dos resultados do teste piloto (segunda rodada) e reestruturação do formulário Envio do formulário – Segunda rodada Análise dos resultados da segunda rodada e reestruturação do formulário Teste piloto – Terceira rodada Análise dos resultados do teste piloto (terceira rodada) e reestruturação do formulário Envio do formulário – Terceira rodada Análise dos resultados da terceira rodada e construção da lista final de competências Membros especialistas Respostas ao teste piloto – Segunda rodada (n=2) Respostas ao formulário – Segunda rodada (n=21) 34 competências (12 ausentes de consenso, 13 novas competências e 09 reapresentadas) Respostas ao teste piloto – Terceira rodada (n=2) Respostas ao formulário – Terceira rodada (n=15) 5 competências 95 RESULTADOS A pesquisa foi composta por 23 membros especialistas na primeira rodada. Destes, 21 (91,3%) participaram da segunda rodada e 15 (65,2%) da terceira (última) rodada. As características sociodemográficas dos membros especialistas ao longo das três rodadas são exibidas na Tabela 1. Tabela 1 – Caracterização sociodemográfica dos membros especialistas. Características Rodada 1 (n=23) Rodada 2 (n=21) Rodada 3 (n=15) Gênero Feminino 21 (91,3%) 20 (95,2%) 15 (100%) Masculino 02 (8,7%) 01 (4,8%) 00 (0%) Regiões do Brasil Norte 01 (4,3%) 01 (4,8%) 0 (0%) Nordeste 02 (8,7%) 02 (9,5%%) 01 (6,7%) Centro-Oeste 03 (13%) 03 (14,3%) 01 (6,7%) Sudeste 12 (52,2%) 11 (52,4%) 10 (66,7%) Sul 04 (17,4%) 03 (14,3%) 02 (13,3%) Portugal 01 (4,3%) 01 (4,8%) 01 (6,7%) Titulação Especialização em oncologia ou onco-hematologia 16 (69,6%) 15 (71,4%) 11 (73,3%) Especialização na modalidade de residência uni/multiprofissional em oncologia ou onco-hematologia 04 (17,4%) 03 (14,3%) 02 (13,3%) Mestrado (acadêmico) 19 (82,6%) 17 (81%) 14 (93,3%) Mestrado (profissional) 03 (13%) 03 (14,3%) 01 (6,7%) Doutorado (acadêmico) 14 (60,9%) 13 (61,9%) 11 (73,3%) Doutorado (profissional) 0 (0%) 0 (0%) 0 (0%) Pós-doutorado 03 (13%) 03 (14,3%) 02 (13,3%) Tempo de experiência profissional na prática clínica oncológica ou onco- hematológica 5 anos 0 (0%) 0 (0%) 0 (0%) De 6 a 8 anos 03 (13%) 03 (14,3%) 01 (6,7%) De 9 a 11 anos 04 (17,4%) 03 (14,3%) 02 (13,3%) De 12 a 14 anos 01 (4,3%) 01 (4,8%) 01 (6,7%) De 15 a 17 anos 05 (21,7%) 05 (23,8%) 04 (26,7%) De 18 a 20 anos 03 (13%) 02 (9,5%) 00 (0%) Acima de 20 anos 07 (30,4%) 07 (33,3%) 07 (46,7%) Tempo de experiência com ensino e/ou pesquisa na área de oncologia ou onco- hematologia Até 5 anos 04 (17,4%) 04 (19%) 02 (13,3%) De 5 a 10 anos 04 (17,4%) 03 (14,3%) 02 (13,3%) De 11 a 15 anos 06 (26,1%) 06 (28,6%) 04 (26,7%) De 16 a 20 anos 05 (21,7%) 04 (19%) 04 (26,7%) Acima de 20 anos 04 (17,4%) 04 (19%) 03 (20%) Fonte: a autora. Observa-se que em todas as rodadas da técnica Delphi houve a predominância de especialistas do sexo feminino, da regiãoSudeste do Brasil, com especialização em oncologia ou onco-hematologia, mestrado e doutorado acadêmico, com tempo de experiência profissional na prática clínica oncológica ou onco-hematológica acima de 15 anos e com experiência com ensino e/ou pesquisa na área de oncologia ou onco-hematologia superior a 11 anos. 96 Na primeira rodada foram apresentadas aos especialistas 112 competências, divididas em seis domínios. Destas, 100 obtiveram consenso e nenhuma foi eliminada mediante análise estatística. Em relação às 12 competências que não atingiram consenso, o índice de concordância variou entre 65,2% e 82,6%. Os domínios “Ética e compromisso profissional” (D2) e “Educação em saúde e pesquisa” (D6) obtiveram consenso em todas as competências apresentadas. Em relação às 12 competências ausentes de consenso, foram propostas, para quatro delas, mudanças na descrição/escrita. Para as oito competências restantes não foram apresentadas sugestões pelos especialistas, apesar da seleção da opção “não estou decidido”. Estas competências foram apresentadas sem alterações para revisão e reavaliação na segunda rodada. Assim como, as competências com sugestões de alteração foram apresentadas para nova apreciação pelos participantes após análise e reestruturação. Ressalta-se que 13 novas competências foram propostas pelos especialistas nesta rodada entre todos os domínios existentes. Para nove competências foram ainda propostas sugestões interessantes de alterações na descrição/escrita, apesar de terem atingido o consenso. Estas também seguiram para a segunda rodada e nova apreciação. Na segunda rodada foram apresentadas aos membros especialistas 34 competências para análise, reflexão e expressão de opiniões. O total de competências nesta rodada dividiu-se entre os domínios do seguinte modo: “Gestão do cuidado” (D1): 18 competências; “Ética e compromisso profissional” (D2): 03 competências; “Liderança” (D3): 07 competências; “Colaboração interprofissional” (D4): 03 competências; “Prática baseada em evidências” (D5): 02 competências; e “Educação em saúde e pesquisa” (D6): 01 competência. Destaca-se que entre todas competências apresentadas, seis não alcançaram consenso, com índices de concordância entre 61,9% a 81%. Para uma das competências apresentadas com sugestão de alteração na escrita (já validada previamente na primeira rodada), os participantes optaram por manter a original (discordando da nova proposta). Desta forma, após compilação e análise meticulosa das sugestões e recomendações obtidas na segunda rodada, cinco competências foram direcionadas para a terceira rodada para nova avaliação dos participantes. No que concerne as 13 novas competências elaboradas e propostas pelos membros especialistas na primeira rodada e apresentadas nesta, enfatiza-se que todas atingiram o consenso. Assim, destaca-se que 28 competências foram validadas na segunda rodada, distribuídas entre os seis domínios. Na terceira rodada, as cinco competências apresentadas relacionam-se a três domínios: “Gestão do cuidado” (D1): 02 competências; “Liderança” (D3): 02 competências; e “Prática 97 baseada em evidências” (D5): 01 competência. Salienta-se que as cinco competências atingiram índice de concordância acima de 85% (consenso) após a terceira rodada da técnica Delphi. As 125 competências centrais do ECEO validadas a partir da técnica Delphi são apresentadas na Tabela 2, por domínios e percentual de concordância. DISCUSSÃO Atualmente, há no mundo contínuas e progressivas discussões para estabelecer e delinear os padrões e competências fundamentais para a atuação do enfermeiro de prática avançada. Apesar de internacionalmente haver variados modelos de desenvolvimento e implementação da EPA, há domínios de competências que são comuns à maioria das estruturas. Sastre-Fullana et al. (2014) buscaram mapear e analisar as competências comuns entre os países, apontando 17 competências essenciais, independentemente do ambiente de prática profissional, tais como: pesquisa; liderança clínica e profissional; colaboração interprofissional; julgamento/avaliação clínica especializada; prática ética e legal; educação e ensino; promoção de saúde; gestão de qualidade e segurança; gestão de cuidados; prática baseada em evidências; autonomia profissional; comunicação; advocacia; mentoria e coaching; entre outros. Desta forma, percebe-se que há uma tendência mundial acerca dos domínios de competências centrais destes profissionais de prática avançada retratado também na presente pesquisa, cujo foco foi direcionado especificamente ao cenário da oncologia. Ainda, Olímpio et al. (2018) objetivaram analisar o conceito e elucidar os elementos essenciais da EPA, apontando fundamentalmente oito principais atributos: preparação educacional em nível de mestrado ou doutorado e especialização em área clínica; prática baseada em evidências; habilidade de desenvolver raciocínio clínico e pensamento crítico; alto nível de autonomia; julgamento/avaliação clínica ampla e avançada; liderança; capacidades diagnóstica, gerencial e administrativa; e, promoção do ensino às outras enfermeiras. Destaca-se que o clinical nurse specialists (CNS) é um enfermeiro de prática avançada que realiza atendimento clínico especializado com base em avaliação diagnóstica estabelecido em cenários de prática clínica por meio de uma abordagem sistêmica de cuidado e atuação colaborativa com os membros da equipe de saúde. O título de CNS representa a formação acadêmica e profissional e o seu papel, sendo uma categoria amplamente reconhecida de enfermagem de prática avançada em todo o mundo (ICN, 2020). 98 Tabela 2 – Competências centrais do enfermeiro clínico especialista em oncologia (ECEO) validadas a partir do desenvolvimento da técnica Delphi. Descrição Rodada do consenso Especialistas participantes (n) IC Domínio 1 - Gestão do cuidado A) Promoção da saúde e prevenção do câncer 1. Avalia e utiliza dados epidemiológicos, bioestatísticos, ambientais e outros dados científicos relacionados ao câncer relevantes para a atuação com: a comunidade em geral, populações de risco e pacientes com diagnóstico de câncer prévio, atual ou potencial. 1 23 95,7% 2. Promove ações que contribuem para um estilo de vida saudável e estratégias de autocuidado de pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer; assim como, da comunidade em geral, com especial atenção aos fatores de risco para o desenvolvimento do câncer (como por exemplo: tabagismo, etilismo, sedentarismo, maus hábitos alimentares, exposição à radiação solar, entre outros). 2 21 95,2% 3. Atua na promoção da saúde e prevenção do câncer em todo o continuum do atendimento, assim como realiza ações de rastreamento e detecção precoce da doença conforme recomendações/protocolos existentes.* 2 21 95,2% Total: 3 competências Domínio 1 - Gestão do cuidado B) Avaliação do estado de saúde/doença 4. Realiza anamnese de forma abrangente investigando fatores de risco, diagnóstico ou história pregressa de câncer. 1 23 87% 5. Avalia os fatores de risco para o desenvolvimento de câncer relacionados a história pessoal e familiar e as necessidades de aconselhamento genético e/ou testes moleculares e/ou genômicos. 1 23 91,3% 6. Avalia o impacto das comorbidades físicas nos sintomas do câncer e na resposta ao tratamento. 1 23 100% 7. Avalia a presença de comorbidades psicológicas, habilidades de enfrentamento (pregressas e atuais) e o impacto psicossocial da experiência do câncer, incluindo sofrimento emocional e luto. 1 23 91,3% 8. Avalia os sinais e sintomas comuns que indicam a presença de câncer, progressão da doença ou recidiva. 1 23 95,7% 9. Avalia os sinais e sintomas de emergências oncológicas em pacientes de alto risco. 1 23 100% 10. Realiza uma avaliação abrangente do estado funcional e capacidade de realizaratividades de rotina da vida diária. 1 23 95,7% 11. Avalia os riscos relacionados à sexualidade e à reprodução/fertilidade em pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer, incluindo a repercussão nos relacionamentos. 1 23 95,7% 12. Avalia barreiras potenciais e percebidas no atendimento (como por exemplo: transporte, alfabetização/escolaridade, conhecimento, papel social, trabalho, condições de moradia, renda econômica, idade, entre outros) que podem repercutir no tratamento. 1 23 91,3% 13. Avalia variações de desenvolvimento, culturais, étnicas, raciais, espirituais, de gênero e socioeconômicas na apresentação dos sintomas ou na experiência de adoecimento de pacientes com câncer. 1 23 91,3% 14. Avalia as necessidades educacionais relacionadas a um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer e do seu tratamento, considerando as dificuldades individuais. 1 23 91,3% 15. Realiza um histórico de enfermagem (anamnese e exame físico) abrangente de pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer, que inclui a avaliação biopsicossocioespiritual do paciente e análise das manifestações clínicas relacionados à doença e/ou seu tratamento. 2 21 100% 99 Descrição Rodada do consenso Especialistas participantes (n) IC 16. Realiza uma avaliação farmacológica, incluindo medicamentos de uso livre (sem receita), medicamentos prescritos, suplementos nutricionais e outras terapias complementares, alternativas e integrativas para identificar quaisquer potenciais interações com a terapêutica do câncer em conjunto com a equipe interprofissional (farmacêuticos, nutricionistas, médicos, entre outros). 2 21 95,2% 17. Identifica e avalia o plano de tratamento do paciente e os riscos à saúde relacionados a polifarmácia, em conjunto com a equipe interprofissional (farmacêuticos e médicos). 2 21 85,7% 18. Avalia exames laboratoriais, anatomopatológicos e/ou de imagem de pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer, que possam indicar melhora e/ou piora do estado de saúde/doença. 2 21 95,2% 19. Avalia os papéis, funções e fatores de estresse dos indivíduos, composição familiar, redes de apoio/suporte e cuidadores, e sua capacidade de gerenciar a experiência do câncer em conjunto com a equipe interprofissional (psicólogos, assistentes sociais, médicos, entre outros). 2 21 85,7% 20. Avalia e identifica a necessidade de cuidados paliativos e de fim de vida, considerando: aspectos relacionados ao controle e manejo de sintomas e de dor e melhoria da qualidade de vida do paciente com câncer.* 2 21 100% 21. Avalia as reações adversas/efeitos colaterais relacionados ao tratamento proposto bem como manifestações clínicas relacionadas à doença de base (câncer).* 2 21 100% Total: 18 competências Domínio 1 - Gestão do cuidado C) Diagnóstico e plano de cuidados 22. Sintetiza dados relevantes para desenvolver um plano de cuidados centrado no paciente e baseado em evidências para o manejo do câncer e sintomas relacionados ao seu tratamento. 1 23 95,7% 23. Associa intervenções no plano de cuidados para prevenir, corrigir, modificar ou resolver resultados esperados e inesperados em pacientes com câncer. 1 23 100% 24. Associa as modalidades de tratamento farmacológico e não farmacológico ao plano de cuidados. 1 23 95,7% 25. Contribui para um plano abrangente de cuidados à medida que os pacientes fazem a transição do tratamento ativo para o de sobrevivência (survivorship) a longo prazo ou cuidados no fim da vida. 1 23 95,7% 26. Associa a avaliação de sobrevivência (survivorship) a longo prazo e a gestão dos efeitos tardios do tratamento no plano de cuidados. 1 23 100% 27. Incorpora tecnologias apropriadas e inovações, com base em evidências, no plano de cuidado de pacientes com câncer. 1 23 95,7% 28. Registra o histórico de enfermagem e o plano de cuidados específicos do paciente com câncer e os resultados pretendidos para facilitar a comunicação entre os membros da equipe de saúde. 1 23 100% 29. Utiliza raciocínio clínico e síntese de evidências para a prestação de cuidados de enfermagem avançados no paciente com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer. 1 23 100% 30. Encaminha os pacientes para outros profissionais de saúde para avaliação adicional, conforme necessidade. 1 23 95,7% 31. Utiliza recursos do sistema e da comunidade que melhoram a prestação de cuidados dos pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer. 1 23 87% 100 Descrição Rodada do consenso Especialistas participantes (n) IC 32. Realiza intervenções imediatas e oportunas nos pacientes em emergência oncológica e/ou encaminha para outros serviços, conforme necessidade. 1 23 100% 33. Promove/facilita as transições necessárias entre os diversificados ambientes de saúde para viabilizar a continuidade de cuidados. 1 23 95,7% 34. Envolve a família do paciente, cuidadores e redes de apoio no plano de cuidados oncológicos considerando as particularidades, possibilidades e limitações existentes. 1 23 100% 35. Identifica problemas físicos e psicossociais com base no conhecimento dos sintomas, estado funcional, fatores de risco ou processos de desenvolvimento. 2 21 85,7% 36. Orienta/educa precocemente os pacientes e familiares/cuidadores a fim de auxiliá-los no enfrentamento do diagnóstico de câncer e seus resultados potenciais ou esperados. 2 21 95,2% 37. Aborda condições relacionadas a comorbidades (físicas, funcionais e psicológicas) ao implementar o plano de cuidados oncológicos. 2 21 95,2% 38. Promove/facilita as adaptações a órteses, próteses e/ou outras condições decorrentes da doença ou do tratamento do câncer (como por exemplo: amputação, prótese mamária, estomas, drenos/sondas, entre outros).* 2 21 95,2% 39. Contribui para a melhor compreensão sobre o plano terapêutico e formação de conceitos para o autogerenciamento de sintomas pelo paciente, envolvendo família, cuidadores e redes de apoio.* 2 21 95,2% 40. Planeja/promove encontros entre pacientes com câncer e interessados em temas específicos, para troca de saberes e experiências, acolhimento, orientações, discussões e apoio (como por exemplo: grupo de pacientes com estomas, survivorship, grupo de pacientes em quimioterapia, entre outros).* 2 21 90,5% 41. Elabora diagnósticos de enfermagem relacionados ao histórico do paciente considerando seu estado de saúde/doença, fatores de risco, manifestações clínicas do câncer e terapêuticas vigentes. 3 15 100% 42. Incorpora em sua prática clínica conhecimentos relacionados a genética/genômica ao planejar o cuidado de pacientes e familiares, considerando os seus valores e o julgamento clínico avançado. 3 15 93,3% Total: 21 competências Domínio 1 - Gestão do cuidado D) Avaliação do plano de cuidados 43. Avalia a eficácia clínica, a segurança, a qualidade e as respostas do paciente com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer. 1 23 87% 44. Avalia a relação custo-efetividade e os aspectos éticos do plano de cuidados do paciente com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer. 1 23 87% 45. Monitora a evolução clínica em direção aos resultados desejados e promove/facilita as alterações necessárias. 1 23 100% 46. Avalia o uso de intervenções inovadoras ou modificadas para o cuidado de pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer. 1 23 91,3% 47. Avalia o efeito geral do plano de cuidados/intervenções nos pacientes com base na síntese dos dados. 1 23 100% 48. Mantém registros contínuos dos resultados dos atendimentos realizados ao paciente com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer. 1 23 91,3% 101 Descrição Rodada do consenso Especialistas participantes (n) IC 49. Avalia alternativas de melhoria/adaptação das condições de vida no domicílio e ambiente familiar, assim como estratégias de autocuidado.1 23 100% 50. Planeja e avalia o cuidado de enfermagem em consonância com as demais intervenções da equipe de saúde com o intuito de melhorar os resultados do paciente com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer.* 2 21 90,5% Total: 8 competências Domínio 2 - Ética e compromisso profissional 51. Contribui para a resolução de conflitos éticos e bioéticos que podem surgir no atendimento de pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer. 1 23 91,3% 52. Atua como defensor do paciente para promover o cuidado centrado nele, incluindo a tomada de decisão ética e compartilhada e metas de cuidados para resultados de qualidade. 1 23 87% 53. Utiliza uma estrutura ética em todos os aspectos do atendimento para auxiliar os pacientes com câncer em questões relacionadas ao controle e manejo dos sintomas, diretrizes antecipadas e cuidados paliativos e de fim de vida. 1 23 100% 54. Promove a tomada de decisão autônoma pelos pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer por meio do fornecimento de educação e suporte individualizados. 1 23 87% 55. Demonstra um compromisso com os princípios éticos relativos à prestação ou recusa de cuidados em conformidade com as leis, políticas e regulamentos relevantes no atendimento de pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer. 1 23 95,7% 56. Demonstra empatia, compaixão e responsabilidade para com os pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer, com familiares/cuidadores e com a equipe de saúde, sociedade e profissão. 1 23 100% 57. Promove a aprendizagem colaborativa ao longo da profissão e a prática baseada em evidências para si e para outros, para melhorar o cuidado de pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer. 1 23 100% 58. Avalia continuamente as alterações e inovações em todo o sistema de saúde relacionadas à prática de enfermagem oncológica. 1 23 95,7% 59. Identifica alterações na cultura organizacional, como valores, crenças ou atitudes, que podem afetar os resultados na prática de enfermagem oncológica. 1 23 100% 60. Participa de organizações/instituições educacionais ou profissionais que influenciam o tratamento do câncer e apoiam o papel/função do Enfermeiro Clínico Especialista em Oncologia (ECEO). 1 23 87% 61. Mantém competências profissionais e formações adequadas à função de Enfermeiro Clínico Especialista em Oncologia (ECEO). 1 23 95,7% 62. Defende políticas e/ou programas que melhorem a saúde da população com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer e a profissão de enfermagem. 1 23 91,3% 63. Demonstra integridade e respeito pelos pacientes, familiares/cuidadores, enfermeiros, equipe de enfermagem e interprofissional. 2 21 95,2% 64. Orienta os pacientes e familiares/cuidadores sobre as viabilidades de acesso que envolvem a terapêutica do câncer e informa sobre os direitos relacionados ao contexto da oncologia.* 2 21 100% Total: 14 competências 102 Descrição Rodada do consenso Especialistas participantes (n) IC Domínio 3 – Liderança 65. Avalia competências assistenciais de enfermeiros e equipe de enfermagem para promover a prática de enfermagem oncológica, utilizando ferramentas e instrumentos existentes. 1 23 95,7% 66. Avalia as barreiras e facilitadores da prática de enfermagem oncológica nos diversificados ambientes de saúde, implementando estratégias para alcançar os resultados desejados. 1 23 91,3% 67. Avalia e monitora a influência da prática de enfermagem oncológica nos resultados dos pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer e nos resultados da equipe. 1 23 95,7% 68. Avalia e determina os aspectos da prática de enfermagem oncológica que requerem mudanças, melhorias, inovações ou manutenção com base nas evidências disponíveis. 1 23 95,7% 69. Divulga os resultados das mudanças e inovações da prática de enfermagem oncológica para diversas partes interessadas (internas e externas). 1 23 91,3% 70. Avalia as implicações clínicas, econômicas e de recursos humanos na implementação de programas, produtos e dispositivos na prática de enfermagem oncológica. 1 23 95,7% 71. Cria um ambiente de prática de enfermagem que estimula a autoaprendizagem e a prática crítica, reflexiva e investigativa. 1 23 95,7% 72. Planeja e implementa programas educacionais que visam as necessidades da equipe para melhorar a prática de enfermagem oncológica e os resultados dos pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer, com base nas evidências disponíveis. 1 23 95,7% 73. Assessora e incentiva os enfermeiros e equipe de enfermagem na utilização de evidências à prática de enfermagem oncológica. 1 23 100% 74. Assessora e incentiva os enfermeiros e equipe de enfermagem a desenvolver e implementar programas inovadores e econômicos de cuidado para pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer. 1 23 100% 75. Incentiva e ampara enfermeiros na manutenção e aquisição de habilidades e no desenvolvimento de carreiras na área de enfermagem oncológica. 1 23 100% 76. Lidera equipes de enfermagem e interprofissionais que abordam questões relacionadas ao cuidado do câncer. 1 23 91,3% 77. Realiza avaliações sistemáticas para identificar estruturas organizacionais e funções que afetam a prática e os resultados da enfermagem oncológica. 1 23 91,3% 78. Utiliza a estrutura organizacional e os processos para fornecer feedback contínuo sobre a eficácia da prática de enfermagem oncológica avançada. 1 23 100% 79. Avalia as variáveis dos sistemas de saúde como clima e cultura organizacional, atuação profissional, colaboração interprofissional, aspectos econômicos, requisitos regulatórios e demandas externas que influenciam a prática e os resultados da enfermagem oncológica. 1 23 91,3% 80. Desenvolve políticas de saúde, programas assistenciais, procedimentos, protocolos padrões e/ou diretrizes relacionados à oncologia, com base nas evidências disponíveis. 1 23 91,3% 81. Incorpora e promove o uso de tecnologias de informação no ambiente de cuidado em todo o processo de atendimento ao câncer para melhorar os resultados de saúde. 1 23 100% 103 Descrição Rodada do consenso Especialistas participantes (n) IC 82. Avalia o impacto do plano de cuidados/intervenções do Enfermeiro Clínico Especialista em Oncologia (ECEO) nos recursos humanos e econômicos. 1 23 91,3% 83. Registra a avaliação do impacto da prática do Enfermeiro Clínico Especialista em Oncologia (ECEO) na organização de forma clara, efetiva, descritiva e mensurável; divulgando às partes interessadas os resultados em todo o sistema de saúde. 1 23 95,7% 84. Demonstra habilidades de colaboração e comunicação eficazes com pacientes, familiares/cuidadores, enfermeiros, equipe de enfermagem e interprofissional, comunidade em geral. 2 21 95,2% 85. Avalia e monitora as políticas de saúde e programas assistenciais que podem impactar no atendimento em todo o continuum do câncer. 2 21 90,5% 86. Avalia o impacto das políticas legislativas e regulamentares na prática de enfermagem oncológica. 2 21 90,5% 87. Avalia as barreiras e facilitadores do contexto familiar do paciente e suas redes de apoio, considerando as particularidades, possibilidades e limitações existentes para alcançar os melhores resultados.* 2 21 100% 88. Incentiva os enfermeiros no desenvolvimento e implementação de pesquisas inovadoras com foco no cuidado de pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer, proporcionando momentos de debates e estímulos mediante questões investigativas relacionadas à prática de enfermagem oncológica.* 2 21 90,5% 89. Participa ativamente da construção e avaliação das políticas institucionais, procedimentos e/ou protocolos, tendo como objetivo apoiar os programas/tratamentos de câncer e utilizar os resultados destas avaliaçõespara promover mudanças estruturais e/ou de processos nas organizações de saúde. 3 15 86,7% 90. Conhece e busca a inserção nos espaços decisórios tendo como objetivo promover o cuidado de qualidade à saúde da população em todo o continuum do câncer. 3 15 93,3% Total: 26 competências Domínio 4 - Colaboração interprofissional 91. Associa as intervenções de enfermagem em um plano interprofissional de cuidados para melhorar os resultados dos pacientes com câncer. 1 23 95,7% 92. Avalia os resultados clínicos dos pacientes para facilitar a coordenação de cuidados entre os profissionais de saúde e projetar novos programas assistenciais. 1 23 91,3% 93. Promove/facilita uma abordagem interdisciplinar e baseada em evidências para o gerenciamento de pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer em todo o continuum do tratamento. 1 23 95,7% 94. Compreende os escopos de prática de outras profissões da saúde para maximizar as contribuições dentro da equipe oncológica. 1 23 95,7% 95. Avalia a colaboração e a eficácia da comunicação entre a equipe interdisciplinar de cuidados oncológicos, para a obtenção de resultados em todo o continuum do atendimento. 1 23 95,7% 96. Difunde conhecimentos necessários para cuidar de pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer; e para demais profissionais de saúde, familiares e cuidadores, por meio de educação por pares, orientações, capacitações, desenvolvimento da equipe, experiências, mentoria e preceptoria. 1 23 100% 97. Interpreta e discute resultados de pesquisas/evidências com outros profissionais de saúde para melhorar o atendimento de pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer. 1 23 95,7% 104 Descrição Rodada do consenso Especialistas participantes (n) IC 98. Participa do desenvolvimento de padrões de prática interprofissional e diretrizes baseadas em evidências para cuidados oncológicos. 1 23 95,7% 99. Proporciona/facilita cuidados paliativos e de fim de vida para pacientes com câncer, em colaboração com ele (paciente), sua família/cuidadores e outros membros da equipe interprofissional de saúde. 2 21 90,5% 100. Lidera equipes interprofissionais para facilitar a colaboração com outras disciplinas na obtenção de resultados em todo o continuum do atendimento. 2 21 90,5% 101. Promove plano de cuidados incorporando ações vinculadas aos cuidados paliativos de forma crescente/progressiva e em conjunto com a equipe interprofissional; buscando imprimir uma continuidade terapêutica ao paciente com câncer, sua família/cuidadores e comunidade em geral, nas diversas etapas do tratamento.* 2 21 90,5% Total: 11 competências Domínio 5 - Prática baseada em evidências 102. Realiza plano de cuidados com base em evidências para pacientes que visam a redução do risco relacionado ao câncer. 1 23 100% 103. Integra conhecimentos, habilidades e informações baseadas em evidências na enfermagem oncológica para melhorar os resultados no atendimento aos pacientes com câncer. 1 23 100% 104. Desenvolve programas de atendimento baseados em evidências que abordem questões que possam afetar os pacientes em todo o continuum do atendimento. 1 23 95,7% 105. Implementa processos para sustentar mudanças baseadas em evidências na prática de enfermagem oncológica, programas de tratamento do câncer e inovação clínica. 1 23 95,7% 106. Utiliza diretrizes práticas baseadas em evidências e ferramentas para avaliar/monitorar pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer. 1 23 100% 107. Utiliza métodos ou ferramentas inovadoras para melhor avaliar os pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer e seu plano de cuidados. 1 23 95,7% 108. Avalia as necessidades de mudanças em materiais/equipamentos, produtos ou abordagens terapêuticas com base em evidências, resultados clínicos e relação custo-efetividade, para melhorar a prática de enfermagem oncológica e os resultados dos pacientes com câncer. 1 23 91,3% 109. Avalia as tecnologias atuais e emergentes para apoiar ambientes de prática, otimizar a segurança do paciente, a relação custo-efetividade e os resultados de saúde em todo o continuum do atendimento. 1 23 91,3% 110. Planeja e implementa estratégias para superar barreiras e facilitar mudanças na prática de enfermagem oncológica, incluindo a implementação de novos programas, produtos e dispositivos. 1 23 95,7% 111. Identifica métodos e avalia as tendências de resultados relacionados à prática de enfermagem oncológica dentro e entre as unidades de cuidados e ambientes de prática. 1 23 100% 112. Realiza a análise de tendência e quantifica o impacto na qualidade e segurança do atendimento do tratamento do câncer. 1 23 95,7% 113. Promove e desenvolve inovações baseadas em evidências ou soluções para as questões relacionadas ao atendimento dos pacientes com câncer em todo o continuum. 1 23 95,7% 114. Implementa intervenções que melhoram os cuidados de enfermagem oncológica relacionados a problemas complexos de assistência ao paciente que são consistentes com os recursos e evidências do sistema. 1 23 87% 105 Descrição Rodada do consenso Especialistas participantes (n) IC 115. Registra os resultados das mudanças e/ou inovações da prática de enfermagem oncológica baseadas em evidências de maneira acessível, divulgando às partes interessadas. 1 23 95,7% 116. Avalia os resultados clínicos e econômicos de abordagens terapêuticas, produtos ou dispositivos e processos de atendimentos aos pacientes com câncer em todo o sistema de saúde. 1 23 87% 117. Associa teoria, evidências, práticas, julgamento clínico avançado, ética e bioética, experiências, pesquisa e perspectivas interprofissionais utilizando processos translacionais para melhorar a prática e os resultados em todo o continuum do atendimento. 1 23 91,3% 118. Implementa intervenções que melhoram a qualidade de vida e a felicidade/satisfação com a vida do paciente com câncer e seus familiares/cuidadores baseado em evidências científicas e em instrumentos existentes/validados.* 2 21 95,2% 119. Desenvolve soluções inovadoras e/ou participa da construção de políticas no âmbito do sistema de saúde que podem ser generalizadas para diferentes unidades e/ou ambientes de oncologia, por populações ou serviços especializados. 3 15 100% Total: 18 competências Domínio 6 - Educação em saúde e pesquisa 120. Desenvolve materiais educacionais relacionados à oncologia para pacientes, cuidadores/familiares, equipe de saúde e membros da comunidade em geral. 1 23 100% 121. Planeja e implementa programas de educação/orientação: a comunidade em geral, populações de risco e pacientes com diagnóstico de câncer prévio, atual ou potencial; família e cuidadores. 1 23 100% 122. Participa e/ou realiza pesquisas clínicas e de enfermagem para promover resultados positivos para pacientes com câncer. 1 23 95,7% 123. Fornece informações sobre ensaios clínicos e pesquisas para os quais os pacientes podem ser elegíveis. 1 23 95,7% 124. Contribui para a base de conhecimento em oncologia por meio de atividades como divulgação/extensão à comunidade, envolvimento em organizações profissionais e/ou instituições de ensino, apresentações em eventos e publicações científicas. 1 23 100% 125. Contribui com o processo de educação em saúde, o qual envolve as equipes, gestores e comunidade em geral, que necessitam construir seus conhecimentos e aumentar sua autonomia nos cuidados individuais e coletivos, especialmente relacionados à temática do câncer.* 2 21 95,2% Total: 6 competências *Nova competência proposta pelos membros especialistas. Fonte: a autora. 106 Em 2005, a Oncology Nursing Society (Sociedade de Enfermagem Oncológica) convidou organizações nacionais relacionadas a prática avançada com intuito de revisar, analisar, debater e desenvolver as competênciasdos enfermeiros de prática avançada em oncologia. Na ocasião, decidiu-se separar as competências dos NP e CNS oncológicos para o consenso devido às diferenças em suas funções e atuação profissional, embora algumas das competências possam se sobrepor entre estas categorias em alguns dos cenários de prática clínica (ONS, 2008). Após esta iniciativa foram validados e publicados os documentos com as recomendações de competências essenciais para a formação de enfermeiros de prática avançada em oncologia, o qual apresentam 110 competências para o CNS (ONS, 2008) e 121 competências para o NP (ONS, 2019). As competências do ECEO foram elaboradas e direcionadas para uma prática profissional eficaz e de qualidade, relacionando custo-benefício nos resultados clínicos dos pacientes, assim como colaborando e influenciando a prática da equipe de enfermagem e interdisciplinar e dos sistemas e instituições de saúde (ONS, 2008). Embora o ECEO possa atuar em uma determinada área da oncologia, eles devem ser preparados para fornecer cuidados nas mais variadas configurações de atenção à saúde. Assim, a formação do ECEO para a prática avançada requer o desenvolvimento de competências específicas para atuar com os pacientes com câncer e suas famílias durante todo o continuum de atendimento, incluindo prevenção, rastreamento, detecção precoce, diagnóstico, tratamento, reabilitação, sobrevivência (survivorship) e cuidados paliativos, ou seja, da atenção primária até o fim da vida, em conjunto com a equipe interdisciplinar de saúde. Observa-se que esta formação envolve uma ampla preparação educacional, como por exemplo, disciplinas de fisiopatologia, farmacologia e avaliação clínica avançadas, bem como a realização de cursos específicos e experiências clínicas necessárias para que este profissional desenvolva todas as competências preconizadas (ONS, 2008). Por este motivo, há um direcionamento para que a formação seja a nível de doutorado (WALKER; POLANCICH, 2015). Além disso, a Associação Nacional de Especialistas em Enfermagem Clínica (NACNS) afirma que a prática avançada possui três princípios fundamentais: alta qualidade de cuidado; prática baseada em evidências; e, cuidado centrado no paciente (NACNS, 2019). Apesar da enfermagem de prática avançada existir nos Estados Unidos da América há mais de 40 anos, apenas 16% dos profissionais concluíram um programa educacional com foco principal na área de oncologia no país (MACKEY et al., 2018). Ademais, observa-se ainda que a atuação deste enfermeiro se torna um desafio devido à complexidade e diversidade da prática, adicionado ao aparecimento de novos e variáveis conhecimentos dos últimos anos (LOPES- JÚNIOR et al., 2016). Os avanços tecnológicos e científicos mudam continuamente os cuidados 107 aos pacientes com câncer, logo, refletem no papel do enfermeiro de prática avançada nos diversos ambientes de atendimento (ONS, 2019). Uma revisão sistemática (SCHNEIDER; KEMPFER; BACKES, 2021) que buscou evidências sobre a formação de enfermeiros de prática avançada em oncologia para o melhor cuidado demonstrou, entre os principais resultados: melhores desfechos clínicos relacionados ao controle e manejo de sintomas; melhora na qualidade de vida e sobrevida dos pacientes com câncer; apoio em relação aos aspectos psicológicos, diminuindo as preocupações dos pacientes com a doença e/ou tratamento; garantia da satisfação do paciente; e tomada de decisão compartilhada, quando os pacientes eram assistidos por um enfermeiro de prática avançada. Assim, tal pesquisa demonstrou o valor deste profissional no campo da oncologia mediante uma formação clínica diferenciada e atuação avançada (SCHNEIDER; KEMPFER; BACKES, 2021). As principais barreiras relacionadas à expansão do papel de enfermeiros de prática avançada são: ausência de proteção do título; falta de clareza no papel e no desenvolvimento de suas funções; variabilidade na educação e formação profissional; ausência de competências definidas; resistência por parte de alguns membros da equipe de saúde; e, restrição dos regulamentos e legislações, a qual atrasam a introdução do papel deste profissional em diversos países (BRYANT-KUKOSIUS et al.; 2016; MAIER; AIKEN, 2016). Na China, entre as principais diretrizes para implantação e desenvolvimento da prática avançada, destacam-se o estabelecimento dos cargos de especialistas com base nas necessidades dos serviços e padronização de currículos e modelos educacionais. Em Hong Kong, as instituições de ensino credenciadas especificaram as competências mínimas necessárias, a estrutura do currículo e os exames de certificação/habilitação, com a finalidade de avaliar e certificar as enfermeiras de prática avançada para a atuação clínica, conforme especialidade relacionada, garantindo a manutenção da qualidade do cuidado à população (ICN, 2014). Há evidências no que concerne a necessidade de regulamentação e padronização dos currículos de pós-graduação para atender aos requisitos de formação de enfermeiros de prática avançada, a fim de melhorar os resultados de saúde do paciente, a qualidade da assistência e a eficiência dos sistemas de saúde (OLÍMPIO et al., 2018). Na América Latina, considerando a necessidade de estabelecer critérios para a formação de enfermeiros de prática avançada em Atenção Primária à Saúde (APS), a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendaram os seguintes modelos: 1) realização de mestrado profissional em programas oferecidos por universidades reconhecidas; 2) experiência profissional e formação clínica 108 adicional oferecidos por universidades reconhecidas; 3) realização do curso de residência uniprofissional ou multiprofissional na área de atuação pretendida em instituições acreditadas e, ao término de dois anos, obtenção do título de mestre e de enfermeiro de prática avançada. Além do exposto, foi apresentado neste mesmo documento as competências centrais dos enfermeiros de prática avançada em APS, o qual inclui sete domínios (Gestão da atenção, Ética, Colaboração interprofissional, Promoção e prevenção na saúde, Prática baseada em evidência, Pesquisa e Liderança), com 64 competências, a fim de orientar a preparar a prática e a regulamentação da enfermagem (OPAS, 2018). Nota-se que os domínios estabelecidos são semelhantes aos aqui apresentados na pesquisa, corroborando com a essência desta formação. Estudo que buscou estabelecer as competências centrais dos enfermeiros de prática avançada nos países da América Latina (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, México, Nicarágua, Uruguai e El Salvador), apresentou em seus resultados 26 competências, entre os domínios: Cuidados clínicos, Comunicação interdisciplinar e centrada no paciente e Contexto do cuidado e prática baseada em evidências. O consenso fornece uma estrutura base para a construção de currículos e programas de educação para enfermeiros de prática avançada. Observa-se que tal estudo contribuiu especialmente à área de APS, enfatizando a necessidade de aperfeiçoar as competências conforme a realidade de cada país/região (HONIG; LINDRUD; DOHRN, 2019), porém seus resultados vão ao encontro da natureza da presente pesquisa desenvolvida na área de oncologia. No Brasil, em 2016, o Conselho Federal de Enfermagem (COFEn), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), a Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn), o Ministério da Saúde e a Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) pactuam a implementação da enfermagem de prática avançada. A proposta estabelecida foi dividida em 3 linhas: 1) fortalecimento de centros de excelência, consolidando linhas de pesquisa com foco em enfermagem de prática avançada; realização de mapeamento das atividades já realizadas pelos enfermeiros e formação de docentes e multiplicadores;ressaltando-se a importância de aperfeiçoar a formação profissional e estabelecer marcos normativos que garantam a segurança dos profissionais e pacientes; 2) implementação de currículo nuclear de práticas avançadas para os enfermeiros residentes de programas multiprofissionais, com a possibilidade de complementar estudos e concluir o mestrado profissional; 3) medidas para facilitar a implementação de protocolos para utilização nos programas de saúde que regulamentam as atuações (COFEN, 2016). Salienta-se que a implementação do papel de enfermeiros de prática avançada, mediante a formação e regulamentação adequadas é uma estratégia para a ampliação e cobertura 109 universal à saúde (OPAS, 2018). Entretanto, ainda que as discussões e ações nacionais estejam focadas para a implantação na APS, soluções inovadoras são imprescindíveis para enfrentar os desafios dos diversos espaços de atuação profissional e especialidades, sobretudo no cenário da oncologia, devido as estimativas mundiais de incidência e prevalência de câncer e a alta complexidade de cuidados. Se faz necessário ampliar os debates sobre os métodos de formação profissional por competências, criar e/ou adaptar programas de ensino para o nível avançado, reestruturar currículos e projetos pedagógicos, para que com a formação e a prática expandida, estes enfermeiros possam efetivamente promover grandes mudanças e resolutividades no cuidado prestado a esta população. É fundamental que os ECEO desenvolvam competências específicas em uma ampla variedade de áreas de estudo, que possuam diretrizes de formação profissional e de prática clínica estabelecidas, assim como regulamentações para uma atuação de excelência em nosso país. Limitações do estudo Há a possibilidade de viés de respostas dos membros participantes/especialistas devido à falta de clareza sobre a EPA (conceitos, características, papel, formação e atuação deste profissional). Ressalta-se que no Brasil as discussões sobre o tema são recentes, apesar de emergentes, e as pesquisas estão concentradas em sua grande maioria na APS. Há também limitações relacionadas ao número de participantes que contemplam um pequeno universo de especialistas existente em nosso país. Contribuições para a área da enfermagem, saúde ou políticas públicas As competências validadas nesta pesquisa ilustram a essência da formação do ECEO e refletem o papel deste profissional no cuidado de pacientes com diagnóstico de câncer prévio, atual ou potencial, da prevenção ao fim da vida, em conjunto com a equipe interdisciplinar de saúde. Tal consenso colabora com as pesquisas brasileiras sobre o tema EPA, particularmente no contexto da oncologia, e poderá ser utilizado como base por instituições de ensino, associações, organizações e instituições de saúde, uniformizando e instrumentalizando assim o modelo de formação profissional do ECEO. 110 CONSIDERAÇÕES FINAIS Destaca-se que há pesquisas que evidenciam a importância da preparação educacional a nível de mestrado e/ou doutorado para a titulação e atuação do enfermeiro de prática avançada. Assim como, há um direcionamento em relação aos domínios de competências centrais destes profissionais, apontados também na presente pesquisa realizada no campo da oncologia. Aspectos referentes a liderança, colaboração interprofissional, julgamento clínico especializado, pensamento crítico, prática baseada em evidências, gestão do cuidado, ética e compromisso profissional, comunicação, educação/ensino, pesquisa e autonomia profissional fazem parte da natureza da EPA. Salienta-se que a formação do ECEO propõe o desenvolvimento de competências centrais para a atuação em pacientes com câncer e suas famílias durante todo o continuum de atendimento, da promoção à saúde aos cuidados paliativos, em conjunto com a equipe interdisciplinar de saúde. Tal formação envolve conteúdos e experiências voltadas para a prática clínica, cujas competências irão conduzir a uma atuação profissional avançada. Espera-se que a relação de competências centrais apresentadas e validadas na presente pesquisa contribuam para a elaboração de novos modelos de formação voltados para a prática avançada em oncologia, assegurando assim cuidados de excelência aos pacientes com câncer. REFERÊNCIAS AACN. American Association of College of Nursing. Common advanced practice registered nurse doctoral-level competencies. 2017. Disponível em: https://www.aacnnursing.org/Portals/42/AcademicNursing/pdf/Common-APRN-Doctoral- Competencies.pdf. Acesso em: 25 out. 2020. AACN. American Association of College of Nursing. The essentials of doctoral education for advanced nursing practice. 2006. Disponível em: https://www.aacnnursing.org/Portals/42/Publications/DNPEssentials.pdf. Acesso em: 15 out. 2020. BEZERRIL, M. S. et al. Advanced practice nursing in Latin America and the Caribbean: context analysis. Acta Paulista de Enfermagem, v. 31, n. 6, p. 636-643, 2018. BRYANT-LUKOSIUS, D. et al. 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Mediante estes dados, buscou-se propor um programa de enfermagem de prática avançada em oncologia para o contexto brasileiro no formato de pós-graduação stricto sensu, considerando as normativas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Resultados: o desenvolvimento do programa justifica-se pela alta incidência e prevalência de câncer; sua estrutura pedagógica considera 125 competências centrais; a proposta das matrizes curriculares dos cursos de mestrado e doutorado profissional possuem quatro módulos (autonomia profissional, liderança, prática baseada em evidências e pesquisa avançada em enfermagem e oncologia) e seus respectivos cursos (teóricos e teórico-práticos). Considerações finais: a proposta do programa de enfermagem de prática avançada em oncologia poderá ser utilizada por instituições de ensino, associações, organizações e instituições de saúde como um alicerce, com o intuito de uniformizar e instrumentalizar o modelo de formação do enfermeiro clínico especialista em oncologia. Palavras-chave: Enfermagem oncológica. Prática avançada de enfermagem. Competência profissional. Educação em enfermagem. Capacitação de recursos humanos em saúde. Educação de pós-graduação em enfermagem. ABSTRACT Objective: to propose a professional training model for advanced nursing practice in oncology for Brazil. Methods: exploratory research of a qualitative nature carried out from the collection and analysis of data in documents available for public consultation. Based on these data, an attempt was made to propose an advanced oncology nursing program for the Brazilian context in the stricto sensu postgraduate format, considering the regulations of the Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel (CAPES). Results: the development of the program is justified by the high incidence and prevalence of cancer; its pedagogical structure considers 125 core competencies; the proposal of the curricular matrices of the professional master's and doctoral courses have four modules (professional autonomy, leadership, evidence- based practice and advanced research in nursing and oncology) and their respective courses (theoretical and theoretical-practical). Final considerations: the proposal of the advanced practice nursing program in oncology can be used by educational institutions, associations, 7 Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Florianópolis, SC, Brasil. https://orcid.org/0000-0002-7187-0906 https://orcid.org/0000-0003-2950-9049 114 organizations and health institutions as a foundation to standardize and implement the training model of the clinical nurse specialist in oncology. Keywords: Oncology nursing. Advanced practice nursing. Professional competence. Nursing education. Health human resource training. Nursing graduate education. INTRODUÇÃO A Organização Mundial da Saúde (OMS) realiza reuniões com a participação dos estados-membros com o objetivo de propor e debater estratégias que visem a Cobertura Universal de Saúde (CUS). Nestes encontros, identificaram-se dois principais desafios a serem solucionados: a alta qualidade dos serviços de saúde e a proteção de risco financeiro. O acesso universal à saúde deve ser ofertado a todos os indivíduos em diferentes cenários, reconhecendo que a saúde está para além da dependência dos serviços médicos e consequente despesas inerentes (DIAS et al., 2013). Com o intuito de colaborar com a implementação de recursos humanos, em 2013 a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) lançou a “Resolução Recursos Humanos para a Saúde: Ampliando o Acesso aos Profissionais de Saúde Qualificados em Sistemas de SaúdeBaseados na Atenção Primária à Saúde”, ressaltando a importância do aumento do número de enfermeiros de prática avançada para apoiar os sistemas de saúde (OPAS, 2013). A partir deste momento, iniciam-se as discussões sobre o futuro da enfermagem e a implantação da prática avançada na América Latina e Caribe. No Brasil, em 2015, a OPAS, a Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn) e o Conselho Federal de Enfermagem (COFEn) se reuniram para dialogar sobre o processo de implantação da enfermagem de prática avançada (EPA) na Atenção Primária à Saúde (APS), tendo como base a experiência canadense e americana. Na ocasião, considerou-se a necessidade de aumentar o escopo de práticas do enfermeiro, desenvolvendo e aprofundando o trabalho interprofissional e colaborativo com um perfil profissional de alta resolutividade. Assim, nota- se que a implantação da EPA é uma proposta inovadora e com grande potencial de impacto positivo na ampliação do acesso à saúde da população (COFEN, 2015). A pactuação da implantação da EPA ocorreu em 2016 entre as entidades COFEn, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), ABEn e Ministério da Saúde. Nesta reunião, o presidente do COFEn afirmou que “As práticas avançadas já são uma realidade no 115 Brasil”, ressaltando a importância de aperfeiçoar a formação e estabelecer marcos normativos que garantam a segurança dos profissionais e pacientes (COFEN, 2016). A maioria das ações nacionais estão focadas na EPA em APS (OPAS, 2018a; BEZERRIL et. al., 2018). Contudo, soluções inovadoras são imprescindíveis para enfrentar os demais desafios nos diversos campos de atenção à saúde, especialidades e atuação profissional. Desta forma, propor métodos para a expansão do papel do enfermeiro de prática avançada na área da oncologia contribuirá com os serviços de saúde e com a população brasileira, considerando a alta incidência e prevalência de câncer. É necessário debater, adaptar, ampliar e validar a formação profissional por competências em especialidades críticas e complexas. Os enfermeiros com educação avançada podem efetivamente promover grandes mudanças na realização dos cuidados em todo o continuum de atendimento. Assim sendo, é notória a importância de profissionais qualificados, como os enfermeiros de prática avançada em oncologia, com competências específicas para atuar com esse perfil de paciente com necessidades tão complexas de cuidado. Schneider, Kempfer e Backes (2021), através de uma revisão sistemática, buscaram evidências sobre a formação de enfermeiros de prática avançada em oncologia para o melhor cuidado, demonstrando entre os principais resultados: melhores desfechos clínicos relacionados ao controle e manejo de sintomas; melhora na qualidade de vida e sobrevida dos pacientes com câncer; apoio em relação aos aspectos psicológicos, diminuindo as preocupações dos pacientes com a doença e/ou tratamento; garantia da satisfação do paciente; e, tomada de decisão compartilhada. Tal pesquisa demonstrou a importância deste profissional no campo da oncologia mediante uma formação clínica diferenciada e atuação avançada (SCHNEIDER; KEMPFER; BACKES, 2021). Destaca-se que o enfermeiro de prática avançada é aquele que adquiriu o alicerce de conhecimentos especializados, habilidades complexas de tomada de decisão e competências clínicas para uma prática expandida, cuja atuação é moldada conforme o contexto de cada país e de acordo com os diversificados campos de prática existentes (ICN, 2020). A formação inicial do enfermeiro de prática avançada ocorre a nível de mestrado (ICN, 2020), realizada por programas educacionais reconhecidos e cursos com objetivos e conteúdos voltados para a prática clínica (BRYANT-LUKOSIUS; MARTIN-MISENER, 2016). Este é o ponto de partida para discussões sobre estratégias para a consolidação da formação profissional, tendo em vista que esta é parte integrante para uma atuação eficaz e segura. Salienta-se ainda que, em alguns países, o enfermeiro de prática avançada possui uma formação que vai além do mestrado, para que assim, seja concebível a expansão do escopo de sua prática (ZUG et al., 2016). 116 Destarte, o presente estudo teve como pergunta norteadora: quais são os preceitos fundamentais de um modelo de formação profissional de enfermagem de prática avançada em oncologia para o Brasil? OBJETIVO Propor um modelo de formação profissional de enfermagem de prática avançada em oncologia no Brasil. MÉTODO Trata-se de uma pesquisa exploratória de natureza qualitativa realizada a partir da coleta e análise de dados em documentos específicos disponíveis para consulta pública, relacionados a instituições educacionais ou de saúde, conselhos, sociedades, associações e/ou organizações de enfermagem de prática avançada e a área de enfermagem oncológica. A busca documental ocorreu entre abril e julho de 2020 por meio de informações on- line de domínio público, divulgado na íntegra, em qualquer idioma, sem limite temporal de ano de publicação. Buscou-se de forma manual por documentos e/ou informações relacionadas a EPA e seu processo de formação profissional, bem como pelas palavras-chaves: advanced practice nursing, clinical nurse specialist, nurse practitioner, oncology nursing, education e competences. Os dados foram coletados com o auxílio de um instrumento estruturado, contendo: nome da entidade; estado/país; definição/conceito sobre EPA; características da EPA; preparação educacional; e, competências. Os dados foram traduzidos e organizados em quadros (Word®). Posteriormente a coleta dos dados, as informações foram analisadas e compiladas, caracterizando-as conforme os modelos de formação existentes. Mediante estes dados, objetivou-se elaborar uma proposta de um programa de EPA em oncologia para o Brasil no formato de pós-graduação stricto sensu, considerando também as normativas da CAPES. Assim, destaca-se que este estudo está organizado em duas sessões: 1) caracterização da EPA, com foco no processo de formação educacional; e, 2) proposição de um programa para a formação de EPA em oncologia mediante cursos de mestrado e doutorado profissional. 117 RESULTADOS CARACTERIZAÇÃO DA ENFERMAGEM DE PRÁTICA AVANÇADA Os termos usualmente utilizados para se referir ao enfermeiro de prática avançada são: nurse practitioner (NP) e clinical nurse specialist (CNS). As características destes profissionais são observadas no Quadro 1 (ICN, 2020). Quadro 1 – Características dos enfermeiros de prática avançada: CNS e NP. CNS NP Enfermeiro de prática avançada que realiza atendimento clínico especializado com base em avaliação diagnóstica estabelecido em cenários de prática clínica, por meio de uma abordagem sistêmica de cuidado e atuação colaborativa com os membros da equipe de saúde. Enfermeiro de prática avançada que possui um maior envolvimento no atendimento clínico, tendo um escopo expandido de prática que lhe dá autonomia para coordenar diagnósticos e prescrever tratamentos e/ou medicamentos. Mestrado como qualificação educacional mínima. Mestrado como qualificação educacional mínima. Papéis com níveis crescentes de competências, utilizando habilidades de pesquisa, educação, liderança e diagnóstico clínico. Papéis com níveis crescentes de competência utilizando habilidades de pesquisa, educação, liderança e diagnóstico clínico. Necessidade de manter competências clínicas através do desenvolvimento profissional contínuo. Necessidade de manter competências clínicas através do desenvolvimento profissional contínuo. Escopo de prática definido em uma especialidade. Escopo abrangente de prática específica para o NP com atividades que incluem prescrição, diagnóstico e gerenciamento de tratamento. Fornece atendimento direto e indireto, geralmente a pacientes com diagnóstico estabelecido.Fornece atendimento clínico direto a pacientes com condições não diagnosticadas, além de fornecer atendimento contínuo àqueles com diagnóstico já estabelecido. Trabalha dentro de um campo de prática especializado, com responsabilidades em um nível avançado. Trabalha genericamente em uma variedade de campos de prática e configurações, com responsabilidades em um nível avançado. Trabalha com populações definidas (por exemplo, oncologia, controle da dor, cardiologia). Trabalha com diversificadas populações. Trabalha de forma autônoma e colaborativa com a equipe de enfermagem ou outros profissionais de saúde e organizações. Trabalha de forma autônoma e em colaboração com outros profissionais de saúde. Responsabilidade clínica compartilhada com outros profissionais de saúde. Assume total responsabilidade clínica e gerenciamento da sua população de pacientes. Trabalha como consultor para enfermeiros e outros profissionais de saúde na gestão de problemas complexos no atendimento ao paciente. Realiza avaliações e investigações avançadas de saúde a fim de fazer diagnósticos diferenciais. Fornece atendimento clínico relacionado a um diagnóstico diferenciado. Avalia e inicia um plano de gerenciamento de tratamento após uma investigação avançada de saúde com base na condução de diagnósticos diferenciais. Influencia a prática clínica e de enfermagem especializada por meio de liderança, educação e pesquisa. Engaja-se em liderança clínica, educação e pesquisa. Fornece cuidados baseados em evidências e apoia enfermeiros e outros profissionais de saúde a fornecerem cuidados com base em evidências. Fornece cuidados baseados em evidências. Avalia os resultados dos pacientes para identificar e influenciar as melhorias clínicas do sistema. Frequentemente tem autoridade para encaminhar e admitir pacientes nas instituições de saúde. Pode ou não ter algum nível de autoridade de prescrição em uma especialidade. Geralmente tem autoridade para prescrever. Fonte: ICN (2020). 118 Assim, mediante estes conceitos e atributos relacionados à atuação profissional, acredita-se que para o contexto da enfermagem brasileira a concepção e a implantação da EPA poderão ocorrer mais naturalmente nos moldes do CNS. No que concerne o processo de formação educacional nos países que já têm instituída a EPA, nota-se as seguintes características (CNA, 2008; RCN 2012; ICN, 2014; 2020; NMBI 2017, NONPF 2017): EUA: bacharelado em enfermagem em quatro anos e aproximadamente dois anos de pós-graduação para obtenção do título de mestre como enfermeiro de prática avançada. Número de 500 horas exigidas mediante práticas avançadas supervisionadas de atendimento direto ao paciente; Canadá: preparação educacional mínima de pós-graduação stricto sensu em enfermagem somada a experiência clínica para o desenvolvimento das competências necessárias. Para o CNS, a preparação educacional mínima é um mestrado ou doutorado em enfermagem com especialização em uma determinada área clínica da enfermagem; Reino Unido: licenciatura em enfermagem ou área equivalente e pós-graduação para obtenção do título de mestre ou doutor em enfermagem. Além disto, deverá ter experiência clínica de no mínimo três anos, em tempo integral, na especialidade de sua escolha. Para se tornar um enfermeiro prescritor é necessário realizar cursos específicos, treinamentos e avaliações de desempenho. Número de 500 horas exigidas mediante práticas avançadas supervisionadas (diretas e indiretas); China: preparação educacional mínima de pós-graduação stricto sensu para o título de mestre ou doutor em enfermagem; Irlanda: preparação educacional mínima de pós-graduação stricto sensu para o título de mestre ou doutor em enfermagem. O programa deve ser em uma área que reflita o campo de prática especializada, relacionando as competências descritas para a profissão. Além disto, deverá ter experiência clínica de no mínimo sete anos, sendo cinco destes relacionados a especialidade escolhida. Número de ao mínimo 500 horas é exigido mediante práticas avançadas supervisionadas (enfermeiros ou outros profissionais de saúde), pertencentes a área; Nova Zelândia: preparação educacional mínima de pós-graduação stricto sensu para o título de mestre em enfermagem. Número de 300 horas é exigido; Alemanha: preparação educacional mínima de pós-graduação stricto sensu para o título de mestre em enfermagem. 119 Observa-se que a formação em EPA possui configurações distintas entre os países, com programas de mestrado e/ou doutorado com atividades teórico-práticas que instrumentalizam o profissional para as diferentes áreas de atuação por meio do desenvolvimento de cerca de 300 a 500 horas clínicas. Já com relação à formação educacional do enfermeiro de prática avançada em oncologia, estão resumidas e apresentadas no Quadro 2 algumas das características de cursos de mestrado e doutorado existentes nos EUA: Quadro 2 – Características de cursos de EPA em oncologia existentes nos EUA. Instituição de ensino Título Estruturação do curso / currículo Duke University School of Nursing (Durham, Carolina do Norte) https://nursing.duke.edu/ Especialista em oncologia avançada (Oncology specialty). - Mestrado. - NP. Existem três cursos específicos (formação adicional em oncologia), integrados ao curso de NP generalista: 1) enfermagem de prática avançada: oncologia I; 2) enfermagem de prática avançada: oncologia II; e, 3) síntese da enfermagem de prática avançada em oncologia. Conteúdo didático: conceitos de prevenção do câncer, epidemiologia/fisiopatologia do câncer, tratamento de doenças, gerenciamento de sintomas, cuidados paliativos e sobrevivência. Créditos obrigatórios: 9. Número de horas: 224 horas clínicas. Experiência clínica final sob a orientação de um clínico especialista em uma área da oncologia. Currículo baseado no escopo e padrões de prática avançada da Oncology Nursing Society (ONS). Instituição de saúde vinculada: Duke University Comprehensive Cancer Center. University of Pennsylvania School of Nursing (Filadélfia, Pensilvânia) https://www.nursing.upenn.edu/ Especialista em oncologia adulta (Adult oncology specialty certificate). - Mestrado. - CNS. Cursos obrigatórias específicos: 1) prática avançada de enfermagem para cuidados de oncologia (teórico); 2) efeitos e terapia do câncer (teórico); e, 3) enfermagem em oncologia: avaliação, diagnóstico e gestão do câncer (teórico-prático, horas clínicas). Número de horas: 250 horas clínicas. Currículo baseado nas competências do CNS, conforme recomendado pela Oncology Nursing Society (ONS). Instituição de saúde vinculada: Abramson Cancer Center. Columbia University School of Nursing (Nova York) https://www.cuimc.columbia.edu/ Nurse practitioner em oncologia (Oncology nurse practitioner). - Doutorado. - NP pediátrico ou adulto. Oncologia como uma subespecialidade, sendo o curso oferecido de forma complementar a outras áreas. NP são preparados para gerenciar as necessidades de cuidado físico e psicossocial das pessoas com câncer e de suas famílias ao longo da trajetória da doença. Currículo NP em oncologia pediátrica: 8 créditos (princípios e prática de oncologia I, gestão de sintomas no câncer, prática para o gerenciamento de sintomas do câncer e câncer na infância). Currículo NP em oncologia adulta: 8 créditos (princípios e prática de oncologia I, princípios e prática de oncologia II, gestão de sintomas no câncer, prática para o gerenciamento de sintomas do câncer). Fonte: a autora. https://www.nursing.upenn.edu/ https://www.nursing.upenn.edu/ 120 Desde 2005 a Oncology Nursing Society (Sociedade de Enfermagem Oncológica), em conjunto com outras organizações relacionadasà prática avançada, discute e revisa as competências centrais dos enfermeiros de prática avançada em oncologia. As competências dos CNS e NP oncológicos são distintas em sua maioria devido às diferenças em suas funções e atuação profissional (ONS, 2008). Há documentos com recomendações de 110 competências para o CNS (ONS, 2008) e 121 competências para o NP (ONS, 2019). Destaca-se que as instituições de ensino utilizam estes documentos para a elaboração de programas e/ou cursos de EPA em oncologia. É por meio das competências e elementos centrais comuns à prática avançada que se fornece a base para a elaboração dos currículos que necessitam também estar alinhados com a prática clínica deste profissional. Um caminho emergente para a formação profissional do enfermeiro de prática avançada está para além do mestrado, ou seja, em nível de doutorado, acreditando-se ser o futuro para a profissão. Alguns dos fatores que impulsionam essa mudança na educação incluem a rápida expansão do conhecimento subjacente à prática, a crescente complexidade do atendimento ao paciente, preocupações sobre a qualidade do atendimento e a segurança do paciente e escassez de recursos humanos de enfermagem que exigem um maior nível de preparação (AACN, 2020; NEVIDJON et al., 2010). Mediante o exposto, é apresentada a seguir a proposta do programa de EPA em oncologia para o Brasil – mestrado e doutorado profissional, pautada no modelo americano de formação e atuação em prática avançada, denominado clinical nurse specialists (enfermeiro clínico especialista), em consonância com as suas competências centrais. PROPOSTA DE UM PROGRAMA PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM DE PRÁTICA AVANÇADA EM ONCOLOGIA Os debates sobre os sistemas de saúde, ampliação do acesso à saúde, recursos humanos e qualidade da assistência à saúde incitam reflexões sobre as estratégias de inovação e reconfiguração da saúde, com o objetivo de proporcionar modelos mais eficazes e sustentáveis de cuidados, sendo a implantação da EPA um dos quesitos fundamentais para tal resolutividade. Para viabilizar o papel do enfermeiro de prática avançada nos sistemas de saúde é necessário analisar e estruturar a formação profissional. Na oncologia, esta formação trará novas perspectivas de cuidados (diretos ou indiretos), nos diferentes cenários de atuação profissional. Todavia, não impactará somente a operacionalização e o fazer cotidiano, mas também as 121 estruturas envolvidas no processo como o ensino, a pesquisa, a gestão, as políticas institucionais e/ou públicas, conduzindo para novos olhares e dinâmicas de atuação, para a melhoria da saúde da população brasileira. O Brasil apresenta uma posição de destaque entre os países da América Latina e do Caribe por ter maiores condições de estabelecer programas de pós-graduação (stricto sensu) em enfermagem de prática avançada (COSTA-MENDES, 2016), conforme observado no Quadro 3. Quadro 3 – Quantitativo de programas e cursos de pós-graduação stricto sensu em enfermagem no Brasil. Pós-graduação stricto sensu em enfermagem Quantitativo de programas e cursos Mestrado acadêmico Doutorado acadêmico Mestrado profissional Doutorado profissional Mestrado acadêmico Doutorado acadêmico Mestrado profissional Doutorado profissional 79 Programas 16 2 22 0 37 2 118 Cursos 53 39 24 2 -- -- Fonte: CAPES (2021a). A escolha para o desenvolvimento do programa de EPA em oncologia justifica-se pela alta incidência e prevalência de câncer. A estimativa mundial aponta que, em 2020, ocorreram 19,3 milhões de casos novos de câncer e cerca de 10 milhões de óbitos no mundo (SUNG, 2021). No Brasil, estima-se no biênio 2020-2022 a ocorrência de 625 mil novos casos de câncer, para cada ano. Estas estimativas refletem o perfil de um país que possui os cânceres de próstata, pulmão, mama feminina e cólon e reto entre os mais incidentes, embora ainda apresente altas taxas para os cânceres do colo do útero, estômago e esôfago (INCA, 2019). De acordo com estes dados, é perceptível a importância de profissionais qualificados, como os enfermeiros de prática avançada, com competências específicas para atuar com esse perfil de paciente com necessidades tão complexas de cuidado. A elaboração do programa considera as 125 competências centrais do enfermeiro clínico especialista em oncologia (ECEO), validadas a partir do desenvolvimento da técnica Delphi, conforme os seis domínios (Figura 1): 122 Figura 1 – Domínios e competências centrais do enfermeiro clínico especialista em oncologia (ECEO) – Consenso Delphi. Fonte: a autora. Objetivos da formação Formar enfermeiros de prática avançada em oncologia com competências centrais que conduzam cuidados pautados nos princípios éticos e humanísticos, conhecimentos técnico-científicos avançados, práticas baseadas nas melhores evidências, liderança clínica, autonomia profissional e atuação de forma colaborativa e transdisciplinar para a excelência no atendimento ao paciente com câncer e sua família; Desenvolver conhecimentos, habilidades e atitudes em todas as dimensões da oncologia, tais como: promoção da saúde e prevenção do câncer, avaliação do estado de saúde/doença, diagnóstico e plano de cuidados, reabilitação e cuidados paliativos, considerando os aspectos biopsicosocioespiritoculturais envolvidos no atendimento; Desenvolver habilidades de reflexão crítica, julgamento clínico especializado e tomada de decisão que envolvam o cuidado em oncologia; Gestão do cuidado Ética e compromisso profissional Liderança Colaboração interprofissional Prática baseada em evidências Educação em saúde e pesquisa D1 – Gestão do cuidado: 43 competências. Este domínio está subdividido em: promoção da saúde e prevenção do câncer (3 competências); avaliação do estado de saúde/doença (18 competências); diagnóstico e plano de cuidados (21 competências); e, avaliação do plano de cuidados (8 competências). D2 – Ética e compromisso profissional: 14 competências. D3 – Liderança: 26 competências. D4 – Colaboração interprofissional: 11 competências. D5 – Prática baseada em evidências: 18 competências. D6 – Educação em saúde e pesquisa: 6 competências. 123 Gerar conhecimentos por meio de pesquisas e inovações contínuas, atualização e debates sobre a oncologia e a EPA, uso de tecnologias e envolvimento com políticas e regulamentos relacionados à oncologia. As propostas das matrizes curriculares dos cursos de mestrado e doutorado profissional de EPA em oncologia podem ser observadas nos Quadros 4 e 5, mediante quatro módulos/eixos (autonomia profissional; liderança; prática baseada em evidências; e, pesquisa avançada em enfermagem e oncologia) e seus respectivos cursos (teóricos e teórico-práticas), que integram a prática clínica: Quadro 4 – Proposta de matriz curricular do curso de mestrado profissional de EPA em oncologia. Módulos / Eixos Cursos Créditos Autonomia Pensamento crítico e julgamento clínico avançado Gestão do cuidado avançado – seminário de estudos de casos clínicos 4 Liderança Liderança clínica Colaboração interprofissional Cuidado centrado no paciente oncológico* 4 Prática baseada em evidências Promoção da saúde e prevenção do câncer, avaliação do estado de saúde/doença, diagnóstico e plano de cuidados Tecnologias emergentes para a prática avançada em oncologia Custo-efetividade em oncologia* Prática clínica supervisionada (mentoria) 8 Pesquisa em prática avançada em enfermagem e oncologia Pesquisas clínicas e de enfermagem em oncologia Elaboração de artigos científicos Seminário de tese/desenvolvimento de um produto ou processo Participação em eventos científicos 8 * 2 cursos optativos (3 créditos). Tempo previsto: 24 meses 27 créditos (máximo) – 405 horas24 créditos (mínimo) – 360 horas Fonte: a autora. Um dos diferenciais planejados para este programa é a possibilidade de internacionalização a partir da cooperação institucional, ou seja, uma oportunidade de experienciar o estágio doutoral em um outro país, para o acompanhamento das atividades de um enfermeiro de prática avançada em instituições de referência em oncologia. Há ainda a possibilidade de realizar atividades de prática clínica em instituições de saúde nacionais de oncologia e/ou ensino e pesquisa, conforme parcerias instituídas. Observa-se que a área de concentração e linhas de pesquisa serão definidas posteriormente, conforme a instituição a qual o programa estará vinculado. 124 Quadro 5 – Proposta de matriz curricular do curso de doutorado profissional de EPA em oncologia. Módulos / Eixos Cursos Créditos Autonomia Autonomia e responsabilidade profissional e legal Pensamento crítico, julgamento clínico avançado e tomada de decisão Interdisciplinaridade/Transdisciplinaridade em oncologia Gestão do cuidado avançado – seminário de estudos de casos clínicos Prática clínica supervisionada (mentoria) 8 Liderança Liderança profissional Colaboração interprofissional Cuidado centrado no paciente oncológico Inteligência emocional Empatia* Prática clínica supervisionada (mentoria) 10 Prática baseada em evidências Promoção da saúde e prevenção do câncer, avaliação do estado de saúde/doença, diagnóstico e plano de cuidados Tecnologia e inovação em saúde, enfermagem e oncologia Cuidados paliativos em oncologia Survivorship em oncologia* Práticas integrativas e complementares em oncologia* Genética/genômica em oncologia* Custo-efetividade em oncologia Prática clínica supervisionada (mentoria) 14 Pesquisa em prática avançada em enfermagem e oncologia Pesquisas clínicas e de enfermagem em oncologia Elaboração de artigos científicos Seminário de tese/desenvolvimento de um produto ou processo Participação em eventos científicos 12 * 4 cursos optativos (8 créditos). Tempo previsto: 36 meses 44 créditos (máximo) – 660 horas 36 créditos (mínimo) – 540 horas Fonte: a autora. Trabalho de conclusão do curso (Dissertação e Tese) Deverá ser desenvolvido conforme recomendações da CAPES, atendendo às demandas da sociedade, alinhadas com o objetivo do programa, utilizando-se o método científico e o estado da arte do conhecimento, seguindo-se os princípios da ética (CAPES, 2019). Sugere-se o desenvolvimento de estudos clínicos, projetos de intervenção, construção e validação de instrumentos para a prática clínica, elaboração e validação de protocolos assistenciais e/ou gerenciais, concepção de produtos e/ou novas tecnologias – relacionados à área da oncologia e que transformem a realidade dos atendimentos. Público-alvo Mestrado profissional: a) Enfermeiros que concluíram o curso de residência uniprofissional ou multiprofissional na área da oncologia e/ou onco-hematologia 125 (5.760 horas); b) Enfermeiros que realizaram o curso de especialização em oncologia ou onco-hematologia (360 horas) e que possuem dois anos ou mais de experiência como enfermeiro no campo da oncologia. Doutorado profissional: a) Enfermeiros que realizaram pós-graduação lato sensu em oncologia ou onco-hematologia e mestrado profissional (áreas relacionadas) e que possuem três anos ou mais de experiência como enfermeiro no campo da oncologia; b) Enfermeiros que concluíram o mestrado profissional na área de oncologia e que possuem três anos ou mais de experiência como enfermeiro no campo da oncologia. Processo seletivo Será realizado mediante prova de conhecimento sobre enfermagem oncológica a partir de referências bibliográficas previamente publicadas; análise de projeto de pesquisa; proficiência na língua inglesa; análise de currículo; e entrevista. Perfil do egresso Enfermeiros de prática avançada em oncologia com competências centrais para a atuação no cuidado ao paciente com câncer e sua família, o qual utiliza de práticas baseadas em evidências para o melhor cuidado e considera os aspectos biopsicosocioespiritoculturais envolvidos em todo o continuum do atendimento do câncer, em colaboração com a equipe de saúde. No Brasil, a formação do enfermeiro de prática avançada em oncologia ainda não está consolidada, apesar das discussões nacionais e interesses na implantação da EPA. De acordo com as normas para o funcionamento de cursos de pós-graduação stricto sensu do Ministério da Educação (MEC), por meio da Resolução nº 7 de 11 de dezembro de 2017, salienta-se que os programas deverão promover “a capacitação profissional qualificada para práticas avançadas, inovadoras e transformadoras dos processos de trabalho, visando atender às demandas sociais, econômicas e organizacionais dos diversos setores da economia”. Assim sendo, a proposta do programa de EPA com foco na área de oncologia atende as necessidades da população brasileira, assim como, apresenta os critérios mínimos para formação deste profissional de prática avançada para o alcance das competências centrais desejadas, fornecendo também a proteção do título (ABMES, 2017). 126 DISCUSSÃO A profissão de enfermagem está em constante desenvolvimento e aperfeiçoamento para atender os desafios da saúde na esfera mundial, com condições de responder e gerenciar a saúde da população em diversos estágios da vida. Os enfermeiros são profissionais que utilizam uma abordagem integrada e holística, incluindo a promoção da saúde, prevenção de doenças, tratamentos, reabilitação e cuidados paliativos. Entretanto, para que os enfermeiros possam melhorar consideravelmente a saúde da população e expandir sua atuação por meio da prática avançada, é necessário que ocorram diversificadas mudanças para que os desafios sejam superados. O desenvolvimento de políticas que fortaleçam a formação nos níveis de pós- graduação, a regulação, a educação permanente, a prática profissional e a remuneração são aspectos primordiais a serem discutidos neste cenário (CASSIANI; ZUG, 2014). Na América Latina, ainda não existe uma regulação e/ou uma formação certificada para que os enfermeiros possam atuar com práticas avançadas em qualquer campo de atuação. O México conta com uma regulação recente, que permite aos enfermeiros prescreverem medicamentos na ausência de um médico e em situações de emergência. O Caribe, a Jamaica e Porto Rico são os países que mais têm desenvolvido programas de formação e regulação, facilitando assim o desenvolvimento do trabalho. Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México, Panamá e Peru possuem um alto grau de acesso à educação de pós-graduação em enfermagem e são países potenciais para oferecer a formação necessária em práticas avançadas (OPAS, 2018b). A Resolução n° 7 de 11 de dezembro de 2017 do Conselho Nacional de Educação (CNE), que estabelece normas para o funcionamento de cursos de pós-graduação stricto sensu, apresenta nas suas disposições gerais os seguintes conceitos: os cursos de mestrado e doutorado são orientados ao desenvolvimento da produção intelectual comprometida com o avanço do conhecimento e de suas interfaces, com o bem econômico, a cultura, a inclusão social e o bem- estar da sociedade; estes cursos se diferenciam pela duração, complexidade, aprofundamento e natureza do trabalho de conclusão (CAPES, 2021b). Já a Portaria n° 60 de 20 de março de 2019, que dispõe sobre o mestrado e doutorado profissional no âmbito da pós-graduação stricto sensu, descreve entre alguns dos objetivos dos cursos: capacitar profissionais qualificados para o exercício da prática profissional avançada e transformadora; promover a articulação integrada da formação profissional com entidades demandantes de naturezas diversas, visando melhorar a eficácia e a eficiência das organizações públicase privadas por meio da solução de problemas e geração e aplicação de processos de inovação apropriados; formar doutor com perfil 127 caracterizado pela autonomia, pela capacidade de geração e transferência de tecnologias e conhecimentos inovadores para soluções inéditas de problemas de alta complexidade em seu campo de atuação (CAPES, 2021b). Destaca-se que o Conselho Internacional de Enfermeiros (CIE) aponta características quanto à natureza da EPA, tais como: 1) habilidade de integrar pesquisa (evidências baseadas na prática), educação e gestão clínica; 2) alto grau de autonomia profissional e de independência na prática; 3) experiência na gestão de grande quantidade de casos em nível avançado; 4) reconhecimento de competências clínicas avançadas; 5) habilidade em prestar serviços de consulta junto a outros profissionais da saúde; 6) habilidade de planejar, implementar e avaliar programas; 7) reconhecimento como primeiro contato dos usuários (profissional de referência); 8) autoridade para prescrever medicamentos e tratamentos; 9) autoridade para encaminhar pacientes a outros profissionais e admitir pacientes em hospitais; 10) reconhecimento oficial do título de enfermeiro de prática avançada e legislação política ou mecanismos regulatórios específicos (OPAS, 2018b). Dos mais de 192.000 enfermeiros de prática avançada trabalhando nos EUA, apenas 1%, ou seja, cerca de 1.900 enfermeiros são certificados em oncologia (AANP, 2015). Deste modo, aumentar o número de enfermeiros de prática avançada em oncologia deve ser uma meta contínua das instituições de saúde (WUJCIK, 2016). Ademais, salienta-se que as complexas necessidades de cuidados oncológicos à população e diversidade da prática, associadas às novas modalidades de tratamentos, inovações e tecnologias, criam amplas oportunidades de crescimento à EPA nos diversos ambientes de atendimento (CUNNINGHAM, 2004; LOPES- JÚNIOR et al. 2016; ONS, 2019). No Brasil, em 2009, se estabeleceu um perfil profissional de CNS em oncologia pediátrica. O Serviço de Enfermagem do Instituto de Oncologia Pediátrica (IOP) do Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (GRAACC), da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), em conjunto à área de Ensino e Desenvolvimento em Enfermagem (EDEnf), implantou uma nova metodologia de organização de trabalho incorporando nas atividades dos enfermeiros competências específicas de prática avançada, atendendo à realidade da instituição. O perfil definido para a função apresentou os seguintes pré-requisitos: ter formação acadêmica de nível superior em enfermagem e registro no Conselho Regional de Enfermagem (COREn); título de especialista lato sensu em Oncologia Pediátrica, Enfermagem Oncológica ou Enfermagem Pediátrica; ter ingressado ou estar se preparando para ingressar na pós-graduação stricto sensu em Enfermagem; ser associado à Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE); ter experiência mínima de dois anos na área ambulatorial, além de atuação nas 128 unidades de internação; ser aprovado nos cursos de capacitação em quimioterapia antineoplásica e cateter venoso central totalmente implantável existentes na instituição; e, ter disponibilidade para trabalho em regime de 40 horas semanais e fluência em inglês. Com relação às competências necessárias para o desenvolvimento da prática avançada de enfermagem na instituição, utilizou-se como base quatro pilares essenciais: assistência qualificada, educação/ensino (paciente, família, profissionais), pesquisa e gestão (DIAS et al. 2013). Atualmente, existem algumas instituições que possuem programas de pós-graduação stricto sensu em oncologia no Brasil, sendo estas: 1) Instituto Nacional do Câncer (INCA), com um programa profissional de “Saúde Coletiva e Controle do Câncer” e outro programa acadêmico de ‘Oncologia’; 2) Fundação Hospitalar A.C. Camargo Cancer Center, com programas acadêmico e profissional de “Oncologia”; 3) Universidade de São Paulo (USP), com um programa acadêmico de “Oncologia Clínica, Células-tronco e Terapia Celular”; 4) Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), com um programa profissional de “Oncologia”; (5) Universidade Federal do Pará (UFPA), com programas acadêmico e profissional de “Oncologia e Clínica Médica”; 6) Hospital do Amor (Fundação Pio XII) e Faculdade de Ciências da Saúde de Barretos Dr. Paulo Prata (FACISB), com um programa acadêmico de “Oncologia” e outro programa profissional de “Inovação em Saúde”; 7) Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), com um programa acadêmico de “Oncologia” e outro programa profissional. Estes programas atuam nas diversas áreas da oncologia com linhas de pesquisa diversificadas, oferendo qualidade e excelência em produção científica e de produtos. Com a EPA tendo como recomendação um nível educacional de mestrado ou doutorado em prática clínica, as instituições de saúde, universidades, profissionais/enfermeiros, coordenadores e docentes de cursos de pós-graduação stricto sensu poderão liderar, discutir, desenhar, conduzir e validar o processo ideal para a ampliação do papel dos enfermeiros, propondo critérios mínimos para a sua formação profissional (OLDENBURGER et al., 2017; OPAS, 2018a). É importante ressaltar o papel das Instituições de Ensino Superior (IES) na formação de futuros enfermeiros com uma visão crítica e reflexiva, sendo essencial para a transformação da prática profissional nos diversos cenários da saúde. Para atingir esta meta, é imperativo uma redefinição nos processos de formação, proporcionando uma organização curricular e projetos pedagógicos propícios para a formação de profissionais qualificados para a realização de mudanças que visem fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS) (TONHOM; MORAES; PINHEIRO, 2016). 129 CONSIDERAÇÕES FINAIS A formação em EPA possui configurações distintas entre os países de origem, com programas de mestrado e/ou doutorado, com atividades teóricas e teórico-práticas (horas clínicas), para a titulação do CNS e NP. Porém, aspectos referentes a liderança, colaboração interprofissional, julgamento clínico especializado, pensamento crítico, prática baseada em evidências, gestão do cuidado, ética e compromisso profissional, comunicação, educação/ensino, pesquisa e autonomia profissional fazem parte da natureza desta formação. O desenvolvimento de um programa de EPA para a especialidade da oncologia atende as necessidades da população, assim como, evidencia critérios mínimos para formação deste profissional de prática avançada para o alcance das competências centrais almejadas na prática clínica. Salienta-se que as matrizes curriculares dos cursos de mestrado e doutorado profissional em EPA em oncologia poderão ser utilizadas como base por instituições de ensino, associações, organizações e instituições de saúde, uniformizando e instrumentalizando assim o modelo de formação profissional do ECEO no Brasil. REFERÊNCIAS AACN. American Association of College of Nursing. DNP fact sheet. 2020. Disponível em: https://www.aacnnursing.org/News-Information/Fact-Sheets/DNP-Fact-Sheet. Acesso em: 02 set. 2021. 2009 AANP. American Association of Nurse Practioners. NP fact sheet. 2021. Disponível em: https://www.aanp.org/about/all-about-nps/np-fact-sheet. Acesso em: 02 set. 2021. 2015 ABMES. 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Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 24, n. e2807, 2016. 133 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo teve como propósito compreender como se constitui a formação do enfermeiro de prática avançada em oncologia por meio de evidências sobre como esta formação profissional impacta nos cuidados de pacientes com câncer, assim como mediante o mapeamento e validação das competências centrais e o desenvolvimento de uma proposta educacional. Buscou-se elucidar o processo formativo em âmbito internacional, a fim de desenhar uma proposta para o contexto da enfermagem oncológica brasileira. A pesquisa de métodos mistos foi utilizada para atender aos objetivos do estudo com técnicas e coletas de dados diferenciados que se completaram entre si. A realização da revisão sistemática, que possui um nível de evidência científica 1A, foi um grande desafio, tendo em vista a definição do tema (formação do enfermeiro de prática avançada para a atuação clínica e os cuidados de enfermagem) e todas as etapas que envolvem o seu desenvolvimento, proporcionando diversos momentos de construção, desconstrução, reflexão e conhecimento. Observa-se que tal revisão apontou o valor da EPA no campo da oncologia mediante uma formação clínica diferenciada e atuação profissional avançada. A utilização da técnica Delphi também se tornou um desafio no que concerne à identificação, participação e a manutenção dos membros especialistas, assim como na análise e elaboração dos dados a cada rodada para a apresentação. Durante o desenvolvimento desta etapa da pesquisa foi gratificante receber o retorno de alguns dos membros participantes, os quais parabenizaram não somente pela escolha do tema EPA com foco na oncologia, mas também sobre o conteúdo apresentado a cada rodada, enfatizando a satisfação em participar da construção de um consenso sobre as competências do enfermeiro clínico especialista em oncologia. Obter este retorno por parte dos membros especialistas ressalta a intenção da pesquisa de contribuir com a formação profissional, com a profissão de enfermagem na oncologia, promovendo reflexões, movimentação, inovação e transformações. Salienta-se que as competências validadas nesta pesquisa ilustram a natureza da formação do ECEO e refletem o papel deste profissional no cuidado de pacientes com diagnóstico de câncer prévio, atual ou potencial, da prevenção ao fim da vida – em conjunto com a equipe interdisciplinar de saúde. Tal consenso, junto às matrizes curriculares dos cursos de mestrado e doutorado profissional, colaboram com as demais pesquisas brasileiras sobre o tema EPA, sobretudo no contexto da oncologia, e poderão ser utilizados como base por instituições de ensino, associações, organizações e instituições de saúde, delineando e uniformizando assim, o modelo de formação profissional do ECEO no Brasil. 134 Há estudos que evidenciam a importância da preparação educacional em nível de pós- graduação stricto sensu (mestrado e/ou doutorado), com conteúdos e experiências voltadas para a prática clínica, cujas competências irão conduzir para a atuação profissional avançada. Aspectos referentes a liderança, colaboração interprofissional, julgamento clínico especializado, pensamento crítico, prática baseada em evidências, gestão do cuidado, ética e compromisso profissional, comunicação, educação/ensino, pesquisa e autonomia profissional fazem parte da essência da EPA. Destaca-se que é possível afirmar que o estudo comprova a tese apresentada de que “o enfermeiro de prática avançada em oncologia necessita de uma formação educacional em nível de mestrado e/ou doutorado, que permitirá uma base de conhecimento especializado e aprofundado na área, assim como, assegurará o desenvolvimento de competências essenciais para a prática expandida e baseada em evidências, a fim de prestar um cuidado de excelência aos pacientes com câncer e suas famílias”. Assim, acredita-se que os resultados aqui apresentados contribuirão para o caminho a ser seguido nesta formação profissional. Como limitações do estudo no que se refere à realização da técnica Delphi, nota-se a possibilidade de viés de respostas dos membros especialistas brasileiros devido à falta de clareza sobre a EPA – conceitos, características, papel, formação e atuação deste profissional. No Brasil, as discussões sobre o tema são recentes, apesar de emergentes, e as pesquisas estão em sua maioria concentradas na APS. Outra limitação significativa relaciona-se à pandemia em seu contexto mundial, que impossibilitou a realização de um estágio doutoral no exterior. Assim sendo, perdeu-se a oportunidade de vivenciar e experienciar momentos que fazem parte do processo de desenvolvimento, de aprendizagem, de integração com outros pesquisadores e instituições de ensino/pesquisa, inerentes ao doutoramento. Espera-se que os resultados desta pesquisa contribuam para a elaboração de novos modelos de formação e, consequentemente, de atuação profissional, voltados para a prática avançada em oncologia, assegurando assim cuidados de excelência aos pacientes com câncer. O desenvolvimento de um programa de EPA para a especialidade da oncologia atende as necessidades da população brasileira, assim como oferece critérios para formação deste profissional para o alcance das competências centrais necessárias para a prática clínica. Entretanto, é recomendado o desenvolvimento de novos estudos sobre o tema, a fim de explorar aspectos que se mostraram presentes e tem relevância na formação profissional do enfermeiro de prática avançada em oncologia. Nota-se que com o desenvolvimento desta pesquisa, outras questões e reflexões surgiram sobre a EPA e sua implantação, formação e atuação profissional no Brasil, tais como: 135 como conseguiremos transpor as barreiras para ter sucesso na sua implantação? Como poderemos contribuir para a melhor clareza sobre o seu papel? Como estabelecer marcos normativos no processo de formação e atuação profissional que garantam a segurança dos enfermeiros de prática avançada e dos pacientes? Como fornecer e garantir a proteção de título? As políticas e diretrizes da CAPES, que atendem a todos os programas profissionais, corroboram com este modelo de formação de EPA? Os atuais moldes dos programas de pós- graduação stricto sensu atendem às necessidades da sociedade? Estes programas existentes desenvolvem as competências necessárias para a prática avançada, mediante a atual estrutura curricular de formação? É necessário delimitar de forma mais clara e precisa os campos de atuação entre os enfermeiros com formação acadêmica e profissional? No que concerne à preparação educacional, os critérios estabelecidos para a formação de enfermeiros de prática avançada, recomendados pela OPAS e OMS, atendem a realidade brasileira? As práticasavançadas já são uma realidade em nosso país ou estamos atuando somente mediante protocolos, com pouca ou nenhuma autonomia profissional e/ou apoio legal? Por fim, são inúmeras questões ainda a serem investigadas e respondidas, destacando a necessidade de amplos debates e reflexões entre os profissionais de enfermagem e equipe de saúde, assim como instituições envolvidas para a construção de um caminho claro e organizado de implantação da EPA no Brasil, percorrendo desde a sua formação profissional até expansão do escopo de sua prática. 136 REFERÊNCIAS AACN. American Association of Colleges of Nursing. AACN position statement on the practice doctorate in nursing. 2004. Disponível em: https://www.aacnnursing.org/DNP/Position-Statement. Acesso em: 20 ago. 2018. AACN. American Association of College of Nursing. Common advanced practice registered nurse doctoral-level competencies. 2017. Disponível em: https://www.aacnnursing.org/Portals/42/AcademicNursing/pdf/Common-APRN-Doctoral- Competencies.pdf. Acesso em: 25 out. 2020. AACN. American Association of Colleges of Nursing. Fact sheet: the doctor of nursing practice (DNP). 2009. 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Prezado(a) participante, Com o intuito de desenvolver e/ou adaptar um modelo de formação para enfermeiros de prática avançada em oncologia no Brasil, o qual é incipiente, assim como mapear as competências centrais para a atuação deste profissional, optou-se nesta pesquisa pelo modelo de formação americano e classificação de clinical nurse specialists (enfermeiro clínico especialista). Sendo assim, para a elaboração deste instrumento (primeira rodada) com as competências centrais do enfermeiro de prática avançada em oncologia – enfermeiro clínico especialista em oncologia (ECEO), utilizou-se as referências: Declaração para Educação e Prática do Enfermeiro Clínico Especialista (National Association of Clinical Nurse Specialists, 2019)(1), Os Fundamentos da Educação de Doutorado para Prática Avançada de Enfermagem (American Association of College of Nursing, 2006)(2), Competências do Enfermeiro Clínico Especialista em Oncologia (Oncology Nursing Society, 2008)(3) e Enfermeira de Prática Avançada Registrada: Competências em Nível de Doutorado (American Association of College of Nursing, 2017)(4). Destaca-se que a formação do ECEO para a prática avançada requer o desenvolvimento de competências específicas, para atuar com os pacientes com câncer e sua família durante todo o continuum de atendimento, incluindo prevenção, rastreamento, detecção precoce, diagnóstico, tratamento, reabilitação, sobrevivência (survivorship) e cuidados paliativos, ou seja, da atenção primária até o fim da vida, em conjunto com a equipe interdisciplinar de saúde. 147 As competências centrais do ECEO devem incluir liderança, experiência clínica, gestão do cuidado, prática baseada em evidências, educação em saúde, pesquisa e inovação contínua, tomada de decisão assertiva e ética, colaboração interprofissional, envolvimento com políticas e regulamentos relacionados à oncologia e uso de tecnologias. Desta forma, o modelo inicialmente proposto nesta primeira rodada com as competências centrais do ECEO possui 6 domínios, com 112 competências: Figura 1 – Domínios e competências centrais do enfermeiro clínico especialista em oncologia (ECEO), Florianópolis, SC, Brasil, 2020. Gestão do cuidado Gestão do cuidado Ética e compromisso profissional Ética e compromisso profissional LiderançaLiderança Colaboração interprofissio nal Colaboração interprofissio nal Prática baseada em evidências Prática baseada em evidências Educação em saúde e pesquisa Educação em saúde e pesquisa o Gestão do cuidado: 43 competências. Este domínio está subdividido em: promoção da saúde e prevenção do câncer (2 competências); avaliação do estado de saúde/doença (16 competências); diagnóstico e plano de cuidados (18 competências); e avaliação do plano de cuidados (7 competências). o Ética e compromisso profissional: 13 competências. o Liderança: 24 competências. o Colaboração interprofissional: 10 competências. o Prática baseada em evidências: 17 competências. o Educação em saúde e pesquisa: 5 competências. E CEO 148 Competência: é a capacidade do indivíduo articular e mobilizar três dimensões interdependentes: conhecimentos, habilidades e atitudes, para intervir em um determinado contexto e alcançar os resultados desejados. O conhecimento corresponde ao acesso aos dados e informações, a capacidade de assimilá-los em informações aceitáveis e integrá-los aos esquemas pré- existentes que evoluem ao longo do caminho e tornam possível compreender o mundo. A habilidade relaciona-se com a capacidade de agir de forma concreta de acordo com os objetivos e processos pré-definidos. O desenvolvimento da habilidade também ocorrerá de modo paralelo ao conhecimento. A atitude relaciona-se ao comportamento e determinação, sendo estes elementos essenciais de um indivíduo ou organização para atingir algo(5). TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) Eu, Franciane Schneider, venho pelo presente, convidá-lo(a) a participar da pesquisa para o desenvolvimento da tese de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina, intitulada “Enfermagem de Prática Avançada em Oncologia: Proposta de Formação Profissional”, sob orientação da Professora Drª. Silvana Silveira Kempfer. A pesquisa tem por objetivos: compreender o processo de formação do enfermeiro de prática avançada em oncologia (EPAO) para o melhor cuidado, especialmente nos países de origem; mapear as competências destes EPAO; validar as competências centrais do enfermeiro clínico especialista em oncologia (adulta), de acordo com o contexto brasileiro; propor um modelo de formação profissional de enfermagem de prática avançada em oncologia para o Brasil. Trata-se de uma pesquisa exploratório-descritiva, de natureza mista. Para atender aos objetivos propostos, ela ocorrerá mediante as seguintes etapas: coleta de dados documental e Técnica Delphi. Habilidade - Saber como fazer Conhecimento - Saber o que fazer e porquê Atitude - Querer fazer Competência 149 Caso aceite participar da pesquisa, sua contribuição será na Técnica Delphi, que tem a finalidade de obter um nível de consenso entre os participantes/experts sobre o tema proposto. A utilização da Técnica Delphi possibilita reunir dados de profissionais experts por meio de um ambiente virtual, garantindo um espaço de expressão de opiniões e posicionamentos a partir dos dados gerados. A Técnica Delphi (clássica) recomenda a realização de até quatro rodadas entre os experts, para que haja o nível de consenso, utilizando-se de análise estatística para a avaliação de concordância. Sua participação é voluntária e consistirá em responder ao instrumento de coleta de dados, por meio do aplicativo Google Forms®. Neste momento, estamos na 1ª rodada da Técnica Delphi, o qual será apresentada para sua apreciação as competências centrais do EPAO mapeadas em literaturas internacionais. Para cada competência apresentada, solicitamos que você revise e avalie com relação a relevância, especificidade e abrangência. Assim, utilizaremos uma escala de 'Concordância' de três pontos, considerando como respostas: “Concordo”, “Não estou decidido” e “Discordo”. Espera-se com esta pesquisa contribuir com a profissão de enfermagem, especialmente na área de oncologia, com o conceito de EPAO, direcionar as instituições de ensino e órgãos reguladores sobre quais são as competências centrais e as diretrizes necessárias para a formação da EPAO, para garantir uma prática clínica segura e de qualidade aos pacientes com câncer e uma implantação bem sucedida no Brasil. Asseguramos o compromisso e a responsabilidade no desenvolvimento da pesquisa, quanto ao respeito aos princípios éticos de não maleficência, justiça e equidade, participação livre, esclarecida e voluntária, sigilo e anonimato das informações; e relevância social da pesquisa. Certificamos que os dados serão usados exclusivamente para fins de pesquisa, sendo divulgados em publicações científicas, garantindo seu anonimato e a confidencialidade de suas informações. Atendendo às exigências da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, informamos que a sua participaçãonão é obrigatória e a qualquer momento você poderá desistir de participar da pesquisa, sem prejuízos, retirando o consentimento sem qualquer justificativa, bastando para isso, entrar em contato com as pesquisadoras, conforme contatos disponibilizados. Destaca-se ainda que não haverá benefícios diretos aos participantes, sendo assim, a sua participação é voluntária e você não receberá nenhuma remuneração ou gratificação ao participar da pesquisa. Pode-se classificar como risco, ao participar da pesquisa, cansaço ou algum 150 desconforto, principalmente relacionado ao tempo gasto para responder ao questionário ou até mesmo no andamento das discussões para o alcance do consenso. Para esclarecer eventuais dúvidas ou informações sobre o estudo, as pesquisadoras poderão ser contatadas mediante e-mail ou telefone: Silvana Silveira Kempfer – silvana.kempfer@ufsc.br ou (48)998574925; Franciane Schneider – franciane.s85@gmail.com ou (47)99916-6131.Em caso de dúvidas, você também poderá procurar o Comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos – CEPSH da Universidade Federal de Santa Catarina, pelo telefone (48)3721-6094 ou e-mail cep.propesq@contato.ufsc.br. Projeto submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEPSH-UFSC). Parecer número: 3.445.887. CAAE: 15517119.1.0000.0121. Declaro que li o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e concordo participar da pesquisa. ( ) Sim ( ) Não Características dos participantes Nome completo: Endereço de e-mail: Cidade/Estado: Titulação (selecione todas as titulações concluídas): ( ) Especialização em oncologia ou onco-hematologia ( ) Especialização na modalidade de residência uni/multiprofissional em oncologia ou onco-hematologia 151 ( ) Mestrado (acadêmico) ( ) Mestrado (profissional) ( ) Doutorado (acadêmico) ( ) Doutorado (profissional) ( ) Pós-doutorado Tempo de experiência profissional na prática clínica oncológica ou onco-hematológica: ( ) 5 anos ( ) De 6 a 8 anos ( ) De 9 a 11 anos ( ) De 12 a 14 anos ( ) De 15 a 17 anos ( ) De 18 a 20 anos ( ) Acima de 20 anos Tempo de experiência com ensino e/ou pesquisa na área de oncologia ou onco-hematologia: ( ) Até 5 anos ( ) De 5 a 10 anos ( ) De 11 a 15 anos ( ) De 16 a 20 anos ( ) Acima de 20 anos 152 Caso queira inserir outras informações relevantes sobre sua formação profissional, certificações, titulações e/ou experiências, sinta-se à vontade: ___________________________________________________________________________ Você já ouviu falar sobre a Enfermagem de Prática Avançada? ( ) Sim ( ) Não PRIMEIRA RODADA - TÉCNICA DELPHI: EXPERTS OBJETIVO E ORIENTAÇÕES A utilização da Técnica Delphi possibilita reunir dados de experts no tema da pesquisa por meio de um ambiente virtual, garantindo um espaço de expressão de opiniões e posicionamentos a partir dos dados gerados. O objetivo desta etapa/rodada de pesquisa é obter um nível de consenso entre os experts/participantes sobre as competências centrais do enfermeiro clínico especialista em oncologia (adulta). Assim sendo, pedimos que você reflita sobre as competências centrais apresentadas e insira a sua opinião, contribuindo com o desenvolvimento da pesquisa e concepção do consenso. Revise e avalie cada competência deste documento com relação a relevância, especificidade e abrangência. Relevância: a competência é um conhecimento, habilidade ou atitude necessária para enfermeiro clínico especialista em oncologia (ECEO)? Especificidade: a competência é declarada de forma específica e clara? (Se Não, inserir sugestão de reformulação/revisão da competência). Abrangência: falta algum aspecto do conhecimento, habilidade ou atitude para o ECEO? Inserir essas competências adicionais. Para tanto, solicitamos que você assinale com “X” na coluna de CONCORDÂNCIA a opção que corresponde a sua opinião, considerando as seguintes: “Concordo”, “Não estou decidido” e “Discordo”. A opção “Não estou decidido” somente deverá ser assinalada caso você proponha mudanças/sugestões a respeito da competência em questão. 153 Domínio 1: Gestão do cuidado C o n co rd o N ão e st o u d ec id id o D is co rd o A. Promoção da saúde e prevenção do câncer 1. Avalia e utiliza dados epidemiológicos, bioestatísticos, ambientais e outros dados científicos relacionados ao câncer, relevantes para a atuação com: a. A comunidade em geral. b. Populações de risco. c. Pacientes com diagnóstico de câncer prévio, atual ou potencial. 2. Promove escolhas de estilo de vida saudáveis e estratégias de autocuidado de pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer. Caso tenha selecionado 'Não estou decidido', inserir a sugestão/mudança a respeito da(as) competência(as) em questão: Caso queira listar/sugerir mais competências relacionada a esta seção, sinta-se à vontade: B. Avaliação do estado de saúde/doença 3. Realiza um histórico de enfermagem (anamnese e exame físico) abrangente de pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer, que inclui a avaliação biopsicossocioespiritual do paciente e análise das manifestações clínicas relacionados à doença e/ou seu tratamento. 4. Realiza anamnese de forma abrangente investigando fatores de risco, diagnóstico ou história pregressa de câncer. 5. Avalia os fatores de risco para o desenvolvimento de câncer relacionados a história pessoal e familiar e as necessidades de aconselhamento genético e/ou testes moleculares e/ou genômicos. 6. Avalia o impacto das comorbidades físicas nos sintomas do câncer e na resposta ao tratamento. 154 7. Avalia a presença de comorbidades psicológicas, habilidades de enfrentamento (pregressas e atuais) e o impacto psicossocial da experiência do câncer, incluindo sofrimento emocional e luto. 8. Avalia os sinais e sintomas comuns que indicam a presença de câncer, progressão da doença ou recidiva. 9. Avalia os sinais e sintomas de emergências oncológicas em pacientes de alto risco. 10. Realiza uma avaliação farmacológica, incluindo medicamentos de uso livre (sem receita), medicamentos prescritos, suplementos nutricionais e outras terapias complementares, alternativas e integrativas, para identificar quaisquer potenciais interações com a terapêutica do câncer. 11. Identifica e avalia os riscos à saúde relacionados a polifarmácia e o plano de tratamento do paciente. 12. Avalia exames laboratoriais e/ou de imagem de pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer, que possam indicar melhora e/ou piora do estado de saúde/doença. 13. Realiza uma avaliação abrangente do estado funcional e capacidade de realizar atividades de rotina da vida diária. 14. Avalia os riscos relacionados à sexualidade e à reprodução/fertilidade em pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer, incluindo a repercussão nos relacionamentos. 15. Avalia barreiras potenciais e percebidas no atendimento (como por exemplo: transporte, alfabetização/escolaridade, conhecimento, papel social, trabalho, condições de moradia, renda econômica, idade, entre outros) que podem repercutir no tratamento. 16. Avalia variações de desenvolvimento, culturais, étnicas, raciais, espirituais, de gênero e socioeconômicas na apresentação dos sintomas ou na experiência de adoecimento de pacientes com câncer. 17. Avalia os papéis, funções e fatores de estresse dos indivíduos, composição familiar, redes de apoio/suporte e cuidadores, e sua capacidade de gerenciar a experiência do câncer. 18. Avalia as necessidades educacionais relacionadas a um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer e do seu tratamento, considerando as dificuldades individuais. Caso tenhaselecionado 'Não estou decidido', inserir a sugestão/mudança a respeito da(as) competência(as) em questão: Caso queira listar/sugerir mais competências relacionada a esta seção, sinta-se à vontade: C. Diagnóstico e plano de cuidados 155 19. Constrói diagnósticos diferenciais relacionados ao câncer e fatores de risco para pacientes, com foco em manifestações clínicas da doença e do seu tratamento. 20. Diagnostica problemas físicos e psicossociais com base no conhecimento dos sintomas, estado funcional, fatores de risco ou processos de desenvolvimento. 21. Sintetiza dados relevantes para desenvolver um plano de cuidados centrado no paciente e baseado em evidências para o manejo do câncer e sintomas relacionados ao seu tratamento. 22. Associa intervenções no plano de cuidados para prevenir, corrigir, modificar ou resolver resultados esperados e inesperados em pacientes com câncer. 23. Associa as modalidades de tratamento farmacológico e não farmacológico ao plano de cuidados. 24. Contribui para um plano abrangente de cuidados à medida que os pacientes fazem a transição do tratamento ativo para o de sobrevivência (survivorship) a longo prazo ou cuidados no fim da vida. 25. Associa a avaliação de sobrevivência (survivorship) a longo prazo e a gestão dos efeitos tardios do tratamento no plano de cuidados. 26. Incorpora tecnologias apropriadas e inovações, com base em evidências, no plano de cuidado de pacientes com câncer. 27. Registra o histórico de enfermagem e o plano de cuidados específico do paciente com câncer e os resultados pretendidos para facilitar a comunicação entre os membros da equipe de saúde. 28. Incorpora evidências genéticas/genômicas atuais e emergentes no fornecimento de cuidados de enfermagem, ao mesmo tempo em que considera os valores do paciente e o julgamento clínico avançado. 29. Utiliza raciocínio clínico e síntese de evidências para a prestação de cuidados de enfermagem avançados no paciente com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer. 30. Encaminha os pacientes para outros profissionais de saúde para avaliação adicional, conforme necessidade. 31. Utiliza recursos do sistema e da comunidade que melhoram a prestação de cuidados dos pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer. 32. Orienta/educa precocemente os pacientes, a fim de auxiliá-los no enfrentamento do diagnóstico de câncer e seus resultados potenciais ou esperados. 33. Aborda condições relacionadas à comorbidades (físicas e psicológicas) ao implementar o plano de cuidados oncológicos. 34. Realiza intervenções imediatas e oportunas nos pacientes em emergência oncológica e/ou encaminha para outros serviços, conforme necessidade. 35. Promove/facilita as transições necessárias entre os diversificados ambientes de saúde para viabilizar a continuidade de cuidados. 156 36. Envolve a família do paciente, cuidadores e redes de apoio no plano de cuidados oncológicos, considerando as particularidades, possibilidades e limitações existentes. Caso tenha selecionado 'Não estou decidido', inserir a sugestão/mudança a respeito da(as) competência(as) em questão: Caso queira listar/sugerir mais competências relacionada a esta seção, sinta-se à vontade: D. Avaliação do plano de cuidados 37. Avalia a eficácia clínica, a segurança, a qualidade e as respostas do paciente com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer. 38. Avalia a relação custo-efetividade e os aspectos éticos do plano de cuidados do paciente com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer. 39. Monitora a evolução clínica em direção aos resultados desejados e promove/facilita as alterações necessárias. 40. Avalia o uso de intervenções inovadoras ou modificadas para o cuidado de pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer. 41. Avalia o efeito geral do plano de cuidados/intervenções nos pacientes, com base na síntese dos dados. 42. Mantém registros contínuos dos resultados dos atendimentos realizados ao paciente com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer. 43. Avalia alternativas de melhoria/adaptação das condições de vida no domicílio e ambiente familiar, assim como estratégias de autocuidado. Caso tenha selecionado 'Não estou decidido', inserir a sugestão/mudança a respeito da(as) competência(as) em questão: Caso queira listar/sugerir mais competências relacionada a esta seção, sinta-se à vontade: 157 Domínio 2: Ética e compromisso profissional C o n co rd o N ão e st o u d ec id id o D is co rd o 44. Contribui para a resolução de conflitos éticos e bioéticos que podem surgir no atendimento de pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer. 45. Atua como defensor do paciente para promover o cuidado centrado nele, que inclui a tomada de decisão ética e compartilhada e metas de cuidados para resultados de qualidade. 46. Utiliza uma estrutura ética em todos os aspectos do atendimento para auxiliar os pacientes com câncer em questões relacionadas ao controle e manejo dos sintomas, diretrizes antecipadas e cuidados paliativos e de fim de vida. 47. Promove a tomada de decisão autônoma pelos pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer, por meio do fornecimento de educação e suporte individualizados. 48. Demonstra um compromisso com os princípios éticos relativos à prestação ou recusa de cuidados em conformidade com as leis, políticas e regulamentos relevantes no atendimento de pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer. 49. Demonstra empatia, compaixão e responsabilidade para com os pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer, com familiares/cuidadores e com a equipe de saúde, sociedade e profissão. 50. Demonstra integridade e respeito pelos pacientes, enfermeiros, equipe de enfermagem e interprofissional. 51. Promove a aprendizagem colaborativa ao longo da profissão e a prática baseada em evidências, para si e para outros, para melhorar o cuidado de pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer. 52. Avalia continuamente as alterações e inovações em todo o sistema de saúde relacionadas à prática de enfermagem oncológica. 53. Identifica alterações na cultura organizacional, como valores, crenças ou atitudes, que podem afetar os resultados na prática de enfermagem oncológica. 54. Participa de organizações/instituições educacionais ou profissionais que influenciam o tratamento do câncer e apoiam o papel/função do ECEO. 55. Mantém competências profissionais e formações adequadas à função de ECEO. 158 56. Defende políticas e/ou programas que melhorem a saúde da população com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer e a profissão de enfermagem. Caso tenha selecionado 'Não estou decidido', inserir a sugestão/mudança a respeito da(as) competência(as) em questão: Caso queira listar/sugerir mais competências relacionada a esta seção, sinta-se à vontade: Domínio 3: Liderança C o n co rd o N ão e st o u d ec id id o D is co rd o 57. Demonstra habilidades de colaboração e comunicação eficazes com pacientes, enfermeiros, equipe de enfermagem e interprofissional. 58. Avalia competências assistenciais de enfermeiros e equipe de enfermagem para promover a prática de enfermagem oncológica, utilizando ferramentas e instrumentos existentes. 59. Avalia as barreiras e facilitadores da prática de enfermagem oncológica nos diversificados ambientes de saúde, implementando estratégias para alcançar os resultados desejados. 60. Avalia e monitora a influência da prática de enfermagemoncológica nos resultados dos pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer e nos resultados da equipe. 61. Avalia e determina os aspectos da prática de enfermagem oncológica que requerem mudanças, melhorias, inovações ou manutenção, com base nas evidências disponíveis. 62. Divulga os resultados das mudanças e inovações da prática de enfermagem oncológica para diversas partes interessadas (internas e externas). 63. Avalia as implicações clínicas, econômicas e de recursos humanos na implementação de programas, produtos e dispositivos na prática de enfermagem oncológica. 159 64. Cria um ambiente de prática de enfermagem que estimula a autoaprendizagem e a prática crítica, reflexiva e investigativa. 65. Planeja e implementa programas educacionais que visam as necessidades da equipe para melhorar a prática de enfermagem oncológica e os resultados dos pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer, com base nas evidências disponíveis. 66. Assessora e incentiva os enfermeiros e equipe de enfermagem na utilização de evidências à prática de enfermagem oncológica. 67. Assessora e incentiva os enfermeiros e equipe de enfermagem a desenvolver e implementar programas inovadores e econômicos de cuidado para pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer. 68. Incentiva e ampara enfermeiros na manutenção e aquisição de habilidades e no desenvolvimento de carreiras na área de enfermagem oncológica. 69. Lidera equipes de enfermagem e interprofissionais que abordam questões relacionadas ao cuidado do câncer. 70. Realiza avaliações sistemáticas para identificar estruturas organizacionais e funções que afetam a prática e os resultados da enfermagem oncológica. 71. Utiliza a estrutura organizacional e os processos para fornecer feedback contínuo sobre a eficácia da prática de enfermagem oncológica avançada. 72. Avalia as variáveis dos sistemas de saúde, como clima e cultura organizacional, atuação profissional, colaboração interprofissional, aspectos econômicos, requisitos regulatórios e demandas externas que influenciam a prática e os resultados da enfermagem oncológica. 73. Avalia as políticas organizacionais, procedimentos e/ou protocolos quanto a capacidade em apoiar e melhorar os resultados dos programas/tratamentos de câncer; utilizando os resultados destas avaliações para promover mudanças estruturais e/ou de processos. 74. Desenvolve políticas de saúde, programas assistenciais, procedimentos, protocolos padrões e/ou diretrizes relacionados à oncologia, com base nas evidências disponíveis. 75. Avalia e monitora as políticas de saúde e programas assistenciais que podem impactar no atendimento em todo o continuum do câncer. 76. Avalia o impacto das políticas legislativas e regulamentares na prática de enfermagem oncológica. 77. Participa de iniciativas legislativas e regulatórias para promover e melhorar o atendimento à saúde da população em todo o continuum do câncer. 78. Incorpora e promove o uso de tecnologias de informação no ambiente de cuidado em todo o processo de atendimento ao câncer para melhorar os resultados de saúde. 160 79. Avalia o impacto do plano de cuidados/intervenções do ECEO nos recursos humanos e econômicos. 80. Registra a avaliação do impacto da prática do ECEO na organização de forma clara, efetiva, descritiva e mensurável; divulgando às partes interessadas os resultados em todo o sistema de saúde. Caso tenha selecionado 'Não estou decidido', inserir a sugestão/mudança a respeito da(as) competência(as) em questão: Caso queira listar/sugerir mais competências relacionada a esta seção, sinta-se à vontade: Domínio 4: Colaboração interprofissional C o n co rd o N ão e st o u d ec id id o D is co rd o 81. Associa as intervenções de enfermagem em um plano interprofissional de cuidados para melhorar os resultados dos pacientes com câncer. 82. Avalia os resultados clínicos dos pacientes para facilitar a coordenação de cuidados entre os profissionais de saúde e projetar novos programas assistenciais. 83. Lidera equipes interprofissionais para facilitar a colaboração com outras disciplinas na obtenção de resultados em todo o continuum do atendimento. 84. Promove/facilita uma abordagem interdisciplinar e baseada em evidências para o gerenciamento de pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer em todo o continuum do tratamento. 85. Compreende os escopos de prática de outras profissões da saúde para maximizar as contribuições dentro da equipe oncológica. 86. Avalia a colaboração e a eficácia da comunicação entre a equipe interdisciplinar de cuidados oncológicos, para a obtenção de resultados em todo o continuum do atendimento. 87. Difunde conhecimentos necessários para cuidar de pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer; e para demais profissionais de saúde, familiares e cuidadores, por meio de educação por pares, orientações, capacitações, 161 desenvolvimento da equipe, experiências, mentoria e preceptoria. 88. Interpreta e discute resultados de pesquisas/evidências com outros profissionais de saúde para melhorar o atendimento de pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer. 89. Participa do desenvolvimento de padrões de prática interprofissional e diretrizes baseadas em evidências para cuidados oncológicos. 90. Proporciona/facilita cuidados paliativos e de fim de vida para pacientes com câncer, em colaboração com ele (paciente) e outros membros da equipe interprofissional de saúde. Caso tenha selecionado 'Não estou decidido', inserir a sugestão/mudança a respeito da(as) competência(as) em questão: Caso queira listar/sugerir mais competências relacionada a esta seção, sinta-se à vontade: Domínio 5: Prática baseada em evidências – PBE C o n co rd o N ão e st o u d ec id id o D is co rd o 91. Realiza plano de cuidados com base em evidências para pacientes que visam a redução do risco relacionado ao câncer. 92. Integra conhecimentos, habilidades e informações baseadas em evidências na enfermagem oncológica para melhorar os resultados no atendimento aos pacientes com câncer. 93. Desenvolve programas de atendimento baseados em evidências, que abordem questões que possam afetar os pacientes em todo o continuum do atendimento. 94. Implementa processos para sustentar mudanças baseadas em evidências na prática de enfermagem oncológica, programas de tratamento do câncer e inovação clínica. 95. Utiliza diretrizes práticas baseadas em evidências e ferramentas para avaliar/monitorar pacientes com um diagnóstico prévio, 162 atual ou potencial de câncer. 96. Utiliza métodos ou ferramentas inovadoras para melhor avaliar os pacientes com um diagnóstico prévio, atual ou potencial de câncer e seu plano de cuidados. 97. Avalia as necessidades de mudanças em materiais/equipamentos, produtos ou abordagens terapêuticas com base em evidências, resultados clínicos e relação custo-efetividade, para melhorar a prática de enfermagem oncológica e os resultados dos pacientes com câncer. 98. Avalia as tecnologias atuais e emergentes para apoiar ambientes de prática, otimizar a segurança do paciente, a relação custo- efetividade e os resultados de saúde em todo o continuum do atendimento. 99. Planeja e implementa estratégias para superar barreiras e facilitar mudanças na prática de enfermagem oncológica, incluindo a implementação de novos programas, produtos e dispositivos. 100. Identifica métodos e avalia as tendências de resultados relacionados à prática de enfermagem oncológica dentro e entre as unidades de cuidados e ambientesde prática. 101. Realiza a análise de tendência e quantifica o impacto na qualidade e segurança do atendimento do tratamento do câncer. 102. Promove e desenvolve inovações baseadas em evidências ou soluções para as questões relacionadas ao atendimento dos pacientes com câncer em todo o continuum. 103. Implementa intervenções que melhoram os cuidados de enfermagem oncológica relacionados a problemas complexos de assistência ao paciente que são consistentes com os recursos e evidências do sistema. 104. Registra os resultados das mudanças e/ou inovações da prática de enfermagem oncológica baseadas em evidências, de maneira acessível, divulgando às partes interessadas. 105. Desenvolve soluções inovadoras e/ou políticas no âmbito do sistema de saúde que podem ser generalizados para diferentes unidades e/ou ambientes de oncologia, por populações ou serviços especializados. 106. Avalia os resultados clínicos e econômicos de abordagens terapêuticas, produtos ou dispositivos e processos de atendimentos aos pacientes com câncer em todo o sistema de saúde. 107. Associa teoria, evidências, práticas, julgamento clínico avançado, ética e bioética, experiências, pesquisa e perspectivas interprofissionais utilizando processos translacionais para melhorar a prática e os resultados em todo o continuum do atendimento. Caso tenha selecionado 'Não estou decidido', inserir a sugestão/mudança a respeito da(as) competência(as) em questão: Caso queira listar/sugerir mais competências relacionada a esta seção, sinta-se à vontade: 163 Domínio 6: Educação em saúde e pesquisa C o n co rd o N ão e st o u d ec id id o D is co rd o 108. Desenvolve materiais educacionais relacionados à oncologia para pacientes, cuidadores/familiares, equipe de saúde e membros da comunidade em geral. 109. Planeja e implementa programas de educação/orientação: a. A comunidade em geral. b. Populações de risco. c. Pacientes com diagnóstico de câncer prévio, atual ou potencial; família e cuidadores. 110. Participa e/ou realiza pesquisas clínicas e de enfermagem para promover resultados positivos para pacientes com câncer. 111. Fornece informações sobre ensaios clínicos e pesquisas para os quais os pacientes podem ser elegíveis. 112. Contribui para a base de conhecimento em oncologia, por meio de atividades como divulgação/extensão à comunidade, envolvimento em organizações profissionais e/ou instituições de ensino, apresentações em eventos e publicações científicas. Caso tenha selecionado 'Não estou decidido', inserir a sugestão/mudança a respeito da(as) competência(as) em questão: Caso queira listar/sugerir mais competências relacionada a esta seção, sinta-se à vontade: Agradecemos sua contribuição e reiteramos o compromisso de compartilhar os dados desta etapa, tão logo sejam compilados. 164 REFERÊNCIAS 1. National Association of Clinical Nurse Specialists, NACNS. Statement on Clinical Nurse Specialist Practice and Education – 3 ed. [Internet]. 2019 [cited Out 15, 2020]; Estados Unidos da América: NACNS. Available from: https://nacns.org/professional- resources/practice-and-cns-role/cns-competencies/. 2. American Association of College of Nursing, AACN. The Essentials of Doctoral Education for Advanced Nursing Practice. 2006 [cited Out 15, 2020]; Estados Unidos da América: AACN. Available from: https://www.aacnnursing.org/Portals/42/Publications/DNPEssentials.pdf. 3. Oncology Nursing Society, ONS. Oncology Clinical Nurse Specialist Competencies. [Internet]. 2008 [cited Out 15, 2020]; Estados Unidos da América: ONS. Available from: https://www.ons.org/oncology-clinical-nurse-specialist-competencies. 4. American Association of College of Nursing, AACN. Common Advanced Practice Registered Nurse Doctoral-Level Competencies. 2017 [citedOut 25, 2020]; Estados Unidos da América: AACN. Available from: https://www.aacnnursing.org/Portals/42/AcademicNursing/pdf/Common-APRN-Doctoral- Competencies.pdf. 5. Durant T. The Alchemy of Competence. In: Hamel G. et al. Strategic flexibility: managing in a turbulent environment. John Wiley & Sons: 1998. https://nacns.org/professional-resources/practice-and-cns-role/cns-competencies/ https://nacns.org/professional-resources/practice-and-cns-role/cns-competencies/ https://www.aacnnursing.org/Portals/42/AcademicNursing/pdf/Common-APRN-Doctoral-Competencies.pdf https://www.aacnnursing.org/Portals/42/AcademicNursing/pdf/Common-APRN-Doctoral-Competencies.pdf 165 APÊNDICE C – Material de Apoio Material de Apoio sobre o tema ‘Enfermagem de Prática Avançada em Oncologia’ Dda. Franciane Schneider Drª. Silvana Silveira Kempfer ENFERMAGEM DE PRÁTICA AVANÇADA Há no mundo um interesse crescente em adotar práticas capazes de inovar e melhorar sistemas de saúde para responder aos problemas decorrentes das necessidades das populações, principalmente com o aumento das doenças crônicas. Parte destes problemas relaciona-se à força de trabalho em saúde, como por exemplo a carência de profissionais, além de formação compatível para prover cuidados de saúde com qualidade(1). Na contemporaneidade, uma das inovações em pauta e com amplas discussões na saúde é a enfermagem de prática avançada (EPA). A EPA originou-se no Canadá e Estados Unidos da América (EUA) há mais de 40 anos. Desde então, gradativamente diversos países vem estruturando tal prática, mediante a preparação educacional, a reformulação e/ou criação de regulamentações específicas, a definição do papel e formas de atuação profissional para um cuidado de saúde expandido e de excelência(2,3). De acordo com o International Council of Nurses (ICN)(4), o enfermeiro de prática avançada é aquele que adquiriu a base de conhecimentos especializados, habilidades complexas de tomada de decisão e competências clínicas para uma prática expandida, cujas características são moldadas conforme o contexto de cada país e de acordo com os diversos cenários de prática existente, sendo necessária a preparação educacional a nível avançado – o mestrado é recomendado. Nota-se ainda que em alguns países, a EPA teve uma formação educacional para além do nível de mestrado (ou seja, doutorado), para que assim fosse possível a expansão do escopo de sua prática(5). Estudos internacionais têm demonstrado o impacto positivo do papel do enfermeiro de prática avançada na melhoria dos resultados de saúde com o paciente, na qualidade da assistência e na resolutividade das adversidades dos sistemas de saúde(6). Atualmente, mais de 70 países estão interessados em implantar a prática avançada em enfermagem, assim como existe diferentes estágios de desenvolvimento de seus papéis/funções(7). No Brasil, a implantação da EPA na Atenção Primária vem sendo discutida com maior ênfase, como uma resposta às crescentes necessidades de saúde da população e dificuldades de acesso a recursos humanos, embora existam distintos campos para a atuação deste profissional. 166 ENFERMAGEM DE PRÁTICA AVANÇADA EM ONCOLOGIA (EPAO) A estimativa mundial mostra que, em 2018, ocorreram 18,1 milhões de casos novos de câncer e 9,6 milhões de óbitos(8). Estima-se, para o Brasil, biênio 2020-2022, a ocorrência de 625 mil casos novos de câncer, para cada ano(9). De acordo com estes dados de incidência e prevalência, é notório a importância de profissionais qualificados, com conhecimentos, habilidades e atitudes específicas para atuar com esse perfil de paciente com necessidades complexas de cuidado, destacando-se assim a implantação e expansão da EPA no cenário da oncologia(10). Estudo internacional demonstra melhorias estatisticamente significativas nos desfechos clínicos dos pacientes nos serviços de saúde por meio da atuação do EPAO(11). Outros estudos(12-14) avaliaramos papéis, as responsabilidades, os padrões de prática clínica e a produtividade dos EPAOs, com o objetivo de obter dados para preencher a lacuna da força de trabalho existente neste campo de atuação, devido ao aumento da população com diagnóstico de câncer e seus sobreviventes(15). Os EPAOs proporcionam cuidados de alta qualidade e sua implementação soluciona a carência de profissionais com competências essenciais para o cuidado prestado à esta população(11,14,16). Contudo, observa-se que a atuação desse profissional se torna um desafio, devido a variabilidade e complexidade da prática, somado ao surgimento de novos e mutáveis conhecimentos da área nos últimos anos(17). Esses avanços tecnológicos mudam continuamente os cuidados aos pacientes com câncer e consequentemente refletem no papel da EPAO desenvolvido nos diversos ambientes de atendimento(18). Desenvolver novas estratégias para a prestação de cuidados oncológicos, aumentando os números e expandindo os papéis de profissionais não-médicos, como os de enfermeiros de prática avançada é de extrema importância para atender às necessidades atuais e potenciais de tratamento do câncer(14). Reconfigurar, melhorar e alinhar a educação/formação é essencial para proporcionar cuidados de excelência, desfechos clínicos seguros e garantir a satisfação do paciente. Abordagens inovadoras devem ser empregadas para apoiar os enfermeiros de prática avançada a adquirirem os conhecimentos, as habilidades e as atitudes necessárias para exercer com competência o seu papel no cenário apresentado(12). Destaca-se que a formação do enfermeiro de prática avançada envolve sua preparação educacional em um nível avançado, por programas educacionais reconhecidos e cursos com objetivos e conteúdos voltados para a prática clínica(6), sendo este o ponto de partida de discussões sobre estratégias para a consolidação da formação, tendo em vista que esta é parte integrante para a atuação profissional de excelência. Além disso, a Associação Nacional de Especialistas em Enfermagem Clínica (NACNS) afirma que a prática avançada possui três 167 princípios fundamentais: alta qualidade de cuidado, prática baseada em evidências e cuidado centrado no paciente(19). Há essencialmente dois modelos de formação/atuação do enfermeiro de prática avançada em oncologia no contexto internacional, sendo eles: nurse practitioner (NP) e clinical nurse specialist (CNS)(4). Estes profissionais estão inseridos em todos os sistemas de tratamento de câncer para garantir cuidados especializados e com boa relação custo-benefício(19). O NP tende a ter maior envolvimento no atendimento clínico, possui um escopo expandido de prática clínica que lhes dá autonomia para coordenar diagnósticos e prescrever tratamentos e/ou medicamentos. Já o CNS frequentemente possui maior responsabilidade por atividades não clínicas, como por exemplo educação, liderança de melhorias na qualidade da assistência (desenvolvimento de diretrizes e protocolos clínicos) e gestão dos serviços de saúde; presta cuidados altamente complexos e especializados(7). Na América Latina, considerando a necessidade de estabelecer critérios para a formação do EPA na Atenção Primária à Saúde, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)/Organização Mundial da Saúde (OMS) propôs os seguintes planos: Modelo 1 – realização de mestrado profissional em programas oferecidos por universidades reconhecidas; Modelo 2 – experiência profissional e formação clínica adicional oferecidos por universidades reconhecidas; Modelo 3 – realização do curso de residência uniprofissional ou multiprofissional na área de atuação pretendida em instituições acreditadas e, ao término de dois anos, obtenção do título de mestre e de EPA(20). Em um artigo de reflexão publicado em 2015, as autoras elaboraram alguns questionamentos pertinentes ao cenário da enfermagem brasileira, sendo estes: Os programas de mestrados profissionais atendem ao que se propõe como prática avançada? Os programas têm permitido instrumentalizar enfermeiras para uma prática avançada, ou seja, a estrutura curricular responde às competências necessárias a essa formação, dando sustentação à prática e também à produção do conhecimento e tecnologia? Há possibilidades de adequações na estrutura curricular de alguns mestrados profissionais de modo a atender também ao escopo da enfermagem de prática avançada?. Contudo, as autoras sugerem amplos debates e reflexões entre os profissionais e instituições envolvidas, de modo que se construa um desenho claro de como cada programa deverá se organizar para atingir a proposta(21). GLOSSÁRIO: Baseado em evidências: reflete/inclui todas as fontes de evidências, desde a opinião de experts/especialistas até meta-análises(22). 168 Clinical Nurse Specialist (CNS) – Enfermeiro Clínico Especialista: é um enfermeiro de prática avançada que realiza aconselhamento clínico especializado, atendimento com base em avaliação diagnóstica estabelecido em cenários de prática clínica, por meio de uma abordagem sistêmica de cuidado e atuação colaborativa com os membros da equipe de saúde. O título é usado para representar a formação e o papel, pois é uma categoria amplamente identificada de enfermagem para prática avançada em todo o mundo(4). Competência: é a capacidade do indivíduo articular e mobilizar três dimensões interdependentes: conhecimentos, habilidades e atitudes, para intervir em um determinado contexto o alcance dos resultados. O conhecimento corresponde ao acesso aos dados e informações, a capacidade de assimilá-los em informações aceitáveis e integrá-los aos esquemas pré-existentes que evoluem ao longo do caminho e tornam possível compreender o mundo. A habilidade relaciona-se com a capacidade de agir de forma concreta de acordo com os objetivos e processos pré-definidos. O desenvolvimento da habilidade também ocorrerá de modo paralelo ao conhecimento. A atitude relaciona-se ao comportamento e determinação, sendo estes elementos essenciais de um indivíduo ou organização para atingir algo(23). Enfermagem de Prática Avançada: é vista como intervenções avançadas de enfermagem que influenciam os resultados clínicos de saúde nos indivíduos, famílias e populações diversas. A prática avançada de enfermagem é baseada na educação e preparação de pós-graduação, juntamente com a especificação de critérios centrais e competências essenciais para esta prática(4). Interprofissional: refere-se à interação recíproca de dois ou mais profissionais, de diferentes disciplinas/áreas, trabalhando com o objetivo mútuo de melhores resultados/desfechos para os pacientes com câncer(22). Intervenção (de enfermagem): refere-se a uma variedade de ações de enfermagem, incluindo, mas não se limitando a, farmacológicas, não farmacológicas e educacionais. As intervenções podem ser a nível do paciente/família, da prática de enfermagem e/ou organização/sistema(22). Paciente: refere-se ao indivíduo adulto, sua família e/ou cuidadores, e a comunidade(22). Resultado (de enfermagem): refere-se a qualquer resultado potencialmente influenciado pelos cuidados/intervenções de enfermagem(22). REFERÊNCIAS 1.Miranda Neto MV, Rewa T, Leonello VM, Oliveira MAC. Advanced practice nursing: a possibility for Primary Health Care?. Rev. Bras. Enferm. [Internet]. 2018 [cited Jun 12, 2018] ;71(Suppl1):716-721.Available from: 169 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034- 71672018000700716&lng=en. 2.International Council of Nurses, ICN, CIE. Nurse Practitioner/Advanced Practice Nursing Network Country Profiles. [Internet]. 2014 [cited May 30, 2018]; Genève: ICN. Available from: http://international.aanp.org/content/docs/countryprofiles2014.pdf. 3.Olímpio JA, Araújo JN, Pitombeira DO, Enders BC, Sonenberg A, Vitor AF. Advanced practice nursing: a concept analysis. Acta Paul Enferm.