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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO TECNOLÓGICO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL Eduardo Henrique Böder Potencial de Recuperação de Biopolímeros de Lodo Aeróbio e Anaeróbio de Sistemas de Tratamento de Efluentes em Escala Real Florianópolis 2021 Eduardo Henrique Böder Potencial de Recuperação de Biopolímeros de Lodo Aeróbio e Anaeróbio de Sistemas de Tratamento de Efluentes em Escala Real Trabalho Conclusão do Curso de Graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental do Centro Tecnológico da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Engenharia Sanitária e Ambiental Orientador: Dr. Nelson Libardi Junior Florianópolis 2021 Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC. Böder, Eduardo Henrique Potencial de recuperação de biopolímeros de lodo aeróbio e anaeróbio de sistemas de tratamento de efluentes em escala real / Eduardo Henrique Böder ; orientador, Nelson Libardi Júnior, 2021. 61 p. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Tecnológico, Graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental, Florianópolis, 2021. Inclui referências. 1. Engenharia Sanitária e Ambiental. I. Libardi Júnior, Nelson. II. Universidade Federal de Santa Catarina. Graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental. III. Título. Eduardo Henrique Böder Potencial de Recuperação de Biopolímeros de Lodo Aeróbio e Anaeróbio de Sistemas de Tratamento de Efluentes em Escala Real Este Trabalho Conclusão de Curso foi julgado adequado para obtenção do Título de Bacharel em Engenharia Sanitária e Ambiental e aprovado em sua forma final pelo Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental Florianópolis, 16 de Setembro de 2021. ________________________ Profª. Maria Elisa Magri, Drª. Coordenadora do Curso Banca Examinadora: ________________________ Nelson Libardi Junior, Dr. Orientador(a) ________________________ Profª. Maria Elisa Magri, Drª. Avaliadora Universidade Federal de Santa Catarina ________________________ Prof. Rodrigo de Almeida Mohedano, Dr. Avaliador Universidade Federal de Santa Catarina Este trabalho é dedicado à minha vó Lina Hornburg Böder (in memoriam), minha mãe e amigos que estiveram comigo. AGRADECIMENTOS À minha mãe, que com todas as dificuldades me deu todo o suporte, sem nunca faltar nada, para que eu pudesse realizar o curso de Engenharia Sanitária e Ambiental. Essa conquista é mais dela do que minha. À minha vó Lina Hornburg Böder (in memoriam) que ajudou na minha criação e tem grande influência na pessoa em que me tornei. À minha família, em especial a tia Lia e prima Kátia, que sempre me acompanharam de perto e deram todo o apoio até a chegada desse momento. Às entidades da qual fiz parte durante anos, em especial a AESA e a ATCTC, que me deram a oportunidade de conhecer pessoas incríveis, que levarei para a vida. À turma 14.1, que tornou essa jornada muito mais fácil e divertida. Aos amigos que fiz na universidade e fora dela. Ao meu orientador Nelson, que colaborou com o tema deste trabalho e ser um excelente profissional. Sem ele esse trabalho não seria possível. Ao LABEFLU por me conceder acesso a sua estrutura de laboratório e a mestranda Amábile que me acompanhou durante os longos dias de análise. A todos os professores e professoras do curso, são todos excelentes profissionais em que me espelho. À UFSC e todos seus funcionários. Foram anos memoráveis dentro dessa universidade, anos que levarei sempre em minha memória. À SAMAE Jaraguá do Sul, que me recebeu muito bem e atendeu a todas minhas solicitações com eficácia. E a todas as pessoas que em algum momento, desde que breve, estiveram presente e colaboraram de alguma forma. Meus sinceros agradecimentos a todos! RESUMO A disposição final do lodo, resíduo proveniente do tratamento de esgotos, está sendo um desafio para os profissionais do setor e governantes. Devido ao aumento do número de estações de tratamento de esgotos e o consequente incremento na produção de lodos, torna-se imprescindível a abordagem do problema. O volume gerado, as limitações na localização de áreas para destinação, além do elevado custo de transporte, faz com que a gestão desse resíduo seja complexa. A geração de lodo de esgotos requer soluções tão ou mais complexas que o próprio tratamento de esgotos e podem representar um aumento substancial dos custos totais, cerca de 50%, se considerados os gastos até disposição final do lodo. Portanto, este trabalho tem como objetivo, comparar a eficiência de tratamento, quantificar o potencial de recuperação de biopolímeros de lodo aeróbio e anaeróbio de sistemas biológicos de tratamento de efluentes de uma estação de tratamento de esgotos (ETE) localizada no município de Jaraguá do Sul (SC). O reator de batelada sequencial (RBS) foi mais eficiente na remoção de DBO5, DQO, nitrogênio amoniacal (NH4-H) e fósforo total (PT), com eficiência de 95,0%, 87,2%, 38,2% e 76,3%, respectivamente. Em comparação, as eficiências de remoção para os mesmos parâmetros do reator anaeróbio de leito fluidizado (UASB, do inglês upflow anaerobic sludge blanket) foram de 61,4% para DBO5, 55,1% para DQO, 6,7% para nitrogênio amoniacal e 50,8% para fósforo total. As substâncias poliméricas extracelulares (EPS, do inglês extracellular polymeric substances) do lodo anaeróbio tiveram teor de sólidos voláteis (SV) de 223,3 ± 25,2 mgSV/LEPS, enquanto o lodo aeróbio teve 335,0 ± 7,1 mgSV/LEPS, demonstrando uma maior quantidade de sólidos inorgânicos no lodo anaeróbio. O rendimento do exopolímeros do tipo alginato (ALE, do inglês alginate-like exopolymers), foi de 20,81% para o lodo aeróbio e de 26,65%. A capacidade de formar hidrogel do ALE foi comprovada, nos dois tipos de lodo, verificando a capacidade de formação de esferas quando adicionado em uma solução de cloreto de cálcio (CaCl2). Portanto, o RBS demonstrou ser mais eficiente no tratamento, enquanto o UASB obteve um maior rendimento para a extração de biopolímeros. Palavras-chave: Biopolímeros. Lodo aeróbio. Lodo anaeróbio. ABSTRACT The disposal of the sludge, waste from sewage treatment, is being a challenge for industry professionals and government officials. Due to the increase in the number of wastewater treatment plants and the consequent increase in sludge production, it is essential to aproach the problem. The volume generated, such as limitations in the location of areas for disposal, beyond to the high cost of transport, makes the management of this waste complex. The generation of sewage sludge requires solutions as complex or more complex than the sewage treatment itself and can represent a substantial increase in total costs, about 50%, if considering the expenses until the final disposal of the sludge. Therefore, this work aims to compare the treatment efficiency, quantify the potential of recovery biopolymers from aerobic and anaerobic sludge from biological effluent treatment systems of a wastewater treatment plant (WWTP) located in the municipality of Jaraguá do Sul (SC). The sequencing batch reactor (SBR) was more efficient in removing BOD5, COD, ammonia nitrogen (NH4-H) and total phosphorus (PT), with efficiency of 95.0%, 87.2%, 38.2% and 76.3%, respectively. In comparison, the removal efficiencies for the same parametersfrom upflow anaerobic sludge blanket (UASB) were 61.4% for BOD5, 55.1% for COD, 6.7% for ammonia nitrogen and 50.8% for total phosphorus. The extracellular polymeric substances (EPS) of the anaerobic sludge had volatile solids (VS) of 223.3 ± 25.2 mgVS/LEPS, while the aerobic sludge had 335.0 ± 7.1 mgVS/LEPS, demonstrating a greater amount of inorganic solids in anaerobic sludge. The yield of alginate-like exopolymers (ALE) was 20.81% for aerobic sludge and 26.65%. The ability to form hydrogel of ALE was proven, in both types of sludge, verifying the ability to form beads when added to a solution of calcium chloride (CaCl2). Therefore, SBR proved to be more efficient in the treatment, while UASB obtained a higher yield for the extraction of biopolymers. Keywords: Biopolymers. Aerobic Sludge. Anaerobic Sludge. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Etapas de um Reator de Batelada Sequencial ......................................................... 24 Figura 2 – Desenho esquemático de um UASB ....................................................................... 26 Figura 3 – Imagem aérea da ETE Água Verde ......................................................................... 30 Figura 4 – Fluxograma de tratamento da ETE Água Verde ..................................................... 31 Figura 5 – Licor misto coletado na ETE Água Verde .............................................................. 34 Figura 6 – Fluxograma do processo de extração e recuperação de ALE e EPS ....................... 36 Figura 7 – Aparato experimental para a extração de EPS ........................................................ 37 Figura 8 – (a) EPS antes da centrifugação, (b) ALE como sobrenadante ................................ 38 Figura 9 – Eficiência de remoção dos tratamentos ................................................................... 43 Figura 10 – Concentração dos parâmetros de qualidade do efluente ....................................... 44 Figura 11 – Comparação dos teores de sólidos do licor misto entre os tratamentos ................ 45 Figura 12 – Teor de sólidos por grama de lodo centrifugado ................................................... 46 Figura 13 – Amostras dos lodos centrifugados após secagem em estufa. Lodo aeróbio (a) e anaeróbio (b). ............................................................................................................................ 47 Figura 14 – Comparação dos teores de sólidos do EPS entre os tratamentos .......................... 48 Figura 15 – Comparação dos teores de sólidos do ALE entre os tratamentos ......................... 49 Figura 16 – Comparação de rendimento de extração de ALE .................................................. 50 Figura 17 – Concentração de ácidos húmicos e proteínas no EPS ........................................... 51 Figura 18 – Concentração de proteínas e ácidos húmicos do ALE .......................................... 51 Figura 19 – Concentração de ácido glucurônico e glicose do EPS .......................................... 52 Figura 20 - Concentração de ácido glucurônico e glicose do ALE .......................................... 53 Figura 21 – ALE reticulado para lodo aeróbio (a e b) e anaeróbio (c e d) ............................... 54 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Principais características dos esgotos .................................................................... 20 Quadro 2 – Preparação das amostras de concentração de proteínas e ácidos húmicos ............ 40 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Concentrações de DBO5 do efluente ...................................................................... 32 Tabela 2 – Concentrações de DQO do efluente ....................................................................... 32 Tabela 3 – Concentração de fósforo total de efluente .............................................................. 33 Tabela 4 – Concentração de nitrogênio amoniacal do efluente ................................................ 33 Tabela 5 – Concentração e eficiência de remoção de parâmetros de qualidade do esgoto bruto e saída dos tratamentos ............................................................................................................. 42 Tabela 6 – Teor de sólidos do licor misto do RBS e UASB .................................................... 45 Tabela 7 – Teor de sólidos do lodo centrifugado do RBS e UASB ......................................... 46 Tabela 8 – Teor de sólidos do EPS ........................................................................................... 47 Tabela 9 – Teor de sólidos do ALE .......................................................................................... 48 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ALE – Alginate-like exopolymers DBO – Demanda biológica de oxigênio DQO – Demanda química de oxigênio EPS – Extracellular polymeric substances ETE – Estação de tratamento de esgotos LABEFLU – Laboratório de efluentes líquidos e gasosos ONU – Organização das nações unidas RBS – Reator de batelada sequencial SBR – Sequencing batch reactor SF – Sólidos Fixo ST – Sólidos totais SV – Sólidos voláteis UASB – Upflow anaerobic sludge blanket UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 15 1.1 OBJETIVOS .......................................................................................................... 18 1.1.1 Objetivo Geral ...................................................................................................... 18 1.1.2 Objetivos Específicos ........................................................................................... 18 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................... 19 2.1 TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS ................................................... 19 2.2 REATOR DE BATELADA SEQUENCIAL ........................................................ 22 2.3 REATOR ANAERÓBIO DE LEITO FLUIDIZADO ........................................... 24 2.4 GERAÇÃO E DISPOSIÇÃO FINAL DO LODO ................................................ 26 2.5 RECUPERAÇÃO DE BIOPOLÍMEROS DO LODO RESIDUAL ..................... 28 3 METODOLOGIA ................................................................................................ 30 3.1 LEVANTAMENTOS DE DADOS DA ETE ÁGUA VERDE ............................. 30 3.2 RECUPERAÇÃO DE BIOPOLÍMEROS A PARTIR DO LODO ....................... 34 3.2.1 Coleta e armazenamento de licor misto ............................................................. 34 3.2.2 Preparação do lodo .............................................................................................. 34 3.2.3 Extração de EPS .................................................................................................. 36 3.2.4 Precipitação e recuperação do ALE ................................................................... 39 3.2.5 Teste de reticulação ............................................................................................. 39 3.2.6 Concentração de proteínas e ácidos húmicos .................................................... 40 3.2.7 Concentração de ácido glucurônico e glicose .................................................... 41 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ....................................................................... 42 4.1 EFICIÊNCIA DO TRATAMENTO ...................................................................... 42 4.1.1 Teor de Sólidos do Licor Misto dos Reatores UASB e RBS ............................ 45 4.2 CARACTERIZAÇÃO DO LODO RESIDUAL AERÓBIO E ANAERÓBIO .... 46 4.2.1 Teor de sólidos do lodo centrifugado .................................................................46 4.2.2 Teor de sólidos do EPS ........................................................................................ 47 4.2.3 Teor de Sólidos do ALE ...................................................................................... 48 4.3 RENDIMENTO DE ALE ...................................................................................... 49 4.4 CONCENTRAÇÃO DE PROTEÍNAS E POLISSACARÍDEOS ........................ 50 4.4.1 Ácidos húmicos e proteínas ................................................................................. 50 4.4.2 Ácidos glucurônicos e glicose .............................................................................. 52 4.5 RETICULAÇÃO DO ALE.................................................................................... 53 5 CONCLUSÕES .................................................................................................... 56 6 RECOMENDAÇÕES .......................................................................................... 57 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 58 15 1 INTRODUÇÃO No Brasil, o saneamento básico é um direito assegurado pela Constituição e definido pela Lei nº 11.445/2007, como conjunto de serviços públicos, infraestruturas e instalações operacionais de abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e drenagem e manejo das águas pluviais urbanas. Grandes núcleos urbanos exigem soluções para a captação de água, coleta de esgotos, destinação dos resíduos sólidos e drenagem das águas pluviais. Essas soluções evoluíram para as complexas infraestruturas de saneamento ambiental (BRASIL, 2020). O saneamento se tornou um fator determinante de saúde, quando no século XIX, foi comprovado que águas contaminadas, esgotos a céu aberto e lixo acumulado eram a causa de doenças e epidemias (BRASIL, 2020). Segundo o Relatório sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos da Organização das Nações Unidas (ONU), 10% das doenças registradas ao redor do mundo poderiam ser evitadas se os governos investissem mais em acesso à água, medidas de higiene e saneamento básico (UNESCO, 2020). Em 2015, 67,5% da população mundial tinha acesso aos serviços de esgoto, ou seja, qualquer sistema que garanta a segregação higiênica das excretas humanas, e seu isolamento do contato com a população é considerado como condições minimamente adequadas. Os sistemas mais comuns são a rede geral de coleta de esgoto, as fossas sépticas e as latrinas (UNICEF e WHO, 2015). As redes de esgotos abrangem 54,1% da população total do Brasil e desse percentual 78,5% são tratados. Em 2019, foram coletados 5,8 bilhões de m³ de esgoto e 4,5 bilhões de m³ foram tratados, o restante é despejado nos corpos receptores sem tratamento (BRASIL, 2020). Esses dados só levam em consideração soluções coletivas para coleta e tratamento de esgoto, desconsiderando soluções individuais, como fossas sépticas. Em Santa Catarina, de todo esgoto gerado, 24,26% são coletados e tratados e 8,69% é coletado e não tratado. Porém, 47,27% das residências possuem soluções individuais de tratamento do esgoto, seja por meio de fossas sépticas ou estação de tratamento de esgotos (ETE) de condomínios. Restando 19,78% de esgotos que são despejados a céu aberto, sem nenhum tipo de coleta ou tratamento (ANA, 2019). Nos anos 70, a valorização do solo e a preocupação com o consumo de energia, acelerou a busca e pesquisa de novas tecnologias de sistemas de tratamento de esgoto 16 classificados como alta taxa. Pode-se citar como exemplos desses novos tratamentos os reatores de leito fluidizado, os filtros anaeróbios e os reatores anaeróbios de fluxo ascendente com manta de lodo (WEBER, 2006). Há mais de 100 anos desde que o processo de lodos ativados foi apresentado, ainda é a principal tecnologia de tratamento de esgotos. Lodos ativados é a mistura de sólidos inertes presentes no esgoto combinados com uma população microbiana crescendo nos substratos biodegradáveis presentes no esgoto. Tratamento de esgotos por lodos ativados é uma tecnologia que permite ciclos fechados e reuso de recursos como água, energia e produtos químicos (VAN LOOSDRECHT & BRDJANOVIC, 2014). Desde as grandes pesquisas nos anos 70, os reatores de batelada sequencial (RBS) se tornaram uma modificação bastante comum dos lodos ativados. A marca do projeto do RBS é a sua inerente flexibilidade, propiciando diferentes modos de operação. Por outro lado, os processos de batelada são caracterizados pelo baixo número de variáveis para alcançar os objetivos operacionais comparado com os processos contínuos, principalmente devido à redução ou até mesmo eliminação das variáveis de vazão (COELHO; RUSSO; ARAÚJO, 2000). A disposição final do lodo, resíduo proveniente do tratamento de esgotos, está sendo um desafio para os profissionais do setor e governantes. Devido ao aumento do número de estações de tratamento de esgotos e o consequente incremento na produção de lodos, torna-se imprescindível a abordagem do problema. O volume gerado, as limitações na localização de áreas para destinação, além do elevado custo de transporte, faz com que a gestão desse resíduo seja complexa (BATISTA, 2015). ALEM SOBRINHO (2001), ANDREOLI et al. (2001) e RULKENS (2004), reforçam que os problemas decorrentes da geração de lodo de esgotos requerem soluções tão ou mais complexas que o próprio tratamento de esgotos e podem representar um aumento substancial dos custos totais, cerca de 50%, se considerados os gastos até disposição final do lodo. Em um futuro próximo, muitas das plantas de tratamento de esgotos convencionais serão transformadas em instalações de recuperação de recursos hídricos. Essas instalações de recuperação de recursos podem representar uma grande fonte de bioprodutos de valor, como exopolímeros do tipo alginato (ALE, do inglês alginate like exopolymer), bioplásticos, celulose, fósforo ou biogás (VAN DER HOEK; DE FOOIJ; STRUKER, 2016). 17 Entretanto, a industrialização da recuperação de biopolímeros requer melhor compreensão da composição e de suas propriedades de hidrogel em resposta da composição do esgoto ou o tipo de bioagregados (flocos ou grânulos) (SCHAMBECK et al., 2020). ALE são uma mistura de biopolímeros extraídos da matriz de substâncias poliméricas extracelulares (EPS, do inglês extracelular polymeric substances) de agregados bacterianos sob condições alcalinas, e recuperado por precipitação ácida (FELZ et al., 2016). De acordo com Felz et al. (2019), ALE são compostos de açúcares, proteínas e substâncias húmicas (mistura complexa de compostos orgânicos), são portanto, um biomaterial que pode ser usado nas indústrias de papel, construção civil e medicina, assim como na agricultura e horticultura (VAN LEEUWEN et al., 2018). Ainda, não foram identificados outros trabalhos que avaliaram o teor destes biopolímeros no lodo residual em ETE em escala real, e nem trabalhos comparando o lodo residual de reatores aeróbios e anaeróbios. Sendo assim, este trabalho tem como objetivo quantificar o potencial de recuperação de biopolímeros de lodo aeróbio e anaeróbio de sistemas biológicos de tratamento de efluentes em escala real. Desta forma, será possível avaliar a possibilidade recuperação de recursos a partir do lodo residual, que seria apenas descartado. 18 1.1 OBJETIVOS 1.1.1 Objetivo Geral Avaliar o potencial de recuperação de biopolímeros de lodo aeróbio e anaeróbio de sistemas biológicos de tratamento de efluentes em escala real. 1.1.2 Objetivos Específicos - Caracterizar um reator anaeróbio de leito fluidizado e um reator aeróbio em bateladas sequenciais em escala real, implantados em uma companhia de saneamento municipal; - Quantificar a geraçãode lodo residual do processo aeróbio (RBS) e anaeróbio (UASB) de tratamento de esgoto sanitário; - Quantificar as substâncias poliméricas extracelulares (EPS) e o exopolímero do tipo alginato (ALE) do lodo residual dos processos de tratamento; - Caracterizar os biopolímeros recuperados do lodo residual quanto ao seu teor de proteínas, ácidos húmicos e polissacarídeos. 19 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS Os esgotos originados em uma cidade e que contribuem com a vazão de uma estação de tratamento de esgotos são basicamente de 3 fontes distintas: esgotos domésticos (residências, instituições e comércios); despejos industriais (diversas origens e tipos de indústrias); e águas de infiltração (VON SPERLING, 1996). De acordo com Von Sperling (1996), os esgotos domésticos contêm aproximadamente 99,9% de água. A fração restante inclui sólidos orgânicos e inorgânicos, suspensos e dissolvidos, bem como microrganismos. Portanto, é devido a essa fração de 0,1% que há necessidade de se tratar os esgotos. No campo de tratamento de esgotos os parâmetros de qualidade de interesse são aqueles relacionados às exigências legais, e às necessidades para projeto, operação, e a avaliação do desempenho das estações de tratamento de esgotos (ETE). Evidentemente, interessará conhecer também os parâmetros dos corpos receptores, nos quais os efluentes tratados são lançados (JORDÃO & PESSOA, 2005). No projeto de uma estação de tratamento, normalmente não há interesse em se determinar os diversos compostos dos quais a água residuária é constituída. Isto, não só pela dificuldade em se executar vários destes testes em laboratório, mas também pelo fato dos resultados em si não serem diretamente utilizáveis como elementos de projeto e operação. Portanto, utiliza-se de três categorias de parâmetros para definir a qualidade do esgoto: parâmetros físicos, químicos e biológicos (VON SPERLING, 1996). Os parâmetros físico-químico-biológicos estão apresentados no Quadro 1, e em sua maioria, estão relacionados com grandezas quantitativas, sendo quase sempre expressa em forma de concentração. Portanto, a vazão de esgotos influi diretamente na estimativa de massa de poluentes presentes no esgoto, assim como no dimensionamento das unidades de tratamento e na avaliação dos impactos no meio ambiente (JORDÃO & PESSOA, 2005). Os processos físicos se caracterizam principalmente nos processos de remoção das substâncias fisicamente separáveis dos líquidos ou que não se encontram dissolvidos. Os processos químicos são aqueles em que há utilização de produtos químicos, e raramente adotados isoladamente. São utilizados quando o emprego dos processos físicos e biológicos não 20 atendem, ou não atuam eficientemente nas características que se deseja reduzir ou remover, ou podem ter sua eficiência melhorada. Os processos biológicos dependem da ação de microrganismos presentes no esgoto (JORDÃO & PESSOA, 2005). Quadro 1 – Principais características dos esgotos Tipo Parâmetro Descrição Físicos Temperatura - Ligeiramente superior à da água de abastecimento; - Variação conforme as estações do ano; - Influência na atividade microbiana; - Influência na solubilidade dos gases; - Influência na viscosidade do líquido. Cor - Esgoto fresco: ligeiramente cinza; - Esgoto séptico: cinza escuro ou preto. Odor - Esgoto fresco: odor oleoso, relativamente desagradável; - Esgoto séptico: odor fétido, devido ao gás sulfídrico e a outros produtos da decomposição; - Despejos industriais: odores característicos. Turbidez - Causada por uma grande variedade de sólidos em suspensão; - Esgotos mais frescos ou mais concentrados: geralmente maior turbidez. Químicos Sólidos em suspensão fixos - Componentes minerais, não incineráveis, inertes, dos sólidos em suspensão. Sólidos em suspensão voláteis - Componentes orgânicos dos sólidos em suspensão. Sólidos dissolvidos fixos - Componentes minerais dos sólidos dissolvidos. Sólidos dissolvidos voláteis - Componentes orgânicos dos sólidos dissolvidos. Sólidos sedimentáveis - Fração dos sólidos orgânicos e inorgânicos que sedimenta em 1 hora no cone de Imhoff. DBO5 - Está associada à fração biodegradável dos componentes orgânicos carbonáceos. É uma medida do oxigênio consumido após 5 dias pelos microrganismos na estabilização bioquímica da matéria orgânica. 21 Tipo Parâmetro Descrição Químicos DQO - Representa a quantidade de oxigênio requerida para estabilizar quimicamente a matéria orgânica carbonácea. Utiliza fortes agentes oxidantes em condições ácidas. COT - É uma medida direta da matéria orgânica carbonácea. É determinado através da conversão do carbono orgânico a gás carbônico. Nitrogênio orgânico - Nitrogênio na forma de proteínas, aminoácidos e ureia. Amônia - Produzida como primeiro estágio da decomposição do nitrogênio orgânico. Nitrito - Estágio intermediário da oxidação da amônia, praticamente ausente no esgoto bruto. Nitrato - Produto final da oxidação da amônia, praticamente ausente no esgoto bruto. Fósforo orgânico - Combinado à matéria orgânica. Fósforo inorgânico - Ortofosfato e polifosfato. pH - Indicador das características ácidas ou básicas do esgoto. Uma solução é neutra em pH 7. Os processos de oxidação biológica normalmente tendem a reduzir o pH. Alcalinidade - Indicador da capacidade tampão do meio (resistência às variações do pH). Devido à presença de bicarbonato, carbonato e íon hidroxila. Cloretos - Proveniente das águas de abastecimento e dos dejetos humanos. Óleos e graxas - Fração da matéria orgânica solúvel em hexanos. Nos esgotos domésticos, são óleos e gorduras utilizados nas comidas. Biológicos Bactérias - Organismos protistas unicelulares; - Apresentam-se em várias formas e tamanhos; - São os principais responsáveis pela estabilização da matéria orgânica; - Algumas bactérias são patogênicas, causando principalmente doenças intestinais. Fungos - Organismos aeróbios, multicelulares, não fotossintéticos, heterotróficos; - Também de grande importância na decomposição da matéria orgânica; - Podem crescer em condições de baixo pH. 22 Tipo Parâmetro Descrição Biológicos Vírus - Organismos parasitas, formados pela associação de material genético (DNA ou RNA) e uma carapaça proteica; - Causam doenças e podem ser de difícil remoção no tratamento da água ou do esgoto; Helmintos - Animais superiores; - Ovos de helmintos presentes nos esgotos podem causar doenças. Fonte: Adaptado von Sperling (1996). De todos os parâmetros citados no quadro acima, para esgotos predominantemente domésticos, os mais importantes e que merecem destaque são: sólidos, indicadores de matéria orgânica, nitrogênio, fósforo e indicadores de contaminação fecal (VON SPERLING, 1996). A baixa produção de lodo nas ETE é um objeto que se deve perseguir, seja pela escolha do processo de tratamento ou pelo tipo de e grau de desidratação adotados. Processos anaeróbios (como um reator anaeróbio de leito fluidizado) geram muito menos massa de lodo que os processos clássicos aeróbios, além de unidades mecanizadas para prensagem e desidratação do lodo, como filtros prensas, que podem alcançar até mais de 35% de teor de sólidos na massa seca (JORDÃO & PESSOA, 2005). 2.2 REATOR DE BATELADA SEQUENCIAL Em nível mundial, o sistema de lodos ativados é amplamente utilizado para o sistema de tratamentos de despejos domésticos e industriais, para situações que haja a necessidade de um efluente de elevada qualidade e pouco requisito de área. Porém, o sistema de lodos ativados requer um nível de mecanização superior a outros tipos de sistemas de tratamento, ocasionando uma operação mais sofisticada e com maior consumo de energia elétrica (VONSPERLING, 2005). Reatores de bateladas sequenciais, são considerados como a versão enche e esvazia do processo de lodos ativados. É basicamente um reator a batelada que opera sobre uma série de períodos que constituem um ciclo. Ao manipular esses períodos, o sistema pode realizar a remoção de nutrientes usando a alternância de períodos anóxicos e aeróbios dentro do ciclo de tratamento (SINGH; SRIVASTAVA, 2010). 23 No começo da década de 1980, a tecnologia de reatores de batelada sequencial começou a ser mais difundida e usada no tratamento de uma diversidade de efluentes. Isto ocorreu devido ao maior conhecimento do sistema, ao uso de dispositivos mais confiáveis para a retirada do efluente, o desenvolvimento de instrumentação mais robusta e o uso de microprocessadores para o controle automatizado (VON SPERLING, 2005). De acordo com Metcalf & Eddy (2003), todos os sistemas RBS têm cinco etapas em comum, que são executadas na seguinte sequência: 1) Enchimento: consiste na adição de esgoto e substrato, que pode ser de diferentes maneiras: enchimento estático, ou seja, sem mistura ou aeração; enchimento só com mistura, acarretando reações anóxicas ou anaeróbias e; enchimento com mistura e aeração, promovendo reações biológicas aeróbias; 2) Reação: etapa onde ocorre a aeração e mistura da massa líquida e a biomassa consome o substrato sob condições controladas; 3) Sedimentação: sólidos são separados do líquido em condição de repouso; 4) Esvaziamento: remoção do efluente clarificado, através de vertedores flutuantes ou ajustáveis; 5) Repouso: é usado em um sistema com mais de um tanque para prover tempo de um reator completar sua fase de enchimento antes de mudar para outro tanque. 24 Figura 1 – Etapas de um Reator de Batelada Sequencial Fonte: Von Sperling (2005). A remoção de lodo é um passo importante na operação do RBS que afeta muito sua performance. Essa remoção não está incluída nas cinco etapas básicas do processo porque não há um período definido dentro do ciclo dedicado à remoção de lodo. Durante a operação do RBS, a remoção do lodo geralmente ocorre durante a fase de reação para que uma descarga uniforme de sólidos ocorra (METCALF & EDDY, 2003). 2.3 REATOR ANAERÓBIO DE LEITO FLUIDIZADO O tratamento secundário tem como finalidade principal a remoção de matéria orgânica através de processos biológicos. A essência desses processos reside na capacidade dos microrganismos envolvidos utilizarem os compostos orgânicos biodegradáveis, transformando- se em produtos que podem ser removidos do sistema (CHERNICHARO, 2005). Os sistemas de alta taxa se caracterizam pela capacidade de reter grandes quantidades de biomassa, mesmo com baixos tempos de detenção hidráulica. O resultado disso são reatores compactos que mantêm, no entanto, um elevado grau de estabilização do lodo (CHERNICHARO, 2005). 25 De acordo com CHERNICHARO (2005), podemos citar as seguintes vantagens do tratamento anaeróbio: - até 20% de redução na produção de lodo, comparado ao tratamento aeróbio; - baixa demanda de área, reduzindo os custos de implantação; - potencialidade de aproveitamento de biogás; - tolerância a altas cargas orgânicas e; - possibilidade de preservação de biomassa, sem alimentação do reator, por vários meses. O reator anaeróbio de leito fluidizado (UASB, do inglês upflow anaerobic sludge blanket) tem atraído grande interesse e vem sendo objeto de intensa pesquisa, principalmente a partir do final da década de 70. Este tipo de reator mostrou-se tecnicamente adequado e foi aplicado com sucesso no tratamento de águas residuárias municipais e efluentes industriais (COOPER et al.,1981). Os reatores de leito fluidizado com biomassa aderida à meios suporte apresentam vantagens suplementares como a de evitar a colmatação do leito, comum nos processos de leito fixo. Estes reatores também promovem rápida difusão do substrato pela biomassa. Estas características fazem do UASB uma boa opção para o tratamento de águas residuárias (SREEKRISHNAN; RAMACHANDRAN; GHOSH, 1991). O reator consiste em um fluxo ascendente de esgoto através de um leito denso e de elevada atividade. O esgoto entra pelo fundo do reator, atravessa a manta de lodo e o efluente deixa o reator através de um decantador interno localizado em sua parte superior, como podemos observar na Figura 2. A estabilização da matéria orgânica ocorre em todas as zonas de reação (leito e manta de lodo) e a mistura é promovida pelo fluxo ascensional do esgoto e das bolhas de gás. Para garantir que as partículas que se desprendem da manta de lodo retornem à câmara de digestão e não sejam levadas para fora do sistema, há um dispositivo de separação de gases e sólidos localizado abaixo do decantador. Devido a isso, os reatores anaeróbios de leito fluidizados apresentam elevados tempos de residência celular (idade do lodo), superiores ao tempo de detenção hidráulica (CHERNICHARO, 2005). 26 Figura 2 – Desenho esquemático de um UASB Fonte: Chernicharo (2005). 2.4 GERAÇÃO E DISPOSIÇÃO FINAL DO LODO O tratamento de esgotos gera alguns subprodutos, na forma sólida, semissólida ou líquida, que devem receber um tratamento específico antes de sua disposição final. Estes subprodutos do tratamento da fase líquida são sólidos grosseiros, areia, escuma e lodo. Destes, o lodo é o que apresenta maior parcela e importância, devendo receber atenção particular em seu tratamento e à disposição final (JORDÃO & PESSOA, 2005). Os processos de tratamento de esgoto são, em última instância, mecanismos de separação dos sólidos da água. Enquanto a água retorna para os rios, agora virtualmente isenta das impurezas que carregava, os sólidos retirados precisam ser estabilizados e dispostos de forma a não causar impactos significativos ao meio ambiente ou à saúde da população (CASSINI, 2003). Os problemas de lidar com lodos são complexos porque eles são compostos em grande parte por substâncias responsáveis pelo caráter nocivo das águas residuárias não tratadas. A porção de lodo derivado do tratamento biológico que requer descarte, é composta de matéria 27 orgânica contida na água residuária, mas em outra forma, que também irá se decompor e se tornar nociva, só uma pequena parte é sólida (METCALF & EDDY, 2003). O gerenciamento do lodo de estações de tratamento de esgotos é uma atividade altamente complexa e de alto custo, que se mal executada, pode comprometer os benefícios ambientais e sanitários esperados dos sistemas de tratamento (ANDREOLI et al., 2001). De acordo com Cassini et al. (2003), existem basicamente, três aspectos do lodo que precisam ser considerados para sua disposição segura: o nível de estabilização da matéria orgânica; a quantidade de metais pesados; e o grau de patogenicidade. Sendo as principais etapas do tratamento do lodo: - Adensamento; - Estabilização; - Condicionamento; - Desaguamento; - Higienização e; - Disposição final. A preocupação com o descarte correto do lodo de esgotos é algo recente no Brasil. Até poucos anos, a única referência ao lodo nos projetos das ETE, após o tratamento, era uma seta e as palavras “disposição final”, sem identificar onde seria o descarte e nem como seria feito. Então, as empresas gerenciadoras de saneamento básico procuravam apenas se livrar do resíduo, sendo a forma mais utilizada o descarte do lodo em aterros sanitários (IWAKI, 2017). Ainda segundo Iwaki (2017), os processos que englobam a disposição final de 90% do lodo produzido no mundo são uso agrícola, incineração e disposição em aterros. Sendo esses processos descritos abaixo. • Uso Agrícola: a utilização do lodo de esgoto em solos agrícolas tem como principais benefícios, a incorporação de macronutrientes (nitrogênio e fósforo) e dos micronutrientes (zinco, cobre, ferro, manganês e molibdênio).Normalmente o lodo de esgoto leva ao solo as quantidades de nutrientes suficientes para as culturas, porém nem sempre de maneira equilibrada e em formas disponíveis para as plantas a curto prazo. Fazendo-se necessário conhecer a composição química dos lodos, e a dinâmica dos nutrientes após aplicação no solo (BETTIOL; CAMARGO, 2006). A Resolução CONAMA Nº 375 de 2006, atualizada pela Resolução 498/2020, estabelece critérios, a 28 serem respeitados, e procedimentos para o uso agrícola de lodos de esgoto gerados em estações de tratamento de esgoto sanitário e seus produtos derivados. • Incineração: é o processo que fornece a maior redução de volume, as cinzas residuais são menos de 4% do lodo desaguado utilizado na incineração. A incineração destrói substâncias orgânicas e organismos patogênicos por combustão na presença de excesso de oxigênio. Os gases emitidos para a atmosfera devem ser regularmente monitorados para garantir a segurança e eficiência operacional. Apesar da considerável redução de volume de lodo, a incineração não pode ser considerada como disposição final, porque as cinzas residuais requerem uma disposição final adequada. A disposição final em aterros sanitários é a mais comum (ANDREOLI et al., 2001). • Disposição em aterros: não são a melhor opção para disposição final do lodo oriundo de esgotos sanitários, pois além de ter elevados custos, os aterros precisam ser próximos aos grandes centros, em que cada vez há menos áreas disponíveis para ampliação ou implantação de novas centrais (BIDONE; PIVONELLI, 1999). Nesse tipo de disposição não há preocupação com a recuperação de nutrientes ou uso do lodo para qualquer propósito prático. A biodegradação anaeróbia ocorre em lodo confinado dentro das células, gerando vários subprodutos, incluindo o metano (ANDREOLI et al., 2001). Logo, o maior desperdício em estações de tratamento de esgotos é o excesso de lodo e seu custo de processamento é quase metade do capital operacional total (DE VALKE et al., 2019). Portanto, deve-se achar alternativas para a destinação final do lodo, que sejam ecologicamente corretas e menos onerosas para as companhias de saneamento, além de contribuir com a economia circular. 2.5 RECUPERAÇÃO DE BIOPOLÍMEROS DO LODO RESIDUAL Realizar a recuperação de recursos de esgotos é uma boa maneira de reduzir o consumo de energia, emissão de gases do efeito estufa e a geração de desperdício de uma ETE. Grande porção do peso seco do lodo são substâncias poliméricas extracelulares, sendo essas 29 aplicáveis em vários campos, como seu uso direto como na forma de biomateriais, produtos químicos e reagentes médicos (FENG et al., 2019). Com as preocupações ambientais atuais, a produção de biopolímeros a partir de recursos renováveis se tornou atraente e foco de diversas pesquisas. Associado com o baixo custo de produção, a utilização de biopolímeros pode ser economicamente viável. Se comparado com polímeros intracelulares limitados, como polifosfato e glicogênio, as substâncias poliméricas extracelulares (EPS) têm tido interesse comercial crescente (FENG et al., 2019). Os EPS são uma mistura complexa, que consiste em polissacarídeos, proteínas, ácidos nucleicos, fosfolipídios, substâncias húmicas e alguns polímeros intracelulares. Os microrganismos presentes no lodo, têm a capacidade de produzir uma quantidade significativa de EPS altamente hidratado, capaz deformar uma matriz de hidrogel, que os mantém imobilizados. Ou seja, os EPS constituem os biofilmes microbianos. Essas substâncias poliméricas interagem entre si através de forças eletrostáticas, ligações de hidrogênio, forças iônicas atrativas e/ou reações bioquímicas (FELZ et al., 2016). Uma grande parte do EPS extraído do lodo de estações de tratamento de esgoto consiste em exopolímeros do tipo alginato (ALE). O ALE tem comportamento de hidrogel, fornecendo à biomassa hidrofobicidade e uma estrutura compacta que protege os microrganismos. Com os diversos usos possíveis para o ALE, o mercado se encontra favorável para a implementação da recuperação desse biopolímero nas ETE (SCHAMBECK et al., 2020). Os primeiros estudos acerca de ALE foram realizados para avaliar o seu papel na estrutura de grânulos aeróbios, pois o EPS e ALE são responsáveis pela estrutura compacta e densa dessa forma auto agregada de lodo ativado. Entretanto, poucos são os estudos que avaliaram os teores de ALE e EPS em lodo ativado (SCHAMBECK et al., 2020). Dados referentes a propriedade química de polímeros de lodos anaeróbios são poucos relatos na literatura. Porém, Karapanagiotis et al. (1989), demonstraram que o lodo anaeróbio tem menor rendimento de polímeros extracelulares do que o lodo ativado (aeróbio) usando técnicas de extração semelhantes. Os componentes mais significativos dos polímeros extracelulares do lodo anaeróbio são lipopolissacarídeos e proteínas, em vez de carboidratos, como no lodo aeróbio (FORSTER, 1983). Da mesma foram, os estudos acerca da composição polimérica de lodo proveniente de sistemas anaeróbios também são escassos. 30 3 METODOLOGIA 3.1 LEVANTAMENTOS DE DADOS DA ETE ÁGUA VERDE A estação de tratamento de esgoto (ETE), objeto de estudo deste trabalho, está localizada no município de Jaraguá do Sul – Santa Catarina, no bairro Água Verde (- 26.4767465, -49.1042037,15). Foram realizadas 2 visitas na ETE Água Verde, no período de 28/09/2020 a 01/10/2020, para o levantamento de dados. Foram solicitados os dados do projeto da ETE, volumes de tratamento e os resultados analíticos de eficiência de tratamento que são monitorados pela companhia. A estação atende aproximadamente 44 mil habitantes e recebe o esgoto de 12 bairros: Água Verde, Amizade, Centro, Chico de Paula, Czerniewicz, Estrada Nova, Nova Brasília, Rau, Tifa Martins, Três Rios do Norte, Três Rios do Sul e Vila Lenzi. Chegam na estação em média 6062,2 m³ de esgoto por dia. Figura 3 – Imagem aérea da ETE Água Verde Fonte: Fornecido pela empresa (2021). 31 O esgoto chega na ETE e passa por um tratamento preliminar, onde é combinado com peneira rotativa de 6 mm e remoção de areia e gordura. Após, o efluente segue para dois tipos de tratamento biológicos em paralelo: reator aeróbio em batelada sequencial (RBS) e reator anaeróbio de leito fluidizado (UASB), seguido de tratamento físico-químico. Depois segue para a desinfecção e destinação ao corpo receptor, que é o rio Itapocu. O fluxograma da ETE Água Verde pode ser observado na Figura 4. Figura 4 – Fluxograma de tratamento da ETE Água Verde Fonte: Autor (2021). O reator anaeróbio de leito fluidizado (UASB) recebe 70% do esgoto que chega à estação, o que resulta em uma vazão de 4260 m³ de esgoto por dia pelo reator. Do reator o esgoto segue para o tratamento físico-químico, onde é feita a dosagem de cloreto férrico em floculadores mecânicos tipo turbina vertical (3 câmaras em série). São utilizados decantadores de alta taxa com placas inclinadas de PVC, sendo que nessa etapa é feito o desague de lodo. Após tratamento físico-químico, o esgoto segue para desinfecção no tanque de contato. 32 O reator de batelada sequencial (RBS) possui 3 aeradores do tipo Venturi e recebe, aproximadamente, 30% do esgoto que chega à estação, o que corresponde a 1800 m³ de esgoto por dia. Em seguida, o efluente segue para desinfecção. A desinfecção é feita com a adição de hipoclorito de sódio (NaClO) em um tanque de contato com chicanas verticais e o afluente segue para corpo receptor. Foram solicitados para a companhia de saneamento alguns parâmetros de qualidade, para melhor entendimento do funcionamento da estação de tratamento. Os principais parâmetros, como DBO5, DQO, fósforo total (PT) e nitrogênio amoniacal (N-NH4) do esgoto bruto, saída do RBS, saída do UASB e do efluente tratado (RBS + UASB + físico-químico)estão apresentados nas tabelas a seguir. Tabela 1 – Concentrações de DBO5 do efluente DBO5 (mg/L) Mês Esgoto Bruto Saída do RBS Saída do UASB Efluente. Tratado Janeiro 330 21 220 105 Fevereiro 238 14 158 94 Março 194 25 239 94 Abril 175 42 172 120 Maio 199 34 234 57 Junho 397 28 236 51 Julho 482 10 150 78 Fonte: Adaptado da empresa (2021). Tabela 2 – Concentrações de DQO do efluente DQO (mg/L) Mês Esgoto Bruto Saída do RBS Saída do UASB Efluente Tratado Janeiro - 109 467 189 Fevereiro 463 75 316 182 Março 606 102 477 192 Abril 386 158 370 210 Maio 368 157 462 208 Junho 812 157 513 168 Julho 813 73 292 157 Fonte: Adaptado da empresa (2021). 33 Tabela 3 – Concentração de fósforo total de efluente Fósforo Total (mg/L) Mês Esgoto Bruto Saída do RBS Saída do UASB Efluente Tratado Janeiro 6,6 1,6 2,1 5,2 Fevereiro 4,6 0,6 <0,5 3,8 Março 5,4 1,7 3,1 2,6 Abril 6,6 1,4 4,6 4,2 Maio 6,4 2,7 4,8 3,0 Junho 6,8 1,3 2,0 1,8 Julho 5,5 1,0 1,0 0,3 Fonte: Adaptado da empresa (2021). Tabela 4 – Concentração de nitrogênio amoniacal do efluente Nitrogênio Amoniacal (mg/L) Mês Esgoto Bruto Saída do RBS Saída do UASB Efluente Tratado Janeiro - 64,3 121,0 57,0 Fevereiro 30,2 < 5,0 26,0 40,0 Março 31,6 22,9 56,8 53,0 Abril 68,3 10,9 59,0 50,0 Maio 84,2 25,5 75,7 1,0 Junho 92,5 62,3 71,0 49,0 Julho 96,2 63,0 87,3 35,0 Fonte: Adaptado da empresa (2021). Todo o lodo gerado na estação é encaminhado para a central de lodo, onde recebe a adição de um polímero e passa por um filtro prensa. A torta seca (parte sólida) é destinada para um aterro industrial e a parte líquida é inserida novamente no processo, na etapa de pré- tratamento. No ano de 2020, a ETE produziu 2.061 toneladas de lodo residual, gerando um custo de R$ 111.204,85 com transporte e R$ 245.335,12 com a destinação final do lodo; ou seja, um custo total de R$ 356.539,97 no ano. 34 3.2 RECUPERAÇÃO DE BIOPOLÍMEROS A PARTIR DO LODO 3.2.1 Coleta e armazenamento de licor misto O licor misto foi coletado na ETE – Água Verde no dia 01 de outubro de 2020 nos dois reatores (UASB e RBS). Após a coleta, em garrafas plásticas de 5 litros limpas, as amostras foram conservadas em um freezer para posterior transporte para o Laboratório de Efluentes Líquidos e Gasosos (LABEFLU), do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). As amostras ficaram armazenadas até o dia anterior às análises, que foram precedidos pelo seu descongelamento em temperatura ambiente. Destaca-se que tanto amostras de licor misto do RBS e do UASB foram processadas em condições idênticas, objetivando normalizar os resultados obtidos. Sendo assim, as etapas posteriores foram realizadas após um processo de centrifugação, e não de licor misto, excluindo-se assim a interferência que as condições operacionais de cada processo de tratamento possam ter sobre lodo utilizado, bem como removendo seu excesso de água. Figura 5 – Licor misto coletado na ETE Água Verde Fonte: Autor (2020). 3.2.2 Preparação do lodo Após o descongelamento das amostras previamente coletadas e armazenadas, o licor misto foi distribuído em tubos Falcon de 50 mL e centrifugados à 2150 g rpm durante um 35 período de 25 minutos, para que haja uma boa separação do sobrenadante e da biomassa. O sobrenadante foi descartado, restando somente a biomassa. A metodologia utilizada para a extração de EPS e ALE foi a proposta por Felz et al. (2016) e realizada seguindo três etapas: preparação do lodo, extração do EPS e precipitação do ALE. A série de sólidos do licor misto foi realizada em triplicata, de acordo com Standard Methods (APHA, 2017), sendo que foram utilizadas 3 amostras de 50 mL em cadinhos de porcelana. Os cadinhos com as amostras de licor misto foram mantidos em estufa (105ºC) por um período de 24 horas e em seguida na mufla (±550ºC) por um período de 1 hora. Após a pesagem das amostras, foi possível realizar os cálculos sólidos totais (ST), fixos (SF) e voláteis (SV) através das seguintes equações: 𝑆𝑇𝑙𝑖𝑐𝑜𝑟𝑚𝑖𝑠𝑡𝑜(𝑚𝑔/𝐿) = 𝑝1(𝑚𝑔) − 𝑝0(𝑚𝑔) 𝑉𝑙𝑖𝑐𝑜𝑟𝑚𝑖𝑠𝑡𝑜(𝐿) Equação 1 𝑆𝐹𝑙𝑖𝑐𝑜𝑟𝑚𝑖𝑠𝑡𝑜(𝑚𝑔/𝐿) = 𝑝2(𝑚𝑔) − 𝑝0(𝑚𝑔) 𝑉𝑙𝑖𝑐𝑜𝑟𝑚𝑖𝑠𝑡𝑜(𝐿) Equação 2 𝑆𝑉𝑙𝑖𝑐𝑜𝑟𝑚𝑖𝑠𝑡𝑜(𝑚𝑔/𝐿) = 𝑆𝑇(𝑚𝑔/𝐿) − 𝑆𝐹(𝑚𝑔/𝐿) Equação 3 Onde: p0 = peso do cadinho; p1 = peso do cadinho + licor misto após 24h na estufa; p2 = peso do cadinho + licor misto após 2h na mufla. Com o lodo centrifugado, também foi realizada a série de sólidos em triplicata de acordo com o Standard Methods (APHA, 2017). Pequenas porções de lodo, entre 3 e 5 gramas, foram colocados em cadinhos de porcelana, pesados, e em seguida mantidos em estufa (105°C) por 24 horas. Retirando os cadinhos da estufa, seguem para a mufla (±550ºC) por 20 minutos. O teor de sólidos foi calculado conforme equações abaixo: 𝑆𝑇𝑙𝑜𝑑𝑜𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑖𝑓𝑢𝑔𝑎𝑑𝑜(𝑔) = 𝑝1(𝑔) − 𝑝0(𝑔) Equação 4 36 𝑆𝐹𝑙𝑜𝑑𝑜𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑖𝑓𝑢𝑔𝑎𝑑𝑜(𝑔) = 𝑝2(𝑔) − 𝑝0(𝑔) Equação 5 𝑆𝑉𝑙𝑜𝑑𝑜𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑖𝑓𝑢𝑔𝑎𝑑𝑜(𝑔) = 𝑆𝑇(𝑔) − 𝑆𝐹(𝑔) Equação 6 Onde: p0 = peso do cadinho; p1 = peso do cadinho + lodo centrifugado após 24h na estufa; p2 = peso do cadinho + lodo centrifugado após 20 minutos na mufla. 3.2.3 Extração de EPS O processo de extração e recuperação do EPS e do ALE do lodo aeróbio e anaeróbio foi realizado de acordo com Felz et al. (2016) e é apresentado na Figura 1Figura 6. Figura 6 – Fluxograma do processo de extração e recuperação de ALE e EPS Fonte: Autor (2021). Com a biomassa centrifugada, foi realizada a extração do EPS. Para a extração, 15 g de biomassa previamente centrifugada foi adicionada à 250 mL de água deionizada, aquecida à 80ºC, acrescida de 1,25g de Na2CO3, sob agitação durante 35 minutos utilizando agitador magnético com rotação de 400 rpm. O processo de extração do EPS a partir do lodo previamente centrifugado está representado na Figura 7. Centrifugação 2150g / 30 min 80ºC / 35 min 400 rpm + Na2CO3Licor Misto Centrifugação 2150g / 25 min EPS + HCl pH 2.2 Agitação Centrifugação 2150g / 25 min ALE pH 8.5 37 Figura 7 – Aparato experimental para a extração de EPS Fonte: Autor (2021). O material proveniente do processo de extração do EPS foi colocado em tubos Falcon e levados para a centrífuga por 25 minutos a 2150 g. Após a centrifugação, o sobrenadante foi coletado, que é onde se encontra o EPS solubilizado para realizar a precipitação de ALE. O material sedimentado foi descartado. O comparativo de antes e depois da centrifugação pode ser observado na Figura 8. . 38 Figura 8 – (a) EPS antes da centrifugação, (b) ALE como sobrenadante Fonte: Autor (2021). O sobrenadante, que representa a fração de EPS, foi utilizado no ensaio de série de sólidos. A série de sólidos foi realizada em triplicata, de acordo com Standard Methods (APHA, 2017). 𝑆𝑇𝐸𝑃𝑆(𝑔/𝐿) = 𝑝1(𝑔) − 𝑝0(𝑔) 𝑉𝐸𝑃𝑆(𝐿) Equação 7 𝑆𝐹𝐸𝑃𝑆(𝑔/𝐿) = 𝑝2(𝑔) − 𝑝0(𝑔) 𝑉𝐸𝑃𝑆(𝐿) Equação 8 𝑆𝑉𝐸𝑃𝑆(𝑔/𝐿) = 𝑆𝑇(𝑔/𝐿) − 𝑆𝐹(𝑔/𝐿) Equação 9 Onde: p0 = peso da membrana; p1 = peso da membrana + EPS após 24h na estufa; p2 = peso da membrana + EPS após 2h na mufla. 39 3.2.4 Precipitação e recuperação do ALE Com o sobrenadante recolhido na etapa anterior, além de ter sido utilizado para o ensaio da série de sólidos, também foi utilizado para proceder a precipitação do ALE, conforme apresentado na Figura 6. Neste processo, foi adicionado HCl na solução de EPS até que o pH da amostra ficasse em 2,20 ± 0,05. A redução do pH resultou na formação de gel, devido à precipitação do ALE. O resultadoda diminuição do pH, é uma espécie de gel. A solução foi novamente centrifugada a 2150 g por 25 minutos. O sobrenadante foi descartado e recolhido o ALE na forma ácida. Com essa fração de ALE na forma ácida, foram realizadas análises da série de sólidos em triplicata, de acordo com Standard Methods (APHA, 2017). 𝑆𝑇𝐴𝐿𝐸(𝑔) = 𝑝1(𝑔) − 𝑝0(𝑔) Equação 10 𝑆𝐹𝐴𝐿𝐸(𝑔) = 𝑝2(𝑔) − 𝑝0(𝑔) Equação 11 𝑆𝑉𝐴𝐿𝐸(𝑔) = 𝑆𝑇(𝑔) − 𝑆𝐹(𝑔) Equação 12 Onde: p0 = peso do cadinho; p1 = peso do cadinho + ALE após 24h na estufa; p2 = peso do cadinho + ALE após 2h na mufla. 3.2.5 Teste de reticulação Com o intuito de verificar se o ALE possui propriedade de formação de hidrogel, foi seguido o experimento proposto por Felz (2016), onde ALE acidificado da etapa anterior teve seu pH aumentado até 8,5, adicionando hidróxido de sódio (NaOH) 0,5M com agitação lenta. Quando o pH de 8,5 é atingido, com uma pipeta Pasteur, o ALE é coletado e gotejado em uma solução de cloreto de cálcio (CaCl2) 2,5%. Caso o ALE extraído tenha as propriedades formadoras de hidrogel, esferas se formam pela sua reticulação quando em contato com CaCl2. 40 3.2.6 Concentração de proteínas e ácidos húmicos A concentração de proteínas e ácidos húmicos é realizada para amostras de EPS e ALE, do lodo aeróbio e anaeróbio. A análise foi seguida proposta por Frølund et al. (1995) e explicada a seguir. As amostras de EPS e ALE foram diluídas 10 e 40 vezes, respectivamente. Em seguida, foram preparadas soluções A e B, que tem suas composições descritas a seguir: Solução A: • 1 mL de sulfato de cobre (CuSO4.5H2O) 1% • 1 mL de tartarato de sódio e potássio (KNaC4H4O6.4H2O) 2% • 49 mL de hidróxido de sódio (NaOH) 0,2M • 49 mL de carbonato de sódio (Na2CO3) 4% Solução B: • 1 mL de tartarato de sódio e potássio (KNaC4H4O6.4H2O) 2% • 49 mL de hidróxido de sódio (NaOH) 0,2M • 49 mL de carbonato de sódio (Na2CO3) 4% • 1 mL de água destilada Com as amostras de EPS e ALE e as soluções A e B preparadas, dá-se seguimento a análise em duas séries, A e B. A análise é realizada em tubos de ensaio com tampa e mais bem exemplificada pelo Quadro 2 abaixo: Quadro 2 – Preparação das amostras de concentração de proteínas e ácidos húmicos Série A Série B 1 mL de amostra diluída 5 mL de solução A 5 mL de solução B Agitar no vórtex por 30 segundos e repousar por 10 minutos Adicionar 0,5 mL de Folin-Ciocalteu Agitar no vórtex por 30 segundos e repousar no escuro por 30 minutos Fonte: Autor (2021). 41 Após as séries de análises repousarem, é feita a leitura de absorbância das amostras no espectrofotômetro, utilizando uma curva previamente preparada, em comprimento de onda de 750 nm. Com os valores de absorbância de cada série é possível fazer o cálculo da concentração de proteína e ácidos húmicos do EPS e ALE dos lodos aeróbio e anaeróbio. 3.2.7 Concentração de ácido glucurônico e glicose A concentração de polissacarídeos e glicose do EPS e ALE, é realizada conforme proposto por Dubois et al. (1956) e adaptado por Rondel et al. (2013) e explicado a seguir. As amostras de EPS foram diluídas 10, 20 e 30 vezes e as amostras de ALE foram diluídas 20, 30 e 40 vezes, por serem mais concentradas. As amostras diluídas são inseridas em tubos de ensaio, seguidas da adição do reagente antrona, que se refere à uma diluição de 0,2 gramas de antrona em 100 mL de ácido sulfúrico concentrado (36N). A proporção da mistura deve ser de 1:2 (amostra/reagente). Nesse caso foi utilizado a quantidade de 2 mL de EPS/ALE diluído para 4 mL de reagente antrona. Após, a amostra é agitada no vórtex por 20 segundos, coberta com papel alumínio e deixada em banho maria a 100°C por 15 minutos. Os tubos são então retirados do banho maria, e resfriados até temperatura ambiente por 10 minutos para seguir com a leitura no espectrofotômetro, nas curvas com comprimentos de onda de 560 e 620 nm. Com os valores de absorbância obtidos na leitura, é possível realizar os cálculos de concentração de ácido glucurônico e glicose presentes nas amostras de EPS e ALE. 42 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1 EFICIÊNCIA DO TRATAMENTO Na Tabela 5 podemos observar os valores médios de DBO5, DQO, nitrogênio amoniacal (NH4-N) e fósforo total (PT) do esgoto bruto, saída do RBS, saída do UASB e do efluente tratado. Com esses valores, é possível calcular a eficiência de remoção, que está mostrada também na Tabela 5, habilitando comparar os tratamentos aeróbio e anaeróbio, além de verificar se o tratamento atende a legislação. Tabela 5 – Concentração e eficiência de remoção de parâmetros de qualidade do esgoto bruto e saída dos tratamentos Parâmetro Efluente Bruto (mg/L) Saída do RBS (mg/L) Eficiênci a RBS (%) Saída do UASB (mg/L) Eficiênci a UASB (%) Efluente tratado¹ (mg/L) Eficiência global² (%) DBO5 542 27 95,0 209 61,4 97 82,1 79,3 39,4 50,8 DQO 946 121 87,2 425 55,1 196 NH4-N 67,17 41,50 38,2 62,63 6,7 40,71 PT 5,9 1,4 76,3 2,9 50,8 2,9 1: Efluente tratado refere-se à mistura dos efluentes tratados do RBS e UASB + físico-químico 2: Eficiência global refere-se à mistura dos efluentes tratados do RBS e UASB + físico-químico *As médias dos valores dos parâmetros foram calculadas a partir do resultado de 7 análises. Fonte: Autor (2021). Na Figura 9, podemos observar os valores de eficiência de remoção, bem como o limite para DBO5 estabelecido pela legislação CONAMA 430/2011, que exige remoção mínima de 60%. 43 Figura 9 – Eficiência de remoção dos tratamentos Fonte: Autor (2021). O RBS apresentou eficiência de remoção de DBO satisfatória, enquanto no UASB a eficiência de remoção mínima requerida pela legislação foi ligeiramente atendida. Reatores anaeróbios possuem menor eficiência quando comparados à sistemas aeróbios. De acordo com (CHERNICHARO, 2005), a remoção média de DBO5 e DQO de reatores anaeróbicos costuma ser entre 65 e 75%. Ressalta-se que, que após passar pelo reator anaeróbio o efluente ainda passa por um tratamento físico-químico, que remove parcialmente a matéria orgânica, melhorando a eficiência do tratamento. Na Figura 10 são apresentadas as concentrações dos parâmetros de qualidade do efluente tratado (Tabela 5) com a indicação dos valores máximos de DBO5 e nitrogênio amoniacal estabelecido pelo CONAMA 430/2011, de 120 mg/L e 20 mg/L respectivamente. 44 Figura 10 – Concentração dos parâmetros de qualidade do efluente Fonte: Autor (2021). O tratamento anaeróbio, mais uma vez se mostrou não ser eficiente na remoção de DBO5, ficando acima do estabelecido pela CONAMA 430/2011. Entretanto, no caso do nitrogênio amoniacal, ambos os tratamentos não atenderam a legislação, mesmo quando considerado o tratamento global, que ultrapassou 20 mg/L. Já para os valores de fósforo, a Lei n°14.675, de 13 de abril de 2009, estabelece um limite de concentração de 4 mg/L, o que é alcançado em ambos os tratamentos e no efluente tratado final. Com esses dados, observa-se que o tratamento aeróbio é mais eficiente na remoção desses parâmetros do que o tratamento anaeróbio. As causas do tratamento anaeróbio ser menos eficiente podem estar associados às deficiências nas fases iniciais de projeto de concepção, construção e operação (CHERNICHARO et al., 2018). A baixa eficiência na remoção de nutrientes é uma das características inerente ao metabolismo de microrganismos anaeróbios, sendo que pós-tratamento de efluentes anaeróbios é indicada nessa situação. O problema da eficiência do UASB é minimizado pelo tratamento físico-químico, que serve justamente para aumentar a eficiência do reator. De maneira geral, a qualidade do efluente tratado pela estação de tratamento de efluentes foi satisfatória, já que atendeu a legislação quanto aosparâmetros DBO5, DQO e fósforo total. Porém, para nitrogênio amoniacal, o limite mínimo da legislação para este parâmetro não foi atendido, principalmente, devido à baixa eficiência apresentada (7%) pelo reator UASB. 45 4.1.1 Teor de Sólidos do Licor Misto dos Reatores UASB e RBS Os teores de sólidos do licor misto do RBS e do UASB, foram realizados em triplicata, apresentaram os resultados apresentados na Tabela 6, respectivamente. Na Figura 11, podemos comparar os sólidos totais, fixos e voláteis dos tratamentos. Tabela 6 – Teor de sólidos do licor misto do RBS e UASB RBS UASB* Sólidos (mg/L) Sólidos totais 1820 ± 65,1 1768 Sólidos fixos 695 ± 86,1 648 Sólidos voláteis 1215 ± 80,0 1120 *UASB não realizado em triplicata Fonte: Autor (2021). As replicatas da análise do licor misto do UASB não apresentaram valores confiáveis e por isso não foram incluídas na análise. Figura 11 – Comparação dos teores de sólidos do licor misto entre os tratamentos Fonte: Autor (2021). Como pode ser observado, os valores de ST, SF e SV, para ambos os tratamentos são basicamente iguais considerando o desvio padrão, sendo o tratamento aeróbio levemente superior. Isso se deve pelo fato de a composição sólida dos lodos serem a mesma, formado por 46 compostos orgânicos (carboidratos e proteínas), sólidos inertes, nutrientes (nitrogênio e fósforo), dentre outros (BATISTA, 2015). 4.2 CARACTERIZAÇÃO DO LODO RESIDUAL AERÓBIO E ANAERÓBIO O licor misto, dos reatores RBS e UASB, foram submetidos à centrifugação, para a normalização do teor de águas das amostras, para que fosse possível sua comparação. 4.2.1 Teor de sólidos do lodo centrifugado O resultado do teor de sólidos totais (ST), sólidos fixos (SF) e sólidos voláteis (SV) para o lodo centrifugado do RBS e do UASB, estão apresentados na Tabela 7, respectivamente. Na Figura 12 podemos ver graficamente a comparação entre os tratamentos. Tabela 7 – Teor de sólidos do lodo centrifugado do RBS e UASB RBS UASB Sólidos (mg) mgsólidos mgsólidos/glodo mgsólidos mgsólidos/glodo Sólidos totais 457,3 ± 34,5 140,8 ± 6,4 785,8 ± 126,8 197,6 ± 16,4 Sólidos fixos 108,8 ± 9,3 33,5 ± 1,7 245,2 ± 41,3 61,7 ± 5,8 Sólidos voláteis 348,6 ± 25,2 107,3 ± 4,8 540,6 ± 85,8 136,0 ± 10,7 Fonte: Autor (2021). Figura 12 – Teor de sólidos por grama de lodo centrifugado Fonte: Autor (2021). 47 O teor de sólidos totais, fixos e voláteis é maior no lodo derivado do tratamento anaeróbio do que o lodo do tratamento aeróbio. Como podemos ver na Figura 13 abaixo, onde é apresentado a diferença na coloração dos dois lodos centrifugados após a mufla, que o lodo do tratamento aeróbio possui uma coloração mais clara em relação ao lodo anaeróbio. A coloração mais escura do lodo anaeróbio pode ser associada à presença de substâncias húmicas derivadas do metabolismo anaeróbio. Figura 13 – Amostras dos lodos centrifugados após secagem em estufa. Lodo aeróbio (a) e anaeróbio (b). Fonte: Autor (2021). 4.2.2 Teor de sólidos do EPS Os teores de sólidos do EPS do RBS e do UASB, apresentaram os resultados apresentados na Tabela 8. Na Figura 14, pode-se comparar os teores de sólidos das amostras de EPS obtidas de lodo centrifugado aeróbio (RBS) e anaeróbio (UASB). Tabela 8 – Teor de sólidos do EPS RBS UASB Sólidos (mg/LEPS) Sólidos totais 350 ± 14,1 322 ± 49,3 Sólidos fixos 15 ± 7,0 98 ± 35,1 Sólidos voláteis 335 ± 7,1 223 ± 25,2 Fonte: Autor (2021). 48 Figura 14 – Comparação dos teores de sólidos do EPS entre os tratamentos Fonte: Autor (2021). Conforme exposto acima, evidencia-se que o teor de sólidos totais do EPS de ambos os tratamentos é substancialmente igual. Mas ele não vale para os valores de sólidos fixos e voláteis. O teor de sólidos fixos do tratamento anaeróbio (UASB) é consideravelmente maior do que o do tratamento aeróbio (RBS), o que confirma o teor de sólidos voláteis do tratamento anaeróbio ser menor. Logo, pode-se concluir que a composição do EPS do lodo anaeróbio tem uma maior concentração de sólidos inorgânicos. 4.2.3 Teor de Sólidos do ALE Os teores de sólidos do ALE do RBS e do UASB, foram realizados em triplicata, apresentaram os resultados apresentados na Tabela 9, respectivamente. Na Figura 15, podemos comparar os sólidos totais, fixos e voláteis dos tratamentos. Tabela 9 – Teor de sólidos do ALE RBS UASB Sólidos (mg) mgsólidos mgsólidos/glodo mgsólidos mgsólidos/glodo Sólidos totais 105,8 ± 6,2 27,4 ± 0,5 231,6 ± 11,0 42,2 ± 0,8 Sólidos fixos 19,4 ± 3,8 5,1 ± 1,1 32,9 ± 7,5 6,0 ± 1,1 Sólidos voláteis 86,4 ± 9,6 22,3 ± 1,6 198,7 ± 7,2 36,2 ± 1,8 Fonte: Autor (2021). 49 Figura 15 – Comparação dos teores de sólidos do ALE entre os tratamentos Fonte: Autor (2021). Os teores de sólidos do ALE do tratamento anaeróbio são claramente maiores do que o tratamento aeróbio. Os sólidos encontrados no lodo anaeróbio se mantêm na fração obtida de ALE, apesar de todo o processamento ao qual a amostra é submetida. Inclusive, foi possível observar (Figura 21) visualmente que o ALE de lodo anaeróbio possuía algumas partículas e era mais escuro, enquanto o mesmo não foi observado para o ALE de lodo aeróbio. Microrganismos (principalmente bactérias e protozoários) e substâncias poliméricas extracelulares (EPS), são os principais componentes da fração orgânica do lodo. A quantidade de matéria orgânica presente contida no lodo, EPS e ALE é fornecida pela relação entre sólidos voláteis (SV) e sólidos totais (ST). 4.3 RENDIMENTO DE ALE Para calcular o rendimento do ALE em cada lodo, foram relacionados o teor de sólidos voláteis por grama de ALE, e o teor de sólidos voláteis por grama de lodo, de cada amostra de lodo. As equações abaixo demonstram o cálculo do rendimento para cada lodo. 𝑅𝑒𝑛𝑑𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑜 𝐴𝐿𝐸 (%) = 𝑆𝑉𝐴𝐿𝐸(𝑔𝑆𝑉𝐴𝐿𝐸 𝑔𝐴𝐿𝐸⁄ ) 𝑆𝑉𝑙𝑜𝑑𝑜(𝑔𝑆𝑉𝑙𝑜𝑑𝑜 𝑔𝑙𝑜𝑑𝑜⁄ ) ∗ 100 Equação 13 50 Para o lodo do RBS o rendimento para a produção de ALE é de 20,78% gSVALE/gSVlodo. E para o lodo do UASB o rendimento de ALE é de 26,62% gSVALE/gSVlodo. O rendimento de ALE para lodos aeróbio está entre 15 e 25%, já para lodos anaeróbios não há bibliografia que demonstra o rendimento. Figura 16 – Comparação de rendimento de extração de ALE Fonte: Autor (2021). 4.4 CONCENTRAÇÃO DE PROTEÍNAS E POLISSACARÍDEOS 4.4.1 Ácidos húmicos e proteínas Como podemos perceber na Figura 17, a concentração de ácidos húmicos do EPS do UASB (3,79 ± 0,08 gacid. húmicos/LEPS) foi aproximadamente 80% maior que o do aeróbio (2,11 ± 0,07 gacid. húmicos/LEPS). As proteínas do EPS do tratamento aeróbio (1,07 ± 0,42 gproteína/LEPS) foram maiores do que o do anaeróbio (0,723 ± 0,40 gproteína/LEPS), apesar do desvio, conforme observado na Figura 17. 20.81% 26.65% 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% R en d im en to ( % ) RBS UASB 51 Figura 17 – Concentração de ácidos húmicos e proteínas no EPS Fonte: Autor (2021). A concentração de ácidos húmicos do ALE do lodo anaeróbio (43,85 ± 1,54 gacid. húmicos/LALE) foi quase 2,5 vezes maior que a concentração do lodo aeróbio (17,65 ± 0,41 gacid. húmicos/LALE). Para proteínas, a concentração para ambos os tratamentos foi similar, com uma diferença de 14%, sendo 4,64 ± 2,24 gproteína/LALE para o aeróbio e 5,31 ± 0,59 gproteína/LALE para o lodo anaeróbio. Figura 18 – Concentração de proteínas e ácidos húmicos do ALE Fonte: Autor (2021). Os valores de concentração de ácidos húmicos e proteínas do ALE são mais elevados do que os obtidos no EPS, o que faz sentido, uma vez que o ALE é obtido através do EPS 52 precipitado. As substâncias húmicas são derivadas da decomposição de vegetais, animais e microrganismos. As substânciashúmicas são inclusive categorizadas em ácidos húmicos, ácidos fúlvicos e humina. Em processos biológicos de tratamento de efluentes, essas substâncias são adsorvidas pela biomassa e podem, inclusive, prejudicar o processo de tratamento (LIU et al., 2019). Em processos de digestão anaeróbia, as substâncias húmicas podem contabilizar de 6 a 20% dos sólidos voláteis do lodo residual (LI et al., 2021). Neste trabalho, o efluente bruto é o mesmo que adentra o processo aeróbio e o anaeróbio, então, pode-se sugerir que as substâncias húmicas se acumulam com maior facilidade na biomassa do reator UASB ou são produzidas no próprio processo biológico. Ainda, a presença destas substâncias nos biopolímeros pode indicar limitações ou possíveis aplicações para este biomaterial. 4.4.2 Ácidos glucurônicos e glicose A concentração de ácido glucurônico do lodo anaeróbio (0,419 ± 0,110 gacid. gluc/LEPS) foi cerca de 40% maior que a do lodo aeróbio (0,305 ± 0,064 gacid. gluc/LEPS). Para a glicose, os valores se inverteram, sendo praticamente 80% maior para o lodo aeróbio (0,259 ± 0,175 gglicose/LEPS) do que o lodo anaeróbio (0,143 ± 0,018 gglicose/LEPS). Figura 19 – Concentração de ácido glucurônico e glicose do EPS Fonte: Autor (2021). Para o ALE, a concentração de ácido glucurônico também foi maior para o lodo anaeróbio (8,143 ± 2,276 gacid. gluc/LALE) do que o lodo aeróbio (6,640 ± 0,237 gacid. gluc/LALE), 53 assim como no EPS. A glicose também foi maior no lodo anaeróbio do que o aeróbio, com concentrações de 1,459 ± 0,374 gglicose/LALE e 1,106 ± 0,160 gglicose/LALE, respectivamente. Figura 20 - Concentração de ácido glucurônico e glicose do ALE Fonte: Autor (2021). Como esperado, as concentrações de ácido glucurônico e glicose foram maiores para o ALE do que o EPS. Os valores de ácido glucurônico foram maiores para o reator anaeróbio nos dois casos. 4.5 RETICULAÇÃO DO ALE A capacidade de formar hidrogel do ALE foi comprovada, nos dois tipos de lodo, verificando a capacidade de formação de esferas quando adicionado em uma solução de cloreto de cálcio (CaCl2). O resultado da formação de hidrogel pode ser observado na Figura 21 abaixo, onde tem-se a formação do hidrogel na solução e depois de peneirado. 54 Figura 21 – ALE reticulado para lodo aeróbio (a e b) e anaeróbio (c e d) Fonte: Autor (2021). Enquanto a maioria das proteínas e polissacarídeos têm um requisito especial para a formação de hidrogel, o gel de alginato é o único que pode ser formado em uma ampla faixa de temperatura e pH (BRACCINI et al. 1999). O gel de ALE formado naturalmente oferece condições de estrutura física forte as esferas, o que fornece aos microrganismos estruturas semelhantes ao alginato comercial (DE SOUZA, 2017). Foi possível observar que o ALE de lodo de UASB formou esferas mais resistentes e com coloração mais escura em comparação àquelas obtidas com lodo de RBS. A composição química apresentada anteriormente, em termos de ácido glucurônico, pode indicar a maior concentração de polissacarídeos nas amostras de UASB, que podem ter conferido maior formação de hidrogel. Ainda, a coloração escura do ALE de UASB está provavelmente associada à maior concentração de substâncias húmicas. Com os resultados apresentados nos tópicos anteriores, evidencia-se que o lodo do tratamento anaeróbio tem um potencial maior de geração de biopolímeros, com um rendimento aproximadamente 6% maior do que o lodo aeróbio. Porém, como o reator UASB tem uma 55 produção de lodo menor do que um tratamento aeróbio (CHERNICHARO, 2005), deve-se avaliar se esse rendimento maior é mais rentável. Outro ponto a ser levado em consideração, nessa ETE em específico, é que o lodo final da estação é misturado. Ou seja, o lodo final é uma mistura do lodo do RBS, lodo do UASB, lodo do tratamento físico-químico, onde é adicionado cloreto férrico que pode influenciar na extração dos biopolímeros. Portanto uma análise desse lodo final tem que ser feita, com o intuito de verificar a possibilidade de extração dos biopolímeros desse lodo. 56 5 CONCLUSÕES Baseado nos resultados obtidos neste trabalho, pode-se concluir que: • O RBS é mais eficiente na remoção de DBO5, DQO, nitrogênio amoniacal e fósforo total do que o UASB; • O lodo anaeróbio tem um rendimento de recuperação de ALE aproximadamente 6% maior do que o lodo aeróbio; • A concentração de ácidos húmicos do lodo anaeróbio é aproximadamente 80% maior no EPS e 150% maior no ALE, do que o lodo aeróbio; • A concentração de ácido glucurônico e glicose é semelhante para ambos os lodos; • O ALE de ambos os lodos apresentou características de formação de hidrogel em solução de cloreto de cálcio. 57 6 RECOMENDAÇÕES Algumas recomendações para próximos trabalhos sobre o tema: • Verificar o impacto da adição de cloreto férrico do tratamento físico-químico na extração de EPS e ALE do lodo anaeróbio; • Verificar o impacto da mistura do lodo aeróbio e anaeróbio no rendimento da extração de EPS e ALE, no caso da ETE estudada; • Fazer testes de resistência no hidrogel de ALE de ambos os tratamentos. • Explorar o potencial do hidrogel de ALE extraído de lodo anaeróbio para adsorção de poluentes e outras aplicações. • Realizar um estudo de viabilidade técnica-econômica e avaliar se os atuais custos de transporte e disposição do lodo residual podem ser compensados pela recuperação do bioprodutos, em escala real. 58 REFERÊNCIAS AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Atlas Esgotos: Despoluição de Bacias Hidrográficas. [S. l.], 2019. Disponível em: http://www.snirh.gov.br/portal/snirh/snirh- 1/atlas-esgotos. Acesso em: 12 mar. 2021. ALEM SOBRINHO, P. Tratamento de esgoto e geração de lodo. Cap.3, p.41-87. Cap.2, 7- 40. f. 2001. - Universidade Federal de Minas Gerais, [s. l.], 2001. ANDREOLI, C.V.; VON SPERLING, M.; FERNANDES, F.; Lodos de esgotos: tratamento e disposição final. 3. ed. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental-UFMG; Companhia de Saneamento do Paraná, 2001. 484 p. APHA. Standard methods for the examination for water and wastewater. 23rd. ed. American Public Health Association, Washington, DC: American Water Works. 2017. BATISTA, LUCILENE FERREIRA. Lodos Gerados Nas Estações De Tratamento De Esgotos No Distrito Federal : Um Estudo De Sua Aptidão Para O Condicionamento , Utilização E Disposição Final. 197 f. 2015. - Universidade de Brasília, [s. l.], 2015. BETTIOL, W.; CAMARGO, O.A. 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