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Trabalho de Conclusão de Curso Métodos alternativos de desinfecção de água para comunidades rurais empregando extratos de semente de uva e de chá verde Priscila Carlon Florianópolis, 2018 Universidade Federal de Santa Catarina Curso de Graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental Priscila Carlon MÉTODOS ALTERNATIVOS DE DESINFECÇÃO DE ÁGUA PARA COMUNIDADES RURAIS EMPREGANDO EXTRATOS DE SEMENTE DE UVA E DE CHÁ VERDE Trabalho apresentado à Universi- dade Federal de Santa Catarina para a Conclusão do Curso de Graduação em Engenharia Sanitária e Ambien- tal. Orientador: Prof.a Maria Elisa Ma- gri, Dr.a Florianópolis 2018 AGRADECIMENTOS Agradeço a todos que estiveram presente e de alguma forma participaram e me auxiliaram neste processo longo de graduação. Agradeço aos meus pais, Marcello e Márcia, por todo o apoio necessário, ao meu irmão, Gustavo, pela paciência em compartilhar os conhecimentos, à Luiza por me acompanhar desde o início da graduação e a todos os meus amigos pela compreensão e o companheirismo ao longo destes anos. Um agradecimento especial à Daiane, minha companheira de pesquisa, à Lenise pelas correções e participação especial, à Agnes pela grande ajuda no texto, ao João por todo apoio, e à toda equipe do LIMA pelo empenho, especialmente durante as férias. Agradeço também à minha orientadora, professora Maria Elisa Magri, pelo suporte e paciência e aos membros da banca, professor Rodrigo A. Mohedano e Fernando H. de Souza, por terem aceito o convite de participar da avaliação deste trabalho. RESUMO A desinfecção de água para consumo humano tem papel importante na redução da ocorrência de doenças de veiculação hídrica, o que resulta num impacto positivo em programas de saúde pública. A utilização de compostos naturais na desinfecção de água se mostra vantajosa por utilizar compostos presentes na natureza, que também são utilizados como suplemento alimentar em alguns países. Os extratos naturais de chá verde e semente de uva têm sido estudados quanto à capacidade de inativação de bactérias e vírus patogênicos em escala laboratorial, prin- cipalmente na indústria alimentícia. Propõe-se a avaliação da eficiência de desinfecção de água através do emprego desses compostos em relação à capacidade de inativar as bactérias Escherichia coli e Salmonella enterica, e também as alterações físico-químicas na água causadas pela adição desses extratos. Os testes foram feitos em escala de bancada, com o equipamento Jar-test 218-6LDB da marca Ethik Thecnology. Os tempos de amostragem utilizados foram de 10, 20, 40, 60 e 120 minutos. Os parâmetros físico químicos analisados foram pH, turbidez, cor aparente e cor verdadeira. Com relação às análises microbiológicas, o extrato de chá verde obteve uma redução média de E. coli de 0,76 e 1,21 log10, para as concentrações 2 e 5 mg/mL, respectivamente, e uma redução média de Salmonella de 0,93 e 1,24 log10, para as concentrações 2 e 5 mg/mL, respectivamente. Quanto às alterações físico-químicas, houve uma diminuição do pH, e aumento da turbidez, cor aparente e cor verdadeira. O extrato de semente de uva, com relação às análises micro- biológicas, não demonstrou diminuição na concentração das bactérias avaliadas, apenas um decréscimo com relação aos controles, indicando uma possível ação bacteriostática para as concentrações 3 e 5 mg/mL. As alterações físico-químicas obtidas foram maiores quando comparadas ao extrato de chá verde, exceto pelo pH, que teve uma menor redução. Palavras-chave: extratos naturais. desinfetante alternativo. desinfec- ção de água. ABSTRACT The drinking water disinfection has an important role on reducing the occurence of waterborne diseases, which has a positive impact on public health programs. The usage of natural compounds on water disinfection has been shown advantageous for using naturally occurring compounds, which are also used as food suplement in some countries. Green tea and grape seed natural extracts have been studied due to their capacity to inactivate pathogenic bacteria and viruses in laboratorial scale, especially on food insdustry. It is proposed the evaluation of water disinfection efficiency by these compounds, regarding their ability of inactivating Escherichia coli and Salmonella enterica, and also the physical-chemical changes caused by the addition of these extracts. Tests were conduced in bench scale, using a Jar-test 218-6LDB equipment from Ethik Thecnology. The sampling times were 10, 20, 40, 60 and 120 minutes. The physical-chemical parameters analysed were pH, turbidity, apparent color and true color. In respect to the microbiologic analysis, the green tea extract had an average reduction of E. coli of 0.76 and 1.21 log10, for the 2 and 5 mg/mL concentrations, respectively, and an average reduction of Salmonella enterica of 0.93 and 1.24 log10, for the 2 and 5 mg/mL concentrations, respectively. With respect to the physical- chemical changes, there was a pH reduction, and a turbidity, apparent color and real color increase. The grape seed extract, with respect to the microbiologic analysis, showed no reduction on the concentration of the bacteria analysed, only a decrease when compared to the control samples, indicating a possible bacteriostate action for the 3 and 5 mg/mL concentrations. The physical-chemical changes obtained were higher when compared to the green tea extract, except for the pH, which had a lower reduction. Keywords: natural extracts. alternative disinfectant. water disinfec- tion. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Jar-test com o extrato de chá verde . . . . . . . . . 47 Figura 2 – Concentração de Escherichia coli ao longo do tempo com o GTE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52 Figura 3 – Concentração média de Escherichia coli ao longo do tempo com o GTE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 Figura 4 – Concentração de Salmonella ao longo do tempo com o GTE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 Figura 5 – Concentração média de Salmonella ao longo do tempo com o GTE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 Figura 6 – Jar-test com o extrato de chá verde . . . . . . . . . 63 Figura 7 – Concentração de Escherichia coli ao longo do tempo com o GSE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68 Figura 8 – Concentração média de Escherichia coli ao longo do tempo com o GSE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 Figura 9 – Concentração de Salmonella ao longo do tempo com o GSE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 Figura 10 – Concentração média de Salmonella ao longo do tempo com o GSE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Concentração mínima inibitória (MIC) de bactérias com o GSE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 Tabela 2 – Remoção de micro-organismos com o GSE . . . . . 37 Tabela 3 – Concentração mínima inibitória (MIC) e porcenta- gem de inibição de bactérias com o GTE . . . . . . 39 Tabela 4 – Concentração de cada extrato por jarro em mg/mL 44 Tabela 5 – Resultados análises físico-químicas com o GTE . . . 50 Tabela 6 – Equação das retas, coeficiente de determinação (R2) de Escherichia coli e T90 com o GTE . . . . . . . . 51 Tabela 7 – Concentração média de Escherichia coli com o GTE para cada jarro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 Tabela 8 – Concentração média de Escherichia coli com o GTE 54 Tabela 9 – Equação das retas e coeficiente de determinação (R2) de Escherichia coli finais com o GTE . . . . . . . . 54 Tabela 10 – Equação das retas e coeficiente de determinação (R2) de Salmonella com o GTE . . . . . . . . . . . . . . 58 Tabela 11 – Concentração média de Salmonella com o GTE . . . 59 Tabela 12 – Concentração média de Salmonella com o GTE . . . 60 Tabela 13 – Equação das retas e coeficiente de determinação (R2) finais de Salmonella com o GTE . . . . . . . . . . . 60 Tabela 14 – Resultados análises físico-químicas com oGSE . . . 65 Tabela 15 – Concentração média de Escherichia coli com o GSE 67 Tabela 16 – Equação das retas e coeficiente de determinação (R2) de Escherichia coli com o GSE . . . . . . . . . . . . 69 Tabela 17 – Concentração média de Escherichia coli com o GSE 69 Tabela 18 – Equação das retas e coeficiente de determinação (R2) finais de Escherichia coli com o GSE . . . . . . . . 70 Tabela 19 – Equação das retas e coeficiente de determinação (R2) de Salmonella com o GSE . . . . . . . . . . . . . . . 72 Tabela 20 – Concentração média de Salmonella com o GSE . . . 73 Tabela 21 – Concentração média de Salmonella com o GSE . . . 74 Tabela 22 – Equação das retas e coeficiente de determinação (R2) finais de Salmonella com o GSE . . . . . . . . . . . 75 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ATCC American Type Culture Collection CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio ECG Galato de Epicatequina EGCG Epigalocatequina-3-galato GTE Green Tea Extract (Extrato de chá verde) GSE Grape Seed Extract (Extrato de semente de uva) MSB Modified Scholten’s Broth OMS Organização Mundial da Saúde pH Potencial Hidrogeniônico TYGB Tryptone-Yeast extract-Glucose Broth UFC Unidades Formadoras de Colônias UFP Unidades Formadoras de Placas UFSC Universidade Federal de Santa Catarina WHO World Health Organization XLD Desoxicolato-Lisina-Xilose SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 2 OBJETIVOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 2.1 Objetivo geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 2.2 Objetivos específicos . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA . . . . . . . . . . 23 3.1 Consumo de água e saúde pública . . . . . . . . 23 3.2 O saneamento no meio rural . . . . . . . . . . . . 25 3.3 Micro-organismos patógenos e doenças de vei- culação hídrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 3.4 Tratamento de água e remoção de patógenos . 29 3.4.1 Desinfecção por cloro e formação de subpro- dutos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 3.4.2 Desinfecção por compostos naturais . . . . . . . 32 3.4.2.1 Extrato de semente de uva . . . . . . . . . . . . . . 33 3.4.2.2 Extrato de chá verde . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 4 METODOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 4.1 Local e condições da pesquisa . . . . . . . . . . . 41 4.2 Extratos de chá verde e de semente de uva . . 41 4.3 Micro-organismos, crescimento e inoculação . . 42 4.4 Ensaio em escala piloto . . . . . . . . . . . . . . . 42 4.5 Ensaio de desinfecção . . . . . . . . . . . . . . . . 43 4.6 Metodologia para quantificação e detecção das bactérias Salmonella enterica e Escherichia coli 44 4.7 Análises físico-químicas . . . . . . . . . . . . . . . 44 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO . . . . . . . . . 47 5.1 Extrato de chá verde . . . . . . . . . . . . . . . . 47 5.1.1 Análises físico-químicas . . . . . . . . . . . . . . . 47 5.1.2 Análises microbiológicas . . . . . . . . . . . . . . 51 5.1.2.1 Escherichia coli . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 5.1.2.2 Salmonella . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 5.2 Extrato de semente de uva . . . . . . . . . . . . . 62 5.2.1 Análises físico-químicas . . . . . . . . . . . . . . . 62 5.2.2 Análises microbiológicas . . . . . . . . . . . . . . 66 5.2.2.1 Escherichia coli . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 5.2.2.2 Salmonella . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 6 CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77 7 RECOMENDAÇÕES . . . . . . . . . . . . . . . 79 REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81 19 1 INTRODUÇÃO De acordo com a Lei nº 9433/1997, que institui a Política Nacio- nal de Recursos Hídricos, a água é um bem de domínio público, portanto, seu acesso deve ser garantido à toda população (com qualidade) (BRA- SIL, 1997). Entretanto, em muitos locais do Brasil, principalmente em regiões rurais, o acesso à água de qualidade se encontra dificultado pela falta de saneamento, tanto na parte de fornecimento de água potável, quanto pelo tratamento inadequado de esgotos antes da disposição em corpos hídricos. Dessa forma, os mananciais utilizados para o abasteci- mento público se vêem em constante processo de degradação, devido a despejos de efluentes irregulares; de fezes de animais, tanto de cria- ção em larga escala quanto silvestres; e ainda de despejos de efluentes industriais (FRANCO, 2007). A contaminação de mananciais pode levar a condições ina- dequadas de abastecimento público que, juntamente com serviços de esgotamento sanitário deficientes, têm efeito direto no quadro de saúde pública, tendo como consequência o aumento no número de ocorrência de diversas doenças infecciosas (TEIXEIRA; GOMES; SOUZA, 2012; WHO, 2014). Tais doenças – como cólera, febre tifóide, salmonelose e gastroenterites – são transmitidas por agentes infecciosos através da rota oral-fecal, na qual a água faz o papel intermediário (ASHBOLT, 2004; FREITAS; BRILHANTE; ALMEIDA, 2001). O controle dessas infecções pode ser feito através da proteção de mananciais, melhorando o tratamento de esgoto, e também através da desinfecção, etapa do tratamento de água que consiste na inativação dos micro-organismos patogênicos por meio de agentes desinfetantes (D’AGUILA et al., 2000; WHO, 2004). Os métodos de desinfecção naturais têm sido amplamente pes- quisados (COWAN, 1999; NEGI, 2012; MEIRELES; GIAOURIS; SI- MÕES, 2016) visto que compostos utilizados nesse tipo de tratamento são derivados de plantas e, em sua maior parte, consumidos pela po- pulação em forma de alimentos e suplementos alimentares. Dentre os 20 Capítulo 1. Introdução extratos naturais utilizados para a desinfecção natural, estão os ex- tratos de chá verde e de semente de uva, ambos testados para uma gama de micro-organismos patógenos em escala laboratorial (JAYA- PRAKASHA; SELVI; SAKARIAH, 2003; BAYDAR et al., 2006; TAY- LOR; HAMILTON-MILLER; STAPLETON, 2005; SU; D’SOUZA, 2011; RANDAZZO et al., 2017). A adoção de técnicas de desinfecção naturais por comunidades rurais é capaz de trazer benefícios à saúde da população, evitando a propagação de doenças de veiculação hídrica e garantindo a eliminação de micro-organismos patógenos. De forma a tentar associar a capaci- dade de inativação dos micro-organismos patógenos apresentada pelos extratos de chá verde e de semente de uva ao processo de desinfecção de água, é proposto o estudo da eficiência desses compostos na desinfecção de água para consumo humano em comunidades rurais. Espera-se a obtenção de um composto natural capaz de desinfetar a água de fácil acesso para comunidades rurais que não possuem sistema público de abastecimento de água. 21 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Avaliar a eficiência dos extratos de semente de uva e de chá verde na desinfecção de água para consumo humano. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS i Avaliar a eficiência de remoção dos micro-organismos Escherichia coli e Salmonella enterica em água com os extratos de chá verde e de semente de uva; ii Analisar as alterações físico-químicas da água devido a adição dos extratos de semente de uva e de chá verde, em termos de pH, turbidez, cor verdadeira e cor aparente. 23 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1 CONSUMO DE ÁGUA E SAÚDE PÚBLICA A contaminação dos corpos hídricos é comumente atribuída a águas provenientes do escoamento superficial de áreas urbanas e agrí- colas, bem como, do vazamento ou disposição inadequada de efluentes domésticos e industriais (AZIZULLAH et al., 2011; CARMEN et al., 2015). Os contaminantes comumente identificados em corpos d’água podem ser classificados em diferentes grupos, sendo os mais comuns os patógenos (bactérias, vírus e protozoários), os poluentes inorgânicos (ácidos, sais e metais tóxicos), os ânions e cátions (nitratos, fosfatos e sulfatos) e os compostos orgânicos (óleos e pesticidas) (AZIZULLAH et al., 2011). Dentre eles, os micro-organismos patógenos representam o grupo de maior interesse para questões de saúde pública, visto que sua presença naságuas de abastecimento caracteriza um problema de saúde pública, isto porque apresentam grandes riscos à saúde humana e estão relacionados a muitas enfermidades, surtos epidêmicos e elevadas taxas de mortalidade infantil (D’AGUILA et al., 2000; LIBÂNIO; CHERNI- CHARO; NASCIMENTO, 2005; FREITAS; BRILHANTE; ALMEIDA, 2001; TEIXEIRA; GOMES; SOUZA, 2012). Essas enfermidades, conhecidas como doenças de veiculação hídrica, são transmitidas pela rota oral-fecal, na qual um indivíduo contaminado excreta micro-organismos patógenos por meio das fezes, que são ingeridos através da água ou de alimentos que entraram em contato com as fezes contaminadas (AMARAL et al., 2003). Ao longo da última década, o acesso à água potável e a serviços de esgotamento sanitário aumentou no mundo inteiro, como resultado da adoção de regulamentos e dos avanços tecnológicos de tratamento. Conforme apresentado no relatório de 2017 da Organização Mundial da Saúde, em 2015, 71% da população mundial (5,2 bilhões de pessoas) utilizaram serviços de água potável e 39% da população mundial (2,9 bilhões de pessoas) utilizaram serviços de esgotamento sanitário, no 24 Capítulo 3. Revisão Bibliográfica mesmo ano (WHO, UNICEF, 2017). Como consequência de diversas ações de saneamento, as mortes por doenças diarréicas agudas (DDA) no mundo caíram de 2,9 milhões em 1990 para 1,5 milhões em 2012 (WHO, 2014). No Brasil, o número de casos de doença diarréica aguda se mostrou oscilante nos últimos anos. Entre 2005 e 2011, houve uma diminuição de 58% de internações por diarréia entre menores de 1 ano de idade e de 39% em crianças com idade entre 1 e 4 anos, além de uma diminuição de 66% no número de óbitos em menores de 1 ano e de 51% entre 1 e 4 anos (BRASIL, 2012). Essa diminuição no número de casos de internação e de óbitos pode ser resultado das ações de saúde realizadas no país, como a melhoria nas medidas sanitárias, fornecimento de hipoclorito de sódio para o tratamento de água às famílias sem acesso à água potável, ampliação de programas nacionais e também da implantação de vacinas orais (BRASIL, 2012). Apesar da expressiva diminuição até 2011, no ano de 2013 houve um aumento notável nas ocorrências de DDA, chegando a um total de 4.380.256 casos notificados, sendo a faixa etária mais atingida a de 10 anos ou mais, representando um total de 57% dos casos, seguido da faixa entre 1 e 4 anos, representando 22% dos casos (BRASIL, 2014b). Tal aumento no número de casos foi amplamente relacionado aos períodos de seca na região do nordeste do país (BRASIL, 2014b). Os eventos de seca diminuíram a oferta de água nos reservatórios, tendo como consequência a interrupção do fornecimento ou a diminuição da qualidade da água oferecida. O fornecimento de água potável à população é a melhor medida na prevenção de doenças de transmissão hídrica (BRASIL, 2015). Contudo, nem todas as comunidades têm acesso à água tratada, muitas vezes tendo como única opção fontes de água de baixa qualidade. A regulamentação quanto ao padrão de potabilidade da água para consumo humano no Brasil é dada pela Portaria de Consolidação no 5, de 28 de setembro de 2017 (BRASIL, 2017). O padrão microbiológico estabelecido na legislação brasileira surgiu para garantir segurança aos 3.2. O saneamento no meio rural 25 consumidores quanto ao risco de contrair doenças infecciosas durante a ingestão de água, devendo ser obedecido pelas empresas responsá- veis pelo abastecimento público de água. Segundo essa portaria, a água é definida como potável se houver ausência de Escherichia coli e coliformes totais em 100 mL de amostra analisada. A bactéria Esche- richia coli pertence ao grupo dos coliformes, sendo ambos utilizados como indicadores de contaminação fecal. É importante ressaltar que esses micro-organismos são utilizados apenas como indicadores de con- taminação fecal, visto que existem naturalmente no ambiente e não necessariamente são causadores de doenças (AZIZULLAH et al., 2011). O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) estabelece portarias para a regulação da qualidade de corpos hídricos e lançamento de efluentes. A Resolução CONAMA no 357, de 17 de março de 2005, dispõe sobre a classificação dos corpos d’água e estabelece os padrões de qualidade físico-química e microbiológica a ser atendidos de acordo com cada classe de enquadramento estabelecida (BRASIL, 2005). Cada corpo hídrico é enquadrado em uma determinada classe e cada classe possui valores de referência para os parâmetros de qualidade da água, incluindo o padrão microbiológico, que devem ser monitorados periodicamente pelo Poder Público. Quanto ao lançamento de efluentes, a Resolução CONAMA no 430, de 13 de maio de 2011, determina as condições e os padrões de lançamento de efluentes nos corpos d’água, complementando e alterando a Resolução CONAMA no 357 (BRASIL, 2011). Em relação aos parâmetros microbiológicos, a resolução não apresenta restrição específica no que diz respeito a parâmetros de lançamento de efluentes nos corpos hídricos. Entretanto, é exigido que o lançamento de efluentes não altere a classe de enquadramento do corpo receptor no ponto de mistura. 3.2 O SANEAMENTO NO MEIO RURAL O Censo Demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) verificou que, em 2010 no Brasil, cerca de 29,9 milhões de pessoas moravam em localidades rurais, o que repre- 26 Capítulo 3. Revisão Bibliográfica sentava 15% da população da época. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), de 2015, apenas 34,51% da população rural do Brasil recebia água através de redes públicas de distribuição, restando ainda 65,46% que necessitavam buscar outras fontes de água para sobrevivência. Estas fontes alternativas são principalmente po- ços rasos e nascentes, sendo ambas de fácil contaminação (SOBSEY; HANDZEL; VENCZEL, 2003). A contaminação da água para consumo humano em áreas ru- rais tende a ser maior do que em áreas urbanas visto que não há o monitoramento da qualidade de água e que não existem muitas estações de tratamento (AZIZULLAH et al., 2011). Dessa forma, em regiões onde não há rede de abastecimento de água, a falta de acesso a fontes de água seguras é uma ameaça à qualidade de vida da população, que acaba por utilizar água de qualidade duvidosa (TEREZA; RAZZOLINI, 2008), o que acarreta num alto risco de ocorrência de surtos de doenças de veiculação hídrica no meio rural, principalmente por conta do uso de fontes não seguras de abastecimento (AMARAL et al., 2003). Além disso, ainda existe um alto índice de contaminação de mananciais de regiões rurais causado, principalmente, pela grande presença de ativida- des agropecuárias altamente impactantes, configurando-se como uma ameaça aos corpos hídricos responsáveis pelo abastecimento de famílias nessas localidades (AMARAL et al., 2003; BARCELLOS et al., 2006). Os dejetos de animais criados, principalmente bovinos, apresentam risco de contaminação, visto que esses animais são reservatórios de muitos micro-organismos causadores de doenças, tais como Cryptosporidium parvum e Giardia sp. (AMARAL et al., 2003). 3.3 MICRO-ORGANISMOS PATÓGENOS E DOENÇAS DE VEI- CULAÇÃO HÍDRICA Patógenos humanos podem ser definidos como “espécies mi- crobianas ou parasitas que conseguem infectar e são capazes de causar doenças em humanos sob condições naturais de transmissão” (WOO- LHOUSE, 2006). Das espécies de patógenos catalogadas que infectam 3.3. Micro-organismos patógenos e doenças de veiculação hídrica 27 humanos, 538 são bactérias, 317 são fungos, 287 são helmintos, 208 são vírus e 57 são protozoários (WOOLHOUSE, 2006). Cada grupo de pató- geno é muito distinto e diverso, dessa forma apresentando características distintas – entre elas ciclo de vida, rotas de transmissão e patogenicidade – tendo como consequência diferentes riscos de contaminação, formas de exposição e sintomas. As doenças de veiculação hídrica – tais como febre tifóide, cólera, salmonelose, gastroenterites, hepatite A, amebíase e giardíase – são transmitidasvia rota oral-fecal através de micro-organismos conhecidos como patógenos entéricos (ASHBOLT, 2004). Estes, após ser ingeridos juntamente com alimentos e água contaminados, multiplicam-se no trato gastrointestinal do hospedeiro, algumas vezes podendo inclusive se espalhar para a corrente sanguínea (ASHBOLT, 2004; FONG; LIPP, 2005). Após a multiplicação, esses organismos são excretados nas fezes em grande quantidade, sendo capazes de contaminar recursos hídricos e alimentos, disseminando-se para novos hospedeiros (LECLERC et al., 2008). A propagação de tais doenças depende de alguns fatores, como a sobrevivência dos micro-organismos nos corpos d’água e a dose re- querida para infectar um indivíduo suscetível (LECLERC et al., 2008). A sobrevivência desses patógenos nos corpos d’água varia de acordo com cada grupo e espécie: os vírus, por exemplo, não conseguem se multiplicar fora de um hospedeiro, entretanto, são capazes de se manter estáveis ou em decaimento. Quanto às bactérias, alguns grupos con- seguem se multiplicar no ambiente, enquanto outros são capazes de persistir ou então entram em decaimento, dependendo de fatores como a disponibilidade de nutrientes e temperatura (LECLERC et al., 2008). A dose infecciosa dos patógenos representa a quantidade de organismos necessários para causar uma infecção, ou seja, quanto menor a dose infecciosa, menos micro-organismos são necessários para causar uma infecção (GRIFFIN; TAUXE, 1991). Dos agentes infecciosos bacterianos encontrados na água para 28 Capítulo 3. Revisão Bibliográfica consumo, a maior parte é: Vibrio cholerae, Salmonella, Escherichia coli cepas patogênicas, Shigella, Yersinia, Campylobacter, Legionella pneumophila, Helicobacter pylori, Leptospira e patógenos bacterianos oportunistas (BITTON, 2014). Devido à importância clínica, epidemi- ológica e ambiental, as bactérias Salmonella e Escherichia coli serão abordadas com maior profundidade. Salmonella é um gênero de bactérias que possui mais de 2000 sorotipos encontradas no ambiente (BITTON, 2014), sua transmissão ocorre tanto por meio da água, quanto por meio de alimentos, sendo res- ponsável por 42,3 % dos surtos notificados nos quais o agente etiológico foi identificado (BRASIL, 2012). A Salmonella enterica serovar Typhi e Paratyphi são os agentes etiológicos responsáveis por febre tifóide e paratifóide, respectivamente. A doença causa febre, náusea, diarréia e pode levar à perfuração intestinal, hemorragia, ou inclusive à morte se tratada de forma inadequada (BITTON, 2014). Existem também diversos sorotipos responsáveis por salmoneloses não tifóides, também conhecidas como salmoneloses gastrointestinais, sendo uma espécie bem conhecida a Salmonella Tiphymurium. Salmoneloses são problemáticas mesmo em hospedeiros com sistema não tão comprometidos, tendo como público mais afetado crianças, idosos e pessoas com sistema imunonólico comprometido (HOHMANN, 2001). A espécie Escherichia coli é composta por um grande número de sorotipos diferentes, sendo encontrados no trato gastrointestinal de animais termorreguladores (BITTON, 2014). Apesar de ser considerado um patógeno oportunista, somente um número limitado de sorotipos são associados a doenças, podendo causar tanto doenças diarréicas como também outros tipos de doença (ORSKOV; ORSKOV, 1992; BITTON, 2014). Os sorotipos patógenos foram classificados em enterotoxinogênico (ETEC), enteropatogênico (EPEC), enterohemorrágico (EHEC), ente- roinvasivo (EIEC) e enteroagregativo (EAggEC) (NATARO; KAPER, 1998). A Escherichia coli sorotipo EHEC 107:H7 é o agente etioló- gico responsável pela diarréia sanguinolenta (colite hemorrágica) e pela falência renal (síndrome hemolítico-urêmica), causada pela produção 3.4. Tratamento de água e remoção de patógenos 29 da Shigatoxina (LECLERC et al., 2008; ISOGAI et al., 2001). Essa cepa possui uma dose infecciosa muito inferior à dose das outras cepas de Escherichia coli, ou seja, necessita de uma quantidade menor de micro-organismos ingeridos para causar uma infecção (LECLERC et al., 2008). Por conta disso, a infecção por EHEC e o efeito pós-diarréico da síndrome hemolítico-urêmica causam elevada morbidade e mortalidade em países em desenvolvimento (ISOGAI et al., 2001). 3.4 TRATAMENTO DE ÁGUA E REMOÇÃO DE PATÓGENOS O tratamento de água consiste em proporcionar uma série de barreiras a fim de remover os contaminantes da água, sendo as etapas convencionais: coagulação, floculação, filtração e desinfecção (NWACHCUKU; GERBA, 2004; HRUDEY; HRUDEY; POLLARD, 2006; BITTON, 2014). Em relação aos contaminantes microbiológicos, a remoção física dos patógenos é feita por coagulação, precipitação, filtração e adsorção; a perda da viabilidade é feita pela desinfecção (NWACHCUKU; GERBA, 2004; BITTON, 2014). Além destas princi- pais barreiras, diversas outras podem ser utilizadas, sendo a quantidade necessária relacionada à qualidade da água do manancial e à qualidade da água desejada ao final do tratamento (HRUDEY; HRUDEY; POL- LARD, 2006; BITTON, 2014). Além do tratamento de água, outras aplicações no tratamento e fornecimento de água para consumo hu- mano são a proteção do manancial, a segurança na distribuição da água pela rede e também o monitoramento periódico da qualidade da água (HRUDEY; HRUDEY; POLLARD, 2006). A última etapa do tratamento é a desinfecção da água, que ocorre através da inativação dos micro-organismos presentes. Ela pode ser realizada através da adição de compostos químicos, como cloro e ozônio, e também por desinfecção física, como é o caso da remoção por membranas e a inativação por radiação ultravioleta (BITTON, 2014). A desinfecção se torna necessária para garantir a segurança da água, sendo muito importante para remover patógenos de tamanhos muito pequenos, como, por exemplo, os vírus, que não são retidos na 30 Capítulo 3. Revisão Bibliográfica filtração (NWACHCUKU; GERBA, 2004). Os agentes desinfetantes, tais como os supracitados cloro e ozônio, atuam na destruição das bactérias e outros micro-organismos patógenos através da reação dos agentes ativos com alguma substância vital necessária para o funcionamento desse organismo (FAIR et al., 1948). Além do uso para inativação de micro-organismos, alguns desinfetantes também são utilizados para oxidar matéria orgânica, ferro e manganês, melhorando as eficiências de coagulação e filtração, evitando o crescimento de biofilme em redes de distribuição de água e servindo como meio efetivo no controle de problemas relacionados à presença de cor, odor e sabores indesejáveis na água (BITTON, 2014). 3.4.1 Desinfecção por cloro e formação de subprodutos O cloro é o desinfetante químico mais utilizado mundialmente, principalmente devido ao seu baixo custo associado à sua alta eficiência, sendo suas principais formas de aplicação o cloro gasoso e a solução de hipoclorito (DEBORDE; GUNTEN, 2008; BITTON, 2014). Esse desinfetante atua nas bactérias através da quebra da permeabilidade da célula, do dano aos ácidos nucléicos e enzimas e também da repressão da transcrição genética (BITTON, 2014). Além do uso do cloro nas estações de tratamento de água, muitos países requerem um mínimo de cloro residual na água para garantir sua desinfecção ao longo da rede de distribuição (BRUCHET; DUGUET; SUFFE, 2004). Apesar do uso do cloro ser de grande contribuição na diminuição das doenças de veiculação hídrica, este possui algumas limitações. Dentre estas, podem ser citadas: a incapacidade de inativar os oocistos de Cryptosporidium quando aplicado na concentração usual de tratamento, e também a formação de traços de subprodutos tóxicos, resultantes de reações químicas com substâncias presentes na água. Esses subprodutos suscitam muita preocupação principalmente com respeito aos riscos à saúde humana por eles representados (STANWELL-SMITH et al., 2003). 3.4. Tratamento de água e remoção de patógenos 31 A relação entre os subprodutos formados pela desinfecção da água por cloro e problemas de saúde em estudos epidemiológicos é muitas vezes inconclusiva einconsistente em razão de problemas como pequena amostragem e também da forma de avaliação da exposição a esses compostos (NIEUWENHUIJSEN et al., 2009). Além disso, existem diferentes subprodutos formados dependendo de fatores como parâme- tros físico-químicos da água, tipo de tratamento, tipo e concentração do desinfetante empregado, e o tempo de contato (NIEUWENHUIJSEN et al., 2009; YANG; SHANG; HUANG, 2005; HUA; RECKHOW, 2008). Dentre os mais de 600 subprodutos identificados na desinfecção com o emprego de compostos clorados, aqueles de maior preocupação são os trihalometanos (e.g.: clorofórmio, bromoclorometano, dibromo- clorometano, bromofórmio) (HRUDEY, 2009). Isto porque, segundo diversos estudos, a exposição a esses compostos pode resultar em risco de desenvolvimento de câncer de bexiga, estando associado a fatores como o tempo e o tipo de exposição, como ingestão direta, inalação e absorção através da pele durante o banho, bem como, das concentrações desses subprodutos na água (CANTOR et al., 2010; BOVE; ROGER- SON; VENA, 2007; VILLANUEVA et al., 2007). Outros estudos tentam associar esses compostos ao câncer de cólon (RAHMAN et al., 2010; DOYLE et al., 1997). Entretanto, as evidências da relação entre os trihalometanos e o câncer de bexiga são mais consistentes do que a relação entre este e o de câncer de cólon, sendo que o risco excessivo para o câncer de bexiga foi encontrado após mais de 20 anos de exposição e aumentando com o tempo (MILLS et al., 1998; NIEUWENHUIJSEN et al., 2009). Outros estudos também associam alguns subprodutos da clo- ração com problemas reprodutivos. Jeong et al. (2016) associam os subprodutos ácido cloroacético, ácido bromoacético e ácido iodoacético à inibição do crescimento do folículo e à redução de estradiol, demons- trando toxicidade a ovários in vitro. Zeng et al. (2014) sugerem que o ácido tricloroacético pode contribuir para um decréscimo na qualidade do sêmen. Outros estudos mostram que os subprodutos do cloro não 32 Capítulo 3. Revisão Bibliográfica afetam a gestação e o aborto (MACLEHOSE et al., 2008; SAVITZ et al., 2006). Apesar disso, Tardiff, Carson e Ginevan (2006) mostram uma associação positiva dos subprodutos com crescimento retardado do feto, tais como pequeno comprimento do corpo ou circunferência da cabeça. Apesar de todos os estudos sobre os possíveis efeitos causa- dos pelos subprodutos da cloração na saúde humana, é importante avaliar os riscos da contaminação química versus a necessidade de man- ter a segurança microbiológica, de forma a proteger os consumidores contra riscos microbianos causados pela reemergência de patógenos (STANWELL-SMITH et al., 2003). Portanto, faz-se necessária a busca de novos agentes desinfetantes que apresentem menores riscos à saúde humana e que sejam capazes de inativar os micro-organismos patógenos. 3.4.2 Desinfecção por compostos naturais De forma a reduzir e/ou substituir o uso de compostos clorados, diferentes métodos de desinfecção foram desenvolvidos, compreendendo métodos biológicos, métodos químicos alternativos e tecnologias físicas (MEIRELES; GIAOURIS; SIMÕES, 2016). Dentre estes métodos, os extratos de plantas foram intensamente pesquisados pela comunidade científica, apresentando diversas motivações na busca pelo uso destes compostos: a diminuição da resistência dos micro-organismos aos pro- dutos já existentes na natureza, o aumento da demanda por produtos naturais por consumidores, a queda potencial no custo do tratamento, a fácil disponibilidade desses produtos nos países em desenvolvimento e o menor impacto ao meio ambiente (COWAN, 1999; D’SOUZA, 2014; SAVOIA, 2012; LI; BAERT; UYTTENDAELE, 2013). Os extratos derivados de plantas possuem diversos metabólitos secundários com propriedades antimicrobianas, além de serem asso- ciados a variados benefícios na saúde, incluindo efeitos antioxidantes (D’SOUZA, 2014; SAVOIA, 2012; NEGI, 2012). Em muitos casos, essas substâncias servem como mecanismos de defesa para as plantas contra predação por micro-organismos, insetos e herbívoros (COWAN, 1999). 3.4. Tratamento de água e remoção de patógenos 33 As propriedades antimicrobianas dos óleos e extratos de plantas serviram como base para muitas aplicações, incluindo a preservação de alimentos, produção de produtos farmacêuticos, uso na medicina alternativa e em terapias naturais (SAVOIA, 2012; PERUMALLA; HETTIARACHCHY, 2011; NEGI, 2012). 3.4.2.1 Extrato de semente de uva O extrato de semente de uva, GSE (grape seed extract), é um subproduto da produção de vinho e de suco de uva, obtido a partir das sementes de uva, da qual é extraído, seco e purificado (PERU- MALLA; HETTIARACHCHY, 2011). O extrato contém compostos bioativos, tais como flavonóides, polifenóis, antocianinas, proantociani- dinas, procianidinas e resveratrol (D’SOUZA, 2014; MAHMOUD, 2014; JAYAPRAKASHA; SELVI; SAKARIAH, 2003). As uvas são ricas em polifenóis, sendo que de 60 a 70% da sua concentração está presente nas sementes (ZHAO et al., 1999; SHI et al., 2003). Os compostos fenólicos das uvas podem ser divididos em ácidos fenólicos e flavonóides. Os ácidos fenólicos mais comuns nas uvas são ácido cafeico e o ácido gálico. Os flavonóides podem ser sem coloração, como catequinas, epicatequinas e procianidinas, e com coloração, como quercetina e as antocianinas (SHI et al., 2003; XIA et al., 2013). Polifenóis apresentam diversos efeitos benéficos relacionados à sua capacidade de remover os radicais livres do corpo humano, sendo a capacidade antioxidante dos polifenóis derivados da semente de uva superior à de outros antioxidantes conhecidos, como a vitamina C, a vitamina E e β-caroteno (BAGCHI et al., 2000; SHI et al., 2003; FURIGA; LONVAUD-FUNEL; BADET, 2009). Além disso, os polifenóis também inibem determinados tipos de enzimas que catalisam a liberação de histamina, responsável por inflamações e alergias (SHI et al., 2003). O extrato de semente de uva causa benefícios à saúde, atuando como antioxidante, neuroprotetor, cardioprotetor, hepatoprotetor, an- tiulceroso e anticarcinogênico (LI; BAERT; UYTTENDAELE, 2013; 34 Capítulo 3. Revisão Bibliográfica D’SOUZA, 2014; SU; D’SOUZA, 2011). Bagchi et al. (2000) apresentam um estudo quanto à toxicidade do GSE em diversas situações envol- vendo a proteção contra o estresse oxidativo e as lesões em tecidos mediados por radicais livres. Ainda segundo Bagchi et al. (2000), o GSE demonstra citotoxicidade em relação às células de adenocarcinoma de mama, pulmão e gástrico, e aumento no crescimento e viabilidade das células normais da mucosa gástrica, assim como proteção excelente contra danos induzidos ao fígado e rim. Também, foi verificada excelente proteção contra infarto do miocárdio em ratos; além disso, a aplicação tópica de GSE resultou em um aumento da proteção ao sol em voluntá- rios humanos, bem como, a suplementação desse composto melhorou a pancreatite crônica em humanos. Khanna et al. (2001) realizaram um estudo que sugere que o GSE tem efeitos terapêuticos benéficos, promovendo a cicatrização de ferimentos dérmicos e outras doenças dérmicas correlacionadas. Kao et al. (2010) analisaram as respostas de redução de inflamação e de morte em peixes-zebra infectados com S. aureus utilizando o GSE. Foi identificado, também, que o GSE pode servir como alternativa eficiente contra o envenenamento alimentar causado pelo S. aureus utilizando medidas de segurança próprias. O extrato de semente de uva mostrou propriedades antibac- terianas contra bactérias gram negativas e gram positivas e também mostrou propriedades antivirais (SU; D’SOUZA, 2013; KAO et al., 2010). Al-Habib et al. (2010) obteve a inibição completa de todas as cepas bacterianas da Staphylococcus aureus utilizando uma concentração de 3 mg/mL de GSE. O mesmo estudo realizou análises por microscopia eletrônica e indica que o extrato provavelmente causa danos à membrana ou à parede celular. Os mecanismos de ação do extrato e os componentes respon- sáveis pela ação antimicrobiana ainda não foram elucidados. Contudo,existem alguns componentes presentes que estão sendo estudados. As proantocianidinas possuem propriedades tais como inativação de en- zimas, desnaturação proteica e alteração ou destruição da membrana celular (MAHMOUD, 2014). Já os compostos fenólicos possuem ca- 3.4. Tratamento de água e remoção de patógenos 35 pacidade de danificar as células microbianas através da alteração da membrana plasmática (COWAN, 1999). Ao longo da última década, muitos estudos foram feitos para avaliar a capacidade de inativação do GSE com respeito a diversos grupos e gêneros de micro-organismos. A maior parte das pesquisas encontradas foram conduzidas a fim de encontrar a mínima concentração inibitória (MIC) do composto para vedar o crescimento de diversas bactérias. A MIC é definida como a menor concentração de um agente antimicrobiano que iniba visivelmente o crescimento de um micro-organismo após incubação durante a noite (overnight) (ANDREWS; ANDREWS, 2001; WIEGAND; HILPERT; HANCOCK, 2008). Os resultados encontrados por algumas dessas pesquisas são apresentados na tabela 1. Além disso, várias análises foram conduzidas para avaliar a redução da concentração de diversos micro-organismos em superfícies e em alimentos. Os resultados destes, juntamente com as respectivas reduções, são apresentados na tabela 2. Entretanto, não existem estudos com relação à capacidade do GSE de inativação de micro-organismos presentes na água. 36 Capítulo 3. Revisão Bibliográfica Tabela 1 – Concentração mínima inibitória (MIC) de bactérias com o GSE Micro-organismo Concentração Fonte (mg/mL) V. parahaemolyticus 10 Mahmoud (2014) P. gingivalis 4 Furiga, Lonvaud- Funel e Badet (2009) F. nucleatum 2 Furiga, Lonvaud- Funel e Badet (2009) S. aureus methicilina resistente 3 Al-Habib et al. (2010) B. cereus, B. subtilis e B. coagulans 0,82-0,9 Jayaprakasha, Selvi e Sakariah (2003) S. aureus 1 Jayaprakasha, Selvi e Sakariah (2003) E. coli 1,25 Jayaprakasha, Selvi e Sakariah (2003) P. aeruginosa 1,5 Jayaprakasha, Selvi e Sakariah (2003) 3.4. Tratam ento de água e rem oção de patógenos 37 Tabela 2 – Remoção de micro-organismos com o GSE Micro-organismo Concentração Condições Remoção Produto Fonte (mg/mL) (log UFC/mL) S. aureus 100 8 h / 37 ºC 2 Carne de porco Kao et al. (2010) V. parahaemolyticus 500 10 min 4 Ostras Mahmoud (2014) L. monocytogenes 1,25 2 min 2 Tomate Bisha et al. (2010) E. coli 10,0 9 d / refrigerado 1 Carne moída Ahn, Grün e Mustapha (2004) L. monocytogenes 10,0 9 d / refrigerado 1 Carne moída Ahn, Grün e Mustapha (2004) S. Typhimurium 10,0 9 d / refrigerado 1 Carne moída Ahn, Grün e Mustapha (2004) 38 Capítulo 3. Revisão Bibliográfica 3.4.2.2 Extrato de chá verde O extrato de chá verde, GTE (green tea extract), é um com- posto natural obtido a partir da planta Camellia sinensis, pertencente à família Theaceae (RANDAZZO et al., 2017). Esse extrato possui compostos polifenólicos, presentes naturalmente em plantas, e possui diversas propriedades benéficas à saúde (ISOGAI et al., 2001), tais como antioxidante, anti-inflamatória e anticarcinogênica. Devido a isso, essa planta tem sido amplamente utilizada em alimentos, bebidas e suple- mentos (RANDAZZO et al., 2017; PERUMALLA; HETTIARACHCHY, 2011). O chá verde é uma importante fonte de polifenóis, sendo estes os flavonóides, como catequinas, quercetinas e taninas, e os ácidos fenólicos, como o ácido gálico (SHI et al., 2003). As catequinas são conhecidas por suas propriedades antibacterianas (MARTI; FERRARY- AMÉRICO; BARARDI, 2017), sendo a mais presente no chá verde a epigalocatequina-3-galato (EGCG) (REYGAERT, 2014). As taninas são responsáveis pela proteção das plantas contra vermes, além de conferir resistência contra micro-organismos (UEDA et al., 2013). O GTE possui atividade antioxidante devido à sua capacidade de eliminar radicais livres no organismo, inibindo a oxidação (ALMA- JANO et al., 2008; GEETHA et al., 2004). Além disso, também apresenta atividade antimutagênica (GEETHA et al., 2004; YEN; CHEN, 1995). Empregado como suplemento oral, atua na redução dos níveis de glicose em pacientes com pré-diabetes (FUKINO et al., 2008). O GTE foi descrito com capacidade antimicrobiana contra bactérias, fungos e vírus (MARTI; FERRARY-AMÉRICO; BARARDI, 2017; RANDAZZO et al., 2017). Sua capacidade antimicrobiana é altamente relacionada à sua composição polifenóica (SI et al., 2006; CHO et al., 2007). Si et al. (2006) mostraram que o composto alterou a morfologia, indicando uma possível alteração no processo de divisão celular da S. aureus. Diversos estudos foram conduzidos ao longo das últimas décadas 3.4. Tratamento de água e remoção de patógenos 39 a fim de avaliar a capacidade do GTE de inibir o crescimento de diversas bactérias (tabela 3). Dentre as ações responsáveis pela propriedade antimicrobianas estão o dano à membrana celular bacteriana, inibição da síntese de ácidos graxos e a inibição de algumas atividades enzimáticas (REYGAERT, 2014; CHO et al., 2007). Não foram encontradas pesquisas realizadas com respeito ao uso do extrato de chá verde na desinfecção de água. Tabela 3 – Concentração mínima inibitória (MIC) e porcentagem de inibição de bactérias com o GTE Micro-organismo Concentração Inibição Fonte (mg/mL) S. aureus methicilina resistente 0,28 MIC Hamilton-Miller e Shah (2000) S. aureus 0,28 MIC Yam, Shah e Hamilton- Miller (1997) S. epidermidis 0,41 MIC Yam, Shah e Hamilton- Miller (1997) Y. enterocolitica 0,41 MIC Yam, Shah e Hamilton- Miller (1997) E. coli 4,0 MIC Reygaert e Jusufi (2013) S. typhi 601 MIC Archana e Abraham (2011) S. aureus methicilina resistente 0,5 100 % Si et al. (2006) S. aureus methicilina sensível 0,5 100 % Si et al. (2006) E. coli O157:H7 0,5 44 % Si et al. (2006) S. Typhimurium DT104 0,5 58 % Si et al. (2006) L. monocytogenes 0,5 81 % Si et al. (2006) 1 Unidade em µL 41 4 METODOLOGIA 4.1 LOCAL E CONDIÇÕES DA PESQUISA O presente trabalho foi realizado dentro do Grupo de Pesquisa Recuperação de Recursos em Sistemas de Saneamento (RRESSA) do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFSC, localizado no campus Reitor João David Ferreira Lima, no bairro Trindade, em Florianópolis. Foram realizadas duas rodadas distintas, a primeira utilizando o extrato de chá verde, no dia 28 de junho de 2018, e a segunda o extrato de semente de uva, no dia 10 de julho de 2018. 4.2 EXTRATOS DE CHÁ VERDE E DE SEMENTE DE UVA O extrato de chá verde empregado é da marca Bulk Supple- ments e possui mais de 50% de polifenóis, dentro destes, 35% de cate- quinas e 15% de EGCG (Epigalocatequina-3-galato). Foi utilizado em concentrações de 2 e 5 mg/mL. O extrato de semente de uva utilizado é da marca Micro Ingre- dients™, obtido a partir da semente da uva Vitis vinifera, que contém mais do que 95% de proantocianidinas. As concentrações utilizadas nos ensaios foram de 3 e 5 mg/mL. A preparação das soluções com os extratos ocorreu no dia anterior aos ensaios, sendo realizadas em 500 mL de água destilada. Foram adicionadas 2 e 5 gramas de extrato de chá verde e 3 e 5 gramas de extrato de semente de uva em frascos com 500 mL de água a 50 ºC. Após a dissolução em água, os frascos foram armazenados na geladeira a 4 ºC por aproximadamente 15 horas. Após esse período, as soluções foram removidas da geladeira e colocadas em um agitador magnético a 1000 rpm, por 30 minutos cada, paarara promover a ressuspensão das partículas sedimentadas e permitir que as soluções retornassem à temperatura ambiente de aproximadamente 22 ºC. 42 Capítulo 4. Metodologia 4.3 MICRO-ORGANISMOS, CRESCIMENTO E INOCULAÇÃO Os micro-organismos utilizados para o experimento foram as bactérias Escherichia coli ATCC13706 e Salmonella enterica subes- pécie enterica sorotipo Typhimurium WG49NCTC12484, que foram inoculadas a uma concentração de 1%. O crescimento das bactérias foi feito através de amostras das bactérias congeladas que estavam em vials, então foram colocadas em erlenmeyers de 125 mL com aproximadamente 50 mL demeio de cultura MSB (Modified Scholten’s Broth) e TYGB (Tryptone-Yeast extract- Glucose Broth), para as bactérias Escherichia coli e Salmonella enterica, respectivamente, e incubadas a 37 ºC por 18 a 24 horas (overnight) com agitação de 40 min-1. Após o crescimento prévio, adicionou-se outra quantidade de meio de cultura, aproximadamente 30 mL, e deixado na incubadora por mais 2 horas. Para a inoculação das bactérias nos jarros, foi utilizado pipeta- dor automático da marca Eppendorf para colocar o volume 10 mL de cada uma das bactérias em cada jarro. 4.4 ENSAIO EM ESCALA PILOTO A escolha das concentrações de cada extrato utilizadas foi feita a partir dos resultados obtidos em um teste em escala piloto. No experimento piloto, ambos os extratos foram empregados em diferentes concentrações a fim de verificar qual teria melhor dissolução na água e, ao mesmo tempo, melhor ação sobre os micro-organismos. Portanto, inicialmente foram feitos testes com respeito a dissolução dos extratos em água destilada em diferentes concentrações e condições. Concluiu-se que a melhor forma de dissolver os extratos na água seria após o seu aquecimento até 50 ºC. Após esse teste inicial de dissolução, o extrato de chá verde na concentração de 5,6 mg/mL e o extrato de semente de uva nas concentrações de 1,3 e 5 mg/mL foram adicionados aos jarros 1, 2, 3 e 4, 4.5. Ensaio de desinfecção 43 respectivamente. Então foi feita a inoculação das bactérias E. coli e S. enterica a 1% e foram feitas as coletas nos tempos de amostragem 0, 15, 30, 60 e 120 minutos. A partir dos resultados obtidos no teste em escala piloto, foram escolhidos os tempos de amostragem e as concentrações empregadas nos ensaios oficiais realizados posteriormente. 4.5 ENSAIO DE DESINFECÇÃO Os ensaios foram conduzidos em escala de bancada, utilizando o equipamento agitador Jar-test (marca Ethik Thecnology modelo 218-6LDB), que possui 6 jarros com capacidade de 2 L e agitadores mecânicos. Foram realizados separadamente para cada extrato e, para cada ensaio, foram adicionadas, nos dois primeiros jarros, as soluções com menor concentração dos extratos; no terceiro e quarto jarros, foram adicionadas as soluções com maior concentração dos extratos e, nos dois últimos jarros, foi feito o controle. Utilizou-se água destilada, sendo 1 L o volume adicionado em cada jarro e o gradiente de agitação de 90 s-1. Adicionou-se as soluções preparadas previamente em 500 mL de água destilada para os jarros 1 a 4, e apenas água destilada, volume de 1 L, nos jarros 5 e 6, jarros correspondentes ao controle. Na tabela 4 estão apresentadas as concentrações de cada jarro para os dois ensaios. Após a adição das soluções e/ou água destilada em cada jarro, todos com volume final de 1 L, realizou-se a inoculação dos micro- organismos analisados nas concentrações de 1% para ambas as bactérias. Foram retiradas amostras para as análises microbiológicas nos tempos 0, 10, 20, 40, 60 e 120 minutos. Todas as análises foram feitas em duplicata, e para cada jarro em cada tempo foram feitas duas placas e os resultados utilizados foram obtidos através da média aritmética dos valores de cada placa. 44 Capítulo 4. Metodologia Tabela 4 – Concentração de cada extrato por jarro em mg/mL Composto Jarro 1 Jarro 2 Jarro 3 Jarro 4 Jarro 5 Jarro 6 GTE (mg/mL) 2,0 2,0 5,0 5,0 0,0 0,0 GSE (mg/mL) 3,0 3,0 5,0 5,0 0,0 0,0 4.6 METODOLOGIA PARA QUANTIFICAÇÃO E DETECÇÃO DAS BACTÉRIAS SALMONELLA ENTERICA E ESCHERI- CHIA COLI As análises das bactérias Escherichia coli e Salmonella enterica foram realizadas através de uma diluição seriada com 1,0 mL de amostra para 9,0 mL de água peptonada. O plaqueamento foi feito através da adição de 0,1 mL de amostra diluída em placas de ágar MacConkey e XLD (Desoxicolato-lisina-xilose), para as bactérias Escherichia coli e Salmonella enterica respectivamente. O espalhamento das amostras foi realizado utilizando alças do tipo "T". Após a incorporação, as placas foram incubadas a 37 ºC por 24 horas e quantificadas em unidades formadoras de colônias por mililitro (UFC/mL). 4.7 ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS Foram feitas análises de parâmetros físico-químicos das amos- tras de cada jarro a fim de verificar as alterações causadas em razão da adição dos extratos. Foi verificado o pH no início do experimento e também no final, para verificar se existem mudanças ao longo do experimento. O pHmetro utilizado é da Alfakit modelo AT315. Outros parâmetros analisados foram turbidez, cor aparente e cor verdadeira, realizados com amostras de cada jarro após o término do ensaio em bancada. As leituras foram feitas no Laboratório Integrado de Meio Am- biente (LIMA), utilizando o turbidímetro (marca Hach modelo 2100N) e o espectofotômetro (marca Hach modelo DR 3900). 4.7. Análises físico-químicas 45 Para a preparação das amostras para as análises de cor verda- deira e cor aparente foi ajustado o pH até aproximadamente 7,6 através da adição de solução de hidróxido de sódio (NaOH) 0,1 N. Após o ajuste do pH, as amostras para a análise de cor verdadeira foram filtradas a 0,22 µm. 47 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 EXTRATO DE CHÁ VERDE 5.1.1 Análises físico-químicas A adição de extrato de chá verde na água destilada, atingindo concentrações de 2 mg/mL para os jarros 1 e 2, e 5 mg/mL para os jarros 3 e 4, alterou significativamente seus parâmetros físico-químicos (tabela 5 e figura 1). Houve uma diminuição significativa do pH das soluções com extrato, reduzindo o pH da faixa de 6 para a faixa de 3. Essa mudança de qualidade da água pode ter influência, por exemplo, na sobrevivência dos micro-organismos ali presentes. Além da mudança no pH, também houve um aumento na turbidez, na cor aparente e na cor verdadeira. Figura 1 – Jar-test com o extrato de chá verde Fonte: Acervo próprio. A turbidez de um líquido diz respeito à interferência na passa- gem da luz através da amostra, e é causada pela presença de partículas sólidas em suspensão com diâmetro superior a 1 µm, tais como, argila, silte, plâncton, algas, substâncias orgânicas ou inorgânicas (BRASIL, 2014a; SOUZA, 2007; TCHOBANOGLUS; BURTON; STENSEL, 2003). A turbidez observada nos jarros de 1 a 4, quando comparada 48 Capítulo 5. Resultados e discussão aos jarros 5 e 6, é superior. Os jarros 1 e 2 possuem concentrações menores de extrato e, consequentemente, turbidez mais baixa, enquanto os jarros 3 e 4 possuem valores elevados, próximo dos 800 uT. Visto que a água utilizada para as amostras é destilada e, com isso, apresenta baixa turbidez, esses resultados indicam a presença de partículas em suspensão resultantes da adição do extrato na água. Os resultados confirmam o que foi observado no laboratório, pois as soluções com extrato exigiam constante agitação para evitar a sedimentação do extrato no fundo dos jarros. Ainda assim, os jarros 5 e 6 também apresentaram valores elevados de turbidez quando comparados aos valores do padrão de potabilidade da Portaria de Consolidação no 5 de 2017, que estabelece o valor máximo permitido varia com o tratamento empregado, sendo de 0,5 uT para filtração rápida e 1,0 para filtração lenta (BRASIL, 2017). Tal situação se deve à elevada concentração de micro-organismos, juntamente com meio de cultura em que as bactérias cresceram antes de realizar a inoculação, que causou aumento visível na turbidez da água. A cor de um líquido é provocada por partículas em suspensão fina ou partículas dissolvidas com tamanho inferior a 1 µm, podendo ser de origem orgânica, como húmus, ou mineral, como, por exemplo, metais (BRASIL, 2014a; SOUZA, 2007). Com respeito à coloração da água, diferencia-se a cor aparente, que é aquela apresentada por uma amostra sem filtração, da cor verdadeira, realizada com a amostra filtrada. Esta, é analisada após a filtração ou centrifugação da amostra, de forma a remover as partículas em suspensão fina e medir apenas a cor causada pelas partículas dissolvidas. Os resultados apresentados para cor aparente foram elevados, inclusive para os jarros 5 e 6, devido à elevadaconcentração de micro-organismos. O valor máximo permitido pela Portaria de Consolidação no 5 de 2017 para cor aparente é de 15 uH, ainda inferior aos valores de cor observados nos controles, que sofreram aumento por conta da presença de micro-organismos e do meio de cultura (BRASIL, 2017). A cor verdadeira, apesar de mais baixa do que a cor aparente, ainda assim se manteve elevada. A filtração da amostra removeu as partículas em suspensão, incluindo as bactérias. Portanto, 5.1. Extrato de chá verde 49 o valor de cor verdadeiro apresentado nos controles corresponde à cor adicionada pelo meio de cultura. A adição do extrato na água alterou significativamente sua coloração, tornando-a marrom esverdeada, sendo mais intensa nos jarros 3 e 4. 50 C apítulo 5. R esultados e discussão Tabela 5 – Resultados análises físico-químicas com o GTE Jarro Temperatura pH início pH final Turbidez Cor aparente Cor verdadeira (ºC) (uT) (Pt-co) (Pt-co) 1 23 3,42 4,27 186 3504 2239 2 22 3,45 4,28 221 3897 2095 3 22 3,15 3,69 815 além do limite 3986 4 22 3,16 3,77 782 4488 2067 5 22 6,05 6,22 8,23 399 16 6 22 6,01 6,20 8,28 405 18 Jarros 1 e 2: 2 mg/mL; Jarros 3 e 4: 5 mg/mL; Jarros 5 e 6: controle 5.1. Extrato de chá verde 51 5.1.2 Análises microbiológicas 5.1.2.1 Escherichia coli As concentrações médias de E. coli ao longo do tempo para cada jarro são apresentadas na tabela 7 e ilustradas na figura 2. As equações das retas de tendência, coeficiente de determinação (R2) e o T90 para cada jarro são apresentados na tabela 6. Os resultados para as duplicatas, de acordo com cada concen- tração de extrato, se mostraram semelhantes. Os valores para os jarros 1 e 2, assim como para os jarros 3 e 4, foram similares e as retas nos gráficos também se mantiveram próximas. Os valores com maior varia- ção observados nas duplicatas foram no tempo 10 minutos. Quanto aos valores do coeficiente de determinação, os resultados foram satisfatórios, exceto pelo jarro 5, que teve valor mais baixo. O T90 representa o tempo necessário para a redução de 1 log10 na concentração de um micro-organismo. Os valores de T90 obtidos são similares para cada duplicata e mostram o efeito da aplicação de diferentes concentrações de GSE na E. coli. Enquanto os jarros de menor concentração (1 e 2) resultaram num T90 na faixa de 2,4 horas, os jarros de maior concentração (3 e 4) resultaram num T90 de 1,5 horas, e os controles de 3,4 até 4 horas. Tabela 6 – Equação das retas, coeficiente de determinação (R2) de Escherichia coli e T90 com o GTE Jarro Equação R2 T90 (horas) 1 −7,63×10−3x+7,14 0,905 2,2 2 −6,75×10−3x+7,05 0,712 2,5 3 −0,0105∗x+7,11 0,959 1,5 4 −0,0111∗x+7,07 0,867 1,5 5 −4,27×10−3x+7,04 0,375 4,0 6 −4,96×10−3x+7,11 0,941 3,4 Jarros 1 e 2: 2 mg/mL; Jarros 3 e 4: 5 mg/mL; Jarros 5 e 6: controle 52 Capítulo 5. Resultados e discussão Figura 2 – Concentração de Escherichia coli ao longo do tempo com o GTE 0 20 40 60 80 100 120 Tempo (min) 5.50 5.75 6.00 6.25 6.50 6.75 7.00 7.25 7.50 C on ce nt ra çã o (l og 1 0 ) Jarro 1 (2mg/mL) Jarro 2 (2mg/mL) Jarro 3 (5mg/mL) Jarro 4 (5mg/mL) Jarro 5 (controle) Jarro 6 (controle) Fonte: elaborado pela autora. 5.1. E xtrato de chá verde 53 Tabela 7 – Concentração média de Escherichia coli com o GTE para cada jarro Tempo Jarro 1 Jarro 2 Jarro 3 Jarro 4 Jarro 5 Jarro 6 (min) (UFC/mL) (UFC/mL) (UFC/mL) (UFC/mL) (UFC/mL) (UFC/mL) 0 1,17E+07 1,17E+07 1,17E+07 1,17E+07 1,17E+07 1,17E+07 10 1,13E+07 1,50E+07 1,40E+07 5,94E+06 3,74E+06 1,09E+07 20 1,52E+07 1,04E+07 7,97E+06 1,31E+07 1,66E+07 9,58E+06 40 5,11E+06 2,97E+06 4,34E+06 5,30E+06 1,12E+07 9,53E+06 60 5,03E+06 3,28E+06 2,21E+06 1,41E+06 6,70E+06 7,55E+07 120 1,69E+06 2,39E+06 8,15E+05 6,20E+05 2,75E+06 2,89E+06 Remoção (log10) 0,84 0,69 1,16 1,28 0,63 0,61 Jarros 1 e 2: 2 mg/mL; Jarros 3 e 4: 5 mg/mL; Jarros 5 e 6: controle 54 Capítulo 5. Resultados e discussão A partir dos dados de cada jarro, foi calculada a concentração média de E. coli para cada concentração de extrato, sendo os jarros 1 e 2 referentes à concentração 1, de 2 mg/mL, e os jarros 3 e 4 referentes à concentração 2, de 5 mg/mL (tabela 8). As remoções em log10 para o tempo de contato de 120 minutos também são apresentadas na tabela 8. Os resultados foram plotados na figura 3. Os coeficientes de determinação e as equações das retas são apresentados na tabela 9. Tabela 8 – Concentração média de Escherichia coli com o GTE Tempo Concentração 1 Concentração 2 Controle (min) (UFC/mL) (UFC/mL) (UFC/mL) 0 1,17E+07 1,17E+07 1,17E+07 10 1,31E+07 9,95E+06 7,30E+06 20 1,28E+07 1,05E+07 1,31E+07 40 4,04E+06 4,82E+06 1,04E+07 60 4,16E+06 1,81E+06 7,13E+06 120 2,04E+06 7,18E+05 2,82E+06 Remoção (log10) 0,76 1,21 0,62 Concentração 1: 2 mg/mL; Concentração 2: 5 mg/mL Tabela 9 – Equação das retas e coeficiente de determinação (R2) de Escherichia coli finais com o GTE Concentração Equação R2 T90 (horas) 1 (2 mg/mL) −7,16×10−3x+7,1 0,858 2,4 2 (5 mg/mL) −0,0109x+7,1 0,950 1,6 Controle −4,84×10−3x+7,1 0,769 3,5 A remoção média de E. coli encontrada para a concentração de 2 mg/mL foi de 0,76 log10 e para a concentração de 5 mg/mL foi de 1,21 log10. É possível observar, na figura 2, que as retas da concentração 1 se mostram bem distintas das retas da concentração 2, sendo perceptível como os jarros das duplicatas apresentaram resultados semelhantes uns 5.1. Extrato de chá verde 55 Figura 3 – Concentração média de Escherichia coli ao longo do tempo com o GTE 0 20 40 60 80 100 120 Tempo (min) 5.50 5.75 6.00 6.25 6.50 6.75 7.00 7.25 7.50 C on ce nt ra çã o (l og 1 0 ) Concentração 1 (2mg/mL) Concentração 2 (5mg/mL) Controle Fonte: elaborado pela autora. dos outros e ao mesmo tempo diferentes das outras duplicatas. Essa distinção no gráfico pode indicar como a diferença da concentração de extrato empregada tem influência no decrescimento de E. coli, sendo a maior concentração responsável pela maior redução da bactéria. Esses resultados corroboram os valores de T90 apresentados na tabela 9, que mostram o maior valor para o controle, seguido da concentração 1 e, por último, a concentração 2. A concentração 2 (5 mg/mL) possui o menor T90 de E. coli, necessitando de 6,4 horas para decair 4 log10, valor recomendado pelo manual de requerimentos de desinfecção de água para abastecimento da Agência de Proteção Ambiental (EPA) de 1991. Reygaert e Jusufi (2013) testaram a inibição do GTE em dife- rentes cepas de E. coli isoladas de UTIs e mostraram que o extrato tem efeito inibitório e que concentrações de até 4 mg/mL inibiram 99% das 56 Capítulo 5. Resultados e discussão cepas analisadas. Os testes de mínima concentração inibitória (MIC) são conduzidos de forma diferente dos testes do presente estudo, o que poderia explicar a diferença nos resultados. O MIC é feito com placas de ágar onde são inoculadas bactérias e colocados discos com antibióticos e/ou inibidores de crescimento para verificar se existe alguma alteração no padrão de crescimento e na formação de colônias. Com concentração de 4 mg/mL, Reygaert e Jusufi (2013) obtiveram resultados de inibição, enquanto o presente estudo, com concentração de 5 mg/mL, obteve uma redução de 1,21 log10. Cho et al. (2007) testaram o efeito dos polifenóis do chá verde em E. coli ao longo do tempo e, a partir de uma concentração inicial de 107 UFC/mL, não detectaram nenhuma colônia em 30 horas de experimento, utilizando uma concentração de 5 mg/mL e em 18 horas com 10 mg/mL de GTE. O estudo mostrou que os resultados de unidades formadoras de colônia (UFC) de E. coli decresceram gradualmente em função do tempo de contato e as taxas de remoção foram proporcionais às concentrações empregadas. Além disso, identificaram modificações nos ácidos graxos da membrana celular das culturas após o tratamento com os polifenóis, e análises feitas com microscopia eletrônica de varredura mostraram perfurações e modificações nas formas das células. O extrato utilizado era composto principalmentepor EGCG, representando 50% da composição, ao qual foi atribuído a atividade antibacteriana contra E. coli. O extrato utilizado no presente estudo contém apenas 15% de EGCG, composto relacionado a atividade antibacteriana no estudo de Cho et al. (2007). A diferença na concentração do polifenol pode ser responsável pela diferença nos resultados obtidos. Além disso, os tempos de contato analisados no estudo de Cho et al. (2007) foram mais duradouros, chegando até 30 horas, enquanto o presente estudo analisou até somente 2 horas de contato. Utilizando o T90 pode-se estimar que para a mesma redução em log10 obtida por (CHO et al., 2007) em 30 horas com 5 mg/mL de GTE, seria obtida com a mesma concentração de extrato em cerca de 11,20 horas. A eficácia do extrato de chá verde na redução e controle da E. 5.1. Extrato de chá verde 57 coli foi comprovada por Reygaert e Jusufi (2013) e Cho et al. (2007). Cho et al. (2007) obtiveram melhor eficácia utilizando a mesma concentração, porém aumentando o tempo de contato do extrato. Observando a figura 3, percebe-se que há um potencial de redução da concentração da E. coli ao longo do tempo, o que é confirmado pelos valores de T90 apresentados na tabela 9. Portanto, caso houvesse deixado o extrato agindo por mais tempo, poderia haver maior redução na concentração. Como Cho et al. (2007) verificaram que a diminuição na concentração da E. coli é proporcional à concentração de extrato empregado, para obter um resultado satisfatório num período de tempo menor, seria necessário empregar uma maior quantidade de extrato. 5.1.2.2 Salmonella Os dados de concentração média da Salmonella ao longo do tempo em contato com o GTE são apresentados na tabela 11 e também são ilustrados na figura 4. Os valores das equações das retas de tendência de redução, assim como os valores dos coeficientes de determinação são apresentados na tabela 10. Os resultados de concentração de Salmonella apresentaram as maiores diferenças entre as duplicatas no tempo 10 minutos para todos os jarros. No tempo 20 minutos para os controles, jarros 5 e 6, e também no tempo 60 minutos para os jarros 1 e 2 os resultados se mostraram fora da faixa esperada, quando comparados com os tempos anteriores e posteriores. Isso aconteceu por problemas de baixa diluição das amostras na hora de fazer as placas, o que diminuiu a precisão do resultado. Portanto, esses valores foram desconsiderados nos cálculos. Quanto aos valores do coeficiente de determinação, os resultados foram satisfatórios, exceto pelo jarro 1, que teve valor mais baixo. 58 Capítulo 5. Resultados e discussão Figura 4 – Concentração de Salmonella ao longo do tempo com o GTE 0 20 40 60 80 100 120 Tempo (min) 4.5 5.0 5.5 6.0 6.5 7.0 7.5 C on ce nt ra çã o (l og 1 0 ) Jarro 1 (2mg/mL) Jarro 2 (2mg/mL) Jarro 3 (5mg/mL) Jarro 4 (5mg/mL) Jarro 5 (controle) Jarro 6 (controle) Fonte: elaborado pela autora. Tabela 10 – Equação das retas e coeficiente de determinação (R2) de Salmonella com o GTE Jarro Equação R2 1 −4,97×10−3x+6,78 0,411 2 −5,90×10−3x+6,95 0,590 3 −9,44×10−3x+6,91 0,765 4 −7,47×10−3x+6,76 0,611 5 −8,05×10−3x+7,23 0,714 6 −7,23×10−3x+6,87 0,660 Jarros 1 e 2: 2 mg/mL; Jarros 3 e 4: 5 mg/mL; Jarros 5 e 6: controle 5.1. E xtrato de chá verde 59 Tabela 11 – Concentração média de Salmonella com o GTE Tempo Jarro 1 Jarro 2 Jarro 3 Jarro 4 Jarro 5 Jarro 6 (min) (UFC/mL) (UFC/mL) (UFC/mL) (UFC/mL) (UFC/mL) (UFC/mL) 0 1,65E+07 1,65E+07 1,65E+07 1,65E+07 1,65E+07 1,65E+07 10 3,33E+06 9,91E+06 7,86E+06 3,06E+06 2,74E+07 4,30E+06 20 2,41E+06 2,98E+06 2,58E+06 3,17E+06 - - 40 3,65E+06 4,25E+06 2,96E+06 1,70E+06 5,74E+06 3,04E+06 60 - - 1,39E+06 1,68E+06 2,70E+06 1,57E+06 120 1,78E+06 2,12E+06 8,58E+05 1,03E+06 2,78E+06 1,50E+06 Remoção (log10) 0,97 0,89 1,28 1,21 0,77 1,04 Jarros 1 e 2: 2 mg/mL; Jarros 3 e 4: 5 mg/mL; Jarros 5 e 6: controle 60 Capítulo 5. Resultados e discussão Utilizando os dados de cada duplicata, foi feita a concentração média de S. enterica para cada concentração de extrato ao longo do tempo e também foi calculada a remoção em log10 para o tempo total de contato de 120 minutos (tabela 12). Os resultados das concentrações de Salmonella ao longo do tempo são ilustrados na figura 5 e as equações das retas e os coeficientes de determinação são apresentados na tabela 13. Tabela 12 – Concentração média de Salmonella com o GTE Tempo Concentração 1 Concentração 2 Controle (min) (UFC/mL) (UFC/mL) (UFC/mL) 0 1,65E+07 1,65E+07 1,65E+07 10 6,62E+06 5,46E+06 1,58E+07 20 2,70E+06 2,88E+06 - 40 3,95E+06 2,33E+06 4,39E+06 60 - 1,54E+06 2,13E+06 120 1,95E+06 9,42E+05 2,14E+06 Remoção (log10) 0,93 1,24 0,89 Concentração 1: 2 mg/mL; Concentração 2: 5 mg/mL Tabela 13 – Equação das retas e coeficiente de determinação (R2) finais de Salmonella com o GTE Concentração Equação R2 1 (2 mg/mL) −5,61×10−3x+6,88 0,551 2 (5 mg/mL) −8,59×10−3x+6,85 0,742 Controle −8,11×10−3x+7,12 0,764 A remoção média de Salmonella para a concentração de 2 mg/mL foi de 0,93 log10 e para a concentração de 5 mg/mL foi de 1,24 log10. A comparação dos resultados de redução da concentração de Salmonella se torna mais complicada porque nenhum trabalho pare- 5.1. Extrato de chá verde 61 Figura 5 – Concentração média de Salmonella ao longo do tempo com o GTE 0 20 40 60 80 100 120 Tempo (min) 4.5 5.0 5.5 6.0 6.5 7.0 7.5 C on ce nt ra çã o (l og 1 0 ) Concentração 1 (2mg/mL) Concentração 2 (5mg/mL) Controle Fonte: elaborado pela autora. cido foi encontrado. Portanto, serão feitas comparações com aqueles encontrados, mesmo que conduzidos de forma diferente. Kristanti e Punbusayakul (2009) testaram a infusão de chá verde em suco de melancia na concentração de 175 mg/mL e a bactéria S. typhimurium baixou sua concentração de 8 log UFC/mL para zero em 5 dias de experimento. Apesar do meio utilizado ser suco de melancia e não água destilada, houve a redução da concentração da bactéria até não ser mais detectada pelas análises. A concentração utilizada foi superior a concentração de chá verde utilizada no presente estudo. Além disso, o tempo de contato de 5 dias é superior ao tempo de contato utilizado neste trabalho, de 2 horas. Esses motivos podem justificar a diferença nos resultados obtidos. Alguns pesquisadores também testaram a inibição dos com- 62 Capítulo 5. Resultados e discussão postos fenólicos do chá verde. Yoda et al. (2004) testaram a EGCG e obtiveram um MIC de 800 µg/mL para a Salmonella typhi e Si et al. (2006) testaram o EGCG e o ECG e obtiveram MIC de 496 µg/mL e 787 µg/mL, respectivamente, para a S. Typhimurium. O EGCG é um composto que já foi relacionado à capacidade antimicrobiana do GTE (CHO et al., 2007). Utilizar os compostos fenólicos puros permite que a concentração adicionada às bactérias seja inferior. Portanto, as mínimas concentrações inibitórias foram baixas e inferiores às concentrações utilizadas no presente estudo. Há a comprovação da ação do extrato de chá verde e de com- postos deste contra a bactéria Salmonella (KRISTANTI; PUNBUSAYA- KUL, 2009; YODA et al., 2004; SI et al., 2006). Entretanto, além das concentrações utilizadas serem superiores, o tempo de contato foi maior. Para garantir uma maior eficiência de redução também é importante verificar a composição do extrato, de modo a garantir uma grande por- centagem de EGCG, composto relacionado à capacidade antibacteriana (CHO et al., 2007). 5.2 EXTRATO DE SEMENTE DE UVA 5.2.1 Análises físico-químicas O GSE foi adicionado à água destilada em concentrações de 3 mg/mL nos jarros 1 e 2, e 5 mg/mL nos jarros 3 e 4. A mistura alterou visivelmente a aparência da água, tornando-a mais turva e com coloração forte, tendendo a um roxo escuro amarronzado. Os resultados das análises dos parâmetros físico-químicos são mostrados na tabela 14 e na figura 6. A medição do pH foi realizada tanto no início do experimento quanto no final. Houve uma redução deste quando comparado com a água destilada pura, porém a redução nãofoi tão alta quanto com o GTE. Além disso, no final do experimento o pH subiu da faixa de 4,1 para a faixa de 4,5. Essa alteração quando comparada à faixa de pH recomendada para o consumo humano pela Portaria de Consolidação 5.2. Extrato de semente de uva 63 Figura 6 – Jar-test com o extrato de chá verde Fonte: Acervo próprio. no 5 de 2017, de 6,0 a 9,5, se mostra inferior (BRASIL, 2017). Outros parâmetros que se mostraram bastante alterados pela adição do GSE foram a turbidez, cor aparente e cor verdadeira. A turbidez das soluções obteve valores elevados, principalmente nos jarros 3 e 5, que possuem a maior concentração do GSE, evidenciando a quantidade de partículas em suspensão na água. Quando comparados aos resultados de turbidez do GTE, os resultados na faixa de 700 uT do GTE são os correspondentes aos jarros de maior concentração, 3 e 4, enquanto no GSE são os de menor concentração, 1 e 2. Esse aumento na turbidez altera significativamente a qualidade da água, mostrando-se superior ao valor máximo permitido na Portaria no 5 de 2017, de 0,5 uT para filtração rápida e 1,0 uT para filtração lenta, sendo superado inclusive pelos jarros de controle, 5 e 6 (BRASIL, 2017). Os resultados de cor aparente dos jarros de 1 a 4 não puderam ser verificados visto que seus valores estavam além do que o aparelho é capaz de detectar, sendo somente possível executar a medição para os jarros de controle, 5 e 6. Estes se mostraram um pouco acima do resultado obtido para o GTE, mas com pouca alteração. Após a filtração das amostras, foi feita a medição da cor verdadeira. Os resultados de cor verdadeira foram também bastante elevados, variando da faixa de 2700 para os jarros 1 e 2, e 4300 para os jarros 3 e 4. Quando comparados aos 64 Capítulo 5. Resultados e discussão valores de potabilidade de água para consumo humano estabelecidos na Portaria de Consolidação no 5 de 2017, de 15 uH, os valores para os jarros 1 e 2 são 180 vezes maior e para os jarros 3 e 4 são 280 vezes maior (BRASIL, 2017). Su e D’Souza (2013) analisaram a alteração na cor de alfaces e pimentões logo após o tratamento com GSE e também após 5 dias e verificaram que não houve alteração significativa na cor dos alimentos. Ahn, Grün e Mustapha (2004) testaram o efeito do GSE na cor da carne, mostrando que houve alterações nos parâmetros de cor analisados e, após refrigeração, houve um aumento no pigmento vermelho, que se manteve após 9 dias de refrigeração. Sivarooban, Hettiarachchy e Johnson (2008) avaliaram a influência da cor do GSE na proteína de soja e verificaram que houve alterações significativas nas cores com relação ao controle. A alteração de cores pode ser causada pela presença de antocianinas no extrato de semente de uva (AHN; GRÜN; MUSTAPHA, 2004). Os resultados dos 3 últimos parâmetros analisados – turbidez, cor aparente e cor verdadeira – quando comparados com os resultados do GTE indicam a quantidade de partículas em suspensão existente nas soluções com GSE. Durante o procedimento de preparação das soluções com esse extrato, a incorporação do extrato na água se mostrou mais difícil, da mesma forma, o mantenimento dos sólidos em suspensão durante o experimento com o jar-test se mostrou dificultoso. Durante a etapa de preparação das amostras para as análises de cor verdadeira, foi trabalhoso fazer a filtração pois os filtros colmatavam rapidamente quando comparados à solução de GTE. 5.2. E xtrato de sem ente de uva 65 Tabela 14 – Resultados análises físico-químicas com o GSE Jarro Temperatura pH início pH final Turbidez Cor aparente Cor verdadeira (ºC) (uT) (Pt-co) (Pt-co) 1 20 4,18 4,69 779 além do limite 2805 2 20 4,16 4,74 731 além do limite 2698 3 20 4,13 4,48 1200 além do limite 4323 4 20 4,20 4,49 1246 além do limite 4466 5 20 6,05 6,03 8,38 544 16 6 20 6,03 6,03 8,20 573 18 Jarros 1 e 2: 3 mg/mL; Jarros 3 e 4: 5 mg/mL; Jarros 5 e 6: controle 66 Capítulo 5. Resultados e discussão 5.2.2 Análises microbiológicas 5.2.2.1 Escherichia coli Os resultados das concentrações de Escherichia coli empregando o GSE como possível agente desinfetante se mostraram, em sua maior parte, estáveis ao longo do tempo. Os valores médios de E. coli para cada jarro ao longo do tempo são apresentados na tabela 15 e ilustrados na figura 7. As equações das retas de tendência e os coeficientes de determinação são apresentados na tabela 16. Os valores de concentração média de E. coli para as duplicatas, de acordo com cada concentração, foram parecidos para todos os tempos. A maior variação vista foi no tempo 10 minutos, para os jarros 1 e 2, e no tempo 20 minutos para os jarros 3 e 4. Apesar dos dados das duplicatas estarem próximos em cada tempo analisado, os pontos no gráfico, apresentado na figura 7, mostram como não existe uma distinção perceptível entre as duplicatas de menor concentração do extrato (jarros 1 e 2) para as duplicatas de maior concentração (3 e 4). A diferença é apenas perceptível quando comparada aos controles, que possuem inclinação da reta positiva, mostrando um crescimento ao longo do tempo. Já nos jarros 1 a 4, apesar de haver um leve decrescimento no tempo 10 minutos, há um crescimento posterior, e depois é observada a estabilidade nas concentrações ao longo do tempo. Quanto aos coeficientes de determinação das retas, exceto pelo jarro 4, todos se mostraram baixos, colocando em evidência a não linearidade entre a concentração das bactérias e o tempo. 5.2. E xtrato de sem ente de uva 67 Tabela 15 – Concentração média de Escherichia coli com o GSE Tempo Jarro 1 Jarro 2 Jarro 3 Jarro 4 Jarro 5 Jarro 6 (min) (UFC/mL) (UFC/mL) (UFC/mL) (UFC/mL) (UFC/mL) (UFC/mL) 0 5,25E+06 5,25E+06 5,25E+06 5,25E+06 5,25E+06 5,25E+06 10 4,24E+06 2,30E+06 5,92E+06 4,59E+06 2,56E+06 1,44E+06 20 6,48E+06 4,67E+06 7,41E+06 3,80E+06 2,65E+06 3,02E+06 40 6,45E+06 6,65E+06 8,81E+06 6,59E+06 1,09E+06 8,96E+06 60 3,50E+06 3,82E+06 3,03E+06 3,02E+06 9,32E+06 8,78E+06 120 3,79E+06 3,30E+06 3,80E+06 2,60E+06 7,65E+06 5,46E+06 Remoção (log10) 0,14 0,20 0,14 0,30 -0,16 -0,02 Jarros 1 e 2: 3 mg/mL; Jarros 3 e 4: 5 mg/mL; Jarros 5 e 6: controle 68 Capítulo 5. Resultados e discussão Figura 7 – Concentração de Escherichia coli ao longo do tempo com o GSE 0 20 40 60 80 100 120 Tempo (min) 5.50 5.75 6.00 6.25 6.50 6.75 7.00 7.25 7.50 C on ce nt ra çã o (l og 1 0 ) Jarro 1 (2mg/mL) Jarro 2 (2mg/mL) Jarro 3 (5mg/mL) Jarro 4 (5mg/mL) Jarro 5 (controle) Jarro 6 (controle) Fonte: elaborado pela autora. Utilizando valores apresentados na tabela 15, foi feita a média das duplicatas a fim de obter os valores médios de concentração (tabela 17). Os valores médios estão plotados na figura 8 e as equações das retas e coeficientes de determinação estão apresentados na tabela 18. As variações na concentração de E. coli durante as 2 horas de experimento foram baixas, o que sugere que praticamente não houve remoção. Entretanto, o controle teve um aumento na concentração de bactéria. Portanto, quando comparado o emprego do GSE, em ambas as concentrações, houve um controle do crescimento, impedindo que o título da bactéria na água aumentasse. Baydar et al. (2006) verificaram que em concentrações entre 5 e 10 mg/mL o extrato possui efeito bacteriostático sobre a E. coli, e em concentrações acima de 25 mg/mL possui efeitos bactericidas. Os resultados podem explicar porque o título de E. coli se manteve estável 5.2. Extrato de semente de uva 69 Tabela 16 – Equação das retas e coeficiente de determinação (R2) de Escherichia coli com o GSE Jarro Equação R2 1 −1,39×10−3x+6,74 0,279 2 −6,24×10−4x+6,64 0,029 3 −2,13×10−3x+6,82 0,290 4 −2,43×10−3x+6,71 0,502 5 3,43×10−3x+6,60 0,305 6 2,90×10−3x+6,54 0,177 Jarros 1 e 2: 3 mg/mL; Jarros 3 e 4: 5 mg/mL; Jarros 5 e 6: controle Tabela 17 – Concentração média de Escherichia coli com o GSE Tempo Concentração 1 Concentração 2 Controle (min) (UFC/mL) (UFC/mL) (UFC/mL) 0 5,25E+06 5,25E+06 5,25E+06 10 3,27E+06 2,25E+06 2,00E+06 20 5,58E+06 5,61E+06 2,83E+06 40 6,55E+06 7,70E+06
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