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O papel do professor universitário ontem e hoje 19 REFERÊNCIAS ALMEIDA,M. I. de. Formação do proessor do ensino superior: desafos e políticas institucionais. 1. ed. São Paulo: 2012. BORTOLANZA, J. Trajetória do ensino superior brasileiro – uma busca da origem até a atualidade. In: XVII COLÓQUIO INTERNACIONAL DE GESTÃO UNIVERSITÁRIA, 17, nov. 2017. Mar del Plata, Anais [...] Mar Del Plata: UNMdP, 2017. Disponível em: https://repositorio. usc.br/bitstream/handle/123456789/181204/101_00125.pd?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 16 dez. 2019. CUNHA, M. I. (Org.). Trajetórias e lugares de ormação da docência universitária: da perspectiva individual ao espaço institucional. Araraquara; Brasília: Junqueira & Marin; CAPES, CNPq, 2010. GARCIA, M. C. Formação de proessores para uma mudança educativa. Porto: Porto Editora, 1999. IMBERNON, F. Formação docente e profssional: ormar-se para a mudança e a incerteza. 9. ed. São Paulo: 2011. FRAGELLI, C. M. B.; AZEVEDO, M. A. R. 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Por ser um ensino pensado para lhos de uma elite, que já possuíam bons subsídios para o prosseguimento no ensino, o professor universitário não carecia da utilização demetodologias inovadoras, pois o ensino convencional bastava. Assim, o conteúdo era trabalhado por meio de aulas expositivas, nas quais o professor explicava o assunto e esperava que os alunos o compreendessem. Como, em geral, não havia posicionamento crítico, não existia, também, questionamentos contrários a tais práticas, assim, todos aprendiam por esse método. 20 Didática do ensino superior 2. A exigência de mais mão de obra qualicada para a indústria e a posterior massicação do ensino superior trouxe maior procura por vagas. Muitos trabalhadores buscavam se especializar, contudo, sem conhecimentos básico sucientes, tinham mais diculdade para acompanhar a tradicional dinâmica metodológica das aulas universitárias, o que trouxe a preocupação em rever as práticas docentes no nível superior. 3. A formação constante de um professor amplia a qualidade à toda instituição, pois, com o professor possuindo melhor formação didático-pedagógica, os alunos aprenderão mais, com perspectivas de serem melhores prossionais. Por isso, a ormação do proessor universitário é responsabilidade de toda a instituição, a qual deve disponibilizar tempo e espaços formativos para o professor, sobretudo aos professores que vêm de cursos de bacharelado, os quais não dominam os conhecimentos pedagógicos. Andragogia: a contextualização do ensino e da aprendizagem 21 Andragogia: a contextualização do ensino e da aprendizagem 2 As atuais congurações da sociedade são marcadas pelos avanços tecnológicos e cientícos cada vez mais contundentes na dinâmica social, perpassando diversas áreas, como economia, saúde, empregabilidade e indústrias, além de, é claro, infuir ortemente na educação, que é a orça motriz de uma sociedade. Por meio da educação, a sociedade se estrutura, consolida seus valores éticos, morais e culturais, prepara seus cidadãos e seus prossionais, aprimora seus processos e molda as vivências sociais. Assim, a educação cumpre o papel de perpetuação das sociedades. Esse movimento de perpetuar a cultura, os pensamentos e o modo de vida de uma sociedade implica a ormalização dos processos educacionais e ormativos. Processos estes que, há algumas décadas, eram tidos como prescritos, ndados e com tempo para conclusão, envolvendo uma quantidade de anos reerente a determinada etapa de escolarização e, também, nalizando a ormação escolar – ou, até mesmo, a prossional. Entretanto, a nova dinâmica de constituição social implica estar aprendendo constantemente, pois os conhecimentos se renovam e se alteram muito rapidamente. O conhecimento não é imutável como se acreditava; novos saberes são produzidos e requerem que dierentes competências e habilidades estejam em constante ebulição. Logo, os processos ormativos devem transpassar a vivência prossional ao longo de toda a vida, não havendo mais conclusão, terminalidade ou encerramento para o ato de aprender. Dessa orma, estamos aprendendo sempre, mesmo após a idade escolar e a adulta. São aprendizados especícos, selecionados para atender necessidades também especícas, que remetem às dierentes dimensões da vida, seja no âmbito pessoal ou prossional. 22 Didática do ensino superior 2.1 O que é andragogia? Videoaula O processo de aprender na vida adulta é denominado andragogia e diz respeito à forma estrutural, cognitiva e biopsicossocial com que a pessoa aprende, ou seja, refere-se ao processo de ensino e aprendi- zagem na perspectiva de um adulto aprendente, buscando as nuances desse processo, que tem no professor e no aluno copartícipes do mo- vimento de aprender e de ensinar. O aprender e o ensinar se pautam na ciência da educação, a peda- gogia, que articula os elementos para que se estabeleçam o ensino e a aprendizagem como processos formativos e educativos. Assim, ao passo que a pedagogia se preocupa com todos os processos para o aprender, a andragogia se constitui como um braço da pedagogia, que apresenta como especicidade o aprendizado da pessoa em idade adulta, uma vez que apresenta particularidades e contextos que devem ser considerados para ummelhor aproveitamento do processo. Embora faces de um mesmo processo, pedagogia e andragogia têm cada qual a sua particularidade. Por isso, é importante perceber os aspectos relativos a cada uma (Quadro 1), conforme elencadas por DeAquino (2007): Pedagogia (centrada no professor) Andragogia (centrada no aprendiz) Os aprendizes são dependentes. Os aprendizes são independentes e autodirecionados. Os aprendizes são motivados de orma extrínseca (recompensas, competição etc.). Os aprendizes são motivados de orma intrínseca (satisação gerada pelo que aprendeu). A aprendizagem é caracterizada por técnicas de transmissão de conhecimentos (aulas, leituras designadas). A aprendizagem é caracterizada por projetos inquisi- tivos, experimentação e estudo independente. O ambiente é ormal e caracterizado pela com- petitividade e por julgamento de valor. O ambiente é mais inormal e caracterizado pela equidade, respeito mútuo e cooperação. O planejamento e a avaliação são conduzidos pelo proessor. A aprendizagem pressupõe ser baseada em expe- riências. A avaliação é realizada basicamente por meio de métodos externos (notas de testes e provas). As pessoas são centradas no desempenho de seus processos de aprendizagem. Quadro 1 Principais diferenças entre pedagogia e andragogia Fonte: Adaptado de DeAquino, 2007, p. 12. copartícipes: que participam juntos. Glossário Andragogia: a contextualização do ensino e da aprendizagem 23 Diferentemente da pedagogia, que tem como público as crianças, a andragogia está centrada nos adultos. A terminologia andragogia re- mete ao grego andros, que signica homem e gogia, no sentido de guiar liderar, levar ou conduzir (DRAGANOV et al., 2011), o que emprega ao termo o sentido de condução ou direção de adultos na perspectiva de aprender. Desse modo, buscam considerar as característicasda fase adulta, suas necessidades e seus contextos de vida. Embora “o termo Andragogia tenha surgido pela primeira vez em 1833, quando o professor alemão Alexander Kapp a relacionou à Teo- ria de Educação de Platão” (LITTO; FORMIGA, 2009, apud MENDES, 2014, p. 105), foi em 1921, por meio dos escritos de Rosenstock (apud MENDES et al., 2012), que ela ganhou signicado quanto ao desenvol- vimento da prática de ensino e aprendizagem. Rosenstock (1921 apudMENDES et al., 2012) empregou o termo an- dragogia para reerir-se às características losócas e, ainda, à articu- lação entre métodos e especialidade no azer pedagógico, necessária aos professores para atender às necessidades relativas à educação de adultos, conferindo contornos às primeiras sistematizações para caracterizar essa aprendizagem. Contudo, a andragogia ainda cami- nhava a passos lentos, e o seu reconhecimento viria somente na dé- cada de 1970, quando Malcon Knowles publica o seu livro The modern practice of adult education. Segundo Mendes et al. (2012, p. 1.370) na obra citada, Knowles (1970) introduz no universo educativo o conceito de andragogia, apresentando-o “como a arte e a ciência de orientar os adultos a aprender”, detalhando as especicidades próprias do aprender na vida adulta e delineando o conceito, de modo que se abriu um espa- ço para outras publicações, as quais viriam a popularizar o termo e a ampliar a perspectiva do aprender na vida adulta. Essa perspectiva ganha ainda mais força a partir do século XX, im- pulsionada pelas transormações tecnológicas no mercado de traba- lho, que alavancaram mudanças tanto nos aspectos culturais quanto nos processos ormativos, levando os prossionais à constante busca por aperfeiçoamento e atualização de seus conhecimentos. Esse processo de aprender na vida adulta, necessário e cada vez mais intenso, requer das instituições pensar em um processo educati- vo que abarque a forma como o aluno adulto vive, trabalha e aprende, Embora não haja uma asso- ciação direta entre Paulo Freire e andragogia – pois naquele momento histórico o conceito ainda não era aplicado – o que Freire fez com seu método de alfabetização foi considerar, em uma perspectiva androgênica, a vivência, a experiência e o contexto de vida dos alunos adultos. Ao utilizar-se da palavra geradora, Paulo Freire trazia o mundo do aluno para o processo de ensino e aprendiza- gem, exatamente o que defende a andragogia. Saiba mais+