Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL E CONTROLE Autoria: Alessandra Buarque de Araújo Silva Indaial - 2022 UNIASSELVI-PÓS 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Impresso por: Copyright © UNIASSELVI 2022 S586p Silva, Alessandra Buarque de Araújo Planejamento governamental e controle. / Alessandra Buarque de Araújo Silva – Indaial: UNIASSELVI, 2022. 169 p.; il. ISBN 978-65-5646-522-7 1. Planejamento governamental. – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 350 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Jairo Martins Marcio Kisner Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 Sistema de Planejamento Governamental ................................. 7 CAPÍTULO 2 Atividade Financeira do Estado ................................................. 59 CAPÍTULO 3 Sistema de Controle na Administração Pública no Brasil ...115 APRESENTAÇÃO Olá, é com satisfação que apresentamos o Capítulo 1 do livro Planejamento Governamental e Controle, iniciando a partir daqui o nosso aprendizado sobre o tema tão rico, necessário e fundamental para a compreensão do funcionamento do sistema de planejamento da ação governamental e os mecanismos de contro- le, com foco na realidade brasileira. É fato que as mudanças em todos os campos da vida nacional, tanto no que se refere às transformações sócio-históricas, quanto no campo econômico, pro- duzem desdobramentos no papel do Estado em sua relação com a sociedade, bem como na elaboração, execução e implementação das políticas públicas, que pedem uma gestão pública conectada com essas mudanças. Poderíamos falar de muitas dessas mudanças, porém, no século XXI, os maiores impactos que esta- mos vivenciando no mundo, dizem respeito à chamada Revolução 4.0 – tecnoló- gica, comunicacional e informacional; cujas mudanças de paradigmas repercutem em transformações econômicas, tecnológicas, ambientais, culturais e sociais, re- querendo do Estado e dos atores públicos que assumam novos papéis. É nesta perspectiva de um mundo em transformação que abordaremos o tema do planejamento e controle na administração pública, em sua dimensão técnica e política, problematizando algumas questões acerca dos momentos de fluxo e influ- xo do planejamento fruto da construção histórica da relação Estado-sociedade. Não é relevante para o presente trabalho apresentar cenários estanques de elaboração do planejamento governamental apenas como uma ferramenta de tra- balho, uma técnica para definição de estratégias, objetivos, metas e resultados esperados; nem os marcos regulatórios que deixam de levar em consideração o cenário de confrontos entre as forças políticas em atuação no período; mas, de convidar você a mergulhar nessa análise do sistema de planejamento gover- namental e controle como um organismo vivo, que sofre todas as interferências do cenário econômico e político de um país e que representa um plano estraté- gico de governo para colocar em prática sua agenda governamental voltada ao bem-estar de sua população, validado, em termos democráticos, pelo voto. Por esta razão que o intercâmbio de termos e conceitos sobre o Estado, o governo, a administração pública, as políticas públicas, os cenários políticos perpassam a construção dessa obra. Pensamos que não há como ser diferente. Este livro está dividido em três capítulos: no Capítulo 1 abordaremos o Siste- ma de Planejamento Governamental, com seus instrumentos de formulação, im- plementação e avaliação da agenda governamental. No Capítulo 2, trataremos da Atividade Financeira do Estado, a gestão fiscal e a legislação aplicada, bem como buscando conhecer a programação e execução financeira desse sistema planeja- mento; e, por último, o Capítulo 3 terá como foco o Sistema de Controle na Admi- nistração Pública no Brasil, quando iremos nos deter nos princípios do controle na administração pública, a transparência da gestão e o controle social. Ressaltamos que a proposta desse livro é fomentar o interesse pelo apro- fundamento do estudo sobre o tema planejamento governamental e controle, am- pliando sua pesquisa teórico-prática, pois o livro não tem a pretensão de encerrar o diálogo sobre o tema. É uma proposta de despertar para o conhecimento. Im- porta, ainda, ressaltar desde já, que o conteúdo dessa disciplina é complexo e aqui pudemos contemplar, face o tamanho da obra, apenas alguns pontos do con- teúdo, ficando a seu cargo aprofundar o estudo do tema nas obras referenciadas e outras que dispuser, tarefa de pesquisa inerente ao estudo acadêmico. Com esse conhecimento você poderá desenvolver competências para atuar no campo da gestão pública de qualquer ente federativo, ou como profissional liberal que atue em assessoria parlamentar e/ou executiva, e/ou como consultoria independente; bem como a toda e qualquer pessoa que postule conhecer o tema para a execução de atividades voltadas à ação governamental, tanto no campo do planejamento governamental quanto no campo do controle social das políticas públicas. Se servidor público, o conhecimento aqui ofertado poderá contribuir em oferecer subsídios para a sua atuação profissional. A construção do conhecimento para seu aprimoramento profissional requer disciplina e dedicação porque é um aprendizado centrado na autonomia do aluno. Sua dedicação aos estudos é fundamental para o sucesso dos objetivos a que você se propõe. Um bom estudo pra você! CAPÍTULO 1 Sistema de Planejamento Governamental A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: � Conhecer os instrumentos utilizados na elaboração do Planejamento Governa- mental, que visam a garantia do exercício da responsabilidade na gestão dos recursos públicos. � Identificar todas as etapas do ciclo de elaboração do sistema de Planejamento Governamental. � Analisar o Planejamento da Ação Governamental do Ente federativo, inclusive os instrumentos utilizados para a avaliação e monitoramento do gasto público. � Elaborar o esboço de um Plano de Ação pessoal com as ferramentas apresen- tadas no tópico do Planejamento. 8 Planejamento Governamental e Controle 9 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Para cumprir o papel de promover a pessoa humana e o seu desenvolvimento integral em liberdade, o governo e a adminis- tração pública necessitam criar as condições necessárias para garantir os direitos constitucionais dos cidadãos (MATIAS-PE- REIRA, 2020, p. 2). Você sabia que a Constituição Federal do Brasil de 1988 é conhecida como a “Constituição cidadã”? Sim, foi o deputado Ulysses Guimarães, presidente da Constituinte, que assim a batizou. Uma breve história desse batizado aponta que, em um momento histórico de abertura democrática, no Brasil, a Carta de 1988 expressou um grande avanço em relação às demais constituições brasileiras, principalmente pela incorporação do capítulo da ordem social, com ampliação dos direitos individuais e da partici- pação política da sociedade na formulação, acompanhamento e avaliação das políticas públicas. E, para cumprir o seu papel nesse contexto, o governo e a administração públi- ca também incorporaram novos elementos para a execução da ação governamen- tal na perspectiva do acolhimento das demandas da sociedade,no campo do plane- jamento e do controle, tema de nosso estudo. A base legal dessas condições pode ser encontrada na Constituição federal e nas legislações específicas pertinentes. Nossa proposta de estudo nesse capítulo, composto de 3 seções e subse- ções, é trazer para seu conhecimento o que é o sistema de planejamento go- vernamental e sua composição; como a ação governamental acontece, em sua dimensão técnica e política; quais as ferramentas utilizadas para a elaboração desse planejamento e os instrumentos do planejamento orçamentário e financei- ro, a partir do PPA, LDO e LOA, bem como as formas de avaliação e monito- ramento do gasto público. Perpassando a obra, trazemos uma breve análise de alguns autores e pesquisadores do tema, sobre a relação entre o planejamento governamental e o aparato burocrático no governo federal brasileiro e os limites e as possibilidades de saídas possíveis para atender às demandas da sociedade com os recursos públicos disponíveis. 2 SISTEMA DE PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL O capítulo do nosso livro tem início com a seção abordando o Sistema de Planejamento Governamental, composta por 3 subseções. A primeira tratará do 10 Planejamento Governamental e Controle Planejamento da Ação Governamental; a segunda seção abordará os Instrumen- tos do Planejamento Orçamentário e Financeiro, compostos pelo PPA, LDO e LOA; e, por fim, a terceira e última seção contemplará o estudo da Avaliação e Monitoramento do Gasto Público. Iniciamos nossa jornada de aprendizagem desejando que os estudos aqui produzidos contemplem às suas expectativas para essa disciplina, bem como os objetivos de aprendizagem propostos. Você sabe do que trata o sistema de planejamento governamental e qual sua origem? Se não sabe, não se preocupe, nosso objetivo é caminhar junto com você nessa jornada de aprendizado, auxiliando na compreensão dos conceitos de for- ma leve e descontraída. Iniciaremos apresentando, de forma breve, como e onde se inicia o debate sobre planejamento governamental no mundo e como chega no Brasil. Cabe res- saltar que durante a primeira metade do século XX (especificamente de 1930 a 1970), o planejamento foi o aliado principal do Estado para a transformação das realidades e nós saberemos como isso ocorreu, conforme a sequência do estudo. FIGURA 1 – OBRA O PRÍNCIPE, DE MAQUIAVEL FONTE: <https://www.planocritico.com/wp-content/uploads/2019/04/750- O-Principe-Livro.jpg>. Acesso em: 25 jan. 2022. 11 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 Foi Nicolau Maquiavel (1469-1527) quem primeiro incluiu o termo Estado na literatura política, por meio de seu consagrado livro “O Príncipe”, escrito em 1513, em que se lê, na primeira frase: “todos os Estados, todos os domínios que tiveram e tem poder sobre os homens, são estados, e são ou repúblicas ou principados”. O planejamento governamental como instrumento de projeção e de mode- lagem do futuro vem sendo utilizado na administração pública, especialmente a partir do século XIX, quando os governos, tanto de países centrais quanto periféri- cos, passam a aplicá-lo como forma de promover o progresso econômico e social. Foi, porém, a partir da Primeira Guerra Mundial que o planejamento ganhou um teor estratégico, relacionado à alavancagem de transformações profundas nas so- ciedades. Foi o caso da União Soviética, que a partir de 1920 empreendeu esfor- ços sistematizados para converter sua sociedade feudal em industrializada; assim como dos Estados Unidos, após a grande crise de 1929; também da Europa, no processo de reconstrução pós-Segunda Guerra Mundial. O debate sobre planejamento governamental avança a partir da década de 1930 nas economias ocidentais como resposta à quebra da bolsa de New York de 1929, que levou a uma crise econômica internacional profunda e causou um abalo na crença do livre mercado e no progresso espontâneo das sociedades (POLANY, 2012 apud PAPI et al. 2020). Como consequência, houve uma valo- rização dos Estados como salvaguarda dos processos cíclicos de crise (ibdem, 2012), que passaram a intervir na economia e na proteção social, desenvolven- do, assim, capacidades estatais para alcançarem seus objetivos. Nesse contexto, tanto no centro (a partir das ideias keynesianas e do New Deal) quanto na peri- feria (a partir do desenvolvimentismo), pode-se afirmar que o planejamento foi a principal ferramenta utilizada pelos Estados para promover o desenvolvimento e a transformação social (BIELCHOWSKY, 2004). No caso dos países centrais, serviu como estratégia para reconstrução das nações devastadas pela Segunda Guerra Mundial (o plano Marshall), levando a Europa a alcançar um grande cres- cimento econômico já nos anos 1950 e 1960 (GIACOMONI E PAGNUSSAT, 2007 apud PAPI et al 2020). Nesse mesmo período, na América Latina funcionou como uma alavanca para o desenvolvimento – entendido como sinônimo de crescimen- to econômico e superação do subdesenvolvimento (BIELCHOWSKY, 2004 apud PAPI et al. 2020). A prática do planejamento governamental estava centralizada no Estado e os governos centrais protagonizavam as dinâmicas de elaboração e de implementa- ção. Esta observação é importante, porque tal monopolização marcará, também, a federação brasileira. Assim, entende-se que os sentidos do planejamento se relacionam com as disputas por hegemonia em torno de ideias e concepções de Estado que legiti- 12 Planejamento Governamental e Controle mam e orientam a ação política concreta. Se na década de 1930 as ideias liberais que legitimavam o laissez-faire deram lugar a um conjunto de ideias baseadas no keynesianismo/desenvolvimentismo – que tinham o Estado à frente da promoção do desenvolvimento –, a crise iniciada na década de 1970 engendrou uma nova alteração do pêndulo em direção às ideias liberais. Já no início dos anos 2000, com a eleição de governos de centro-esquerda na América-Latina, reacende-se um novo ciclo de revalorização do papel do Estado em diversos níveis da econo- mia e das políticas públicas (SADER, 2013; PEREIRA, 2007; DINIZ, 2007; BOS- CHI e GAITÁN, 2015, apud PAPI, 2020), trazendo de volta o debate sobre o papel do planejamento no desenvolvimento e seus arranjos de implementação. Se quiser conhecer mais sobre o tema, sugerimos a leitura do artigo de PAPI et. al. (2020) com título “O Planejamento Governa- mental e modelos de Estado no Brasil: uma análise bibliométrica de três décadas de publicações do IPEA”, referenciado ao final do livro. Feita essa breve contextualização sobre os sentidos do planejamento e a re- lação Estado-sociedade, você pode perguntar: e no Brasil, como percebemos os sentidos do planejamento e as concepções de Estado? Bom, o debate sobre o planejamento nasce em paralelo ao modelo de Esta- do que o origina: o desenvolvimentista erguido a partir da Era Vargas, cuja carac- terística principal foi a sua forte presença na implementação do projeto industria- lizador e modernizador do setor público. Desde meados da década de 1930, com a produção do primeiro plano quinquenal da história do planejamento brasileiro (o Plano Especial de Obras Públicas e Reaparelhamento da Defesa Nacional, de 1939 a 1943), as legislações vêm definindo os instrumentos e as ferramentas que o governo deve utilizar para elaborar seu plano de ação governamental. No decor- rer do estudo, iremos nos deparar com os erros e acertos e até a descrença dessa atividade do planejamento governamental no Brasil principalmente pelo aparelho burocrático do Estado. A cada período, com o passar do tempo e as transformações do papel do Estado no campo econômico e social e das necessidades da sociedade no aten- dimento de suas demandas, esses dispositivos vão sendo redefinidos e atualiza- dos, por meio de legislação específica. Desde 17 de março de 1964, por exemplo, quando, por meio da Lei nº 4.320 foi introduzida a técnica de orçamento por pro- 13 Sistemade Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 gramas, até a Constituição de 1988, em seu art. 165, parágrafos e incisos; já ha- via a obrigatoriedade legal do governo, por meio da administração pública, de ter parâmetros de atuação definidos no campo econômico e fiscal, via planejamento governamental. Em 1988, a Carta Magna introduziu o conceito de sistema de planejamen- to governamental no Brasil que engloba o Plano Plurianual (PPA), as diretrizes orçamentárias (LDO) e os orçamentos anuais (LOA), definidas sua elaboração e execução em legislação específica. Com isso, a constituição definiu a obrigato- riedade de cada ente federativo – União, Estados, e Municípios adotar o sistema, elaborando os seus elementos específicos, o que significa que devem constar nestes documentos do planejamento, as receitas, os gastos, os investimentos, orçamento e finanças dos entes federativos. A constituição também introduziu a participação da sociedade na avaliação e monitoramento das ações de governo. Há mais de um século o Brasil é uma federação. Adicionalmente, em 1988 os municípios foram elevados à categoria de entes federados, juntamente com a União e os estados. A partir daí um conjunto de mudanças políticas e institucio- nais ocorreram; dentre elas, um intenso processo de descentralização de políticas públicas. Em virtude disso, os municípios receberam uma gama de competências na condução de políticas de saúde, educação, assistência social, cultura, sane- amento básico, que até então estavam sob responsabilidade dos órgãos do go- verno central. De forma concomitante, foram incumbidos da função de produzir peças orçamentárias e de planejamento, como o Planejamento Plurianual, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e o Plano Diretor. A adoção de uma nova cultura orientada para uma visão empreendedora na administração pública, denominada de Nova Gestão Pública (NGP), começou no final da década de 1970 no Reino Unido com a eleição de Margaret Thatcher. O modelo de NGP está orientado ao cliente – cidadão; com foco em resultados; busca da flexibilização administrativa; busca do controle social e valorização das pessoas. No início da década de 1980, o NPG foi adotado pelo governo Ronald Reagan, nos Estados Unidos. A partir daí se ampliou pelos demais países anglo- -saxônicos, como Austrália e Nova Zelândia, alcançando, em seguida, inúmeros países europeus. Esse novo modelo de gestão pública começou a ser implantado na América Latina na década de 1990. O primeiro país a adotá-lo foi o Chile. No Brasil, sua adoção ocorreu a partir de 1995 e ainda estamos, até hoje, sob a influ- ência dessas reformas no Estado. Para melhor compreensão e aprofundamento do tema sobre a Reforma do Estado no Brasil, sugerimos a leitura de Bresser-Pereira 14 Planejamento Governamental e Controle (1998) e Matias-Pereira (2010, 2020). Os princípios da reforma ad- ministrativa em curso no Brasil estão expostos no Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (MARE, 1995). 1 Do que é composto o Sistema de Planejamento Governamental? Após uma breve inserção do tema sobre sistema de planejamento governa- mental, avançaremos para o estudo mais específico do planejamento na imple- mentação da agenda de governo. 2.1 PLANEJAMENTO DA AÇÃO GOVERNAMENTAL Ficou claro para você que até 1988 a prática do planejamento governamental ficava restrita e concentrada nos órgãos federais? Embora o nosso estudo tenha como foco a realidade brasileira, em seu mo- delo federal, quando falarmos em administração pública, devemos pensar que es- tão aí englobados todos os níveis: federal, estadual e municipal. Podemos dizer que o planejamento governamental público, na perspectiva de uma proposta de antever a visão de futuro para bus- car antecipar a solução dos problemas e atender as demandas da sociedade, passou a ser aplicado como forma de promover o pro- gresso econômico e social, não sem controvérsias quanto ao formato e busca de superação dos modelos tradicionais propostos, o que po- deremos melhor compreender no decorrer do nosso estudo. 15 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 Para uma melhor compreensão do contexto do planejamento governamental no Brasil, é preciso dizer que não é possível falar em planejamento governamen- tal sem falar em Estado, em modelos de Estado, em governo, administração pú- blica, políticas públicas, no âmbito da política e da economia, por exemplo. E é o que faremos na sequência FIGURA 2 – CONFIGURAÇÃO SISTÊMICA: ESTADO, ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E SOCIEDADE FONTE: A autora (2022) Nessa configuração acima, o Estado, por meio da administração pública, tem a função de atender as demandas da sociedade, com serviços públicos de quali- dade e, para isso, necessita estar bem estruturada, desenvolver suas funções de forma organizada, com eficiência, eficácia e efetividade. Como afirma Matias-Pe- reira (2020), o papel da administração pública é de atuar como eixo transmissor entre o Estado e a sociedade. EFICIÊNCIA - Custo. Executa uma tarefa com qualidade, com o mínimo de erros. EFICÁCIA - Resultado. Produzir da melhor maneira para atingir o objetivo que foi planejado. EFETIVIDADE - Impacto. Habilidade de ser eficiente e eficaz ao mesmo tempo. É nítida a separação que existe entre políticas de Estado e políticas de Gover- no, no âmbito do direito constitucional brasileiro, conforme Matias-Pereira (2010). 16 Planejamento Governamental e Controle • políticas de Estado são àquelas estabelecidas por Lei, no processo com- plexo que envolve as ações do Legislativo e do Executivo. Nelas ficam definidas as premissas e objetivos que o Estado brasileiro, em dado mo- mento histórico, quer ver consagrados para dado setor da economia ou da sociedade. Trata-se de políticas necessariamente estruturantes; • políticas de Governo são os objetivos normalmente estabelecidos em um plano de governo, elaborados pelo então candidato, que após eleito bus- ca implantá-los em diferentes setores da vida econômica ou social. Re- ferem-se à orientação política e governamental que se pretende imprimir a um setor. Registre-se que essas políticas de Governo devem estar em consonância com as políticas de Estado. Governo, administração pública, políticas públicas, planejamento governa- mental são elementos constitutivos das funções stricto sensu do Estado, no que diz respeito aos serviços que presta à sociedade, via políticas públicas, imbrica- das com as funções do Estado, também, no campo social. Em um sentido amplo, as principais funções do Estado estão divididas em quatro grandes setores: a) as funções de Estado stricto sensu, orientadas para a manutenção da ordem inter- na, defesa do território, representação externa, provimento da justiça, tributação e administração dos serviços que presta; b) as funções econômicas que cuidam da criação e da adminis- tração da moeda nacional, regulamentação dos mercados e promoção do desenvolvimento – planejamento, geração de incentivos e estímulos, construção de infraestrutura em seto- res estratégicos, entre outros; c) as funções sociais destinadas ao provimento universal dos bens sociais fundamentais, como saúde, educação, habitação, alimentação, redes de proteção social, etc.; d) e as funções de preservação do meio ambiente (MATIAS-PEREIRA, 2020, p. 1). Dessa maneira, podemos concluir que o governo exerce as atividades polí- ticas, enquanto que a administração pública possui como função principal admi- nistrativa, executar os serviços de interesse e necessidade da coletividade e pelo bem comum. Em outra perspectiva de análise, De Toni (2014) aponta que o planejamen- to governamental é por definição, um processo político coletivo coordenado pelo Estado que, através do aumento da capacidade de governo, realiza um projeto estratégico de sociedade. Essa definição supera o marco das teoriasadminis- trativas limitadas pela análise de eficiência e eficácia, está muito além do debate econômico sobre a mera alocação de recursos e muito além da simples aplicação de modelos gerenciais de bolso e heurísticas econométricas - a exemplo dos mo- delos de uso corporativo como instrumentos ligados às ferramentas da “Qualida- de Total”, como o Balanced Scorecard (BSC), Matriz de SWOT como verdadeiros 17 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 “substitutos técnicos” dos processos de “planejamento participativo”. Ressalta-se que são instrumentos ainda há pouco tempo utilizados para a elaboração do pla- nejamento estratégico das organizações públicas brasileiras. Ficou claro para você que o planejamento governamental pode ser ana- lisado sob perspectivas diferenciadas a partir de sua dimensão técnica e política? A fim de melhor assimilarmos o conteúdo proposto para nosso estudo acerca do sistema de planejamento governamental, dividiremos nossa análise em duas etapas: a primeira análise será a abordagem da dimensão técnica, conhecendo o ferramental disponível para elaborar o planejamento no âmbito da administração pública, quando veremos que se apropria dos modelos e elementos do mundo corporativo, baseada no suporte teórico referenciado; e, na segunda etapa, abor- daremos a dimensão política do planejamento governamental, que é a definidora da agenda de governo que irá nortear a elaboração do planejamento e seu ciclo processual de implantação e avaliação/monitoramento. 2.1.1 Planejamento da ação governamental em sua dimensão técnica Agora já sabemos que com a reforma do Estado, a gestão pública brasileira acolheu os modelos de gestão privados e, para tanto, foi instada a se utilizar de todo um instrumental próprio do mundo corporativo para a elaboração do planeja- mento governamental. No setor público, a gestão das organizações se realiza no contexto do Esta- do. É por meio da gestão pública que a ação do Estado-nação, conduzida pelo governo, se efetiva, a partir da definição e execução das políticas públicas, que, em um Estado democrático, devem ser definidas em conjunto com a sociedade: a representação cidadã. É importante e necessário reconhecer que a elaboração e execução de um planejamento governamental, atrelado a um modelo de Estado, não é algo es- tanque, ou aleatório, que surge da ideia de alguém e, portanto, torna-se uma norma legal e administrativa. A história do planejamento governamental envolve percursos sócio-históricos, econômicos, culturais, permeados por disputas de ideologias, tensões estruturais nas políticas e projetos de governo. As mudanças e transformações que ocorrem tanto na vida privada, quanto na administração pública, acompanham os impactos do avanço da tecnologia - hoje estamos vi- 18 Planejamento Governamental e Controle venciando a Revolução 4.0; bem como as crises econômicas e financeiras que afetam o mundo globalizado. Para tal, devemos levar em conta essas mudanças e transformações em todos os campos que envolvem a vida nacional. Você sabe o que é estratégia no setor público? É definir os objetivos da organização em sintonia com as demandas da so- ciedade. O planejamento tem a função de antever, antecipar o futuro. A partir de ferramentas próprias, que veremos ao longo desse livro, como o planejamento estratégico, por exemplo, a administração pública deve buscar organizar-se e en- vidar esforços, elaborando um plano de ação que defina, claramente, a visão de futuro que espera atingir em determinado espaço de tempo. Já sabemos que o planejamento governamental brasileiro é norteado pelos modelos corporativos do planejamento, voltados à iniciativa privada, a partir da implementação da reforma do Estado no final da década de 1990, com conceitos de visão empreendedora para a administração pública. Assim, para que você co- nheça como esse modelo tradicional de planejamento vem sendo implementado na administração pública no Brasil, iremos trazer os conceitos, as ferramentas, os instrumentos que são utilizados e como ocorrem os processos e procedimentos de gestão no âmbito do governo e da administração pública que irão nortear a construção do sistema de planejamento governamental. Pensando agora de forma mais específica, no sentido da elaboração de do- cumentos específicos ao ato de planejar, eu te pergunto: você sabe o que é pla- nejamento? Quando você pensa em planejamento no sentido mais tradicional do termo o que vem em sua mente, em primeiro lugar? Algo do tipo? FIGURA 3 – CONCEPÇÃO DE PLANEJAMENTO FONTE: <https://wakke.co/como-ter-um-planejamento-financeiro- eficaz-na-sua-escola/>. Acesso em: 10 out. 2021. Pois bem, já é um bom início. 19 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 Para facilitar ainda mais o seu entendimento, veremos, agora, a definição de planejamento e como ela se apresenta em uma organização, seja pública ou privada; pois, esse não é um conceito exclusivo para empresas e organizações públicas. Dos estudos mais elementares que conhecemos nas disciplinas de adminis- tração o conceito de planejamento é, praticamente, porta de entrada para os de- mais. É a primeira iniciativa de uma organização, antes que qualquer outra função administrativa seja executada. Quem ainda não ouviu dizer que o planejamento é a primeira das quatro fun- ções administrativas: planejar, organizar, dirigir e controlar? Pois é, mas, se para você o assunto é novo, não precisa se preocupar porque a literatura é farta sobre esse tema e iremos discorrer bastante sobre isso em nosso estudo. Na teoria da administração existem diferentes definições de planejamento. Matias-Pereira (2020) nos diz que o planejamento pode ser entendido como um processo interativo que se desdobra em etapas diferenciadas e, sendo o planeja- mento a racionalização do processo decisório, essas etapas têm, necessariamen- te, o mesmo sentido daqueles identificadas no processo da decisão. Para Ackoff (1967, p. 3 apud MATIAS-PEREIRA, 2020), planeja- mento é um processo que se destina a produzir um ou mais estados futuros desejados e que não deverão ocorrer, a menos que alguma coisa seja feita. Para Batista (1981, p. 13 apud MATIAS-PEREIRA, 2020), o termo planejamento se refere ao processo permanente e metódico de abordagem racional e científica de problemas. Para Lopes (1990, p. 3 apud MATIAS-PEREIRA, 2020), o planeja- mento é uma ciência que envolve a escolha de um curso de ação, entre diversas alternativas analisadas, que leva a um objetivo prefixado. Trazendo mais detalhes sobre o planejamento, dizemos que ele está voltado para o futuro, para os resultados esperados pela administração e deve ser elabo- rado envolvendo todas as pessoas da organização, em seu nível estratégico, táti- co e operacional, com a compreensão que se trata de um instrumento de gestão que deve ser utilizado de forma contínua e permanente. Nessa perspectiva, vale 20 Planejamento Governamental e Controle lembrar que existem diferentes tipos de planejamento, vistos a partir dos seus campos de elaboração: se institucional, tático ou operacional; que são diferentes em relação à sua finalidade, à sua estratégia e à temporalidade, visando atingir os resultados esperados pela organização. QUADRO 1 – OS TIPOS DE PLANEJAMENTO EM CADA NÍVEL ORGANIZACIONAL Nível Organizacional Tipo de planejamento Conteúdo Tempo Amplitude Institucional Estratégico Genérico e sintético Longo prazo Macro-orientado, aborda a organização como um todo Intermediário Tático Menos genérico e mais detalhado Médio prazo Aborda cada unidade organizacional em separado Operacional Operacional Detalhado e analítico Curto prazo Micro-orientado, aborda cada operação em separado FONTE: Adaptado de Chiavenato (2006) Observando-se o quadro anterior, sobre as diferenças entre os tipos de pla- nejamentos,percebe-se que o tipo estratégico é mais amplo e mais longo. Por exemplo: o nível institucional da organização concentrará a elaboração do plane- jamento baseado na sua finalidade, missão, com visão de futuro à longo prazo, abordando a organização como um todo. Já o planejamento tático irá concentrar o planejamento das ações em temporalidade de médio prazo, com conteúdo menos genérico e mais detalhado. E, por fim, o planejamento operacional terá a concen- tração das ações em cada operação, separadamente, com maior foco nas tarefas a serem desempenhadas, a curto prazo, bem como nos processos operacionais que implicam nos resultados da organização. É a etapa onde acontece a execu- ção do plano de ação organizacional. Ressalte-se que nas organizações públicas, o planejamento estratégico e o operacional são os mais utilizados. Será que já podemos dizer, então, que conhecemos definições de planeja- mento como um conceito primário? Você agora já sabe que o planejamento pode- rá ser utilizado em todas as possibilidades que se apresentarem, indo do planeja- mento doméstico até o planejamento das mais altas esferas de negócios. Agora que já conhecemos o que é planejamento, já poderemos passar para o Plano de Ação. 21 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 Você sabe como fazer um plano de ação? FIGURA 5 – TRAÇANDO UM PLANO DE AÇÃO FONTE: <http://www.emdialogo.uff.br/content/planejando-o- futuro-com-mafalda>. Acesso em: 5 out. 2021. Sabia que podemos elaborar um plano de ação para nossa vida, pesso- al e profissional? Pois é! A Mafalda já deu a dica na tirinha acima, quando traça um plano, pla- nejando a sua vida. Planejar nossa vida pessoal e profissional também é tarefa básica e necessária. Podemos criar um plano para atingir os objetivos que previa- mente definimos. Já pensou em fazer o seu plano de ação? Se você assim como a Mafalda deseja traçar um plano para or- ganizar sua vida com clareza esse vídeo pode te ajudar. Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=xcOlzv9Up5Q&ab_ channel=GeronimoTheml Então vamos lá conhecer um pouco mais sobre isso. O planejamento não é uma função que se desenvolve e encontra seu êxito sozinha, mas é um processo que, reunido com outros processos, levam a cabo a execução do plano de ação, na busca de alcançar os resultados esperados. 22 Planejamento Governamental e Controle Nessa perspectiva, o planejamento é visto como um processo decisório, sendo a atividade de planejar vista como uma prática de antecipar o futuro, tomando deci- sões de forma antecipada. O planejamento é executado por meio de um Plano de Ação, a partir das defini- ções de metas, objetivos, recursos, e quais as tarefas necessárias para alcançar os resultados esperados. No planejamento de governo, também é elaborado um Plano de Ação governamental, que iremos conhecer com mais detalhes nesse estudo. Agora que já sabemos a importância do planejamento como um instrumento da gestão para alcançar os resultados dos planos que foram definidos baseados em uma visão de futuro projetada; que já sabemos que os conceitos que aborda- mos sobre planejamento são inerentes às empresas privadas, cujo objetivo princi- pal é auferir lucros, iremos conhecer o planejamento no âmbito da gestão pública. Para elaborar um plano de ação governamental é necessário compreender, inicialmente, o planejamento na perspectiva de um processo. Nos aponta Oliveira (1991 apud MATIAS-PEREIRA, 2020) que reconhecer o planejamento como um processo implica, portanto, aceitar que não é uma ativida- de que se esgote na concepção de um plano, de um programa, ou de um projeto. Esses são mecanismos instituídos para facilitar o alcance de metas, ou seja, são meios para estruturar recursos e ações voltados para certos objetivos que dessa forma podem ser geridos de forma melhor. Na perspectiva do planejamento como um processo no qual as fases intera- gem entre si, desdobrando-se em etapas diferenciadas, vamos conhecer na sequ- ência, as funções e fases do planejamento, na definição de Matias-Pereira (2020). FIGURA 5 – FUNÇÕES DO PROCESSO PLANEJAMENTO FONTE: https://scoreplan.com.br/blog/2018/10/22/ciclo-pdca- do-conceito-a-aplicacao/. Acesso em: 7 out. 2021 23 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 O ciclo PDCA (“plan, do, check, adjust” - em tradução livre, “pla- nejar, executar, controlar e ajustar”) se apresenta como método de gestão para a utilização ótima dos recursos públicos e a racionali- zação dos procedimentos administrativos, diferenciando-se do tradi- cional ciclo orçamentário, uma vez que visa a busca constante por melhores resultados, não se restringindo a um determinado exercício financeiro, sendo, em suma, o esforço pela qualidade total e pela ex- celência na Administração Pública. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/54339/o-ciclo-pdca-e- -o-planejamento-na-administracao-publica A percepção de que é preciso melhorar o desempenho da gestão pública é cada vez mais evidente no Brasil. A administração pública na atualidade, que tem como referência o modelo de gestão privada, não pode desconsiderar que o setor privado busca o lucro e a administração pública visa realizar sua função social. Esta função social deve ser alcançada com a maior qualidade possível na sua prestação de serviços, ou seja, sendo realizada de forma eficiente, eficaz e efetiva. Agora, convido você a conhecer as fases do planejamento, conforme descri- tas por Matias-Pereira (2020): • Diagnóstico: mostra o conhecimento da realidade. • Políticas: a sua função é definir os objetivos. • Estratégia: deve indicar as opções dos rumos a seguir para alcançar os objetivos. • Planos: tem como propósito viabilizar os objetivos e estratégias. • Execução: esforço orientado para a implementação das ações progra- madas. • Controle: visa permitir acompanhar a execução e avaliar os resultados alcançados, para que possam ser comparados com os objetivos anterior- mente definidos. Quer conhecer mais conhecer mais sobre as funções e fases do planejamento? 24 Planejamento Governamental e Controle Deixo como indicação de leitura os livros: 1 - SOBRAL, F.; PECI, A. Administração: teoria e prática no contex- to brasileiro. São Paulo. Pearson Prentice Hall, 2008. 2 - CHIAVENATO, I. Administração Geral e Pública. Rio de Janei- ro: Elsevier, 2006. 3 - OLIVEIRA, D. P. R. Planejamento estratégico: conceitos, meto- dologia e práticas. 30 ed. São Paulo: Atlas, 2012. Para avançarmos no estudo, quero te perguntar se você sabe a diferen- ça entre Plano, planejamento e planejamento estratégico? Teremos na sequência a diferença que nos ensina Matias-Pereira (2020). Ele nos diz que o processo de concepção de um plano de ação é realizado por meio do planejamento. Nesse sentido, o propósito do plano é atingir um conjunto de ob- jetivos, o que implica dizer que o ato de planejar requer a existência de objetivos. Por sua vez, o planejamento estratégico é o mesmo que planejamento, mas, com ênfase no aspecto de longo prazo dos objetivos e na análise global do cenário. Assim, o planejamento é estratégico quando se dá ênfase ao aspecto de longo prazo dos objetivos e a análise global do cenário. Se você quiser saber mais como elaborar um Plano de Ação, acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=M4dNnrcUq9s&ab_ channel=BlogAbriMinhaEmpresa Pronto, se você ainda não elaborou o seu plano de ação, já é possível fazê-lo com as ferramentas aprendidas até agora. O próximo passo do nosso estudo é conhecer mais sobre o planejamento es- tratégico governamental. Podemos dizer que o planejamento estratégico é oriun- do da escola prescritiva, conforme Chiavenato e Sapiro (2003), ou seja, é um processo formal e conceitual de planejamento. A sua origem se deu na década de 1960, nos Estados Unidos, em que esse modelo de planejamento era desenvolvi- do para a administraçãode empresas privadas. 25 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 Algumas vertentes do planejamento estratégico surgiram na América Latina a partir dos anos 1970, destacando-se o Planejamento Estratégico Situacional, como nos aponta Artmann (2000). As escolas de estratégia são marco referencial teórico baseado no livro “Safári de estratégia: um roteiro pela selva do planejamento estratégico”, publicado em 2000 pela Editora Bookman e escrito por Henry Mintzberg, Bruce Ahlstrand e Joseph Lampel. O livro apresen- ta 10 escolas de estratégia que auxiliam na tomada de decisões con- forme as escolhas e o tipo de organização. O planejamento estratégico visa a eficácia e procura responder às seguintes perguntas: Qual é o nosso negócio? Qual deveria ser o nosso negócio? Como de- verá ser o nosso negócio daqui a X anos? Quais os objetivos para chegar àquela situação? Quais os recursos para atingir esses objetivos? Sabedores que somos que a administração pública foi buscar na iniciativa privada os métodos e ferramentas de gestão, iremos conhecer alguns termos até então desconhecidos no ambiente governamental, quando falamos em planeja- mento estratégico no âmbito público, como Matriz de SWOT, Balanced Scorecard (BSC) entre outros. São tantas siglas que parece uma sopa de letrinhas, mas, não se preocupe porque há uma farta literatura sobre o tema. Apresentamos abaixo a ilustração equivalente. 26 Planejamento Governamental e Controle FIGURA 6 – MATRIZ SWOT FONTE: <https://eduardokasse.com.br/que-tal-fazer-uma-analise-f-o-f-a- para-ajudar-o-seu-livro-a-se-destacar/>. Acesso em: 7 out. 2021. FIGURA 7 – BSC (BALANCED SCORECARD) FONTE: <https://cienciaenegocios.com/blanced-scorecard/>. Acesso em: 7 out. 2021. 27 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 A análise SWOT é uma ferramenta de gestão muito usada no planejamento estratégico porque analisa os fatores internos - as for- ças e fraquezas e externos à organização – ameaças e oportunida- des para subsidiar a tomada de decisões ou execução de um projeto. Também conhecida como Matriz FOFA. Os fatores internos são os pontos positivos e negativos da situação (empresa ou projeto que deseje implantar). Esses fatores estão no controle da organização e são situações que podem ser por ela administradas e modificadas. Já os fatores externos à organização são de difícil governança, por isso chamados de oportunidades e ameaças; porque não está ao al- cance da organização modificar, por exemplo: cenário econômico, ambiente político, entre outros. O balanced scorecard (BSC) foi formulado por Kaplan e Norton (1997) e está estruturado em quatro diferentes perspectivas – finan- ceira, processos de negócios internos, aprendizado e crescimento das pessoas e cliente. O BSC vem sendo utilizado com uma maior frequência no âmbito do governo federal, porém, para a administra- ção pública o modelo deve ser adaptado para as premissas especí- ficas de cada órgão público, que não deve fugir dos princípios legais da administração em sua finalidade social (MATIAS-PEREIRA, 2020) Avaliando o que já estudamos até aqui você pode estar se perguntando, como o conteúdo apresentado relaciona-se com o mercado de trabalho e a apli- cação na prática do que você aprendeu no curso. Bom, podemos dizer que em sendo sua atuação no campo da gestão pública, em nível federal, você deverá ser preparado para utilizar as ferramentas de planejamento que serão definidas na agenda de governo para o órgão que executará o planejamento governamen- tal. Em se tratando de atuação em gestão municipal, por exemplo, assessoria, consultoria em gestão privada, empreendedorismo, as ferramentas disponíveis no cenário do século XXI são as mais diversas e você deverá avaliar a que melhor irá se adequar ao objetivo a que se pretende atingir, focando a relação custo-benefí- cio de cada uma delas, principalmente. Para alguns autores, no século XX o planejamento ex-ante claramente fa- lhou. O que os consumidores querem e quanto desejam, são duas perguntas que os planejadores nunca conseguiram responder com eficiência. Reunir as informa- ções necessárias para coordenar a atividade econômica revelou-se impossível. 28 Planejamento Governamental e Controle Para elaborar um plano, você precisa agregar informações no nível macroeconô- mico e, ao mesmo tempo, enfrentar incertezas inescapáveis na produção e mu- danças nas preferências do consumidor. Além disso, isso deve ser feito em tempo hábil. Distorções na expressão de necessidades e inércia no aparato produtivo provocaram o impasse do sistema. Sugestão de leitura para você que poderá atuar em nível de as- sessoria em gestão de empresa privada, ambiente corporativo é o livro “Gestão do Amanhã: tudo o que você precisa saber sobre ges- tão, inovação e liderança para vencer na 4ª Revolução Industrial” de Sandro Magaldi e José Salibi Neto (2018), conforme referenciado ao final do capítulo. Durand e Keucheyan (2020) nos apontam que “A revolução do Big Data pode ressuscitar a economia planejada”, de acordo com uma coluna do Financial Times de setembro de 2017. As plataformas digitais são uma ferramenta poderosa para centralizar e gerenciar informações. Ao contrário do que aconteceu na URSS, essa centralização não é feita por seres humanos com faculdades cognitivas limi- tadas e propensas a erros e corrupção. Isso é feito por algoritmos. As plataformas são capazes de agregar quantidades imensas de informações instantaneamente e, simultaneamente, acompanhar as preferências individuais. O big data permite combinar coordenação macroeconômica (ou quantitativa) com microeconômica (ou qualitativa) (DURAND; KEU- CHEYAN, 2020). Um exemplo de software de planejamento de recursos empresariais é o ERP. É um software que padroniza, simplifica e integra os processos de negócios em finanças, recursos humanos, aquisição, distribuição e outros departamentos. Nor- 29 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 malmente, os sistemas ERP operam em uma plataforma de software integrada usando definições de dados comuns operando em um único banco de dados. Embora os ERPs tenham sido originalmente projetados para empresas de manufatura, eles se expandiram para indústrias de ser- viços, ensino superior, hospitalidade, assistência médica, serviços financeiros e governo. Cada uma das indústrias tem suas peculiari- dades. Por exemplo, o ERP governamental usa CLM (Contract Life- cycle Management) em vez de compras tradicionais e segue regras contábeis do governo em vez de GAAP. Os bancos têm processos de liquidação de back-office para reconciliar cheques, cartões de crédi- to, cartões de débito e outros instrumentos. Disponível em: https://www.formmicro.com.br/blog/o-que-e-o-er- p-principais-recursos-do-sistema-de-planejamento-empresariais/ Outra possibilidade para você iniciar sua atuação profissional nessa área do planejamento são os instrumentos e metodologias gratuitos disponíveis no site do SEBRAE, que podem auxiliar a elaborar o planejamento estratégico de sua em- presa ou consultoria. SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Em- presas Disponível em: https://bit.ly/3pB2rvK. Por fim, mas sem esgotar as sugestões para a avaliação que você pode fazer da melhor ferramenta e instrumento que deverá utilizar em sua atuação prática, o Modelo de Negócios Canvas é outra possibilidade. 30 Planejamento Governamental e Controle Definidas ou reavaliadas questões como missão, visão e valor, é hora de partir para outras etapas, como a do modelo de negócio. Ou seja, como pretende obter receita? Onde irá vender o produto ou serviço? Como fará a oferta e para quem? E por aí vai. O Canvas é uma ferra- menta que tem sido bastante usada pelas novas gerações de negócios.Melhores ferramentas para a elaboração de planejamento estratégico. Disponível em: https://www.treasy.com.br/blog/melhores-ferra- mentas-para-fazer-planejamento-estrategico/ 2.1.2 Planejamento da ação governamental em sua dimensão política Até este ponto do estudo apresentamos o planejamento governamental em sua perspectiva tradicional que recepcionou modelos do ambiente corporativo como atividade e que são o referencial para a gestão pública no Brasil. A partir daqui queremos problematizar algumas situações para que você pos- sa conhecer outras perspectivas de análise acerca das relações Estado-socieda- de, no Brasil e os desdobramentos para o planejamento governamental. Nossas referências teóricas sobre o tema sistema de planejamento governa- mental, apresentam nas conclusões de suas pesquisas acerca do planejamento, cenários de possibilidades, limitações e possíveis saídas para um melhor apro- veitamento do processo do planejamento para colocar em produção a agenda de desenvolvimento do país, definida por cada governo. São problematizações das mais diversas, a exemplo de qual é o legado do planejamento público do período de pós-redemocratização política até os dias atuais? Quais as perspectivas desse planejamento que foram consolidadas e quais as que precisam ser retomadas? A fase de crepúsculo do planejamento já passou? O Planejamento econômico está de volta no século XXI? Então, como uma proposta de exercício analítico, traremos algumas dessas problematizações para que você possa iniciar a sua ca- minhada na perspectiva dessa construção dialética da razão crítica que se espera de um estudante de especialização em nível acadêmico. 31 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 Na concepção de Garcia (2020), no novo e complexo ambiente de atuação em torno das políticas públicas, o gestor público necessita obter e processar mui- tas informações, dominar conhecimentos que o coloquem no limite entre ser téc- nico e político, incentivando a tomada de decisões. Deverá ser capaz de romper com o ciclo da “tecnocracia”, procedendo a dinâmicas de planejamento, onde for- mular, implementar, monitorar e avaliar, representem apenas uma das várias face- tas do seu trabalho. Para ele, a causa do bom governo, da democracia, da sobe- rania é defendida por todos que tem no planejamento estratégico governamental, a ferramenta para a promoção do desenvolvimento nacional inclusivo, sustentável e soberano. Na análise de Cardoso Jr. e Vilela (2020), a defesa que a buro- cracia especializada faz do primado da técnica (supostamente neutra e racional) sobre a política (considerada sempre irracional e envie- sada), esconde a dificuldade prática de organizar, pactuar e imple- mentar um conjunto de escolhas que distribuam poder em um am- biente com desigualdades tão institucionalizadas e arraigadas como no Brasil. Nesse cenário, dizem eles, o planejamento governamental convive no país com ao menos 2 grandes paradoxos: de um lado, diz-se que: “Todos concordam que planejamento é importante, mas ninguém acredita nele!” De outro, que: “Ninguém acredita em plane- jamento, mas quando confrontamos historicamente planos e resulta- dos, há grande correlação positiva entre ambos!”. Em suma, a situa- ção é tal que mesmo dentro do governo, em ministérios, secretarias e órgãos que, supostamente, existem para pensar e aplicar o pla- nejamento (como função precípua e indelegável do Estado), parece predominar certa descrença nesta função. Dagnino (2014) defende que o planejamento estratégico governamental (PEG) é um dos instrumentos que deverá contribuir para viabilizar a transição do “Estado Herdado” para o “Estado Necessário”. Mas, o que isso quer dizer? Nessa breve análise do contexto sócio-político em que deve se inserir o PEG, é possível constatar que o Estado capitalista brasileiro foi conformado para atender aos interesses e valores da classe proprietária e que precisaria ser transformado no “Estado-Necessário”, alterando sua conformação, para funcionar e atender às demandas da classe trabalhadora. Nessa conformação, segundo Dagnino, a ativi- dade do PEG não encontra lugar para ser originalmente aplicado. 32 Planejamento Governamental e Controle Segundo Matias-Pereira (2010), observa-se que a existência de diferenças marcantes entre os objetivos e as estruturas administrativas nas Administrações Públicas de cada país é decorrente de regimes políticos distintos, formações his- tóricas específicas e diferenças culturais. Conforme aponta Garcia (2020), os grandes processos que levaram as na- ções desenvolvidas aonde hoje se encontram, foram orientados por primoroso planejamento governamental, dando materialidade a projetos nacionais social e permanentemente legitimados. Muito embora tenham ocorrido avanços e algumas iniciativas exitosas na con- dução de projetos nacionais de desenvolvimento pós-redemocratização, tendo a função planejamento sua importância como um instrumento de suporte à adminis- tração pública para fazer girar a agenda de governo, alguns autores avaliam que ainda não conseguimos emplacar um modelo adequado à nossa realidade bra- sileira. Como avalia De Toni (2014), a despeito da modernização do Estado e do aprofundamento da democracia pós governos militares, ainda não construímos um sistema de planejamento estratégico a altura dos desafios de um projeto nacional. 2.2 INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO ORÇAMENTÁRIO E FINANCEIRO - PPA/LDO E LOA Já sabemos que a constituição brasileira de 1988 contempla uma nova con- cepção de planejamento quando definiu, em seu artigo 165 que é imperativo para os entes federativos a elaboração dos instrumentos que compõem o sistema de planejamento governamental e, a partir da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF - Lei Complementar nº 101/2000) a administração pública precisou aderir à estra- tégia de um planejamento mais elaborado. Nosso objetivo nessa seção é estudar as finalidades e a estrutura respectiva de cada um dos instrumentos do planejamento orçamentário e financeiro do go- verno brasileiro, conhecendo a trajetória do planejamento governamental desde seu marco regulatório, como podemos entender o primeiro plano de desenvolvi- mento nacional na Era Vargas, até os dias de hoje. A ausência de um planejamento por parte do poder público pode desdobrar- -se na dificuldade de manter o equilíbrio orçamentário necessário para a gestão dos recursos públicos, bem como dificultar a transparência dos gastos e participa- ção da sociedade no monitoramento do plano de ação governamental, via meca- nismos de controle. 33 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 Para a melhor compreensão e clareza de como o Estado brasileiro chegou até o século XXI, implementando os instrumentos que compõem o sistema de planejamento governamental, por imperativo constitucional, faz-se necessário co- nhecer a trajetória do planejamento governamental e como está imbricado com a relação Estado-sociedade. Para tal, faremos um esforço de síntese, com base nas referências bibliográficas, de relembrar a importância dos planos de desen- volvimento no decorrer de nossa história até chegarmos aos planos da pós-rede- mocratização política, no Brasil da atualidade. Após os períodos Vargas com a criação do DASP (Departamento Adminis- trativo do Serviço Público) como órgão insulado e estratégico de planejamento e os governos militares, como marcos do aumento da intervenção do Estado na economia visando a promoção do desenvolvimento (REZENDE, 2011), uma série de grandes planos de desenvolvimento foram produzidos, como o primeiro plano quinquenal da história do planejamento brasileiro (o Plano Especial de Obras Pú- blicas e Reaparelhamento da Defesa Nacional de 1939-1943). Durante o governo Dutra (1946-1951) foi elaborado o Plano SALTE - Saúde, Alimentação, Transporte e Energia, que se caracterizoucomo um programa de organização dos gastos públicos em setores infraestruturais e sociais. No segundo governo Vargas, elaborou-se o Plano Nacional de Reaparelha- mento Econômico (conhecido como o Plano Lafer) direcionando o foco de suas atenções para a melhoria da infraestrutura e o fortalecimento das indústrias de base. No governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), o Plano de Metas - um ambicioso plano de crescimento de longo prazo, concretizado em curto prazo (50 anos em 5), avançou na noção de plano com características de programação glo- bal da economia. É neste período que o planejamento governamental no Bra- sil passa a ser construído e valorizado como instrumento de gestão estratégica (CARDOSO JR., 2011). Em que pesem as próprias características estruturantes do pe- ríodo, tais como a centralização, a programação econômica e o in- sulamento burocrático (NUNES, 2010), é possível afirmar que desde 1930 investiu-se na construção de um sistema de planejamento ca- paz de transformar a realidade nacional (REZENDE, 2011; CARDO- SO JUNIOR, 2011 apud PAPI, 2020). 34 Planejamento Governamental e Controle No período entre 1967 e 1976, foi elaborado o Plano Decenal de Desenvolvi- mento Econômico e Social que traçava um roteiro de ação para o período de dez anos. Segundo Rezende (2011), o plano decenal pode ser considerado a primei- ra experiência concreta de estabelecimento de interesses e prioridades nacionais, conformando a mais abrangente proposta de planejamento econômico jamais feita no Brasil. O Plano Decenal não chegou a ser implementado devido a instabilidades políticas e econômicas do período, porém, sua elaboração consolidou uma burocra- cia pública de profissionais qualificados com a causa do planejamento. Esse mes- mo grupo de profissionais elaborou o Programa Estratégico de Desenvolvimento (PED), em substituição ao próprio Plano Decenal, que visava aproveitar os ganhos com a estabilização monetária obtidos com o PAEG (Programa de Ação Econômica de Governo) para acelerar o crescimento em curto prazo (1968-1970). Se quiser saber mais sobre o PAEG, acesse: http://www.fgv.br/ cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/programa-de-acao-eco- nomica-do-governo-paeg Com as crises do petróleo de 1973 e 1979 e a instabilidade econômica defla- grada a partir de então, a visão de médio e longo prazo do planejamento gover- namental perde espaço para uma visão de curto prazo, que objetivava lidar com os problemas imediatos da economia. Na década de 1980, o sistema de plane- jamento sofreu duros golpes, e, segundo Rezende (2011) havendo um progres- sivo “esvaziamento do planejamento como lugar central das decisões de política econômica e de coordenação das ações empreendidas pelo governo” (p. 186). O autor avalia que o enfraquecimento do sistema de planejamento no período tem como possibilidade uma inflexão no modelo de Estado brasileiro, fazendo a transi- ção de um caráter desenvolvimentista para outro mais liberal. Esse foi um período de crise econômica mundial, impactando os países de economias capitalistas do ocidente. Com a crise do capital no período, o Estado passa a ser o pivô que colocou fim na era de prosperidade até então desfrutadas pelos países. A nova ordem mundial globalizada, de matriz neoliberal, acusa o Estado de excesso de intervenção, e, entre o período de 1980 e 1990 começa a implementação de agendas de reformas de Estado com repercussão nas econo- mias capitalistas periféricas, alcançando a economia brasileira. É nesse contexto de reformas do Estado que a gestão pública começa a aproximar-se do modelo de gestão privado, no âmbito dos países capitalistas oci- 35 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 dentais; inclusive, é nesse mesmo período que ocorre a queda do bloco socialista e o planejamento, como instrumento central para o desenvolvimento sofre um re- cuo. Para Luciana et al. (2020), paulatinamente o planejamento vai se tornando uma peça de menor importância no setor público, reduzindo-se ao papel de proje- ção orçamentária e visões/ ações de curto prazo, voltadas a resultados. Perdeu- -se, com isso, muito do sentido estratégico dos planos e a visão de longo/médio prazo portados no modelo anterior. No Brasil, em fins da década de 1990, o país teve que enfrentar as agendas reformistas de matriz neoliberal, cartilha ditada pelos organismos financeiros inter- nacionais e recepcionadas pelos governos de Fernando Henrique Cardoso e da mesma forma que nos demais países ocidentais a gestão pública recepciona os modelos de planejamento do ambiente corporativo. Daqui em diante iremos nos concentrar no período pós CF/88, quando fixou a obrigatoriedade dos entes administrativos (União, Estados e Municípios) elabo- rarem o seu planejamento orçamentário e financeiro. Mas, do que trata cada um desses instrumentos? Inicialmente, faremos as considerações sobre a definição do PPA, sua tem- poralidade e função e, na sequência, apresentaremos os PPAs dos governos bra- sileiros pós-redemocratização, e as considerações sobre a LDO e LOA. O Plano Plurianual (PPA) se constitui em um instrumento de planejamento de médio prazo, que deve conter as diretrizes, os objetivos e as metas da adminis- tração pública para um período de quatro anos. O PPA orienta os orçamentos da União dos 4 anos seguintes, abarcando nessa temporalidade, os 3 anos do gover- no que elaborou o PPA e o primeiro ano do governo seguinte; o que é importante destacar porque é uma forma de manter a continuidade do que foi planejado até que o próximo governo elabore o seu PPA. Na percepção de Mendes (2008), a intenção do constituinte foi a de estabe- lecer um processo que privilegiasse a integração entre o plano e o orçamento, explicitando uma obrigatoriedade de observância do encadeamento lógico entre o PPA, a LDO e a LOA. A título de exemplo, ao definir que a vigência do PPA não deve coincidir com o período de mandato presidencial, induz-se a uma continuida- de no processo de planejamento do setor público. Logo, é possível depreender- mos que, para o constituinte, a fixação de valores financeiros era algo secundário, apenas uma ideia global da consistência fiscal, uma espécie de declaração de intenções do Governo a serem realizadas na medida das disponibilidades orça- mentárias futuras. Dessa maneira, coube à LDO o desdobramento dessas metas (qualitativas e quantitativas) ano após ano, estabelecendo prioridades de acordo com uma mol- 36 Planejamento Governamental e Controle dura da realidade fiscal e das disponibilidades financeiras projetadas, estabele- cendo os limites possíveis dentro da ampla declaração de intenções contida no PPA. Ademais, tem-se na LOA a execução prática daquelas prioridades, sempre submetidas à realidade fiscal, uma vez que o ritmo da execução de projetos e ati- vidades depende da efetiva entrada de recursos nos cofres do Tesouro Nacional. FIGURA 8 – O PPA E O MANDATO DO CHEFE DO EXECUTIVO 1º ano de mandato O Chefe do Poder Execu- tivo governa com o PPA de seu antecessor e elabora o seu PPA para os próximos 4 anos. O Chefe do Poder Executivo trabalha com seu PPA apro- vado pelo Poder Legislativo. É o 1º ano de prática de seu planejamento. Refere-se ao 2º ano de exe- cução de seu PPA. Refere-se ao 3º ano de exe- cução de seu PPA. 2º ano de mandato 3º ano de mandato 4º ano de mandato FONTE: Repositório ENAP (2021) Sucessor do Orçamento Plurianual de Investimentos que, instituído pela Constituição de 1967, apresentava anualmente as demandas por despesas de capital para os próximos três exercícios, o Plano Plurianual (PPA) passou a se “constituir na síntese dos esforços de planejamento de toda a Administração Pú- blica, orientando a elaboração dos demais planos e programas de governo, assim como do próprio orçamento anual” (GIACOMONI, 2016 apud FERNANDES; SOU- ZA, 2019, p. 45). No site <https://bit.ly/35uLQ5P>,você poderá encontrar as in- formações sobre os PPA elaborados nos governos brasileiros desde sua exigência constitucional de 1988, bem como as ferramentas de apoio ao PPA. O PPA pode ser considerado uma peça de planejamento estratégico que ex- pressa uma dada visão de futuro – o futuro desejado de cada ente da federação e tem como características: a) é base para a elaboração das diretrizes orçamen- 37 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 tárias, aprovadas na LDO – lei de diretrizes orçamentárias e da LOA, lei orgânica anual; b) em sua constituição está configurada a elaboração dos Planos Nacio- nais e os Planos Setoriais e c) é organizado em Programas Temáticos, Objetivos, Metas e Iniciativas. O primeiro PPA pós constituição de 1988 foi do governo Collor (1991-1995). O primeiro presidente eleito pelo voto popular após a redemocratização política. Em virtude do impeachment sofrido pelo presidente Collor, Itamar Franco, empos- sado presidente da República, assume o PPA em seu mandato. O período seguin- te foi o PPA do primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso (1996-1999 – PPA Brasil em Ação). Segundo as referências bibliográficas existentes, o plano do governo FHC introduziu novos conceitos de planejamento governamental, trans- formando-o em estratégia. Cabe lembrar que foi no primeiro mandato de FHC que o Estado brasileiro começou a incorporar os conceitos da “Nova gestão pública”, no contexto da reforma do Estado, quando a abordagem gerencial norteou as eta- pas do planejamento, aí incluídas as etapas da elaboração do planejamento, sua implementação e avaliação, baseados nos instrumentos de gestão próprios do ambiente corporativo. Um assunto que já foi tratado aqui nesse estudo e que você pode aprofundar com as leituras complementares indicadas. No segundo governo de FHC o PPA foi denominado Avança Brasil (2000-2003). Na análise de Couto (2011), o PPA demorou a consolidar-se como peça efe- tiva de planejamento governamental nos anos 1990, seja pelo desmonte da es- trutura que lhe dava concretude, seja pela subordinação do desenvolvimento às rédeas da estabilidade monetária. Teve ainda o componente do processo da des- centralização pela União, para os estados e municípios, da responsabilidade de elaborar, cada um, o seu PPA, planos e estratégias, o que acarretou um desloca- mento dessa peça do planejamento para um aspecto mais orçamentário e menos de planejamento econômico mesmo. A ideia da descentralização do PPA para os entes subnacionais foi pela proximidade dos gestores com suas demandas espe- cíficas nos estados e municípios e que isso facilitaria o processo, qualificando a gestão pública; porém, o que se observou, na prática, é que esse distanciamento do planejamento central como uma atividade de integração de planejamento e de- senvolvimento, terminou isolando as iniciativas dos estados e municípios acarre- tando esse desvio de rota na função planejamento como indutor fundamental para a elaboração de diretrizes para o desenvolvimento econômico. A partir dos anos 2000, com a eleição dos governos de centro-esquerda, principalmente no período de Lula e Dilma, começa uma retomada para revalo- rizar o planejamento, quando, inclusive, esforços foram realizados no sentido de resgatar o sentido estratégico do planejamento no âmbito federativo, quando caiu no esquecimento como peça importante no desenvolvimento econômico como já abordado acima. 38 Planejamento Governamental e Controle Para executar esse novo projeto de desenvolvimento foram no- táveis as iniciativas do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão - MPOG e do IPEA para resgatar o sentido estratégi- co do planejamento na federação. Inicialmente, recompondo a força de trabalho e a institucionalidade dessa tarefa apostou-se em duas frentes de valorização: 1) o “envolvimento direto da sociedade” na construção do plano ou sua construção partici- pativa; 2) o apoio federativo aos estados e municípios para se capacitarem para esse trabalho (PAPI et al., 2020, p.37). O Plano Plurianual do primeiro governo Lula (2004-2007), chamado um Brasil de todos, apresenta uma estratégia de desenvolvimento de longo prazo, ausente nos planos anteriores. Um dos focos principais desse plano foi a retomada do cres- cimento e desenvolvimento, a geração de emprego e renda, justiça social, redução das desigualdades regionais, combater a fome e pobreza, entre outros não menos importantes. O segundo PPA do mandato seguinte (2008-2011 – Desenvolvimento com Inclusão Social e Educação de Qualidade) continuou com a estratégia de pla- nejamento a longo prazo, visando estabelecer as bases sólidas da economia para possibilitar ao governo promover o crescimento e o desenvolvimento do país com a inclusão social e distribuição de renda desejada. O diferencial do PPA dos governos Lula em relação aos anteriores foi que sua construção foi participativa, possibili- tando o envolvimento de vários segmentos representativos da sociedade, através de conferências, fóruns e conselhos, a fim de implementar e fortalecer o controle social; temática que trataremos na seção 3 desse livro. Em franca oposição ao modelo neoliberal reinante durante a dé- cada de 1990, que se mostrou ao mesmo tempo incapaz de responder aos problemas de crescimento econômico e produziu um enorme con- tingente de novos pobres na região, estes governos de centro-esquerda trazem de volta o debate sobre o sentido do desenvolvimento e o papel do Estado na promoção do bem estar social. (PAPI et al., 2020, p. 36). Experiência de participação da sociedade na implementação do PPA. Convocação da sociedade para apresentação do PPA pela pre- feitura Municipal de Andira. Fonte:https://bit.ly/3IMDcxQ. 39 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 O PPA do governo Dilma Rousseff (2012-2015 – Plano Mais Brasil), tam- bém elaborado a partir do diálogo estabelecido pelo governo federal, estados, municípios e movimentos sociais. O Ministério do Planejamento, órgão técnico formulador das políticas governamentais, afirmou que o PPA do governo Dilma foi elaborado com uma linguagem mais acessível a todos os cidadãos e cidadãs brasileiras. Ressalte-se que o plano estabeleceu como prioridades o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em que estão contidos o Programa Minha Casa Minha Vida e o Plano Brasil Sem Miséria. Para o segundo mandato do go- verno Dilma, foi elaborado o PPA (2016-2019) quando o governo foi abatido du- rante o voo. Alguns analistas avaliam que várias perguntas sobre as etapas do planejamento proposto ficaram em suspenso tendo em vista que o governo Dilma não concluiu seu mandato. Sugerimos como leitura complementar sobre os PPA do período 2003-2015, Avaliação das Dimensões Estratégicas dos PPAs para o Desenvolvimento, tendo Políticas Sociais como Eixos. O artigo de Santos e Geraldine, referenciado ao final do livro e disponível em: https://bit.ly/3IMDhl8. O Plano Plurianual vigente no Brasil no momento de elaboração desse livro é o do governo de Jair Messias Bolsonaro (2020-2023 – Priorizar, Planejar, Alcan- çar); instituído pela lei 13.971 de 27 de dezembro de 2019. Para maiores informações sobre a apresentação do PPA em vi- gor no Brasil (2020-2023). Disponível em: https://www.gov.br/econo- mia/pt-br/assuntos/planejamento-e-orcamento/plano-plurianual-ppa/ arquivos/mensagem-presidencial.pdf Considerando a execução em curso do atual PPA, ainda são poucas as re- ferências sobre relatórios avaliativos e os resultados alcançados em comparação 40 Planejamento Governamental e Controle com os objetivos definidos no Plano, entretanto um artigo de Cardoso Jr. (2020), aponta para um desmonte do Estado no governo Bolsonaro e discorre sobre as diretrizes gerais e primeiras medidas tomadas pelo seu governo no âmbito da or- ganização e funcionamento do Estadobrasileiro, exclusivamente em nível federal e focado apenas no poder executivo. Para uma melhor compreensão do programa em curso, sugerimos a leitura complementar da obra referenciada ao final do livro. Para conhecer o ciclo de implantação do PPA e a experiência de um governo estadual, sugerimos a leitura do material do governo da Bahia, PPA (2020-2023). Disponível em: https://bit.ly/3Ms28Ny. Na figura abaixo, podemos conhecer a ilustração de como funciona o ciclo integrado do planejamento e orçamento público e como os instrumentos do plane- jamento governamental – PPA, LDO e LOA, atuam de forma integral para colocar em execução o plano de desenvolvimento do Estado brasileiro, no campo nacio- nal e subnacional. FIGURA 9 – CICLO INTEGRADO DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO FONTE: A autora (2022) 41 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 No Almanaque do Planejamento, uma publicação elaborada no governo Dilma Rousseff do PPA 2012-2015, você pode conhecer com mais detalhes a ilustração sobre o caminho do PPA, desde sua origem até sua consolidação, favorecendo sua compreensão sobre todo o processo. Disponível em: https://www.gov.br/economia/pt-br/centrais-de- -conteudo/publicacoes/planejamento/arquivos/almanaque-do-plane- jamento. 2 Com base no que você estudou até aqui acerca dos instrumentos do sistema de planejamento governamental, sua imperatividade após a CF/88, os dispositivos constitucionais e suas característi- cas e finalidades. Classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: a) ( ) A prefeitura de um Município brasileiro pode elaborar o seu plano plurianual para o período de 5 anos, desde que devidamen- te acordado com o Prefeito e a Câmara de vereadores do Muni- cípio. b) ( ) O enfraquecimento do sistema de planejamento no Brasil ocorreu com maior intensidade na década de 1980. c) ( ) O primeiro PPA elaborado no período pós-redemocratização foi o do governo Itamar no início década de 1990, após o impea- chment do presidente Fernando Collor de Melo. d) ( ) É função da LDO desdobrar as metas do PPA, com tempora- lidade anual. e) ( ) A finalidade da LOA é a execução prática das prioridades de- finidas na LDO em acordo com a entrada de recursos financeiros. Daqui em diante faremos alguns destaques acerca dos dispositivos consti- tucionais do sistema de planejamento brasileiro, sugerindo a você que amplie a leitura da Constituição Federal de 1988. 42 Planejamento Governamental e Controle A CF/88 definiu, em seu artigo 48, incisos II e IV que é atribuição do Congres- so Nacional dispor sobre o PPA, as diretrizes orçamentárias, o orçamento anual, os planos e programas nacionais, regionais e setoriais de desenvolvimento; com a sanção do Presidente da República. Em seu artigo 84, inciso XXIII, dispõe que é de competência privativa do Presidente da República enviar ao Congresso Nacio- nal o plano plurianual, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as propostas de orçamento previstos na Constituição. Relembrando o que já vimos nesse estudo, a CF/88 define em seu art. 165, os instrumentos do planejamento governamental e as Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerá o Plano Plurianual – PPA (Inciso I e § 1º do art. 165); Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO (Inciso II e § 2º do art. 165) e a Lei Orçamen- tária Anual – LOA (Inciso III e § 5º do art. 165). Dispõe, ainda, o art. 165, em seu § 9º, que cabe à lei complementar dispor sobre o exercício financeiro, a vigência, os prazos, a elaboração e a organização do plano plurianual, da lei de diretrizes orçamentárias e da lei orçamentária anual. Em seu art. 166 dispõe que os proje- tos de lei relativos ao plano plurianual, às diretrizes orçamentárias, ao orçamento anual e aos créditos adicionais serão apreciados pelas duas Casas do Congresso Nacional, na forma do regimento comum. Por último destacamos que no Ato das Disposições Constitucionais Transi- tórias (ADCT), em seu art. 35, inciso II, define que o projeto de lei de diretrizes orçamentárias será encaminhado até oito meses e meio antes do encerramento do exercício financeiro e devolvido para sanção até o encerramento do primeiro período da sessão legislativa. Bom, até aqui, tratamos mais especificamente do instrumento do sistema de planejamento governamental conhecido como PPA. Daqui em diante falaremos um pouco mais das diretrizes orçamentárias que também compõem o sistema. É preciso, antes de tudo, conhecer um pouco sobre o orçamento público, e, faz-se necessário que você busque maiores informações pesquisando no farto referencial teórico disponível. Para Fernandes e Souza (2019), em sentido lato, o orçamento público no Brasil é o instrumento pelo qual o governo estima as receitas e fixa as despesas para poder controlar as finanças públicas e executar as ações governamentais, levando a ação do Estado ao bem comum, possuindo um ciclo que compreende o plano plurianual, a lei de diretrizes orçamentárias e a lei orçamentária anual. Para eles, de fato, esse conceito amplo esconde que o orçamento público no Brasil é uma das mais complexas matérias da administração pública. 43 Sistema de Planejamento GovernamentalSistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 Segundo Matias-Pereira (2012), a natureza jurídica do orçamen- to tem sido motivo de grandes discussões no cenário nacional, uma vez que não há unanimidade entre o segmento de juristas que o con- figuram como simples ato administrativo, ou seja, tão somente uma apuração de contas, daquela corrente que o concebem como lei em sentido material ou formal. Ao assumir a elaboração da peça orçamentária como um processo geral- mente tenso e controverso, em função das diversas instituições e interesses que são afetados a cada decisão de composição e montante de receita e gasto públi- co, Schick (2007) registra as múltiplas facetas que permeiam o estabelecimento das prioridades nacionais. O orçamento é um processo alocativo, no qual nunca há re- cursos suficientes para serem distribuídos. É também um pro- cesso de redistribuição, em que alguns ganham porque outros perdem, alguns recebem do governo mais do que contribuem na forma de impostos e outros recebem menos. É um processo de escolha entre diversas reivindicações de recursos públicos que, mesmo nas melhores épocas, não são suficientes para cobrir todas as demandas. É um processo de racionamento em que se soluciona o orçamento por exclusão de alguns daque- les que reivindicam. É um processo em que, de forma expres- sa ou indireta, o governo decide sobre qual o papel que deve desempenhas e define prioridades (SCHICK, 2007, p. 82 apud MATIAS-PEREIRA, 2012, p. 22). Na concepção de Sanches, A LDO é a “maior novidade em termos do instru- mental de orçamentação pública articulado pela nova ordem constitucional” (SAN- CHES, 2004, p. 204), ganhando grande relevância por seu caráter de mecanis- mo de formulação de políticas públicas: §2º - A Lei de Diretrizes Orçamentárias compreenderá as metas e prioridades da administração, incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro subsequente, orientará a elaboração da Lei Orçamentária Anual e disporá sobre alterações na legislação tributária e estabele- cerá a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento (BRASIL, 2018, p. 79). Sanches (2004, p. 204) assim nos traduz a importância desse instru- mento: Lei de periodicidade anual, de hierarquia especial e sujeita a prazos e ritos peculiares de tramitação, destinada a parametrizar a forma e o conteúdo com que a lei orçamentária de cada exercício deve se apresentar e a indicar as prioridades a serem observadas em sua elaboração. 44 Planejamento Governamental e Controle Em contraponto, mas, de forma complementar, estudos questio- nam se mesmo após pouco mais de 50 anos de sua publicação, a Lei nº 4.320/1964 ainda se mostra atual
Compartilhar