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Consumidor/Curso Introdução ao Direito do Consumidor.pdf
saberes.senado.leg.br 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Introdução ao 
Direito do Consumidor 
 
Sumário 
MÓDULO I - ASPECTOS INTRODUTÓRIOS .............................................. 1 
Unidade 1 - Origem do Direito do Consumidor – breve histórico ............. 4 
A Revolução Industrial e o surgimento do consumidor .......................... 4 
Unidade 2 - Os principais agentes da relação de consumo ..................... 7 
Unidade 3 - Aplicação do Código de Defesa do Consumidor .................. 14 
MÓDULO II - A RESPONSABILIDADE CIVIL NAS RELAÇÕES DE CONSUMO 16 
Unidade 1 - A responsabilidade pelo fato do produto e do serviço .......... 17 
Unidade 2 - A nova disciplina do vício ................................................ 24 
Unidade 3 - As responsabilidades subsidiária do comerciante e solidária do 
fornecedor ..................................................................................... 29 
Unidade 4 - Excludentes de Responsabilidade Civil .............................. 33 
MÓDULO III - PUBLICIDADE NO DIREITO DO CONSUMIDOR ................... 37 
Unidade 1 - A publicidade na sociedade brasileira atual ........................ 38 
Unidade 2 - A publicidade ilícita: Publicidade Enganosa e Publicidade 
Abusiva ......................................................................................... 42 
Unidade 3 - Força vinculante da publicidade para o fornecedor ............. 50 
MÓDULO IV - AS PRÁTICAS ABUSIVAS ................................................. 55 
Unidade 1 - As práticas abusivas e o CDC .......................................... 56 
Unidade 2 - Venda casada ................................................................ 59 
Unidade 3 - Recusa de contratar pelo fornecedor ................................ 64 
Unidade 4 - Execução de serviço sem orçamento prévio ....................... 67 
Unidade 5 – Cobrança de dívidas ...................................................... 70 
MÓDULO V – BANCO DE DADOS E CADASTRO DE CONSUMIDORES ......... 74 
Unidade 1 - Acesso do consumidor às informações a ele relativas ......... 75 
Unidade 2 - Limite temporal de consignação ....................................... 82 
MÓDULO VI - PROTEÇÃO CONTRATUAL ................................................ 85 
Unidade 1- O contrato de consumo e o contrato clássico ...................... 86 
Unidade 3 - Cláusulas abusivas ......................................................... 95 
MÓDULO VII - DEFESA DO CONSUMIDOR EM JUÍZO .............................. 99 
Unidade 1 - O acesso à Justiça ....................................................... 100 
Unidade 2 - Mecanismos processuais, coletivos e individuais............... 104 
1 
MÓDULO I - ASPECTOS INTRODUTÓRIOS 
 
 
 
 
Introdução ao curso 
 
 
 
O TELEFONE 
 
 
 
“Honrado Senhor Diretor da Companhia Telefônica, 
 
 
 
Quem vos escreve é um desses desagradáveis 
sujeitos chamados assinantes; e do tipo mais baixo: 
dos que atingiram essa qualidade depois de uma 
longa espera na fila. 
Não venho, senhor, reclamar de nenhum direito. 
Li o vosso Regu•lamento e sei que não tenho direito 
a coisa alguma, a não ser pagar a conta. Esse Regulamento, impresso na 
página 1 de vossa interessante Lista (que é meu livro de cabeceira), é mesmo 
uma leitura que reco•mendo a todas as almas cristãs que tenham, entretanto, 
alguma propensão para o orgulho ou soberba. Ele nos ensina a sermos 
humildes; ele nos mostra quanto nós, assinantes, somos desprezíveis e 
fracos. 
- Identificar os principais fatos que 
contribuíram para o surgimento do direito 
do consumidor; 
- diferenciar relação jurídica e relação de 
consumo; 
- conceituar e identificar os principais 
atores e objetos da relação de consumo; 
- apontar casos em que se aplica o Código 
de Direito do Consumidor. 
2 
Aconteceu por exemplo, senhor, que outro dia um velho amigo deu-me o 
prazer de me fazer uma visita. Tomamos uma modesta cer•veja e falamos 
de coisas antigas – mulheres que brilharam outrora, ma•drugadas dantanho, 
flores doutras primaveras. Ia a conversa quente e cordial ainda que algo 
melancólica, tal soem ser as parolas vadias de cumpinchas velhos – quando 
o telefone tocou. Atendi. Era alguém que queria falar ao meu amigo. Um 
assinante mais leviano teria chamado o amigo para falar. Sou, entretanto, 
um severo respeitador do Regu•lamento; em vista do que comuniquei ao meu 
amigo que alguém lhe queria falar, o que infelizmente eu não podia permitir; 
estava, entretan•to, disposto a tomar e transmitir qualquer recado. Irritou- 
se o amigo, mas fiquei inflexível, mostrando-lhe o artigo 2 do Regulamento, 
segun•do o qual o aparelho instalado em minha casa só pode ser usado pelo 
assinante, pessoas de sua família, seus representantes ou empregados. 
Devo dizer que perdi o amigo, mas salvei o Respeito ao Regula•mento; 
‘dura lex sed lex’; eu sou assim. Sei também (artigo 4) que se minha casa 
pegar fogo terei de vos pagar o valor do aparelho – mesmo que esse incêndio 
(artigo 9) for motivado por algum circuito organi•zado pelo empregado da 
Companhia com o material da Companhia. Sei finalmente (artigo 11) que se, 
exausto de telefonar do botequim da esquina a essa distinta Companhia para 
dizer que meu aparelho não funciona, eu vos 
chamar e vos disser, com lealdade e com as 
únicas expressões adequadas, o meu 
pensamento, ficarei eternamente sem 
te•lefone, pois o uso de linguagem obscena 
configurará motivo suficiente para a Companhia 
desligar e retirar o aparelho. 
 
 
Enfim, senhor, eu sei tudo; que não tenho direito a 
nada, que não valho nada, não sou nada. Há dois dias 
meu telefone não fala, nem ouve, nem toca, nem tuge, 
nem muge. Isso me trouxe, é certo, um certo sossego ao lar. Porém amo, 
senhor, a voz humana; sou uma dessas criaturas tristes e sonhadoras que 
passa a vida esperando que de repente a Rita Hayworth me telefone para 
3 
dizer que o Ali Khan morreu e ela está ansiosa para gastar com o velho Braga 
o dinheiro de sua herança, pois me acha muito simpático e insinuante, e 
confessa que em Paris muitas vezes se escondeu em uma loja defronte do 
meu hotel só para me ver entrar ou sair. 
 
 
Confesso que não acho tal coisa provável: o Ali Khan ainda é moço, e Rita 
não tem meu número. Mas é sempre doloroso pensar que se tal coisa me 
acontecesse eu jamais saberia – porque meu apare•lho não funciona. Pensai 
nisso, senhor: um telefone que dá sempre si•nal de ocupado – ‘cuém cuém 
cuém’ – quando na verdade está quedo e mudo na modesta sala de jantar. 
Falar nisso, vou comer; são horas. Vou comer contemplando tristemente o 
aparelho silencioso, essa esfin•ge de matéria plástica; é na verdade algo que 
supera o rádio e a televi•são, pois transmite não sons nem imagens, mas 
sonhos errantes no ar. 
 
 
Mas batem à porta. Levanto o escuro do magro bife e abro. Céus, é um 
empregado da Companhia! Estremeço de emoção. Mas ele me estende um 
papel: é apenas o cobrador. Volto ao bife, curvo a cabeça, mastigo devagar, 
como se estivesse mastigando meus pensamentos, a longa tristeza de minha 
humilde vida, as decepções e remorsos. O telefone continuará mudo; não 
importa: ao menos é certo, senhor, que não vos esquecestes de mim." 
Março de 1951 
 
 
 
 
 
A crônica acima, de Rubem Braga, destaca a relação entre a prote•ção do 
consumidor e as telecomunicações. Nela, verifica-se a angústia de um 
consumidor em relação ao serviço prestado por um fornecedor. 
4 
Unidade 1 - Origem do Direito do Consumidor – breve histórico 
A Revolução Industrial e o surgimento do consumidor 
 
 
De tempos em tempos o ser humano identifica que possui características 
que o inserem em um grupo específico capaz de lhe atribuir direitos e deveres
no exercício das atividades a ele inerentes. Assim, as cidades foram criadas 
e logo seus habitantes foram alçados ao status de cidadãos. Depois, a esses 
foi impingido o pagamento de tributos, tornando-se contribuintes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os EUA e a Carta de Direitos do Consumidor 
 
 
 
Emergindo como potência industrial, os Estados Unidos da América foram 
o palco inicial das discussões sobre a proteção ao consumidor. Partindo de 
pequenas leis esparsas e passando por leis antitrustes, já no início do século 
XX, foram criadas instituições com o fim de controlar o comércio de certos 
produtos, como a Federal Trade Comission (FTC), em 1914, e a Food and 
Drug Administration (FDA), em 1931. 
 
Após a Primeira Revolução Industrial, surge a criação 
de produtos de massa e em série e, com ela, o 
consumidor. 
5 
 
 
 
 
 
O Brasil e a Constituição de 1988 
 
No Brasil, já se reconhecia a proteção ao consumidor na Lei Delegada nº 
4, de 1962, objetivando assegurar a livre distribuição de produtos necessários 
ao consumo do povo. Na década de 70, algumas instituições de defesa do 
consumidor foram criadas tanto no âmbito estadual como no nacional, entre 
elas o Conselho de Defesa do Consumidor (CONDECOM), no Rio de Janeiro; 
a Associação de Defesa do Consumidor (ADOC), em Curitiba; a Associação de 
Proteção ao Consumidor (APC), em Porto Alegre; e a Associação Nacional de 
Defesa do Consumidor (ANDEC). 
 
 
Com a ditadura militar chegando ao fim na década de 80, o anseio por 
uma norma sólida de amparo ao consumidor tomava força. E, assim, 
reconhecendo a defesa do consumidor como um direito fundamental, a 
Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988, 
determinou, em seu art. 5º, inciso XXXII, que “o Estado promoverá, na forma 
da lei, a defesa do consumidor”. Não fosse o bastante, e com o claro intuito 
de não permitir qualquer descuido infraconstitucional, inseriu-se, no Ato das 
Disposições Constitucionais Transitórias, o art. 48, com o mandamento: “O 
Porém, foi em 1962 que o presidente dos 
Estados Unidos da América, John F. Kennedy, 
apresentou, em famoso discurso (versão em 
inglês), os quatro direitos básicos do consumidor: 
o direito à segurança, o direito de ser informado, 
o direito de escolha e o direito de ser ouvido, 
formando, assim, o que ficou conhecido como A 
Carta de Direitos do Consumidor. Mais tarde, em 
1985, a esses foram acrescidos, pela Organização 
das Nações Unidas (ONU), os direitos à satisfação 
de necessidades básicas, à efetiva compensação, à educação e ao meio 
ambiente saudável. 
6 
Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da 
Constituição, elaborará código de defesa do consumidor”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Para refletir 
"O consumo é a única finalidade e o único propósito 
de toda produção". 
 
Adam Smith 
saiba mais 
Você sabia que a defesa do consumidor foi também 
incluída pela Constituição de 1988 entre os princípios 
gerais da Ordem Econômica? Está no art. 170,V: 
 
“Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização 
do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim 
assegurar a todos existência digna, conforme os 
ditames da justiça social, observados os seguintes 
princípios: (...) V - defesa do consumidor; (...)". 
7 
Unidade 2 - Os principais agentes da relação de consumo 
 
 
 
 
Em que consiste uma relação de consumo? 
 
A relação de consumo consiste numa relação jurídica regulada pelo direito do 
consumidor. A relação jurídica é o liame existente entre sujeitos de direito 
diante de um objeto discutido. Uma relação é considerada específica quando 
determinada norma jurídica aplica-se sobre a mesma. 
 
 
Quais são os agentes da relação de consumo? 
 
Os agentes da relação de consumo são os sujeitos de direito da relação 
jurídica de consumo e estão definidos no Código de Defesa do Consumidor. 
Primeiramente, apresentaremos os conceitos legais dos principais agentes da 
relação de consumo. 
 
 
Conceitos de consumidor 
 
Quais são os conceitos de consumidor? 
 
 
 
O CDC optou por definir os conceitos de consumidor nos artigos 2º, 17 e 29, 
e fornecedor no artigo 3º. Vejamos: 
Na unidade passada vimos que, no Brasil, a defesa ao 
consumidor foi considerada um direito fundamental 
assegurado pela Constituição de 1988, e que, após a sua 
promulgação, foi criado o Código de Defesa do 
Consumidor (CDC), aplicando-se a todas as relações de 
consumo. 
Agora, nesta unidade, veremos os principais agentes da relação de 
consumo e o que a diferencia de uma relação civil. 
8 
 
 
 
 
 
Conceito de relação jurídica de consumo 
 
 
 
 
 
 
Qual é o conceito de relação jurídica de consumo? 
 
 
 
A aquisição do produto ou utilização do serviço como destinatário final 
torna-se uma das principais características para identificação da relação 
jurídica de consumo, assim como a vulnerabilidade do consumidor que passa 
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica 
que adquire ou utiliza produto ou serviço como 
destinatário final. 
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a 
coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que 
haja intervindo nas relações de consumo. 
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, 
nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que 
desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, 
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de 
produtos ou prestação de serviços. 
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. 
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, 
mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de 
crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter 
trabalhista. 
Percebe-se, portanto, que o conceito de consumidor paira pelo destino 
pelo qual um produto ou serviço é adquirido, seja por pessoa física ou 
jurídica, desde que o faça para uso próprio e não faça parte das ações 
intermediárias da cadeia de produção. 
9 
a ser outra característica necessária para que a relação de consumo se 
complete. 
 
 
Ressalte-se, ainda, que produtos adquiridos, mesmo utilizados para a 
produção, podem caracterizar a relação jurídica de consumo, desde que 
disponíveis no mercado de consumo. 
 
 
Como identificar o consumidor 
 
Como podemos identificar o consumidor? 
 
Diante do conceito de relação jurídica de consumo, que acabamos de 
estudar, determinaram-se as teorias consolidadas para definição de 
consumidor. 
 
 
 
 
Podem-se distinguir as teorias: 
 
 
 
Finalista, que analisa caso a caso a identificação do consumidor como 
destinatário final, sem que haja a continuidade da atividade econômica; e 
Maximalista, que aplica indistintamente o CDC quando da aquisição de um 
produto ou serviço, não importando se haverá uso particular ou profissional 
do bem. 
 
 
A teoria finalista sofreu uma mutação ao ser minorada a sua aplicação, 
denominada por Cláudia Lima Marques como finalismo aprofundado. Esse 
finalismo aparenta-se mais propício para determinar a relação de consumo, 
na medida em que relativiza e analisa a hipótese concreta, desconsiderando 
a qualidade das partes e vislumbrando apenas o contrato firmado, desde que 
10 
presentes a vulnerabilidade técnica, jurídica ou econômica. Vejamos o que 
escreve a autora: 
 
 
“É uma interpretação finalista mais aprofundada e madura, que deve 
ser saudada. Em casos difíceis envolvendo pequenas empresas que 
utilizam insumos para a sua produção, mas não em sua área de 
expertise ou com uma utilização mista, principalmente na área dos 
serviços, provada a vulnerabilidade,
concluiu-se pela destinação final 
de consumo prevalente”. (2009, p.73). 
 
 
 
 
Essa posição está sendo adotada pelo STJ com muita parcimônia e tem 
demonstrado onde se pode verificar a relação jurídica de consumo. 
 
 
Consumidores equiparados 
 
E os consumidores equiparados? 
 
 
 
No conceito de consumidor, há, ainda, a figura dos consumidores 
equiparados, que não são configurados como destinatários finais, mas se 
materializam nesta condição por uma situação de fato comum. Assim, para 
efeito de proteção legal, o CDC equipara a consumidor: 
 
 
a) os potencialmente consumidores (art. 2º, parágrafo único do CDC); 
 
 
 
b) as pessoas que sofrem com algum tipo de dano, sendo vítimas de acidente 
de consumo (art. 17 do CDC); e 
11 
c) os que sofrem algum tipo de prática abusiva, diante de determinadas 
estratégias comerciais ou de marketing (art. 29 do CDC). 
 
 
 
 
 
 
 
O fornecedor na relação de consumo 
 
 
 
E como identificar o fornecedor na relação de consumo? 
 
A relação de consumo não se completa sem a presença do fornecedor, 
cujo conceito torna-se primordial para identificá-la. Desta forma, o fornecedor 
caracteriza-se por desempenhar uma determinada atividade na cadeia de 
produção ou na prestação do serviço descrito no artigo 3º do CDC. Ora, a 
pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, ainda 
que sem personalidade jurídica, pode ser enquadrada como fornecedor desde 
que desempenhe uma das atividades delineadas no referido artigo, com 
profissionalidade e lucro. Atividade essa que o particular comum não se 
enquadra quando exerce a mesma ação do artigo 3º do CDC, haja vista não 
praticá-la como atividade profissional ou habitual. 
 
 
Essas características tornam fácil a identificação de casos em que se 
poderia excluir a qualidade de fornecedor, como nos casos em que na relação 
jurídica não há lucro, ou nos casos de vendas eventuais entre pessoas físicas 
ou venda de objetos desvalorizados para o desempenho da sua atividade. 
Assim como entidades associativas ou condomínios cujo interesse principal 
restringe-se à esfera de associados ou 
O Código de Defesa do Consumidor e a Constituição da República 
Federativa Brasileira estão disponíveis, para consulta, na Biblioteca, textos 
complementares. 
12 
condôminos. Lembre-se, ainda, da aplicação do CDC nas atividades 
bancárias. O CDC é claro quanto à sua aplicabilidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Síntese 
Por fim, mas não menos importante, a completude da relação 
de consumo dá-se com a entrega de um produto ou a 
prestação de um serviço, desde que presentes os agentes que 
estudamos. O produto caracteriza-se pela atividade 
desenvolvida pelo fornecedor com profissionalidade e 
habitualidade. Nesse sentido, veja-se o que descreve Antonio 
Hermann V. Benjamin (2009, p.82): 
 
“Quanto ao fornecimento de produtos, o critério 
caracterizador é desenvolver atividades tipicamente 
profissionais, como a comercialização, a produção, a 
importação, indicando também a necessidade de certa 
habitualidade, como a transformação, a distribuição de 
produtos. Essas características vão excluir da aplicação das 
normas do CDC todos os contratos firmados entre dois 
consumidores, não profissionais, que são relações puramente 
civis às quais se aplica o CC/2002. A exclusão parece correta, 
pois o CDC, ao criar direitos para os consumidores, cria 
deveres, e amplos, para os fornecedores.” 
 
Há associações, entretanto, que detêm a característica de fornecedor por 
condicionarem a prestação de serviços de assistência médica, mediante o 
pagamento de mensalidade. 
13 
 
Os serviços, por sua vez, são identificados quando colocados à disposição 
do consumidor, mediante remuneração. O CDC exige, portanto, apenas a 
remuneração na identificação do serviço. 
 
 
 
 
Recentemente tem-se tratado da questão dos serviços gratuitos 
oferecidos ao consumidor e que, embora denominados gratuitos, são pagos 
sem a percepção do consumidor. Por isso, a jurisprudência tem identificado 
essas situações como relação de consumo. 
14 
 
Unidade 3 - Aplicação do Código de Defesa do Consumidor 
 
 
Na unidade anterior vimos as definições dos agentes da relação de consumo, 
o que vai nos ajudar a compreender a aplicabilidade do Código de Defesa do 
Consumidor (CDC). 
Vamos iniciar com o exemplo de Cláudia Lima Marques (2009, p. 68/69) para 
delimitar tal relação. Vejamos: 
 
 
“(...) se dois civis, duas vizinhas amigas, contratam (compra e venda de uma 
joia antiga), nenhuma delas é consumidora, pois falta o fornecedor (o 
profissional, o empresário); são dois sujeitos 'iguais', regulados 
exclusivamente pelo Código Civil. Sendo assim, à relação jurídica de compra 
e venda da joia de família aplica-se o Código Civil, a venda é fora do mercado 
de consumo. Se dois comerciantes ou empresários contratam (compra e 
venda de diamantes brutos para lapidação e revenda), o mesmo acontece: 
são dois 'iguais', dois profissionais, no mercado de produção ou de 
distribuição, são dois sujeitos iguais regulados pelo Código Civil (que regula 
as obrigações privadas, empresariais e civis) e pelas leis especiais do direito 
comercial, direito de privilégio dos profissionais, hoje empresários. Já o ato 
de consumo é um ato misto entre dois sujeitos diferentes, um civil e um 
empresário, cada um regulado por uma lei (Código Civil e Código Comercial), 
e a relação do meio e os direitos e deveres daí oriundos é que é regulada pelo 
CDC. É direito especial subjetivo e relacional.” 
 
 
 
15 
Por fim, a jurisprudência tem identificado os casos de aplicação do CDC: 
 
 
 
· às entidades de previdência privada - Súmula 321; 
· aos contratos de arrendamento mercantil - Condomínio e 
Concessionária; 
· aos contratos do sistema financeiro de habitação - Sistema 
Financeiro. 
 
 
Não se aplica o CDC nos casos de: 
 
Serviço notarial 
Condomínios e condôminos; 
Locação; 
Contratos de crédito educativo; 
Benefícios previdenciários. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Parabéns! Você chegou ao final do primeiro Módulo de estudo do curso 
Introdução ao Direito do Consumidor (parceria ILB e ANATEL). 
Como parte do processo de aprendizagem, sugerimos que você faça uma 
releitura do mesmo e resolva os Exercícios de Fixação. O resultado não 
influenciará na sua nota final, mas servirá como oportunidade de avaliar o 
seu domínio do conteúdo. Lembramos ainda que a plataforma de ensino faz 
a correção imediata das suas respostas! 
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Síntese 
Faça suas anotações, volte ao conteúdo e reveja os conceitos, bem como 
os exemplos. Quando estiver seguro do conteúdo realize as atividades 
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http://saberes.senado.leg.br/mod/quiz/view.php?id=31005
16 
MÓDULO II - A RESPONSABILIDADE CIVIL NAS RELAÇÕES DE CONSUMO 
 
 
nas relações de civil responsabilidade 
consumo. 
- reconhecer as hipóteses de exclusão da 
- identificar a figura dos responsáveis pelo 
fato e pelo vício do produto e do serviço, 
entendendo os seus alcances; 
- conceituar e diferenciar "fato" de "vício" do 
produto e do serviço; 
- Identificar os tipos de responsabilidades civis 
nas relações de consumo e suas principais 
diferenças; 
17 
Unidade 1 - A responsabilidade pelo fato do produto e do serviço 
 
 
Como vimos no módulo anterior, foi na Constituição de 1988 que a defesa 
do consumidor passou a ser considerado um direito fundamental e um 
princípio geral da ordem econômica. 
 
 
Com o zelo de não permitir qualquer descuido infraconstitucional, foi 
elaborado o código de defesa do consumidor (CDC), que prevê duas espécies 
de responsabilidade civil nas relações de consumo, vejamos: 
 
 
 a primeira, pelo fato do produto ou serviço, com regramento 
previsto nos arts. 12 a 17; 
 e a segunda, pelo vício do produto ou serviço, com previsão legal 
nos arts. 18 a 25. 
 
 
Antes de estabelecer as principais diferenças entre as modalidades de 
responsabilidades, vejamos o que o CDC versa sobre a matéria: 
 
 
 
 
“Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou 
estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da 
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos 
consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, 
construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou 
acondicionamento de seus produtos, bem como por informações 
insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.” 
18 
Fato e vício 
 
Vamos entender primeiramente o que caracteriza o fato 
 
Fato significa ocorrência, acontecimento, evento. O CDC fala em fato 
acompanhado de defeito; é, portanto, o fato que apresenta um defeito 
causador de um dano. 
 
 
Como diferenciar “fato” de “vício”? 
 
No vício, o problema encontrado no produto ou no serviço frustra o 
consumidor tão somente pelo erro encontrado neles próprios, acarretando o 
mau ou impossível funcionamento. No fato do produto ou do serviço, por 
outro lado, este “erro” é externalizado, saindo do domínio do produto ou 
serviço para atingir a esfera particular do consumidor, causando-lhe um dano 
material, físico ou moral. 
 
 
Sérgio Cavalieri Filho (2011, p. 208) define que: 
 
 
 
“A palavra-chave neste ponto é o defeito. Ambos decorrem de um 
defeito do produto ou do serviço só que no fato do produto ou do 
serviço o defeito é tão grave que provoca um acidente que atinge o 
consumidor, causando-lhe dano material ou moral. O defeito 
compromete a segurança do produto ou serviço. Vício, por sua vez, é 
defeito menos grave, circunscrito ao produto ou serviço em si; um 
defeito que lhe é inerente ou intrínseco, que apenas causa o seu mau 
funcionamento ou não funcionamento”. 
19 
Exemplos 
Fato x Vício 
 
 
 
Vejamos como é fácil identificar quando se lida com o vício e quando é o 
fato que atinge o consumidor, por meio dos seguintes exemplos: 
 
 
1. O seu refrigerador parou de gelar 
 
Vício: Foi inserido pouco gás refrigerante no refrigerador de ar, que, por 
isso, para de gelar. 
Fato: Ao invés do gás refrigerante normal, foi colocado um gás letal no 
refrigerador de ar, intoxicando as pessoas que ali estavam. 
 
 
2. Um cosmético que promete eliminar rugas 
 
Vício: Simplesmente não faz qualquer efeito. 
 
Fato: O cosmético que promete eliminar rugas causa dilacerações na pele. 
 
 
 
3. Um carro cujo motor esquenta demais 
 
Vício: O motor do carro esquenta demais e para de funcionar. 
 
Fato: O motor do carro esquenta demais e pega fogo. 
 
 
 
4. Serviço de limpeza contratado 
Observe a foto ao lado - um carro que esquenta 
demais e pega fogo. 
 
Trata-se de vício ou de fato? 
20 
Vício: A empresa que deixa partes sujas. 
 
Fato: O mesmo serviço de limpeza usa um produto que causa fortes 
náuseas nas pessoas que ali habitam. 
 
 
Estando clara a noção de fato, é hora de conhecer os possíveis 
responsáveis. 
 
 
Nesse ponto, em vez de simplesmente imputar a responsabilidade aos 
fornecedores, quis o CDC restringir os personagens. Então, de acordo com 
seu art. 12, são responsáveis pelo fato do produto e do serviço: 
 
 
 o fabricante - aquele que fabrica e coloca no mercado de 
consumo produtos industrializados; 
 o produtor - aquele que fabrica e coloca no mercado de consumo 
produtos não industrializados; 
 o construtor, nacional ou estrangeiro - aquele que introduz 
produtos imobiliários no mercado de consumo, através de 
fornecimento de bens ou serviços; 
 o importador - aquele que faz circular produto estrangeiro dentro 
do país. 
 
 
 
Logo se percebe a ausência do comerciante, contudo sua exclusão não é 
absoluta, há exceção, conforme se verificará mais à frente. 
21 
 
 
 
 
A responsabilidade pelo fato do produto ou serviço é objetiva e solidária: 
 
 
 
 Objetiva, porque independe da demonstração de culpa 
(imprudência, imperícia ou negligência) do responsável. Basta, 
portanto, a demonstração de que houve um dano, e o nexo 
causal entre este e o defeito no produto ou serviço que o gerou. 
Assim, a simples colocação no mercado de determinado produto, 
ou prestação de serviço, ao consumidor, já é suficiente para 
ensejar a responsabilização. 
 Solidária, uma vez que havendo mais de um responsável pela 
colocação do produto, ou serviço, defeituoso à disposição dos 
consumidores, todos podem ser demandados, e a 
responsabilidade de um não exclui a do outro. 
 
 
Em todos os casos, concorre solidariamente o fabricante da peça ou do 
componente do produto fabricado, produzido, construído ou importado, 
assunto a ser abordado mais detalhadamente na Unidade 3. 
 
 
 
Ver jurisprudência: Fato do produto e do serviço 
http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/206119/mod_book/chapter/50476/jurisprudenciaFatodoServico.pdf
22 
Profissionais liberais 
 
Haveria alguma diferença no entendimento das responsabilidades 
dos profissionais liberais? 
 
 
“Art. 14 (...) 
 
§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada 
mediante a verificação de culpa.” 
 
 
 
 
O CDC incluiu a possibilidade de responsabilização dos profissionais 
liberais (médicos, advogados, dentistas etc.), conforme o § 4º do art. 14, 
acima descrito. Entretanto, nesse caso em particular, há uma quebra da regra 
da objetividade e, assim, sua responsabilização será verificada mediante 
verificação de culpa. Em outras palavras, não basta o dano e o nexo causal 
com o defeito no serviço do profissional liberal: há que se verificar a 
existência de negligência, imperícia ou imprudência do profissional, com o fim 
de responsabilizá-lo pessoalmente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Veja jurisprudência: Profissionais Liberais 
http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/206119/mod_book/chapter/50459/ProfissionaisLiberais.pdf
23
Seguiremos buscando compreender a nova disciplina do vício. Bons estudos! 
 
 
 
 
Há, na doutrina, quem defenda que o termo “fato” do produto e do serviço 
não sinônimo de acidente de consumo e que, portanto, assim não deveria 
ser tratado, como define Rizzato Nunes (2011, p.317), quando afirma que 
“Diga-se, de qualquer maneira, que se tem usado tanto “fato” do produto 
e do serviço, quanto “acidente de consumo”, para definir o defeito. Porém, 
o mais adequado é guardar a expressão “acidente de consumo” para as 
hipóteses em que tenha ocorrido mesmo um acidente: queda de avião, 
batida do veículo por falha do freio, quebra da roda gigante no parque de 
diversões, etc., e deixar fato ou defeito para as demais ocorrências 
danosas.” 
Vimos nesta unidade que fato do produto pode ser explicado pelo "erro" 
apresentado no produto ou no serviço, que extrapola o simples problema 
de funcionamento, causando ao consumidor um dano material, físico ou 
moral. Certamente, agora você já está apto a identificar os possíveis 
responsáveis, de acordo com a norma legal vigente. 
Ver jurisprudência: Fato do produto e do serviço 
http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/992576/mod_book/chapter/73830/jurisprudenciaFatodoServico.pdf
24 
Unidade 2 - A nova disciplina do vício 
 
 
Vamos relembrar. 
 
 
 
Na unidade anterior, vimos que o Código de Defesa do Consumidor (CDC) 
prevê duas espécies de responsabilidade civil nas relações de consumo: 
 
 
- a primeira, pelo fato do produto ou serviço; e 
 
 
 
- a segunda, pelo vício do produto ou serviço, com previsão legal nos arts. 
18 a 25, que veremos a seguir. 
 
 
 
 
Então, analisemos o que o CDC versa sobre a matéria: 
 
 
 
 
 
“Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não 
duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou 
quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a 
que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles 
decorrentes da disparidade, com as indicações constantes do 
recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, 
respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o 
consumidor exigir a substituição das partes viciadas.” 
25 
 
Vício 
 
 
 
O que é o vício do produto e serviço? 
 
Quando falamos em vício do produto ou do serviço, estamos nos referindo 
a qualquer problema relacionado ao produto ou ao serviço que, de alguma 
forma, prejudique sua funcionalidade e os tornem imperfeitos para o fim ao 
qual se destinam. 
No vício, ao contrário do que vimos em relação ao fato, a falha não 
extrapola a esfera do produto ou serviço. Não atinge pessoalmente a figura 
do consumidor, de forma a lhe causar um dano material, físico ou moral. É a 
falha sem acidentes ou consequências graves. 
 
 
Pode-se dizer que o fato é um vício com algo a mais? 
 
Sim, esse algo a mais seria o dano pessoal. Diz-se também que todo fato 
por origem é um vício, uma vez que para gerar o dano ao consumidor, o 
produto ou serviço tem necessariamente que apresentar uma falha 
antecessora e causadora do dano. Já a recíproca, obviamente, não é 
verdadeira. 
 
 
Tipos de vícios 
 
 
 
Quais são os tipos de vícios? 
 
Além dos “vícios ocultos” previstos no Código Civil de 1916 pelos 
chamados “vícios redibitórios”, o CDC inovou acrescentando os “vícios de 
qualidade” e “vícios de quantidade”, ainda que aparentes ou de fácil 
constatação, quando tornam os produtos impróprios ou inadequados ao 
consumo a que se destinam ou lhe diminuam o valor. 
26 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Vejamos os seguintes tipos de vícios: 
 
 
 
1. Vícios redibitórios 
 
Os vícios redibitórios são os defeitos ocultos da coisa, que fazem com que 
o negócio jurídico de compra e venda não produza um dos efeitos ao qual se 
destina, qual seja a perfeição do bem alienado. 
Além da exigência de que o vício seja oculto, nos vícios redibitórios a 
coisa recebida deve originar-se de uma relação contratual e possuir defeito 
grave e contemporâneo à celebração do contrato. A nova disciplina do vício 
derrubou essas amarras. A responsabilização quanto ao vício, como previsto 
no CDC, independe de um contrato entre as partes, não há distinção quanto 
à gravidade, e pode ocorrer antes, durante ou depois da realização do 
negócio. 
 Exemplos: comprar um cavalo manco ou estéril; alugar uma 
casa que tem muitas goteiras; receber em pagamento um carro 
cujo motor aquece nas subidas. 
Acrescente-se, ainda, que o CDC facultou ao consumidor uma gama de 
possibilidades de reparação mais abrangente que o Código Civil, incluindo 
a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas 
condições de uso; a restituição imediata da quantia paga, monetariamente 
atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos, o abatimento 
proporcional do preço, a complementação do peso ou medida. 
27 
 
 
 
 
2. Vícios de qualidade 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Síntese 
 
 
 
3. Vícios de quantidade 
 
Nos produtos ou serviços em que a prestação pode ser quantificada, o 
consumidor recebe menos do que o que lhe foi ofertado. Decorrem das 
disparidades com as indicações constantes do recipiente, embalagem, 
 
Ver jurisprudência: Vício de Qualidade 
Apresentam-se nos produtos ou serviços com 
erros que diminuem as funções ou o valor que é 
normal se esperar deles. A qualidade que se 
encontra é inferior à corretamente presumida pelo 
consumidor. 
Exemplos: televisão cujo som não funciona, carro com problemas de 
aquecimento, ferro de passar roupa que esquenta pouco, roupa 
descosturada, serviço de limpeza mal executado, prazo de validade vencido 
etc. 
http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/206119/mod_book/chapter/50467/jurisprudenciaViciosDeQualidadeDoProduto.pdf
28 
rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes 
de sua natureza, que se dá quando a perda de certo conteúdo durante o 
processo distributivo já é esperada como consequência natural do produto. 
 
 
Ainda, produtos com peso ou, quando divisíveis, em número menor que 
o anunciado. Está diretamente ligado ao dever do fornecedor de informar. 
 Exemplos: frango congelado cuja quantidade de água eleva o 
peso real do produto; vidro de mostarda de 200ml que só tem 
150ml; caderno de 100 páginas com apenas 80; serviço de tevê 
por assinatura que retira canais de sua programação sem o 
prévio aviso ao consumidor etc. 
 
 
Ver jurisprudência: Vício de Quantidade 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nesta unidade, vimos que vício do produto e do serviço pode ser 
caracterizado por qualquer problema relacionado a eles que, de alguma 
forma, prejudique sua funcionalidade e os tornem imperfeitos para o fim 
ao qual se destinam. Ainda aqui, percebemos o alcance do Código de 
Defesa do Consumidor, que permitiu ao consumidor uma gama de 
possibilidades de reparação , mostrando-se bem mais abrangente e 
pormenorizado que o Código Civil. 
http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/206119/mod_book/chapter/50470/jurisprudenciaViciosDeQuantidadeDoProduto.pdf
29 
Unidade 3 - As responsabilidades subsidiária do comerciante e solidária do 
fornecedor 
 
 
Agora que já identificamos as diferenças entre fato e vício do produto e 
do serviço, vamos estudar os principais conceitos e a abrangência das 
responsabilidades dos agentes da relação de consumo. 
Iniciaremos por conhecer as responsabilidades subsidiárias do 
comerciante. 
Por responsabilidade subsidiária, para efeito do estatuído no CDC, 
entenda-se aquela em que B passa a ser responsável quando A não pode ser 
identificado. Já na responsabilidade solidária, tanto A quanto B são 
responsáveis, e é uma faculdade do consumidor escolher se vai demandar
A, 
B ou ambos. Vejamos: 
 
 
“Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo 
anterior, quando: 
 
 
I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser 
identificados; 
 
 
II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, 
produtor, construtor ou importador; 
 
 
III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis.” 
30 
Com a imputação da responsabilidade subsidiária do comerciante, o CDC 
previne duas situações que poderiam gerar falhas no processo de 
responsabilização pelo fato: 
1. Com a retirada do comerciante da regra de responsabilização 
porque com isso evita-se que ele pague por erro que não 
cometeu. O que se quer nos casos em que a segurança do 
consumidor está sob risco é punir e educar aquele que de 
fato deu causa para a ocorrência do dano. 
2. Ao prever a responsabilidade do comerciante nos casos em 
que os responsáveis originários não puderem ser 
identificados com precisão. Nada mais justo. Afinal, ao 
colocar o produto em circulação sabendo que o responsável 
pela sua fabricação, construção, produção ou importação não 
pode ser identificado com clareza, o comerciante assume o 
risco e atrai para si, então, essa responsabilização. É como 
se o comerciante dissesse: “Ok, esse produto não é 
identificável, mas eu o garanto”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Vamos agora à responsabilidade solidária do fornecedor: 
 
 
 
“Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis 
respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os 
tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes 
Ver jurisprudência: Responsabilidade subsidiária do comerciante 
http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/206119/mod_book/chapter/50477/jurisprudenciaResponsabilidadeSubsidiariaDoComerciante.pdf
31 
diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com 
as indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou 
mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua 
natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.” 
(Grifos nossos.) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
-Consulte: CDC - arts. 7º, parágrafo único; 19; 25, §§ 1º e 2º; 28, § 3º; 
e, 34. 
 
 
No vício do produto ou serviço, a solidariedade é a regra. Porém, há duas 
exceções. São elas: 
 
 
1. Produtos in natura, isto é, produtos artesanais, que não sofreram 
processo de industrialização. Nesse caso, quando não identificado claramente 
o seu produtor, o responsável será o fornecedor imediato. - Art. 18, § 5º do 
CDC. 
2. Produtos pesados ou medidos na presença do consumidor utilizando 
instrumento (balança, trena etc.) não aferido segundo os padrões oficiais. 
Igualmente, responsabilidade do fornecedor imediato. - Art. 19, § 2º do CDC. 
O termo “solidariamente” que remete diretamente ao princípio da 
solidariedade, em que mais de uma pessoa pode ser titular de um direito 
ou dever, está presente, no CDC, em vários artigos além do acima citado, 
ao imputar responsabilidade comum àquelas pessoas que contribuíram 
para a colocação, no mercado, de produto ou serviço defeituoso. 
32 
Exemplo: 
 
João compra um carro e ao dirigi-lo à noite percebe que os faróis subitamente 
se apagam e voltam a acender algum tempo depois. João, nesse caso, pode 
demandar o fabricante do carro, assim como aquele que fornece a peça para 
o fabricante e, ainda, tendo ocorrido somente o vício e não o fato, o 
comerciante que vendeu o carro para João. Caso seja impossível identificar o 
fabricante do carro e o fornecedor da peça, João pode demandar o 
comerciante inclusive quando o defeito gerou um dano passível de 
configuração do fato do produto, como já vimos na responsabilidade 
subsidiária do comerciante. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ver jurisprudência: Responsabilidade Solidária do Fornecedor 
Nesta unidade pudemos perceber a diferença entre a responsabilidade 
subsidiária e a solidária. Exemplificando, à luz do CDC, a primeira é aquela 
em que B passa a ser responsável quando A não pode ser identificado, e a 
segunda, tanto A quanto B são responsáveis e é uma faculdade do 
consumidor escolher se vai demandar A, B ou ambos. 
http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/206119/mod_book/chapter/50471/jurisprudenciaResponsabilidadeSolidariaDoFornecedor.pdf
33 
Unidade 4 - Excludentes de Responsabilidade Civil 
 
Entendendo a responsabilidade subsidiária do comerciante e a solidária do 
fornecedor, passaremos, agora, aos casos de exclusão da responsabilidade 
do fornecedor, de acordo com o CDC. 
 
 
Analise atentamente o caput do art. 12 do CDC e seu § 3º: 
 
 
 
“Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou 
estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da 
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos 
consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, 
construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou 
acondicionamento de seus produtos, bem como por informações 
insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. 
(...) 
 
§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será 
responsabilizado quando provar: 
I - que não colocou o produto no mercado; 
 
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito 
inexiste; 
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.” 
34 
Exclusão da responsabilidade do fornecedor 
 
 
 
Como se percebe, são três as hipóteses de exclusão da responsabilidade do 
fornecedor: 
 
 
1. Quando provar que não colocou o produto no mercado: 
Naturalmente, estando o produto no mercado presume-se que o fornecedor 
o colocou. Cabe, porém, a este, rebater essa presunção, quando puder 
demonstrar através de provas que não foi o responsável. Tal situação pode 
ocorrer quando, por exemplo, há produtos falsificados em circulação ou 
quando o fornecedor foi vítima de furto ou roubo de produto ainda incompleto 
para ser colocado no mercado. 
 
 
2. Inexistência do defeito: Ainda que posto em circulação normal, o 
fornecedor prova que na verdade não há defeito. Aqui, sendo provado que o 
defeito inexiste, o próprio fato gerador da responsabilidade é fulminado. 
Trata-se do caso em que há uma percepção equivocada por parte do 
consumidor quanto ao defeito questionado. É o caso, por exemplo, da pessoa 
que pensa ter passado mal por causa da ingestão de um queijo, quando 
percebe que este se encontra mofado. Eis que o fornecedor demonstra que o 
bolor encontrado nesse queijo não só é tolerado como desejado, que é uma 
característica intrínseca daquele tipo de queijo e que o passar mal do 
consumidor, portanto, não teve qualquer ligação com um defeito naquele 
laticínio, sendo tal defeito, assim, inexistente. 
 
 
 
 
3. Culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro: Igualmente à 
inexistência do defeito, mais uma vez, caso provada pelo fornecedor a culpa 
exclusiva do consumidor ou de terceiro, o fato gerador da responsabilidade, 
qual seja, o defeito, é desconstituído. Pois se há culpa exclusiva do 
35 
consumidor ou de terceiro, não há o que se falar em defeito do produto. Este 
foi posto em circulação pelo fornecedor em sua perfeição; porém, ao alcançar 
seu destinatário (o consumidor) ou o terceiro, estes provocam o problema, 
seja por descuido, mau uso ou até mesmo intencionalmente. Tal condição 
pode ser verificada, por exemplo, quando a despeito de aviso claro no 
medicamento sobre a posologia, o indivíduo toma o dobro da dose 
recomendada. Ou seja, não há defeito no medicamento e sim culpa exclusiva 
daquele que tomou dose superior à que se indicou.
Constatado o vício ou fato do produto ou serviço, verificamos que as 
hipóteses nas quais o fornecedor é eximido de responsabilidade são: 
quando ele provar que não colocou o produto no mercado, quando da 
inexistência do defeito ou quando provada a culpa do consumidor ou de 
terceiro. 
 
Ver jurisprudência: Excludentes de Responsabilidade Civil 
http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/206119/mod_book/chapter/50458/jurisprudenciaExcludentesDeResponsabilidadeCivil.pdf
36 
Parabéns! Você chegou ao final do Módulo II do curso Introdução ao 
Direito do Consumidor (parceria ILB e ANATEL). 
 
 
Como parte do processo de aprendizagem, sugerimos que você faça uma 
releitura do mesmo e resolva os Exercícios de Fixação. O resultado não 
influenciará na sua nota final, mas servirá como oportunidade de avaliar o 
seu domínio do conteúdo. Lembramos ainda que a plataforma de ensino faz 
a correção imediata das suas respostas! 
 
 
Para ter acesso aos Exercícios de Fixação, clique aqui. 
http://saberes.senado.leg.br/mod/quiz/view.php?id=31007
37 
MÓDULO III - PUBLICIDADE NO DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
 
 
 
 
- relacionar a teoria à prática a partir dos 
exemplos e de jurisprudência atualizada. 
- reconhecer os aspectos importantes sobre 
vinculação da oferta; 
- diferenciar as formas de publicidade ilícita; 
- Identificar a origem da publicidade e seu 
contexto atual; 
38 
 
 
 
 
Unidade 1 - A publicidade na sociedade brasileira atual 
 
 
Vimos, nas unidades anteriores, os conceitos básicos que norteiam as 
relações de consumo, bem como as responsabilidades dos seus principais 
agentes. 
Nesta unidade vamos conhecer um pouco sobre a área da comunicação 
que guarda relação direta com as relações de consumo: a publicidade. 
 
 
Não há como falar em publicidade como a conhecemos hoje sem iniciar 
pela própria história do consumo. O mesmo motor impulsionador deste, 
traduzido pela revolução industrial e a massificação da produção, dá o norte 
para o que chamamos atualmente de publicidade. 
 
 
 
 
Quando surgiu a publicidade? 
 
 
 
Embora existam registros de publicidade ao longo dos séculos, foi no século 
XIX, após a Revolução Industrial, que criou-se, para o fornecedor em escala, 
a necessidade de propagar e incentivar o consumo de suas mercadorias. A 
simples colocação dos itens no mercado não era mais garantidora de um 
consumo que se equilibrasse com a produção. Assim, surge a publicidade 
como é conhecida hoje, a mais importante ferramenta de incentivo ao 
consumo. 
39 
Publicidade 
 
 
 
Qual é o significado da palavra publicidade? 
 
 
 
Publicidade, analisando o termo ao pé da letra, significa aquilo que é 
público, destinado ao povo ou colocado para o conhecimento de todos. Porém, 
no mundo das mercadorias e do consumo, publicidade é o mesmo que 
fomentar a venda de produtos. Hoje, invade as nossas vidas por diversos 
meios, com abordagem desde a mais tranquila, que se resume a mostrar os 
benefícios de determinado aparelho; passando pela mais contundente, que 
quer fazer o consumidor acreditar que sua vida ficará melhor com aquilo que 
se pretende vender; até as de cunho agressivo, que têm o claro condão de 
incutir na mente das pessoas que o seu produto é absolutamente necessário, 
que sem ele ou não se vive ou se vive muito mal. 
 
 
 
 
Quando a publicidade surgiu no Brasil? 
 
 
 
 
Em nosso País, já se coletam traços da publicidade, 
como a conhecemos hoje, a partir do século XIX. 
Anúncios de venda de escravos, imóveis, carroças, 
artesanato e serviços de profissionais liberais eram 
corriqueiros em cartazes, folhetos e painéis em São 
Paulo e no Rio de Janeiro. Nesta cidade, em 1821, nasceu o primeiro jornal 
diário do Brasil. O Diário do Rio de Janeiro era um jornal dedicado aos 
anúncios de negócios. 
40 
Desse período em diante a publicidade tomou corpo e passou a fazer parte 
do dia a dia dos brasileiros, aproveitando a chegada dos vários meios que 
passaram a lhe dar suporte, como os outdoors, as placas de publicidade, o 
rádio, o cinema, a televisão, entre outros. Com a evolução tecnológica, 
tornava-se cada vez maior a abrangência que um produto poderia conquistar. 
 
 
Até o final da década de 1970 não existia no Brasil qualquer dispositivo 
que ao menos monitorasse o crescimento da iniciativa publicitária. Foi 
quando, ainda no regime militar, aprovou-se o Código Brasileiro de 
Autorregulamentação Publicitária (CBAP), editado em 5 de maio de 1980; e, 
em seguida, foi fundado o Conselho Nacional de Autorregulamentação 
Publicitária (CONAR). 
 
 
Tanto o Código quanto o Conselho tinham a função de zelar pela ética na 
publicidade. O CBAP, embora desempenhando função pública, tem natureza 
privada, por ter sido criado e assinado por associações ligadas ao exercício 
da publicidade. 
 
 
Atividade publicitária 
 
 
 
Quais são os limites para a atividade publicitária? 
 
Com a chegada do Código de Defesa do Consumidor, a questão dos limites 
para a atividade publicitária enfim encontra amparo legal na forma de 
proteção aos direitos do consumidor. Desde então, a convivência entre o 
CBAP e o CDC é harmoniosa, e ambos, o primeiro pela via privada e o segundo 
pela previsão legal, se prestam a regular o trabalho publicitário e proteger o 
consumidor. O ponto de partida é distinto mas o objetivo acaba se 
desenhando em uma comunhão de interesses. 
41 
 
O CDC elenca uma série de princípios que devem ser verificados em 
relação à publicidade: 
 
 
 princípio da identificação da mensagem publicitária (art. 36); 
 princípio da vinculação contratual da publicidade (art. 30); 
 princípio da veracidade (art. 37, § 2°); 
 princípio do ônus da prova a cargo do fornecedor (art. 38); 
 princípio da transparência da fundamentação da publicidade (art. 
36, parágrafo único); 
 princípio da correção do desvio publicitário (art. 56, XII). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Como vimos, a publicidade surgiu no século XIX, após a Revolução 
Industrial, como forma de incentivar o consumo e equilibrar a produção. O 
Código de Defesa do Consumidor prevê uma série de princípios que, além 
de regular o trabalho publicitário, destinam-se à proteção do consumidor. 
42 
Unidade 2 - A publicidade ilícita: Publicidade Enganosa e Publicidade 
Abusiva 
 
 
 
 
 
Na unidade passada, vimos a origem da publicidade e os princípios 
elencados pelo CDC para proteção ao consumidor. 
 
 
Nesta, vamos conhecer as formas de publicidade ilícita e diferenciá-las. 
Mas, primeiro, procuremos entender o que significam os termos publicidade 
e propaganda, muito usados nos meios de comunicação. 
 
 
Publicidade x Propaganda 
 
 
 
Muito se confunde publicidade com propaganda, como se fossem 
sinônimos. Não o são: 
 
 
 
 
 A publicidade é caracterizada pelo intuito comercial, nasce e 
finaliza com o escopo negocial. 
 A propaganda tem por fim ideais, geralmente com fins 
humanitários, religiosos, políticos ou cívicos. 
43 
Publicidade Enganosa 
 
 
 
Publicidade enganosa no CDC 
 
 
 
O princípio da veracidade da publicidade encontra respaldo legal no artigo 
37, § 1º, do Código de Defesa do Consumidor: 
Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. 
 
§ 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação 
de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer 
outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o 
consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, 
quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados 
sobre produtos e serviços. 
(...) 
 
§ 3° Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por 
omissão quando deixar de informar
sobre dado essencial do produto 
ou serviço. 
 
 
O que é a publicidade enganosa? 
 
 
 
Por publicidade enganosa entenda-se aquela que tem como característica 
induzir o consumidor em erro. O intuito desse tipo de publicidade é o de iludir, 
burlar, lograr, embaçar, esconder, disfarçar. Enfim, criar no imaginário das 
pessoas um cenário a respeito do produto que não corresponde à sua 
realidade, utilizando-se para tal de informação errônea a respeito da 
natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço 
e quaisquer outros dados sobre produtos, como bem elencado pelo CDC. 
44 
Não se deve confundir publicidade enganosa com publicidade falsa 
 
 
 
É possível que uma mensagem publicitária seja enganosa ainda que não 
possua qualquer elemento de falsidade. Nesse sentido, por exemplo, um 
premiado anúncio comercial veiculado na televisão pela Folha de São Paulo 
na década de 80 trazia um filme onde se via círculos pretos e brancos na tela 
enquanto uma voz calma e determinada narrava os grandes feitos de um 
homem. 
 
 
Com o passar do tempo, os pontos iam se modificando, até que se 
percebia que era uma fotografia muito próxima da lente de filmagem, que ia 
se distanciando lentamente e prometia, então, mostrar a figura tão festejada 
pela voz de fundo. 
 
 
Em meio ao rufar de tambores, eis que aparece a foto de Adolf Hitler, 
responsável pelo holocausto, um dos piores momentos da história humana. 
No fim, com essa imagem, a voz concluía: “É possível contar um monte de 
mentiras, dizendo só a verdade...” Uma aula sobre publicidade enganosa! 
 
 
Elemento criativo e fantasioso da publicidade 
 
 
 
 
Igualmente equivocado seria levar o princípio da 
veracidade da publicidade, consagrado no art. 37 do 
CDC, às últimas consequências, não permitindo a 
liberdade criativa do publicitário. Assim, quando 
aquilo que não é verdadeiro sai do campo da 
realidade para adentrar o espaço da fantasia, não 
teremos aí uma publicidade enganosa. Um tapete que voa, o motor de um 
carro composto por pôneis ou um animal falante não têm o condão de 
45 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tipos de publicidade enganosa: 
 
 
 
 Por comissão (ou por ação): o anunciante induz o consumidor 
em erro fazendo declaração falsa sobre o produto ou serviço. 
*Ver jurisprudência por Comissão 
 
 
 
Exemplo: Produto anunciado afirma que tira riscos da pintura dos carros 
quando, na verdade, o máximo que pode fazer é limpar a área onde aplicado. 
 
 
 
 
 
 
 Por omissão: o anunciante induz o consumidor em erro deixando 
de informar algo essencial referente ao produto ou serviço. 
**Ver jurisprudência por Omissão 
ludibriar o consumidor, pois nesses casos a criação não tem o objetivo de 
informar, mas tão somente de atrair a atenção das pessoas. O elemento 
fantasioso é evidente o suficiente para desconfigurar a indução ao erro. 
46 
 
Essencial 
 
No caso da omissão, a questão que aqui se enfrenta é lidar com a 
subjetividade do termo “essencial”. 
Mas afinal, o que é essencial? 
 
Como bem ilustra Rizzato Nunes (2011. p. 555), “constrói-se um conceito 
de essencial naquilo que importa à publicidade. E, nessa linha, é de dizer que 
essencial será aquela informação ou dado cuja ausência influencie o 
consumidor na sua decisão de comprar, bem como não gere um 
conhecimento adequado do uso e consumo do produto ou serviço 'realmente', 
tal como são”. 
No que se refere à conduta omissiva, cabe salientar que ela ocorre não 
por qualquer omissão. Não é a falta de informação sobre condições que já 
são de domínio público. Por exemplo, não é preciso informar que o carro 
anunciado precisa de combustível para cumprir o seu objetivo de transporte. 
Exemplo de omissão: Uma televisão é anunciada com grande chamariz 
para sua característica de conectividade à Internet sem o uso de fios, em que 
o consumidor poderá navegar pela rede mundial, assistir a vídeos 
diretamente na tela da tevê, consultar seus e-mails etc. Entretanto, omite 
que para tornar isso possível o consumidor terá que comprar outro aparelho, 
um dispositivo específico, responsável justamente pela conectividade sem fio. 
 
 
 
Importante! Na publicidade enganosa, para fins do art. 37 do CDC, a 
intenção é irrelevante. A questão da boa ou má-fé do anunciante não 
interfere na caracterização da publicidade enganosa. 
47 
Enganosidade potencial 
 
O CDC não exige a ocorrência do dano em concreto aos consumidores 
para a configuração da publicidade enganosa. A simples detecção da 
enganosidade, ainda que não amparada em caso de lesão real a consumidor, 
é o suficiente para o enquadramento na proibição do art. 37 do CDC. Diz-se, 
portanto, que se pune a capacidade em abstrato de induzir em erro. Isto 
posto, trata-se de matéria que pode ser denunciada por qualquer pessoa, 
independente da condição ou não de consumidora daquele produto. 
 
 
Vamos, agora, conhecer a outra forma de publicidade ilícita, conforme 
aponta o Código de Defesa do Consumidor: a Publicidade Abusiva 
 
 
Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. 
 
 
 
(...) 
 
 
 
§ 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer 
natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se 
aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita 
valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar 
de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. 
 
 
 
A publicidade abusiva não se sustenta no erro ou na tentativa de induzi-lo, 
mas sim nos meios escusos, contrários à ética, utilizando-se da 
suscetibilidade dos consumidores para "empurrar" aquilo que se quer 
vender. 
48 
São, por exemplo, os anúncios que denigrem a imagem de certo grupo de 
pessoas, que veiculem mensagens racistas, comerciais que incitem um 
comportamento não tolerado, como o de agressão ao meio ambiente, que se 
aproveitem do poder de julgamento ainda em formação das crianças para 
incutir um desejo pelo produto ou ainda que promovam uma conduta que 
pode pôr em perigo sua saúde ou segurança. 
 
 
 Exemplo: Comercial de marca de roupa que mostra policiais 
militares do Rio de Janeiro revistando mulheres de forma 
abusiva. Tal publicidade existiu e foi considerada abusiva uma 
vez que incitava a violência, mostrava as mulheres como objetos 
e agredia a imagem da cidade. A marca chegou a pedir desculpas 
e retirou a campanha publicitária. 
 
 
 
 
 
 
Síntese 
 
Solidariedade na publicidade enganosa e abusiva 
 
 
 
Há solidariedade entre o fornecedor do produto (anunciante) e o veículo 
de comunicação onde o anúncio é realizado? 
 
 
A matéria não é pacífica. Há corrente doutrinária, liderada por Nelson Nery 
Junior e Paulo Jorge Scartezzini Guimarães, que entende haver sim a 
solidariedade entre tais personagens. De outro lado, Zelmo Denari e Rizzato 
Nunes defendem justamente o contrário, alegando que, como o próprio nome 
diz, as empresas contratadas para propagar as mensagens publicitárias são 
meros veículos e não possuem o conhecimento da matéria, apenas 
reproduzem informações que lhes são repassadas. 
49 
 
 
 
 
Na jurisprudência, igualmente, encontramos ambas as posições, o que 
pode ser confirmado da leitura dos seguintes julgados do Superior Tribunal 
de Justiça. 
Já Sérgio Cavalieri Filho defende uma terceira linha de pensamento, que, 
em regra, adota a posição de que não há solidariedade, exceto quando houver 
dolo ou culpa da empresa de comunicação. E, desse modo, afirma: “Em 
situações de patente publicidade enganosa ou quando a empresa de 
comunicação está ciente da incapacidade do anunciante de cumprir o 
prometido, não há como deixar de
reconhecer a responsabilidade do veículo 
de comunicação por violação ao dever de vigilância sobre os anúncios que 
veicula". 
 
 
 
 
 
Como visto, a publicidade enganosa se resume ao uso de meios que 
induzem ao erro para convencer o consumidor a comprar um determinado 
produto ou contratar um serviço. A publicidade abusiva, por sua vez, 
caracteriza-se pelo uso de mensagem inescrupulosa e ofensiva para atingir 
seus meios. 
50 
 
Unidade 3 - Força vinculante da publicidade para o fornecedor 
 
 
 
 
 
 
Estudamos na unidade anterior as formas de publicidade ilícita, quais 
sejam, a publicidade enganosa que induz o consumidor ao erro, e a abusiva, 
caracterizada pelo uso de mensagem inescrupulosa e ofensiva. Tratamos, 
ainda, neste módulo das origens da publicidade, bem como das diferenças 
entre publicidade e propaganda. 
 
 
Vamos, então, tratar sobre a vinculação da oferta, que chamamos de 
força vinculante. 
 
 
Ao disciplinar a oferta em seção própria inaugurada pelo art. 30 e 
esmiuçada pelos artigos seguintes, o CDC inovou ao vincular o anunciante à 
oferta que este realiza. É o que chamamos de princípio da vinculação. 
 
 
Em comparação com a prescrição do direito privado, na forma do art. 427 
do Código Civil, o CDC diferencia-se na medida em que impede que o 
fornecedor venha a evadir-se de sua responsabilidade impondo limites e 
condições atrelados à sua oferta. Observe: 
 
 
“Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, 
veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a 
produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor 
51 
que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a 
ser celebrado.” 
 
 
Qual a relação entre o princípio da vinculação e o marketing? 
 
O princípio da vinculação guarda estreita relação com o que nos 
acostumamos a chamar de “marketing”. Por “marketing” entenda-se o 
conjunto de estratégias e ações que provêm o desenvolvimento, o 
lançamento e a sustentação de um produto ou serviço no mercado 
consumidor. 
 
 
Como podemos entender o termo “informação”, no artigo 30 do CDC? 
 
O caput do art. 30 do CDC distingue informação de publicidade, 
acentuando, com isso, o alcance da vinculação à publicidade e, ao mesmo 
tempo, não descuidando de dar previsão a toda informação veiculada no 
interesse de alcançar o consumidor, ainda que não faça parte de uma peça 
publicitária propriamente dita. 
Informação, para os fins que aqui se discute, é toda manifestação do 
fornecedor que não seja considerada anúncio. 
 
 
Como entender o termo “suficientemente precisa”? 
 
Por “suficientemente precisa” é de se conceber que o simples exagero não 
é suficiente para vincular o fornecedor. Os casos em que o anúncio promete, 
por exemplo, “a melhor pizza do bairro” ou “o melhor óleo de motor do 
mercado” não contêm precisão suficiente para gerar a obrigação do 
fornecedor. Entretanto, caso este utilize o mesmo expediente para algo que 
pode ser aferido com certa tranquilidade, como “o melhor preço da cidade” 
ou “o café mais barato do Brasil”, a vinculação passa a ser possível. 
52 
E se o fornecedor recusar-se a cumprir sua oferta ou mesmo se este 
sequer possui os meios para o seu cumprimento? 
Preceitua o CDC, em seu art. 35, que: 
 
“Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento 
à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, 
alternativamente e à sua livre escolha: 
 
 
I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, 
apresentação ou publicidade; 
II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente; 
 
III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia 
eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e 
danos.” 
 
 
E em sites de Internet que promovem a compra coletiva? 
 
Nos dias atuais, tem sido cada vez mais comum a oferta de produtos e 
serviços por meio de sítios na Internet que promovem a compra coletiva, 
opção em que, ao alcançar certo número de interessados de fato, o produto 
ou serviço anunciado é vendido por um preço normalmente abaixo do valor 
de mercado. 
Com isso as queixas têm aumentado, e muitas vezes o fornecedor (ou a 
empresa por trás do sítio) que ofereceu o produto ou serviço não possui mais 
o produto em estoque. Ambos podem ser responsabilizados. Nesses casos, a 
restituição, nos moldes do inciso III, aparece como alternativa justa e viável. 
53 
E no ramo imobiliário? 
 
Na seara imobiliária são facilmente detectáveis os exemplos da 
vinculação, quando no objetivo de atrair o cliente, o empreendedor ou 
vendedor promete mundos e fundos em relação ao acabamento do imóvel, 
sem honrar com suas promessas no momento da entrega das chaves. 
Tendo por base o princípio da boa-fé objetiva, em que o fornecedor deve 
se portar no sentido de cumprir os deveres anexos de lealdade, proteção, 
informação, confiança e cooperação, resta subentendido que a oferta 
integrará o contrato firmado, independentemente de estar ou não contida nas 
cláusulas escritas deste. 
 
 
Como o consumidor deve se prevenir? 
 
 
 
 
 
 
 
 
E quando há erro ou engano na publicidade? 
 
Cumpre diferenciar a oferta daqueles casos em que é latente que o preço 
foi veiculado com base em erro. 
 
 
Exemplo: Se um aparelho de TV específico tem o valor médio de mercado 
de R$ 5.000,00, uma oferta dele por R$ 50,00, ou seja, 1% do valor real, é 
 
Desse modo, de nada adianta ao fornecedor prometer e depois escusar- 
se de sua responsabilidade alegando que aquilo não fora 
pactuado, uma vez que não consta da redação. E, por 
isso, é importante que o consumidor guarde toda peça 
de publicidade onde constem as ofertas, com o fim de 
facilitar a comprovação do que ocorreu. 
54 
provavelmente um erro de digitação ou de entendimento de quem se 
responsabilizou pela edição da publicidade. 
 
 
Utilizando o mesmo exemplo, se a mesma TV é ofertada por R$ 4.500,00, 
é razoável entender que se trata de uma oferta com desconto de 10% do 
valor normal. 
 
 
Nesse último caso, não poderá o fornecedor se eximir do cumprimento da 
oferta. 
Jurisprudência: Força Vinculante da publicidade para o fornecedor 
 
 
 
 
 
 
Parabéns! Você chegou ao final do Módulo III do curso Introdução ao 
Direito do Consumidor (parceria ILB e ANATEL). 
 
 
Como parte do processo de aprendizagem, sugerimos que você faça uma 
releitura do mesmo e resolva os Exercícios de Fixação. O resultado não 
influenciará na sua nota final, mas servirá como oportunidade de avaliar o 
seu domínio do conteúdo. Lembramos ainda que a plataforma de ensino faz 
a correção imediata das suas respostas! 
Para ter acesso aos Exercícios de Fixação, clique aqui. 
Agora que você está apto a identificar a origem da publicidade e seu 
contexto atual, pronto para diferenciar as formas de publicidade ilícita, 
reconhecer as forças vinculantes da propaganda para o fornecedor e como 
o consumidor pode se preservar, siga em frente! 
http://saberes.senado.leg.br/mod/quiz/view.php?id=31009
55 
MÓDULO IV - AS PRÁTICAS ABUSIVAS 
 
 
 
 
 
- informar o tipo de cobrança admitida pelo 
CDC. 
- Conceituar e identificar as práticas abusivas; 
56 
 
Unidade 1 - As práticas abusivas e o CDC 
 
 
Vimos, nas unidades anteriores, como diferenciar publicidade de 
propaganda e a identificar suas práticas ilícitas. Vamos, agora, especificar 
algumas das práticas abusivas previstas no Código de Defesa do Consumidor. 
 
 
O que são as práticas abusivas? 
 
 
 
As práticas abusivas dizem respeito a toda atitude contrária ao senso 
comum que afronta quaisquer benefícios ou direitos do consumidor, despreza 
o costume
comercial ou se utiliza do abuso de direito. 
 
 
As práticas abusivas e o CDC 
 
 
 
Os fornecedores deveriam agir corretamente para não se enquadrarem 
no rol exemplificativo do artigo 39 do CDC, ou seja, nos seguintes quesitos: 
 
 
 
 
Das Práticas Abusivas 
 
Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras 
práticas abusivas: 
 
 
I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de 
outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos; 
57 
II - recusar atendimento às demandas dos consumidores, na exata medida 
de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade com os usos 
e costumes; 
 
 
III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer 
produto, ou fornecer qualquer serviço; 
 
 
IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista 
sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus 
produtos ou serviços; 
 
 
V - exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva; 
 
 
 
VI - executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e autorização 
expressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes de práticas anteriores 
entre as partes; 
 
 
VII - repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo 
consumidor no exercício de seus direitos; 
 
 
VIII - colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em 
desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, 
se normas específicas não existirem, pela Associação Brasileira de Normas 
Técnicas ou outra entidade credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, 
Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro); 
58 
IX - recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente a quem 
se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento, ressalvados os casos 
de intermediação regulados em leis especiais; 
 
 
X - elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços; 
 
 
 
XI - (Dispositivo incluído pela MPV nº 1.890-67, de 22.10.1999, transformado 
em inciso XIII, quando da converão na Lei nº 9.870, de 23.11.1999); 
 
 
XII - deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou deixar 
a fixação de seu termo inicial a seu exclusivo critério; 
 
 
XIII - aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou 
contratualmente estabelecido. 
 
 
Parágrafo único. Os serviços prestados e os produtos remetidos ou entregues 
ao consumidor, na hipótese prevista no inciso III, equiparam-se às amostras 
grátis, inexistindo obrigação de pagamento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O Código de Defesa do Consumidor elenca, em seu art. 39, diversas 
práticas que afrontam o consumidor, desprezam o costume comercial ou 
se utilizam do abuso de direito. 
59 
Unidade 2 - Venda casada 
 
 
Na unidade anterior, vimos o conceito de práticas abusivas e os exemplos 
previstos no art. 39 do CDC. Vamos, nesta unidade, conhecer a primeira das 
quatro práticas que mais causa danos ao consumidor, prevista no inciso I. A 
saber: a venda casada. 
 
 
Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras 
práticas abusivas: 
 
 
I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento 
de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites 
quantitativos; 
 
 
(...) 
 
 
 
Como o CDC entende a venda casada? 
 
 
 
 
O CDC explica a “venda casada” como sendo 
condicionar o fornecimento de um produto ou 
serviço, ao fornecimento de outro. A melhor 
maneira de entender a venda casada consiste 
nos exemplos que o dinamismo das ofertas e inserção de marketing têm a 
oferecer aos consumidores, sejam na forma de serviços, nas gôndolas de 
supermercados, nos restaurantes etc. Resta saber até que ponto podem os 
comerciantes se utilizar das chamadas vendas casadas para que assim 
sejam consideradas. 
60 
Exemplos de venda casada 
 
 
 
 
 
 
 
 
Quanto aos serviços, caso uma determinada prestadora de telefonia 
ofereça um pacote com linha telefônica, internet e televisão a cabo, por um 
valor promocional: trata-se de venda casada? 
Existindo a opção de contratar qualquer uma dessas opções em separado, 
não há o que falar em venda casada. Mais difícil é separar os serviços de 
telefonia fixa e internet banda larga, principalmente quando esta última é 
prestada via ADSL, que necessita da linha telefônica fixa para funcionar. 
Ainda assim, é direito do consumidor receber esses serviços isoladamente, 
caso assim queira. 
 
Supermercado - Vejamos o mais simples exemplo do 
supermercado, quando vincula um certo produto a 
determinada quantidade, como nas promoções "leve 3, 
pague 2". A venda casada se configuraria caso o 
supermercado não oferecesse o produto isolado, ainda que por preço maior. 
A venda casada ilegal ocorre quando o consumidor não tem a opção de 
comprar somente um produto. Colocar preço especial para quem leva mais 
do mesmo produto não é venda casada. 
Telefonia móvel e fixa - Serve de exemplo a vinculação do valor de 
um telefone móvel a determinado plano de serviço, desde que fidelize junto 
à prestadora de telefonia. Não há obrigação de oferecer esse aparelho pelo 
melhor preço ofertado para todos, independente do plano; o que não pode 
é a prestadora não dar ao cliente a opção de comprar o produto sem 
fidelização, ainda que seja mais caro. Ver legislação (art. 40 da Resolução 
477, de 07/08/2007, que trata do Regulamento de Serviço Móvel Pessoal). 
61 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A seguinte decisão revela essa mesma orientação: “Apelação cível. AÇÃO 
CIVIL PÚBLICA. CONTRATO DE FIDELIZAÇÃO DE SERVIÇO DE TELEFONIA 
MÓVEL. VALIDADE. OPÇÃO DE COMPRA CONCEDIDA AO CONSUMIDOR. 
 
 
1. A estipulação de multa de fidelização em contrato telefônico, por si só, 
não é nula, desde que a contrapartida de sua estipulação prime pelo equilíbrio 
contratual. (Precedentes). 
A realidade é que atualmente a necessidade de inclusão digital induz o 
consumidor, carente de informação e em posição vulnerável, a consumir 
dois serviços quando queria somente um. 
Veja a ação ajuizada pelo Ministério Público Federal relativamente ao 
assunto: Telefonia Móvel 
 
Para refletir 
Você já percebeu que as lojas de telefone celular sempre têm dois 
preços para os celulares: um valor para aquisição no plano pré-pago e outro 
para o pós-pago. Você nunca se perguntou por quê? 
http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/992580/mod_book/chapter/73867/telefoniaMovel.pdf
62 
2. A multa prevista no contrato tem natureza jurídica de cláusula penal e 
objetiva prefixar o valor das perdas e danos sofridos pela operadora, no caso 
de o assinante infringir o prazo de fidelidade. 
3. O consumidor pode comprar ou não o aparelho celular, com ou sem 
desconto. Se com desconto, em contrapartida, fica vinculado à operadora 
pelo prazo de carência estipulado no contrato, salvo, dentre outras, nas 
hipóteses de fortuito, extravio ou furto do aparelho, casos em que se admite 
a rescisão do negócio jurídico, sem ônus para o consumidor. 
 
 
4. Recurso conhecido e desprovido, sentença mantida. (TJDFT - 
20060111303538APC, Relator JOÃO BATISTA TEIXEIRA, 3ª Turma Cível, 
julgado em 09/02/2011, DJ 17/03/2011, p. 182). 
 
 
Serviços bancários - Nos serviços bancários, também se condicionam a 
abertura de conta ou a aquisição de empréstimo a outros serviços, cuja 
vinculação não tem nenhuma explicação para tais contratações, senão onerar 
o consumidor. Ver legislação. 
 
 
 
 
Síntese 
 
 
 
Ver jurisprudência: para terminar e aguçar ainda mais o seu interesse, 
vamos conhecer o voto do acórdão, com o intuito de aprofundar sobre o 
significado da prática abusiva
de venda casada. 
Vejamos também os exemplos colacionados pelo Tribunal de Justiça do 
Distrito Federal e Territórios em obra disponibilizada em seu site sobre o CDC. 
63 
 
 
Síntese 
Como vimos, o CDC explica o termo "venda casada" como sendo o 
condicionamento do fornecimento de um produto ou serviço, ao 
fornecimento de outro, sendo essa prática considerada abusiva. 
64 
Unidade 3 - Recusa de contratar pelo fornecedor 
 
 
Na unidade anterior, vimos o conceito de “venda casada”, a primeira das 
quatro práticas que mais causam danos ao consumidor. Agora estudaremos 
a “recusa de contratar pelo fornecedor”. Vejamos o CDC, art. 39: 
 
 
 
 
 
 
Das Práticas Abusivas 
 
 
 
Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras 
práticas abusivas: 
 
 
(...) 
 
 
 
II - recusar atendimento às demandas dos consumidores, na exata 
medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade 
com os usos e costumes; 
 
 
(...) 
 
 
 
 
 
 
 
 
A vedação à recusa em vender ou fornecer um produto ao consumidor, 
conforme o artigo citado, revela que o intuito do fornecedor deve ser oferecer 
65 
seu produto ou serviço e se inserir no mercado. Não se poderia imaginar sua 
atuação de forma diferente, já que está obrigado a vender o produto ou 
prestar o serviço se assim for solicitado. 
 
 
Tal regra não pode ser analisada sem a vinculação da oferta, prevista no 
art. 30 do CDC, pela mesma razão aqui explicitada. Confira: 
 
 
Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, 
veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a 
produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a 
fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado. 
 
 
Ora, a oferta nada mais significa que atrair o consumidor a determinado 
estabelecimento, faltando motivos ao fornecedor para se recusar a oferecer 
o produto ou serviço ofertado. Aliás, a oferta sugere que o consumidor 
compre o produto ou contrate o serviço, ainda que tal venda não seja feita 
no estabelecimento, como a possibilidade de compra pela Internet, por 
exemplo. 
 
 
O motorista de táxi, pelo CDC, não poderia se recusar em fazer uma 
corrida, ainda que a distância seja pequena, segundo exemplo colocado pela 
nossa doutrina. 
66 
Síntese 
 
 
 
Vale recordar outra prática abusiva, cujo assunto está interligado com a 
recusa de contratar do fornecedor. 
 
 
Trata-se do art. 39, inciso IX, que veda recusar a venda de bens ou a 
prestação de serviços, diretamente a quem se disponha a adquiri-los 
mediante pronto pagamento, ressalvados os casos de intermediação 
regulados em leis especiais. Nessa situação, por pronto pagamento entenda- 
se a moeda brasileira e não o cheque, haja vista que o cheque se trata de 
uma ordem de pagamento, e sua efetivação como preço dar-se-á apenas com 
a sua compensação. 
 
 
 
 
Síntese 
Conforme o art. 39 do CDC, é considerada prática abusiva a recusa 
ao atendimento às demandas dos consumidores, assim como descumprir 
oferta veiculada e recusar a venda de bens ou a prestação de serviços 
diretamente a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento. 
67 
Unidade 4 - Execução de serviço sem orçamento prévio 
 
 
Vistas duas das práticas abusivas consideradas pelo CDC (venda casada 
e recusa de contratar pelo consumidor), vamos entender a terceira: execução 
de serviço sem orçamento prévio. 
 
 
. O CDC e a execução de serviço sem orçamento prévio: 
 
 
 
O Código de Defesa do Consumidor veda também a feitura de um 
determinado serviço sem que o consumidor saiba quanto vai despender e se 
o mesmo autorizou a realização do serviço. Veja a redação do artigo 39, inciso 
VI: 
“VI - executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e 
autorização expressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes de 
práticas anteriores entre as partes;” 
 
 
Esse artigo deve ser analisado juntamente com o artigo 40, que trata 
especificamente da questão do orçamento prévio: 
 
 
 
 
 
 
“Art. 40. O fornecedor de serviço será obrigado a entregar ao 
consumidor orçamento prévio discriminando o valor da mão de obra, 
dos materiais e equipamentos a serem empregados, as condições de 
pagamento, bem como as datas de início e término dos serviços. 
§ 1º Salvo estipulação em contrário, o valor orçado terá validade pelo 
prazo de dez dias, contado de seu recebimento pelo consumidor. 
68 
§ 2° Uma vez aprovado pelo consumidor, o orçamento obriga os 
contraentes e somente pode ser alterado mediante livre negociação 
das partes. 
§ 3° O consumidor não responde por quaisquer ônus ou acréscimos 
decorrentes da contratação de serviços de terceiros não previstos no 
orçamento prévio.” 
 
 
Síntese 
 
Basta que o orçamento esteja feito? 
 
 
 
Vale mencionar que a simples elaboração do orçamento não viabiliza a 
realização do serviço: é necessário que haja autorização expressa do 
consumidor. 
Assim também entende o STJ, quando adota os posicionamentos abaixo 
transcritos sobre o tema. Observe: 
“O art. 39, VI, do Código de Defesa do Consumidor, determina que o 
serviço somente pode ser realizado com a expressa autorização do 
consumidor. Em consequência, não demonstrada a existência de tal 
autorização, é imprestável a cobrança, sendo devido, apenas, o valor 
autorizado expressamente pelo consumidor." 
“Se o consumidor deixa de impugnar os valores cobrados pelos serviços 
prestados, não discordando, por conseguinte, do montante da dívida, não se 
há falar em prática abusiva pelo fornecedor, mesmo que ausente o orçamento 
prévio. 
 
 
Ver jurisprudência sobre: execução do serviço sem orçamento prévio 
http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/992580/mod_book/chapter/73877/ExecucaoDoServicoSemOrcamentoPrevio.pdf
69 
 
 
 
 
 
Síntese 
Como vimos no art. 39, inciso VI, o CDC veda a execução de um 
determinado serviço sem que o consumidor tenha conhecimento do 
valor que será cobrado e sem sua autorização expressa. Porém, esse artigo 
deve ser analisado juntamente com o art. 40, que trata especificamente da 
questão do orçamenteo prévio. 
70 
Unidade 5 – Cobrança de dívidas 
 
 
Finalizaremos o módulo com a última prática abusiva relacionada pelo 
Código: a forma de cobrança de dívidas. 
 
 
Primeiramente, observemos como o assunto está normatizado pelo CDC: 
 
 
 
“Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será 
exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de 
constrangimento ou ameaça. 
 
 
Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem 
direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou 
em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo 
hipótese de engano justificável. 
 
 
Art. 42-A. Em todos os documentos de cobrança de débitos 
apresentados ao consumidor, deverão constar o nome, o endereço e o 
número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas – CPF ou no 
Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica – CNPJ do fornecedor do produto 
ou serviço correspondente. (Incluído pela Lei nº 12.039, de 2009)” 
 
 
 
 
Há de se esclarecer que causar vexame, 
transtorno ou medo gera uma situação muito 
constrangedora para qualquer ser humano, 
ainda que seja devedor. 
71 
Exemplo: Pode-se ilustrar essa situação por meio do filme “Os delírios de 
consumo de Becky Bloom”, cuja protagonista tem compulsão por compras, e 
gasta muito em cartões de crédito. No decorrer da história, com uma dívida 
de milhares de dólares, um determinado cobrador liga e manda 
correspondências continuamente para a sua casa. Impossibilitada de pagar, 
a protagonista inventa
mil desculpas. Até que, por força do destino, ela 
consegue o emprego de consultora de economia pessoal numa revista e 
ganha prestígio nacional. Mas o cobrador continua a persegui-la. 
 
 
Quer saber o final dessa história de cobrança que causa vexame? Procure 
assistir ao filme, que além de tudo proporciona boas risadas. 
 
 
Síntese 
 
Então, como podem ser cobradas as dívidas, na prática? 
 
 
 
Existem formas específicas de se proceder à cobrança de dívidas: a 
judicial e a extrajudicial. 
 
 
Vamos entendê-las: 
 
 
 
 
 
 Cobrança judicial: possui todo um rito próprio, que foi 
modificado para inserir como principal forma de pagamento o 
dinheiro, tornando-se mais fácil sua utilização. 
 Cobrança extrajudicial: não possui rito ou forma previamente 
delineado, e é onde por vezes a criatividade de cobradores chega 
ao inadmissível e à ilegalidade, tantas são as maneiras 
72 
inventadas para que o devedor seja compelido a efetuar o 
pagamento. 
 
 
 
 
 
 
 
Antes de terminar este módulo... 
 
 
 
... vale mencionar a questão do superendividamento. Embora não seja objeto 
desta unidade, é importante destacarmos o assunto, haja vista a relativa 
facilidade de crédito atualmente, o que leva muitos a não se preocuparem 
com o montante pago ao final de cada empréstimo, contabilizando apenas o 
pequeno valor da parcela e progressivamente se afundando em débitos. A 
cobrança de dívidas de consumidores nesta situação é difícil porque quando 
renegociam, já pensam em comprar novamente. 
 
 
Ver jurisprudência sobre o tema 
Síntese 
Como vimos, a cobrança de dívidas de consumidores deve 
respeitar normas estabelecidas pelo CDC, para evitar 
constrangimentos aos devedores. Os abusos comumente são realizados no 
meio extrajudicial, e para coibi-los existem penas e multas para os casos 
de abusos relacionados no art. 71 do Código. 
Veja o artigo 71 do CDC: 
"Art. 71. Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, 
constrangimento físico ou moral, afirmações falsas incorretas ou enganosas 
ou de qualquer outro procedimento que exponha o consumidor, 
injustificadamente, a ridículo ou interfira com seu trabalho, descanso ou 
lazer: 
Pena Detenção de três meses a um ano e multa." 
http://www17.senado.gov.br/file/file/download/file/dXBsb2FkL2NvbXBvc2VyL19mM2QzMTg1ZmZiM2I3NGRkZDIyMGJkOGIxZTdlMjc2YS5kb2M%3D
73 
 
 
 
 
Parabéns! Você chegou ao final do Módulo IV do curso (parceria ILB e 
ANATEL). 
 
 
Como parte do processo de aprendizagem, sugerimos que você faça uma 
releitura do mesmo e resolva os Exercícios de Fixação. O resultado não 
influenciará na sua nota final, mas servirá como oportunidade de avaliar o 
seu domínio do conteúdo. Lembramos ainda que a plataforma de ensino faz 
a correção imediata das suas respostas! 
 
 
Porém, não esqueça de realizar a Avaliação Final do curso, que encontra- 
se no Módulo de Conclusão. Lembramos que é por meio dela que você pode 
receber a sua certificação de conclusão do curso. 
Para ter acesso aos Exercícios de Fixação, clique aqui. 
http://saberes.senado.leg.br/mod/quiz/view.php?id=31011
74 
MÓDULO V – BANCO DE DADOS E CADASTRO DE CONSUMIDORES 
 
 
 
 
 
- Conceituar os mecanismos de captação de 
informação dos consumidores; 
- identificar como é tratada a questão da 
dívida discutida em juízo; 
- apontar a finalidade e o período em que pode 
ser consignado o nome do consumidor em 
banco de dados de Sistema de Proteção ao 
Crédito. 
75 
Unidade 1 - Acesso do consumidor às informações a ele relativas 
 
 
Agora que já vimos as práticas abusivas e suas consequências, vamos 
tratar sobre os mecanismos de captação de dados dos consumidores, bem 
como seu acesso a eles. Veremos ainda como são tratadas as dívidas 
discutidas em juízo. 
 
 
Vamos iniciar conceituando dados cadastrais. 
 
O conceito de dados cadastrais consiste em informações detidas por 
certos bancos, que agregam conteúdo sobre a vida de um indivíduo. 
 
 
Banco de dados e cadastro de consumidores 
 
 
 
Banco de dados é o mesmo que cadastro de consumidores? 
 
Não. Na verdade há uma distinção importante entre banco de dados e 
cadastro de consumidores. 
O cadastro resume-se a informações prestadas diretamente pelo 
consumidor, como sucede em lojas, promoções na internet, dentre outros, 
cuja finalidade não se vincula à formação de banco de dados, o que não o 
inviabiliza, é claro. 
O banco de dados, por sua vez, trabalha com uma diferença na origem 
dessa informação, já que é proveniente do fornecedor, e a finalidade reside 
na agregação de maiores informações possíveis sobre determinada pessoa e 
serve de consulta para demais lojas, bancos, comércio, indivíduos, entre 
outros, quando da obtenção do crédito. 
 
 
 
 
O CDC trata desses bancos da seguinte forma: 
76 
 
Dos Bancos de Dados e Cadastros de Consumidores 
 
 
 
Art. 43. O consumidor, sem prejuízo do disposto no art. 86, terá acesso às 
informações existentes em cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de 
consumo arquivados sobre ele, bem como sobre as suas respectivas fontes. 
§ 1° Os cadastros e dados de consumidores devem ser objetivos, claros, 
verdadeiros e em linguagem de fácil compreensão, não podendo conter 
informações negativas referentes a período superior a cinco anos. 
§ 2° A abertura de cadastro, ficha, registro e dados pessoais e de consumo 
deverá ser comunicada por escrito ao consumidor, quando não solicitada por 
ele. 
§ 3° O consumidor, sempre que encontrar inexatidão nos seus dados e 
cadastros, poderá exigir sua imediata correção, devendo o arquivista, no 
prazo de cinco dias úteis, comunicar a alteração aos eventuais destinatários 
das informações incorretas. 
§ 4° Os bancos de dados e cadastros relativos a consumidores, os serviços 
de proteção ao crédito e congêneres são considerados entidades de caráter 
público. 
§ 5° Consumada a prescrição relativa à cobrança de débitos do consumidor, 
não serão fornecidas, pelos respectivos Sistemas de Proteção ao Crédito, 
quaisquer informações que possam impedir ou dificultar novo acesso ao 
crédito junto aos fornecedores. 
Art. 44. Os órgãos públicos de defesa do consumidor manterão cadastros 
atualizados de reclamações fundamentadas contra fornecedores de produtos 
e serviços, devendo divulgá-lo pública e anualmente. A divulgação indicará 
se a reclamação foi atendida ou não pelo fornecedor. 
§ 1° É facultado o acesso às informações lá constantes para orientação e 
consulta por qualquer interessado. 
77 
§ 2° Aplicam-se a este artigo, no que couber, as mesmas regras enunciadas 
no artigo anterior e as do parágrafo único do art. 22 deste código. 
 
 
 
 
Quais os bancos de dados mais utilizados? 
 
 
 
 
 
 
O maior problema para o consumidor é a negativação de seus dados, 
decorrente do não pagamento de dívidas, impossibilitando ao consumidor o 
crédito e a compra. 
 
 
Qual a função desses bancos de dados? 
 
Ao longo do tempo, percebeu-se a utilização desses bancos de dados com 
a função de reunir, organizar e analisar as informações negativas a respeito 
das pessoas, sendo que, recentemente, foi publicada a Medida Provisória nº 
518, de 30 de dezembro de 2010, convertida na Lei 12.414, de 9 de junho 
de 2011, tratando de um banco de dados com informações positivas. 
 
Os bancos de dados mais estudados e objetos da 
jurisprudência nacional são SPC, Serasa e CCF, pois 
são estes que mais podem causar estrago para o 
consumidor quanto às questões, principalmente 
sobre crédito. Aliás, o consumidor depende do 
crédito com a política de financiamento incorporada no mercado brasileiro, 
e talvez também pela sociedade de consumo criada na atualidade. A 
ausência ou dificuldade
de crédito pode se tornar um grande problema para 
o consumidor. Ademais, a exposição da vida do consumidor é tamanha que 
ofende inclusive sua dignidade, muitas vezes desrespeitada por vazamento 
de informações específicas ou de bancos de dados inteiros. 
78 
Como devem ser os cadastros? 
 
 
 
 
 
 
Além disso, a lei do consumidor exigiu que os cadastros e dados dos 
consumidores sejam claros, objetivos e verdadeiros, podendo inclusive o 
consumidor exigir a correção de dados cadastrados inveridicamente, visando 
protegê-lo da inscrição indevida. 
 
 
Características dos dados 
 
 
 
E as características dos dados? 
 
Nesse aspecto, verifica-se que os conceitos sobre as características dos 
dados não estavam traçados no CDC. São definidos, atualmente, no § 2º do 
art. 3º da Lei nº 12.414/2011, quais sejam 
bancos de dados já 
estivessem 
regulados no CDC, 
como a viabilidade 
do acesso às 
informações sobre 
o consumidor, 
conforme 
destacado no art. 43, a sua disciplina mostrou-se muito restrita dada a 
regulação apenas no seu aspecto negativo, tornando-se vital para a 
economia um desenrolar mais acurado sobre a proteção dos cadastrados, 
retirando a insegurança das informações atuais desses bancos. 
os Embora 
79 
 informações objetivas, como aquelas descritivas dos fatos e 
que não envolvam juízo de valor; 
 informações claras, aquelas que possibilitem o imediato 
entendimento do cadastrado independentemente de remissão a 
anexos, fórmulas, siglas, símbolos, termos técnicos ou 
nomenclatura específica; 
 informações verdadeiras, aquelas exatas, completas e 
sujeitas à comprovação nos termos da Lei 12.414/2011; e 
 informações de fácil compreensão, aquelas em sentido 
comum que assegurem ao cadastrado o pleno conhecimento do 
conteúdo, do sentido e do alcance dos dados sobre ele anotados. 
 
 
Não foi por outra razão que se procurou evitar o desespero do consumidor 
quanto aos erros desses cadastros, e buscou-se criar o banco de dados 
positivo, conforme vimos, facilitando a vida de fornecedores e bons 
pagadores, diferenciando-os, portanto, dos devedores contumazes. 
 
 
A criação desse banco pode ser salutar na distinção entre bons e maus 
pagadores, e, ao mesmo tempo, resolver um problema da economia, para 
que não sejam estipuladas altíssimas taxas de juros, que oneram 
principalmente os bons pagadores, dada a ausência de informação sobre 
quem tem potencialmente a chance de obter o crédito e pagá-lo até o fim. 
Ora, essa situação tende a ser resolvida com a criação desse banco de dados 
positivo. 
 
 
E a dívida discutida em juízo? 
 
Entende-se na jurisprudência brasileira que o simples fato de estar se 
discutindo uma dívida em juízo não gera a presunção de que o valor não será 
pago. 
80 
Alguns cuidados devem ser analisados quando desta situação, até porque 
os títulos de crédito que se valem para pagar uma dívida gozam de certeza e 
liquidez. 
 
 
 
 
Síntese 
 
 
 
Então, a dívida discutida em juízo pode ser inscrita? 
 
 
 
Atualmente, a jurisprudência coloca como necessidade que a demanda 
judicial tenha plausibilidade e que o valor seja depositado ou pago, conforme 
o seguinte aresto: 
 
 
“CONSUMIDOR. CADASTRO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. O só 
ajuizamento de ação judicial para discutir o valor do débito não inibe a 
inscrição do nome do devedor nos cadastros de proteção ao crédito; é 
preciso que a demanda tenha o fumus boni juris e que o montante 
incontroverso da dívida seja depositado ou pago. Agravo regimental 
não provido.” 
 
 
Além desses requisitos, é necessária a informaçao complementar nos 
cadastros de proteção ao crédito que a dívida encontra-se sub judice. 
81 
 
 
 
 
 
 
 
Síntese 
Nesta unidade, vimos que os bancos de dados têm a função de 
reunir, organizar e analisar as informações negativas a respeito das 
pessoas. Recentemente, foi publicada norma tratando de um banco de 
dados com informações positivas. 
 
http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/992582/mod_book/chapter/73888/JurisprudenciaSobreCobrancaDeDividas.pdf
82 
 
Unidade 2 - Limite temporal de consignação 
 
 
Agora que discutimos sobre as informações contidas nos bancos de dados 
e cadastros dos consumidores, vamos ver o tempo em que as informações 
podem ficar registradas nestes bancos. 
 
 
Vamos conhecer os prazos? 
 
O CDC é claro ao estabelecer os limites temporais em que os dados de 
um determinado cidadão podem constar do banco de dados. Para tanto, 
estabelece o limite temporal de inscrição do consumidor em 5 (cinco) anos, 
na forma do art. 43, § 1º, e prazo prescricional previsto no art. 43, § 5º. 
Observe: 
 
 
Art.43. (...) 
 
§ 1° Os cadastros e dados de consumidores devem ser objetivos, 
claros, verdadeiros e em linguagem de fácil compreensão, não podendo 
conter informações negativas referentes a período superior a cinco 
anos. 
(...) 
 
§ 5° Consumada a prescrição relativa à cobrança de débitos do 
consumidor, não serão fornecidas, pelos respectivos Sistemas de 
Proteção ao Crédito, quaisquer informações que possam impedir ou 
dificultar novo acesso ao crédito junto aos fornecedores. 
83 
Prazo prescricional 
 
 
 
O que se entende por prazo prescricional? 
 
O prazo prescricional consiste na perda da pretensão do recebimento do 
valor devido em face do consumidor pelo decurso do tempo. Por isso, 
estabelece-se outro prazo distinto do limite temporal em que pode constar o 
nome do consumidor em banco de dados. 
Assim, se um consumidor emitiu um cheque para pagamento de uma 
dívida, sem adentrar no mérito dos prazos prescricionais para a cobrança de 
determinadas dívidas, poder-se-ia imaginar que uma vez expirado o prazo 
prescricional desse título, não mais poderia o fornecedor manter o nome do 
consumidor no banco de dados. 
Entretanto, a celeuma desses artigos foi tamanha que levou o STJ a se 
manifestar sobre o assunto. Vejamos: 
 
 
“Súmula 323 – A inscrição de inadimplente pode ser mantida nos serviços 
de proteção ao crédito por, no máximo, cinco anos." 
 
 
Sintese 
 
 
 
 
 
Síntese 
Embora haja dois artigos tratando do limite temporal, a 
jurisprudência brasileira tendeu a permanecer o nome do inadiplente pelo 
prazo de 5 (cinco) anos nos serviços de proteção ao crédito. 
84 
 
 
 
 
 
Parabéns! Você chegou ao final do Módulo V do curso Introdução ao 
Direito do Consumidor (parceria ILB e ANATEL). 
Como parte do processo de aprendizagem, sugerimos que você faça uma 
releitura do mesmo e resolva os Exercícios de Fixação. O resultado não 
influenciará na sua nota final, mas servirá como oportunidade de avaliar o 
seu domínio do conteúdo. Lembramos ainda que a plataforma de ensino faz 
a correção imediata das suas respostas! 
Para ter acesso aos Exercícios de Fixação, clique aqui. 
Ver jurisprudência: prazos 
http://saberes.senado.leg.br/mod/quiz/view.php?id=31013
http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/992582/mod_book/chapter/73885/Parzos.pdf
85 
MÓDULO VI - PROTEÇÃO CONTRATUAL 
 
 
- visualizar as situações práticas da proteção 
contratual através dos exemplos e de 
jurisprudência atualizada. 
- identificar cada hipótese legal exemplificativa 
das cláuculas abusivas e assim traçar a noção 
necessária para reconhecê-las; 
- compreender a importância da função social 
dos contratos; 
- identificar as características dos contratos nas 
relações de consumo; 
- Distinguir o contrato clássico do contrato de 
consumo; 
86 
Unidade 1- O contrato de consumo e o contrato clássico 
 
 
Até aqui estudamos vários aspectos imprescindíveis sobre o direito do 
consumidor, passamos pelas responsabilidades civis nas relações de 
consumo, detivemo-nos na publicidade
e suas implicações, e, no módulo 
anterior, tivemos oportunidade de concentrar nossa atenção nas práticas 
abusivas que mais causam danos ao consumidor. 
 
 
Veremos agora o contrato de consumo e o contrato clássico. 
 
 
 
 
 
Quais as formas dos chamados “contratos de consumo”, conforme 
entendidos pelo CDC ? 
 
 
Antes da chegada do Código de Defesa do Consumidor, as relações 
contratuais, inclusive as de consumo, tinham por alicerce a máxima de que 
“o contrato faz lei entre as partes”, em tradução livre ao princípio basilar dos 
contratos clássicos, chamado de pacta sunt servanda. 
 
 
A mudança trazida pelo CDC na matéria é significante. Estudamos na 
Unidade 3 do Módulo III que, ao vincular a oferta ao anunciante, o Código 
coloca a demonstração do compromisso firmado acima da cláusula contratual. 
 
 
 
É normal, ao falar de contrato, que venha à mente um maço 
de papéis preenchido por uma sequência de cláusulas 
estipulantes de direitos, deveres, características, definições 
etc. 
Esquecemo-nos, no entanto, que existem outras formas de 
contratar, as quais estão sendo realizadas todos os dias. 
87 
 
 
 
 
Vejamos o exemplo: 
 
 
 
João acorda, prepara-se para ir ao trabalho, passa na padaria e toma um 
café com pão: contrato de alimentação. 
Pega um ônibus que o leva até o metrô onde este segue para o seu 
trabalho: dois contratos de transporte em sequência. 
Compra um jornal na banca: contrato de compra e venda. 
 
Paga cinco reais para engraxarem o seu sapato na sapataria ao lado: 
contrato de serviço. 
 
 
 
Todas essas atividades e muitas outras são formas de contratação não 
escritas. 
 
 
Levando em conta que João, nosso personagem, ainda vai sair para 
almoçar, comprar itens para o lanche da família e pegar novamente um metrô 
e um ônibus para chegar em casa, conclui-se que este indivíduo realizou nove 
contratos em um dia somente com atividades do cotidiano. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Para refletir 
Já pensou nos contratos que você firma ao longo do dia? 
88 
Contrato de adesão 
 
 
 
E o contrato de adesão? 
 
 
 
Existem negócios no âmbito do consumo que necessitam da proteção de 
um contrato escrito e formalizado. Pensando nestes e com a preocupação de 
que o instrumento contratual fosse adequado à produção em escala e o 
consumo por esta gerado, o CDC inovou na normatização brasileira, 
instituindo o contrato de adesão. Observe a norma legal: 
 
 
Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido 
aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas 
unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o 
consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu 
conteúdo. 
 
 
 
 
 
 
O que representa, na prática, o 
contrato de adesão? 
 
O contrato de adesão, assim como outros 
itens destinados à regulação da atividade 
de consumo, tem sua base histórica 
determinada pela Revolução Industrial e 
seus desdobramentos, como a 
massificação dos produtos, a proliferação 
dos serviços e a criação cada vez mais crescente de novas “necessidades” 
de consumo. Representa, então, uma quebra contundente do regramento 
aplicado ao contrato clássico. 
89 
 
Como ocorre, então, no contrato clássico? 
 
No contrato clássico ou paritário, ambas as partes têm o poder de 
transacionar livremente. As cláusulas são elaboradas e fechadas de comum 
acordo. Com isso, o princípio da autonomia da vontade é categórico. Pode 
uma das partes recusar a execução de algo que não estava estipulado, da 
mesma forma que é forte o argumento de que a outra parte concordou com 
os termos fixados e, sendo estes estritamente legais, é forçada a cumpri-los 
tão somente por constar no contrato. 
 
 
Contratos 
 
 
 
O contrato clássico ou paritário é utilizado nas relações de consumo? 
 
 
 
Naturalmente, o contrato paritário não teria como acompanhar o 
crescimento agressivo do capitalismo. Hoje, este tipo de contrato ainda é 
muito usado; porém, não se adequa às relações de consumo. 
 
 
Veja este exemplo: uma empresa que produz, distribui e vende 
refrigerantes não teria condições até mesmo de manter seu negócio caso 
tivesse que acertar um contrato com cada pessoa que quisesse discutir suas 
cláusulas. Não só não haveria tempo suficiente como tornaria seu negócio 
inseguro e até mesmo inviável. 
 
 
Que tipo de contrato é mais utilizado na sociedade de consumo? 
 
 
 
Desse modo, em meio à força da nova sociedade de consumo, surgiu o 
contrato de adesão, assim chamado porque tem suas cláusulas determinadas 
90 
por uma das partes, qual seja, o fornecedor do produto ou do serviço. Ao 
consumidor (a outra parte do contrato) cabe apenas aderir ou não ao mesmo 
- não lhe é dada a possibilidade de negociação das cláusulas contratuais. Em 
contrapartida, o Código de Defesa do Consumidor incorpora em seu texto 
uma forte proteção ao consumidor, equilibrando a relação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Síntese 
 
 
 
Quais são as “autoridades competentes” mencionadas no art. 54 do 
CDC? 
Cumpre destacar que quando o art. 54 do Código fala em “é aquele cujas 
cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente”, refere-se, 
principalmente, ao serviço com regulação própria, que é repassado pela 
Administração Pública aos entes privados por concessão, autorização ou 
permissão. 
Exemplo: Os contratos de adesão de energia elétrica no Brasil têm suas 
cláusulas determinadas pela Aneel, por meio de anexo ao Regulamento do 
serviço. 
 
Até mesmo o tamanho mínimo da fonte utilizada na redação 
dos contratos de adesão (tamanho 12) é prevista no CDC (art. 
54, § 3º). 
91 
 
 
 
 
 
Função social dos contratos 
 
Na unidade anterior vimos os tipos de contratos, mas você sabia que os 
contratos têm função social? 
É o que descobriremos a seguir. 
 
 
 
A função social dos contratos encontra-se formalizada em nossa legislação 
pelo Código Civil de 2002. É lá que se encontra sua previsão legal, nos artigos 
seguintes: 
 
 
Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da 
função social do contrato. 
 
 
Art. 2.035. (...) Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se 
contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este 
Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos. 
Síntese 
Esta unidade nos mostrou que os contratos podem ser 
celebrados tanto na forma escrita como verbal. Conhecemos os contratos 
clássicos ou paritários em que ambas as partes têm o poder de 
transacionar livremente, quando as cláusulas são elaboradas e fechadas de 
comum acordo, e o princípio no qual se baseiam: o pacta sunt servanda. 
Vimos ainda que o CDC inovou na normatização brasileira instituindo o 
contrato de adesão, que tem suas cláusulas determinadas por uma das 
partes, qual seja, o fornecedor do produto ou do serviço, e que ao 
consumidor cabe apenas aderir ou não a ele. 
92 
 
 
 
 
 
Você se recorda da história da peça teatral “O Mercador de Veneza”, 
de William Shakespeare? 
 
 
Trata-se de mercador que contrata, com um agiota, fiança para uma 
viagem marítima. Pactuam, para tal, contrato com cláusula em que o 
mercador teria que entregar ao agiota uma libra (aproximadamente meio 
quilo) de sua própria carne em caso de inadimplemento. Os navios se perdem 
em alto mar, impossibilitando o mercador de pagar sua dívida no prazo 
estipulado. A peça ganhou versão em filme, sendo o agiota protagonizado por 
Al Pacino. 
 
 
 
 
Ora, qual seria a função social de tal contrato? 
 
 
 
Abstraídas as implicações relativas às diferenças de tempo e lugar, além 
de que se trata de obra de ficção, analisando o caso
somente pela via da 
obrigação civil, este contrato claramente não está cumprindo qualquer função 
social, concorda? 
O Prof. Miguel Reale, em artigo publicado, define bem a função social do 
contrato: 
 
Importa dizer que o contrato cada vez menos é 
uma figura imutável, da qual as partes estão 
irremediavelmente atreladas e nada pode atingir o convencionado. 
93 
 
 
 
 
 
Não há razão alguma para se sustentar que o contrato deva atender tão 
somente aos interesses das partes que o estipulam, porque ele, por sua 
própria finalidade, exerce uma função social inerente ao poder negocial, que 
é uma das fontes do direito, ao lado da legal, da jurisprudencial e da 
consuetudinária. 
 
 
Síntese 
 
 
 
O ato de contratar corresponde ao valor da livre iniciativa, erigida pela 
Constituição de 1988 a um dos fundamentos do Estado Democrático do 
Direito, logo no inciso IV do art. 1º, de caráter manifestamente preambular. 
 
 
 
" O que o imperativo da 'função social do contrato' estatui é que este 
não pode ser transformado em um instrumento para atividades abusivas, 
causando dano à parte contrária ou a terceiros, uma vez que, nos termos 
do art. 187, também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao 
exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim 
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes." 
 
Assim sendo, é natural que se atribua ao contrato uma função social, a fim 
de que ele seja concluído em benefício dos contratantes sem conflito com 
o interesse público. 
94 
 
 
Síntese 
A preocupação com a função social dos contratos não carrega de 
forma alguma a pretensão de enfraquecer a segurança e efetividade do 
contrato alicerçada pelo pacta sunt servanda. Busca-se, isto sim, seguir o 
princípio de que os contratos não interessam somente às partes que se 
obrigaram, mas a toda a sociedade. A cada livre iniciativa resta incólume. 
Fica claro, no entanto, que ela não pode ser irrestrita, pois não deve ser 
abusiva dentro do contexto social em que se vive. 
95 
Unidade 3 - Cláusulas abusivas 
 
 
Estamos quase chegando ao final do curso. Já podemos constatar que o 
CDC é um instrumento precioso para preservar os direitos do consumidor. 
 
 
Veremos agora como são entendidas as cláusulas abusivas nos contratos, 
expressas em seu artigo 51 e incisos: 
 
 
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais 
relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: 
I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do 
fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou 
impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo 
entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser 
limitada, em situações justificáveis; 
 
II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já 
paga, nos casos previstos neste código; 
 
III - transfiram responsabilidades a terceiros; 
 
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que 
coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam 
incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade; 
 
V - (Vetado); 
 
VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do 
consumidor; 
 
VII - determinem a utilização compulsória de arbitragem; 
 
VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro negócio 
jurídico pelo consumidor; 
 
IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, 
embora obrigando o consumidor; 
 
X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do 
preço de maneira unilateral; 
 
XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, 
sem que igual direito seja conferido ao consumidor; 
96 
XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua 
obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor; 
 
XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo 
ou a qualidade do contrato, após sua celebração; 
 
XIV - infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais; 
 
XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao 
consumidor; 
 
XVI - possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias 
necessárias." 
 
 
Consulte o quadro para ver os Incisos e seus comentários! 
 
Esses são os únicos casos possíveis? 
 
 
 
 
 
 
 
 
Porém, ainda que exemplificativa, a quantidade de incisos denota a 
intenção de tornar claro o caminho, dando uma ideia geral daquilo que se 
entende por abusivo, no intuito de guiar o intérprete. 
Cabe advertir que esta não é uma lista taxativa. Ao dizer "entre outras, no 
caput do art. 51, quis o legislador deixar claro que as hipóteses de nulidade 
não se restringuem às veiculadas por seus incisos. 
97 
 
Síntese 
 
 
 
 
 
 
Ver jurisprudência: Cláusulas abusivas 
 
 
 
 
 
 
 
Síntese 
Cuida, então, o art. 51 do CDC das cláusulas abusivas nos contratos 
de consumo. E é importante ressaltar que o que é abusivo numa relação de 
consumo não necessariamente o será em outras do mundo civil. Ao proibir 
cláusulas do tipo que descreve e exemplifica, o CDC está cumprindo o seu 
papel de equilibrar a relação entre fornecedor e consumidor, cercando 
o segundo de garantias. 
 
Afinal, o consumidor é o hipossuficiente na relação. Ele não controla 
nenhuma etapa do tratamento que é dado ao produto até que chegue às 
suas mãos, além do que, sendo o contrato de adesão, sequer pode interferir 
nas cláusulas que lhe são impostas. 
 
Ressalte-se, igualmente, que o art. 51 é válido para todos os contratos 
regendo relações de consumo, independentemente de se tratar de contrato 
de adesão ou não. 
 
Para refletir 
Após ler atentamente os incisos do art. 51, você percebe que o 
legislador usou a própria prática auferida nas relações de consumo à época 
para redigi-los? 
98 
Parabéns! Você chegou ao final do Módulo VI do curso Introdução ao 
Direito do Consumidor (parceria ILB e ANATEL). 
 
Como parte do processo de aprendizagem, sugerimos que você faça uma 
releitura do mesmo e resolva os Exercícios de Fixação. O resultado não 
influenciará na sua nota final, mas servirá como oportunidade de avaliar o 
seu domínio do conteúdo. Lembramos ainda que a plataforma de ensino faz 
a correção imediata das suas respostas! 
 
Para ter acesso aos Exercícios de Fixação, clique aqui. 
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99 
MÓDULO VII - DEFESA DO CONSUMIDOR EM JUÍZO 
 
 
 
 
 
 
 
- Diferenciar ação coletiva de ação individual. 
- Identificar os meios de acesso do consumidor à 
justiça; 
100 
Unidade 1 - O acesso à Justiça 
 
 
Nas unidades anteriores vimos as características de proteção contratual 
nas relações de consumo. Agora, vamos iniciar esta unidade conhecendo 
quais sãos os meios e formas de acesso à justiça em casos de violação dos 
direitos do consumidor. 
O CDC preocupou-se em garantir que o consumidor, como parte 
vulnerável, não ficasse à mercê do fornecedor. Para tanto, dedicou um 
capítulo para a defesa do consumidor, conceituando, inclusive, os direitos 
transindividuais (difusos, coletivos e individuais homogêneos). 
Vejamos: 
 
 
 
 
 
 
 
TÍTULO III 
 
Da Defesa do Consumidor em Juízo 
 
 
 
CAPÍTULO I 
 
Disposições Gerais 
 
 
 
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas 
poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo. 
 
 
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: 
101 
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste 
código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares 
pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias
de fato; 
 
 
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste 
código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular 
grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte 
contrária por uma relação jurídica base; 
 
 
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os 
decorrentes de origem comum. 
 
 
 
 
Como vimos, o art.81 do CDC estabelece que o acesso à justiça, diante 
de uma lesão ao consumidor, pode ser feito tanto de forma individual quanto 
coletiva. O exercício da defesa do consumidor de forma coletiva serve para 
que se evite um dano maior, daí o direito de o consumidor garantir meios 
àqueles que sofrem qualquer tipo de lesão nas diversas formas de direitos 
transindividuais. 
 
 
Analisemos o seguinte caso. 
 
 
 
Imagine um lote de 100 produtos defeituosos colocados no mercado para 
serem vendidos. E que desse total de produtos, 70 consumidores considerem 
que o produto não presta e o joguem fora, 20 consumidores percebem que 
ele está com defeito e utilizem dos meios à disposição para reaver o valor 
pago, ou trocar a mercadoria, e apenas 10 tenham algum tipo de lesão séria 
ou leve da utilização do produto com defeito. 
102 
Em regra, ainda, o direito do consumidor não tem sua tutela garantida 
diante do tamanho da lesão, haja vista que a maioria dos consumidores 
lesados no caso acima sequer percebe o defeito do produto. Apenas 10% dos 
consumidores sofreram as consequências sérias decorrentes da inobservância 
do fornecedor em colocar esse produto no mercado. 
 
 
Ora, o que se verifica é que o fornecedor ainda faz o cálculo de se vale 
mais a pena para ele corrigir o erro do produto ou colocá-lo, mesmo 
defeituoso, no mercado e arcar com os custos daqueles que venham a sofrer 
alguma lesão. 
 
 
Se considerado apenas o lado financeiro, para o fornecedor vale mais a 
pena ressarcir 10% dos consumidores lesionados do que tirar todos os 100 
produtos do mercado. Esse cálculo ainda é feito muitas vezes, diante da 
possibilidade que o fornecedor tem em se esquivar nessa situação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Como fazer diferença? 
 
 
 
Como o consumidor deve agir em casos como esse? 
A diferença existiria se todos os consumidores desse produto 
reclamassem e fossem em busca de seus direitos para que a atitude de 
fornecedores como o do exemplo não se repetisse. Ressalte-se que não se 
incentiva uma indústria do dano, mas que essa situação pudesse ao menos 
ser remediada. 
103 
Existem dois meios para o consumidor agir: 
 
 Ação Individual - o consumidor pode recorrer diretamente ao 
Judiciário, com ou sem a ajuda de um advogado, dependendo do 
valor e do tipo da causa; 
 Ação Coletiva - um grupo de consumidores pode entrar com uma 
ação na Justiça. 
 
 
 
 
 
 
 
Síntese 
 
Embora o exemplo acima tenha trazido uma dimensão da situação do 
consumidor, as ações coletivas previstas para atuação em defesa do 
consumidor vulnerável têm como intuito controlar essas atitudes do 
fornecedor. A participação do Ministério Público, de associações de defesa 
do consumidor e da defensoria pública, principais atores legitimados para 
se valerem da ação coletiva, tem modificado esse quadro na defesa de tais 
direitos. Entretanto, o consumidor precisa dar conhecimento a essas 
instituições. A realidade de uma sociedade de consumos de massa, com 
mais produtos e serviços colocados no mercado, tem transformado as 
atitudes desses consumidores, e cada vez mais se percebe que seus direitos 
são garantidos. 
Aliás, para garantir esse acesso à justiça, o CDC definiu alguns dos 
direitos transindividuais, que serão apresentados na próxima unidade. 
104 
Unidade 2 - Mecanismos processuais, coletivos e individuais 
 
 
O CDC tratou com muito cuidado da defesa dos direitos transindividuais, 
procurando evitar que lesões como a mencionada na unidade anterior 
ficassem à mercê dos rigorismos processuais e deixassem de ter verificada a 
sua tutela. 
 
 
Assim, vamos relembrar aqui a sistemática coletiva do CDC, que 
identificou os direitos transindividuais da seguinte maneira: 
 
 
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das 
vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título 
coletivo. 
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: 
 
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste 
código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam 
titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; 
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos 
deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que seja 
titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a 
parte contrária por uma relação jurídica base; 
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos 
os decorrentes de origem comum. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pode-se, portanto, conceituar tais direitos da seguinte forma: 
105 
 
 Interesses ou direitos difusos: 
 
São interesses unificados por uma situação fática comum que relacionam 
toda a coletividade, sem que possam ser mensurados ou identificados os 
direitos relativos a cada pessoa. Transcendem a parcela de individualidade. 
Cite-se como exemplo o meio ambiente, haja vista a impossibilidade de se 
mensurar a parcela do ar, da fauna e da flora a que cada ser humano tenha 
direito. Embora esse seja o exemplo clássico para tais interesses, vários são 
os casos de direitos difusos na esfera do consumo, tal como a propaganda 
enganosa, diante da impossibilidade de se saber ao certo qual parcela da 
população foi por ela atingida. 
 
 
 Interesses ou direitos coletivos: 
 
Interesses coletivos podem ser classificados como gênero ou espécie. 
Quando se fala nesses interesses como gênero, são os chamados interesses 
ou direitos transindividuais. Se se identificam como espécie, conforme 
descrito no CDC, tratam-se de interesses ou direitos coletivos stricto sensu. 
Aqui neste curso, preferimos utilizar como gênero interesses ou direitos 
transindividuais, pois transcendem a esfera do indivíduo, e como subespécies 
os direitos identificados no CDC. Tais interesses são indivisíveis e identificam 
uma relação jurídica em comum que agrega um determinado ou determinável 
grupo de pessoas, cujo exercício desse direito faz-se conjuntamente. O direito 
pertence ao grupo por estarem interligados por essa determinada relação 
jurídica em comum, como sucede com os alunos de uma escola, os 
empregados de uma empresa etc. 
 
 
 Interesses ou direitos individuais homogêneos 
 
O CDC limitou-se a identificar os direitos individuais homogêneos por uma 
origem comum, sem conceituá-los. Assim, são direitos que podem ser 
exercidos individualmente pelo consumidor lesado, mas também um grupo 
106 
desses consumidores pode se unir, dada a origem comum da ação. 
Identificam-se com os interesses difusos, diante dessa situação fática que é 
a origem comum. Cite-se, como exemplo, o caso mencionado na Unidade 1: 
são todos compradores de um determinado produto defeituoso. 
 
 
As ações coletivas têm como instituições legítimas para proceder à 
defesa do consumidor: 
 o Ministério Público; 
 os entes da federação brasileira; 
 as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou 
indireta, ainda que sem personalidade jurídica, cuja função 
resida na defesa do consumidor; 
 as associações de defesa do consumidor; e 
 a defensoria pública. 
 
 
 
Ressalte-se que a legitimidade da defensoria pública deu-se com a 
alteração da lei da ação civil pública, que é uma ação também destinada à 
garantia dos direitos
dos consumidores. 
 
 
Síntese 
 
 
 
O CDC e as garantias processuais 
 
 
 
Como garantias processuais, o CDC resguardou a inversão do ônus da 
prova ao consumidor, quando verossímil a alegação ou nos casos de 
hipossuficiência do consumidor; a propositura da ação no domicílio do autor; 
e a regra da coisa julgada erga omnes, quando se estende a todos os lesados 
o objeto da ação. Ressalte-se que se a sentença for procedente em uma ação 
coletiva, será garantida à coletividade a extensão desse direito, mas se for 
107 
improcedente por ausência de provas, poderá ser proposta nova ação desde 
que identificadas novas provas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Parabéns! Você chegou ao final do último Módulo do curso Introdução ao 
Direito do Consumidor (parceria ILB e ANATEL). 
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influenciará na sua nota final, mas servirá como oportunidade de avaliar o 
seu domínio do conteúdo. Lembramos ainda que a plataforma de ensino faz 
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Síntese 
O art. 81 do CDC garantiu que a defesa dos consumidores e das 
vítimas pudesse ser realizada de forma individual e coletiva. Esta última, 
somente será exercida quando se tratar de interesses ou direitos difusos, 
assim entendidos, para efeitos do código, os transindividuais, de natureza 
indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por 
circunstâncias de fato. 
http://saberes.senado.leg.br/mod/quiz/view.php?id=31017
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
saberes.senado.leg.br 
Consumidor/Introdução às Relações de Consumo/Introdução às Relações de Consumo e aos Direitos Basicos.pdf
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
Desde a antiguidade, as relações comerciais se fazem presentes na 
sociedade e, com o passar dos séculos, independentemente de o objeto 
dessas relações ser um bem ou uma prestação de serviços, diversos 
princípios e regras tiveram de ser criados para disciplinar as normas de 
conduta entre fornecedores e consumidores. Apesar disso, muitas vezes, 
o desequilíbrio ainda se faz presente, sendo necessária uma ação mais 
ostensiva para que os negócios e pactos firmados sejam cumpridos a 
contento. Nesse sentido, para os casos cujas relações entre empresa e 
consumidor se dão de maneira direta (business-to-consumer – B2C), o 
Código de Defesa do Consumidor (CDC) foi um marco, ganhando 
destaque ao estabelecer regras para uma relação equilibrada. 
Em 2016, ocupando a segunda colocação no ranking geral da 
Justiça Estadual, segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), com 
1.622.414 processos, o Direito do Consumidor foi considerado o tema 
mais demandado em termos de juizados especiais, com 1.096.278 
demandas. Considerando tais números, podemos inferir que, por conta 
do desequilíbrio entre as relações comerciais, milhares de pessoas 
precisaram recorrer ao judiciário para terem analisados os seus direitos 
por alguém especializado, o que evidencia a importância do tema nos 
dias atuais. 
A apostila Introdução às relações de consumo e aos direitos 
básicos foi então concebida a fim de fornecer o conhecimento 
necessário à identificação dos princípios básicos da defesa do 
consumidor no Brasil, apresentando os direitos, deveres e principais 
responsabilidades existentes em uma relação de consumo. São também 
focos deste material o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor 
(SNDC), os direitos básicos, as práticas abusivas e as tendências de 
julgamentos ligados ao tema do consumo, além das soluções alternativas 
de conflito, que visam ao menor custo, à maior tutela e à garantia de 
legalidade das decisões. 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES DE CONSUMO E AOS DIREITOS BÁSICOS ........................................... 7 
HISTÓRIA DA DEFESA DO CONSUMIDOR NO BRASIL ................................................................... 7 
Modelo intervencionista estatal .............................................................................................. 8 
Base constitucional e fontes de inspiração do Código brasileiro ....................................... 9 
Fenômeno do “consumerismo” e influência histórica dos EUA ................................... 10 
Evolução da proteção ao consumidor .................................................................................. 10 
RELAÇÕES DE CONSUMO: CONCEITOS DE CONSUMIDOR E FORNECEDOR ................................... 12 
Consumidor .............................................................................................................................. 12 
Pessoa jurídica .................................................................................................................... 14 
Coletividade ......................................................................................................................... 14 
Fornecedor................................................................................................................................ 16 
DIREITOS E DEVERES BÁSICOS, GARANTIA DE PRODUTOS E SERVIÇOS ................................... 16 
CDC e Estado ............................................................................................................................ 18 
PRAZOS DE RECLAMAÇÃO E PRÁTICAS ABUSIVAS....................................................................... 19 
Modalidades de garantia ........................................................................................................ 19 
Garantia legal ...................................................................................................................... 20 
Garantia contratual ............................................................................................................ 21 
Garantia estendida ............................................................................................................. 21 
Prazos ........................................................................................................................................ 22 
Condições abusivas ................................................................................................................. 24 
BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................................... 26 
PROFESSOR-AUTOR ............................................................................................................................. 30 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Neste módulo, analisaremos os princípios básicos de uma relação justa entre fornecedor e 
consumidor. Para tanto, recordaremos os fatos que originaram o direito consumerista no âmbito 
nacional, classificando as relações de consumo, os seus agentes, respectivos direitos e obrigações. 
 
História da defesa do consumidor no Brasil 
Ao redor do mundo, a proteção do consumidor é considerada um grande desafio e, por 
isso, consiste em um dos temas mais estudados na área jurídica atualmente. Apesar de esse 
fenômeno jurídico ser totalmente desconhecido há bem pouco tempo, a história nos mostra que, 
entre os séculos XX e XXI, alguns fenômenos marcaram o nascimento e desenvolvimento do 
Direito do Consumidor como disciplina jurídica autônoma. Tais fenômenos são resultantes de 
um novo modelo de associativismo: a sociedade de consumo (mass consumption society ou 
konsumgesellschaft), caracterizada pela oferta crescente de produtos e serviços, pelo uso sem 
precedentes de crédito, pela utilização
maciça do marketing e pela dificuldade de acesso à justiça. 
Nesse sentido, Grinover e os demais autores do anteprojeto do Código de Defesa do Consumidor 
(2000, p. 6), afirmam o seguinte: 
 
“A sociedade de consumo, ao contrário do que se imagina, não trouxe 
apenas benefícios para os seus atores. Muito ao revés, em certos casos a 
posição do consumidor, dentro desse modelo, piorou em vez de 
melhorar. Se antes fornecedor e consumidor encontram-se em uma 
situação de relativo equilíbrio de poder de barganha (até por que se 
conheciam), agora é o fornecedor (fabricante, produtor, construtor, 
INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES DE CONSUMO 
E AOS DIREITOS BÁSICOS 
 
8 
 
importador, banqueiro ou comerciante) que, inegavelmente, assume a 
posição de força na relação de consumo e que, por isso mesmo, ‘dita as 
regras’. E o Direito não pode ficar alheio a tal fenômeno.” 
 
A vulnerabilidade do consumidor é, portanto, frequente, pois não há mecanismos 
suficientes para superá-la no mercado. Dessa forma, a intervenção do Estado torna-se inevitável 
nas suas três esferas. Tendo em vista as suas diversas causas possíveis, toda atenção voltou-se a essa 
vulnerabilidade, fato que culminou com a criação do inovador Direito do Consumidor. 
Quanto às causas dessa fragilidade, estas podem ser decorrentes da intervenção de grupos 
econômicos por meios de monopólios e oligopólios, da ausência de informação quanto à 
qualidade, ao preço e ao crédito, assim como da falta de conhecimento a respeito de outras 
características dos produtos e serviços ofertados. Além disso, o consumidor é cercado de 
publicidade sem que tenha a mesma governança que têm os fornecedores. 
 
Modelo intervencionista estatal 
Segundo Grinover et al. (2007), a purificação do mercado pode ser feita por meio de dois 
modelos: o modelo privado e o modelo de intervencionista estatal. Vejamos a descrição de cada 
um desses modelos de acordo com os autores: 
 
“O primeiro é meramente ‘privado’, com os próprios consumidores e 
fornecedores auto compondo-se e encarregando-se de extirpar as práticas 
perniciosas. Seria o modelo da auto-regulamentação, das convenções 
coletivas de consumo e do boicote. Tal regime não se tem demonstrado 
capaz de suprir a vulnerabilidade do consumidor. O segundo modelo é 
aquele que, não descartando o primeiro, funda-se em normas (aí se 
incluindo, no sistema da common law, as decisões dos tribunais) 
imperativas de controle do relacionamento consumidor-fornecedor. É o 
modelo do intervencionismo estatal, que se manifesta particularmente em 
sociedades de capitalismo avançado, como os Estados Unidos e países 
europeus” (GRINOVER et al., 2007, p. 7). 
 
Como afirmam esses respeitados juristas, alguns países, preocupados com o mercado de 
consumo, regularam tal mercado por meio de leis esparsas e específicas para cada atividade 
econômica ligada, diretamente, aos acidentes de consumo que pretendiam tutelar. Esse modelo 
foi aplicado por meio da criação de Códigos, cuja função foi a de reunir um conjunto de regras 
essências à proteção do consumidor. O Brasil também adotou esse modelo e mostrou-se pioneiro 
na codificação do Direito do Consumidor no mundo. 
 
 9 
 
Base constitucional e fontes de inspiração do Código brasileiro 
No Brasil, a Assembleia Nacional Constituinte de 1988 optou pela codificação dos direitos 
dos consumidores. Dessa forma, o planejamento e a elaboração do Código de Defesa do 
Consumidor tem como origem direta a Constituição Federal, diferindo, por exemplo, do modo 
como a França construiu a sua proteção, oriunda de uma decisão ministerial. 
No modelo brasileiro, a Constituição Federal determina que, ao cuidar dos direitos e 
garantias fundamentais, “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor” (CFC, 
art. 5, inciso XXXII). No entanto, o legislador entendeu que essa disposição não bastaria e, mais 
adiante, por meio do art. 48 do Ato das Disposições Transitórias, determinou que o Congresso 
Nacional, dentro de 120 dias da promulgação da Constituição, deveria elaborar o Código de 
Defesa do Consumidor. Fruto de uma sociedade de consumo e do crescimento massificado da 
oferta e procura de bens de consumo, o Direito do Consumidor foi então reconhecido como um 
princípio constitucional. 
Para criação do texto, os redatores do Código de Defesa do Consumidor buscaram 
inspiração em modelos legislativos estrangeiros já vigentes, tendo o cuidado de evitar a transcrição 
simples e pura dos textos estrangeiros sobre o tema. Durante todo o trabalho de elaboração 
partiu-se, portanto, da ideia de que o mercado de consumo brasileiro e o próprio Brasil têm 
peculiaridades e problemas próprios. Desse modo, apesar da influência de outros ordenamentos, 
foram diversos os dispositivos do Código de Defesa do Consumidor se que mostraram diferentes, 
afastando qualquer tentativa de comparação com outras leis de consumo. 
A base dos direitos do consumidor está em uma resolução 
da Assembleia Geral das Nações Unidas, datada de 9 de 
abril de 1985: a Resolução 39/248. 
A principal influência veio do Projet de Code de la Consommation, redigido sob a presidência 
do professor Jean Calais-Auloy. Outras importantes influências decorrem das leis gerais da 
Espanha (Ley General para la Defesa de los Consumidores y Usuários – Lei 26/1984), de Portugal 
(Lei 29/81, de 22 de agosto), do México (Lei Federal de Protección al Consumidor, de 5 de 
fevereiro de 1976) e de Quebec (Loi sur la Protection du Consommateur, promulgada em 1979). 
Quanto ao seu conteúdo, o Código de Defesa do Consumidor buscou inspiração direta, 
principalmente, no Direito comunitário da Europa, especificamente nas Diretivas 84/450, que 
diz respeito à publicidade, e 85/374, que versa sobre a responsabilidade civil pelos acidentes de 
consumo. Houve também, em alguns casos, a influência do Direito americano, pois as regras 
europeias foram inspiradas em cases e statutes estadunidenses. 
 
 
10 
 
Fenômeno do “consumerismo” e influência histórica dos EUA 
Por se tratar de um fenômeno jurídico totalmente diferente do existente nos séculos 
passados, para compreendermos o Código de Defesa do Consumidor, é necessário que façamos 
uma análise propedêutica e histórica do homem no século XX, cuja vida, como vimos, ocorreu 
sobretudo em função de um novo modelo de associativismo: a sociedade de consumo. 
O fenômeno do “consumerismo” – ou, como afirmam Gasset e Ortega (2016), a 
“revolução das massas” – é visível tanto nas sociedades industrializadas quanto nas economias em 
desenvolvimento, caracterizando-se sobretudo pela busca da satisfação de necessidades que, 
muitas vezes, demonstram-se irreais ou incorretamente hierarquizadas. Essa contradição ocorre 
em função de um condicionamento psicológico criado por uma estratégia de produção industrial 
extremamente dinâmica quanto à oferta de novidades. 
O Direito do Consumidor como disciplina autônoma e microssistema jurídico com 
princípios próprios trata-se, portanto, “de um novo direito privado, resultado da influência dos 
direitos civis e dos direitos sociais e econômicos” (BENJAMIN, 2013, p. 39). Podemos afirmar 
que o Direito do Consumidor ofereceu então uma nova forma de realizar o direito privado. 
De certo que a origem histórica do Direito do Consumidor é anterior à sua aplicação e ao seu 
desenvolvimento no Brasil. Tradicionalmente, essa origem é atribuída aos Estados Unidos, pois esse 
foi o primeiro país a sofrer as consequências do agressivo sistema produtivo e do marketing, sobretudo 
no que diz respeito ao consumo em massa e à comercialização de produtos e serviços. 
 
Evolução da proteção ao consumidor 
Segundo Lucca (2008, p. 7), existem três fases relativas à evolução da proteção ao 
consumidor no mundo. Vejamos: 
 
a) Primeira fase: 
Na primeira fase
de evolução, ocorrida após a 2ª Guerra Mundial, ainda não se distinguiam 
os interesses de fornecedores e consumidores. Nessa época, o preço, a informação e a rotulação 
adequada dos produtos eram os pontos de preocupação. 
 
b) Segunda fase: 
Na segunda fase, iniciou-se o questionamento da atitude de menoscabo das empresas para com 
os consumidores. Nesse momento histórico, sobressaiu-se a figura do advogado Ralph Nader. 
 
c) Terceira fase: 
A terceira fase de evolução da proteção ao consumidor é marcada por uma consciência ética 
mais intensa. Nessa fase, “interroga-se sobre o destino da humanidade, conduzido pelo torvelinho 
de uma tecnologia absolutamente triunfante e pelo consumismo exagerado, desastrado e trêfego, 
que põe em risco a própria morada do homem” (LUCCA, 2008, p. 7). 
 
 11 
 
Já na Roma Antiga, no período Justiniano, a responsabilidade pelos vícios da coisa era 
atribuída ao vendedor, mesmo que esse desconhecesse o defeito do seu produto ou serviço. Dessa 
forma, reconhecia-se a boa-fé do consumidor como fundamento para as ações redibitórias e 
quanti minoris em caso de ressarcimento de vícios ocultos na coisa vendida. 
No entanto, foi após as duas Guerras Mundiais, quando se gerou a então conhecida 
sociedade de consumo, que as características contratuais se modificaram: os contratos paritários, 
fruto de acordos de vontade, discutidos cláusula a cláusula, tornaram-se menos frequentes, dando 
lugar aos contratos por adesão. Essa alteração ocorreu como resultado do desenvolvimento 
industrial dos Estados Unidos e da sua necessidade de atrair consumidores para os diversos 
produtos oriundos das tendências econômicas da época. No entanto, o conteúdo desses contratos 
sempre trazia mais vantagens à parte que os propôs e, dessa forma, perpetuava a desigualdade na 
relação entre fornecedores e consumidores. 
O marco histórico para o reconhecimento do consumidor como sujeito de direitos ocorreu 
em 1962, quando o presidente estadunidense John Kennedy enumerou quatro direitos do 
consumidor, considerando-os um desafio necessário para o mercado. Em seu discurso, Kennedy 
identificou os aspectos mais importantes na questão da proteção ao consumidor, afirmando que 
os bens e serviços deveriam ser seguros para uso e comercializados a preços adequados e justos, 
oferecendo assim um novo paradigma para uma relação em que, até então, somente o fornecedor 
tinha direito. Nesse momento, com base nos valores fundamentais da pessoa humana, iniciou-se a 
busca pelo aperfeiçoamento das relações de consumo, considerando-se a parte mais fraca como 
aquela que precisava satisfazer as suas necessidades vitais. 
Em 5 de março de 1962, Kennedy enumerou quatro direitos 
fundamentais do consumidor, tendo sido essa data 
reconhecida pelo Congresso estadunidense como o Dia 
Mundial dos Direitos Consumidor. 
No Brasil, esses direitos também inspiraram a criação do Código de Defesa do 
Consumidor, influenciando o aperfeiçoamento das instituições tanto do poder público quanto da 
iniciativa privada. São eles: 
1. direito à saúde e à segurança – relacionado à comercialização de produtos perigosos à 
saúde e à vida; 
2. direito à informação – relacionado à propaganda e à necessidade de o consumidor ter 
informações sobre o produto para garantir uma boa compra; 
3. direito à escolha – relacionado aos monopólios e às leis antitrustes, incentivando a 
concorrência e a competitividade entre os fornecedores, e 
4. direito a ser ouvido – relativo à necessidade de os interesses dos consumidores serem 
considerados no momento da elaboração de políticas governamentais. 
 
12 
 
O nascedouro do Código de Defesa do Consumidor no Brasil, reunidas as condições 
necessárias, constituiu-se na construção de uma política nacional de relações de consumo cuja 
legislação é considerada a mais avançada do mundo. Antes da publicação da Lei 8.078/90, no 
entanto, tivemos a criação da Autarquia de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon), que 
ocorreu em 1976, e do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), em 1987, instituições ainda 
atuantes nos dias de hoje. 
A seguir, podemos observar os acontecimentos históricos que marcaram a evolução dos 
direitos do consumidor no Brasil: 
 
 
 
 
Fonte: MEIR, Roberto (Org.). Do código ao compromisso: propostas efetivas para melhoria dos serviços ao consumidor no 
Brasil. São Paulo: Editora Padrão, 2011. 
 
Relações de consumo: conceitos de consumidor e fornecedor 
Consumidor 
Segundo os relatores do anteprojeto do Código de Defesa do Consumidor, o conceito de 
consumidor adotado pelo CDC tem caráter exclusivamente econômico, ou seja, foi construído 
levando-se em consideração tão somente a personagem que, no mercado de consumo, adquire 
bens ou contrata a prestação de serviços como destinatário final. Pressupõe-se ainda que tal 
personagem age com vistas ao atendimento de uma necessidade própria, e não ao 
 
 13 
 
desenvolvimento de uma outra atividade negocial. Dessa forma, no seu texto, os relatores 
buscaram abstrair componentes de natureza sociológica, que os levariam a caracterizar o 
consumidor como um indivíduo pertencente a determinada classe social ou categoria psicológica, 
como aquele que usufrui ou se utiliza de bens e serviços, e cujas reações e motivações internas para 
o consumo são estudadas para que se individualizem os critérios de produção. Buscaram também 
os relatores desconsiderar elementos de ordem literária e até filosófica, embora tais elementos 
sejam relevantes para efeitos de análise publicitária. 
Othon Sidou (1977) afirma que, de modo conciso, podemos dizer que o consumidor é 
aquele que compra para uso próprio. No entanto, entendendo que o Direito exige uma explicação 
mais precisa, Sidou assim o define: 
 
“[...] consumidor é qualquer pessoa, natural ou jurídica, que contrata, 
para utilização, a aquisição de mercadoria ou a prestação de serviço, 
independentemente do modo de manifestação da vontade, isto é, sem 
forma especial, salvo quando a lei expressamente a exigir” (SIDOU, 
1977, p. 32). 
 
Tal conceituação é a que mais se aproxima da adotada pelo CDC, pois a intenção é 
acentuar tão somente o aspecto econômico-jurídico do termo. A partir da explicação de Sidou, 
podemos construir a nossa própria, assim caracterizando o consumidor: 
Consumidor é qualquer pessoa física ou jurídica que, isolada 
ou coletivamente, contrata para consumo final, em benefício 
próprio ou de outrem, a aquisição ou a locação de bens, 
bem como a prestação de um serviço. 
Devemos, no entanto, buscar analisar o consumidor também do ponto de vista coletivo, 
sobretudo se considerarmos que todos os consumidores podem estar sujeitos a campanhas 
publicitárias enganosas e abusivas, assim como ao consumo de produtos e serviços perigosos. 
Além disso, é inevitável analisarmos o consumidor como um dos partícipes das relações de 
consumo, que são relações jurídicas por excelência. Dessa forma, procurando tratar desigualmente 
pessoas desiguais, devemos levar em conta que o consumidor está em situação de manifesta 
inferioridade frente ao fornecedor de bens e serviços. 
Para Claudio Bonato (2004, p. 19), a relação de consumo pode ser definida como “a 
relação jurídica existente entre consumidor e fornecedor, tendo como objeto a aquisição ou a 
utilização de produto ou serviço pelo consumidor.” Com isso, apesar de o Código de Defesa do 
Consumidor não conter norma jurídica conceitual, apresenta conceitos das espécies de sujeito e 
dos objetos da prestação dessa relação, quais sejam, produtos e serviços. 
 
14 
 
Conforme afirmam os autores do anteprojeto do CDC, em toda relação de consumo: 
� estão envolvidas, basicamente, duas partes definidas – de um lado, o adquirente de um 
produto ou serviço (consumidor) e, de outro, o fornecedor
ou vendedor de um produto 
ou serviço (produtor/fornecedor); 
� busca-se a satisfação de uma necessidade privada do consumidor e 
� arrisca-se a submeter-se ao poder e às condições dos produtores de bens e serviços o 
consumidor que não dispõe, por si só, de controle sobre a produção dos bens de 
consumo ou da prestação de serviços que lhe são destinados. 
 
Considerando tais aspectos, a partir do movimento consumerista, passou-se a entender o 
consumidor como uma pessoa hipossuficiente e vulnerável. Tais características também vieram a 
ser adotadas pelo movimento sindicalista que, sobretudo a partir da segunda metade do século 
XIX, surgiu para reivindicar melhores condições de trabalho e qualidade de vida, sempre com o 
olhar sobre o binômio maior poder aquisitivo/melhores bens e serviços. 
 
Pessoa jurídica 
As pessoas jurídicas são consideradas, igualmente, consumidoras de produtos e serviços, desde 
que destinatárias finais dos produtos ou serviços que adquirem. Em outras palavras, os produtos ou 
serviços adquiridos não podem ser parte necessária ao desempenho da sua atividade lucrativa. 
Podemos entender ainda as pessoas jurídicas consumidoras como hipossuficientes, já que tal 
aspecto é indissociável do conceito de consumidor. 
Dessa forma, no artigo 2º do CDC, temos: 
 
“Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou 
utiliza produto ou serviço como destinatário final.” 
 
Essa definição deve ser interpretada o mais extensivamente possível, para que as normas do 
CDC possam ser aplicadas a um número cada vez maior de relações de mercado. Devemos 
entender, com isso, que a definição do citado artigo é puramente objetiva, não importando ser 
pessoa física ou jurídica, desde que seja destinatária final. O destinatário final seria, portanto, o 
destinatário fático do produto, aquele que o retira do mercado e o utiliza, o consome. 
 
Coletividade 
No parágrafo único do artigo 2º do CDC, encontrarmos a seguinte definição: 
 
“Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, 
ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.” 
 
 15 
 
Podemos notar que o referido artigo não trata mais do consumidor determinado e 
individual, mas sim de uma coletividade de consumidores, sobretudo quando indeterminados e 
intervenientes em dada relação de consumo. 
A ideia de coletividade torna-se ainda mais clara se levarmos em conta a classe dos 
chamados interesses difusos (direitos difusos e coletivos), expressamente tratados no inciso I do 
art. 81 do CDC. Vejamos: 
 
 “Art. 81 A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas 
poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo. 
Parágrafo único: A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: 
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste 
Código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam 
titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato.” 
 
Para Filomeno (2016, p. 144), essa definição: 
 
"[...] vai além dos aspectos retro focados, com a universalidade, ou 
mesmo com grupo, classe ou categoria de consumidores relacionados a 
um determinado bem ou serviço, perspectiva tal extremamente perspicaz 
e realista, porquanto é natural que se previna, por exemplo, o consumo 
de bens perigosos ou nocivos, de forma a beneficiar-se abstratamente as 
referidas universalidade e categorias de potenciais consumidores." 
 
O autor também nos ensina o seguinte quanto à definição do CDC: 
 
"[...] envolve basicamente duas partes bem definidas: de um lado o 
adquirente de um produto ou serviço (consumidor); de outro o 
fornecedor ou vendedor de um serviço ou produto 
(produtor/fornecedor).” 
 
Podemos afirmar, portanto, que o CDC se fez um Código geral sobre o consumo e para 
uma sociedade de consumo, compreendendo normas e princípios para todos os agentes do 
mercado, que podem assumir os papéis ora de fornecedores, ora de consumidores. 
 
 
 
16 
 
Fornecedor 
O Código de Defesa do Consumidor (CDC) assim define o fornecedor: 
 
“Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, 
nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que 
desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, 
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização 
de produtos ou prestação de serviços.” 
 
No referido artigo, devemos entender o termo “atividade” como toda ação efetivada de 
forma habitual – vale dizer, profissional ou comercial – para entregar um produto ou serviço 
prestado. Esse conceito compreende, portanto, dois limites: a atividade deve ser habitual e 
exercida de forma profissional. Ser habitual significa que não basta a prática isolada de atos; esses 
devem ser praticados de maneira reiterada. 
Nesse sentido, podemos concluir que estarão excluídos da tutela prevista no CDC os 
contratos firmados entre consumidores não profissionais, que não atuem em sua atividade-fim, 
uma vez que não existe habitualidade. 
 
Direitos e deveres básicos, garantia de produtos e serviços 
Segundo Donato (1994), o Código de Defesa do Consumidor (CDC) adota como técnica 
a enunciação expressa dos princípios fundamentais, arrolados em seus artigos 1º ao 7º, 
decorrentes da pormenorização das normas-preceito. 
Junto ao âmbito dos princípios fundamentais, está consignado, no inciso I do artigo 6º do 
CDC, a efetiva preocupação do legislador em conferir proteção à vida, à saúde e à segurança do 
consumidor, contra os riscos provocados pelo fornecimento de produtos ou serviços considerados 
perigosos ou nocivos. 
O CDC não está, dessa forma, restrito unicamente a possíveis reparações de danos causados 
ou provocados ao consumidor, mas visa também à proteção do consumidor contra todos os riscos 
que podem emanar dos produtos e serviços, pela simples expectativa ou possibilidade de exposição 
a esses perigos. Em outras palavras, a simples exposição do consumidor aos riscos provocados pela 
colocação desses produtos no mercado de consumo mostra-se suficiente para que se lhe outorgue 
a tutela efetiva. 
Torna-se então preventiva a tutela conferida ao consumidor, 
antes de caracterizar-se como reparadora. 
 
 17 
 
Por entender não ser suficiente a outorga desse direito, o legislador dispôs como princípio 
fundamental, no inciso VI do artigo 6º do CDC, o seguinte direito: 
 
“Art. 6º São direitos básicos do consumidor: 
[...] 
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, 
individuais, coletivos e difusos;” 
 
Por meio desse inciso, foi fornecida então a garantia de prevenção e reparação de todas as 
espécies de danos (patrimoniais e morais) que possam vir a incidir sobre as diversas esferas de 
interesse e direito do consumidor (individuais, coletivos e difusos). A partir desse princípio 
fundamental, confere-se ao consumidor a possibilidade de ver-se reparado na sua incolumidade 
tanto econômica quanto físico-psíquica deferida pela comutatividade, ora permissiva, das 
indenizações reparadoras dos danos patrimoniais e morais. 
Devemos mencionar também a conjugação que se pode realizar entre o dispositivo contido 
no inciso I do artigo 6º e o disposto no artigo 3º desse mesmo diploma legal. Vejamos: 
 
“Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, 
nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que 
desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, 
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização 
de produtos ou prestação de serviços.” 
 
“Art. 6º São direitos básicos do consumidor: 
[...] 
I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por 
práticas no fornecimento
de produtos e serviços considerados perigosos 
ou nocivos;” 
 
No artigo 3º, ao conceituar fornecedor, o legislador enumerou algumas das diversas espécies 
de atividades econômicas que podem ser desenvolvidas por esse sujeito da relação de consumo. 
Dessa forma, ao buscarmos a essência desse dispositivo, constataremos que fornecedor é todo 
aquele que pratica alguma atividade no mercado. De modo complementar, no artigo 6º, o 
legislador aponta que tal atividade deverá ser realizada de acordo com as regras estabelecidas pelo 
CDC, ocorrendo no sentido de não provocar riscos à vida, à saúde e à segurança do consumidor. 
 
 
18 
 
Ainda sobre o tema, Denari (1990, p. 66) afirma o seguinte: 
 
“Quando alude ao fornecedor, o Código de Defesa do Consumidor faz, 
amplamente, a referência ao operador econômico que intervém no mercado 
de consumo, colocando bens e serviços à disposição dos consumidores. A 
responsabilidade civil do fornecedor deriva, justamente, da colocação de 
bens e serviços no mercado de consumo, fato econômico que engendra 
relações jurídicas de consumo, sinteticamente, relações de consumo.” 
 
CDC e Estado 
Costuma-se dizer que o Estado, esse ente jurídico que tem como missão principal a busca 
pelo chamado bem comum, tem na defesa do consumidor o fim por ele visado. Segundo 
Filomeno (2016, p. 1) essa afirmação se justifica porque: 
 
“[...] somente se concebe a existência do próprio estado na medida em 
que se estabelecem condições mínimas e indispensáveis para que todo ser 
humano se realize de forma integral. Nesse sentido, produtos e serviços, 
colocados no mercado, têm por fim assegurar a todos os seres humanos 
existência condigna para que desenvolvam todas as suas potencialidades.” 
 
No Brasil, mesmo antes da criação do Código de Defesa do Consumidor, com a publicação 
da Lei 8.078 em 1990, diversos movimentos já visavam garantir que o equilíbrio nas relações de 
consumo fosse adequado. O Código de Defesa do Consumidor nasceu então como uma norma 
de ordem pública e interesse social, sendo considerado um microssistema jurídico, além de uma 
lei inter e multidisciplinar. 
O conhecimento dos direitos e deveres de cada cidadão faz 
parte da construção de uma cidadania cujo vínculo ocorre a 
cada oportunidade que o indivíduo tem de exercer 
livremente as suas escolhas, com a tutela de um Estado que 
busca o bem comum. 
 
 
 19 
 
O CDC foi idealizado para viabilizar a proteção do consumidor quando este se envolve na 
busca ou aquisição de produtos e serviços. Além disso, visa harmonizar os interesses dos 
participantes das relações de consumo constituídas (art. 4º, inciso III), na medida em que 
reconhece a vulnerabilidade e a hipossuficiência do consumidor, princípios que veremos com 
mais detalhes a seguir: 
 
a) Vulnerabilidade: 
A vulnerabilidade decorre da posição de inferioridade do consumidor frente ao fornecedor 
do produto ou serviço. Nesse caso, há previsão constitucional de que o cidadão poderá exigir do 
Estado a promoção dos seus interesses. 
Além disso, a tutela da parte mais fraca está amparada pelo princípio da dignidade da pessoa 
humana, somada à boa-fé do consumidor na relação de consumo. 
 
b) Hipossuficiência: 
A hipossuficiência é uma condição extremada de vulnerabilidade relativa ao consumidor de 
boa-fé, comprovada pela incapacidade probatória do fato alegado, o que está vinculado à sua 
situação econômica. 
A Defesa do Consumidor coloca ao dispor do cidadão 
institutos e instrumentos que lhe garantirão as efetivas e 
integrais reparação e prevenção dos danos que lhe tenham 
sido causados por um fornecedor de produtos ou serviços. 
 
Prazos de reclamação e práticas abusivas 
Modalidades de garantia 
Para assegurar o direito do consumidor em relação ao produto ou serviço adquirido, via de 
regra, há três modalidades de garantia que podem ser usufruídas: 
� garantia legal; 
� garantia contratual e 
� garantia estendida. 
 
Veremos cada uma dessas modalidades a seguir. 
 
 
20 
 
Garantia legal 
Quanto à garantia legal, vejamos o que nos diz o conteúdo dos artigos 26 e 27 da Lei nº 
8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor – CDC): 
 
“Art. 26 O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil 
constatação caduca em: 
I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos 
não duráveis; 
II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de 
produtos duráveis. 
§ 1° Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva 
do produto ou do término da execução dos serviços. 
§ 2° Obstam a decadência: 
I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o 
fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, 
que deve ser transmitida de forma inequívoca; 
II - (Vetado). 
III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento. 
§ 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no 
momento em que ficar evidenciado o defeito. 
 
Art. 27 Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos 
causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste 
Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do 
dano e de sua autoria. 
Parágrafo único. (Vetado).” (grifos nossos) 
 
Da leitura da norma apresentada, depreendemos que as garantias legais independem da sua 
manifestação por contrato, sendo asseguradas ao consumidor por meio do Código de Defesa do 
Consumidor (CDC), de maneira taxativa, com relação aos bens duráveis (automóveis e utensílios 
eletrônicos, pode exemplo) e aos bens não duráveis (alimentos perecíveis). Todavia, o início da 
contagem do prazo do direito de reclamar pode ser modificado a depender do tipo de defeito que 
se mostra ao consumidor. Tratando-se de vício oculto, por exemplo, o prazo para a perda do 
direito começa a contar a partir do momento em que ficar evidenciado o defeito. 
 
 
 21 
 
Garantia contratual 
Modernamente, é também oferecida a garantia adicional contratual ao consumidor. Nesse 
caso, o fornecedor faz constar expressamente no seu contrato a garantia, especificando o prazo e as 
condições para conceder tais benesses. Em geral, essas informações constam de um documento 
formal conhecido como “Termo de garantia”. 
 
Garantia estendida 
No mercado atual, podemos identificar ainda um produto chamado “garantia estendida”, 
por meio do qual, geralmente, uma entidade seguradora cobre para proteger o capital investido 
pelo consumidor por quanto tempo este estiver disposto a pagar. Nessa categoria, identificam-se 
três tipos de garantia: 
� a original, cuja cobertura é igual à da garantia oferecida pelo fornecedor; 
� a original ampliada, que possui acréscimos à original e 
� a diferenciada, que é menos abrangente que a original, cobrindo somente algumas 
situações específicas. 
 
Não são raras as situações em que o consumidor se vê quase coagido a adquirir tais 
“garantias estendidas” quando adquire um produto ou serviço, uma vez que alguns fornecedores, 
por estratégia comercial, condicionam determinada situação (descontos ou brindes, por exemplo) 
à sua aquisição. Em jargão comercial, essa ação é conhecida como venda casada ou GA (por goela 
abaixo). Tal prática é, no entanto, expressamente vedada pelo CDC. Vejamos: 
 
“Art. 39 É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras 
práticas abusivas: (Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994) 
I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao 
fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa 
causa, a limites quantitativos;” (grifos nossos) 
 
Nas palavras do então político Geraldo Alckmin Filho, na exposição de motivos quando da 
construção do CDC, ensinou Ada Pelegrini Grinover (2007, p 372) “O Código
prevê uma série 
de comportamentos, contratuais ou não, que abusam da boa-fé do consumidor, assim como de 
sua situação de inferioridade econômica e técnica. Ë possível, portanto, que tais práticas sejam 
consideradas ilícitas, independentemente da ocorrência de dano para o consumidor”. 
Seguindo com as vedações a que se refere o inciso I do artigo 39 do CDC, podemos 
identificar a vedação imposta pelo Código ao fornecedor quanto ao estabelecimento de limites 
quantitativos sem justa causa. Como exemplo, podemos mencionar o Recurso Especial (REsp) 
 
22 
 
1068944, por meio do qual o Superior Tribunal de Justiça (STJ) julgou favoravelmente ao 
consumidor, considerando abusiva a obrigação de o usuário/contratante adquirir franquia de 
pulsos no serviço de telefonia independentemente do seu uso efetivo. 
 
Prazos 
O CDC, estabelece um prazo máximo ao fornecedor (de serviços ou mercadorias) para 
sanar o problema do consumidor. Quanto ao tema, vejamos o que nos diz o conteúdo do artigo 
18 do CDC: 
 
“Art. 18 Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não 
duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou 
quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que 
se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles 
decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da 
embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações 
decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição 
das partes viciadas. 
§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode 
o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: 
I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas 
condições de uso; 
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, 
sem prejuízo de eventuais perdas e danos; 
III - o abatimento proporcional do preço.” (grifos nossos) 
 
Como podemos observar, passados trinta dias da notificação, caso o fornecedor não solucione o 
problema ou defeito do produto ou serviço disponibilizado, o consumidor poderá exigir: 
� a substituição do produto por outro similar; 
� a restituição imediata da quantia desembolsada pelo produto ou serviço, ou 
� um abatimento proporcional no preço pago. 
 
É importante ressaltarmos que a substituição deve ser imediata caso os bens com defeito 
sejam essenciais, como fogões, geladeiras, balões de oxigênio, etc. 
Ainda a partir da análise do artigo 18, podemos notar que há solidariedade entre fabricante 
e revendedor no tocante à reparação do produto, ficando a critério do consumidor a escolha de 
quem resolverá a sua situação por meio de reclamação direcionada. 
 
 
 23 
 
Quanto aos demais prazos, o CDC estipula expressamente o seguinte: 
 
a) Dados e cadastro inexatos: 
O consumidor terá o direito de, no prazo de 05 (cinco) dias úteis, ver corretos dados e 
cadastro inexatos (art. 43, § 3º do CDC). 
 
b) Desistência de contrato: 
O consumidor terá o prazo de 07 (sete dias) dias para desistir do contrato, a contar da sua 
assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação de 
fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por 
telefone ou a domicílio (art. 49 do CDC). 
 
c) Vício aparente não sanado: 
Após 30 dias sem que o vício (aparente) seja sanado, o consumidor poderá exigir, 
alternativamente e à sua escolha: 
� a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; 
� a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de 
eventuais perdas e danos, ou 
� o abatimento proporcional do preço (arts. 18, § 1º do CDC). 
 
d) Vícios aparente ou de fácil constatação em bens não duráveis: 
O consumidor terá o prazo de até 30 (trinta) dias, no caso de bens não duráveis, para 
reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação (art. 26, I do CDC). 
 
e) Vícios aparente ou de fácil constatação em bens duráveis: 
 O consumidor terá o prazo de até 90 (noventa) dias, no caso de bens duráveis, para 
reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação (art. 26, II do CDC). 
 
f) Vícios não aparentes: 
O consumidor terá o prazo de 05 (cinco) anos, no caso de vício não aparente, a contar a partir 
do conhecimento do dano e da sua autoria, para ajuizar ação de reparação de danos (art. 27 CDC). 
 
 
 
24 
 
Condições abusivas 
Segundo Paulo Luiz Neto Lôbo (1992), nas relações de consumo, são abusivas as condições 
contratuais que atribuem vantagens excessivas ao predisponente fornecedor e demasiada 
onerosidade ao consumidor, gerando assim um injusto desequilíbrio contratual. Nas palavras do 
autor (1992, p. 132): 
 
“As cláusulas abusivas são instrumento de abuso do poder contratual 
dominante, do fornecedor, em face da debilidade jurídica potencial do 
consumidor. Estabelecem conteúdo contratual inócuo, com sacrifício do 
razoável equilíbrio das prestações. 
 
A disciplina legal das cláusulas abusivas deve ser aplicada pelo julgador, 
tendo presentes os pressupostos da razoabilidade e da busca do ‘justo 
equilíbrio entre direitos e obrigações das partes’ ou do ‘equilíbrio 
contratual’ (art. 51, §§ 1º e 4º do CDC).” 
 
Como podemos observar, os conceitos indeterminados devem ser preenchidos pela 
concretização mediadora do julgador, captando os standards éticos e jurídicos da comunidade no 
tempo e no espaço. Isso ocorre em função de a lista de cláusulas abusivas contida no art. 51 do 
Código ser meramente exemplificativa, configurando uma tipicidade aberta. 
Nesse caso, ainda Lôbo (1992, p. 132) nos ensina o seguinte: 
 
“Um valioso instrumento de análise foi posto à disposição do julgador: a 
cláusula geral da boa-fé e da equidade (art. 51, IV, e § 1º do CDC). 
Trata-se da boa-fé objetiva, como regra de conduta nas relações jurídicas 
obrigacionais. Interessam as repercussões de certos comportamentos na 
confiança que as pessoas normalmente nele depositam. Supõe a conduta 
honesta, leal, correta. É boa-fé de comportamento. O fornecedor cria 
uma situação sobre a qual o consumidor confia, em que não haverá 
comportamento enganoso ou abusivo. 
O Código do Consumidor, ao optar por conceitos indeterminados e 
cláusula geral de boa-fé, lançou sobre os ombros do julgador uma difícil 
tarefa, ampliando seus poderes no tocante à revisão dos contratos. A 
defesa do consumidor é sua finalidade, por mandamento legal e 
constitucional, mas essa tutela não é ilimitada: há de conter-se no âmbito 
do equilíbrio contratual. 
 
 25 
 
As cláusulas abusivas são nulas ‘de pleno direito’ (art. 51). O regime 
definido é o da nulidade e não qualquer outro, como o da anulabilidade 
ou o da ineficácia. 
O direito cominou-lhe o grau mais elevado de invalidade, porque a tutela 
legal do consumidor opera apesar dele. O interesse lesado não pertence 
individualmente ao consumidor contratante, mas a toda comunidade 
potencialmente prejudicada. Daí a nulidade pode ser suscitada 
judicialmente não só pelo consumidor (ação individual), mas pelo 
Ministério Público, por associações civis ou pela autoridade pública (ação 
civil pública). 
O princípio da conservação do contrato, adotado pelo Código (art. 51, § 
2º, CDC), permite a validade do contrato na parte que remanescer, salvo 
se ocorrer ônus excessivo a qualquer dos contratantes. Mais uma vez, a 
regra fundamental é a do equilíbrio das posições contratuais.” 
 
O princípio da conservação do contrato indica uma preocupação com a proteção 
contratual, sobretudo quando se refere à fórmula ou ao índice, adotando uma tendência da 
jurisprudência de proibir vários índices alternativos no mesmo contrato, em favor apenas do 
fornecedor e em detrimento de uma relação de consumo
harmônica. 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
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30 
 
PROFESSOR-AUTOR 
Fábio Lopes Soares é Ph.D. em Business Administration (FCU/EUA), 
mestre em Direito da Sociedade da Informação pelas Faculdades 
Metropolitanas Unidas (FMU), MBA em Gestão Econômica e Estratégica de 
Negócios pela Fundação Getulio Vargas (FGV), especialista em Negociações 
Econômicas Internacionais pela Unesp e Unicamp, bacharel em Direito pela 
Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo (FDSBC), com OAB em 
São Paulo, além de contabilista formado pela Escola Técnica Estadual de São 
Paulo (Etesp). Com conhecimentos especializados na área de defesa do 
consumidor, apresenta domínio das ferramentas de qualidade MCQ e PMO, e possui certificações 
ISO, sendo green belt em Six Sigma. Participante efetivo da Comissão de Direito do Consumidor da 
OAB-SP, do comitê setorial de Ouvidoria da Abrarec e da Associação Brasileira de Ouvidores 
(ABO), Soares é também membro da Brasilcon. Especialista convidado pelo
Jornal O Estado de São 
Paulo e pelo JOTA (portal de notícias da UOL). Atua ainda como parecerista da Controladoria 
Geral da União (CGU). Fundador e consultor da Bureau Sapientia, atuou por mais de 17 anos no 
Governo Federal e no Governo do Estado de São Paulo, além de nos Bancos Itaú, Unibanco e 
Bradesco, como gestor e CFO, estando à frente de processos gerenciais das áreas de Ouvidoria, 
Sistemas de Controle Operacionais e Relações de Consumo. Atua ainda como docente nos cursos 
de pós-graduação, MBA e LL.M da Escola de Direito do Rio de Janeiro e da Escola de 
Administração da Fundação Getulio Vargas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Consumidor/Introdução às Relações de Consumo/03 - Direitos e Deveres Básicos.pdf
Direitos básicos do consumidor – art. 6º do CDC
1. proteção da saúde, vida e segurança;
2. educação para o consumo;
3. liberdade de escolha de produtos e serviços;
4. informação;
5. proteção contra publicidade enganosa e abusiva;
6. proteção contratual;
7. indenização;
8. acesso à justiça; 
9. facilitação da defesa dos seus direitos e
10. qualidade dos serviços públicos.
Direitos básicos do consumidor
 art. 4º do CDC – reconhece o consumidor como a parte mais fraca e o 
fornecedor como a parte mais forte nas relações de consumo, e
 art. 6º, VIII – inversão do ônus da prova (hipossuficiência e vulnerabilidade).
É um princípio e, ao mesmo 
tempo, uma cláusula geral.
Deve existir em toda relação 
contratual.
O CDC trata a relação de consumo 
como uma relação isonômica.
Não basta a igualdade formal (art. 
1º, III, e 5º da CF). 
princípio da boa-fé princípio da isonomia
Produto
É toda mercadoria comercializada: automóvel, roupa, casa, alimentos.
Os produtos podem ser de dois tipos:
 produto durável – aquele que não desaparece com o seu uso: um carro, uma 
geladeira, uma casa – e
 produto não durável – aquele que acaba logo após o uso: os alimentos, as 
bebidas, os preservativos, os remédios.
Serviço
Tudo o que você paga para ser feito: conserto de carro ou de 
eletrodomésticos, serviço bancário, serviço de seguros.
Existem dois tipos de serviços:
 serviço durável – aquele que demora a desaparecer conforme o uso: a 
pintura ou construção de uma casa, uma prótese dentária – e
 serviço não durável – aquele que acaba depressa: jardinagem e faxina, 
serviço de lavagem de roupa.
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.
Consumidor/Introdução às Relações de Consumo/01 - História da Defesa Consumidor no Brasil.pdf
Ordenamento jurídico
leis, decretos, 
jurisprudência
atos normativos: 
portarias, resoluções, etc.
contratos, sentenças judiciais, atos 
e negócios jurídicos
Constituição
História da defesa do consumidor no Brasil
1960
A Organização 
Internacional dos 
Consumidores é 
criada.
1976
Em maio, é criado 
o Procon-SP.
1960
O presidente norte-
americano John Fitzgerald 
Kennedy institui a lista dos 
direitos do consumidor.
1987
A ONU aprova uma lei-
modelo sobre direitos 
do consumidor.
1987
Em julho, nasce o Instituto 
Brasileiro de Defesa do 
Consumidor (Idec).
1988
Em junho, é estabelecida a 
Comissão de Juristas, 
responsável pela elaboração 
do anteprojeto do Código de 
Defesa do Consumidor.
1988
Em outubro, é 
promulgada a nova 
Constituição Federal.
1989
O anteprojeto do CDC 
chega ao Senado em maio, 
e é criada a Comissão 
Mista para avaliar o 
projeto.
1990
Em setembro, o Código 
de Defesa do 
Consumidor passa por 
votação e é aprovado.
1991
Em março, as 
regras do 
CDC entram 
em vigor.
Fonte: MEIR, Roberto (Org.). Do código ao compromisso: propostas efetivas para melhoria dos serviços ao consumidor no Brasil. São Paulo: Editora Padrão, 2011. 
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.
Consumidor/Introdução às Relações de Consumo/02 - Caracterização das Relações de Consumo.pdf
Relação de consumo
Conceitos relevantes
Consumidor, fornecedor, produto, serviço e relação de consumo definem a 
compreensão do Código de Defesa do Consumidor.
O Código de Defesa do Consumidor é um conjunto de normas que regulam as 
relações de consumo, protegendo o consumidor e colocando os órgãos e as 
entidades de defesa do consumidor a seu serviço. 
Relação de consumo
consumidor (art. 2º)
relação de consumo
dignidade da pessoa humana (art. 4º)
fornecedor (art. 3º)
Relação de consumo
boa-fé objetiva
consumidor (art. 2º)
relação de consumo
dignidade da pessoa humana (art. 4º)
fornecedor (art. 3º)
Relação de consumo
vulnerabilidade
boa-fé objetiva
consumidor (art. 2º)
relação de consumo
dignidade da pessoa humana (art. 4º)
fornecedor (art. 3º)
Relação de consumo
hipossuficiênciavulnerabilidade
boa-fé objetiva
consumidor (art. 2º)
relação de consumo
dignidade da pessoa humana (art. 4º)
fornecedor (art. 3º)
Consumidor
Art. 2º da Lei nº 8.078/90
É qualquer pessoa que compra um produto ou que contrata um serviço, para 
satisfazer as suas necessidades pessoais ou familiares.
As vítimas de acidentes causados por produtos defeituosos também são 
consideradas consumidores, mesmo que não os tenham adquirido (art. 17, 
CDC), bem como as pessoas expostas às práticas abusivas previstas no CDC.
Fornecedor
Art. 3º da Lei nº 8.078/90
São pessoas, empresas públicas ou particulares, nacionais ou estrangeiras que 
oferecem produtos ou serviços para os consumidores.
Essas pessoas ou empresas produzem, montam, criam, transformam, 
importam, exportam, distribuem ou vendem produtos ou serviços para os 
consumidores.
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.

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