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Fundamentação Histórica dos Direitos Humanos

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DESCRIÇÃO
A fundamentação histórica dos Direitos Humanos e sua estruturação e efetivação no cenário nacional e internacional.
PROPÓSITO
Compreender o que são os Direitos Humanos e quais são seus objetivos para uma formação profissional plena que respeita os indivíduos
permitirá que sua atuação contribua para a manutenção do bem-estar social.
PREPARAÇÃO
Para esse módulo, o uso de um dicionário jurídico facilitará o entendimento de termos específico da área.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Reconhecer as características e a evolução dos Direitos Humanos
MÓDULO 2
Identificar os argumentos teóricos e as críticas aos Direitos Humanos
MÓDULO 3
Contrastar a diversidade das culturas aos Direitos Humanos
MÓDULO 4
Analisar a estruturação dos Direitos Humanos no Brasil
INTRODUÇÃO
Os Direitos Humanos são um conjunto de direitos considerados essenciais para que qualquer ser humano, independentemente de sua
condição, origem, seu credo, sua raça ou orientação política, viva com dignidade. A existência desse conjunto é de conhecimento geral e não
é raro vermos referências aos Direitos Humanos em reportagens ou conversas cotidianas. No entanto, ainda não são compreendidos pelas
pessoas.
Poucos entendem o que eles representam realmente e o que procuram fazer. Diversas informações equivocadas sobre o assunto circulam e,
muitas vezes, a mensagem tem distorções propositais para questionar a importância dos Direitos Humanos e fazer que eles sejam negados a
um determinado grupo de pessoas.
A Ciência prega que um profissional entenda do assunto para além do senso comum e que tenha o conhecimento suficiente para utilizar de
forma correta a informação.
Este conteúdo tem o objetivo de propor um debate sobre os Direitos Humanos, dividindo o assunto em quatro módulos, que abordarão a
construção ética e histórica do conceito, procurando definir quais são esses direitos e como eles foram moldados; as críticas e atualizações
sobre seus preceitos básicos; a discussão sobre seu caráter universal e a necessidade de que ele atenda a diferentes grupos; sua formação
jurídica e, finalmente, seu desenvolvimento no Brasil. Com esse debate, poderemos compreender seus fundamentos, suas críticas e sua
funcionalidade no Brasil e no mundo.
GLOSSÁRIO
Vamos conceituar alguns termos que serão abordados ao longo do tema.

MÓDULO 1
 Reconhecer as características e a evolução dos Direitos Humanos
CONSTRUÇÃO ÉTICA E HISTÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS
Direitos Humanos são direitos básicos que devem ser garantidos a todo ser humano independentemente de sua condição. O significado
parece simples, mas definir o que são condições mínimas para que qualquer ser humano, em qualquer lugar do planeta, viva de forma digna
é uma tarefa complexa, mais ainda se pensarmos que essas condições se modificam ao longo do tempo.
Geralmente, quando falamos desse assunto, nos referimos aos Direitos Humanos criados recentemente pela Declaração Universal dos
Direitos Humanos, escrita em 1948, pela Organização das Nações Unidas, popularmente conhecida como ONU.
 ATENÇÃO
Não se pode ignorar que, antes dessa declaração ser escrita, existiu um longo caminho de construção de direitos básicos, com interesses
que se modificam com o passar do tempo. Para compreendermos o que são os Direitos Humanos, no século XXI, precisamos observar o
desenvolvimento das necessidades dos seres humanos ao longo do tempo e as lutas que foram travadas para desenvolver esse conceito.
É certo que, se observarmos cada sociedade, desde os primeiros povos, veremos que cada um teve as suas urgências e que, em alguns
momentos, foi preciso estabelecer um conjunto de leis, de regras ou de ideias para garantir o mínimo de dignidade e condições de
sobrevivência para todos.
Ao longo do tempo, as guerras aconteceram e deixaram alguns grupos mais interessados em garantir a sua integridade do que outros,
tecnologias foram sendo criadas e vistas como fundamentais para uma condição digna de vida.
À medida em que o tempo passa e fatos acontecem, outras dificuldades aparecerão e nos farão repensar o que consideramos essencial para
viver.
 EXEMPLO
Após a pandemia de coronavírus, é possível que o acesso universal à vacinação seja muito mais valorizado como um direito básico e
reivindicado do que em outros tempos.
CADA ÉPOCA TEM SUAS NECESSIDADES BÁSICAS, QUE SURGEM EM UM
DETERMINADO CONTEXTO.
PRIMEIRAS DECLARAÇÕES DE DIREITOS
As primeiras referências ao termo Direitos Humanos datam dos séculos XVII e XVIII, na Europa Ocidental, quando se vivia a chamada crise
do absolutismo, ou seja, no momento em que a ideia de um governante soberano com todos os direitos concentrados em suas mãos perdia
força.
 SAIBA MAIS
A historiadora Lynn Hunt afirma que, em um primeiro momento, a expressão não tinha o mesmo conteúdo político e legal que conhecemos
atualmente e que, naquele tempo, “direitos humanos” era uma expressão usada apenas como um contraponto aos direitos divinos. (HUNT,
2009)
Sobre o assunto, o filósofo Norberto Bobbio afirmou que esse período pode ser conhecido também como “era dos direitos”, pois foi naquele
tempo que as ideias dos filósofos do Iluminismo inspiraram os liberais a lutarem contra os absolutistas, criando um “Estado de direito”, ou
seja, um Estado que tinha sua organização determinada pelo uso das leis (BOBBIO, 1992).
ILUMINISMO
Movimento intelectual do século XVIII que questionou os princípios políticos e religiosos da época.
Ainda segundo Hunt, foi o Iluminismo que materializou a noção de direitos básicos para todos, principalmente por meio de dois documentos
que vamos analisar a partir de agora: a Declaração de Independência, dos Estados Unidos; e a Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão, escrita durante a Revolução Francesa.
DECLARAÇÃO DE INDEPENDÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS
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Esse documento foi resultado da insatisfação dos estadunidenses, naquele momento conhecidos como as Treze Colônias Inglesas da
América, com a metrópole Inglaterra.
Na época, os colonos viviam com uma relativa independência política e econômica até que foram convocados pela Inglaterra a se envolver
numa guerra contra os franceses, a Guerra dos Sete Anos. Mesmo indo à batalha e garantindo a vitória inglesa no conflito, os americanos se
viram, ao final da Guerra dos Sete Anos, obrigados a pagar dívidas inglesas e a obedecer a ordens autoritárias da metrópole.
Insatisfeitos, os colonos se reuniram e escreveram uma carta ao rei e ao parlamento inglês em que declaravam sua fidelidade à Inglaterra,
mas reclamavam das medidas adotadas. A carta não teve a resposta esperada e, em 1776, os colonos americanos voltaram a se reunir no
Segundo Congresso da Filadélfia, onde redigiram a Declaração de Independência, na qual informavam à metrópole os motivos pelos quais os
colonos estavam rompendo com a Inglaterra e não fariam mais parte do reino inglês.
 O congresso votando pela independência.
Essa declaração americana anuncia que todos os homens são criados iguais por Deus e que recebem Dele direitos que não lhes deveriam
ser retirados: a vida, a liberdade e a busca da felicidade. Esses direitos são vistos pelos autores do documento como verdades
“autoevidentes”, ou seja, direitos que são natos a todos os seres humanos e que, caso não sejam respeitados pelo governo, o povo tem o
direito e o dever de substituir o governante ou de mudar as regras da política até que possa ser possível desfrutar dos direitos com
segurança.
O que podemos entender a partir dessa declaração é que a finalidade do documento não era estabelecer direitos básicos, até porque eles
são autoevidentes e estariam naturalmente disponíveis em uma nação justa, mas que esses direitos são citados para argumentar a
necessidade de rompimento com a metrópole pela falta de respeito a eles, criando as bases da nova nação que iria surgir.
Com isso, a declaração demonstrou as intenções daquele momento, mas ainda não estava tornando oficiais esses direitos, isso só iria
acontecerposteriormente, em 1787, quando foi assinada a Constituição dos Estados Unidos.
Neste novo documento, nota-se que alguns daqueles direitos autoevidentes não foram respeitados: as leis estadunidenses, por exemplo,
permitiam que a escravidão permanecesse legal nos Estados Unidos, recusando-se aos trabalhadores escravizados ao menos dois dos três
direitos básicos apresentados na Declaração de Independência, como a liberdade e a busca pela felicidade.
 Pintura mostrando o massacre de Wyoming por militantes
lealistas e indígenas contra cidadãos americanos da fronteira,
Alonzo Chappel, 1778.
DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO
Esse documento também foi resultado de um conflito que teve início com a insatisfação do povo com o seu governante. Dessa vez, o
descontentamento era dos franceses com o rei absolutista Luís XVI.
Após o envolvimento da França para apoiar os americanos na Guerra de Independência dos Estados Unidos, o monarca francês tentou
controlar uma crise econômica aumentando os impostos cobrados da população, mas manteve as classes privilegiadas isentas de
contribuição.
Inspirados também pelos valores iluministas, o povo se rebelou e se proclamou, em Assembleia Nacional, para subordinar o rei a uma
constituição. Assistindo as movimentações nas ruas e sem conseguir controlar a situação, o rei reconheceu a legitimidade da Assembleia e
orientou que os grupos privilegiados também fossem cobrados.
Em 1789, com todas as classes reunidas, a Assembleia francesa aprovou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
 Abertura da Assembleia dos Estados Gerais,
Isidore-Stanislaus Helman e Charles Monnet, 1789.
O documento francês defendeu que a ignorância, a negligência ou o menosprezo aos direitos dos homens eram a razão da difícil situação em
que o povo se encontrava e que, para mudar a situação, era necessário defender de forma solene os direitos considerados naturais,
inalienáveis e sagrados do homem.
 ATENÇÃO
Aqui, podemos observar que, apesar de acreditar que existem direitos que são naturais aos homens, diferentemente da ideia americana, eles
não são evidentes por si só e precisam ser ditos e defendidos.
Como confirmação, podemos indicar o primeiro direito da declaração francesa, que afirma que os homens não só nascem, como devem
permanecer livres e iguais, ou seja, não é uma condição provisória que pode ser retirada em algum momento, mas inerente ao ser humano.
Se compararmos as duas declarações, vamos encontrar outras diferenças importantes.
DECLARAÇÃO FRANCESA
Foi escrita para listar e defender os direitos considerados essenciais.
Documento legal escrito por uma Assembleia reconhecida pelo Estado, base da Constituição que seria aprovada posteriormente e que
repercutiu em direitos legais que tiveram atuação real.

DECLARAÇÃO AMERICANA
Apontou para a existência de alguns direitos básicos para defender um outro propósito, a independência.
Documento no qual um comitê, representando as Treze Colônias, localizadas na América do Norte, foi nomeado pelo Congresso para redigir
a declaração.
Essas duas declarações alimentaram o início de um debate sobre os Direitos Humanos e serviram de exemplo durante todo o século
XIX para a criação de novos regimes políticos, incentivando os processos de independência das colônias americanas, criando um novo
mundo.
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DE DIREITOS HUMANOS
No século XX, os valores do mundo se transformaram mais uma vez, agora não por meio de processos revolucionários, mas por duas
conhecidas guerras que se iniciaram na Europa, envolveram países de todos os continentes e deixaram um rastro de barbárie e mortes.
 Primeira Guerra Mundial – Batalha de Verdun (abril – junho, 1916).
Vamos acompanhar como as duas guerras mundiais influenciaram a criação dos direitos humanos como existem atualmente e como essa
declaração foi criada.
PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
Em janeiro de 1919, pouco depois de acabar a Primeira Guerra Mundial, as nações vitoriosas se reuniram na Conferência de Paz de Paris e
assinaram o Tratado de Versalhes que, entre outras decisões, criou a Liga das Nações, um órgão internacional que tinha como objetivo
interceder pela paz.

SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Apesar dos esforços dessa organização, poucos anos depois, ou como descreve a Carta das Nações Unidas “no espaço de uma vida
humana”, um novo conflito de proporções ainda maiores viria acontecer, a Segunda Guerra Mundial. O mundo se chocou ao viver o horror do
uso de novas tecnologias de guerra, de campos de concentração e de extermínio em massa, pelos dois lados do conflito.
Assim como na Primeira, no final desta Guerra, em 1945, os países vitoriosos se reuniram e assinaram acordos para restabelecer a paz no
mundo. Entre as decisões tomadas, criou-se uma organização internacional neutra para substituir a Liga das Nações, a chamada
Organização das Nações Unidas (ONU).
O objetivo desse novo órgão foi descrito na Carta das Nações Unidas, produzida e assinada na cidade de São Francisco, nos Estados
Unidos, ainda no ano de 1945. Nesse documento, determina-se que a ONU representa um pacto entre as nações que devem se observar e
procurar juntas mediar as ações e decisões tomadas por todos, a fim de “preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra” e reafirmar a
“fé nos direitos fundamentais do homem e no valor da pessoa humana; na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, assim como das
nações, grandes e pequenas”. Também eram objetivos desse documento manter a justiça, o respeito, promover o progresso social, melhores
condições de vida e a liberdade. Para alcançar esses objetivos, três anos depois, em 1948, a ONU produziu a Declaração Universal dos
Direitos Humanos.
 A ONU em 1945. Em azul claro, os membros fundadores. Em azul escuro, os protetorados e territórios dos membros fundadores.
A Assembleia Geral da ONU desejava que essa Declaração fosse um ideal comum a ser buscado por todos os povos e nações e anunciou
trinta artigos que compreendem direitos como a proteção e segurança pessoal, a abominação à escravatura ou servidão, à tortura, ao
reconhecimento de todos os indivíduos como seres jurídicos, ao casamento e ao fim dele, ao trabalho e ao repouso, entre outros.
Esse documento tornou-se extremamente importante na busca pelos direitos básicos, pois ele não foi um documento regional, como as
declarações americana e francesa, mas um tratado internacional, que trabalhou e ainda atua para que esses direitos estejam mais perto de
todos os seres humanos.
Nela são reconhecidos como direitos inalienáveis a liberdade, a justiça e a paz e é criado um conceito importante para envolver todos os
seres humanos em um patamar de igualdade, a ideia de que todos fazemos parte de uma mesma família, a família humana. Essa ideia
declara que não há diferença entre os seres humanos, pois todos os indivíduos são parentes e têm a mesma origem, trazendo um sentimento
de afeto para reforçar que devemos respeitar o próximo e ter empatia por ele.
 Nobel da Paz de 2001 – diploma na entrada da Sede da ONU
em Nova York.
 SAIBA MAIS
A Declaração das Nações Unidas de 1948 é o maior documento legal de direitos humanos produzido e, para chegar a todos os seres
humanos, essa declaração se tornou o texto mais traduzido no mundo.
Com sua grande tradução para vários idiomas e com um grande esforço de circulação, a declaração foi e é analisada e estudada
intensivamente por juristas de todas as nacionalidades, que identificam três características que se tornam seus três pilares fundamentais.
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS
UNIVERSALIDADE
A primeira característica desses direitos é que eles são universais, como indica o próprio nome. Isso significa dizer que eles devem estar
disponíveis ao acesso de todos os membros da família humana igualmente, não podendo ser restringidos a ninguém.
Por essa condição, se alguém não puder gozar de algum desses direitos, todos os demais membros da família humana estão ameaçados,pois eles não estão em pleno funcionamento. Assim, não é permitido que algum direito seja aplicado a apenas uma pessoa ou grupo.
 EXEMPLO
Vamos pensar no direito à liberdade: se em algum lugar do mundo for permitido que algum ser humano seja submetido a condições de
trabalho escravo, isso significa que todos os outros seres humanos correm o mesmo risco. Se vale para um, vale para todos.
INTERDEPENDÊNCIA
Outra característica é que esses direitos são interdependentes, ou seja, um direito complementa o outro, a existência de um está
condicionada à existência de todos os demais. Aqui entendemos que nenhum direito é mais importante do que os demais. Eles se apoiam,
como em um castelo de cartas. Se um for ameaçado, todo o conjunto pode ruir.
 EXEMPLO
Se alguém estiver passando fome, ou seja, se tiver o seu direito de ter uma alimentação adequada ameaçado, é possível que essa pessoa
não consiga exercer a seu direito à liberdade, pois a essa pessoa nada mais interessará, e todos os seus esforços estarão focados em
alimentar-se, e ela pode acabar aceitando qualquer condição imposta. Sua liberdade dependerá do acesso à alimentação. Assim, podemos
dizer que um direito só funciona se o outro também funcionar.
INDIVISIBILIDADE
A última característica é a indivisibilidade, que significa que não pode haver uma divisão desses direitos em categorias. É preciso entender
e respeitá-los como um todo, enxergando que os direitos individuais, políticos, sociais e econômicos interagem e não podem ser afastados
uns dos outros.
 EXEMPLO
Não é possível que uma nação mova esforços para garantir apenas os direitos políticos da sua população sem garantir os direitos individuais
dela, pois esses dois direitos não estão separados.
Vamos pensar nos primeiros anos da República no Brasil, no final do século XIX e o início do século XX. Naquele momento, novos direitos
políticos foram criados, permitindo que alguns homens votassem e escolhessem seus governantes. No entanto não foram criadas condições
para que o direito individual fosse respeitado e, assim, esses eleitores eram ameaçados para que o voto fosse dado a um candidato
específico.
AMEAÇADOS
A essa prática de manipulação eleitoral demos o nome de voto de cabresto. Aqui entendemos que o direito político e o direito individual não
estão divididos e separados, ou seja, um direito não existe sem o outro.
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FASES DOS DIREITOS HUMANOS
Agora, destacaremos os principais eventos que marcaram os Direitos Humanos.
Ao acompanhar a trajetória dos Direitos Humanos, entendemos que seus objetivos e suas características foram construídas ao longo do
tempo.

PRIMEIRA GERAÇÃO
As declarações americana e francesa integram a primeira geração, que buscou a liberdade ao rejeitar o controle do Estado absolutista e
procurar limitar poderes autoritários, já que esses interferiam diretamente no livre arbítrio de decisões individuais.
SEGUNDA GERAÇÃO
A segunda geração, no século XX, com as declarações e os tratados internacionais das Nações Unidas, reafirmou a liberdade da primeira
geração e buscou a igualdade, criando a ideia de família humana, em que todos os seres humanos foram postos no mesmo patamar.


TERCEIRA GERAÇÃO
A partir dos anos de 1960, a última geração avançou sobre os direitos coletivos e difusos, ou seja, os direitos que representam os indivíduos,
mas que são do interesse de todos e que só podem ser exigidos por todos juntos.
Enfatizou-se a defesa de interesses como a preservação do meio ambiente, o direito à paz e o compartilhamento de conhecimento,
tecnologia e cultura. Para entendermos melhor, vamos observar o exemplo da preservação da Floresta Amazônica, que é uma preocupação
coletiva e só pode ser exigida em nome de todos.
Para concluir, podemos entender que a questão dos direitos demanda atualização e esforço por sua manutenção. Apesar da intenção de
colaborar com a criação de direitos básicos, nenhuma das três declarações citadas teve valor constitucional, isto é, nenhuma teve valor de lei,
foi capaz de garantir os direitos universais ou de impedir regressos.
 SAIBA MAIS
Pouco depois da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, a França voltou a ter um rei no poder e depois da produção da
Declaração dos Direitos Humanos, o mundo voltou a vivenciar diversas guerras, genocídios e ditaduras.
Entendemos que esses direitos não são garantias, e, sim, um trabalho em progresso. Por isso, precisamos estar sempre vigilantes para não
retrocedermos em nenhuma conquista.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
 Identificar os argumentos teóricos e as críticas aos Direitos Humanos
FUNDAMENTAÇÃO E RECONSTRUÇÃO DE DIREITOS HUMANOS
Ao acompanhar a trajetória dos Direitos Humanos, entendemos que eles são frutos de um processo histórico que combinou ideias,
pensamentos e necessidades de muitos momentos e grupos.
Atualmente, rejeitamos as ideias de um rei com todo o poder concentrado em suas mãos e de uma sociedade que define nosso lugar social
desde o nascimento sem chances de definirmos nossas próprias vidas, mas nem sempre foi assim.
Para que direitos como a limitação de poder e o princípio de igualdade se efetivassem como tratados ou leis, foi preciso construir uma grande
argumentação teórica baseada em tradicionais correntes jurídicas filosóficas.
Para entender a sustentação teórica dos Direitos Humanos, vamos analisar essas correntes e entender sua argumentação e suas críticas. Os
Direitos Humanos podem ser justificados por, pelo menos, três correntes filosóficas: jusnaturalista, positivista e moral.
JUSNATURALISMO
No jusnaturalismo, o direito é visto como algo intrínseco e natural ao ser humano e às leis, como resultados desse pensamento,
funcionando antes mesmo de serem legalizadas pelas constituições ou pelo Estado.
Na Antiguidade, os direitos jusnaturalistas foram interpretados como direitos de origem divina e, posteriormente, na Modernidade, foram
entendidos pelo uso da razão humana e vistos como direitos naturais.
Segundo essa corrente, eles existem, pois haveria uma demanda natural da sociedade por certos princípios, sendo os direitos uma
consequência natural da organização dos homens e mulheres, existindo independentemente de qualquer constituição ou diploma legal.
 EXEMPLO
Para compreensão do pensamento jusnatural temos o direito à vida. Os jusnaturalistas acreditavam que se as pessoas têm naturalmente a
ideia de que tirar a vida de outro ser humano é um ato injusto, seria desnecessário uma lei para impedir que as pessoas se matem.
 ATENÇÃO
O uso do argumento jusnatural para defender os Direitos Humanos, no entanto, sofre uma crítica, pois, acompanhando o seu
desenvolvimento histórico, entende-se que os Direitos Humanos não são pré-existentes ou uma necessidade natural da vida em sociedade.
Como nos mostra a história, os Direitos Humanos seriam fruto da evolução, da necessidade e do entendimento de um grupo. Na crítica ao
fundamento jusnaturalista, podemos ressaltar o questionamento feito pela professora Lynn Hunt sobre a natureza “autoevidente”, definida
pela Declaração de Independência dos Estados Unidos; se esses são direitos tão óbvios por que eles precisam ser reafirmados de tempos
em tempos?
POSITIVISMO
A corrente jurídica do positivismo entende que os direitos não são elementos naturais numa sociedade. Eles seriam o resultado de
discussões e entendimentos do Estado, que decide pela oficialização e pela legalização de uma certa norma.
Segundo essa corrente, o direito só existe por determinação legal, ou seja, os Direitos Humanos só passam a existir quando são
institucionalizados e recebem o reconhecimento em forma de lei, em constituições ou em tratados internacionais.
Para os positivistas não existem direitos como ideias, e os Direitos Humanos são apenas o que a lei determina que são Direitos Humanos. Se
estão representados apenas por declarações, eles não existem e ninguém tem a obrigação de segui-los.
 Auguste Comte, formulador do positivismo. ATENÇÃO
A crítica acusa que a interpretação literal do que é um direito enfraquece a proteção dos Direitos Humanos, pois deixa de fora uma série de
direitos de grande importância, que são reconhecidos pela comunidade ou que ainda estão sendo discutidos, antes de ser inscritos em
alguma legislação. Considerar apenas o que está previsto em lei implica numa redução de direitos.
MORALISMO
A corrente moralista, como a jusnaturalista, defende que os direitos são normas que não precisam da sua oficialização em leis e
constituições para ter validade; sua importância está diretamente relacionada às necessidades e aos valores da sociedade em que estão
inseridos. Mas, diferentemente do jusnaturalismo, o direito moral não acontece naturalmente na sociedade, ele se baseia nas necessidades e
nos valores específicos morais e éticos de um determinado grupo.
 EXEMPLO
Não há uma lei que obrigue que as pessoas precisam respeitar uma fila que tenha se formado, ninguém será preso por furar uma fila. Em
algumas culturas, essa regra é importantíssima, e você pode até mesmo se ausentar da fila por algum motivo que, ao retornar terá seu lugar
garantido, enquanto, em outros grupos, passar à frente de uma pessoa que estava desatenta não é um grande problema, e é até normal.
 ATENÇÃO
A crítica a essa corrente aponta também para uma limitação que põe em risco os direitos, pois, se cada sociedade possui seu próprio
conjunto de valores e tem um entendimento moral, vários direitos humanos diferentes seriam reivindicados pelo mundo, e o conjunto se
enfraqueceria como um direito universal.
CONSTRUÇÃO TEÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS
Apesar das diferenças evidentes, essas três teorias não se contradizem nem disputam entre si, elas se complementam e colaboram para que
os direitos humanos tenham sustentação e atuação mais forte na sociedade.
É importante lembrar que a Declaração Universal de Direitos Humanos e os demais tratados da ONU são declarações de intenção, ou seja,
não são leis válidas por si só. Eles estão baseados nas teorias moral e jusnatural e precisam do esforço e das estruturas legais dos países
inscritos nas Nações Unidas para que se positivem, ou seja, que se tornem legais e, de fato, possam ser acessados com mais efetividade por
todos.
Entretanto, sem o entendimento jusnatural e sem uma base moral e os esforços das Nações Unidas, os defensores desses direitos não têm
argumentos no debate, a fim de conseguir valor legal em todos os lugares do mundo e, assim, alcançar toda a família humana.
Para refletirmos, se os direitos humanos fossem somente de natureza jusnatural, sem apoio moral, ou seja, se não estivessem de acordo
com os valores da sociedade, não haveria um entendimento da sua urgência e eles não teriam aplicação prática na sociedade. Da mesma
forma, se os direitos humanos não tivessem uma argumentação baseada nos valores morais da sociedade, dificilmente eles conseguiriam se
transformar em discussões e, posteriormente, em leis, e não seriam positivados.
Vejamos o direito defendido pelo artigo 5º da declaração de 1945, que diz que “ninguém será submetido à tortura nem a penas ou
tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes”. Pela doutrina jusnatural, ninguém deveria ser submetido à tortura, pois isso é um direito
autoevidente, é um entendimento natural que isso não deve acontecer, mas, se o ato não for ilegal naquela nação, ou se aquele valor não
estiver inscrito também na moral daquela sociedade em questão, corre-se o risco de que se ignore o senso comum e a tortura, de fato,
aconteça.
 Banco dos réus no tribunal de Nuremberg.
Para entendermos a complexidade dessas correntes, também podemos pensar nas discussões do Tribunal de Nuremberg, uma corte
internacional formada ao final da Segunda Guerra Mundial para julgar os oficiais de alta patente do regime nazista alemão pela acusação dos
crimes contra a humanidade.
Na ocasião, a defesa dos militares nazistas foi montada sob o argumento de que seus atos eram legais dentro do sistema de leis alemãs
vigente no momento das ações, ou seja, quando os crimes foram cometidos, nos locais em que foram cometidos, eles não infringiram
nenhuma lei.
Nesta argumentação, pela corrente jusnaturalista, deve-se descartar o argumento da legalidade e se condenar os atos como crimes, por se
tratar de atitudes que deveriam ser naturalmente rejeitadas por todos. Por outro lado, a ideologia positivista alega legitimidade dos atos dentro
do sistema legal da nação onde ocorreram.
 Prisioneiros do campo de concentração de Wöbbelin.
Essa corrente ficou abalada e foi amplamente questionada por ter dado respaldo legal a ações dessa natureza, legitimando atuações com
indiferença aos valores éticos.
RUPTURA E RECONSTRUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
Além do debate sobre a legalidade, as políticas dos regimes fascistas foram um marco para as discussões sobre violação de direitos e a
responsabilidade da comunidade internacional em situações como essa.
A filósofa alemã Hannah Arendt produziu importantes reflexões sobre o tema já que parecia que, apesar do debate político e teórico que havia
sobre direitos universais até a primeira metade do século XX, todo o esforço político e filosófico não produzira efeitos práticos na sociedade.
Analisando os acontecimentos daquela época, Arendt, que escreveu seus estudos na metade do século XX, propôs que havia acontecido
uma ruptura nos Direitos Humanos, não somente por parte dos regimes totalitários, de direita ou de esquerda – incluindo-se o regime
stalinista na União Soviética -, mas também por conta das políticas imperialistas praticadas naquela época, quando alguns países impuseram
políticas racistas de exploração e domínio sobre diversos povos africanos e asiáticos.
 “Muro das lamentações” na primeira exposição das vítimas
do stalinismo em Moscou, 19 de novembro de 1988.
Se, após anos de debate sobre o assunto, o mundo vivenciou tais políticas bárbaras de desrespeito à vida, era necessário refletir e criar
novas condições para uma reconstrução dos direitos universais.
Segundo a filósofa, uma questão para se reconstruir esses direitos era dar atenção aos homens e mulheres que perderam seu lugar na
sociedade e na política, sejam por eles serem minorias ou por terem tido necessidade de sair de seu local de origem, tornando-se apátridas
ou refugiados.
Esse foi o problema fundamental que se agravou no período entreguerras. Após a dissolução dos impérios ao final da Primeira Guerra
Mundial, alguns grupos, como os armênios, os húngaros e os romenos, perderam sua nacionalidade e se tornaram apátridas.
Outros grupos tiveram de sair e se refugiar em outros países, como milhares de judeus alemães, que fugiram das políticas antissemitas do
regime nazista (neste grupo encontra-se a própria Hannah Arendt e seus familiares). Houve, ainda, aqueles que sofreram perseguições por
suas escolhas religiosas, de afetividade ou por convicções políticas, como os anarquistas e os comunistas.
Houve, nesse período, um grande deslocamento geográfico de pessoas pela Europa. Ao fugir de suas terras, elas entraram como imigrantes
em outros países, perdendo a proteção legal do Estado.
 Judeus polacos expulsos da Alemanha em outubro de 1938.
Para Arendt, o grupo dos apátridas foi o que teve a situação mais angustiante e o que mais precisava de atenção, pois, além de terem
perdido seus direitos, eles não eram reconhecidos como iguais perante a lei, já que a lei nem existia mais para eles.
Ao ser expulso da sua comunidade, o apátrida se vê isolado e destituído da sua humanidade. Com tantas pessoas sem proteção de um
Estado, surge a necessidade de uma política internacional que garanta o atendimento dos direitos a essas pessoas independentemente da
sua situação.
A ideia central de Hannah Arendt para a reconstrução dos direitos humanos é a de que o primeiro direito a ser defendido tem de ser o direito
a se ter direitos. Se há lugares no mundo onde indivíduos não têm acesso a nenhum direito ou lhesé negado até mesmo o direito a
participar dos debates políticos; não tendo acesso a todo esse sistema internacional, ele está excluído.
ESTA NOVA SITUAÇÃO, NA QUAL A HUMANIDADE ASSUMIU ANTES UM PAPEL
ATRIBUÍDO À NATUREZA, OU À HISTÓRIA, SIGNIFICARIA NESSE CONTEXTO
QUE O DIREITO A TER DIREITO, OU O DIREITO DE CADA INDIVÍDUO A
PERTENCER À HUMANIDADE DEVERIA SER GARANTIDO PELA PRÓPRIA
HUMANIDADE.
(ARENDT, 2004, p. 332)
Em outras palavras, seria necessário garantir que todos os homens e mulheres sem condições ou exceções obtenham proteção jurídica na
mesma medida que todos os demais. O indivíduo deveria ser reconhecido como cidadão do mundo ou, como foi dito na declaração da ONU,
integrante da família humana, sem diferença entre nativo e estrangeiro.
Se o indivíduo precisa ter direitos acima do Estado, ele também necessita de um Estado para transformar o princípio dos Direitos Humanos
em lei na sociedade onde vive.
Os Direitos Humanos são progressivamente conquistados e devem ser continuamente defendidos, baseando-se em argumentos bem
construídos, a partir de suporte teórico e ações positivas. Observando as rupturas sofridas, entendemos que seu estabelecimento não é
definitivo e precisa ser questionado e redefinido de tempos em tempos.
PRINCIPAIS OLHARES SOBRE OS DIREITOS HUMANOS
Neste vídeo, vamos recuperar os principais olhares sobre os Direitos Humanos.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
 Contrastar a diversidade das culturas aos Direitos Humanos
FUNDAMENTOS DO UNIVERSALISMO VERSUS
MULTICULTURALISMO
O ano de 1948 se tornou um marco na história dos Direitos Humanos Naquele ano, as Nações Unidas proclamaram sua declaração,
propondo que este recurso estivesse à disposição de todas as pessoas da família humana.
Esta declaração pretendia servir de base para a garantia de direitos em todos os lugares do mundo. No entanto, não foi denominada como
uma declaração internacional, mas autointitulada de declaração universal.
A escolha do seu nome atendia à ideia de que esses direitos deviam estar acima de um ou outro país e proclamava que esses direitos
pertencem a todo mundo sem nenhuma condição ou exceção.
Ao pensar sobre a universalidade, surgiu um novo questionamento: seria possível criar um direito básico que atendesse a todas as
demandas, independentemente do gênero, da religião, da nacionalidade ou qualquer outra característica da pessoa? Os Direitos Humanos
deviam ou podiam ser universais?
A ideia de ser um recurso legal básico disponível para o mundo inteiro parecia ideal e irrecusável. Se direitos são vistos como benefícios, não
haveria razão para ser rejeitada por alguém, mas, apesar da boa intenção, a ideia não foi aceita unanimemente.
 SAIBA MAIS
Há anos, a questão vinha sendo discutida e a universalidade desses direitos vinha sendo contestada, principalmente pelos países não
europeus, que não concordavam que essa declaração atendesse a todas as culturas. Eles enxergavam que a proposta foi produzida a partir
dos princípios ocidentais, com fortes tendências eurocêntricas, e que ela impôs o que devia ser acolhido por todos, sem levar em
consideração que, em outras partes do globo, existem culturas diferentes, outras demandas sociais, outras religiões além do cristianismo e de
outras formas de organização política.
CRÍTICAS AO UNIVERSALISMO
Para os críticos da universalidade dos Direitos Humanos, a ideia de se criar um conjunto de direitos básicos capazes de atender a todos se
mostra até mesmo soberba, se levarmos em consideração que ela foi escrita por um grupo, e não por todas as nações.
A partir dessa ideia, poderia ser criada a noção de que existe um grupo que é capaz de entender sozinho as necessidades de todo o mundo e
que pode decidir por todos o que é necessário para se ter uma vida digna sem consultar aqueles que irão usufruir desse modo de vida.
Dessa maneira, reforça-se a ideia de hierarquia e desigualdade, segundo a qual um grupo ou uma cultura é superior a outro e que pode ter a
tutela do mundo.
Por esse ponto, surge também uma acusação de que, ao se fazer dessa declaração universal, pode-se chegar ao efeito de uma prática
imperialista, pois são impostas políticas de um grupo sobre os demais. Pensar a universalidade dos Direitos Humanos como uma prática
imperialista é um ponto especificamente interessante, pois, segundo Hannah Arendt, foram justamente as políticas imperialistas praticadas
pela Europa no final do século XIX que romperam os Direitos Humanos no passado e deram origem aos grandes conflitos do século XX.
Assim, a universalidade acabou tornando-se um objetivo contraditório, pois, ao mesmo tempo em que procura garantir direitos a todos, acaba
ocasionando sua própria ruptura.
Respondendo à acusação de ser uma declaração imperialista e imposta ao mundo, os defensores do caráter universal da carta argumentam
que, após a elaboração da Declaração, diversos países, de todos os continentes e das mais variadas culturas, aderiram voluntariamente ao
documento.
Assim, a legitimidade do caráter universal da Declaração mostrou-se naturalmente, na medida em que os países se preocupam em adaptar
suas constituições a esses valores, esquecendo-se de que uma das principais características dessa Declaração é que ela é um objeto
histórico, fruto do seu tempo, resultado das necessidades de uma época, que procura atender às demandas de uma parte da sociedade,
geralmente a que a produziu, e que está em constante mudança e adaptação e nunca se tornará definitiva, sempre havendo o que melhorar.
MULTICULTURALISMO
Diante de tantas críticas, surge o multiculturalismo, uma corrente em contestação à visão universalista e que amplia as possibilidades de
inclusão desses direitos em todo o mundo. Essa corrente tem como um de seus principais apoiadores o sociólogo Boaventura de Souza
Santos que, apesar de ser português, critica a visão eurocêntrica da Declaração e procura discutir as diferenças culturais existentes no
mundo para contribuir com uma declaração mais plural.
O sociólogo afirma que é natural que todas as culturas enxerguem os seus princípios como os valores mais corretos, que deveriam ser
adotados pelos demais — ou não cultivariam aqueles hábitos. A questão é que os ocidentais são os únicos que ultrapassam os limites,
buscando se expandir e se impor a todo o restante do mundo.
Ele diz que quando se assume a ideia da universalidade dos Direitos Humanos, tenta-se impor as vontades locais ao todo, e que a solução
para tal problema seria aceitar as diferenças existentes no mundo e mudar a qualificação desses direitos, de universais para multiculturais.
Caso contrário, a Declaração acaba se tornando um instrumento que põe as civilizações em choque umas com as outras.
 ATENÇÃO
É importante reconhecer esses problemas para não cairmos na armadilha de relativizar todas as atitudes em nome dos valores locais.
Boaventura combate a ideia de relativizar as culturas ao extremo e justificar todas as ações cometidas sem questioná-las.
O que dizer de se assistir a uma sociedade que provoca o mutilamento genital de meninas e mulheres sem questionar, permitindo que
atrocidades sejam cometidas em nome da cultura? Assumir as imperfeições e os limites da cultura é o melhor caminho para a construção de
direitos humanos multiculturais.
Para Santos, o multiculturalismo representa o equilíbrio entre a competência global e a legitimidade local, ou seja, entre aquilo que precisa
ser um ponto em comum entre todos e o respeito das características de cada comunidade. Antes de tudo, é necessário criar um conjunto de
direitos que promova a igualdade ao mesmo tempo que são respeitadas as diferenças culturais das diversas comunidades.
[...] TEMOS O DIREITO A SER IGUAIS QUANDO A NOSSA DIFERENÇA NOS
INFERIORIZA; E TEMOS O DIREITO A SER DIFERENTES QUANDO A NOSSA
IGUALDADE NOS DESCARACTERIZA. DAÍ A NECESSIDADE DE UMA IGUALDADE
QUE RECONHEÇA AS DIFERENÇAS E DE UMA DIFERENÇA QUE NÃO PRODUZA,
ALIMENTE OU REPRODUZA AS DESIGUALDADES.
(SANTOS, 2003:56)
Devemos reconhecer as diferenças entre os seres humanos, mas essa diferença não pode provocar nem desigualdade e tampouco uma
hierarquia, definindo pessoas em condições superiores ou inferiores umas às outras, ou determinando quem deve mandar e quem deve
obedecer, quem deve ser respeitado e quem deve se submeter.
DIVERSIDADE CULTURAL
É preciso procurar, por meio do diálogo intercultural, atitudes que possam ser assumidas em diversos grupos ou que sejam praticadas de
formas diferentes, mas que tenham o mesmo objetivo de não inferiorizar o outro.
 ATENÇÃO
Nunca se deve assumir um valor que classifique uma cultura ou um grupo como mais correto que outro. Sobre essa relação de diferença e
igualdade, podemos pensar no seguinte exemplo: homens e mulheres são diferentes, mas isso não é, ou não deveria ser, motivo de
tratamento desigual pela sociedade.
As doutrinas cristã e judaica oferecem visões religiosas distintas, mas, para a sociedade, essa questão não deveria ser hierarquizante nem
gerar disputa entre seus praticantes.
Outro ponto que deve ficar claro a respeito das culturas é que elas são dinâmicas e que igualdade não é sinônimo de uniformidade: apesar de
serem originários do mesmo continente, norte-americanos, brasileiros e argentino têm características bastante diferentes.
As versões de uma mesma cultura precisam ser também avaliadas e entendidas separadamente para não se criar falsas generalizações.
Dentro do grupo dos islâmicos, existem os xiitas, os sunitas e outras correntes. As ideias de cada um desses grupos podem ser iguais em
certo aspecto e radicalmente contrastantes em outros. Todas as diferenças devem ser aceitas pela sociedade desde que nenhum valor
inferiorize ou ameace o outro. A burca utilizada pelas mulheres mulçumanas deve ser compreendida como um hábito cultural, mas debatida
quando mulheres que não a desejam, sejam obrigadas a vesti-la.
A aceitação das diferenças é importante até mesmo para que se garanta que os Direitos Humanos sejam atendidos. Em cada sociedade, um
direito irá repercutir de uma maneira. Um princípio contrário às práticas cotidianas locais pode levar ao descumprimento contínuo de um
direito, seja ou não seja lei. Sem aceitação da comunidade, o direito não tem efetividade.
É preciso lembrar que os Direitos Humanos estão em constante debate e evolução e que, há anos, as Nações Unidas assumem a missão de
mediar os interesses de todos e promover debates acerca do assunto para reorganizar os direitos universais.
Mesmo admitindo a existência de críticas, é preciso reconhecer o esforço da Declaração Universal e de tantos outros tratados e documento
redigidos pela ONU, ainda que alguns posicionamentos sejam questionáveis é pelo trabalho que se faz uma movimentação global por um
debate que visa promover os sistemas jurídicos dos países em busca de uma situação confortável para todos.
A sociedade deve seguir aprendendo a tratar todas as pessoas com igualdade e a compreender as diferenças da família humana.
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A ORDEM JURÍDICA
Se em um primeiro momento as declarações de direitos essenciais preocuparam-se com a garantia da liberdade e da igualdade, no século
XX, outro conceito passou também a ser considerado fundamental: o respeito à dignidade da pessoa humana.
O primeiro artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas assinado em 1948 afirma: “Todos os seres humanos
nascem livres e iguais em dignidade e direitos”.
O Brasil, que participa da ONU e que firmou o compromisso de garantir os direitos humanos a seus indivíduos, positivou essa ideia na
Constituição de 1988, que está em vigor.
Também no primeiro artigo da nossa Carta Magna, registra-se que a “República Federativa do Brasil (...) tem como fundamentos: I – a
soberania; II – a cidadania; III – a dignidade da pessoa humana”.
A importância da dignidade é tratada em outros momentos, como no Artigo 170, no qual consta que toda ação econômica tem como
finalidade garantir uma existência digna. O artigo 230 define que é dever da família, da sociedade e do Estado defender a dignidade das
pessoas idosas.
A seguir, veremos o conceito de dignidade da pessoa humana.
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
Dignidade da pessoa humana são as condições mínimas necessárias para que uma pessoa viva uma vida justa, em condições adequadas
e sem depreciação. Este é um valor absoluto, regulador de todos os objetivos do ser humano, pois nada é mais importante do que a garantia
das condições vitais para a sobrevivência nesse mundo.
É uma noção incomensurável, insubstituível e que não permite equivalente, ou seja, é um valor que não tem como ser medido de forma
quantitativa ou qualitativa. A dignidade humana não pode ser trocada por nenhuma outra coisa, possui um valor que não é comparável a
nenhum outro.
Não há uma definição legal única que determine que condições são essas, pois elas variam em cada cultura ou sociedade. Veja os dois
exemplos a seguir:
Para um homem europeu, ateu e inserido no mundo capitalista, essa noção pode estar completamente baseada nas conquistas financeiras e
na possibilidade de desenvolvimento da sua carreira ou do seu negócio.

Já uma mulher, árabe e praticante do islamismo pode ter essa noção amparada na possibilidade de constituir uma família e de criar seus
filhos dentro dos princípios da sua religião.
Seja como for, mesmo variando, é certo que todos os grupos e culturas nutrem valores básicos que formam seu conceito de dignidade
humana.
Nas sociedades ocidentais, podemos reconhecer as condições da dignidade da pessoa humana como as que foram trazidas na Declaração
dos Direitos Humanos da ONU, pois, se a declaração foi escrita por representantes da cultura ocidental como os valores mínimos
necessários para todas as pessoas, é lá que estão descritos os seus pilares. Porém, apesar de serem direitos universais, eles não refletem
as condições da dignidade humana em todas as culturas do mundo.
 COMENTÁRIO
Segundo o sociólogo Boaventura de Souza Santos, para que os direitos humanos alcancem o maior número de pessoas da família humana e
se tornem multiculturais, é fundamental ter clareza de que todas as culturas possuam sua concepção de dignidade da pessoa humana e que
nem todas enxergarão a sua noção de dignidade contemplada nos termos da declaração das Nações Unidas.
Para o melhor consenso, já que nem todas as concepções de dignidade humana conseguirão ser contempladas, por serem opostas ou
contraditórias, uma solução seria procurar atender ao maior número possível de seres humanos, buscando uma versão mais aberta do
conceito, ou seja, a visão da dignidade humana que melhor será aceita dentro das particularidades das outras culturas.
 ATENÇÃO
Dentro de uma mesma cultura, pode haver diversas correntes, umas mais conversadoras que outras e nenhuma concepção de direitos
humanos seria capaz de agradar a todas elas. Dentro dos regimes políticos ocidentais, por exemplo, há regimes democráticos e autoritários,
e mais inflexíveis e o diálogo é sempre bem-vindo.
CONCEITOS E SUAS TRANSFORMAÇÕES
Neste vídeo, vamos entender os conceitos e transformações pelos quais os direitos humanos passaram.
TRANSFORMAÇÕES NO CONCEITO
Também é necessário compreendermos que, assim como os direitos humanos são um conceito construído a partir das demandas históricas
que se modificam na medida em que novos acontecimentos surgem, a noção de dignidade da pessoa humana de cada grupo e de cada
época também é mutável.
Uma significativa transformação desse conceito aconteceu no momento após a Segunda Guerra Mundial, quando houve a chamada “virada
kantiana”, que rejeitou qualquer espécie de coisificação e instrumentalização dos homens e mulheres. A dignidade da pessoa humana passou
a ser considerada um fim para a humanidade e não um meio para a construção do mundo.
Atualmente, não são mais as pessoas que precisam se esforçar para construírem uma sociedade agradável, mas o contrário, o mundo é que
precisa seragradável para que as pessoas possam viver em plenitude, seguras e felizes.
ESTRUTURAÇÃO DOS DIREITOS UNIVERSAIS
É quando se inverte a lógica e se assume que a sociedade deve acolher as pessoas, e não o contrário, que a carta de Direitos Humanos
universais das Nações Unidas é escrita.
A partir daquele momento, segundo o professor Fernando Quintana (1999), podemos separar os esforços da ONU com os Direitos Humanos
Universais em três fases de composição:
PRIMEIRA FASE
SEGUNDA FASE
TERCEIRA FASE
PRIMEIRA FASE
Seria a burocrática, a fase da definição dos Direitos Humanos.
SEGUNDA FASE
Período de promoção e estabelecimento desses direitos pelo mundo, quando foram realizados congressos, publicações e diversos debates e
estudos.
TERCEIRA FASE
A atual fase de proteção, em que é necessário observar e controlar o estabelecimento e o cumprimento desses direitos. Foram criados
comitês e grupos para fiscalizar e denunciar violações dos Direitos Humanos em todos os países que aceitaram integrar ou não as Nações
Unidas.
Para garantir o sucesso dessa declaração e o acesso aos direitos fundamentais a toda a “família humana”, também foi necessário
comprometer os países, fazendo com que assumissem compromissos e tratados e construíssem um sistema que possibilitasse seu
funcionamento.
Dessa forma, desde 1966 até os dias atuais, já foram assinados nove tratados que devem ser observados e implementados pelos países
membros e que levam em consideração temas específicos como a tortura, os imigrantes, as crianças, as pessoas com deficiências e a
discriminação racial e contra a mulher, entre outros.
Além disso, constituiu-se uma estrutura chamada Sistema Internacional de Proteção dos Direitos Humanos, por órgãos como os comitês
regionais; o Sistema Interamericano de Direitos Humanos; o Sistema Europeu de Direitos Humanos e o Sistema Africano de Direitos
Humanos.
Esses sistemas regionais acompanham diretamente os países integrantes e se responsabilizam pelos demais países que não fazem parte de
nenhum comitê regional, não ficando estes excluídos de acionar os direitos internacionais.
É papel dos comitês regionais se responsabilizar pela proteção de pessoas cujos países não têm um órgão similar. Ou seja, cabe a esses
comitês ultrapassarem sua esfera e prestarem auxílio a países e cidadãos de países sem comitê regional que necessitem de acolhimento e
de proteção, fazendo valer o princípio de que antes de o indivíduo ser pertencente a um país, ele é integrante da família humana.
VAMOS DEBATER O CONCEITO DE DIREITOS HUMANOS
Vamos ouvir o professor Rodrigo Rainha sobre esse processo e as dificuldades em situar a fundamentação destes conceitos.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 4
 Analisar a estruturação dos Direitos Humanos no Brasil
LINHA DO TEMPO DOS DIREITOS HUMANOS NO BRASIL
Vamos iniciar o módulo com uma linha do tempo que mostra a estruturação dos Direitos Humanos no Brasil.
BRASIL E O CONTEXTO DA PROTEÇÃO DOS DIREITOS
HUMANOS
Se a Segunda Guerra Mundial foi o fator-chave para que, ainda na primeira metade do século XX, a Europa Ocidental e a América do Norte
começassem a pensar na atual ideia de direitos humanos, o Brasil, que não teve participação direta no conflito e tem outra história, outra
sociedade com outros problemas e outras questões sociais, percorreu um caminho diferente na construção e na garantia desses direitos.
Participamos do esforço inicial das Nações Unidas, mas suspendemos nossos trabalhos por algumas décadas e, só no final dos anos de
1980, conseguimos positivá-los em nossa Constituição de 1988.
Consequentemente, se aderimos aos Direitos Humanos mais tarde, isso significa que ainda estamos trabalhando no seu desenvolvimento e,
pensando na situação atual do país e da população brasileira, ainda teremos muitos desafios para consolidá-los. Muitos questionamentos
podemos fazer:
Como desenvolver leis que tenham por princípio que todas as pessoas são iguais em um país de extrema desigualdade?
Conseguiremos superar nosso passado de atraso?
Em qual estado nos encontramos e quais são nossas perspectivas?
FORMAÇÃO POLÍTICA E SOCIAL
O Brasil é um país consideravelmente jovem e em pleno desenvolvimento político. Da nossa trajetória histórica, costumávamos conhecer e
contar apenas uma parte, a partir da chegada dos europeus neste território. A seguir, confira o processo de desenvolvimento político e social:
 Desembarque de Cabral em Porto Seguro, Oscar Pereira da Silva, 1904.
O ano de 1500 foi marcante para os povos que aqui habitavam, pois, depois do primeiro contato dos nativos com os portugueses, não
demorou muito para que os interesses dos europeus dominassem a dinâmica local e se sobrepusessem às necessidades dos povos
indígenas.
 Batalha dos Gurararapes, Victor Meirelles, 1879.
A partir daquele momento, houve silenciamento e uma brutal transformação cultural, política e social. Por bastante tempo, fomos colônia de
Portugal. Inicialmente, houve pouco interesse da metrópole em explorar nosso território. As primeiras políticas implementadas aqui tiveram o
objetivo de ocupar as terras para que não fossem tomadas por franceses e holandeses.
 Engenho de Pernambuco, Frans Post (século XVII).
A intensa produção de açúcar tinha como estrutura uma pequena elite administrando os engenhos e bastante uso de mão-de-obra escrava
indígena e africana trabalhando arduamente nas engrenagens. Com a descoberta do ouro em Minas Gerais, a população cresceu, mas a
sociedade continuou dividida entre uma pequena elite que enriquecia e trabalhadores escravizados que suavam nas minas.
 Independência ou Morte, Pedro Américo, 1888.
Em 1822, o Brasil se torna oficialmente independente de Portugal, mas continua com boa parte da estrutura colonial. Ao contrário de outros
países, o presidencialismo não substituiu a monarquia, tampouco o trabalho escravo foi interrompido.
 Sessão do Senado em que se aprovou a Lei Áurea, a 12 de maio de 1888.
O governo imperial retardou a abolição da escravidão até quando não foi mais possível, e o Brasil acabou sendo o último país a assinar a
abolição da escravatura. Quando a Lei Áurea libertou os escravizados, nenhuma política foi criada para dar assistência aos libertos, que
abandonados pelo poder público, encontraram muitas dificuldades para sobreviver.
 Capa do Diário Popular do dia 16 de novembro de 1889 noticiando a Proclamação da República.
Um ano depois da abolição, em 1889, foi proclamada a República no Brasil. Nos primeiros anos, a participação política se manteve limitada a
uma pequena parcela da sociedade. Somente ao longo do tempo que conseguimos conquistar a ampliação dos direitos políticos para todos.
 Primeiras eleitoras do Brasil, Natal, Rio Grande do Norte, 1928.
Nas primeiras décadas desse regime, mulheres, indígenas e analfabetos não podiam votar para eleger um representante e tampouco se
candidatar para lutar pelos seus direitos.
 Manifestação das Diretas Já em Brasília, diante do Congresso Nacional.
A nossa República é considerada um regime político muito frágil. Ao longo dos anos, passamos por alguns processos de impeachment e por
dois longos períodos de ditadura em que o Congresso Nacional foi fechado, a Constituição deixou de ter poder legal e o povo teve uma série
de direitos suspensos.
Promulgação da Constituição de 1988.
Foi somente em 1988, ao final do regime militar, que conquistamos uma nova Constituição, garantindo amplos direitos para o povo, em vigor
até os dias atuais. Pela grande quantidade de direitos garantidos ao povo, essa Constituição recebeu o apelido de Constituição Cidadã.
CONSTITUIÇÃO DE 1988
A Constituição de 1988 é a oitava Constituição escrita no nosso país, um número considerado muito alto. Alguns países, como os Estados
Unidos, usam a mesma Constituição desde o início de sua formação jurídica, ou precisaram passar por poucas renovações.
 ATENÇÃO
A necessidade de reescrever a Constituição várias vezes demonstra nossa instabilidade políticae como, no passado, o nosso conjunto de
leis não era adequado para garantir direitos a todos nem atendia às demandas da nossa sociedade.
A nossa atual Constituição foi escrita para superar a suspensão de direitos que passamos durante o regime militar, para restabelecer a
democracia no país e para caminhar para uma redução da desigualdade social e o combate à corrupção.
A elaboração dessa Carta foi discutida por mais de um ano e meio por deputados e senadores eleitos democraticamente em 1986. É
importante destacar que, dos mais de 500 congressistas participantes, menos de 30 eram mulheres, sendo que nenhuma delas ocupava
uma cadeira do Senado Federal, o que mostra ainda a gritante desigualdade de gênero na representação dos brasileiros no setor legislativo.
Nessa Carta, foram garantidos os princípios fundamentais do Brasil como a igualdade em direitos e obrigações dos homens e mulheres na
sociedade, a liberdade de expressão e a divisão de poderes, que garante que não teremos um poder concentrado nas mãos de uma única
pessoa, como nos regimes absolutistas. Também foram assegurados uma série de direitos sociais, como o acesso permanente à educação, à
saúde, ao trabalho e ao lazer.
 Forte em Saint Tropez ao por do sol
Além de ampliar os direitos dos brasileiros, essa Constituição também se compromete com os direitos em nível universal e, logo nos
primeiros artigos, determina que o Brasil deve prezar nas relações internacionais pelo predomínio dos direitos humanos.
 SAIBA MAIS
É compromisso da nação fazer parte de tribunais internacionais que discutam tais direitos. Determinou-se, também, que a Defensoria Pública
tem a função de promover e defender os direitos humanos em todo o país.
É importante destacarmos que apesar de termos uma Constituição escrita de forma democrática e que prevê muitos direitos sociais para o
povo, somente ela não é suficiente para garantir uma vida digna aos brasileiros. As determinações nela feitas preveem princípios que
devem ser implementados no país, mas, para que isso aconteça, é preciso que uma série de políticas e dispositivos sejam feitas para que
funcione.
Os poderes Executivo e Legislativo precisam trabalhar juntos. Por exemplo, não basta que a Constituição determine que as pessoas tenham
acesso gratuito à saúde, pois, se o poder Executivo não planejar uma estrutura de hospitais e médicos para o atendimento de todos esses
direitos, a Constituição passa a ser mero documento de intenção.
 Detalhe da favela da Rocinha, a maior do Brasil.
BRASIL NA PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
O Brasil foi um dos países fundadores das Nações Unidas em 1945, mas, apesar da contribuição com a elaboração da Declaração Universal
no início da década de 1960, o país interrompeu a consolidação desses direitos quando atravessou duas décadas em um regime militar que
suspendeu a Constituição e boa parte de direitos civis e políticos.
Atualmente, com os direitos restabelecidos, retomamos o processo de consolidação dos Direitos Humanos e fazemos parte do Sistema
Internacional de Proteção aos Direitos Humanos e do Sistema Interamericano de Direitos Humanos, que visa garantir a efetivação desses
direitos em nível regional e dar apoio aos cidadãos de país que se encontram desassistidos pelo Estado.
Possuímos compromisso ratificado com oito tratados internacionais da ONU:
Convenção sobre Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial;
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos;
Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais;
Convenção sobre Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher;
Convenção contra a Tortura;
Convenção sobre os Direitos da Criança;
Convenção para a Proteção de Todas as Pessoas contra os Desaparecimentos Forçados;
Convenção sobre os Direitos de Pessoas com Deficiência.
 Logo das Nações Unidas.
Nos últimos anos, tornamo-nos bastante ativos na participação das Nações Unidas. Além de retificar tratados, acompanhamos a agenda de
debates, integramos, por algumas vezes, o Conselho de Segurança da ONU, e, atualmente, temos participação permanente na Assembleia
Geral. Em 2011, nossa então presidenta Dilma Rousseff foi a primeira mulher da história a abrir os debates dessa reunião.
APLICAÇÕES E DESAFIOS DOS DIREITOS HUMANOS NO BRASIL
A Constituição e as políticas públicas são as principais ferramentas para a aplicação dos Direitos Humanos dentro de uma nação. Se essas
estruturas não estiverem sendo suficientes para garantir os direitos básicos e a dignidade da pessoa humana, qualquer pessoa ou
organização pode e deve cobrar do governo a fiscalização e a execução deles.
Entenda o processo:

O ESTADO NÃO ATENDE
Uma vez que o Estado não atenda aos seus cidadãos temos ainda a possibilidade de acionar os sistemas internacionais de proteção dos
Direitos Humanos. No caso do Brasil, podemos recorrer ao Sistema Interamericano de Direitos Humanos.
ACIONAMENTO DOS ÓRGÃOS COMPETENTES
No momento em que forem acionados, os órgãos competentes irão investigar e podem condenar o país por violação dos Direitos Humanos.
Essas condenações acontecem quando se identifica que os direitos foram fortemente descumpridos e que somente uma decisão judicial ou
uma indenização não seria suficiente para reparar aquele problema.


PRESSÃO SOBRE O ESTADO
Quando uma sentença internacional é dada, ela tem como objetivo pressionar o Estado a debater o problema, revisar os sistemas que
estejam provocando essas violações e desenvolver leis e políticas públicas que evitem novas violações dos Direitos Humanos.
Em nossa história, o Brasil foi condenado por oito vezes pela Corte Interamericana. Uma dessas condenações foi sobre o caso conhecido
como Maria da Penha. Em 1983, Maria da Penha sofreu uma tentativa de homicídio pelo seu marido e o processo que deveria condená-lo foi
tão extenso e inconclusivo que se passaram 15 anos sem que o culpado fosse preso.
O caso foi levado à Comissão Interamericana que, em 2001, quase 20 anos depois, responsabilizou o Estado brasileiro por negligência,
omissão e tolerância à violência contra as mulheres. O caso repercutiu na nossa sociedade e, atualmente, temos uma lei com o nome da
vítima, cujo objetivo é estipular punição adequada e coibir a violência contra as mulheres.
 A farmacêutica Maria da Penha,
que dá nome à lei contra a violência doméstica.
Na nossa sociedade, é comum vermos pessoas relativizando o uso dos Direitos Humanos e desacreditando de sua importância. Isso é prova
de que vivemos em um Estado de constante violação dos direitos humanos, onde o desrespeito por direitos básicos é comum e pouco se faz
para que seja garantida a dignidade da pessoa humana.
No cenário atual do país, ainda é preciso reforçar as instituições democráticas, produzir muito debate, criar políticas públicas e buscar a
conscientização popular para que esse conjunto de direitos seja respeitado e a nossa comunidade possa viver com mais dignidade e
menos desigualdade.
ATIVIDADE
A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA É UM DOS DIREITOS GARANTIDOS
PELA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA, A ELA TAMBÉM HÁ REFERÊNCIA
NA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DA ONU. SOBRE ESSE CONCEITO,
PODEMOS AFIRMAR QUE, A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA É:
RESPOSTA
O conjunto de condições mínimas que devem ser garantidas a uma pessoa que varia de uma cultura para
outra.
Comentário:
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Cada cultura possui seu conjunto de características culturais que considera essencial para a manutenção de
uma vida digna, e a preservação dessas condições é o principal objetivo dos Direitos Humanos.
A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E CONSTITUIÇÃO
BRASILEIRA.
Neste vídeo, o professor Rodrigo Rainha aprofundará o conceito de dignidade da pessoa humana, tendo como base a Constituição brasileira.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluímos reforçando a ideia de que os Direitos Humanos se constituem em um constante processo de aperfeiçoamento e de descoberta
de novas necessidades. Ao longo dahistória, muitas vezes, os direitos básicos não foram respeitados e o mundo precisou sair em defesa
daqueles que não tinham sua dignidade humana considerada.
A Declaração Universal de Direitos Humanos da ONU é um dos documentos mais importantes para se garantir o debate e a defesa desses
direitos, mas esse documento não é unânime e sofre diversas críticas que reforçam que esse documento nunca estará concluído.
No Brasil, tivemos uma história marcada pela escravidão que enraizou uma sociedade extremamente desigual e com diversos problemas
sociais. Apesar de fazermos parte das Nações Unidas desde os primórdios e termos colaborado com a constituição da declaração universal,
passamos por um bom período de interrupção de garantia desses direitos no país.
Foi somente no final da década de 1980 que conseguimos garantir a responsabilidade do Estado no cumprimento desses direitos. E, se a
nossa adesão a esses direitos aconteceu tardiamente, isso significa que temos uma estrutura menos firme para sua manutenção, uma
adesão menor pela sociedade e maiores desafios para concretizá-los. Nossa organização política ainda é recente e frágil, e o
comprometimento da atual Constituição com os Direitos Humanos é uma conquista para a garantia dos direitos dos brasileiros.
 PODCAST
Agora, o professor Rodrigo Rainha encerra o tema falando sobre a fundamentação histórica dos Direitos Humanos.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
ARENDT, Hannah. As origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das letras, 2004.
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
CARVALHO, Jose Sérgio (Org.). Educação, Cidadania e Direitos Humanos. Petrópolis: Vozes, 2004.
DANTAS, João Marcelo B. R. Ruptura e reconstrução dos Direitos Humanos em Hannah Arendt. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano
24, n. 5671. Consultado na internet em: abril 2021. Teresina, 2021.
HUNT, Lynn. A invenção dos Direitos Humanos. São Paulo: Companhia das letras, 2009.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Uma concepção multicultural de Direitos Humanos. Lua Nova [online], 1997, nº 39, p. 105-124.
EXPLORE+
Que tal conhecer um pouco mais dos documentos:
Declaração Universal dos Direitos Humanos
Declaração Universal das Crianças e dos Adolescentes
Constituição Brasileira de 1988
Livro que você precisa ler:
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
CONTEUDISTA
Marina Contin Ramos
 CURRÍCULO LATTES
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