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USO, MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Explicar o papel da compactação na qualidade do solo. > Descrever o processo de avaliação da compactação do solo. > Reconhecer as formas de controle da compactação do solo. Introdução Práticas agrícolas inadequadas causam diversos problemas ao solo e, consequen- temente, ao produtor rural. Tais práticas levam à degradação do solo, que pode ser definida como alterações adversas das características do solo em relação aos seus diversos usos possíveis, tanto estabelecidos em planejamento quanto os potenciais (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1989). Uma das formas de degradação do solo mais voltadas aos aspectos físicos é a compactação. A compactação é o ato ou ação de forçar uma união das partículas do solo e, por sua vez, reduzir o volume por elas ocupado (SEIXAS; OLIVEIRA JUNIOR, 2001). Neste capítulo, você vai conhecer a relação entre compactação e qualidade do solo, além de estudar ferramentas de avaliação da compactação e formas de evitá-la e mitigá-la. Qualidade do solo e compactação A compactação do solo constitui um tema de crescente importância em face do aumento da mecanização nas atividades agrícolas (Figura 1). Trata-se da tensão aplicada sobre o solo e das mudanças resultantes em termos de aumento da densidade, decréscimo no volume de macroporos e infiltração e movimento interno de água mais lentos, além de um oferecimento maior Compactação do solo Janielly Silva Costa Moscôso de resistência mecânica do solo ao crescimento das raízes (SEIXAS, 1988). A porosidade total do solo, segundo Kiehl (1979), é definida como o volume de espaços vazios do solo. Esses vazios são compostos pela porosidade capilar (microporosidade) e a porosidade de aeração (macroporosidade). Segundo Lima, V. e Lima, J. (1996), os macroporos são responsáveis pela aeração, movi- mentação de água e penetração de raízes, e os microporos são responsáveis pela retenção de água no solo. Logo, com a compactação do solo provocada por diversos fatores, ocorre um decréscimo no volume de macroporos, o que, por consequência, reduz a infiltração e o movimento interno de água, além de gerar maior resistência mecânica do solo ao crescimento das raízes, influenciando de forma direta a qualidade do solo nos sistemas agrícolas. Figura 1. Compactação do solo pela crescente mecanização das áreas agrícolas. Fonte: monster_code/Shutterstock.com. A principal causa da compactação advém da necessidade de usar máqui- nas cada vez mais potentes que visam aumentar o rendimento operacional nas lavouras. Essas máquinas, por consequência de sua potência, são mais pesadas e acabam compactando o solo. Outra causa é o trânsito nas lavouras em épocas de alta umidade do solo (Figura 2). Porém, a causa mais importante é a produção insuficiente de palha e ausência de rotação efetiva de culturas nos sistemas de produção (REICHERT; SUZUKI; REINERT, 2007). Compactação do solo2 Figura 2. Compactação do solo provocada pelo trânsito de máquinas agrícolas em épocas de alta umidade. Fonte: Jananz/Shutterstock.com. Quando compactados, mesmo os solos que apresentam excelentes carac- terísticas químicas têm sua capacidade reprodutiva diminuída, pela menor capacidade de infiltração de água e pela maior resistência à penetração e ao desenvolvimento de raízes. A compactação do solo pode ocorrer em di- ferentes profundidades e, na maioria das vezes, não se distribui de maneira uniforme ao longo da lavoura. Uma ocorrência comum é a compactação das paredes do sulco de plantio, ocasionada por elevada umidade no momento da semeadura (REICHERT; REINERT; BRAIDA, 2003). Quando ocorre uma elevação da compactação do solo, as partículas e/ou poros do solo se rearranjam, causando anisotropia das funções do poro. Anisotropia é a característica que uma substância possui em que uma certa propriedade física varia com a direção. Planejar as operações agrícolas e o sistema de produção com objetivo de melhorar a fertilidade do solo é certamente um investimento de alto retorno e deve ser feito considerando o longo prazo. Nesse sentido, é importante o agricultor considerar a qualidade física do solo no planejamento e fazer o monitoramento de sua condição sempre que notar algum fator limitante ao bom desenvolvimento das raízes. Compactação do solo 3 Avaliação da compactação do solo A compactação do solo pode reduzir significativamente o rendimento das culturas. Quando o assunto é fertilidade, não é difícil encontrar pro- dutores que há décadas realizam análise de solo e o monitoramento da necessidade da realização de calagem e adição de fertilizantes. Por outro lado, quando o assunto é a qualidade dos atributos físicos do solo, na maioria das propriedades a evolução e registro de informações inexistem (SANTI; FLORA, 2006). Amado et al. (2005) e Gassen (2006) reforçam o debate, comentando que tanto produtores quanto técnicos de campo necessitam realizar o monitoramento periódico e prático da presença de camadas adensadas nas áreas produtivas, ou seja, o monitoramento da compactação do solo. A seguir, serão descritos os principais métodos de avaliação da compac- tação do solo. Abertura de trincheiras A forma mais precisa de diagnóstico de compactação do solo é a ob- servação direta do desenvolvimento de raízes no perfil do solo. Dessa forma, é possível observar o desenvolvimento das raízes das plantas por completo, incluindo das raízes primárias e secundárias, se existem camadas de impedimento dessas raízes e em qual profundidade está localizada essa camada de impedimento, bem como a espessura da ca- mada de impedimento. Porém, essa não é uma tarefa fácil, pois requer a abertura de trincheiras na área (Figura 3). Essa é uma operação laboriosa, que demanda bastante esforço f ísico e apresenta baixo rendimento operacional, se considerarmos que deve ser feita em diversos pontos da lavoura (SANTI; FLORA, 2006). É preciso escolher pontos representativos na lavoura, ou seja, pontos onde se observa um desenvolvimento irre- gular da planta, mesmo com adubação adequada e com a inexistência de ataque por praga ou doença. Também são necessárias ferramentas específicas, como enxada, enxadão, pá de corte, escada, espátula e faca, para realizar um estudo mais aprofundado das potenciais camadas de adensamento do perfil do solo. Compactação do solo4 Figura 3. Observação de raízes em trincheira. Fonte: Alexey Slyusarenko/Shutterstock. Uso de penetrômetro Uma alternativa que tem sido muito usada para medir a resistência à pene- tração de raízes de modo indireto é o uso de sondas (penetrômetros) que perfuram o solo e registram a resistência à penetração em tempo real, em diferentes profundidades do perfil (Figura 4). Essa ferramenta, aliada aos sistemas de georreferenciamento, permite fazer um mapeamento geoloca- lizado do grau de compactação do solo em diversos pontos e em diferentes profundidade (OLIVEIRA FILHO et al., 2015). Figura 4. Penetrômetro. Fonte: DLG Automação (2021, documento on-line). Compactação do solo 5 Esse aparelho faz a medição da resistência à penetração do seu cone me- tálico no solo, em várias profundidades. Por meio de um leitor eletrônico, ele vai lendo o valor de pressão correspondente à compactação do solo naquela camada amostrada. Tais instrumentos podem realizar essas leituras a cada 10 cm, até uma profundidade de 60 cm. Então, à medida que o aparelho vai penetrando no perfil do solo, vão sendo medidas a pressão exercida, em quilopascal (kPa) ou megapascal (MPa), dependendo do modelo. O conjunto desses valores forma o perfil de compactação do solo (KAISER et al., 2009). Em todos os modelos de penetrômetro acompanha um software de fácil utilização, que permite a visualização e a análise dos dados armazenados em um computador. É possível também imprimir relatórios personalizados e exportar dados e gráficos para sua utilização em outros programas. Usando uma conexão com GPS, permite armazenamentodas coordenadas onde as medições foram feitas. Esses dados podem ser então exportados para sof- tware especializado em mapeamento, mostrando as zonas de compactação. Esse sistema requer alto investimento, mas o produtor o traduz em ganho de produtividade a longo prazo, pois muitas vezes pode investir nos melhores cultivares de uma espécie e em teores elevados de adubação e não consegue ter o retorno esperado, exatamente porque o problema está nas caracterís- ticas físicas do solo e não nas características químicas (KAISER et al., 2009). A interpretação dos dados coletados com uso de penetrômetros deve respeitar alguns fatores que influenciam sua leitura, uma vez que a resistência à penetração e a umidade do solo são variáveis dependentes e apresentam variação inversamente proporcional. O nível crítico de compactação, em que as raízes limitam seu desenvolvimento, é muito relativo e apresenta ampla variação na literatura sobre o tema (SANTI; FLORA, 2006). Há grande dificuldade para adoção de valores críticos como absolutos em condições de campo, uma vez que as propriedades e atributos do solo atuam de forma conjunta e complexa sobre os fatores de crescimento das raízes. Em condições experimentais, observa-se que as plantas continuam produzindo adequadamente, mesmo em solos que muitas vezes apresentam, para algumas propriedades, condições inadequadas em termos teóricos (REICHERT; REINERT; BRAIDA, 2003). Portanto, mais importante que o valor absoluto, a riqueza das informações coletadas com uso de penetrômetro com coleta georreferenciada está na determinação da compactação relativa do solo, dentro do conjunto amostrado. Em outras palavras, mais importante que saber o número absoluto (em kPa) é identificar as diferenças de compactação que existem nas diferentes porções do talhão amostrado, comparando, por exemplo, uma amostragem feita no rastro dos implementos agrícolas e áreas de manobra (cabeceiras) Compactação do solo6 com a amostragem feita em linhas de cultivo, ou em áreas sem tráfego, como beirada de mato ou de cerca. Esse comparativo tem muito valor e pode, junta- mente com a observação do estado de desenvolvimento da cultura em cada ponto, servir como indicador da qualidade estrutural do solo (JANDREY, 2019). As principais vantagens dos penetrômetros de impacto são: baixo custo e possibilidade de trabalhar em solos de alta resistência (com baixa umidade e altos teores de argilas) e solos pedregosos. Efeito de carga e tipos de pneus A área de contato com o solo e a pressão aplicada por sistemas rodantes têm infl uência direta na compactação do solo, ou seja, dependendo do tipo de sistema rodante, vai haver mais ou menos compactação, o que é consequência direta da pressão aplicada ao solo pelos sistemas rodantes e do tamanho dos mesmos. Algumas máquinas agrícolas utilizam esteiras de borracha, já outras pneus, e isso infl uencia bastante no grau de compactação do solo (SILVA; CABEDA, 2006). Ao elevar a massa do equipamento, é necessário elevar a área de contato do rodado para manter a mesma pressão, evitando a compactação (Figura 5). Há alternativas, como o uso de pneus radiais, pneus duplados ou esteiras, para manter sob controle a pressão das máquinas sobre o solo (REICHERT; SUZUKI; REINERT, 2007). Figura 5. Diferença da compactação do solo pelos pneus. Fonte: Largura... ([201-?, documento on-line). Compactação do solo 7 Diante disto, visto que a compactação do solo é apontada como um dos principais fatores limitantes da produtividade agrícola e uma das maiores cau- sas da degradação dos solos, é fundamental que o produtor planeje e execute práticas sustentáveis na propriedade que evitem e corrijam esse problema. A esteira permite uma área de contato com o solo oito vezes maior que o pneu tradicional, aumentando a área e diminui a pressão. Além disso, a esteira trepida menos e pode ser utilizada até para realizar colheitas em dias chuvosos. Como amplia a área de contato com o solo, esse implemento agrícola permite melhor desenvolvimento do trator, aumentando seu torque em até 35% e reduzindo em até 25% o uso de combustível, além de praticamente eliminar o índice de deslizamento e patinagem (ALCÂNTARA, 2017). Não apenas o maquinário — trator e colheitadeira — pode ocasionar danos para o solo. Outra fonte de problemas de compactação são as operações de transporte da produção com o uso de caminhões e transbordos, cuja pressão de insuflagem dos pneus é elevada. A maior pressão a ser aplicada nos pneus nesse caso deve ser de 30 psi, que proporciona melhores condições de de- sempenho operacional, com índices de patinagem e avanço dentro do ideal e menor consumo horário de combustível, possibilitando uma operação com maior capacidade operacional do conjunto e economicidade e diminuindo a possibilidade de compactação do solo (FERREIRA, 2010). O planejamento e execução de práticas que respeitam o meio ambiente e promovem a renovação do solo é a melhor forma de manter a produtivi- dade e reduzir os prejuízos do negócio. Seguindo essas dicas, o produtor consegue reverter a compactação do solo em sua propriedade ou evitá-la completamente. Controle de compactação do solo A melhor forma de manejo da compactação do solo é evitar que ela aconteça na propriedade. Isso só é possível com um efetivo sistema de rotação e sucessão de culturas e com o controle de tráfego de máquinas pesadas na área. A sucessão de culturas garante a continuidade dos bioporos e o controle de tráfego de máquinas agrícolas faz com que não aja junção em demasia das partículas do solo. Controle de tráfego Em relação ao controle de tráfego, existem pesquisas que comprovam as vantagens do ajuste da bitola de todos os implementos para rodar sempre Compactação do solo8 pelo mesmo rastro. Embora não seja simples, é uma técnica viável, e se apoia no uso de sistema de georreferenciamento (RTK) e uso de piloto automático para auxiliar na definição dos rastros onde será feito o tráfego controlado durante toda condução da lavoura. Essa técnica limita a área compactada e mantém o restante da lavoura livre do problema de compactação do solo e de amassamento de plantas (JANDREY, 2019). Os benefícios resultantes de menor compactação podem atingir também a produtividade e o ganho econômico do produtor. Pesquisas realizadas na Austrália detectaram aumento de 16% na produtividade e aumento de 30% nos lucros pelo uso do sistema de tráfego controlado quando comparado com o sistema convencional na produção de grãos de sorgo, trigo e milho (TULLBERG, 1997). A adoção do controle de tráfego permite melhorias na estrutura física do solo e redução no consumo de combustível, pois uma maior área de solo não será compactada e apresentará menor resistência à ruptura do solo na passagem de implementos de mobilização, bem como melhoria no potencial de tração do solo (relação pneu/solo), o que aumenta o rendimento da tração consequente do tráfego de maquinário em solo mais firme (linhas de tráfego) (ROQUE et al., 2010). No Quadro 1, é possível observar que a densidade do solo é maior, assim como a resistência do solo a penetração, no tratamento com tráfego con- vencional, evidenciando que o controle de tráfego é uma ótima alternativa para evitar e controlar a compactação do solo. Quadro 1. Atributos físicos do solo e teor de matéria orgânica para os trata- mentos controle de tráfego, piloto automático e tradicional, em diferentes camadas do solo, em 2008 e 2009 Tratamento 2008 2009 0,0–0,1 0,1–0,2 0,2–0,3 0,0–0,1 0,1–0,2 0,2–0,3 Densidade do solo (kg/dm3) Controle de tráfego 1,05 Aa 1,14 Ab 1,21 Ab 1,25 Aa 1,28 Aa 1,27 Aa Piloto automático 1,09 Aa 1,14 Aab 1,19 Ab 1,26 Aa 1,22 Aa 1,25 Aa Tradicional 1,10 Aa 1,18 Ab 1,21 Aa 1,24 Aa 1,23 Aa 1,26 Aa (Continua) Compactação do solo 9 Tratamento 2008 2009 0,0–0,1 0,1–0,2 0,2–0,3 0,0–0,1 0,1–0,2 0,2–0,3 Teor de água no solo (g/g) Controle de tráfego 0,18 Aa 0,19 Aa 0,19 Aa 0,17 Aa 0,18 Aa 0,18Aa Piloto automático 0,17 Aa 0,17 Aa 0,18 Aa 0,16 Aa 0,17 Aa 0,18 Aa Tradicional 0,19 Aa 0,20 Aa 0,20 Aa 0,18 Aa 0,18 Aa 0,18 Aa Teor de matéria orgânica (g/kg) Controle de tráfego 30.20 Aa 24,60 Aa 15,10 Ab 34,70 Aa 28,70 Aa 17,30 Ab Piloto automático 22,10 Aa 17,30 Aa 11,30 Ab 24,30 Aa 17,30 Aa 12,70 Ab Tradicional 17,70 Ba 12,20 Ba 9,30 Bb 21,00 Ba 15,00 Ba 10,30 Bb Microporosidade (m3/m3) Controle de tráfego 0,11 Aa 0,10 Aa 0,10 Aa 0,06 Aa 0,05 Aa 0,05 Aa Piloto automático 0,11 Aa 0,09 Aa 0,10 Aa 0,05 Aa 0,06 Aa 0,06 Aa Tradicional 0,11 Aa 0,08 Aa 0,10 Aa 0,04 Aa 0,05 Aa 0,05 Aa Resistência do solo a penetração (MPa) Controle de tráfego 1,31 Aa 2,54 Ab 2,76 Abc 1,25 Aa 3,52 Aab 5,06 Ab Piloto automático 1,46 Aa 2,74 Ab 3,06 Abc 1,89 Aa 3,63 Aab 4,70 Ab Tradicional 1,47 Aa 2,85 Ab 3,09 Abc 1,88 Aa 5,43 Ab 5,22 Ab Diâmetro médio ponderado de agregados (mm) Controle de tráfego 2,92 Aa 2,16 Ab 1,77 Ac 2,14 Aa 1,71 Ab 1,29 Ac Piloto automático 3,06 Aa 2,39 Ab 1,96 Ac 2,05 Aa 1,77 Aa 1,37 Ab Tradicional 3,02 Aa 2,36 Ab 1,77 Ac 2,08 Aa 1,90 Aa 1,37 Ab Médias seguidas por letras iguais, maiúsculas nas colunas e minúsculas nas linhas, em um mesmo ano, não diferem pelo teste de Turkey, a 5% de probabilidade. Fonte: Adaptado de Roque et al. (2010). (Continuação) Compactação do solo10 Rotação e sucessão de culturas O empobrecimento do solo pela perda de matéria orgânica prejudica sua qualidade estrutural e a estabilidade de agregados. A qualidade estrutural do solo refere-se ao arranjo das partículas constituindo um ambiente dinâmico, cuja alteração determina um novo comportamento dos processos que ocorrem no solo (FERREIRA, 2010). Para tanto, seria necessário aportar ao sistema de cultivo alta quantidade de matéria seca com restos culturais para aumentar o aporte de carbono no solo, elemento que funciona como substrato para estruturação e aumento da matéria orgânica. Isso demanda a inserção no sistema de cultivo de plantas de cobertura na entressafra dos cultivos econômicos e de culturas com alto aporte de palha (JANDREY, 2019). Sendo assim, vale a pena investir em espécies que promovam a cobertura verde, como tremoço, milheto, ervilhaca, mucuna e nabo forrageiro. Essas culturas têm raízes agressivas, capazes de atravessar camadas bastante compactadas e, ao mesmo tempo, adicionar nitrogênio ao solo, beneficiando o cultivo principal subsequente. O milho entressafra, ou safrinha, como é conhecido em algumas regiões, também é uma ferramenta fundamental, pois das culturas de interesse econômico é uma das que mais aportam carbono no sistema (FERREIRA, 2010). As raízes das gramíneas fasciculadas são importantes para a agregação do solo, ou seja, condicionam o solo a ter uma melhor estrutura. Raízes de leguminosas são pivotantes e, dependendo do grau de compactação, são capazes de romper essa camada, sem que o produtor precise entrar com um escarificador, por exemplo. Quanto à matéria orgânica do solo, entre suas várias qualidades está a de funcionar como uma esponja no solo. Ou seja, solos com maior teor de matéria orgânica são mais resilientes e conseguem suportar melhor o peso transmitido por maquinários. Por sua vez, solos com maior palhada na superfície têm a mesma tendência. A rotação de culturas realiza no solo uma verdadeira escarificação bioló- gica. Na verdade, é a mais benéfica de todas as escarificações, pois se baseia no plantio de espécies com sistema radicular profundo, o que não envolve distúrbios mecânicos ao solo. Além disso, essas culturas promovem maior atividade microbiológica, devolvendo os seus nutrientes e promovendo a conservação do solo. Mediante a escarificação biológica, é possível a forma- Compactação do solo 11 ção de bioporos, ou seja, poros contínuos a longo prazo criados de maneira permanente com os ciclos de desenvolvimento e morte de raízes (GENRO JUNIOR; REINERT; REICHERT, 2004). Para entender melhor como as raízes das plantas podem funcionar rompendo camadas compactadas no solo, observe nos exemplos da Figura 6 a extensão das raízes das principais culturas utilizadas para esse fim. Figura 6. Raízes das principais plantas utilizadas na escarificação biológica de solos compactados. Fonte: Adaptada de Debiasi, Franchini e Balbinot (2014). Como já mencionado, a melhor forma de manejo da compactação do solo é evitar que ela aconteça na propriedade. Porém, se a propriedade rural já apresentar áreas com grau de compactação que comprometa a atividade agrícola, existem formas de remediar essa compactação. O escarificador é uma alternativa menos custosa ao arado e, também mais rápida. No seu uso, hastes mecânicas rompem as camadas mais adensadas do solo (Figura 7). É preciso identificar bem qual a profundidade da compac- tação para que o equipamento não trabalhe além do necessário e revolva o terreno o mínimo possível, pois é possível fazer a regulagem da altura das hastes (JANDREY, 2019). Compactação do solo12 Figura 7. Escarificador mecânico. Fonte: Agrofy (2021, documento on-line). Porém, existem algumas críticas à escarificação mecânica, pois, com o escarificador, o rompimento da camada compactada cria um espaço poroso, mas não há continuidade dos poros a longo prazo, como acontece com as raízes de plantas de cobertura. Como manejo isolado, a escarificação me- cânica pode, inclusive, aumentar a compactação, se for feita em umidade inadequada, ou seja, quando a passagem do escarificador ocorre em solo com um alto conteúdo de umidade, e/ou se em seguida continuar havendo tráfego de máquinas na área (JANDREY, 2019). A compactação do solo afeta a dinâmica da água, do ar e do calor, e pode afetar a eficiência da utilização de água, fertilizantes e herbicidas pelas plantas, em função do menor desenvolvimento radicular, culminando em decréscimo de produtividade. Portanto, é de suma importância tanto remediar a compactação quanto evitá-la. Referências AGROFY. Escarificador stara fox. [S. l.: s. n.], 2021. 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