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USO, MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Identificar os tipos de erosão hídrica. > Descrever as fases, formas e consequências da erosão do solo. > Definir os métodos de controle dos processos erosivos do solo. Introdução Desde o seu princípio, a agricultura busca o aumento da produtividade por meio de técnicas e tecnologias disponíveis para atender à população, que vem, cada vez mais, exigindo produções de melhor qualidade e que respeite a preservação dos recursos ambientais. Nesse contexto, para que a maior produtividade e para que os melhores produtos sejam uma realidade, é necessário que haja um sistema eficiente de conservação, em especial, do solo e da água. A implantação de sistemas conservacionistas busca uma produção com o menor impacto negativo possível. No entanto, quando a exploração com finalidades florestal, pecuarista ou agrícola não é realizada com práticas de conservação, tem-se como resultado a erosão do solo e o seu consequente empobrecimento e degradação. Neste capítulo, você estudará os principais tipos de erosão, como elas ocorrem e quais são os métodos que auxiliam no seu controle. Tipos de erosão A erosão consiste no desgaste do solo devido à remoção das camadas super- ficiais gerada pela ação de agentes erosivos e influenciada por ação antrópica. Não é um processo recente e pode ocorrer de forma natural, com importância Erosão do solo Francihele Cardoso Müller para o rejuvenescimento do solo e para a formação de paisagens. Entretanto, esse processo natural tem se agravado à medida que as áreas de cultivo, juntamente com a pressão pelo uso do solo, aumentam (BERTOL et al., 2019; PIRES; SOUZA, 2013). Entre os diferentes tipos de erosão, estão os descritos a seguir. � Erosão natural ou geológica: é o tipo de erosão que ocorre sob condições naturais, causada pelo intemperismo natural ou por outros processos geológicos, não havendo interferência antropogênica. Caracteriza-se pela intensidade menor com que os solos são formados em grandes áreas e em escala do tempo geológico (SILVA, 1995). � Erosão antrópica ou acelerada: este tipo de erosão ocorre sob interfe- rência humana. A intensidade desse processo erosivo é tão acelerada, que pode se tornar prejudicial (SILVA, 1995). � Erosão hídrica: ocorre pela ação da água sobre o solo. Pode ser classifi- cada como pluvial, que é causada pela ação das chuvas; fluvial, que é o tipo de erosão causada pela ação dos rios, semelhante à pluvial, porém em escala maior e em regime permanente ou mais prolongado; lacustre, causada pela ação dos lagos; e marítima, causada pela ação dos mares, que desgastam rochas e solos, levando à formação de falésias, além de ser responsável pela dissolução de minerais e rochas, em especial as calcárias (BERTOL et al., 2019; PIRES; SOUZA, 2013; SILVA, 1995). � Erosão eólica: é um tipo de erosão causada pela ação do vento, uma vez que ele recolhe os sedimentos de um lugar e deposita-os em outro. A erosão eólica, presente desde os tempos geológicos, tornou-se pre- ocupante na atualidade, especialmente em função da ação antrópica. Quando acelerada, a erosão eólica ocorre pela indução de métodos incorretos de manejo do solo ou pelo uso da terra com objetivos que destoam de sua aptidão (BERTOL et al., 2019; PIRES; SOUZA, 2013). Na erosão hídrica, o escoamento superficial transporta as partículas do solo junto de matéria orgânica, sementes, defensivos agrícolas, o que torna os solos pobres, além de provocar o assoreamento e a poluição dos rios. Em função disso, eleva-se o custo de produção, pois aumenta a necessidade de fertilizantes e corretivos (BERTONI; LOMBARDI, 1999). Erosão do solo2 A erosão hídrica do tipo pluvial é a de maior interesse nas condições de clima no Brasil e pode ocorrer como: � erosão laminar: consiste na remoção de uma camada fina superior do terreno. As gotas de chuva, ao colidirem com a superfície do solo sem cobertura, desagregam e deslocam partículas de forma superficial, o que desgasta a superfície do solo e pode dar origem a sulcos muito rasos (LEPSCH, 2010; PES; GIACOMINI, 2017; SILVA, 1995) (Figura 1a); � erosão em sulcos: é resultante de irregularidades na superfície do solo, ou seja, quando há formação de sulcos mais profundos devido a uma inclinação maior do terreno e à concentração da enxurrada em determinados locais (LEPSCH, 2010; PES; GIACOMINI, 20017) (Figura 1b); � erosão em voçoroca: são formadas pela ação de grandes volumes de água que alcançam velocidade e, assim, desagregam as laterais e o fundo dos sulcos já existentes pela erosão em sulcos. A erosão em voçoroca é a forma mais profunda de erosão, podendo atingir vários metros e até o horizonte C dos solos. A presença deste tipo de erosão indica a destruição de áreas agrícolas (Figura 1c) (LEPSCH, 2010; PES; GIACOMINI, 2017). Figura 1. Erosão laminar (a), erosão em sulco (b) e erosão em voçoroca (c). Fonte: Adaptada de Pes e Giacomini (2017). a c b Erosão do solo 3 A qualidade do solo, que reflete a capacidade do solo de funcionar dentro dos limites de um ecossistema natural ou de aumentar a qualidade de fatores como ar e água, promovendo a saúde de plantas, animais e seres humanos (DORAN, 1997), é diretamente afetada pela erosão hídrica. Esse processo de erosão causa a degradação do solo pelo arraste das partículas que contêm nutrientes, gerando a redução da fertilidade natural dos solos. Ainda, essa redução refletirá na queda da produtividade nessas áreas e na necessidade de aplicação de corretivos e fertilizantes (SANTOS; GRIEBELER; OLIVEIRA, 2010). A erosão eólica (Figura 2) é limitada no território brasileiro, porém encontra- -se em expansão. Regiões planas, onde a chuva é ausente por longos períodos, determinando, assim, o secamento do solo e a inibição do crescimento da vegetação, e com ventos fortes são propícias a esse tipo de erosão. Resumida- mente, ela se estabelece em condições de solo pouco coeso, seco, de textura fina, superfície uniforme e topografia plana, com temperaturas elevadas, clima seco e baixa precipitação (BERTOL et al., 2019; SILVA, 1995). A movimentação dos sedimentos da superfície do solo ocorre sob ação do vento, havendo, primeiramente, o desalojamento dos sedimentos da massa do solo e, em seguida, o seu transporte, sendo arrastados ou saltitados ao longo da superfície do solo. O transporte é dependente de fatores como a turbulência de redemoinhos e das irregularidades do movimento do vento (BERTOL et al., 2019). Esse tipo de erosão constitui um sério problema quando a vegetação natural é reduzida ou removida por completo. Crescente no Brasil, a erosão eólica vem ganhando mais importância à medida que terrenos arenosos ou em elevada declividade têm sido incorporados ao processo produtivo (PIRES; SOUZA, 2013). Figura 2. Erosão eólica. Fonte: Food and Agriculture Organization of the United Nations (2015, documento on-line). Erosão do solo4 Todo o planeta passa por processos de erosões de diferentes nature- zas e, a depender da região, em diferentes proporções. De acordo com a FAO (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2015), a erosão é responsável pela perda de 25 a 40 bilhões de toneladas de solo ao ano, trazendo efeitos negativos sobre a produtividade, que chegam a aproximadamente 7,6 milhões de toneladas de cereais ao ano. A previsão é de que, no ano de 2050, se não forem tomados os devidos cuidados para o controle e a redução da erosão, esse número será muito maior e haverá uma redução de mais de 253 milhões de toneladas de cereais. A América Latina é uma região que gera muita preocupação, pois aproxi- madamente 50% de seus solos sofrem algum tipo de degradação, dentre elas, a mais preocupante é a erosão, capaz de gerar perdas inestimáveis para a agricultura e para o meio ambiente (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2015). Como pode-se observar, a erosão é reconhecida como uma das principaiscausas que ameaçam a sustentabilidade da agricultura, dessa forma, esforços para que esse problema seja minimizado têm sido constantes e crescentes. Fases, formas e consequências da erosão no solo A erosão hídrica é um processo que ocorre por meio da chuva sobre o solo e o escoamento superficial da água, passando por diferentes mecanismos e fases. As fases que constituem esse processo são a desagregação, o transporte e a deposição, descritas com mais detalhes a seguir (BERTOL et al., 2019). � Desagregação: também conhecida como desprendimento, é a fase inicial do processo erosivo, que ocorre por meio do impacto da gota de chuva sobre o solo sem vegetação ou durante as operações de preparo do solo. Os resíduos vegetais ou a própria vegetação existente sobre o solo protegem a superfície do impacto direto das gotas da chuva, portanto, as partes do solo sem cobertura são atingidas pela precipitação, que chega à superfície do solo causando o umedecimento dos agregados, reduzindo suas forças de coesão, que continuam a sofrer o impacto das gotas de chuva gerando a sua desintegração em partículas menores (argila e matéria orgânica), ocorrendo o processo de salpicamento. Nesta fase, ocorre gasto de energia, que será maior quanto mais protegido e agregado estiver o solo, de forma a reduzir a Erosão do solo 5 energia total da chuva e, consequentemente, a capacidade de trans- portar o material desprendido (MACEDO; CAPECHE; MELO, 2009; PIRES; SOUZA, 2013). � Transporte: quando a intensidade da precipitação excede a taxa de infiltração, ocorre o transporte do material desagregado na primeira fase da erosão. Nesta fase, é estabelecido o escoamento superficial e a enxurrada movimenta-se no sentido da declividade, podendo se concentrar em pequenas depressões. A enxurrada ganha velocidade à medida que o volume da suspensão e a declividade do terreno aumen- tam, de forma a ampliar a capacidade de gerar atrito e desagregação do solo. Os sedimentos transportados podem chegar aos mananciais de água e pelos rios podem alcançar os mares e os oceanos (MACEDO; CAPECHE; MELO, 2009; PIRES; SOUZA, 2013). � Deposição: é quando ocorre a deposição do material desagregado e transportado nas etapas anteriores. Esta é a última etapa do processo de erosão e tem o seu início quando a água perde energia, pois a carga de sedimentos é maior que a capacidade de transporte da enxurrada (MACEDO; CAPECHE; MELO, 2009; PIRES; SOUZA, 2013). Conforme você já viu na seção anterior, as formas conhecidas de erosão hídrica pluvial são laminar ou entre sulcos, em sulcos e em voçoroca. A seguir, será apresentada como elas ocorrem e como se dá o escoamento da água com mais detalhes. � Erosão laminar: ocorre em regiões mais lisas do terreno quando o solo está descoberto, favorecendo o fluxo laminar fino de água. A etapa de desagregação do solo se dá pela ação do impacto das gotas de chuva diretamente no solo, assim como pelo transporte dos sedimentos realizados especialmente pelo fluxo laminar; além disso, pode ocorrer pelo salpicamento de partículas de solo provindas do impacto da chuva com o solo. O escoamento superficial na erosão laminar ocorre em uma curta distância no terreno, o chamado fluxo laminar. Inicialmente é pouco visível, sendo possível reconhecê-la por meio de pequenas modificações na coloração do solo e pelo aflora- mento de raízes e pedras, ou, ainda, pelo fato de que, em dias de chuva, é possível observar que as enxurradas ficam barrentas (BERTOL et al., 2019; PIRES; SOUZA, 2013). Erosão do solo6 � Erosão em sulcos: ocorre devido à ação da chuva sobre solos de elevada declividade, podendo se ramificar ao longo do terreno. É iniciada a partir da concentração da enxurrada em determinados caminhos do terreno, favorecendo a formação de pequenas depressões, que au- mentam aos poucos, caso não haja controle. Em encostas, a água pode escoar por pequenos sulcos que converge para sulcos mais acentuados, ampliando-os e acentuando-os. De fácil identificação, pela presença dos sulcos, e, por isso, o controle da erosão pode ser realizado na fase inicial, por meio do preparo do solo. Quando em processo mais avançado, podem impedir a utilização de máquina agrícolas na área (LEPSCH, 2010; PIRES; SOUZA, 2013). � Erosão em voçorocas: tem seu início a partir do deslocamento de grande volume de sedimentos e do aprofundamento de sulcos, podendo atingir quilômetros de extensão e muitos metros de profundidade. Ocorre pelas enxurradas em grandes concentrações que passam pelo mesmo sulco ao longo do tempo, gerando o que conhecemos como voçorocamento. Esse processo se intensifica em solos com horizontes A + B modestos sobre um horizonte C profundo, pois os primeiros são removidos deixando exposto o horizonte C que possui partículas de baixa coesão e facilmente carreadas. Comumente, é observada em latossolos associados a cambissolos. Ainda, existe um tipo especí- fico de voçoroca, ocasionada pelo solapamento provocado pela água subterrânea, que leva à remoção da camada superior do solo. Quanto à forma da calha da voçoroca, pode ser encontrada em formato de U — encontradas em locais de solo e subsolo resistentes à erosão —, e em formato de V —formadas em solos menos suscetíveis à erosão (BERTOL et al., 2019; FENDRICH et al., 1988; PIRES; SOUZA, 2013). Dentre as consequências da erosão, a mais importante talvez seja a perda irreversível, em alguns casos, do próprio solo (Quadro 1), pois, com ele, perde- -se insumos, plantas e produtos, que podem, inclusive, contaminar rios, lagos, etc. Ainda, a água que carrega o solo pode gerar o assoreamento de rios, lagos e represas, ocasionando inundações e outros transtornos (BERTOL et al., 2019; PIRES; SOUZA, 2013). Erosão do solo 7 Quadro 1. Estimativa de perda anual de solo e de água por erosão hídrica no Brasil em função do tipo de ocupação do solo Perda de solo Perda de água Tipo de ocupação Área (ha) Média t ha-1 ano-1 Média t ano-1 Média m3 ha-1 ano-1 Média 106 m3 ano-1 Lavouras 50.104.483 15,0 751.567.250 2.519 126.213 Pastagens 177.700.471 0,4 71.080.188 252 44.781 Total 227.804.955 15,4 822.647.438 2.771 170.994 Fonte: Adaptado de Pires e Souza (2013). Outro fator de grande interesse agrícola é a redução da fertilidade do solo e da capacidade de reter umidade, o que prejudica a vegetação e causa o seu desaparecimento progressivo. As plantas cultivadas em solo erodido exigem maior cuidado e gasto com sementes e adubos e, por esse motivo, pode ocorrer a desvalorização dessas áreas, que com o tempo ficam cada vez mais pobres, secas, com solos rasos e menos produtivos. As voçorocas, por constituir uma forma de erosão que gera sulcos de grande dimensão, impossibilita a utilização da área, pois o seu controle é de custo elevado e necessita de técnicas especializadas (BERTOL et al., 2019; PIRES; SOUZA, 2013). Assim, conforme apresentado ao longo desta seção, a erosão pode trazer consequências negativas, todas com reflexo na produção e no meio ambiente, independentemente da sua forma. No entanto, esses processos podem ser minimizados por práticas conservacionistas que serão abordadas na seção a seguir. Formas de prevenção e controle da erosão Sendo a erosão um processo de desgaste, transporte e sedimentação do solo em resposta à ação da água e do vento, algumas prática de barreiras para esse processo possibilitam o seu controle. Por exemplo, a erosão ocorrida Erosão do solo8 pela ação do vento pode ser controlada especialmente pela utilização de barreiras físicas, como a revegetação de solos extremamente erodidos e a formação de renques para quebra-ventos. O plantio das espécies arbóreas pode ser como sistemas agroflorestais, em que são utilizadas, associadas às espécies arbóreas, espécies de interesse alimentício, ou, ainda, agrossil- vipastoris, usada para pastagens, lavouras e criação de animais (VERDUM; VIEIRA; CANEPPELE, 2016). Assim, a utilização de determinadas técnicasconservacionistas pode evitar o impacto da água sobre o solo e o seu posterior escoamento, de forma a evitar enxurradas, fazendo com que essa água seja infiltrada no solo sem a remoção do horizonte A e enriqueça os mananciais subterrâneos (LEPSCH, 2010). A cobertura e o manejo do solo são fatores de grande importância para evitar e controlar os processos de erosão hídrica pluvial, seja pela cobertura superficial das copas das árvores ou pela sua deposição de fitomassa sobre o solo, pelas condições atribuídas à presença de raízes das plantas ou, ainda, pelos tipos de prepare, uso e manejo do solo (BERTOL et al., 2019). A desagregação do solo causada pelos efeitos da chuva e da enxurrada pode ser evitada com o reflorestamento, pois quanto maior a cobertura vegetal, menor será o impacto das gotas da chuva sobre o solo, uma vez que as plantas dissipam a sua energia favorecendo a infiltração da água e a redução da enxurrada (Figura 3) (BERTOL et al., 2019). Figura 3. Cultivo de pastagem para controle da erosão do solo. Fonte: São Paulo (2021, documento on-line). Erosão do solo 9 Dentre o grupo de plantas que podem ser utilizadas no controle da erosão pelo cultivo de adubo verde, algumas leguminosas se destacam, como a mucuna-cinza (Mucuna cochinchinensis), mucuna-preta (Mucuna aterrima) e guandu (Cajanus cajan). Além de seus potenciais de fixação biológica de nitrogênio, elas possuem sistema radicular ramificado e profundo, sendo possível a extração de nutrientes das camadas mais profundas do solo e o seu uso para as culturas subsequentes. Alguns estudos relacionados à mucuna-preta em um argissolo vermelho-escuro verificam que essa espécie pode reduzir a erosão em 99,7%, evitando perdas de solo de 10.000 para 30 kg por hectare (WADT, 2007). Em áreas muito inclinadas ou em áreas que passaram por processo de erosão muito acentuado, é recomendado o plantio de florestas artificiais, como aquelas com pinus e eucalipto, que, além de proteger o solo, podem ser exploradas comercialmente. As áreas que se apresentam mais difíceis para lavouras podem ter sua proteção por meio do plantio de pastagens (LEPSCH, 2010). O manejo do solo é uma prática que envolve os sistemas de cultivo, rotação e sucessão de culturas, entre outros. Esses sistemas alteram as condições químicas, físicas e biológicas do solo pela alternância das culturas (conside- rando seu porte, quantidade de biomassa e sistema radicular) e interferem na erosão por ocasião da chuva (erosão hídrica pluvial) (BERTOL et al., 2019). A rotação de culturas (Figura 4) proporciona maior diversidade de organismos no solo (macro e micro), refletindo na melhoria de atributos como a estrutura do solo, gerando o aumento da infiltração da água e reduzindo a enxurrada e, por consequência, a erosão hídrica. O plantio direto (Figura 5) também é um aliado na conservação do solo, pois mantém os resíduos das culturas e promove a mínima mobilização do solo. Uma boa alternativa nesse sistema é o cultivo em consórcio de gramíneas, como milho, milheto, sorgo e braquiária, e de leguminosas, como crotalária, feijão-guando e feijão-caupi, pois possuem sistemas radiculares distintos (fasciculado nas gramíneas e pivotante nas leguminosas), atuando de forma diferente sobre a estrutura do solo, além da vantagem de fixar nitrogênio no solo (ZONTA; COSTA; SOFFIATI, 2021). Erosão do solo10 Figura 4. Sistema de rotação de culturas ‘Santana’. Fonte: Adaptada de Altmann et al. (2021). Nabo forrageiro Nabo forrageiro Milho Soja Milheto Algodão Abril Outubro Abril Setembro Dezembro Novembro Ano III Ano I Ano II Erosão do solo 11 Figura 5. Plantio direto. Fonte: Rural Pecuária (2016, documento on-line). Em um estudo realizado por Cardoso et al. (2012) com diferentes espécies de plantas de cobertura para o controle das perdas de solo, água e nutrientes por erosão hídrica, com finalidade de conservação do solo, a espécie feijão-de-porco (Canavalia ensiformis DC.), quando comparada a espécies como crotalária júncea (Crotalaria juncea L.) e milheto (Pennisetum sp.), apresentou maior potencial no controle dos processos erosivos. No caso das voçorocas, sulcos de grandes dimensões, o controle deve ser realizado de forma específica para evitar que seja necessário o abandono da área. Para o controle do voçorocamento, é necessário realizar a estabilização ou evitar o aumento de tamanho do sulco em largura e profundidade por meio do desvio do fluxo de água (pela construção de um canal como um camalhão ou dique bem alto) ocasiona a voçoroca. Caso isso não seja possível, deve-se aplicar técnicas de controle da velocidade e do volume da água que escorre sobre a garganta da voçoroca (ANDRADE; PORTOCARRERO; CAPECHE, 2005). Erosão do solo12 Controlado o voçorocamento, a recuperação de áreas com voçorocas exige práticas mecânicas, como o transporte de material, movimentação de terra, alocação e remoção de rejeitos e construção de pequenas obras de contenção e drenagem superficial e vegetativas, por meio do plantio de espécies adaptadas a esses ambientes (Figura 6) (ANDRADE; PORTOCARRERO; CAPECHE, 2005). A aplicação de práticas conservacionistas é uma forma de evitar a existência dos diferentes tipos de processos erosivos. Figura 6. Práticas mecânicas e vegetativas em área de voçoroca. Fonte: Hernani (2021, documento on-line). Reconformação do talude Revegetação Os métodos de controle da erosão do solo, seja pela ação do vento ou da água, são diversos, assim como os efeitos desses processos no solo. Dessa forma, para cada tipo e nível de erosão, indica-se métodos específicos. Por- tanto, em virtude da necessidade da produção agrícola, bem como da busca do equilíbrio entre a exploração do solo e a sua conservação, novas técnicas de controle da erosão estão sempre em desenvolvimento. Erosão do solo 13 Referências ALTMANN, N. et al. Característica do sistema Santana. Brasília: Embrapa, [2021]. Dis- ponível em: https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/sistema_plantio_direto/ arvore/CONT000fx4zsnbz02wyiv80u5vcsv2uytj5w.html. Acesso em: 6 abr. 2021. ANDRADE, A. G.; PORTOCARRERO, H.; CAPECHE, C. L. Práticas mecânicas e vegetativas para controle de voçorocas. Comunicado Técnico, Rio de Janeiro, n. 33, p. 1–4, 2005. 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