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Matriz Religiosa Oriental e Africana

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Matriz Religiosa Oriental e Africana 
APRESENTAÇÃO 
Professora Ma. Laís Azevedo Fialho 
 
● Doutoranda em História, Cultura e Narrativas (Universidade Estadual de 
Maringá). 
● Mestre em História, Cultura e Narrativas (Universidade Estadual de 
Maringá). 
● Especialista em História da África e Cultura Afro-brasileira (Universidade 
Estadual de Maringá). 
● Licenciada em História (Universidade Estadual de Maringá). 
● Tutora Educacional no Centro Universitário Cidade Verde (UniFCV). 
● Professor Conteudista na UniFatecie. 
● É integrante do Laboratório de Religiões e Religiosidades da Universidade 
Estadual de Maringá (LERR/UEM). 
 
Áreas de concentração: História das Religiões e Religiosidades com ênfase nas 
Práticas Afro-brasileira; História Cultural, Epistemologias Anti-racistas. Endereço 
para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/8724898233397030. 
 
Professor Matheus Alencar Fernandes Oliveira 
● Licenciada em História (Universidade Federal da Integração Latino-
Americana). 
● Experiência em projetos de arte e educação das culturas e histórias 
africanas e das diásporas africanas. 
 
Áreas de concentração: Ensino de História; Metodologias de Ensino da História 
da África; História da África e da Diáspora Africana; Lei 10.639/03; e História da 
América Latina. 
● Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/4209381225365141 
 
Professor Me. Herculanum Ghirello Pires 
 
● Doutorando em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/2022) 
● Mestre em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/2016) 
● Graduado em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/2013) 
http://lattes.cnpq.br/8724898233397030
http://lattes.cnpq.br/4209381225365141
● Professor QPM/SEED no Colégio Ivone Castanharo (Campo Mourão) 
● Professor Formador pela SEED-PR 
● Docente da Faculdade Santa Maria da Glória (SMG) 
● Autor do livro Mulheres e Roupas: a Federação Brasileira pelo Progresso 
Feminino na Belle Époque carioca (1922 - 1936) 
● Pesquisador do Laboratório de Estudos em História, Moda e Cultura 
(LaModa/UEM) 
● Lattes: http://lattes.cnpq.br/2654225579210202 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Seja muito bem-vindo(a)! 
Prezado(a) estudante, se você se interessou pelo assunto desta 
disciplina, isso já é o motivo de alegria e inspiração para a grande jornada que 
vamos trilhar juntos a partir de agora. Proponho, junto com você, construir nosso 
conhecimento sobre a Matriz Religiosa Oriental e Africana. 
Na unidade I começaremos a nossa jornada pela discussão acerca das 
religiões orientais, em especifico: Hinduísmo, Budismo, Confucionismo e 
Taoísmo. Você compreenderá um pouco dos contextos históricos no qual elas 
foram organizadas, bem como as doutrinas de cada uma delas, entendendo seus 
valores e refletindo sobre os seus principais temas. 
Já na unidade II vamos ampliar nossos conhecimentos sobre a 
colonização ocidental e as religiões africanas. Apresentaremos aspectos da 
investida do cristianismo no continente africano, destacando que esse processo 
ocorreu de modo heterogêneo, em diferentes regiões, mas com algumas 
estratégias coloniais comuns, às quais sublinhamos. Vamos também estudar 
aspectos dos sistemas simbólicos originários de origem Africana e a mística 
presente nas culturas Bantu e Iorubá. 
Ao longo da unidade III, vamos apresentar aspectos dos preceitos das 
religiões de origem oriental e africana. Abordaremos também a noção teórica de 
sagrado e profano no contexto da história das religiões e religiosidades, além de 
apresentar reflexões sobre o dogmatismo religioso. 
Na unidade IV, você terá a oportunidade de conhecer um pouco sobre 
algumas religiões orientais que se expandiram de forma significativa no ocidente. 
São elas, Hare Krishna, Seicho-No-Iê e Igreja Messiânica Mundial. Todas as três 
chegam ao ocidente a partir do século XX em diferentes contextos histórico-
culturais. Vamos abordar as suas doutrinas, valores, principais desafios e temas 
para as religiões orientais aqui estudadas. 
Aproveito para reforçar o convite a você, para junto conosco percorrer 
esta jornada de conhecimento e multiplicar os conhecimentos sobre tantos 
assuntos abordados em nosso material. Esperamos contribuir para seu 
crescimento acadêmico-profissional. 
 
Muito obrigada e bom estudo! 
 
 
UNIDADE I 
RELIGIÕES ORIENTAIS 
Professor Matheus Alencar Fernandes Oliveira; Professora Ma. Laís Azevedo 
Fialho. 
 
Objetivos de aprendizagem: 
• Compreender a origem e a fundação das religiões orientais; 
• Conhecer as doutrinas das principais religiões orientais; 
• Entender os temas centrais presentes nas religiões orientais. 
 
 
Plano de estudo: 
• Hinduísmo 
• Budismo 
• Confucionismo 
• Taoísmo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 Caro/a estudante, nesta unidade didática, caminharemos pelo oriente 
conhecendo um pouco das suas principais manifestações religiosas, entre elas 
o hinduísmo, budismo, confucionismo e o taoísmo. O hinduísmo e o budismo são 
originários da Índia, país localizado no sul do continente asiático com uma 
população de 1,366 bilhão de pessoas, segundo país mais populoso do mundo 
ficando atrás somente da China, com 1,439 bilhão. 
Porém somente o hinduísmo é considerado uma religião tradicional da 
Índia, como religião tradicional do povo hindu desde 3000 a.C. Já o budismo por 
mais que originado na Índia, teve sua expansão e desenvolvimento 
tradicionalmente na China nos primeiros séculos da era cristã. O budismo chega 
na China no século I a.C. e se difunde com maior profundidade após os séculos 
V e VI por incentivo do império Chinês. Hoje o budismo constitui uma das 
principais filosofias da China juntamente do confucionismo e do taoísmo. 
Veremos adiante que na China, país do extremo leste do continente 
asiático, existem três religiões tradicionais, o budismo com maior número de 
adeptos, seguido do taoísmo e do confucionismo. As três religiões compõem as 
religiões tradicionais da China. 
O confucionismo é uma filosofia e religião criada 500 d.C. e não possui 
um corpo de deuses e sacerdotes, constituindo-se a mais a partir das 
preocupações matérias do que das religiosas e metafísicas. Já o taoísmo, 
fundado por volta do século II d.C. possui deuses e crenças metafísicas, 
baseando-se na realização de rituais e magias. 
Você compreenderá um pouco dos contextos históricos em que são 
formadas, as doutrinas de cada uma delas, entendendo seus valores e refletindo 
sobre os seus principais temas. A presente apostila também auxiliará e 
sensibilizará o/a estudante das mais variadas áreas do conhecimento à trabalhar 
em sala de aula os assuntos aqui discutidos. 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
1 HINDUÍSMO 
Figura 1: Estátuas hindus: no centro, o deus Rama com sua esposa Sita. Templo de Sri 
Krishnan. Rochor, Região Central, Cingapura. KONSEK, Marcin 2016. - Wikimedia Commons 
Fonte: 
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:2016_Singapur,_Rochor,_%C5%9Awi%C4%85tynia_S
ri_Krishnan_(21).jpg 
 
A palavra “hindu” deriva do termo Sindhu, nome persa que designa o 
antigo povo que vivia do outro lado do rio Indo, rio localizado onde hoje é o 
Paquistão, cortando este país de norte a sul, ao noroeste da Índia. O hinduísmo 
é uma religião e cultura tradicional da Índia fundada à cerca de 3000 a.C. pelas 
primeiras civilizações hindus, em torno do rio Indo. 
A Índia é um país com 1,366 bilhões de habitantes, localizado no sul do 
continente asiático, desta população, 80,3% é adepta ou pertencente ao 
hinduísmo, caracterizando-se uma das maiores religiões do mundo em 
quantidade de adeptos. O hinduísmo não está presente apenas na Índia ou até 
mesmo no Oriente, tendo relevância também em outros países, a Índia é o país 
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:2016_Singapur,_Rochor,_%C5%9Awi%C4%85tynia_Sri_Krishnan_(21).jpg
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:2016_Singapur,_Rochor,_%C5%9Awi%C4%85tynia_Sri_Krishnan_(21).jpgcom maior número de adeptos, mas outros países com grande número de 
adeptos também são Nepal, Bangladesh, Sri Lanka, África do Sul, Indonésia, 
Malásia, Guiana, Estados Unidos e Brasil (REIMER e SOUZA, 2009). 
 
Figura 2: Mapa do Sul da Ásia. Central Intelligence Agency. E.U.A., 1993. - Wikimedia 
Commons 
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:South_Asia._LOC_94680640.jpg 
 
 
Não existe um criador específico do hinduísmo, mas acredita-se que a 
religião foi criada por mediação de sete ou nove videntes de Brahman, divindade 
suprema do hinduísmo. Acredita-se também que o Deus Vishnu foi quem revelou 
a doutrina de Krishna, Pantajali quem revelou a escola de Yoga e Shankara 
quem revelou a Advaita-Vedanta. De Brahman se nasce e para ele se retorna ao 
morrer. 
(composições para a floresta) e Upanishads (sentado junto do mestre), 
todos estes textos refletem os ensinamentos de Brahman. 
As principais divindades hindus são Brahman (o Deus supremo da 
criação), Vishnu (Deus da preservação), Shiva (Deus da destruição), Ganesha 
(senhor dos obstaculos) Shakti (a grande mãe) entre outros. Rama e Krishna são 
divindades muito populares e avatares de Vishnu, os avatares são considerados 
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:South_Asia._LOC_94680640.jpg
 
encarnações dos deuses Brahman, Vishnu e Shiva, sendo que a variedade de 
deuses e avatares adorados por hindus é compreendida como manifestações da 
Verdade Única, do Deus Supremo. 
O objetivo central do hinduísmo é chegar à vida eterna, à imortalidade ou 
libertação através do yoga e da meditação. A reencarnação significa permanecer 
no mundo do sofrimento. Através da meditação ritual se tornam presentes Vishnu 
e Shiva, reencarnações de Brahman. O karma é a relação de causa e efeito que 
faz um hindu reencarnar várias vezes até chegar à libertação e reintegração à 
Brahman, superando o ciclo de reencarnações. Para quebrar o ciclo é preciso 
realizar as boas ações e sacrifícios rituais em função do karma; compreender e 
conhecer a relação entre humano e divino; e ser devoto confiando no divino. 
Entre os símbolos sagrados do hinduísmo podemos encontrar a sílaba 
OM, que significa o som primordial ou uma referência à aquele que protege 
(Brahman), esta sílaba é composta por três sons a-u-m. A Flor de Lotus também 
é um símbolo sagrado do hinduísmo, aparecendo aos pés de Krishna em suas 
representações e juntamente com outros deuses como Ganesha, Shiva e 
Lakshmi. O símbolo significa espiritualidade, meditação, pureza e imortalidade. 
Os muitos braços das divindades significam onipotência e proteção. As 
Mandalas são símbolos que talvez sejam mais conhecidos no ocidente, 
representam o núcleo da mente humana, são símbolos da união da divindade e 
o cosmos e são usadas para fins rituais e meditações em busca da paz interior. 
Entre os animais sagrados estão a Vaca, que simboliza a maternidade e 
a criação da vida, é um animal importante economicamente para os indianos 
pois da vaca se tira as vezes que servem de adubo e fertilizante e a sua força é 
utilizada para o trabalho no campo. Entre os animais sagrados também estão o 
macaco (Hanuman), considerado sagrado por ter sido uma das encarnações do 
deus Shiva. A cobra (Naga) é associada aos deuses Shiva, Ganesha e Vishnue 
e simboliza a fertilidade, as chuvas e a renovação. O crocodilo (Makara) é 
considerado uma manifestação dos deuses das águas e são guardiões dos 
portões e das entradas dos templos. 
Os templos hindus são considerados lugares de morada das divindades 
respeitadas pelos hindus. Na porta se concentram duas colunas, uma das 
bandeiras e a outra das oferendas. Porém, geralmente, os templos não possuem 
uniformidade entre eles, sobretudo existem diferenças significativas entre os 
 
templos do norte e do sul, sendo os do norte caracterizados por uma torre 
elevada sobre o santuário e os do sul com torres elevadas nas entradas cobertas 
de esculturas (PEREIRA, 2013). Os templos de Shiva possuem o boi Nandi 
olhando na direção de Shiva e os templos de Vishnu possuem em frente a ave 
Garuda. 
Outro tema importante na sociedade hindu é o sistema de castas 
delineadas desde o nascimento. As castas são definidas desde o nascimento 
pela lei do karma, ou seja, um indivíduo nasce em uma casta e não tem 
possibilidade de ascensão ou declínio social, o que vem sendo questionado por 
instituições públicas na Índia, que vêm tentando abolir ou diminuir o sistema de 
castas. As castas são dividas em brâmanes (sacerdotes), kshatriya (nobreza, 
guerreiros), vaishyas (camponeses e artesãos) e shudras (servidores e 
mulheres) e párias (sem casta, intocáveis, excluídos e abaixo dos shudras). 
Ao passar do tempo, as doutrinas, os valores e o próprio sistema de 
castas passam a ser questionados na Índia, dando espaço para a reflexão e 
surgimento de novas crenças religiosas e filosóficas. É o caso do Budismo, que 
a partir da iluminação e entendimento espiritual de Siddharta Gautama (Buda), 
apresenta novas formas de perceber o mundo hindu. 
 
 
 
 
 
2 BUDISMO 
Figura 3: Escultura de Buda SHIN’ICHI, Suzuki. 1870. - Wikimedia Commons 
 
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:-Buddha_Sculpture-_MET_DP155601.jpg 
 
O budismo é uma religião originária da Índia, fundada em meados do 
século I a.C. após reformas realizadas após uma crise de valores na cultura 
hindu. O nome budismo é criado em homenagem ao seu criador Siddhartha 
Gautama (Buda), que significa “o desperto”, “o iluminado”. Buda é nascido na 
casta dos kshatriya (nobres) e cria o budismo após renunciar a vida de nobreza 
e se dedicar a compreender e divulgar os caminhos para o fim do sofrimento 
humano. 
 Na Índia, cerca de 1% da população é adepta ao budismo, sobretudo no 
nordeste indiano, local com maior parte de adeptos no país. A religião não conta 
com adeptos somente em seu país de origem, se espalhando por diversas partes 
do mundo, sendo uma das religiões tradicionais da China. Longe de ser um bloco 
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:-Buddha_Sculpture-_MET_DP155601.jpg
 
monolítico, existem diversas escolas do budismo, portanto com formas 
diferentes de ver e praticar os ensinamentos de Buda, entre elas existem 4 
principais escolas: Escola Theravada; Escola da Terra Pura; Escola Zen; e 
Escola Tântrica. 
 Buda não deixou registros sobre sua vida, portanto o que sabemos 
atualmente é designado pela transmissão oral dos acontecimentos. Desta forma, 
buda viveu entre os séculos V e IV a.C. Antes de sua morte, Buda realizou 
diversas viagens realizando sermões e captando seguidores de sua filosofia, 
como um ser humano sábio e astuto que havia encontrado o caminho para o fim 
do sofrimento humano. Mas é a pós sua morte que começam a surgir as 
narrativas sobre Buda ser um ser sobrenatural, omnipontente e omnisciente. 
Figura 4: Mapa da Rota da Seda. 2012. - Wikimedia Commons 
 
Fonte:https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Silk_Road-pt.svg 
 
 
O processo de expansão do budismo para a China se inicia com o 
caminhar dos monges e comerciantes de origem hindu para dependências de 
impérios vizinhos. Seguindo a rota comercial da seda, ocorrendo por volta do 
século I a.C e I d.C.. Ao mesmo tempo que exerciam influência, divulgando 
caminhos e oportunidades para a quebra do ciclo de reencarnações e para a 
construção de uma vida de harmonia na terra, entre outras contribuições e 
trocas, os budistas também iam recebendo influências de outras religiões dos 
locais em que passavam. A partir da década de 60, através da rota da seda, os 
budistas chegam à China. Nesta localidade, a cultura passa a exercer e sofrer 
 
influências chinesas, iniciando um processo de consolidação de sua doutrina 
neste território. 
 A partir do estabelecimento da dinastia Han (206 a.C. à 220 d.C.) que se 
estabelece uma troca comercial e cultural chinesa com os povos ao redor, que 
se dão as condições socialpara o contado do budismo com a China. Ao longo 
do primeiro milênio da era cristã, o budismo foi sofrendo alterações e sendo 
enquadrado às tradições chinesas, um fator preponderante foi o início das 
traduções dos textos budistas, originalmente em sânscrito, para a língua 
chinesa. 
 O budismo não conta com um corpo de crenças em deuses ou divindades, 
mas sim nos ensinamentos de Siddhartha Gautama (Buda). Existem diversas 
escolas do budismo, podemos elencar elementos presentes em todas elas, o 
primeiro é seu objetivo principal: chegar ao fim do sofrimento humano. As quatro 
verdades do budismo são: “A existência implica a dor”, ou seja, o sofrimento 
humano existe; “O desejo da dor é o desejo e o afeto” o desejo egocêntrico leva 
a mais sofrimento; “O fim da dor” quando esses desejos são cessados; e por fim, 
a ultima verdade que está relacionada às “oito regras” propostas por Buda que 
levarão ao estado de nirvana e ao fim do sofrimento (SILVA, 1996 apud 
CHARBAJE, 2013). 
 
“As Oito Regras de conduta, 1) Compreensão adequada – 
reconhecer as Quatro Verdades essenciais. – 2) Intenção adequada 
– manter a paz, a bondade e a compaixão. – 3) Discurso adequado 
– não mentir nem agredir verbalmente o próximo. – 4) 
Comportamento correto – agir com propósito de fazer o bem para 
todos os seres. – 5) Meios de subsistência 
adequados – viver sem causar sofrimentos aos outros. – 6) Esforço 
adequado (em relação ao corpo) – abster-se de matar, e sim 
preservar a vida; não roubar; evitar uma conduta sexual que 
provoque o sofrimento alheio. – 7) Atenção adequada (em relação 
à palavra) – abster-se de mentir, e dizer sempre a verdade; não 
maldizer, mas apaziguar as discórdias; não cometer injuria, e falar 
com calma e simpatia. – 8) Meditação adequada – não possuir 
inveja, mas alegrar-se com o bem dos outros; não ser mal-
intencionado, e sim realizar seus atos com boa vontade; evitar 
adotar perspectivas dualistas, buscando reconhecer a unidade na 
diversidade; são conhecidas como “caminho óctuplo”, o qual orienta 
a pessoa na prática do Dharma, com consequências sociais, morais 
e ecológicas” (MAÇANEIRO, 2011 apud CHARBAJE, 2013) 
 
 Portanto o budismo prega uma série de comportamentos que são 
favoráveis para alcançar a libertação, o bem-estar de todos os seres vivos e a 
 
chegada ao estado de nirvana. Para o budismo, o homem e o meio ambiente 
são inseparáveis, como é compreendido a partir de algumas das oito regras do 
budismo. Entre elas estão o comportamento correto: agir com propósito de fazer 
o bem para todos os seres, implicando uma não hierarquia entre o humano e os 
demais seres. Podemos citar também possuir meios de subsistência adequados 
vivendo sem causar sofrimento aos outros e, por fim, esforço adequado em 
relação ao corpo, abster-se de matar e sim preservar a vida, não matar e evitar 
uma conduta sexual que cause o sofrimento alheio. Dentro do contexto 
ambiental atual que a indústria, o consumismo e exploração desenfreada das 
terras e minerais podem gerar sérias consequências à longo prazo, a visão 
ambiental do budismo pode servir como alternativa para a construção de uma 
melhor relação com o meio ambiente. 
 Mesmo que com origens na Índia, o budismo passa a ser uma religião de 
grande influência na China, constituindo hoje parte do corpo das maiores 
filosofias e crenças religiosas do país juntamente com o confucionismo e o 
taoísmo, ambas religiões já existentes no momento em que o budismo entra em 
contato com a China. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3. CONFUCIONISMO 
Foto 5: Saudação de Kung Fu Tzu. Estátua de Kung Fu Tzu no Uruguai. AZSUR, 2013. - 
Wikimedia Commons
 
 
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Confucio_saludo.JPG 
 
 
O confucionismo foi criado cerca de 500 a.C. por Kung Fu Tzu, nas línguas 
latinas traduzido para “Confucio”. Hoje é uma religião e doutrina filosófica de 
expressão na China, sendo uma das religiões tradicionais do país juntamente 
com o budismo e o taoísmo. No seu surgimento, foi uma espécie de doutrina 
estatal do império chinês, constituindo uma série de ideias filosóficas e políticas 
que faziam parte da burocracia chinesa. O confucionismo se constitui como um 
conjunto de práticas relacionadas ao comportamento humano e não possui um 
corpo de divindades. Atualmente, a religião é encontrada também no Japão, 
Coreia do Sul e Coreia do Norte. 
 Kung Fu Tzu foi um homem estudioso e preocupado com o 
desenvolvimento da sociedade chinesa. Logo jovem obteve cargos no governo 
em seu local de nascimento, o principado de Lu. Por mais que não teve vida 
abastada, recebeu uma educação de qualidade e se interessou por estudar as 
tradições chinesas, a política e a ética. Começou a divulgar suas ideias com 
maior expressão quando já completava seus 50 anos de idade. No período da 
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Confucio_saludo.JPG
 
dinastia Han (206 a.C. à 220 d.C.), os governantes chineses passam a se inspirar 
nas ideias de Kung Fu Tzu para a organização do império chinês. 
 O foco da doutrina do confucionismo está no comportamento humano e 
nas relações humanas, cercado de regras de conduta. Estas regras são 
aprendidas a partir do estudo do passado e das tradições, que vão ensinar os 
indivíduos a encontrar o equilíbrio. Portanto as questões metafísicas e religiosas 
ficam em segundo plano. 
 
“As principais linhas do pensamento confucionista podem ser 
agregadas sob cinco termos-chave: jen, chun tzu, li, te e wen. O 
termo jen designa o relacionamento ideal que deve existir entre as 
pessoas, o que é, na visão de Confúcio, a virtude das virtudes. Essa 
virtude envolve a compreensão de amor ao próximo, integridade 
pessoal e altruísmo. Chun tzu pode ser traduzido como “Homem 
Superior” ou “Pessoa Amadurecida”. Chun tzu é exatamente o 
oposto da pessoa de mente estreita e espírito pequeno. Li tem dois 
significados: a maneira apropriada de fazer as coisas ou o senso de 
propriedade (algo como o savoir faire dos franceses); o outro 
significado do termo é “ritual”. Te designa poder, o poder por meio 
do qual as pessoas são governadas. Para Confúcio, os três 
aspectos da governança são a auto-suficiência econômica, a 
autosuficiência militar e a confiança do povo. O último termo, Wen, 
refere-se às “artes da paz”, a saber, a música, a poesia, enfim, a 
soma da cultura na sua forma estética e espiritual” (CORDEIRO, 
2009, p. 9). 
 
 
 Kung Fu Tzu buscou educar o ser humano a partir do conhecimento, de 
forma que seu comportamento seja apropriado para o equilíbrio da sociedade e 
das relações humanas. Em sua filosofia, os governos deveriam se dedicar a 
garantir a paz e a prosperidade, caso contrário poderia até mesmo ser lançado 
o uso da força para destituí-los. Suas ideias sustentaram as sociedades antigas 
na China e atualmente estão presentes como filosofia de vida em grande parte 
da população e dos governos. 
 No confucionismo existe uma premissa de que a natureza e o universo 
estão em harmonia e isso deve ser aplicado também aos humanos. Portanto, 
existem as principais relações humanas que devem estar em harmonia, são elas: 
senhor e servo; pai e filho; esposo e esposa; irmão mais velho e irmão mais 
novo; e amigo mais velho e amigo mais novo. Percebe-se que para a filosofia de 
Kung Fu Tzu existe uma importância preponderante da ancestralidade. É no 
contexto deste pensamento, que os pais são cultuados e respeitados pelos filhos 
da mesma forma como se estivessem vivos na vida terrena. Na visão filosófica 
 
do confucionismo, para a harmonia da sociedade, é necessário o respeito aos 
mais velhos e às tradições, principalmente àquelas que são responsáveis por 
manter a paz e a prosperidade. 
 Em muitos meios de comunicação e trabalhos acadêmicos, lemos sobre 
confucionismo, taoísmo e budismo como religiões abolidas pelo advento da 
Revolução Chinesa e consequentemente da República Popular da China. 
Mesmo que o governo após1949 tenha exercido pressão, inclusive criando 
legislações proibindo e limitando as religiões tradicionais, estas sobrevivem 
devido serem parte fundamental da filosofia chinesa. Como vimos anteriormente, 
as religiões fazem parte do modo que os povos têm de compreender o mundo, 
portanto o confucionismo hoje faz parte direta ou indiretamente da filosofia 
chinesa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 TAOÍSMO 
Foto 6: O filósofo chinês Lao-tse. Estátua de bronze colocada nos Jardins Dyffryn na década 
de 1950. JEANKINS, Hywel. 2007. - Wikimedia Commons 
https://www.geograph.org.uk/profile/14698
 
 
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:The_Chinese_philosopher_Lao-tse_-
_geograph.org.uk_-_453856.jpg 
 
 
 O taoísmo é uma religião tradicional da China fundada a partir dos 
ensinamentos de Lao Tse cerca de 600 anos antes da era cristã. O nome 
taoísmo vem de Tao, princípio filosófico que literalmente significa “caminho”. Tao 
significa caminho da realidade última, o princípio do qual todas as coisas nascem 
e retornam ao morrer. Este princípio está presente também na filosofia 
confucionista e faz parte da filosofia tradição chinesa. O taoísmo teve expansão 
na China durante o século VIII e XIII por conta do apoio dos imperadores da 
época, se tornando a maior religião da China depois do Budismo. Não se sabe 
ao certo se Lao Tse realmente existiu e a data certa de seu nascimento. 
Lao Tse é considerado pelos taoistas o criador do taoísmo e venerado 
como o deus do caminho. Lao Tse significa “o velho mestre”, “o velho amigo”. 
Atualmente existem cerca de 1600 templos taoistas e 25 mil sacerdotes. A 
tradição taoísta é baseada em três principais obras: o livro Tao Te Ching – livro 
do caminho e da virtude; o I Ching – o Livro das Mutações; e o Nan Hua Ching 
– O Livro da Flor do Sul. O livro Tao Te Ching, que significa “o caminho e seu 
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:The_Chinese_philosopher_Lao-tse_-_geograph.org.uk_-_453856.jpg
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poder”, sendo que a palavra Te significa poder, é o livro central do taoísmo e 
contém os ensinamentos de Lao Tse. 
O taoísmo gira entorno do conceito de Tao, que significa “caminho”, do 
caminho surge a vida e depois da morte se retorna ao caminho, ao Tao. Os 
taoistas adoram tudo que é criado pela natureza, não existindo uma divisão 
hierárquica do homem com a natureza, realizando rituais em honra dos vivos e 
dos mortos. 
Entre os deuses do taoísmo estão o Deus da Origem Primitiva, o Deus da 
Pedra Sagrada e o Deus do Caminho da Energia (Lao Tse), sendo estes 
administradores da harmonia no universo e controladores de todas as coisas. O 
taoísmo gira também em torno do conceito wu wei, que literalmente significa “não 
ação”, mas para os taoistas significa “pura eficácia”, cuja não se desperdiça 
energia, movimentos em discussões, tensões e desequilíbrios. 
Os taoistas acreditam que não é necessário se sujeitar às leis da natureza, 
não precisando compreender tudo que está ao redor. A religião prega que o ser 
humano deve viver uma vida simples, meditativa, sem vaidades e voltada à 
natureza. A natureza e o universo são considerados sagrados e o ser humano 
deve buscar a paz e a harmonia. 
 
“Além do Tao, há outros conceitos e valores de grande importância 
na compreensão taoísta. Em primeiro lugar, os taoístas rejeitam 
todas as formas de autoafirmação e competição. Outro aspecto 
importante é a abordagem ecológica presente no taoísmo. Tal 
abordagem busca sintonizar-se com a natureza ao invés de tentar 
dominá-la, como normalmente fazem os ocidentais. Para o taoísmo, 
a natureza deve ser transformada em nossa amiga, e não em algo 
que precisa ser controlado e conquistado. Esse naturalismo taoísta 
também se confunde com uma tendência para a naturalidade; 
assim, extravagâncias e pompas são vistas como tolices.” 
(CORDEIRO, 2009, p. 7 e 8) 
 
 
As manifestações mais populares do taoísmo encontramos nas artes 
marciais Kung-Fu e Wo-Shu e no Chin-Kung, uma arte chinesa de autoterapia. 
Esta filosofia e religião baseia-se na complementariedade e equilíbrio das coisas 
no universo, que é representada a partir do símbolo Yin e Yiang, também 
importante para o confucionismo. O taoísmo também está presente no feng-shui, 
no judô, no Tai-chi-chuan e na acupuntura. 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 Como observamos nesta unidade, as principais religiões do oriente são 
religiões tradicionais e milenares. Para além de religião, aprendemos que elas 
se misturam com a cultura e o modo de vida das populações adeptas à milhares 
de anos. No caso do hinduísmo, a religião não pode ser vista como algo 
separado do modo de compreender o mundo da maioria da população indiana. 
Conta com uma série de divindades e encarnações dessas divindades, sendo a 
maior religião do segundo país mais populoso do mundo, o hinduísmo é uma das 
maiores religiões em quantidade de adeptos no mundo. 
Da mesma forma, o budismo, o confucionismo e o taoísmo são religiões 
tradicionais milenares da China e se misturam com sua história e com a 
percepção de mundo chinesa. Todas estas religiões compartilham de uma 
relação não hierárquica com a natureza, que é cultuada, preservada e divinizada. 
Possuem um corpo de divindades ou elementos considerados sagrados, com 
exceção do confucionismo, que é considerado mais uma filosofia do que religião, 
por não ter preocupação com as questões metafísicas e estar focado nos temas 
políticos, sociais e comportamentais. 
Dentro da tradição do pensamento ocidental, caracterizado por ser 
fragmentador e individualista, fomos ensinados que as coisas são bem divididas, 
como o religioso do não religioso, o sagrado e o profano, a natureza e o ser 
humano, a razão e a emoção e assim por diante. Portanto quando falamos em 
religião, não estamos falando de algo separado da história, cultura e modo de 
compreender a vida de determinados povos. 
Concluímos que cada religião traz uma percepção cultural de mundo. 
Considerando a exploração desenfreada da natureza provocada pelo 
capitalismo, cada religião ou percepção de mundo oriental aqui estudada nos 
trazem alternativas filosóficas sobre a relação entre humano e natureza. Desta 
forma, é preciso compreender cada contexto histórico e filosófico, o corpo de 
doutrinas e valores de cada religião para conhecer e entender a diversidade 
cultural que existe no mundo, buscando em cada uma delas a reflexão e 
exemplos de soluções para os problemas da atualidade. 
# SAIBA MAIS # 
 
 
“Toda pessoa tem o direito à liberdade de pensamento consciência e religião; 
este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de 
manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela 
observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular.” 
 
Fonte: Art. 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 
 
 
# REFLITA # 
 
CAPÍTULO 30 
 
Aquele que utiliza o Caminho para auxiliar o senhor dos homens 
Não utiliza a arma e a força, sob o céu 
Pois esta atividade beneficia o revide 
 
Onde o exército se instala, surgem espinhos e ervas secas 
 
Por isso 
O homem bom é determinado, porém cauteloso 
Não utiliza a força para conquistar 
É determinado sem se orgulhar 
É determinado sem se envaidecer 
É determinado sem se glorificar 
É determinado sem se tornar excessivo 
 
Isto é, determinado, porém sem se esforçar 
 
Coisas exuberantes dirigem-se à velhice 
Isso se chama negar o Caminho 
Negando o Caminho irá falecer cedo. 
 
Fonte: Lao Tse. O Livro do Caminho e da Virtude. Tradução do Mestre Wu Jyn 
Cherng. Ano não especificado. Disponível em: 
https://www.livrosgratis.com.br/ler-livro-online-71576/tao-te-ching 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MATERIAL COMPLEMENTAR 
 
Livro 
 
Título: “Religiões do oriente: China e Japão” 
Autor: Gelci André ColliAno: 2019 
Editora: Intersaberes 
Sinopse: O fascínio pelo inexplicável, pelo o que transcende o empírico e o 
material, faz parte da natureza do ser humano, que é constantemente atraído 
por esse desconhecido, sempre levado por uma intuição de que há algo mais a 
se descobrir. 
Assim, ao longo da história, a religiosidade humana assumiu diferentes 
expressões, que acompanham o contexto histórico e cultural de cada sociedade. 
Considerando a extrema relevância desse tema para as relações dos países e 
das sociedades contemporâneas, nesta obra Gelci André Colli realiza um estudo 
sobre as principais expressões religiosas da China e do Japão. 
 
 
 
 
 
 
 
MATERIAL COMPLEMENTAR 
Documentário 
 
Título: “Três Joias: caminhos do despertar” 
Ano: 2018 
Sinopse: A trilogia aborda a trajetória em desenvolvimento e alegrias de se 
estabelecer o budismo em terras brasileiras. Possui relatos de grandes 
praticantes e mestre(a)s do Darma, em suas respectivas escolas. Aborda desde 
a origem histórica até os desafios contemporâneos de incorporar a tradição 
milenar de Buda ao cotidiano brasileiro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
AZSUR. Saudação de Kung Fu Tzu: Estátua de Kung Fu Tzu no Uruguai. 
2013. Disponível em: 
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Confucio_saludo.JPG 
 
CHARBAJE, Rafaela R. Budismo: movimento religiosos de respeito à 
natureza. Sinapse Múltipla, v.2, n.1, p. 22-26, 2013. 
 
COLLI, Gelci André. Religiões do oriente: China e Japão. Curitiba: 
InterSaberes, 2019. 
 
CORDEIRO, Ana Lúcia Meyer. Taoísmo e Confucionismo: duas faces do 
caráter chinês. Sacrilegens, v. 6, n. 1, p. 4-11, 2009. 
 
E.U.A.. Mapa do Sul da Ásia. Central Intelligence Agency, 1993. Disponível em: 
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:South_Asia._LOC_94680640.jpg 
 
JEANKINS, Hywel. O filósofo chinês Lao-tse: Estátua de bronze colocada 
nos Jardins Dyffryn na década de 1950. 2007. Disponível em: 
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:The_Chinese_philosopher_Lao-tse_-
_geograph.org.uk_-_453856.jpg 
 
KONSEK, Marcin. Estátuas hindus: no centro, o deus Rama com sua esposa 
Sita. Templo de Sri Krishnan. Cingapura, 2016. Disponível em: 
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:2016_Singapur,_Rochor,_%C5%9Awi
%C4%85tynia_Sri_Krishnan_(21).jpg 
 
KORTE, Guilherme. Taoísmo na China. 2009. Disponível em: http://br.china-
embassy.org/por/zggk/t150682.htm. Acessado 10/05/2021. 
 
MAÇANEIRO, Marcial. Religiões e ecologia cosmovisão, valores, tarefas. 2. 
ed. São Paulo: Paulinas, 2011. 
 
PEREIRA, Marízia Menezes Dias. Património Religioso da Índia - o 
Hinduísmo. Universidade de Évora, 2013. 
 
REIMER, Ivoni Richter; SOUZA, João Oliveira. O sagrado da vida: subsídios 
para aulas de teologia. Goiânia: Ed. da UCG, 2009. 
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Confucio_saludo.JPG
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:South_Asia._LOC_94680640.jpg
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:The_Chinese_philosopher_Lao-tse_-_geograph.org.uk_-_453856.jpg
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https://commons.wikimedia.org/wiki/File:2016_Singapur,_Rochor,_%C5%9Awi%C4%85tynia_Sri_Krishnan_(21).jpg
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SHIN’ICHI, Suzuki. Escultura de Buda. 1870. Disponível em: 
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:-Buddha_Sculpture-
_MET_DP155601.jpg 
 
SUGAO, Rev. Kentaro. Documentário Três Jóias: caminhos do despertar. 
Ebisu Filmes, 2018. DVD. 
 
WIKIMÉDIA. Mapa da Rota da Seda. 2012. Disponível em: 
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Silk_Road-pt.svg 
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UNIDADE II 
A COLONIZAÇÃO OCIDENTAL E AS RELIGIÕES AFRICANAS 
Professora Ma. Laís Azevedo Fialho. 
 
Plano de Estudo: 
 
• O cristianismo como salvação. 
• As religiões africanas originárias - Sistema simbólico e ritos. 
• Mitos e as místicas nas religiões africanas originárias. 
 
Objetivos de Aprendizagem: 
• Apresentar algumas dimensões do processo histórico de colonização ocidental 
e sua estratégia de maldição das crenças africanas. 
• Apresentar aspectos dos sistemas religiosos originários de Matriz Africana. 
• Conhecer a mística e os mitos fundadores das religiões de origem Africana 
originárias. 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Olá estudante da disciplina “Matriz Oriental e Africana”, na unidade a 
seguir, iremos conversar sobre a colonização ocidental e as religiões africanas. 
Fico muito feliz em compartilhar com você esse conteúdo que foi produzido 
pensando unicamente no seu processo de formação. Essa unidade é bastante 
significativa, espero que ela proporcione ferramentas teórico-metodológicas 
relevantes para sua atuação como pesquisador(a) e/ou educador(a). Proponho 
que esse seja um espaço de partilha e aprendizado. Convido você para essa 
imersão na história da colonização e sua relação com as religiões africanas. É 
claro que não é possível aqui abordar todos os aspectos da temática, mas 
escolhemos demonstrar aspectos que consideramos importantes desse 
processo das coisas que ele contém. Apresentaremos aspectos da investida do 
cristianismo no continente africano, destacando que esse processo ocorreu de 
modo heterogêneo em diferentes regiões, com algumas estratégias comuns, às 
quais sublinhamos. Vamos também estudar aspectos dos sistemas simbólicos 
originários de origem Africana e a mística presente nas culturas Bantu e Iorubá. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 O CRISTIANIMO COMO SALVAÇÃO 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/vector-map-
africa-continent-countries-capitals-1168693087 
 
No presente tópico buscamos refletir sobre a construção histórica do 
cristianismo como salvação alavancada pela colonização ocidental. Mais do que 
elaborar um panorama da historiografia especializada, sistematizamos 
abordagens produzidas em diferentes tempos, espaços, e lugares epistêmicos 
que contribuam para a compreensão da temática. Iremos explorar algumas 
correntes teóricas passando por pesquisadores conceituados do tema. 
Conforme Wilson Trajano Filho e Juliana Braz Dias (2018), o colonialismo 
no continente africano foi mais do que um processo histórico de exploração 
econômica e de dominação política, foi um sistema sofisticado que pode ser 
entendido como um modo de percepção do mundo e de enquadramento da vida 
social. 
 
Os regimes coloniais representaram empreendimentos 
grandiosos direcionados a instaurar uma visão de mundo 
singular, buscando estratégias de imposição de um conjunto de 
categorias e valores que classificavam as pessoas e as coisas, 
construindo hierarquias e fornecendo, assim, as bases sobre as 
quais se sustentavam as práticas de dominação (FILHO; DIAS, 
2018, p. 11) 
 
Ou seja, mais do que explorar riquezas materiais e assujeitar fisicamente 
e territorialmente os povos africanos, houve nesse processo um esforço europeu 
e cristão de apagar as identidades, as crenças, as divindades, as línguas e as 
práticas dos povos colonizados. Nas palavras dos autores, “trata-se de um poder 
que prolifera fora do domínio da política institucionalizada e que acaba sendo 
internalizado, na forma de convenções e valores” (FILHO; DIA, 2018, p. 12). 
Achille Mbembe, historiador e cientista político camaronês vai ao encontro 
da perspectiva destacada acima, mas preocupa-se em destacar os processos 
de resistência interna ao poder colonial, sempre conferindo historicidade a esse 
processo. Conforme o autor, os países que estavam em posição de 
colonizadores durante o processo de colonização foram incapazes de subjugar 
os povos colonizados e se impor hegemonicamente em território africano. Assim, 
https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/vector-map-africa-continent-countries-capitals-1168693087https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/vector-map-africa-continent-countries-capitals-1168693087
a ordem era mantida por meio da prática de transformar as crenças pagãs em 
heresia. Nesse contexto, o paganismo era “entendido como conjunto das 
práticas e dos saberes religiosos autóctones” (MBEMBE, 2013, p. 140). Como 
essa dimensão da cultura mantinha-se intrínseca às relações sociais, o campo 
religioso e simbólico fazem-se muito importantes para a abordagem da história. 
Mbembe (2013) indica que o fator religioso pode ser um meio de mediar 
conflitos, legitimar novas formas de poder e autoridade e construir a ordem 
social. O autor discorre sobre o papel da Igreja ao lado do poder colonial e da 
conivência dela com o mesmo, além de expor como essa situação auxiliou a 
perda de credibilidade do cristianismo no continente africano. 
De acordo com o intelectual, o Ocidente, no papel de colonizador, ordena 
que o resto do mundo ressignifique os seus saberes, embora não exista forma 
de começar tudo do zero, subordinando os saberes produzidos e, então, 
garantindo a sua supremacia. “Com base na repetição dos modelos, saberes e 
símbolos ocidentais, estes (...) eram tomados abusivamente por ‘universais’” 
(MBEMBE, 2013, p. 141). 
O processo de propagação da fé cristã não foi homogêneo em todo 
continente, nem pacífico, argumenta o autor, mas marcado por uma disputa, em 
que o catolicismo buscava acabar com as divindades cultuadas anteriormente 
ao período da colonização, já que a proposta cristã divergia consideravelmente 
da inteligência africana (MBEMBE, 2013). 
Desse modo, o processo de evangelização se deu a partir da teologia da 
maldição, que apresenta o continente africano como terra maldita que precisa 
buscar a salvação em Jesus. Apesar de o catolicismo ter uma matriz 
fundamentalmente ocidental, Mbembe (2013) ressalta que em cada região do 
mundo para o qual ele é deslocado, valores locais são inseridos, tendo a Igreja 
sido africanizada nesse continente. 
O continente africano foi intensamente marcado pelo processo de 
evangelização católica durante a colonização, vários grupos à serviço do Poder 
papal exerciam esse papel de missionação no território africano. 
 
Quatrocentos e setenta anos de labor missionário em solo 
africano — particularmente ao sul do Sara: de Cabo Verde, da 
Serra Leoa e do antigo Reino do Kongo às terras do Cabo de 
Boa Esperança e daí ao Grande Zimbabué, a Moçambique, à 
Costa Suaíli (até à capital da hodierna Somália), à Eritreia e 
Etiópia — são assim fruto da presença de diferentes 
missionários católicos, dos Franciscanos, Agostinhos e 
Capuchinhos às ordens dos Dominicanos e dos Jesuítas, para 
mencionar as instituições religiosas mais proeminentes, todas a 
trabalharem sob a égide da Coroa portuguesa (MADEIRA, 
2008, p. 441). 
 
Destacamos a citação acima para sublinhar que os Portugueses foram os 
primeiros a explorar o território africano a fim de ampliar o comércio com as 
populações locais e, não menos importante, obter as tão-desejadas mercadorias 
do momento: sal, minerais, metais preciosos especiarias. Desse modo, a Igreja 
desempenhava um papel necessária à Coroa: 
 
Durante quase três séculos, então, muitas, se não quase todas, 
as presenças e as atividades missionárias na África ao sul do 
Sara foram sancionadas pela Coroa portuguesa. Duma maneira 
geral, durante três séculos as Ordens Mendicantes 
meadamente os Agostinhos, Carmelitas, Dominicanos e 
Franciscanos — e os missionários jesuítas, não 
necessariamente nesta ordem, nem ao mesmo tempo, nem no 
mesmo lugar, atravessaram grande parte da área ocidental do 
Sara, e daí as regiões ao sul do grande deserto, à procura de 
indícios sociolinguísticos de uma particular tribo ou de uma 
determinada etnia para assim melhor perceber a sua complexa 
cultura e, consequentemente, no momento oportuno, levar-lhes 
a Boa Nova do Cristianismo, entenda-se, o Catolicismo 
(MADEIRA, 2008, p. 443). 
 
Durante os primeiros anos da colonização portuguesa na costa africana 
— do hodierno Marrocos à antiga Costa Suaíli (1415-1498) — frades 
Franciscanos e membros de outras Ordens Mendicantes foram instrumentais no 
processo de evangelização das populações autóctones, sendo depois 
substituídos pelos Jesuítas, durante o século XVI. No território africano os 
Jesuítas fundaram igrejas, escolas e igrejas-missões onde treinavam outros 
missionários, europeus assim como neófitos filhos da população autóctone. 
Obviamente o maior investimento era a alvejada conversão do povo indígena. 
Vamos caminhando para a conclusão desse tópico sublinhando que cada 
vez mais pesquisadores têm se esforçado em abordar o processo de colonização 
e cristianização da África com maior rigor, objetividade e fundamentação 
metodológica, utilizando as próprias fontes africanas originais. No exercício de 
seu direito à iniciativa histórica, os próprios africanos sentiram profundamente a 
necessidade de restabelecer em bases sólidas a historicidade de suas 
sociedades, demonstrando que o continente é heterogêneo e possui muitos 
processos distintos no que se relaciona à história das religiões e religiosidades. 
Não seria possível despender nesse pequeno tópico a devida atenção às 
especificidades desse processo em cada região e temporalidade no continente 
africano, por isso destacamos alguns aspectos típicos da colonização ocidental 
no continente africano, pontuando algumas especificidades e apresentando 
autores que contribuem com uma iniciação à compreensão de como se deu a 
construção do cristianismo como salvação no continente africano. Para 
aprofundar o tema indicamos a “Coleção Unesco de História Geral da África”, em 
especial o volume IV. 
 
2 AS RELIGIÕES AFRICANAS ORIGINÁRIAS - SISTEMA SIMBÓLICO E 
RITOS 
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/girl-holds-lighted-
candle-her-hands-1174053094 
 
Conceituar religião é um desafio grande, o esforço, em geral, não dá conta 
das multiplicidades doutrinárias, das diferentes práticas e múltiplos modos de 
organização de cada uma delas, assim como dos diferentes modos de 
experiências dos seus adeptos, considerando a questão da subjetividade e do 
sentimento em relação à religião. 
Sendo assim, nossa proposta aqui se limita a abordar as religiões 
africanas originárias como sistemas de crenças e práticas coerentes para as 
pessoas que se valem delas e que interagem entre elas e o universo, 
considerado o seu aspecto material (astros, lugares, natureza, etc.) e imaterial 
(deuses, seres espirituais, forças da natureza, energia vital, espaços, etc.) por 
meio do uso de símbolos. O sistema simbólico influencia cada religioso tanto no 
aspecto de comportamento manifesto quanto de sentimento, no que tange uma 
trajetória por bem estar individual e vivência coletiva. 
Como não seria possível abordar todas as religiões presentes no território 
africano em sua historicidade e espacialidade, fizemos a escolha de apresentar 
neste tópico algumas dimensões das religiões africanas originárias, privilegiando 
as culturas negras centro-ocidental, em especial os Bantu de língua kikongo e 
kimbundo e, os Yorùbá. Aqui o termo “originária” se refere à ideia de religiões 
autóctones (que nasceu no território onde ainda existe) e de comunidades 
tradicionais. 
E porque falar dessas culturas e não de outras? Como já mencionado, 
não teríamos condições de abordar todas as possibilidades inseridas na 
temática. Consideramos por bem realizar tal recorte porque esses grupos étnico-
linguísticos são os que mais infuenciaram a cultura brasileira, por conta do 
processo da diáspora e também, pois os Povos Bantu, Yorùbá e seus vizinhos 
constituem a maioria do contingente populacional da África, ocupando a maior 
parte do continente. 
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/girl-holds-lighted-candle-her-hands-1174053094
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/girl-holds-lighted-candle-her-hands-1174053094Geograficamente abrange as regiões denominadas de África Ocidental, 
África Oriental, África Central e África Meridional, que podem ser reunidas sob o 
título de África Sub-Saariana. Tal região de dimensões continentais apresenta 
diversas especificidades, em algumas delas há florestas equatoriais, outras 
savanas, outras desertos, outras grandes rios e lagos, o que influencia as 
condições de vida, as cultura e as religiões ali presentes. Atividades econômicas, 
edificações, vestuário, alimentação, artes, técnicas, etc., guardam estreita 
relação com o meio, no qual cada povo vive (GIROTO, 1999). 
 
 
Figura 1 – África – Étnico. 
Fonte: PEREIRA, D., SANTOS, D. e CARVALHO, DE. 
Fronteiras do Mundo. São Paulo, Atual, 1993. 
 
O que quer dizer Bantu? Bom, o vocábulo passou a denominar um 
conjunto de línguas (que variam de 300 a 450, dependendo dos critérios 
utilizados para a classificação, com origem comum, o proto-BANTU), a partir de 
1862, por meio dos estudos de Bleek e Barth. 
Conforme Giroto (1999), alguns estudos que compararam o idioma bantu 
moderno, possibilitaram os linguistas a localizarem uma fala proto- Bantu nos 
planaltos da Nigéria e dos Camarões. A partir dessa demarcação territorial, que 
alguns grupos passaram a se formar e migrar para a direção leste, sudeste e sul, 
a cerca de quatro mil anos. Durante esse processo, diversos desenvolvimentos 
técnicos permitiram melhor adaptação ao meio ambiente e propiciaram uma 
reorganização das estruturas econômicas e sociais, ocasionando o 
aparecimento de reinos tais como: Teke, Luba, Lunda, Ndongo, Loango, 
Matamba, Kongo, Zimbabwe, etc. 
 
Figura 2 – A expansão BANTU. 
Fonte: SILVA, ALBERTO DA C. E. A Enxada e a Lança: a África antes dos 
portugueses. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, São Paulo, EDUSP, 1992. 
 
Quem são os iorubás? Há cerca de 4000 A.C., com a aceleração do 
ressecamento do Saara, os povos que ali viviam deslocaram-se para o sul, e ao 
longo dos séculos, tornaram-se populações bastante receptivas à novas técnicas 
agrícolas. Desse modo, estabeleceram-se, sobretudo, ao redor do lago Chade e 
entre a curva do Níger e o médio Senegal. O crescimento populacional favoreceu 
o povoamento das margens do Níger e do Benué, em direção ao ocidente. 
Conforme Giroto (1999), o desenvolvimento de técnicas no que tange à diversas 
dimensões das atividades humanas, permitiu o aparecimento, na Nigéria, da 
civilização mais antiga da região, NOK, cujas esculturas a tornaram 
mundialmente famosa. Cerca de 500 a.C., essa cultura já conhecia o ferro e a 
sua fundição. 
Dando um salto histórico para o século V d.C.,identificamos a 
intensificação do processo de ocupação da região entre o rio Volta e Camarões. 
Segundo Giroto (1999), a utilização do ferro em praticamente toda zona florestal 
propiciou considerável aumento da densidade populacional. Pequenos vilarejos 
se desenvolvem a partir de então, dando origem a “miniestados” que, com o 
passar dos séculos e por meio de de expansão militar e sistemas de alianças, 
produziram reinos e impérios de considerável importância, tais como: dos 
Yorùbá, Mandenka, Songhai, Mossi, Kanem-Bornu, Hausa, Akan, Benin, etc. 
 
Figura 3 – África Ocidental – Os principais Estados dos séc. XII ao XVI. 
Fonte: Folha de São Paulo. Atlas da História do Mundo. 
 
De acordo com Altuna (1985), a religião dos bantos tem como estrutura a 
crença em uma pirâmide vital, dividida entre o mundo invisível e o mundo visível. 
Em uma ordem hierárquica de importância, no primeiro grupo encontravam-se a 
divindade suprema, os arquipatriarcas, os espíritos da natureza, os ancestrais e 
os antepassados. No segundo grupo estavam situados os reis, os chefes de 
reino, tribo, clã ou família, os especialistas da magia, os anciãos, a comunidade, 
o ser humano, os animais, os vegetais, os minerais, os fenômenos naturais e os 
astros. 
Para os Bantu, o Pré-Existente criou o universo (material e imaterial) com 
tudo que nele existe, inclusive os seres animados e inanimados. Já os Yorùbá 
explicam que o Pré-Existente decidiu criar o mundo material, delegando a missão 
à Obàtálà (também chamado Òrìsànlá, Òsàlá, etc.), entregando o àpò-iwà (bolsa 
da existência) e instruindo-o sobre como realizar a tarefa com a ajuda dos òrìsàs. 
No tópico sobre os mitos traremos mais detalhes dessa narrativa, mas importa 
dizer que a criação do mundo também partiria do desejo do Pré-Existente, como 
também admitia a cultura bantu (GIROTO, 1999). 
Essa força Pré-existente tem um lugar especial na cosmologia negro-
africana, não possui um culto organizado ou representação, já que não seria 
comparável a nada. Não pertence a nenhuma categoria de existentes; segundo 
a concepção ontológica da cultura Bantu: não é muntu (homem), kintu (coisa), 
hantu (localizador) ou kuntu (modo de ser), não tem origem mas é a origem de 
tudo, por isso é o Pré- Existente. Nzambi Mpungu, palavra derivada de Mahûngu 
significa “Ser completo em Si Mesmo (GIROTO, 1999)”. 
Ao se referir a Ele, a postura é é de profundo respeito, contudo se 
sobressaem os culto aos seres intermediários nas culturas negro-africanas. É 
importante ressaltar essa característica da intermediação. Esta perspectiva do 
Pré-Existente fez com que não fosse difundida na cultura Bantu mitos da criação 
do universo; é coisa de Nzambi, não se discute. De acordo com os grupos etno-
linguísticos Bantu, o Pré-Existente é referido como: “Nzambi, com estas 
variantes: Nyambe, Njambi, Nzambe, Nzame, Nzama, Njambe, Nsambi, 
Tshambe, Inambie, Inandzambi, Nhambe e outros”. “Em kikongo chamam-No 
‘Nzambi-Mpungu’, o grande, o forte...”. 
Para os Yorùbá, José Beniste (1997, p.49) relaciona: 
 
Olórun - É composto do prefixo Ol (oní), indicando posse ou 
comando e Òrun, céu, firmamento. Olódùmarè - A expressão 
Olódùmarè pode ser interpretada como a Divindade que possui 
qualidades superiores, perfeitas, imutáveis, permanentes, 
dignas de confiança. Detentor do poder único que não pode ter 
similar. Elédá - Senhor da Criação. Aláyè - Senhor da Vida. 
Elémí - o que dá o poder da respiração e a tira quando julgar 
necessário. Olójó Òní - Senhor do dia de Hoje. 
 
Outro aspecto marcante em ambas religiosidades destacadas é o não 
conformismo com o ato de morrer. Esse fator é compreensível se atentarmos 
que para as sociedades Bantus e Yorubás a vida é o bem mais precioso, o maior 
dom recebido do Pré-Existente pelos antepassados que a transmitiram. É o fluxo 
incessante de energia que solidariza a pessoa com a comunidade e o universo; 
com os que antecederam e com os que hão de vir. 
Para os Bantu a morte não é um espírito ou uma força autônoma, mas um 
acontecimento que tem uma causa específica, sempre buscada. Já, na 
sociedade Yorùbá, segundo Elbein dos Santos: “Iku é uma entidade dotada de 
significado próprio e específico, tem seu ìhùwasé, isto é existência e natureza 
próprias”. Assim, morte em si mesma não gera medo ou raiva, já que é a 
passagem para outra existência em outra dimensão, uma mudança de status, 
mas uma continuidade, junto dos antepassados, solidários com os vivos, uma 
vez que os laços vitais não sofrem ruptura. Toda diferença está na maneira como 
se viveu, o que foi realizado, o que se fez pois, é como o indivíduo será lembrado. 
Não há ajuste de contas: prêmios e castigos inexistem. 
Nessas sociedades, a energia vital é o que sustenta a união entre os seres 
humanos, seus ancestrais, fundadores dos seus clãs, ao Pré-Existente, aos seus 
descendentes e o que crê e vive na comunidade da qual ele faz parte em uma 
mesma realidade integrada. Assim, mundo material e imaterial são 
interdependentes: o círculo da vida envolve mundo visível e invisível, como dois 
lados de uma mesma moeda. A unidade da vida se manifesta em ambos os 
lados, numa comunhão total. A morte é apenas uma mudança para um outro 
estágio da vida. Desse modo, os ritos fúnebres são considerados ritos de 
passagem(GIROTO, 1999). 
Tendo em vista a crença em forças vitais e na interação de todos os seres, 
nesta cultura, admite-se que tais forças que podem ser potencializadas ou 
diminuídas, é esse o ponto focal dos ritos das religiões africanas originárias que 
destacamos. 
 
Nessa visão, o mundo é concebido como energia e não como 
matéria, de modo que a noção de força toma o lugar e se 
confunde com a noção de ser. Todo ser é por definição força, e 
não uma entidade estática, e por isso a pessoa humana tem 
caráter dinâmico. Em outras palavras, o ser não existe em um 
primeiro momento para depois ser revestido de força, ou para 
em algum momento possuir força. O ser é força em sua 
constituição. Mas a energia vital não se limita aos vivos. Sua 
fonte é um deus supremo e único que distribuiu essa força aos 
ancestrais e aos antepassados no mundo espiritual e, em 
seguida, no mundo dos vivos, respectivamente aos reis, chefes 
de aldeias, de linhagens, anciãos, pais, filhos, ao mundo animal, 
aos vegetais e aos minerais. Esses mundos encontram-se 
inteiramente interligados, de modo que, como numa teia de 
aranha, não se pode vibrar um único fio sem gerar movimento 
em todos os outros. A força vital pode aumentar ou diminuir por 
meio da lei da interação das forças, de modo que um ser pode 
fortalecer ou enfraquecer outro ser. As próprias instituições 
sociais e políticas estão ancoradas nessa noção (DAIBERT, 
.2015) 
 
Nesse sentido, é por meio dos ritos que se torna possível aumentar ou 
diminuir a energia de alguém, o que gera uma mudança na maneira de ser. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 MITOS E AS MÍTICAS NAS RELIGIÕES AFRICANAS ORIGINÁRIAS 
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 O que seria um mito? Mito para alguns historiadores das religiões como 
Mircea Eliade é uma história verdadeira que narra os feitos dos deuses em um 
tempo sagrado, chamado também de primordial ou originário. É uma narrativa 
que demonstra como as coisas chegaram a ser o que são. Explica uma visão de 
mundo e o universo com o que nele contém. É uma história carregada de 
verdades e valores, expressa uma dinâmica vital da sociedade que o produz. 
Demonstra também as características das divindades, seus gostos e interditos. 
Assim, os ritos teriam a função de reviver e reatualizar os mitos. 
Exposto isto, começamos por apresentar narrativas mitológicas que 
historicamente foram produzidos e difundidos pelos grupos Bantus, e em 
seguida pelos iorubás. Alguns mitos bantu dizem que depois de Deus ter criado 
a terra e tudo que nela contém, inclusive o ser humano [...] 
 
[...] ele se retirou e foi para bem longe, se afastando assim do 
gênero humano. Tomamos como exemplo um mito pertencente 
aos povos bantu do Ruanda: Antigamente, nos tempos mais 
remotos, Deus habitava no meio dos homens e conversava com 
eles. Mas tinha-lhes proibido, sob pena de originar desgraças, 
jamais tentar vê-lo. Uma rapariga ocupava-se em depositar, 
todas as tardes, água e lenha para o aquecimento à entrada da 
grande cubata onde Deus habitava, ao abrigo dos olhares 
indiscretos. Certa tarde, quando levava a cabaça cheia de água 
do manancial, a filha de Deus sucumbiu ao desejo que nela 
ardia: resolveu espiar o seu Pai divino e vê-lo. Acocorou-se 
atrás do recinto esperando ver ao menos a mão de seu Pai. Em 
seguida, Deus veio pegar na cabaça e estendeu a sua mão 
ricamente adornada com anéis de latão. Ela viu este braço 
sumptuosamente adornado. Como batia o seu coração à vista 
de tanto esplendor! Mas Deus soube da desobediência da sua 
filinha. Na tarde seguinte ordenou que os homens entrassem 
nas suas cubatas e deu-lhes amargas reprimendas. Para 
castigar, decidiu retira-se para sempre; daí em diante, teriam de 
viver sem Ele. Deus desapareceu para além do lago [...] Com 
Deus desapareceram também a felicidade e a paz. Os frutos, a 
caça e todos os alimentos, que antes se ofereciam 
espontaneamente, tudo escasseou. Mais ainda, apareceu a 
morte juntamente com outras misérias (DE MEESTER apud 
ALTUNA, 2014, p. 405, 407). 
 De acordo com essa mítica bantu, o fato da proximidade de Deus trazer 
vida e abundância e o distanciamento do mesmo resultar em agonia e morte, 
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Deus é somente Deus enquanto mistério oculto à curiosidade humana. A 
resposta que o sistema religioso bantu dá para esse paradigma é a valorização 
do papel de mediador dos antepassados, aqueles que receberam vida de Deus, 
e a transmitiram para a humanidade. “São eles responsáveis por ligarem à 
humanidade novamente com Deus, superando-se assim o distanciamento 
existente” (ESTENDAR; RENDERS, 2019). 
Passando a mística iorubana destacamos a importância dos orixás e 
como seus mitos fundamentam as práticas religiosas dos adeptos. Reginaldo 
Prandi é o pesquisador brasileiro que tem a obra mais reconhecida sobre 
mitologia iorubá traduzida para o português. A obra intitulada “Mitologia dos 
orixás” contém uma seleção de 301 mitos narrados em sua mais antiga versão 
encontrada. 
O autor fornece no prólogo do livro fornece panorama bibliográfico dos 
trabalhos mais relevantes que trazem transcrições de mitos iorubanos. Parte das 
primeiras referências em África, encontradas em escritos de missionários 
(Baudin) e militares (Ellis) do século XIX, contemplando ainda os escritos mais 
importantes dos vários estudiosos que pesquisaram entre os iorubás (Frobenius, 
Bascom, Verger, Beier, Abimbola) e na diáspora. 
O autor chama relembra aqueles autores, tanto acadêmicos como 
adeptos do candomblé, que, em terras brasileiras, se empenharam em 
documentar e compilar mitos dos orixás (Nina Rodrigues, Artur Ramos, Roger 
Bastide, René Ribeiro, Pierre Fatumbi Verger, Agenor Miranda Rocha, Mestre 
Didi, Júlio Braga, Juana Elbein dos Santos, Monique Augras, Rita Laura Segato, 
Mãe Stella, Rita de Cássia Amaral, entre outros). 
Conforme o autor existe uma dinâmica particular entre o mundo dos orixás 
e dos seres humanos. “Os orixás alegram-se e sofrem, vencem e perdem, 
conquistam e são conquistados, amam e odeiam. Os humanos são apenas 
cópias esmaecidas dos orixás dos quais descendem” (PRANDI, 2003, p. 29). 
Ou seja existe uma espécie de relação recíproca entre o “orum”, o mundo 
imaterial onde vivem os orixás e o “aiê”, mundo material onde vivem os seres 
humanos, uma vez que, em última instância, a força dos orixás se constrói a 
partir dos cultos e ritos promovidos pelos humanos. É por isto inclusive que as 
histórias que revelam e comentam as guerras, brigas, paixões, amores, 
espertezas, conquistas e derrotas dos orixás assumem um papel de suma 
importância na cosmovisão iorubana. 
Assim, na concepção iorubana tradicional do mundo, as histórias míticas 
oferecem uma orientação importantíssima, uma espécie de referência última 
para a vida terrestre. É por meio delas que os sacerdotes buscam avaliar o 
mundo da concretude. Os mitos servem para interpretar a realidade: eles 
afirmam e reafirmam as verdades iorubanas e dão dicas de como deve se 
comportar para ter sucesso. A cosmologia iorubana expressa nos mitos 
apresenta-se tanto como princípio quanto como meio e como fim: está na origem 
do mundo e é instrumento tanto para interagir com o mundo como para mantê-
lo tal como descrito nos mitos. Ao afirmar que “para os iorubás antigos, nada é 
novidade, tudo o que acontece já teria acontecido antes” (PRANDI, 2003, p. 18), 
o autor enfatiza esta força ontológica intrínseca à concepção mítica dos iorubás. 
Não sendo possível abordar tais mitologias e cosmologias de modo 
homogêneo optamos por destacar alguns aspectos e apresentar algumas 
informações que podem contribuir com sua formação sobre a temática 
apontando suas possibilidadesde abordagens para um possível futuro 
aprofundamento. 
O que gostaríamos de destacar é que em nossa perspectiva existe um 
grande diferencial ontológico entre essas religiões africanas originárias das 
religiões ocidentais, não estão apartadas, para essas primeiras de todas as 
circunstâncias da vida. A religião não está confinadas em um lugar separado. 
Desse modo, todo acontecimento na vida de um indivíduo ou de uma sociedade 
se interpreta como o resultado de uma causa divina. 
 
A religião é adquirida ao nascer como um direito de 
primogenitura; não há conversão no sentido que se dá a este 
termo no Ocidente por mais que existam cerimônias que 
marquem etapas da vida e que se vinculem ao papel que a 
religião confere ao indivíduo na sociedade (MURRAY, 2007, p. 
31). 
Algumas abordagens indicam inclusive que “os africanos não têm religião, 
eles são religiosos. A religião é algo que interfere no modo de sentir, de viver e 
de agir do africano” (DE OLIVEIRA, 2006, p. 46). Essa profunda integração 
homem-cosmo se estende à dimensão transcendental e faz dela um todo 
indissociável com a realidade imanente. Tudo está conjugado em tudo. Nestas 
culturas, por trás de cada prática religiosa, compreendida por diferentes 
vertentes teóricas como práticas mágicas ou espiritualistas, se encontra a 
interacionalidade de todas as coisas. É porque tudo se une a tudo, aquém e 
além, que os procedimentos de articulação matéria-espírito se justificam. 
SAIBA MAIS 
 
O Deserto do Saara foi um fator geográfico altamente condicionador no 
continente africano, isolando o Norte da maior parte do referido continente até 
aos finais do primeiro milénio depois de Cristo, quando a economia em expansão 
e o islamismo penetraram o deserto, ultrapassando-o, a fim de extrair ouro e 
capturar escravos, produtos que faziam parte do mecanismo e intercâmbio 
comerciais autóctones da África Ocidental, e criar ligações por mar com a África 
Central e Oriental. Do Século I ao século IV D.C., no Norte e Nordeste de África, 
assiste-se à presença da vanguarda intelectual do Cristianismo, que veio a 
sucumbir com o aparecimento do Islamismo e do seu ímpeto a partir do século 
VII. Assim, no Egito, na Núbia, no Sudão e na Etiópia o Cristianismo foi 
convictamente adaptado pelos povos africanos dessas regiões às suas próprias 
culturas e assumiu prestígio relevante nessa época. Documentos históricos, 
nomeadamente arquitetónicos e monumentais, dão conhecimento dessa mesma 
realidade. De facto, muito mais tarde, o Norte e Nordeste africanos foram 
incapazes de resistir ao avanço do Islamismo a partir do século VII, o qual 
estendeu o seu poder a toda a região, em parte devido à fraqueza militar e à 
instabilidade política do Império Bizantino. A única região que conseguiu fazer 
frente ao avanço do Islão foi o reino de Axum, que, posteriormente, desembocou 
no aparecimento do reino da Etiópia, em parte devido ao seu isolamento, às 
características geográficas e climáticas da zona em que se encontrava inserido 
e, ainda, porque esta região se encontrava relativamente afastada do centro dos 
poderes decisórios islamitas. Desta forma, bem se compreende porque toda a 
história da Etiópia está ligada à evolução do Cristianismo no Norte e Nordeste 
de África, ao isolamento das influências externas e, ainda, se relaciona com a 
nefasta problemática das quezílias político-religiosas do império romano 
(Monofisismo, Nestorianismo e Pró-Calcedónios), cuja sede na altura era 
Constantinopla. A maior parte do território do reino da Etiópia estava inserida em 
área cuja altitude é superior a 1000 metros e este fator geográfico teve também 
um papel preponderante em todo o desenrolar da sua história, muito particular, 
mas ainda sujeita a muitas investidas por parte dos povos que rodeavam o seu 
território, os quais eram aderentes – e ainda o são – do credo muçulmano. 
 
Fonte: BRANCO, Alberto Manuel Vara (2015). Do Reino de Axum ao Reino da 
Etiópia (Século I D.C. ao século XVII): A Força e o Isolamento do Cristianismo 
na África do Norte e Nordeste. Millenium, 48 (jan/jun). Pp. 63-74. 
 
#SAIBA MAIS# 
REFLITA 
Macumba é uma palavra de origem Bantu (quimb makumba) que se referia 
apenas a um instrumento musical muito parecido com o que popularmente é 
conhecido como reco reco. Hoje o termo, muito utilizado pejorativamente por 
preconceituosos que operam o racismo contra os adeptos de religiões Afro-
brasileiras, vem sendo utilizado, também, para designar cultos de Matriz Bantu 
no Brasil. Não faz pensar o quanto temos que avançar no diálogo que preza por 
diversidade cultural o fato de o país com mais negros fora da África e com alta 
contribuição cultural de Matriz Bantu e Iorubá subverter a própria linguagem 
africana para reproduzir noções errôneas e pré-concebidos sobre cultos 
Africanos e Afro diaspóricos? 
O historiador Luiz Antonio Simas diz o seguinte sobre o assunto: 
“Macumbeiro: definição de caráter brincante e político que subverte sentidos 
preconceituosos atribuídos de todos os lados ao termo repudiado e admite as 
impurezas, contradições e rasuras como fundantes de uma maneira encantada 
de encarar e ler o mundo no alargamento das gramáticas. O macumbeiro 
reconhece a plenitude da beleza, da sofisticação e da alteridade entre as 
gentes.” 
Luiz Antonio Simas é um historiador que se dedica sobretudo às culturas 
populares do Brasil. É autor de, entre outros livros, O corpo encantado das ruas 
(Civilização Brasileira, 2019), Dicionário de história social do samba (José 
Olympio, 2015), com Nei Lopes, e Fogo no mato: a ciência encantada das 
macumbas, com Luiz Rufino (Mórula, 2018). 
Fonte: REVISTA SERROTE, 2020. 
https://www.revistaserrote.com.br/2020/02/macumba-por-luiz-antonio-
simas/#:~:text=%E2%80%9CMacumbeiro%3A%20defini%C3%A7%C3%A3o%
20de%20car%C3%A1ter%20brincante,mundo%20no%20alargamento%20das
%20gram%C3%A1ticas. 
#REFLITA#
https://www.revistaserrote.com.br/2020/02/macumba-por-luiz-antonio-simas/#:~:text=%E2%80%9CMacumbeiro%3A%20defini%C3%A7%C3%A3o%20de%20car%C3%A1ter%20brincante,mundo%20no%20alargamento%20das%20gram%C3%A1ticas
https://www.revistaserrote.com.br/2020/02/macumba-por-luiz-antonio-simas/#:~:text=%E2%80%9CMacumbeiro%3A%20defini%C3%A7%C3%A3o%20de%20car%C3%A1ter%20brincante,mundo%20no%20alargamento%20das%20gram%C3%A1ticas
https://www.revistaserrote.com.br/2020/02/macumba-por-luiz-antonio-simas/#:~:text=%E2%80%9CMacumbeiro%3A%20defini%C3%A7%C3%A3o%20de%20car%C3%A1ter%20brincante,mundo%20no%20alargamento%20das%20gram%C3%A1ticas
https://www.revistaserrote.com.br/2020/02/macumba-por-luiz-antonio-simas/#:~:text=%E2%80%9CMacumbeiro%3A%20defini%C3%A7%C3%A3o%20de%20car%C3%A1ter%20brincante,mundo%20no%20alargamento%20das%20gram%C3%A1ticas
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 Na Unidade II, Religiões Africanas, procuramos discutir sobre as 
religiosidades Bantu e Iorubá, ambas de matriz africana. Para tanto, no tópico I, 
“O cristianismo como salvação” foi apresentada uma discussão sobre o processo 
de colonização e cristianização em território africano. Não sendo possível pensar 
esse processo de modo homogêneo, destacamos alguns aspectos desse 
processo histórico. Contudo, demonstramos que se há uma regularidade no 
modo como isso ocorreu, é o esforço europeu e cristão de apagar as identidades, 
as crenças, as divindades, as línguas e as práticas dos povos colonizados. 
 No tópico II, “Religiões africanas originárias - sistema simbólico e rito” 
procuramos apresentar contextos que nos possibilitem pensar o processo de 
construção e expansão da cultura bantu e iorubá, demonstrando em seguida 
aspectos relacionados às suas crenças e práticas religiosas. 
 Por fim, refletimos no tópico III “Mitos e as Míticas nas religiões africanas 
originárias” sobre a concepção iorubana e bantu tradicional do mundo e sobre 
como as histórias míticas oferecem uma orientação importantíssima para os 
seus adeptos. Destacamos que nas religiõesafricanas originárias, 
diferentemente das religiões ocidentais, a dimensão religiosa não está apartada 
de todas as circunstâncias da vida. Assinalamos que essa profunda integração 
homem-cosmo se estende à dimensão transcendental e faz dela um todo 
indissociável com a realidade imanente. 
Assim concluímos indicando que estas culturas, por trás de cada prática 
religiosa, se encontra a interacionalidade de todas as coisas. Esperamos ter 
contribuído com a sua iniciação ao tema. 
 
 
 
 
 
LEITURA COMPLEMENTAR 
A Globalização já é uma realidade e devemos nos preparar para outros avanços 
da humanidade. Avanços estes sempre defendidos por José Beniste, em se 
tratando da cultura afro-brasileira. Em Orun Aiye, Beniste dá uma amostra do 
que verdadeiramente o sistema nago-yoruba, onde o leitor entenderá de forma 
correta acentos yorubas, vogais, substantivos, cânticos e rezas. 
BENISTE, José. Òrum – Ayê. O encontro de dois mundos. O Sistema de 
Relacionamento Nagô-Yorubá entre o céu e a Terra. Rio de Janeiro, Bertrand-
Brasil, 1997.
 
FILME/VÍDEO 
 
Título: HOTEL RWANDA 
Diretor: Terry George 
Sinopse: Durante os conflitos políticos entre hutus e tutsis que mataram quase 
um milhão de ruandenses em 1994, Paul Rusesabagina, gerente do Hotel des 
Milles Collines, na capital do país, toma a decisão corajosa de abrigar sozinho 
mais de 1.200 refugiados. 
 
LIVRO 
https://www.google.com/search?q=sinopse+santo+forte&sxsrf=ALeKk00y00meM3YrOU-1dbEYE1sM3cE3ow:1606019464834&tbm=isch&source=iu&ictx=1&fir=ejvngSOft8kI7M%252CsZ60SEWjAFRBIM%252C%252Fm%252F0gsyk08&vet=1&usg=AI4_-kQN7vsKj40Ygmbvj7NdoP_VHzmfyw&sa=X&ved=2ahUKEwiatdDdqJXtAhW2HbkGHWFdC3YQ_B16BAgLEAM#imgrc=ejvngSOft8kI7M
https://www.google.com/search?q=sinopse+santo+forte&sxsrf=ALeKk00y00meM3YrOU-1dbEYE1sM3cE3ow:1606019464834&tbm=isch&source=iu&ictx=1&fir=ejvngSOft8kI7M%252CsZ60SEWjAFRBIM%252C%252Fm%252F0gsyk08&vet=1&usg=AI4_-kQN7vsKj40Ygmbvj7NdoP_VHzmfyw&sa=X&ved=2ahUKEwiatdDdqJXtAhW2HbkGHWFdC3YQ_B16BAgLEAM#imgrc=ejvngSOft8kI7M
 
Título: Mitologia dos orixás 
Autor: Reginaldo Prandi 
Sinopse: Mitologia dos orixás, do sociólogo Reginaldo Prandi, é a mais completa 
coleção de mitos da religião dos orixás já reunida em todo o mundo. São 301 
relatos mitológicos, histórias que contam, por meio de imagens concretas e não 
de idéias abstratas, como são, o que fazem, o que querem e o que prometem os 
deuses desse riquíssimo panteão africano que sobreviveu e prosperou em 
países da América - em particular no Brasil e em Cuba - e que nos últimos anos 
tem sido exportado para a Europa. Na sociedade tradicional dos iorubás, é pelo 
mito que se alcança o passado, se interpreta o presente e se prediz o futuro. 
Cada mito, portanto, é uma surpresa sempre renovada, um segredo revelado 
que jamais se deixa desvendar completamente. Ao narrar episódios em que se 
envolveram deuses como Exu, Ogum, Iemanjá e Iansã, Mitologia dos orixás 
chama a nossa atenção para sentidos vitais profundos e nos aproxima do vasto 
patrimônio cultural dos negros iorubás ou nagôs. O livro é ricamente ilustrado, 
com fotos coloridas de todos os orixás que se manifestam em cerimônias do 
candomblé no Brasil e ilustrações do artista plástico Pedro Rafael. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
ALTUNA, Raul Ruiz de Asús. A cultura tradicional banto. Luanda: Secretaria do 
Arquidiocesano de Pastoral, 1985. 
BRANCO, Alberto Manuel Vara (2015). Do Reino de Axum ao Reino da Etiópia 
(Século I D.C. ao século XVII): A Força e o Isolamento do Cristianismo na África 
do Norte e Nordeste. Millenium, 48 (jan/jun). Pp. 63-74. 
 
BENISTE, J. Òrun, àiyé: o encontro de dois mundos: o sistema de 
relacionamento nagô-Yorùbá entre o céu e a terra. Rio de Janeiro, Bertrand 
Brasil, 1997. 
 
DAIBERT, Robert. A religião dos bantos: novas leituras sobre o calundu no Brasil 
colonial. Estud. hist. (Rio J.) 28 (55) • Jan-Jun 2015. 
 
DE OLIVEIRA, Irene Dias. Tradição africana: espaço crítico e libertador. In: 
SILVA, Marilena da, e GOMES, Uene José (Orgs.). África, afrodescendência e 
educação. Goiânia: Ed. da UCG, 2006. p. 45-58. 
 
ESTENDAR, Júlio Macuva; RENDERS, Helmut. O NÃO-ROSTO DOS 
ANTEPASSADOS REVELADO NAS MÁSCARAS RITUALÍSTICAS BANTU: UM 
OLHAR SOBRE SUA CULTURA VISUAL. Revista Caminhos - Revista de 
Ciências da Religião, Goiânia, v. 17, p. 259-277, mar. 2019. 
 
FILHO, W. T., & DIAS, J. B. O colonialismo em África e seus legados: 
classificação e poder no ordenamento da vida social. Anuário Antropológico, 
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MADEIRA, José Manuel Rosa. A missionação em África nos séculos XVI-XVII: 
análise de uma atitude. Revista Lusófona de Ciência das Religiões – ANO VII, 
2008 / n. 13/14 – 439-462. 
MBEMBE, Achille. África Insubmissa: Cristianismo, poder e Estado na sociedade 
pós-colonial. Mangualde; Ramada: Edições Pedago; Luanda: Edições Mulemba, 
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MURRAY, Jocelyn. África: o despertar de um continente. Tradução de Miguel 
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Maria Cristina zambotto. Barcelona: Folio, 2007. 
PEREIRA, D., SANTOS, D. e CARVALHO, M DE. Fronteiras do Mundo. São 
Paulo, Atual, 1993. 
PRANDI, Reginaldo, Mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 
2003 
SILVA, ALBERTO DA C. E. A Enxada e a Lança: a África antes dos portugueses. 
Rio de Janeiro, Nova Fronteira, São Paulo, EDUSP, 1992. 
 
 
 
 
UNIDADE III 
CRENÇAS E DOGMAS 
Professor Mestre Herculanum Ghirello Pires; Professora Mestra Laís Azevedo Fialho. 
Plano de Estudo: 
• Os preceitos das religiões orientais. 
• Os preceitos das religiões Africanas. 
• O Sagrado e o Profano. 
• Dogmatismo religioso. 
 
Objetivos de Aprendizagem: 
• Conceituar e contextualizar as crenças e religiões orientais; 
• Compreender os tipos de crenças e religiões orientais; 
• Estabelecer a importância das crenças e religiões orientais para a história. 
 
 
INTRODUÇÃO 
Olá, caro (a) aluno (a). Nesta unidade você verá sobre crenças e dogmas 
dentro do panorama das religiões e religiosidades. Estudaremos a importância 
das crenças das religiões orientais e de matriz africanas para o ser humano 
quando para o Brasil. 
Estudar as religiões orientais e africanas é fundamental para o respeito e 
percepção da identidade religiosa de ambas e até sobre nós. Às vezes, podemos 
pensar, caro (a) aluno (a) que essas crenças, dogmas e religiões estão muito 
longe da gente. Mas, o Brasil, por exemplo, é de extrema importância discutir esse 
assunto. Uma vez que africanos foram trazidos para cá e que ondas de migrações 
de pessoas vindas do oriente ocorreram nos últimos anos. Foz do Iguaçu abriga 
a maior comunidade muçulmano do Brasil. Salvador é a cidade mais africana do 
mundo, fora da África. Sem falar no sincretismo religioso que as religiões cristãs 
promoveram nas crenças africanas. Portanto, caro (a) aluno (a), esses estudos 
fazem parte de nós, da nossa vida, e do nosso cotidiano. 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. OS PRECEITOS DAS RELIGIÕES ORIENTAIS 
 
 
Grande Buda, Japão – Kamakura. Disponível em: www.shutterstock.com/ 
1. 2. Hinduísmo 
Praticado há mais tempo que o cristianismo, estima-se que o hinduísmo tenha 
sido difundido por volta de 1500 a. C. Datar o momento certo do nascimento do 
hinduísmo é difícil, mas “a quantidade de escrituras, pinturas, e esculturas antigas 
indicam que a origem dessa mitologia pode ser datada desde 1500 a.C, momento em 
que a antiga civilização do Vale do Indo entra em declínio” (LIMA; et al, 2016, p. 5). 
Foi com a compilação em sânscrito (língua sagrada para os hindus) dos Vedas 
que sua propagação. Entende-se os Vedas como textos sagrados, possuindo 4 livros 
principais: o Rig Veda, Sama Veda, Yajur Veda e Atharva Veda. 
As características de sua mitologia e crenças são intrínsecas à população, dando 
o contorno, de

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