Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Matriz Religiosa Oriental e Africana APRESENTAÇÃO Professora Ma. Laís Azevedo Fialho ● Doutoranda em História, Cultura e Narrativas (Universidade Estadual de Maringá). ● Mestre em História, Cultura e Narrativas (Universidade Estadual de Maringá). ● Especialista em História da África e Cultura Afro-brasileira (Universidade Estadual de Maringá). ● Licenciada em História (Universidade Estadual de Maringá). ● Tutora Educacional no Centro Universitário Cidade Verde (UniFCV). ● Professor Conteudista na UniFatecie. ● É integrante do Laboratório de Religiões e Religiosidades da Universidade Estadual de Maringá (LERR/UEM). Áreas de concentração: História das Religiões e Religiosidades com ênfase nas Práticas Afro-brasileira; História Cultural, Epistemologias Anti-racistas. Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/8724898233397030. Professor Matheus Alencar Fernandes Oliveira ● Licenciada em História (Universidade Federal da Integração Latino- Americana). ● Experiência em projetos de arte e educação das culturas e histórias africanas e das diásporas africanas. Áreas de concentração: Ensino de História; Metodologias de Ensino da História da África; História da África e da Diáspora Africana; Lei 10.639/03; e História da América Latina. ● Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/4209381225365141 Professor Me. Herculanum Ghirello Pires ● Doutorando em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/2022) ● Mestre em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/2016) ● Graduado em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/2013) http://lattes.cnpq.br/8724898233397030 http://lattes.cnpq.br/4209381225365141 ● Professor QPM/SEED no Colégio Ivone Castanharo (Campo Mourão) ● Professor Formador pela SEED-PR ● Docente da Faculdade Santa Maria da Glória (SMG) ● Autor do livro Mulheres e Roupas: a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino na Belle Époque carioca (1922 - 1936) ● Pesquisador do Laboratório de Estudos em História, Moda e Cultura (LaModa/UEM) ● Lattes: http://lattes.cnpq.br/2654225579210202 Seja muito bem-vindo(a)! Prezado(a) estudante, se você se interessou pelo assunto desta disciplina, isso já é o motivo de alegria e inspiração para a grande jornada que vamos trilhar juntos a partir de agora. Proponho, junto com você, construir nosso conhecimento sobre a Matriz Religiosa Oriental e Africana. Na unidade I começaremos a nossa jornada pela discussão acerca das religiões orientais, em especifico: Hinduísmo, Budismo, Confucionismo e Taoísmo. Você compreenderá um pouco dos contextos históricos no qual elas foram organizadas, bem como as doutrinas de cada uma delas, entendendo seus valores e refletindo sobre os seus principais temas. Já na unidade II vamos ampliar nossos conhecimentos sobre a colonização ocidental e as religiões africanas. Apresentaremos aspectos da investida do cristianismo no continente africano, destacando que esse processo ocorreu de modo heterogêneo, em diferentes regiões, mas com algumas estratégias coloniais comuns, às quais sublinhamos. Vamos também estudar aspectos dos sistemas simbólicos originários de origem Africana e a mística presente nas culturas Bantu e Iorubá. Ao longo da unidade III, vamos apresentar aspectos dos preceitos das religiões de origem oriental e africana. Abordaremos também a noção teórica de sagrado e profano no contexto da história das religiões e religiosidades, além de apresentar reflexões sobre o dogmatismo religioso. Na unidade IV, você terá a oportunidade de conhecer um pouco sobre algumas religiões orientais que se expandiram de forma significativa no ocidente. São elas, Hare Krishna, Seicho-No-Iê e Igreja Messiânica Mundial. Todas as três chegam ao ocidente a partir do século XX em diferentes contextos histórico- culturais. Vamos abordar as suas doutrinas, valores, principais desafios e temas para as religiões orientais aqui estudadas. Aproveito para reforçar o convite a você, para junto conosco percorrer esta jornada de conhecimento e multiplicar os conhecimentos sobre tantos assuntos abordados em nosso material. Esperamos contribuir para seu crescimento acadêmico-profissional. Muito obrigada e bom estudo! UNIDADE I RELIGIÕES ORIENTAIS Professor Matheus Alencar Fernandes Oliveira; Professora Ma. Laís Azevedo Fialho. Objetivos de aprendizagem: • Compreender a origem e a fundação das religiões orientais; • Conhecer as doutrinas das principais religiões orientais; • Entender os temas centrais presentes nas religiões orientais. Plano de estudo: • Hinduísmo • Budismo • Confucionismo • Taoísmo INTRODUÇÃO Caro/a estudante, nesta unidade didática, caminharemos pelo oriente conhecendo um pouco das suas principais manifestações religiosas, entre elas o hinduísmo, budismo, confucionismo e o taoísmo. O hinduísmo e o budismo são originários da Índia, país localizado no sul do continente asiático com uma população de 1,366 bilhão de pessoas, segundo país mais populoso do mundo ficando atrás somente da China, com 1,439 bilhão. Porém somente o hinduísmo é considerado uma religião tradicional da Índia, como religião tradicional do povo hindu desde 3000 a.C. Já o budismo por mais que originado na Índia, teve sua expansão e desenvolvimento tradicionalmente na China nos primeiros séculos da era cristã. O budismo chega na China no século I a.C. e se difunde com maior profundidade após os séculos V e VI por incentivo do império Chinês. Hoje o budismo constitui uma das principais filosofias da China juntamente do confucionismo e do taoísmo. Veremos adiante que na China, país do extremo leste do continente asiático, existem três religiões tradicionais, o budismo com maior número de adeptos, seguido do taoísmo e do confucionismo. As três religiões compõem as religiões tradicionais da China. O confucionismo é uma filosofia e religião criada 500 d.C. e não possui um corpo de deuses e sacerdotes, constituindo-se a mais a partir das preocupações matérias do que das religiosas e metafísicas. Já o taoísmo, fundado por volta do século II d.C. possui deuses e crenças metafísicas, baseando-se na realização de rituais e magias. Você compreenderá um pouco dos contextos históricos em que são formadas, as doutrinas de cada uma delas, entendendo seus valores e refletindo sobre os seus principais temas. A presente apostila também auxiliará e sensibilizará o/a estudante das mais variadas áreas do conhecimento à trabalhar em sala de aula os assuntos aqui discutidos. Bons estudos! 1 HINDUÍSMO Figura 1: Estátuas hindus: no centro, o deus Rama com sua esposa Sita. Templo de Sri Krishnan. Rochor, Região Central, Cingapura. KONSEK, Marcin 2016. - Wikimedia Commons Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:2016_Singapur,_Rochor,_%C5%9Awi%C4%85tynia_S ri_Krishnan_(21).jpg A palavra “hindu” deriva do termo Sindhu, nome persa que designa o antigo povo que vivia do outro lado do rio Indo, rio localizado onde hoje é o Paquistão, cortando este país de norte a sul, ao noroeste da Índia. O hinduísmo é uma religião e cultura tradicional da Índia fundada à cerca de 3000 a.C. pelas primeiras civilizações hindus, em torno do rio Indo. A Índia é um país com 1,366 bilhões de habitantes, localizado no sul do continente asiático, desta população, 80,3% é adepta ou pertencente ao hinduísmo, caracterizando-se uma das maiores religiões do mundo em quantidade de adeptos. O hinduísmo não está presente apenas na Índia ou até mesmo no Oriente, tendo relevância também em outros países, a Índia é o país https://commons.wikimedia.org/wiki/File:2016_Singapur,_Rochor,_%C5%9Awi%C4%85tynia_Sri_Krishnan_(21).jpg https://commons.wikimedia.org/wiki/File:2016_Singapur,_Rochor,_%C5%9Awi%C4%85tynia_Sri_Krishnan_(21).jpgcom maior número de adeptos, mas outros países com grande número de adeptos também são Nepal, Bangladesh, Sri Lanka, África do Sul, Indonésia, Malásia, Guiana, Estados Unidos e Brasil (REIMER e SOUZA, 2009). Figura 2: Mapa do Sul da Ásia. Central Intelligence Agency. E.U.A., 1993. - Wikimedia Commons Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:South_Asia._LOC_94680640.jpg Não existe um criador específico do hinduísmo, mas acredita-se que a religião foi criada por mediação de sete ou nove videntes de Brahman, divindade suprema do hinduísmo. Acredita-se também que o Deus Vishnu foi quem revelou a doutrina de Krishna, Pantajali quem revelou a escola de Yoga e Shankara quem revelou a Advaita-Vedanta. De Brahman se nasce e para ele se retorna ao morrer. (composições para a floresta) e Upanishads (sentado junto do mestre), todos estes textos refletem os ensinamentos de Brahman. As principais divindades hindus são Brahman (o Deus supremo da criação), Vishnu (Deus da preservação), Shiva (Deus da destruição), Ganesha (senhor dos obstaculos) Shakti (a grande mãe) entre outros. Rama e Krishna são divindades muito populares e avatares de Vishnu, os avatares são considerados https://commons.wikimedia.org/wiki/File:South_Asia._LOC_94680640.jpg encarnações dos deuses Brahman, Vishnu e Shiva, sendo que a variedade de deuses e avatares adorados por hindus é compreendida como manifestações da Verdade Única, do Deus Supremo. O objetivo central do hinduísmo é chegar à vida eterna, à imortalidade ou libertação através do yoga e da meditação. A reencarnação significa permanecer no mundo do sofrimento. Através da meditação ritual se tornam presentes Vishnu e Shiva, reencarnações de Brahman. O karma é a relação de causa e efeito que faz um hindu reencarnar várias vezes até chegar à libertação e reintegração à Brahman, superando o ciclo de reencarnações. Para quebrar o ciclo é preciso realizar as boas ações e sacrifícios rituais em função do karma; compreender e conhecer a relação entre humano e divino; e ser devoto confiando no divino. Entre os símbolos sagrados do hinduísmo podemos encontrar a sílaba OM, que significa o som primordial ou uma referência à aquele que protege (Brahman), esta sílaba é composta por três sons a-u-m. A Flor de Lotus também é um símbolo sagrado do hinduísmo, aparecendo aos pés de Krishna em suas representações e juntamente com outros deuses como Ganesha, Shiva e Lakshmi. O símbolo significa espiritualidade, meditação, pureza e imortalidade. Os muitos braços das divindades significam onipotência e proteção. As Mandalas são símbolos que talvez sejam mais conhecidos no ocidente, representam o núcleo da mente humana, são símbolos da união da divindade e o cosmos e são usadas para fins rituais e meditações em busca da paz interior. Entre os animais sagrados estão a Vaca, que simboliza a maternidade e a criação da vida, é um animal importante economicamente para os indianos pois da vaca se tira as vezes que servem de adubo e fertilizante e a sua força é utilizada para o trabalho no campo. Entre os animais sagrados também estão o macaco (Hanuman), considerado sagrado por ter sido uma das encarnações do deus Shiva. A cobra (Naga) é associada aos deuses Shiva, Ganesha e Vishnue e simboliza a fertilidade, as chuvas e a renovação. O crocodilo (Makara) é considerado uma manifestação dos deuses das águas e são guardiões dos portões e das entradas dos templos. Os templos hindus são considerados lugares de morada das divindades respeitadas pelos hindus. Na porta se concentram duas colunas, uma das bandeiras e a outra das oferendas. Porém, geralmente, os templos não possuem uniformidade entre eles, sobretudo existem diferenças significativas entre os templos do norte e do sul, sendo os do norte caracterizados por uma torre elevada sobre o santuário e os do sul com torres elevadas nas entradas cobertas de esculturas (PEREIRA, 2013). Os templos de Shiva possuem o boi Nandi olhando na direção de Shiva e os templos de Vishnu possuem em frente a ave Garuda. Outro tema importante na sociedade hindu é o sistema de castas delineadas desde o nascimento. As castas são definidas desde o nascimento pela lei do karma, ou seja, um indivíduo nasce em uma casta e não tem possibilidade de ascensão ou declínio social, o que vem sendo questionado por instituições públicas na Índia, que vêm tentando abolir ou diminuir o sistema de castas. As castas são dividas em brâmanes (sacerdotes), kshatriya (nobreza, guerreiros), vaishyas (camponeses e artesãos) e shudras (servidores e mulheres) e párias (sem casta, intocáveis, excluídos e abaixo dos shudras). Ao passar do tempo, as doutrinas, os valores e o próprio sistema de castas passam a ser questionados na Índia, dando espaço para a reflexão e surgimento de novas crenças religiosas e filosóficas. É o caso do Budismo, que a partir da iluminação e entendimento espiritual de Siddharta Gautama (Buda), apresenta novas formas de perceber o mundo hindu. 2 BUDISMO Figura 3: Escultura de Buda SHIN’ICHI, Suzuki. 1870. - Wikimedia Commons Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:-Buddha_Sculpture-_MET_DP155601.jpg O budismo é uma religião originária da Índia, fundada em meados do século I a.C. após reformas realizadas após uma crise de valores na cultura hindu. O nome budismo é criado em homenagem ao seu criador Siddhartha Gautama (Buda), que significa “o desperto”, “o iluminado”. Buda é nascido na casta dos kshatriya (nobres) e cria o budismo após renunciar a vida de nobreza e se dedicar a compreender e divulgar os caminhos para o fim do sofrimento humano. Na Índia, cerca de 1% da população é adepta ao budismo, sobretudo no nordeste indiano, local com maior parte de adeptos no país. A religião não conta com adeptos somente em seu país de origem, se espalhando por diversas partes do mundo, sendo uma das religiões tradicionais da China. Longe de ser um bloco https://commons.wikimedia.org/wiki/File:-Buddha_Sculpture-_MET_DP155601.jpg monolítico, existem diversas escolas do budismo, portanto com formas diferentes de ver e praticar os ensinamentos de Buda, entre elas existem 4 principais escolas: Escola Theravada; Escola da Terra Pura; Escola Zen; e Escola Tântrica. Buda não deixou registros sobre sua vida, portanto o que sabemos atualmente é designado pela transmissão oral dos acontecimentos. Desta forma, buda viveu entre os séculos V e IV a.C. Antes de sua morte, Buda realizou diversas viagens realizando sermões e captando seguidores de sua filosofia, como um ser humano sábio e astuto que havia encontrado o caminho para o fim do sofrimento humano. Mas é a pós sua morte que começam a surgir as narrativas sobre Buda ser um ser sobrenatural, omnipontente e omnisciente. Figura 4: Mapa da Rota da Seda. 2012. - Wikimedia Commons Fonte:https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Silk_Road-pt.svg O processo de expansão do budismo para a China se inicia com o caminhar dos monges e comerciantes de origem hindu para dependências de impérios vizinhos. Seguindo a rota comercial da seda, ocorrendo por volta do século I a.C e I d.C.. Ao mesmo tempo que exerciam influência, divulgando caminhos e oportunidades para a quebra do ciclo de reencarnações e para a construção de uma vida de harmonia na terra, entre outras contribuições e trocas, os budistas também iam recebendo influências de outras religiões dos locais em que passavam. A partir da década de 60, através da rota da seda, os budistas chegam à China. Nesta localidade, a cultura passa a exercer e sofrer influências chinesas, iniciando um processo de consolidação de sua doutrina neste território. A partir do estabelecimento da dinastia Han (206 a.C. à 220 d.C.) que se estabelece uma troca comercial e cultural chinesa com os povos ao redor, que se dão as condições socialpara o contado do budismo com a China. Ao longo do primeiro milênio da era cristã, o budismo foi sofrendo alterações e sendo enquadrado às tradições chinesas, um fator preponderante foi o início das traduções dos textos budistas, originalmente em sânscrito, para a língua chinesa. O budismo não conta com um corpo de crenças em deuses ou divindades, mas sim nos ensinamentos de Siddhartha Gautama (Buda). Existem diversas escolas do budismo, podemos elencar elementos presentes em todas elas, o primeiro é seu objetivo principal: chegar ao fim do sofrimento humano. As quatro verdades do budismo são: “A existência implica a dor”, ou seja, o sofrimento humano existe; “O desejo da dor é o desejo e o afeto” o desejo egocêntrico leva a mais sofrimento; “O fim da dor” quando esses desejos são cessados; e por fim, a ultima verdade que está relacionada às “oito regras” propostas por Buda que levarão ao estado de nirvana e ao fim do sofrimento (SILVA, 1996 apud CHARBAJE, 2013). “As Oito Regras de conduta, 1) Compreensão adequada – reconhecer as Quatro Verdades essenciais. – 2) Intenção adequada – manter a paz, a bondade e a compaixão. – 3) Discurso adequado – não mentir nem agredir verbalmente o próximo. – 4) Comportamento correto – agir com propósito de fazer o bem para todos os seres. – 5) Meios de subsistência adequados – viver sem causar sofrimentos aos outros. – 6) Esforço adequado (em relação ao corpo) – abster-se de matar, e sim preservar a vida; não roubar; evitar uma conduta sexual que provoque o sofrimento alheio. – 7) Atenção adequada (em relação à palavra) – abster-se de mentir, e dizer sempre a verdade; não maldizer, mas apaziguar as discórdias; não cometer injuria, e falar com calma e simpatia. – 8) Meditação adequada – não possuir inveja, mas alegrar-se com o bem dos outros; não ser mal- intencionado, e sim realizar seus atos com boa vontade; evitar adotar perspectivas dualistas, buscando reconhecer a unidade na diversidade; são conhecidas como “caminho óctuplo”, o qual orienta a pessoa na prática do Dharma, com consequências sociais, morais e ecológicas” (MAÇANEIRO, 2011 apud CHARBAJE, 2013) Portanto o budismo prega uma série de comportamentos que são favoráveis para alcançar a libertação, o bem-estar de todos os seres vivos e a chegada ao estado de nirvana. Para o budismo, o homem e o meio ambiente são inseparáveis, como é compreendido a partir de algumas das oito regras do budismo. Entre elas estão o comportamento correto: agir com propósito de fazer o bem para todos os seres, implicando uma não hierarquia entre o humano e os demais seres. Podemos citar também possuir meios de subsistência adequados vivendo sem causar sofrimento aos outros e, por fim, esforço adequado em relação ao corpo, abster-se de matar e sim preservar a vida, não matar e evitar uma conduta sexual que cause o sofrimento alheio. Dentro do contexto ambiental atual que a indústria, o consumismo e exploração desenfreada das terras e minerais podem gerar sérias consequências à longo prazo, a visão ambiental do budismo pode servir como alternativa para a construção de uma melhor relação com o meio ambiente. Mesmo que com origens na Índia, o budismo passa a ser uma religião de grande influência na China, constituindo hoje parte do corpo das maiores filosofias e crenças religiosas do país juntamente com o confucionismo e o taoísmo, ambas religiões já existentes no momento em que o budismo entra em contato com a China. 3. CONFUCIONISMO Foto 5: Saudação de Kung Fu Tzu. Estátua de Kung Fu Tzu no Uruguai. AZSUR, 2013. - Wikimedia Commons Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Confucio_saludo.JPG O confucionismo foi criado cerca de 500 a.C. por Kung Fu Tzu, nas línguas latinas traduzido para “Confucio”. Hoje é uma religião e doutrina filosófica de expressão na China, sendo uma das religiões tradicionais do país juntamente com o budismo e o taoísmo. No seu surgimento, foi uma espécie de doutrina estatal do império chinês, constituindo uma série de ideias filosóficas e políticas que faziam parte da burocracia chinesa. O confucionismo se constitui como um conjunto de práticas relacionadas ao comportamento humano e não possui um corpo de divindades. Atualmente, a religião é encontrada também no Japão, Coreia do Sul e Coreia do Norte. Kung Fu Tzu foi um homem estudioso e preocupado com o desenvolvimento da sociedade chinesa. Logo jovem obteve cargos no governo em seu local de nascimento, o principado de Lu. Por mais que não teve vida abastada, recebeu uma educação de qualidade e se interessou por estudar as tradições chinesas, a política e a ética. Começou a divulgar suas ideias com maior expressão quando já completava seus 50 anos de idade. No período da https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Confucio_saludo.JPG dinastia Han (206 a.C. à 220 d.C.), os governantes chineses passam a se inspirar nas ideias de Kung Fu Tzu para a organização do império chinês. O foco da doutrina do confucionismo está no comportamento humano e nas relações humanas, cercado de regras de conduta. Estas regras são aprendidas a partir do estudo do passado e das tradições, que vão ensinar os indivíduos a encontrar o equilíbrio. Portanto as questões metafísicas e religiosas ficam em segundo plano. “As principais linhas do pensamento confucionista podem ser agregadas sob cinco termos-chave: jen, chun tzu, li, te e wen. O termo jen designa o relacionamento ideal que deve existir entre as pessoas, o que é, na visão de Confúcio, a virtude das virtudes. Essa virtude envolve a compreensão de amor ao próximo, integridade pessoal e altruísmo. Chun tzu pode ser traduzido como “Homem Superior” ou “Pessoa Amadurecida”. Chun tzu é exatamente o oposto da pessoa de mente estreita e espírito pequeno. Li tem dois significados: a maneira apropriada de fazer as coisas ou o senso de propriedade (algo como o savoir faire dos franceses); o outro significado do termo é “ritual”. Te designa poder, o poder por meio do qual as pessoas são governadas. Para Confúcio, os três aspectos da governança são a auto-suficiência econômica, a autosuficiência militar e a confiança do povo. O último termo, Wen, refere-se às “artes da paz”, a saber, a música, a poesia, enfim, a soma da cultura na sua forma estética e espiritual” (CORDEIRO, 2009, p. 9). Kung Fu Tzu buscou educar o ser humano a partir do conhecimento, de forma que seu comportamento seja apropriado para o equilíbrio da sociedade e das relações humanas. Em sua filosofia, os governos deveriam se dedicar a garantir a paz e a prosperidade, caso contrário poderia até mesmo ser lançado o uso da força para destituí-los. Suas ideias sustentaram as sociedades antigas na China e atualmente estão presentes como filosofia de vida em grande parte da população e dos governos. No confucionismo existe uma premissa de que a natureza e o universo estão em harmonia e isso deve ser aplicado também aos humanos. Portanto, existem as principais relações humanas que devem estar em harmonia, são elas: senhor e servo; pai e filho; esposo e esposa; irmão mais velho e irmão mais novo; e amigo mais velho e amigo mais novo. Percebe-se que para a filosofia de Kung Fu Tzu existe uma importância preponderante da ancestralidade. É no contexto deste pensamento, que os pais são cultuados e respeitados pelos filhos da mesma forma como se estivessem vivos na vida terrena. Na visão filosófica do confucionismo, para a harmonia da sociedade, é necessário o respeito aos mais velhos e às tradições, principalmente àquelas que são responsáveis por manter a paz e a prosperidade. Em muitos meios de comunicação e trabalhos acadêmicos, lemos sobre confucionismo, taoísmo e budismo como religiões abolidas pelo advento da Revolução Chinesa e consequentemente da República Popular da China. Mesmo que o governo após1949 tenha exercido pressão, inclusive criando legislações proibindo e limitando as religiões tradicionais, estas sobrevivem devido serem parte fundamental da filosofia chinesa. Como vimos anteriormente, as religiões fazem parte do modo que os povos têm de compreender o mundo, portanto o confucionismo hoje faz parte direta ou indiretamente da filosofia chinesa. 4 TAOÍSMO Foto 6: O filósofo chinês Lao-tse. Estátua de bronze colocada nos Jardins Dyffryn na década de 1950. JEANKINS, Hywel. 2007. - Wikimedia Commons https://www.geograph.org.uk/profile/14698 Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:The_Chinese_philosopher_Lao-tse_- _geograph.org.uk_-_453856.jpg O taoísmo é uma religião tradicional da China fundada a partir dos ensinamentos de Lao Tse cerca de 600 anos antes da era cristã. O nome taoísmo vem de Tao, princípio filosófico que literalmente significa “caminho”. Tao significa caminho da realidade última, o princípio do qual todas as coisas nascem e retornam ao morrer. Este princípio está presente também na filosofia confucionista e faz parte da filosofia tradição chinesa. O taoísmo teve expansão na China durante o século VIII e XIII por conta do apoio dos imperadores da época, se tornando a maior religião da China depois do Budismo. Não se sabe ao certo se Lao Tse realmente existiu e a data certa de seu nascimento. Lao Tse é considerado pelos taoistas o criador do taoísmo e venerado como o deus do caminho. Lao Tse significa “o velho mestre”, “o velho amigo”. Atualmente existem cerca de 1600 templos taoistas e 25 mil sacerdotes. A tradição taoísta é baseada em três principais obras: o livro Tao Te Ching – livro do caminho e da virtude; o I Ching – o Livro das Mutações; e o Nan Hua Ching – O Livro da Flor do Sul. O livro Tao Te Ching, que significa “o caminho e seu https://commons.wikimedia.org/wiki/File:The_Chinese_philosopher_Lao-tse_-_geograph.org.uk_-_453856.jpg https://commons.wikimedia.org/wiki/File:The_Chinese_philosopher_Lao-tse_-_geograph.org.uk_-_453856.jpg poder”, sendo que a palavra Te significa poder, é o livro central do taoísmo e contém os ensinamentos de Lao Tse. O taoísmo gira entorno do conceito de Tao, que significa “caminho”, do caminho surge a vida e depois da morte se retorna ao caminho, ao Tao. Os taoistas adoram tudo que é criado pela natureza, não existindo uma divisão hierárquica do homem com a natureza, realizando rituais em honra dos vivos e dos mortos. Entre os deuses do taoísmo estão o Deus da Origem Primitiva, o Deus da Pedra Sagrada e o Deus do Caminho da Energia (Lao Tse), sendo estes administradores da harmonia no universo e controladores de todas as coisas. O taoísmo gira também em torno do conceito wu wei, que literalmente significa “não ação”, mas para os taoistas significa “pura eficácia”, cuja não se desperdiça energia, movimentos em discussões, tensões e desequilíbrios. Os taoistas acreditam que não é necessário se sujeitar às leis da natureza, não precisando compreender tudo que está ao redor. A religião prega que o ser humano deve viver uma vida simples, meditativa, sem vaidades e voltada à natureza. A natureza e o universo são considerados sagrados e o ser humano deve buscar a paz e a harmonia. “Além do Tao, há outros conceitos e valores de grande importância na compreensão taoísta. Em primeiro lugar, os taoístas rejeitam todas as formas de autoafirmação e competição. Outro aspecto importante é a abordagem ecológica presente no taoísmo. Tal abordagem busca sintonizar-se com a natureza ao invés de tentar dominá-la, como normalmente fazem os ocidentais. Para o taoísmo, a natureza deve ser transformada em nossa amiga, e não em algo que precisa ser controlado e conquistado. Esse naturalismo taoísta também se confunde com uma tendência para a naturalidade; assim, extravagâncias e pompas são vistas como tolices.” (CORDEIRO, 2009, p. 7 e 8) As manifestações mais populares do taoísmo encontramos nas artes marciais Kung-Fu e Wo-Shu e no Chin-Kung, uma arte chinesa de autoterapia. Esta filosofia e religião baseia-se na complementariedade e equilíbrio das coisas no universo, que é representada a partir do símbolo Yin e Yiang, também importante para o confucionismo. O taoísmo também está presente no feng-shui, no judô, no Tai-chi-chuan e na acupuntura. CONSIDERAÇÕES FINAIS Como observamos nesta unidade, as principais religiões do oriente são religiões tradicionais e milenares. Para além de religião, aprendemos que elas se misturam com a cultura e o modo de vida das populações adeptas à milhares de anos. No caso do hinduísmo, a religião não pode ser vista como algo separado do modo de compreender o mundo da maioria da população indiana. Conta com uma série de divindades e encarnações dessas divindades, sendo a maior religião do segundo país mais populoso do mundo, o hinduísmo é uma das maiores religiões em quantidade de adeptos no mundo. Da mesma forma, o budismo, o confucionismo e o taoísmo são religiões tradicionais milenares da China e se misturam com sua história e com a percepção de mundo chinesa. Todas estas religiões compartilham de uma relação não hierárquica com a natureza, que é cultuada, preservada e divinizada. Possuem um corpo de divindades ou elementos considerados sagrados, com exceção do confucionismo, que é considerado mais uma filosofia do que religião, por não ter preocupação com as questões metafísicas e estar focado nos temas políticos, sociais e comportamentais. Dentro da tradição do pensamento ocidental, caracterizado por ser fragmentador e individualista, fomos ensinados que as coisas são bem divididas, como o religioso do não religioso, o sagrado e o profano, a natureza e o ser humano, a razão e a emoção e assim por diante. Portanto quando falamos em religião, não estamos falando de algo separado da história, cultura e modo de compreender a vida de determinados povos. Concluímos que cada religião traz uma percepção cultural de mundo. Considerando a exploração desenfreada da natureza provocada pelo capitalismo, cada religião ou percepção de mundo oriental aqui estudada nos trazem alternativas filosóficas sobre a relação entre humano e natureza. Desta forma, é preciso compreender cada contexto histórico e filosófico, o corpo de doutrinas e valores de cada religião para conhecer e entender a diversidade cultural que existe no mundo, buscando em cada uma delas a reflexão e exemplos de soluções para os problemas da atualidade. # SAIBA MAIS # “Toda pessoa tem o direito à liberdade de pensamento consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular.” Fonte: Art. 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos. # REFLITA # CAPÍTULO 30 Aquele que utiliza o Caminho para auxiliar o senhor dos homens Não utiliza a arma e a força, sob o céu Pois esta atividade beneficia o revide Onde o exército se instala, surgem espinhos e ervas secas Por isso O homem bom é determinado, porém cauteloso Não utiliza a força para conquistar É determinado sem se orgulhar É determinado sem se envaidecer É determinado sem se glorificar É determinado sem se tornar excessivo Isto é, determinado, porém sem se esforçar Coisas exuberantes dirigem-se à velhice Isso se chama negar o Caminho Negando o Caminho irá falecer cedo. Fonte: Lao Tse. O Livro do Caminho e da Virtude. Tradução do Mestre Wu Jyn Cherng. Ano não especificado. Disponível em: https://www.livrosgratis.com.br/ler-livro-online-71576/tao-te-ching MATERIAL COMPLEMENTAR Livro Título: “Religiões do oriente: China e Japão” Autor: Gelci André ColliAno: 2019 Editora: Intersaberes Sinopse: O fascínio pelo inexplicável, pelo o que transcende o empírico e o material, faz parte da natureza do ser humano, que é constantemente atraído por esse desconhecido, sempre levado por uma intuição de que há algo mais a se descobrir. Assim, ao longo da história, a religiosidade humana assumiu diferentes expressões, que acompanham o contexto histórico e cultural de cada sociedade. Considerando a extrema relevância desse tema para as relações dos países e das sociedades contemporâneas, nesta obra Gelci André Colli realiza um estudo sobre as principais expressões religiosas da China e do Japão. MATERIAL COMPLEMENTAR Documentário Título: “Três Joias: caminhos do despertar” Ano: 2018 Sinopse: A trilogia aborda a trajetória em desenvolvimento e alegrias de se estabelecer o budismo em terras brasileiras. Possui relatos de grandes praticantes e mestre(a)s do Darma, em suas respectivas escolas. Aborda desde a origem histórica até os desafios contemporâneos de incorporar a tradição milenar de Buda ao cotidiano brasileiro. REFERÊNCIAS AZSUR. Saudação de Kung Fu Tzu: Estátua de Kung Fu Tzu no Uruguai. 2013. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Confucio_saludo.JPG CHARBAJE, Rafaela R. Budismo: movimento religiosos de respeito à natureza. Sinapse Múltipla, v.2, n.1, p. 22-26, 2013. COLLI, Gelci André. Religiões do oriente: China e Japão. Curitiba: InterSaberes, 2019. CORDEIRO, Ana Lúcia Meyer. Taoísmo e Confucionismo: duas faces do caráter chinês. Sacrilegens, v. 6, n. 1, p. 4-11, 2009. E.U.A.. Mapa do Sul da Ásia. Central Intelligence Agency, 1993. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:South_Asia._LOC_94680640.jpg JEANKINS, Hywel. O filósofo chinês Lao-tse: Estátua de bronze colocada nos Jardins Dyffryn na década de 1950. 2007. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:The_Chinese_philosopher_Lao-tse_- _geograph.org.uk_-_453856.jpg KONSEK, Marcin. Estátuas hindus: no centro, o deus Rama com sua esposa Sita. Templo de Sri Krishnan. Cingapura, 2016. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:2016_Singapur,_Rochor,_%C5%9Awi %C4%85tynia_Sri_Krishnan_(21).jpg KORTE, Guilherme. Taoísmo na China. 2009. Disponível em: http://br.china- embassy.org/por/zggk/t150682.htm. Acessado 10/05/2021. MAÇANEIRO, Marcial. Religiões e ecologia cosmovisão, valores, tarefas. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 2011. PEREIRA, Marízia Menezes Dias. Património Religioso da Índia - o Hinduísmo. Universidade de Évora, 2013. REIMER, Ivoni Richter; SOUZA, João Oliveira. O sagrado da vida: subsídios para aulas de teologia. Goiânia: Ed. da UCG, 2009. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Confucio_saludo.JPG https://commons.wikimedia.org/wiki/File:South_Asia._LOC_94680640.jpg https://commons.wikimedia.org/wiki/File:The_Chinese_philosopher_Lao-tse_-_geograph.org.uk_-_453856.jpg https://commons.wikimedia.org/wiki/File:The_Chinese_philosopher_Lao-tse_-_geograph.org.uk_-_453856.jpg https://commons.wikimedia.org/wiki/File:2016_Singapur,_Rochor,_%C5%9Awi%C4%85tynia_Sri_Krishnan_(21).jpg https://commons.wikimedia.org/wiki/File:2016_Singapur,_Rochor,_%C5%9Awi%C4%85tynia_Sri_Krishnan_(21).jpg SHIN’ICHI, Suzuki. Escultura de Buda. 1870. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:-Buddha_Sculpture- _MET_DP155601.jpg SUGAO, Rev. Kentaro. Documentário Três Jóias: caminhos do despertar. Ebisu Filmes, 2018. DVD. WIKIMÉDIA. Mapa da Rota da Seda. 2012. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Silk_Road-pt.svg https://commons.wikimedia.org/wiki/File:-Buddha_Sculpture-_MET_DP155601.jpg https://commons.wikimedia.org/wiki/File:-Buddha_Sculpture-_MET_DP155601.jpg UNIDADE II A COLONIZAÇÃO OCIDENTAL E AS RELIGIÕES AFRICANAS Professora Ma. Laís Azevedo Fialho. Plano de Estudo: • O cristianismo como salvação. • As religiões africanas originárias - Sistema simbólico e ritos. • Mitos e as místicas nas religiões africanas originárias. Objetivos de Aprendizagem: • Apresentar algumas dimensões do processo histórico de colonização ocidental e sua estratégia de maldição das crenças africanas. • Apresentar aspectos dos sistemas religiosos originários de Matriz Africana. • Conhecer a mística e os mitos fundadores das religiões de origem Africana originárias. INTRODUÇÃO Olá estudante da disciplina “Matriz Oriental e Africana”, na unidade a seguir, iremos conversar sobre a colonização ocidental e as religiões africanas. Fico muito feliz em compartilhar com você esse conteúdo que foi produzido pensando unicamente no seu processo de formação. Essa unidade é bastante significativa, espero que ela proporcione ferramentas teórico-metodológicas relevantes para sua atuação como pesquisador(a) e/ou educador(a). Proponho que esse seja um espaço de partilha e aprendizado. Convido você para essa imersão na história da colonização e sua relação com as religiões africanas. É claro que não é possível aqui abordar todos os aspectos da temática, mas escolhemos demonstrar aspectos que consideramos importantes desse processo das coisas que ele contém. Apresentaremos aspectos da investida do cristianismo no continente africano, destacando que esse processo ocorreu de modo heterogêneo em diferentes regiões, com algumas estratégias comuns, às quais sublinhamos. Vamos também estudar aspectos dos sistemas simbólicos originários de origem Africana e a mística presente nas culturas Bantu e Iorubá. Bons estudos! 1 O CRISTIANIMO COMO SALVAÇÃO Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/vector-map- africa-continent-countries-capitals-1168693087 No presente tópico buscamos refletir sobre a construção histórica do cristianismo como salvação alavancada pela colonização ocidental. Mais do que elaborar um panorama da historiografia especializada, sistematizamos abordagens produzidas em diferentes tempos, espaços, e lugares epistêmicos que contribuam para a compreensão da temática. Iremos explorar algumas correntes teóricas passando por pesquisadores conceituados do tema. Conforme Wilson Trajano Filho e Juliana Braz Dias (2018), o colonialismo no continente africano foi mais do que um processo histórico de exploração econômica e de dominação política, foi um sistema sofisticado que pode ser entendido como um modo de percepção do mundo e de enquadramento da vida social. Os regimes coloniais representaram empreendimentos grandiosos direcionados a instaurar uma visão de mundo singular, buscando estratégias de imposição de um conjunto de categorias e valores que classificavam as pessoas e as coisas, construindo hierarquias e fornecendo, assim, as bases sobre as quais se sustentavam as práticas de dominação (FILHO; DIAS, 2018, p. 11) Ou seja, mais do que explorar riquezas materiais e assujeitar fisicamente e territorialmente os povos africanos, houve nesse processo um esforço europeu e cristão de apagar as identidades, as crenças, as divindades, as línguas e as práticas dos povos colonizados. Nas palavras dos autores, “trata-se de um poder que prolifera fora do domínio da política institucionalizada e que acaba sendo internalizado, na forma de convenções e valores” (FILHO; DIA, 2018, p. 12). Achille Mbembe, historiador e cientista político camaronês vai ao encontro da perspectiva destacada acima, mas preocupa-se em destacar os processos de resistência interna ao poder colonial, sempre conferindo historicidade a esse processo. Conforme o autor, os países que estavam em posição de colonizadores durante o processo de colonização foram incapazes de subjugar os povos colonizados e se impor hegemonicamente em território africano. Assim, https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/vector-map-africa-continent-countries-capitals-1168693087https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/vector-map-africa-continent-countries-capitals-1168693087 a ordem era mantida por meio da prática de transformar as crenças pagãs em heresia. Nesse contexto, o paganismo era “entendido como conjunto das práticas e dos saberes religiosos autóctones” (MBEMBE, 2013, p. 140). Como essa dimensão da cultura mantinha-se intrínseca às relações sociais, o campo religioso e simbólico fazem-se muito importantes para a abordagem da história. Mbembe (2013) indica que o fator religioso pode ser um meio de mediar conflitos, legitimar novas formas de poder e autoridade e construir a ordem social. O autor discorre sobre o papel da Igreja ao lado do poder colonial e da conivência dela com o mesmo, além de expor como essa situação auxiliou a perda de credibilidade do cristianismo no continente africano. De acordo com o intelectual, o Ocidente, no papel de colonizador, ordena que o resto do mundo ressignifique os seus saberes, embora não exista forma de começar tudo do zero, subordinando os saberes produzidos e, então, garantindo a sua supremacia. “Com base na repetição dos modelos, saberes e símbolos ocidentais, estes (...) eram tomados abusivamente por ‘universais’” (MBEMBE, 2013, p. 141). O processo de propagação da fé cristã não foi homogêneo em todo continente, nem pacífico, argumenta o autor, mas marcado por uma disputa, em que o catolicismo buscava acabar com as divindades cultuadas anteriormente ao período da colonização, já que a proposta cristã divergia consideravelmente da inteligência africana (MBEMBE, 2013). Desse modo, o processo de evangelização se deu a partir da teologia da maldição, que apresenta o continente africano como terra maldita que precisa buscar a salvação em Jesus. Apesar de o catolicismo ter uma matriz fundamentalmente ocidental, Mbembe (2013) ressalta que em cada região do mundo para o qual ele é deslocado, valores locais são inseridos, tendo a Igreja sido africanizada nesse continente. O continente africano foi intensamente marcado pelo processo de evangelização católica durante a colonização, vários grupos à serviço do Poder papal exerciam esse papel de missionação no território africano. Quatrocentos e setenta anos de labor missionário em solo africano — particularmente ao sul do Sara: de Cabo Verde, da Serra Leoa e do antigo Reino do Kongo às terras do Cabo de Boa Esperança e daí ao Grande Zimbabué, a Moçambique, à Costa Suaíli (até à capital da hodierna Somália), à Eritreia e Etiópia — são assim fruto da presença de diferentes missionários católicos, dos Franciscanos, Agostinhos e Capuchinhos às ordens dos Dominicanos e dos Jesuítas, para mencionar as instituições religiosas mais proeminentes, todas a trabalharem sob a égide da Coroa portuguesa (MADEIRA, 2008, p. 441). Destacamos a citação acima para sublinhar que os Portugueses foram os primeiros a explorar o território africano a fim de ampliar o comércio com as populações locais e, não menos importante, obter as tão-desejadas mercadorias do momento: sal, minerais, metais preciosos especiarias. Desse modo, a Igreja desempenhava um papel necessária à Coroa: Durante quase três séculos, então, muitas, se não quase todas, as presenças e as atividades missionárias na África ao sul do Sara foram sancionadas pela Coroa portuguesa. Duma maneira geral, durante três séculos as Ordens Mendicantes meadamente os Agostinhos, Carmelitas, Dominicanos e Franciscanos — e os missionários jesuítas, não necessariamente nesta ordem, nem ao mesmo tempo, nem no mesmo lugar, atravessaram grande parte da área ocidental do Sara, e daí as regiões ao sul do grande deserto, à procura de indícios sociolinguísticos de uma particular tribo ou de uma determinada etnia para assim melhor perceber a sua complexa cultura e, consequentemente, no momento oportuno, levar-lhes a Boa Nova do Cristianismo, entenda-se, o Catolicismo (MADEIRA, 2008, p. 443). Durante os primeiros anos da colonização portuguesa na costa africana — do hodierno Marrocos à antiga Costa Suaíli (1415-1498) — frades Franciscanos e membros de outras Ordens Mendicantes foram instrumentais no processo de evangelização das populações autóctones, sendo depois substituídos pelos Jesuítas, durante o século XVI. No território africano os Jesuítas fundaram igrejas, escolas e igrejas-missões onde treinavam outros missionários, europeus assim como neófitos filhos da população autóctone. Obviamente o maior investimento era a alvejada conversão do povo indígena. Vamos caminhando para a conclusão desse tópico sublinhando que cada vez mais pesquisadores têm se esforçado em abordar o processo de colonização e cristianização da África com maior rigor, objetividade e fundamentação metodológica, utilizando as próprias fontes africanas originais. No exercício de seu direito à iniciativa histórica, os próprios africanos sentiram profundamente a necessidade de restabelecer em bases sólidas a historicidade de suas sociedades, demonstrando que o continente é heterogêneo e possui muitos processos distintos no que se relaciona à história das religiões e religiosidades. Não seria possível despender nesse pequeno tópico a devida atenção às especificidades desse processo em cada região e temporalidade no continente africano, por isso destacamos alguns aspectos típicos da colonização ocidental no continente africano, pontuando algumas especificidades e apresentando autores que contribuem com uma iniciação à compreensão de como se deu a construção do cristianismo como salvação no continente africano. Para aprofundar o tema indicamos a “Coleção Unesco de História Geral da África”, em especial o volume IV. 2 AS RELIGIÕES AFRICANAS ORIGINÁRIAS - SISTEMA SIMBÓLICO E RITOS Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/girl-holds-lighted- candle-her-hands-1174053094 Conceituar religião é um desafio grande, o esforço, em geral, não dá conta das multiplicidades doutrinárias, das diferentes práticas e múltiplos modos de organização de cada uma delas, assim como dos diferentes modos de experiências dos seus adeptos, considerando a questão da subjetividade e do sentimento em relação à religião. Sendo assim, nossa proposta aqui se limita a abordar as religiões africanas originárias como sistemas de crenças e práticas coerentes para as pessoas que se valem delas e que interagem entre elas e o universo, considerado o seu aspecto material (astros, lugares, natureza, etc.) e imaterial (deuses, seres espirituais, forças da natureza, energia vital, espaços, etc.) por meio do uso de símbolos. O sistema simbólico influencia cada religioso tanto no aspecto de comportamento manifesto quanto de sentimento, no que tange uma trajetória por bem estar individual e vivência coletiva. Como não seria possível abordar todas as religiões presentes no território africano em sua historicidade e espacialidade, fizemos a escolha de apresentar neste tópico algumas dimensões das religiões africanas originárias, privilegiando as culturas negras centro-ocidental, em especial os Bantu de língua kikongo e kimbundo e, os Yorùbá. Aqui o termo “originária” se refere à ideia de religiões autóctones (que nasceu no território onde ainda existe) e de comunidades tradicionais. E porque falar dessas culturas e não de outras? Como já mencionado, não teríamos condições de abordar todas as possibilidades inseridas na temática. Consideramos por bem realizar tal recorte porque esses grupos étnico- linguísticos são os que mais infuenciaram a cultura brasileira, por conta do processo da diáspora e também, pois os Povos Bantu, Yorùbá e seus vizinhos constituem a maioria do contingente populacional da África, ocupando a maior parte do continente. https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/girl-holds-lighted-candle-her-hands-1174053094 https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/girl-holds-lighted-candle-her-hands-1174053094Geograficamente abrange as regiões denominadas de África Ocidental, África Oriental, África Central e África Meridional, que podem ser reunidas sob o título de África Sub-Saariana. Tal região de dimensões continentais apresenta diversas especificidades, em algumas delas há florestas equatoriais, outras savanas, outras desertos, outras grandes rios e lagos, o que influencia as condições de vida, as cultura e as religiões ali presentes. Atividades econômicas, edificações, vestuário, alimentação, artes, técnicas, etc., guardam estreita relação com o meio, no qual cada povo vive (GIROTO, 1999). Figura 1 – África – Étnico. Fonte: PEREIRA, D., SANTOS, D. e CARVALHO, DE. Fronteiras do Mundo. São Paulo, Atual, 1993. O que quer dizer Bantu? Bom, o vocábulo passou a denominar um conjunto de línguas (que variam de 300 a 450, dependendo dos critérios utilizados para a classificação, com origem comum, o proto-BANTU), a partir de 1862, por meio dos estudos de Bleek e Barth. Conforme Giroto (1999), alguns estudos que compararam o idioma bantu moderno, possibilitaram os linguistas a localizarem uma fala proto- Bantu nos planaltos da Nigéria e dos Camarões. A partir dessa demarcação territorial, que alguns grupos passaram a se formar e migrar para a direção leste, sudeste e sul, a cerca de quatro mil anos. Durante esse processo, diversos desenvolvimentos técnicos permitiram melhor adaptação ao meio ambiente e propiciaram uma reorganização das estruturas econômicas e sociais, ocasionando o aparecimento de reinos tais como: Teke, Luba, Lunda, Ndongo, Loango, Matamba, Kongo, Zimbabwe, etc. Figura 2 – A expansão BANTU. Fonte: SILVA, ALBERTO DA C. E. A Enxada e a Lança: a África antes dos portugueses. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, São Paulo, EDUSP, 1992. Quem são os iorubás? Há cerca de 4000 A.C., com a aceleração do ressecamento do Saara, os povos que ali viviam deslocaram-se para o sul, e ao longo dos séculos, tornaram-se populações bastante receptivas à novas técnicas agrícolas. Desse modo, estabeleceram-se, sobretudo, ao redor do lago Chade e entre a curva do Níger e o médio Senegal. O crescimento populacional favoreceu o povoamento das margens do Níger e do Benué, em direção ao ocidente. Conforme Giroto (1999), o desenvolvimento de técnicas no que tange à diversas dimensões das atividades humanas, permitiu o aparecimento, na Nigéria, da civilização mais antiga da região, NOK, cujas esculturas a tornaram mundialmente famosa. Cerca de 500 a.C., essa cultura já conhecia o ferro e a sua fundição. Dando um salto histórico para o século V d.C.,identificamos a intensificação do processo de ocupação da região entre o rio Volta e Camarões. Segundo Giroto (1999), a utilização do ferro em praticamente toda zona florestal propiciou considerável aumento da densidade populacional. Pequenos vilarejos se desenvolvem a partir de então, dando origem a “miniestados” que, com o passar dos séculos e por meio de de expansão militar e sistemas de alianças, produziram reinos e impérios de considerável importância, tais como: dos Yorùbá, Mandenka, Songhai, Mossi, Kanem-Bornu, Hausa, Akan, Benin, etc. Figura 3 – África Ocidental – Os principais Estados dos séc. XII ao XVI. Fonte: Folha de São Paulo. Atlas da História do Mundo. De acordo com Altuna (1985), a religião dos bantos tem como estrutura a crença em uma pirâmide vital, dividida entre o mundo invisível e o mundo visível. Em uma ordem hierárquica de importância, no primeiro grupo encontravam-se a divindade suprema, os arquipatriarcas, os espíritos da natureza, os ancestrais e os antepassados. No segundo grupo estavam situados os reis, os chefes de reino, tribo, clã ou família, os especialistas da magia, os anciãos, a comunidade, o ser humano, os animais, os vegetais, os minerais, os fenômenos naturais e os astros. Para os Bantu, o Pré-Existente criou o universo (material e imaterial) com tudo que nele existe, inclusive os seres animados e inanimados. Já os Yorùbá explicam que o Pré-Existente decidiu criar o mundo material, delegando a missão à Obàtálà (também chamado Òrìsànlá, Òsàlá, etc.), entregando o àpò-iwà (bolsa da existência) e instruindo-o sobre como realizar a tarefa com a ajuda dos òrìsàs. No tópico sobre os mitos traremos mais detalhes dessa narrativa, mas importa dizer que a criação do mundo também partiria do desejo do Pré-Existente, como também admitia a cultura bantu (GIROTO, 1999). Essa força Pré-existente tem um lugar especial na cosmologia negro- africana, não possui um culto organizado ou representação, já que não seria comparável a nada. Não pertence a nenhuma categoria de existentes; segundo a concepção ontológica da cultura Bantu: não é muntu (homem), kintu (coisa), hantu (localizador) ou kuntu (modo de ser), não tem origem mas é a origem de tudo, por isso é o Pré- Existente. Nzambi Mpungu, palavra derivada de Mahûngu significa “Ser completo em Si Mesmo (GIROTO, 1999)”. Ao se referir a Ele, a postura é é de profundo respeito, contudo se sobressaem os culto aos seres intermediários nas culturas negro-africanas. É importante ressaltar essa característica da intermediação. Esta perspectiva do Pré-Existente fez com que não fosse difundida na cultura Bantu mitos da criação do universo; é coisa de Nzambi, não se discute. De acordo com os grupos etno- linguísticos Bantu, o Pré-Existente é referido como: “Nzambi, com estas variantes: Nyambe, Njambi, Nzambe, Nzame, Nzama, Njambe, Nsambi, Tshambe, Inambie, Inandzambi, Nhambe e outros”. “Em kikongo chamam-No ‘Nzambi-Mpungu’, o grande, o forte...”. Para os Yorùbá, José Beniste (1997, p.49) relaciona: Olórun - É composto do prefixo Ol (oní), indicando posse ou comando e Òrun, céu, firmamento. Olódùmarè - A expressão Olódùmarè pode ser interpretada como a Divindade que possui qualidades superiores, perfeitas, imutáveis, permanentes, dignas de confiança. Detentor do poder único que não pode ter similar. Elédá - Senhor da Criação. Aláyè - Senhor da Vida. Elémí - o que dá o poder da respiração e a tira quando julgar necessário. Olójó Òní - Senhor do dia de Hoje. Outro aspecto marcante em ambas religiosidades destacadas é o não conformismo com o ato de morrer. Esse fator é compreensível se atentarmos que para as sociedades Bantus e Yorubás a vida é o bem mais precioso, o maior dom recebido do Pré-Existente pelos antepassados que a transmitiram. É o fluxo incessante de energia que solidariza a pessoa com a comunidade e o universo; com os que antecederam e com os que hão de vir. Para os Bantu a morte não é um espírito ou uma força autônoma, mas um acontecimento que tem uma causa específica, sempre buscada. Já, na sociedade Yorùbá, segundo Elbein dos Santos: “Iku é uma entidade dotada de significado próprio e específico, tem seu ìhùwasé, isto é existência e natureza próprias”. Assim, morte em si mesma não gera medo ou raiva, já que é a passagem para outra existência em outra dimensão, uma mudança de status, mas uma continuidade, junto dos antepassados, solidários com os vivos, uma vez que os laços vitais não sofrem ruptura. Toda diferença está na maneira como se viveu, o que foi realizado, o que se fez pois, é como o indivíduo será lembrado. Não há ajuste de contas: prêmios e castigos inexistem. Nessas sociedades, a energia vital é o que sustenta a união entre os seres humanos, seus ancestrais, fundadores dos seus clãs, ao Pré-Existente, aos seus descendentes e o que crê e vive na comunidade da qual ele faz parte em uma mesma realidade integrada. Assim, mundo material e imaterial são interdependentes: o círculo da vida envolve mundo visível e invisível, como dois lados de uma mesma moeda. A unidade da vida se manifesta em ambos os lados, numa comunhão total. A morte é apenas uma mudança para um outro estágio da vida. Desse modo, os ritos fúnebres são considerados ritos de passagem(GIROTO, 1999). Tendo em vista a crença em forças vitais e na interação de todos os seres, nesta cultura, admite-se que tais forças que podem ser potencializadas ou diminuídas, é esse o ponto focal dos ritos das religiões africanas originárias que destacamos. Nessa visão, o mundo é concebido como energia e não como matéria, de modo que a noção de força toma o lugar e se confunde com a noção de ser. Todo ser é por definição força, e não uma entidade estática, e por isso a pessoa humana tem caráter dinâmico. Em outras palavras, o ser não existe em um primeiro momento para depois ser revestido de força, ou para em algum momento possuir força. O ser é força em sua constituição. Mas a energia vital não se limita aos vivos. Sua fonte é um deus supremo e único que distribuiu essa força aos ancestrais e aos antepassados no mundo espiritual e, em seguida, no mundo dos vivos, respectivamente aos reis, chefes de aldeias, de linhagens, anciãos, pais, filhos, ao mundo animal, aos vegetais e aos minerais. Esses mundos encontram-se inteiramente interligados, de modo que, como numa teia de aranha, não se pode vibrar um único fio sem gerar movimento em todos os outros. A força vital pode aumentar ou diminuir por meio da lei da interação das forças, de modo que um ser pode fortalecer ou enfraquecer outro ser. As próprias instituições sociais e políticas estão ancoradas nessa noção (DAIBERT, .2015) Nesse sentido, é por meio dos ritos que se torna possível aumentar ou diminuir a energia de alguém, o que gera uma mudança na maneira de ser. 3 MITOS E AS MÍTICAS NAS RELIGIÕES AFRICANAS ORIGINÁRIAS Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/girl-holds-lighted- candle-her-hands-1174053094 O que seria um mito? Mito para alguns historiadores das religiões como Mircea Eliade é uma história verdadeira que narra os feitos dos deuses em um tempo sagrado, chamado também de primordial ou originário. É uma narrativa que demonstra como as coisas chegaram a ser o que são. Explica uma visão de mundo e o universo com o que nele contém. É uma história carregada de verdades e valores, expressa uma dinâmica vital da sociedade que o produz. Demonstra também as características das divindades, seus gostos e interditos. Assim, os ritos teriam a função de reviver e reatualizar os mitos. Exposto isto, começamos por apresentar narrativas mitológicas que historicamente foram produzidos e difundidos pelos grupos Bantus, e em seguida pelos iorubás. Alguns mitos bantu dizem que depois de Deus ter criado a terra e tudo que nela contém, inclusive o ser humano [...] [...] ele se retirou e foi para bem longe, se afastando assim do gênero humano. Tomamos como exemplo um mito pertencente aos povos bantu do Ruanda: Antigamente, nos tempos mais remotos, Deus habitava no meio dos homens e conversava com eles. Mas tinha-lhes proibido, sob pena de originar desgraças, jamais tentar vê-lo. Uma rapariga ocupava-se em depositar, todas as tardes, água e lenha para o aquecimento à entrada da grande cubata onde Deus habitava, ao abrigo dos olhares indiscretos. Certa tarde, quando levava a cabaça cheia de água do manancial, a filha de Deus sucumbiu ao desejo que nela ardia: resolveu espiar o seu Pai divino e vê-lo. Acocorou-se atrás do recinto esperando ver ao menos a mão de seu Pai. Em seguida, Deus veio pegar na cabaça e estendeu a sua mão ricamente adornada com anéis de latão. Ela viu este braço sumptuosamente adornado. Como batia o seu coração à vista de tanto esplendor! Mas Deus soube da desobediência da sua filinha. Na tarde seguinte ordenou que os homens entrassem nas suas cubatas e deu-lhes amargas reprimendas. Para castigar, decidiu retira-se para sempre; daí em diante, teriam de viver sem Ele. Deus desapareceu para além do lago [...] Com Deus desapareceram também a felicidade e a paz. Os frutos, a caça e todos os alimentos, que antes se ofereciam espontaneamente, tudo escasseou. Mais ainda, apareceu a morte juntamente com outras misérias (DE MEESTER apud ALTUNA, 2014, p. 405, 407). De acordo com essa mítica bantu, o fato da proximidade de Deus trazer vida e abundância e o distanciamento do mesmo resultar em agonia e morte, https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/girl-holds-lighted-candle-her-hands-1174053094 https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/girl-holds-lighted-candle-her-hands-1174053094 Deus é somente Deus enquanto mistério oculto à curiosidade humana. A resposta que o sistema religioso bantu dá para esse paradigma é a valorização do papel de mediador dos antepassados, aqueles que receberam vida de Deus, e a transmitiram para a humanidade. “São eles responsáveis por ligarem à humanidade novamente com Deus, superando-se assim o distanciamento existente” (ESTENDAR; RENDERS, 2019). Passando a mística iorubana destacamos a importância dos orixás e como seus mitos fundamentam as práticas religiosas dos adeptos. Reginaldo Prandi é o pesquisador brasileiro que tem a obra mais reconhecida sobre mitologia iorubá traduzida para o português. A obra intitulada “Mitologia dos orixás” contém uma seleção de 301 mitos narrados em sua mais antiga versão encontrada. O autor fornece no prólogo do livro fornece panorama bibliográfico dos trabalhos mais relevantes que trazem transcrições de mitos iorubanos. Parte das primeiras referências em África, encontradas em escritos de missionários (Baudin) e militares (Ellis) do século XIX, contemplando ainda os escritos mais importantes dos vários estudiosos que pesquisaram entre os iorubás (Frobenius, Bascom, Verger, Beier, Abimbola) e na diáspora. O autor chama relembra aqueles autores, tanto acadêmicos como adeptos do candomblé, que, em terras brasileiras, se empenharam em documentar e compilar mitos dos orixás (Nina Rodrigues, Artur Ramos, Roger Bastide, René Ribeiro, Pierre Fatumbi Verger, Agenor Miranda Rocha, Mestre Didi, Júlio Braga, Juana Elbein dos Santos, Monique Augras, Rita Laura Segato, Mãe Stella, Rita de Cássia Amaral, entre outros). Conforme o autor existe uma dinâmica particular entre o mundo dos orixás e dos seres humanos. “Os orixás alegram-se e sofrem, vencem e perdem, conquistam e são conquistados, amam e odeiam. Os humanos são apenas cópias esmaecidas dos orixás dos quais descendem” (PRANDI, 2003, p. 29). Ou seja existe uma espécie de relação recíproca entre o “orum”, o mundo imaterial onde vivem os orixás e o “aiê”, mundo material onde vivem os seres humanos, uma vez que, em última instância, a força dos orixás se constrói a partir dos cultos e ritos promovidos pelos humanos. É por isto inclusive que as histórias que revelam e comentam as guerras, brigas, paixões, amores, espertezas, conquistas e derrotas dos orixás assumem um papel de suma importância na cosmovisão iorubana. Assim, na concepção iorubana tradicional do mundo, as histórias míticas oferecem uma orientação importantíssima, uma espécie de referência última para a vida terrestre. É por meio delas que os sacerdotes buscam avaliar o mundo da concretude. Os mitos servem para interpretar a realidade: eles afirmam e reafirmam as verdades iorubanas e dão dicas de como deve se comportar para ter sucesso. A cosmologia iorubana expressa nos mitos apresenta-se tanto como princípio quanto como meio e como fim: está na origem do mundo e é instrumento tanto para interagir com o mundo como para mantê- lo tal como descrito nos mitos. Ao afirmar que “para os iorubás antigos, nada é novidade, tudo o que acontece já teria acontecido antes” (PRANDI, 2003, p. 18), o autor enfatiza esta força ontológica intrínseca à concepção mítica dos iorubás. Não sendo possível abordar tais mitologias e cosmologias de modo homogêneo optamos por destacar alguns aspectos e apresentar algumas informações que podem contribuir com sua formação sobre a temática apontando suas possibilidadesde abordagens para um possível futuro aprofundamento. O que gostaríamos de destacar é que em nossa perspectiva existe um grande diferencial ontológico entre essas religiões africanas originárias das religiões ocidentais, não estão apartadas, para essas primeiras de todas as circunstâncias da vida. A religião não está confinadas em um lugar separado. Desse modo, todo acontecimento na vida de um indivíduo ou de uma sociedade se interpreta como o resultado de uma causa divina. A religião é adquirida ao nascer como um direito de primogenitura; não há conversão no sentido que se dá a este termo no Ocidente por mais que existam cerimônias que marquem etapas da vida e que se vinculem ao papel que a religião confere ao indivíduo na sociedade (MURRAY, 2007, p. 31). Algumas abordagens indicam inclusive que “os africanos não têm religião, eles são religiosos. A religião é algo que interfere no modo de sentir, de viver e de agir do africano” (DE OLIVEIRA, 2006, p. 46). Essa profunda integração homem-cosmo se estende à dimensão transcendental e faz dela um todo indissociável com a realidade imanente. Tudo está conjugado em tudo. Nestas culturas, por trás de cada prática religiosa, compreendida por diferentes vertentes teóricas como práticas mágicas ou espiritualistas, se encontra a interacionalidade de todas as coisas. É porque tudo se une a tudo, aquém e além, que os procedimentos de articulação matéria-espírito se justificam. SAIBA MAIS O Deserto do Saara foi um fator geográfico altamente condicionador no continente africano, isolando o Norte da maior parte do referido continente até aos finais do primeiro milénio depois de Cristo, quando a economia em expansão e o islamismo penetraram o deserto, ultrapassando-o, a fim de extrair ouro e capturar escravos, produtos que faziam parte do mecanismo e intercâmbio comerciais autóctones da África Ocidental, e criar ligações por mar com a África Central e Oriental. Do Século I ao século IV D.C., no Norte e Nordeste de África, assiste-se à presença da vanguarda intelectual do Cristianismo, que veio a sucumbir com o aparecimento do Islamismo e do seu ímpeto a partir do século VII. Assim, no Egito, na Núbia, no Sudão e na Etiópia o Cristianismo foi convictamente adaptado pelos povos africanos dessas regiões às suas próprias culturas e assumiu prestígio relevante nessa época. Documentos históricos, nomeadamente arquitetónicos e monumentais, dão conhecimento dessa mesma realidade. De facto, muito mais tarde, o Norte e Nordeste africanos foram incapazes de resistir ao avanço do Islamismo a partir do século VII, o qual estendeu o seu poder a toda a região, em parte devido à fraqueza militar e à instabilidade política do Império Bizantino. A única região que conseguiu fazer frente ao avanço do Islão foi o reino de Axum, que, posteriormente, desembocou no aparecimento do reino da Etiópia, em parte devido ao seu isolamento, às características geográficas e climáticas da zona em que se encontrava inserido e, ainda, porque esta região se encontrava relativamente afastada do centro dos poderes decisórios islamitas. Desta forma, bem se compreende porque toda a história da Etiópia está ligada à evolução do Cristianismo no Norte e Nordeste de África, ao isolamento das influências externas e, ainda, se relaciona com a nefasta problemática das quezílias político-religiosas do império romano (Monofisismo, Nestorianismo e Pró-Calcedónios), cuja sede na altura era Constantinopla. A maior parte do território do reino da Etiópia estava inserida em área cuja altitude é superior a 1000 metros e este fator geográfico teve também um papel preponderante em todo o desenrolar da sua história, muito particular, mas ainda sujeita a muitas investidas por parte dos povos que rodeavam o seu território, os quais eram aderentes – e ainda o são – do credo muçulmano. Fonte: BRANCO, Alberto Manuel Vara (2015). Do Reino de Axum ao Reino da Etiópia (Século I D.C. ao século XVII): A Força e o Isolamento do Cristianismo na África do Norte e Nordeste. Millenium, 48 (jan/jun). Pp. 63-74. #SAIBA MAIS# REFLITA Macumba é uma palavra de origem Bantu (quimb makumba) que se referia apenas a um instrumento musical muito parecido com o que popularmente é conhecido como reco reco. Hoje o termo, muito utilizado pejorativamente por preconceituosos que operam o racismo contra os adeptos de religiões Afro- brasileiras, vem sendo utilizado, também, para designar cultos de Matriz Bantu no Brasil. Não faz pensar o quanto temos que avançar no diálogo que preza por diversidade cultural o fato de o país com mais negros fora da África e com alta contribuição cultural de Matriz Bantu e Iorubá subverter a própria linguagem africana para reproduzir noções errôneas e pré-concebidos sobre cultos Africanos e Afro diaspóricos? O historiador Luiz Antonio Simas diz o seguinte sobre o assunto: “Macumbeiro: definição de caráter brincante e político que subverte sentidos preconceituosos atribuídos de todos os lados ao termo repudiado e admite as impurezas, contradições e rasuras como fundantes de uma maneira encantada de encarar e ler o mundo no alargamento das gramáticas. O macumbeiro reconhece a plenitude da beleza, da sofisticação e da alteridade entre as gentes.” Luiz Antonio Simas é um historiador que se dedica sobretudo às culturas populares do Brasil. É autor de, entre outros livros, O corpo encantado das ruas (Civilização Brasileira, 2019), Dicionário de história social do samba (José Olympio, 2015), com Nei Lopes, e Fogo no mato: a ciência encantada das macumbas, com Luiz Rufino (Mórula, 2018). Fonte: REVISTA SERROTE, 2020. https://www.revistaserrote.com.br/2020/02/macumba-por-luiz-antonio- simas/#:~:text=%E2%80%9CMacumbeiro%3A%20defini%C3%A7%C3%A3o% 20de%20car%C3%A1ter%20brincante,mundo%20no%20alargamento%20das %20gram%C3%A1ticas. #REFLITA# https://www.revistaserrote.com.br/2020/02/macumba-por-luiz-antonio-simas/#:~:text=%E2%80%9CMacumbeiro%3A%20defini%C3%A7%C3%A3o%20de%20car%C3%A1ter%20brincante,mundo%20no%20alargamento%20das%20gram%C3%A1ticas https://www.revistaserrote.com.br/2020/02/macumba-por-luiz-antonio-simas/#:~:text=%E2%80%9CMacumbeiro%3A%20defini%C3%A7%C3%A3o%20de%20car%C3%A1ter%20brincante,mundo%20no%20alargamento%20das%20gram%C3%A1ticas https://www.revistaserrote.com.br/2020/02/macumba-por-luiz-antonio-simas/#:~:text=%E2%80%9CMacumbeiro%3A%20defini%C3%A7%C3%A3o%20de%20car%C3%A1ter%20brincante,mundo%20no%20alargamento%20das%20gram%C3%A1ticas https://www.revistaserrote.com.br/2020/02/macumba-por-luiz-antonio-simas/#:~:text=%E2%80%9CMacumbeiro%3A%20defini%C3%A7%C3%A3o%20de%20car%C3%A1ter%20brincante,mundo%20no%20alargamento%20das%20gram%C3%A1ticas CONSIDERAÇÕES FINAIS Na Unidade II, Religiões Africanas, procuramos discutir sobre as religiosidades Bantu e Iorubá, ambas de matriz africana. Para tanto, no tópico I, “O cristianismo como salvação” foi apresentada uma discussão sobre o processo de colonização e cristianização em território africano. Não sendo possível pensar esse processo de modo homogêneo, destacamos alguns aspectos desse processo histórico. Contudo, demonstramos que se há uma regularidade no modo como isso ocorreu, é o esforço europeu e cristão de apagar as identidades, as crenças, as divindades, as línguas e as práticas dos povos colonizados. No tópico II, “Religiões africanas originárias - sistema simbólico e rito” procuramos apresentar contextos que nos possibilitem pensar o processo de construção e expansão da cultura bantu e iorubá, demonstrando em seguida aspectos relacionados às suas crenças e práticas religiosas. Por fim, refletimos no tópico III “Mitos e as Míticas nas religiões africanas originárias” sobre a concepção iorubana e bantu tradicional do mundo e sobre como as histórias míticas oferecem uma orientação importantíssima para os seus adeptos. Destacamos que nas religiõesafricanas originárias, diferentemente das religiões ocidentais, a dimensão religiosa não está apartada de todas as circunstâncias da vida. Assinalamos que essa profunda integração homem-cosmo se estende à dimensão transcendental e faz dela um todo indissociável com a realidade imanente. Assim concluímos indicando que estas culturas, por trás de cada prática religiosa, se encontra a interacionalidade de todas as coisas. Esperamos ter contribuído com a sua iniciação ao tema. LEITURA COMPLEMENTAR A Globalização já é uma realidade e devemos nos preparar para outros avanços da humanidade. Avanços estes sempre defendidos por José Beniste, em se tratando da cultura afro-brasileira. Em Orun Aiye, Beniste dá uma amostra do que verdadeiramente o sistema nago-yoruba, onde o leitor entenderá de forma correta acentos yorubas, vogais, substantivos, cânticos e rezas. BENISTE, José. Òrum – Ayê. O encontro de dois mundos. O Sistema de Relacionamento Nagô-Yorubá entre o céu e a Terra. Rio de Janeiro, Bertrand- Brasil, 1997. FILME/VÍDEO Título: HOTEL RWANDA Diretor: Terry George Sinopse: Durante os conflitos políticos entre hutus e tutsis que mataram quase um milhão de ruandenses em 1994, Paul Rusesabagina, gerente do Hotel des Milles Collines, na capital do país, toma a decisão corajosa de abrigar sozinho mais de 1.200 refugiados. LIVRO https://www.google.com/search?q=sinopse+santo+forte&sxsrf=ALeKk00y00meM3YrOU-1dbEYE1sM3cE3ow:1606019464834&tbm=isch&source=iu&ictx=1&fir=ejvngSOft8kI7M%252CsZ60SEWjAFRBIM%252C%252Fm%252F0gsyk08&vet=1&usg=AI4_-kQN7vsKj40Ygmbvj7NdoP_VHzmfyw&sa=X&ved=2ahUKEwiatdDdqJXtAhW2HbkGHWFdC3YQ_B16BAgLEAM#imgrc=ejvngSOft8kI7M https://www.google.com/search?q=sinopse+santo+forte&sxsrf=ALeKk00y00meM3YrOU-1dbEYE1sM3cE3ow:1606019464834&tbm=isch&source=iu&ictx=1&fir=ejvngSOft8kI7M%252CsZ60SEWjAFRBIM%252C%252Fm%252F0gsyk08&vet=1&usg=AI4_-kQN7vsKj40Ygmbvj7NdoP_VHzmfyw&sa=X&ved=2ahUKEwiatdDdqJXtAhW2HbkGHWFdC3YQ_B16BAgLEAM#imgrc=ejvngSOft8kI7M Título: Mitologia dos orixás Autor: Reginaldo Prandi Sinopse: Mitologia dos orixás, do sociólogo Reginaldo Prandi, é a mais completa coleção de mitos da religião dos orixás já reunida em todo o mundo. São 301 relatos mitológicos, histórias que contam, por meio de imagens concretas e não de idéias abstratas, como são, o que fazem, o que querem e o que prometem os deuses desse riquíssimo panteão africano que sobreviveu e prosperou em países da América - em particular no Brasil e em Cuba - e que nos últimos anos tem sido exportado para a Europa. Na sociedade tradicional dos iorubás, é pelo mito que se alcança o passado, se interpreta o presente e se prediz o futuro. Cada mito, portanto, é uma surpresa sempre renovada, um segredo revelado que jamais se deixa desvendar completamente. Ao narrar episódios em que se envolveram deuses como Exu, Ogum, Iemanjá e Iansã, Mitologia dos orixás chama a nossa atenção para sentidos vitais profundos e nos aproxima do vasto patrimônio cultural dos negros iorubás ou nagôs. O livro é ricamente ilustrado, com fotos coloridas de todos os orixás que se manifestam em cerimônias do candomblé no Brasil e ilustrações do artista plástico Pedro Rafael. REFERÊNCIAS ALTUNA, Raul Ruiz de Asús. A cultura tradicional banto. Luanda: Secretaria do Arquidiocesano de Pastoral, 1985. BRANCO, Alberto Manuel Vara (2015). Do Reino de Axum ao Reino da Etiópia (Século I D.C. ao século XVII): A Força e o Isolamento do Cristianismo na África do Norte e Nordeste. Millenium, 48 (jan/jun). Pp. 63-74. BENISTE, J. Òrun, àiyé: o encontro de dois mundos: o sistema de relacionamento nagô-Yorùbá entre o céu e a terra. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1997. DAIBERT, Robert. A religião dos bantos: novas leituras sobre o calundu no Brasil colonial. Estud. hist. (Rio J.) 28 (55) • Jan-Jun 2015. DE OLIVEIRA, Irene Dias. Tradição africana: espaço crítico e libertador. In: SILVA, Marilena da, e GOMES, Uene José (Orgs.). África, afrodescendência e educação. Goiânia: Ed. da UCG, 2006. p. 45-58. ESTENDAR, Júlio Macuva; RENDERS, Helmut. O NÃO-ROSTO DOS ANTEPASSADOS REVELADO NAS MÁSCARAS RITUALÍSTICAS BANTU: UM OLHAR SOBRE SUA CULTURA VISUAL. Revista Caminhos - Revista de Ciências da Religião, Goiânia, v. 17, p. 259-277, mar. 2019. FILHO, W. T., & DIAS, J. B. O colonialismo em África e seus legados: classificação e poder no ordenamento da vida social. Anuário Antropológico, 40(2), 9–22, 2018. MADEIRA, José Manuel Rosa. A missionação em África nos séculos XVI-XVII: análise de uma atitude. Revista Lusófona de Ciência das Religiões – ANO VII, 2008 / n. 13/14 – 439-462. MBEMBE, Achille. África Insubmissa: Cristianismo, poder e Estado na sociedade pós-colonial. Mangualde; Ramada: Edições Pedago; Luanda: Edições Mulemba, 2013. MURRAY, Jocelyn. África: o despertar de um continente. Tradução de Miguel Gil, Francisco Manhães, Alexandre Martins, Carlos Nougué, Michel Teixeira, Maria Cristina zambotto. Barcelona: Folio, 2007. PEREIRA, D., SANTOS, D. e CARVALHO, M DE. Fronteiras do Mundo. São Paulo, Atual, 1993. PRANDI, Reginaldo, Mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2003 SILVA, ALBERTO DA C. E. A Enxada e a Lança: a África antes dos portugueses. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, São Paulo, EDUSP, 1992. UNIDADE III CRENÇAS E DOGMAS Professor Mestre Herculanum Ghirello Pires; Professora Mestra Laís Azevedo Fialho. Plano de Estudo: • Os preceitos das religiões orientais. • Os preceitos das religiões Africanas. • O Sagrado e o Profano. • Dogmatismo religioso. Objetivos de Aprendizagem: • Conceituar e contextualizar as crenças e religiões orientais; • Compreender os tipos de crenças e religiões orientais; • Estabelecer a importância das crenças e religiões orientais para a história. INTRODUÇÃO Olá, caro (a) aluno (a). Nesta unidade você verá sobre crenças e dogmas dentro do panorama das religiões e religiosidades. Estudaremos a importância das crenças das religiões orientais e de matriz africanas para o ser humano quando para o Brasil. Estudar as religiões orientais e africanas é fundamental para o respeito e percepção da identidade religiosa de ambas e até sobre nós. Às vezes, podemos pensar, caro (a) aluno (a) que essas crenças, dogmas e religiões estão muito longe da gente. Mas, o Brasil, por exemplo, é de extrema importância discutir esse assunto. Uma vez que africanos foram trazidos para cá e que ondas de migrações de pessoas vindas do oriente ocorreram nos últimos anos. Foz do Iguaçu abriga a maior comunidade muçulmano do Brasil. Salvador é a cidade mais africana do mundo, fora da África. Sem falar no sincretismo religioso que as religiões cristãs promoveram nas crenças africanas. Portanto, caro (a) aluno (a), esses estudos fazem parte de nós, da nossa vida, e do nosso cotidiano. Bons estudos! 1. OS PRECEITOS DAS RELIGIÕES ORIENTAIS Grande Buda, Japão – Kamakura. Disponível em: www.shutterstock.com/ 1. 2. Hinduísmo Praticado há mais tempo que o cristianismo, estima-se que o hinduísmo tenha sido difundido por volta de 1500 a. C. Datar o momento certo do nascimento do hinduísmo é difícil, mas “a quantidade de escrituras, pinturas, e esculturas antigas indicam que a origem dessa mitologia pode ser datada desde 1500 a.C, momento em que a antiga civilização do Vale do Indo entra em declínio” (LIMA; et al, 2016, p. 5). Foi com a compilação em sânscrito (língua sagrada para os hindus) dos Vedas que sua propagação. Entende-se os Vedas como textos sagrados, possuindo 4 livros principais: o Rig Veda, Sama Veda, Yajur Veda e Atharva Veda. As características de sua mitologia e crenças são intrínsecas à população, dando o contorno, de
Compartilhar