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Lagoa da Prata-MG 2021 FILIPE OLIVEIRA MASCARENHAS SANTOS CIÊNCIAS ECONÔMICAS O ESTADO EMPREENDEDOR Lagoa da Prata-MG 2022 O ESTADO EMPREENDEDOR Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do título em Ciências Econômicas pela Universidade do Norte do Paraná Orientador: Prof. Alexandre Salvador Werri FILIPE OLIVEIRA MASCARENHAS SANTOS Dedico este trabalho a Deus, pela minha vida, e por me ajudar a ultrapassar todos os obstáculos encontrados ao longo do curso. AGRADECIMENTOS A Deus pela minha vida, e por me ajudar a ultrapassar todos os obstáculos encontrados ao longo do curso. A minha família, que me incentivaram nos momentos mais difíceis e compreenderam a minha ausência enquanto eu me dedicava à realização deste trabalho. Aos professores, Alexandre Salvador Werri, André Roncaglia, Elias Khalil Jabbour, Paulo Gala e Uallace Moreira pelas correções e ensinamentos que me permitiram apresentar um melhor desempenho no meu processo de formação profissional. "Se não se preocupa com justiça social, com quem paga conta, você não é um economista sério. É um tecnocrata!" - Maria da Conceição Tavares (1995) OLIVEIRA MASCARENHAS SANTOS, Filipe. O Estado Empreendedor. 2022. Número total de folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Econômicas) – (Universidade do Norte do Paraná), Lagoa da Prata-MG, 2022. RESUMO Ao realizarmos um passeio pelos últimos 30 anos do Brasil e do mundo, conseguiremos entender o quanto atualizado estavam os conceitos e ideias da antiga CEPAL para tentar entender o motivo do Brasil não conseguir crescer frente aos desafios do século XXI. Atualmente temos uma visão atualizada sobre a globalização, que para grande parte da nossa imprensa e público em geral é tida como uma vitória do mercado. Não há como compreender a trajetória da nossa economia brasileira nas últimas décadas sem mencionar as visões econômicas que entre erros e acertos nos fizeram chegar ao momento em que nos encontramos atualmente. Várias camadas diretoras foram formadas nos últimos anos e sempre tiveram a intervenção do Estado como justificativa para o fraco crescimento econômico, esse quando tinha. Desde muito cedo eu nunca consegui entender ao certo o motivo de um país com tantas potencialidades como é o caso do Brasil, não consegue brigar ou pleitear melhores resultados econômicos como os seus pares. Países como a china que até meados da década de 1990 tinha um terço do produto interno brasileiro (PIB). Hoje em dia, só não passou o Brasil, como tem estudos que apontam o país asiático como a maior potência mundial em muito pouco tempo, passando inclusive os EUA, algo inimaginável alguns anos atrás. Pensando em humildemente ajudar o meu país de alguma forma, mesmo que seja através desse projeto de conclusão de curso, vou tentar embasar e defender uma política econômica heterodoxa, como uma forma planejada de crescimento e distribuição de renda sustentável ao Brasil. Palavras-chave: Economia, Heterodoxia, Crescimento, Desenvolvimento, Brasil OLIVEIRA MASCARENHAS SANTOS, Filipe. The Enterprising State: 2022. 22 páginas ao total. Trabalho de Conclusão de Ciências Econômicas – Universidade do Norte do Paraná, Lagoa da Prata-MG, 2022. ABSTRACT By taking a tour of the last 30 years of Brazil and the world, we will be able to understand how up-to-date the concepts and ideas of the former ECLAC were in trying to understand why Brazil is not able to grow in the face of the challenges of the 21st century. We currently have an updated view on globalization, which for most of our press and the general public is seen as a market victory. It is impossible to understand the trajectory of our Brazilian economy in recent decades without mentioning the economic visions that, between mistakes and successes, have brought us to the moment we are today. Several layers of directors have been formed in recent years and have always had the intervention of the State as a justification for the weak economic growth, when there was. From a very early age, I was never able to understand for sure why a country with so much potential as Brazil is unable to fight or claim better economic results like its peers. Countries like China that until the mid-1990s had a third of the Brazilian domestic product (GDP). Nowadays, only Brazil has not passed, as there are studies that show the Asian country as the greatest world power in a very short time, including the USA, something unimaginable a few years ago. Thinking of humbly helping my country in some way, even if it is through this graduation project, I will try to support and defend a heterodox economic policy, as a planned way of growth and sustainable income distribution for Brazil. Key-words: Economy, Heterodoxy, Growth, Development, Brazil SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 13 2 DESENVOLVIMENTO ....................................................................................... 17 3 EXEMPLOS DE ELEMENTOS DE APOIO AO TEXTO .................................... 22 4 CONCLUSÃO .................................................................................................... 31 5 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 34 13 1 INTRODUÇÃO Um crescimento econômico aliado com um desenvolvimento é o que todo e qualquer política econômica busca desempenhar em um projeto de governo, independente de quem seja o governo de turno. Ambos procuram o mesmo resultado, separando a maneira com que se pretendem alcançar tal resultado. Na economia temos os Heterodoxos e Ortodoxos e seus pensamentos teóricos e práticas de atuação na economia. Tivemos uma indústria de base que fora construída em governos desenvolvimentista, com muito atraso em vista dos países desenvolvidos da época. Esse salto industrial possibilitou que tivesse uma grande transformação jamais vista. Foram milhares de pessoas que saíram do campo para cidade, para trabalharem nas fábricas e industrias promovendo sofisticação tecnológica do tecido produtivo da época. Países que souberam se aproveitar do boom de desenvolvimento trazidos pela Revolução industrial, compra de maquinários para poder competir em produção e qualidade com os grandes centros, foi aqueles que contaram com um grande salto em faturamento e novas pesquisas e equiparação de suas fábricas, melhorando cada vez mais seu tecido industrial. As maiores potencias do mundo atualmente, contam com uma complexa e sofisticada cadeia de empresas que contaram com boa parte dos seus faturamentos sendo reinvestidos em pesquisas e desenvolvimentos. O fato de ter entrado em um processo tardio e inacabado de industrialização de nossa economia, viramos reféns do que alguns economistas chamam de armadilha da renda média, esgotando o seu estoque ocioso de mão de obra antes de atingir um estágio satisfatório de sofisticação produtiva mais avançado. Poderíamos destacar também um fenômeno atual que se vê na maioria das grandes cidades brasileiros, um profissional que se preparou como um engenheiro civil, por exemplo: trabalhando como Uber, ou em outras ocupações de baixa produtividade. Longe de mim, fazer juízo de valor sobre os amigos que ganham a vida como motoristas de aplicativo, mas deveríamos trabalharpara que o inverso fosse o comum. Os serviços que não podem ser escalados, são os trabalhos que mais temos notado no processo de desindustrialização pelo qual o Brasil tem passado nos 14 últimos anos, sem nem mesmo ter alcançado o desenvolvimento industrial por completo, estamos vivendo o maior flagelo industrial já encarado no país. Entre os serviços não escaláveis, podemos destacar os seguintes setores: agropecuária commodities e indústria de baixa intensidade tecnológica. Quando nos referimos ao processo industrial brasileiro, conseguimos avançar muito até os anos 1980; passando a regredir vigorosamente em nosso tecido industrial. O sistema teve uma diversificação produtiva qualificado e aumentada sua complexidade até meados dos anos 2000, regredindo e voltando a se especializar em produtos e serviços menos complexos. Foi um período onde faltou bem pouco para ter um real desenvolvimento, tendo no início dos anos 1980 a produção industrial brasileira sendo maior do que a chinesa e coreana somadas. Nosso sistema de qualificação produtiva caminhou bem no sentido de diversificação e aumentando sua complexidade até meados dos anos 2000, depois regrediu e voltou a se especializar em produtos e serviços menos complexos. Faltou bem pouco para que conseguíssemos nos desenvolver, no início dos anos 1980 a produção industrial brasileira era maior que a chinesa e a coreana somadas. Tínhamos uma capacidade de exportar todo ano mais do que esses dois países somados. Hoje, ambos países são tidos como sucessos de desenvolvimento econômico no mundo, muitos dizem que a Coreia do Sul só conseguiu alcançar tamanho crescimento econômico graças ao liberalismo, e suas medidas de políticas econômicas. Mas a pergunta que fica é a seguinte: Por que paramos de crescer e nos desenvolver? Não só paramos, como começamos a regredir. Uma explicação muito simples para essa pergunta, é que perdemos o bonde tecnológico e da sofisticação necessária para competir no campeonato mundial das grandes nações desenvolvidas. Sabíamos fazer e fazíamos muitas coisas, hoje não sabemos mais e passamos a vender nossas matérias primas como nunca antes visto e comprar manufaturas por preços elevadíssimos, muito por conta do cambio que faz com que nossa moda se desvalorizar frente ao dólar. Tivemos nosso ápice nos anos 1980, desenvolvimento tecnológico relativo, mas desde então, as indústrias brasileiras foram perdendo relativo espaço no mundo e mercado interno, nos restando pouca capacidade produtiva atualmente, fazendo bem menos produtos. Nossas capacidades tecnológicas estão minguando. Nossa sofisticação produtiva há muito tempo escorre pelo ralo e a complexidade 15 tecnológico produtivo brasileiro só diminui com o passar dos anos. Teve-se grandes avanços em termos de capacidade produtiva desde os anos 1960, aprendemos a produzir muitas coisas desde então, coisas essas que não sabemos produzir mais atualmente. Tendo a economia brasileira atingido o seu auge em termos de sofisticação tecnológica nos anos 1980. Éramos capazes de produzir muito do que era consumido no mundo. Cilindros de mergulho, prensas, carros, motos motores turbinas, computadores são alguns exemplos do que produzíamos mesmo que ainda de maneira preliminar e com algumas precariedades. A Engesa é um dos grandes bons exemplos de excelência de engenharia que foi desenhada no Brasil nos anos 1960 e 1970 e morreu nos anos 1980. Produzindo componentes para exploração de petróleo para a Petrobras, precisava-se de caminhões que enfrentasse trajetos acidentados com estradas em sua maioria das vezes de terra e barro até que se chegasse ao destino no litoral. Foi aí que tiveram a ideia de desenvolver a caixa de transferência com tração especial, depois transferida para veículos nacionais. Devido ao grande sucesso e inovações trazidas pela estatal brasileira, em 1970 o Exército brasileiro passou a utilizar dos seus veículos, com destaque para o tanque de guerra Osório, produzido pela empresa e sendo um dos destaques no mundo com um computador abordo, tecnologia nunca vista em outros veículos com fins militares. Como um breve exemplo, os blindados americanos tinham que parar para mirar e atirar em seus respectivos alvos; o Osório tinha uma estupenda vantagem tecnológica frente ao americano na época. Outros blindados que estavam em desenvolvimento na época era o Cascavel e Urutu. Tendo tamanho reconhecimento internacional da qualidade dos produtos ofertados, que em 1974 fomos capazes de vender uma frota de blindados para à Líbia. Um dos ideários que gostaria de reforçar mais uma vez nesse projeto científico, é propor uma nova proposta política econômica mais heterodoxa desenvolvimentista que faça o Brasil crescer como outros grandes potenciais e não apenas ter voos de galinhas como pudemos ver nos últimos 30 anos em que prosperou um viés ortodoxo new liberal. Ao decorrer do artigo vamos trazer exemplos de países que não 16 renunciaram a sua soberania tecnológica e investiram em pesquisa e desenvolvimento com apoio de um Estado forte e presente no desenho econômico e hoje consegue colher os frutos de não terem pedido para uma aventura libera, como o Brasil. 17 2 DESENVOLVIMENTO A complexidade econômica de um país se manifesta no grau de desenvolvimento de um país que, por sua vez, reflete o ritmo de progresso técnico da sociedade em questão. Investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e o número de patentes que são registradas para garantir o recordo para quem desenvolveu e teve tempo e capital financeiro investido. Um estudo recente feito pelo Banco Mundial mostrou que grande parte das inovações realizadas na América Latina tem seus fundos oriundos do Estado. O trabalho em questão descobriu que nenhum país da América Latina e Caribe possui um nível de patentes que se aproxime dos países de alta renda. Sendo que a maioria dos países da América Latina e Caribe (AL&C) tiveram menos patentes aprovadas pelo órgão dos EUA quando comparados a outros países de renda média. Se Brasil como exemplo, tivemos apenas cinco patentes por milhão de pessoas sendo registradas entre 2006 e 2010, metade do número per capito da China (10) e pouco menos de ¼ da Bulgária com 22 registros. Quando falamos em desenvolvimento é preciso correr para que nos mantenhamos atualizados e competitivos, já disse o ex-ministro Delfim Netto. Concorrer no mercado internacional implica se expor-se ao “Estado da arte tecnológica da Copa do Mundo”. Para concorrer entre os melhores e mais desenvolvidos países, requer investimentos constantes e correr riscos necessários para se manter com produtos sofisticados e tecnológicos sendo desenvolvidos graças ao (P&D) Pesquisa e Desenvolvimento que foi proporcionado lá atras, para que possa usufruir dele no momento da descoberta de uma grande inovação. Quando se fala em riscos, quase nunca a iniciativa privada está disposta a corrê-los. Um bom exemplo para se destacar aqui, é o caso da descoberta do pé-sal brasileiro, que devido aos altos investimentos que se fazia necessário para se chegar ponto necessário, várias empresas da iniciativa privado avaliaram como não compensatório o investimento perante o risco de não encontrar nada. Ficou ao encargo do governo apostar e realizar os investimentos necessários para poder correr os riscos de uma descoberta que poderia mudar o rumo do país ou ter uma decepção com sequelas de bilhões de dólares que fora investido. Por essas e outras, conquistar novos mercados no mundo através do 18 comércio é, sem dúvida, uma manifestação clara de empreendedorismo transformacional. Tendo implicações em expor riscos enormes em se submeter a uma rigorosa disciplina de mercado. Salve aquelas empresas que podem usufruir da possibilidade de monopólios naturais, com desempenho superior que podem concorrerno mercado internacional. NOVO DESENVOLVIMENTISMO COMO RESPOSTA AO LIBERALISMO Mariana Mazzucato mostra em seu brilhante livro de 2014 o papel do Estado empreendedor tanto na qualidade de fomento dos estágios iniciais de empresas como a Apple, quanto no financiamento e desenvolvimento de tecnologias que depois são apropriadas pela iniciativa privada com grandes lucros. Esse livro em questão, foi um dos motivos que me fizeram escrever sobre esse tema. Algumas das tecnologias usadas no novo Boeing 787 foram testadas e desenvolvidas pela NASA. Em um processo recente na Organização Mundial do Comércio sobre subsídios na aviação, a Airbus chamou o novo Boeing 787 Dreamliner de Subsidyliner. O avião que mais recebeu subsídios do governo na história da aeronáutica: 5 bilhões do tesouro americano em subsídios diretos e indiretos segundo processo. Na Europa, o aprendizado com o Concorde e os enormes gastos públicos feitos nessa área pelo governo francês e do Reino Unido foram importantes para o futuro desenvolvimento dos aviões da Airbus; os sistemas de Fly-by-wire, piloto automático para voo, pouso e decolagem, hidráulica de alta pressão, freios de carbono, e projeto. Certa vez um engenheiro da empresa americana Raytheon, a gigante privada que desenvolve as demandas militares do Pentágono, deixou um saco de milho para pipoca na frente de um radar de magnéton; a pipoca começou a estourar. Em 1947 a Raytheon vendeu o seu primeiro forno micro-ondas para um restaurante e depois o primeiro para uso caseiro, mas perdeu completamente a corrida para os asiáticos. Algo parecido aconteceu com o avião 707, grande hit da Boeing, que nasceu como subproduto de um avião militar para reestabelecimento de caças encomendados pelo governo americano à Boeing. Ou ainda a gigante Westinghouse nuclear e elétrica. Assim foi também com a indústria de semicondutores e nuclear. Papinha de bebê, solado dos tênis Nike Air, óculos Ray-BAN, bolas de golf, 19 aspirador de pó são todos produtos privados que se beneficiaram de inovações tecnológicas que vieram do dinheiro público da NASA, especialmente ligados ao projeto Apollo para colocar o homem na Lua. Um ótimo exemplo aqui é a empresa Apple e seus produtos. O Iphone, por exemplo, funciona a partir da internet e GPS, duas tecnologias essenciais desenvolvidas a partir de investimentos públicos e militares nos EUA e depois aproveitados com maestria na iniciativa privada. Até mesmo o primeiro iPod só foi possível por conta de avanços de tecnologias fomentadas e financiadas por investimentos públicos na Europa e nos EUA, que depois resultaram nos hard drives magnéticos de tamanho ínfimo com a capacidade de armazenagem absurda. Ou seja, como mostra Mariana Mazzucato, o estado empreendedor tem papel fundamental no desenvolvimento tecnológico. Como aliás sempre foi o caso desde a marinha Bélica e mercante holandesa, por exemplo, e as inúmeras inovações tecnológicas feitas na cidade de Delft dos 1600 e arredores. Smith, Lipsitch e Almond (2011) nos mostram que a produção de vacinas oferece barreiras naturais aos países pela variabilidade cultural e genética das populações mundo a fora e pelo fato de lidar com o micro-organismos biológicos de elevada complexidade e de difícil patenteamento. Há, no entanto, um fator adicional que inibe a produção com variedade, qualidade e quantidade suficientes destas. Para produzir uma vacina é preciso muito pesquisa básica acumulada em universidades que é preciso muita pesquisa básica acumulada em universidades e institutos de pesquisa, uma estrutura muito cara de se manter, mas que é decisiva para o sucesso no setor. A ciência formal permitiu nas últimas décadas avanços expressivos nas áreas de imunologia e microbiologia, o que ampliou nossa compreensão sobre a formação das doenças trazendo ao alcance da humanidade. Por esses motivos, o sucesso da política industrial em promover o binômio inovação competitiva dependerá de uma adequada articulação entre Estado, mercado e sociedade civil. A combinação entre sinais de mercado e mão visível do Estado pode direcionar trabalho e capital a atividades que o mercado não necessariamente empreenderia (Cherif, Hasanov e Kammer, 2016). Na ausência desta ação coordenada, os recursos e as habilidades humanas (inatas ou adquiridas) podem ser mal utilizadas ou mesmo encontrar emprego adequado, com Mincer (1958), de retornos ao investimento em capital humano. Para que possamos escapar da armadilha do subdesenvolvimento. A 20 importância das chamadas políticas de ITT (industrial, Trade and Technology) e de políticas macroeconômicas adequada para o novo desenvolvimentismo. Aparece na discussão como uma das principais explicações do sucesso de país que hoje são considerados ricos e exemplos. É claro que apenas a utilização de políticas protecionistas por si só, não vão desenvolver nossas indústrias e garantir o sucesso. Tem-se como exemplo de fracasso a tentativa de desenvolver a indústria área na África do Sul e na Indonésia, bem como a lei da informática e a Zona Franca de Manaus aqui no Brasil nos anos 1980 a 1990 e alguns outros exemplos. Na história recente da política industrial mostra que a quantidade de fracasso supera os números de sucessos. Não basta apenas que fomentemos uma indústria, ela necessita crescer e se desenvolver para poder brigar no cenário internacional. A Zona Franca de Manaus teve a mesma lógica sendo seguida, tendo a criação da mesma para estimular e desenvolver uma ocupação territorial para atrair empresas para produzir e abastecer o mercado interno brasileiro, ocupando por tabela a região. Naquele momento não havia e não há metas de exportações, de melhora tecnológica e um planejamento para se alcançar o mercado internacional. Com o desejo de impulsionar o desenvolvimento econômico da Amazônia, foi elaborado o decreto de número 3.173 de 6 de junho de 1957 e depois aprimorado por nossa nova lei de 1967. Hoje, o polo industrial abriga 600 indústrias concentradas nos setores de eletroeletrônicos, químicos e motocicletas. Nos últimos anos tivemos um novo incentivo na base dos incentivos fiscais para uma maior implementação e atualização tecnológica. No áudio e vídeo tivemos um processo de produção de televisão sendo produzidos no complexo, aparelhos celulares, concentrados para refrigeradores, motocicletas entre outros. Existindo também um complexo para desenvolvimento de produtos agropecuários abrigando projetos para produção de alimentos, agroindústria, psicultura, turismo, beleza, beneficiamento de madeira, entre outras. Essas indústrias instaladas na Zona Franca de Manaus recebem os seguintes benefícios fiscais: isenção de imposto do imposto de importação e exportação, isenção de IPI, desconto no ICMS e isenção temporária de IPTU. A zona Franca de Manaus sempre teve o formato do processo de substituição de importados por produtos nacionais, fortalecendo o mercado interno. Evidente que tudo isso tem muito a ver com o fato de seu modelo ter sido desenhado para ter uma produção industrial baseado no mercado interno e não para 21 buscar o mercado internacional se baseando em novas tecnologias. A tendencia foi e continua sendo o desenraizamento do seu parque industrial em relação à realidade e aos verdadeiros potenciais ligados à biodiversidade da região amazônica. Ao se investir muito em plantas industriais ligadas à mineração no (Pará) e produtos eletroeletrônicos enquanto se esquece ou faz esquecer de todo o potencial da biodiversidade da floresta. Podendo ser usado como um diferencial em termos de potencial de criação de uma base industrial que seja realmente diversificada que poderia criar uma cultura de desenvolvimento sustentável na comunidade. Para deixar mais claro o que estamos propondo, um modelo ousado de floresta industrial, preferimos um modelo maissimples de imitação e sem nenhum aprendizado e baseado na construção da ilha de produção industrial desconectado da realidade que se faz necessário atualmente. Limitando apenas em ser grandes projetos de exportações de recursos naturais. Temos também grandes exemplos de sucesso no Brasil, mostrando que somo capazes de avançarmos políticas desenvolvimentistas capazes de fazer o Brasil voltar a crescer e se desenvolver com uma política econômica planejada na heterodoxia. Por exemplo a Embraer, talvez o nosso maior símbolo dessa feliz articulação entre Estado e iniciativa privada. A empresa nasceu como uma iniciativa do governo brasileiro, como uma estratégica para se alinhar a indústria aeronáutica que vinha crescendo no mundo, aquela época. Considerados percursores da Embraer o antigo Centro Técnico Aeroespacial (CTA), passando a ser denominado Departamento de ciência e Tecnologia Aeronáutica (ITA). As duas empresas foram criadas em 1946 e 1950 pela Força Aérea Brasileira. 22 3 EXEMPLOS DE ELEMENTOS DE APOIO AO TEXTO Adam Smith explicou a base do funcionamento do sistema capitalista em sua famosa passagem de A Riqueza das Nações: não é da benevolência do outro que devo aguardar o meu sustento, mas do interesse que os outros têm pelos produtos que posso produzir. Quanto mais raro e mais valioso for o que eu produzo, maior o valor que as pessoas estarão dispostas a pagar pelo meu esforço. Por outro lado, quem não tiver talentos que lhe diferenciem dos outros estará fadado a concorrer com vários outros também com potencial mediano e receará menos pelo seu esforço. O capitalismo é baseado na liberdade de iniciativa, no interesse de se ganhar a vida por meio da venda de um bem em troca de lucro, isto é, um ganho que exceda os gastos para manutenção do capital produtivo ou financeiro. Os proprietários de terra, de imóveis e de invenções e patentes recebem uma renda por deterem a propriedade deste capital na forma de juros, aluguéis e de royalties. Porém, como ensinou Karl Marx, uma vez que nem todos têm capital ou propriedades resta-lhe apenas a possibilidade de oferecer sua força de trabalho e receber um salário em troca de sua produtividade. (PAULO GALA; Brasil, uma economia que não aprende, 2021) Gostando ou não, o capitalismo foi uma proposta de sucesso institucional que mais fez progredir o potencial humano na criação e desenvolvimento de novos produtos. Além disso, como mostra Bresser-Pereira, só é possível pensarmos em desenvolvimento econômico no contexto do capitalismo. Por ser esse o único sistema econômico capaz de levar lucros aos trabalhadores assalariados. Segundo BRESSER-PEREIRA (2011), a passagem das sociedades para o modo de produção capitalista de produção foi a transformação mais importante da sociedade humana desde a invenção da agricultura, da passagem das sociedades nômades para as sedentárias e a formação dos primeiros impérios. Desde a Revolução Industrial capitalista que o mundo passou a crescer rapidamente, tendo sua produção acelerada. Podemos notar que o ser humano se libertou da maldição de Malthus, que sentenciava a humanidade à uma eterna luta de classes e contra uma escassez de alimentos graças ao fato de que a população cresceria sempre a taxas maiores do que a produção de comida disponíveis no mercado. A crescente da eficiência na produção de bens e serviços da produtividade 23 capitalista, é infelizmente, acompanhada por uma forte tendência na concentração de riqueza e renda nas mãos de poucas pessoas muito ricas. As várias melhorias no que tange ao bem-estar são inegáveis. Em média, a humanidade vive mais e em tese com mais recursos dos mais variados. O problema é que toda capacidade produtiva não seja capaz de garantir a todos a mesmas condições e oportunidades e longevidade que a tecnologia é capaz de oferecer. Uma boa parte substancial das pessoas em todo o globo, não tem capacidade e acesso aos mesmos avanços técnico geral, sofrendo com diversos males como desnutrição e enfermidades de fácil prevenção. Bem antes de Adam Smith em meados de 1960, a grande preocupação dos economistas era com a primeira pergunta, uma busca pelos motivos que eram os motores do desenvolvimento econômico. Na discussão entre os economistas, o centro vai se deslocando dos metais preciosos e do comércio (mercantilista) para uma qualidade produtiva oriunda da terra (fisiocratas), migração para a combinação de máquinas e trabalho no espaço da produção. O problema era a desigualdade, mas o foco da análise feita pelos economistas recaía sobre as taxas desiguais de crescimento entre as nações, o chamado problema da convergência dos níveis de renda ou catching-up. A organização doméstica da produção doméstica depende essencialmente das trocas comerciais oriundas entre as nações. Nenhum país pode cotar apenas com insumos produtivos domésticos para se manter suficientemente em todas suas necessidades. Essa interdependência entre as nações é o pano de fundo para o desenvolvimento econômico. Em uma primeira etapa do pensamento econômico moderno, entraram em conflito dos grandes economistas e suas abordagens sobre como se deveria organizar um sistema baseado nas vantagens comparativas de David Ricardo, economista britânico e que trabalhou e teve grande parte da sua obra e trabalho ligado ao de Adam Smith. Segundo o estudo desse autor, cada país deveria concentrar os seus esforços naquilo que faz de melhor, isto é, produzir os bens e serviços que lhe custam menos em termos de energia humana e de matéria-prima. Um país que tenha uma grande extensão de terras aráveis e uma volumosa população deveria se concentrar na produção de bens agrícolas. Graças a essa abundância de recursos reduz-se o preço dos salários e renda de terra, tornando os produtos domésticos mais atraentes e com preços 24 competitivos ao mercado internacional e de grande qualidade. Em contrapartida desta exportação de bens agrícolas, o país em questão poderia importar dos demais aqueles produtos que não tinha dominância de produção. Segundo a logica defendida pela teoria de Ricardo, se cada país produzir somente aquilo que lhe é mais barato, todos sairiam ganhando em preços e qualidade nos produtos. O mundo inteiro se beneficiária dos amplos ganhos que teríamos vindos do comércio internacional. A exposição ao mercado incentivaria todos os concorrentes a melhoria em seus produtos e preços, bem como na qualificação dos trabalhadores e tecnologia adotada na produção dos bens e serviços. Todos os comércios ganchariam com uma economia mais vibrante e com alta produtividade e consequentemente crescimento econômico. David Ricardo era uma mente brilhante e não à toa, é um dos clássicos economistas que temos na história dessa rica ciência. Muito convincente sobre sua teoria ele conquistou vários adeptos até os dias atuais. É bem comum, ouvirmos economistas pregando a necessidade de abertura comercial da economia como solução para destravar o crescimento econômico e promover o desenvolvimento de suas respectivas nações. Aqueles que pregam esse tipo de vertente econômica não está cometendo nenhum erro, o problema está em como fazer essa abertura comercial, ainda que teoricamente muito elegante, a teoria das vantagens comparativas enfrenta muitas dificuldades quando aplicada ao mundo real, sem nenhum critério pré-estabelecido. Foi como uma critica a proposta de David Ricardo que tivemos uma proposta alternativa. Segundo Friedrich List, economista prussiano, (hoje, Alemanha), a Inglaterra depunha de grande competitividade comercial por ter sido o berço da Revolução industrial, sempre garantindo um maior desenvolvimento industrial e vantagem comparativa frente aos demais países do resto do mundo. Eles poderiam vender produtos caros (pelo simples fato de só ela produzir) emtroca de produtos baratos (em que vários produziam). Sendo assim, não seria atoa que os seus teóricos ventilassem argumentos abstratos- com uma visão filosófica e cientifica. Com interesse em reforçar sua posição geopolítica e comercial, negando as próprias práticas desenvolvimentista da Inglaterra. List costumava dizer que os países ricos, chutavam a escada do desenvolvimento após terem atingido um nível de avanço econômico e tecnológico. 25 Faziam isso para impedir que os países atrasados desenvolvessem suas próprias forças produtivas e se tornassem potenciais concorrentes no plano internacional. Sabedor de tal retorica Ricardiana, List defendia que cada país aplicasse tarifas comerciais sobre produtos importados que protegessem a lucratividade de suas indústrias infantes, bem como lançasse mão de subsídios que reduzissem os custos de produção dos bens a serem exportados para garantir maior competitividade. O que era proposto por List era um ancestral do processo atual de incubadora tão praticado na conversão de uma ideia em produto comercial, após observar essas ideias funcionando nos EUA de Alexander Hamilton no final do século XVIII. Hamilton foi o primeiro secretário do tesouro americano (1789-1795), está entre um dos principais formuladores de medidas protecionistas que estimularam a instalação e desenvolvimento da indústria manufatureira norte- americana. Seu reconhecido trabalho Report of the Secretary of the Treasury of the United States, on the subject of manufactures (1791) conta com muitas ideias e pensamentos sobre o tema que posteriormente seriam formalizadas por List no argumento da proteção à indústria infante presente em seu trabalho National system of political economy (1856). Antes de List escrever esse famoso tratado sobre o assunto, tivemos muitos anos morando nos EUA estudando e colocando em prática suas ideias protecionistas americanas. O projeto desenvolvido nos Estados Unido, especialmente nos estados norte, se contrapunha frontalmente às recomendações do liberalismo inglês, que segundo alguns americanos, tinha produzido para exportação e não para consumo interno. O setor manufatureiro costuma se destacar neste aspecto. Em contraste com a maioria das empresas do setor de serviços sofisticados ou do agronegócio, as empresas industriais enfrentam custos marginais decrescentes ao expandir a produção; ou seja, sua atividade se beneficia de retornos crescentes de escala e escopo. Acrescentar uma pior jornada de trabalho de produção, implementando uma nova máquina no chão da fábrica pode multiplicar em muitas vezes a capacidade de produção de uma determinada indústria. Nos setores de serviços não sofisticados e agronegócio, a expansão dessa atividade tende a custar muito caro, sem falar da 26 margem de uma capacidade produtiva de maneira significativa. São setores que sofrem com retornos decrescentes conforme se amplia a escala de produção. Um dos temas que mais tem ganhado destaque no cenário nacional nos últimos anos, tem sido complexidade de estruturas sofisticadas produtivas que tem sido um dos destaques naqueles países que enriquecem e vem ganhando destaque na economia. Com aplicações em várias frentes, a perspectiva de sistemas dinâmicos tem sido utilizada em diversos campos de pesquisa econômica. Em economia, as aplicações originais modelavam o funcionamento de mercados financeiros, como os indivíduos tomam decisões em variados contextos, bem como estudos sobre path dependente, isto é, dinâmicas que dependem de sua trajetória inicial. O mais recente Atlas da Complexidade com a tecnologia de Big Data para criar um dos maiores bancos da economia na atualidade. OBJETIVO GERAL Na construção de um notável corpo de pensamento teórico e empírico chamado Novo Desenvolvimentismo, defende um conjunto de políticas econômicas nacionais que não sejam auto derrotista para que possamos crescer e desenvolver consequentemente. Apresar de muitos atribuírem à mão invisível os avanços alcançados com o capitalismo, em verdade todos os países que até hoje conseguiram ascender à condição de desenvolvidos. Sempre contando não apenas com um mercado eficiente, mas com um Estado preocupado com a promoção de desenvolvimento econômico. Não foi o liberalismo, mas o desenvolvimentismo econômico de teoria e prática econômica nos países de sucesso. Ficando o Estado desenvolvimentismo não apenas garantes sucessos. Coube ao Estado desenvolvimentista não apenas garantir que suas nações fossem capazes de inovar e terem setores cada vez mais tecnológicos e competitivos, mas também assegurar um ambiente macroeconômico que não colasse em risco a competitividade das melhores empresas nacionais (Zagato, 2019). Tem problemas de gestão macroeconômica fundamentais que precisam ser administrados pelo governo. O mais grave de todos, a crônica sobre apreciação das taxas de câmbio, anula a lucratividade das exportações de bens complexos em favor de bens ubíquos e pouco sofisticados como as comodities e o agronegócio. Ao não 27 neutralizar os efeitos da apreciação da moeda sobre os setores nacionais alinhados ao estado da arte da tecnologia mundial, o Estado acaba impedindo a participação das empresas industriais nacionais na categoria da elite do comercio mundial. O resultado é uma regressão tecnológica da pauta de exportações, com efeitos danosos sobre a sofisticação produtiva das empresas nacionais que, sob esta restrição, competem apenas nos campeonatos locais e estaduais. Cabe à política macroeconômica, portanto remover esta inibição cambial autoimposta, evitando-se assim dificultar ainda mais uma concorrência por si só já bem desafiadora. Sobrevalorizações cambiais são especialmente nocivas para processos de desenvolvimento econômico, pois reduzem substancialmente a lucratividade da produção de investimentos nos setores de bens comercializáveis manufatureiros. Recolocando recursos para setores que não sejam manufatureiros, com destaque para commodities e setores não comercializáveis, as sobrevivências. Os países que são pobres e em desenvolvimento com muitos recursos naturais acabam virando vítimas de vantagens comparativas sendo somente capazes de exportar recursos naturais e produtivos agropecuários para o mundo. Sofrem do que os economistas chamam de doença holandesa, um termo criado para descrever os problemas da economia da Holanda dos anos 1970 resultantes da descoberta do enorme campo de gás e petróleo de Groningen. A apreciação da moeda holandesa decorrente do fluxo de divisas do gás e óleo exportados atrapalhou o avanço do setor manufatureiro holandês, prejudicando a economia como um todo. BRESSER-PEREIRA (2018) nos mostra como esse problema tomou conta do Brasil e América Latina, a partir dos anos 1980. Toda estrutura tarifária montada para proteger nossas indústrias dessa maldição, o excesso de vantagens comparativas em recursos naturais. (BRESSER-PEREIRA) nos ajuda a entender o fracasso latino-americano e brasileiro com essa perspectiva de crescimento através do crescimento econômico pautado no liberalismo. Esse projeto de conclusão de curso vai na contramão dessa proposta liberal e tem por incumbência colocar uma proposta desenvolvimentista na onda dos países que tem se desenvolvido nessa proposta. A china e os EUA com o plano de desenvolvimento do presidente americano Joe Biden são dois bons exemplos dessa proposta de Novo Desenvolvimentismo. Mediante aos resultados frustrantes de crescimento econômico de países 28 mais pobres da américa Latina e África, com o próprio FMI vem questionando recentemente o sucesso das promessas feitas pelas doutrinas de cortes mais liberais. Ainda mais recentemente, a mesma instituição resolveu radicalizar de vez e publicou o trabalho intitulado O retorno da política cujo nome ninguém ousa pronunciar: princípiosde políticas industriais. O FMI recolocou sobre a mesa a importância da política industriais, políticas de estado para ajudar a sofisticação produtiva de países pobres e emergentes. A motivação do trabalho é a seguinte: evidência empírica mostra que são muitas baixas as chances de países pobres ou de renda média alcançarem elevados níveis de renda dentro de algumas gerações. Entre 1960 e 2014, menos de 10% das economias atingiram altos níveis renda. Em contraste com os milagres asiáticos, outros que conseguiram chegar lá ou descobriram grandes quantidades de petróleos ou se beneficiaram da adesão à União Europeia (Cherif a Hasanov, 2019, p.2). A pesquisa conclui que as prescrições padrão de política de crescimento não suficientes. De forma que não se pode ignorar o papel proeminente da política industrial, a experiencia dos países asiáticos que viveram seus milagres do desenvolvimento mostra que não apenas conseguiram alcançar o mundo avançado, como o modelo econômico dos milagres asiáticos resultou em uma desigualdade de renda muito menor do que na maioria dos países avançados. (Cherif e Hasanov, 2019). OBJETIVOS ESPECIFÍCOS Durante os anos 1980 e 1990, ganhou ampla aceitação a ideia de que a política industrial deveria cair em desuso ou mesmo de que ela teria se tornado “tóxica” (Wade, 2017). Diversos economistas já enfatizaram exaustivamente os malefícios da política industrial, inclusive considerando que a indústria não seria particularmente importante vis-à-vis os demais setores da economia. Considera-se que a alocação promovida pelo mercado geraria o resultado mais eficiente, enquanto a intervenção em favor do setor industrial seria convidativa a práticas de rent seeking. Há outra literatura que, por sua vez, sempre conferiu à indústria um papel de destaque. As chamadas “três leis de Kaldor” encapsulam a relevância do setor manufatureiro para o crescimento econômico, para o crescimento da produtividade e do emprego. Autores como Andreoni e Chang (2016), sustentam que o setor é a 29 principal fonte de ganhos de produtividade da economia, configurando-se como um learning centre das economias modernas, ou como um grande difusor de inovações tecnológicas. Partindo da premissa de que o setor possui importância específica para o desenvolvimento, deve-se considerar que ele não pode ser visto como uma panaceia e que os resultados esperados dependem de diversas circunstâncias. Nos termos de Wade (2015), a política industrial é apenas uma inner wheel (engrenagem interna) cujos efeitos dependem bastante de outer wheels (engrenagens externas) - como, por exemplo, as condições macroeconômicas ou as coalizões políticas subjacentes. A experiência histórica mostra que diversos países hoje desenvolvidos se valeram - e ainda se valem - do uso de políticas específicas para transformar sua estrutura produtiva, realizando um esforço deliberado no sentido de dar proeminência aos seus setores industriais. Após a crise de 2007-2008 surgiu um novo interesse pelas políticas industriais e da visão de que a indústria é um setor destacado. Esse movimento vem sendo liderado, principalmente, pelos países de industrialização madura que perderam participação industrial - como EUA, Alemanha, Inglaterra e Japão - mas também conta com iniciativas relevantes de países de industrialização mais recente - como China e Índia - que buscam maior protagonismo global. Chama a atenção que, além da tentativa de retomar a primazia industrial, há bastante ênfase nas chamadas tecnologias habilitadoras. São exemplos disso iniciativas importantes de países como EUA - Advanced Manufacturing Initiative; Alemanha - High Tech Strategy; Reino Unido - Foresight; França - Nouvelle France Industrielle; China - Made in China 2025; e Índia - Make in India. Considerando que uma indústria competitiva é central para o desenvolvimento do Brasil, é importante que se crie uma “orientação de futuro” para o setor. Para isso, é importante partir de uma visão integrada dos principais desafios presentes nos diversos setores industriais, identificando as tecnologias habilitadoras e os sistemas industriais mais promissores, concatenando as políticas produtivas e tecnológicas. Como defende Andreoni (2017), mapear quais são as tecnologias emergentes e quais são as atividades econômicas, novas ou tradicionais, buscando- https://www.manufacturingusa.com/about https://www.manufacturingusa.com/about https://www.bmbf.de/en/the-new-high-tech-strategy-2322.html https://www.gov.uk/government/collections/foresight-projects https://www.economie.gouv.fr/nouvelle-france-industrielle/accueil http://english.gov.cn/2016special/madeinchina2025/ http://www.makeinindia.com/home/ 30 se valer delas para introduzir novos produtos ou novas formas de produzir se converteu em uma das principais ferramentas das políticas industriais modernas. Em um primeiro esforço para desenvolver um mapeamento desse tipo para o Brasil, o trabalho elaborado pelo BNDES apresenta uma Matriz Tecnológica que relaciona diferentes bases de conhecimento – que agregam tecnologias ou aplicações com finalidade similar – aos principais segmentos industriais. A matriz permite uma leitura através das linhas mostrando como as tecnologias se difundem pelos diversos setores. Pelas colunas, é possível observar quais setores tem maior capacidade de absorção de bases de conhecimento. 31 4 CONCLUSÃO Não só desde agora, mas desde os grandes avanços do campo da economia como ciência que se debruça sobre os anseios de tentar explicar e elencar os motivos que um país cresce e se desenvolve mais do que os outros, que temos duas grandes correntes de economistas com visões de mundo distinta uma da outra acerca do desenvolvimento e crescimento econômico. De um lado temos os economistas ortodoxos ou mainstream, como queiram chamar, aonde o desenvolvimento econômico tende a ser um processo espontâneo e natural que deve ser guiado pelo mercado, dependendo de boas políticas internas e mínima interferência do Estado. Tendo o mesmo um papel secundário nos rumos econômicos de uma nação, garantindo funcionamento da justiça, controle da inflação, educação de qualidade, defesa da concorrência. Tendo essas metas sendo alcançadas, o desenvolvimento será apenas uma questão de tempo para ser alcançado. Sendo o mesmo que esperar um bom desempenho de um atleta, garantindo apenas o mínimo. Como se diz aquele ditado que fala que, de nada vai adiantar ter talento se não tiver o mínimo de estrutura, necessidade de treino disciplina e planejamento que são condicionantes mínimas para se ter êxito em qualquer que seja o ramo de atuação. Sendo o mesmo que descobrir o seu talento e jogá-lo no campeonato mundial, esperando que dê certo. Já os economistas ortodoxos defendem uma educação e as instituições fortes e fazendo o seu papel, como elementos centrais para o crescimento e desenvolvimento de uma nação, esse tipo de economistas defendem que o Estado não apenas seja o garantidor, mas que atue no planejamento de políticas econômicas. Para os heterodoxos desenvolvimentistas, o processo de desenvolvimento econômico será em um contexto de interação estratégica entre nações e governos. Principalmente no tocante ao desenvolvimento de técnicas produtivas e de um tecido industrial mais capaz e atualizado que os demais. Investindo e valorizando sua indústria de base, com as ferramentas garantidoras. Não renunciando a sua estrutura produtiva, aqui se pensa no longo prazo, com um padrão de especialização produtiva sendo perseguido por essas nações que apostar em uma política que opte por desenvolver sua cadeia de produção e 32 não mais abrir suas fronteiras a torto e a direito para uma avalanche de importações que vão desde produtos sofisticados e de complexa tecnologia a itensbásicos como é o caso de máscaras importadas da China, como podemos notar durante a pandemia da Covid-19. O processo de desenvolvimento é motivado em um ambiente de competição em que nações ricas lutam para manter vantagens competitivas sobre os demais países em desenvolvimento em determinados mercados. Seria mais ou menos como o seguinte, a harmonia de interesses prevalecerá na medida em que a periferia fique em seu devido lugar. Na conhecida expressão do economista alemão Friedrich List, `´após atingirem um elevado estágio de desenvolvimento os países ricos, chutam a escada, para impedir que os demais países pobres percorram o mesmo caminho``. Sendo uma estratégia clara de maximização dos seus lucros frente aos demais. A visão ortodoxa de mundo tem uma característica mais individual e menos sistemática. Em uma perspectiva desenvolvimentista não existe objetivo maior do que criar uma indústria local, competente e capaz de produzir e competir com as outras grandes empresas do mundo. Como esses campeões nacionais não surgem naturalmente do dia para a noite, o Estado deve ajudar com subsídios, tarifas e financiamento até que essas empresas consigam competir com as grandes motrizes mundiais. A narrativa sobre as vantagens comparativas na produção de bens e serviços deriva de uma noção de que cada nação deveria se utilizar única e exclusivamente do seu corpo técnico para produzir somente aquilo em que teria vantagens comparativas, ou que são melhores. Mas todos sabemos que não dá para comprar maquinário e produtos tecnológicos de altíssima complexidade apenas com banana e soja. Não que não devemos trabalhar o nosso agronegócio que é um dos melhores do mundo, mas devemos não apenas ficar reféns dele, e desenvolver novas técnicas para melhorar o plantio e colheita, desenvolver melhores agrotóxicos e produtos afins, algo que não fazemos. Atualmente, o mundo tem se atendado para a maioria dos produtos que utilizamos nas nossas plantações, mostrando que não somos independentes nem mesmo naquilo que em tese, teríamos vantagens comparativas frente aos demais países. O argumento da CEPAL em meados dos anos 1950, era exatamente o de 33 que países que tivesse um maior conteúdo tecnológico, teriam um maior desenvolvimento econômico em comparação aos demais. Por isso, o comércio internacional não poderia resultar de especializações vocacional de cada nação, mas de sua transformação tecnológica de suas matrizes produtivas. Nossa breve história de política industrial para o século XXI dão o ritmo daquilo que precisamos voltar a construir no país, se não quisermos perder o bonde do crescimento e desenvolvimento como potência mundial que podemos ser. Embraer, WEG, lei dos genéricos, de programas militares brasileiros e diversos outros exemplos que são abordados aqui, ilustram de forma prática o funcionamento de um Sistema Nacional de Inovação (Lundvall,2010). Um Sistema de Inovação Nacional requer três componentes que são indispensáveis: o Estado, responsável por aplicar e fomentar políticas públicas de ciência e tecnologia; universidades e institutos de pesquisas responsáveis pelo investimento na transformação do conhecimento em produtos. O investimento público e a presença do estado como aglutinador e financiador são essenciais. O fomento e a proteção da nossa política industrial devem ser utilizados com muita disciplina, para que não provoque contrapartidas. Caso contrário, recursos públicos serão desperdiçados e não terá o efeito cascata produtivo que todos nós esperamos. Em trabalho publicado em 2004 com o título Política Industrial para o século XXI, Dani Rodrik (2004a) discute como desenhar uma política industrial eficiente. Término esse projeto relatando uma forma de ver o mundo em que o estado possa contribuir juntamente da iniciativa privada, hora um, hora outro para a melhoria de vida da população e desenvolvimento do país, (nosso Brasil), como um todo. Gostaria de destacar finalmente que as perspectivas apresentadas têm um propósito muito mais ilustrativo sobre o real potencial dessas abordagens. Procuro fazer um convite para engajar estudantes e pesquisadores e até mesmo a sociedade civil como um todo, incrédula com o nosso potencial de nação que temos em vários sentidos, mas que por algum motivo não conseguimos colocá- lo em prática e desenvolver como esperado. Deixarmos de ser o tão sonhado país do futuro e proporcionar essas melhorias no presente. Sem uma sofisticação do tecido produtivo, não há desenvolvimento. 34 REFERÊNCIAS ----------. (2001). A fragilidade que nasce da dependência da poupança externa. Valor 1000, set. ---------------------. (2001). 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