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Fertilidade dos 5010s e Manejo da Aduba~ão de Culturas 11 Enxofre, Cálcio e Magnésio Carlos A. Bissani c Ibanor Anghinoni s reações químico-biológicas do enxofre na biosfera se assemelham às do nitrogênio em muitos aspectos, tais como: a) apresentam vários estágios de oxidação; b) em solos ácidos, a maior parte está imobilizada na matéria orgânica; c) as transformações entre as várias formas são em sua maioria influenciadas pela atividade de microrganismos. As deficiências de cálcio e de magnésio raramente se manifestam devido :: inexistência de mecanismos de fixação em solos ácidos e às grandes - antidades presentes nos solos com alta CTe. Em solos ácidos, esses =ementos podem ser facilmente supridos pela aplicação de corretivos da :: 'dez. 17.1 Enxofre 17.1.1 Enxofre na planta o S é um constituinte dos aminoácidos cistina, cisteína e metionina. - a forma, a síntese das proteínas que requerem estes aminoácidos (por ex. _ oaína, coenzima A e glutationa) é prejudicada pela deficiência de S. Faz e também de alguns glicosídeos responsáveis pelo odor característico das tas 'das famílias das crucíferas e Iiliáceas. O adequado suprimento de S ibui para o aumento do teor de óleo em soja e linho. Embora o S não seja constituinte da clorofila, sua deficiência reduz a ação desta (75% do S protéico é encontrado nos cloroplastos). Portanto, --~s com deficiência de S se apresentam cloróticas e com pouco volvimento. Este sintoma é semelhante à deficiência de N, mas, como.: 207 '\ U Carlos Alber'o Bissani ellll. o 5 é pouco móvel na planta, as folhas novas ficam mais a~ê"la~nO do N as folhas velhas ficam amareladas). A deficiência de 5, entretant = poucas vezes observada devido a: a) em geral, os solos têm capacidade de suprir as necessidades - plantas; e, b) ocorre a contribuição de formas de 5 presentes na atmosfera e - em outros fertilizantes e fungicidas. Nos casos de constatação de deficiência de 5, podem estar prese uma ou mais das seguintes condições: a) solos com baixo teor de matéria orgânica; b) culturas com alta retirada de nutrientes (por exemplo, plantas pê~ silagem); c) uso de fertilizantes concentrados, sem 5 na sua constituição; e, d) distância de centros industriais ou urbanos. Em geral, as necessidades de 5 das plantas são semelhantes às do : Algumas espécies, como a alfafa e o repolho, exigem quantidades maiores :-= 5 do que de P. O teor médio de 5 no tecido de algumas plantas é dado - Anexo 3. Pode-se observar que algumas plantas como cebola, alho e couve flor possuem alta exigência de 5. O íon sulfato (50/) é a principal forma absorvida do solo pelas raizes Formas gasosas, principalmente 502, podem ser absorvidas pelas folhas. 17.1.1 Enxofre na biosfera O enxofre, além de ser um nutriente essencial para às plantas, z, também um elemento que pode modificar diversas características químlcas dos solos, como no caso da obtenção de pH extremamente baixo (até 3,5), _ provocar a ocorrência de distúrbios fisiológicos nas plantas. Para o adequac: entendimento das reações do 5 no solo e da disponibilidade para as plante é necessário antes estudar as principais transformações deste elemento ê biosfera. O ciclo do 5 na biosfera é representado na Figura 17.1. O 5 se combina facilmente com outros elementos, principalmente O, - e C, apresentando diversos estados de oxidação (valência), desde +6 até -2 A maior parte das mudanças de um estado de oxidação para outro n _ sistemas biológicos é efetuada por microrganismos, em reações de o . redução, com o objetivo de obter energia. Os diversos estados de oxidação do 5 e os principais compostos representativos de cada um podem ser assim esquematizados (embora c 208 Fertilidade dos $0105 e Manejo da Aduba~ão de Culturas maior parte dos compostos de 5 seja de carácter cova lente, é usada a designação da eletrovalência para facilidade de entendimento): REDUÇÃO ~.~--------------------------~. OXIDAÇÃO Estado de 52- 50 52+ oxidação Compostos H25 5° 5P/" ou íons - sulfetos Denominação - 5 orgânico 5 elementar tiossulfatos - mercaptanas - ác, sulfídrico (gás) 50/ dióxido de enxofre (gás) sulfatos 17.1.2.1 Reações de redução do 5 Em solos com aeração deficiente, seja por excesso de umidade ou pela presença de horizontes argilosos compactados, que dificultam a difusão de oxigênio, há condições de redução de compostos inorgânicos de 5. Como exemplo, pode ocorrer a redução de sulfato por Dessu/fovibrio dessu/furicans: (17.1) o oessuüovtorto dessu/furicans é uma bactéria anaeróbica chernotrótlca, isto é, obtém a energia para o seu metabolismo desta reação, com atividade alta na faixa de pH de 6 a 8. O 52- liberado pode formar H25 ou ser precipitado no solo pelo Fe2+ resente na forma reduzida, conforme a reação: (17.2) Em solos com baixo teor de ferro, a alta concentração do gás H25, pode r tóxica às plantas. A a doença fisiológica chamada akiochino arroz irrigado, = um exemplo. A ação do Dessuuovibrio pode ser reconhecida pelo odor característico :.o-H25 e pelo escurecimento de solos, limo e águas pelo Fe5. 209 Carlos Alberto Bissani el aI. I lnterações com a atmosfera Ciclo no sistema solo-planta FIGURA 17.1 IUxiviação I I Perdas do Ciclo do enxofre sistema biosfera. solo-planta 17.1.2.2 Reações de oxidação do 5 Nos solos bem drenados, são favorecidas as reações de oxidação, o: predominância de formação de sulfato (50/). Uma oxidação típica é a d elementar por Thiobaci//us thiooxidans, representada pela reação 17.3. Esta bactéria é chemotrófica, aeróbia e tem maior atividade em -- muito baixo (entre 2,0 e 3,5). A oxidação do 5 elementar por Thiobaci//us pode ser utilizada pc= reduzir o pH dos solos bem drenados, conforme a equação 17.3. A adição - 1 kg de 5 elementar neutraliza a alcalinidade de 3 kg de CaC03. Em algu situações, a oxidação dos compostos de 5 pode diminuir muito o pH do so - Em áreas periodicamente invadidas pela água do mar, ocorre a redução d : compostos de 5 durante o período úmido, com estabilização do pH em 6-7. _ estação seca, a oxidação dos compostos reduzidos do 5 com formação _ H2504 pode provocar o abaixamento do pH a 3,5. 17.1.3 Enxofre na atmosfera Estima-se que aproximadamente 225 milhões de toneladas de 5 seja liberadas anualmente para a atmosfera, na forma de gases (H25 e 502) ou :: 50/ (em aerossol, como vapor marinho). Uma parte apreciável deste totz provém das atividades industriais, como a queima de combustíveis (petrólec 210 Fertilidade dos Solos e Manejo da Aduba~ão de Culturas carvão, lenha etc.) e a liberação de produtos sulfurados pelas indústrias de celulose, entre outros (Tabela 17.1). As plantas podem absorver 502 diretamente do ar pelos estômatos; num estudo de casa-de-vegetação foi observado que a alfafa absorveu da atmosfera 73% do 5 necessário [17.2]. Entretanto, o 502 em alta concentração no ar causa a queima das folhas, como pode ser observado nas proximidades de algumas termoelétricas. Uma parte do 5 do ar atinge o solo, principalmente por arraste pela água da chuva. Esta quantidade pode variar desde 1 kgjhajano, em áreas muito afastadas de centros industriais e urbanos, até 100 kgjha/ano em áreas de grande atividade industrial. Na região da grande Porto Alegre foram determinadas quantidades de 5 variáveis de 20 a 50 kgjha na água da chuva em 6 meses [17.3]. Conclui-se, então, que a atmosfera é uma importante contribuinte para o 5 do solo. TABELA17.1 Enxofre liberado anualmente para a atmosfera [17.1] Formas de S Fonte O/o do total Pântanos, oceanos Poluição (indústria de celulose e outros) Vapor marinho Poluição: carvão petróleo siderurgia vulcões ~OTAL Quantidade t x 106 100 3 44 73 51 15 7 5 225 44,4 1) 19,6 32,S 22J 6J 3,1 2,3 100,0 18.1.4 Enxofre no sistema solo-planta Em solos bem drenados de regiões com boa precipitação, a maior parte - 5 (de 75 a 99%) está na forma orgânica, quer em aminoácidos ou - oteínas contendo 5, quer na forma de 504 2, ligado à matéria orgânica. Como : íon 50/ pode ser facilmente lixiviado, principalmente em solosarenosos, _ 5 orgânico determina a capacidade do solo em suprir este nutriente. A proporção entre o N e o 5 nos solos se mantém estável em :: roximadamente 10: 1,3. O teor total de 5 nos solos do R5 varia entre 20 e :27 mg/kg, dependendo da quantidade de matéria orgânica [17.4]. 211 [2 1 OH [21 O /-0+ 50 2- -< ~ "5 /' + OH- + HP 4 /~ Fe OH Fe O O (17.': Carlos Alberto Bissani el aI. Devido à baixa lixiviação, nos solos áridos pode haver acumulaçã; grandes quantidades de sulfatos de Cal Mg, Na e K. Para ser absorvido pelas plantas, o 5 orgânico deve ser mineralizac: microrganismos, à semelhança do que ocorre com o N (Figura 17.1). - processo microbiológico é influenciado pelos fatores que controlam a ati -r- microbiana, como temperatura, umidade, aeração, suprimento de nutri etc. A imobilização temporária do 50/ por microrganismos do solo du a decomposição de resíduos orgânicos com teor de 5 inferior a 0,15% (rela; C:5 acima de 250) também pode ocorrer. A forma predominante de 5 mineral nos solos bem drenados é o 5 sendo este o íon absorvido em maior quantidade pelas plantas. O compostos inorgânicos, como H25 e 502, podem também ser absorvidos pequenas quantidades. O 50/ pode ser adsorvido por alguns constituintes minerais do principalmente por argilas do tipo 1:1 (caulinita) e óxidos de Fe e AI. Es- adsorção diminui com a elevação do pH (equilíbrio 17.4).: 17.1.5 Adubação com enxofre O 50/ adsorvido está em equilíbrio com o 50/ da solução do soic sendo, portanto, disponível para as plantas, pois a força com que é adsorvic: é mais fraca do que no caso do íon fosfato. A adsorção do 504 2 - é benéfica pois reduz as perdas por lixiviação de 50/. A adubação fosfatada diminui 2 adsorção de 50/. Alguns estudos de campo com o objetivo de avaliar a necessidade de adubação com enxofre executados nos estados do R5 e de 5C indicam qUE não houve resposta da soja à adição deste nutriente nos solos PVAc (Camaquã), LVd (Passo Fundo) e LVaf (Erechim) [17.5; 17.6; 17.7]. Nestes casos, o 5 necessário para a nutrição das plantas foi obtido pela mineralizaçãc da matéria orgânica, liberação de 50/ adsorvido e/ou contribuição da atmosfera. Entretanto, em solos do Brasil Central, principalmente na região do 212 Fertilidade dos Solos e Manejo da Aduba~ãode Culturas Cerrado, observa-se freqüentemente a necessidade da adubação com enxofre [17.8]. Embora não tenha sido observada resposta positiva à adição de S nos experimentos de campo conduzidos nos estados do RS e de SC, pode-se esperar um baixo suprimento ou deficiência deste nutriente em uma ou mais das seguintes condições: a) em solos arenosos e/ou com baixa matéria orgânica; b) em solos in~samente cultivados e/ou calcariados por vários anos; c) em solos rfe regiões afastadas de centros industriais ou do mar; d) quando não há adição de S como componente de outros fertilizantes, por vários anos; e, e) em culturas mais exigentes neste nutriente. Levantamento utilizando 949 amostras de solos do estado do RS [17.4], mostrou que somente 8% das mesmas apresentavam teor de S extraído com Ca(H2P04)2(com 500 mg/L de P) inferior a 5 rnq/drn' (Figura 17.2). Estes solos poderão eventualmente mostrar deficiência de S, dependendo do teor na camada subsuperficial do solo. Em geral esta camada apresenta teor de S042- maior que a camada arável, devido ao menor pH e maior teor de argila [17.4]. Vários materiais podem ser utilizados para a adição de enxofre ao solo, seja como fonte específica (por ex.: S elementar e geso) ou como acompanhante de outros nutrientes em diversos fertilizantes (p.ex.: superfosfato simples, sulfato de amônio, ZnS04e CuS04). Na Tabela 17.2 são dados os compostos mais utilizados para o suprimento de S.° gesso agrícola é freqüentemente utilizado para o suprimento de S e Caao solo. Os principais efeitos da adição deste material serão abordados no . em 17.4. 17.2 Cálcio ° cálcio, depois do ferro, é o nutriente mineral encontrado em maior oncentração na maioria dos solos, geralmente em quantidades muito uperiores às necessidades das plantas. Este fato, acrescido da inexistência mecanismo de fixação, torna a deficiência de cálcio muito rara nos solos cultivados, sobretudo naqueles com acidez corrigida. 213 FIGURA17.2 Carlos Alberto Bissani el aI. 35 ,-----------------------------, 30 111 ~ 25.•.. 111 O 20 E ta :a 15 "C ~ 10o 05 Distribuição de freqüência teores de enxofre extraível solos do RS [17.4]. 00 O 5 10 15 20 25 30 SO/- extraído (rng/drn3) TABELA 17.2 Teores mínimos de elementos nos principais compostos utiliza como fontes de 5, Ca e Mg Fontes Fórmula com S Ca Mg N-P,oçK,o Muito solúveis: sulfato de amônio sulfato de potássio sulfato de potássio e magnésio sulfato de magnésio Pouco solúveis: c1oreto de cálcio gesso agrícola óxido de magnésio Insolúveis: kieserita S elementar Materiais orgânicos ------------------------------- o/o --------------------------_ 20 - O - O 24 O - O - 50 18 O - O - 18 22 0-0-0 13 O - O - O 24 O - O - O 13 16 O - O - O O O - O - O 21 - 27 O - O - O 88 - 100 4,5 9 55 16 ---- ------- -- -- -- -- -- --- -- --va riáveis---- -- ----- ---- -- -- -- ---- 17.2.1 Cálcio na planta o cálcio é absorvido pelas plantas na forma de íon Ca2+, send encontrado nas células em compostos orgânicos (oxalatos, citratos, tartaratos 214 Fertilidade dos $olos e Manejo da Aduba~ãode Culturas etc.) OU na forma iônica. É necessário para a formação da lamela média das células e para a absorção de nutrientes, sendo imóvel nas plantas herbáceas. Isto indica que sua deficiência é melhor observada nas partes novas do vegetal, cujo desenvolvimento é prejudicado ou cessa por completo. a crescimento das raízes é também afetado. Por isso, as raízes necessitam do elemento no próprio ambiente de absorção de nutrientes, havendo crescimento reduzido em subsolos deficientes. a teor de Ca de algumas espécies é apresentado no Anexo 3, sendo variável com a planta, a época e a parte amostrada. Em geral é menor que o de K e maior que o de P. 17.2.2 Cálcio no solo Nos solos de regiões com elevada precipitação, o Ca ocorre principalmente na forma trocável, neutralizando as cargas negativas de argilas e da matéria orgânica, e em solução (Capítulo 8). Estas duas formas estão em equilíbrio dinâmico. a Ca trocável é geralmente muito maior do que o Ca na solução, exceto nos solos muito arenosos e com baixo teor de M.a. Na Tabela 17.3 são dados os teores de Ca de alguns solos do estado do RS. Pode-se observar que nos solos muito intemperizados e nos arenosos, onde a CTC é baixa, o teor de Ca é muito reduzido, devido às perdas por lixiviação. a Ca é geralmente o cátion determinado em maior quantidade nas águas de lixiviação. Solos altamente intemperizados da região do cerrado apresentam freqüentemente teores de Ca e de Mg inferiores a 0,1 crnol/orrr'. Pode-se facilmente calcular a quantidade necessária de Ca para uma cultura. Por exemplo, se uma cultura de milho com 10.000 kgjha de matéria seca (6.800 kg de grãos e 3.200 kg de palha) contém em média 0,40% de Ca, serão imobilizados 40 kgjha de Ca. Um solo com 1 cmoVdm3 de Ca2+ (na camada de 0-20 cm de profundidade) possui 400 kgjha de Ca2+. Se todo o Ca imobilizado pelas plantas é retirado da lavoura (como no caso de silagem ·ou eno) este solo teria teoricamente capacidade de suprir Ca2+ por 10 anos. Entretanto, isso não ocorre, porque à medida que a planta absorve o Ca2+ da solução, a reposição pelo Ca2+ trocável é cada vez mais lenta (as carqas negativas devem ser neutralizadas por outro cátion) até o ponto de não aver Ca2+ na solução do solo em quantidade suficiente para o suprimento das ecessidades da planta. Por isso, a percentagem de saturação da CTC com cálcio e o tipo de argilomineral predominante são mais importantes na :apacidade de suprimento de Ca para as plantas que o teor total de Ca no 5010. Assim, as argilas de tipo 2: 1, que retêm os íons mais fortemente (p.ex.: 215 Carlos Alberto Bissani el ai. montmorilonita) exigem uma saturação de Ca de no mínimo70% para su Ca em quantidade suficiente para as plantas, enquanto para a caulinita es::- valor é de 40-50%. TABELA 17.3 Capacidade de troca de cátions e teores de Ca e Mg trocáveis horizonte superficial de alguns solos não cultivados do RS [17.12_ Unidade de mapeamento Classificação CTC Ca2+ Mg2+ -----------------------------cmolc/kg------------------------ Tupanciretã Cruz Alta Passo Fundo São Jerônimo Santa Maria Durox Vacaria Santo Ângelo Estação Ciríaco Vila PVAd LVd LVd PVd Act LVdf LBc LVdf LVdf LVdf MXo 3,7 6,4 10,5 8,5 12,1 13,3 17,0 8,9 18,3 17,7 23,0 0,5 0,9 1,0 1,6 3,4 1,4 1,6 1,7 6,4 10,9 15,0 0,4 0,8 0,6 1,3 0,8 0,8 1,0 1,0 3,0 2,0 3,1 Nos solos alcalinos, a lixiviação de bases é muito pequena e geralmen - há acumulação de sais de Ca pouco solúveis, como carbonatos e sulfatos. P - isso, em solos bem manejados tecnicamente a deficiência de Ca2+ diflcilments ocorre. 17.2.3 Suprimento de Ca Na maior parte dos solos ácidos há necessidade de adição de calcárí para a correção da acidez e/ou neutralização do AI3+. Esta prática eleva o teo- de Ca do solo. Assim, 1 tonelada de calcário dolomítico (relação 2: 1 e Ca:Mg) supre, após a dissolução completa, aproximadamente 290 kg de Ca2+ lha (suficiente para 7 anos, nas condições do cálculo anterior). Se houver necessidade de adicionar Ca ao solo, sem alteração no pl-' usa-se o gesso agrícola (Tabela 17.2) ou fosfatos de cálcio (ver item 17.4). 216 Fertilidade dos Solos e Manejo da Adubação de Culturas 17.3 Magnésio As reações químicas do Mg no solo são semelhantes às do Ca. Algumas argilas de tipo 2: 1 possuem Mg estrutural, que não é disponível para as plantas. 17.3.1 Magnésio na planta o Mg é absorvido pelas plantas na forma de íon Mg2+. Constitui o núcleo central da molécula de clorofila. Sua deficiência pode ser geralmente observada pelo amarelecimento das folhas. Como é móvel na planta, as folhas velhas apresentam sintomas mais pronunciados. Em algumas plantas, principalmente as de folha larga, como fumo, citrus, abacateiro, brássicas, milho etc., estes sintomas mostram amarelecimento entre as nervuras das folhas. O teor de Mg de algumas espécies é dado no Anexo 3. 17.3.2 Magnésio no solo O Mg tem origem em minerais primários, como dolomita, biotita, clorlta e olivina, presentes em diversos tipos de rochas. Ao contrário do Ca, faz parte da estrutura de -argilominerais como ilita, vermiculita e montmorilonita. À semelhança do Ca, o Mg no solo está principalmente na forma de Mg rocável e Mg em solução, que estão em equilíbrio dinâmico. O teor de Mg é geralmente menor que o de Ca (Tabela 17.3), devido à maior lixiviação de Mg 10 solo (1 cmol./dm" de Mg equivale a 240 kq/ha na camada de 0-20 cm de profundidade) . As mesmas considerações (referentes à velocidade de suprimento, % de saturação da CTC por Mg e tipo de argilas) feitas em relação ao Ca se aplicam 30 Mg, porém os valores de % de saturação mínimos são inferiores. Devido ao menor teor de Mg no solo e à sua maior facilidade de xívíação, a deficiência de Mg pode ser observada mais freqüentemente que 3 deficiência de Ca, com o manejo inadequado de solos pobres, de baixa CTC, em situações como: a) adição de calcário calcítico, com baixo teor de Mg; e, b) adição de doses excessivas de K. O aumento da disponibilidade de K diminui a absorção de Mg pelas Jantas. O desequilibrio entre o K e Mg no solo (alta relação K:Mg), acrescido : fato que as gramíneas tendem a absorver mais cátions monovalentes do 217 Carlos Alberto Bissani el aI. que divalentes, pode provocar no gado o distúrbio nutricional conhecido ;: hipomagnesia, quando predominam as gramíneas na pastagem. 17.3.3 Suprimento de Mg A adição de calcário dolomítico é a forma mais prática e econômica suprir Mg ao solo. Os teores de Ca e Mg do calcário podem ser muito variá z: (ver item 12.1.5). Se houver necessidade de adicionar Mg ao solo sem alteração no - pode-se utilizar sulfato de magnésio ou o sulfato de potássio e magnés (Tabela 17.2). 17.4 Utilização de gesso no solo °gesso agrícola (CaS04.2H20) é um sub-produto da fabricação de áci _ fosfórico, utilizado para a produção de adubos fosfatados solúves (superfosfato triplo e fosfato de amônio). Este produto é também denomina - de fosfogesso por conter fosfato residual (0,5 a 0,8% de P20S)da reação - H3P04com a apatita. É uma boa fonte de cálcio e enxofre para as plantas. S = solubilidade é baixa (2,5 mg/L de solução). A hidrólise do gesso na solução do solo ocorre conforme a equação: (17.: Íons Ca2+e 50/ são, portanto, liberados na solução do solo. Estes iors podem ser lixiviados pela água de percolação, deslocando-se para camadas mais profundas do perfil do solo. A presença do ânion 50/ favorece :: lixiviação do Ca2+e de outros cátions (K+ e Mg2+). A velocidade de lixiviação de Ca2+ no solo é, portanto, maior com :: aplicação de gesso do que com a adição de calcário. Na calagem, o âníor liberado (OH') é neutralizado pelo W ou pelo A13+ do solo (reação 8.6). Devido à maior lixiviação do Ca no solo pela aplicação de gesso, este produto é às vezes erroneamente denominado de corretivo em profundidade°gesso, entretanto, não é corretivo da acidez do solo, pois não libera OH'. A percentagem de saturação da CTCpor Ca é também aumentada, corr redução da toxidez de A13+ para as plantas. Este fato tem maior irnportância em solos do cerrado, que apresentam baixos teores de Ca e de Mg, alta saturação de CTC por A13+ e baixa necessidade de calagem. 218 Fertilidade dos $olos e Maneio da Aduba~ão de Culturas A aplicação de gesso pode ser recomendada quando o teor de Ca2+ trocável é ~ 0,5 crnol./drn? o de A13+trocável ~ 0,5 cmol.rdrrr' e a saturação por A13+> 40%. As quantidades a aplicar podem variar de 2, 4 e 6 t/ha para solos arenosos, francos e argilosos, respectivamente [17.9]. Em diversos experimentos realizados nos estados do R5 e de 5C não foram obtidas respostas positivas das plantas à aplicação de gesso [17.10]. Há indícios, entretanto, que a aplicação de gesso pode ser benéfica para a cultura da macieira, que requer maiores quantidades de Ca em profundidade. Em experimento de longo prazo foi tambem constatado efeito benéfico da aplicação de gesso no milho, em anos com baixa precipitação [17.13]. 17.5 Métodos de avaliação da disponibilidade Nos estados do RSe de SCé utilizada a solução de Ca(H2P04)2 (contendo 500 mq/L de P) para extrair o 5 disponível do solo. Esta solução extrai parte do S adsorvido às argilas e à matéria orgânica. No processo de extração, o H2P04- desloca o 50/ para a solução, sendo este determinado por turbidimetria. 5010s com teores de enxofre superiores a 10 mq/drn> para leguminosas e 5 mq/drn> para outras culturas são considerados bem supridos deste nutriente [17.11]. A disponibilidade de Ca e de Mg é geralmente avaliada pela determinação dos teores trocáveis, obtidos pela extração do solo com uma solução de KCI 1 mol/L (Capítulo 6). 17.6 Você sabia? 17.6.1 A "chuva ácida" A água da chuva em geral apresenta pH entre 5,5 e 6/51 sendo portanto ácida. Este fato é devido à combinação com CO2 do ar (H20 + CO2 - HC03- + "), A verdadeira "chuva ácida" (pH<5/O) é devida à presença de 502 no ar 'liberado em grande quantidade por usinas terrnoelétricas, por exemplo) que JOr oxidação fotoquímica pode formar H2504 no ar ou por dissolução do 502 o vapor de água. No solo, o 502 pode ser oxidado a H2504 (reação 17.3). 219 Carlos Alberto Bissani el ai. 17.6.2 °"ouro-de-tolo" É um mineral (FeS) de cor amarela, que normalmente é encontra; como impureza no carvão mineral. Na queima do carvão libera 502' provoca a chuva ácida. ° descarte dos rejeitos de carvão pode liberar H (reação 17.3) e conseqüente acidificação de solos e águas com a solubiliz de metais pesados. 220