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Caçador de Estrelas:
Homenagem a Rubens de Azevedo
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Caçador de Estrelas:
Homenagem a Rubens de Azevedo
Organizadores
F. Caruso, M. Cavalcante & H. Moreira
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* * * * * * incluir ficha catalográfica
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Agora, na última curva do caminho de minha vida,
quando me preparo para ultrapassar o Grande Portão,
espero ter cumprido aquilo a que me destinei.
Rubens de Azevedo
Memórias de um Caçador de Estrelas.
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Sumário
Prefácio 1
Autores 3
Resumos 5
Parte II 9
1 A astronomia dos antigos 9
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.2 Astronomia pré-histórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.3 Astronomia mesopotâmica, egípcia, grega, chinesa e meso-america-
na (maia/asteca) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
1.4 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
1.5 Referências Bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
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Prefácio
Incluir prefácio...
Os Editores
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Autores
Antônio Araújo Sobrinho
Associação Norte-Riograndense de Astronomia (ANRA), Natal, RN.
Francisco Caruso
Pesquisador titular do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e Professor
associado aposentado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Membro titular da Academia Brasileira de Filosofia e do Pen Clube do Brasil.
Heliomárzio Rodrigues Moreira
Observatório Ferruccio Ginelli – Seara da Ciência (UFC). Grupo de Estudo e
Pesquisa em Astronomia e Cosmologia (GEPAC). Professor de Física e Astronomia
nas escolas de Ensino Fundamental e Médio de Fortaleza – Ceará. Mestre em
Ensino de Física pela Universidade Federal do Ceará. Licenciado em Física pelo
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará.
José A. Helayël-Neto
Pesquisador titular do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF).
Leonardo P.R. Ospedal
Professor Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS).
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Marcos Cesar Danhoni Neves
Professor Titular do Departamento de Física da Universidade Estadual de Maringá
(UEM).
Oscar T. Matsuura
Pesquisador aposentado do IAG/USP. Professor Aposentado do IAG/USP. Pesqui-
sador Colaborador do Museu de Astronomia (MAST/MCTI).
Ulisses Barres de Almeida
Pesquisador Associado do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF).
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Resumos
Rubens de Azevedo, o Amigo da Lua
O Centenário de Rubens de Azevedo, o Caçador de Estrelas – expressão vinda de
seus artigos publicados no boletim Zodíaco da Sociedade Brasileira dos Amigos
da Astronomia, que também deu origem a um livro autobiográfico, o Memórias
de um Caçador de Estrelas, traz à lume a importância do pioneirismo desse
educador na divulgação e no ensino da Astronomia no Brasil que não pode passar
desapercebida às novas gerações. Nesta homenagem descreve-se a trajetória desse
que também foi o amigo da Lua, sua paixão no início de jornada, contada em
alguns momentos que se destacam desde a infância ao falecimento em 2008,
com base em textos, autobiografia, vídeos, depoimentos e na memória de quem
conviveu com este grande comunicador da Astronomia no Brasil. Rubens de
Azevedo, por seu dinamismo, foi um divulgador incansável da ciência do céu,
seu encanto desde a tenra juventude, e um verdadeiro amigo da Lua, da qual era
profundo conhecedor, tendo inspirado crianças e jovens que, ao lerem seus artigos
e livros inspiraram-se a seguir nos caminhos de Urânia.
Heliomárzio Rodrigues Moreira
Homenagem a Rubens de Azevedo
Falar sobre Rubens de Azevedo é sentir a alegria pela fonte de inspiração que
ele representa. É sentir as boas recordações do tempo em que eu me deliciava
ao folhear alguns de seus livros, na biblioteca Câmara Cascudo, aqui na cidade
de Natal - RN. É recordar que ele é um dos fundadores da ANRA – Associação
Norte-Riograndense de Astronomia, da qual faço parte desde 1994. É a alegria de
pesquisar e ler sobre seu legado, através de buscas na internet. É recordar a história
da Astronomia do Brasil na leitura do livro cujo organizador, Oscar Matsuura, tão
bem nos presenteou com seus escritos e de outros colegas de nosso país. É recordar
de nossa visita a sua residência em Fortaleza, no ano de 2005, quando estive
participando da Reunião anual da SBPC. Uma vez aceitado o convite do colega
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Mairton, me propus a escrever acerca do professor Rubens em forma de poemas.
O primeiro deles: O ano de mil novecentos e vinte e um, não só homenageio a
Rubens como também a meu pai (José Severino de Araújo, que nasceu no mesmo
ano). No tema seguinte faço referência a seu livro: Um caçador de estrelas. Dou
sequência com “Rubens de Azevedo, és um mensageiro do céu”, pelas mensagens
que ele deixou para as gerações presentes e futuras na busca e harmonia do
conhecimento do universo. Depois, faço referencia a sua relação afetiva com sua
esposa, Jandira Azevedo, tratando esta, como a estrela que irradiava a energia
que fazia brilhar sua existência. Na sequência realço concluo com “as estrelas
brilham no céu simbolizando a alegria, uma lembrança grande e memorável,
olhando para as estrelas e passageiros da vida”. Em cada texto procuro enfatizar
a forma grandiosa, majestosa e simples com que Rubens tratou cada pessoa que o
conheceu e deixou como lembrança a alegria de visualizar o firmamento.
Antônio Araújo Sobrinho
A astronomia dos antigos
O presente texto busca varrer mais de sete mil anos de história da Astronomia
a olho nu: da época dos povos originários em diferentes regiões do mundo até
as elaboradas construções e invenções oriundas da Mesopotâmia, Egito Antigo,
Grécia Antiga e Meso-América, além das pinturas rupestres, petróglifos e das
imensas linhas entre as montanhas de Nasca. A Pedra do Ingá e outros sítios
arqueológicos no Brasil também serão explorados neste texto.
Marcos Cesar Danhoni Neves
Galileu Galilei: um novo olhar sobre o céu
Neste trabalho, apresenta-se uma tentativa (incompleta) de compreender a
contribuição de Galileu no âmbito da História das Ideias, relacionando-a com
outros fazeres e saberes, bem como o pensamento científico e filosófico daquela
época.
Francisco Caruso
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Cometas
Dos corpos menores do Sistema Solar, os cometas ficaram conhecidos muito
antes que os asteroides. Por aparecerem sem avisar, com vulto de fantasma e
ocupando quase todo o céu, eles têm uma longa história que remonta aos mitos
cósmicos. Mas este texto começa apresentando as primeiras ideias científicas
sobre os cometas. Como, historicamente, a Gravitação Universal de Newton e as
observações da época propiciaram, primeiro, o estudo das órbitas dos cometas,
esse tópico é apresentado primeiro. Uma análise estatística das órbitas conclui
que há dois reservatórios de cometas no Sistema Solar: a Nuvem de Oort e o
Cinturão de Kuiper. Depois é apresentada a morfologia dos cometas, quando eles
se aproximam do Sol. A antiga questão do apontamento da cauda dos cometas para
a direção oposta à do Sol, é elucidada. Com base na espectroscopia, nova forma de
observar os astros, é discutida a composição química dos cometas. Isso permitiu
desvendar a natureza deles: seu núcleo físico, de apenas alguns quilômetros, é uma
“bola de gelo sujo”, mistura de matéria volátil congelada com fragmentos rochosos
ou metálicos. A fragilidade desse núcleo, abordada a seguir, dá lugar à fraturade
cometas, tendo como causa principal a aproximação a corpos de grande massa
(p. ex., Júpiter, Sol), o que induz no cometa violentas forças desintegradoras de
maré. Ao discutir a probabilidade de colisão de cometas com a Terra, se falará de
estrelas cadentes, chuvas de meteoros, meteoritos, assim como de crateras cavadas
por impactos. Para finalizar, se perguntará qual é a importância dos cometas para
a ciência e será comunicada a notícia da recente descoberta, pela primeira vez, de
corpos menores que não são do Sistema Solar, mas provêm de algum outro sistema
estelar da Via Láctea.
Oscar T. Matsuura
O Universo Magnético e os 100 anos do magnetismo do
elétron
A nossa contribuição ao “VI Encontro do Micro- ao Macrocosmo” focaliza os
aspectos e os desafios mais recentes referentes às qualidades magnéticas de nosso
Universo, seja na escala subnuclear seja nas escalas astrofísica e cosmológica.
Procuramos enfatizar os trabalhos que relatam recentes descobertas — feitas entre
2019 e 2021 – e estudos referentes ao magnetismo de estruturas astronômicas,
astrofísicas e cosmológicas. De forma complementar, apresentamos algumas
investigações que dizem respeito ao magnetismo elementar. Efetuamos uma breve
discussão da busca do monopolo magnético e suas principais consequências.
Em seguida, procuramos discutir os resultados recentes dos momentos de
dipolo magnético dos léptons, com ênfase ao caso do múon, que é, atualmente,
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considerado um laboratório muito promissor para a detecção de possíveis efeitos
que ultrapassam as fronteiras do Modelo-Padrão das Interações Fundamentais e
Partículas Elementares. Tentamos destacar como o magnetismo vem se tornando
uma via de compreensão do Universo nas mais amplas escalas, desde a attoscópica
aos megaparsecs.
José A. Helayël-Neto & Leonardo P.R. Ospedal
O Projeto SWGO - O Observatório de Raios Gama
Ultra-Energéticos do Hemisfério Sul
Detectar raios-gama de altíssimas energias, e com isso estudar os fenômenos
mais extremos do Universo é um desafio técnico. De maneira crescente, redes
cada vez maiores e mais sofisticadas de detectores estão sendo instaladas ao
redor do Planeta, explorando uma gama de técnicas observacionais e diferentes
tecnologias. Eles fazem uso da atmosfera terrestre como um eficiente meio de
detecção deste tipo de radiação ultra-energética. As grandes áreas cobertas pelos
observatórios, que podem ser da ordem de km2, são necessárias para compensar
os baixíssimos fluxos de radiação nas altas energias. No período de cerca de
3 décadas desde que observações nesta área da astronomia começaram, várias
centenas de fontes foram detectadas, algumas com energias de emissão que
chegam até peta-elétron-volts. A natureza destas fontes astrofísicas já era esperada,
e inclui, por exemplo, estrelas nas fases finais de sua vida. ou as chamadas Galáxias
Ativas, mas o número, a diversidade, e a ubiquidade dos objetos emissores de
radiação gama de altíssima energia descobertos vai muito além do que se previa.
Estuda-los em detalhe é fundamental para traçar a origem dos raios-cósmicos
— a meta principal da astrofísica de partículas —, mas tem se mostrado uma
tarefa difícil. Apesar de muito progresso recente, ainda há um longo caminho a
ser percorrido neste campo. E os próximos passos dessa busca necessitarão de
grandes esforços internacionais conjuntos e, como veremos nesta contribuição, o
desenvolvimento de novos projetos científicos de grande escala.
Ulisses Barres de Almeida
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A astronomia dos antigos
Marcos Cesar Danhoni Neves
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1.1 Introdução
A Astronomia é a mais antiga das ciências. Ligada inicialmente a uma necessidade
de sobrevivência e de estabelecimentos de nexos causais: ciclo dia-noite,
estações do ano, marés etc., assim como a necessidade de explicações míticas
acerca da natureza e do Universo, encontramos, em diferentes culturas e em
diferentes locais no espaço-tempo de nosso planeta, registros de fenômenos
astronômicos, mediante inscrições rupestres, petróglifos, tabletes de argila,
papirus, instrumentos os mais variados inventados e utilizados para diferentes fins
de contagem do tempo e localização espacial.
A ideia aqui é, pois, apresentar alguns dos instrumentos que expus durante
a live do dia 28 de outubro de 2021 para o quarto dia de encontro do VI From
Micro to MacroCosmos – o Centenário do Caçador de Estrelas. O título da live
específica foi A Astronomia dos Antigos ([1], de 32:36 à 1:34:02). O conjunto de
instrumentos apresentados naquele momento sintetizava a busca da humanidade
na compreensão dos “mecanismos” derivados da observação do céu diurno e
noturno e a construção de marcadores lunares, solares e estelares que acabaram
por permitir a percepção correta da forma esférica da Terra, suas dimensões,
formas de orientação na planeta, a modelização do Universo observado antes da
Astronomia ótica de Galileo Galilei, a previsão do início e fim das estações, além dos
aspectos místicos que marcaram cada uma das civilizações que engendraram estes
mecanismos e que nos contam a leitura de mundo de povos que nos precederam
e que forjaram nossa Astronomia e Cosmologia contemporâneas.
Importante salientar que muitos dos instrumentos aqui relatados são frutos da
Exposição/Mostra Os 400 anos da invenção do telescópio e seus desdobramentos
na Arte [2] inaugurada em 2009, durante a realização do I Workshop Paranaense
de Arte-Ciência. A exposição traçava um percurso histórico da Astronomia que
ia dos povos anteriores à escrita até a Astronomia/Cosmologia contemporâneas
(Figura 3.1). Na medida do possível apresentaremos aqui os instrumentos originais
e as cópias que reconstruímos tanto para a exposição quanto para aulas didáticas.
Um pouco do trabalho de arqueoastronomia que realizei (Usina S. Jorge, Guaterlá,
Stonehenge, Pedra do Ingá, Nasca) será brevemente exposto aqui. Este trabalho
contou com o apoio de dezenas de pesquisadores ligados à Física, Astronomia
e Artes Visuais. Trata-se, pois, de uma síntese pluri, inter e transdisciplinar.
Agradecimentos especiais aos professores-pesquisadores Carlos Alfredo Argüello
(ex-Diretor do Instituto de Física “Gleb Wataghin” – UNICAMP, Coordenador
do Núcleo Interdisciplinar para a Melhoria do Ensino de Ciências – NIMEC –
in memoriam), Anderson Trogello (construtor de instrumentos astronômicos e
Mestre em Ensino de Ciências e Tecnologia pela UTPFR-PG), Wilson Guerra
(construtor de uma réplica da máquina de Antikythera e Mestre em Educação para
a Ciência e a Matemática pela UEM), Matilde Vicentini (Coordenadora do LDS
– Laboratorio di Didattica delle Scienze, Dipartimento di Fisica “Enrico Fermi”,
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Università LA SAPIENZA di Roma, Itália – in memoriam), Paolo Galluzzi (Diretor
do Museo Galileo, Florença, Itália) e Josie Agatha Parrilha da Silva (ex-Chefe do
Departamento de Artes Visuais – DEARTES-UEPG e Coordenadora do Programa
de Pós-Graduação de Ensino de Ciências e Educação Matemática).
Figura 1.1: Exposição Os 400 anos da invenção do telescópio e seus desdobramentos na Arte
(fonte: acervo do autor – GALILEO 400 ANOS).
Importante salientar que todos os lugares aqui referenciados foram visitados
e os instrumentos astronômicos característicos foram observados/analisados
(e muitos reconstruídos) in situ num verdadeiro trabalho de arqueologia das
imagens.
1.2 Astronomia pré-histórica
A mais antiga imagem de estrelas de que temos notícia é a reprodução da conste-
lação de Orion representada numa lasca de presa de mamute (Figura 3.2), feita a
cerca de 32 mil anos. Essa lasca foi encontrada em uma caverna no Vale de Ach, na
região alemã do Danúbio.
Outro grande registro astronômico pré-histórico é o Disco de Nebra (Figura 3.3
a,b), encontrado em 1999, em Mittelberg, próximo à cidade de Nebra na Alemanha.
É a mais antiga representação do céu, originário da Idade doBronze. O disco é
feito de bronze com aplicações em ouro. Nele estão representados fenômenos
astronômicos envolvendo basicamente a localização de estrelas (especialmente
as Plêiades), a lunação e o horizonte de estação a estação. A Figura 3.3c mostra a
réplica produzida para a exposição supracitada. Suspeita-se que o disco tenha sido
criado entre 1 700 a.C. a 2 100 a.C. e hoje ele se encontra no Museu Pré-Histórico
de Sachsen-Anhalt em Halle, na Alemanha. Nas Figuras 3.3a, 3.3b e 3.3c estão
representados os detalhes do disco e a forma de uso [3, 4, 5].
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Figura 1.2: Lasca de presa de mamute encontrada numa caverna do Vale do Ach, Danúbio,
Alemanha (original e cópia) (Fonte: acervo do autor).
Figura 1.3: Disco de Nebra (original, esquema e cópia) (Fontes: COPELAND, 2022 e acervo
do autor).
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Figura 1.4: Como usar o disco de Nebra Segundo as datas de sostícios e equinócios (Fonte:
NEBRA, 2022).
O primeiro observatório astronômico de que se tem notícia foi construído pelos
Celtas na Inglaterra entre 3 000 a.C. a 1 500 a.C., conhecido como o monumento de
Stonehenge (Figura 3.5).
Figura 1.5: Monumento de Stonehenge (fotografia do local e maquete) (Fonte: acervo do
autor).
O Monumento de Stonehenge é um monumento também construído na Idade
do Bronze, localizado na planície de Salisbury, no sul da Inglaterra. Ele é formado
por círculos concêntricos de pedras que pesam em média 26 toneladas cada uma.
A avenida principal que parte do centro do monumento aponta para o local no
horizonte em que o Sol nasce no dia mais longo do verão (solstício de verão).
No Brasil, um dos lugares mais interessantes para se visitar (com visita pré-
agendada) é a fazenda “Abrigo Usina S. Jorge”, perto da cidade paranaense de Ponta
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Grossa (Figuras 3.6a e 6b) [6]
Figura 1.6: Localização de zonas de registros de pinturas rupestres e petróglifos (U. São
Jorge e B. Padre, em Ponta Grossa-PR). (mapa (a) – SILVA et al., 2007; e autor, (b) (acervo
do autor)).
Este sítio arqueológico possui inúmeras pinturas rupestres dos habitantes
originais do Brasil. São muito frequentes pinturas de animais, especialmente aves
e cervídeos (Figuras 3.7 e 3.8, cervo e emas, respectivamente). As Figuras 3.7 e 3.8
mostram o estado atual das pinturas que hoje sofrem com o vandalismo intenso.
Para escopo deste trabalho foi elaborado uma espécie de restauração digital para
mostrar como a parede se apresentava originalmente com os signos rupestres.
Na fazenda Abrigo Usina São Jorge foi encontrado numa das pedras distantes da
principal que contém a maioria dos signos rupestres, um petróglifo em forma de
lua crescente. Pode ser uma formação natural da própria rocha, mas no Canyon
do Guartelá (próxima a cidade de Tibagi-PR — Figuras 3.9, 3.10 e 3.11), também
foi encontrado um petróglifo parecido com a Lua crescente próximo a um signo
rupestre que se assemelha a uma representação solar (mas que pode ser também a
de uma tartaruga – Figura 3.12). Porém, as duas representações, Sol e Lua, parecem
nos dizer muito sobre a necessidade de se prever os ciclos dia e noite e as estações
nos primórdios da humanidade brasileira e na construção de uma representação
de mundo adaptada às contingências impostas pela Natureza e pela sobrevivência
dos povos originários no Brasil
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Figura 1.7: Cervídeo em pintura rupestre no Abrigo Usina São Jorge, Ponta Grossa-PR
(Fonte: acervo do autor).
Figura 1.8: Duas pinturas rupestres de emas no Abrigo Usina São Jorge vandalizadas
(à esquerda) e parte da pintura restaurada digitalmente pelo autor (Fonte: acervo do
autor).
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Figura 1.9: Vista do Canyon Guaterlá, próximo a cidade de Tibagi-PR (Fonte: acervo da
Profa. Josie Agatha Parrilha da Silva).
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Figura 1.10: Sumidouro em riacho no riacho no Canyon Guartelá (Fonte: acervo da
Profa. Josie Agatha Parrilha da Silva).
Figura 1.11: Detalhe de rocha e parede com inscrição rupestre (semi Lua?) (Fonte: acervo
da Profa. Josie Agatha Parrilha da Silva).
Outro sítio arqueológico muito interessante para a arqueoastronomia é a Pedra
do Ingá, na Paraíba (Figura 3.13). Durante visita ao local é notável o grau de
elaboração dos petróglifos que marcam as rochas (Figuras 3.14 e 3.15). Num dos
paredões estão dispostos centenas de signos que têm a ver com a fauna e flora
local e outros pontos que nos convidam a uma reflexão sobre a contagem dos dias
do ano e das semanas (Figura 3.16).
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Figura 1.12: Inscrições rupestres e petróglifo de sol e Lua no Canyon de Guartelá (Fonte:
acervo do autor).
Figura 1.13: Sobre a Pedra do Ingá (Fonte: acervo do autor).
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Figura 1.14: Estudos in loco das inscrições em petróglifos na Pedra do Ingá-Paraíba
(Fonte: acervo do autor).
Notável é a presença de três estrelas que nos remete imediatamente à mais
característica das constelações: “As Três Marias”, ou as estrelas do cinturão da
Constelação de Órion (Figura 3.17). Existe também um petróglifo do Sol na parte
superior da pedra após a grande quantidade de signos na parede principal.
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Figura 1.15: Visão em perspectiva da Pedra do Ingá (Fonte: acervo do autor).
Figura 1.16: Provável trânsito do Sol no horizonte (ano solar) e meses de 30 dias (Fonte:
acervo do autor).
Na Figura 3.18 estão sublinhados três representações icônicas: uma espiral
(recorrente em muitas culturas dos povos originários, em especial, nas linhas de
Nasca, que serão exploradas mais adiante), uma meia Lua e uma estrela.
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Figura 1.17: Representação provável das estrelas do Cinturão de Órion — Três Marias
(Fonte: acervo do autor).
Figura 1.18: Além dos detalhes envolvendo figuras esquematizadas de plantas, animais e
seres humanos, vê-se nos detalhes uma estrela, uma espiral e uma meia lua. As figuras
em espirais foram vistas também nas linhas de Nasca, Peru. E ali podiam ser tanto uma
representação de alguma constelação como, também, poços de água cavados no solo
desértico (Fonte: acervo do autor).
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Figura 1.19: Na ilustração acima um gráfico ascensão reta X declinação evidenciando
a linha zodiacal (eclíptica). Abaixo, foto de longa exposição obtida no local do sítio
arqueológico e pertencente ao acervo do Museu da Pedra do Ingá (Fonte do gráfico:
[8]).
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A espiral pode representar o movimento das águas, similares ao movimento do
próprio Cosmos, com seus ciclos infindáveis do dia-noite e das estações do ano.
Sobre as águas, temos o sumidouro no riacho do Canyon Guartelá. Porém, numa
região do semi-árido brasileiro, provavelmente, tinham o mesmo significado das
linhas de Nasca no Peru: a busca de olhos d’água para saciar a sede de homens,
mulheres, crianças e animais das comunidades humanas originárias.
Nesta comunhão Céu-Terra, não é temerário levantar a hipótese de que as
grandes inscrições petróglifas na Pedra do Ingá (já visitada e representada em
esboços pelo artista da Missão Francesa, Debret) representem especialmente
as constelações zodiacais, principalmente, que se espalham pela eclíptica [7]
(Figura 3.17).
A América Latina está repleta de sítios arqueológicos, incluindo figuras colossais,
dedicados à Astronomia. Dois deles são dignos de nota para o escopo deste
trabalho: Nasca no Peru e as Pirâmides do Sol, da Lua e de Cholula no México.
As figuras 3.20 e 3.21, que se encontram no saguão do aeroporto da cidade
Nasca [9], ilustram as várias representações vistas somente em altitude das linhas
enigmáticas dessa região desértica peruana.
Figura 1.20: Mapa das linhas de Nasca presente no saguão do aeroporto da cidade home-
nageando MariaReiche, a grande estudiosa e curadora do imenso sítio arqueológico
(Fonte: acervo do autor).
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Figura 1.21: Mapa das linhas de Nasca exposto no aeroporto local (Fonte: acervo do
autor).
As figuras 3.22 que se apresentam a seguir, mostram as imagens conseguidas
em um dos sobrevôos que realizei sobre as linhas, com fotos das representações
da árvore, da espiral e do colibri.
Figura 1.22: Sobrevôo sobre as linhas de Nasca, mostrando as representações: (a) árvore;
(b) espiral; (c) colibri (Fonte: acervo do autor).
Claramente, tal qual o que realizaram os egípcios antigos, estas representações
gigantescas poderiam se tratar de um imenso mapa celeste e a celebração de fatos
da Natureza e das necessidades de sobrevivência dos povos que as realizaram.
A espiral parece estar claramente relacionada à abertura de poços relativamente
profundos (Figura 3.23) em busca da preciosa água naquele local tão desértico e
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inóspito.
Figura 1.23: Poços (olhos d’água) escavados pela população originária de Nasca (Fonte:
acervo do autor).
1.3 Astronomia mesopotâmica, egípcia, grega, chinesa e
meso-americana (maia/asteca)
As origens da Astronomia ocidental podem ser encontradas na Mesopotâmia,
onde viveram os sumérios, babilônios e assírios. Eles criaram a arte da observação
astronômica científica. Para eles, o Sol se movia pelo céu durante o dia, e à
noite, sob a Terra, o mesmo comportamento era atribuído à Lua. Ao discutirem
as fases da Lua foram bastante cuidadosos para relacioná-las à posição do Sol e,
assim, deduziram que o brilho da Lua era um reflexo da luz do Sol. Dedicavam-
se às observações do céu e estudavam também o movimento dos planetas,
notando que estes corpos celestes descreviam órbitas próximas da eclíptica.
Demonstravam grande interesse pelo movimento de Júpiter [10]. Os Sumérios
dividiram inicialmente o ano em 360 dias, que estava vinculado a um calendário
lunar em que o ano teria 12 meses. Foram os caldeus que introduziram a astrologia,
tal como ela é praticada hoje, mas notoriamente como pseudociência (que só
seria abandonada depois dos dois últimos grandes astrônomos que também se
dedicavam à astrologia: Johannes Kepler e Galileo Galilei) [11].
Pelo fato de terem sido os povos da Mesopotâmia responsáveis pelo desen-
volvimento da escrita cuneiforme, isso possibilitou que fossem registradas suas
observações astronômicas em tábuas de barro: os primeiros registros sobre o céu
que se tem notícia foram feitos dessa forma.
A Figura 3.24 mostra um diário astronômico babilônico, em tábua de barro, no
qual foram registradas as observações da passagem do cometa Halley entre os dias
22 e 28 de setembro do ano 164 a.C.
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Figura 1.24: Diário Astronômico babilônico (original e cópia) (Fonte: acervo do autor).
A Figura 3.25 ilustra o Mul.Apin, um conjunto de três tábuas de argila com
escrita cuneiforme, que resume a Astronomia mesopotâmia do primeiro milênio
a.C. Dezenas de tábuas desse tipo foram descobertas, mas com poucas variações
no texto. As tábuas são datadas do século VII a.C. ao III a.C.
Figura 1.25: O Mul.Apin (original e cópia) (Fonte: acervo do autor).
Outro objeto da cultura mesopotâmica é o Kudurru (Figura 3.24), ou pedra de
fronteira. Era um tipo de pedra utilizada para registros na antiga Mesopotâmia,
inclusive registros astronômicos (datada em torno de 110 a.C.). Nela podem ser
vistas incisões que representam uma longa serpente (talvez representando a Via
Láctea), os signos do zodíaco e a lunação.
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Figura 1.26: Kudurru original e cópia (Fonte: acervo do autor).
Na parte superior da pedra (Figura 3.26) é possível ver os ícones para o Sol, a Lua
e Vênus. No centro estão representadas as constelações de Escorpião e Leão, no
lado esquerdo superior se encontra uma serpente. Outros símbolos representam
deuses associados aos cinco planetas.
Além da civilização sumérica, uma outra florescia entre a dinastia de soberanos
ao longo das margens do rio Nilo: a civilização egípcia, que perduraria 5 000 anos
com uma estrutura social, econômica, mítica ímpar e que deixaria suas marcas na
civilização helênica e em toda a Europa ao longo dos séculos que se seguiriam.
De Tebas a Memphis e Alexandria, a união do reino do Alto e do Baixo Egito,
criou uma civilização ímpar baseado numa crença politeísta, mas, sobretudo,
na compreensão dos fenômenos celestes que definiam o curso do que ocorria
na Terra. O registro sucessivo do nascimento helíaco da estrela Sothis (Sírius),
os escribas, a orientação dos monumentos funerários (mastabas, pirâmides,
sepulturas monumentais no Vale dos Reis e das Rainhas etc.), a medicina, elevou
os antigos egípcios a uma sociedade bastante complexa e longeva.
A disposição das três grandes pirâmides do complexo de Gizé (Kheops,
Khephren e Micherinos) e sua proximidade com as margens do rio Nilo nada mais
são que a representação do Céu na Terra, simulando as estrelas do Cinturão de
Órion, e o Nilo, a Via Láctea (Figura 3.27).
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Figura 1.27: As três pirâmides do complexo de Gizé e a representação do Céu na Terra
(Fonte: [10]).
Toda a explicação do mundo egípcio repousa num panteão de deuses, mas
de onde sobressai a deusa Nut, ou deusa da noite, como ilustra a Figura 3.28,
mostrando-a cobrindo o céu estrelado (uma representação da Via Láctea?) e o
trânsito do sol no interior de seu corpo, ilustrando o ciclo dia-noite.
Figura 1.28: Cópia de papiro com a deusa NUT, a deusa da noite. Cópia adquirida em
Khan-el-Khalili, Cairo, Egito (Fonte: acervo do autor).
O planisfério ou horóscopo de Dendera [12], descoberto durante a invasão
napoleônica ao Egito, foi estudado e avaliado por Jospeh Fourier, que o havia
datado erroneamente (cerca de 2 500 a.C.). Já Champolion, na mesma campanha
napoleônica, acreditava que o planisfério se tratava de um zodíaco religioso. Ele
o datou no 4◦ século d.C. Georges Cuvier, entretanto, recuou a data para 123 ou
147 d.C. Esta discussão estendeu-se até 1820. No entanto, a datação do planisfério
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foi dada por registros contidos nele próprio, como, por exemplo a identificação
de dois eclipses: um solar, ocorrido em 7 de março de 51 a.C. (identificado na
deusa Ísis que segura um babuíno – representação do deus Thot) e outro, lunar,
ocorrido em 25 de setembro de 52 d.C, representado no olho do deus falcão Hórus
(Figuras 3.29 e 3.30).
Figura 1.29: Cópia adquirida em Khan-el-Khalili, Cairo, do Horóscopo de Dendera
(Fonte: acervo do autor).
Figura 1.30: Detalhes do horóscopo de Dendera, mostrando os prováveis pontos de
eclipses no planisfério (Fonte: [12]).
O zodíaco de Dendera nada mais é que um planisfério (Figura 3.31), ou seja, um
mapa estelar sobre uma projeção plana mostrando as 12 constelações zodiacais
formando 36 decanos (dez dias). Estes decanos são grupos de estrelas de primeira
magnitude usados no antigo calendário egípcio baseado em ciclos lunares de cerca
de 30 dias (lunação completa) e no nascimento helíaco da estrela Sóthis (Sírius).
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A figura 3.24 mostra no zodíaco de Dendera o registro do eclipse lunar e solar
registrados entre 52 e 51 a.C.
Figura 1.31: Planisfério moderno (à esquerda) e zodíaco de Dendera assinalando os
eventos de eclipses em 52 e 51 a.C. (Fonte: acervo do autor e [10]).
Os gregos também tiveram grande importância para o desenvolvimento da
Astronomia, pois eles matematizaram o máximo possível o estudo dela usando a
geometria. Realizaram aquilo que sequer os egípcios haviam conseguido além da
elaborada carta ou zodíaco de Dendera.
Figura 1.32: Esfera armilar construída por Anderson Trogello (Fonte: acervo do autor).
O primeiro astrônomo a desenvolver um modelo geométrico de três dimensões
para explicar o movimento dos planetas foi Eudoxo de Cnido, no século IV a.C. O
modeloera mais elaborado que uma esfera armilar (esfera de anéis representando
o horizonte, os trópicos, a eclíptica, o zênite e o nadir – Figura 3.32). Já Eratóstenes
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de Cirene (276-194 a.C.) foi o primeiro a medir a circunferência da Terra, estimando
um valor aproximado de 40 000 Km. Foi Aristarco de Samos (310-230 a.C.) o
primeiro a propor que a Terra girava em torno do Sol, ou seja, o primeiro a elaborar
um modelo heliocêntrico de Universo.
As principais contribuições dos gregos para a Astronomia foram, pois, as
especulações sobre a estrutura do Cosmos, as determinações da duração das es-
tações e do ano, as estimativas das dimensões da Terra, do Sol e da Lua, bem como
das distâncias relativas entre eles. Construíram inúmeros instrumentos que vão
desde relógios solares até a enigmática Máquina de Antikhythera. Os restos deste
último instrumento foi localizado por pescadores de esponjas em 1900 próximo à
Ilha de Antikhythera.
Figura 1.33: Fragmentos encontrados no naufrágio em Antikhythera e concepções da
Máquina. (Fonte: Museu Arqueológico Nacional de Atenas, Grécia).
A Figura 3.33 ilustra a Máquina de Antikhythera, desde o conjunto de relíquias
encontradas pelos Pescadores, até uma concepção artística do instrumento e sua
reprodução presente hoje no Museu Arqueológico de Atenas (Figura 3.34), Grécia.
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Este complexo artefato grego permitia que o usuário previsse ciclos astronômicos,
incluindo eclipses, posição dos planetas no céu em qualquer época pretérita ou
futura, além das horas em qualquer lugar do planeta. A existência dessa máquina
nos mostra que os gregos não só eram exímios pensadores, como também
ótimos engenheiros. Acredita-se, pelo registro cronológico fornecido pelas moedas
encontradas no navio naufragado que o instrumento date do 1◦ século a.C. Sua
proveniência é tema de debate aberto até hoje e, talvez, seja fruto da Escola de
Arquimedes de Siracusa.
Figura 1.34: Entrada principal do Museu Arqueológico de Atenas, Grécia (Fonte: acervo
do autor).
A reconstrução da Máquina de Antikhythera durante todo o século XX, iniciada
pelo físico Derek de Solla Price, com a ajuda de astrônomos, arqueólogos e
relojoeiros, deixou como herança uma sala exclusiva no Museu Arqueológico de
Atenas (Figura 3.35).
As fotografias presentes nas Figuras 3.36 e 3.37 ilustram a reconstrução de uma
cópia simplificada da Máquina de Antikhythera realizada para a obtenção do título
de Mestre do físico Wilson Guerra em Educação para a Ciência do Programa de Pós-
Graduação em Educação para a Ciência e a Matemática da Universidade Estadual
de Maringá.
Deslocando-nos para outro parte do mundo, na China, a Astronomia lá, segundo
registros arqueológicos, existe há mais de 4 000 a.C. Registros detalhados de
observações astronômicas chinesas mostram que eles eram capazes de predizer
com precisão eclipses e cometas. Além de terem observado supernovas. Essas
informações eram usadas principalmente para medir o tempo. Os chineses
usavam um calendário lunar-solar, mas devido à diferença entre os ciclos do Sol
e da Lua, astrônomos frequentemente preparavam novos calendários e faziam
observações para esse propósito.
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Figura 1.35: Sala exclusiva dedicada à Máquina de Antikhythera no Museu Arqueológico
de Atenas (Fonte: acervo do autor).
Figura 1.36: Máquina de Antikhythera (cópia do principal sistema de engrenagem e
réplicas simplificadas (Fontes: [13], [14], [15].)
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Figura 1.37: Réplica da Máquina de Antikythera na mão de seu criador, Wilson Guerra
(Fontes: [13], [14], [15].)
Os astrônomos chineses Shi Shen, Gan De e Wu Xian mapearam as posições das
estrelas no céu e determinaram algumas constelações. As Figuras 3.38, 3.39 e 3.40
mostram mapas estelares. O da Figura 3.38 é o mais antigo mapa estelar que se
conhece naquela região, feito na Dinastia Tang, aproximadamente no século IX.
Ele foi descoberto, na época moderna, nas ruínas de um Mosteiro nos desertos da
Ásia Central.
Figura 1.38: Trecho do mapa celeste chinês. O mais antigo atlas celeste que se tem
conhecimento (original e cópia). (Fonte: acervo do autor.)
Dirigindo-nos agora para o continente americano, vamos focar nosso olhar
arqueoastronômico para a Meso-América, pré-colombiana e encontrar três
grandes pirâmides: a do Sol e da Lua (Figuras 4.41), próximo ao que é hoje a Cidade
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Figura 1.39: Reprodução de um planisfério celeste chinês, gravado em pedra na cidade
de Suzchau em 1247. Registra cerca de 1 400 estrelas e a divisão do céu noturno em 28
casas (Fonte: acervo do autor).
Figura 1.40: Mapa estelar da projeção polar sul feita para o globo celeste do engenheiro
mecânico e pensador chinês Su Song (1020-1101) da Dinastia Song (960-1279) (Fonte:
reprodução – acervo do autor).
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do México e a de Cholula (Figura 3.42), em Puebla.
Figura 1.41: Pirâmides do Sol e da Lua, próximo a Cidade do México, complexo de Teoti-
huacan (Fonte: acervo do autor).
Figura 1.42: A maior pirâmide do mundo: Cholula, Puebla, Mexico. (Fonte: acervo do
autor).
A Pirâmide do Sol foi construída por volta do séc. II d.C. e está voltada para o
oeste, marcando o solstício de verão (22/12) quando o Sol se põe exatamente à
sua frente. A Pirâmide nada deve às pirâmides do Complexo de Gizé, no Egito. Ela
tem 225 metros de lado e 65 metros de altura. Forma o complexo de Teotihuacan,
estando localizada no lado leste da Avenida dos Mortos. A Pirâmide era mais
alta, mas os espanhóis destruíram o seu topo e parte de sua escadaria. No seu
auge, as pirâmides eram pintadas de um vermelho brilhante, a partir de um cacto
característico da região.
A Pirâmide da Lua é menor que a do Sol, apresentando 45 m de altura. Está
localizada no lado ocidental do completo de Teotihuacan e, acredita-se, que foi
construída por volta de 200 a.C.
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Apesar de suas dimensões, as Pirâmides do Sol e da Lua perdem em
grandiosidade para aquela que seria a maior pirâmide do mundo: Cholula ou
Tlachihualtépetl. Tem 400 m de lado e uma altura de 55 m, mas poderia ter
sido maior em seu auge, antes da chegada dos espanhóis que causaram danos
consideráveis a esta arquitetura ímpar e explodiram seu topo.
Desnecessário dizer que as pirâmides, além de lugares de adoração e sacrifícios,
tinham um objetivo maior: localização, contagem do tempo (ciclo dia-noite,
estações do ano e observações do céu noturno).
A difícil decifração dos hieróglifos maias deve-se à ausência de uma “Pedra
de Rosetta”, como a descoberta por Champolion na campanha napoleônica de
invasão ao Egito, que permitiu reconhecer os signos comparando-os com o
texto em grego existente na parte inferior da Pedra. Isso dificultou e dificulta a
compreensão da formação dessa sociedade similar àquelas da Suméria e Egito
e de que ciência (principalmente a Astronomia) eles haviam desenvolvido. Um
documento muito importante para compreender a ciência maia é o Código
Dresden (Figura 3.43), datado entre os sécs. XI e XII d.C. Ele contém tabelas
astronômicas precisas, com observações detalhadas do planeta Vênus, além
de tabelas lunares. A série lunar tem intervalos correlacionados com eclipses,
enquanto as tabelas de Vênus se correlacionam com os movimentos do planeta
Vênus. Contém ainda tabelas astrológicas, lembrando muito o zodíaco de Dendera,
no Egito, além de horários de rituais religiosos.
Outra grande descoberta arqueológica ligada à Astronomia asteca é a Pedra
do Sol (Figura 3.44), hoje no Museu Nacional de Antropologia do México. Trata-
se de uma pedra circular esculpida, com 3,60 m de diâmetro e espessura de
quase um metro. Pesa cerca de 25 toneladas. Após a criminosa e genocida invasão
espanhola, os senhores da Guerra e da destruição enterraram esta magnífica pedra
em Zócalo. Foi redescoberta em 1790 e depois transferidaà Cidade do México
e, posteriormente, ao Museu Nacional de Antropologia. É datada entre 1502 e
1521 d.C.
O disco da Pedra do Sol é um elaborado calendário com ciclos de décadas de
duração, num misto de ciência e culto a divindades. Mas ali está representada o
aglomerado das Plêiades. Nessa espécie de mapa do céu (ou planisfério) existem
ciclos de 676 anos (ciclo) que determinam a destruição de uma Era e início de outra.
A Astronomia maia e asteca era tão avançada quanto a dos sumérios e egípcios.
Infelizmente, com a vinda dos espanhóis, todo este legado foi destruído e perdeu-
se boa parte da compreensão de uma civilização tão avançada.
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Figura 1.43: Tabela de Eclipses do livro Codex Dresden, o mais bem preservado livro Maia.
A tabela estende-se por oito páginas e indica os dias em que eclipses solares e lunares
são mais prováveis (original e cópia) (Fontes: Saxon State Library e acervo do autor).
Figura 1.44: Pedra do Sol (Fonte: Acervo do autor).
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1.4 Conclusão
Chegamos quase ao final de nossa jornada de sete mil anos de história. Toda a
história da Astronomia se concentra em mais de 90% na observação a olho nu dos
céus de diferentes eras e culturas. Durante a live em que este tema foi apresentado,
mostrei alguns outros instrumentos astronômicos, especialmente aqueles ligados
à marcação do tempo pela observação da Lua, do Sol e das estrelas. As ilustrações
e fotografias da Figura 3.45 expõem alguns desses instrumentos: relógios solares
anelares, cilíndricos, entre outros.
Figura 1.45: Diferentes instrumentos de contagem astronômica do tempo baseada nas
observações de sol, lua e estrelas (Fonte: acervo do autor e o último instrumento,
astrolábio, do Prof. Carlos Alfredo Argüello).
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O trabalho da Astronomia, como sempre me disseram os Profs. Carlos Alfredo
Argüello e Matilde Vicentini, é a ciência da comunicação social, no sentido de que
ela não se constrói a partir de um único ponto de observação, mas de vários lugares
e em diferentes tempos e civilizações.
No Brasil, encontramos, como já exposto aqui, muitos vestígios dessa busca
em decifrar os mistérios do Céu. Os relógios solares no campus da UFSC,
em Florianópolis (Figura 3.46) ou na praça de uma Igreja em Tiradentes-MG
(Figura 3.47).
Figura 1.46: Relógio solar inclinante (equatorial) em praça interna do campus da UFSC,
Florianópolis – SC (Fonte: Acervo do autor).
Figura 1.47: Relógio solar equatorial diante de Igreja em Tiradentes-MG (Fonte: Acervo
do autor).
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Para terminar, presto minhas homenagens aqui a uma tradição de pesquisa
e observação e coleta de material, além de um olhar e de ações efetivas para a
educação e a divulgação científica de qualidade, que começou com o Prof. Carlos
Alfredo Argüello (Figura 3.48), ex-Coordenador do NIMEC-UNICAMP (Núcleo
Interdisciplinar para a Melhoria do Ensino de Ciências), e aos meus orientados
de Mestrado, Anderson Trogello (Figura 3.49) e Wilson Guerra (Figura 3.37), que
herdaram a paixão para a construção de instrumentos astronômicos elaborados e
para a pesquisa histórica. A seguir, de forma esparsa, apresento algumas fotografias
que passam por grandes eventos que elaboramos ao longo das três últimas décadas
para contar a Astronomia que quase mais ninguém conta, além dos empoeirados
exhibits de Museus!
Figura 1.48: Prof. Carlos Argüello atuando em curso para construção de relógios solares
(esquerda) e diante de relógio solar em praça de Ilhabela – SP (Fonte: acervo do autor).
Figura 1.49: O Prof. Anderson Trogello (esquerda), instrumentos e papiros (direita)
(Fonte: Acervo do autor).
Os séculos XX e XXI mostraram resultados surpreendentes da nova ciência
copernicana-galileana, que vão da Astronomia, à Cosmologia e à Astronáutica.
Mas é importante relatar que antes da Astronomia telescópica, inaugurada por
Galileo Galilei (Figuras 3.50 e 3.51), mais de 7 mil anos de Astronomia a olho nu
se desenrolou em inúmeras civilizações que conviveram ou que sucederam uma
à outra. A harmonia mundi no mundo da Ciência parece ter sido alcançada com
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o famoso disco de ouro das naves Voyager I e II (Figura 3.53). Parecida aos tantos
planisférios aqui mostrados, os discos levam nossos murmúrios [16] e a história
de uma civilização que prosperou num pálido ponto azul do sistema solar. Neste
disco, nossa História, e nossas memórias irrepetíveis para compreender o Cosmos.
Figura 1.50: Páginas do Sidereus nuncius de Galileo Galilei preparadas para a Mostra Os
400 anos da invenção do telescópio e seus desdobramentos na Arte (Fonte: acervo do
autor)).
Figura 1.51: O autor preparando uma cópia do Sidereus nuncius de Galileo Galilei para
a mostra Os 400 anos da invenção do telescópio e seus desdobramentos na Arte (Fonte:
acervo do autor).
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Figura 1.52: Sobre instrumentos do passado que precederam a bússola e o GPS.
Figura 1.53: Um dos discos elaborados por Carl Sagan para o bojo das naves Voyager I e
II (Fonte: acervo do autor).
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1.5 Referências Bibliográficas
[1] M.C.D. Neves. A Astronomia dos Antigos. In: 4◦ dia de encontro do VI From
Micro to MacroCosmos – o Centenário do Caçador de Estrelas. Disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=nYQ3A79w_cE. Acesso em 01/01/2021.
[2] Galileo 400 anos. Mostra “Os 400 anos da invenção do telescópio e seus
desdobramentos na Arte”. Disponível em www.galileo-400-anos.blogspot.
com. Acesso em 26/01/2022.
[3]Nebra, Disco de. Disponível em:https://pt.wikipedia.org/wiki/Disco_
de_Nebra. Acesso em 26/01/2022. Acesso em 05 de janeiro de 2022.
[4] A. Kaulins. The Sky Disk of Nebra: Evidence and Interpretation. Disponível em
http://www.megaliths.net/nebraskydisk.pdf. Acesso em 05 de Janeiro de
2022.
[5] Copeland, Mel. The Nebra Sky Disk – The Fall-Winter Sky Circa. 1600 B.C. – the
oldest calendar. Disponível em https://www.academia.edu/14930669/The_
Nebra_Sky_Disk_The_Fall_Winter_Sky_Circa_1600_B_C_the_oldest_
calendar.
[6] A.G.C. Silva, C.I. Parellada, M.S. Melo. Pinturas rupestres do sítio arqueológico
Abrigo Usina São Jorge, Ponta Grossa, Paraná. Pub. Ci. Exatas Terra, Ci. Agr. Eng.,
Ponta Grossa, 13 (1), 25-33, abr. 2007.
[7]Museu da Pedra do Ingá. Ingá, Paraíba, 2018.
[8] M.C.D. Neves e C.A. Arguello. Astronomia de Régua e Compasso: de Kepler a
Ptolomeu. Campinas: Papirus, 1986.
[9] Aeropuerto de Nasca. Quadro e Cartaz de Mapa das Linhas de Nasca. Nasca,
Peru, 2018.
[10]Martins et al. A Astronomia na Antiguidade: um olhar sobre as contribuições
chinesas, mesopotâmicas e egípcias, Revista Valore, 4 (1): p. 810-823, Jan/Jun/2019.
45
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[11] PET. Programa de Educação Tutorial em Física- Universidade Estadual de
Maringá. In: Arte e Ciência: um encontro interdisciplinar. J.A.P Silva e M.C.D. Neves.
Maringá: LCV/Massoni, p. 265-307, 2010.
[12] G. Neret. Description de l’Egypte. Berlin: Taschen, 1994.
[13] W. Guerra. O Mecanismo de Antikythera: possibilidades para o ensino e a
divulgação da Astronomia, parte I. Revista Valore, 4 (edição especial): p. 70-96,
Dez/2019.
[14]W. Guerra e M.C.D. Neves. O Mecanismo de Antikythera: possibilidades para o
ensino e a divulgação da Astronomia, parte II. Revista Valore, 4 (edição especial):
p. 97-120, Dez/2019.
[15]W. Guerra e M.C.D. Neves. A simplified replica of the Antikhythera Mechanism
as a tool to Astronomy Teaching. International Astronomy and Astrophysics
Research Journal, 3 (1), p. 8-13, 2021.
[16] C. Sagan. Murmúrios da Terra. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1984.
46

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