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direito do consumidor aula 5

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LEGISLAÇÃO APLICADA E 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
AULA 5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. João Alfredo Lopes Nyegray 
 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
Que a tecnologia faz parte de nosso dia a dia você certamente já sabe. 
Agora, você tem noção do quão rápida foi a evolução tecnológica nas últimas 
décadas? Cavusgil et al. (2010) explicam que quando Cristóvão Colombo – o 
suposto navegador genovês trabalhando para a Corte Espanhola – chegou às 
Américas em 1492, a soberana da Espanha, que havia custeado sua viagem, 
levou cerca de 30 dias para saber da descoberta das novas terras à leste. 
Passados alguns séculos, quando os Estados Unidos já eram uma nação 
independente, uma guerra civil quase dividiu o país. Seu presidente, naquela 
época, Abraham Lincoln, conseguiu manter o país unido e vencer os estados 
separatistas do sul. Lincoln foi assassinado em um teatro em Washington em 
1865 e Cavusgil et al. (2010) contam que a Rainha Vitória da Inglaterra – maior 
parceira comercial dos EUA da época – levou cerca de 15 dias para saber do 
assassinato. 
Algumas décadas se passam. Ocorre a Primeira Guerra Mundial entre 
1914 e 1918. No decorrer desse conflito – o primeiro a usar o avião como arma 
– os EUA produziam para si e para a Europa. Conforme a Europa se reconstrói, 
os EUA exportam cada vez menos para lá, o que gera a crise de superprodução 
de 1929. Novamente, são Cavusgil et al. (2010) que ensinam que a notícia da 
quebra da bolsa de Nova York em 1929 leva cerca de uma semana para chegar 
em São Paulo. Durante esse tempo, os produtores paulistas de café, nosso 
principal produto naquele tempo, comercializaram os deliciosos grãos com o 
preço errado. 
Mais algumas décadas se passam. Quanto tempo você levou para ficar 
sabendo dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001? Da conquista da 
copa do mundo de 2002 pelo Brasil? Da crise econômica de 2008? Das primeiras 
medalhas olímpicas brasileiras das olimpíadas de 2008, 2012 ou de 2020? 
Tempo nenhum, pois sabemos das coisas de forma instantânea. O relato de 
Cavusgil et al. (2010) sobre o trânsito global de informações nos mostram como 
ficou mais e mais rápido para recebermos dados e notícias. Esse trânsito ágil 
das informações pelo mundo tem intensas consequências. 
Para as empresas, conseguir informações e dados de forma rápida cria 
novas oportunidades de negócio. Pode-se encontrar demanda pelo que eu 
produzo ou fornecimento daquilo que necessito de forma muito mais fácil. Com 
 
 
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isso, intensificou-se a concorrência. Para os consumidores, gerou-se uma oferta 
maior de bens e serviços, mais opções de compra e, conforme alguns autores, 
uma padronização de gostos e estilos de vida. 
 Nem todas as empresas estão preparadas para encarar a competitiva 
realidade global, no entanto. E a sua, está? 
CONTEXTUALIZANDO 
Eis que você vai sair com seu/sua namorado(a), a sua “sopinha de 
abóbora”, e está esperando uma mensagem dele/dela ou mesmo o resultado de 
uma entrevista de emprego. Toca seu telefone e quando você, na maior 
animação, vai atender, é uma ligação de São Paulo não identificada (aqueles 
números 011 que nem mesmo quem é do estado tem cadastrado). Não era amor, 
era cilada. Não era coisa boa, era propaganda. 
Você já se perguntou como tanta gente consegue seu número? Empresas 
com as quais você nunca teve um relacionamento comercial estão te ligando, 
mandando mensagens e te perturbando. Em paralelo a essa situação, é bastante 
comum vermos as chamadas vendas de dados na internet. Empresas de 
telemarketing ou de serviços no geral compram bases de dados inteiras. Ali 
estão nossos nomes, telefones, CPF, datas de nascimento e várias outras 
informações pessoais. 
Como lidar com isso? É lícito comprar esses dados? Se no passado não 
existiam tantos problemas, a partir de 2018 e de 2020 a coisa muda de figura. 
Esse é um dos vários temas que veremos nesta aula. Vamos lá?! 
TEMA 1 – DIREITO EMPRESARIAL E LGPD 
Um dos maiores motores econômicos das economias dos países são 
suas empresas. Países burocráticos, como o Brasil, terão uma quantidade 
menor de empresas e organizações. Países livres e prósperos, como os EUA, a 
Alemanha, a Coreia do Sul, o Japão e o Canadá terão uma quantidade maior de 
empresas e burocracia menor. Quanto mais fácil for a regulamentação 
empresarial, mais os empreendedores se dedicarão a realizar suas tarefas 
diárias, a inovar e a gerar empregos. Quanto mais burocrática, mais tempo se 
despenderá para agradar ao Estado. 
 
 
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O Brasil é um país muito mais burocrático do que livre. Nosso primeiro 
código comercial é de 1850, que foi revogado em partes apenas pelo Código 
Civil de 2002. Até então, havia o Direito Civil e o Direito do Comércio. 
Atualmente, abordamos o tema no chamado Direito Empresarial. Para Ramos 
(2020, p. 48), o Direito Empresarial pode ser conceituado como o “conjunto 
específico de normas (regras e princípios) que disciplinam a atividade econômica 
organizada para produção ou circulação e bens ou serviços (empresa) e aqueles 
que a exercem profissionalmente (empresários)”. 
O Código Civil de 2002 começa a tratar do tema a partir de seu art. 966, 
no qual diz: “Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade 
econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços”. 
Daqui depreende-se que a atividade empresarial é aquela exercida não de forma 
esporádica, mas de forma profissional e contínua. Outras características da 
atividade empresarial são explicadas por Negrão (2019, p. 33) como: “1) 
economicidade: criação ou circulação de riquezas e de bens ou serviços 
patrimonialmente valoráveis; 2) organização: compreende tanto o trabalho, a 
tecnologia, os insumos e o capital, próprios ou alheios; 3) profissionalidade: 
refere-se à atividade não ocasional e à assunção em nome próprio dos riscos da 
empresa”. 
A essas características somam-se também alguns princípios, como a livre 
iniciativa – que tem por fim incentivar e permitir toda a atividade econômica lícita 
–, a livre concorrência e a preservação da empresa. Preservar a empresa 
significa compreendê-la como geradora de emprego e renda e que merece 
continuar no tempo para seguir empregando e movimentando recursos. 
Embora, como vimos, o Código Civil conceitue o empresário no art. 966, 
não há uma conceituação sobre a empresa em si. Nesse caso, compreendemos 
a empresa como a atividade do empresário. Ensina Negrão (2019, p. 34) que 
“toda e qualquer produção ou circulação de serviços está submetida ao conceito 
de empresa, desde que não exercida pessoalmente por profissional intelectual, 
ou de natureza científica, literária ou artística”. 
Significaria isso que as atividades intelectuais não são empresárias? Em 
uma primeira vista, sim. Mas, como o próprio Negrão (2019, p. 34) coloca, os 
“empresários podem ser classificados em individuais ou societários. Os 
primeiros são pessoas naturais que exercem sua atividade individualmente, sem 
a colaboração de sócios, e os últimos, sociedades com fins empresariais”. Dessa 
 
 
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forma, um advogado, uma contadora, um dentista ou uma médica são 
empresários individuais. De outro lado, uma empresa de contabilidade, um 
hospital ou um grande escritório de advocacia são sociedades empresarias. 
É também nesse sentido o ensinamento de Ramos (2020, p. 151) que 
explica que “empresa é uma atividade econômica organizada, e empresário é a 
pessoa, física ou jurídica, que exerce uma empresa profissionalmente. Quando 
o empresário for pessoa física, nós o chamamos de empresário individual; 
quando o empresário for pessoa jurídica, estaremos diante ou de uma sociedade 
empresária ou de uma EIRELI”. 
Como toda área jurídica, o Direito Empresarial tem suas fontes. Sua fonte 
inicial, como não poderia deixar de ser, é o Código Civil de 2002. Existem 
também outras leis que tratam de temas específicos. Ramos (2020,p. 116) 
menciona algumas como “a Lei 8.934/1994, que trata do registro de empresas; 
a Lei 6.404/1976, que trata das sociedades por ações; a Lei Complementar 
123/2006, que trata das microempresas e das empresas de pequeno porte; a Lei 
11.101/2005, que trata dos procedimentos de falência e de recuperação de 
empresas”. 
Outra lei muito importante que tem tutelado e balizado as ações das 
empresas é a Lei n. 13.709, de 14 de agosto de 2018, conhecida como Lei Geral 
da Proteção de Dados ou simplesmente pela sigla LGPD. A lei entrou em vigor 
parcialmente em 2018 e totalmente em 2020, e regulamenta a armazenagem, 
manutenção e tratamento de dados de pessoas físicas e jurídicas. Um de seus 
principais fundamentos é a privacidade, para que acontecimentos como aquele 
narrado no “Contextualizando” não sigam ocorrendo. 
Uma das regras iniciais da LGPD é que os dados dos clientes só podem 
ser coletados quando os clientes concordarem com essa coleta. Ainda que os 
clientes concordem em ceder seus dados, essa concordância pode ser retirada 
a qualquer momento. Devemos destacar aqui os mandamentos do art. 5 da Lei: 
Art. 5º Para os fins desta Lei, considera-se: 
I - dado pessoal: informação relacionada a pessoa natural identificada 
ou identificável; 
II - dado pessoal sensível: dado pessoal sobre origem racial ou étnica, 
convicção religiosa, opinião política, filiação a sindicato ou a 
organização de caráter religioso, filosófico ou político, dado referente à 
saúde ou à vida sexual, dado genético ou biométrico, quando vinculado 
a uma pessoa natural; 
III - dado anonimizado: dado relativo a titular que não possa ser 
identificado, considerando a utilização de meios técnicos razoáveis e 
disponíveis na ocasião de seu tratamento; 
 
 
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IV - banco de dados: conjunto estruturado de dados pessoais, 
estabelecido em um ou em vários locais, em suporte eletrônico ou 
físico; 
V - titular: pessoa natural a quem se referem os dados pessoais que 
são objeto de tratamento; 
VI - controlador: pessoa natural ou jurídica, de direito público ou 
privado, a quem competem as decisões referentes ao tratamento de 
dados pessoais; 
VII - operador: pessoa natural ou jurídica, de direito público ou privado, 
que realiza o tratamento de dados pessoais em nome do controlador. 
Tem-se aqui algumas definições importantes da LGPD. No decorrer da 
lei, fala-se muito a respeito do chamado “tratamento dos dados”. E no que 
consiste essa operação? A própria LGPD responde no art. 5º, inciso X: 
“tratamento: toda operação realizada com dados pessoais, como as que se 
referem a coleta, produção, recepção, classificação, utilização, acesso, 
reprodução, transmissão, distribuição, processamento, arquivamento, 
armazenamento, eliminação, avaliação ou controle da informação, modificação, 
comunicação, transferência, difusão ou extração”. 
Ou seja: toda vez que uma empresa coleta e armazena os dados dos seus 
clientes, essa empresa está tratando os dados. A partir da LGPD, é necessário 
guardar em sigilo os dados dos consumidores. Caso haja algum vazamento de 
dados – seja esse vazamento acidental ou proposital –, a empresa pode ser 
multada e condenada a indenizar os clientes. 
Nesse caso, dados como endereço, renda, ou afins, quando vazados, 
podem gerar a necessidade de reparação. É o que manda o art. 42 da LGPD: “O 
controlador ou o operador que, em razão do exercício de atividade de tratamento 
de dados pessoais, causar a outrem dano patrimonial, moral, individual ou 
coletivo, em violação à legislação de proteção de dados pessoais, é obrigado a 
repará-lo”. 
É por conta da LGPD e de suas disposições que muitas empresas têm 
investido fortemente em segurança de dados e em servidores cada vez mais 
protegidos. E sua empresa, já está fazendo isso? 
TEMA 2 – SOCIEDADES 
Ao ouvir ou ler o termo “sociedade”, você pode pensar inicialmente na 
sociedade brasileira, com toda sua riqueza. No entanto, para o Direito 
Empresarial, sociedade tem um significado diferente. Como você certamente 
sabe, toda atividade empresarial possui riscos. Alguns empreendimentos são 
mais arriscados, outros um pouco menos. Dependendo da área de atuação, a 
 
 
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pessoa não consegue fazer tudo o que precisa sozinha. Por exemplo: se você 
abrir um restaurante, você dá conta de cozinhar, atender, gerenciar, cobrar os 
clientes e sair para fazer as entregas? Possivelmente, não, e para algumas 
dessas tarefas você contratará funcionários. Normalmente aqueles que têm 
interesse em iniciar alguma atividade empresarial o fazem dividindo os riscos e 
os custos do início do negócio. É aqui que nascem as sociedades para o Direito 
Empresarial. 
Mas o que é uma sociedade? Negrão (2019, p. 36) parte do conceito do 
art. 981 do CC para afirmar que uma sociedade é um “contrato em que pessoas 
reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços, para o exercício 
de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados”. Trata-se de um 
acordo de vontades entre uma ou mais pessoas para realizar alguma coisa, 
organizando patrimônio e ações para criar uma empresa. 
E será que todos podem ser empresários? Será que qualquer pessoa está 
habilitada a exercer atividade empresária e ser sócio(a)? Não, e aqui entra a 
questão da capacidade, como afirma o Código Civil: “Art. 972. Podem exercer a 
atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e 
não forem legalmente impedidos. Art. 973. A pessoa legalmente impedida de 
exercer atividade própria de empresário, se a exercer, responderá pelas 
obrigações contraídas”. 
Dessa forma, a capacidade é condição fundamental. Impedidos ou 
incapazes responderão pelo que fizerem. Pode ser o caso de um empresário 
falido e impedido de atuar empresarialmente que capta recursos de terceiros 
para abrir uma nova empresa. Nesse caso, a pessoa responderá pelas 
obrigações que contraiu. Da mesma forma que os negócios jurídicos, as 
sociedades e empresas devem ter objeto lícito e possível, e forma prescrita e 
não proibida por lei. Um outro ponto é que, como o próprio termo “sociedade” 
permite supor, toda sociedade deve ser composta por mais de uma pessoa. 
Dentre as sociedades, há várias formas distintas de organização de 
pessoas e seus patrimônios. Podemos dizer que as sociedades surgem para 
separar o patrimônio pessoal dos sócios do patrimônio das empresas que estão 
criando. Uma coisa é o que a pessoa compra e tem vinculada a seu CPF, outra 
coisa é o que a pessoa compra e tem vinculada ao CNPJ pelo qual responde. 
Há uma separação patrimonial e de atividades realizadas. 
 
 
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Aqui é importante resgatarmos o ensinamento de Ramos (2019, p. 151) a 
respeito das questões de empresa e empresário, essenciais para a 
compreensão das sociedades: 
Empresa é, portanto, uma atividade, algo abstrato. Empresário, por sua 
vez, é quem exerce empresa de modo profissional. Assim, deve-se 
atentar para o uso correto da expressão empresa, não a confundindo 
com a sociedade empresária (pessoa jurídica cujo objeto social é o 
exercício de uma empresa, isto é, de uma atividade econômica 
organizada), por exemplo. É errado, pois, dizer que ‘João e Maria 
constituíram uma empresa’, pois nesse caso o que eles constituíram 
foi uma sociedade empresária. Nesse sentido, destaca Luiz Tzirulnik 
que ‘a condição de sujeito de direito é atribuída ao empresário, seja 
pessoa física ou jurídica, e não à empresa, que, além de não ser 
absolutamente detentora de personalidade jurídica, não pode ser 
confundida com a sociedade’. 
Ou seja, uma coisa é a sociedade e outra coisa é a empresa. As 
sociedades são criadas para explorar as atividades empresariais. Para esse fim, 
há diversos tipos de sociedade. O mais comum é a chamada sociedade limitada. 
Nesse tipo de sociedade, os sócios definem um valor a título de capital social e 
o percentual de responsabilidade de cada um. Por exemplo: o sócio A tem 50%, 
o sócio B tem 30% e o sócioC tem 20%. Se o capital social da empresa for de 
R$ 10.000,00 (dez mil reais), cada sócio responderá em dívidas ou processos 
apenas com o seu percentual: R$ 5.000,00 para o sócio A, R$ 3.000,00 para o 
sócio B e R$ 2.000,00 para o sócio C. O patrimônio pessoal de cada um dos 
sócios permanece protegido sem relação com a sociedade. 
É justamente essa característica que faz com que a sociedade limitada 
seja o tipo mais buscado. É por isso que Ramos (2019, p. 579) ensina que: 
A sociedade limitada representa, com certeza, o tipo societário mais 
utilizado na praxe comercial brasileira, correspondendo a 
aproximadamente mais de 90% dos registros de sociedade no Brasil. 
A grande presença de sociedades limitadas no meio empresarial se 
deve basicamente ao fato de ela ostentar duas características 
específicas que a tornam um tipo societário bastante atrativo para os 
pequenos e médios empreendimentos: a contratualidade e a limitação 
de responsabilidade dos sócios. 
A contratualidade significa que os deveres dos sócios estarão dispostos 
no Contrato Social. Assim, pode-se adaptar as cláusulas conforme o acerto dos 
envolvidos e a necessidade do empreendimento. O Código Civil trata das 
sociedades limitadas a partir do art. 1.052, que diz: “Na sociedade limitada, a 
responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos 
respondem solidariamente pela integralização do capital social”. 
 
 
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Esse tipo societário necessita de um contrato social. Mas o que deve ter 
esse contrato? O próprio Código Civil responde: 
Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular 
ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, 
mencionará: 
I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, 
se pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede 
dos sócios, se jurídicas; 
II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade; 
III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo 
compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação 
pecuniária; 
IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la; 
V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista 
em serviços; 
VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e 
seus poderes e atribuições; 
VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas; 
VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas 
obrigações sociais. 
Parágrafo único. É ineficaz em relação a terceiros qualquer pacto 
separado, contrário ao disposto no instrumento do contrato.” 
Além de um contrato social, é necessário efetuar registro na Junta 
Comercial de cada estado antes do início das atividades empresariais. Além do 
contrato social, o art. 968 do CC aponta outras necessidades para o 
requerimento de abertura de sociedade. 
O segundo tipo de sociedade mais comum no ambiente empresarial 
brasileiro é a chamada sociedade anônima. Enquanto na sociedade limitada 
importa quem é o sócio e quais habilidades e aptidões ele/ela traz ao negócio, 
na sociedade anônima a pessoa não importa, sendo relevante a quantidade de 
recursos que se aporta na sociedade. As sociedades anônimas são aquelas em 
que o capital não se encontra atribuído a uma só pessoa, mas a um conjunto de 
acionistas. Essas sociedades ofertam suas ações em bolsa de valores e o preço 
desses papéis oscila conforme o mercado e conforme o desempenho da 
organização. 
Em nosso país, as sociedades anônimas são regidas pela Lei n. 
6.404/1976, que já passou por uma série de atualizações. As sociedades 
anônimas podem ser abertas (como é a maioria) ou fechadas. Ensina Negrão 
(2019, p. 123) que 
Sociedades abertas são as que têm – e as fechadas as que não têm – 
seus valores mobiliários admitidos à negociação em bolsa ou no 
mercado de valores imobiliários. O acesso ao mercado aberto é 
precedido de autorização da Comissão de Valores Mobiliários, 
entidade autárquica vinculada ao Ministério da Fazenda. A negociação 
dos valores mobiliários de uma sociedade aberta pode ser realizada 
 
 
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junto ao público em geral. Bolsa de Valores é uma entidade privada 
que mantém um local para negociação de valores mobiliários, em 
mercado livre e aberto, organizado e fiscalizado pelos próprios 
corretores e pelas autoridades monetárias. 
Além da sociedade limitada e da sociedade anônima, existe a sociedade em 
comandita simples, a sociedade em nome coletivo e a sociedade em conta de 
participação que, por serem bem menos usuais, não serão tratadas aqui. 
TEMA 3 – EMPRESÁRIO INDIVIDUAL E MEI 
Será que é toda pessoa que desempenha uma atividade por conta própria e sem 
patrão é uma pessoa empresária? Não. Vimos anteriormente que a atividade 
empresária está ligada à produção e circulação de bens e serviços. Aqui precisamos 
falar do empresário individual. Ensina Ramos (2019, p. 178) que o empresário individual 
é a “pessoa física que exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a 
produção ou a circulação de bens ou de serviços”, nos termos do art. 966 do Código 
Civil. 
Como aprendemos anteriormente, toda sociedade precisa de – pelo menos – 
duas pessoas. Mas isso não deve impedir que as pessoas que não querem se agrupar 
a outras empreendam. Por isso, é possível que pessoas em pleno gozo de sua 
capacidade possam exercer atividade empresarial de forma individual. É o que comenta 
Teixeira (2018, p. 88): “empresário individual é aquele que, independentemente do 
motivo, opta por desenvolver sua atividade econômica isolado, sem a participação de 
sócios”. 
De acordo com a lei, aplica-se ao empresário individual – no que couber – as 
mesmas regras aplicáveis às sociedades limitadas. Dentre os mandamentos legais, é 
necessário que o empresário individual se registre como tal. Ensina Teixeira (2018, p. 
89) que ao empresário individual asseguram-se os direitos de: 
inscrição (a lei considera isso um dever), à recuperação de empresas 
(judicial e extrajudicial), à autofalência, a requerer a falência de outro 
empresário sendo credor de título extrajudicial (sem precisar de 
sentença transitada em julgado, como é exigível para os demais 
credores que não sejam empresários regulares); à utilização dos seus 
livros como prova em processo judicial, à proteção da sua identificação 
(nome empresarial). 
Existem ao menos três formas de empresa individual. A primeira delas é 
como MEI (Microempreendedor Individual). Trata-se de uma figura legal 
relativamente recente a partir da qual uma pessoa que trabalhe por conta própria 
e fature até R$ 81.000,00 (oitenta e um mil reais) por ano possa se legalizar 
como pequeno empresário. Há uma lista de ocupações dentre as permitidas para 
o MEI, que vão desde abatedor de aves independente até viveirista 
 
 
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independente. Essa lista é atualizada anualmente e consta no Portal do 
Empreendedor do governo. 
Para inscrição como MEI e respectiva obtenção de CNPJ, o empresário 
individual – além de ter a ocupação listada como possível – não pode ser sócio 
de outra empresa e só pode contratar um colaborador que receba até um salário-
mínimo. Aquele que se inscreve como MEI está isento dos tributos federais 
(Imposto de Renda, PIS, COFINS, IPI e CSLL), devendo pagar apenas 5% do 
salário-mínimo ao INSS por mês, mais R$ 5,00 (para prestadores de Serviço) ou 
R$ 1,00 (para comerciantes ou industriais) em carnê emitido pelo Portal do 
Empreendedor. 
O MEI tem direito à emissão de nota fiscal e a benefícios previdenciários 
(desde que efetue o correto pagamento dos carnês). A cada ano, o MEI deve 
informar o seu faturamento por meio de uma declaração anual simplificada. E o 
que ocorre se um MEI faturar mais de R$ 81.000,00 (oitenta e um mil reais) num 
determinado ano? Nesse caso, o MEI passa a ser enquadrado como ME, ou 
seja, Microempresa. A Microempresa é regida pela Lei Complementar n. 123, de 
14 de dezembro de 2006, e seu limiteé de “receita bruta igual ou inferior a R$ 
360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais)”, nos termos do art. 3º. Nesse caso 
já não existe mais a isenção dos tributos federais, que devem ser recolhidos em 
um só documento de arrecadação (Simples Nacional). 
Por fim, existe a Empresa Individual de Responsabilidade Limitada, 
chamada muitas vezes pela sua sigla (EIRELI). Os legisladores perceberam que 
muitas vezes nas sociedades limitadas havia um sócio com 99% do capital social 
e outro com apenas 1%. Esse sócio(a) com 1% normalmente era o chamado 
“sócio fantasma”, um amigo ou familiar que cedia seu nome e CPF para que o 
empresário pudesse ter a pluralidade de sócios exigida pela lei para a sociedade 
limitada. 
Sabendo disso, a Lei n. 12.441/2011 passou a permitir que uma só pessoa 
tivesse os benefícios da modalidade societária limitada. A Lei n. 12.441/2011 
incluiu alguns dispositivos no Código Civil, dentre os quais o art. 980-A: 
Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade limitada será 
constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, 
devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o 
maior salário-mínimo vigente no País. 
§ 1º O nome empresarial deverá ser formado pela inclusão da 
expressão "EIRELI" após a firma ou a denominação social da empresa 
individual de responsabilidade limitada. 
 
 
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§ 2º A pessoa natural que constituir empresa individual de 
responsabilidade limitada somente poderá figurar em uma única 
empresa dessa modalidade 
[...] 
§ 6º Aplicam-se à empresa individual de responsabilidade limitada, no 
que couber, as regras previstas para as sociedades limitadas.” 
Como manda o artigo, para que uma pessoa se inscreva como EIRELI 
precisará de um capital social que seja de, no mínimo, 100 salários-mínimos já 
no ato do registro. Além disso, tal qual ocorre com o MEI, uma mesma pessoa 
só pode ter uma EIRELI. No mais, as regras das sociedades limitadas repetem-
se aqui. 
TEMA 4 – RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS 
Como vimos, o instrumento essencial das sociedades é o Contrato Social. 
Na sociedade limitada, a responsabilidade dos sócios se limita ao percentual 
pelo qual cada um é responsável do capital social. Caso os sócios não tenham 
integralizado o capital social, podem necessitar de seu patrimônio para quitar 
com as obrigações da sociedade. A esse respeito, ensina Ramos (2019, p. 614) 
que: 
Em regra, os sócios não devem responder, com seu patrimônio 
pessoal, pelas dívidas da sociedade. Esta, por ser pessoa jurídica a 
quem o ordenamento jurídico confere existência própria, possui, em 
consequência, responsabilidade patrimonial própria. Trata-se do 
chamado princípio da autonomia patrimonial das pessoas jurídicas, ao 
qual já nos referimos, previsto no art. 1.024 do Código Civil: ‘os bens 
particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da 
sociedade, senão depois de executados os bens sociais’. 
Se existe uma sociedade limitada, isso significa que existe uma sociedade 
ilimitada? Sim! Esse modelo societário era bastante usado no passado para os 
sócios mostrarem sua idoneidade. Na sociedade ilimitada os sócios dispõem-se 
a usar o próprio patrimônio para quitar eventuais dívidas da sociedade. Hoje em 
dia, como existem dezenas de maneiras de consultar a idoneidade de uma 
sociedade empresária, esse tipo está em desuso. 
Precisamos debater, agora, uma outra particularidade. Anteriormente não 
tratamos da chamada sociedade simples. Esse tipo societário, como ensina 
Ramos (2019, p. 560) “tem por objeto o exercício de atividade econômica não 
empresarial. [...] são sociedades formadas por profissionais intelectuais 
(médicos, engenheiros, músicos etc.) cujo objeto social é o exercício da própria 
atividade intelectual de seus sócios”. Trata-se de sociedade em que os 
 
 
13 
profissionais se agrupam para, por exemplo, dividir os custos da locação de um 
escritório. 
Nesse caso, como fica a responsabilidade dos sócios? Aqui, em caso de 
dívidas ou problemas, os bens da sociedade (computador da secretária, mesas, 
cadeiras, ar-condicionado e outros) são primeiramente vendidos para quitar as 
dívidas. É o que ensina Ramos (2019, p. 575): 
Por ser a sociedade simples pura uma pessoa jurídica, isto é, ente ao 
qual o ordenamento jurídico atribui personalidade, ela responde pelas 
suas obrigações, com seus bens sociais. Isso decorre da consagração 
em nosso ordenamento do princípio da autonomia patrimonial das 
pessoas jurídicas, previsto no art. 1.024 do Código Civil: “os bens 
particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da 
sociedade, senão depois de executados os bens sociais”. 
Por outro lado, por se tratar de uma sociedade contratual, a 
responsabilidade dos sócios da sociedade simples pura, quanto às 
obrigações sociais, é ilimitada, ou seja, caso os bens sociais não sejam 
suficientes para saldar o passivo da sociedade, os credores poderão 
executar o restante das dívidas no patrimônio dos sócios. 
Esse ensinamento é confirmado pelo art. 1.023 do Código Civil, que 
afirma: “Se os bens da sociedade não lhe cobrirem as dívidas, respondem os 
sócios pelo saldo, na proporção em que participem das perdas sociais [...]”. Aqui 
o questionamento que muitos fazem é: seria essa – além da sociedade ilimitada 
– a única maneira pela qual os sócios podem responder com seu patrimônio 
particular por questões da sociedade? A resposta é um sonoro não. 
É possível que a personalidade jurídica da empresa seja desconsiderada 
para que o patrimônio dos sócios seja atingido. A primeira vez que essa 
possibilidade encontrou respaldo legal no Brasil foi a partir de 1990 com o Código 
de Defesa do Consumidor (CDC) que diz: 
Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da 
sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de 
direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação 
dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será 
efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento 
ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração. 
Posteriormente ao CDC outras leis trataram do assunto até que, em 2002, 
o Código Civil ocupou-se do tema: 
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado 
pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a 
requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber 
intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e 
determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens 
particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica 
beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso. 
 
 
14 
Como se pode perceber, não é qualquer caso que enseja a 
desconsideração da personalidade jurídica e a responsabilização dos sócios. 
Dívidas comuns por razões econômicas ou má-gestão pura e simples não são o 
suficiente para desconsiderar a personalidade jurídica. É necessária a existência 
de algum tipo de abuso. 
TEMA 5 – ENCERRAMENTO DAS SOCIEDADES E FALÊNCIA 
Como você sabe, impera no Direito Civil a autonomia da vontade. 
Ninguém é obrigado a contratar quem não quer, ninguém é obrigado a ficar junto 
de quem não gosta. Se até mesmo os casamentos podem ser desfeitos, imagine 
as sociedades. Infelizmente, é comum que os sócios acabem desgastando sua 
relação por divergências variadas. Nesse caso, as sociedades podem ser 
encerradas. A esse respeito, diz o Código Civil: 
Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer: 
I - o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem 
oposição de sócio, não entrar a sociedade em liquidação, caso em que 
se prorrogará por tempo indeterminado; 
II - o consenso unânime dos sócios; 
III - a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de 
prazo indeterminado; 
IV - (Revogado pela Lei nº 14.195, de 2021) 
V - a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar.Ou seja: o consenso dos sócios – o que mais ocorre, seguido da 
deliberação da maioria absoluta – é o que basta para dissolver a sociedade. 
Quando um dos sócios quer encerrar o acordo e o outro deseja continuar com a 
atividade, esse último pode comprar a parte daquele que não quer continuar. Em 
alguns casos, nos mais graves, os sócios em desacordo buscam o Poder 
Judiciário para resolver suas desavenças. Ramos (2019, p. 776) afirma que 
Ocorrido o ato de dissolução da sociedade, cumpre destacar que ela 
não perde automaticamente a sua personalidade jurídica. O ato de 
dissolução – um distrato ou uma decisão judicial, por exemplo – deverá 
ser registrado na Junta Comercial, e a sociedade então inicia sua fase 
de liquidação, devendo acrescer ao seu nome empresarial, para a 
proteção de terceiros que com ela contratem, a expressão ‘em 
liquidação’, bem como designar o respectivo liquidante. 
De acordo com o art. 1.036 do Código Civil, ‘ocorrida a dissolução, 
cumpre aos administradores providenciar imediatamente a investidura 
do liquidante, e restringir a gestão própria aos negócios inadiáveis, 
vedadas novas operações, pelas quais responderão solidária e 
ilimitadamente’. Complementando a regra, prevê seu parágrafo único 
que, ‘dissolvida de pleno direito a sociedade, pode o sócio requerer, 
desde logo, a liquidação judicial’. Vê-se, pois, que embora a sociedade 
dissolvida – ‘em liquidação’ – não perca imediatamente a sua 
 
 
15 
personalidade jurídica, ela continua a existir apenas para ultimar suas 
obrigações. 
Existem outras situações em que um sócio pode não estar cumprindo com 
suas obrigações, enquanto os demais seguem trabalhando e seguem 
interessados no andamento da sociedade. Nesse caso, é necessário excluir a 
sociedade e criar outra? Não, pode-se excluir o sócio problemático como diz o 
CC: 
Art. 1.085. Ressalvado o disposto no art. 1.030, quando a maioria dos 
sócios, representativa de mais da metade do capital social, entender 
que um ou mais sócios estão pondo em risco a continuidade da 
empresa, em virtude de atos de inegável gravidade, poderá excluí-los 
da sociedade, mediante alteração do contrato social, desde que 
prevista neste a exclusão por justa causa. 
Obviamente, esse é um tema que acaba trazendo dezenas de casos e 
ações ao Judiciário. Aqueles que estão colocando a continuidade do negócio em 
risco dificilmente percebem a nocividade das próprias ações – a não ser que 
estejam agindo de forma proposital. Em todos os casos, aquele que sai da 
sociedade, seja por vontade própria, exclusão ou decisão judicial, segue 
podendo responder pelos seus atos por até dois anos após a alteração do 
contrato social. Isso ocorre para garantir que os sócios remanescentes tenham 
tempo o suficiente de organizar a empresa. Caso descubram posteriormente a 
saída do sócio algum problema na empresa, esse sócio pode ser 
responsabilizado. 
Uma outra causa que encerra as sociedades é a falência. Imagine a 
seguinte situação: uma empresa em dificuldades financeiras deixa de pagar seus 
fornecedores. Seus fornecedores, sem recursos, atrasam o salário dos 
funcionários. Os funcionários, sem receber salário, endividam-se. Para pagar os 
salários em atraso, a empresa faz um empréstimo no banco. Os altos juros 
bancários se acumulam, enquanto o pagamento do devedor original não chega. 
Os salários voltam a atrasar. As dívidas dessa empresa e de seus funcionários 
aumentam até que todos – além da empresa inicial – fiquem em grandes apuros 
financeiros. O que podemos concluir dessa situação? 
Bem, em primeiro lugar, esse breve relato já ocorreu dezenas de dezenas 
de vezes, embora de maneiras muito mais complexas, envolvendo muito mais 
empresas, pessoas e situações. É por conta de situações desse tipo que se 
afirma que alguns problemas financeiros são contagiosos. Por isso, há aspectos 
jurídicos que devem ser entendidos. 
 
 
16 
Um desses aspectos é a insolvência. Nosso Código Civil aponta, em seu 
art. 955, que “Procede-se à declaração de insolvência toda vez que as dívidas 
excedam à importância dos bens do devedor”. Isso significa que o estado de 
insolvência de uma pessoa ocorre quando, mesmo somando todos os seus bens, 
ainda não se chega ao valor da dívida. 
O insolvente é inadimplente, ou seja, não consegue cumprir com seus 
pagamentos, deixando vários credores sem receber. Há duas formas de 
insolvência: a real e a presumida. Insolvência real é aquela na qual todos sabem 
que os bens do devedor não são suficientes para arcar com suas dívidas. 
Insolvência presumida é aquela quando há a suspeita, por parte dos credores, 
de que o devedor possui matrimônio menor do que deve. 
Quando alguém está em estado de insolvência, seus credores podem 
entrar na justiça e requerer que a insolvência da pessoa seja declarada por um 
juiz. O juiz, por sua vez, permite que o devedor se manifeste, e prove que tem 
condições de pagar o que deve, e que tem patrimônio para colocar em garantia. 
Caso o devedor não consiga provar que o patrimônio é superior à dívida, o juiz 
declara o estado de insolvência. Uma vez declarado o estado de insolvência, o 
devedor perde o direito de administrar seu patrimônio, que passa a ficar a cargo 
de um terceiro nomeado pelo juiz. 
Quando uma empresa não está conseguindo pagar suas dívidas, seus 
credores podem buscar – cada um de forma individual – seus direitos na justiça. 
Se isso ocorrer, aqueles que processaram a empresa primeiro tem mais chances 
de receber do que aqueles que processaram a empresa devedora por último. 
Para evitar esse tipo de desigualdade, e pulverizar as chances de recebimento 
entre todos os credores, é que existe a falência. A falência é um processo 
judicial, e uma empresa só entra em falência quando um juiz a declarar. No 
processo falimentar, unificam-se as dívidas de todos os credores da empresa em 
processo de falência em uma só cobrança. Por isso, a lei e a regulamentação da 
falência e de seus procedimentos são tão importantes. 
Outro ponto que merece destaque é o fato de que, muitas vezes, uma 
empresa está em dificuldades financeiras momentâneas, que não justificam o 
início de um processo falimentar. Mesmo assim, muitos credores ansiosos, 
iniciavam processos de falência contra seus devedores na expectativa de 
receber logo o que lhe era devido, muitas vezes, poucos dias após o vencimento 
 
 
17 
das obrigações. Para evitar situações assim é que a falência tem alguns 
princípios e pressupostos importantes. 
Um desses pressupostos é a insolvência, comentada anteriormente. A 
regulamentação falimentar está na Lei n. 11.101, de 2005. Em seu art. 75, a lei 
afirma: “A falência, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades, 
visa a preservar e otimizar a utilização produtiva dos bens, ativos e recursos 
produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa”. Temos aqui não apenas um 
princípio, mas também um objetivo: otimizar os bens da empresa para pagar 
seus credores. 
E quem pode pedir falência? Novamente, a Lei n. 11.101 nos responde: 
Art. 97. Podem requerer a falência do devedor: 
I – o próprio devedor, na forma do disposto nos arts. 105 a 107 desta 
Lei; 
II – o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o 
inventariante; 
III – o cotista ou o acionista do devedor na forma da lei ou do ato 
constitutivo da sociedade; 
IV – qualquer credor. 
Aquele que pede a falência de uma determinada empresa deve ser dela 
credor. Para que o pedido de falência feito por credor seja aceito por um juiz, 
esse credor deve demonstrar a impontualidade injustificada do devedor ao pagar 
suas dívidas. Para isso, deve-se apresentar certidões de protesto judicial como 
ensina Ramos (2019, p. 710): 
fica claro que a única forma de demonstrar a impontualidade 
injustificada (sem relevante razão de direito, no dizer da lei) é o protesto 
do título. Não se admite nenhum outro meio de prova – documental, 
testemunhal ou pericial – paraa comprovação do inadimplemento do 
devedor: apenas o protesto serve a essa finalidade. Sendo assim, 
qualquer título executivo que o credor possua contra o devedor deve 
ser levado a protesto, para só depois servir de base ao pedido de 
falência. 
Assim, ao exigir o protesto, a lei diminui as chances de que credores 
peçam a falência de devedores inadimplentes como forma de pressioná-los ao 
pronto pagamento de suas dívidas. 
TROCANDO IDEIAS 
Pense por um instante na quantidade de empresas que encerraram as 
atividades em virtude da pandemia da COVID-19 entre 2020 e 2021. Considere 
também quantas pessoas acabaram perdendo seus empregos. Em uma 
situação assim, qual a sua opinião sobre aqueles credores que pedem a falência 
 
 
18 
dos devedores para pressioná-los a pagar as dívidas? Isso é correto e moral? 
Comente a respeito e discuta com os colegas se alguém já trabalhou em uma 
empresa que faliu ou cujos sócios se separaram. 
NA PRÁTICA 
Você já sabe que o nome das pessoas é protegido por lei. Essa proteção 
se refere não só a questões de intimidade e dos dados pessoais – recentemente 
protegidos pela LGPD – mas também em relação a questões morais. Da mesma 
forma que não se pode caluniar uma pessoa, não se pode caluniar uma empresa 
acusando-a de coisas mentirosas. O nome empresarial recebe a mesma 
proteção dada ao nome da pessoa física. 
A esse respeito, muitos empresários são bem criativos na hora de criar os 
nomes de suas empresas. Com sucessos cinematográficos e televisivos 
surgiram “La Casa de Pastel” e “Senhor dos Pastéis”. E qual a diferença entre o 
nome empresarial e a razão social? O nome empresarial e a marca são a 
maneira pela qual a empresa se apresenta ao mercado. No ensinamento de 
Ramos (2020, p. 214), o nome é “atributo de personalidade, por meio do qual o 
empresário exerce a empresa”. A marca, segundo o autor (Ramos, 2020, p. 214) 
é um “sinal distintivo visualmente perceptível usado para distinguir produto ou 
serviço de outro idêntico, semelhante ou afim, de origem diversa, bem como para 
atestar a conformidade de um produto ou serviço com determinadas normas ou 
especificação técnicas e, ainda, para identificar produtos ou serviços provindos 
de determinada entidade”. 
A razão social, por outro lado, é o nome da empresa que consta no 
Contrato Social. Enquanto é possível, na mesma praça, haver várias empresas 
com nomes empresariais semelhantes, mas só é possível uma razão social por 
local. Isso serve para facilitar a identificação da organização nos órgãos de 
registro. 
FINALIZANDO 
No decorrer desta aula você aprendeu que a tecnologia, que faz parte 
diária de nossas vidas, fez com que nossos dados estivessem mais expostos. 
Por conta disso, a Lei n. 13.709, de 14 de agosto de 2018, conhecida como Lei 
 
 
19 
Geral da Proteção de Dados ou simplesmente pela sigla LGPD, entrou em vigor 
completamente no ano de 2020. 
Vimos que toda atividade empresarial é regulada pelo chamado Direito 
Empresarial, outrora conhecido como Direito Comercial. Para Ramos (2020, p. 
48), o Direito Empresarial pode ser conceituado como o “conjunto específico de 
normas (regras e princípios) que disciplinam a atividade econômica organizada 
para produção ou circulação e bens ou serviços (empresa) e aqueles que a 
exercem profissionalmente (empresários)”. 
O Código Civil é a fonte por excelência desse ramo do Direito, e começa 
a tratar do tema a partir de seu art. 966, no qual diz: “Considera-se empresário 
quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a 
produção ou a circulação de bens ou de serviços”. Muitas vezes a atividade 
empresária é realizada a partir de sociedades constituídas exatamente para esse 
fim. Podem ser sociedades simples, sociedades limitadas ou sociedades 
anônimas. Aprendemos que os profissionais que não querem se associar podem 
realizar suas atividades como MEI, Microempresário ou EIRELI; e que cada tipo 
societário tem desafios e particularidades. Da mesma forma, em cada tipo 
societário a responsabilidade dos sócios varia. 
Por fim, você aprendeu que as sociedades podem ser encerradas por 
decisão dos sócios, dentro outros motivos. Um sócio pode ser retirado da 
sociedade por consenso dos demais; e um sócio que não quer mais seguir com 
sua atividade pode vender suas cotas para outro. A forma mais drástica de 
encerramento da sociedade empresarial é a falência, na qual todos os bens da 
empresa são vendidos para quitar suas dívidas. Nesses casos, é necessária uma 
sentença declaratória e uma empresa insolvente. 
 
 
 
20 
REFERÊNCIAS 
BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. 2002. 
CAVUSGIL, S. T.; KNIGHT, G.; RIESENBERGER, J. Negócios Internacionais 
– estratégia, gestão e novas realidades. São Paulo: Pearson, 2010. 
NEGRÃO, R. Manual de direito empresarial. São Paulo: Saraiva Educação, 
2019. 
RAMOS, A. L. S. C. Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2020. 
TEIXEIRA, T. Direito Empresarial Sistematizado – doutrina, jurisprudência e 
prática. São Paulo: Saraiva, 2019.

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