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W BA 10 97 _V 1. 0 PLANEJAMENTO AGREGADO, PLANEJAMENTO MESTRE DE PRODUÇÃO E MRP 2 Karoline Guedes São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2022 PLANEJAMENTO AGREGADO, PLANEJAMENTO MESTRE DE PRODUÇÃO E MRP 1ª edição 3 2022 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Head de Platos Soluções Educacionais S.A Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Alessandra Cristina Fahl Camila Turchetti Bacan Gabiatti Camila Braga de Oliveira Higa Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Mariana Gerardi Mello Revisor Jose Luciano Lopes da Costa Filho Editorial Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Márcia Regina Silva Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________ Guedes, Karoline Planejamento agregado, planejamento mestre de produção e MRP / Karoline Guedes. – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2022. 32 p. ISBN 978-65-5356-194-6 1. Planejamento agregado. 2. Planejamento mestre de produção. 3. MRP. I. Título. CDD 658.5038 _____________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB 010289/O G924p © 2022 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. 4 SUMÁRIO Apresentação da disciplina __________________________________ 05 Planejamento agregado ______________________________________ 07 Planejamento Mestre de Produção __________________________ 21 Planejamento das necessidades de materiais (MRP I) ________ 34 Conceito e função – Planejamento das necessidades de manufatura (MRP II) _________________________________________ 46 PLANEJAMENTO AGREGADO, PLANEJAMENTO MESTRE DE PRODUÇÃO E MRP 5 Apresentação da disciplina Olá, aluno(a)! Seja bem-vindo(a) à disciplina de Planejamento, Programação e Controle da Produção. A disciplina contempla um material tanto teórico como prático. Aplicaremos alguns exemplos no Excel, com artigos interessantes para você ler sobre a temática, com estudos de casos, justamente para que não fiquemos apenas na teoria, tentando trazer a prática ao nosso estudo. Estudaremos sobre o planejamento, a programação e o controle da produção, principalmente em relação aos seus níveis hierárquicos: estratégico, tático e operacional. Junto aos níveis hierárquicos, veremos os horizontes de planejamento: longo, médio e curto prazo, bem como o desenvolvimento dos planos. No tema 1, estudaremos o conceito e a função do planejamento agregado, bem como o desenvolvimento de planos de produção, que traz uma visão mais estratégica da produção com um olhar a longo prazo; no tema 2, o conceito e a função de um Planejamento Mestre de Produção (PMP), assim como sua elaboração e aplicação, que é um plano mais operacional desenvolvido a médio prazo; nos temas 3 e 4, o Planejamento de Materiais (MRP) e o Planejamento das Necessidades de Manufatura (MRP II), respectivamente, quando veremos o sequenciamento e o controle da produção, que estão mais relacionados ao dia a dia da produção. É esperado que, com o conteúdo da disciplina, você possa compreender a importância do PPCP para as indústrias e do gerente de PPCP em 6 conhecer todas as etapas do processo produtivo e coordenar todas essas atividades acompanhando o que, quando, quanto e como produzir. Que você tenha um bom aproveitamento do conteúdo. Até logo! 7 Planejamento agregado Autoria: Karoline Guedes Leitura crítica: José Luciano Lopes da Costa Filho Objetivos • Aprender os conceitos, as funções e os objetivos do planejamento agregado. • Compreender a sistemática de desenvolvimento de um plano de produção. • Ser capaz de elaborar um plano de produção. 8 1. Introdução Planejamento, Programação e Controle da Produção (PPCP) é o setor de uma organização responsável por buscar sempre uma maior produtividade e diminuir desperdícios no processo produtivo. O planejamento da produção acontece mais a longo prazo e define, por exemplo, o dimensionamento de uma máquina da forma correta, a compra de equipamento, entre outras situações. Já a programação da produção cuida do dia a dia e define a sequência com a qual os itens deverão ser produzidos, ao longo de uma semana, nos próximos cinco dias (médio prazo) etc. E o controle da produção, como a própria palavra já diz, controla a produção de acordo com os planejamentos e as programações previstas (CORRÊA; CORRÊA, 2017). Segundo Corrêa e Corrêa (2017), a principal responsabilidade do PPCP é disponibilizar os materiais no tempo, na quantidade e no local corretos, atendendo a todas as necessidades relacionadas à eficiência da operação. Desde a otimização do volume de compra dos materiais até a otimização dos lotes de produção, para melhorar a eficiência da organização. E, para alcançar a otimização dos lotes de compra, o PPCP não pode levar urgências para o setor de compras, por exemplo, é preciso existir uma visão de médio prazo, para estabilizar e otimizar esse processo de compras. De acordo Corrêa, Gianesi e Caon (2019), o PPCP é parte do sistema de produção da organização como um todo. Ele compreende o desenvolvimento do produto, a definição dos equipamentos que serão otimizados para produção, a definição dos materiais que serão utilizados na produção, a definição dos volumes de compra. Por fazer parte do sistema como um todo, o responsável pelo PPCP precisa conhecer e entender o que acontece em todas as etapas do processo produtivo, precisa participar das decisões e levar o ponto de vista de planejamento, 9 sempre avaliando os impactos de alguma decisão em cada etapa do fluxo de produção. Portanto, o principal objetivo do PPCP é responder às seguintes perguntas: • O que comprar e produzir? • Quanto comprar e produzir? • Quando comprar e produzir? • Com que recursos produzir? Para responder a essas questões de maneira eficiente, o PPCP deve buscar sempre: minimizar o tempo ocioso de fábrica, máquinas, ferramentas e pessoas; maximizar o giro de estoque de matérias-primas; maximizar o nível de serviço e a satisfação dos clientes; maximizar a qualidade de produção; manter o estoque de produtos acabados de acordo com o planejado; definir e manter lotes de produção; identificar e reduzir gargalos durante o fluxo de produção; planejar com antecedência para otimizar a compra dos materiais que serão utilizados no processo produtivo (CORRÊA; GIANESI; CAON, 2019). Para isso, o PPCP necessita de dados e informações de outros setores, como do setor de marketing e vendas, financeiro, almoxarifado, administrativo, engenharia do produto, engenharia de processos, manutenção e recursos humanos. Tais informações auxiliarão a organização e o controle dos recursos de uma produção, aplicando-se ferramentas e metodologias em busca de melhor atender aos planos que serão desenvolvidos em três diferentes níveis de planejamento: nível estratégico (plano de produção), nível tático (plano mestre de produção) e nível operacional (planejamento das necessidades de materiais) (TUBINO, 2017). 10 Em vista disso, as informações e os dados advindos dos diferentes setores da organização alimentarão os três planejamentos que serão exercidos por também três diferentes níveis hierárquicos de produção, conforme a Figura 1. Figura 1 - Níveis de planejamento e níveis hierárquicos Fonte: elaborada pela autora.No nível estratégico, o PPCP define as políticas estratégicas de longo prazo que a organização seguirá para que o Plano de Produção seja desenvolvido, e o responsável por seu desenvolvimento é a alta direção. No nível tático, são estabelecidos os planos de médio prazo da produção, e os gerentes de produção desenvolvem o Plano Mestre de Produção (PMP) de acordo com o Plano de Produção. E no nível operacional, os supervisores dos processos produtivos preparam os programas de curto prazo da produção em que será realizado o acompanhamento dessa programação da produção para gerenciar estoques, sequenciar a produção, emitir e liberar ordens de compra, de fabricação, montagem, bem como também acompanhar e controlar a produção de acordo com o PMP anteriormente desenvolvido. Nesse nível podem ser realizados também relatórios de avaliação de desempenho (CORRÊA; GIANESI; CAON, 2019). 11 Para o desenvolvimento do Plano de Produção para um período de longo prazo, o PPCP considerará as estimativas de venda e disponibilidade de recursos produtivos e financeiros e, a partir da previsão de demanda, o planejamento estratégico da produção estimará os tipos e as quantidade de produtos que se espera vender. Definirá também se a capacidade da produção será aumentada ou reduzida. O plano de produção tem a característica de ser pouco detalhado, em que são descritas famílias de produtos, e tem como finalidade adequar os recursos produtivos à demanda esperada, buscando atingir os objetivos de desempenho da organização: qualidade, velocidade, confiabilidade, flexibilidade e custo. Portanto, segundo Corrêa, Gianesi e Caon (2019), o Plano de Produção busca determinar: • Qual é a demanda de produtos do mercado? • Qual estratégia será utilizada para atender a essa demanda? • Qual é a capacidade a ser instalada para produzir a demanda exigida? • Como implantar a gestão da produção em termos de tecnologias, instalações, financiamento e recursos humanos? • Quais os riscos financeiros, econômicos e ambientais que podem impactar o custo de produção? • Que indicadores de desempenho devem ser empregados para o PPCP dos sistemas de produção? • Qual o mix de produtos será definido para ser produzido? • Qual o valor agregado ao cliente e aos donos da organização? 12 Então, a partir da previsão de vendas disponibilizadas pelo setor de marketing e acompanhamento de pedidos da área comercial, bem como a disponibilidade de recursos financeiros e produtivos disponibilizadas pelo setor financeiro, é possível desenvolver o Plano de Produção a longo prazo. Esse plano leva em consideração a capacidade instalada disponível e busca garantir os recursos de produção que exigem menos antecedência (CORRÊA; CORRÊA, 2017). O Plano de Produção deve ser desenvolvido para famílias de produtos para adequar os recursos produtivos à demanda esperada. Ele serve como base para equacionar os níveis de produção, compras, estoques, pessoas, máquinas e instalações necessárias para atender à demanda. Esse plano é agregado a nível estratégico e mestre em nível tático, ou seja, o plano de produção agregado servirá de base para desenvolver o plano mestre da produção, no qual as informações serão desmembradas de forma a permitir o acionamento do sistema produtivo (CORRÊA; GIANESI; CAON, 2019). Com isso, as entradas necessárias para o desenvolvimento do Plano de Produção são: • Dados referentes aos recursos disponíveis, como equipamentos, instalações, taxa de produção e capacidade. • Previsão de demanda para a família de itens. • Políticas alternativas, como subcontratações de mão de obra, turnos extras, política de estoques, entre outros. • Dados de custo da produção normal, armazenagem, subcontratações, turno extra, entre outros. Ao planejar recursos comuns a diversos produtos, a ideia é agregar suas demandas e tratá-los como se fossem um só, ou seja, um produto padrão de planejamento. Isso é feito com o objetivo de estimar a 13 demanda agregada de uma família de produtos em relação à sua capacidade, para depois estimar a demanda de cada um dos produtos individualmente (desagregação). Contudo, nos casos em que não é possível agregar produtos muito diferentes, os recursos mais críticos não são compartilhados e, consequentemente, devem ser planejados separadamente (CORRÊA; GIANESI; CAON, 2019). Os passos básicos para a elaboração de um Plano de Produção são: primeiro, agrupar os produtos em famílias afins; depois, estabelecer o horizonte de tempo a ser incluído no plano; determinar a previsão de demanda destas famílias para os períodos no horizonte de planejamento; determinar a capacidade de produção pretendida por período para cada alternativa disponível de produção; definir políticas de produção e estoques para o plano; por fim, determinar os custos de cada alternativa de produção disponível. 2. Agregação Para realizar a agregação da demanda em famílias de produtos afins ou equivalentes, é necessário mensurar os níveis agregados de demanda. O principal objetivo do desenvolvimento de um plano agregado de produção é maximizar os lucros ou minimizar os custos de produção. Exemplo de agregação: Uma fábrica de eletrodomésticos fabrica diferentes tamanhos e modelos de máquinas de lavar roupa. Para realizar a agregação das máquinas de lavar equivalentes e formar famílias de produtos, foram agrupados grupos de produtos com matérias-primas e processos em comum, conforme o Quadro 1. 14 Quadro 1 - Agregação de produtos Produto Família Lavadora de roupas branca 9 kg Família 1 (Branca) Lavadora de roupas branca 11 kg Lavadora de roupas branca 15 kg Lava e Seca branca 11 kg Secadora branca 9 kg Produto Família Lavadora de roupas inox 9 kg Família 2 (Inox) Lavadora de roupas inox 11 kg Lavadora de roupas inox 15 kg Lava e Seca inox 11 kg Secadora inox 9 kg Fonte: elaborado pela autora. A produtividade influencia diretamente no uso da capacidade operacional dos equipamentos e da mão de obra. As restrições são, normalmente, de fluxo de estoque e do número de funcionários, por exemplo. Em relação aos custos, os principais utilizados no plano agregado são: custos das horas normais de trabalho, custo das horas extras, custos de contratação e demissão, custos de mão de obra terceirizada ou temporária, custos de manutenção dos estoques, custo de pedidos em atraso e custo da falta de estoque (que é o não atendimento da demanda). Existem também outros fatores que devem ser levados em consideração para o desenvolvimento do plano, como a rotatividade da mão de obra, a inclusão do período de férias e a terceirização em períodos de falta de capacidade. Outro fator a ser observado é o horizonte de tempo coberto pelo planejamento, que deve ser determinado de acordo com o tempo necessário para o processo produtivo obter seus principais recursos (CORRÊA; GIANESI; CAON, 2019). Um aspecto importante a ser considerado para o desenvolvimento do Plano de Produção é a escolha do tipo de método que será utilizado no processo de produção: Plano de Produção agregado com produção 15 constante, Plano de Produção agregado com acompanhamento da previsão de demanda, ou Plano de Produção agregado misto, que nada mais é do que a combinação dos dois métodos (CORRÊA; GIANESI; CAON, 2019). 2.1 Plano de Produção agregado com produção constante Conhecido também como estratégia nivelada, o Plano de Produção agregado com produção constante mantém o nível de produção constante entre o mínimo e o máximo de demanda ou meta de vendas. Isso é possível porque, durante os períodos em que a produção excede a previsão de demanda, os estoques são acumulados para cobrir a falta de produção no período que a previsão de demanda supere a produção. Exemplo de Plano de Produção agregado com produção constante: Uma fábrica apresenta os seguintes dados: Quadro 2 - Dados Trimestre 1 2 3 4 Previsão de demanda 600 800 1000 800 Fonte: elaborado pela autora. Número inicial de funcionários: 20Estoque inicial: 150 Produtividade individual: 40 unidades/funcionário por mês Cargo mensal de operário em horas normais: 160 h/mês Remuneração mensal (incluindo encargos): R$ 1.600,00 Horas extras: R$ 9,50/hora Horas subcontratadas: R$ 14,00/hora Custo de manter estoque: R$ 5,00 por unidade por período 16 Custo de contratar: R$ 1.600,00 por funcionário Custo de demitir: R$ 1.800,00 por funcionário Ao decidir pelo método de produção constante, o Plano de Produção ficaria conforme apresentado a seguir: Quadro 3 - Plano de Produção Trimestre 1 2 3 4 Previsão de Demanda 600 800 1000 800 Produção constante 800 800 800 800 Produção Produção normal 800 800 800 800 Produção hora extra Produção subcontratada Mão de Obra Mão de Obra Total 20 20 20 20 Contratados Demitidos Estoques Estoque Inicial 150 350 350 150 Estoque Final 350 350 150 150 Estoque Médio 250 350 250 150 Custos Horas Normais R$ 32.000,00 R$ 32.000,00 R$ 32.000,00 R$ 32.000,00 Horas Extras Horas subcontratadas Contratações Demissões Custo de Estoque R$ 1.250,00 R$ 1.750,00 R$ 1.250,00 R$ 750,00 Custo por período R$ 33.250,00 R$ 33.750,00 R$ 33.250,00 R$ 32.750,00 CUSTO TOTAL DO PLANO R$ 133.000,00 Fonte: elaborado pela autora. Com o método de produção constante, o quadro de funcionários é mantido em todos os períodos, acumulando estoque nos períodos de 17 baixa demanda para cobrir a falta de produtos nos períodos de alta demanda, gerando, assim, custos relacionados à armazenagem desses estoques. 2.2 Plano de Produção agregado com acompanhamento da demanda Conhecido também como estratégia seguidora, o Plano de Produção agregado com acompanhamento da demanda procura fazer a produção acompanhar as previsões de demanda, evitando a formação de estoques. Esse método é indicado em situações em que é mais fácil variar o nível de produção sem implicar custos elevados e a capacidade ociosa é muito cara. Então, como não há formação de estoque, só se produz o que será logo vendido. Exemplo de Plano de Produção agregado com acompanhamento da demanda: Utilizando o mesmo exemplo do método anterior, ao decidir pelo método de produção com acompanhamento da demanda, o Plano de Produção se apresentaria conforme apresentado a seguir: Quadro 4 - Plano de Produção Trimestre 1 2 3 4 Previsão de Demanda 600 800 1000 800 Produção igual à demanda 600 800 1000 800 Produção Produção normal 600 800 1000 800 Produção hora extra Produção subcontratada Mão de Obra Mão de Obra Total 15 20 25 20 18 Contratados 5 5 Demitidos 5 5 Estoques Estoque Inicial 150 150 150 150 Estoque Final 150 150 150 150 Estoque Médio 150 150 150 150 Custos Horas Normais R$ 24.000,00 R$ 32.000,00 R$ 40.000,00 R$ 32.000,00 Horas Extras Horas subcontratadas Contratações R$ 8.000,00 R$ 8.000,00 Demissões R$ 9.000,00 R$ 9.000,00 Custo de Estoque R$ 750,00 R$ 750,00 R$ 750,00 R$ 750,00 Custo por período R$ 33.750,00 R$ 40.750,00 R$ 48.750,00 R$ 41.750,00 CUSTO TOTAL DO PLANO R$ 165.000,00 Fonte: elaborado pela autora. Com o método de produção com acompanhamento da demanda, o quadro de funcionários agora variará, porém os custos com estoques diminuem, devido à produção seguir exatamente o necessário para atender à previsão de demanda. 2.3 Plano de Produção agregado com produção constante e acompanhamento da demanda Conhecido também como estratégia mista, o Plano de Produção agregado com produção constante e acompanhamento da demanda combina os dois métodos, com o intuito de encontrar um balanceamento entre custos com estoques e com mão de obra. Uma estratégia utilizada neste método é variar a produção mesmo sem contratação ou dispensa de pessoal. Isso pode ser feito, por exemplo, com a concentração de férias de pessoal em meses de baixa demanda. 19 Ao decidir pela estratégia mista, é possível, por exemplo, concentrar as férias dos funcionários nos trimestres 1, 2 e 4, a fim de manter a produção constante e não ter custos relacionados à contratação e demissão de funcionários, bem como custos relacionados ao estoque. Além do exemplo de férias para os funcionários nos períodos de baixa demanda, a alta direção poderia decidir por estratégias de utilizar horas extras, subcontratação, estoque zero, entre outras decisões. Portanto, a estratégia a ser seguida deve relacionar os custos de produção, de contratação e demissão de funcionários, de horas extras e subcontratação, além dos custos relacionados às políticas de armazenamento dos estoques, a fim de obter a minimização dos custos, em busca do plano agregado de produção que apresente o menor custo total. 3. Considerações finais Com o plano agregado de produção e a partir das informações, restrições e capacidade da produção definidas pela estratégia escolhida, é desenvolvido o plano mestre de produção para médio prazo. Depois, são realizados programas de curto prazo, que o PPCP tem como função alinhar a programação da produção controlando os estoques, o sequenciamento da produção e a emissão de ordens de produção e de compras. Referências CORRÊA, H. L.; CORRÊA, C. A. Administração de Produção e Operações: manufatura e serviços: uma abordagem estratégica. São Paulo, SP: Atlas, 2017. CORRÊA, H. L.; GIANESI, I. G. N.; CAON, M. Planejamento, programação e controle da produção: MRP II/ ERP. São Paulo, SP: Atlas, 2019. 20 GUERRINI, F. M.; BELHOT, R. V.; AZZOLINI JÚNIOR, W. Planejamento e controle da produção: modelagem e implementação. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier, 2019. LAGE JÚNIOR, M. Planejamento e controle da produção. Rio de Janeiro, RJ: LTC, 2019. SLACK, N.; BRANDON-JONES, A.; JOHNSTON, R. Administração da Produção. São Paulo, SP: Atlas, 2018. TUBINO, D. F. Planejamento e controle da produção: teoria e prática. São Paulo, SP: Atlas, 2017. 21 Planejamento Mestre de Produção Autoria: Karoline Guedes Leitura crítica: José Luciano Lopes da Costa Filho Objetivos • Aprender o conceito e os objetivos do Planejamento Mestre da Produção. • Entender o desenvolvimento e a importância de um PMP. • Ser capaz de elaborar um PMP. 22 1. Introdução Planejamento, Programação e Controle da Produção (PPCP) é o setor de uma empresa ou de uma indústria que é responsável por buscar sempre por uma maior produtividade e redução de desperdícios na produção de produtos ou prestação de serviços. O primeiro “P” de planejamento acontecerá mais a longo prazo. Ele define o que acontecerá no futuro na produção, por exemplo, o dimensionamento de uma máquina da forma correta, as compras de equipamento, entre outras situações. Já o “P” de programação da produção cuida do dia a dia, ou seja, é o sequenciamento da produção. Ele define a sequência que os itens deverão ser produzidos ao longo de um mês, de uma semana, nos próximos cinco dias; ele diz respeito a um médio prazo. E o “C” é o controle da produção, logo, como a própria palavra já diz, controla a produção de acordo com os planejamentos e as programações previstas e realizadas anteriormente (CORRÊA; CORRÊA, 2017). Após o desenvolvimento do Plano de Produção a nível estratégico (Plano de Produção Agregado), no nível tático serão estabelecidos os planos de médio prazo da produção, e os gerentes de produção desenvolvem o Plano Mestre de Produção (PMP) de acordo com o Plano de Produção (CORRÊA; GIANESI; CAON, 2019). Portanto, no Plano de Produção, são determinados os recursos disponíveis para a produção em cada período utilizando a demanda agregada das famílias dos produtos. Porém, nem todos os recursos necessários para a produção estão contemplados no plano agregado, como matérias-primas e componentes, então, para desenvolver o planejamento desses recursos, é necessária a desagregação do Plano de Produção e da família de produtos (TUBINO, 2017). Com a desagregação do plano, é possível levar em consideração a capacidade da indústria disponível e a distribuição entre os vários 23 produtos finais dos recursos disponíveis para atender à demandaprevista e aos possíveis pedidos firmes já confirmados devido à utilização de um horizonte de planejamento com um futuro mais próximo (médio prazo) (CORRÊA; CORRÊA, 2017). Com isso, o objetivo principal do PMP é, a partir dos estoques disponíveis de produtos finais, dos produtos firmes, das vendas, do lead time e da política de determinação dos lotes de produção, determinar quando e quanto deverá ser produzido de cada produto final. Durante o desenvolvimento do PMP, é preciso verificar se a capacidade que foi disponibilizada através do planejamento agregado é suficiente para atender às necessidades de cada produto em cada período de tempo (agora menor) (TUBINO, 2017). Portanto, à medida que o horizonte de planejamento vai avançando, as demandas previstas passam a ser mais detalhadas, até que algumas se tornam pedidos firmes (ou confirmados). Com essa informação, é possível saber exatamente que tipo de produto deverá ser produzido, a capacidade e a demanda, a qual antes era definida para o mês e, agora, é desagregada em relação ao tempo (passa de mês para as semanas) e em relação ao produto (família de produtos para produtos individuais). No Quadro 1, é apresentado um exemplo de desagregação de um plano agregado para um PMP. Para a desagregação do horizonte de tempo e da família de produtos, é necessário seguir o planejamento agregado. Para o exemplo dessa tabela, a capacidade disponível para a produção da família de produtos Camisa Modelo 1 é de 1350 em janeiro e de 2220 em fevereiro. Quadro 1 - Exemplo de desagregação Meses Janeiro Fevereiro Semanas 1 2 3 4 5 6 7 8 Planejamento Agregado Camisas Modelo 1 1350 2220 24 PMP Camisa P 90 90 30 60 105 105 105 105 Camisa M 60 30 180 180 180 180 Camisa G 150 240 300 300 360 240 240 240 Fonte: elaborado pela autora. Além disso, para a desagregação, é necessário ter informações relacionadas aos pedidos firmes e à previsão de vendas para os períodos com um menor horizonte de planejamento. É possível analisar que a soma das demandas individuais dos produtos nas semanas é igual à capacidade disponível no mês para a família de produtos. Portanto, a capacidade disponível (ou a previsão de demanda agregada) é a principal informação de entrada para o desenvolvimento do PMP. E a desagregação dessa capacidade fornecerá metas de vendas do PPCP em forma de demanda semanal para cada produto individual da família de produtos (CORRÊA; CORRÊA, 2017). Logo, a capacidade utilizada no planejamento agregado será alocada a cada produto final (família desagregada) em uma semana, e com isso são considerados outros recursos necessários para a produção, como: estoque projetado, estoque inicial, pedidos firmes e poder planejar a produção para as semanas seguintes. O PMP será utilizado como base para planejar a etapa seguinte de programação da produção a nível operacional, em que são planejados quais os recursos específicos necessários para a produção dos produtos finais, como matérias-primas e componentes. 1.1 Entradas e saídas do PMP Para o desenvolvimento do PMP, é necessária a coleta de informações das diversas áreas de uma organização, principalmente as que possuem um contato direto com o processo produtivo. Por exemplo, o setor financeiro saberá qual a necessidade de capital; o setor de marketing saberá qual seu plano de vendas e suas possíveis datas de entregas; a área do compras tem informações sobre quando comprar de seus 25 fornecedores e, principalmente, a produção poderá planejar os recursos necessários para a produção das próximas semanas em relação a quantidades e prazos (CORRÊA; CORRÊA, 2017). Com isso, as entradas necessárias para a elaboração do PMP são as seguintes: • O estoque inicial do período anterior (on-hand) – que é a quantidade real disponível em estoque, resultante do período anterior. • A previsão de demanda desagregada – por período de planejamento. • Os pedidos firmes de clientes (firm-orders) – por período de planejamento, que são as quantidades confirmadas ou comprometidas. Normalmente, essa informação só existe para os períodos iniciais do horizonte de planejamento do PMP. Isso porque os clientes, normalmente, não fazem seus pedidos com uma antecedência muito maior do que o prazo de entrega dado pelo fornecedor. Então, são raros os pedidos para um futuro muito mais distante do que o prazo de entrega. Como saídas do PMP, temos: • O estoque projetado por período de planejamento – com base nos estoques iniciais de cada período, nas previsões e/ou nos pedidos firmes e nas necessidades de produção, pode-se projetar estoque de cada período. Estoques mínimos ou estoques de segurança podem ser configurados para que o PMP sempre os considere no programa. • Recebimento do PMP – a partir dos estoques projetados, pode- se estabelecer em que períodos será necessário receber para ressuprir esses estoques. 26 • Disponível para prometer (ATP – Available to Promise) – conhecido também como estoque não comprometido, permite à área de vendas (marketing) fazer promessas de venda realistas, ou seja, que podem ser cumpridas segundo o plano de produção. Portanto, como resultado do PMP, temos decisões relacionadas à necessidade de produtos finais para cada período do plano. O PMP também conecta o planejamento estratégico (plano de produção agregado) às atividades operacionais da produção (programação da produção). 1.2 Elaboração do PMP O PMP pode ser elaborado por meio de planilha eletrônica, ou por softwares do tipo ERP (Enterprise Resource Planning) e MRP II (Manufacturing Resource Planning). A Tabela 2, a seguir, apresenta um modelo da tabela utilizada para fazer o registro do PMP para n períodos de planejamento. Os quadros de registro do PMP devem conter detalhes relacionando o item a ser produzido para cada período a ser planejado (semanas). Além disso, constam informações sobre a previsão de demanda, o recebimento programado para o PMP e os estoques iniciais e projetados. Portanto, para o PMP, são utilizadas informações da dinâmica do PPCP, com foco nos prazos e na busca por sempre nivelar a previsão de demanda com a produção. 27 Quadro 2 - Modelo de registro básico do PMP Item: Semanas 1 2 3 4 5 6 7 8 Previsão de demanda Pedidos Firmes Estoque Projetado Recebimento de PMP Início do PMP ATP Fonte: elaborado pela autora. No quadro do registro do PMP devem conter as informações iniciais de: previsão de demanda semanal, pedidos firmes, estoque inicial, tamanho do lote de produção e lead time. Com essas informações, é possível calcular e encontrar o estoque projetado, recebimento e início do PMP, e o ATP para cada período. Para encontrar o valor do estoque projetado, é utilizada a equação a seguir: Onde: = Estoque projetado do período. = Estoque projetado do período anterior. = Recebimentos do período. = Consumo esperado para o período (maior valor entre a previsão de vendas e os pedidos firmes). 28 Em conjunto com a política definida para os estoques (estoque mínimo, máximo, entre outras estratégias), é preenchida a linha de recebimento do PMP junto ao início do PMP (de acordo com o lead time). Figura 1 - Relação dos pedidos firmes e o ATP Fonte: elaborada pela autora. A Figura 1 apresenta a relação entre os pedidos firmes e o que poderá ser prometido para a venda aos clientes. Então, é possível verificar que, no curto prazo, a maior parte do estoque (ou dos recebimentos futuros) está comprometida para os pedidos firmes, havendo pouca disponibilidade para novas vendas. Conforme avança no tempo, há menos material comprometido em pedidos firmes e mais para atender às vendas futuras. 1.3 Exemplo de fixação Para entender melhor o passo a passo da elaboração do PMP, segue exemplo de fixação. Uma indústria têxtil produz diversos tipos de camisas e precisa elaborar um PMP para o produto “Camisa modelo 1 Tamanho P”. A previsão de demanda para as primeiras semanas do ano é: 29 Quadro 3 - Exemplo Semanas 1 2 3 4 5 6 78 Previsão de demanda 50 80 100 100 120 80 80 80 Fonte: elaborado pela autora. O estoque inicial (remanescente do ano anterior) do produto é de 70 unidades, e a equipe de vendas já fechou alguns pedidos, que são os pedidos firmes dos clientes: Quadro 4 - Exemplo Pedidos Firmes 65 60 25 5 2 0 0 0 Fonte: elaborado pela autora. A política de estoque dessa indústria é de não ter estoque menor que zero, e a produção de camisas é feita em lotes de 200 unidades com lead time de 1 semana. Para elaborar o PMP desse exemplo, em um primeiro momento, já podemos notar a diferença entre a previsão de demanda e os pedidos firmes. Como já foi discutido anteriormente na aula, as quantidades correspondentes aos pedidos firmes tendem a ser cada vez menores quanto mais no futuro estiver o período considerado. Por isso, naturalmente, a quantidade de pedidos firmes num dado período futuro tende a aumentar conforme o tempo passa. Além disso, com base no estoque inicial, na previsão de demanda e nos pedidos firmes, podemos começar a construir o registro PMP pelo estoque projetado: que é igual a = (estoque projetado do período anterior) + (recebimentos do período) – (consumo esperado para o período). Geralmente, toma-se como “consumo esperado” para o período o maior valor entre a previsão de vendas e os pedidos firmes. Assim, é garantido 30 que os pedidos já colocados serão atendidos sem deixar de lado a previsão de demanda, já que, sendo uma previsão, isso indica que ainda se espera que ela se realize na forma de pedidos firmes dos clientes. Antes de preencher qual será o recebimento do PMP, preencheremos os períodos 1 e 2 da linha “estoque projetado”. Para o período 1, o estoque projetado será 70 + 0 – 65 = 5 (porque 65 é o maior valor entre a previsão e os pedidos firmes). Para o período 2, o estoque projetado será 5 + 0 – 80 =–75 (pois 80 é o maior valor entre previsão e pedidos firmes). Isso indica que, para o primeiro período, não é necessário receber, pois o estoque inicial absorve o consumo esperado para o período. Já na segunda semana, o estoque projetado negativo indica que será necessário receber material para atender ao consumo esperado para o período (no caso, a previsão de demanda, pois ela supera os pedidos firmes). O quanto será planejado receber depende da política de estoques adotada. Se a produção de “Camisa modelo 1 Tamanho P” seja feita em lotes de 200 unidades, a informação “200 unidades” será adicionada à linha do “recebimento do PMP” no período 2. Recalculando, o estoque projetado desse período passa a ser: 5 + 200 – 80 = 125 unidades. Para o período 3, teremos 125 + 0 – 100 = 25 (não há necessidade de receber). Mas, já para o período 4, com o estoque projetado negativo, teremos que receber um novo lote. Então, preenchendo o registro do PMP, temos: o recebimento do PMP nas semanas 2, 4, 6 e 8. Com isso, é possível determinar o estoque disponível para prometer (ATP). O ATP é a porção do estoque e dos recebimentos futuros que ainda não está comprometida com os clientes. ATP de um determinado período representa a quantidade que, conforme o PMP, a equipe de vendas pode prometer aos seus consumidores entregar em cada período futuro. 31 Para o planejamento da produção, é importante saber quando deve ser liberada a ordem de fabricação. Essa ordem é representada no PMP como a linha de “início do PMP”. Essa linha nada mais é que o recebimento do PMP adiantada do lead time de produção. Para o exemplo, o lead time é de uma semana, portanto o início do PMP é sempre uma semana antes do recebimento do PMP. Da mesma forma que do PMP, o que mais interessa para o PPCP são as linhas “recebimento do PMP” e “início do PMP”, pois dizem respeito ao tempo e às quantidades de produção. O que mais interessa ao pessoal de vendas é a cada instante saber quantos produtos eles dispõem para vender segundo o PMP, ou seja, o que há de disponível para prometer aos clientes. O estoque disponível para prometer é a porção do estoque e dos recebimentos futuros que não está comprometida com os clientes. À medida que o tempo passa, novos pedidos são fechados pela equipe de vendas, consumindo a previsão. O ATP de um determinado período representa a quantidade que, de acordo com o programa de produção, a equipe de vendas pode prometer entregar aos seus clientes em cada período futuro. Para calcular o ATP do primeiro período, subtrairemos do estoque inicial todos os pedidos firmes até o período 1 (pois o próximo recebimento ocorre no período 2). Portanto, o ATP será 70 – 65 = 5. Para calcular o ATP do segundo período, subtrairemos do lote a ser recebido nesse período todos os pedidos firmes até o período 3 (pois, no período 4, ocorrerá um novo recebimento). Então, o ATP 2 = 200 – 60 – 25 = 115. A visualização do ATP ao longo dos períodos auxilia no processo de vendas, fornecendo informações para a equipe de vendas prometer aos clientes prazos e quantidades realistas. O resultado do registro do PMP para esse exemplo é apresentado a seguir na Figura 3. O preenchimento dos pedidos firmes deve ser atualizado em tempo real, para que 32 sejam feitos os ajustes necessários, seguindo a política de estoques e encaminhando as ordens de produção para a chegada do PMP no momento certo para atendimento da demanda. Quadro 5 - Exemplo de fixação de elaboração do PMP Item: Camisa modelo 1 Tamanho P Mês Janeiro Fevereiro Semanas 1 2 3 4 5 6 7 8 Previsão de demanda 50 80 100 100 120 80 80 80 Pedidos Firmes 65 60 25 5 2 0 0 0 Estoque Projetado 70 5 125 25 125 5 125 45 165 Recebimento de PMP 200 200 200 200 Início do PMP 200 200 200 200 ATP 5 115 193 200 200 Fonte: elaborado pela autora. No desenvolvimento do planejamento agregado, a previsão de demanda mensal era definida pelo setor de marketing e vendas e aprovadas pela alta gerência. Ao desagregar as previsões para períodos menores (semanas) e por produtos finais, essa previsão se torna metas de vendas, desta forma, podemos dizer que o plano de produção foi norteado pelo plano de vendas projetado para o horizonte do PMP. Uma vez elaborado e aprovado, o PMP se torna um compromisso entre a produção e as vendas, passando a ser uma base para a produção através de indicações do momento da liberação de ordens de produção e das entregas programadas. O PMP é que deve coordenar a produção e as vendas, garantindo uma coerência entre as ações dessas duas áreas. Portanto, os planos de produção e vendas estão intimamente relacionados, pois o Plano de Produção é feito com base no que as vendas necessitarão (através das metas), e a produção informa as vendas (através do ATP), isto é, quanto está disponível para vender em qualquer período do horizonte de tempo. 33 Com o PMP, é possível analisar e validar a capacidade da produção em médio prazo, a fim de garantir que o sistema de produção seja capaz de atender à demanda prevista. Isso é realizado por meio da desagregação da demanda tanto em relação à família de produtos como em relação ao horizonte de tempo. Além disso, o PMP auxilia na escolha e na implementação da produção, definindo e identificando as quantidades de produtos finais a serem produzidos, permitindo, assim, o início e dando embasamento para a próxima etapa do planejamento, que é a programação da produção (curto prazo). Referências CORRÊA, H. L.; CORRÊA, C. A. Administração de Produção e Operações: manufatura e serviços: uma abordagem estratégica. São Paulo, SP: Atlas, 2017. CORRÊA, H. L.; GIANESI, I. G. N.; CAON, M. Planejamento, programação e controle da produção: MRP II/ ERP. São Paulo, SP: Atlas, 2019. GUERRINI, F. M.; BELHOT, R. V.; AZZOLINI JÚNIOR, W. Planejamento e controle da produção: modelagem e implementação. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier, 2019. LAGE JÚNIOR, M. Planejamento e controle da produção. Rio de Janeiro, RJ: LTC, 2019. SLACK, N.; BRANDON-JONES, A.; JOHNSTON, R. Administração da Produção. São Paulo, SP: Atlas, 2018. TUBINO, D. F. Planejamento e controleda produção: teoria e prática. São Paulo, SP: Atlas, 2017. 34 Planejamento das necessidades de materiais (MRP I) Autoria: Karoline Guedes Leitura crítica: José Luciano Lopes da Costa Filho Objetivos • Apresentar os conceitos e a lógica do MRP I. • Orientar os alunos na elaboração e aplicação do MRP I. • Estabelecer as vantagens de utilizar o MRP I para um melhor controle dos recursos e materiais utilizados na produção. 35 1. Introdução O estudo das organizações é feito de acordo com os insumos (entradas) que são transformados (processamento) em produtos (saídas). Para que essa transformação aconteça, é preciso analisar o processo produtivo dessa organização em termos de prazos que serão definidos de acordo com os planejamentos e as tomadas de decisão (TUBINO, 2017). No estudo do Planejamento, Programação e Controle da Produção (PPCP), o horizonte de planejamento é dividido em três níveis: longo, médio e curto prazo. No planejamento de longo prazo, o Plano de Produção é desenvolvido a um nível estratégico com base nas demandas passadas e com o objetivo de verificar se a capacidade de produção da organização atenderá à demanda prevista dos clientes. No planejamento de médio prazo, o Plano Mestre de Produção (PMP) é construído com base no Plano de Produção. O PMP é desenvolvido a um nível tático e define a quantidade a ser produzida e os estoques necessários para atender à demanda prevista do plano anterior. Já no curto prazo, é realizada a programação da produção a um nível operacional, que executará os planos desenvolvidos anteriormente para produzir e entregar os produtos/serviços demandados pelos clientes na quantidade e no momento corretos (LAGE JÚNIOR, 2019). Portanto, a programação da produção determina, a um curto horizonte de tempo, quanto e quando comprar, fabricar ou montar cada elemento que comporá o produto final. Com isso, como resultado da programação da produção, temos a quantidade e o momento da liberação de ordem de compras de insumos, ordem de fabricação de componentes ou ordem de montagem do produto final (CORRÊA; GIANESI; CAON, 2019). 36 1.1 MRP I O MRP surgiu nos anos 1960 com o objetivo de aproveitar a capacidade de armazenamento e processamento de informações de demanda, de produção, de estoques, sobre estrutura de produtos em sistemas computacionais para a execução das atividades do processo produtivo, auxiliando na delimitação das necessidades de materiais nas indústrias. Originalmente, o MRP I foi criado com o intuito de ser uma evolução da lista de materiais (BOM – Bill of Materials) dos produtos utilizando de tecnologia. Com isso, o MRP é definido como um sistema de dados integrado (que recebe e gera informações), com a função de calcular a necessidade de materiais para a fabricação ou montagem de um produto final (CORRÊA; GIANESI; CAON, 2019). Entre os principais objetivos do MRP I, tem-se o atendimento dos prazos de entrega dos produtos finais com um baixo nível de estoque. Ele tem como base a previsão de demanda utilizada no PMP, e é utilizada em processos que apresentam um sistema de produção empurrado. O MRP I separa os insumos e os produtos em dois grupos: itens de demanda dependente e itens com demanda independente. Os itens de demanda independente são os que a quantidade necessária a ser fabricada deve ser prevista com base no consumidor (produto final). Por exemplo, a demanda de um videogame é independente da demanda de um liquidificador. Já os itens de demanda dependente são os que a quantidade pode ser calculada com base na demanda dos produtos acabados. Por exemplo, se uma montadora produzirá um carro, então ela precisará de quatro pneus, com isso a demanda por pneus é dependente da demanda por carros. Os componentes do produto final apresentam uma demanda dependente (CORRÊA; CORRÊA, 2017). 37 1.2 Entradas e saídas do MRP I Como o MRP I é um sistema computacional, para que ele seja aplicado no PPCP, é preciso que esse sistema esteja de acordo com o processo produtivo. A Figura 1 apresenta as principais entradas e saídas de um sistema MRP I. Figura 1 - Entradas e saídas do MRP I Fonte: elaborada pela autora. A principal entrada do MRP I é o PMP, com informações relacionadas à quantidade de pedidos firmes (pedidos confirmados) e à previsão de vendas, (pedidos que ainda não foram confirmados) (CORRÊA; CORRÊA, 2017). A lista de materiais apresenta a estrutura (ou árvore) do produto final e determina as quantidades de itens e componentes necessários para a fabricação/montagem do produto final. Para o cálculo da quantidade de produtos e qual a sua data de entrega, o MRP I utilizará dados relacionados aos consumidores e fornecedores para que a produção consiga controlar o fluxo de insumos e planejar a chegada desses insumos à indústria no momento em que eles serão utilizados (CORRÊA; GIANESI; CAON, 2019). 38 Com essas informações, pode-se estabelecer a ordem que os componentes ou o produto final deve estar disponível. O prazo de fabricação/montagem de um produto final leva em conta o prazo de fabricação dos seus componentes, o prazo de entrega do fornecedor desses componentes e o tempo de montagem/fabricação do produto final. Desse modo, o MRP I estabelece as ordens de produção e de compra que deverão ser liberadas para cada semana ou dia (curto prazo), levando em consideração a lista de materiais do produto final, a disponibilidade dos estoques de insumos, os componentes e produtos finais, os prazos de montagem ou fabricação dos componentes, bem como a quantidade já confirmada de venda do produto final e a previsão de demanda (PMP). 1.3 Cálculo do MRP I O cálculo do MRP parte da necessidade da entrega dos produtos acabados em relação às quantidades e aos prazos para que a fabricação/ montagem do produto seja iniciada. Para facilitar o entendimento do cálculo do MRP I, tem-se o exemplo apresentado no Quadro 1. Quadro 1 - Exemplo de PMP PMP Semanas Produto 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 X 200 300 300 Y 40 40 40 40 40 40 40 40 40 40 Fonte: elaborado pela autora. O Quadro 1 apresenta um exemplo de PMP para a produção de dois produtos: X e Y. É possível analisar que para o produto X na semana 7 devem estar prontas 200 unidades; nas semanas 8 e 10, 300 unidades. Já o produto Y, em todas as semanas, devem ser produzidas 40 unidades. O PMP estabelece, portanto, a quantidade e a semana em que devem ser produzidos os produtos finais. A partir daqui o PMP será “aberto” 39 para que o MRP I estabeleça as quantidades e os prazos corretos em que serão emitidas ordens de compra e de fabricação dos componentes de cada produto final, para que ele seja produzido e esteja disponível na data estabelecida pelo PMP. Entradas do MRP I: • Estrutura do produto final (árvore do produto). • Disponibilidade no estoque e plano de reposição (estoque inicial, estoque de segurança, tamanho do lote de reposição e lead time). Figura 2 - Desenho e árvore do produto Fonte: elaborada pela autora. Para a produção da cadeira apresentada na Figura 2, são necessários dois pés, um assento e um encosto. Para a produção de um pé, são necessários uma madeira e um prego; para a produção do encosto, oito pregos e cinco madeiras. Logo, temos o produto final e os componentes necessários para a sua montagem final. O Quadro 2 apresenta os itens em relação ao seu lead time. 40 Quadro 2 - Árvore de prazos Produto/ Componente Prazo(semanas) Produto/ Componente Prazo(semanas) Cadeira 2 Encosto 1 Pé 1 Madeira 1 Assento 1 Prego 1 Fonte: elaborado pela autora. O passo a passo para o cálculo do MRP I é: 1. Obtenha as necessidades brutas (NB) do item (a necessidade bruta de um componente é dada pela necessidade líquida do produto final). 2. Identifique o estoque disponível (ED) do item. 3. Identifique os recebimentos programados (RP). 4. Calcule as necessidades líquidas (NL): NL = NB – ED – RP. 5. Estabeleça um plano de recebimento/produção a partir das necessidades líquidas(deve informar o momento em que o item deve estar disponível). 6. Estabeleça um plano de ordens de produção/compras para atender ao plano de necessidades de recebimento e considerando os prazos de fabricação ou fornecimento (lead times) do produto. 7. Repita estes passos para todos os produtos e componentes. Para o desenvolvimento do MRP I, a matriz utilizada para registrar os cálculos é apresentada no Quadro 3 a seguir. Quadro 3 - Matriz MRP I Semanas 1 2 3 ... n Necessidades brutas. Recebimento programado. Disponibilidade de estoque. Necessidade líquida. MRP. 41 Ordem de fabricação/ compra. Fonte: elaborado pela autora. 1.4 Exemplo Como exemplo, temos o PMP, a árvore do produto (Figura 4), o estoque inicial e o método de reposição (Quadro 4) para a produção do produto: caneta. Figura 4 - Árvore do produto: caneta Fonte: elaborada pela autora. Para a produção de uma caneta, são necessários: uma tampa, um corpo, um tampo de fundo e um miolo. Para a montagem do miolo, são necessários: a tinta, uma ponta e um tubo. 42 Quadro 4 - Disponibilidade de estoque e prazos Produto/Item Estoque de Segurança Lead Time Lote Caneta 0 1 30 Miolo 0 1 1 Tinta 20 2 100 Ponta 10 2 50 Tubo 0 1 1 Fonte: elaborado pela autora. Com os dados relacionados ao método de reposição e com o registro do PMP (Quadro 5) para o produto final, caneta, pode-se começar o registro do MRP para os componentes do produto final. Quadro 5 - PMP da caneta Caneta Lote:30un Estoque de segurança:0 LT:1 1 2 3 4 5 Demanda prevista. 20 20 20 20 20 Demanda confirmada. 25 18 15 10 5 Recebimento programado. 30 Estoque projetado. 15 20 30 10 20 30 PMP. 30 30 30 Ordem de fabricação/ compra. 30 30 30 Fonte: elaborado pela autora. Como a quantidade do tampo de fundo, do corpo e da tampa são de apenas uma unidade cada, o MRP será igual ao da produção da própria caneta. Já para a montagem do item Miolo, é necessário desenvolver o MRP para cada um dos itens de acordo com a liberação de ordens de fabricação para o miolo. A necessidade bruta para o miolo será a ordem de fabricação/compra do PMP da caneta. E, a partir dos dados referentes ao recebimento 43 programado, à disponibilidade de estoque e ao método de reposição, o MRP pode ser calculado, conforme Quadro 6. Quadro 6 - MRP do miolo Miolo Lote:1un Estoque de segurança: 0 LT: 1 1 2 3 4 5 Necessidade bruta. 30 30 30 Reposição. Recebimento programado. 30 Disponibilidade de estoque. 0 0 0 0 0 0 MRP. 30 30 Liberação de ordens. 30 30 Fonte: elaborado pela autora. Logo, de acordo com a ordem de montagem do miolo (última linha do MRP), pode ser calculado o MRP para os itens: Tinta, Ponta e Tubo, conforme apresentado nos Quadros 7, 8 e 9. Quadro 7 - MRP da tinta Tinta Lote: 100un Estoque de segurança: 20 LT: 2 1 2 3 4 5 Necessidade bruta. 30 30 Reposição. Recebimento programado. 30 Disponibilidade de estoque. 20 50 20 90 90 90 MRP. 100 Liberação de ordens. 100 Fonte: elaborado pela autora. Quadro 8 - MRP da ponta Ponta Lote: 50un Estoque de segurança: 10 LT: 2 1 2 3 4 5 Necessidade bruta. 30 30 Reposição. 44 Recebimento programado. 50 Disponibilidade de estoque. 60 60 80 50 50 50 MRP. Liberação de ordens. Fonte: elaborado pela autora. Quadro 9 - MRP do tubo Tubo Lote: 1un Estoque de segurança: 0 LT: 1 1 2 3 4 5 Necessidade bruta. 30 30 Reposição. Recebimento programado. Disponibilidade de estoque. 50 50 20 0 0 0 MRP. 10 Liberação de ordens. 10 Fonte: elaborado pela autora. Percebe-se que a liberação de ordem de produção/fabricação do produto final (caneta) serviu como entrada para o MRP dos seus componentes (tampa, corpo, tampo de fundo e miolo), assim como a liberação de ordem de produção/ fabricação do miolo serviu de entrada para o desenvolvimento dos seus componentes (tinta, ponta e tubo). Com isso, a quantidade de itens (materiais) necessários para a fabricação ou a montagem de determinado lote do produto acabado pode ser definida a partir da lista de materiais (BOM – Bill of Materials), a qual possui os insumos que estão no estoque e os componentes que serão comprados, considerando a estrutura do produto. Além disso, o MRP I considera os lead times de chegada desses componentes, e isso auxilia na obtenção do cálculo preciso do momento em que eles serão necessários no processo produtivo. Depois, é possível estabelecer o prazo em que os pedidos desses componentes devem ser feitos ao fornecedor (levando em conta o lead time de entrega de cada um dos fornecedores e de cada componente). 45 2. Conclusão O MRP (Planejamento das Necessidades de Materiais) auxilia, portanto, na identificação de quais mudanças serão necessárias para gerenciar os materiais e a produção, além da melhoria no atendimento da necessidade dos clientes. Atualmente o MRP I faz parte do ERP (sistema integrado de gestão empresarial), em que o MRP é mais focado no gerenciamento da produção, e o ERP engloba os outros setores da indústria. Referências CORRÊA, H. L.; CORRÊA, C. A. Administração de Produção e Operações: manufatura e serviços: uma abordagem estratégica. São Paulo, SP: Atlas, 2017. CORRÊA, H. L.; GIANESI, I. G. N.; CAON, M. Planejamento, programação e controle da produção: MRP II/ERP. São Paulo, SP: Atlas, 2019. GUERRINI, F. M.; BELHOT, R. V.; AZZOLINI JÚNIOR, W. Planejamento e controle da produção: modelagem e implementação. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier, 2019. LAGE JÚNIOR, M. Planejamento e controle da produção. Rio de Janeiro, RJ: LTC, 2019. SLACK, N.; BRANDON-JONES, A.; JOHNSTON, R. Administração da Produção. São Paulo, SP: Atlas, 2018. TUBINO, D. F. Planejamento e controle da produção: teoria e prática. São Paulo, SP: Atlas, 2017. 46 Conceito e função – Planejamento das necessidades de manufatura (MRP II) Autoria: Karoline Guedes Leitura crítica: José Luciano Lopes da Costa Filho Objetivos • Aprender os conceitos, as funções e os objetivos do Planejamento das Necessidades de Manufatura (MRP II). • Orientar os alunos na elaboração e aplicação do MRP II. • Estabelecer como utilizar o MRP II para um melhor planejamento e controle dos recursos e materiais utilizados no processo produtivo. 47 1. Introdução Para que o funcionamento de uma organização industrial obtenha sucesso e funcione de maneira adequada, é necessário o planejamento da produção em todos seus níveis, além da programação e do controle dos insumos, recursos, materiais e processos (GUERRINI; BELHOT; AZZOLINI JÚNIOR, 2019). O primeiro nível de planejamento é referente à capacidade de produção, em que é desenvolvido o Plano de Produção a longo prazo. O nível de programação desenvolve o Plano Mestre de Produção (PMP) a um médio prazo, o qual determina o que será produzido já levando em consideração os pedidos confirmados e já levando em consideração o estoque para a produção. A nível de controle é desenvolvido o Planejamento das Necessidades dos Materiais (MRP I), esse a curto prazo, em que são determinados os itens e componentes necessários para a fabricação ou montagem do produto final, para atender à demanda (SLACK; BRANDON-JONES; JOHNSTON, 2018). Para o desenvolvimento do MRP I, é necessário conhecer a previsão de demanda, estrutura do produto final e o método de gerenciamento do estoque. Com essas informações, é possível emitir ordens de compra e de fabricação de itens e componentes necessários para a fabricação ou montagem de um produto final. Portanto, com as quantidades, lista de materiais e momento de emissão das ordens de fabricação ou montagem, é preciso acompanhar a produção efetivamente, a fim de analisar se as máquinas, os equipamentos e as pessoas estão sendo aproveitadas de maneira eficiente para a produção do produtofinal (CORRÊA; GIANESI; CAON, 2019). A Figura 1, a seguir, ilustra as entradas e saídas desses planos. 48 Figura 1 - Módulos do MRP II Fonte: elaborada pela autora. Com isso, o gerente de PPCP, utilizando o MRP I para ordenar e sequenciar as ordens de compra, fabricação ou montagem, acaba ficando longe do processo produtivo e não consegue acompanhar a eficiência de máquinas e mão de obra, por exemplo (CORRÊA; GIANESI; CAON, 2019). O MRP I é um sistema que permite um planejamento das necessidades de materiais eficientes, alimentado apenas pelo PMP e pelos estoques disponíveis, fornecendo o plano de necessidades de materiais (ordens de compra/ fabricação/ produção de componentes). Porém, o fato de o MRP I não considerar os recursos do processo produtivo é um fator limitante. Com isso, temos a evolução do MRP I para o MRP II (planejamento das necessidades de manufatura), que considera não apenas as necessidades de materiais, mas também as necessidades dos recursos de produção, por exemplo, a mão de obra, disponibilidade de máquinas e equipamentos, entre outros recursos (CORRÊA; GIANESI; CAON, 2019). 1.1 MRP II À medida que a tecnologia e os sistemas computacionais evoluíram, o MRP I pode também evoluir em relação à sua aplicação, e algumas atividades foram somadas às suas atividades. Essa evolução foi 49 chamada de MRP II (planejamento das necessidades de manufatura), que acrescentará ao planejamento dos materiais dados e informações relacionados ao marketing e às vendas, aos recursos humanos, ao financeiro, à engenharia do produto, tornando esse sistema muito mais integrado (CORRÊA; GIANESI; CAON, 2019). O MRP II surgiu, então, com o principal foco no desenvolvimento de um planejamento integrando a produção ao planejamento de vendas e ao gerenciamento dos estoques sempre em relação à capacidade dos recursos produtivos. Com isso, o MRP II é um sistema de planejamento dos recursos da produção, os quais podem ser: capacidade de instalação, mão de obra, insumos, materiais, máquinas e equipamentos. O desenvolvimento do MRP II auxilia a integrar o setor da produção ao setor financeiro (capacidade financeira), ao setor de engenharia (máquinas, equipamentos e mão de obra) e aos estoques (necessidades de materiais). Ou seja, o MRP II abrange as atividades do planejamento empresarial, previsão de demanda, planejamento dos recursos de produção, planejamento e programação da produção, planejamento das necessidades da produção, controle e acompanhamento da fabricação, tudo isso em um sistema integrado. Para manter esse sistema funcionando, o MRP II possui o catálogo dos materiais utilizados, a lista de materiais dos produtos, a lista de máquinas, equipamentos e pessoas, ou seja, de todos os recursos para a produção de um produto final. O MRP II vai muito além do que ser apenas um software, ele é um sistema que dependerá do compromisso e da participação de todos os membros da indústria. Para implementar o MRP II, é preciso analisar as inter-relações entre atividades das áreas de marketing e vendas, finanças, produção e compras. 50 1.2 Dinâmica do MRP II Para entender a dinâmica do MRP II, é preciso entender como o MRP II gerenciará a capacidade de produção, levando em consideração, agora, o uso de pessoas e máquinas. Para funcionar, o MRP II se baseará no cálculo das necessidades de materiais (MRP I) para planejar a utilização de pessoas, equipamentos e máquinas. O MRP II é, normalmente, composto por cinco módulos que conectam as várias funções do PPCP. São eles: 1. Plano de Produção: é o planejamento agregado desenvolvido para um longo prazo, fornecendo subsídios aos gerentes de produção na decisão em relação ao estoque e à produção em cada período, tendo como base as previsões de demanda agregadas (demanda de um mix de produtos). A principal função do plano de produção é de relacionar a produção à mão de obra e ao estoque, e com base nisso é analisar a capacidade necessária para atender à demanda prevista. 2. Plano Mestre da Produção (PMP): utiliza o plano agregado como base para definir o que a indústria pretende produzir, a quantidade e em que momento, ou seja, decide os produtos que deverão ser produzidos e os níveis de estoque que devem ser mantidos a um médio prazo. 3. Plano das Necessidades de Materiais (MRP I): tem como objetivo transformar as necessidades de produtos finais em necessidades de fabricação, montagem e de compras de itens e componentes do produto final e, a partir do PMP, o MRP I determina as listas de materiais e os níveis de estoque a serem mantidos a um curto prazo. 4. Plano das Necessidades de Capacidade: acompanha o que foi determinado nos planos com a produção efetiva. O Plano das Necessidades de Capacidade calcula a capacidade necessária de 51 cada etapa da produção, identificando tempos ociosos e excessos ou capacidade insuficiente. 5. Controle de Fábrica: é o que controla se o plano de materiais e o plano de capacidade estão operando corretamente (O que produzir? Quanto? Quando? Como?). O controle de fábrica acompanha a produção e faz o sequenciamento das ordens de fabricação. A Figura 2, apresentada a seguir, representa a ligação entre esses cinco módulos básicos do sistema MRP II. Figura 2 - Módulos do MRP II Fonte: elaborada pela autora. O sistema do MRP II centralizará todas as decisões de necessidades de longo, médio e curto prazo, e os cinco módulos do sistema MRP II representam cada um desses horizontes de tempo. O MRP II, então, receberá o Plano de Produção com a previsão de demanda para um longo prazo, determinando a viabilidade econômica, a necessidade de compra de máquinas e equipamentos, a contratação de pessoas para atender à demanda prevista. Já o PMP define a quantidade a ser produzida dos produtos finais, agora em um médio prazo, levando em conta pedidos já confirmados pelos clientes. Depois, as necessidades de materiais são definidas pelo MRP I e são emitidas as ordens de compra/fabricação ou montagem, para, por fim, programar e sequenciar a produção. 52 1.2 Exemplo Para entender o funcionamento do sistema MRP II, é apresentado o exemplo a seguir. Para produzir um determinado item, uma indústria utiliza os seguintes parâmetros (Quadro 1): Quadro 1 - MRP II do item Item 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Necessidade Bruta 100 250 Estoque Projetado 50 50 50 50 50 50 50 150 150 150 100 Recebimento da Ordem 200 200 Liberação da Ordem 200 200 Fonte: elaborado pela autora. Para o exemplo, temos que o estoque inicial é de 50 unidades, o item é produzido a um lote de 200 unidades e o lead time é de 1 semana. O que pode acontecer é que, nas semanas 7 e 10, a capacidade disponível para produção pode ser inferior à capacidade que foi planejada, o que pode gerar atraso na produção. Isso pode acontecer porque parte dessa capacidade já pode estar alocada para outras funções no processo produtivo (por exemplo, para a fabricação de outros produtos, itens ou componentes na indústria). O Quadro 2 adiciona a capacidade alocada e disponível para a produção do item. Quadro 2 - Capacidade alocada e disponível 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Capacidade alocada 200 100 100 150 Capacidade disponível 200 200 0 200 200 100 200 100 50 200 Fonte: elaborado pela autora. 53 Então, temos que a capacidade disponível é igual à capacidade total (produção de 200 unidades por semana) menos a capacidade alocada, em cada período (semana). Com isso, é preciso calcular novamente as necessidades de materiais (MRP I), considerando a capacidade disponível para a produção (Quadro 3). Quadro 3 - MRP considerando a capacidade 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Necessidade bruta 100 250 Estoque projetado 50 50 50 50 50 50 50 0 100 200 0 Recebimento da ordem 50 100 100 50 Liberação da ordem 50 100 100 50 Capacidade alocada 200 100 100 150 Capacidade disponível 200 200 0 200 200 100 200 100 50 200 Fonte: elaborado pela autora. Para atender à necessidade bruta de 100 unidades na semana 7, épreciso liberar uma ordem de fabricação de 50 unidades do produto na semana 6, pois já existem 50 no estoque. Isso significa que é preciso verificar a disponibilidade de capacidade para produzir essas 50 unidades, para então emitir a ordem de fabricação. E para atender à necessidade de 250 unidades na semana 10, levando em consideração a capacidade disponível, é possível antecipar as ordens de fabricação levando em consideração que, nas semanas 8 e 9, parte da capacidade já está comprometida. Essa dinâmica deve ser realizada para todos os itens e componentes da produção de um produto final (todos os materiais da estrutura do produto final). Após a liberação de ordem de fabricação, é preciso atualizar a tabela de capacidade alocada e disponível, já levando em consideração a alocação necessária ao preenchimento do MRP (Tabela 4). 54 Quadro 4 - Capacidade alocada e disponível atualizadas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Capacidade alocada 200 150 200 200 Capacidade disponível 200 200 0 200 200 50 200 0 0 200 Fonte: elaborado pela autora. Com isso, temos que o MRP II gerencia a capacidade de produção integrando diversas áreas da indústria. Essa integração facilita a troca de dados e informações no sistema MRP II, as quais ficam disponíveis e podem ser acessadas por responsáveis do setor de suprimentos, produção, marketing e vendas, finanças, engenharia e outros setores da indústria. Existe também uma preocupação muito grande em relação à funcionalidade e aos fluxos de informação na implantação de um sistema MRP II. Essa funcionalidade da integração dos dados no sistema vem do comprometimento da alta direção com todos os outros funcionários, pois é preciso dedicação e tempo para treinar as pessoas que utilizarão esse sistema. É importante ter uma preocupação em relação à acurácia dos dados de entrada do sistema. Como o MRP II compreende dados e informações de várias áreas de uma indústria, ele se apresenta como um sistema dinâmico e que permite possíveis correções em seus planejamentos, e isso é um dos benefícios em utilizar o MRP na produção. Porém, o MRP II apresenta ainda algumas limitações, por exemplo, em relação ao custo de aquisição. Ainda assim a integração das diversas áreas da indústria sempre foi a principal vantagem na utilização de um sistema MRP II. Depois do MRP II implementado, ele pode também fazer parte de um ERP (Enterprise Resource Planning) da organização. O ERP vai ser como uma evolução do MRP II, assim como o MRP II é uma evolução do MRP I. 55 O ERP é um sistema de gestão empresarial integrado, que, além de possuir o sistema MRP II, integrará funções e atividades de outros setores da organização, como: gestão financeira, de vendas, de compras, de pessoas, da logística (entrada e saída), da qualidade, engenharia do produto e, claro, o setor de produção. O sistema ERP, então, se integrará com os demais setores da organização, os planejamentos desenvolvidos para a produção, apresentando a definição de como deve funcionar o dia a dia da produção, a realização das previsões de demanda conforme as vendas são efetivadas, a verificação da capacidade de produção, o desenvolvimento do PMP, do MRP I e do MRP II, conforme a Figura 3. Figura 3 - Evolução do MRP I para o ERP Fonte: elaborada pela autora. O funcionamento do ERP opera de maneira automática em relação, por exemplo, ao gerenciamento de estoque, tanto de insumos, materiais, 56 componentes e produtos finais, tomando a decisão de quando, quanto e o que para liberar as ordens de fabricação, montagem ou compra. Essas compras, por exemplo, são feitas de maneira automática, levando em consideração questões financeiras e de contabilidade, integrando a produção ao setor de finanças e da logística (recebimento dessa compra). De maneira resumida, o ERP automatiza as atividades dos planejamentos da produção e as atividades dos demais setores da organização. Referências CORRÊA, H. L.; CORRÊA, C. A. Administração de Produção e Operações: manufatura e serviços: uma abordagem estratégica. São Paulo, SP: Atlas, 2017. CORRÊA, H. L.; GIANESI, I. G. N.; CAON, M. Planejamento, programação e controle da produção: MRP II/ERP. São Paulo, SP: Atlas, 2019. GUERRINI, F. M.; BELHOT, R. V.; AZZOLINI JÚNIOR, W. Planejamento e controle da produção: modelagem e implementação. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier, 2019. LAGE JÚNIOR, M. Planejamento e controle da produção. Rio de Janeiro, RJ: LTC, 2019. SLACK, N.; BRANDON-JONES, A.; JOHNSTON, R. Administração da Produção. São Paulo, SP: Atlas, 2018. TUBINO, D. F. Planejamento e controle da produção: teoria e prática. São Paulo, SP: Atlas, 2017. 57
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