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1 POLÍTICAS EDUCACIONAIS INCLUSIVAS Profª. Me. Denise Matias Soares Silva 2 POLÍTICAS EDUCACIONAIS INCLUSIVAS PROFª. ME. DENISE MATIAS SOARES SILVA 3 Diretor Geral: Prof. Esp. Valdir Henrique Valério Diretor Executivo: Prof. Dr. William José Ferreira Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Profa Esp. Cristiane Lelis dos Santos Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Profa. Esp. Gilvânia Barcelos Dias Teixeira Revisão Gramatical e Ortográfica: Profa. Clarice Virgilio Gomes Revisão Técnica: Profª. Dr. Carlos Eduardo Candido Pereira Revisão/Diagramação/Estruturação: Clarice Virgilio Gomes Fernanda Cristine Barbosa Prof. Esp. Guilherme Prado Design: Bárbara Carla Amorim O. Silva Daniel Guadalupe Reis Élen Cristina Teixeira Oliveira Maria Eliza P. Campos Victor L. dos Reis Lopes © 2022, Faculdade Única. Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autoriza- ção escrita do Editor. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920. 4 POLÍTICAS EDUCACIONAIS INCLUSIVAS 1° edição Ipatinga, MG Faculdade Única 2022 5 Mestre em Psicologia, linha de pesquisa Pro- cessos Psicossociais (PUCMinas). Pós-Gradua- da em Docência em Ensino Superior (Unileste), Educação Inclusiva e Educação Especial (UNIN- TER), Psicanálise e os desafios na Contempo- raneidade (Rede Pitágoras). Graduada em Pe- dagogia e Psicologia (Unileste). Atuou como docente na Educação Infantil, Ensino Funda- mental séries iniciais, Ensino Técnico e tutoria em EaD para cursos de graduação. DENISE MATIAS SOARES SILVA Para saber mais sobre a autora desta obra e suas qualificações, acesse seu Curriculo Lattes pelo link : http://lattes.cnpq.br/6568022440669877 Ou aponte uma câmera para o QRCODE ao lado. 6 LEGENDA DE Ícones Trata-se dos conceitos, definições e informações importantes nas quais você precisa ficar atento. Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a seguir: São opções de links de vídeos, artigos, sites ou livros da biblioteca virtual, relacionados ao conteúdo apresentado no livro. Espaço para reflexão sobre questões citadas em cada unidade, associando-os a suas ações. Atividades de multipla escolha para ajudar na fixação dos conteúdos abordados no livro. Apresentação dos significados de um determinado termo ou palavras mostradas no decorrer do livro. FIQUE ATENTO BUSQUE POR MAIS VAMOS PENSAR? FIXANDO O CONTEÚDO GLOSSÁRIO 7 UNIDADE 1 UNIDADE 2 SUMÁRIO 1.1 História Da Deficiência ..............................................................................................................................................................................................................................................................10 1.2 A Deficiência Na Antiguidade E Idade Média ..........................................................................................................................................................................................................10 1.3 A Deficiência Na Idade Moderna, Contemporânea E Últimas Décadas ................................................................................................................................................13 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................................................................................17 2.1 A Deficiência No Brasil ..............................................................................................................................................................................................................................................................21 2.2 A Institucionalização ................................................................................................................................................................................................................................................................23 2.3 Marco No Cenário Político Brasileiro .............................................................................................................................................................................................................................25 FIXANDO O CONTEÚDO ...............................................................................................................................................................................................................................................................28 ASPECTOS HISTÓRICOS DA DEFICIÊNCIA A HISTÓRIA DA DEFICIÊNCIA NO BRASIL UNIDADE 3 3.1 Diversidade Cultural ..................................................................................................................................................................................................................................................................32 3.2 Multiculturalismo E A Escola Cultural ..........................................................................................................................................................................................................................33 3.3 Diversidade Étnico-Racial .....................................................................................................................................................................................................................................................36 FIXANDO O CONTEÚDO ...............................................................................................................................................................................................................................................................43 A ESCOLA COMO ESPAÇO PARA A DIVERSIDADE UNIDADE 4 4.1 Preconceito Racismo E Discriminação, Existe Diferença? ..............................................................................................................................................................................47 4.2 A Legislação Pune? ..................................................................................................................................................................................................................................................................49 4.3 A Legislação ...................................................................................................................................................................................................................................................................................50 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................................................................................53 PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO: IMPLICAÇÕES SOCIAIS 5.1 Marcos Legais Na Educação ................................................................................................................................................................................................................................................57 5.2 Lei De Diretrizes E Bases E As Políticas Educacionais Inclusivas ..............................................................................................................................................................585.3 Deficiência Legislação E Trabalho ..................................................................................................................................................................................................................................63 FIXANDO O CONTEÚDO ...............................................................................................................................................................................................................................................................69 A EDUCAÇÃO ESPECIAL E OS MARCOS LEGAIS UNIDADE 5 6.1 Deficiências, Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) e Altas Habilidades: noções introdutórias ...................................................................73 6.2 Perspectivas acerca da inclusão educacional ........................................................................................................................................................................................................75 6.3 Tecnologia Assistiva e Avaliação Assistida ................................................................................................................................................................................................................78 FIXANDO O CONTEÚDO ...............................................................................................................................................................................................................................................................82 RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO ......................................................................................................................................................................................................................85 REFERÊNCIAS .....................................................................................................................................................................................................................................................................................86 NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS: AVANÇO OU RETROCESSO? UNIDADE 6 8 O N FI R A N O L I C V R O UNIDADE 1 Na unidade 1, conversaremos sobre como o percurso da pessoa com deficiência é atravessado por práticas discriminatórias e diversas lutas e movimentos em favor da manutenção do direito à cidadania. A forma como se origina e evolui a cultura de um povo ou de um grupo definirá seu processo de educação e seu olhar acerca do outro e da diferença, portanto cultura e educação estão intrinsecamente associadas, caminham lado a lado. UNIDADE 2 Na unidade 02, discutiremos acerca do surgimento da educação das crianças com deficiência no final do século XVIII e início do século XIX, e suas formas de institucionalização. O liberalismo defendia a liberdade em todos os campos: intelectual, político, social, religioso e econômico, consequentemente sua interferência em todos esses campos, influenciou também o início da educação das pessoas com deficiência no Brasil. UNIDADE 3 Na terceira unidade, “A escola como espaço para a diversidade”, apresentaremos o conceito de diversidade e pluralidade cultural destacando questões sociais que impactam diretamente dentro da sala de aula, no modo de ser e agir dos alunos e na prática docente que precisa contemplar no processo de aprendizagem a diversidade, além de nos questionarmos acerca das práticas excludentes homogeneizadoras. UNIDADE 4 Trataremos na unidade 4, sobre o preconceito, discriminação e racismo, as manifestações dessas formas e os mecanismos de manutenção. Refletiremos sobre a relação de preconceito e discriminação e conheceremos os dispositivos legais aplicados para casos de racismo e preconceito. Perceberemos que apesar da legislação vigente as práticas não são contidas e a escola ainda é um reprodutor dessas manifestações. UNIDADE 5 Na unidade cinco conversaremos sobre os marcos legais que regem o atendimento educacional especializado para alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/ superdotação a partir da década de 1990, em que se contextualizam os primeiros movimentos de inclusão. Além disso, refletiremos sobre a importância de o professor conhecer esses dispositivos e as lutas sociais que os promoveram. UNIDADE 6 Na unidade seis, conversaremos um pouco sobre algumas terminologias utilizadas pela sociedade para nomear as pessoas com deficiência ao longo dos anos. Iniciaremos a reflexão com necessidades educacionais especiais. Muitas pessoas equivocadamente diriam que estão contemplados nessa terminologia a pessoa com deficiência, por outro lado, essa terminologia apresenta muitas críticas em relação ao seu uso. 9 ASPECTOS HISTÓRICOS DA DEFICIÊNCIA 10 O percurso da pessoa com deficiência é atravessado por práticas discriminatórias e diversas lutas e movimentos em favor da manutenção do direito à cidadania. Não é possível pensar em todo esse movimento sem, entretanto, refletir sobre a cultura de cada grupo de indivíduos na sociedade. A forma como se origina e evolui a cultura de um povo ou de um grupo de-finirá seu processo de educação e seu olhar acerca do outro e da diferença, portanto cultura e educação estão intrinsecamente associadas, caminham lado a lado. Pensamos na apropriação não só das formas de viver como também no mundo do trabalho. O homem se faz a partir da adaptação a natureza e consequentemente pelo seu trabalho, que satisfaz suas necessidades de sobrevivência. Cabe ressaltar que do ponto de vista cultural e já discorrido anteriormente, o homem se produz por meio do trabalho que sua está ligado à sua condição de sobrevivência, desenvolvimento e atuação social. Ao refletirmos acerca de questões como a sobrevivência, desenvolvimento e atuação social, somos atravessados por um ponto importante da existência humana: como a pessoa com deficiência se “enquadra” em um contexto social de produção para a própria sobrevivência? Algumas questões se farão presentes neste capítulo. Reflexões necessárias para quem deseja não apenas circular, mas fazer parte do mundo da pessoa com deficiência. Culturalmente e socialmente como ela é vista? Quais são suas chances de sobrevivência? Como é engajada no mercado de trabalho? Quais as formas de acolhimento? No passado foi possível a sua inserção social e sobrevivência? Avancemos agora destrinchando alguns períodos históricos! Como a história da deficiência começou? A deficiência sempre foi tratada como a diferença que incomoda. Ao longo dos anos, em cada período histórico construía-se uma percepção a respeito da deficiência. Conversaremos detalhadamente com a seguir sobre cada período. 1.1 HISTÓRIA DA DEFICIÊNCIA 1.1 HISTÓRIA DA DEFICIÊNCIA 1.2 A DEFICIÊNCIA NA ANTIGUIDADE E IDADE MÉDIA1.2 A DEFICIÊNCIA NA ANTIGUIDADE E IDADE MÉDIA VAMOS PENSAR? Podemos pensar o infanticídio a partir de como a deficiência era vista em Esparta. Após a leitura do texto e os esclarecimentos dados para essas ações, é possível estabelecer al- guma relação com a chegada de uma criança com deficiência em uma família, na soci- edade ou na escola? A antiguidade foi considerada o período do extermínio, a deficiência não era aceita. Todas as crianças que nasciam deficientes ou com algum tipo de anormalidade eram rejeitadas e eliminadas sumariamente. “Ser outro, outro, outro. Cada um também deveria a ver-se como ou-tro” (Elias Canetti) “Teus verdadeiros educadores, aqueles que te forma- rão, te revelam o eu são verdadeiramente o sentido original e a substância fundamen-tal a tua essência[...] Teus educadores não podem ser outra coisa senão li- bertadores” (Friedrich Nietzsche) 11 Figura 1: A Seleção de Crianças em Esparta Fonte: Jean-Pierre Saint-Ours (1785) No entanto, na Antiguidade Clássica, a negligência era total, não haviaatendimento ou acolhimento e as pessoas estavam condenadas a serem abandonadas. Já na Grécia Antiga, precisamente em Esparta, segundo Emmel (2002) havia um padrão de beleza estabelecido: um adulto saudável e forte, militar que servisse a sua pátria, que participasse de jogos e representasse a estética e a beleza. A partir desse padrão físico e estético estabelecido, as crianças nascidas com deficiências físicas ou mentais eram eliminadas. Cabia ao Estado verificar se as crianças ao nascer eram fortes e sadias, isso mesmo antes de serem cuidadas pelos pais. Após inspeção minuciosa, os bebês doentes, frágeis ou deficientes eram abandonados até a morte. A pessoa com deficiência física, tal como o Porteiro de Roma de um dos templos de deuses egípcios, exercia normalmente suas atividades conforme revela a Estela votiva da XIX Dinastia e originária de Memphis, que pode ser vista no Museu Ny Carlsberg Glyptotek, em Copenhagen, Dinamarca. Essa placa de calcário traz a representação de uma pessoa com deficiência física, sua mulher e filho, fazendo uma oferenda à deusa Astarte, da mitologia fenícia. Stele of Roma the Doorkeeper, dedicated to the goddess Astarte 1400-1365 BC FIQUE ATENTO Segundo Gugel (2007) por meio de evidências arqueológicas no Egito Antigo as pessoas com deficiência podiam trabalhar e ocupar um lugar social juntamente com as demais. 12 Visite uma instituição especializada no atendimento às pessoas com defici-ência da sua cidade. Quais medidas pedagógicas e de infraestrutura essa institui-ção possibilita para a inclusão das pessoas com deficiência? Já em Atenas o procedimento era o mesmo, porém, sem a intervenção do Estado. Cabia ao pai decidir o que fazer com os filhos que não apresentavam o padrão de saúde esperado socialmente. Na Roma Antiga os bebês do sexo feminino que nasciam deficientes eram colocados aos pés do pai para que ele decidisse o futuro da criança: se não trouxesse orgulho no futuro por não ser saudável, seria abandonado por falta de cuidados básicos, alimentação e proteção (EMMEL, 2002). Práticas de abandono e negligencia eram comuns na Antiguidade, uma crueldade devido a limitação e a diferença. À pessoa com deficiência não era permitido o direito à vida, já nascia excluída! Na Idade Média a doutrina Cristã modifica e interfere neste cenário. Ela postula entre que o homem é uma criatura divina, portanto, precisa ser aceito e amado. Dessa forma o infanticídio cometido pelos pais e pelo Estado passou a ser duramente condenado e criticado (EMMEL, 2002). Foi na Idade Média, em Paris que o primeiro hospital para cegos foi fundado. Seu fundador o Rei Luís IX, por volta de 1260. Seu objetivo inicial não era atender pessoas que nasciam ou se tornavam cegas devido a alguma enfermidade, muito ao contrário ele queria atender os soldados que haviam ficado cegos durante a Sétima Cruzada. O nome dado ao hospital foi “Quinze-Vingts, o que significa 15 vezes 20, ou seja, 300 soldados cegos (GUGEL, 2007). No período cristão as pessoas com deficiência tiveram o apoio da Igreja, em destaque do bispo de Myra, que alimentava e acolhia as pessoas abandonadas. Destaca- se neste período ações de acolhimento em conventos e Igrejas, que em exigiam em contrapartida dessas pessoas pequenos favores e serviços (PESSOTTI 1984). Ainda segundo o autor as pessoas com deficiência foram culpabilizadas pela própria deficiência, diferentemente da época medieval, que eram consideradas como castigadas com a deficiência pelos pecados cometidos. “Muitos chegaram a admitir que o deficiente era possuído pelo demônio, o que tornava aconselhável o exorcismo com flagelações para expulsá-lo” (PESSOTI, 1984, p. 6). Ou seja, a sobrevivência estava atrelada a troca de serviços. O respeito ainda não havia sido construído, o que existia era o assistencialismo. VAMOS PENSAR? Você leu que ao longo da história o abandono, práticas de negligência, preconceito, segregação ocorreram com indivíduos com deficiência. Você acredita que práticas co-mo essas ficaram no passado, ou atualmente as pessoas com deficiência ainda são víti-mas de tais atitudes? 13 1.3 A DEFICIÊNCIA NA IDADE MODERNA, 1.3 A DEFICIÊNCIA NA IDADE MODERNA, CONTEMPORÂNEA E ÚLTIMAS DÉCADASCONTEMPORÂNEA E ÚLTIMAS DÉCADAS Assista o filme “O garoto selvagem” Direção: Francois Truffaut O filme francês conta a história do menino encontrado na floresta apelidado como o selvagem de Aveyron e seu tutor Jean Itard, que recebe a difícil tarefa de educá-lo. Disponível em: https://bit.ly/3W2XwRq Acesso em 25 ago. de 2020 BUSQUE POR MAIS Como dito anteriormente a educação especial estava atrelada a caridade ou ao assistencialismo. Avançando um pouco mais na história, com os surdos não era diferente. O primeiro educador de surdos da história o monge espanhol beneditino Pedro Ponce de Léon dedicou parte de sua vida ao ensino de surdos, filhos de nobres, os demais ficavam a cargo do assistencialismo (MOURA, 2000). Assim, a história da educação especial no mundo teve seu início no século XVI, Neste cenário em 1664 a doença mental não é descartada e é explicada nas bases científicas, como estruturas cerebrais defeituosas ou falhas neurais. A partir de então podemos começar em outra teoria, do campo organicista em que a deficiência deixa existir como aberração e castigo divino e passa a ser considerada e enxergada do ponto de vista médico: as modificações estruturais no cérebro. A teoria organicista explica que no início do desenvolvimento poderiam ocorrer tipos de problemas e que pouco provavelmente poderiam ser modificados ao longo da vida (MARCHESI & MARTÍN, 1995). É fato que a obra de John Locke não só representou um marco na história da deficiência como também contribuiu no campo pedagógico, ao afirmar que a individualidade é um fator primordial no processo de aprendizagem, que a experiência é a condição primeira dos processos complexos de pensamento e que os objetos concretos são importantes para a aquisição de noções. Ele propõe o quanto é importante estimular as crianças a desenvolverem o pensamento e a razão, assim, as formas de ensinar deveriam levar o aluno a pensar e ao professor não caberia apenas a tarefa de ensinar os conteúdos. com médicos e pedagogos que, desafiando os concei- tos vigentes na época, acreditaram nas possibilidades de indivíduos até então considerados ineducáveis. Cen- trados no aspecto pedagógico, numa soci-edade em que a educação formal era direito de poucos. Esses pre- cursores desenvolveram seus trabalhos em bases tuto- riais, sendo eles próprios os professores de seus pupilos (MENDES, 2009). 14 Em 1690 John Locke já postulava mudanças no processo de en- sino aprendizagem, um aluno mais ativo e um professor me- diador. Complemente sua leitura lendo o livro Teorias cognitivas da aprendizagem e reflita o quanto John Locke já era atual em suas postulações; Disponível em: https://bit.ly/3hMHyaR Acesso em 25 ago. de 2020 BUSQUE POR MAIS A partir da segunda metade do século XVIII inicia-se a educação para surdos de forma institucionalizada, o abade Charles Michel de I’Epée fundou a primeira escola pública para surdos em Paris. Sua grande contribuição foi reconhecer a existência de uma língua por meio da qual os surdos poderiam se comunicar e desenvolver um método para o ensino de sinais (MOURA, 2000). Embora, não fosse surdo e não sofresse de nenhuma deficiência auditiva, contribuiu para o acesso dos surdos à educação pública e gratuita. Quando pensamos em cegueira, o Instituto Nacional dos Jovens Cegos, foi a primeira escola para cegos no mundo, foi fundada também em Paris, porém, por Valentin Haüy, em 1784. Assim como o abade Charles Michel de L’Epée, Valentin se preocupava com um método de ensino diferenciado, utilizava as letras em relevo. Alguns livros foram escritos utilizando esse método, mas, eram poucos e permitiam apenas uma leiturasuplementar (MAZZOTA, 1995). De acordo com o mesmo autor, a fim de aprimorar o método de Valentin Haüy, um dos alunos bolsistas da escola, Louis Braille, jovem cego francês, adaptou o código militar de comunicação noturna criado por Charles Barbier de La Serre. Inicialmente a adaptação recebeu o nome de sonografia, e, posteriormente, Braille. Mesmo com o passar do tempo o Braille ainda é conhecido como o sistema composto por pontos em relevo, que de acordo com sua organização e disposição, formam as letras do alfabeto, numerais, sinais de pontuação, símbolos químicos, letras acentuadas e as notas musicais. Na história da educação especial conversamos sobre as contribuições do abade Charles Michel de L’Epée, no campo da surdez, Valentin Haüy e Louis Braille, na área da cegueira e passaremos agora a conversar sobre a deficiência mental. Segundo Pessotti (1984) Jean Marc Gaspard Itard, médico francês, ganha enorme Conheça na íntegra a história de Braille, um jovem que revolucionou a comuni- cação entre cegos e videntes, sua parceria para o desenvolvimento desse siste- ma, a aceitação pelos professores conservadores que preferiam usar o método de Valentin Haüy, e por fim, a aceitação do sistema. Disponível em: https://bit. ly/3gzxerc. Acesso em 25 ago. de 2020. BUSQUE POR MAIS 15 destaque na história ao receber um garotinho que foi capturado na floresta no Sul da França por volta de 1800. Itard deu o nome de Victor para o menino. Sua tarefa era educar o garoto “selvagem”. De acordo com Itard em sua obra Mémoire sur les premiers développments de Victor l’Aveyron citada por Pessotti (1984, p. 36): Pessotti (1984) e Mazzotta (1995) concordam que Itard foi reconhecido pela sua habilidade na reeducação de Victor de l’Averyon, ensinar uma linguagem aos surdos e empregar métodos sistematizados para instruir uma pessoa com deficiência mental. Seu trabalho e esforços introduziram uma nova era no campo da deficiência mental: “a educação era uma resposta aos problemas associados à deficiência”. Outras instituições e contribuições foram surgindo ao longo da história. Em Munique na Alemanha foi fundada uma instituição para atender os deficientes físicos (MAZZOTA, 1995). Ainda segundo o autor merece destaque o médico e educador Edouard Seguin, aluno de Itard. Sua publicação The moral treatment, and éduction of idiots and other backward childrenI em 1846 foi considerada um marco na área da educação especial, em que aborda primariamente as necessidades das crianças com deficiência. Participou em 1876 na Associação Americana de Retardo Mental (American Association on Mental Retardation – AAMR) a mais antiga associação interdisciplinar voltada para a deficiência mental. Outras importantes contribuições para a educação especial foi a de Maria Montessori, médica italiana que desenvolveu um programa de treinamento para crianças com deficiência mental em Roma. Percebe-se que o cenário começa a ser modificado. Montessori enfatiza em seu programa de treinamento a autoaprendizagem por meio de uso de “materiais didáticos, blocos, recortes, caixas, letras em relevo, objetos coloridos” específicos ao alcance de cada objetivo educacional. Ela iniciou seus trabalhos com crianças com deficiência cognitiva, demonstrando que a aprendizagem é possível por meio de experiências concretas e quando são expostas a ambientes ricos em materiais que possam ser manipulados (SMITH, 2008). enorme déficit perceptivo e intelectual do menino, in- capaz de discriminações mesmo grosseiras entre odo- res, ruídos, imagens, o que o torna um retardado mental profundo, mais despreparado que um animal domésti- co, incapaz de articular qualquer som vocal humano e de fixar sua atenção em um dado ou evento. O método montessoriano valorizava o aluno e ela acreditava que o “potencial para aprender está em cada um de nós”. Foi ela quem valorizou a redução no tamanho do mobiliário das escolas infantis, além de também sugerir que os objetos domésticos tivessem o tamanho reduzido para serem utilizados no dia a dia nas brincadeiras de casinha. Esse método lembra a você a realidade da sala de aula atualmente, cada um aprende de um jeito? FIQUE ATENTO 16 Após esse percurso teórico, verifica-se que o acesso das pessoas com deficiência à educação foi conquistado lentamente, de acordo com a ampliação das oportunidades educacionais para a população. Conhecemos a evolução do panorama da educação especial no mundo. A partir de agora apresentaremos como essa área surgiu e se desenvolveu no Brasil. Conheça um pouco mais a história de Maria Montessori Assista também o vídeo com a professora de psicologia da educação Mitsuko Antunes, que aborda o processo de desenvolvimento e a aprendizagem das crianças pelas teorias de Montessori. Após assistir o vídeo, reflita se o método montessoriano é aplicado nas salas de aula regulares ou de recursos Disponí- vel em: https://bit.ly/3bmfWHd. Acesso em 25 ago. de 2020. BUSQUE POR MAIS “Como estrelas na terra, toda criança é especial” Qual a relação do o filme com o método montessoriano? Dis- ponível em: https://bit.ly/3biLlKu. Acesso em 25 ago. de 2020 BUSQUE POR MAIS 17 1. A antiguidade foi considerada o período do extermínio, a deficiência não exista como tal. Todas as crianças que nasciam deficientes ou com algum tipo de anormalidade eram rejeitadas e eliminadas sumariamente. I. No Egito Antigo as pessoas as pessoas com deficiência faziam parte da sociedade conforme revelavam as evidências arqueológicas. II. Na Antiguidade Clássica, tanto na Grécia como em Roma, as crianças consideradas doentes, frágeis ou deficientes eram abandonadas até a morte. III. Na Idade Média o cristianismo foi propagado e as pessoas com deficiência, começaram a ser culpadas por sua deficiência, já que esta era considerada um castigo de Deus pelos pecados cometidos. Considerando as afirmativas, marque a CORRETA. a) Apenas I é verdadeira. b) Apenas II e III são verdadeiras. c) Apenas II é verdadeira. d) Todas as alternativas são falsas. e) Todas as alternativas são verdadeiras. 2. A deficiência ao longo dos períodos da história é incompatível com a proposta de um sujeito capaz por sua própria força do trabalho para sobreviver e culturalmente e ser inserido na sociedade. Assinale a alternativa CORRETA a) A história da deficiência não buscava um padrão de beleza e perfeição. b) Todas as pessoas com deficiência em toda a história devem esperar para que as outras pessoas lutem por seus direitos de cidadania e trabalho. c) Todas as crianças que nasciam deficientes ou com algum tipo de anormalidade eram acolhidas pelas famílias e tinham seus direitos resguardados. d) A deficiência sempre foi tratada de forma desrespeitosa e sem empatia. Ao longo dos anos, em cada período histórico construía-se uma percepção a respeito da deficiência. e) Um adulto saudável e forte, militar que servisse a sua pátria, que participasse de jogos e representasse a estética e a beleza teria sido condenado a morte ao nascer. 3. Leia as alternativas a seguir e assinale (V) para verdadeiro e (F) para falso: As alternativas verdadeiro/falso dizem respeito a que tema? ( ) Após a doutrina cristã, a morte de crianças passou a ser condenada. ( ) Na antiguidade as práticas de abandona eram comuns e aconteceram em diversas regiões americanas. ( ) A doutrina cristã modificou o cenário da deficiência, as pessoas passaram a ser vistas FIXANDO O CONTEÚDO 18 como criaturas divinas. ( ) Na Roma Antiga, bebês do sexo feminino ou com alguma deficiência eram colocados aos pés do pai para que ele decidisse se viveria ou morreria. ( ) As pessoas que nasciam com algum tipo de deficiência na Antiguidade Clássica não recebiam nenhum tipo de atendimento, eram negligenciadas e condenadas ao abandono. A sequência correta é a) F, V, V, V, F. b) V, F, F, V, V. c) V, F, V, V, V. d) V, V, V, V, V. e) F, F, F, V, V. 4. Assinale a alternativa CORRETA: a) Foi naIdade Média, Alemanha, que o primeiro hospital para cegos foi fundado. b) O objetivo do hospital de cegos era atender toda a população que desse serviço necessitasse. c) Foi na Idade Média, Paris, que o primeiro hospital para cegos foi fundado d) O objetivo do hospital de cegos era atender os soldados que haviam ficado surdos na Sétima Cruzada. e) No período cristão as pessoas com deficiência tiveram o apoio da Igreja, em destaque do bispo de Myra, que alimentava e acolhia as pessoas abandonadas 5. Uma vez que a capacidade de sobrevivência decorria de habilidades individuais para a caça, pesca e abrigo, diante da total submissão do homem aos desígnios da natureza, assim, muito provavelmente, eram seletivamente eliminados aqueles que não poderiam contribuir para a manutenção da subsis-tência do grupo. BIANCHETTI, L. Aspectos históricos da apreensão e da educação dos considerados Deficientes. In BIANCHETTI, L; FREIRE, I.M. (Org.). Um olhar sobre a diferença: interação, trabalho e cidadania. São Paulo: Papi-rus, 1998. De acordo com os conteúdos aborda dos nas aulas e no livro base Funda-mentos para Educação Especial, a tentativa de apreender o significado do preconceito e da discriminação e da exclusão de pessoas com deficiência requer a significação a) no espaço histórico e na cultura. b) no presente e no passado. c) no tempo e no espaço histórico. d) no tempo e na história moderna. e) no tempo e na cultura. 6. Em Atenas, Esparta e Roma são recorrentes os relatos dos filósofos – trabalhadores intelectuais daquela sociedade – sobre extermínio de crianças com deficiências desde o nascimento deficiências, desde o nascimento; tratavam de disseminar os valores 19 necessários a manutenção da nobreza em seus discursos. SILVA S.; VIZIM, M. (Org.). Educação especial: múltiplas leituras e diferentes significados. Campinas: Mercado de Letras, 2001. De acordo com o texto assinale a alternativa CORRETA. a) Eram cuidadas e colocadas em lugares especiais. b) Os recém-nascidos mal constituídos eram negligenciados até a morte. c) Eram devorados pelos cães. d) Eram pisoteadas pelos touros. e) Eram tratadas como iguais. 7. Assinale a alternativa CORRETA: a) Foi na Idade Média, Alemanha, que o primeiro hospital para cegos foi fundado. b) O objetivo do hospital de cegos era atender toda a população que desse serviço necessitasse. c) Foi na Idade Média, Paris, que o primeiro hospital para cegos foi fundado d) O objetivo do hospital de cegos era atender os soldados que haviam ficado surdos na Sétima Cruzada. e) No período cristão as pessoas com deficiência tiveram o apoio da Igreja, em destaque do bispo de Myra, que alimentava e acolhia as pessoas abandonadas 8. Em relação aos dispositivos legais que fizeram parte da história, assinale os que se apresentam de forma consecutiva: a) Constituição Federal, Declaração de Salamanca, Convenção de Guatemala, Plano Nacional de Educação. b) Constituição Federal, Declaração de Salamanca, Convenção de Guatemala, PNEE, Plano Nacional de Educação. c) Declaração de Salamanca, Convenção de Guatemala, PNEE, Plano Nacional de Educação e Política da Inclusão. d) Constituição Federal, Declaração de Salamanca, Convenção de Guatemala, PNEE, Plano Nacional de Educação e Política da Inclusão. e) Constituição Federal, Convenção de Guatemala, PNEE, Plano Nacional de Educação e Política da Inclusão. 20 A HISTÓRIA DA DEFICIÊNCIA NO BRASIL 21 No Brasil, a educação das crianças com deficiência surge com as ideias divulgadas no final do século XVIII e início do século XIX, e se deu inicialmente de forma institucionalizada (JANNUZZI, 2004 ). Com liberalismo, ocorreu uma luta pela abolição de algumas instituições coloniais, oposição à interferência do Estado na economia e a defesa da liberdade de expressão e da propriedade privada (COSTA, 1979). O liberalismo defendia a liberdade em todos os campos: intelectual, político, social, religioso e econômico, consequentemente sua interferência em todos esses campos, influenciou também o início da educação das pessoas com deficiência no Brasil. A relação explica-se pelo fato de como o movimento estava vinculado com a democratização dos direitos para todos os cidadãos, as pessoas com deficiência começam a ser vistas dessa forma, como cidadãos de direitos. No Brasil as Santas Casas de Misericórdia seguiam a tradição europeia, acolher pobre e doentes. Devido a isso exerceram um papel importante na educação de pessoas com deficiência. Em são Paulo, a partir de 1717, a Santa Casa de Misericórdia acolhia crianças abandonadas até os 07 anos de idade. Supõe-se que que muitas destas crianças apresentavam doenças mentais. Ao completarem 7 anos de idade as crianças que não apresentavam deficiência eram enviadas para outros seminários a fim de que pudessem se preparar apara o futuro. É possível, porém, sem registros históricos que algumas crianças com deficiências menos severas talvez tivessem o mesmo destino. Por outro lado, as mais acometidas pela deficiência, permaneciam nas Santas Casas, doentes e alienadas (SILVA A. M., 2012). O abandono de crianças com ou sem anomalias nas Santas Casas de Misericórdia pode ter sido facilitado pela criação do Asilo dos Expostos. Segundo Moraes (2000, p. 73): 2.1 SENSAÇÃO E PERCEPÇÃO: CONCEITOS E FUNÇÕES2.1 SENSAÇÃO E PERCEPÇÃO: CONCEITOS E FUNÇÕES [...] o então presidente da Província, Lucas A. M. de Bar- ros, cria em 1825, a Casa da roda ou Casa dos Expostos e a instala no pavimento térreo da Santa Casa de Mise- ricórdia. O Asilo dos expostos era também chamado de Casa da Roda em alusão ao dispositivo nela existente, uma roda que, girando em torno de um eixo perpendi- cular, ocupava toda uma janela – sempre aberta do lado de fora, de modo que que desejasse se desfaze de uma criança pudesse depositá-la na caixa e, movimentando a roda, passá-la para o interior do prédio. “A primeira ideia que uma criança precisa ter é a da di- ferença entre o bem e o mal. A principal função do edu- cador é cuidar para que ela não confunda o bem com a passividade e o mal com a atividade.” (Maria Montessori) Numa Sociedade iletrada era raro que o enjeitado se fizesse acompanhar por algum bi- lhete. Os registros escritos que sobreviveram ao tempo dão conta de que a preocupação com o batismo era mais importante que a sobrevivência. FIQUE ATENTO 22 Cabe ressaltar que apesar do abandono e do assistencialismo de algumas instituições, o direito das pessoas com deficiência estava previsto implicitamente desde a primeira constituição do Brasil promulgada em 22 de abril de 1824. Logo em seguida, no Rio de Janeiro, por meio da Lei nº 839, de 26 de setembro de 1857, aprovada também por D. Pedro II, foi criado o Imperial Instituto de Surdos-Mudos, a primeira instituição do Brasil voltada para o atendimento des-se público. Em 1956, o instituto foi nomeado como Instituto Nacional de Surdos e Mudos e, em 1957, como Instituto Nacional de Educação de Surdos (FENEIS). Apesar de alguns esforços, Mazzotta (1995) esclarece que durante o século XIX as iniciativas voltadas para o atendimento de pessoas com deficiência foram isoladas. Por outro lado, Jannuzzi (2004 ) esclarece que apesar de serem pouco significativas essas A Constituição é clara com relação à educação primária minimamente gratuita “a todos os cidadãos”, contudo, na prática o lugar da pessoa com deficiência não era na escola, mas para a Roda dos Excluídos, e, como alguma talvez pudesse ingressar em um seminário. Eis uma das facetas cruéis da exclusão, já referenciada há séculos atrás. Por volta de 1857, o Brasil passava por um momento de estabilização e crescimento econômico, além da crescente influência das ideias vindas principalmenteda França, local onde o movimento da deficiência já caminhava a passos mais largos (JANNUZZI, 2004 ). A inspiração chega ao Brasil com base nas experiências de médicos filósofos e educadores da Europa e Estados Unidos. A partir de então, inicia-se uma organização de serviços voltados para o atendimento das pessoas com deficiências sensoriais, mentais e físicas (MAZZOTA, 1995). De acordo com o referido autor, D. Pedro II inaugura em 17 de setembro de 1854 o Imperial Instituto dos Meninos Cegos. Sua fundação recebeu a participação do José Álvares de Azevedo, ex-aluno do Instituto de Jovens Cegos de Paris. Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Políticos dos Cidadãos Brazileiros, que tem por base a liberda- de, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição do Imperio, pela maneira seguinte. XXXII. A Instrucção primaria, e gratuita a todos os Cida- dãos. (Brazil, 1824). Figura 2: Imperial Instituto dos Meninos Cegos Fonte: Rio de Janeiro (1854) 23 iniciativas, houve preocupação em melhorar a vida dos alunos com deficiência mais severa, apesar das instituições que atendiam cegos e surdos, serem privilegiadas. Após 1920, ocorreu o crescimento do número de instituições especializadas no atendimento a pessoa com deficiência, configurando-se no período da institucionalização, que conversaremos a seguir. A história da educação especial passou por diversos momentos como já lido anteriormente, um desses períodos foi nomeado com período da institucionalização. Ele foi caracterizado segundo Aranha (2004, p. 14): Por volta de 1930, a sociedade começa a se organizar por meio de associações de pessoa envolvidas com a deficiência, paralelamente observa-se algumas iniciativas do governo, como a criação de instituições para atender às necessidades das pessoas com deficiência. Foram criadas escolas anexas aos hospitais e ao ensino regular. Foram fundadas instituições filantrópicas e criados institu-tos pedagógicos e centros de reabilitação, geralmente particulares (MAZZOTA, 1995). Contudo a educação especial se firma na década de 1960, em função do grande desenvolvimento econômico pelo qual o país estava passando. Do ponto de vista econômico, a escola surge como a produtora e formadora de mão de obra essenciais as necessidades das formas de produção, principalmente para a ocupação de cargos elevados, administradores, técnicos, planejadores, etc. A valorização do trabalho possibilitou a valorização da escola, como dispositivo de promoção individual, acesso ao emprego e melhoria na renda familiar. A escola deixa de ter um papel meramente educativo, mas, agrega-se a ele o compromisso de fazer desenvolver o país (JANNUZZI, 2004 ). Incialmente nos referimos a um período em que muitas instituições foram criadas, algumas ainda existem e exercem um papel importante na prestação de serviços em educação especial. Mazzotta (1995) destaca a criação de algumas instituições especializadas no ensino de pessoas surdas, cegas, deficientes físicos e mentais. Assista a entrevista à Rádio Brasil atual no dia 07 de fevereiro de 2020, com a pesquisadora Meire Caval- canti, que aponta que o governo atual tenta destruir a Política Nacional de Educação Especial na Perspec- tiva da Educação inclusiva. Essas mudanças estão as- sociadas à segregação /institucionalização da pessoa com deficiência? Disponível em: https://bit.ly/3bjC2de Acesso em 25 ago. de 2020 BUSQUE POR MAIS 2.2 A INSTITUCIONALIZAÇÃO2.2 A INSTITUCIONALIZAÇÃO pela retirada das pessoas com deficiência de suas co- munidades de origem e pela manutenção delas em ins- tituições residenciais segregadas ou escolas especiais, frequentemente situadas em localidades distantes de suas famílias. 24 O autor destaca na área da cegueira o Instituto de Cegos Padre Chico, escola fundada em 1928, que objetivava atender crianças com deficiência visual em idade escolar, e a Fundação para O livro do Cego no Brasil instalada em São Paulo em 1946. Sua finalidade era produzir e distribuir livros em impressos em Braille. Em seguida passou também a reabilitar pessoas cegas e baixa visão. Para o atendimento das pessoas surdas, as referências foram o Instituto Santa Terezinha, fundado em 1929 atendia meninas surdas em regime de internato. A partir de 1970 passou a atender também meninos, com regime externato, integrando os alunos no ensino regular. A Escola Municipal de Educação Infantil e de Primeiro Grau par Deficientes Auditivos Helen Keller foi fundada em 1951e contribuiu para a criação de outras 04 escolas para o atendimento de alunos surdos. O Instituto Educacional São Paulo (Iesp) foi criado em 1954, atendendo crianças com idade entre 5 e 7 anos. Em 1969 foi doado à Fundação São Paulo, sendo subordinado ao Centro de Educação e Reabilitação dos Distúrbios da Comu-nicação (Cerdic). Ainda segundo Mazzotta (1995) com relação ao atendimento das pessoas com deficiência física, destaca-se a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, o Lar-Escola São Francisco e a Associação de Assistência à Criança Defeituosa (AACD). A AACD foi fundada em 1950 pelo médico Renato da Costa Bonfim. É uma entidade privada sem fins lucrativos. Hoje é chamada de Associação de Assistência à Criança Deficiente. Seu objetivo é habilitar, prevenir e reabilitar crianças e jovens com deficiência, possibilitando a integração social (MAZZOTA, 1995). Em relação à deficiência mental o autor destaca duas instituições renomadas e reconhecidas no Brasil e que mantêm até hoje um papel relevante no atendimento a pessoas com deficiência mental: a Sociedade Pestallozi e a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE). A primeira Sociedade Pestallozi foi fundada em Porto Alegre no ano de 1926 por um casal de professores que se inspiraram na concepção da pedagogia social desenvolvida pelo Educador Henrique Pestalozzi. Em 1927 ela foi transferida para Canoas. Em 1935 foi criado o instituto Pestalozzi de Minas Gerais com a participação ativa de Helena Antipoff. Em 1948 outra Sociedade Pestalozzi foi criada no Rio de Janeiro e em 1952, em São Paulo (MAZZOTA, 2005). De acordo ainda com o autor, Helena Antipoff participou do movimento que criou a primeira Apae em 1954 no Rio de Janeiro. Atualmente existem mais de 2000 municípios atendidos pelas APAES. Sociedade Pestalozzi de Niterói Tem como finalidade “defender e garantir a dignidade e os direitos do ser hu- mano”, principalmente da pessoa com deficiência visando a inclusão. Ofere- ce serviços de Assistência Social, Saúde e Educação. Disponível em: https://bit. ly/2IujTzf. Acesso em 25 ago. de 2020 BUSQUE POR MAIS 25 A Declaração Universal dos Direitos Humanos, marca a história da deficiência à medida que garante a liberdade e a igualdade de direitos, bem como privilegia as minorias (incluindo as pessoas com deficiência) que historicamente foram excluídas, discriminadas, diferenciadas além de sofrer maus tratos físicos e psicológicos. Até a década de 60 predominavam os serviços privados, as classes especiais nas redes públicas existiam de forma menos expressiva. De acordo com Ferreira (2006) o aumento no número de instituições se deu entre 1960 e 1970, instituições estas voltadas para alunos com deficiência mental. Este momento foi marcado segundo a autora pela influência médica na educação, Um dos importantes marcos para a pessoa com deficiência no cenário político mundial ocorre em 1948, com a aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos que garante a igualdade de direitos para todos os cidadãos sem distinção. (Organização das Nações Unidas, 1948): VAMOS PENSAR? APAE EM NÚMEROS 2.201 Apaes e entidades filiadas coordenadas por 24 Federações Estaduais abrangendo todos os estados brasileiros para atender cerca de 250.000 pessoas com deficiência intelectual e múltipla diariamente. Na sua cidade tem APAE? Você conhece o trabalho que é desenvolvido lá? Procure sa-ber! 2.3 MARCO NO CENÁRIO POLÍTICO BRASILEIRO2.3MARCO NO CENÁRIO POLÍTICO BRASILEIRO Art. I - Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consci- ência e devem agir em relação uns aos outros com espí- rito de fraternidade. Art. II - Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natu- reza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. [...] Art. V - Ninguém será submetido à tortura nem a trata- mento ou casti-go cruel, desumano ou degradante. Art. VII - Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer inci- tamento a tal discriminação. [...] 26 tanto de crianças com deficiência como das demais. A psicologia também teve suas influências sobre a educação, com a aplicação dos testes de inteligência, favorecendo a homogeneização e a organização das classes, consequentemente, a aprendizagem. Outro marco no período da institucionalização foi a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), lei nº 4.024, de 1961. A partir dessa lei a deficiência não mais aparece nas entrelinhas ou no entendimento de cada um. Não obstante a Lei nº 9.394/1996, evidencia mais claramente o direito da pessoa com deficiência. Posteriormente foi instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Defi-ciência (LBI) nº 13.146 de 06 de julho de 2015. Essa lei consolidou os direitos funda-mentais da pessoa com deficiência. Art. 88 - A educação de excepcionais deve no que for possível enquadrar-se no sistema geral da educação, a fim de integrá-los na comunidade. Art. 89 – Toda iniciativa privada considerada eficiente pelos conselhos estaduais de educação, e relativa à edu- cação de excepcionais, receberá dos poderes públicos tratamento especial mediante bolsa de estudo e sub- venções (BRASIL , 1961). Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efei- tos desta Lei, a modalidade de educação escolar ofere- cida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do de- senvolvimento e altas habilidades ou superdotação. § 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio espe- cializado, na escola regular, para atender às peculiarida- des da clientela de educação especial. § 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou ser-viços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular. § 3º A oferta de educação especial, nos termos do caput deste artigo, tem início na educação infantil e estende- -se ao longo da vida [...] (BRASIL, 1996). Art. 1º É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiên-cia (Estatuto da Pessoa com Deficiência), destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fun- damentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania. Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedi-mento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou senso-rial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participa- ção plena e efetiva na sociedade em igualdade de con- 27 A LDBEN de 1961 foi considerada o início do reconhecimento dos direitos da pessoa com deficiência, ela expande os direitos assegurando condições de igualdade e a permanência do aluno com deficiência nas escolas regulares, visando a plena inclusão, o que talvez no cenário real ainda esteja longe de ocorrer. Na próxima unidade conversaremos acerca dos marcos legais que cercei-am a educação especial, conquistas obtidas e os movimentos da inclusão. dições com as demais pessoas (Brasil, 2015). VAMOS PENSAR? VAMOS PENSAR? Faça um levantamento sobre o número de pessoas com deficiência de sua cidade e o número de instituições especializadas no atendimento a essas pessoas. Agora, vamos pensar...O número de instituições é suficiente para atender ao número de pessoas com deficiência e suas demandas? Em que medida a inclusão garantida por lei é praticada em sua cidade? É possível pensarmos atualmente que as entidades especializadas para a pessoa com deficiência ainda cumprem mesmo que sutilmente o papel da institucionalização? Assista o filme “Extraordinário” O filme retrata a vida de um garoto que nasceu com uma deformação facial e que frequentará a escola pela primei- ra vez aos 10 anos de idade. Lá precisará lidar com todos os colegas o observando e com as questões relativas ao preconceito. Tente relacionar o filme a garantia dos direi- tos da pessoa com deficiência e com o preconceito ainda fortemente praticado nas escolas. Disponível em: https://bit. ly/2DlgeBs. Acesso em 25 ago. de 2020 Conheça um pouco mais sobre a educação especial e inclu- são escolar lendo a obra Aline Maira da Silva. Disponível em: https://bit.ly/3lCqJSe Acesso em 25 ago. de 2020 BUSQUE POR MAIS BUSQUE POR MAIS 28 FIXANDO O CONTEÚDO 1. Apesar de alguns esforços, Mazzotta (2005) esclarece que durante o século XIX as iniciativas voltadas para o atendimento de pessoas com deficiência foram isoladas. Diante do exposto é CORRETO afirmar que a) a Educação inclusiva se fortaleceu nesse período. b) a Educação Especial foi criada para atender a educação inclusiva e alunos sem deficiência. c) as ações nesse período foram voltadas para as altas habilidades/superdotação. d) foram criadas escolas especializadas para atender a demanda de crianças deficientes. e) apesar de serem pouco significativas essas iniciativas, houve preocupação em melhorar a vida dos alunos com deficiência mais severa, apesar das instituições que atendiam cegos e surdos, serem privilegiadas. 2. De acordo com a legislação vigente, as escolas devem desenvolver práticas inclusivas. Considere as seguintes afirmativas com relação à perspectiva da educação inclusiva no espaço escolar. I- A escola deve evitar o contato entre estudantes que não apresentam deficiências e os que apresentam. II- A escola deve promover o contato entre estudantes que não apresentam deficiência e os que apresentam, atuando de forma a evitar situações que envolvam intimidação vexatória. III- O professor deve acompanhar, sem o auxílio de outros profissionais, a aprendizagem dos estudantes com deficiência, e altas habilidades/superdotação e transtornos globais do desenvolvimento. IV- A escola deve elaborar uma proposta pedagógica que atenda aos grupos e às necessidades individuais. Estão CORRETAS, apenas, as afirmativas: a) I e II. b) II e III. c) II e IV. d) III e IV. e) Todas as alternativas estão corretas. 3. A LDBEN de 1961 foi considerada o início do reconhecimento dos direitos da pessoa com deficiência, ela expande os direitos assegurando condições de igualdade e a permanência do aluno com deficiência nas escolas regulares, visando a plena inclusão, o que talvez no cenário real ainda esteja longe de ocorrer. Outra lei que marca a história da inclusão no Brasil é 29 a) Lei 13.146/2015 – LBI Lei Brasileira de Inclusão. b) Declaração de Salamanca. c) Declaração de Jontien. d) Decreto Federal nº3.965/2001. e) Resolução nº 4/2009. 4. Com relação as Santas Casas de Misericórdia, elas exerceram um papel fundamental na educação das pessoas com deficiência, já que seguindo a tradição europeia, atendiam pobres e doentes. A partir de 1717, essas instituições passaram a acolher a) crianças surdas. b) crianças cegas. c) adultos deficientes abandonados. d) apenas meninas abandonadas. e) crianças abandonadas até 7 anos de idade que poderiam ou não apresentar prejuízos físicos ou mentais. 5. A institucionalização refere-se a a) retirada das pessoas com deficiência de suas comunidades de origem pelae pela manutenção delas em instituições residenciais segregadas ou escolas especiais, frequentemente situadas em localidades distantes de suas famílias. b) a inclusão das pessoas com deficiência em suas comunidades de origem e pela manutenção delas em instituições residenciais ou escolas especiais, frequentemente situadas em localidades próximas de suas famílias. c) a criação de instituições para atender às necessidades das pessoas com deficiência. d) vulnerabilidade social em diferentes situações. e) a criação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos e Asilo dos expostos. 6. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em seu art. 58, entende-se por Educação Especial a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino para educandos com a) deficiência, com transtornos globais do desenvolvimento e com altas habilidades e superdotação. b) vulnerabilidade social em diferentes situações. c) transtornos de aprendizagem e com deficiência. d) deficiência e atrasos no desenvolvimento. e) transtornos no desenvolvimento e transtornos mentais. 7. Um dos importantes marcos para a pessoa com deficiência no cenário político mundial ocorre em 1948 por meio de um documento mundial que garante a igualdade de direitos para todos os cidadãos sem distinção. Esse documento refere-se a) a Lei 13.146/2015. b) a LDBEN. 30 c) a Declaração Universal dos Direitos Humanos. d) a Constituição Federal de 1988. e) a Declaração de Salamanca. 8. Em relação à deficiência mental duas instituições fundadas no passado e reconhecidas no Brasil se mantêm até hoje. São elas a Sociedade Pestallozi e a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE). a) Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e o Instituto de Surdos-mudos. b) a Sociedade Pestallozi e Asilo dos expostos. c) a Sociedade Pestallozi e a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE). d) o Instituto de Surdos-mudos e o Imperial Instituto dos Meninos Cegos. e) o Imperial Instituto dos Meninos Cegos e Asilo dos expostos. 31 A ESCOLA COMO ESPAÇO PARA A DIVERSIDADE 32 Quando pensamos em diversidade cultural associamos rapidamente a ideia de cultura, linguagem, culinária, tradição, política, modelo de organização familiar, costumes entre outras características que fazem parte de um grupo de pessoas que habitam um mesmo lugar. Estas características dão a identidade a uma comunidade, uma vez que a cultura é transmitida de geração a geração reforçando os costumes de uma população (PAULA, 2013). Segundo Hirye; Neuza e Altoé (2016) quando pensamos no Brasil, em toda a sua extensão territorial e em sua população numerosa e miscigenada pela colonização, entendemos que somos um país composto por um povo que apresenta uma vasta diversidade cultural. A diversidade cultural é exatamente o contrário da homogeneidade, ela representa a pluralidade, a diferenciação e a variedade. Ela se traduz como um componente ativo na vida das pessoas, não é possível pensar em seres humanos sem cultura, porque nos apropriamos dela ao nascer, a recriamos ao longo da vida e a propagamos por onde formos (PAULA, 2013). Ela nos possibilita compreender a diferença que existe entre as várias culturas ao nosso redor, no Brasil e no mundo, e como nos construímos por meio dela. É essa variedade cultural que chamamos de identidade cultural de um grupo de indivíduos ou de uma sociedade. É ela quem marca, criva, personaliza e diferencia um determinado grupo dos demais membros da população. Diante deste contexto de uma variedade cultural que marca uma população, é preciso repensar a sala de aula e seus inúmeros vieses. É de suma importância que o aluno conheça e reconheça sua história, cultura local e a cultura das outras regiões que compõem o nosso país, ou seja, a nossa diversidade. Pen-sando nisto, o professor exerce o papel fundamental de “ponte” entre o aluno e diversidade cultural com suas mais variadas manifestações (MOSER, 2017). Para a autora, é ele quem fortalecerá este processo de valorização, sem, entretanto, tentar unificá-la ou fundi-la, muito ao contrário, sua tarefa é desmistificar a tentativa imposta pelos meios de comunicação de agrupar ou menosprezar os processos culturais e suas características singulares. Atualmente os meios de comunicação em suas propagandas e campanhas de Marketing publicitário escolhem modelos que representem e fortaleçam a diversidade. Entretanto, apesar desse esforço, ainda é muito comum que os(as) alunos (as) sofram diversos tipos preconceitos: etnia, região, classe social, gênero entre outros. Esses preconceitos provocam constrangimentos e consequentemente 3.1 DIVERSIDADE CULTURAL “Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa em que o destino, para escrever um novo caso, precisa de apagar o caso escrito. “Machado de Assis Diversidade Cultural são as diferenças que existem entre os seres humanos. Essas diferen- ças podem ser referentes a religião, ao gênero, a linguagem, entre outros costumes e tra- dições, de acordo com a organização social de cada grupo. FIQUE ATENTO 33 comprometem a qualidade da aprendizagem e a convivência com os colegas de sala e até mesmo com o professor. O preconceito desconsidera a diversidade! O multiculturalismo é o resultado da convivência e da interação entre as pessoas, seja por processos de migração, colonização ou êxodo, como podemos verificar na imagem anterior. Para além destas reflexões, e de acordo com o documento Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) a pluralidade cultural refere-se à valorização e ao conhecimento das características étnicas e culturais, as práticas sociais discriminatórias e às desigualdades econômicas dos diferentes grupos sociais que convivem no território nacional. Ela possibilita ao aluno conhecer o seu país por meio de sua complexidade e a desconstruir conceitos enraizados na sociedade. Diante da singularidade que cada aluno traz para a sala de aula, percebe-se os desafios encontrados e a serem enfrentados pelos professores, uma vez que precisam aprender a respeitar a diversidade e suas implicações no processo de aprendizagem, bem como a forma de ensinar e contornar situações sem “ferir” aquilo que o(a) aluno(a) carrega consigo e que possivelmente levará por toda a vida. Ao refletirmos acerca dos desafios e das dificuldades e deficiências dos processos de aprendizagem ampliamos ainda mais essa discussão ao examinarmos o Art. 2º das diretrizes Curriculares Nacionais (2015) que trata da formação Inicial e Continuada em Nível Superior, aplicando-a a todas as modalidades de educação: Educação Especial, Educação Profissional e Tecnológica, Educação de Jovens e adultos, Educação do Campo, Educação Escolar indígena, Educação a Distância e Educação Quilombola. Após o exposto, estamos todos preparados para atuar em alguma destas modalidades de ensino abarcando sua diversidade sem desconsiderar a identidade cultural dos grupos sociais? Todas as modalidades de educação são contempladas na Formação Inicial e Continuada a nível Superior? Existe integração entre elas? Interdisciplinaridade? Transdisciplinaridade? Estas e outras questões permearão o Livro Didático, e possivelmente ao chegarmos ao término dele, talvez não tenhamos respostas para tantas questões. Dando sequência às questões que permeiam a diversidade e os desafios a serem enfrentados nas instituições de ensino, Freitas (2006) esclarece que a escola é um espaço em que as contradições sociais se revelam por todo o tempo, é um espaço de multicultralismo. VAMOS PENSAR? Cada aluno (a) é único e singular, traz para a sala de aula toda a sua bagagem cultural, costumes, formas de pensar e agir, religiosidade/espiritualidade, classe social, gênero entre outros. 3.2 MULTICULTURALISMO E A ESCOLA CULTURAL 34 VAMOS PENSAR? A discriminação e o preconceitominimizam as chances de qualidade de ensino para todos? A escola é pensada em uma dimensão cultural? Que tipo de professor você é di- ante do preconceito e da discriminação? A escola promove a exclusão ou a liberdade? Para responder a essas questões, assista ao vídeo: https://bit.ly/3bgG1r7 Vamos enfrentar o preconceito na escola? Nesse contexto em que a escola pode promover a exclusão ou a liberda-de, ela precisa realizar um deslocamento de lugar: deixar de ser o veículo da cultura dominante tanto do saber quanto da cultura para ceder lugar ao acolhimento “das culturas” da pluralidade em que alunos e alunas estão inseridos. Ressaltamos diante do exposto o quanto é importante a mudança do papel da escola e do professor no sentido de (re)conhecer cada aluno e cultura. Esse extenso trabalho de campo a ser realizado pelo(a) docente e pela escola é o mesmo que promover cindir com a cultura dominante e excludente que vivemos, em busca de um lugar que privilegie a singularidade, o aluno e sua cultura. É papel do professor promover a transformação social, acolher as diversidades, buscar estratégias de ensino em que o aluno seja o grande protagonista, e não a escola. Ela seria o veículo promotor da liberdade. Na série “ Anne with an E” a chegada da nova professora cheia de ideias, distanciada de preconceitos e em busca de novas práticas pedagógicas, ilustra a dominância de uma cultura preconceituosa de uma cidadezinha do interior bem como toda nossa discussão! Não deixe de assistir! Como na série, cindir com a cultura dominante é o mesmo que rever o tra-balho desenvolvido por muitas escolas que ainda não estão devidamente preparadas para atender a todo tipo de diferença com vistas à transformação social que estamos vivendo. As diferenças chegam todos os dias nas escolas, já fazem parte do nosso cotidiano. Será que estamos atentos a elas? Cabe à escola (Educação Infantil e demais segmentos) e programas educacionais investir na valorização da diversidade, objetivando ensinar crianças e jovens a respeitar e a conviver com a diferença. Na segunda temporada, episódio 09 a professora recém- chegada ao vilarejo traz métodos de estudo nada conven- cionais para a época, rompendo com barreiras como racis- mo, homofobia, cultura dominante, além de ter uma forma inusitada de ensinar, baseando-se na experiência prática associa-da à teoria, completamente diferente do professor anterior. De acordo com os dois posicionamentos dos professores apresentados na série, qual é seu posicionamento em sala de aula? Disponível em: www.netflix.com.br. Acesso em 25 ago. de 2020. BUSQUE POR MAIS 35 Nesse sentido é válido nos questionarmos acerca de que tipo de educação queremos para nossos(as) alunos(as) e que tipo de professores e professoras precisamos ser hoje, pensando em uma sociedade futura completamente marcada pela diferença e pela diversidade. Para Gadotti (2000, p. 1) os discentes precisam de uma educação pautada em uma ética e cultura da diversidade. A escola deve educar pensando no pluralismo cultural, em que o outro não só existe, mas que é legítimo e singular com sua cultura, sua história, sua etnia, um ser heterogêneo, multifacetado, atravessado por costumes que provém de suas famílias e lugares onde reside, além de apresentar diferenças no ritmo de aprendizagem. Um ser único e dialeticamente plural, inserido em um espaço de aprendizagem em que a sua característica mais marcante é a diversidade e a pluralidade. Não restam dúvidas que é inadiável e urgente considerar a proposta de se valorizar a diversidade em sala de aula e nos espaços escolares, essa demanda emerge há muito tempo, a lembrarmos pelos movimentos e lutas sociais. O desafio que encontramos hoje está em como estabeleceremos as conexões necessárias entre os conteúdos programáticos da escola e a vida de cada aluno. É importante deixar de enxergar estas conexões como obstáculos ou dificuldades. É preciso que a escola se planeje de modo a atender a diferença, a diversidade e as formas de aprendizagem, contribuindo para uma formação ampla e plena do cidadão, como um agente social e transformador de si e da sociedade em que vive. Nessa perspectiva, o olhar do professor precisa estar voltado para as diferenças, para o que o nosso país tem de melhor, buscando aprimorar seus conhecimentos, de forma que consiga ser coerente com a realidade cultural da escola que trabalha. Por trabalhar com a diversidade humana, comporta uma ampliação de horizontes para o professor e para o aluno, uma abertura para a consciência de que a reali- dade em que vivem é apenas parte de um mundo com- plexo, fascinante e desafiador, na qual o elemento uni- versal subjacente e definidor das relações intersociais e interpessoais deve ser a Ética (BRASIL, 1997, p. 16). Não devemos chamar o povo à escola para receber ins- truções, pos-tulados, receitas, ameaças, repreensões e punições, mas para participar coletivamente da cons- trução de um saber que vai além do saber de pura ex- periência feito, que leve em conta suas necessidades e o torne instrumento de luta, possibilita-lhe transformar- -se em sujeito da própria história (FREIRE, 1991, p. 16). [...] A escola deve ser também um centro irradiador da cultura popular, à disposição da comunidade [...] um centro de debate de ideias, soluções, reflexões, onde, a organização popular vai sistematizando sua própria ex- periência. A escola não é só um espaço físico. É um cli- ma de trabalho, uma postura um modo de ser (FREIRE, 1991, p. 16). 36 Finalmente, a prática pedagógica docente precisa ter como premissa conteúdos e valores ressaltem a igualdade e a equidade, visando o combate da discriminação e preconceito, possibilitando a cada aluno se sentir especial e único, independentemente de sua cultura e suas raízes, valorizando a experiência prévia e já construída de cada um, indicando que essa valorização é um dos primeiros passos para a construção de uma sociedade mais igualitária e justa. Antes de começarmos a conversar sobre diversidade étnico-racial, é preciso esclarecer o conceito de raça, objeto de diversos estudos sociológicos e um termo muito complexo. Infelizmente a palavra raça é utilizada erroneamente nos dias atuais por parte do senso comum. Esse emprego inadequado se perpetuou durante muitos anos, como uma forma de dividir ou categorizar os grupos humanos por suas diferenças biológicas. As teorias sobre as diferentes raças humanas existem desde o final do século XVIII e início do século XIX, Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882), filósofo francês, “pai Os caminhos para uma educação voltada para a diversi- dade são permeados de dificuldades e preconceitos. O livro Educar para a diversidade: entrelaçando redes, saberes e identidades aborda as questões relativas ao respeito à di- versidade. A autora Cláudia Regina de Paula ressalta que o respeito à di-versidade não está apenas voltado para a empatia e a boa vontade do professor, mas para questões que vão mui- to além dos muros da escola. Qual a relação da leitura do livro com a sua prática em sala de aula? Disponível em: https://bit.ly/3hSjLpS. Acesso em 25 ago. de 2020 Assista o filme “Crianças Invisíveis O filme trata de conflitos étnicos, políticos e econômicos, re- abilitação de crianças, exposição a fatores de risco como o HIV e drogas ilícitas utiliza-das pelos familiares, violência escolar, trabalho infantil como forma de ajudar a família a manter o sustento da casa, maus tratos, violência não apenas nas classes populares e por fim a superação dessas crianças em meio as adversidades. Você consegue estabe- lecer uma relação do filme com o conteúdo estudado? Dis- ponível: https://bit.ly/2GiZige Acesso em 25 ago. de 2020 BUSQUEPOR MAIS BUSQUE POR MAIS 3.3 DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL Nossa pretensão é de uma sociedade não racial. Estamos lutando por uma sociedade em que o povo deixará e pensar em termos de cor. Não é uma questão de raça, é uma questão ideias. Nelson Mandela 37 Após refletir sobre a posição do negro em nossa sociedade atualmente, Pinto e Ferreira (2014) esclarecem que no passado o processo de imigração no Brasil reforçou a ideia do “branqueamento”, o trabalho negro foi largamente substituído pela força de trabalho europeia. Isso explica-se pelas supostas evidências racistas de que o negro era do racismo moderno” e que defendia veementemente a ideia de que pessoas brancas eram superiores ao grupo de pessoas não brancas. Foram tantos os trabalhos nesta área que foram elencadas por pesquisadores quatro ou cinco raças, outros conseguiram identificar aproximadamente vinte (RODRIGUES, s.d). Segundo Carvalho et al. (2012) no século XIX, a “raça apresentava-se como um objeto de estudos dos “homens de ciência”, repleto de paradigmas científicos, sendo inscrita em um debate clássico acerca da “unidade” humana. O debate transcorria e perpassava pelas noções de hierarquia e diferença social, ancorados e respaldados pelos Estados Unidos e Europa, relação que podemos apontar como científica, discriminatória, política e acadêmica. Acadêmica porque as escolas eram as grandes responsáveis por produzir e reproduzir as teorias raciais, respaldadas pelas lideranças políticas e culturais dos países citados. Para os autores, a ideia principal “ensinada” pelas escolas era que existia um pensamento “naturalizante” de “raça”. Isso nada mais, nada menos, quer dizer que havia uma diferença biológica marcante entre os sujeitos, consequentemente produzindo “naturalmente” hierarquias sociais. Estes pressupostos teóricos construídos nos mostram que o conceito de raça foi apreendido ao longo do tempo e do espaço, corroborando para a apreensão de sentidos de inferioridade e superioridade, marcando cruelmente diversas comunidades. Esse princípio resume os indivíduos ou uma classe de indivíduos como seres “prontos e acabados”; comportamentos, formas de pensar seriam determinadas pelos componentes biológicos, o que facilmente se justificava as desigualdades sociais, ou seja, o sujeito não era capaz de se modificar, de construir sua história, seus componentes biológicos determinavam sua existência e seu lugar na sociedade, como inferior ou superior. Assim, o conceito de teoria racial no período da Segunda Guerra Mundial foi amplamente adotado pelo mundo inteiro, principalmente quando as ameaças nazistas potencializaram o preconceito e o ódio em relação a determinados grupos. Podemos inferir que após tantos anos ainda existem grupos que se apropriam das teorias nazistas, imprimindo ódio e preconceito em determinadas comunidades. Isso explica a supremacia do povo europeu em relação aos demais povos. As diferenças culturais estavam ligadas as diferenças do corpo, como a cor da pele, ou seja, eram vistas como possibilidades de progresso social das sociedades mais adiantadas (CARVALHO, SALAINI, ALLEBRANDT, MEINERZ, & WEISHEIMER, 2012). O corpo negro, a cor negra, os cabelos negros eram considerados inferiores e força de trabalho em um mundo capitalista e escravocrata. VAMOS PENSAR? O corpo negro, a cor negra, o cabelo negro, deixaram de ser apenas corpo, cor e cabelo na atualidade, ou a sociedade é ainda é marcada por uma política branqueadora? 38 menos preparado que o trabalhador branco. A partir deste contexto, os autores afirmam que surge a ideologia da mestiçagem, que emerge como uma opção de aprimoramento ou melhoria da descendência étnica do povo brasileiro, culminando na construção de um Brasil pós-abolição, considerada pelos autores como mito da democracia racial. É impossível negar a desigualdade racial, social e econômica, além de sua função discriminatória. A elite dominante "trama" uma ideologia de que no Brasil não haveria discriminação racial, seria dada a todos os habitantes, negros, brancos e mestiços as mesmas oportunidades, sem diferenciação, muito embora a realidade vivida e experienciada era completamente divergente. Esse mito da democracia racial ganhou a simpatia de alguns autores, entre eles o sociólogo Freyre (2006) que destaca em sua obra Casa Grande e Senzala, o processo de miscigenação como fator positivo e passível de reduzir a distância social oriunda do sistema escravocrata. A miscigenação resolveria a questão da não aceitação social, além de representar uma nova configuração do povo brasileiro (PINTO & FERREIRA, 2014). Em sua obra Freyre (2006, p. 27) argumenta que os negros foram os fundadores da civilização brasileira, objetos culturais, sem, entretanto, dar a eles o direito à cidadania. Podemos inferir que foram inseridos socialmente por meio de uma sutileza brutal, que fere os princípios da cidadania, do sujeito, da diversidade, da singularidade. Essa sutileza desarmoniosa promove na sociedade a visão míope de que o negro era aceito, mantendo, porém, os preceitos da hierarquia da escravatura. Seria possível pensar que vivemos em uma sociedade completamente diferente do passado? Ou o mito da democracia racial ainda existe em uma completa sutileza presente nas comunidades, nas escolas e dentro das próprias famílias? VAMOS PENSAR? O Mito da democracia Racial no Brasil, expresso pela tirinha de Carlitos Pinheiro (s.d.) tem relação com a sua vivência em sociedade e sala de aula? Retomando as premissas do mito da democracia racial e a questão da mestiçagem biológica e cultural, encontramos outra ideia que ganha força e estrutura na sociedade: a convivência entre os sujeitos de grupos étnicos e de todas as camadas 39 sociais. Essa ação possibilitou a classe dominante reforçar ainda mais as desigualdades sociais impossibilitando a criação de uma identidade própria do grupo, uma vez que não era permitido as comunidades não brancas a disseminação de sua cultura e características. Essas características são "expropriadas", "dominadas" e convertidas em símbolos nacionais pelas elites dirigentes (MUNANGA, 2004). Ou seja, o mito da democracia racial foi disfarçado pela não existência do racismo e da discriminação no nosso país. A desigualdade foi reconhecida como um problema relacionado à renda, em que nem toda a população poderia ter acesso à educação por falta de recursos financeiros, mascarando mais uma vez uma sociedade que não é racista nem mesmo discriminatória. Com o passar dos anos, muitos trabalhos científicos comprovaram que biologicamente não existem “raças”, o que existe verdadeiramente são variações físicas entre as pessoas: cor de olhos, cor da pele, tipo de cabelo etc. As pesquisas fizeram com que a comunidade científica basicamente abandonasse o uso do termo “raça”, por ser uma ideia construída socialmente e perpetuada pela própria história de colonização do Brasil, pelo preconceito e políticas raciais. O conceito raça está equivocadamente associado a biologia, por outro lado o conceito de etnicidade está vinculado ao campo do social. Ao se tratar de etnia nos referimos a como as pessoas, grupos ou comunidades constroem suas manifestações culturais. Ainda segundo o autor, além da identidade do grupo, é necessário que ela se mantenha. Essa manutenção se perpetua pelas tradições culturais que evocam um passado, suas memórias, crenças, mitos que ao se agrupar se transformam um conjunto de interpretações de cada grupo ou comunidade, possibilitando que a constituição étnica se perpetue pelas gerações e permaneçam no mundo social. Resgatando os conceitos de raça e etnia, percebemos que são termos que não mantém nenhum tipo de similaridade, não se justapõem e não se complementam, muito ao contrário, o termo raça já foi e ainda é utilizado como um depreciador das características culturais de um determinado povo, grupo ou comunidade. VAMOS PENSAR? Assista o
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