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O PSICOPEDAGOGO NO COMBATE AO FRACASSO ESCOLAR O PSICOPEDAGOGO NO COMBATE AO FRACASSO ESCOLAR DÚVIDAS E ORIENTAÇÕES editorafamart@famart.edu.br TUTORIA ONLINE Segunda a Sexta de 09:30 às 17:30 Acesse a aba Tutoria EaD em seu portal do aluno. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 3 2 A PSICOPEDAGOGIA E AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM ........... 4 3 AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA .............................................................. 6 4 INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA .......................................................... 8 5 UMA INTRODUÇÃO AO CONCEITO DE ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM .............................................................................................. 9 6 MODELO DE PROCESSAMENTO DA INFORMAÇÃO E ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM ............................................................................................ 12 7 REFLETINDO SOBRE ALGUNS PROBLEMAS EDUCACIONAIS BRASILEIROS ................................................................................................. 17 8 CONTRIBUIÇÃO DA PSICOLOGIA COGNITIVA NA MELHORIA DO RENDIMENTO ESCOLAR DE ALUNOS BRASILEIROS ............................... 21 9 ALGUMAS PESQUISAS RELATIVAS ÀS ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS BRASILEIRAS ......................................... 23 10 INFLUÊNCIAS NA PSICOPEDAGOGIA .................................................... 25 11 O CONCEITO DA PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA ...................................... 31 12 O CONCEITO DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL ......................... 34 ENCERRAMENTO ........................................................................................... 37 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 38 3 1 INTRODUÇÃO A psicopedagogia é um campo de conhecimento em que a Psicologia e a Pedagogia interagem, com o intuito de facilitar o processo de ensino- aprendizagem tentando remover os obstáculos desse processo. Nesse contexto, a avaliação psicopedagógica tem como objetivo investigar as relações do indivíduo com o conhecimento e os seus vínculos com a aprendizagem e todas as significações implícitas no ato de aprender. Após essa avaliação, de acordo com a demanda, pode-se realizar uma intervenção psicopedagógica, com o intuito de mediar o processo de aprendizagem, introduzindo novas formas de se pensar, por meio das potencialidades identificadas na avaliação e desenvolvendo novas maneiras de se relacionar com essa aprendizagem. A atuação do psicopedagogo pode portanto afetar significativamente a qualidade da educação e contribuir efetivamente para o combate ao fracasso escolar, seja tal atuação no âmbito institucional com foco na escola ou clínica, com o atendimento personalizado. Veremos então, todas as implicações desse processo de intervenção psicopedagógica que se faz tão necessário atualmente. 4 2 A PSICOPEDAGOGIA E AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM Segundo Mariani e Mariani (2005), a psicopedagogia é um campo de conhecimento com interação entre a psicologia e a pedagogia, tendo como objeto de estudo o processo de aprendizagem que é visto como estrutural construtivo e interacional, integrando os aspectos cognitivos, afetivos e sociais do sujeito. Tem o intuito de facilitar o processo de ensino aprendizagem na tentativa da remoção dos obstáculos que impedem que esse processo se realize. Portella e Hickel (2010) pontuam que a psicopedagogia tem como objetivo unir conhecimentos e princípios de ciências distintas, com a finalidade de estabelecer a melhor e mais adequada compreensão referente às diversas variáveis que estão inseridas nesse processo de aprendizagem. Atualmente, a psicopedagogia clínica está envolvida em toda e qualquer situação que esteja relacionada ao processo de aprendizagem e suas implicações. Este campo surge como uma resposta diante de uma demanda, que cresce cada vez mais, devido ao fracasso escolar e aos problemas de aprendizagem. As dificuldades de aprendizagem, segundo Smith e Strick (2001), são causadas por problemas neurológicos que afetam a capacidade do cérebro para entender, recordar ou comunicar informações. As deficiências que causam maiores problemas acadêmicos são: percepção visual, processamento linguístico, habilidade motora fina e capacidade de focar atenção. Aliada a isso, alguns comportamentos tornam-se um complicador, como hiperatividade, dificuldade para seguir instruções e imaturidade social. A frustração dos pais, da escola e também da própria criança só aumenta, pois ela se vê incapaz de realizar a mesma atividade que seus colegas e passa até a questionar a sua inteligência, podendo ficar irritada, isolada socialmente e até desenvolver baixa autoestima e depressão pelos julgamentos negativos que recebe. Segundo D‟Abreu e Marturano (2010), sete em cada dez crianças encaminhadas com queixa de dificuldade de aprendizagem apresentam uma comorbidade emocional e/ou comportamental, com comportamentos externalizantes (caracterizados pela oposição, agressão, hiperatividade, impulsividade e manifestações antissociais) ou internalizantes (caracterizados 5 pela disforia, retraimento, medo e ansiedade). Pesquisas mostram que, quando existe a associação entre dificuldade de aprendizagem e comportamentos externalizantes, a criança pode vir a ter dificuldades de se relacionar, além de que problemas de comportamento podem exacerbar as dificuldades acadêmicas. Para evitar tais consequências, Smith e Strick (2001) afirmam que os pais devem estar alerta aos sinais que a criança emite. Ao identificarem algum atraso na leitura, escrita ou na matemática em relação ao nível de seu ano/série escolar, devem encaminhar para uma avaliação psicopedagógica. Perceberemos, porém, que muitas são as causas do fracasso escolar. Como identificar tais causas? É nesse momento que a psicopedagogia se faz tão necessária, pois possui a capacidade de analisar com cuidado as muitas facetas dessa realidade e intervir para solucionar os problemas. 6 3 AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA De acordo com Weiss (2011), todo o diagnóstico psicopedagógico em si é uma investigação do que não vai bem com o sujeito em relação a um rendimento esperado. Guimarães, Rodrigues e Ciasca (2004) complementam que na avaliação psicopedagógica, a criança é considerada como um todo, pois muitos aspectos podem estar relacionados ao problema de aprendizagem e, por isso deve ser investigado. Segundo Weiss (2011), torna-se importante o esclarecimento da queixa pelos pais, pelo próprio sujeito avaliado e também pela escola. De acordo com Guimarães, Rodrigues e Ciasca (2003), na primeira consulta, deve-se perceber que a queixa trazida pelos pais como motivo do encaminhamento para a avaliação às vezes não descreve só o “sintoma”, como também traz indícios que indicam a direção para o início da investigação. Por isso, a atitude com que o profissional acolhe o primeiro contato com a família ou o próprio paciente é muito importante para a continuação do processo. É necessário considerar sempre a carga de ansiedade demonstrada pelos pais neste primeiro contato, visto que é um movimento que poderá vir a se definir pró ou contra a avaliação. Geralmente no primeiro contato com os pais ou responsável pelo paciente é realizada a anamnese, com o intuito de obter mais dados sobre o sujeito. Para Weiss (1999), a anamnese é um ponto importante para que se possa ter um bom diagnóstico, já que através dela é possível a interação das dimensões do passado, presente e futuro do paciente, permitindo analisar a construção ou não de sua própria continuidade e das diferentes gerações, como a visãofamiliar da história de vida do paciente, que traz consigo todos os preconceitos, normas e expectativas, a circulação dos afetos e do conhecimento, além do peso das gerações depositadas sobre o paciente. Para Guimarães, Rodrigues e Ciasca (2003), é necessário que se verifique durante todo o processo diagnóstico a autenticidade da queixa inicial, pois não é incomum que os pais repitam a queixa formulada por quem os encaminhou, geralmente a escola, sem ter qualquer reflexão sobre ela. O profissional deve observar todas as possibilidades que possam interferir no 7 processo de aprendizagem, pois algumas dificuldades apresentadas podem ser decorrentes da carência sociocultural, problemas de relacionamento familiar, distúrbios psiquiátricos ou ainda problemas de ordem orgânica, como visual, auditivo e síndromes neurológicas. Nesses casos, deve-se encaminhar a criança para outro profissional que possa investigar o caso e dar o direcionamento necessário para a intervenção. Segundo Machado (2000 apud MEIRA e ANTUNES, 2003), não se deve considerar o aluno como objeto de avaliação, mas as diferentes relações e práticas que implicam a queixa em relação ao aluno e que levam ao encaminhamento para o atendimento psicológico. Assim, a pergunta passa de "o que o aluno tem que não aprende?" para "como é o campo social no qual esta queixa foi produzida?". Assim, devem-se utilizar os dados que o aluno apresenta, para compreender melhor as várias determinações presentes no processo de produção do fracasso escolar. Para Weiss (2011), ao final do diagnóstico psicopedagógico, o terapeuta já deve ter formado uma visão global do paciente e sua contextualização na família, escola e seu meio social. Assim, se faz um laudo ou relatório com a finalidade de resumir as conclusões a que se chegou na busca de respostas às perguntas iniciais que motivaram o diagnóstico. Como afirma Weiss (1999), em alguns casos será necessário realizar um encaminhamento para dar continuidade no trabalho. Esse trabalho subsequente pode ocorrer por meio da intervenção psicopedagógica. 8 4 INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA Segundo Santos et al. (2012), em casos de dificuldades de aprendizagem, quando são realizadas intervenções psicopedagógicas precoces, é possível melhorar a evolução do aluno e reduzir os impactos causados ao indivíduo e à sociedade. Rubinstein (1999) pontua que, em uma intervenção, o foco está no sujeito, na sua relação com a aprendizagem. O objetivo do psicopedagogo é ajudar aquele que não consegue aprender formal ou informalmente, para que consiga não apenas interessar-se por aprender, mas também possa adquirir ou desenvolver habilidades necessárias para tal. Na intervenção, embora se utilize de propostas de trabalho para mediar a relação terapêutica, as escolhas dessas propostas e as formas como são apresentadas irão depender da particularidade de cada situação, do sujeito que está sendo atendido e da capacitação e dos recursos que o psicopedagogo dispõe. Assim, o caráter dinâmico da escolha das propostas e a forma como são significadas pela dupla terapeuta/cliente é o que realmente irá provocar as mudanças pretendidas. Batalloso (2011) afirma que a intervenção está voltada para a atenção na diversidade e tem como função proporcionar ajudas individuais necessárias para solucionar as dificuldades de aprendizagem, além de desenvolver seu processo de amadurecimento pessoal a partir de suas características singulares. Rubinstein (1999) afirma ainda que as atividades escolhidas e propostas tanto pelo psicopedagogo como pelo cliente são mediadoras para modificar a forma de pensar e utilizar as funções cognitivas e a posição assumida pelo sujeito aprendente. Ao fazer uso de recursos que são escolhidos pelo cliente ou propostos pelo terapeuta, este propicia a oportunidade para experimentar situações que promovem a confrontação com a forma de relacionar-se com a modalidade que se utiliza para se estabelecer essa relação. Esse confronto pode contribuir para a tomada de consciência de um estilo de aprender, já que as diferentes modalidades de atividades permitem entrar em contato com o “como aprendo” e “como me relaciono com o saber”. 9 5 UMA INTRODUÇÃO AO CONCEITO DE ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM As estratégias de aprendizagem são técnicas ou métodos que os alunos usam para adquirir a informação (Dembo, 1994). Como aponta Nisbett, Schucksmith e Dansereau (1987, citados por Pozo, 1996), as estratégias de aprendizagem vêm sendo definidas como sequências de procedimentos ou atividades que se escolhem com o propósito de facilitar a aquisição, o armazenamento e/ ou a utilização da informação. Em nível mais específico, as estratégias de aprendizagem podem ser consideradas como qualquer procedimento adotado para a realização de uma determinada tarefa (Da Silva & Sá, 1997). Alguns teóricos distinguem as estratégias cognitivas das metacognitivas (Garner & Alexander, 1989). Para Dembo (1994), enquanto as estratégias cognitivas se referem a comportamentos e pensamentos que influenciam o processo de aprendizagem de maneira que a informação possa ser armazenada mais eficientemente, as estratégias metacognitivas são procedimentos que o indivíduo usa para planejar, monitorar e regular o seu próprio pensamento. Dansereau e colaboradores (1979) julgam necessário diferenciar estratégias primárias das estratégias de apoio. Para esses pesquisadores, as estratégias primárias são as destinadas a ajudar o aluno a organizar, elaborar e integrar a informação (Dansereau, Collins, MacDonald, Holley, Diekhoff, & Evans, 1979). As estratégias de apoio, por sua vez, são responsáveis pela manutenção de um estado interno satisfatório que favoreça a aprendizagem. Apesar das distinções mencionadas, o termo estratégias de aprendizagem vem sendo amplamente utilizado num sentido que inclui todos os tipos de estratégias (cognitivas, metacognitivas, primárias e de apoio). Weinstein e Mayer (1985) identificaram cinco tipos de estratégias de aprendizagem que foram posteriormente organizadas por Good e Brophy (1986): estratégias de ensaio, elaboração, organização, monitoramento e estratégias afetivas. Como descrito em Boruchovitch (1993), as estratégias de 10 ensaio envolvem repetir ativamente tanto pela fala como pela escrita o material a ser aprendido. As estratégias de elaboração implicam na realização de conexões entre o material novo a ser aprendido e o material antigo e familiar (por exemplo, reescrever, resumir, criar analogias, tomar notas que vão além da simples repetição, criar e responder perguntas sobre o material a ser aprendido). As estratégias de organização referem-se à imposição de estrutura ao material a ser aprendido, seja subdividindo-o em partes, seja identificando relações subordinadas ou superordinadas (por exemplo, topificar um texto, criar uma hierarquia ou rede de conceitos, elaborar diagramas mostrando relações entre conceitos). As estratégias de monitoramento da compreensão implicam que o indivíduo esteja constantemente com a consciência realista do quanto ele está sendo capaz de captar e absorver do conteúdo que está sendo ensinado (por exemplo, tomar alguma providência quando se percebe que não entendeu, auto- questionamento para investigar se houve compreensão, usar os objetivos a serem aprendidos como uma forma de guia de estudo, estabelecer metas e acompanhar o progresso em direção à realização dos mesmos, modificar estratégia utilizadas, se necessário). As estratégias afetivas referem- se à eliminação de sentimentos desagradáveis, que não condizem com a aprendizagem (por exemplo, estabelecimento e manutenção da motivação,manutenção da atenção e concentração, controle da ansiedade, planejamento apropriadodo tempo e do desempenho). Investigando o que os alunos fazem quando aprendem Zimmerman e Martinez-Pons (1986) também encontraram 14 tipos de estratégias: autoavaliação, organização e transformação, estabelecimento de metas e planejamento, busca de informação, registro de informação, automonitoramento, organização do ambiente, busca de ajuda e revisão. Mckeachie, Pintrich, Lin, Smith e Sharma (1990, citados por Dembo, 1994) acreditam que as estratégias de aprendizagem anteriormente mencionadas podem ser organizadas em três grandes grupos: 11 1) estratégias cognitivas (estratégias de ensaio, elaboração e organização), 2) estratégias metacognitivas (estratégias de planejamento, monitoramento e regulação) e 3) estratégias de administração de recursos (administração do tempo, organização do ambiente de estudo, administração do esforço e busca de apoio a terceiros). Da Silva e De Sá (1997) apontam que a instrução em estratégias de aprendizagem abre novas perspectivas para uma potencialização da aprendizagem permitindo aos estudantes ultrapassar dificuldades pessoais e ambientais de forma a conseguir obter um maior sucesso escolar. 12 6 MODELO DE PROCESSAMENTO DA INFORMAÇÃO E ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM Os seres humanos assimilam e transformam as informações que recebem do meio ambiente. O processamento da informação no ser humano é um processo dinâmico e complexo (Pfromm Netto, 1987). Dembo (1994) menciona que os psicólogos cognitivos desenvolveram modelos de processamento da informação não só para identificar como os seres humanos obtêm, transformam, armazenam e aplicam essa informação, mas também para explicar o papel das estratégias de aprendizagem na aquisição, na retenção e na utilização do conhecimento. Cabe mencionar que se escolheu descrever o processamento da informação humana utilizando-se o modelo de Mayer (1981, citado por Dembo, 1988) por se tratar de um modelo geral que explica o funcionamento da memória de forma clara (Dembo, 1988), além de permitir uma fácil visualização não só do fluxo da informação, mas também do papel das estratégias de aprendizagem na aquisição, no armazenamento e no uso da informação. Como pode ser observado na Figura 1, o fluxo da informação começa com um estímulo do ambiente como, por exemplo, a percepção visual de palavras num texto. Assim sendo, a informação entra no Sistema de Memória Sensorial (Registro Sensorial). A informação aqui é, então, guardada brevemente até que ela possa entrar no Sistema de Memória de Curta Duração (também chamada de Memória de Funcionamento). A informação que entra no Sistema de Memória de Curta Duração é perdida. Ao sair do Registro Sensorial e entrar no Sistema de Memória de Curta Duração, a informação é transformada através de um processo de codificação. A maneira pela qual a informação é codificada e integrada na memória, bem como a extensão e profundidade da integração afeta a facilidade com que a informação pode ser recuperada, posteriormente (Dembo, 1988). 13 Figura 1 - Um Modelo de Processamento da Informação Humana Fonte: Traduzido e adaptado de Mayer, 1981, citado por Dembo, 1988. O Sistema de Memória de Curta Duração do adulto é limitado, tanto ao nível da sua capacidade, quanto ao nível da sua duração. Só pode guardar mais ou menos de cinco a nove unidades. Sem um esforço ativo da pessoa, a Memória de Curta Duração só guarda a informação por um período muito curto de 30 segundos. Segundo Gagné, Yekovich e Yekovich (1993), de modo geral, as pessoas preferem realizar uma tarefa cognitiva de cada vez. Como o fluxo da informação no sistema humano é organizado em torno de se alcançar algum objetivo, existe um número de Processos de Controle que opera no sistema de memória de curto prazo, dotando-o de flexibilidade para lidar com a informação. Esses Processos Executivos de Controle focalizam a atenção, manipulam a informação, organizam e assistem a recuperação da informação. Alguns desses Processos de Controle são automáticos, outros são sujeitos ao controle voluntário (Dembo,1988). De acordo com Gagné e colaboradores (1993), uma maneira pela qual as pessoas conseguem fazer mais coisas ao mesmo tempo é através da automatização. Automatizar significa praticar uma tarefa até que ela possa ser realizada com o mínimo de consciência. Quando se compara leitores iniciantes e leitores experientes, percebe-se que os últimos têm a capacidade 14 de decodifição de palavras automatizadas e, por isso, possuem mais espaço na memória para entender o que estão fazendo. Entretanto, quando se usa esses processos de controle conscientemente (com controle voluntário) trata- se dos Processos Metacognitivos, que são processos que os indivíduos utilizam para controlar o seu próprio pensamento (Dembo, 1988; 1994). Os Processos Executivos de Controle são parte do Sistema de Processamento da Informação. Esses processos controlam os processos cognitivos envolvidos no ato de aprender monitorando e dirigindo o progresso das atividades cognitivas. O funcionamento dos Processos Executivos de Controle está baseado na Metacognição, que tem dois aspectos separados, porém relacionados. O primeiro aspecto da Metacognição é relativo ao conhecimento dos próprios processos cognitivos e diz respeito ao: 1) conhecimento sobre si mesmo (pontos fortes, pontos fracos, preferências pessoais); 2) conhecimento sobre a tarefa (níveis de dificuldade, demandas); e, 3) conhecimento sobre o uso de estratégias (quais, quando, por quê e para quê). O segundo aspecto da Metacognição refere-se à regulação e ao controle do comportamento, considerando-se a existência de três tipos de controle: Planejamento, Monitoramento e Regulação. Para Corno e Mandinach (1983), as estratégias de planejamento envolvem a organização de uma sequência de atividades que são apropriadas para a aprendizagem de uma dada tarefa (exemplo: estabelecer metas a serem realizadas; antecipar quanto tempo será necessário para completar uma dada tarefa). As estratégias de monitoramento dizem respeito à capacidade do sujeito de supervisionar o seu próprio processo de aprendizagem (exemplo: manter a atenção quando está lendo um texto; auto-questionar-se quanto ao conteúdo do material para avaliar a própria compreensão). Essas estratégias alertam o aluno quanto a possíveis problemas na atenção e na compreensão de um determinado conteúdo de modo que entraves possam ser resolvidos. As estratégias de regulação ajudam o aluno a modificar seu comportamento de estudo e permitem que esse melhore seus déficits de compreensão (exemplo: voltar e reler uma parte do 15 texto que o aluno percebe que não entendeu; responder primeiro as questões mais fáceis de uma prova e depois retornar para as difíceis; Dembo, 1988; 1994). A Memória de Curta Duração tem condições de guardar mais informação quando a informação é organizada em unidades maiores; a organização reduz a carga da memória. As estratégias de ensaio (repetir ou ensaiar a informação) podem ser ensinadas e usadas para organizar e reter a informação por períodos mais longos. A Memória de Longa Duração, por sua vez, tem como função armazenar toda a informação que nós possuímos e não estamos usando (Gagné, Yekovich & Yekovich, 1993; Pfromm Neto, 1987). A informação entra na Memória de Longo Prazo através da Memória de Curto Prazo ou em Funcionamento. As informações armazenadas na Memória de Longa Duração são permanentes. Para Gagné e colaboradores (1993), a sensação de não lembrar de alguma coisa está mais associada à falta de uma boa pista de recuperação da informação do que à perda dainformação propriamente dita. Enquanto a informação precisa ser ensaiada para se manter na Memória de Curta Duração, ela precisa ser elaborada para ir para a Memória de Longa Duração, isto é, precisa ser classificada, organizada, conectada e armazenada com a informação que já existe na Memória de Longa Duração. Como aponta Dembo (1994), o propósito das estratégias de aprendizagem é de ajudar o aluno a controlar o processamento da informação de modo que ele possa melhor armazenar e recuperar a informação na Memória de Longa Duração. A professora Nadia Bossa, uma escritora contemporânea enriquece as pesquisas anteriores com suas contribuições através de livros como: Fracasso Escolar: um olhar psicopedagógico; Dificuldades de Aprendizagem: O que são? Como tratar?; A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática; Avaliação Psicopedagógica da Criança de 0 a 6 anos; Avaliação Psicopedagógica da Criança de 7 a 11 anos; Avaliação Psicopedagógica do Adolescente; entre outros. 16 Segundo Bossa (2000): “O aprendizado deve levar ao desenvolvimento de capacidades específicas pela modificação da eficiência sináptica e das conexões anatômicas pré-existentes.” Para a escritora, “memória é a persistência do aprendizado ao longo do tempo”. Sobre a memória de curta duração, afirma que esta “mantém na mente, de forma acessível, uma pequena quantidade de informações por pouco tempo, antes de ser armazenada ou esquecida e é utilizada para tarefas corriqueiras.” Para Bossa, a Memória de Trabalho “dura apenas o suficiente para a execução de uma tarefa (questão de segundos); Associa as informações novas com as antigas e resolve problemas; Foca no estímulo novo ou que considere importante.” Classifica a Memória de Longa Duração em “memórias implícitas (não declarativa) e memórias explícitas (declarativas).” Explora ainda conceitos de Memória Sensorial, Memória Visual e Memória Auditiva. 17 7 REFLETINDO SOBRE ALGUNS PROBLEMAS EDUCACIONAIS BRASILEIROS O termo fracasso escolar, utilizado para fazer referência às dificuldades de aprendizagem, problemas de comportamento, baixo desempenho escolar, abandono escolar precoce ou repetência é amplamente difundido no contexto nacional e internacional, sendo também usado pelo Conselho Nacional de Educação (Parecer CNE/CEB n. 11/2010,2010). Embora fique evidente na literatura a ambivalência e a falta de especificidade do conceito, ele ainda é utilizado como um termo atual e considerado mais sintético que outras expressões utilizadas com a mesma conotação, o que talvez dificulte sua substituição (Marchesi & Pérez, 2004). No entanto, o uso desse termo tem sido questionado, uma vez que pode trazer conotações pejorativas aos alunos, causando prejuízos sobre seu desempenho acadêmico e social ao longo da vida. Estudos recentes ainda revelam o predomínio da tendência à culpabilização dos alunos e/ou suas famílias pelo baixo desempenho acadêmico ou reprovação escolar. Tal dado reforça um perfil de fracasso, o qual pode abalar a autoestima e a autoconfiança do aluno rotulado, com consequente impacto na diminuição da motivação para estudar, além de outras intercorrências clínicas graves, tais como o uso de tabaco, abuso de álcool e de outras drogas, bem como comportamentos disfuncionais, levando ao risco de gravidez na adolescência, marginalização e criminalidade. Já em 1998, Delors chamava a atenção à possibilidade de o termo fracasso escolar conduzir à exclusão social, uma vez que abala moralmente o indivíduo a quem o termo é atribuído. De forma semelhante, Ferraro (2004) destacou a associação desse termo com indicativos de exclusão escolar e social, frisando que a escola tem se orientado equivocadamente através de uma ótica da progressão versus exclusão, sem considerar as individualidades. Outros autores também sinalizam que a utilização do termo está a serviço da manutenção da desigualdade social, na qual a escola se posiciona como transmissora de conhecimentos, assegurando a submissão às ideologias 18 dominantes, retirando de si a responsabilidade do fracasso e repassando ao sujeito a condição de fracassado e excluído. No entanto, qualquer pessoa que se dispõe a aprender corre o risco de fracassar em algum momento ou por algum tempo, o que não significa a impossibilidade de mudança (Ireland & cols., 2007). Nesse sentido, Esteban (2009) propõe a valorização das múltiplas aprendizagens e das diferentes experiências escolares, bem como a importância de a escola e os professores reconhecerem a realidade dos alunos, favorecendo o direito às diferenças e singularidades e evitando rótulos e marginalizações. Assim, faz-se necessário considerar não somente os aspectos cognitivos, mas também os afetivos e sociais que estão envolvidos no processo de construção do saber, além de outras variáveis intra e extra-escolares, ampliando o olhar não somente sobre o fenômeno chamado fracasso escolar, que é multifacetado, mas também sobre esse termo, uma vez que ele não é a expressão da incapacidade de aprender, mas da insuficiência de novos modelos necessários no processo de ensino-aprendizagem (Patto, 2007; Esteban, 2009), bem como de políticas públicas mais atentas às demandas educacionais da população (UNESCO, 2014). Segundo Fernández (1990) o fracasso escolar responde a duas ordens de causas que se encontram imbricadas na história do sujeito próprios da estrutura familiar e individual daquele que fracassa em aprender e próprios do sistema escolar, sendo estes últimos determinantes. E que é preciso não confundir os fracassos escolares com problemas de aprendizagem para poder intervir antes que sejam produzidos, pois, muitas vezes, um pode derivar do outro. Para prevenir o fracasso escolar, é necessário trabalhar em e com a escola, realizar um trabalho para que o professor possa conectar-se com sua própria autoria e, portanto, seu aluno possa aprender com prazer, denunciar a violência encoberta e aberta instalada no sistema educativo. Mas uma vez gerado o fracasso e conforme o tempo de sua permanência, o psicopedagogo também deverá intervir para que o fracasso do aprendente, encontrando um 19 terreno fértil na criança e em sua família, não se constitua em um sintoma neurótico. (Fernandez,1990 p. 64). É importante e necessário que se permita estar em conexão com variadas relações no intuito de entender as possibilidades de abordagem do trabalho psicopedagógico. A contribuição acima vem reforçar, também, a ideia da prevenção na psicopedagogia e mostra como esta deve estar interligada com os olhares da psicologia, pedagogia, fonoaudiologia, sociologia, antropologia, enfim possibilitando uma conexão contínua com o objetivo de entender o paciente na sua complexidade e ao mesmo tempo na sua singularidade. O cenário do fracasso escolar no Brasil não está margeado em apenas um fator específico, isolado apenas à responsabilidade de alguém ou de algum fator. Dessa maneira, podemos inferir que o aluno está inserido num contexto social, escolar e familiar e não há como culpar a escola ou uma área de atuação dela, visto que a escola é um conglomerado de estímulos culturais, sociais, padrões, regras, subordinações. Além disso, é um contexto com uma vasta gama de pessoas envolvidas no processo escolar, portanto não há possibilidade de se dizer que a existência de um fator, de alguém, ou algum estímulo ou falta de, seja o responsável pelo fracasso escolar, já que cada vertente possui sua parcela de responsabilidade por tal. Sendo assim, a família, os pais pode ser uma parcela, aparentemente, maior no que se refere a cuidados com seus filhos para que o fracasso escolar não chegue até eles, sendo necessário que afeto, atenção e estimulação da aprendizagem sejam contínuos. Digno de nota é a grande mudança quehouve no Brasil no que diz respeito à atenção dada à primeira etapa da Educação Básica, a Educação Infantil. Percebemos avanços significativos nesse campo da educação. Neste sentido, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), comenta: Como primeira etapa da Educação Básica, a Educação Infantil é o início e o fundamento do processo educacional. A entrada na creche ou na pré-escola significa, na maioria das vezes, a primeira 20 separação das crianças dos seus vínculos afetivos familiares para se incorporarem a uma situação de socialização estruturada. Nas últimas décadas, vem se consolidando, na Educação Infantil, a concepção que vincula educar e cuidar, entendendo o cuidado como algo indissociável do processo educativo. Nesse contexto, as creches e pré-escolas, ao acolher as vivências e os conhecimentos construídos pelas crianças no ambiente da família e no contexto de sua comunidade, e articulá-los em suas propostas pedagógicas, têm o objetivo de ampliar o universo de experiências, conhecimentos e habilidades dessas crianças, diversificando e consolidando novas aprendizagens, atuando de maneira complementar à educação familiar – especialmente quando se trata da educação dos bebês e das crianças bem pequenas, que envolve aprendizagens muito próximas aos dois contextos (familiar e escolar), como a socialização, a autonomia e a comunicação. Nessa direção, e para potencializar as aprendizagens e o desenvolvimento das crianças, a prática do diálogo e o compartilhamento de responsabilidades entre a instituição de Educação Infantil e a família são essenciais. Além disso, a instituição precisa conhecer e trabalhar com as culturas plurais, dialogando com a riqueza/diversidade cultural das famílias e da comunidade.” (BNCC, 2018, p. 36,37.) Certamente, esse olhar para a primeira etapa da Educação Básica deve ser diferenciado, pois afetará diretamente todas as etapas posteriores. O olhar atento da psicopedagogia escolar bem com suas intervenções e a colaboração de todos tem grande potencial no combate ao fracasso escolar. É necessário que haja comunicação satisfatória na relação família- escola que cercam o aluno a fim de que seja possível a exposição do que aprendeu, do que pode ser melhorado, do que está dando certo, gerando um bom convívio social dentro da escola, dentro de casa e na sociedade. Também, a escola, os professores, o governo, os pais, têm sua parcela de negligência no que se refere ao fracasso escolar, podendo ser este trabalho uma reflexão, para buscar soluções para o desenvolvimento do sucesso escolar de forma constante, preparando melhor os pais e alunos. 21 8 CONTRIBUIÇÃO DA PSICOLOGIA COGNITIVA NA MELHORIA DO RENDIMENTO ESCOLAR DE ALUNOS BRASILEIROS A Psicologia Cognitiva baseada na Teoria do Processamento da Informação preocupa-se com a aquisição e organização do conhecimento, enfatizando a promoção de mudanças nos processos internos dos estudantes. Essa perspectiva teórica afirma a existência de um controle executivo, que é um processador central capaz de planejar a atividade intelectual e controlar sua execução. Surge assim uma nova concepção de inteligência, sendo esta considerada como não mais estável e fixa, mas composta de processos passíveis de serem desenvolvidos e modificados pela intervenção educacional (Almeida, 1992). Como apontam Mettrau e Mathias (1998), níveis de menor realização deixam então de ser entendidos como deficiências de capacidade ou de conhecimento e passam a ser considerados como decorrentes do uso inapropriado dos mecanismos do processamento da informação. Clark (1990) esclarece que é possível se prescrever métodos instrucionais para apoiar cada um desses processos que compõem a inteligência e enfatiza que a instrução precisa ir além de prover única e exclusivamente a informação e fornecer o apoio necessário para o processamento cognitivo, sendo a quantidade de apoio aos processos cognitivos a ser inserida na instrução uma variável chave para a efetividade da mesma. Para alunos com facilidade de aprender, inserir muito apoio aos processos cognitivos na instrução resulta na redução da eficiência da capacidade de aprendizagem dos mesmos. Já alunos com muita dificuldade de aprendizagem necessitam que a instrução contenha o máximo de apoio possível aos processos cognitivos. A crença de que todo aluno, em princípio, tem o potencial de se tornar um aprendiz bem sucedido e autorregulado (Zimmerman, Bonner & Kovach, 1996), a consciência de que "ensinar a aprender" e "aprender a aprender", embora sejam investimentos a longo prazo, são possíveis e estão totalmente dentro dos limites educacionais (Pressley, Borkowski & Schneider, 1989), e a importância concedida ao ensino de estratégias de aprendizagem 22 para a melhoria do desempenho escolar de alunos (Hattie, Biggs & Purdue, 1996) constituem-se nas principais contribuições da Psicologia Cognitiva baseada na Teoria do Processamento da Informação para a educação. Estratégias de aprendizagem podem ser ensinadas para alunos de baixo rendimento escolar. É possível ensinar a todos os alunos a expandir notas de aulas, a sublinhar pontos importantes de um texto, a monitorar a compreensão na hora da leitura, usar técnicas de memorização, fazer resumos, entre outras estratégias. Resultados de pesquisas revelam que o treinamento em estratégias de aprendizagem tem sido bem sucedido de modo geral, pois é capaz de produzir tanto uma melhora imediata no uso das estratégias envolvidas, quanto no rendimento escolar geral dos alunos (Garner, Hare, Alexander, Haynes & Winograd, 1984; Pressley & Levin, 1983; Weinstein & Mayer, 1985). Ressaltam os teóricos nessa área que conhecer as estratégias não é suficiente para melhorar o rendimento escolar dos estudantes. Faz-se necessário que os alunos compreendam como e quando usá-las. Além disso, se por um lado, o ensino de estratégias de aprendizagem é capaz de melhorar significativamente o rendimento escolar dos alunos, por outro lado, não há dúvidas de que o mero treinamento em estratégias é infrutífero para se desenvolver a capacidade do aluno para aprender a aprender, se ao ensino de estratégias não forem acopladas de estratégias de apoio afetivo destinadas a modificar variáveis psicológicas, tais como: ansiedade, autoeficácia, autoconceito, atribuição de causalidade, muitas vezes incompatíveis ao uso apropriado das estratégias (Hattie, Biggs & Purdue,1996). 23 9 ALGUMAS PESQUISAS RELATIVAS ÀS ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS BRASILEIRAS É sabido que é com a idade que o senso de controle da criança tende a passar de fontes externas para as fontes internas. Embora evidências indiquem que mesmo crianças pequenas são capazes de usar estratégias de aprendizagem, monitorar seus comportamentos e caminhar em direção a uma certa autorregulação (Brown, 1997; Kopp, 1982; Martin & Marchesi, 1996;), as pesquisas relativas ao uso de estratégias de aprendizagem e à auto- regulação têm sido baseadas predominantemente em amostras de alunos universitários e do segundo grau de países desenvolvidos (Hattie, Biggs & Purdue, 1996; Weinstein & Mayer, 1985; Zimmerman & Martinez-Pons, 1986; Zimmerman, Bonner & Kovach, 1996). A literatura brasileira na área de estratégias de aprendizagem ainda é escassa. Entre alguns estudos realizados observa-se uma preocupação em verificar os efeitos do treinamento em estratégias de aprendizagem no desempenho escolar dos alunos (Jalles, 1997; Molina, 1983; 1984). Alunos pré- escolares que receberam treinamento em estratégias de aprendizagem para a realização de uma tarefa que envolvia raciocínio espacial apresentaram um percentual de erros significativamentemenor do que o grupo de controle (Jalles, 1997). Pesquisas voltadas para treinamento de habilidades de estudos específicas como a leitura, realizadas com alunos do quinto ao oitavo ano do Ensino Fundamental, atestam uma melhora considerável no desempenho do aluno como decorrência do treinamento (Molina, 1983; 1984). Nessa mesma linha, Lopes (1997) realizou um estudo voltado para o desenvolvimento de estratégias metacognitivas associadas à leitura de alunos do quinto ano do ensino fundamental que apresentavam problemas na leitura. Consistente com os estudos de Molina (1983; 1984), os resultados de Lopes (1997) apontaram para a melhoria da capacidade da leitura dos sujeitos como decorrência da intervenção realizada. Lopes (1997) e Molina (1983; 1984) chamam atenção para a importância de se de desenvolver nos alunos habilidades de estudo mais adequadas em condições normais de sala de aula 24 e salientam que o trabalho corretivo deve dividir o espaço com o trabalho formativo no que tange a promoção da autorreflexão e dos processos metacognitivos. Numa outra perspectiva, que visa compreender o que os alunos fazem para aprender e para estudar, Boruchovitch (1995; 1998a; 1998b; 1999) investigou o uso espontâneo de estratégias de aprendizagem por parte de alunos do primeiro, terceiro, quinto e sétimo anos do ensino fundamental de uma escola pública de Campinas. Resultados parciais revelam que, embora pouco diversificadas e às vezes inapropriadas para a situação de aprendizagem proposta, as estratégias mencionadas pelos sujeitos mostraram- se, de modo geral, semelhantes às encontradas na literatura (Purdie & Hattie, 1996; Weinstein & Mayer, 1985; Zimmerman & Martinez-Pons, 1986). Diferentemente dos estudos anteriormente mencionados, Darsie (1996) vem utilizando o exercício metacognitivo (uso de diários para registro da reflexão sobre a aprendizagem) como uma forma de se avaliar a aprendizagem de alunos de um curso de formação de professores. Esta pesquisa conclui pela necessidade de se converter a avaliação num instrumento de aprendizagem que possibilite a construção do conhecimento através do exercício da metacognição que permita constantemente a tomada de consciência da própria aprendizagem. 25 10 INFLUÊNCIAS NA PSICOPEDAGOGIA Assim que é gerado o indivíduo inicia-se uma longa trajetória de variadas aprendizagens. O sujeito durante a sua vida acaba se constituindo, aprendendo e reaprendendo. Pela aprendizagem o ser humano passa a se desenvolver, de maneira a constituir sua própria identidade a partir de suas vivências, segundo Martini, (1994, p.1). [...] “O processo de aprendizagem pode ser positivo, prazeroso e eficaz, mas, por outro lado, o inverso pode ocorrer, e o aprender torna-se uma dificuldade e um desprazer’’. Por ser uma ação complexa, o processo de ensino e aprendizagem, faz- se necessário o aprofundamento das questões que estão intrínsecas nesse processo. O papel do psicopedagogo fundamenta-se, sobretudo, nas dificuldades que podem acontecer nesse processo, de maneira que o mesmo, provavelmente, possa desvelar os obstáculos que estão impedindo o sujeito de aprender para que consiga, assim, oportunizar possíveis meios para intervir adequadamente junto ao problema. Por isso, torna-se importante para o psicopedagogo compreender como acontece a aprendizagem. E alguns teóricos, sobretudo, da área da psicologia podem auxiliar no entendimento de algumas dessas questões. Para o estudo foram selecionadas algumas das teorias que subsidiam a psicologia, dentre as quais destacamos o behaviorismo, o humanismo e o materialismo histórico. O behaviorismo pode se exemplificar no ensino tradicional, nele não é estimulado a criticidade do aluno e o professor é reconhecido como um mero instrutor, dentro de uma relação verticalizada, que prevalece, o que para muitos, pode ser considerado um estilo arcaico de ensino, como retrata o autor a seguir: Muitos críticos designam esta tese por psicologia da mente vazia, tanto por se recusar a estudar a vida mental, quanto por defender que esta surge, não de potencialidades mentais inatas no organismo, mas sim da associação entre reflexos automáticos e determinados estímulos do meio. Segundo Watson, qualquer comportamento humano ou animal (desde uma simples emoção até à 26 resolução de um complicado problema matemático) pode ser explicado pelo encadeamento de associações simples entre estímulos e respostas. De acordo com esta posição, Watson opôs- se vigorosamente aos defensores de teorias inatistas (segundo as quais a aprendizagem depende do potencial de inteligência com que nascemos) e maturacionistas (segundo as quais a aprendizagem depende do processo de maturação fisiológica) (GONÇALVES, 2007, p. 27). Portanto, Watson desconsiderava fatores, que hoje sabemos que são importantes, ele colocou o ser humano para ser analisado apenas em seus instintos. Watson teorizou que com o condicionamento, por estímulos, qualquer problema poderia ser resolvido pelo sujeito. Segundo Gonçalves (2007, p. 27): “Watson garantia que se conseguíssemos monitorar e controlar os estímulos em uma criança recém-nascida constantemente ao longo de seu crescimento poderíamos fazer dela tudo o que quiséssemos: advogado, médico, pedinte. [...]” . Para Watson, o meio era o fator que influenciaria o comportamento, se houvesse o controle do meio se obteria o comportamento desejado. No humanismo a teoria se baseava em deixar a criatividade do aluno livre, para com isso intensificar a aprendizagem. Carl Rogers um dos principais teóricos do humanismo e declara que: [...] a pessoa educada é aquela que aprendeu a aprender, que aprendeu a adaptar-se e mudar, que aprendeu que nenhum conhecimento é seguro e que só o processo de busca do conhecimento provê base para segurança. A abordagem rogeriana implica que o ensino seja centrado no aluno, que a atmosfera da sala de aula tenha o estudante como centro; implica confiar na potencialidade do aluno para aprender, em deixá-lo livre para aprender, escolher seus caminhos, seus problemas, suas aprendizagens. O importante não é aprender certos conteúdos, mas sim a autorrealização e o aprender a aprender. (MOREIRA, 2009, p.56). Por isso, nessa linha de pensamento, o professor deve esperar que o aluno assuma o controle de ações e que gerem seu conhecimento, pois a aprendizagem depende do aluno e de suas atitudes, o professor, nessa teoria, será o facilitador (MOREIRA, 2009, p.56). Para Carl Rogers, o indivíduo é responsável pela capacidade de mudança, conforme afirma Moreira (2009, p.56) “Ele acredita que as pessoas têm dentro de si a capacidade de 27 descobrir o que as está tornando infelizes e de provocar mudanças em suas vidas, mas esta capacidade pode estar latente. Com essa abordagem um fator importante foi esquecido, o social”. O materialismo-histórico surgiu nos anos 80, foi uma oposição ao behaviorismo e ao humanismo. No entanto, segundo Neves (1991) as três fundamentações teóricas eram inflexíveis em seus posicionamentos e ignoravam aspectos relevantes de ordem biológica, psicológica e social. O materialismo- histórico não legitima o presente sem considerar o passado em seus acontecimentos, políticos, econômicos e sociais segundo, conforme revela os autores ao apontarem que: [...] a educação nunca pode ser vista desatrelada do processo histórico. A História é a palavra chave de toda a nossa fundamentação, pois é por meio da História que se pode analisar o presente, ou seja, é somente conhecendo o passado que se compreende o momento vivido em que se estabelecem relações. Ressalta- se sempre em formar e não informar, formar pessoas capazes de refletirem, de pensarem, de fazeremindagações (BARROS; FRANCO 2008, p.4). O materialismo-histórico tem suas origens em Karl Marx, é uma crítica ao consumismo, ao capitalismo em detrimento do socialismo. No associacionismo são destacados os conteúdos que serão aplicados aos alunos, o ensino, de acordo com essa linha de pensamento, deve ser realizado em uma sequência a ser seguida, para que assim o aluno possa chegar a uma resposta certa, como nos apresenta o autor a seguir: Associacionismo é o termo usado para caracterizar, dentro da Psicologia, qualquer teoria que defenda, como base de explicação teórica dos fenômenos psíquicos, a determinação dos elementos básicos que o determinam, elementos esses que seriam irredutíveis, seguindo, assim, a influência da Física da época que via o átomo como elemento irredutível, indivisível (NEVES, 1997, p 1). Porém, Sisto (1996) cita essa metodologia como um modo de ensino técnico e que não prioriza a cognição. O condicionamento continua como parte central do ensino e persiste o externo sobre o interno. Como alternativa 28 a essa teoria, o autor apresentou uma opção teórica, a do construtivismo piagetiano. Para Sisto (1996), a teoria do construtivismo não beneficia somente os conteúdos, a prioridade está na construção do conhecimento, com a valorização das interações feitas no cotidiano. Colocar o construtivismo como base teórica da psicopedagogia, não seria somente transferir o compromisso de aprender ao aluno e seu intelecto, seria um entendimento que o conhecimento não pode ser apenas recebido, somente com instruções ou reconstruções do ensino. A conjectura dessa aprendizagem se distinguiu por entender que o conhecimento deve exigir procedimentos que não privilegie apenas o cognitivo ou afetivo do aluno, segundo Moreira: Outra consequência clara é a do conflito cognitivo. Segundo a teoria piagetiana, o sujeito, interagindo com o mundo, constrói esquemas de assimilação com os quais, então, assimila situações conhecidas. Quando a situação é nova é preciso acomodar, ou seja, reformular um esquema de assimilação, construir um novo esquema, ou abandonar a tarefa. O ensino, em consequência, deve provocar conflitos cognitivos, quer dizer, propor situações para as quais os esquemas dos alunos não funcionem, de modo a provocar a necessidade de construção de novos esquemas. Em termos técnicos, dir-se- ia que o ensino deve conduzir à equilibração majorante e, portanto, a aprendizagens (MOREIRA, 2009, p.17). Piaget postula que a criança precisa assimilar e depois pode acomodar ou não, as informações recebidas, modificando seus esquemas com essas construções cognitivas. Quando há interação com o mundo o indivíduo se encaminha para uma integração organizada, pois a cada novo conhecimento ele ganha mais meios de adaptação ao meio, elevando seu grau de organização. A cada conhecimento que leve a acomodação, o sujeito também alcançará a adaptação e a organização (MOREIRA, 2009, p.13). Para Piaget as relações sociais são determinantes para o desenvolvimento, pois o sujeito influencia e acaba por ser influenciado pelo ambiente social. As crianças aprendem a se comportar por meio da interação com os adultos, a cada contato, novos comportamentos vão surgindo. O nível 29 de socialização é algo que impacta de maneira contundente a sua identidade. Contudo, é importante ressaltar que os estágios de maturação vão influenciar o nível de socialização. Piaget definiu graus de socialização que variam do zero para o recém-nascido, ao maior que seria quando a criança tem autonomia. Segundo Piaget a socialização conta com dois requisitos básicos, a cooperação e a coação. A relação de cooperação é dinâmica por gerar possibilidades; como afirma Piaget, os caminhos, para aquele que se compromete em ser cooperativo com o outro, são muitos. Quanto à criança, as primeiras relações que estabelece são as de coação – pai, mãe/filhos (as); adulto, professor/criança. Isso, pelo fato de que o infante é aquele que deverá ser educado e orientado pelo adulto. O próprio Piaget afirma ser esta fase obrigatória e necessária para se estabelecer o processo de socialização da criança. (GOMEZ et al,2010,p.1) Piaget cita a coação e a cooperação como condutas de relações sociais. A coação indicaria a relação de prestígio de uma pessoa para com a outra, como a de um aluno com seu mestre, ou pela disseminação de ideais, conceitos e princípios tradicionais do meio social. Quando o sujeito é coagido ele se limita a acreditar, sem questionamento, divulgando essas ideais acaba conservando as ideias, crenças, pensamentos e dogmas. Com esse tipo de comportamento o sujeito produz uma relação desequilibrada e não consegue se desenvolver plenamente, já que não tem criticidade e acredita em verdades prontas e acabadas. Esse tipo de relação é considerado de nível baixo, pois não há conversação, perde-se na socialização tanto o que é coagido quanto o que coagi. (GOMEZ et al, 2010, p.1). A cooperação seria uma maneira crítica de socialização, mas para Piaget a criança necessita de normas e por isso a relação de coação se faz necessária. As teorias influenciaram as concepções psicopedagógicas, porém deve- se ser considerado também as áreas de conhecimento que foram e são responsáveis pela composição da psicopedagogia. Pois, como já informado, a psicopedagogia surge da união de várias áreas do conhecimento como Filosofia, Neurologia, Sociologia, Linguística e a Psicanálise. Contudo, segundo 30 Sisto (1996) a psicopedagogia no Brasil tem sido sustentada, sobretudo, por três pilares, a psicanálise, o associacionismo e o construtivismo. A psicanálise tem um viés baseado na emoção, para essa área do conhecimento só vai haver aprendizagem se houver afetividade, para a criação do vínculo, segundo Klein: Ao falarmos da importância do emocional e intelectual nas aprendizagens, percebemos que ambos não ocorrem completamente sozinhos. Há sempre um objeto, o objeto a ser conhecido ou aquele que impulsiona para o conhecimento. Pode ser a mãe, o pai ou o professor. É ele quem dá condições para que as aprendizagens aconteçam. Nesse momento, o vínculo recebe maior destaque, pois ele ocorre como uma ponte, que estabelece conexões, para que tanto o emocional, quanto o intelectual consigam se desenvolver de forma adequada. (KLEIN, 2010, p.4). Para que aconteça a aprendizagem é importante que se estabeleçam vínculos afetivos, pois eles possibilitam o desenvolvimento. Para Sisto (1996) esse enaltecimento da afetividade, deixando outros fatores intelectuais de lado, pode acabar marcando crianças que não possuem dificuldades acentuadas de aprendizagem como crianças com desordens mentais, porque elas podem ter apenas problemas de aprendizagem em uma área do conhecimento, que são de fácil resolução. A ação psicopedagógica é utilizada em três campos, no clínico, no institucional e na investigação científica (MARTIN, 1994, p.3). A presente pesquisa vai apresentar a modalidade clínica e institucional. 31 11 O CONCEITO DA PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA A psicopedagogia clínica é realizada terapeuticamente. O psicopedagogo que atende em clínica se concentra em descobrir o porquê o sujeito não aprende, para auxiliá-lo (BOSSA, 2000). Com o desenvolvimento do trabalho o psicopedagogo colabora na construção da autoestima, que se desfez na trajetória estudantil. Dessa forma o sujeito é conduzido a descobrir suas competências e aptidões, construindo seu saber. O atendimento clínico geralmente é praticado em centros de saúde e clínicas e normalmente os atendimentos são feitos individualmente (VERCELLI, 2012, p.73). A avaliação psicopedagógica é um processo que o psicopedagogo deve cumprir e têm que envolver diferentes atividades, é nesse momento que o psicopedagogo decidequais serão as estratégias de intervenção. Na avaliação psicopedagógica é feita uma análise sobre a aprendizagem do sujeito tentando compreender como e quando começou o problema. Para fazer uma avaliação é preciso que sejam realizados alguns procedimentos como uma entrevista inicial, com o motivo da queixa, análise do material escolar, diversos modelos de atividades em diferentes disciplinas, testes que verificam o nível de desenvolvimento e sondagens (MORAES, 2010, p.4). O psicopedagogo precisa estar atualizado e ciente de todos os problemas que possam servir de obstáculos. Precisa ser um estudioso das práticas de ensino e aprendizagem e ter um olhar crítico e reflexivo acerca delas. Para que o trabalho em uma clínica de Psicopedagogia seja realizado com sucesso, o envolvimento dos profissionais que ali atuam é de extrema importância. O psicopedagogo precisa estar atento às inúmeras possibilidades de intervenção, levando em conta as dificuldades apresentadas pelos clientes que buscam sua ajuda, bem como a própria disponibilidade frente a novos aprendizados. Ter ciência das possibilidades do aluno é o primeiro passo para que o psicopedagogo possa refletir acerca da intervenção a ser feita. A escolha do material de trabalho vai variar de acordo com as 32 necessidades do sujeito, e a adaptação é feita constantemente (GAMBA e TRENTO, 2009, p.3). O psicopedagogo, através do diagnóstico clínico, irá identificar as causas dos problemas de aprendizagem. Para isto, ele usará instrumentos tais como, provas operatórias (Piaget), provas projetivas (desenhos), estórias, material pedagógico etc. Na clínica, o psicopedagogo fará uma entrevista inicial com os pais ou responsáveis para conversar sobre horários, quantidades de sessões, honorários, a importância da frequência e da presença, e o que mais ocorrer. No primeiro momento não é recomendável falar sobre o histórico do sujeito, já que isto poderá atrapalhar a investigação. O histórico do sujeito, desde seu nascimento, será relatado ao final das sessões numa entrevista chamada Anamnese, com os pais ou responsáveis. O tratamento poderá ser feito com o próprio psicopedagogo que fez o diagnóstico, ou poderá ser feito com outro psicopedagogo. Neste caso, este último solicitará o informe psicopedagógico para análise. Durante o tratamento são realizadas diversas atividades, com o objetivo de identificar a melhor forma de se aprender e o que poderá estar causando este bloqueio. Para isto, o psicopedagogo utilizará recursos como jogos, desenhos, brinquedos, brincadeiras, histórias, mídias educativas e outras ferramentas oportunas. A criança, muitas vezes, não consegue falar sobre seus problemas e é através de atividades lúdicas que ela poderá revelar a causa de sua dificuldade. Através dos jogos que a criança adquire maturidade, aprende a ter limites, aprende a ganhar e perder, desenvolve o raciocínio, aprende a se concentrar e adquire maior atenção. O psicopedagogo solicitará, algumas vezes, as tarefas escolares, observando cadernos, a organização e os possíveis equívocos, ajudando a criança a compreender o conteúdo em questão. Irá ajudar a criança ou adolescente a encontrar a melhor forma de estudar para que ocorra a aprendizagem. O profissional poderá ir até a escola para conversar com o (a) professor (a), afinal é ele ou ela que tem contato diário com o aluno e pode dar muitas informações que possam ajudar no tratamento. O psicopedagogo precisa ser estudioso e estar em constante formação. 33 Muitas vezes será necessário recorrer a outro profissional para conversar, trocar ideias e pedir opiniões. Precisa ter claro em sua mente qual é sua linha de trabalho, mas sem desconsiderar as contribuições que novas linhas de pensamento podem lhe dar. 34 12 O CONCEITO DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL A psicopedagogia institucional pode ser desenvolvida no contexto hospitalar, no setor empresarial, em organizações assistenciais e na instituição escolar. No entanto, quando se trata de combate ao fracasso escolar, o enfoque deste trabalho está embasado no contexto escolar, local em que a psicopedagogia pode ser realizada preventivamente e sua função é, principalmente, de antecipar os problemas que podem ocorrer na aprendizagem. Por isso, a psicopedagogia institucional se coloca atentamente às variadas possibilidades de construção do conhecimento e valoriza o imenso universo de informações que envolvem a vida escolar (OLIVEIRA, 2009, p. 39). Atualmente, as escolas do ensino regular atendem crianças com necessidades educacionais especiais, com isso, o psicopedagogo tem um papel fundamental, pois apenas frequentar a escola não é aceitável, é preciso garantir que a inclusão ocorra de fato. A instituição deve assegurar meios para que o sujeito prossiga nos estudos e que esse conhecimento seja efetivo, se isso não ocorrer teremos que contemplar casos de exclusão dentro da escola. A escola é um local de todos e, portanto, a inclusão é fundamental (VERCELLI, 2012, p.73). O professor tem que assumir uma postura de renovação, ajudando nas estratégias propostas, segundo Vercelli: A Psicopedagogia institucional é um campo de estudo que vem se desenvolvendo como ação preventiva de muita importância, mas é vista como ameaçadora, pois tem por objetivo fortalecer a identidade do grupo e transformar a realidade escolar. Torna-se ameaçadora, pois em muitos casos, o psicopedagogo poderá propor mudanças para que determinadas crianças aprendam, mas, infelizmente, muitos educadores resistem a essas mudanças e interpretam o que lhes foi dito como se não estivessem dando conta do papel que exercem (2012, p.73). Para que o aluno tenha prazer em aprender é importante que, desde a Educação Infantil ocorram estímulos positivos em relação à aprendizagem e que ao perpassar pelos anos iniciais e finais o aluno continue a sentir que aprender pode ser prazeroso desde que este tenha aprendido a aprender. 35 Quando recebe conhecimentos, o ser humano é incluído, de um jeito coordenado, nos ambientes culturais e simbólicos, que acabam o integrando a coletividade. A escola tendo o dever de ajudar na obtenção do conhecimento passa a ser mediadora nessa inclusão do sujeito (BOSSA, 2011, p.141). Contudo, é importante lembrar que a criança quando inicia a vida escolar já tem conhecimentos prévios, das vivências do seu meio, esses conhecimentos devem ser levados em conta sempre, especialmente no que diz respeito às intervenções a serem feitas, pois só serão bem sucedidas caso possuam algum significado para o aluno. Portanto, o sujeito quando entra na escola, em torno dos seus quatro anos de idade, leva as suas vivências, suas experiências familiares e disso depende sua aprendizagem plena, segundo BOSSA: Se a sua história transcorreu sem maiores problemas, estará estruturado seu superego e poderá deslocar sua pulsão a objetos socialmente valorizados, ou seja, estará pronto para a sublimação. A escola se beneficia e, também, tem função importante nesse mecanismo, pois lhe fornece as bases necessárias, ou seja, coloca ao dispor da criança os objetos para os quais se deslocará a sua pulsão, A escola, enfim, administra-bem, mal etc. - esse mecanismo pulsional da criança. Se tudo correu bem no desenvolvimento da criança, estará estruturado o seu desejo de saber: a epistemofilia (2011, p.144). Por isso, o Psicopedagogo no contexto escolar assumirá o compromisso com a transformação da realidade escolar, à medida que se coloca de modo a fazer uma reorientação do processo de ensino-aprendizagem. Esse profissional levanta a possibilidade de reflexão dos métodos educativos e numa postura de investigação descobre as causas dos problemas de aprendizagem que se apresentam na instituição e que se depara em sala de aula. É papel do psicopedagogona instituição conhecer a intencionalidade da escola em que atua através do seu projeto político pedagógico, de modo que o permita além de identificar as concepções de aluno e de ensino-aprendizagem que a instituição adota reconstruir esse projeto junto à equipe escolar conduzindo a reflexão e a construção de um ambiente propício à aprendizagem significativa. Além de repensar o fazer pedagógico da escolar, o 36 psicopedagogo deve ter um olhar atento para entender o sujeito em suas características multidisciplinares, como ser cognoscente envolvido na teia das relações sociais, sendo influenciado por condições orgânicas e culturais. Além disso, uma das ações do psicopedagogo é a intervenção, que visa fazer a mediação entre os alunos e seus objetos de conhecimentos, trabalhar as relações interpessoais, bem como estimular a aprendizagem e o desenvolvimento do aluno, numa perspectiva preventiva. Na intervenção, a ação psicopedagógica contribui para o processo educacional, buscando compreendê-lo, explicitá-lo, ou modificá-lo. Ao introduzir novos elementos para o sujeito pensar é possível conduzi-lo à quebra de paradigmas anteriormente estabelecidos. 37 ENCERRAMENTO Parabéns por ter concluído os estudos desta matéria da sua especialização! A Editora Famart e seus parceiros (a) conteudistas, prepararam esta apostila baseando-se em temas e discussões relativas à esta disciplina. Reunimos conteúdos de autores e pesquisadores que são referência na temática apresentada, concebendo um compilado desta abordagem de forma didática visando melhor aproveitamento no seu processo de conhecimento e aprendizagem. Na presente apostila, foram utilizados materiais que estão devidamente referenciados ao final em conjunto com as demais referências de todas as citações, viabilizando, desta forma, a identificação e eventual consulta às fontes. Busque materiais auxiliares de estudo para que possam agregar ainda mais no seu conhecimento. Dúvidas, elogios, questionamentos ou orientações quanto ao conteúdo estudado, disponibilizamos para esta finalidade a opção de abertura de requerimento através de sua área de estudo. Nossos tutores estarão disponíveis para te atender! 38 REFERÊNCIAS BATALLOSO, Juan Miguel. 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