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0 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1 2 O PSICOPEDAGOGO .......................................................................................... 8 2.1 Diagnóstico Psicopedagógico Clínico ................................................................. 18 3 MODALIDADE DE APRENDIZAGEM ................................................................. 19 4 DESENVOLVIMENTO INFANTIL ....................................................................... 21 5 A FUNÇÃO DIAGNÓSTICA DA AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA ................ 22 6 AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA ................................................................... 24 7 INSTRUMENTOS ............................................................................................... 26 7.1 Anamnese ........................................................................................................... 27 7.2 Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem (EOCA) ................................. 29 7.3 Provas Operatórias de Piaget ............................................................................. 30 7.4 Teste de Desempenho Escolar ........................................................................... 31 7.5 Atividades de Leitura, Escrita, Aritmética e Interpretação Textual ...................... 32 8 A IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICO ... 32 8.1 Entrevista de Queixa ........................................................................................... 34 8.2 Técnicas Projetivas Psicopedagógicas ............................................................... 34 9 ENTREVISTA DE DEVOLUÇÃO E ENCAMINHAMENTO ................................. 36 10 A PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL EM COLABORAÇÃO À GESTÃO EDUCACIONAL ........................................................................................................ 36 11 A CLÍNICA PSICOPEDAGÓGICA E AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM 44 12 A PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E SUA RELAÇÃO COM PROFESSORES, ESCOLA E FAMÍLIA ................................................................................................. 47 13 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 51 1 14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 52 15 SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 55 2 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 3 2 PSICOPEDAGOGIA ESCOLAR: BREVE HISTÓRICO Fonte: br.images.search.yahoo.com Alguns fatores educacionais afetam diretamente no processo de aprendizagem. A psicopedagogia surgiu exatamente no sentido de compreender e intervir na aprendizagem humana. Segundo Serra (2012 p. 5), ”A Psicopedagogia é uma área de estudo bastante recente, existindo à aproximadamente 40 anos no Brasil”. Ao contrário do que algumas pessoas imaginam a psicopedagoga não se resume a atender pessoas com dificuldades ou distúrbios de aprendizagem, seus princípios são construídos em cima de estudos que visam à aprendizagem de um modo geral, independentemente da idade, estado patológico ou normal, qualquer pessoa pode fazer uso da psicopedagogia para aprender de forma eficaz. Sua origem é atribuída aos argentinos, Bossa (2000, p. 36), frisa que: “A origem do pensamento argentino acerca da Psicopedagogia está centrada na literatura francesa e se baseia em autores como Lacan, Mannoni, Françoise Dolto, Ajuriaguerra, Pichon-Rivière, entre outros, no Século XXI”. (BOSSA, 2000, apud LIMA, 2017. p. 3). Quando surgiram novas pesquisas em relação aos problemas de aprendizagem, século também que se passou a ter uma preocupação maior com relação aos ambientes que cada ser humano está inserido, e a forma de incentivo que cada um recebe, enfatizando também a forma como o pensamento e a aprendizagem se modificam e se reestruturam de acordo com a motivação e ensino InfoWay Destacar 4 que cada pessoa tem acesso. Foi a partir de 1946, na França, que os chamados Centros Psicopedagógicos ganharam importância e se multiplicaram com rapidez até o início da década de 1960, ligando equipes de trabalho “compostas por médicos, psicólogos, pedagogos, psicanalista e reeducadores de psicomotricidade e da escrita” (PERES, 2007, p.41). Nos Estados Unidos, o mesmo movimento ocorria. O foco das pesquisas era em relação aos métodos, aos conceitos a serem construídos quanto à deficiência. O movimento europeu deu origem à Psicopedagogia. Já o movimento americano propagou a crença de que os problemas de aprendizagem tinham causas orgânicas e que precisavam de atendimento especializado, influenciando parte do movimento da psicologia escolar (JERÔNIMO SOBRINHO, 2016, p. 20). Peres (1998, p. 43), discorre sobre a Psicopedagogia no Brasil, que se deu na década de 1950, com o surgimento do chamado ‘Serviço de Orientação Psicopedagógica’ (SOPP), no estado da Guanabara, [...] e “tinha como meta desenvolver a melhoria da relação professor-aluno e criar um clima mais receptivo para a aprendizagem, aproveitando para isso as experiências anteriores dos alunos” (PERES, 1998, p. 43, apud LIMA, 2017. p. 4). Segundo Jerônimo Sobrinho (2016), O Brasil recebeu influências americanas e europeias por meio dos teóricos argentinos, principalmente na região sul do país, que anos de 1970 ofereceu os primeiros cursos de formação de especialistas em psicopedagogia. No entanto, somente nos anos de 1990 esses cursos se propagaram pelo Brasil nas regiões sul e sudeste, onde há maior demanda de especializações e de trabalhos realizados na área. InfoWay Destacar 5 3 O PSICOPEDAGOGO NO AMBIENTE ESCOLAR Fonte: br.images.search.yahoo.com A escola tem uma grande missão em ensinar assuntos e habilidades que terão valor durante a vida adulta, tornando-se fundamental a qualidade da formação do educador. Porém segundo Jerônimo Sobrinho (2016), [...] essa mesma “escola tem revisto a sua política educacional, que vem mostrando deficiências históricas oriundas, muitas vezes, da má vontade de seus membros, das equipes de orientação escolar que possuem dificuldades frente às problemáticas de aprendizagem. Jovens são rotulados de desatentos e hiperativos por uma educação que não motiva, e por uma ignorância de muitos âmbitos escolares”. (JERÔNIMO SOBRINHO 2016, apud LIMA, 2017. p. 4). Para Côrtes & Rausch (2009), “A falta de conhecimento a respeito das dificuldades de aprendizagem fez e, ainda faz, com que os alunos com dificuldades sejam encaminhados para profissionais das mais diversas áreas de atuação”. Isso fez com que se criasse uma consciência da necessidade de uma formação mais globalizanteonde uma única pessoa fosse apta para atuar de forma mais objetiva, eficaz e fazer com que os atendimentos se centralizassem num só profissional, facilitando o vínculo do aluno com o processo de aprendizagem e assim resgatar o prazer de aprender. Vê-se então, que o papel da Psicopedagogia, que é a área que estuda e trabalha com o processo da aprendizagem e suas dificuldades devem englobar vários campos do conhecimento. O atendimento psicopedagógico que antes era restrito a clínicas particulares, começa a contribuir aos poucos, para a 6 diminuição dos problemas de aprendizagem nas escolas e assim reduzir os altos índices de fracasso escolar”. As escolas, por falta de conhecimento adequado e por não conseguir solucionar alguns problemas, por não compreender as dificuldades dos alunos, acabam discriminando da mesma forma alunos que tem problemas e não são tratados, não conseguindo então, intervir de forma eficaz. Abre-se então, a questão do papel do psicopedagogo na e para uma determinada instituição, cujas formas de estrutura e articulação não podem ser ignoradas (CÔRTES; RAUSCH, 2009, apud LIMA, 2017. p. 4). No contexto educativo, o psicopedagogo assume uma postura cada vez mais especializada para dar conta das demandas de um sistema educativo a cada dia mais complexo. A maior parte da atuação psicopedagógica se concentra nas instituições ligadas a educação formal. Os níveis de ação psicopedagógica abarcam os estudantes e a comunidade educativa. No sistema educativo, é o profissional preparado para estruturar estratégias de intervenção junto aos alunos com dificuldades de aprendizagem. Também são funções do psicopedagogo: diagnosticar, prevenir, reeducar e intervir nas dificuldades de aprendizagem nas áreas de leitura, escrita e cálculo. O psicopedagogo tem capacidade de inserir-se nos processos de ensino, propondo mudanças e adaptações curriculares para apoiar, orientar e guiar os alunos com dificuldades de aprendizagem, aplicando programas e técnicas para constatar a evolução e o progresso do aluno (JERÔNIMO SOBRINHO, 2016). Neste sentido, torna-se imprescindível a interação com a instituição escolar, para que se possa dentre outras questões, conhecer a proposta da escola, os seus objetivos, as justificativas, os seus projetos, o projeto de trabalho dos docentes dos diversos componentes curriculares, bem como o desenvolvimento desses projetos, o material didático utilizado, o processo avaliativo tanto dos alunos como dos docentes e da instituição (PERES, 2007, apud LIMA, 2017. p.5). Diante disto, segundo o autor supracitado, o trabalho psicopedagógico na escola tem assumido um caráter preventivo, considerando desde a avaliação da realidade, da identidade da escola, perpassando pelo planejamento, pelos pressupostos didático-metodológicos, como também pelas relações interpessoais que envolvem o ato educativo, dentre outras questões. A autora afirma ainda que, em um trabalho psicopedagógico preventivo, não pode ignorar a importância do assessoramento educacional tanto aos alunos como aos docentes, coordenadores, orientadores, diretores, pais e familiares. O processo educacional é um processo de 7 desenvolvimento conjunto. É um processo compartilhado, onde o aluno vai construindo seus conhecimentos não somente a partir das relações vivenciadas no interior da escola, mas também nas que extrapolam a instituição escolar e envolvem, especialmente, o convívio familiar e social. Côrtes & Rausch (2009), afirmam que o aluno não pode ser o único responsável pelas dificuldades; as causas devem ser procuradas também num sistema escolar excludente; na formação precária dos professores e nas causas de risco social. Para a recuperação desses alunos e a superação das dificuldades a psicopedagogia necessita integrar-se com os saberes de outras áreas de conhecimento como a psicologia, a neurologia, a psicolinguística, a psiquiatria, a fonoaudiologia e outros. Acredita-se que o trabalho da Psicopedagogia quando encontra consonância e parcerias na escola, pode promover efeitos muito positivos para a minimização das dificuldades que emergem no contexto escolar, apesar de representar um constante desafio, pois requer o envolvimento de toda a equipe, e um desejo permanente de mudanças, para que as transformações, de fato, ocorram (NASCIMENTO, 2013 apud LIMA, 2017. p. 5). O trabalho do psicopedagogo em todas as escolas, sejam elas públicas ou particulares, poderia, dado a importância da atuação desse profissional, ser mais bem valorizado no contexto educacional geral, e em todas as modalidades de ensino, sendo marcada por isso, a urgência de ações e políticas públicas que trabalhem no âmbito da prevenção e da promoção da aprendizagem. Muito embora existam registros de iniciativas e ações nessa direção, parece que esse processo precisa ganhar força com o empenho dos profissionais da área, mostrando resultados dos seus trabalhos e denunciando a falta dele no âmbito das escolas onde os problemas de aprendizagem precursoramente se manifestam. Considerar legítimo o trabalho da Psicopedagogia nas escolas, embora verdadeiro, não é a garantia para que ela se efetive (BRUM, PAVÃO, 2014). 8 4 O PSICOPEDAGOGO Fonte: dialogosdosaber.com.br O Código de Ética do Psicopedagogo, no seu artigo 1°, define a Psicopedagogia como um campo de atuação em Saúde e Educação que lida com o processo de aprendizagem humana: seus padrões normais e patológicos considerando a influência do meio, família, escola e sociedade no seu desenvolvimento, utilizando procedimentos próprios da Psicopedagogia. A Psicopedagogia surge para atender a uma demanda específica de auxílio à superação das dificuldades de aprendizagem, atuando de forma preventiva e terapêutica. A Psicopedagogia se divide em três processos: prevenção, diagnóstico e intervenção. Na prevenção, o psicopedagogo realiza uma investigação institucional, avaliando os processos didáticos e metodológicos aplicados, e a dinâmica dos profissionais, buscando compreender o processo ensino/aprendizagem e propondo alternativas que aperfeiçoem os esforços empreendidos pelos envolvidos. A Psicopedagogia, na forma clínica, busca a promoção da saúde mental auxiliando o indivíduo na superação das dificuldades de aprendizagem, investigando os sintomas, a modalidade de aprendizagem e desenvolvendo atividades interventivas. O atendimento psicopedagógico com uma postura clínica considera a singularidade do sujeito, os aspectos inconscientes envolvidos no não aprender nos seus diversos contextos (biológico, afetivo e cognitivo), além da família e da escola. 9 Pode-se destacar duas formas básicas de trabalho psicopedagógico: a primeira delas é o atendimento clínico, que tem como objetivo a recuperação, a outra é a institucional, que tem como objetivo principal a prevenção. Atualmente há um grande interesse no trabalho preventivo, situação que não é exclusiva da área psicopedagógica. Ao contrário, é uma tendência em várias áreas. Acredita-se que dessa forma muitos problemas podem ser evitados. 5 HIPÓTESES SOBRE AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM Fonte: br.images.search.yahoo.com Segundo Souza (2012) as teorias sobre as Dificuldades de Aprendizagem possuem três enfoques: 1) O enfoque no processo de informação tendo mais prevalência nas últimas décadas em Psicologia. 2) O enfoque interativo ou ecológico: no qual incluí uma visão analítica sobre os contextos familiares e escolares que contribuem de maneira exógena para o emburrecimento do estudante. A perspectiva sociocultural: evoluindo bem nos últimos cinco anos. 3) Enfoque neuropsicológico enfatizando os fatores psíquicos e cognitivos estudados cada vez mais tanto no Brasil como no exterior. (SOUZA, 2012, apud TOSTES, 2016, p. 126). É muito relevante para compreender a importância multidisciplinar no campo das Dificuldadesde Aprendizagem variando os métodos podemos conseguir alcançar os objetivos. 10 Segundo Castanho, o termo Dificuldade de Aprendizagem pode ser caracterizado por alterações no processo de desenvolvimento, no aprendizado da leitura, da escrita e do raciocínio lógico-matemático, pode estar ou não associadas a comprometimentos da linguagem oral. Santos (2009) salienta que a grande preocupação de educadores, psicólogos, fonoaudiólogos e outros profissionais da área sempre foram saber como uma criança aprende, ou seja, como ela elabora seu pensamento, suas ideias, seu raciocínio lógico e principalmente como ela adquire a linguagem falada, lida e a escrita, e, a partir disso, compreender a razão pela qual alguns alunos, sem deficiência, apresentam dificuldades de aprendizagem e consequentemente insucesso escolar. De acordo com Weiss & Cruz (s/d apud GLAT, 2007), o sujeito que está em processo de construção de seu conhecimento, seja em situação de aprendizagem formal ou informal, não é determinado somente pelo seu potencial cognitivo. Ele é o resultado da interação entre seu aparelho biológico, suas estruturas psico-afetiva e psico-cognitiva, nas interações com o meio social no qual ele está inserido. Para Piaget a aprendizagem depende do estágio de desenvolvimento atingido pelo sujeito, para Vygotsky, a aprendizagem favorece o desenvolvimento das funções mentais. Assim os educadores não devem deixar de perceber o sujeito em relação ao tempo e a cultura (SANTOS 2009). Jardim (2001) explica que as crianças com dificuldades de aprendizagem têm disfunções em habilidades necessárias para haver aprendizagem efetiva, apresentando problemas na compreensão da leitura, organização e retenção da informação e na interpretação de textos. Geralmente são lentas ao processar informações, apresentam estratégias pobres para escrever, problemas de organização espacial e muita distração o que acarreta dificuldade de comunicação e hábitos ineficientes de estudo. Correia (2004) cita que há alunos que, devido às “desordens neurológicas” apresentam uma desorganização no momento da recepção, integração e expressão da informação, refletindo numa “discapacidade” para aprendizagem da leitura, da escrita e cálculo matemático, se não for amparados, apoiados por serviços de apoio especializados, abandonam a escola por causa de experiências de insucesso acadêmico. 11 Em “Os Idiomas do Aprendente” de Alicia Fernandes, encontra-se a diferença entre fracasso escolar e dificuldade de aprendizagem. A autora define dificuldades de aprendizagem como uma situação “que provém de causas que se referem à estrutura individual da criança, tornando-se necessária uma intervenção psicopedagógica mais direcionada” A autora afirma ainda: Fracasso escolar afeta o aprender do sujeito em suas manifestações sem chegar a aprisionar a inteligência: muitas vezes surge do choque entre o aprendente e a instituição educativa que funciona de forma segregadora. Para entendê-lo e abordá-lo, devemos apelar para a situação promotora do bloqueio (FERNANDEZ, 2001, apud TOSTES, 2016, p. 129). Santos (2009) acredita que como consequência de sua dificuldade de aprendizagem, os alunos podem apresentar baixos níveis de autoestima e de autoconfiança, o que pode conduzir à falta de motivação, afastamento, crises de ansiedades e estresse e até mesmo depressão. Para Santos (2009) a dificuldade que mais é encontrada na atualidade é a dislexia. Porém, é necessário estar atento a outros sérios problemas como: disgrafia, disortografia, discalculia, dislalia e o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), são as dificuldades que ocorrem com mais frequência nas salas de aula. 5.1 Dislexia Fonte: dislexiafeliz.online 12 De (origem grega, da contração das palavras dis= difícil, prejudicada, e lexis= palavra). Ocorre um retardo e desordem para ler, escrever e soletrar. Portanto, dislexia é o impedimento que aparece na leitura, bloqueando o aluno de ser fluente, pois faz trocas e omissões de letras, inverte sílabas, apresenta leitura lenta, silabada, dá intervalos entre linhas ao ler um texto não consegue dar continuidade na mesma linha, possui desorganização espacial etc. Estudiosos afirmam que suas causas têm origem de fatores genéticos, porém ainda nada foi comprovado pela medicina. Ciasca (2005, p. 66), define dislexia: Falha no processamento da habilidade da leitura e escrita durante o desenvolvimento. A dislexia como um atraso do desenvolvimento ou a diminuição em traduzir sons em símbolos gráficos e compreender qualquer material escrito é o mais incidente dos distúrbios específicos da aprendizagem, com cifras girando em torno a 15% da população com distúrbios da aprendizagem, sendo dividida em três tipos: visual, mediada pelo lóbulo occipital, fonológica mediada pelo lóbulo temporal, e mista com mediação das áreas frontal, occipital, temporal e pré-frontal. (CIASCA, 2005, apud TOSTES, 2016, p. 130). 6 DISGRAFIA Fonte: priscillaranieri.com.br Normalmente vem associada à dislexia, porque se o aluno faz trocas e inversão de letras consequentemente apresenta dificuldade na escrita. Além disso, está associada a letras mal traçadas e ilegíveis, letras muito próximas e desorganização ao produzir um texto. A habilidade de escrita está abaixo do nível 13 esperado para idade cronológica, escolaridade e inteligência, associada ou não ao transtorno de leitura. Segundo Ciasca (2005, p. 67), define como: Falha na aquisição da escrita; implica uma inabilidade ou diminuição no desenvolvimento da escrita. Atinge 5 a 10% da população escolar e pode ser dos seguintes tipos: disgrafia do pré-escolar: construção de frases: ortográfica e gramatical: caligrafia e espacialidade. (CIASCA, 2005, apud TOSTES, 2016, p. 130). 6.1 Disortografia Fonte: priscillaranieri.com.br É a dificuldade da linguagem escrita e também pode acontecer como consequência da dislexia. É um quadro, muitas vezes, descrito como característico da disgrafia. Esse transtorno da escrita apresenta-se como uma persistência de trocas de natureza ortográfica (como ch por x, ou s por z, e viceversa), aglutinações (de repente/derepente, tem que/temque), fragmentações (em baraçar); inversões (in/ni, es/se) e omissões (beijo/bejo), após a 2ª série do Ensino Fundamental ou equivalente. Estas alterações devem ser observadas com determinada frequência, e em vocabulário conhecido pelo aluno. 14 6.2 Discalculia Fonte: neurosaber.com.br É a dificuldade em lidar com cálculos, numerais e quantidades, prejudicando as atividades de vida diária que envolve essas habilidades e conceitos. De acordo com o DSM (Manual de Diagnóstico e Estatística de Doenças Mentais), em indivíduos com transtornos da Matemática, a capacidade para a realização de operações aritméticas, cálculo e raciocínio matemático encontra-se substancialmente inferior à média esperada para sua idade cronológica, capacidade intelectual e nível de escolaridade. Discalculia é uma falha na aquisição da capacidade e na habilidade de lidar com conceitos e símbolos matemáticos. Basicamente, a dificuldade está no reconhecimento do número e do raciocínio matemático. Atinge de 5 a 6% da população com dificuldade de aprendizagem e envolve dificuldade na percepção, memória, abstração, leitura, funcionamento motor; combina atividades dos dois hemisférios. (DSM 5, apud TOSTES, 2016, p. 131). Para Santos (2009) talvez a maioria das dificuldades não tenha causas orgânicas e não esteja relacionada às atividades cognitivas da criança, mas seja resultado de problemas educativos ou ambientais. Estratégias de ensino ineficientes podem prejudicar o nível de sucesso das crianças na realização de tarefas, gerando problemas como falta de autoconfiança e efeitos negativos sobre a aprendizagem comprometendo aspectos como a atenção, concentração,memória, coordenação motora e outros. 15 Entre tantas dificuldades de aprendizagem, as mais encontradas nas escolas são estas apresentadas, porém, somente após uma avaliação a psicopedagoga pode realmente sugerir o que fazer com a criança. Como a profissional da psicopedagogia pode atuar nas escolas, em clínicas e empresas, quando aparece a dificuldade em aprender, sua avaliação será útil para saber se a criança com reforço escolar pode melhorar, ou se necessita da clínica psicopedagógica para melhorar seu desempenho escolar. Dessa forma é interessante observar como e quando a psicopedagogia apareceu, mesmo porque segundo Sá (2013, p. 21), trata-se de uma crescente profissionalização na área, ou seja, “enquanto profissional, o psicopedagogo pode intervir em uma concepção eminentemente preventiva ou em uma abordagem terapêutica, clínica”. 7 A PSICOPEDAGOGIA E AS PRÁTICAS PSICOPEDAGÓGICAS Fonte: priscillaranieri.com.br Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) [...] a formação da escola deve favorecer o desenvolvimento de capacidades, de modo que ocorra a compreensão e a mediação dos fenômenos sociais e culturais, assim como possibilitar aos alunos usufruir das manifestações culturais nacionais e universais (BRASIL, 1996, apud TOSTES, 2016, p. 131). 16 Bossa (2002) se refere à escola explicando que na atualidade, apresenta-se como o principal espaço social para a identificação das “anormalidades” infantis, mesmo que sob o risco de ancorar-se uma concepção de criança ideal, construída ao longo da modernidade. Assim, a criança pode estar resistindo, com o seu sintoma, à excessiva normatização da escola, enquanto essa fracassa nas suas tentativas pedagógicas de remover o problema de aprendizagem, apelando, muitas vezes, aos especialistas em terapêuticas educativas na esperança de ver o fracasso reparado (SALVARI, DIA, 2006). Todavia nos PCNs é possível observar que a educação básica precisa ter qualidade que a sociedade mereça como a possibilidade de o sistema educacional vir a propor uma prática educativa adequada às necessidades sociais, políticas, econômicas e culturais. Considerando os interesses reais dos alunos com a garantia de uma metodologia essencial para a formação de cidadãos autônomos, críticos e participativos, capazes de atuar com competência, dignidade e responsabilidade na sociedade em que vivem (BRASIL, 1996). No entanto, cabe ao campo educacional propiciar aos alunos diferentes vivencias onde sejam inseridos cultura e valores sociopolíticos. Assumir-se como espaço social de construção dos significados éticos necessários e construtivos de toda e qualquer ação de cidadania (BRASIL, 1996). Logo a educação básica tem assim a função de garantir condições para que o aluno construa instrumentos que o capacitem para um processo de educação permanente (BRASIL, 1996). Para Colelo (2004) um aspecto muito importante no trabalho docente é o fato de que a seleção e a definição dos conteúdos são, em última instância, tarefas do professor. É ele quem tem pela frente determinados alunos, com suas características de origem social, vivendo num meio cultural determinado, com certas disposições e preparo para enfrentar o estudo. O trabalho pedagógico implica a preparação desses alunos para as atividades práticas - profissionais, políticas, culturais - e, para isso, o professor enfrenta duas questões centrais: Que conteúdos (conhecimentos, habilidades, valores) os alunos deverão adquirir a fim de que se tornem preparados e aptos para enfrentar as exigências objetivas da vida social, como a profissão, o exercício da cidadania, a criação e o usufruto da cultura e da arte, a produção de novos conhecimentos de acordo com interesses de classe, as lutas pela melhoria das condições de vida e de trabalho? - Que métodos e procedimentos didático-pedagógicos são necessários para viabilizar o processo de transmissão-assimilação de conteúdos pelo qual são desenvolvidas as 17 capacidades mentais e práticas dos alunos de modo a adquirirem métodos próprios de pensamento e ação, ou seja, a construção do conhecimento? (COLELO, 2004, apud TOSTES, 2016, p. 132). Conforme Colelo (2004) são três as fontes que o professor selecionará para os conteúdos do plano de ensino e organizar as suas aulas: a programação oficial na qual são fixados os conteúdos de cada matéria; os próprios conteúdos básicos das ciências transformadas em matérias de ensino; as exigências teóricas e práticas colocadas pela prática de vida dos alunos, tendo em vista o mundo do trabalho e a participação democrática na sociedade. Deve ocorrer a reflexão sobre o que se pretende com o ensino fundamental, sobre seu currículo como um todo e as expectativas que se tem a respeito dos alunos que terminam essa fase de escolarização; e sobre a realidade da escola e suas condições de trabalho para viabilizar as metas pretendidas. Quando o professor escolher e indicar conteúdos e procedimentos de ensino, suas escolhas estarão, pois, ancoradas num contexto mais amplo de desafios e problemas, bem como em concepções norteadoras. Dentro desse contexto a escola tem uma equipe que compreende alguns cargos, como diretora, coordenadora, educadores, psicopedagogos, entre outros. Essa equipe tem a função de ensinar, o que significa transmitir informações aos alunos. E dentre esses alunos existem aqueles que têm dificuldades em aprender. Para esses, é preciso primeiro identificar a problemática sobre suas dificuldades, em seguida pedir auxílio ao psicopedagogo, e este deve orientar como transmitir o ensino aprendizagem a esses alunos. InfoWay Destacar 18 8 DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICO CLÍNICO Fonte: unir.net O diagnóstico, para o terapeuta, tem a mesma função que a rede para um equilibrista, ou seja, ele dará o suporte para que o psicopedagogo caminhe de maneira segura durante o processo de intervenção. O sucesso e a eficácia do diagnóstico psicopedagógico pressupõem por parte do terapeuta: profundo conhecimento teórico do processo de aprendizagem, postura clínica, capacidade de observação e instrumentos e métodos adequados. O objetivo do diagnóstico psicopedagógico clínico é identificar a modalidade de aprendizagem, o nível da escrita e o nível cognitivo. Os instrumentos aplicados no diagnóstico psicopedagógico aqui relatado são descritos no item método e fazem parte do protocolo utilizado na clínica-escola campo desta pesquisa. InfoWay Destacar 19 9 MODALIDADE DE APRENDIZAGEM Fonte: pt.dreamstime.com A forma como cada indivíduo entra em contato com o objeto de conhecimento, a modalidade de aprendizagem, é particular, individual e oferece um saber que é singular para cada indivíduo. A modalidade de aprendizagem é construída desde o nascimento e nas várias situações de aprendizagem, constituindo-se como um esquema de operar ou processar as informações. Com a identificação da modalidade de aprendizagem do sujeito com dificuldades de aprendizagem, o psicopedagogo poderá introduzir a intervenção adequada, que atenda às necessidades específicas do paciente. Para melhor compreensão do processo que resulta em modalidade de aprendizagem, é importante compreender o movimento definido como “adaptação”. Adaptação é o resultado de um duplo movimento complementar de assimilação e acomodação. Por meio da assimilação, o sujeito transforma a realidade para integrá-la às suas possibilidades de ação e, através da acomodação, transforma e coordena seus próprios esquemas ativos, para adequá-los às exigências da realidade. As modalidades de aprendizagem sintomáticas são geradas por um desequilíbrio nos movimentos de assimilação e/ou acomodação. O excesso (hiper) ou escassez (hipo) em um desses movimentos afeta o resultado (aprendizagem), ou seja, dificuldades de aprendizagem estão relacionadas a uma hiperatuação ou hipo- atuação de um desses processos. Quando há o predomínio da assimilação, as InfoWay Destacar 20 dificuldades de aprendizagem são da ordem da não resignação, o que leva o sujeito a interpretar os objetos de modo subjetivo, não internalizando as características próprias do objeto. Quando a acomodação predomina, o sujeito não empresta sentido subjetivo aos objetos, antes, resigna-se sem criticidade. As modalidades de aprendizagem sintomáticas são assim descritas: • Hipoassimilação: nesta sintomatização ocorre uma assimilação pobre ou baixa, o que resulta na pobreza no contato com o objeto. • Hiperassimilação: sendo a assimilação o movimento de adaptação que permite a alteração das informações fornecidas pelo meio, para que possam ser incorporadas pelo sujeito, na aprendizagem sintomatizada pode ocorrer um exagero desse movimento, de forma que o sujeito não se submete ao aprender. Nesse movimento, há o predomínio dos aspectos subjetivos sobre os objetivos; • Hipoacomodação: a acomodação consiste em adaptar-se para que ocorra a internalização. A sintomatização da acomodação ocorre pela resistência em acomodar elementos do meio (informações), que pode ser definida como a dificuldade de internalizar os objetos; • Hiperacomodação: se acomodar significa internalizar os elementos do meio (informações), o exagero nesse processo pode levar a uma pobreza de contato com a subjetividade, levando à submissão e à obediência acrítica às normas; As informações, ou elementos do meio, são pouco alterados, de forma que não podem ser incorporados pelo sujeito, apenas acomodados. Analisando a forma como operam as modalidades de aprendizagem, existe três grupos de modalidades (organizações) que perturbam o aprender: hipoassimilação-Hipoacomodação; hiperassimilação-hipoacomodação; e hipoassimilação-hiperacomodação. InfoWay Destacar InfoWay Destacar 21 10 DESENVOLVIMENTO INFANTIL Fonte: daddy.com.br O conceito de desenvolvimento infantil pode ser entendido como um processo que envolve vários aspectos: crescimento físico, maturação neurológica, construção de habilidades relacionadas ao comportamento e às esferas cognitivas, social e afetiva da criança. O desenvolvimento adequado habilita a criança a atender à demanda do meio, tornando-a “competente” para responder às suas necessidades, considerando o seu contexto de vida. O desenvolvimento infantil relaciona-se diretamente com fatores biológicos e ambientais. Os fatores biológicos estão relacionados a danos ocorridos nos períodos pré, peri e pós-parto, que podem conduzir a deficiências e problemas no desenvolvimento neurológico. Neste grupo estão os distúrbios de ordem genética, malformações congênitas, prematuridade, hipóxia cerebral, meningites e condições da gestação da mãe (uso de drogas, fumo e doenças) que podem impactar o desenvolvimento da criança. Os fatores ambientais estão relacionados à exposição da criança aos estímulos e situações do meio, tais como condições de habitação, higiene, conforto, nutrição, estímulo familiar e vida social. Neste contexto, a reabilitação é o processo pelo qual a criança com alterações no desenvolvimento poderá ser adequadamente estimulada com o objetivo de melhorar a funcionalidade das suas habilidades físicas, mental e/ou social. Nessa perspectiva, todo trabalho de reabilitação, independentemente da InfoWay Destacar InfoWay Destacar 22 idade, deve estar centrado nas habilidades da criança, lembrando que sua integridade e dignidade devem sempre ser respeitadas. Para tal, importa que, ao planejar os programas de reabilitação e de apoio, o terapeuta possa impreterivelmente considerar os costumes, possibilidades e as estruturas da família e da comunidade, adequando sua proposta terapêutica às dificuldades e necessidades da criança. No entanto, para orientar qualquer proposta terapêutica, a avaliação diagnóstica é a primeira etapa. 11 A FUNÇÃO DIAGNÓSTICA DA AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA Fonte: pt.dreamstime.com O trabalho de Educação Escolar se desenvolve através do processo ensino/aprendizagem e de todos os seus determinantes, sendo assim há um ponto muito importante na prática psicopedagógica que é a busca do diagnóstico do porquê da criança (s) ou adolescente (s) não conseguirem aprender dentro dos padrões pré-estabelecidos pela escola, família e sociedade. Quando se remete ás dificuldades ou problemas de aprendizagem, alguns aspectos tem que ser levados em conta como a constituição do sujeito (física, psicológica, necessidades especiais, afecções cerebrais – lesões herdadas ou adquiridas por distúrbios metabólicos, cromossômicos, etc.); o desejo do sujeito (motivação pessoal, familiar ou social); a família do sujeito (estrutura e dinâmica familiar, nível de autonomia na família, nível 23 sociocultural, relação da família com a escola e papéis assumidos na configuração familiar); e a escola (estrutura, organização material, de conteúdo e pessoal). Dessa forma o cabe ao psicopedagogo vasculhar cada “canto” da pessoa, enxergando não apenas o que a criança mostra, mas saber perceber que a mesma pode ter algum problema imperceptível que está dificultando sua aprendizagem e saber conduzi-la a outros profissionais como psicólogos, fonoaudiólogos, neurologistas, etc., com intuito de investigar múltiplos fatores que influenciam o não aprender dessa criança. O psicopedagogo é como um detetive que busca pistas, procurando solucioná-las, pois algumas podem ser falsas, outras irrelevantes, mas a sua meta fundamental é investigar todo o processo de aprendizagem levando em consideração a totalidade dos fatores nele envolvidos, para valendo-se desta investigação entender a constituição da dificuldade de aprendizagem (RUBINSTEIN, 1987, apud UHLMANN 2018, p. 225). É um processo que permite ao profissional investigar, levantar hipóteses provisórias que serão ou não confirmadas ao longo do processo, porém uma vez iniciado esse processo, deve-se lançar mão de todos os instrumentos diagnósticos necessários. Essa busca terá o intuito de descobrir as razões que impedem o sujeito de aprender, situação essa levantada por uma queixa seja do educador, da família, da escola ou até mesmo do próprio sujeito. Caberá, portanto, ao psicopedagogo “ouvir” essa queixa, analisá-la, interpretá-la e seguir com seu processo de avaliação como função diagnóstica na busca em atender as necessidades educativas traduzidas em situações passíveis de melhora e com a concretização de auxílio e suporte. InfoWay Destacar 24 12 AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA Fonte: dialogosdosaber.com.br Na área clínica, o psicopedagogo atua com um papel investigativo em relação aos problemas que envolvem a aprendizagem e intervindo, diretamente com o sujeito, no intuito de sanar suas dificuldades e proporcionar melhor qualidade de vida para o indivíduo. Na prática psicopedagógica clínica é preciso que o profissional tenha um olhar observador, examinador, o qual possibilita condições para identificar os porquês da não aprendizagem. Ou seja, o psicopedagogo clínico atuará investigando e intervindo. Como afirma Escott (2004), [...] no âmbito da Psicopedagogia Clínica, o objetivo não se limita apenas na contribuição da solução dos problemas de aprendizagem, mas também tem o papel de cooperar para a construção de um sujeito pleno, crítico e mais feliz. (ESCOTT, 2004, apud MOREIRA, 2015, p. 4). A Psicopedagogia clínica procura entender o indivíduo nos seus mais variados âmbitos e contextos, sejam eles cognitivos, pedagógicos, emocionais, culturais, biológicos, sociais, bem como compreender a interferência que esses aspectos causam na aprendizagem, trabalhando juntamente com os pais ou responsáveis, professores, orientadores educacionais e demais profissionais que façam parte da vida do sujeito. Esses processos podem ser analisados a partirda avaliação psicopedagógica, que consiste também na investigação das causas do não aprender. 25 A avaliação psicopedagógica ou diagnóstico psicopedagógico consiste em um processo observador e investigativo, que por meio da coleta e análise de informações relevantes do sujeito, é possível verificar os vários elementos que influenciam no processo de ensino e aprendizagem do mesmo. Para Rubinstein (1996), o diagnóstico psicopedagógico pode ser comparado com um processo de investigação. Nesse processo, o psicopedagogo reproduz o papel do detetive à procura de vestígios, informações, selecionando-as criteriosamente e levando em consideração todos os aspectos que abarcam o processo de aprendizagem do indivíduo. Weiss (2004) corrobora com o pensamento de Rubinstein (1996), afirmando que todo diagnóstico psicopedagógico consiste em uma investigação, uma busca acerca de algo que não está adequado com o sujeito em relação a um comportamento esperado. Na avaliação psicopedagógica é realizada a investigação, na qual se procura compreender a forma que o indivíduo aprende e os desvios que ocorrem nesse processo. A avaliação está integrada na intervenção psicopedagógica e se fundamenta nas decisões voltadas à solução das possíveis dificuldades de aprendizagem, levando em consideração os contextos em que o indivíduo está inserido e também promove melhores condições para o desenvolvimento global do mesmo. O diagnóstico psicopedagógico é uma das peças fundamentais para uma intervenção eficaz. Não é suficiente o psicopedagogo ter o aprimoramento das técnicas e testes, pois cada caso é único e exige do profissional, além do conhecimento teórico, um olhar sensível e singular. Cada paciente que chega à clínica traz consigo suas particularidades, suas relações sociais, suas bagagens emocionais, para o psicopedagogo é sempre um novo caso, uma nova história, que necessita de um novo olhar. Weiss (2002) afirma que: [...] a grande quantidade de instrumentos utilizados no diagnóstico não é suficiente para que haja do sucesso o mesmo, porém é necessária a eficiência e percepção do profissional em explorar as várias dimensões e aspectos revelados em cada momento do processo. (WEISS, 2002, apud MOREIRA, 2015, p. 5). A avaliação psicopedagógica inicia-se com uma entrevista com os pais ou responsáveis pela criança, nela o psicopedagogo também irá analisar o material escolar, as atividades de leitura, escrita, matemática, como também aplicar testes e InfoWay Destacar 26 provas que avaliem o nível de pensamento e outras funções cognitivas. Além de fazer uso da observação direta do sujeito e de seus contextos. A princípio, deve-se verificar se a queixa trazida como motivo da procura do atendimento, não só descreve o sintoma, mas também pode trazer indícios que possam apontar o caminho a ser trilhado no processo de investigação. Portanto, esse processo buscará a explanação de uma queixa, advinda do próprio indivíduo, da família ou da escola. Nesse caso, a queixa estará relacionada com o não aprender, com a dificuldade de aprendizagem ou com o aprender lentamente. No primeiro contato com a família é necessário construir hipóteses sobre os vários aspectos relevantes para a avaliação dos problemas relacionados à aprendizagem. Também é preciso entender o significado da queixa para a família, ou seja, perceber como os membros reagem comportamentalmente ao assumir a presença da dificuldade e quais são as suas expectativas em relação ao acompanhamento psicopedagógico. (PAÍN, 1985, apud MOREIRA, 2015, p. 6). O psicopedagogo pode usar como recurso da avaliação psicopedagógica a entrevista com a família. Com o uso da observação, ele poderá investigar o motivo da procura pelo atendimento. A partir da realização da anamnese poderá conhecer a história de vida do sujeito, entrevistar a criança, fazer contato com os professores ou outros profissionais que acompanhem a mesma, fazer a devolutiva de tudo que foi executado com o indivíduo e, se preciso encaminhar o caso para outros profissionais (RUBINSTEIN, 2002). Dessa forma, Rubinstein (1996) aponta que o diagnóstico psicopedagógico clínico deve voltar-se para identificar o potencial de aprendizagem, buscar hipóteses para as causas do não aprender, impulsionar o aprendiz e os que estão em volta dele, com o intuito de construir uma explicação para os problemas de aprendizagem. 13 INSTRUMENTOS Serão elencados os instrumentos utilizados na avaliação psicopedagógica, bem como um pouco de seus objetivos e observações. Serão utilizadas as seguintes provas psicopedagógicas: Anamnese, Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem (EOCA), Provas Operatórias de Piaget, Teste de Desempenho Escolar (TDE), atividades de leitura, escrita, aritmética e interpretação textual. InfoWay Destacar 27 13.1 Anamnese Fonte: geledes.org.br A anamnese é um dos instrumentos utilizados no diagnóstico psicopedagógico, ela consiste em uma entrevista realizada com os pais ou responsáveis da pessoa que está sendo avaliada e tem o intuito de resgatar a história de vida do sujeito, coletando informações relevantes que possam desvendar dados e fatos observados durante a avaliação, a partir dela também é possível chegar a uma hipótese diagnóstica, com base nas informações obtidas. Portanto, é necessário que o psicopedagogo esteja atento aos detalhes e registre-os com precisão. A história de vida do sujeito em atendimento é interpelada através da anamnese, ou seja, procura-se obter o maior número possível de informações sobre a vida do mesmo, sempre documentando e analisando os dados (SAMPAIO, 2010, apud MOREIRA, 2015, p. 6). A entrevista engloba, desde os momentos da gestação e concepção, até os dias atuais. Trata-se de uma lembrança de dados importantes acerca da vida do indivíduo. Para Weiss (2007), a anamnese é um dos pontos categóricos de uma boa avaliação psicopedagógica. Através da entrevista, será possível verificar a percepção da família acerca da história da criança, da angústia do não aprender, as expectativas, anseios, afetos, conhecimentos e tudo que se espera do sujeito. 28 Considerada como um dos pontos principais de um bom diagnóstico, busca colher dados significativos sobre a história do sujeito na família, integrando passado, presente e com projeções para o futuro. Permite entender a inserção do mesmo na família. O trabalho da Anamnese se inicia com dados das primeiras aprendizagens, da história clínica, da história familiar do núcleo que o sujeito está inserido, nas histórias das famílias maternas e paternas e a influência dessas gerações passadas sobre a família nuclear. É necessário que todos estejam bem à vontade “[...] para que todos se sintam com liberdade de expor seus pensamentos e sentimentos sobre a criança para que possam compreender os pontos nevrálgicos ligados à aprendizagem.” (WEISS, 1992, apud UHLMANN 2018, p. 227). Anamnese permite a obtenção e análise de dados desde a concepção até a vida escolar atual do aluno, considerando que se trata de uma investigação profunda e detalhada. Leva em consideração como foi o processo gestacional, se a gravidez foi desejada ou não por ambos os pais assim como por toda a família, qual opção de parto, posteriormente analisar sobre as primeiras aprendizagens como usar mamadeira, copo, a colher, quando aprendeu a sentar, engatinhar, a andar, controlar seus esfíncteres, com objetivo de descobrir como a família possibilita e participa do desenvolvimento cognitivo da criança. Se os pais não permitem o descobrimento ou bloqueiam novas experiências da criança por si só evitando, por exemplo, comer sozinha para não se sujar, não tira a fralda para não urinar em casa, também não permitem que haja o processo de desenvolvimento do equilíbrio entre assimilação e acomodação, causando o processo chamado de hipoassimilação,onde os pais acabam retardando o desenvolvimento da criança. Por outro lado, existem pais que forçam as crianças a realizarem sozinhas atividades para as quais ainda não possuem maturidade em seu organismo, não estando portando a criança pronta para assimilar, é o chamado Hiperassimilação, que acaba acelerando negativamente o pensamento da criança, tornando as precoces. Dando continuidade ao processo investigatório, o psicopedagogo por meio da Anamnese também abordará a história clínica da criança, abordando as possíveis doenças, como foram diagnosticadas e tratadas, se resultaram em alguma consequência. É também de grande relevância saber a história escola do sujeito, desde quando começou a frequentar a escola, como foi o primeiro dia de aula, se existiram frustrações, entusiasmos, porque os pais escolheram aquela escola, se InfoWay Destacar 29 houve alguma troca de escola, quais são os aspectos positivos e negativos e as possíveis consequências para o processo de aprendizagem. As informações obtidas na Anamnese deverão ser registradas para levantar hipóteses que poderão justificar a defasagem do indivíduo, bem como auxiliar na seleção de outros instrumentos de diagnóstico. 13.2 Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem (EOCA) A Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem é um instrumento que auxilia no processo de avaliação psicopedagógica, ele foi idealizado por Jorge Visca, inspirado na psicologia social de Pichon-Rivière, nos postulados da psicanálise e no método clínico da escola de Genebra, é um instrumento de fácil uso e avalia, através de uma entrevista, a aprendizagem (BOSSA, 2007). Conforme Visca (1987), [...] o teste consiste em solicitar ao sujeito que mostre ao entrevistador, o que ele sabe fazer, o que lhe ensinaram a fazer e o que aprendeu a fazer, isso é chamado de consigna. Cada indivíduo tende a proceder de formas diferentes no momento em que houve a consigna. (VISCA, 1987, apud MOREIRA, 2015, p. 7). A avaliação do teste baseia-se em três pilares que fornecerão a formulação de hipóteses que devem ser verificadas em outro momento do diagnóstico, sendo eles: a temática, a dinâmica e o produto. A temática consiste em tudo aquilo que o sujeito diz. A dinâmica é tudo aquilo que o sujeito faz, por meio de gesticulação, sons, postura corporal, pela própria fala, tom da voz. Por fim, o produto, que é tudo aquilo que a criança deixa registrado no papel. Através da EOCA podemos observar qual a modalidade de aprendizagem da criança em questão, podendo ser esta hipoassimilativa, hiperassimilativa, hipoacomodativa, hiperacomodativa ou a assimilação e a acomodação podem estar em equilíbrio. Hipoassimilativa- A criança é muito tímida, fala pouco, não explora os objetos e costuma querer ficar em uma só atividade. Hiperassimilativa- Durante a atividade, a criança fala sobre diversos assuntos, faz perguntas, questionamentos, mas não costuma ouvir, pois ela já está formulando outra pergunta para o entrevistador. Ela pode prender-se aos detalhes e o não observar o todo. Hipoacomodativa- Demonstra dificuldade no estabelecimento de vínculos emocionais e cognitivos. Assim como a hipoassimilativa, a criança também não InfoWay Destacar InfoWay Destacar InfoWay Destacar InfoWay Destacar InfoWay Destacar InfoWay Destacar 30 explora muito os objetos e quer permanecer em apenas uma atividade. A criança pode ser confundida como um (a) menino (a) preguiçoso (a). Hiperacomodativa- A criança prefere copiar, tem dificuldade em criar, inventar. Aceita tudo, é muito obediente, submisso e com pouca autonomia. A partir da aplicação da entrevista, o psicopedagogo poderá formular suas hipóteses, conforme as observações que foram feitas e levando em consideração a temática, a dinâmica e o produto. Sendo assim, o profissional poderá chegar a algumas conclusões, como por exemplo, qual o nível cognitivo da criança, qual o nível de leitura, se a criança tem dificuldade em organização, se tem iniciativa, identificar a modalidade de aprendizagem, suspeitar de algum distúrbio, analisar a coordenação motora da criança, entre outras hipóteses que possam ter relevância. O que é relevante na EOCA é observar quais são os conhecimentos da pessoa que está sendo avaliadas, quais são suas habilidades, seus anseios, seus níveis de operatividade. É, a partir dessa entrevista, que o psicopedagogo poderá extrair suas hipóteses, o que futuramente irá contribuir para a intervenção. (VISCA, 1987, apud MOREIRA, 2015, p. 8). 13.3 Provas Operatórias de Piaget As provas operatórias auxiliam na avaliação psicopedagógica no sentido de que é possível conhecer o funcionamento e o desenvolvimento das funções lógicas do sujeito em atendimento, ainda é possível verificar o nível cognitivo em que a criança se encontra e se há a hipótese de atraso cognitivo em relação a sua idade cronológica. Segundo Visca (1987), as provas operatórias têm o intuito de determinar o nível de pensamento do sujeito. Weiss (2003) corrobora com a ideia de Visca (1987), quando afirma que: [...] as provas têm por objetivo definir o grau de alcance das noções essenciais do desenvolvimento cognitivo, podendo detectar o nível de pensamento adquirido pelo sujeito. (VISCA, 1987, apud MOREIRA, 2015, p. 8). É necessário que o psicopedagogo tenha em mente que, a aplicação de um pequeno número de provas de conservação, em uma mesma sessão, a elaboração cuidadosa das perguntas, evitando-se erros e consequente alteração no resultado das provas e a precaução para que não haja uma possível contaminação das respostas do sujeito, alternância das provas consiste no bom procedimento para a InfoWay Destacar InfoWay Destacar 31 aplicação do instrumento. De acordo com MOREIRA, 2015, as respostas do teste em questão são classificadas em três níveis: Nível 1: não há conservação, o sujeito não atinge o nível operatório nesse momento. Nível 2: as respostas apresentam oscilações ou não são completas. Em um momento conservam outro não. E, por fim, Nível 3: as respostas demonstram aquisição da noção, sem vacilação. 13.4 Teste de Desempenho Escolar O Teste de Desempenho Escolar (TDE) foi proposto por Lilian Milnitsky Stein, ele consiste em um instrumento psicométrico, que possibilita uma avaliação das capacidades fundamentais para o desempenho escolar, são elas: a escrita, a aritmética e a leitura (STEIN, 1994). O teste avalia escolares de 2º a 7º anos do Ensino Fundamental, podendo ser utilizado, com algumas exceções, pelos 8º e 9º anos. Conforme Stein (1994), o Teste de Desempenho Escolar é composto por três subtestes: escrita, aritmética e leitura. O subteste de escrita solicita que o avaliado escreva seu nome e outras palavras isoladas que são apresentadas a partir de um ditado. O subteste de aritmética solicita, primeiramente, a solução oral de problemas e, em seguida, a resolução de cálculos de operações matemáticas por escrito. E, a partir do subteste de leitura, a criança deverá ler as palavras isoladas solicitadas. Esse tem como objetivo avaliar o desempenho escolar, especificamente nas áreas da escrita, aritmética e leitura. O instrumento deve ser aplicado de forma individual. Segundo Stein (1994), para que o teste seja aplicado, é necessário que o psicopedagogo esteja familiarizado com as instruções para uma aplicação eficaz. O aplicador deverá explicar para a criança o que deve ser feito, instruí-la de como funciona o TDE. O levantamento de seus dados é feito registrando os itens respondidos de forma correta, cada item correto vale 1 (um) ponto. Cada subteste terá uma pontuação, a soma de todos os pontos subteste em questão é denominada Escore Bruto (EB). O somatório dos Escores Brutos dos três subtestes será o Escore Bruto Total (EBT). O teste conta com algumas tabelas para a classificação dos Escores Brutos por série escolar, ao todo são seis tabelas,uma para cada série. Cada tabela é composta por uma classificação baseada no Escore Bruto de cada subteste (escrita, InfoWay Destacar InfoWay Destacar InfoWay Destacar 32 leitura e aritmética). As classificações podem ser três: Superior, Médio e Inferior, apenas os escores brutos para o 2º ano foram classificados em quatro níveis (Superior, Médio Superior, Médio Inferior e Inferior), a fim de que não ficassem agrupados em intervalos muito grandes. 13.5 Atividades de Leitura, Escrita, Aritmética e Interpretação Textual As atividades de leitura, escrita, aritmética, coordenação motora, reconhecimento das letras, de coordenação motora, identificação das características da personalidade da criança e de interpretação textual, são extremamente importantes para o diagnóstico psicopedagógico, pois a criança se diverte por meio de brincadeiras, jogos, brinquedos, tarefas e ainda é possível investigar o nível de aprendizagem da criança em atendimento e detectar as principais dificuldades de aprendizagem. Os jogos e brincadeiras permitem que a criança tenha conhecimento sobre si mesmo e sobre o mundo, eles contribuem tanto para o desenvolvimento da criatividade e raciocínio, quanto para seu desenvolvimento cognitivo e emocional (PEDROZA, 2005, apud MOREIRA, 2015, p. 9). Brenelli (1996) corrobora com a ideia de Pedroza (2005), afirmando que o jogo consiste em uma atividade que tem enormes contribuições para a educação de crianças, pois possibilita o desenvolvimento cognitivo, afetivo, social, motor e ainda contribui para aprendizagem. Em seguida, serão abordadas algumas definições e informações sobre a Deficiência Intelectual, que possibilitará um conhecimento prévio a cerca da deficiência e seus comprometimentos. 14 A IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICO Ao se colocar diante de um sujeito e sua família, de primeiro momento já há uma implicação do psicopedagogo em se situar nas possibilidades de escuta da história de vida que irá se apresentar a partir daí para além de uma simples queixa. Receber alguém que pede esclarecimentos em relação a determinadas questões e dúvidas que envolvem o aprendizado, requer, antes de tudo, respeito e comprometimento com o que está por vir. 33 Assim se dá o começo de uma avaliação psicopedagógica: de maneira apurada e investigativa, a escuta analítica é primordial para se promover um encontro da fala da família e do sujeito, com o saber do profissional que o escuta. (GERMANO, 2018). Trata-se de uma investigação que consiste na compreensão, de ordem global, com base em Weiss (2008), na forma de aprender e dos desvios que estão ocorrendo nesse processo. É a organização de dados em relação a vida biológica, intrapsíquica e social de forma única e pessoal. Após o acolhimento com a família, existe a necessidade de apurar as formulações de hipóteses através de encontros com o sujeito, sendo possível utilizar alguns instrumentos tais como: Entrevista Familiar Exploratória Situacional (EFES), Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem (EOCA) elaborada por Visca, Sessões Lúdicas (criadas por Weiss), provas e testes diversos, Diagnóstico Operatório (autoria de Piaget), bem como entrevistas com a equipe da escola e com outros profissionais, análise de produção do sujeito em questão como, por exemplo, o material escolar, desenhos, construções e o que for necessário. (GERMANO, 2018). A Anamnese com a família se faz essencial por apresentar a visão familiar da história de vida do sujeito em relação a preconceitos, normas, culturas, expectativas, circulação de afetos e conhecimentos, além do peso das gerações anteriores que às vezes é depositado no sujeito (Weiss, 2008). Vale lembrar que, o diagnóstico psicopedagógico é um processo, um contínuo que sempre poderá ser revisado, onde a intervenção do psicopedagogo inicia numa atitude investigadora, até a intervenção. É preciso observar que essa atitude investigadora, de fato, prossegue durante todo o trabalho, na própria intervenção, com o objetivo de observação ou acompanhamento da evolução do sujeito (BOSSA, 2000, p.95). Mesmo diante da importância de alguns instrumentos de intervenção avaliativa no diagnóstico psicopedagógico, é essencial destacar, segundo Weiss (2008), que o sucesso do diagnóstico não está no grande número de instrumentos utilizados, mas, principalmente, na competência e sensibilidade do psicopedagogo em explorar a multiplicidade de aspectos revelados em cada situação. InfoWay Destacar 34 Como consequência, a elaboração da devolutiva, tanto para o sujeito como para a família, exige um momento que deve ser considerado desde a queixa inicial, assim como todo o trabalho desenvolvido, detalhadamente, em cada sessão, as entrevistas investigativas (família, escola, profissionais e o próprio sujeito), seguido de orientações e devidos encaminhamentos. Todos os aspectos apresentados devem ser necessariamente sustentados pelo bom senso e propriedade do psicopedagogo em construir com o sujeito e família questões relacionadas com a queixa inicial, assim como também de destacar as potencialidades e as necessidades que fazem parte também do contexto de aprendizado do sujeito como um todo, no sentido de prosseguir com condutas e estratégias que realmente signifiquem o sujeito e suas particularidades em aprender. (GERMANO, 2018). 14.1 Entrevista de Queixa A queixa escolar poderá ser recebida pela direção, orientação e professores, onde teremos a primeira visão do sintoma apresentado pela escola. É importante estar atento de como os profissionais envolvidos com a criança encaram esta dificuldade de aprendizagem e o que esperam desta avaliação. Num segundo momento, é necessário ouvir a queixa do próprio sujeito, para poder perceber se tem consciência da sua dificuldade e o que espera da possível proposta de intervenção. Passando, assim, para a entrevista com os pais ou responsáveis, que poderá ser bem detalhado através da anamnese, onde serão observadas as reações comportamentais dos demais. 14.2 Técnicas Projetivas Psicopedagógicas A área emocional avalia o lado afetivo frente à aprendizagem nos âmbitos: escolar, familiar e consigo mesmo. Dão informações sobre o aspecto emocional e relacional. As técnicas projetivas Psicopedagógicas buscam entender o vínculo que o sujeito estabelece com a realidade e com a própria aprendizagem. Investiga-se a rede de vínculos em três domínios: escolar, familiar e consigo mesmo. 35 O uso de provas e testes não é indispensável em um diagnóstico psicopedagógico, porém representa um recurso a mais a ser utilizado quando avaliado necessário na especificação do nível pedagógico, estrutura cognitiva e ou emocional do sujeito. Provas operatórias, testes psicométricos e técnicas projetivas poderão ser relacionados de acordo com a necessidade de confirmação de aspectos levantados aos longos das sessões anteriores (E.F.E.S, Anamnese, Sessões Lúdicas centradas na Aprendizagem, etc.). Existem diversos tipos de testes e provas para serem atrelados a um diagnóstico, como as provas de inteligência (WISC é o mais conhecido, porém de aplicação exclusiva por psicólogos), avaliação perceptomotora (Teste de Bender, cujo objetivo é avaliar o grau de maturidade viso motora do sujeito, também só podendo ser aplicado por psicólogos); testes projetivos (CAT, TAT, desenho da família, desenho da figura humana, também de uso apenas para psicólogos). Os psicopedagogos devem ser criativos e desenvolver atividades que atendam a mesma propositura dos testes apenas administrados por psicólogos, ou trabalhar em conjuntos com uma equipe multidisciplinar objetivando levantar todos os aspectos que envolvem a hipótese do diagnostico inicial lembrando sempre que a psicopedagogia não é um ramo da medicina, mas sim da educação acoplado com a saúde. Dessa forma prioriza-seo conhecimento sobre o qual o processo que se dá a aprendizagem. Lembrando também que algo padronizado não vai servir para todos os “aprendentes”, os testes são apenas umas das alternativas de uso. “[...]as provas operatórias têm como objetivo principal determinar o grau de aquisição de algumas noções chave do desenvolvimento cognitivo, detectado o nível de pensamento alcançado pela criança, ou seja, o nível de estrutura cognitiva que opera”. (WEISS 2012, apud UHLMANN 2018, p. 229). Os psicopedagogos podem aplicar diretamente os testes de TDE (que busca oferecer de forma objetiva a avaliação das capacidades fundamentais para o desempenho escolar, mais especificamente da escrita, aritmética e leitura); Teste ABC (para verificar nas crianças de escola primária o nível de maturidade requerido para a aprendizagem da leitura e da escrita); Provas de nível de pensamento (Piaget, como alvo principal crianças na fase escolar, com objetivos de investigar e avaliar o nível cognitivo da criança e constatar se realmente corresponde a sua 36 idade cronológica ou se existe alguma defasagem), testes psicomotores e jogos psicopedagógicos. 15 ENTREVISTA DE DEVOLUÇÃO E ENCAMINHAMENTO É o momento em que o psicopedagogo irá relatar o motivo da avaliação (encaminhamento), período e número de sessões, instrumentos utilizados, descritivo das dimensões do sujeito, síntese dos resultados que concluiu, articulando as queixas, os sintomas, os obstáculos e as possíveis causas bem como o prognóstico, ou seja, as indicações. É perfeitamente normal que esse momento seja norteado por muita ansiedade dos envolvidos, ou seja, o psicopedagogo, o paciente e os pais e que deve ser bem conduzida para que haja efetiva participação de todos na eliminação das dúvidas, não se deve ater somente a apresentação das conclusões, é necessário sensibilizar os pais para que tomem todas as rédeas e assumam o problema em todas as suas dimensões, procurando afastar rótulos e fantasmas. 16 A PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL EM COLABORAÇÃO À GESTÃO EDUCACIONAL Fonte: professorreflexivo.com.br A importância da Psicopedagogia Institucional consolida-se no momento em que o profissional dessa área consegue olhar e escutar com a devida atenção um 37 grupo de pessoas que faça parte de uma instituição/escola. Dessa forma, por meio da avaliação Psicopedagógica Institucional, é possível compreender quais as necessidades desse grupo, qual a melhor forma para que ele aprenda e se desenvolva de forma ampla. O trabalho psicopedagógico institucional é realizado com base na análise das redes de relações que se estabelecem em instituições que atuam, direta ou indiretamente, em processos de ensino e aprendizagem. Logo, seu objeto de estudo é a instituição, seja ela uma escola, um hospital ou uma empresa, onde pessoas se relacionam, ensinam e aprendem. (GRASSI, 2009, apud TEIXEIRA, 2015, p. 3). Pode-se compreender a amplitude de abordagem dessa área que não se detém apenas ao ambiente escolar. Além disso, firma-se que a psicopedagogia no espaço institucional tem um papel importante no auxílio nas relações de ensino e aprendizagem. Essa relação é influenciada por todos que a constituem, sejam alunos, professores, comunidade escolar em geral, assim como as metodologias utilizadas. Portanto, é preciso compreender essas diferenças e aproveitar de cada um aquilo que melhor pode contribuir para um processo de ensino e aprendizagem que busque minimizar ou até superar as dificuldades identificadas no contexto da instituição. Dessa forma, o psicopedagogo, em uma ação institucional, dedica atenção ao grupo e pode atuar de forma preventiva. Isso possibilita a abordagem de diferentes projetos, a compreensão da cultura dessa instituição e a forma como o grupo interage entre si. A psicopedagogia institucional se propõe, portanto, a estar atenta às inúmeras possibilidades de construção do conhecimento e valorizar o imenso universo de informações que nos circunda. Para isso, em sua atuação o psicopedagogo institucional, busca contribuir de forma com que a instituição melhore no processo de ensino, e que isso aconteça por meio de trabalhos envolvendo aprendizagens cooperativas, do estreitamento da relação com a comunidade escolar, da promoção de momentos de formação para seus professores, entre outros. É muito importante o diálogo no processo de avaliação institucional quando o psicopedagogo se insere na atuação na escola. “O psicopedagogo desenvolve seu trabalho orientando os elementos que compõem essa instituição, pontuando o que precisa ser feito e, às vezes, 38 como deve ser feito, sendo o diálogo fundamental nesse processo”. (GRASSI, 2015, apud TEIXEIRA, 2015, p. 35107). Além disso, é essencial, no processo de avaliação, observar a instituição como um todo, como acontece o seu funcionamento, como o processo de ensino e de aprendizagem é direcionado e como as relações entre o grupo constituem-se e estabelecem-se. O olhar para a rede de relações e de ações, que estão presentes na instituição, acarreta também a percepção e a compreensão de fatores de ordem social, política e econômica que se refletem no ambiente escolar. É na interação com seu meio social que o indivíduo se constitui, e um desses meios é a escola. É nela que o aluno tem espaço para se transformar e influenciar a transformação dos outros. Logo, nessa troca mútua, com influências diversas advindas de todas as realidades que circundam o espaço escolar, é que se torna possível perceber os avanços e também as dificuldades e os fracassos. A dificuldade de aprendizagem é um sintoma que se destaca na escola, mas pode emergir de uma situação social, familiar, entre outras. “[...] a dificuldade de aprendizagem pode, portanto, caracterizar-se como um sintoma que emerge em uma situação familiar, configurando-se a partir do não-cumprimento das funções sociais por parte de determinado sujeito, [...]”. (Oliveira, 2009, apud TEIXEIRA, 2015, p. 4). Todas essas convergências de influências que cercam a vivência tanto de alunos quanto de professores refletem-se na atuação pedagógica, na Gestão Educacional e na intervenção Psicopedagógica Institucional. Por isso é preciso estar sempre atento à realidade que circunda a instituição e aos comportamentos e às ações dos indivíduos que dela fazem parte. Ao realizar a atuação psicopedagógica, o psicopedagogo institucional vai analisar o sintoma referido na queixa prestada e, diante disso, o que isso afeta no funcionamento da instituição e no processo de ensino e aprendizagem. Depois de realizado todo o processo de avaliação, o psicopedagogo institucional irá chegar a um diagnóstico da realidade estudada. [...] o diagnóstico é muito mais do que uma coleta de dados, sobre a qual se organiza um raciocínio. Ele é um momento de transição, como um passaporte para a intervenção posterior. Usa de aproximação sucessiva para entrar em contato com seu objeto de estudo. [...] (Oliveira, 2009, apud TEIXEIRA, 2015, p. 5). 39 Essa troca é uma dinâmica de relações e que assim deve ser entendido. Além disso, para entender o processo de ensinar e aprender, é preciso ter uma compreensão das causas do sintoma apresentado, como também é preciso um olhar psicopedagógico direcionado ao fenômeno. Para compreender as causas do sintoma apresentado, é importante que se conheça a realidade vivenciada, com a finalidade de melhor direcionar a ação psicopedagógica. Ao propor uma intervenção, o psicopedagogo precisa refletir sobre as necessidades da escola para que sua atuação venha a contribuir para a solução dessas demandas. Então, é preciso influenciar a reflexão crítica sobre a atuação no ambiente escolar e o processo de ensino e aprendizagem perpassando por todas as instâncias da instituição. A intervenção do psicopedagogo tem como objetivo potencializar ao máximo a capacidadede ensinar dos profissionais que a integram e a capacidade de aprender dos alunos, supondo que há um complexo emaranhado em que aspectos estruturais e organizacionais e as configurações relacionais intra e extra instituições interagem constantemente. Portanto, a intervenção psicopedagógica visa a possibilitar a transformação tanto da instituição como dos próprios sujeitos, compreendendo a dinâmica estabelecida entre as partes e buscando a melhor forma de operacionalizá-las. Assim, acontecerá um trabalho colaborativo entre a psicopedagogia e a gestão educacional, possibilitando uma transformação de forma mais abrangente, com a reflexão não apenas no ambiente escolar, mas também que se estenda para a comunidade escolar. É necessário que a atuação do psicopedagogo esteja de acordo e leve em consideração a proposta apresentada no Projeto Político Pedagógico da instituição, pois esse documento é o que define o perfil da escola e de suas ações. Com isso, tendo conhecimento do que embasam as ações dessa instituição, o psicopedagogo institucional pode agir em colaboração a Gestão Educacional. [...] gestão educacional corresponde ao processo de gerir a dinâmica do sistema de ensino como um todo e de coordenação das escolas em específico, afinando com as diretrizes e políticas educacionais públicas, para a implementação das políticas educacionais e projetos pedagógicos das escolas compromissados com os princípios da democracia e com métodos que organizem e criem condições para um ambiente educacional autônomo [...] de participação e compartilhamento [...], autocontrole [...] e transparência (LÜCK, 2006, apud TEIXEIRA, 2015, p. 6). 40 Pensar, pois, um processo educacional e a ação das escolas significa definir um projeto de cidadania e atribuir uma finalidade à escola que seja congruente com aquele projeto. Nesse viés torna-se evidente a necessidade de articulação entre gestão e comunidade escolar. A gestão democratizada da escola autônoma consiste na mediação das relações intersubjetivas, compreendendo, antes e acima das rotinas administrativas: identificação de necessidades; negociação de propósitos; definição clara de objetivos e estratégias de ação; linhas de compromissos; coordenação e acompanhamento de decisões pactuadas; mediação de conflitos, com ações voltadas para a transformação social (BORDIGNON, 2011, apud TEIXEIRA, 2015, p. 6). Nesse sentido, conhecer e ter uma relação próxima entre comunidade escolar e a escola é imprescindível. Além disso, torna possível que todos trabalhem em prol da educação. Participando da rotina escolar, o psicopedagogo interage com a comunidade escolar, participando das reuniões de pais - esclarecendo o desenvolvimento dos filhos; dos conselhos de classe - avaliando o processo didático metodológico; acompanhando a relação professor-aluno - sugerindo atividades ou oferecendo apoio emocional e, finalmente acompanhando o desenvolvimento do educando e do educador no complexo processo de aprendizagem que estão compartilhando. Essa ideia vem a corroborar com a educação, entendida como emancipação humana, precisa levar em conta a condição de sujeito tanto de educandos quanto de educadores. A partir disso, é importante que sejam feitos esforços para compreender ambas as partes e as necessidades específicas identificadas. Para se ter um processo de ensino e aprendizagem estimulador para alunos e professores, é necessário compreender o que os alunos precisam para aprender e o que os professores precisam para ensinar. Além disso, é preciso que se tenham professores preparados por meio de processos formativos e que procurem proporcionar aos seus alunos experiências educacionais que estimulem o processo de aprendizagem tornam a prática enriquecedora. A respeito da atuação do psicopedagogo na instituição promovendo formações e orientações, pode-se dizer que: o psicopedagogo pode desempenhar uma prática docente, envolvendo a preparação de profissionais da educação, ou atuar dentro da própria escola. Cabe também ao profissional detectar possíveis perturbações no processo de aprendizagem; participar da dinâmica das relações da 41 comunidade educativa a fim de favorecer o processo de integração e troca; promover orientações metodológicas de acordo com as características dos indivíduos e grupos; realizar processo de orientação educacional, vocacional e ocupacional, tanto na forma individual quanto em grupo. Os fatores envolvidos na educação são articulados pela gestão, a qual deve buscar o caminho para planejar e agir com a participação de todos os sujeitos envolvidos. As ações articuladas - e com colaboração de diferentes áreas - precisam ter: A compreensão da visão, missão, valores e princípios assumidos pela escola, assim como dos seus objetivos e metas, constitui-se em condição para o estabelecimento da unidade entre as diferentes ações educacionais, de modo a dar o sentido de continuidade entre elas e obter resultados mais amplos e consistentes. (LÜCK, 2006, apud TEIXEIRA, 2015, p. 7). Assim, contar com a colaboração de um psicopedagogo institucional contribui para que as decisões e a prática a ser realizada tenham uma estratégia bem elaborada. Isso porque será composta tanto pela visão da gestão quanto da psicopedagogia, oportunizando, dessa maneira, que os reflexos obtidos sejam positivos e duradouros. Isso pode ser uma forma de caracterizar a dimensão social que essas ações em conjunto, tanto da psicopedagogia como da gestão educacional, podem atingir promovendo mudanças no espaço escolar e na forma como os sujeitos envolvidos nesse processo relacionam-se entre si e com a própria educação. A questão da gestão educacional e a dimensão política e social que a permeia diz o seguinte: é importante notar que a ideia de gestão educacional, correspondendo a uma mudança de paradigma, desenvolve-se associada a outras ideias globalizantes e dinâmicas em educação, como, por exemplo, o destaque a sua dimensão política e social, ação para a transformação, participação, práxis, cidadania, autonomia, pedagogia interdisciplinar, avaliação qualitativa, organização do ensino em ciclos, etc., de influência sobre todas as ações e aspectos da educação, inclusive as questões operativas, que ganham novas conotações a partir delas. A respeito da gestão educacional, ela abrange tanto a gestão dos sistemas de ensino quanto a gestão escolar. Além disso, a gestão educacional tem como foco a interação social, o que é importante para que se efetive uma gestão democrática e participativa, com a colaboração da comunidade escolar. 42 Em termos organizacionais, os mecanismos autoritários de mando e submissão devem dar lugar a processos e dispositivos que favoreçam a convivência democrática e a participação de todos nas tomadas de decisão. Nesse sentido é que devem ser implementados os conselhos escolares, os grêmios estudantis e outras formas que favoreçam a maior participação de todos os usuários e o relacionamento mais humano e mais democrático de todos os envolvidos nas atividades escolares. (PARO, 2008, apud TEIXEIRA, 2015, p. 8). Dessa forma, para que aconteça uma transformação do processo educacional, é preciso que seus participantes sejam conscientes de sua responsabilidade por seus desenvolvimento e resultado. O processo educacional só se transforma e se torna mais competente na medida em que seus participantes tenham consciência de que são corresponsáveis pelo seu desenvolvimento e seus resultados. A realidade educacional é dinâmica e complexa; por isso, faz-se necessário valorizar a realidade local e as vivências dos alunos como uma forma de aproximação que possibilita a compreensão desse meio. Também, enfatiza-se que com a colaboração de todos os envolvidos no processo educacional é possível melhor atender as ações necessárias. Cada vez mais se faz necessário inserir o psicopedagogo
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