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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM O MINISTÉRIO PÚBLICO EM AÇÃO Modulo de Direito Penal e Processo Penal Thaís de Oliveira Mocinho Matrícula: 19541 Teoria do Crime e seus Elementos Professores: Claudia Portocarrero e Antônio José Campos Moreira Rio de Janeiro 2023 1. INTRODUÇÃO A teoria do crime é um conjunto de conceitos e princípios utilizados para determinar a existência de um crime e responsabilizar seus autores. É uma área fundamental do direito penal, que busca definir as bases para o julgamento de indivíduos acusados de delitos. Existem diversas teorias que buscam explicar o conceito de crime, e cada uma delas possui suas particularidades. No entanto, algumas ideias básicas são comuns a todas elas. Uma dessas ideias é a de que o crime é um fato socialmente danoso, ou seja, que causa prejuízo à sociedade como um todo. Outra ideia central da teoria do crime é a de que a responsabilidade pelo delito deve ser atribuída somente ao autor do fato, e não a outras pessoas ou circunstâncias. Isso significa que, para que um indivíduo seja condenado por um crime, é necessário que ele tenha agido voluntariamente e conscientemente, com a intenção de cometer o delito. Uma das principais teorias da culpabilidade é a teoria da imputação objetiva. Essa teoria argumenta que a culpabilidade não deve ser baseada apenas na intenção do autor do crime, mas também no resultado do ato praticado. Assim, para que um indivíduo seja considerado culpado, é necessário que seu comportamento tenha causado um resultado proibido. Outra teoria importante é a teoria do tipo objetivo. Segundo essa teoria, a descrição legal do crime é fundamental para a determinação da existência de um delito. Isso significa que, para que um indivíduo seja condenado por um crime, é necessário que seu comportamento tenha se encaixado exatamente na descrição legal do delito. Além disso, a teoria do crime também engloba conceitos como a tipicidade, a ilicitude e a culpabilidade. A tipicidade refere-se à adequação do comportamento do agente à descrição legal do delito. Já a ilicitude é a contrariedade do ato praticado ao ordenamento jurídico. Por fim, a culpabilidade refere-se à capacidade do agente de compreender a ilicitude de sua conduta e de agir de forma diferente. É importante ressaltar que a teoria do crime está em constante evolução, e novos conceitos e ideias estão sendo incorporados a ela a todo momento. No entanto, os princípios básicos que norteiam essa teoria permanecem os mesmos, e continuam sendo fundamentais para o direito penal e para a justiça como um todo. Por fim, é importante destacar que a teoria do crime não se limita a esses elementos, mas também considera outros aspectos fundamentais, como a imputabilidade, a lesividade, a punibilidade e a prescrição. A imputabilidade, por exemplo, diz respeito à capacidade do agente de entender a ilicitude de sua conduta. Já a lesividade está relacionada ao dano causado pela conduta criminosa, enquanto a punibilidade diz respeito à possibilidade de aplicação de uma pena ao agente que cometeu o crime. A prescrição, por fim, estipula o prazo máximo para que ocorra a aplicação da pena ao agente criminoso. Em síntese, a teoria do crime é um conjunto de conceitos e princípios utilizados para determinar a existência de um delito e responsabilizar seus autores. Essa teoria engloba ideias como a tipicidade, a ilicitude e a culpabilidade, e busca estabelecer as bases para o julgamento de indivíduos acusados de crimes. 2. A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA TEORIA GERAL DO CRIME A teoria geral do crime, como é entendida hoje em dia, é um produto da evolução do pensamento jurídico e filosófico ao longo da história. A teoria geral do crime se desenvolveu gradualmente ao longo do tempo, sendo influenciada por uma variedade de fatores, incluindo as mudanças nas concepções de justiça, as transformações sociais e econômicas, as mudanças políticas e as descobertas científicas. A origem da teoria geral do crime pode ser rastreada até as civilizações antigas, como a Grécia e Roma. Na Grécia antiga, por exemplo, a ideia de justiça estava ligada à ideia de harmonia entre o indivíduo e a sociedade. Na época romana, as leis eram baseadas no princípio de que o indivíduo devia se submeter à autoridade do Estado. Nesse contexto, o crime era visto como uma violação das leis do Estado e a punição era considerada uma forma de restaurar a ordem social. Durante a Idade Média, a teoria do crime foi influenciada pelas concepções cristãs de justiça e pecado. Nesse período, a justiça era vista como uma forma de expiação pelo pecado e a punição era concebida como uma forma de redenção. No entanto, a partir do século XVIII, com o Iluminismo, a teoria do crime começou a ser influenciada por ideias mais racionais e científicas. Nesse período, surgiram as primeiras tentativas de se desenvolver uma teoria geral do crime baseada em critérios objetivos, como a intenção do autor e a gravidade do dano causado. Com o desenvolvimento da criminologia e da psicologia criminal no século XIX, a teoria do crime passou a levar em consideração fatores como o ambiente social, as condições psicológicas do autor e as causas sociais e econômicas que levavam ao crime. Além disso, a teoria do delito também foi influenciada pelo surgimento de novas tecnologias forenses, como a impressão digital e a análise de DNA, que permitiram uma melhor investigação dos crimes. No século XX, a teoria do delito foi influenciada pelas mudanças políticas e sociais que ocorreram em todo o mundo. Durante a Guerra Fria, por exemplo, a teoria do crime foi influenciada pelas ideias do pensamento marxista, que concebia o crime como resultado das contradições sociais e econômicas. Nos anos 60 e 70, surgiram novas correntes teóricas, como o movimento crítico do direito, que criticava as formas tradicionais de se conceber o delito e a justiça penal. Atualmente, a teoria geral do crime é caracterizada pela sua pluralidade de enfoques e perspectivas. Há correntes teóricas que enfatizam a importância da intenção do autor e do dano causado, enquanto outras privilegiam fatores como o ambiente social, a pobreza e a marginalização. Além disso, a teoria do crime também é influenciada pelas mudanças políticas. 3. DEFINIÇÃO DO CRIME O conceito de crime pode ser abordado de diversas formas, incluindo as perspectivas formal, material e analítica. Essas três abordagens são frequentemente utilizadas no estudo do Direito Penal e fornecem diferentes enfoques para compreender o que é considerado um crime. O conceito formal de crime está relacionado à ideia de que um ato só pode ser considerado criminoso se estiver descrito de forma clara e precisa em uma lei penal. Ou seja, para que uma conduta seja considerada crime, é necessário que exista uma lei que a defina como tal. Dessa forma, o conceito formal de crime está focado na análise da norma penal e na sua aplicação prática. Por sua vez, o conceito material de crime está relacionado à ideia de que um ato só pode ser considerado criminoso se tiver causado um dano ou prejuízo a algum bem jurídico protegido pelo ordenamento jurídico. Nesse sentido, o conceito material de crime está focado na análise dos efeitos que a conduta produziu no mundo real. Finalmente, o conceito analítico de crime se concentra em três elementos fundamentais: a conduta, a tipicidade e a ilicitude. De acordo com essa abordagem, para que uma conduta seja considerada crime, é necessário que ela preencha todos esses três elementos. A conduta deve ser uma ação ou omissão voluntária do agente, ela deve ser descrita como crime na lei (tipicidade) e ela não pode ser justificada ou permitida pelo ordenamento jurídico (ilicitude). Esses três conceitos, formal, material e analítico, são importantes para o estudo do DireitoPenal, pois fornecem diferentes enfoques para a compreensão do que é considerado um crime e como ele é avaliado pelo sistema jurídico. 3.1. Conceito do Crime adotado pelo Ordenamento Jurídico Brasileiro O ordenamento jurídico brasileiro adota a definição de crime como sendo uma conduta humana que é descrita como tal na lei penal, e que é considerada ilícita e passível de punição pelo Estado. Essa definição está prevista no artigo 1º do Código Penal Brasileiro, que estabelece que "Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal". O Código Penal Brasileiro ainda define o crime como uma conduta que é contrária ao ordenamento jurídico, e que atenta contra os bens jurídicos tutelados pelo Estado, como a vida, a liberdade, a propriedade, a integridade física e moral, a dignidade da pessoa humana, entre outros. Além disso, o Código Penal Brasileiro estabelece que para que uma conduta seja considerada criminosa, é necessário que estejam presentes os seguintes elementos: tipicidade, ilicitude e culpabilidade. A tipicidade diz respeito à adequação da conduta ao tipo penal descrito na lei, ou seja, é preciso que a conduta esteja prevista como criminosa em lei. A ilicitude, por sua vez, diz respeito à contrariedade da conduta aos valores jurídicos protegidos pelo ordenamento jurídico. Por fim, a culpabilidade exige que o agente tenha consciência da ilicitude de sua conduta e que possua capacidade para agir de forma diferente. Dessa forma, a definição adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro do crime está em consonância com os princípios do Estado Democrático de Direito, que exige a observância das normas legais e a proteção dos bens jurídicos fundamentais da sociedade. 4. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO CRIME Para que uma conduta seja considerada um crime, é necessário que ela preencha os elementos constitutivos do crime, como visto anteriormente que são a tipicidade, a antijuridicidade e a culpabilidade. 4.1. Tipicidade Fato típico é um termo utilizado no direito para descrever uma conduta humana que é considerada crime ou contravenção penal. Ele é definido como a descrição de uma ação ou omissão que, de acordo com a lei, é proibida e sancionada com pena privativa de liberdade, multa ou outra sanção prevista na legislação. Os fatos típicos são descritos na legislação penal e são usados pelos tribunais para determinar se uma pessoa cometeu um crime ou não. Porque como Eles são divididos em elementos objetivos e subjetivos. Os elementos objetivos são aqueles que descrevem a ação ou omissão em si, como, por exemplo, "matar alguém". Existe uma subdivisão em descritivos e normativos. O tipo objetivo descritivo é a descrição abstrata e genérica da conduta criminosa prevista em lei, ou seja, é a definição legal do comportamento que é considerado criminoso. Ele é formado por um conjunto de elementos que descrevem a conduta proibida pela lei, como ação ou omissão, resultado, objeto material, elementos subjetivos, entre outros. Assim, para que uma conduta seja considerada criminosa, é necessário que ela se enquadre no tipo objetivo descritivo previsto em lei. Se a conduta do agente não estiver prevista no tipo penal, não há crime. Por exemplo, se uma lei define como crime o homicídio, é necessário que a conduta do agente se enquadre na descrição abstrata do tipo penal de homicídio para que seja considerada criminosa. O tipo objetivo descritivo, portanto, é essencial para a segurança jurídica, pois permite que os cidadãos saibam com clareza quais condutas são proibidas e puníveis pela lei. Além disso, é importante para a aplicação justa da lei, pois evita que a conduta do agente seja interpretada de maneira arbitrária ou subjetiva. O tipo objetivo normativo é um conceito utilizado no âmbito do direito penal para descrever a forma como uma conduta criminosa é definida pela lei, levando em consideração não apenas a descrição abstrata da conduta, mas também o contexto social, político e cultural em que ela ocorre. Diferentemente do tipo objetivo descritivo, que se limita a descrever a conduta criminosa de forma abstrata e genérica, o tipo objetivo normativo leva em consideração o contexto social em que a conduta ocorre. Isso significa que o tipo penal não se limita a descrever a conduta, mas também define a conduta como proibida, considerando os valores e normas da sociedade em que a lei é aplicada. Assim, enquanto o tipo objetivo descritivo se concentra na descrição da conduta, o tipo objetivo normativo se concentra na justificativa para a criminalização da conduta. O tipo objetivo normativo, portanto, é essencial para a compreensão da finalidade da lei penal, que não é apenas punir condutas consideradas ofensivas, mas também proteger valores e normas fundamentais para a convivência social. Vale ressaltar que, embora o tipo objetivo normativo leve em consideração o contexto social em que a conduta ocorre, ele não pode ser usado para criminalizar condutas que não estejam previstas na lei. A conduta do agente ainda precisa se enquadrar no tipo penal descrito na lei, levando em consideração tanto o aspecto objetivo quanto o normativo. Nas palavras de Roxin, “um elemento é ‘descritivo’ quando se pode perceber sensorialmente, vale dizer, ver e tocar o objeto que designa. Neste sentido, o conceito de ‘ser humano’, ao qual se referem os tipos de homicídio, é um elemento descritivo. Pelo contrário, fala-se de um elemento ‘normativo’ quando somente existe no âmbito das representações valorativas e, por isso, somente pode ser compreendido espiritualmente. Assim ocorre com o conceito de alheio em meu segundo exemplo inicial [furto]. O fato de uma coisa ser propriedade de alguém não se pode ver, se não apenas entender-se espiritualmente conhecendo os contextos jurídicos” (La teoría del delito en la discusión actual, p. 197);1 Diferentemente do tipo objetivo, que se refere à descrição abstrata e genérica da conduta proibida pela lei, o tipo subjetivo se refere à intenção, ao dolo ou à culpa do agente na prática do ato. O tipo subjetivo é composto pelo dolo e pela culpa, que são duas espécies de elementos subjetivos. O dolo se refere à intenção do agente de praticar a conduta criminosa, ou seja, à vontade consciente e deliberada de realizar o comportamento proibido pela lei. Já a culpa se refere à negligência, imprudência ou imperícia do agente na prática do ato, ou seja, à falta de cuidado ou atenção na conduta que acabou por produzir o resultado danoso. Para que haja crime, é necessário que a conduta do agente seja típica, ou seja, que esteja prevista na lei penal. Além disso, é necessário que a conduta seja antijurídica, ou seja, que seja contrária ao ordenamento jurídico. Por fim, é necessário que haja culpabilidade, ou seja, que o agente tenha agido com dolo ou culpa na prática do ato. Assim, o tipo subjetivo é essencial para a caracterização do crime, pois permite verificar a intenção do agente na prática do ato e a sua responsabilidade pelo resultado danoso. Sem a presença do tipo subjetivo, a caracterização do crime se limitaria apenas à descrição abstrata da conduta, sem levar em consideração a intenção ou a culpa do agente na sua prática. Já os elementos subjetivos se referem 1 NUCCI, Guilherme de Souza, Manual de Direito Penal, 12ª edição, editora Forense, 2016, página 181. ao estado mental do agente no momento da ação, como a intenção de matar (dolo) ou a culpa em relação ao resultado (culpa). Os fatos típicos podem variar de acordo com o país e a legislação local. Por exemplo, o fato típico de "porte de arma de fogo sem autorização" pode ser crime em alguns países, enquanto em outros pode ser permitido sob certas circunstâncias. Alguns exemplos de fatos típicos comuns incluem homicídio, roubo, furto, estelionato, tráfico de drogas, lesão corporal,entre outros. Cada um desses crimes tem seus próprios elementos objetivos e subjetivos, que devem ser provados pelo Ministério Público para que uma condenação seja proferida. Além disso, é importante destacar que a descrição dos fatos típicos deve ser precisa e detalhada o suficiente para que os juízes possam avaliar se uma conduta é ou não criminosa. Isso é importante porque a interpretação das leis penais pode variar de acordo com o caso, e a falta de clareza na descrição dos fatos típicos pode levar a erros judiciais. Por fim, é importante ressaltar que a existência de um fato típico não significa necessariamente que a pessoa seja culpada pelo crime. Para que haja uma condenação, é necessário que os elementos objetivos e subjetivos sejam comprovados além de qualquer dúvida razoável, o que é papel do Ministério Público durante o processo penal. 4.2 ANTIJURIDICIDADE (ILICITUDE) Antijuridicidade é um elemento constitutivo do crime que se refere à contrariedade da conduta do agente com o ordenamento jurídico. Em outras palavras, uma conduta é considerada antijurídica quando viola uma norma jurídica, seja ela uma lei, uma norma constitucional ou uma norma infraconstitucional. Para que haja crime, é necessário que a conduta do agente seja antijurídica, ou seja, que seja contrária ao ordenamento jurídico. A antijuridicidade pode ser afastada em algumas situações, como quando a conduta é praticada em legítima defesa, em estado de necessidade, em cumprimento de um dever legal ou em exercício regular de um direito. 4.2.2 Excludentes de Ilicitude As excludentes de ilicitude são situações em que uma conduta que, em princípio, seria considerada criminosa é justificada ou permitida pelo ordenamento jurídico e têm como objetivo afastar a ilicitude da conduta, ou seja, torná-la lícita e não punível. São previstas no Código Penal em seu artigo 23, que dispõe: Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato I - Em estado de necessidade II - Em legítima defesa III - Em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.2 A legítima defesa é uma das principais excludentes de ilicitude onde permite que uma pessoa se defenda usando meios necessários para repelir uma agressão injusta. Para que a legítima defesa seja configurada, é necessário que a pessoa atacada esteja em situação de perigo iminente e que a defesa seja proporcional ao ataque recebido. Além disso, a pessoa que se defende não pode ultrapassar os limites da necessidade e da moderação. O estado de necessidade permite que uma pessoa cometa um crime para evitar um mal maior. Por exemplo, um pai que furta comida para alimentar seus filhos famintos pode alegar estado de necessidade para se defender em um eventual processo penal. No entanto, para que essa excludente seja configurada, é necessário que o mal a ser evitado seja maior do que o mal causado pelo crime praticado. O estrito cumprimento do dever legal é outra excludente de ilicitude que permite que um agente público execute uma ordem legal mesmo que essa ordem resulte em danos a terceiros. Por exemplo, um policial que usa força excessiva para conter um criminoso em fuga pode alegar que estava agindo em estrito cumprimento do dever 2 Código Penal de 1940 legal. No entanto, essa excludente tem limites claros e não pode ser usada para justificar condutas ilegais ou desproporcionais. Por fim, o exercício regular de direito é outra excludente de ilicitude que permite que uma pessoa exerça um direito reconhecido pela lei, mesmo que isso resulte em danos a terceiros. Por exemplo, um médico que realiza uma cirurgia em um paciente e acaba causando lesões pode alegar que estava exercendo regularmente sua profissão. No entanto, essa excludente também tem limites e não pode ser usada para justificar condutas ilegais ou desproporcionais. Como exemplo temos o INQUÉRITO 3.133 ACRE, cuja o relator foi Ministro Luiz Fux EMENTA: INQUÉRITO. DENÚNCIA CONTRA DEPUTADA FEDERAL. COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA (ART. 102, I, ‘b’, CRFB). DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA (ART. 339 DO CP). DOLO DIRETO NÃO CONFIGURADO. EXERCÍCIO REGULAR DO DIREITO DE PETIÇÃO (ART. 5º, XXXIV, ‘a’, CRFB). CAUSA EXCLUDENTE DE ILICITUDE (ART. 23, III, CP). PRECEDENTES. DOUTRINA. PRETENSÃO PUNITIVA ESTATAL JULGADA IMPROCEDENTE.3 É importante destacar que a presença de uma excludente de ilicitude não significa que o agente ficará impune, já que ainda pode ser responsabilizado civilmente pelo dano causado, por exemplo. Além disso, a análise da presença de uma excludente de ilicitude em uma conduta deve ser feita caso a caso, levando em consideração as circunstâncias específicas de cada situação. Vale destacar que a antijuridicidade é um elemento distinto da tipicidade, que se refere à descrição abstrata e genérica da conduta criminosa na lei. Uma conduta pode ser típica, ou seja, estar prevista na lei penal, mas ainda assim ser considerada juridicamente justificada, como é o caso das situações citadas anteriormente. A análise da antijuridicidade da conduta é importante para a aplicação do direito penal, pois permite verificar se a conduta é ou não contrária às normas do ordenamento jurídico. Se a conduta for considerada antijurídica, o agente poderá ser 3 Inquérito 3.133, relator Ministro Luiz Fux, STF, 2014 responsabilizado criminalmente pelos seus atos, caso sejam preenchidos os demais requisitos do crime, como a presença do dolo ou da culpa. 4.3 CULPABILIDADE Culpabilidade se refere à capacidade de imputação de uma conduta criminosa a um agente. Ou seja, é a análise da possibilidade de responsabilizar alguém por uma ação criminosa. A culpabilidade está presente em todas as infrações penais e é analisada em conjunto com os outros elementos do crime, como a conduta e a tipicidade. Ela está relacionada à capacidade de entender a ilicitude do ato e de agir de acordo com esse entendimento. Assim, só pode ser culpado aquele que tiver a capacidade de entender a ilicitude do seu comportamento e de agir de forma contrária a ela. A culpabilidade, portanto, não é uma característica da conduta em si, mas sim do agente que a prática. É uma análise subjetiva que considera as condições psicológicas, intelectuais e morais do agente. Dessa forma, a culpabilidade é um elemento importante para a aplicação da pena, pois é a partir dela que se estabelece a medida da sanção a ser aplicada. No ordenamento jurídico brasileiro, a culpabilidade é analisada sob a ótica da teoria tripartite do crime. Assim, para que alguém possa ser considerado culpado de um crime, é necessário que estejam presentes os seguintes requisitos, imputabilidade: o agente deve ter capacidade de entender a ilicitude da sua conduta e de agir de acordo com esse entendimento, potencial consciência da ilicitude: o agente deve ter conhecimento da ilicitude do seu comportamento, exigibilidade de conduta diversa: o agente deve ter condições de agir de forma diversa, ou seja, deveria ter agido de outra forma para evitar a prática do crime. Assim é interessante abordar as principais excludentes de culpabilidade previstas na legislação brasileira e mencionar suas implicações e limitações. A inimputabilidade, aplica a pessoas que não têm capacidade mental para entender a ilicitude de seus atos ou para determinar-se de acordo com esse entendimento. Essa condição pode decorrer de uma doença mental ou de deficiência mental. A inimputabilidade exclui a culpabilidade do agente, tornando-o isento de pena, mas não o absolve do crime praticado. Nesse caso, o agente pode ser submetido a medidas de segurança, como internação em hospital psiquiátrico ou tratamento ambulatorial. A coação moral irresistível, ocorre quando o agente é compelido a praticar um crime por meio de grave ameaça ou violência. Nesse caso,a culpabilidade é excluída porque o agente não teve liberdade de escolha para agir de outra forma. No entanto, para que essa excludente seja configurada, é necessário que a ameaça seja tão grave e iminente que o agente não possa resistir ou evitar a prática do crime. A obediência hierárquica se aplica a agentes públicos que praticam atos ilegais por ordem de seus superiores hierárquicos. Nesse caso, a culpabilidade é excluída porque o agente agiu sob a autoridade e a responsabilidade de seu superior, não tendo autonomia para decidir se deveria ou não praticar o ato. No entanto, para que essa excludente seja configurada, é necessário que a ordem seja manifestamente ilegal e que o agente tenha atuado dentro dos limites da ordem recebida. A embriaguez completa fortuita ou acidental ocorre quando o agente, sem ter a intenção de se embriagar, ingere uma substância que o deixa em estado de embriaguez completa e, por isso, não tem a capacidade de entender o caráter ilícito do ato praticado. Nesse caso, a pessoa não pode ser considerada culpada pelo ato praticado, pois não tinha capacidade de discernimento para avaliar a ilicitude da conduta. Por fim, o erro de proibição se aplica quando o agente, por erro inevitável, acredita que sua conduta é lícita. Nesse caso, a culpabilidade é excluída porque o agente não teve consciência da ilicitude de seu ato. No entanto, para que essa excludente seja configurada, é necessário que o erro seja inevitável e que o agente tenha atuado de boa-fé. Caso um desses requisitos esteja ausente, não haverá culpabilidade e o agente não poderá ser responsabilizado criminalmente pela conduta. No entanto, é importante destacar que a ausência de culpabilidade não significa que o agente não possa ser responsabilizado civilmente pelo dano causado. 5. CONCLUSÃO A teoria do crime é uma das principais áreas do Direito Penal, responsável por estudar os elementos que compõem a figura típica do crime. Essa teoria é fundamental para a aplicação da lei penal, pois permite identificar quando uma conduta é considerada criminosa e, consequentemente, aplicar a sanção prevista na lei. Ao longo deste texto, foram apresentados os principais elementos do crime, que são a conduta, a tipicidade, a antijuridicidade e a culpabilidade. Cada um desses elementos possui características específicas e é fundamental para a caracterização da figura típica do crime. A conduta é o primeiro elemento a ser analisado na teoria do crime e se refere à ação ou omissão do agente. Para que uma conduta seja considerada criminosa, é preciso que ela esteja prevista na lei penal e seja praticada com dolo ou culpa. A tipicidade é o segundo elemento do crime e consiste na adequação da conduta do agente ao tipo penal descrito na lei. Ou seja, é a verificação se a conduta praticada pelo agente se enquadra nas características descritas na lei como crime. A antijuridicidade é o terceiro elemento do crime e se refere à contrariedade da conduta do agente ao ordenamento jurídico. Ou seja, é a verificação se a conduta do agente é contrária às normas jurídicas e se não existe nenhuma causa de justificação para a conduta. Assim pode se dizer que a culpabilidade é o último elemento do crime e se refere à capacidade do agente de compreender a ilicitude de sua conduta e de agir de acordo com esse conhecimento. Ou seja, é a verificação se o agente tinha consciência da ilicitude de sua conduta e se podia agir de forma diversa. A análise desses quatro elementos é fundamental para a caracterização da figura típica do crime. Se um deles estiver ausente, não haverá crime e, consequentemente, não será possível aplicar a sanção penal prevista na lei. Além dos elementos do crime, também foram apresentados ao longo deste texto os principais institutos que compõem a teoria do crime, como as excludentes de ilicitude e de culpabilidade, que permitem afastar a responsabilidade penal do agente em determinadas situações. Em conclusão, é importante ressaltar que a teoria do crime é uma área em constante evolução e que novas discussões e reflexões são constantemente propostas pelos estudiosos do Direito Penal. Por isso, é fundamental que os operadores do Direito estejam sempre atualizados e atentos às mudanças e novidades que surgem nessa área do Direito. 6. BIBLIOGRAFIA • NUCCI, Guilherme de Souza, Manual de Direito Penal, 12ª edição, editora Forense, 2016. • Greco, Rogério. Curso de Direito Penal: parte geral, volume I / Rogério Greco. – 19. ed. – Niterói, RJ: Impetus, 2017. • Gonçalves, Victor Eduardo Rios Livro Direito Penal. Parte Geral - Volume 7. Coleção Sinopses Jurídicas, 2020 • https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/ • Gueiros, Arthur e Japiassú, Carlos Eduardo Curso de Direito Penal - Parte Geral - Volume 1: Parte Geral - Arts. 1º a 120, Livraria Forense; 2ª edição, 2015 • https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/
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