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TEORIA DO CRIME UNID 4

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TEORIA DO CRIME
CULPABILIDADE
Thaís Camargo Rodrigues e Lais Ferraz Pessoa
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Olá!
Você está na unidade Culpabilidade. Conheça aqui a culpabilidade e todas as suas consequências. A
culpabilidade é uma medida do quão culpável é um crime e esta presente ou não no conceito de crime conforme
a corrente doutrinária adotada. Entenda, também, a evolução histórica dessas correntes doutrinárias, os
elementos dessa figura jurídica penal e as causas de exclusão da culpabilidade. Essa base teórica é fundamental
para operar bem o Direito Penal na prática, de forma a entender melhor as decisões judiciárias.
Bons estudos!
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1 Culpabilidade: evolução histórica
Importante retomar a conceituação da estrutura do crime e seus elementos para as diferentes variações das
correntes teóricas para compreender a evolução do conceito a culpabilidade.
Na Teoria Quadripartida, o crime é fato típico, ilícito, culpável, antijurídico e punível. Como considera que a
punibilidade é elemento do crime ficou em desuso, já que hoje se acredita majoritariamente que a punibilidade é
um efeito pós crime, que surge da força Estatal para punir o agente do fato.
Teoria Tripartida
Considera o crime fato típico, ilícito e culpável. Se divide em teoria tripartida clássica (Nelson Hungria) ou
tripartida finalista (Welzel). 
Teoria Bipartida
Crime como fato típico e ilícito. A culpabilidade é entendida como pressuposto de aplicação da pena.
Obrigatoriamente é finalista aquele que se filia a teoria bipartida. O finalismo bipartido é uma interpretação da
doutrina brasileira no Código Penal Brasileiro, criado pelo penalista René Ariel Dotti. Em São Paulo, a teoria
bipartida é dominante. Claus Roxin adota teoria bipartida, em que o crime seria formado por um injusto penal
(fato típico já revestido de ilicitude) e a sua responsabilidade penal (culpabilidade; grau de responsabilidade e
necessidade de pena).
Assista aí
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/0286868ff8add55449bbaf4588ea8bc5
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2 Elementos do Crime
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2.1 Fato típico
Independente da teoria adotada, fato típico é considerado elemento do crime. Fato típico é a conduta humana (e
da pessoa jurídica nos crimes ambientais; existe dúvida quanto a crimes financeiros, econômicos e contra a
economia popular já que a CR/88 não trata expressamente da responsabilização da pessoa jurídica nesses casos
e além disso, ainda que se considere que o artigo 173 engloba pessoas jurídicas, não há regulamentação legal)
que encontra correspondência em uma norma penal incriminadora. O chamado fato típico no direito penal
apresenta quatro requisitos para sua formação. São eles, a conduta, o resultado, o nexo causal e atipicidade. O
único cenário em que esses quatro requisitos ou elementos do tipo penal acontecem simultameneamente é em
caso de crime material consumado.
Nesses crimes, o próprio tipo penal que a lei traz contém a conduta, o resultado e exige que esse resultado
aconteça para que o crime seja consideramo consumado. Já nos casos em que chamamos de crimes formais o
tipo penal contém a conduta e o resultado naturalístico, mas não requer que o resultado aconteça para
considerar o crime consumado. Nos crimes de mera conduta (o legislador traz um tipo penal que se limita a
prever uma conduta, sem resultado naturalístico vinculado a ela.
Os crimes formais e os de mera conduta têm em comum o fato de que não exigem resultados naturalísticos para
serem consumados. Na prática isso quer dizer que se consumam simplesmente quando o agente pratica a
conduta descrita no tipo pemal. Eles se diferenciam, entretanto, pois no primeiro caso, dos crimes formais, esse
resultado naturalístico desnecessário para a consumação pode chegar a acontecer.
Importante ressaltar que para todos os crimes analisados, com exceção dos crimes materiais consumados, o fato
típico tem apenas dois elementos: conduta e tipicidade.
O ponto em comum entre um crime formal e um crime de mera conduta é que são crimes sem resultado, não
exigem resultado, se consumam com a prática da conduta. A diferença é que nos crimes formais o resultado
naturalístico, embora desnecessário para a consumação, pode ocorrer. Se ocorrer o resultado no crime formal,
estaremos diante do exaurimento, do crime exaurido (Zaffaroni chama o exaurimento de consumação material).
Nos crimes de mera conduta o resultado naturalístico jamais ocorrerá, pois o tipo não o prevê.
Com exceção dos crimes materiais consumados, todos os demais crimes, crimes formais, crimes de mera conduta
e crimes tentados o fato típico só tem dois elementos: conduta e tipicidade. Se não há resultado naturalístico e
logo, não há nexo causal entre conduta e resultado naturalístico.
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Tabela 1 -
Conduta
Fonte: Elaborada pelas autoras, 2019.
#PraCegoVer: Na imagem, temos uma tabela com três colunas: a primeira indica a teoria da conduta; a segunda
o sistema pena e, a terceira e última, a teoria da culpabilidade.
A culpabilidade nada mais era que o vínculo psicológico, estabelecido pelo dolo ou pela culpa, entre o agente
imputável e o fato típico e ilícito por ele praticado. O dolo normativo é aquele que contenha a consciência real da
ilicitude como relação de contrariedade entre o fato praticado pelo agente e o direito. Em relação ao conceito de
conduta, podemos dizer que é um movimento humano corporal voluntário que produz um resultado no mundo
exterior. A conduta é uma “fotografia do crime” ou seja, retrata o fato praticado pelo agente e o resultado no
mundo exterior.
Quem se filia a teoria clássica vê o crime de maneira tripartida, já que o dolo e a culpa estão inseridos no conceito
de culpabilidade e desse modo, evita-se a responsabilidade penal objetiva. Se no sistema clássico não se
considerar a culpabilidade, haverá crime independente de dolo e de culpa, e por isso não é possível ser clássico e
bipartido, sob pena de aceitar a indesejável responsabilidade penal objetiva.
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Figura 1 - Sistema Clássico
Fonte: Elaborado pelas autoras, 2019.
No sistema clássico, a culpabilidade indicava um vínculo psicológico entre o agente do crime e o fato típico que
ele praticava. Esse vínculo era estabelecido pela presença do dolo ou da culpa. Nesse caso, o dolo considerado
normativo é aquele que demonstra que o agente tem a consciência plena e real da ilicitude do fato praticado.
Essa ilicitude é uma relação de contrariedade à norma, ou seja, o agente saber que o fato praticado vai contra o
direito.
Aparece no sistema da teoria clássica o conceito causalista de conduta. A conduta é vista como um movimento
humano corporal voluntário capaz de produzir resultados naturalísticos, resultados no mundo exterior.
A corrente doutrinária da teoria clássica enxerga o crime de modo tripartido, com dolo e culpa partes da
culpabilidade.
Tabela 2 - Sistema Neoclássico
Fonte: Elaborado pelas autores, 2019.
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No sistema Neoclássico a teoria adotada para a conduta também é a teoria causalista e assim como no sistema
clássico, a ilicitude é considerada como a relação de contrariedade entre o fato praticado pelo agente e o direito
vigente.
A novidade do sistema neoclássico é o olhar da doutrina para a análise da culpabilidade. Em 1907, o penalista
Reinhart Frank desenvolveu a Teoria da Normalidade das Circunstâncias Concomitantes. Com essa Teoria, foi
incluído na Culpabilidade um terceiro elemento: exigibilidade de conduta diversa.
A partir dessa visão, considera-se culpável aquele que praticou um fato quando era exigido um outro
comportamento, a chamada conduta diversa. É uma teoria Psicológico-Normativa da culpabilidade, já que a
figura da culpabilidade não é mais exclusivamente psicológica. Ela passa ter esse elementonormativo da
exigência de outra conduta. Existem autores que chamam esse sistema Neoclássico de Neokantista
(Neokantismo penal).
Mantido o conceito causalista de conduta: conduta é um movimento humano corporal voluntário que produz um
resultado no mundo exterior. A conduta é uma “fotografia do crime” ou seja, retrata o fato praticado pelo agente
e o resultado no mundo exterior.
Tabela 3 - Sistema Finalista
Fonte: Elaborado pelas autoras, 2019.
O Finalismo, base do sistema finalista, surge na Alemanha em 1930, fruto dos estudos de Hanz Welzel. Para essa
corrente teórica, dolo e culpa fazem parte do conceito de conduta. Consideram que se não há dolo ou culpa não
há conduta e, por isso, o fato é atípico.
O conceito de conduta, nesse sistema, é a ação ou omissão humana, desde que seja consciente, voluntária e
dirigida a um fim específico.
Quem se filia ao Finalismo pode entender o crime de acordo com a visão bipartida ou tripartida, já que dolo e
culpa estão na conduta e não na culpabilidade. Logo, não correm risco de gerar responsabilidade objetiva. A
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culpabilidade pode ser, para essa teoria, tanto um elemento do crime, se adotado conceito tripartido do crime,
quanto pressuposto de aplicação da pena, se adotado conceito de crime bipartido.
Culpabilidade chamada “vazia” pois foi esvaziada em relação aos elementos psicológicos, por isso é uma teoria
normativa pura (só elementos normativos, sem elementos psicológicos que agora estão na conduta).
Para a teoria do finalismo o dolo é algo natural. Para as teorias anteriores (teoria clássica e neoclássica) o dolo
era considerado normativo, já que continha a chamada consciência de ilicitude.
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3 Coculpabilidade
Para as correntes doutrinárias que escolhem o conceito tripartido de crime (típico, ilícito e culpável), a
culpabilidade é um elemento do crime.
Importante ressaltar que a culpabilidade não é do fato, ou seja, não é o fato que é considerado culpável ou não,
mas sim o agente do crime que será analisado quanto à sua culpabilidade.
Já para as teorias que escolhem o conceito bipartido do crime, a culpabilidade não é considerada elemento do
crime, mas sim um pressuposto para a aplicação da pena.
A culpabilidade carrega uma ideia de reprovação independente do conceito de crime a ser adotado.
3.1 Evolução histórica da culpabilidade
Para o sistema penal clássico (autores como Von Liszt, Beling) a teoria da culpabilidade adotada era a
psicológica, para qual os elementos da culpabilidade eram a imputabilidade e o dolo normativo ou culpa –
consciência da ilicitude.
Já no sistema penal neoclássico ou neokantista, como vimos a teoria da culpabilidade é psicológico normativa e
seus elementos eram a imputabilidade, dolo normativo ou culpa – consciência da ilicitude e exigibilidade de
conduta diversa.
Já no sistema penal finalista (Welzel) a teoria da culpabilidade é a normativa pura. Seus elementos, para essa
teoria, são a imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa; dolo e culpa na
conduta. Essa teoria normativa pura da culpabilidade se subdivide em outras duas correntes teóricas. Uma teoria
normativa pura extrema ou estrita e uma limitada que se diferenciam pela presença de descriminantes putativas.
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3.2 Cocupabilidade
A teoria da coculpabilidade foi desenvolvida por Zaffaroni. Por essa teoria, há um reconhecimento de que as
pessoas não tiveram as mesmas oportunidades (educação, cultura, lazer). Termo coculpabilidade vem da
concorrência de culpabilidades. A família, a sociedade e o Estado excluem e marginalizam pessoas, e para elas a
criminalidade é uma saída mais fácil.
Essa teoria é uma construção doutrinária, ou seja, não encontra base normativa ou legal, mas pode ser adotada
no Brasil como uma atenuante genérica inominada conforme previsão do artigo 66, CP:
Art. 66 - A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime,
embora não prevista expressamente em lei. 
A chamada coculpabilidade às avessas tem dois aspectos que devem ser analisados. O primeiro deles, trata da
seletividade e vulnerabilidade do direito penal. O Direito Penal muitas vezes tem como alvos pessoas mais
vulneráveis, sem oportunidades. Já o segundo aspecto, trata justamente da maior reprovação para as pessoas
dotadas de elevado poder econômico, que tiveram todas as oportunidades e abusam do seu poder econômico
para a prática de crimes e por isso devem ser mais fortemente reprovadas. 
A coculpabilidade as avessas entretanto não pode ser utilizada como agravante genérica por ausência de
previsão legal, seria um caso de analogia “in malam partem”.
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4 Elementos da culpabilidade
Existem algumas causas que são capazes de excluir a culpabilidade, as chamadas dirimentes. Não confundir com
eximentes, que são as causas excludentes da ilicitude.
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4.1 Imputabilidade
O primeiro elemento formador da culpabilidade a ser analisado é a imputabilidade. O CP não define a
imputabilidade, mas apenas prevê hipóteses de inimputabilidade (art. 26, caput, 27 e 28, §1º:
Inimputáveis
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental
incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Redução 
de pena
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de
perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado
não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
acordo com esse entendimento.
Menores 
de 
dezoito 
anos
Art. 27- Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos
às normas estabelecidas na legislação especial.
Imputabilidade é a capacidade do agente de entender o caráter ilícito do fato praticado, o chamado elemento
intelectivo, e de querer praticar ainda assim, autodeterminando-se através do elemento da vontade ou volitivo.
O código penal brasileiro e a Constituição adotaram um critério cronológico, no tocante à imputabilidade: são
imputáveis os maiores de dezoito anos, mas fizeram isso estabelecendo a inimpubalidade dos menores de
dezoito anos. Conforme o artigo 27 do CP acima e o artigo 228 da CF:
Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial.
Quando as pessoas completam dezoito anos, a maioridade penal chega, com uma presunção relativa de
imputabilidade. A imputabilidade deve ser analisada ao tempo da conduta (desdobramento da teoria da
atividade, adotada no artigo 4o do CP, relativa ao tempo do crime). O artigo 26, caput, CP, também traz essa
regra de análise da imputabilidade ao tempo da conduta.
Quanto à inimputabilidade, são cinco as hipóteses. A primeira hipótese de inimputabiliade é a menoridade.
Nesse caso, não são imputáveis os menores de dezoito anos. A segunda hipótese é a doença mental, que torna
inimputável aqueles que portem essas doenças. A terceira é o desenvolvimento mental incompleto. Nesse caso,
indivíduos com alterações mentais são inimputáveis. A quarta hipótese de inimputabilidade é o desenvolvimento
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mental retardado, quando os indivíduos não tem as capacidades cognitivas totais. A quinta e última hipótese é a
da embriaguez completa, fortuita ou acidental.
Existem sistemas para identificação da inimputabilidade. São eles o sistema biológico (para este basta a presença
de uma deficiência mental, fortalecendo a atuação do perito na definição do caso concreto), o sistema psicológico
(para qual pouco importa se o agente tem ou não alguma deficiência mental, bastando a evidente incapacidade
de entendimento e autodeterminação, fortalecendo a atuação do juiz no caso concreto para definir) e o sistema
biopsicológico (o agente deve apresentar uma deficiência mental que acarrete incapacidade de entendimento e
autodeterminaçãom,unindo as forças do perito e do juiz para decisão no caso concreto). No Brasil, o sistema
biopsicológico é a regra geral, prevista no artigo 26, caput, CP:
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado,
era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-
se de acordo com esse entendimento
O sistema biológico foi adotado como exceção para os menores de 18 anos e no caso da embriaguez completa,
fortuita ou acidental.
Quanto à combinação de leis penais, o plenário do STF não admite e o STJ editou a súmula 501. Os tribunais não
aceitavam, passaram a aceitar e agora não admitem mais a combinação de leis.
Quanto à insignificância de crimes tributários, nos crimes de descaminho, STF e STJ entendiam que o valor para
descaminho era o mesmo considerado pela fazenda como inexecutável (R$10000). As portarias MF 75 e 130
/2002 aumentaram o valor para R$20000. Após isso, o STJ, pela terceira seção disse que o valor continua sendo
R$10000. O STF ainda não se pronunciou a respeito.
Quanto à menoridade, o direito brasileiro adota o critério biológico (menores de 18 anos são inimputáveis), art.
228, CR e art. 27, CP, como vimos acima.
Para os menores de 18 anos existe uma presunção absoluta (iuris et de iure) da inimputabilidade. Já para quem é
maior de 18 anos essa presunção é relativa. De acordo com a Súmula 74, STJ:
SÚMULA 74 -
PARA EFEITOS PENAIS, O RECONHECIMENTO DA MENORIDADE DO REU REQUER PROVA POR DOCUMENTO
HABIL. Data da Publicação - DJ 20.04.1993 p. 6769
Dessa forma, de acordo com a jurisprudência a prova da menoridade somente pode ser feita por documento
hábil. Importante ressaltar que as pessoas emancipadas civilmente são inimputável para o direito penal, já que a
capacidade civil não interfere na imputabilidade penal. Quanto à doença mental, a interpretação deve ser em
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sentido amplo, abrangendo todas as enfermidades permanentes ou transitórias, congênitas ou adquiridas, que
retiram a capacidade de entendimento e autodeterminação. Entretanto, quando um doente mental praticar o
crime em intervalo de lucidez ele é imputável, tendo em vista a adoção do critério biopsicológico.
4.1.1 Emoção e paixão
Assunto previsto no artigo 28, I, CP:
Emoção e paixão
Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal:
I - a emoção ou a paixão;
Emoção e paixão não são excludentes da imputabilidade e tem um ponto em comum que são alterações da
psique humana, do estado psicológico do ser humano. A diferença entre eles é quanto à duração: a emoção tem
natureza transitória (exemplos: medo, raiva), a paixão é duradoura (exemplos: o amor, a inveja). Se forem
patológicas, serão equiparadas a doenças mentais (artigo 26, CP).
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4.1.2 Embriaguez
Trata-se de intoxicação aguda do organismo humano pelo álcool ou substância de efeitos análogos. O CP utilizou
mais uma vez a interpretação analógica ou intralegem (forma fechada seguida de forma genérica). O artigo 28, II,
CP, traz que a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substancia de efeitos análogos não exclui a
imputabilidade penal:Embriaguez
II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos.
Trata-se da embriaguez aguda ou simples, que são casos de excesso no consumo do álcool. Se a embriaguez for
crônica ou patológica, quando o organismo não consegue se livrar dos efeitos do álcool, ou quando o sujeito é
dependente, a embriaguez será equiparada às doenças mentais.
A embriaguez apresenta uma primeira fase eufórica, quando o ébrio se mostra falante e desinibido. Uma segunda
fase agitada, ébrio fala alto, fica agressivo. E uma terceira fase comatosa (cansaço, sono, coma). Nas duas
primeiras fases, o sujeito pode praticar crimes comissivos ou omissivos. Na terceira fase apenas crimes
omissivos (próprios ou impróprios).
Quanto à intensidade, a embriaguez pode ser completa, relativa à segunda ou terceira fase. A embriaguez
incompleta se limita à primeira fase.
Quanto à origem, a embriaguez voluntária, também chamada intencional, é aquela em que o sujeito quer se
embriagar, mas não quer praticar crime algum. A embriaguez é culposa quando o sujeito não quer se embriagar,
mas por imprudência se excede no consumo do álcool. A embriaguez voluntária e a embriaguez não excluem a
imputabilidade penal (artigo 28, II, CP).
Existe ainda a embriaguez preordenada, também chamada embriaguez dolosa, em que o sujeito escolhe se
embriagar para cometer um crime. Nesse caso não há exclusão de imputabilidade, mas sim uma agravante
genérica conforme o artigo 61, II, “l”, CP:
Circunstâncias agravantes
Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime:
II - ter o agente cometido o crime:
l) em estado de embriaguez preordenada.
Por fim, a embriaguez pode ser fortuita ou acidental, quando emana de caso fortuito ou força maior, quando por
exemplo, alguém força o sujeito a beber. Se a embriaguez fortuita ou acidental for completa, isenta de pena, ou
seja, exclui a culpabilidade (artigo 28, §1o, CP). Se for incompleta, não isenta de pena, mas a pena será diminuída
de 1/3 a 2/3 (artigo 28, §2o, CP):
Embriaguez
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II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos. § 1º - É isento de pena o
agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da
omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento. 
§ 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou
força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do
fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
A embriaguez admite qualquer meio de prova. Dentre esses meios de prova, os principais são o exame
laboratorial (ressalva de que ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo), o exame clínico (análise do
indivíduo), prova testemunhal.
4.2 Teoria do actio libera in causa
É a ação livre na causa. Esta teoria surgiu na Itália para solucionar os crimes nos casos de embriaguez
preordenada, quando o agente escolhe se embriagar. Essa teoria antecipa o momento da análise da
imputabilidade. A imputabilidade não será analisada no momento em que o crime foi praticado, e por isso se faz
a crítica de ter elementos remanescentes de responsabilidade penal objetiva.
A doutrina se divide quanto à aplicação da teoria da actio libera in causa.
Primeira corrente doutrinária
A teoria da actio libera in causa na embriaguez voluntária e na embriaguez culposa é responsabilidade penal
objetiva e, portanto, é inaceitável.
Segunda corrente doutrinária
A teoria da actio libera in causa na embriaguez voluntária e na embriaguez culposa seria sim responsabilidade
penal objetiva, mas é necessária para a proteção do interesse público.
Terceira corrente doutrinária
A teoria da actio libera in causa é totalmente desnecessária, pois se o ébrio consegue praticar o crime, teria
vontade residual – um resquício de consciência.
A teoria da actio libera in causa não deve ser aplicada à embriaguez fortuita ou acidental, já que nesses casos o
sujeito não tem a intenção de consumir o álcool.
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4.3 Potencial consciência da ilicitude
É o segundo dos elementos da culpabilidade. Só é considerado culpável o agente que no momento da conduta
tinha ao menos a possibilidade de entender o caráter ilícito do fato.
Existem sistemas ou critérios para identificação da potencial consciência de ilicitude. O primeiro é o critério
formal, pelo qual o agente precisasaber que está violando determinada norma penal (Belin, Binding, Von Liszt).
Para o critério material, o agente deve conhecer o caráter injusto de sua conduta (Max Ernst Mayer).
Para o critério intermediário não se exige o conhecimento da norma penal violada nem da injustiça do
comportamento, basta que o agente, na sua condição de leigo saiba que há ilicitude.
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4.4 Exigibilidade de conduta diversa
É o terceiro elemento da culpabilidade. Só pode ser considerado culpável quem pratica o fato típico e ilícito
quando lhe era exigível uma conduta diversa.
Existem duas causas excludentes da exigibilidade de conduta diversa previstas no artigo 22, CP:
Coação irresistível e obediência hierárquica
Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente
ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem.
A primeira é a coação moral irresistível, que consiste em obrigar a alguém a praticar um crime (a coação física
irresistível exclui a conduta, o fato é atípico; a coação que atinge a culpabilidade é a moral irresistível). São
requisitos da coação moral irresistível: ameaça do coator (promessa de um mal grave e iminente),
inevitabilidade do perigo (o coagido não tem outra forma de afastar esse perigo, a não ser cedendo ao coator),
caráter irresistível da ameaça (o coagido não tem como vencer a ameaça) e presença de pelo menos três pessoas
(coator, coagido e a vítima do crime). São efeitos da coação moral irresistível: somente o coator responde pelo
crime, o coagido fica isento de pena (entre coator e coagido não há concurso de pessoas, falta vínculo subjetivo).
a coação moral irresistível é uma forma de autoria mediata. Se a coação moral for resistível, existirá concurso de
pessoas entre coator e coagido (para o coator incidirá agravante genérica – artigo 62, II, CP; 
Para o coagido uma atenuante genérica – artigo 65, III, “c”, 1a parte, CP:
Agravantes no caso de concurso de pessoas
Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente que:
II - coage ou induz outrem à execução material do crime;
Circunstâncias atenuantes
Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:
III - ter o agente:
c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou
sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima;
A coação moral irresistível não deve ser confundida com o temor reverencial. O temor reverencial não exclui a
culpabilidade. A coação moral irresistível caracteriza o delito de tortura, conforme o artigo 1o, I, “b”, Lei 9455:
Art. 1º Constitui crime de tortura:
I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
Na coação moral irresistível o coator sempre responderá pelo crime praticado pelo coagido e pela tortura.
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A segunda excludente da exigibilidade de conduta diversa é a obediência hierárquica, conforme artigo 22, CP:
Coação irresistível e obediência hierárquica
Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente
ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem
São requisitos da obediência hierárquica: ordem não manifestamente ilegal (se a ordem é legal, não há crime
para ninguém, estão protegidos por excludente da ilicitude de estrito cumprimento de dever legal; se a ordem é
manifestamente ilegal, ambos responderão pelo crime em concurso de pessoas, com agravante genérica para o
superior hierárquico – artigo 62, III, CP, e com atenuante genérica para o subalterno – artigo 65, III, “c”, CP;
ordem não manifestamente ilegal é a ordem ilegal de aparente legalidade, nela somente o superior hierárquico
responde pelo crime, o subalterno fica isento de pena, tratando-se de hipótese de autoria mediata), ordem
emanada de autoridade competente, relação de direito público (só é possível nas relações de direito público, pois
só nelas existe poder hierárquico), presença de ao menos três pessoas (superior hierárquico, subalterno e vítima
do crime) e cumprimento estrito da ordem (o subalterno não extrapola, faz exatamente o que foi determinado
pelo superior hierárquico).
Agravantes no caso de concurso de pessoas
Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente que:
III - instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não-punível em virtude de
condição ou qualidade pessoal;
Circunstâncias atenuantes
Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:
III - ter o agente:(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou
sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima;
Existem ainda hipóteses supralegais (não previstas em lei) de exigibilidade de conduta diversa. Estas causas
supralegais de exclusão de culpabilidade fundadas na inexigibilidade de conduta diversa foram criadas na
Alemanha e são pacificamente admitidas pela jurisprudência brasileira. O MP no Brasil é contra as causas
supralegais de exclusão da culpabilidade no Tribunal do Júri, por causar insegurança nos jurados.
Assista aí
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art65
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é isso Aí!
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• a conduta é considerada a ação ou omissão humana, desde que consciente e voluntária, e que seja 
dirigida a produzir um fim;
• na culpa consciente o agente prevê o resultado, mas acredita sinceramente que não ocorrerá, com o 
Código Penal adotando a Teoria da Representação, ou seja, o agente prevê o resultado mas não quer nem 
assume o risco de produzi-lo. No dolo eventual o Código Penal adota a Teoria do Consentimento, o agente 
prevê o resultado e aceita o risco de produzi-lo;
• são hipóteses de exclusão da culpa o caso fortuito e força maior, erro profissional, princípio da 
confiança, risco tolerado;
• concurso de pessoas é o instituto jurídico penal em que duas ou mais pessoas colaboram para a prática 
de um crime ou de uma contravenção penal;
• descriminantes são as causas de exclusão de ilicitude. Putativas significam aparentes, parecem ser mas 
são coisas diversas. Descriminantes Putativas são, portanto, causas de exclusão de ilicitude erroneamente 
imaginadas pelo agente.
Referências
BITENCOURT, C. R. : parte geral. vol. 1. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.Tratado de Direito Penal
BITENCOURT, C. R.; MUÑOZ CONDE, F. . 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2004.Teoria geral do delito
ESTEFAM, A. : parte geral. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.Direito Penal
MARTINELLI, J. P. O.; BEM, L. S. : parte geral. 3. ed. São Paulo: Saraiva, Lições fundamentais de Direito Penal
2018.
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	Olá!
	1 Culpabilidade: evolução histórica
	Assista aí
	2 Elementos do Crime
	2.1 Fato típico
	3 Coculpabilidade
	3.1 Evolução histórica da culpabilidade
	3.2 Cocupabilidade
	4 Elementos da culpabilidade
	4.1 Imputabilidade
	4.1.1 Emoção e paixão
	4.1.2 Embriaguez
	4.2 Teoria do actio libera in causa
	Assista aí
	4.3 Potencial consciência da ilicitude
	4.4 Exigibilidade de conduta diversa
	Assista aí
	é isso Aí!
	Referências

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