Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV Projeto de Arquitetura e Urbanism o IV Ana Carolina Carvalho Figueiredo Ana Carolina Carvalho Figueiredo GRUPO SER EDUCACIONAL gente criando o futuro Caro estudante, entraremos agora no mundo do desenvolvimento de projetos resi- denciais e comerciais de média complexidade, sendo eles edi� cações de apartamentos ou prédios comerciais, como restaurantes. Esses projetos devem ser desenvolvidos com base em um anteprojeto e suas relações espaciais, considerando uma adequa- ção funcional e volumétrica com o entorno edi� cado. Compreenderemos, assim, o que fundamenta as análises pré-projetuais e como é possível realizá-las no nível do entor- no do projeto, da tipologia e da sua função e forma. Além disso, exploraremos a importância da criatividade e as metodologias que podem ser adotadas para desenvolver qualquer projeto. Para escolhermos os materiais e os sistemas construtivos do projeto, identi� caremos a importância da técnica e da tec- nologia. Todo esse processo perpassa pela apresentação de um conjunto de referên- cias, para enriquecer nosso “vocabulário” de projeto. Esses estudos de caso apresen- tarão similaridades com o objeto de estudo de cada unidade, e auxiliarão na de� nição do pré-projeto e do anteprojeto de arquitetura. Por � m, seremos capazes de adequar os projetos às normas e à legislação. SER_ARQURB_PAUIV_CAPA.indd 1,3 08/02/2021 14:51:50 © Ser Educacional 2021 Rua Treze de Maio, nº 254, Santo Amaro Recife-PE – CEP 50100-160 *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Imagens de ícones/capa: © Shutterstock Presidente do Conselho de Administração Diretor-presidente Diretoria Executiva de Ensino Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Diretoria de Ensino a Distância Autoria Projeto Gráfico e Capa Janguiê Diniz Jânyo Diniz Adriano Azevedo Joaldo Diniz Enzo Moreira Ana Carolina Carvalho Figueiredo DP Content DADOS DO FORNECEDOR Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional, Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão. SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 2 08/02/2021 13:28:12 Boxes ASSISTA Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple- mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado. CITANDO Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa relevante para o estudo do conteúdo abordado. CONTEXTUALIZANDO Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; demonstra-se a situação histórica do assunto. CURIOSIDADE Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto tratado. DICA Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado. EXEMPLIFICANDO Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto. EXPLICANDO Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da área de conhecimento trabalhada. SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 3 08/02/2021 13:28:12 Unidade 1 - Fundamentação temática e a análise projetual: projetos residenciais Objetivos da unidade ........................................................................................................... 12 Análises na arquitetura ....................................................................................................... 13 O exercício de projetar ................................................................................................... 13 Procedimentos de análise de projetos ........................................................................ 16 Estudo da quadra e entorno .......................................................................................... 17 Referências projetuais ................................................................................................... 20 Análise de soluções projetuais ......................................................................................... 23 Projeto de habitação multifamiliar .............................................................................. 24 Habitação de média complexidade .............................................................................. 26 Interferências na elaboração do anteprojeto arquitetônico ....................................... 29 O programa de necessidades ....................................................................................... 30 Partido arquitetônico de um projeto ............................................................................ 32 Sintetizando ........................................................................................................................... 34 Referências bibliográficas ................................................................................................. 35 Sumário SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 4 08/02/2021 13:28:12 Sumário Unidade 2 - Aspectos plásticos e escolhas técnicas do projeto arquitetônico Objetivos da unidade ........................................................................................................... 38 Aspectos plásticos do projeto de arquitetura ................................................................ 39 Introdução à plasticidade em arquitetura ................................................................... 39 Relação entre volumes na concepção arquitetônica ............................................... 41 Estudo volumétrico: aplicação em projetos residenciais ......................................... 42 Representação da funcionalidade em projetos arquitetônicos .................................. 44 Funcionalidade em arquitetura ..................................................................................... 44 Relação entre forma e função arquitetônica .............................................................. 46 Maquete: representação tridimensional ..................................................................... 47 A tecnologia e os materiais em projeto ........................................................................... 51 Uso dos materiais e sistemas construtivos em projetos residenciais ................... 52 A relação entre partido arquitetônico e materiais de construção ......................... 54 Sintetizando ........................................................................................................................... 61 Referências bibliográficas ................................................................................................. 62 SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 5 08/02/2021 13:28:12 Sumário Unidade 3 - Elaboração do anteprojeto de arquitetura: restaurantes Objetivos da unidade ........................................................................................................... 64 Estudos referenciais: restaurantes ................................................................................... 65 Projetos comerciais ........................................................................................................ 65 Histórico dos projetos de restaurantes ....................................................................... 70 Referências projetuais de restaurantes ...................................................................... 74 Estudo das condicionantes de projeto ............................................................................. 77 Relação entre espaço urbano e os restaurantes: preexistências .......................... 77 O usuário e o espaço projetado .................................................................................... 80 Desenvolvimento na etapa pré-projetual ........................................................................81 Organograma ................................................................................................................... 82 Fluxograma ....................................................................................................................... 83 Pré-dimensionamento .................................................................................................... 86 Sintetizando ........................................................................................................................... 88 Referências bibliográficas ................................................................................................. 89 SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 6 08/02/2021 13:28:12 Sumário Unidade 4 - Desenvolvimento do projeto: restaurantes Objetivos da unidade ........................................................................................................... 91 Condicionantes naturais: projetos de restaurantes ...................................................... 92 Estudo do lote: aspectos ambientais .......................................................................... 92 Relação entre fachada e entorno ................................................................................. 94 Desenvolvimento do projeto: restaurantes ..................................................................... 96 Representação de projeto: croquis iniciais ................................................................ 97 Plantas e cortes .............................................................................................................. 99 Perspectivas e detalhamento ...................................................................................... 100 Noções de legislação aplicadas à arquitetura ............................................................ 103 Introdução da legislação na arquitetura ................................................................... 103 Plano Diretor e leis de uso e ocupação do solo ....................................................... 104 Normas técnicas ........................................................................................................... 107 Sintetizando ......................................................................................................................... 113 Referências bibliográficas ............................................................................................... 114 SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 7 08/02/2021 13:28:12 SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 8 08/02/2021 13:28:12 Caro estudante, entraremos agora no mundo do desenvolvimento de pro- jetos residenciais e comerciais de média complexidade, sendo eles edifi cações de apartamentos ou prédios comerciais, como restaurantes. Esses projetos de- vem ser desenvolvidos com base em um anteprojeto e suas relações espaciais, considerando uma adequação funcional e volumétrica com o entorno edifi ca- do. Compreenderemos, assim, o que fundamenta as análises pré-projetuais e como é possível realizá-las no nível do entorno do projeto, da tipologia e da sua função e forma. Além disso, exploraremos a importância da criatividade e as metodologias que podem ser adotadas para desenvolver qualquer projeto. Para escolhermos os materiais e os sistemas construtivos do projeto, identifi caremos a importân- cia da técnica e da tecnologia. Todo esse processo perpassa pela apresentação de um conjunto de referências, para enriquecer nosso “vocabulário” de proje- to. Esses estudos de caso apresentarão similaridades com o objeto de estudo de cada unidade, e auxiliarão na defi nição do pré-projeto e do anteprojeto de arquitetura. Por fi m, seremos capazes de adequar os projetos às normas e à legislação. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 9 Apresentação SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 9 08/02/2021 13:28:12 A todos aqueles que acreditaram na minha trajetória até aqui: aos meus pais e irmãos, que sempre me incentivaram e acreditaram em meu potencial; aos meus professores; e aos meus alunos, que, na dinâmica diária de aulas, sempre têm algo a me ensinar. A professora Ana Carolina Carvalho Figueiredo é mestre em Arquitetura, Urbanismo e Tecnologia (2018) e gra- duada em Arquitetura e Urbanismo (2015), pela Universidade de São Paulo (USP). Ministrou aulas de Projeto de Ar- quitetura, Urbanismo e Conforto Am- biental Térmico, entre 2019 e 2020. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6811483897468144 PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 10 A autora SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 10 08/02/2021 13:28:12 FUNDAMENTAÇÃO TEMÁTICA E A ANÁLISE PROJETUAL: PROJETOS RESIDENCIAIS 1 UNIDADE SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 11 08/02/2021 13:28:23 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Entender como se dá o processo de projeto em arquitetura; Desenvolver a análise do local de implantação de um projeto arquitetônico; Compreender aspectos do projeto residencial de média complexidade; Compreender a importância do programa de necessidades e da definição do partido arquitetônico em um projeto de arquitetura. Análises na arquitetura O exercício de projetar Procedimentos de análise de projetos Estudo da quadra e entorno Referências projetuais Análise de soluções projetuais Projeto de habitação multifa- miliar Habitação de média complexi- dade Interferências na elaboração do anteprojeto arquitetônico O programa de necessidades Partido arquitetônico de um projeto PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 12 SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 12 08/02/2021 13:28:23 Análises na arquitetura Um dos passos fundamentais para o desenvolvimento de um es- tudo projetual é a compreensão da área da cidade onde ele se encontra. Se nos atentarmos ao local em que vivemos, podemos perceber que ele contempla um conjunto de caracte- rísticas: é residencial ou misto, possui edifi cações altas ou apenas casas, é de fácil acesso aos transportes públi- cos ou não, é arborizado ou sem ve- getação. Assim, a edifi cação terá uma relação imediata com o contexto ur- bano no qual está implantada. O exercício de projetar Projetar é um exercício, ao mesmo tempo, de criatividade e de cumpri- mento de necessidades funcionais. Em arquitetura, o projeto é um processo de concepção de um “objeto”, que será ocupado e frequentado, devendo ser adequado (do ponto de vista de conforto e ergonomia) e precisando estar em consonância com boas práticas ambientais, além de que deve se relacionar com o entorno no qual está inserido. Não por acaso, um projeto pode envolver diversas etapas. Segundo John Christopher Jones, autor de Design Methods (1970), o aluno ou profi ssional de arquitetura deve, ao projetar, deixar a mente livre para investi- gar soluções, intuições e ideias, sem limitações práticas, a qualquer momento. Ele estabeleceu uma metodologia com o objetivo de reduzir erros nos projetos e torná-los mais avançados. Para isso, Jones estabeleceu a existência de três estágios para projetar, sendo eles: • A análise consiste na listagem das necessidades do projeto, criando com ela uma relação de especifi cação de desempenhos; PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 13 SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 13 08/02/2021 13:28:24 • A síntese é a etapa que busca encontrar soluções possíveis para cada especificação que foi detalhada previamente e assinalar o desenvolvimento do projeto; • A avaliação considera cada uma das soluções de projeto oferecidas na etapa de síntese e sua adequação aos requisitos impostos pelas demandas projetuais. A primeira etapa, de análise, refere-se às questões de forma, material e de- senho da edificação. Nela, é fundamental entender todas as propostas e infor- mações iniciais que devem ser incorporadas ao projeto. O segundo momento, de síntese, inclui o pensamento criativo, que deve ser aplicado para relacionar cada um dos fatores envolvidos na edificação a soluções arquitetônicas capa- zes de responder às suas necessidades.É possível utilizar, na etapa de síntese, técnicas que auxiliam na criatividade, como o brainstorming. EXPLICANDO O brainstorming é um método de incentivo à criatividade, que consiste em deixar fluir os pensamentos referentes a um problema. Por exemplo, ao projetar um restaurante, o que vem à mente? Mesas, cozinhas, pessoas, luzes, fluxos. Essas ideias vão ajudar a encontrar soluções para o projeto. Para saber mais sobre o uso da criatividade para projetar, leia o primeiro capítulo do livro O processo de projeto em arquitetura da teoria à tecnolo- gia, que apresenta métodos de incentivo à criatividade aplicados à arqui- tetura e urbanismo (KOWALTOWSKI et al., 2011). Na última etapa do processo de projeto, a avaliação, poderão ser feitas as correções nas soluções apresentadas, caso existam falhas. É importante que qualquer problema seja sempre corrigido antes da execução da construção, uma vez que é mais simples e barato corrigir qualquer erro durante a etapa de projeto. Essas correções podem se tornar mais morosas e caras em fases posteriores, como a execução. Para Lawson (2011), contudo, projetar não é um processo linear, podendo as etapas de análise, síntese e avaliação serem percorridas diversas vezes, em vários períodos do desenvolvimento de uma edificação. Em escritórios, nor- malmente, as etapas principais de um projeto não são denominadas como as anteriores, sendo definidas como estudo preliminar, anteprojeto e projeto exe- cutivo, lembrando que a análise, a síntese e a avaliação podem ser retomadas nessas etapas (Diagrama 1). PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 14 SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 14 08/02/2021 13:28:24 Fonte: JONES, 1970; LAWSON, 2011. (Adaptado). Na fase do estudo preliminar, as ideias iniciais e de organização dos am- bientes são apresentadas e desenvolvidas, de acordo com a concepção arqui- tetônica. A etapa de anteprojeto parte da solução escolhida no estudo preli- minar e a apresenta com a definição de plantas, cortes e fachadas. Finalmente, o projeto executivo é o estágio que traz o projeto completo e detalhado, apto para ser encaminhado para a execução. Além dessas etapas iniciais, é possível incorporar a esse desenvolvimen- to projetual os programas de desenho auxiliado por computador (Computer Aided Design, ou CAD, na sigla em inglês). Para Kowaltowski et al. (2006), o uso das tecnologias e computadores auxilia no estudo do projeto devido a sua facilidade em manipular objetos, bem como sua agilidade em criá-los e edi- tá-los. Além disso, os programas computacionais e a representação por meio de modelos virtuais permitem a realização de testes, simulações de conforto ambiental, estruturas e sistemas de iluminação, por exemplo. Esses fatores contribuem para que o resultado da proposta seja completo e mais eficiente. Análise Síntese Estudo preliminar Avaliação Análise Anteprojeto Síntese Avaliação Análise Projeto executivo Síntese Avaliação DIAGRAMA 1. RELAÇÃO ENTRE PROCESSOS DE PROJETO PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 15 SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 15 08/02/2021 13:28:24 Procedimentos de análise de projetos Elena F. França (2015) defi ne análise como o processo de decomposição de projetos, para que seja possível conhecer cada um de seus componentes. Em arquitetura, o ato de analisar implica investigar os elementos que fazem parte de um projeto. Outro autor que trabalhou sobre o exercício arquite- tônico e a importância das análises foi Simon Unwin (2013), que investigou os parâmetros de projeto. EXPLICANDO Simon Unwin (2013) assinalou a importância de entender as característi- cas locais de qualquer lugar onde se vá fazer um projeto, reiterando que, normalmente, o resultado formal e de implantação são resultantes das condições encontradas no terreno. Mas ele não falava apenas de con- dicionantes físicas, como a topografi a, tratando também das abstratas, como cheiro e ruído. Para Unwin, o processo de concepção em arquitetura acontece como o de um escritor que está trabalhando em um livro: enquanto o escritor domina as regras de linguagem em geral, a semântica e a gramática, o arquiteto deve dominar o “vocabulário” de projeto. Esse vocabulário se refere aos desenhos e códigos arquitetônicos, bem como aos padrões, às combinações e às compo- sições possíveis, de acordo com os elementos disponíveis para a construção. Um terceiro autor a trabalhar a questão da análise em arquitetura foi Geoff rey H. Baker (1998), que apontou três fatores básicos de serem analisa- dos em arquitetura: as condições do local, as demandas funcionais e a cultu- ra. Sendo assim, a proposição arquitetônica depende diretamente de identi- fi car o local e pensar no programa de necessidades e no contexto cultural na qual ela se insere. Podemos verifi car, a partir da leitura dos três autores apresentados, que a fase inicial de leitura das condicionantes de um determinado projeto é fun- damental para que o seu resultado seja bom e se adeque às demandas. As variáveis envolvidas podem ser diferentes, de acordo com: o tipo de projeto no qual se está trabalhando, o público alvo, a cultura, o local, os recursos disponí- veis e os materiais usuais naquela região; contudo, todas estão interligadas e nenhuma delas deve ser abandonada ao longo do processo. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 16 SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 16 08/02/2021 13:28:24 Um exercício interessante para desenvolvermos a capacidade de análise é o de observar projetos já executados e verifi car neles todas essas condicionan- tes, sabendo como elas foram trabalhadas ali. Isso pode nos ajudar a entender, por exemplo, como o autor se apropriou da área que tinha para construir uma edifi cação, as soluções adotadas quanto aos materiais, os desafi os encontra- dos na defi nição da planta, bem como as questões estruturais e as resoluções quanto ao conforto ambiental. Com isso em mente, devemos sempre procurar trabalhar seguindo esses preceitos, investigando a relação de um projeto com o entorno ou o próprio terreno, e estudando o desenvolvimento histórico da tipologia trabalhada, compreendendo a relação de processos históricos e sociais na sua evolução. Por fi m, esses estudos devem ser usados para aprimorar seu programa de ne- cessidades, ajudando na defi nição de um partido arquitetônico de projeto. Estudo da quadra e entorno O projeto de arquitetura resulta não apenas da apropriação do programa de necessidades do cliente, mas também da extração das potencialidades da área de intervenção. Sendo assim, a análise do contexto urbano é um passo importante ao iniciar o processo de projetar. Condicionantes como topogra- fi a do terreno, sistema viário do entorno, oferta de transporte público, tipos e densidade das edifi cações da vizinhança e gabaritos, por exemplo, interferem diretamente nas dinâmicas que ocorrem em um determinado local. Lorraine Farrelly (2013) assinala que a compreensão do terreno pelo ar- quiteto, quando da proposição de uma edifi cação, é essencial. Vários parâme- tros que afetam o projeto de arquitetura podem estar interligados ao terreno, incluindo a orientação solar e o acesso, por exemplo. Além disso, o olhar minucioso sobre o contexto ajuda a defi nir a escala das edifi - cações e materialidades a serem utilizadas. Desse modo, a análise de vias de acesso ao terreno e dos meios de transporte prioritários no entorno (identifi cando es- tações de trem ou metrô e paradas de ônibus) per- mite, por exemplo, reconhecer a acessibilidade de várias regiões da cidade ao seu projeto. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 17 SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 17 08/02/2021 13:28:24 Em uma próxima fase da análise, podemos verificar a densidade e o tipo da ocupação das áreas no entorno do empreendimento, estudando o mapa de cheios e vazios da região. Nele, estão indicadas as áreas desocupadas ou subutilizadas, o que pode auxiliar a definir qual o melhorterreno para a loca- lização de um projeto, caso a área final para a implantação ainda não esteja escolhida. Em seguida, é importante estudar o tipo de ocupação do solo no entorno do projeto, pela análise do mapa de tipologias (Figura 1). Tal estudo permite compreender e caracterizar a economia local (comercial, residencial, industrial ou mista), o público (residencial) e as atividades ali desenvolvidas (multiuso, institucional). Um mapa da cidade, subprefeitura ou distrito auxilia neste processo. Sem informação Comércio e serviços Comércio/serviços + indústria/armazéns Sem predominância Minhocão + Elevado Pres. João Goulart Equipamentos públicos Linha férrea Estações do metrô Estações da CPTM Escolas Terrenos vagos Outros Indústria e armazéns Residencial + comércio/serviços Residencial + indústria/armazéns RH baixo padrão RH médio/alto padrão Predominância de Uso por quadra RV baixo padrão RV médio/alto padrão Figura 1. Mapa de uso e ocupação do solo na região de Higienópolis/Santa Cecília-SP. Fonte: Prefeitura do Município de São Paulo, 2019. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 18 SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 18 08/02/2021 13:28:27 Uma etapa importante, que deve seguir esse processo, é análise do mapa de gabaritos (Figura 2), que indica o número de pavimentos das construções do en- torno e, assim, pode ajudar na determinação de conexões, escalas e número de pavimentos que podemos adotar no edifício, de acordo com a relação que esta- mos buscando com a área adjacente a ele. Além disso, o estudo dos gabaritos ca- racteriza os índices urbanísticos de ocupação dos lotes, segundo a legislação local. Gabarito das edifi cações Até 5 metros Minhocão - Elevado pres. João Goulart Linha férrea Estações do Metrô Estações da CPTM 5 até 10 metros 10 até 30 metros 30 até 45 metros Maior que 45 metros Figura 2. Mapa de gabaritos das edifi cações na região de Higienópolis/Santa Cecília-SP. Fonte: Prefeitura do Município de São Paulo, 2019. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 19 SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 19 08/02/2021 13:28:29 Essa etapa pode ser fi nalizada com a identifi cação de áreas de vegetação do local, incluindo cober- turas vegetais mais densas, como no caso de pra- ças e parques, e canteiros e arborização das vias. É possível, ainda, verifi car informações como a presen- ça de mobiliários urbanos, pontos de lixeira, bancos e iluminação. Todas as condicionantes mencionadas até aqui estão ligadas diretamente à análise do entorno. Contudo, para o estudo aprofundado do terreno, é importante considerar elementos como a topografi a, a orientação solar e os ventos predominantes. Para entender a topografi a, fazemos alguns cortes na área e analisamos suas curvas de nível. Assim, é possível defi nir o perfi l da área e a necessida- de ou não de realizar movimentos de terra, para a implantação adequada do empreendimento. Além disso, podemos nos apropriar dessas características, utilizando-as no projeto, para torná-lo único. A caracterização dos ventos e orientação solar, por sua vez, pode ser feita a partir de estudos de conforto, com uso de arquivos climáticos e da carta solar. DICA O site do Laboratório de Efi ciência Energética em Edifi ca- ções (LABEEE), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em conjunto com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), apresenta uma série de informações climáticas de várias cidades, em sua plataforma Projeteee, que incluem os dados de insolação e ventilação, e podem ser utilizados como coadjuvantes nos estudos de terreno para projeto. Referências projetuais O conjunto residencial Prefeito Mendes de Moraes (Pedregulho) foi proje- tado em 1947, por Aff onso Eduardo Reidy, para abrigar funcionários públicos do Rio de Janeiro, então Distrito Federal. Reidy foi um dos maiores nomes da arquitetura moderna brasileira e teve grande atuação como urbanista, sen- do responsável por trabalhos de destaque na capital (FRACALOSSI, 2011). O complexo (Figura 3) foi projetado com 328 unidades habitacionais, edifícios pú- blicos e áreas esportivas. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 20 SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 20 08/02/2021 13:28:29 Figura 3. Vista aérea do Conjunto Prefeito Mendes de Moraes. Fonte: FRACALOSSI, 2011. Figura 4. Implantação do Conjunto Prefeito Mendes de Moraes. Fonte: FRACALOSSI, 2011. Cada uma dessas funções está definida por uma forma: o paralelepípedo está ligado à habitação; o prisma trapezoidal é para os edifícios com função pública; e as edificações abobadadas são destinadas aos esportes. Uma das preocupações de Reidy foi manter a vista da baía de Guanabara, ao mesmo tempo em que se apropriava do declive natural do terreno, com pilotis de altu- ra variáveis. Ele usou passarelas e uma avenida no topo da área que permiti- ram o acesso ao terreno, eliminando o uso de elevadores. A principal peça do complexo é o edifício habitacional serpenteante, que acompanha as condições naturais e acidentadas do alto do terreno (Figura 4). PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 21 SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 21 08/02/2021 13:28:31 Claramente, observando todas as questões relativas ao projeto, é possível identificar que Reidy se apropriou de condições existentes (por exemplo, a au- sência de serviços como creches e escolas no entorno) e as utilizou na forma arquitetônica final, de modo a se adequar idealmente aos seus usuários. Cer- tamente, essa apropriação só foi possível com um estudo aprofundado das características existentes no entorno e no próprio lote. Desse mesmo modo, para entender melhor a importância do estudo do contexto urbano, das áreas adjacentes e do terreno no qual a edificação será implantada, outro projeto de edificação se torna relevante: a Casa Grelha (Figura 4), projeto do escritório FGMF, feito em 2007 e localizado na Serra da Mantiqueira, uma região de topografia muito acidentada, com grandes pedras e araucárias, mas sem muita mata virgem. Assim, uma das demandas da con- cepção do projeto foi manter uma relação direta entre a casa, o terreno e a natureza ao redor, apropriando-se das características ali existentes. Figura 5. Vista aérea do Conjunto Prefeito Mendes de Moraes. Fonte: FRACALOSSI, 2011. A casa, formada por uma grelha estrutural em madeira, com módulos de 5,5×5,5x3 m, está localizada no ponto de encontro dos trajetos naturais do terre- no, quando acessados por pedestres. Para manter esses caminhos naturais, essa grelha estrutural foi construída de forma suspensa (Figura 6), conectando os cami- nhos existentes a novos acessos. Além disso, o teto-jardim proposto na cobertura criou uma continuidade do terreno existente. Alguns módulos da grelha são vaza- dos, o que permite que as árvores do jardim inferior cresçam além da estrutura. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 22 SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 22 08/02/2021 13:28:33 Figura 6. Vista superior da Casa Grelha, projetada pelo FGMF em 2007. Fonte: ArchDaily Brasil, 2012. Desse modo, após considerarmos as recomendações iniciais sobre a proposição de projetos de arquitetura e o estudo de suas áreas, podemos nos aprofundar em discussões sobre processos de análises, que se adequam à produção de uma edifi cação, desde seu início. Análise de soluções projetuais Até agora, tivemos contato com metodologias de desenvolvimento de pro- jetos, com algumas das possíveis análises iniciais, voltadas para característi- cas do entorno do terreno. Faz-se necessário, então, conhecermos algumas características da tipologia residencial e algumas formas de analisar esses projetos. É bom que desenvolvamos sempre mais o conhecimento sobre o tipo de projeto no qual estamos trabalhando, de forma que uma investigação de estudos de casos de habitações de média complexidade pode nos ajudar a ampliar nosso repertório. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 23 SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 23 08/02/2021 13:28:35 Projeto de habitaçãomultifamiliar Normalmente, as pessoas moram em casas ou apartamentos. Na formação das primeiras cidades, em geral, as casas – ou residências unifamiliares – eram as principais formas de moradia. Devido à tecnologia construtiva, inicialmente, edifícios altos não eram construídos em larga escala. Com o aumento da de- manda por moradia nas grandes cidades, devido ao crescimento populacional, juntamente à limitação de terras disponíveis, o número de edifícios de aparta- mentos residenciais cresceu. Os apartamentos podem ter diversas formas e áreas variáveis, podendo ser até maiores que muitas casas unifamiliares. Atualmente, há uma tendência de diminuição das áreas privadas da moradia, em detrimento de benefícios presentes nas áreas comuns das edifi cações. Enquanto as áreas privadas com- preendem especifi camente o espaço da habitação (onde você dorme ou toma banho, por exemplo), as áreas comuns são aquelas que têm espaços compar- tilhados com seus vizinhos, como as academias, os salões de festas, o hall, os coworkings e as áreas de cozinha coletiva. CONTEXTUALIZANDO Apartamentos de apenas 10 m² já são uma tendência no Brasil, demonstrando uma tendência do mercado de pro- duzir imóveis cada vez menores. Segundo Raquel Rolnik, no artigo Apartamentos de 10 m²: mínimo necessário ou lucro máximo?, o debate não deve ser a metragem míni- ma de uma habitação ou a possibilidade de se morar em espaços tão pequenos, mas quais são as necessidades básicas para se viver, e como essa discussão perpassa não apenas o ambiente domiciliar, mas o planejamento de toda a cidade. Até chegar em apartamentos com metragens cada vez menores, o hábi- to de morar em residências multifamiliares passou por um conjunto de mudanças, com diminuição progressiva dos espaços íntimos e extinção de determinados ambientes. Na Figura 7, podemos ver exemplos clássicos dessas mudanças no Brasil, em um período de cinquenta anos, começando em 1970, conside- rando plantas padrão de residências de dois dormitórios. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 24 SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 24 08/02/2021 13:28:35 Anos 70 – 100 m² Anos 80 – 87,8 m² Anos 90 – 72,85 m² Anos 2000 – 73,76 m² Anos 2010 – 59,60 m² Figura 7. Evolução dos apartamentos de dois quartos, de 1970 a 2010. Fonte: REIS, 2016. (Adaptado). Se, por volta dos anos 1970 e 1980, ainda era comum ter nas residências as chamadas “dependências de empregada”, posteriormente, esse espaço deixou de existir. Salas de jantar enormes, quartos e banheiros grandes, além de cozinhas separadas dos ambientes de estar, estavam presentes nas plantas dos anos 1970 e foram abandonados ao longo dos anos. Além disso, pode-se verificar uma diferença na metragem quadrada das unidades habi- tacionais, com redução de cerca de 40% nesse período. Assim, essas mudanças expressam modificações no estilo de vida da população e até das suas necessidades e demandas quanto ao morar. Se antes o espaço privativo era o primordial, agora podemos compreender que a dimensão do morar engloba atividades que podem ser realizadas nos espaços coletivos. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 25 SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 25 08/02/2021 13:28:37 Habitação de média complexidade Começamos o processo pela defi nição do terreno no qual o projeto do resi- dencial será instalado e a realização dos primeiros estudos sobre o entorno e o local, levantando as características relevantes. Em seguida, pesquisamos sobre a tipologia residencial e compreendemos que ela passou por diversas modifi cações ao longo dos últimos anos. Desse modo, para as etapas seguintes do projeto, de- vemos analisar a área que cada unidade residencial pode ter, bem como quais equipamentos e espaços podem ser instalados nas áreas comuns da edifi cação. Para desenvolver melhor esta demanda, é importante estudar outros con- juntos residenciais, como referência. A partir desse estudo, algumas soluções e ideias podem ser encontradas e incorporadas em nossa própria edifi cação. Assim, elencamos dois renomados escritórios de arquitetura nacional, que conceberam edifícios residenciais interessantes nos últimos anos, selecionan- do dois projetos que possam ser apresentados a toda a equipe. O primeiro edifício-referência é o Tetrys (Figura 8), projeto do escritório FGMF, de 2013, localizado na cidade de São Paulo e com mais de 6 mil metros quadrados. O espaço destinado para a edifi cação era pequeno e a escolha dos projetistas foi evitar muros, integrando-o à calçada e à rua por meio de uma pequena praça, com bancos, plantas e paraciclo aberto à cidade. A transição entre o espaço público e o privado é feito por um espelho d’água. Figura 8. Edifício Tetrys, projetado pelo FGMF, em 2013. Fonte: ArchDaily Brasil, 2019. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 26 SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 26 08/02/2021 13:28:37 A equipe do projeto pensou na tipologia residencial não como um agrupa- mento de apartamentos formando um volume, mas em um espaço que fizesse parte da paisagem local. Sendo assim, ele é, ainda, um objeto na paisagem, que se difere de outras edificações e cria um marco em meio a prédios monó- tonos. As formas e cores utilizadas, diferentes das usuais, promovem uma clara diferença entre a proposta desta edificação e das pré-existentes. Do ponto de vista dos apartamentos, o edifício possui unidades de áreas pequenas, nos modelos loft ou studio, onde os ambientes de sala, quarto e co- zinha são integrados (Figura 9), algumas das unidades contando com varandas. Além disso, o edifício tem espaços de lazer coletivos, como piscina, academia, terraço na cobertura e áreas de convivência para os moradores. Figura 9. Planta do 2º pavimento do Edifício Tetrys. Fonte: ArchDaily Brasil, 2019. Nossa segunda referência de projeto é o edifício residencial Pop XYZ (Figura 10), da Triptyque Arquitetos, projetado em 2016, na Vila Madalena, em São Pau- lo. O local é rodeado por casas antigas, bares e restaurantes, e foi concebido de modo que a sua volumetria pudesse dialogar com o contexto e com o relevo existentes. O edifício é composto por oito blocos de habitação e um de serviços e circulações independentes, com ângulos que permitem visadas do entorno, assim como um aproveitamento adequado da ventilação e da iluminação. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 27 SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 27 08/02/2021 13:28:39 Figura 10. Edifício Pop XYZ, projetada pela Tryptyque, em 2016. Fonte: ArchDaily Brasil, 2017. Uma das principais características dessa escolha formal é que, ao fi nal, a privacidade dos apartamentos se aproximava daquela existente em casas in- dependentes, reforçando o caráter de isolamento das unidades residenciais, além de suas possíveis posições em relação à orientação solar. Essas residên- cias são studios, até triplex, e possuem confi gurações diversas, com grandes terraços e pé-direito alto. Do ponto de vista de materialidades, a proposta do escritório foi englobar alguns elementos de memória coletiva do bairro (Figura 11). Entre eles, o uso de revestimentos em concreto rugoso e rústico, em referência ao chapisco das construções antigas dali, e o uso da cerâmica, por meio de azulejos azuis e brancos em algumas fachadas, para referenciar os portugueses. Além disso, o gabião, aparente em algumas partes do conjunto, confere aspectos do bruta- lismo, complementando o referencial histórico. ASSISTA O brutalismo foi um movimento arquitetônico surgido na Inglaterra, em meados dos anos 1950 e 1960, como parte dos esforços de reconstrução pós-Segunda Guerra Mundial. Edifi cações brutalistas privilegiavam deixar os elementos estruturais à mostra, deixando aparente o concreto armado e os perfi s metálicos de vigas e pilares, e utilizando formas geométricas angulares em uma paleta monocromática. Em 2018, o Museu Alemão de Arquitetura montou uma exposição chamada SOS Brutalismo, alegan- do que o estilo está ameaçado deextinção. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 28 SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 28 08/02/2021 13:28:40 Figura 11. Fachada do Edifício Pop XYZ. Fonte: Archdaily Brasil, 2017. Por meio dessas duas referências, podemos verifi car como podem ser apropriadas as características de apartamentos de menor área, as condições locais, as materialidades e a constituição do pro- grama das áreas comuns de um edifício. Essas informações são importantes para desenvolver nossos próprios projetos e para outras etapas do planejamento arquitetônico. Interferências na elaboração do anteprojeto arquitetônico Até agora, focamos em elementos que fazem parte da fase inicial da for- mulação de um projeto arquitetônico. Contudo, com o intuito de conhecer e dominar todas as variáveis com as quais estamos trabalhando em um projeto de edifi cação e obter resultado satisfatório, devemos complementar nosso re- pertório de análises, tornando nosso processo de projeto mais interessante e rico. Para isso, veremos a importância de fatores morfológicos e culturais na concepção projetual, e como elas infl uenciam no resultado. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 29 SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 29 08/02/2021 13:28:42 O programa de necessidades Conforme vimos em nossa discussão sobre as análises em arquitetura, a primeira força relacionada por Baker (1998) é o local e a importância de seu estudo na concepção arquitetônica. O segundo elemento do projeto ar- quitetônico, então, é, para ele, o requisito funcional, que está diretamente relacionada ao programa de necessidades. Assim, um ponto fundamental para o desenvolvimento do projeto arquitetônico é a defi nição do seu pro- grama de necessidades. O programa de necessidades é um roteiro ou listagem de cômodos que uma edifi cação deve ter, considerando o anseio e as demandas do cliente, bem como a legislação vigente. Ele depende diretamente do uso que será dado àquele espaço, como, por exemplo, em edifi cações comerciais, que devem conter tanto ambientes destinados ao público quanto ambientes de uso particular. Para defi nir com maior precisão o programa de necessida- des, então, devemos seguir alguns passos básicos, sendo eles (VOORDT; WEGEN, 2013): • A análise das atividades que a edifi cação irá abrigar, recolhendo infor- mações e experiências dos usuários ou do cliente que irá ocupá-la; • A tradução espacial das necessidades funcionais e das especifi cações de desempenho apontadas nas normas e na legislação vigente; • A busca por projetos comparáveis, estudando as informações relati- vas àquela tipologia de projeto e coletando informações dos programas de necessidades; • A avaliação dos precedentes daquele tipo de projeto. Em seguida, o próximo passo é construir um quadro ou lista que assinale o programa de necessidades do edifício e dos apartamentos que ele irá conter (Quadro 1). Após listar o programa de necessi- dades, podemos defi nir a setorização, para iniciar a concepção do projeto e transformá-lo em um desenho. A setorização se baseia em agrupar os ambientes que constituem a lista do pro- grama de necessidades, pensando na relação que existe entre eles. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 30 SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 30 08/02/2021 13:28:42 LOCAL AMBIENTES Edifício Apartamentos Estacionamento Hall Portaria Salão de festas Apartamentos Dois dormitórios Dois sanitários Cozinha Área de serviços Sala Varanda QUADRO 1. PROGRAMA DE NECESSIDADES DE UM EDIFÍCIO RESIDENCIAL Quando há uma ligação íntima entre dois ou mais cômodos, esse proces- so de setorização deve garantir que eles estejam próximos. Ao setorizar os ambientes, podemos levar em conta os usos e as atividades que ali ocorrem, bem como o modo de vida dos usuários daquele espaço e os hábitos que eles têm. No caso da Casa Grelha, como podemos ver na Figura 12, os arqui- tetos optaram por agrupar os ambientes de acordo com seus usos: social; para os filhos; serviços; área do casal; decks e coberturas. A partir daí, eles foram representados por uma determinada cor, criando agrupamentos de determinado uso dentro do projeto. USOS Social + serviços + casal Filhos Deck + pérgola + cobertura de vidro Cobertura retrátil Figura 12. Setorização da Casa Grelha. Fonte: ArchDaily Brasil, 2012. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 31 SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 31 08/02/2021 13:28:43 Partido arquitetônico de um projeto O terceiro elemento ao qual Baker (1998) faz referência, ao tratar dos componen- tes fundamentais de um projeto, é o contexto cultural. Ao analisarmos a arquite- tura monumental dos séculos XVI e XVII, percebemos que ela era o refl exo de uma determinada época e da intenção de quem solicitou sua construção. Desse modo, muitas vezes, os poderes político e religioso se manifestavam através da arquitetura. Sendo assim, a monumentalidade fazia sentido naquele período, enquanto que um projeto de arquitetura moderna de Le Corbusier, que preza pela funcio- nalidade e não pretende utilizar elementos rebuscados, não faria sentido algum ou nada representaria em séculos anteriores. Da mesma forma, não faria sentido esperar que todas as edifi cações do Japão fossem iguais às do Brasil, por exem- plo. Para aprimorar essa refl exão, observemos a Figura 13, na qual podemos verifi car diferentes projetos residenciais, cada um com suas formas particulares. Figura 13. Estilos arquitetônicos residenciais. Fonte: AdobeStock. Acesso em: 09 set. 2020. A forma fi nal de uma edifi cação está relacionada, ainda, ao tipo do empreen- dimento: se são edifi cações residenciais, comerciais ou de serviços. Além disso, devemos considerar suas relações com o contexto, as legislações e o programa de necessidades. A partir daí, será possível defi nir o volume da edifi cação de modo que ele atenda aos usuários e esteja inserida na linguagem daquele período e lo- cal. Todas essas relações estão relacionadas com o partido arquitetônico. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 32 SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 32 08/02/2021 13:28:44 Laerte P. Neves (1998) aponta que partido arquitetônico é a expressão formal da ideia preliminar do projeto. Partimos de conceitos abstratos, estudados até aqui, e, então, formalizamos e transformamos essas ideias em um objeto habitável e capaz de exercer uma determinada função. O partido arquitetônico é, então, um re- gistro gráfico da ideia, transformando-a na linguagem primor- dial da arquitetura – o desenho. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 33 SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 33 08/02/2021 13:28:44 Sintetizando Nesta unidade, tivemos contato com a fase inicial de formulação de um projeto arquitetônico, focando nas análises. A primeira parte do conteúdo ex- plicitou as possíveis metodologias a serem adotadas ao pensar um projeto de arquitetura, e, em seguida, vimos alguns procedimentos e características que podem ser analisadas para enriquecer o estudo preliminar e justificar nossas escolhas finais, do ponto de vista da forma, função e implantação, por exemplo. O primeiro tipo de análise que vimos foi aquele voltado para o local de pro- jeto, verificando a importância de conhecer o entorno, de acordo com tipolo- gias, usos, gabaritos, meios de transporte, acessos, e o terreno – com a topo- grafia, orientação solar e variáveis de conforto, como a ventilação. Em seguida, apresentamos projetos residenciais, entendendo a tipologia a ser trabalhada. Seguindo o histórico de apartamentos no Brasil e seu desenvolvimento ao lon- go dos anos, foi possível observar as evoluções desse tipo de projeto, a partir do estudo de algumas plantas-chave. Por fim, apresentamos a incorporação de aspectos morfológicos e cul- turais ao contexto de desenvolvimento de um projeto, mostrando como a definição do programa de necessidades, com sua setorização, e do partido arquitetônico são importantes na fase inicial. Com todos esses elementos,então, somos capazes de apresentar estudos preliminares do nosso projeto e, assim, avançar ainda mais. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 34 SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 34 08/02/2021 13:28:44 Referências bibliográficas BAKER, G. H. Análisis de la forma: urbanismo y arquitectura. 2. ed. México, DF: Gustavo Gili, 1998. Casa Grelha/FGMF Arquitetos. ArchDaily Brasil. 01 jan. 2012. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/01-18458/>. Acesso em: 9 out. 2020. Edifício Tetrys/FGMF Arquitetos. ArchDaily Brasil. 07 maio 2019. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/915620/>. Acesso em: 9 out. 2020. FARRELLY, L. Fundamentos de arquitetura. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013. FRACALOSSI, I. Clássicos da Arquitetura: Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes (Pedregulho)/Affonso Eduardo Reidy. ArchDaily. 02 dez. 2011. Dis- ponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/01-12832/classicos-da-arquite- tura-conjunto-residencial-prefeito-mendes-de-moraes-pedregulho-affonso-e- duardo-reidy>. Acesso em: 9 out. 2020. FRANÇA, E. F. A análise de projeto arquitetônico ampliada em tablets. 2015. 212 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura, Tecnologia e Cidade) – Faculda- de de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo Universidade de Campinas, Campinas, 2015. Disponível em: <http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/ REPOSIP/258349>. Acesso em: 9 out. 2020. PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO. PIU Parque Minhocão: 1ª consul- ta pública – elementos prévios ao desenvolvimento do projeto. 17 maio 2019. Disponível em: <https://participe.gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/parque- -minhocao/>. Acesso em: 8 out. 2020. JONES, J. C. Design methods: seeds of human factures. Nova York: John Wiley, 1970. KOWALTOWSKI, D. C. C. K. et al. Reflexão sobre metodologias de projeto ar- quitetônico. Ambiente Construído, v. 6, n. 2. Porto Alegre, 2006. p. 7-19. Dis- ponível em: <http://www.seer.ufrgs.br/index.php/ambienteconstruido/article/ view/3683/2049>. Acesso em: 9 out. 2020. KOWALTOWSKI, D. C. C. K. et al. O processo de projeto em arquitetura: da teoria à tecnologia. São Paulo: Oficina de Textos, 2011. LAWSON, B. Como arquitetos e designers pensam. São Paulo: Oficina de tex- tos, 2011. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 35 SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 35 08/02/2021 13:28:44 NEVES, L. P. Adoção do partido na arquitetura. 2. ed. Salvador: Editora da Universidade Federal da Bahia, 1998. POP XYZ/Triptyque. ArchDaily Brasil. 19 maio 2017. Disponível em: <https:// www.archdaily.com.br/br/871590/>. Acesso em: 9 out. 2020. REIS, L. As mudanças das plantas de apartamentos ao longo dos anos. Blog da Arquitetura. 20 out. 2016. Disponível em: <https://www.blogdaarquitetura. com/as-mudancas-das-plantas-de-apartamentos-ao-longo-dos-anos/>. Aces- so em: 9 out. 2020. ROLNIK, R. Apartamentos de 10 m²: mínimo necessário ou lucro máximo? Ar- chdaily Brasil, 26 ago. 2017. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/ br/878397/>. Acesso em: 09 out. 2020. SOS Brutalismo: arquitetos querem salvar edifícios do pós-guerra. Postado por DW Brasil. (4 min. 40 s.) cor. son. port. Disponível em: <https://www.youtu- be.com/watch?v=oPX3QiZQbWY>. Acesso em: 09 out. 2020. UNWIN, S. A análise da arquitetura. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013. VOORDT, T. J. M.; WEGEN, H. B. R. Arquitetura sob o olhar do usuário. São Paulo: Oficina de textos, 2013. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 36 SER_ARQURB_PAUIV_UNID1.indd 36 08/02/2021 13:28:45 ASPECTOS PLÁSTICOS E ESCOLHAS TÉCNICAS DO PROJETO ARQUITETÔNICO 2 UNIDADE SER_ARQURB_PAUIV_UNID2.indd 37 08/02/2021 13:54:27 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Compreender a importância das escolhas plásticas no desenvolvimento do projeto; Compreender a importância das escolhas plásticas no resultado do projeto; Estudar recursos técnicos e tecnológicos disponíveis para projetos de arquitetura; Estudar materiais que podem ser aplicados às edificações residenciais; Compreender formas de representação em projetos residenciais. Aspectos plásticos do projeto de arquitetura Introdução à plasticidade em arquitetura Relação entre volumes na con- cepção arquitetônica Estudo volumétrico: aplicação em projetos residenciais Representação da funcionali- dade em projetos arquitetônicos Funcionalidade em arquitetura Relação entre forma e função arquitetônica Maquete: representação tridi- mensional A tecnologia e os materiais em projeto Uso dos materiais e sistemas construtivos em projetos resi- denciais A relação entre partido arquite- tônico e materiais de construção PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 38 SER_ARQURB_PAUIV_UNID2.indd 38 08/02/2021 13:54:27 Aspectos plásticos do projeto de arquitetura Como estudante de Arquitetura, você conhece a importância de explorar, em seus projetos, as formas e volumes e defi nir como eles ocuparão o espaço fi nal que você conceberá. Naturalmente, isso gera alguns questionamentos. Necessariamente, essas formas são resultado da função? Ao longo dos anos, como os arquitetos têm explorado a volumetria de suas edifi cações? Você consegue libertar-se de formas predefi nidas e criar propostas que façam um estudo volumétrico fora do comum? Ao longo desta unidade, você verá um histórico de projetos de arquitetura que exploraram sua forma de acordo com a função a ser desempenhada, bem como quais as relações entre volumetria e arquitetura e sua aplicação em projetos da tipologia residencial. Vamos trabalhar com a ideia de que você é membro de um escritório de arquitetura que está propondo um residencial novo para a sua cidade. Para a concepção dessa edifi cação, você deverá passar por uma etapa de explo- ração formal. Vamos buscar compreender quais serão as características fun- damentais, para você e sua equipe, nesse desenvolvimento. Vamos começar? Introdução à plasticidade em arquitetura Você sabe o que é plástica? E plasticidade? Mais do que isso, sabe a impor- tância desses termos e como eles podem ser aplicados ao contexto arquite- tônico? A arquitetura é um tipo de expressão artística e, como tal, concebe objetos volumétricos e com algum sentido estético. No entanto, diferente de outras expressões artísticas, cuja principal fi nalidade é a contemplação, o resultado de um projeto arquitetônico tem funções defi nidas, com usos para seus espaços. EXPLICANDO A palavra estética origina-se da palavra grega aisthetiké, que signifi ca co- nhecimento sensorial, experiência sensível ou sensibilidade (CHAUÍ, 2000). Sua principal ideia está em entender que as artes são criações humanas capazes de comover e estimular a sensibilidade daqueles que as observam. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 39 SER_ARQURB_PAUIV_UNID2.indd 39 08/02/2021 13:54:27 Já pensou nos edifícios, que são projetados por você, dessa forma? E como a arquitetura poderia se relacionar à plástica? A ideia de plástica está vinculada à maleabilidade de um determinado meio e/ou material. Quando os materiais utili- zados em um determinado objeto são mais flexíveis, o nível de plasticidade dele é, consequentemente, maior (ALMEIDA, 2011). Você acha que a arquitetura e os ma- teriais disponíveis em sua concepção são suficientemente plásticos para que o re- sultado seja maleável e, consequentemente, tenha elevado grau de plasticidade? Para entender um pouco sobre a ideia de obras arquitetônicas plásticas, obser- ve a comparação feita por Jatobá (2008). O autor analisa as obras de dois impor- tantes arquitetos: Frank Gehry e Oscar Niemeyer. Ambos tratavam a arquitetura como um volume plástico e de valor escultórico, trabalhando, em alto grau, sua di- mensão de emocionar as pessoas. Eles utilizavam croquis feitos à mão para traçar livremente seus projetos que, posteriormente, recebiam o tratamento da alta tec- nologia de suas equipes, que utilizavam softwares de ponta para gerar desenhos técnicos aptos à construção dessas edificações.O ponto-chave, no entanto, é que ambos os arquitetos não se limitavam, mas pensavam sua volumetria da forma mais livre e não convencional possível, utilizan- do caneta e papel. Apesar disso, suas obras diferenciam-se muito no resultado, uma vez que Niemeyer utilizava o concreto e Gehry esculpiam suas obras em metal. Nas Figuras 1 e 2, você pode conferir exemplos tradicionais da obra de ambos. A primeira apresenta o Museu Guggenheim Bilbao, de Gehry, construído na Espa- nha, e a segunda traz uma imagem do Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC), localizado no Rio de Janeiro, projetado por Niemeyer: Figura 1. Museu Guggenheim Bilbao. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 13/01/2021. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 40 SER_ARQURB_PAUIV_UNID2.indd 40 08/02/2021 13:54:33 Figura 2. Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC). Fonte: Shutterstock. Acesso em: 13/01/2021 Qual é a sua opinião sobre essas obras? Como você poderia agregar essas ideias, desenvolvidas por dois grandes arquitetos, em seu próprio projeto? Inspi- re-se nas obras apresentadas e explore as possibilidades existentes na concepção arquitetônica do seu edifício residencial. Relação entre volumes na concepção arquitetônica O processo de concepção na arquitetura é aquele no qual as ideias que estão na mente do arquiteto são traduzidas a partir de desenhos, transformando-se em formas ocupáveis. Esses desenhos podem ser desde croquis até plantas, cortes, fachadas e isométricas do projeto. Eles vão auxiliar tanto na execução, quanto na compreensão do projeto por parte de todos os agentes envolvidos no processo, como os clientes, os engenheiros, os mestres de obra e os pedreiros, que precisam compreender a ideia do projeto para que a construção possa gerar um resultado compatível com aquilo que foi pensado pelo arquiteto. Você costuma utilizar todas essas ferramentas desde o início e em todas as fases do seu processo de projeto, ou as apresenta como produtos? Já expe- rimentou criar planos de massas do seu objeto arquitetônico quando o está concebendo? O plano de massas nada mais é do que uma leitura do projeto (que pode englobar seu terreno e entorno), em que podem ser utilizadas co- res e apontadas formas, potencialidades, fragilidades e materialidades do seu projeto. Nele, sua edifi cação é apresentada como uma volumetria, e ainda não existe uma divisão exata das áreas internas dela. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 41 SER_ARQURB_PAUIV_UNID2.indd 41 08/02/2021 13:54:36 Nesse momento, você está livre para criar e pode levar seu pensamento além das duas dimensões da planta e das fachadas. É possível explorar curvas, inclina- ções e outras relações que fogem à ortogonalidade comum à arquitetura tradicio- nal. Que tal aproveitar essa oportunidade para experimentar como sua concepção arquitetônica pode resultar em volumes não usuais pela exploração volumétrica? De acordo com Almeida (2011), você pode utilizar as dinâmicas da ação e da maleabilidade formal e gerar um movimento plástico. Utilize sua experiência, ba- seie-se nas obras apresentadas e em tantas outras disponíveis na internet e im- prima forma às suas ideias. Seja dinâmico e aberto às possibilidades que o livre desenho traz. Não utilize, no primeiro momento, ferramentas digitais. Embora a tecnologia digital auxilie vários processos durante o projeto e apresente incríveis possibilidades de rápida modifi cação e visualização do ob- jeto projetado, bem como da aplicação de materiais, que tal tentar utilizá-la apenas depois que fez os primeiros estudos à mão? Teste a possibilidade de relacionar volume e arquitetura pelos desenhos e, até mesmo, por modelos físicos (ALMEIDA, 2011). Estudo volumétrico: aplicação em projetos residenciais Uma vez que você está trabalhando em um projeto residencial, deve estar se perguntando como é possível associar um estudo volumétrico a esse tipo de edifi cação. Deve pensar se é necessário recorrer sempre à tradicional forma or- togonal para solucionar seu projeto, ou se diferentes volumetrias podem ser em- pregadas para criar um edifício residencial. Que tal buscar projetos de referência com boas soluções já empregadas nessa tipologia para lhe inspirar quanto às formas do projeto de edifício residêncial? Você já ouviu falar em Antoni Gaudí? Gaudí foi um arquiteto espanhol que viveu entre os séculos XIX e XX, e que projetou diversas obras em Barcelona. Tal- vez a obra mais conhecida seja, o ainda inacabado, Templo Expiatório da Sagrada Família, ou apenas Sagrada Família, como a catedral é popularmente conhecida. Em 1906, o arquiteto projetou uma edifi cação residencial em Barcelona, que nos leva a pensar sobre a forma e a arquitetura empregadas nesse tipo de edifício. O edifício, feito para a família Batlló (que pretendia morar nos primeiros an- dares e alugar os demais), pode ser considerado muito artístico. A principal in- PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 42 SER_ARQURB_PAUIV_UNID2.indd 42 08/02/2021 13:54:36 tervenção foi a reconfiguração da fachada, que se caracteriza pela presença de curvas, ossos e por formas de répteis. Além disso, é uma obra colorida e rica, em cerâmica e vidro. As formas utilizadas por ele contrastam com a rigidez do entorno e afiliam-se ao movimento art nouveau, pelo qual a arquitetura da Euro- pa passava naquele momento. No interior do edifício, mais uma vez, há formas curvas e surpreendentes (FRACALOSSI, 2012). Você pode acompanhar essas características pela observação das Figuras 3 e 4. A primeira apresenta o exterior, onde é possível perceber diferentes mate- rialidades, cores e curvas, com grande organicidade. A segunda reproduz mais uma vez a riqueza colorida da proposta de Gaudí, em conjunto com suas formas inusitadas em um pátio interno coberto de azulejos: Figura 3. Casa Batlló (exterior). Fonte: Shutterstock. Acesso em: 13/01/2021. Figura 4. Casa Batlló (interior). Fonte: Shutterstock. Acesso em: 13/01/2021. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 43 SER_ARQURB_PAUIV_UNID2.indd 43 08/02/2021 13:54:39 A observação desse projeto lhe permite vislumbrar possibilidades quanto às volumetrias, formas e cores. Você já o conhecia? Procure saber um pouco mais sobre ele, bem como de outras obras de Gaudí. Em conjunto com as obras de Niemeyer e Gehry, apresentadas anteriormente, você já tem três grandes nomes capazes de enriquecer seu repertório volumétrico e plástico. Representação da funcionalidade em projetos arquitetônicos Um projeto de arquitetura gera um conjunto de relações entre formas e funções. É possível considerar que as funções se expressam formalmente pelo partido arquitetônico e pelas escolhas volumétricas de uma equipe ou arquite- to. A função, por sua vez, está relacionada ao programa de necessidades. Como, porém, é possível relacionar essas condicionantes durante seu pro- cesso de concepção? Como formular um processo que auxilie você a defi nir desenho e forma fi nal do projeto de arquitetura? Aqui, você aprenderá um pouco mais sobre a importância da função na arquitetura e sua relação com as escolhas formais. Posteriormente, o que você acha de começar a praticar essa junção por meio de representações em maquete? Acompanhe as páginas a seguir e veja a importância dessa etapa desde o início do seu processo de projeto. Funcionalidade em arquitetura Se você é arquiteto, e está trabalhando no projeto de uma edifi cação residen- cial para um cliente da sua cidade, signifi ca que há uma demanda de moradia no local. Assim, aquele que o contratou pretende utilizar seus serviços para conce- ber uma nova edifi cação que cumpra a função de habitação para aqueles que comprarem um imóvel ali. Pensando nisso, você sabe, de antemão, que sua proposta arquitetônica tem uma função bastante defi nida: ela será residência para um conjunto de pessoas. Isso leva você a pensar que, dentro da edifi cação e de cada unidade habitacio-nal específi ca, deverá propor espaços que possam ser ocupados e utilizados de forma efi ciente. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 44 SER_ARQURB_PAUIV_UNID2.indd 44 08/02/2021 13:54:39 Quais são, porém, esses espaços? Lembre-se de que a especificação deles de- penderá tanto da funcionalidade da arquitetura quanto dos anseios do cliente. Nesse caso, a ideia é que a edificação contenha espaços coletivos no térreo, como salão de festas, piscina, academia e coworking. Além disso, você pode acompa- nhar, no Quadro 1, as demandas do cliente com relação a dois tipos de apartamen- tos que devem compor o edifício residencial que você está projetando: Tipo de apartamento Ambientes Studio (30 m²) Sala, cozinha e quarto integrados Banheiro Varanda gourmet Dois dormitórios (65 m²) Sala Cozinha com área de serviços integrada Dois dormitórios Banheiro Varanda gourmet QUADRO 1. EXEMPLO DE PROGRAMA DE NECESSIDADES DOS APARTAMENTOS Ao analisar o Quadro 1, você vai perceber que existem duas demandas diferen- tes para apartamentos no seu edifício, além das áreas comuns já citadas. Assim, como você organizará a planta tipo da edificação, de forma a conter este conjunto de espaços previstos na lista do programa de necessidades? EXPLICANDO Você sabe o que é uma planta tipo? Essa expressão é utilizada para fazer referência à planta-padrão de uma edificação, ou seja, ela refere-se à planta que se repete pelo maior número de pavimentos dentro do edifício. No caso de uma edificação residencial, por exemplo, a planta que contém os apartamentos e é replicada por vários pavimentos é a chamada planta tipo. Assim, caso sua proposta apresente vários pavimentos iguais, não é necessário desenhá-los separadamente. Para a construção dessa planta tipo, qual será a forma adotada por você, pensando que há dois apartamentos de diferentes dimensões e propostas? Você pode começar criando setores diversos em uma planta, sendo um deles PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 45 SER_ARQURB_PAUIV_UNID2.indd 45 08/02/2021 13:54:39 destinado apenas aos apartamentos do tipo studio e outro para os apartamen- tos de dois dormitórios (mas não se esqueça de que isso poderá refl etir-se na forma fi nal do seu edifício). Outra possibilidade disponível é mesclar, em um mesmo pavimento, as di- ferentes plantas e metragens. Ainda com essa segunda opção, é possível criar uma volumetria interessante. Também não se esqueça de pensar em como os equipamentos coletivos desse residencial se distribuirão pelo edifício, ao for- mular seu projeto. Relação entre forma e função arquitetônica Acompanhando o programa de necessidades da edifi cação na qual você está trabalhando, é possível perceber que a existência dos dois tipos de resi- dência demonstra que, embora a função de habitar seja a mesma para am- bas, ela pode ser feita em espaços com confi gurações e dimensões distintas. Dessa forma, uma mesma função não implica homogeneidade formal fi nal em seu objeto arquitetônico. Apartamentos diferentes podem resultar, sim, em locais parecidos que ape- nas diferem em áreas e, é claro, no público atendido. Sua escolha como arquiteto pode ser a de apresentar formalmente essa distinção de necessidades espaciais, que cada um desses tipos traz. No entanto, quais as referências formais que você tem, e como as explora? Entre os arquitetos brasileiros mais conhecidos, está Oscar Niemeyer. Você já viu uma de suas obras por aqui, mas conhece outras? Niemeyer criou uma linguagem arquitetônica própria, ao explorar, diante da arquitetura moderna em que a linhas e ângulos retos eram predominantes, as curvas. Segundo o próprio Niemeyer (2005), sua inspiração vinha das formas curvilíneas das mulheres e das montanhas cariocas. ASSISTA Conheça um pouco mais sobre a obra de Oscar Niemeyer e sua manei- ra de explorar a forma arquitetônica assistindo ao documentário Oscar Niemeyer – a vida é um sopro, dirigido por Fabiano Maciel e lançado em 2007. O documentário tem 89 minutos e conta com a participação de Chico Buarque de Hollanda e Lúcio Costa, entre outras personalidades. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 46 SER_ARQURB_PAUIV_UNID2.indd 46 08/02/2021 13:54:39 As obras fl uidas de Niemeyer são parte de um conjunto arquitetônico que, mesmo ao longo dos anos, rompem com a rigidez formal e passam a explorar a forma livre na arquitetura como uma expressão necessária. Para arquitetos como ele e Frank Gehry, a obra arquitetônica era pensada como uma escultura que, posteriormente, assumiria a função à qual estava destinada. Nesse sen- tido, a plasticidade e a beleza adquirem um sentido ainda mais forte do que o comum (JATOBÁ, 2008). Para você, qual a ordem de pensamento quando se trata do projeto arquite- tônico? A função aparece em primeira instância, dando sentido à forma poste- rior, ou a forma é pensada primeiramente, e a função encaixada nela posterior- mente? Tais questionamentos podem surgir, pois, em arquitetura e projeto, não existe uma regra ou metodologia única e totalmente linear no desenvolvimento de uma edifi cação. Entretanto, o ponto-chave é que exista relação entre esses dois fatores – for- ma e função – e, ainda, que eles possam ser representados de modo que seja compreensível para qualquer um que tenha contato com o projeto em todas as suas fases. Para tal, você pode utilizar tanto os desenhos, que permeiam todos os momentos do projeto, quanto maquetes e modelos tridimensionais. No subtópico seguinte, você verá a importância da representação arquitetô- nica por meio da maquete e como esse recurso pode ser utilizado também na determinação da forma da edifi cação, mesmo na fase de projeto. Maquete: representação tridimensional Você já deve saber, empiricamente e pela prática, que, em arquitetura, o desenho é uma entidade presente durante todo o processo de projeto. Isso acontece independentemente da tipologia que está sendo projetada e, ainda, da fase em que se está trabalhando. Desde a concepção inicial e esquemática do seu objeto arquitetônico até à entrega de um projeto executivo completo com plantas, cortes, fachadas e de- talhamentos específi cos que nortearão a execução da obra, a comunicação em arquitetura passa pela representação das ideias para um determinado espaço. Isso, porém, não signifi ca que o desenho deva ou precise ser a única maneira de o arquiteto comunicar suas intenções projetuais e resultados. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 47 SER_ARQURB_PAUIV_UNID2.indd 47 08/02/2021 13:54:39 É possível utilizar o recurso das maquetes mesmo quando a proposta ainda não está plenamente definida, ou, ainda, como exploração da forma. Esses pri- meiros estudos podem estar vinculados aos croquis iniciais do projeto e podem ser realizados em diversos materiais, incluindo o papel sulfite e o papelão. Esses simples papéis podem ser usados para representar planos ou pavi- mentos de uma edificação. Na Figura 5, você pode observar e se inspirar em um modelo de maquete física que é representativa dos estudos iniciais de um volume arquitetônico, importante nas fases iniciais do desenvolvimento do projeto de uma edificação: Figura 5. Representação física, em papelão, de edificação. Fonte: DOMENEGHETTI, 2015. É importante considerar que esses estudos volumétricos devem ser reali- zados em escala. A utilização correta dela permite compreender as possibili- dades funcionais, os acessos, a relação com o terreno e o entorno disponível, a insolação de acordo com o posicionamento da edificação no terreno e a for- ma adotada. Além disso, pode-se, a partir da escala, fazer um estudo das va- riáveis que destaquem as potencialidades e possíveis modificações a serem feitas no projeto. Claro que, se você ainda está na etapa inicial dos estudos, as informações encontradas também serão iniciais. Ao longo do processo de desenvolvimento do projeto, embora não exista regra, é interessanteque o conjunto de desenhos feitos por você e sua equi- pe, e apresentados ao cliente, seja acompanhado de estudos volumétricos. Seguindo nosso exemplo, explore algumas alternativas formais, consideran- do o programa de necessidades que você já conhece. Tente enlaçar as variá- veis de forma e função que você tem. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 48 SER_ARQURB_PAUIV_UNID2.indd 48 08/02/2021 13:54:41 Com os resultados encontrados, faça novos desenhos, desenvolva sua ideia. A partir do momento que os desenhos estão mais desenvolvidos, gere um novo modelo tridimensional. Lembre-se de que o segundo estudo pro- porcionará novas variáveis da relação entre objeto arquitetônico e entorno. Também é importante salientar que o uso dessas maquetes ajudará tanto no seu processo de concepção e aprimoramento do projeto quanto na com- preensão do cliente sobre ele. Talvez você escolha passar da fase das maque- tes físicas para as virtuais. Isso também pode acontecer, mas, novamente, não é o único modelo a ser seguido. Para que você se anime com a possibilidade de trabalhar com maquetes físicas, observe as Figuras 6 e 7. Nelas, você vê a representação de projetos de arquitetura sem a utilização de recursos virtuais e já com alto grau de de- talhamento da edificação e do entorno: Figura 6. Maquete física de projeto arquitetônico (1). Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 13/01/2021. Figura 7. Maquete física de projeto arquitetônico (2). Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 13/01/2021. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 49 SER_ARQURB_PAUIV_UNID2.indd 49 08/02/2021 13:54:48 Considerando as Figuras 6 e 7, veja que as maquetes são modelos que podem ser utilizados para facilitar o entendimento, ou mesmo para realizar leituras de condicionantes locais em relação à volumetria do projeto. É comum trabalhar, também, com essas maquetes físicas para realizar testes de conforto. A adequação das edificações, independentemente da sua tipologia, às condições de conforto ambiental é essencial para que o proje- to arquitetônico seja sustentável e adequado para seus usuários. A análise pode ser realizada em laboratório e, para tal, os modelos físicos devem ser construídos com suas aberturas posicionadas corretamente no terreno, em relação à orientação solar e dos ventos. Isso permite visualizar, por exemplo, o percurso dos ventos no interior das edificações, garantindo que a unidade, como um todo, seja ventilada. O equipamento utilizado para esse tipo de teste é o túnel de vento. Há a possibilidade de realizar testes com outro equipamento usual em la- boratórios de conforto ambiental: o heliodon. Utilizando-o, é possível simular a trajetória do sol em relação à maquete de acordo com a posição e orientação geográfica dela – relacionando-a à direção norte do dispositivo. Assim, é possível verificar como se dá a inso- lação no edifício projetado ao longo do dia e em datas específicas do ano, como os solstícios de verão e in- verno e os equinócios de primavera e outono. Essa operação sempre pode ser feita para unidades separa- das da edificação ou para a sua totalidade, dependendo da maquete realizada. Também é possível verificar a interferência de vegetação e outros edifícios do entorno quanto à radiação solar no seu projeto. CURIOSIDADE O solstício representa a data na qual a Terra recebe uma quantidade de sol maior em um dos hemisférios. No dia 21 de junho, acontece o solstício de inverno no hemisfério sul e o de verão no hemisfério norte; e no dia 21 de dezembro, acontece o solstício de verão no hemisfério sul e o de inverno no hemisfério norte. O equinócio é quando a luz do sol e o calor atingem os dois hemisférios da mesma forma. Ele acontece entre os dias 20 e 21 de março para equinócio de primavera no hemisfério norte e de outono no hemisfério sul; em 23 de setembro ocorre o equinócio de outono no hemisfério norte e o de primavera no sul. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 50 SER_ARQURB_PAUIV_UNID2.indd 50 08/02/2021 13:54:48 Com a utilização cada vez maior de tecnologias computacionais no contex- to da arquitetura, é comum que os modelos sejam desenvolvidos virtualmen- te. Uma das vantagens da maquete virtual é o realismo com o qual ela pode ser feita. Com uma disponibilidade tecnológica enorme, é possível represen- tar um projeto arquitetônico de forma bem próxima à realidade. Esse fator contribui não apenas para a fácil visualização de fatores, como o partido ar- quitetônico adotado, as materialidades e espaços, mas também para estudos mais aprofundados e complexos. Com o realismo virtual é possível que os estudos sobre o comportamen- to térmico e acústico das edifi cações, por exemplo, seja bastante completo, antes mesmo de sua construção. Por meio de softwares e plug-ins, o modelo desenvolvido pode ser estudado considerando a infl uência da vegetação pre- sente no entorno, a incidência solar durante os diversos períodos e estações do ano e o comportamento dos materiais empregados do ponto de vista tér- mico e estrutural. Esses estudos permitem modifi cações mais rápidas e fáceis, anteriores à construção do seu projeto. Isso é importante para corrigir falhas potenciais e permitir o melhor desempenho possível para a edifi cação, sem custos extras ou elevados, caso o projeto já estivesse efetivamente construído. Volte ao exemplo da sua edifi cação com essas informações. Elabore a área na qual está trabalhando, incluindo a topografi a, e modele o edifício residen- cial sobre ela. Comece a explorar alguns fatores relacionados à insolação, ve- getação e outros volumes edifi cados no entorno, e verifi que a infl uência que ocorre entre eles. Isso tornará necessárias mudanças na forma inicial que você estava prevendo para o projeto? Pense que seu projeto está ganhando forma e mostrando-se mais completo e complexo, com camadas de caracte- rísticas que o tornarão efi ciente para seu cliente e os usuários futuros. A tecnologia e os materiais em projeto Até agora, você explorou determinantes funcionais e formais no seu proje- to de edifi cação residencial. É preciso, entretanto, lembrar-se sempre de que a arquitetura se compõe de determinados materiais, capazes de suportar as cargas e formas defi nidas para a ocupação daquele espaço. PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 51 SER_ARQURB_PAUIV_UNID2.indd 51 08/02/2021 13:54:49 Dessa maneira, a defi nição dos materiais é um passo fundamental para consolidar a caracterização de uma edifi cação. Há diferenças entre projetos de acordo com as materialidades dele, e isso é inquestionável. Quais, porém, são as variáveis que podem ajudar você a escolher esses materiais? E nos projetos residenciais, o que é importante considerar? A partir de agora, você verá algumas possibilidades. Não se esqueça de aplicá-las aos seus projetos. Uso dos materiais e sistemas construtivos em projetos residenciais Você já passou pelas primeiras fases do seu projeto residencial, tendo ago- ra um conjunto de elementos pronto para ser materializado. No entanto, qual será sua escolha do ponto de vista das materialidades? Preferirá trabalhar com sistemas construtivos convencionais ou optará por desenvolver seu projeto em consonância com novos materiais, sistemas e tecnologias? Lembre-se, primeiramente, de que o seu edifício terá mais de quatro pavi- mentos. Para isso, seu sistema estrutural deve ser resistente. Em geral, edifi ca- ções com vários pavimentos podem usar sistemas construtivos com pré-mol- dados de concreto compostos por pilares, vigas e elementos de vedação (como paredes e lajes). No Brasil, esses sistemas são convencionais. Esses sistemas, normalmente, são compostos por vigas e pilares metálicos ou de concreto; lajes de concreto ou blocos distribuídos em uma rede metálica; e, ainda, por paredes de alvenaria, drywall, madeira ou mesmo painéis de vi- dro. Nesse caso, é possível adotar uma modulação ou coordenação modular
Compartilhar