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AUSÊNCIA DE LITIGÂNCIA DE MÁ

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AUSÊNCIA DE LITIGÂNCIA HABITUAL/ MÁ FÉ
O acesso à justiça representa tema central de toda sistemática jurídica, processual e material, pois consiste no alicerce para o exercício de todos demais direitos, de modo que é tido como um direito fundamental, sem o qual nenhum outro direito pode ser exercido. E, por ser considerado direito fundamental, não se trata de direito natural, que pertence a todo ser humano naturalmente, mas sim de algo pelo qual se lutou até alcançar seu escopo atual e cuja interpretação vai além dos limites do inciso XXXV da Constituição Federal brasileira, o qual garante a apreciação judicial diante de qualquer ameaça ou lesão a direito.
Nas sociedades contemporâneas, apesar de se caracterizarem pela intensa desigualdade social, cada vez mais as “classes populares” (ou seja, representadas por cidadãos de baixa renda), adquirem consciência dessa desigualdade e de quão injusta ela se mostra, empoderando-se para atuar ativamente na transformação.
De início, se faz necessário ressaltar, que para a caracterização da litigância de má-fé é imprescindível que a parte tenha agido com dolo ou culpa, causando dano processual à parte contrária, o que não ocorreu no caso concreto.
A interpretação do instituto da litigância de má-fé é restritiva, devendo o magistrado fundamentar sua decisão toda vez que aplicar a pena prevista, por se tratar de uma previsão subjetiva e altamente gravosa à parte condenada. No caso em tela, a parte Autora, reúne vários fatores que tornam mais grave sua situação, é pessoa simples, hipossuficiente e vulnerável.
Imperioso destacar, que a parte Autora não buscou alterar as verdades dos fatos, pelo contrário, a busca pela tutela jurisdicional objetivando obter os devidos esclarecimentos sobre o empréstimo consignando que esta sendo descontado da sua aposentadoria, o qual não se lembra de ter contratado.
Neste caso, o que se verifica com a postura processual da parte Autora é a mera busca por ajuda do judiciário, para fazer valer seu direito de obter informações claras e precisas, sobre o contrato de empréstimo que esta sendo descontado da sua ínfima aposentadoria, sem haver qualquer enquadramento nas hipóteses do artigo 80 e 81 do Código de Processo Civil, portanto, não se vislumbrando a ocorrência de prejuízo processual à parte adversa.
Para a condenação em litigância de má-fé, são necessários três requisitos, quais sejam:
1 – Que a conduta da parte se subsuma a uma das hipóteses taxativamente elencadas no art. 80 do CPC;
2 – Que a parte tenha oferecido oportunidade de defesa, conforme disposto no art. 5º, LV, da Constituição Federal;
3 – Que da sua conduta resulte prejuízo processual à parte adversa.
Destarte, não há que falar-se em litigância de má-fé, tendo em vista que a parte Autora não agiu com dolo ou culpa. Jamais foi sua intenção subverter a verdade dos fatos como meio de defesa. Nem tão pouco tenta confundir quem quer que seja, pois não ludibriou, não forjou provas, não enganou e sequer teceu longas teses com esse objetivo.
A parte Autora, ao mover a presente ação, tem como principal objetivo, obter informações claras e precisas sobre a legitimidade do empréstimo consignando descontado do seu benefício, e por isso não implica em dizer que esta agindo de má-fé. 
Em concordância com o que foi exposto, temos os seguintes entendimentos jurisprudencial em casos análogos, in verbis:
RESPONSABILIDADE CIVIL. Suposta cobrança indevida, com anotação em cadastro de inadimplentes. Abordagem declaratória (inexigibilidade de débito), ainda com pleito reparatório (reparação por dano moral). Juízo de improcedência, com imposição de reprimenda por litigância de má-fé. Apelo da autora. Provimento, apenas para afastar reprimenda por litigância de má-fé. (TJSP - Acórdão Apelação 1002110-16.2017.8.26.0565, Relator (a): Des. Carlos Russo, data de julgamento: 05/06/2018, data de publicação: 06/06/2018, 30ª Câmara de Direito Privado) (grifo nosso)
Direito do consumidor. Restituição de valores. Danos morais. Empréstimo com desconto automático em benefício previdenciário. Empréstimo consignado. Cartão de crédito com RESERVA DE MARGEM CONSIGNADA. RMC. Sentença improcedente. Nulidade pela juntada extemporânea de documento. Incorrência. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO PARA AFASTAR APENAS CONDENAÇÃO POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. (TJSP-Acórdão Recurso Inominado 1000886-80.2018.8.26.0024, Relator (a): Des. Jamil Nakad Junior, data de julgamento: 22/11/2018, data de publicação: 27/11/2018, Turma Recursal Cível, Criminal e Fazenda Pública) (grifo nosso)
EMBARGOS À EXECUÇÃO. LITIGÂNCIA DE MÁ FÉ. DEVOLUÇÃO EM DOBRO. Não configuração. Não incidência do artigo 940 do Código Civil. Hipótese de erro grosseiro e falta de diligência do credor, insuficientes, porém, para configuração da litigância de má fé. Penalidade que exige demonstração cabal de dolo e intuito de prejudicar deliberadamente a parte adversa, inexistente na hipótese. Condenação à devolução em dobro e penalidades relativas à litigância de má-fé afastadas. Extinção da execução e condenação às verbas de sucumbência mantidas. Sentença parcialmente reformada. Apelação provida. (Relator (a): Jairo Oliveira Júnior; Comarca: Campinas; Órgão julgador: 15ª Câmara de Direito Privado; Data do julgamento: 02/03/2017; Data de registro: 02/03/2017) (grifo nosso).
Neste sentido, com base nas recentes decisões dos Respeitáveis Tribunais, para a configuração da litigância de má-fé é necessário a demonstração incontestável de dolo e intuito de prejudicar descaradamente a parte contrária, o que não podemos verificar existente na presente lide.

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