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CURSO DE TECNOLOGIA EM EDIFICAÇÕES (INTEGRADO) CAMPUS EUNÁPOLIS Disciplina: Desenho Arquitetônico I TÓPICOS EM ARQUITETURA I CADERNO DE AULAS Abril de 2014 Professora Silvia Kimo Costa Doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente (UESC/ BA) Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente (UESC/ BA) Arquiteta e Urbanista (UFV/ MG) 2 720 C837t Costa, Silvia Kimo Tópicos em arquitetura: caderno de aulas / Silvia Kimo Costa. - - Eunápolis : IFBA, 2014. 66 p. Material utilizado na disciplina de Desenho Arquitetônico do Curso Integrado em Edificações do IFBA Campus Eunápolis. 1. Arquitetura. 2. Projeto arquitetônico.I. Catalogação na fonte Bibliotecária Responsável: Nilcéia Aparecida Conceição Santos Campos – CRB5 1378 3 SUMÁRIO O processo para elaboração de projetos arquitetônicos 3 Formas de representação do projeto 13 Relação entre imagem, forma, função, escala e proporção na concepção do projeto arquitetônico 24 Inclusão social e acessibilidade 37 Ecologia urbana, gestão ambiental urbana e arquitetura sustentável 44 Eficiência energética na arquitetura e bioclimatologia 56 4 O PROCESSO PARA ELABORAÇÃO DE PROJETOS ARQUITETÔNICOS INTRODUÇÃO O presente texto objetiva abordar a concepção e metodologia de projetos arquitetônicos, para tanto será necessário conhecer os processos de criatividade e cognitivos inerentes ao processo de projeto e ter em mente que: 1. O projeto arquitetônico é complexo e envolve soluções técnicas resultantes da manipulação criativa de diferentes elementos: • Função; custo • Volume; forma; espaço; luz; textura; materiais; tecnologia construtiva • Desempenho 2. São necessários diferentes métodos, ferramentas, técnicas e formas de representação para lidar com diversas variáveis: • Humana (necessidades); psicológica; social; cultural; • econômica; legal (legislação urbana); local (condições topográficas, geológicas e climáticas); • estética; tecnológica; conforto ambiental. 3. E diferentes escalas: regionais, urbanas, do edifício e do objeto. DESENVOLVIMENTO 1. Existe uma metodologia específica para concepção de projetos arquitetônicos? No processo de criação arquitetônica, não há métodos rígidos ou universais entre profissionais, mas alguns procedimentos comuns. Na maioria da vezes é informal, individual ou segue escolas de regras estéticas. Na prática algumas atividades são realizadas pela intuição, de forma consciente, e outras seguem padrões ou normas. O padrão de pensamento dos projetistas é: raciocínio, memória, evolução de ideias, criatividade e experiência (KOWALTOWSKI et. al, 2011, p. 21). A concepção do projeto envolve: criatividade, processos cognitivos e experiência vivida na elaboração de outros projetos. 5 2. A criatividade e o processo cognitivo na elaboração do projeto. As informações iniciais recebidas pelo projetista precisam ser processadas e ordenadas para formar conceitos, princípios e referências. Ou seja, o projetista seleciona os conceitos e as relações com que trabalha no projeto, ordena as informações e constrói ideias. Resumidamente esse processo pode ser representado através do seguinte esquema: Há uma interação entre a capacidade de elaborar tarefas e as novas situações, com a automatização do processamento de informações. E a criatividade exige tempo, esforço e se manifesta depois de muito trabalho. A criatividade envolve a capacidade de análise e síntese! Porém, Kowaltowski et. al (2011), salienta que a metodologia de projeto parte da análise para a síntese, mas o arquiteto trabalha de maneira inversa: PROCESSOS COGNITIVOS Necessidades Conceitos Ideias e Noções Contexto Atributos Soluções REPRESENTAÇÃO GRÁFICA Esboços Palavras Figuras e Imagens Modelos Textos Especialização e experiência do projetista. Permite flexibilidade de pensamentos e aplicação de diferentes estratégias na solução dos problemas. Melhor será sua capacidade de análise e síntese. 1. De uma síntese figurativa preliminar 2. Passa à análise programática e técnica. 4. Dados preliminares encontram-se articulados em uma solução espacial. 3. Retorna 6 Mas por que isso ocorre? Isso ocorre porque o processo focado na solução envolve uma identificação preliminar de solução com base numa experiência anterior. Ou seja, a experiência vivida na elaboração de outros projetos, as pesquisas realizadas, a memória das soluções adotadas são automaticamente resgatadas. Sendo assim a criatividade envolverá: Kneller (1978), afirma que o processo de projeto em arquitetura segue quatro etapas, a partir, primeiramente, do processo criativo que ocorre na fase de apreensão, onde surge o impulso de resolver algum problema ou aplicar uma ideia: Preparação: que consiste na investigação do objeto de pesquisa para familiarizar-se com o problema e analisar os pontos fortes e fracos, os erros e acertos; Incubação: fase mais longa, e inconsciente, de conexão entre as ideias surgidas na preparação; gestação das soluções por recombinação, memorização, distanciamento e rejeição de hipóteses; Iluminação: resolução do problema pela reestruturação imediata da percepção e dos elementos de integração das ideias (inspiração); Verificação: revisão e análise crítica; julgamento e experimentação da solução criada. Quanto ao Processo Cognitivo, segundo Fabricio e Melhado (2011), o processo de projeto é complexo e envolve múltiplas habilidades cognitivas e motoras: os sentidos, a memória, o raciocínio, as habilidades manuais. Os termos “Processo Cognitivo” e “habilidades cognitivas” advêm de um processo denominado Cognição. E o que é Cognição? Análise e síntese Interação de características pessoais como habilidade de pensamento e raciocínio; características do ambiente, tais como valores culturais, sociais e oportunidades para expressar novas ideias. 7 De acordo com Santaella (1983), é o processo mental com o qual intermediamos nossa relação com o mundo conferindo significados às informações estruturadas e selecionadas conforme nossos interesses. A forma mais elementar de interação do homem com o mundo ocorre através da percepção; seja através da visão, do tato, do paladar ou olfato, o ser humano estabelece um conhecimento sensível do que o rodeia. Dessa forma, o processo de projeto está intimamente ligado à forma como cada indivíduo, seja o projetista ou aquele que necessita que o projeto seja elaborado, percebe e vivencia o mundo. De acordo com Fabricio e Melhado (2011), as principais habilidades intelectuais exercidas, no processo de projeto, estão relacionadas com: Capacidade de análise e síntese de informações: está presente na formulação do problema de projeto. Trata-se de obter, ordenar, classificar e hierarquizar as informações aparentemente desconexas e formular um problema a ser resolvido a partir de informações e demandas iniciais. A criatividade e o raciocínio: expressam a capacidade de propor soluções espaciais, técnicas, funcionais, financeiras, comerciais, originais, assim como desenvolver soluções coerentes para o problema posto. O conhecimento: está fundamentado nas experiências e formações anteriores do projetista e medeia a criação e o desenvolvimento das soluções projetuais. A representação e a comunicação: implicam tanto uma forma de apresentar soluções desenvolvidas (desenhos técnicos, maquetes, modelos virtuais) para serem executadas ou apreciadas, como uma forma de apoio e extensão ao desenvolvimento intelectual das soluções projetuais (esboços, simulações). Ainda segundo os autores, essas habilidades acontecem deforma inter- relacionada e são mutuamente dependentes. E para cada uma das habilidades descritas pode-se associar uma técnica de auxílio ao pensamento dominante: 8 Dessa forma, o projeto é resultado das atividades mentais do projetista e da interação deste com os múltiplos agentes envolvidos no projeto e também com ambiente que suporta tais habilidades intelectuais. 3. O processo de projeto Lawson (2005) afirma que o processo de projeto é ação para mudar o ambiente de alguma forma e não há um ponto inicial ou um ponto final. Considerando a criatividade e os processos cognitivos, segundo o autor, a metodologia mais simplificada referente ao processo de projeto é a partir da sequencia de decisões compostas pela análise, síntese e avaliação. Análise Diagramas, ideogramas, tabelas, usados para representar e sistematizar as ideias. Criação Esboços e desenhos livres, utilizados como ferramenta de desenvolvimento e simulação de ideias. Desenvolvimento Representação Desenhos técnicos e textos explicativos utilizados para viabilizar a comunicação e transmitir informações contidas no projeto para os demais agentes envolvidos no empreendimento. Métodos de cálculo, os algoritmos numéricos e os softwares de simulação e análise utilizados para estudar e qualificar as soluções projetuais com base em conhecimentos científicos e práticos acumulados. ANÁLISE SÍNTESE AVALIAÇÃO 9 Onde: Vamos relembrar? 1. O projeto arquitetônico é complexo e envolve soluções técnicas resultantes da manipulação criativa de diferentes elementos: • Função; custo • Volume; forma; espaço; luz; textura; materiais; tecnologia construtiva • Desempenho 2. São necessários diferentes métodos, ferramentas, técnicas e formas de representação para lidar com diversas variáveis: • Humana (necessidades); psicológica; social; cultural; • econômica; legal (legislação urbana); local (condições topográficas, geológicas e climáticas); • estética; tecnológica; conforto ambiental. ANÁLISE SÍNTESE AVALIAÇÃO O ponto inicial da análise é a definição dos requisitos do projeto e o ponto final é o programa constituído de uma estrutura hierárquica de requisitos. Nessa fase são concebidas as ideias e possíveis soluções que atendam aos objetivos e satisfaçam às restrições e oportunidades observadas na etapa de análise. Visa garantir que uma solução proposta seja a mais aceitável. Na avaliação a solução proposta é comparada com as metas, restrições e oportunidades que o projeto deveria atender, detectadas na fase de análise. REPRESENTAÇÃO GRÁFICA A sequencia de decisões que compreende a análise, síntese e a avaliação são contínuas e articuladas - A comunicação permite que os participantes do processo de projeto, internos ou externos, sejam informados sobre a evolução das metas, soluções e avaliações; ela consiste na troca de informações entre as fases da sequencia de decisões. 10 Sendo assim temos: 4. A representação gráfica Após a etapa de avaliação, procede-se com o detalhamento gráfico do projeto para permitir sua execução. De acordo com a NBR 13. 532/ 1995 as fases de representação gráfica de um projeto são: Estudo preliminar São produzidas as seguintes informações: caracterização geral da concepção adotada, incluindo indicações das funções, dos usos, das formas, das Etapa Elemento Variável Técnica de auxílio ao pensamento dominante – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA Análise Função; custo Humana (necessidades); psicológica; social; cultural; econômica; legal (legislação urbana); local (condições topográficas, geológicas e climáticas) Diagramas, ideogramas, tabelas, usados para representar e sistematizar as ideias. Síntese Volume; forma; espaço; luz; textura; materiais; tecnologia construtiva Estética; tecnológica; conforto ambiental Esboços; desenhos livres; desenhos técnicos preliminares, utilizados como ferramenta de desenvolvimento e simulação de ideias. Avaliação Desempenho Revisão - Humana (necessidades); psicológica; social; cultural; econômica; legal (legislação urbana); local (condições topográficas, geológicas e climáticas); estética; tecnológica; conforto ambiental Desenhos técnicos com maior detalhamento; elementos descritivos e quantitativos; planilha de custos. Associada às etapas de análise e síntese. 11 dimensões, das localizações dos ambientes da edificação, bem como de quaisquer outras exigências prescritas ou de desempenho; caracterização específica dos elementos construtivos e dos seus componentes principais, incluindo indicações das tecnologias recomendadas; soluções alternativas gerais e especiais, suas vantagens e desvantagens, de modo a facilitar a seleção subsequente. Nesta etapa são apresentados os seguintes elementos gráficos e técnicos: planta geral de implantação; plantas dos pavimentos; planta da cobertura; cortes (longitudinais e transversais); elevações (fachadas); detalhes construtivos (quando necessário). Anteprojeto São produzidas informações técnicas relativas à edificação (ambientes interiores e exteriores), a todos os elementos da edificação e aos seus componentes construtivos considerados relevantes. Nesta etapa são apresentados os seguintes elementos gráficos e técnicos: planta geral de implantação; planta de terraplenagem; cortes de terraplenagem; plantas dos pavimentos; plantas das coberturas; cortes (longitudinais e transversais); elevações (fachadas); detalhes (de elementos da edificação e de seus componentes construtivos); memorial descritivo da edificação e memorial descritivo dos elementos da edificação dos componentes construtivos e dos materiais de construção. Projeto Legal São produzidas informações necessárias e suficientes ao atendimento das exigências legais para os procedimentos de análise e de aprovação do projeto legal e da construção. Nesta etapa são apresentados os seguintes elementos gráficos e técnicos: planta geral de implantação; planta de terraplenagem; - cortes de terraplenagem; planta dos pavimentos; planta das coberturas; cortes (longitudinais e transversais); elevações (frontais, posteriores e laterais); plantas, cortes e elevações de ambientes especiais (banheiros, cozinhas, Associada às Etapas de Síntese e Avaliação Pós etapa de elaboração 12 lavatórios, oficinas e lavanderias); detalhes (plantas, cortes, elevações e perspectivas) de elementos da edificação e de seus componentes construtivos (portas, janelas, bancadas, grades, forros, beirais, parapeitos, revestimentos e seus encontros, impermeabilizações e proteções); memorial descritivo da edificação; memorial descritivo dos elementos da edificação, das instalações prediais (aspectos arquitetônicos), dos componentes construtivos e dos materiais de construção; memorial quantitativo dos componentes construtivos e dos materiais de construção. Projeto Executivo São produzidas informações necessárias para que a edificação seja construída tal qual está projetada. Nesta etapa são apresentados os seguintes elementos gráficos e técnicos: planta geral de implantação; planta de terraplenagem; cortes de terraplenagem; plantas das coberturas; cortes (longitudinais e transversais); elevações (frontais, posteriores e laterais); plantas, cortes e elevações de ambientes especiais (banheiros, cozinhas, lavatórios, oficinas e lavanderias); detalhes (plantas, cortes, elevações e perspectivas) de elementos da edificação e de seus componentes construtivos (portas, janelas, bancadas, grades, forros, beirais, parapeitos, pisos, revestimentos e seus encontros, impermeabilizações e proteções); memorialdescritivo da edificação; memorial descritivo dos elementos da edificação, das instalações prediais (aspectos arquitetônicos), dos componentes construtivos e dos materiais de construção; memorial quantitativo dos componentes construtivos e dos materiais de construção; perspectivas (opcionais) (interiores ou exteriores, parciais ou gerais); maquetes (opcionais) (interior e exterior). CONCLUSÃO: O processo de projeto se caracteriza pela utilização de diferentes habilidades intelectuais, envolvendo a criatividade, conhecimentos científicos, técnicos, experiências profissionais e capacidade de comunicação para o enfrentamento de problemas e postulação de soluções projetuais. Etapa de concretização – execução do que foi idealizado 13 Não existe uma unanimidade entre os projetistas quanto aos métodos mais apropriados para as soluções de projetos, há habilidades e atividades que, independentemente do método de projeto escolhido, são comumente encontradas em práticas profissionais. Na fase de análise existem duas atividades e habilidades importantes: formulação do problema e a escolha do ponto de vista. Na fase de síntese da solução arquitetônica existem duas habilidades ou atividades essenciais: a movimentação e a representação. E na fase de avaliação, duas atividades e habilidades se destacam: a avaliação propriamente dita e a ação de reflexão. O processo de projeto arquitetônico é dinâmico, composto por diversas fases intercaladas por ciclos de decisões e métodos diversificados, sejam sistemáticos, sejam intuitivos. REFERÊNCIAS CONSULTADAS PARA ELABORAR O PRESENTE TEXTO FABRICIO,M. M.; MELHADO, S. B. O processo cognitivo e social de projeto. In: KOWALTOWSKI, D. C. C.; MOREIRA, D. C.; PETRECHE, J. R. D.; FABRICIO, M. M. O processo de projeto em arquitetura: da teoria à tecnologia. São Paulo: Oficina de Textos, 2011. KNELLER, G. F. Arte e ciência da criatividade. São Paulo: IBRASA, 1978. KOWALTOWSKI, D. C. C.; BIANCHI, G.; PETRECHE, J. R. D. A criatividade no processo de projeto. In: KOWALTOWSKI, D. C. C.; MOREIRA, D. C.; PETRECHE, J. R. D.; FABRICIO, M. M. O processo de projeto em arquitetura: da teoria à tecnologia. São Paulo: Oficina de Textos, 2011. LAWSON, B. How designers think: the design process demystified. Oxford: Elsevier/Architectural, 2005. NBR: 13.532. Elaboração de Projetos de Edificações. Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT, 1995. SANTAELLA, L. O que é Semiótica? São Paulo: Editora Brasilience, 1983. 14 FORMAS DE REPRESENTAÇÃO DO PROJETO INTRODUÇÃO A representação é um aspecto importante de qualquer disciplina visual relacionada com o projeto, e as técnicas de representação das ideias são a origem das edificações. Os desenhos têm sua linguagem própria, e cada situação requer o dialeto certo. A linguagem da representação gráfica é variada, mas com vocabulário básico. O que torna a representação atraente é o uso da linguagem do desenho e de como esta pode ser aperfeiçoada e desenvolvida para comunicar a ideia proposta e transformá-la e uma experiência real e única. O presente texto objetiva abordar as formas de representação de um projeto. Destarte serão apresentadas as categorias de desenho; por conseguinte o conteúdo referente aos esboços à mão livre (croquis); e as projeções ortográficas. E por fim, as técnicas de representação do projeto em três dimensões. DESENVOLVIMENTO 1. Categorias de desenho As etapas de elaboração de um projeto, como o de arquitetura, por exemplo, são associadas a diferentes categorias de desenho: Desenhos de estudo de viabilidade – análise preliminar feita para documentar a possibilidade de um projeto. Os resultados deste estudo são utilizados para determinar se o projeto deverá ser levado adiante ou não. Nesta etapa é exigido um conjunto completo de desenhos: planta de situação, planta de implantação, planta baixa, elevações e cortes relevantes. Desenhos de apresentação – são desenhos cuja representação objetiva o impacto, são acessíveis e devem ser fáceis de entender. O desenho de apresentação deve transmitir os conceitos da proposta de maneira clara. Desenhos executivos – são os desenhos detalhados para que seja permitida a execução da edificação. Os detalhes incluídos neste tipo de 15 desenho fornecerão informações sobre a estrutura e os elementos de sua construção, como a relação entre paredes e fundações, paredes e pisos internos, paredes e a cobertura. Todos os detalhes especiais ou específicos do projeto também deverão ser incluídos, como os elementos peculiares da arquitetura que precisam ser construídos de maneira especial ou o uso incomum ou inovador de um material de construção. Desenhos especiais – os desenhos especiais permitem a fabricação de itens particulares ou feitos sob medida por um fornecedor. 2. Os croquis De acordo com Farrelly (2011), um croqui é um desenho rápido vago e inacabado, mas que permite a descrição de uma ideia. Os croquis têm várias finalidades: registrar imagens, observar condições e situações existentes ou desconstruir uma ideia ou um conceito de maneira analítica. Os croquis podem ser classificados em: Croqui de conceito (Figura 1) – revelam a essência de uma ideia complexa; seu objetivo é comunicar de modo claro e conciso a intenção de projeto. Este desenho é feito no início do projeto e é relevante até o fim de seu desenvolvimento. Croqui de análise (Figura 2) – são empregados na análise de uma edificação, de um espaço ou de um componente. Pode ser criado em qualquer Figura 1: croquis de conceito Fonte:http://nosquefazemos.blogspot.co m.br/2010/06/r-q-u-i-t-e-t-u-r-os- melhores-croquis.html 16 fase do projeto. Nas etapas iniciais objetivam transmitir uma intenção de projeto; nas etapas posteriores auxiliam na explicação das ideias associadas a percursos internos de uma edificação ou aspectos da construção. Croqui de observação (Figura 3) – são feitos para descrever aspectos das edificações, explorar o uso de materiais ou estudar em detalhes os espaços. Na elaboração de um croqui a hierarquia de linhas é extremamente importante. As linhas finas podem ser empregadas para a representação de sombras e detalhes; as grossas sugerem forma e substância. É possível descrever as ideias ou conceitos de arquitetura em croquis. Os diagramas de partido, por exemplo, constituem-se em um conjunto de linhas muito simples que explica ideias complexas e motivos de maneira fácil e Figura 2: croqui de análise Fonte: www.vitruvius.com.br Figura 3: croqui de observação – Teatro Municipal de Ilhéus, BA. Desenho elaborado pelo aluno André Xavier Rodrigues durante a disciplina de Desenho Arquitetônico I em 2013. Curso de Tecnologia de Edificações, IFBA – Eunápolis, BA. 17 clara. Os diagramas de partido são croquis abstratos ricos em significados e intenções e podem ser consultados em qualquer etapa do desenvolvimento do projeto. Já os desenhos analíticos são empregados para isolar aspectos específicos de uma ideia e descrevê-los como uma série de partes ou componentes. Os primeiros desenhos de um projeto, de arquitetura, por exemplo, são os croquis de análise do terreno; constituem diagramas críticos, que selecionam as ideias que influenciarão e condicionarão o projeto. Além dos croquis de conceito, análise e de observação, também existe o croqui de estudo que são desenhos elaborados para a análise de um problema particular ou para o desenvolvimento de um desenho de apresentação de uma proposta de projeto. 3. As projeções ortogonais Projeções ortogonais ou ortográficas são imagens bidimensionais que devem ser lidas e interpretadas como uma edificação ou um espaço tridimensional. A projeção ortogonalé um sistema de vistas bidimensionais relacionadas entre si. Este sistema inclui vistas de cima ou cortes horizontais de uma edificação (planta baixa), vistas verticais das fachadas (elevações) e vistas de secções verticais (cortes). Estes desenhos objetivam descrever de maneira técnica como uma ideia conceitual se concretizará. A planta baixa é desenhada em primeiro lugar e posteriormente são feitos os cortes e, por conseguinte as elevações a partir da planta baixa e dos cortes. A planta baixa (Figura 4) – é uma projeção ortogonal de um objeto tridimensional tomada a partir de um plano de corte horizontal. No projeto de uma edificação, por exemplo, é na planta baixa que são dispostas as aberturas (janelas e portas), são definidos os ambientes e seu dimensionamento (largura e comprimento) e as conexões com os recintos contíguos. 18 Planta baixa do pavimento térreo: deve mostrar a entrada da edificação e sua relação com os espaços externos e jardins. As plantas baixas dos demais pavimentos, quando existirem, como o 1º e 2º pavimentos devem indicar de maneira clara as escadas e conexões entre os diferentes níveis. A planta de cobertura deve indicar o caimento dos planos de cobertura e os beirais existentes; pode ser desenhada separadamente ou estar representada na mesma planta de implantação. A planta de situação (Figura 5) é empregada para indicar a edificação no contexto de seu terreno ou entorno imediato. Ela deve descrever com clareza a implantação da edificação proposta em relação a todas as características geográficas ou físicas importantes do contexto, como os logradouros da área e edificações públicas significativas. A planta de localização (Figura 6) apresenta uma descrição da edificação no contexto de seu terreno e inclui os prédios existentes nele e outros elementos significativos, como vias passeios, árvores e outras formas de vegetação. A planta de localização pode estar combinada com a planta baixa do pavimento térreo. Figura 4: planta baixa Fonte:http://ridenoraraujo.blogspot.com.br/2011/03/planta- baixa-humanizada-lapis-papel.html 19 O corte (Figura 7) – é uma projeção ortogonal de um objeto tridimensional sobre um plano vertical que o secciona. Em outras palavras é uma seção vertical de uma edificação. Os cortes evidenciam as relações entre o interior e o exterior de uma edificação e as relações entre os cômodos. Eles também mostram a espessura das paredes e suas relações com os elementos internos, a cobertura, os muros junto às divisas do terreno, os jardins e outros espaços externos. Um corte longitudinal é criado seccionando-se o prédio em uma linha paralela ao seu eixo maior, para mostrar as inter-relações entre as áreas internas. Já o corte transversal é feito a partir do eixo menor do prédio. Juntos os cortes e as plantas permitem uma melhor compreensão da imagem tridimensional de uma edificação. Fonte:http://www.igeo.pt/instituto/organizacao /delegacoes/Faro/Fotos_Delegacao/Fig6.jpg Fonte: www.mfiuza.com.br Figura 5: planta de situação Figura 6: planta de localização Figura 7: corte transversal Fonte: arquitetojocimarpaixao.blogspot.com 20 Elevações (Figura 8) – é a interface entre o interior e o exterior de um prédio. As edificações podem ser projetadas vendo-se de fora para dentro, usando elevações para gerar a planta baixa. Porém, a maioria dos projetistas geralmente inicia um projeto a partir da planta baixa, deixando as elevações como consequência. Uma elevação bem projetada deve responder e complementar a implantação e o contexto em termos do uso de materiais, dos volumes e da escala. Existem normatizações técnicas que orientam tanto os procedimentos para elaboração de projetos de arquitetura como para a representação dos elementos gráficos componentes do projeto. São: a NBR 13.532/1995 que fixa as condições exigíveis para elaboração de projetos de arquitetura para a construção de edificações e a NBR 6492/1994 que orienta a representação de projetos de arquitetura. 4. As representações tridimensionais As imagens tridimensionais facilitam a interpretação de uma edificação ou objeto e permitem que sua forma seja imediatamente compreendida. Dão uma noção de como seria o objeto ou uma edificação quando ocupada e podem ser combinadas com outros desenhos bidimensionais a fim de proporcionar uma ideia geral de uma proposta de um projeto. Dentre os desenhos tridimensionais destacam-se: Fonte: www.fotolog.com Figura 8: elevação (fachada) 21 Perspectiva cônica convencional (Figura 9) – são desenhos feitos à mão, a partir das informações constantes em plantas, cortes e elevações. Os princípios gerais para o desenho de uma perspectiva cônica são: 1. Todas as linhas devem convergir para pontos de fuga; 2. As figuras humanas devem diminuir de tamanho à medida que se aproximam do centro da imagem e de um ponto de fuga; 3. Os espaços e as profundidades devem ser preservadas na imagem, reforçando a ilusão de perspectiva e o realismo. Fonte: storadartes.blogspot.com Figura 9: perspectiva cônica Perspectiva axonométrica (Figura 10) – é a perspectiva produzida a partir de uma planta baixa. Para desenhar uma perspectiva axonométrica a planta baixa deve estar posicionada em um ângulo de 45º. A partir dessa orientação, a planta é redesenhada e todas as suas linhas são projetadas verticalmente. Todas as medidas permanecem inalteradas e são obtidas da planta baixa, das elevações e dos cortes. Fonte: artes-real.blogspot.com Figura 10: perspectiva axonométrica 22 Perspectiva isométrica (Figura 11) – estas perspectivas oferecem vistas similares às das axonométricas. A principal diferença entre as isométricas e as axonométricas é que as primeiras são criadas a partir de uma planta baixa que é redesenhada com uma inclinação de 30 graus (enquanto as axonométricas são feitas com 45º). A vantagem tanto das perspectivas isométricas quanto das axonométricas é que elas se relacionam de maneira realista com a percepção natural humana e são interpretações mais imediatas de uma edificação ou um espaço. Maquetes – as maquetes permitem explorar uma ideia tridimensionalmente, e expressam uma ideia de arquitetura de maneira acessível, mostrando imediatamente detalhes da escala, da forma e dos materiais, e podem ser criadas como protótipos de um elemento em tamanho real, na escala de um cômodo ou mesmo na escala de uma cidade. As maquetes permitem que as ideias sejam estudadas em mais detalhes, pois certos elementos do projeto e suas escalas às vezes não são compreendidos até que sejam vistos no contexto de uma forma modelada. As maquetes podem ser classificadas em: maquetes de conceito, maquetes de desenvolvimento, e maquetes de apresentação. • Maquetes de conceito (Figura 12) - objetivam descrever uma ideia em termos simples a fim de transmitir com clareza o conceito de arquitetura subjacente. Figura 11: perspectiva isométrica Fonte:aomundocomcarinho.blogspot.com 23 • Maquetes de desenvolvimento (Figura 13) – são feitas em diversas etapas do processo de projeto, a fim de se alinhar o conceito da proposta às especificações do programa de necessidades. Estas maquetes orientam o projeto e oferecem de maneira mais rápida a possibilidade de solução e exploração de problemas tridimensionais. Uma maquete de desenvolvimento também pode ser utilizada como ferramenta para testagem de um aspecto particular da proposta. • Maquetes de apresentação (Figura 14) – feitas após a finalizaçãodo projeto, estas maquetes podem ser utilizadas para fins de consulta pública antes que o projeto seja executado. Os materiais empregados na elaboração da maquete e as informações sobre os materiais de construção são representados com o máximo de realismo. Figura12: Maquete de conceito Fonte: arktetonix.com.br Figura13: maquete de desenvolvimento Fonte: blog.pjvarquitetura.com.br 24 CONCLUSÃO A boa representação de um projeto é um desafio. Para ser bem sucedida, a forma de representação deve comunicar o conceito de criação do projeto e suas especificações técnicas. As ideias são a origem de objetos; de peças mecânicas; de estruturas diversas e das edificações; elas levam a um conceito de projeto, que se traduz em um esboço. Este esboço (croqui) se transforma então em uma maquete preliminar e em um conjunto de desenhos em escala que serão explorados e investigados em detalhes. De acordo com Farrelly (2011) a representação gráfica é muito influenciada pelas tendências culturais de outras áreas, como a publicidade, a moda e o desenho gráfico. Pode ser uma interpretação prática e direta de uma proposta, mas principalmente, ela deve inspirar, criar expectativas e transportar o observador para um mundo de imaginação e possibilidades. REFERÊNCIAS CONSULTADAS PARA ELABORAR O PRESENTE TEXTO FARRELLY, L. Fundamentos de Arquitetura: técnicas de representação. Porto Alegre: Bookman, 2011. NBR: 13.532. Elaboração de Projetos de Edificações. Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT, 1995. NBR: 6492. Representação de projetos de arquitetura. Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT, 1994. Figura14: maquete de apresentação Fonte: seara.all.biz 25 RELAÇÃO ENTRE IMAGEM, FORMA, FUNÇÃO, ESCALA E PROPORÇÃO NA CONCEPÇÃO DO PROJETO ARQUITETÔNICO INTRODUÇÃO De acordo com Kowaltowski et. al (2011), a qualidade do ambiente construído resulta do processo metodológico de projeto, das técnicas construtivas empregadas e da futura manutenção da edificação. Ainda segundo os autores, o processo metodológico de projeto, por sua vez, envolve um processo criativo e um processo descritivo. É através do processo descritivo que o projeto se organiza, é apresentado, exposto e posteriormente executado. Já o processo criativo, que antecede a descrição, não possui uma metodologia linear e exata, pois depende da subjetividade e intuição do projetista. É na fase da criação que o projetista analisa: Qual a finalidade da edificação – pois dependendo da função a que se destina a construção, deverão ser levadas em consideração: perfil dos usuários, programa de necessidades, ergonomia, acessibilidade, conforto ambiental, e em alguns casos é necessário seguir parâmetros e recomendações de normas técnicas específicas (ex: projetos de hospitais; restaurantes; Instituições de ensino; teatros; cinemas; ambientes laboratoriais). Que imagem terá essa edificação, qual sua aparência; como será o partido arquitetônico – questionar-se: a intenção desse partido é uma ruptura com seu entorno? É o contraste no intuito de valorizar a ambos? É uma releitura através da introdução de novas formas? Objetiva-se uma simetria total? É o movimento visível através de sua volumetria? Neste ponto é imprescindível a pesquisa quanto ao que já foi projetado e construído. Onde será inserida essa edificação – é preciso analisar a topografia do local, a tipologia do solo (através da sondagem), o clima, a direção dos ventos e a incidência solar; os índices urbanísticos. E a arquitetura do entorno imediato. E associada a estas “etapas” está o conhecimento quanto à proporção (conjunto de medidas lógicas e harmônicas que se repetem na ordenação e 26 organização do projeto) e a escala (sistema de relação das dimensões entre o desenho que é sua representação gráfica e o objeto real representado). O presente texto, objetiva tratar da relação da imagem, forma, função, escala e proporção na concepção de um projeto arquitetônico. O ponto de partida será a “forma” e serão abordadas as características e propriedades que definem sua imagem; por conseguinte, será tratada a proporção e a escala e por fim a relação entre forma e função. DESENVOLVIMENTO 1. A Forma A forma é um termo de significado amplo e complexo que depende do campo de conhecimento estudado. Segundo Souza (2006) o estudo das formas construídas implica em determinar um conjunto de relações num determinado contexto e totalidade. Dessa forma, são observados aspectos como localização, orientação, disposição, escala, proporção, cor e luminosidade. Ou seja, não se percebe apenas o formato isolado, mas campos estruturalmente organizados constituídos de figura e fundo. Para a arquitetura a forma pode ser entendida materialmente, como formato, conformação, configuração, estrutura e silhueta. É obtida pelo modo de estruturar suas partes e seus elementos componentes, buscando um resultado estabelecido, seja um todo harmonioso, simetria, uma imagem confortante ou desconfortante; enfim, um elemento no mundo que provoque sensações. E dependendo do traçado, do contorno, do jogo de luzes, das dimensões, proporções e cores, invoca significados que extrapolam sua conformação e presença. (SOUZA, 2006). Os elementos básicos de composição da forma segundo Kandinsky (2001) são seus principais elementos geométricos: pontos, retas e planos. Com esses elementos básicos são obtidas todas as figuras planas e poliédricas; e as formas podem ser representadas pela composição e o traçado das figuras geométricas e espaciais. Souza (2006) afirma que a forma arquitetônica está ligada à construção, à materialidade, podendo ser a resposta direta das formas geométricas. As formas arquitetônicas são produzidas para criar volumes, e espaços para determinada finalidade, com carater estético e cultural. 27 Conforme exposto por Benevolo (2009), as formas arquitetônicas das cidades, edifícios e monumentos, refletem o modo ser e de ver a vida, do homem no seu contexto e tecnologia. As formas possuem determinadas características e propriedades que as distinguem umas das outras, e que intrinsecamente estão associadas à imagem, escala e proporção. Quando se trata da análise de projetos de edificações, essas características e propriedades se tornam parâmetros, e associada a estes está a função para a qual estas edificações estão sendo projetadas. 2. Características e propriedades da forma que definem a imagem De acordo Gomes (2004), a forma pode possuir as seguintes características e propriedades (algumas podem estar associadas em um único objeto) que definem seu aspecto visível, sua imagem: Simetria – é a igualdade de medidas ou grandezas em posições opostas. Seu emprego na arquitetura objetiva compor o equilíbrio e a harmonia entre as partes iguais e opostas (Figura 1). Ritmo – qualidade de repetição sequencia, ou de alteração regular ligada ao elemento de tempo ou posição (Figura 2). Movimento – costuma estar associado ao jogo de volumes; os cheios e vazios em uma composição arquitetônica, também pode estar ligado ao sistema de circulação de uma edificação ou de uma cidade (Figura 3). Figura 1: exemplo de simetria Fonte:modernidadeartes.blogspot.c om Fonte: talk.arkpad.com.br Figura 2: exemplo de ritmo 28 Traçado regulador (Figura 4) – traçado geométrico com escala de dimensões iguais ou proporcionais, que ordena e regula a disposição dos elementos de uma composição arquitetônica. Adequação (Figura 5) – propriedade que o objeto ou construção pode ter de se conformar, se integrar, acomodar, de forma coerente e compatível com as condições locais, com o meio ambiente, com a tecnologia, com seu tempo. Harmonia (Figura6) – é a disposição bem organizada do todo com as partes e delas entre si. A harmonia objetiva o equilíbrio e regularidade, possibilitando sensações em uma determinada edificação como tranqüilidade e suavidade. Figura 3: exemplo de movimento Fonte: www.brainstorm9.com.br Figura 4: exemplo de traçado regulador Fonte: www.tracado.pt 29 Equilíbrio (Figura 7) – estado de repouso quando duas forças atuantes se neutralizam, pelos seus sentidos contrários. Continuidade (Figura 8) – caracteriza-se por uma série de mudanças graduais, suaves, ininterruptas e coerentes. Na arquitetura, a continuidade pode propiciar formas geométricas novas e inusitadas. Ruptura (Figura 9) – mudança brusca, repentina, descontinua, mas sem o esfacelamento do todo. Quebra do conjunto se diferenciando do meio, provocando uma descontinuidade. Na Arquitetura pode significar uma “violência” a um determinado contexto arquitetônico do entorno imediato, ou chamar-lhe a atenção valorizando-o ainda mais, provocando uma integração, mesmo que incoerente, de cenários. Figura 5: exemplo de adequação Fonte: Duran (2011) Figura 6: exemplo de harmonia Fonte: silenciosquefalam.blogspot.com Figura 7: exemplo de equilíbrio Figura 8: exemplo de continuidade Fonte: www.studioviz.com.br Fonte: www.benitabrasil.com 30 Contraste (Figura 10) – é um choque, uma ruptura, uma descontinuidade, sem o rompimento da unidade formal. Diferencia-se da ruptura, pois se baseia no choque entre duas formas, duas cores, duas direções, dois ritmos em determinada unidade. Através do contraste é possível realçar ou não formas, volumetria, cores, luz e sombra em uma edificação. Ordem (Figura 11) – maneira organizada, harmoniosa, uniforme e coerente de arranjo das formas. Hierarquia (Figura 12) – é um princípio de organização cujas posições relativas são feitas segundo graus de importâncias formais, funcionais e simbólicas. A hierarquia dá destaque aos seus componentes pela forma, tamanho e disposição. Figura 9: exemplo de ruptura Fonte: projetonews.com Figura 10: exemplo de contraste Fonte: www.arquisofia.com Figura 11: exemplo de ordem Fonte: gutoarqdesigner.blogspot.com 31 Caos (Figura 13) – desordem, desorganização aparente, casualidade. Coerência (Figura 14) – integração, compatibilidade, desenvolvimento harmonioso sem contradição. Pode se dar pelo tratamento das formas, dos materiais, da tecnologia empregada. Beleza (Figura 15) – trata-se de uma percepção individual caracterizada pelo que é agradável aos sentidos humanos. Está associada à Estética, como estudo da natureza do belo e dos fundamentos da forma e da arte. Avaliar uma obra arquitetônica quanto à beleza é extremamente complexo, pois o conceito de beleza varia em função de condições sociais, culturais e históricas. Figura 12: exemplo de hierarquia Fonte: gloriadaidademedia.blogspot.com Figura 13: exemplo de caos Fonte: microlux.com.br Figura 14: exemplo de coerência Fonte: piniweb.pini.com.br Figura 15: exemplo de beleza Fonte: calper.com.br 32 Símbolo (Figura 16) – um sinal, uma imagem ou objeto que representa outra coisa, que tenha outro significado ou ainda algo inconsciente (SANTAELLA, 1983). A Arquitetura tem grande carga simbólica, e muitas vezes, em função de seus aspectos construtivos, tecnológicos e históricos se torna símbolo de uma cidade. Exemplo: o Vaticano em Roma; a Torre Eifell em Paris. Com base nas características e propriedades da forma é possível avaliar a proposta do partido arquitetônico durante sua concepção: a intenção é o movimento? Verifica-se ritmo ou estagnação em relação à posição dos elementos volumétricos? A ideia é a simetria? Uma ruptura invocando uma contradição em relação ao entorno imediato construído? É a ordenação? É o caótico? Caracteriza-se por uma continuidade gradativa a partir de um elemento geométrico conhecido originando uma nova forma? 3. A escala e a proporção Historicamente, as medidas humanas vêm servindo de parâmetro para o estabelecimento das relações dos objetos construídos. Segundo Souza (2006), dos padrões e medidas tradicionais conhecidos, derivados ou relacionados com o corpo humano destacam-se: o palmo, o pé, a polegada, légua, proporção áurea, as ordens clássicas gregas, as teorias renascentistas, o Modulor de Le Corbusier, o Ken japonês e outras medidas ergonométricas. E à parte da relação das medidas com o homem há o Sistema Métrico Decimal. Nos sistemas de representação gráfica em geral dos objetos, e nas construções adota-se uma escala de equivalência e relações entre o objeto real Figura 16: exemplo de símbolo Fonte:coisasdaarquitetura.wordpress.com 33 e o representado, destinada a manter sua fidelidade formal e suas proporções. Dessa forma, a Escala é um sistema de relação das dimensões entre o desenho que é sua representação gráfica e o objeto real representado. É um sistema universalmente utilizado para representar graficamente, com fidelidade, o objeto desejado ou a obra a ser construída. Já a Proporção, pode ser definida como um conjunto de medidas lógicas e harmônicas que se repetem na ordenação e organização do projeto. Ao longo da história foram utilizados vários sistemas de medidas e proporções para o estabelecimento das relações entre as partes e o todo de um objeto ou de uma obra arquitetônica. Dentre eles ressalta-se: • Proporção Áurea (Figura 17) – é uma proporção geométrica considerada ideal, clássica, pesquisada e muito utilizada pelos gregos que pode ser definida como segmento resultante da divisão de outro segmento de reta em média e extrema razão. • Ordens Clássicas (Figura 18) – na Antiguidade representavam, na proporcionalidade de elementos, a perfeita expressão da beleza e harmonia. A unidade básica de medida era o diâmetro da coluna, dela derivavam as demais dimensões: altura do fuste, o capitel, e o inter-colúnio. • Teorias Renascentistas (Figura 19) – resgatando as ideias clássica e gregas, Paládio (1508-1580) aplicou uma série de razões matemáticas, geométricas, aritméticas, harmônicas para definir as formas da plantas e das alturas dos ambientes. Figura 17: proporção áurea Fonte: chocoladesign.com Figura 18: ordens clássicas Fonte: chocoladesign.com 34 • Modulor (Figura 20) – criado por Le Corbusier, é um sistema de medidas baseado nas dimensões humanas, que deveria ser aplicado às construções. • Ken – é um sistema de medidas adotado para a construção de edificações residenciais tradicionais japonesas. Este sistema é baseado nas dimensões humanas. • Antropometria (Figura 21) – as medidas e proporções se relacionam ao seu uso pelo homem, nos seus objetos e ambiente construído. Ou seja, as medidas devem se adaptar corretamente ao manuseio, ao conforto e a segurança na sua utilização pelo ser humano. Figura 19: proporção áurea Fonte:http://gazetavargas.org /a-morte-do-homem- vitruviano/ Figura 20: modulor de Le Corbusier Fonte:wharferj.wordpress. com Figura 21: Antropometria Fonte: www.efdeportes.com 35 O conhecimento das medidas do ser humano é fundamental para a elaboração dos projetos de objetos e dos espaços a eles destinados. De acordo com Neufert (2010), o domínio da construção depende da noção de escala e proporção daquilo que está sendo projetado: seja uma casa, móveis, salas; basta obter uma ideia mais correta da escala de qualquer coisa quando se observa junto dela um serhumano ou uma imagem que represente suas dimensões. 4. A forma e a função A expressão: “a forma segue a função” é um princípio do design funcionalista associado à arquitetura e design moderno do século XX. Segundo Velloso (2007), os Arquitetos buscavam uma metodologia única e apostavam num modo comum de percepção que também deixasse para trás o condicionamento estilístico. Dessa forma, o método, na arquitetura funcionalista, era de organização de produção, distribuição e consumo antes de ser método de configuração de edifícios. E, sobretudo estratégia de intervenção na cidade capitalista. Ainda segundo a autora, a Arquitetura Funcionalista equacionou o uso por meio do aspecto da comunicação entre habitante e edifício, partindo da premissa de que todos os princípios formais da arquitetura deveriam ser aplicados para atender aos fins de utilidade da obra. Passava a ser fundamental operar com os dados da percepção do real pelo usuário. A obra, uma vez habitada, era ela mesma um meio para experimentar o mundo real. A nova objetividade entendeu que não mais se tratava de permitir a identificação indivíduo – obra por meio da forma tradicional, mas de ao assumir a objetividade como parâmetro de projeto, dar relevo à presença da vida cotidiana. Entretanto, a Arquitetura Funcionalista não soube reconhecer a liberdade de comportamento; a independência da coisa; o espaço experienciado que é individual. Sendo assim, ao analisar projetos de edificações tratando da função a que se destinam, não se pretende avaliar considerando a expressão “a forma segue a função”. Mas sim, conforme expõe Aguiar (2003), observar se no projeto proposto o sistema de rotas articula uma distribuição de atividades com 36 ele compatível e se os espaços estão configurados para permitir que as atividades sejam realizadas adequadamente. Ainda segundo o autor a função do edifício deve ser evidenciada naturalmente no arranjo espacial das linhas de movimento, ou seja, através das sequencias espaciais. Então, a partir daí, pode-se dizer que o espaço funciona, é inteligível, tem fácil leitura. CONCLUSÃO Da mesma forma que o processo criativo de projeto não possui uma metodologia linear e exata, pois depende da subjetividade e intuição; um método para análise de projetos, de certa maneira, também possui uma parcela de subjetividade. Dessa forma, quanto à análise considerando a imagem, forma, função, proporção e escala. De maneira geral, podem ser considerados alguns parâmetros: Forma e imagem – se o partido arquitetônico atende o proposto conceitualmente pelo projetista. Função – se o dimensionamento dos espaços, rotas de circulação e acessos atendem os ideogramas, fluxogramas e programas de necessidades e permitirão que as atividades sejam realizadas adequadamente. Proporção e escala – se os espaços e objetos foram projetados considerando altura, largura e comprimento de seus usuários, como estes se movimentam dentro dos espaços e se deslocam entre eles; e se a representação gráfica da edificação (o desenho projetivo em si) apresenta com detalhe e fidelidade a relação de dimensões que permite que esta seja construída. REFERÊNCIAS CONSULTADAS PARA ELABORAR O PRESENTE TEXTO AGUIAR, D. V. Alma Espacial. Arqtexto 3-4, Porto Alegre, FAU – UFRGS, p. 84-91, 2003. BENEVOLO, L. História da Cidade. São Paulo: Perspectiva, 2009. GOMES, F. J. Gestalt do Objeto: sistema visual da forma. São Paulo: Escrituras, 2004. 37 KANDINSKY, W. Ponto e linha sobre o plano. São Paulo: Martins Fontes, 2001. KOWALTOWSKI, D. C. C.; BIANCHI, G.; PETRECHE, J. R. D. A criatividade no processo de projeto. In: KOWALTOWSKI, D. C. C.; MOREIRA, D. C.; PETRECHE, J. R. D.; FABRICIO, M. M. O processo de projeto em arquitetura: da teoria à tecnologia. São Paulo: Oficina de Textos, 2011. SOUZA, E. E de. As formas arquitetônicas e suas geometrias: análises de obras da Arquitetura Moderna e Contemporânea. 2006. 586p. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) - Universidade de São Judas Tadeu, São Paulo, 2006. VELLOSO, R. C. L. O fracasso da utilidade: notas sobre o funcionalismo na Arquitetura Moderna. Vitruvius, Arquitexto 089.06, 2007. Disponível: http://www.vitruvius.com.br. Acesso em: 03, jan. 2012. 38 INCLUSÃO SOCIAL E ACESSIBILIDADE INTRODUÇÃO A questão da inclusão social de pessoas portadoras de deficiência em todos os recursos da sociedade ainda é precária no Brasil. A situação se torna mais agravante quando se trata da infraestrutura física para acesso e permanência nos ambientes públicos e privados, pois apesar da Legislação vigente a maioria das cidades é construída e modificada desconsiderando os portadores de deficiência. O presente texto objetiva tratar da inclusão social e acessibilidade; destarte será abordada a acessibilidade como mecanismo de inclusão social no Brasil nos dias atuais; em sequência a Legislação e Normatização Técnica de acessibilidade vigente e, por fim, tratar-se-á da NBR 9050 – que dispõe da acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência a edificações, espaço, mobiliário e equipamentos urbanos. DESENVOLVIMENTO 1. A acessibilidade como mecanismo de Inclusão Social – a situação atual no Brasil Conceitualmente a expressão “inclusão social” pode ser definida como um conjunto de meios e ações que combatem a exclusão aos benefícios da vida em sociedade, provocada pela falta de classe social, origem geográfica, educação, idade, existência de deficiência ou preconceitos raciais. Inclusão Social significa oferecer aos mais necessitados oportunidades de acesso a bens e serviços, dentro de um sistema que beneficie a todos. De acordo com Mazzotta e D’Antino (2011), a inclusão social ocorre na vida social em algum espaço instituído ou estruturado, seja na família, na escola, no parque, na empresa ou em qualquer outra forma de organização social. Segundo Maciel (2000), o princípio fundamental da sociedade inclusiva é o de que todas as pessoas devem ter suas necessidades atendidas. É no atendimento das diversidades que se encontra a democracia. E para que isso ocorra são necessárias mudanças de atitudes, de compromisso e disposição dos indivíduos. 39 Referente aos portadores de deficiência dentre as disposições legais existentes no Brasil, o Decreto Federal 3.298/1999, dispõe que a pessoa com deficiência deve ser incluída em todas as iniciativas governamentais, respeitadas as suas peculiaridades. Entretanto, quando se trata da acessibilidade, Nonato (2011) afirma que as cidades brasileiras, em sua grande maioria, não estão preparadas para possibilitar que as pessoas com deficiência possam acessar, permanecer e utilizar os múltiplos espaços, das edificações, dos mobiliários urbanos, dos elementos da urbanização, dos equipamentos urbanos e dos serviços de uso público e coletivo, com autonomia, segurança, independência e comodidade. Segundo Maciel (2000), isso se deve à exclusão social; um processo que é tão antigo quanto a socialização do homem. De acordo com a autora, a estrutura das sociedades, desde os seus primórdios, sempre inabilitou os portadores de deficiência, marginalizando-os e privando-os de liberdade. Embora existam Leis, Decretos e Normas que estabelecem critérios e parâmetros técnicos para permitir a acessibilidade, a implementação destes instrumentos depende da ação efetiva do Poder Público e, ainda em boa parte dos estados e municípios brasileiros, não existe uma política efetiva de inclusão que viabilize planos integrados de urbanização, de acessibilidade, de saúde, educação, esporte, cultura, com metas e ações convergindo para a obtenção de um mesmo objetivo: resguardar o direito dos portadores de deficiência. Apesar desse quadro, verifica-se que, embora ainda de modo incipiente, cinemas, teatros, museus, parques e outras áreas destinadas ao lazere à cultura têm sido projetados, construídos ou adaptados contemplando o acesso das pessoas com deficiências, de modo a diminuir os obstáculos à sua participação e à melhor utilização em situação de inclusão social. Bittencout et. al (2004) afirma que a inclusão social dos portadores de deficiência não deve se basear apenas no cumprimento das exigências de Leis, Decretos e Normas, pois esta depende de uma mudança na consciência social, é imprescindível considerar que a acessibilidade é um direito de todos. 40 2. A Legislação e Normatização Técnica de acessibilidade vigente Segundo a Norma Brasileira 9050 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT/NBR 9050, 1994), promover a acessibilidade no ambiente construído é proporcionar condições de mobilidade, com autonomia e segurança, eliminando as barreiras arquitetônicas e urbanísticas nas cidades, nos edifícios, nos meios de transporte e de comunicação. O Decreto Federal 5.296 de 2 de dezembro de 2004 traz uma definição de acessibilidade mais atual e que vem sendo usada nos meios acadêmicos: condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação, por pessoa portadora de deficiência. Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, os portadores de deficiência são chamados de ambulatoriais, e podem ser classificados em parciais e totais. Os parciais são aqueles que se movimentam com dificuldade ou insegurança, usando ou não aparelhos ortopédicos e próteses. Os portadores ambulatoriais totais são aqueles que utilizam, temporariamente ou não, cadeiras de rodas. Existem ainda os deficientes sensoriais, onde se enquadram os deficientes visuais e auditivos. Todos possuem necessidades específicas que, quando não supridas, limitam a execução de suas atividades, seus fluxos de convívio e sua qualidade de vida. No Brasil existe Legislação específica que estipula parâmetros construtivos para permitir que uma determinada edificação, assim como elementos do espaço urbano sejam adaptados para permitir a acessibilidade dos portadores de deficiência. Trata-se da Lei n° 10.048, de 8 de Novembro de 2000, que dispõe sobre prioridade de atendimento e outras providências às pessoas portadoras de algum tipo de deficiência; e da Lei n° 10.098, de 19 de Dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, mediante a supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e de comunicação. 41 A Associação Brasileira de Normas Técnicas formulou normas específicas para acessibilidade, fundamentadas nos referidos instrumentos jurídicos, que vêm apoiar a execução de projetos que objetivem a realização de intervenções arquitetônicas urbanísticas e nos meios de transportes, por parte dos diferentes agentes políticos da sociedade. Estas normas são: - NBR 9050:1994 – Acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência a edificações, espaço, mobiliário e equipamentos urbanos. - NBR 13994:2000 – Elevadores de passageiros – Elevadores para transporte de pessoa portadora de deficiência. - NBR 14020:1997 – Transporte – Acessibilidade à pessoa portadora de deficiência – Trem de longo percurso. - NBR 14021:1997 – Transporte – Acessibilidade à pessoa portadora de deficiência – Trem metropolitano. - NBR 14022:1997 – Transporte – Acessibilidade à pessoa portadora de deficiência em ônibus e trólebus, para atendimento urbano e intermunicipal. - NBR 14273:1999 – Acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência no transporte aéreo comercial. 3. A NBR 9050 – breve exposição Esta Norma estabelece critérios e parâmetros técnicos a serem observados quando do projeto, construção, instalação e adaptação de edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos às condições de acessibilidade. Para o estabelecimento desses critérios e parâmetros técnicos foram consideradas diversas condições de mobilidade e de percepção do ambiente, com ou sem a ajuda de aparelhos específicos, como: próteses, aparelhos de apoio, cadeiras de rodas, bengalas de rastreamento, sistemas assistivos de audição ou qualquer outro que venha a complementar necessidades individuais. Esta Norma também visa proporcionar à maior quantidade possível de pessoas, independentemente de idade, estatura ou limitação de mobilidade ou percepção, a utilização de maneira autônoma e segura do ambiente, edificações, mobiliário, equipamentos urbanos e elementos. 42 Todos os espaços, edificações, mobiliário e equipamentos urbanos que vierem a ser projetados, construídos, montados ou implantados, bem como as reformas e ampliações de edificações e equipamentos urbanos, devem atender ao disposto nesta Norma para serem considerados acessíveis. A NBR 9050 apresenta os padrões antropométricos, ou seja; as dimensões referenciais da população brasileira para homens e mulheres. Esses padrões antropométricos informam as áreas mínimas e máximas necessárias para o acesso, circulação e permanência de pessoas que sejam portadoras de deficiência física ou com mobilidade reduzida. Exemplo, a área que uma pessoa em pé portando uma bengala ocupa corresponde a 0,75m X 0,75m; uma cadeira de rodas com seu usuário ocupa 0,80m de largura X 1,20m de comprimento e necessita de um espaço de manobra para um giro de 360º equivalente a uma circunferência de 1,50m de diâmetro. A Norma também apresenta os mecanismos de sinalização e comunicação que podem ser visual, sonoros e tácteis (permanente, direcional de emergência e temporária). Um exemplo de comunicação é o símbolo internacional de acesso que indica a acessibilidade aos serviços e identifica espaços, edificações, mobiliário e equipamentos urbanos onde existem elementos acessíveis ou utilizáveis por pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida. Quanto às informações visuais, a norma especifica que devem seguir premissas de textura, dimensionamento e contraste de cor dos textos e das figuras para que sejam perceptíveis por pessoas com baixa visão. As informações visuais podem estar associadas aos caracteres em relevo. A acessibilidade através de rampas depende da altura do desnível e do comprimento da rampa não podendo a inclinação máxima ultrapassar 8,33%. Os patamares devem variar de 1,20m a 1,50m. A NBR também especifica o dimensionamento seguro de escadas, corrimões e guarda-corpos; largura de corredores de circulação e portas e dispõe sobre as condições de uso de equipamentos eletromecânicos. A NBR 9050 aborda sobre a acomodação transversal do acesso de veículos e de seus espaços de circulação e estacionamento de modo a não criar degraus ou desníveis abruptos nos passeios. Trata das faixas de travessia 43 de pedestres; das faixas elevadas; do rebaixamento das calçadas para travessia de pedestres e do posicionamento dos rebaixamentos de calçadas. Estipula que as passarelas de pedestres devem ser providas de rampas ou rampas e escadas ou rampas e elevadores ou escadas e elevadores para sua transposição e também dispõe da sinalização para as vagas de veículos. A NBR também determina as dimensões mínimas para os sanitários assim como a especificação, dimensão e distâncias mínimas de instalação de equipamentos específicos, tais como: barras de apoio; bacia sanitária; mictório; lavatório; banheiras; plataforma de transferência e boxes. Quanto aos equipamentos urbanos, a Norma dispõe das modificações que podem ser feitas em bens tombados para adequação da estrutura para portadores de deficiência ou com mobilidade reduzida e estipula que locaispúblicos como cinemas, teatros, auditórios, restaurantes, bibliotecas e outros ambientes, devem ter uma porcentagem de locais reservados aos portadores de deficiência e seguirem as dimensões mínimas propostas para acesso e permanência confortável. A NBR ainda trata da construção e utilização de equipamentos esportivos como quadras de basquete, futebol, vôlei e piscinas e das modificações necessárias para adaptação desses espaços para permitir a acessibilidade. A NBR 9050 trata de maneira detalhada de uma série de situações que fazem parte de nosso cotidiano, estipulando dimensionamentos e sugerindo adaptações para que os espaços na verdade estejam acessíveis para todos sem qualquer distinção. CONCLUSÃO A sociedade inclusiva tem o compromisso com as minorias e não apenas com as pessoas portadoras de deficiência. A inclusão social é, na verdade, uma medida de ordem econômica, uma vez que o portador de deficiência e outras minorias tornam-se cidadãos produtivos, participantes, conscientes de seus direitos e deveres, diminuindo, assim, os custos sociais. A implementação efetiva das Leis e normatizações técnicas que estipulam parâmetros construtivos para permitir que uma determinada 44 edificação, assim como elementos do espaço urbano, possibilite a acessibilidade dos portadores de deficiência, contribui para diminuir os obstáculos à sua participação e à melhor utilização em situação de inclusão social. REFERÊNCIAS CONSULTADAS PARA ELABORAR O PRESENTE TEXTO BITTENCOUT, L. S.; CORRÊA, A. L. M.; MELO, J. D. de.; MORAES, M. C. de.; RODRIGUEZ, R. F. Acessibilidade e Cidadania: Barreiras Arquitetônicas e Exclusão Social dos Portadores de Deficiências Físicas. In: 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária. Anais do 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária, Belo Horizonte, 2004. MACIEL, M. R. C. Portadores de Deficiência: a questão da inclusão social. São Paulo: São Paulo em Perspectiva, 2000. MAZZOTA, M. J. S.; D’ANTINO, M. E. F. Inclusão Social de pessoas com deficiência e necessidades especiais: cultura, educação e lazer. São Paulo: Saúde e Sociedade, 2011. NONATO, D. N. Acessibilidade arquitetônica como direito humano das pessoas com deficiência. Orbis: Revista Científica, 2011. NBR 9050. Acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência a edificações, espaço, mobiliário e equipamentos urbanos. Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT, 1994 e 2004. 45 ECOLOGIA URBANA, GESTÃO AMBIENTAL URBANA E ARQUITETURA SUSTENTÁVEL INTRODUÇÃO O meio ambiente, nos últimos anos, vem sendo exaustivamente discutido em função da degradação da natureza e consequente decadência da qualidade de vida, tanto nas cidades, como no campo. Cabe ao setor público a responsabilidade de coordenar ações e desenvolver, em conjunto com a comunidade, um pensamento ambiental coerente, visando à implantação de normas que permitam controlar a deterioração ambiental e buscar a necessária reabilitação das áreas mais afetadas. Para tanto é necessário que as Políticas, Estratégias e Ações de Gestão Ambiental considerem: 1. O conhecimento da dinâmica e das inter-relações que ocorrem entre os diferentes ecossistemas; considerando não só o ecossistema natural, mas também a cidade como um ecossistema. 2. Toda forma de arquitetura que leva em consideração a alteração mínima do local onde está inserida, eficiência energética, emprego de materiais e técnicas construtivas que causem o mínimo de impacto ambiental, conhecida como Arquitetura Sustentável. O presente texto objetiva abordar os temas Ecologia Urbana, Gestão Ambiental Urbana e Arquitetura Sustentável. Para tanto se abordará o que é Ecologia Urbana – os processos ecológicos num ecossistema urbano e as relações interespecíficas; os principais Instrumentos de Políticas de Gestão Ambiental Urbana; e por fim, a importância da Arquitetura Sustentável para a manutenção da capacidade de suporte do Ecossistema Urbano. DESENVOLVIMENTO 1. O que é Ecologia urbana? Segundo Netto e Silva (2011), as cidades são o resultado das alterações do ambiente natural segundo aspectos culturais do ser humano. Historicamente, essas alterações começaram a ser mais bem compreendidas com a evolução de campos científicos como a Ecologia, e através do advento 46 do conceito de Ecossistema, pesquisadores passaram a compreender melhor as interações entre fatores bióticos e abióticos de determinado ambiente. Ainda de acordo com os autores, recentemente, o ambiente urbano passou a ser objeto de estudo de uma vertente da Ecologia: a Ecologia Urbana – que entende a cidade como um ecossistema urbano, permitindo analisar seu comportamento frente a ecossistemas naturais diversos. Mas antes de compreender a cidade como um ecossistema, é preciso entender o que é ecossistema. Segundo Odum e Barret (2009), um ecossistema pode ser definido como qualquer unidade da biosfera que abranja todos os organismos que funcionem em conjunto, numa dada área, interagindo com o ambiente físico de tal forma que um fluxo de energia produza estruturas bióticas claramente definidas e uma ciclagem de materiais entre as partes vivas e não-vivas. Resumidamente trata-se de um conjunto de espécies interagindo de forma integrada entre si e com o seu ambiente. De acordo com Rebelle (1994), as grandes cidades e outras áreas povoadas estão repletas de organismos. O construtor destes hábitats artificiais é o homem, mas uma infinidade de outras criaturas aproveitam e se adaptam a esses novos hábitats recém criados. Os organismos urbanos, incluindo o homem, também se relacionam com os outros organismos e estas interações podem ser estudadas, sob o ponto de vista conceitual, da mesma forma que relações ecológicas de ecossistemas naturais. 2. De onde vem a energia nos Ecossistemas Urbanos? A produtividade, diversidade e complexidade dos ecossistemas, dependem da obtenção de energia. A principal fonte de energia na maioria dos ambientes naturais é a solar. Nas cidades o sol atinge as áreas verdes, mas a produção é baixa, pois esta depende diretamente da quantidade de áreas verdes, que é comparativamente pequena em relação ao ambiente natural, e do estágio de sucessão das comunidades vegetais. As cidades também não possuem quantidade suficiente de animais para consumo humano. Dessa forma, sua sobrevivência depende da importação de outros tipos de energia. 47 Entre elas contam-se água e outras matérias primas. Em troca pelos produtos necessários à sua sobrevivência, as cidades fornecem bens manufaturados, serviços, informação, tecnologia e formas de recreação. Ao mesmo tempo precisam se desfazer dos resíduos e do calor gerados por estas atividades. A entrada constante e maciça de matéria para o sustento da cidade muitas vezes supera a sua capacidade de eliminar resíduos, o que traz como conseqüência o aumento dos níveis de determinadas substâncias até o ponto em que passam a ser considerados poluentes (exemplo: os resíduos sólidos; dejetos; lixo; emissão excessiva de gás carbônico e outros gases poluentes). 3. Como acontecem as relações interespecíficas num Ecossistema Urbano? Qualquer área urbana é formada por uma variedade de habitat, desde os semi-naturais até os que surgem como consequência direta da ocupação humana. O espectro de habitat nos centros urbanos é amplo: de parques municipais e florestas urbanas até grandes áreas de construção civil, industrial e aterros. Este espectro de habitat faz com que a biodiversidade urbana possa ser mais alta do que nas áreas rurais adjacentes. Segundo Newman (1999), a proporção de espécies introduzidas que se estabelecem com sucesso é maior nas cidades do que em áreas rurais ou de florestas. Isto é possível pelos seguintes motivos: 1) alimento disponível, 2) refúgio de inimigos naturais, 3) reintroduçãoconstante feita pelo homem, intencional ou acidental, 4) hibridização entre espécies exóticas e nativas, 5) exploração de novos nichos. Um dos principais componentes estruturadores de comunidades são as interações biológicas. Com relação às interações entre espécies, a competição costuma ser pouco importante na maioria das áreas urbanas, pois a quantidade de nichos é grande, então as espécies que conseguem se adaptar encontram recursos suficientes. Além disso, as cidades passam constantemente por transformações que são prejudiciais para muitas das espécies, fazendo regredir ou mudar estas interações dependendo das mudanças efetuadas. 48 Mutualismos, no entanto, verificam-se em proporção mais alta do que em muitos ambientes naturais. Na maioria destes trata-se de uma dependência recíproca entre o homem e outras espécies domesticadas para seu proveito. Quanto à predação, como força estruturadora da comunidade, esta não se verifica na sua totalidade, pois a maior parte da biomassa para alimentar os diversos componentes vem de fora do sistema, mostrando uma alta dependência das áreas rurais (agroecossistemas). A importação de alimento e a falta de ligação entre as comunidades dos diversos microhabitat fazem com que seja difícil elaborar cadeias tróficas abrangentes dos sistemas urbanos. O desconhecimento e a dificuldade em entender os emaranhados ambientais dos ecossistemas – seus processos e relações interespecíficas - levam o homem ao uso irracional deste meio ecológico. É importante lembrar que da preservação dos ecossistemas depende a vida sobre a terra. Por isso, é fundamental compreender melhor seu significado e funcionamento ao se estabelecer Políticas, Estratégias e Ações de Gestão Ambiental. 4. Principais Instrumentos de Políticas de Gestão Ambiental Urbana Segundo Souza e Barros (2007) “políticas públicas” são ações de iniciativa governamental de interesse público, que devem ser construídas com e para a coletividade, cuja efetivação depende de quatro fatores fundamentais: 1) base na legislação; 2) aparato institucional com recursos e infra-estruturas suficientes; 3) planejamento (programas, planos, projetos e metas); e 4) controle social (participação dos cidadãos através de instâncias colegiadas). Segundo Barros et. al (2007), os instrumentos de políticas públicas para gestão ambiental do espaço urbano são diversos. Sendo assim, considerando a cidade como um Ecossistema e analisando a formação e o metabolismo urbano, caracterizado pelo crescimento rápido e desordenado, fazendo com que o espaço ou ambiente urbano sofra constantes e agressivas modificações em seus fluxos de energia e de materiais, Franco (1999), descreveu os seguintes principais desafios para a gestão ambiental urbana: 1) a expansão urbana; 2) o saneamento básico: água e esgoto; 3) o saneamento básico: resíduos sólidos; 49 4) a poluição industrial; 5) ruídos e conflitos urbanos de vizinhança; 6) áreas verdes: criação e manutenção; 7) comércio e prestação de serviços impactantes; 8) cidadania ambiental. Esses desafios só poderão ser enfrentados a partir da reflexão sobre o modelo de gestão e estratégias de controle e mitigação de impactos ambientais sobre os ambientes urbano e natural. Tal modelo de gestão deverá sempre estar atrelado aos instrumentos de políticas públicas disponíveis, numa perspectiva de melhoria contínua, considerando a dinamicidade dos processos socioambientais inerentes do metabolismo urbano. Os instrumentos de políticas públicas ambientais podem ser agrupados em três categorias, conforme seus princípios de utilização: 1) Instrumentos de ordenamento territorial – Plano Diretor; Zoneamento Ambiental, Áreas Legalmente Protegidas; 2) Instrumentos de comando e controle – Licenciamento Ambiental; Fiscalização Ambiental; Compensação Ambiental; 3) Instrumentos de tomada de decisão – Monitoramento Ambiental; Sistemas de Informação; Educação Ambiental e Instâncias de Decisão Colegiada. Todos os instrumentos mencionados têm sua fundamentação na legislação ambiental brasileira, cujos principais referenciais são: 1) Código das Águas (Decreto n° 24.643/1934); 2) Código Florestal (Lei n° 4.771/1965); 3) Política Nacional de Meio Ambiente (Lei n° 6.938/1981); 4) Constituição Federal (1988); 5) Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei n°9.433/1997); 6) Lei de Crimes Ambientais (Lei n° 9.605/1998); 7) Política Nacional de Educação Ambiental (Lei n° 9.795/1999); 8) Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC (Lei n° 9.985/2000); 9) Estatuto das Cidades (Lei n° 10.257/2001). Segundo Barros et. al (2007), o instrumento mais preponderante frente aos desafios da sustentabilidade das cidades é o Plano Diretor Municipal, pois se consagra na legislação ambiental brasileira como um instrumento que orienta o desenvolvimento, o crescimento econômico e a justiça social em 50 condições ecologicamente equilibradas na gestão da cidade e do seu entorno rural. Os autores salientam que a aplicação de todos os instrumentos, além do Plano Diretor, é fundamental para a gestão ambiental urbana e que devem ser utilizados de forma integrada, porém tais instrumentos estão dispersos entre os marcos legais estabelecidos, cabendo aos governos e à sociedade, especialmente aos gestores públicos, promoverem sua integração. Sendo assim, os instrumentos devem ser agrupados e relacionados com os principais desafios da gestão ambiental urbana e com os fundamentos legais. Além disso, os autores pontuam que é necessário o desenvolvimento institucional dos sujeitos políticos, governo e sociedade; o planejamento, especialmente com participação efetiva das partes interessadas; e o controle social, que passará pelo empoderamento das organizações da sociedade civil, dos cidadãos no processo de gestão do espaço urbano e seus ambientes de entorno. 5. A Arquitetura Sustentável Projetar para sustentabilidade requer conhecer as consequências ao se transformar o meio ambiente natural em curto e longo prazos. O design sustentável é a concepção e a realização de uma expressão ambientalmente responsável e sensível como parte da matriz evolutiva da Natureza (William Mcdonough apud: CORDERO, 2001). William Mcdonough foi o criador dos Princípios de Hannover, “numa tentativa de estabelecer diretrizes éticas gerais para a elaboração de projetos sustentáveis”. (NESBITT, 2006, p. 438). Segundo Mcdonough (1992), o primeiro princípio aponta para a necessidade de coexistência entre a natureza e a humanidade em condições diversas e saudáveis. O segundo chama atenção para os efeitos da transformação do ambiente natural em longo prazo. O terceiro convida a uma reflexão sobre os aspectos dos assentamentos humanos do ponto de vista atual e futuro. O quarto propõe aceitar a responsabilidade pelas consequências das decisões do projeto pensando não só no bem estar das pessoas, mas também na viabilidade dos sistemas naturais. 51 O quinto recomenda não sobrecarregar as futuras gerações através da construção de edificações com materiais nocivos ao meio ambiente que requeiram manutenções futuras. O sexto propõe eliminar o conceito de desperdício através da utilização de processos similares aos sistemas naturais. O sétimo sugere projetar e construir considerando os fluxos naturais de energia (eficiência energética). O oitavo sugere compreender que nenhum projeto ou edificação durará para sempre e irá resolver 100% todos os problemas; deve- se projetar com humildade e reconhecer a natureza como modelo e guia e não como algo a ser controlado. E o nono sugere buscar o aperfeiçoamento a partir do compartilhamento do conhecimento e exercer a ética no restabelecimento da relação integral entre os processos naturais e as atividades humanas. Mcdonough criou os Princípios de Hannover considerando que, para que asedificações, objetos e sistemas pudessem fazer parte de uma matriz evolutiva da Natureza, três características que definem os sistemas vivos, deveriam ser incorporadas ao processo de projeto: 1 tudo na natureza é reciclado e o que sobra serve de alimento para os sistemas vivos; 2 a energia permite à natureza se alto reciclar; 3 a biodiversidade. A configuração da natureza nos oferece três características que definem os sistemas vivos. A primeira revela que tudo com o que temos de trabalhar já está dado – as pedras, o barro, a madeira, a água, o ar. Todos os materiais que a natureza nos dá retornam constantemente à terra, sem incluir nenhum conceito de desperdício da maneira como o entendemos. Tudo é permanentemente recilcado e tudo o que sobra se torna alimento para outros sistemas vivos. A segunda característica é que a energia é o fator que permite à natureza fazer uma permanente reciclagem de si mesma, e essa energia vem de fora do sistema na forma de perpétua radiação solar. A natureza não opera somente com “disponibilidades correntes”, mas também não extrai energia do passado, não usa suas reservas de capital, nem empresta para o futuro. É um sistema extraordinariamente complexo e eficiente para a criação e reutilização de nutrientes, tão econômico que os métodos modernos de fabricação parecem sem importância diante da elegância dos sistemas naturais de produção. A terceira característica que sustenta esse sistema eficiente e complexo de metabolismo e criação é a biodiversidade. O que evita o desgaste e o caos dos sistemas vivos é uma relação milagrosamente intricada e simbólica de milhões de organismos, nenhum deles igual ao outro. (MCDONOUGH, 1994, p. 431, grifo nosso). 52 Segundo Corbella e Yannas (2009, p. 19), a Arquitetura Sustentável considera a: Integração do edifício à totalidade do meio ambiente, de forma a torná-lo parte de um conjunto maior. As edificações objetivam o aumento da qualidade de vida do ser humano no ambiente construído e no seu entorno, integrando as características da vida e do clima locais, consumindo a menor quantidade de energia compatível com o conforto ambiental, para legar um mundo menos poluído para as próximas gerações. Ou seja, considerando o conceito de Desenvolvimento Sustentável, trata-se de um sistema construtivo que promove alterações conscientes no entorno, de forma a atender as necessidades de edificação, habitação e uso do homem, preservando o meio ambiente e os recursos naturais, garantindo qualidade de vida para as gerações atuais e futuras. O conceito apresentado por Corbella e Yannas faz uma correlação entre a Bioclimática aplicada à Arquitetura e a Eficiência Energética. A Bioclimática ou Bioclimatismo é “o princípio que integra arquitetura e os elementos favoráveis do clima com o objetivo de satisfazer as exigências de bem estar higrotérmico”. (SINGH, MAHAPATRA e ATREYA, 2008, p. 878). A “Eficiência Energética” “pode ser entendida como a obtenção de um serviço com baixo dispêndio de energia. Portanto, um edifício é mais eficiente energeticamente que outro quando proporciona as mesmas condições ambientais com menor consumo de energia”. (LAMBERTS, DUTRA, PEREIRA, 1997, p. 14). De acordo com Gonçalves e Duarte (2006), considerando o desempenho ambiental da arquitetura e a eficiência energética dentro do conceito de sustentabilidade, o projeto de um edifício deve incluir o estudo dos seguintes tópicos: (a) orientação solar e aos ventos; (b) forma arquitetônica, arranjos espaciais, zoneamento dos usos internos do edifício e geometria dos espaços internos; (c) características, condicionantes ambientais (vegetação, corpos d'água, ruído, etc.) e tratamento do entorno imediato; (d) materiais da estrutura, das vedações internas e externas, considerando desempenho térmico e cores; 53 (e) tratamento das fachadas e coberturas, de acordo com a necessidade de proteção solar; (f) áreas envidraçadas e de abertura, considerando a proporção quanto à área de envoltória, o posicionamento na fachada e o tipo do fechamento, seja ele vazado, transparente ou translúcido; (g) detalhamento das proteções solares considerando tipo e dimensionamento; e (h) detalhamento das esquadrias. Todos esses aspectos do projeto vistos em conjunto exercem um impacto no desempenho térmico do edifício, por terem um papel determinante no uso das estratégias de ventilação natural, reflexão da radiação solar direta, sombreamento, resfriamento evaporativo, isolamento térmico, inércia térmica e aquecimento passivo. Independentemente da vertente tecnológica, as soluções de projeto para o conforto ambiental e a eficiência energética relacionam os mesmos conhecimentos da física aplicada (transferência de calor, mecânica dos fluidos, física ondulatória e ótica) com os recursos locais e com a tecnologia apropriada. Quanto à escolha dos produtos e materiais para uma obra sustentável, consideram-se alguns critérios específicos, tais como origem da matéria-prima, extração, processamento, gastos com energia para transformação, emissão de poluentes, bio - compatibilidade, durabilidade, qualidade, dentre outros que permita classificá-los como sustentáveis e elevar o padrão da obra, bem como melhorar a qualidade de vida de seus usuários/habitantes e do próprio entorno. Essa seleção também deve atender parâmetros de inserção, estando de acordo com a geografia circundante, história, tipologias, ecossistema, condições climáticas, resistência, responsabilidade social, dentre outras leituras do ambiente de implantação da obra. Segundo Araújo (2008), os tipos de construções sustentáveis podem ser classificadas, de maneira geral, em cinco tipologias: • Construção com materiais sustentáveis industriais – Construções edificadas com ecoprodutos fabricados industrialmente, adquiridos prontos, com tecnologia em escala, atendendo a normas, legislação e demanda do mercado. 54 • Construção com resíduos não-reprocessados (Earthship) – Consiste na utilização de resíduos de origem urbana com fins construtivos, tais como garrafas PET, latas, cones de papel acartonado, etc. • Construção com materiais de reuso (demolição ou segunda mão) - Esse tipo de construção incorpora produtos convencionais descartados e prolonga sua vida útil, evitando sua destinação para aterros sanitários ou destruição por processos como queimas ou descarte em botas-fora. • Construção alternativa - Utiliza materiais convencionais disponíveis no mercado, com funções diferentes das originais. É um dos modelos principais adotados em comunidades carentes ou sistemas de autoconstrução. • Construção natural – É o sistema construtivo mais ecológico, portanto, mais próximo da própria natureza, uma vez que integra a edificação com o ambiente natural e o modifica ao mínimo. Respeita o entorno e usa materiais disponíveis no local da obra ou adjacências (terra, madeira, pedra etc.); utiliza tecnologias sustentáveis de baixo custo (apropriadas) e desperdiça o mínimo de energia em seus processos. Entendendo a cidade como um Ecossistema Urbano, a Arquitetura Sustentável, possibilita a construção de edificações cuja necessidade de matéria e energia e consequente geração de resíduos não ultrapassam a capacidade de suporte do ambiente onde estão sendo inseridas. CONCLUSÃO O conhecimento da dinâmica e das inter-relações que ocorrem entre os diferentes ecossistemas; considerando não só o ecossistema natural, mas também a cidade como um ecossistema é imprescindível para auxiliar o planejamento e gestão ambiental do espaço urbanizado, integrando aspectos sociais, culturais e ecológicos e possivelmente solucionar uma série de problemas ambientais urbanos. O edifício sustentável transforma o espaço onde está inserido sem que haja gasto excessivo e geração de resíduo além da capacidade de suporte do ambiente. 55Sendo assim, se o objetivo maior for reduzir o impacto ambiental das cidades e alcançar uma melhor qualidade ambiental urbana, em um cenário ideal, a sustentabilidade desse espaço construído deve acontecer em três escalas: a do edifício, a do desenho urbano e a do planejamento urbano e regional. REFERÊNCIAS CONSULTADAS PARA ELABORAR O PRESENTE TEXTO ARAÚJO, M. A. A moderna construção sustentável. Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica, 2008. Disponível: http://idhea.com.br/pdf/moderna.pdf. BARROS, A. P.; SILVEIRA, K. A.; GEHLEN, V. R. F. Instrumentos de Políticas Públicas para Gestão Ambiental Urbana. São Luis: UFMA - Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas; III jornada Internacional de Políticas Públicas, 2007. p. 1-8. CORBELLA, O; YANNAS, S. Em busca de uma arquitetura sustentável. São Paulo: Editora Revan, 2009. CORDERO, E. Sustainability in Architecture. 2001. 197p. Dissertação (Master of Science in Architecture Studies in Building Technology) - Massachusetts Institute of Technology (MIT), Massachusetts, 2001. FRANCO, M. R. Principais problemas ambientais municipais e perspectivas de solução. In: PHILLIPPI JR. A. et al. (editores). Municípios e meio ambiente: perspectiva para a municipalização da gestão ambiental no Brasil. São Paulo: Associação Nacional de Municípios e Meio Ambiente, 1999. p 19-31. GONÇALVES, J. C. S.; DUARTE, D. H. S. Arquitetura sustentável: uma integração entre ambiente, projeto e tecnologia em experiências de pesquisa, prática e ensino. Revista Ambiente Construído, Porto Alegre, p. 1-31, 2006. LAMBERTS, R.; DUTRA L.; PEREIRA, F. O. R. Eficiência Energética na Arquitetura. São Paulo: PW Editores, 1997. MCDONOUGH, W. Projeto, Ecologia, Ética e a Produção das coisas, 1994. In: NESBITT, K (orgs.). Uma nova agenda para a Arquitetura: antologia teórica 1965-1995. São Paulo: Cosac Naify, 2006, p. 428-438. MCDONOUGH, W. Os Princípios de Hannover, 1992. In: NESBITT, K (orgs.). Uma nova agenda para a Arquitetura: antologia teórica 1965-1995. São Paulo: Cosac Naify, 2006, p. 439-440. 56 NESBITT, K (orgs.). Uma nova agenda para a Arquitetura: antologia teórica 1965-1995. São Paulo: Cosac Naify, 2006. NETTO, M. P.; SILVA, R. S. da. Ecossistemas Urbanos: potencialidades da Ecologia Urbana no desenvolvimento das Cidades Sustentáveis. In: IX Encontro Nacional da ECOGEO – Políticas Públicas e a Perspectiva da Economia Ecológica. Anais do IX Encontro Nacional da ECOGEO – Políticas Públicas e a Perspectiva da Economia Ecológica, Brasília, 2011. p. 1-21. NEWMAN, P. G. W. Sustainability and cities: extending the metabolism model. Landscape and Urban Planning, v.44, n.4, p. 219-226, 1999. ODUM, E. P.; BARRET, G. W. Fundamentos de Ecologia. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2009. REBELE, F. Urban ecology and special features of urban ecosystems. Global Ecology and Biogeography letters, v. 4, n.6, p. 173-187,1994. SINGH, M. K.; MAHAPATRA, S.; ATREYA, S. K. Bioclimatism and vernacular architecture of north-east India. Building and Environment, Great Britain, n. 44, p.878-888, 2008. Disponível: www.elsevier.com/locate/buildenv. Acesso em: 28, fev. 2014. SOUZA, T. S.; BARROS, A. P. Meio ambiente e políticas públicas. Santo Agostinho: Rede de Defesa Ambiental do Cabo de Santo Agostinho, 2007, p. 16. 57 EFICIÊNCIA ENERGÉTICA NA ARQUITETURA E BIOCLIMATOLOGIA INTRODUÇÃO A inadequação do projeto às características climáticas locais afeta diretamente o desempenho da edificação, podendo levar à utilização intensa de equipamentos mecânicos de refrigeração e sistemas artificiais de iluminação para garantir o conforto dos usuários, resultando, por conseguinte, no consumo de energia elevado. Por outro lado, a geração e o consumo de energia estão entre os principais contribuintes às mudanças climáticas globais. Nesse contexto, o uso eficiente da energia apresenta-se como uma das principais dimensões de sustentabilidade a serem obtidas no espaço habitado. No âmbito da construção civil, os termos sustentabilidade, adequação ambiental e eficiência energética se inter-relacionam, de modo que as edificações podem ser utilizadas como instrumento para a disseminação de tais conceitos. O presente texto, objetiva tratar do tema Eficiência Energética – tópicos de Bioclimática. Destarte será abordado o conceito de Eficiência Energética, por conseguinte o conceito de Arquitetura Bioclimática e os estudos referentes ao diagrama bioclimático (carta bioclimática) que propõe estratégias de adaptação da arquitetura ao clima. Por fim, tratar-se-á dos princípios bioclimáticos gerais que podem ser adotados às edificações. DESENVOLVIMENTO 1. O que é Eficiência Energética? Segundo Lamberts, Dutra e Pereira (1997), o termo “eficiência energética” pode ser entendido, como a obtenção de um serviço com um dispêndio baixo de energia. Portanto um edifício é mais eficiente energeticamente que outro quando proporciona as mesmas condições ambientais com menor consumo de energia. Para que seja possível conceber edificações com eficiência energética, é necessário o conhecimento de conforto ambiental através das inter-relações entre 3 categorias distintas de variáveis: variáveis climáticas; variáveis humanas e variáveis arquitetônicas. 58 Variáveis climáticas – proximidade à água (pois a água se aquece ou esfria mais rapidamente que a terra); altitude (a temperatura do ar tende a diminuir com o aumento da altitude); barreiras montanhosas e correntes oceânicas. Os fatores climáticos atuam de forma intrínseca na natureza. A ação simultânea das variáveis climáticas terá influência no espaço arquitetônico construído. O clima pode ser dividido em: Macro clima – descrevem as características gerais de uma região em termos de sol, nuvens, temperatura, ventos, umidade e precipitações. Mesoclima e microclima – as escalas meso e microclimáticas estão mais próximas da edificação. Exemplos: o litoral, o campo, as florestas, os vales, as cidades e as regiões montanhosas. São as variáveis como vegetação, topografia, tipo de solo e a presença de obstáculos naturais e artificiais que irão influenciar no tipo de clima. E mais próximo ainda à edificação tem-se o microclima, que pode ser concebido e alterado pelo arquiteto. O estudo das variáveis dessa escala é fundamental para a elaboração do projeto, pois uma série de particularidades climáticas do local pode induzir a soluções arquitetônicas mais adequadas, ao bem estar das pessoas e à eficiência energética. Variáveis humanas – variáveis do conforto térmico – ambientais: são aquelas que interagem na sensação de conforto térmico do homem (temperatura do ar, temperatura radiante, umidade relativa e umidade do ar, além da atividade física e da vestimenta). Existe uma equação geral de conforto usada para calcular a combinação das variáveis ambientais incluindo temperatura radiante média, velocidade do ar, umidade relativa, temperatura do ar, atividade física e vestimenta denominada Voto Médio Predito (um valor numérico que traduz a sensibilidade humana ao frio e ao calor). Conforto visual – é o principal determinante da necessidade de iluminação de um edifício. Pode ser entendido como a existência de um conjunto de condições, num determinado ambiente, no qual o ser humano pode desenvolver suas tarefas visuais com o máximo de acuidade e precisão visual, com o menor esforço, menor risco de prejuízos à vista e reduzidos riscos de acidentes. 59 Variáveis arquitetônicas – a forma – pode ter grande influência no conforto ambiental de uma edificação e no consumo de energia, visto que interfere diretamente sobre os fluxos de ar no interior e no exterior e também na quantidade de luz e calor solar recebidos pelo edifício. A forma arquitetônica é uma importante variável para as condições interiores de confortoe para o desempenho energético da edificação. A função – a função arquitetônica interage com a forma e com a eficiência energética de um edifício, pois um mesmo projeto arquitetônico se destinado a fins distintos como o comércio e a habitação, por exemplo, pode resultar em comportamentos energéticos diferentes. Sendo assim, o estudo da função arquitetônica é primordial para a escolha do critério ou estratégia Bioclimática a ser adotada. Cabe pontuar que, de acordo com Lamberts et. al (2010), o projeto de habitações apresenta um grande potencial para a incorporação de estratégias bioclimáticas, favorecendo o melhor aproveitamento da luz e da ventilação natural, assim como identificando quais os materiais construtivos mais adequados para adaptar a edificação ao contexto climático no qual a mesma se insere. 2. Arquitetura Bioclimática – carta bioclimática: estratégias de adaptação da arquitetura ao clima O princípio de concepção da arquitetura que pretende utilizar por meio da própria arquitetura, os elementos favoráveis do clima com o objetivo de satisfazer as exigências de bem estar higrotérmico é denominado “Bioclimatismo”. Já o termo “Arquitetura Bioclimática” pode ser conceituado como aquela que faz uso da tecnologia que se baseia na correta aplicação dos elementos arquitetônicos, com intuito de fornecer ao ambiente construído, um alto grau de conforto higrotérmico, com baixo consumo energético. Arquitetura Bioclimática enfatiza a questão funcional como forma de auxiliar no desempenho da edificação em uso, através da inclusão de 3 dimensões – temporal, espacial e locacional – com uma visão estética cujo significado resida no uso. 60 A bioclimatologia foi aplicada à arquitetura pela 1ª vez em 1960 pelos irmãos Olgyay objetivando conceber os projetos das edificações de maneira a usar as condições favoráveis do clima para satisfazer as exigências de conforto térmico do homem. Nesse contexto, Olgyay criou uma carta bioclimática (um diagrama) que propõe as estratégias de adaptação da arquitetura ao clima. Para países em desenvolvimento a carta climática mais adequada foi a desenvolvida por Givoni em 1992. Esta carta foi construída sobre um diagrama psicrométrico, que relaciona temperatura do ar e umidade relativa. Obtendo os valores dessas variáveis para os principais períodos do ano climático da localidade, o arquiteto obtém indicações fundamentais sobre a estratégia bioclimática a ser adotada no desenho do edifício. A carta bioclimática possui 9 zonas de atuação (Figura 1). 1. Zona de conforto – nas condições delimitadas por esta zona haverá grande probabilidade de que as pessoas sintam conforto térmico. 2. Zona de ventilação – se a temperatura ultrapassar 29oc e a umidade relativa do ar for superior a 80%, a ventilação pode melhorar a sensação térmica. No clima quente e úmido a ventilação cruzada é a estratégia mais simples a ser adotada. Dessa forma, além da posição estratégica e dimensão das janelas e portas, é necessário que os espaços exteriores sejam amplos, evitando barreiras edificadas para favorecer a boa distribuição do movimento do ar. Outra estratégia é a ventilação convectiva noturna. Figura 1: Carta Bioclimática Fonte: Lamberts, Dutra e Pereira (1997). 61 3. Zona de resfriamento evaporativo – a evaporação da água pode reduzir a temperatura e simultaneamente aumentar a umidade relativa de um ambiente. Para tanto se deve fazer uso de vegetação, fontes de água ou pequenos lagos artificiais. 4. Zona de massa térmica para resfriamento – o uso da inércia técnica de uma edificação pode diminuir a amplitude da temperatura interior em relação à exterior, evitando os picos. Dessa forma o calor armazenado na estrutura térmica da edificação durante o dia é devolvido ao ambiente somente à noite quando as temperaturas externas diminuem. De forma complementar, a estrutura térmica resfriada durante a noite mantém-se fria durante a maior parte do dia, reduzindo as temperaturas interiores nestes períodos. 5. Zona de ar condicionado – recomendado para regiões de clima severo. 6. Zona de umidificação – quando a umidade relativa do ar for muito baixa e a temperatura inferior a 27oc haverá desconforto térmico em função da secura do ar. Nestes casos, a umidificação melhora a sensação de conforto. 7. Zona de massa térmica para aquecimento – na região da carta situada entre 14oc e 20oc, pode-se utilizar a massa térmica junto ao aquecimento solar passivo ou o aquecimento solar passivo com isolamento térmico. 8. Zona de aquecimento solar passivo – ideal para a zona que fica entre 10,5oc e 14oc. O aquecimento solar passivo pode ser realizado utilizando-se diversas técnicas no projeto tais como: adequada orientação e cor dos fechamentos, aberturas zenitais controláveis, emprego de painéis refletores externos, coletores de calor no telhado, estufa e coletores de calor de água. 9. Zona de aquecimento artificial – é recomendado para as zonas com temperaturas inferiores a 10,5oc. Recomenda-se o uso do conjunto de sistemas aquecimento artificial e solar passivo. A NBR 15220-3 (ABNT, 2005c) apresenta o Zoneamento Bioclimático Brasileiro e as Diretrizes Construtivas para Habitações Unifamiliares de 62 Interesse Social. De acordo com esta classificação, o Brasil foi subdividido em oito zonas, cujas exigências climáticas se assemelham. As diretrizes construtivas são específicas para cada zona bioclimática e a avaliação é prescritiva, realizada com base na verificação do atendimento de cada parâmetro identificado pela norma: • tamanho das aberturas para ventilação (expressas como percentual de área de piso); • proteção das aberturas; • vedações externas, parede externa e cobertura, informando o tipo de vedação (leve ou pesada, refletora ou isolada); • estratégias de condicionamento térmico passivo. Segundo Lamberts et. al (2010), embora a norma faça referência à habitação de interesse social, as recomendações e diretrizes que expressa visam à otimização do desempenho térmico e são fundamentadas em estratégias de adaptação da edificação ao clima. Portanto, a NBR 15220-3 é uma importante referência normativa para a prescrição de estratégias bioclimáticas a serem incorporadas no projeto de edificações. As estratégias de condicionamento ambiental recomendadas pela NBR 15220-3 são baseadas na carta bioclimática de Givoni (1992). A classificação de cada cidade em uma determinada zona depende das estratégias bioclimáticas, que são definidas previamente, tendo sido utilizada a definição dos limites das propriedades térmicas dos elementos construtivos (paredes e coberturas): Fator Solar, Atraso Térmico e Transmitância Térmica (ABNT 2005a). Também são indicados percentuais de área de piso relativos às aberturas para ventilação, classificando-as em pequenas, médias ou grandes. 3. Princípios bioclimáticos gerais que podem ser adotados às edificações De maneira geral pode-se racionalizar o consumo de energia em uma determinada edificação, através do uso de estratégias que permitam reduzir o consumo de iluminação, condicionamento de ar e aquecimento da água. Lamberts, Dutra e Pereira (1997) recomendam: 1. Usar sistemas naturais de condicionamento e de iluminação sempre que possível; 2. Usar sistemas artificiais tecnologicamente mais eficientes; 63 3. Buscar a integração entre os dois sistemas: natural e artificial; 4. Realizar estudos de simulação. Além disso, deve-se considerar que existem diferenças significativas entre as funções da edificação: residenciais, comerciais, institucionais, etc. Duran (2011, p. 1-81) recomenda: Estratégias passivas: considera os fatores climáticos locais onde será construída a edificação - temperatura, incidência solar, direção dos ventos; orografia para termorregulação dos ambientesinternos ou uso de materiais com alta massa térmica e capacidade de dilatação. (...) Vegetação para moderação do microclima: o telhado verde e fachada verde representam um sistema de controle térmico que purifica o ar, refresca os ambientes internos da edificação durante o dia e regula a mudança de temperatura durante a noite (recomenda-se o uso de espécies nativas e de baixa manutenção). (...) Fachadas ventiladas: o “envelopamento” de fachadas é um mecanismo para a redução de consumo de energia, pois promove regulação da temperatura durante as mudanças climáticas. O sistema consiste de uma estrutura construída afastada da estrutura principal da edificação criando um vão de circulação de ar que permite a saída do ar quente. (...) Painéis fotovoltaicos; energia termo solar, eólica, hidro e geotérmica e o uso da biomassa: são soluções tecnológicas que produzem suprimento de energia através de fontes de energia renovável. (...) Sistema de regulação domótica: sistema automático de aquecimento ou resfriamento que ajusta a temperatura interna da edificação de acordo com as mudanças externas de temperatura. 3.1 Soluções de projeto conforme zonas da carta bioclimática VENTILAÇÃO Estratégia que não se resume à remoção da carga térmica da edificação, pois manter a qualidade do ar interno, através de taxas de renovação de ar adequadas, e promover o resfriamento fisiológico dos usuários são finalidades que se complementam. Sendo assim, quando esta estratégia for necessária pode ser explorada com os seguintes recursos de desenho: a) forma e orientação – explorar a exposição da edificação às brisas do verão orientando corretamente a edificação e empregando alguns recursos aplicáveis à forma do edifício. O estudo da forma e da orientação também pode explorar a iluminação natural e os ganhos de calor solar. 64 b) projetar espaços fluidos – espaços interiores fluidos permitem a circulação do ar em ambientes internos e entre os ambientes e o exterior. c) promover ventilação vertical (Figura 2) – o ar quente tende a se acumular na parte superior das edificações, a retirada deste ar tende a criar um fluxo de ar ascendente gerado por aberturas em diferentes níveis. Isto pode ser feito através de diversos dispositivos: lanternins, abertura no telhado, exaustores eólicos ou aberturas zenitais. d) elementos que direcionam o fluxo de ar para o interior (Figura 3) – elementos que se salientam da volumetria ou no entorno do edifício podem ser usados para incrementar o volume e a velocidade do fluxo de ar para o espaço interno. RESFRIAMENTO EVAPORATIVO E UMIDIFICAÇÃO Consiste na retirada do calor do ar através da evaporação da água ou pela evapotranspiração das plantas (Figura 4). Figura 2: ventilação cruzada Fonte: Duran (2011) Figura 3: direcionamento do fluxo de ar no interior da edificação Fonte: Duran (2011) 65 MASSA TÉRMICA A massa térmica pode ser usada para aquecer ou resfriar a edificação. A maneira mais simples para usar a massa térmica para aquecimento de uma edificação é construir fechamentos opacos mais espessos e diminuir a área de aberturas orientando-as para o sol (Figura 5). Em locais quentes a massa térmica pode ser utilizada para resfriar os ambientes. Para tanto as aberturas devem ser sombreadas e deve-se evitar a ventilação diurna, que pode aumentar a temperatura interna ao trazer o ar quente de exterior. À noite deve-se permitir a ventilação seletiva para retirar o calor acumulado durante o dia e garantir temperaturas internas mais baixas no dia seguinte. Figura 4: resfriamento evaporativo e umidificação Fonte: Duran (2011) Figura 5: Massa térmica para aquecimento Fonte: dc405.4shared.com Figura 6: Massa térmica para aquecimento Fonte: Duran (2011) 66 AQUECIMENTO SOLAR PASSIVO (Figura 7) Ganho direto – permite a entrada da radiação solar diretamente ao interior através das aberturas (janelas, portas, aberturas zenitais). Ganho indireto – através da adoção de jardins internos que captam a radiação solar, distribuindo-a indiretamente nos ambientes interiores. CONCLUSÃO A Arquitetura pode transformar o microclima externo; explorar características favoráveis ao mesmo tempo em que evita as desfavoráveis, tentando otimizar o conforto de seus usuários. Nesse sentido é importante a integração entre as variáveis climáticas e as variáveis humanas. Através da análise bioclimática do local é possível identificar as principais estratégias a serem adotadas no projeto arquitetônico para estabelecer o conforto térmico. Os projetos que empregam estratégias bioclimáticas, em sua concepção, contribuem não só para a construção de edificações eficientes energicamente como também colaboram com a melhoria da qualidade ambiental e sustentabilidade das cidades. Fonte: www.novasdicas.com.br Figura 7: esquema demonstrativo da energia solar passiva 67 REFERÊNCIAS CONSULTADAS PARA ELABORAR O PRESENTE TEXTO DURAN, S. C. Architecture and Energy Efficiency. Barcelona: FKG, 2011. GIVONI, B. Confort, climate analysis and building design guidelines. Energy and Buildings, v.18, p.11-23, 1992. LAMBERTS, R; GHISI, E.; PEREIRA, C. D.; BATISTA, J. O. Casa Eficiente: Bioclimatologia e Desempenho Térmico. Florianópolis: LABEEE/ UFSC, 2010. LAMBERTS, R.; DUTRA L.; PEREIRA, F. O. R. Eficiência Energética na Arquitetura. São Paulo: PW Editores, 1997. NBR 15.220-3. Zoneamento Bioclimático Brasileiro: desempenho térmico de edificações. Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT, 2005. OLGYAY, V. Design with climate: bioclimatic approach to architectural regionalism. New Jersey USA: Princeton University Press, 1973.