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SEGURANÇA DO TRABALHO Etapas da mediação no processo de construção de conhecimento: procedimentos para coleta de dados e análise 2 O planejamento é uma etapa necessária para conseguir de fato realizar as ações educativas em saúde e segurança do trabalho na organização. Sabemos que os treinamentos, as capacitações e as palestras podem contribuir muito para reduzir o número de acidentes e de doenças ocupacionais causados por im- perícia, imprudência do trabalhador ou condições inadequadas. Imperícia É a incapacidade; a falta de habilidade específica para realizar uma atividade técnica ou científica, não levando em consideração o que se sabe ou o que se deveria saber. Imprudência É um comportamento de precipitação, de falta de cuidados. Veremos agora as etapas do processo de mediação na construção do conhecimento no que se refere à re- alização das ações educativas em SST. Elas envolvem a pré-mediação, a definição de objetivos, o processo de ensino e aprendizagem e a efetividade do treinamento. Quanto à realização de ações educativas dentro das empresas, descreveremos o papel do instrutor, que é o principal responsável por mediar esse processo de ensino e aprendizagem. Chamaremos de treinando o trabalhador que participa dos treinamentos em SST. No processo de mediação da aprendizagem no ambiente corporativo, alguns sujeitos desem- penham papéis fundamentais, como o setor de SST, o gestor, o treinando e o instrutor. Veremos como cada um deles colabora. 3 Papel do setor de SST Papel do gestor É importante garantir que o treinamento esteja voltado às necessidades da empresa, para que se atinjam resultados es- tratégicos. Esses resultados incluem a redução de acidentes e da rotatividade de pessoal, a melhoria da qualidade, o aumento do lucro e da satisfação dos clientes, a redução de custos, o aumento da produção e das vendas e a implementação de melhorias que assegurem a sobrevivência e o desenvolvimento da organização. Um dos problemas na transmissão de conhecimento pode ser a falta de participação da gerência. Muitos gestores não valorizam ou não priorizam as ações de capacitação e acabam delegando tudo ao setor de recursos humanos da empresa. Quando o gestor não se envolve e não sabe o que será trabalhado na sessão de treinamento, não se preocupa em engajar para as ações aqueles que lidera. Também não se preocupa em acompanhar se os resultados foram ou não atingidos. Muitas vezes, esse tipo de gestor ainda coloca barreiras para impedir os trabalhadores de participarem dos treinamentos. Já o gestor que dá valor à cultura da capacitação busca se envolver desde a identificação da neces- sidade do treinamento. Participa da validação das ações a serem desenvolvidas, sendo ativo durante todo o processo; e faz com que os trabalhadores sintam o seu envolvimento e apoio. Assim, eles se comprometem mais e se sentem motivados. Empresas com gestores participativos têm, portanto, um grande diferencial. Os líderes devem ser preparados e conscientizados sobre a sua participação em capacitações pelo setor de recursos humanos ou por uma empresa espe- cializada em treinamentos. Esta pode fornecer um programa de desenvolvi- mento de líderes, entre outras opções. Para determinar as necessidades da organização, é recomendável considerar, entre outras questões, a sua política, a sua visão, a sua missão e os seus valores. 4 Papel do treinando Papel do instrutor Mediação de ações educativas A partir dos conhecimentos desenvolvidos no treinamento, o treinando pode colocar em prática as orientações recebidas, além de divulgar as informações aos demais setores da empresa. Um treinamento voltado a SST, por exemplo, possibilita aos trabalha- dores saber como executar de modo correto e seguro as ativida- des profissionais. É importante que um treinamento tenha objetivos e prioridades bem definidos. O profissional designado para aplicá-lo pode antes realizar entrevistas com os gestores e o setor de segurança para verificar as necessidades do público-alvo. Assim, as avaliações podem ser compostas por tarefas coerentes com a necessidade da organização. Ao desenvolver temas teóricos e práticos conectados com o dia a dia de trabalho, o treinando vai incorporando os conceitos, e, aos poucos, tais questões vão mudando o modo de ele agir. Ao instrutor é dada a tarefa de despertar no trabalhador o interesse de colocar em prática as orien- tações repassadas no treinamento por meio de interações desenvolvidas durante a ação educativa. A cada nova etapa do processo de aprendizado, o colaborador ficará mais próximo do que a empresa realmente espera que o treinamento proporcione. A mediação pedagógica deve favorecer um modo de interação entre a “sala de aula” e o local de trabalho de forma que o treinando desenvolva e amplie as suas capacidades. O instrutor deve propor atividades que agreguem diferentes instrumentos e ambientes diferenciados, oferecendo uma possibi- lidade de maior desenvolvimento humano. O dicionário Aurélio define mediar como “ficar no meio de dois pontos; intervir como árbitro ou juiz”. 5 Segundo o dicionário Houaiss, mediador é aquele que “serve de intermediário, de elo”. Dessa ma- neira, pode-se definir mediação como um inter-relacionamento. Ela é orientada pelo instrutor para os trabalhadores participantes do treinamento. Para ensinar, ele utiliza linguagem e ação, além de recur- sos diversificados. A mediação de aprendizagem é uma forma especial de interação entre um sujeito que ensina e outro que aprende; é a interação entre o espaço da produção e a recepção. O instrutor tem como papel mediar as relações entre os integrantes do grupo de aprendizagem, isto é, estabelecer elos. É importante possibilitar a troca do conhecimento já existente entre eles e motivá-los na busca coletiva da superação. Então, nos treinamentos desenvolvidos na empresa, quais seriam os pontos entre os quais o mediador deve permanecer? Veja as possibilidades: O mediador deve ficar entre os pontos que precisam de mediação, sendo essa uma competência fun- damental para ele. A capacidade de desenvolver um bom treinamento também está relacionada com a capacidade do instrutor de saber mediar. Treinando e conhecimento Oportunidades de aprendizagem e treinando Situações de aprendizagem e grupo de participantes Indivíduo e grupo Vontade de aprender e oportunidades de aprendizagem Planejamento e fatos do dia a dia Sua verdade e verdade do outro Nível de domínio das competências exigido pelas empresas e nível de competências dos trabalhadores 6 Para mediar a aprendizagem, algumas competências são necessárias, como: O mediador tem como uma de suas responsabilidades possibilitar que os participantes do treina- mento estabeleçam ligações, que realizem conexões entre o que já conhecem previamente e a aprendizagem. A aprendizagem é o processo pelo qual o indivíduo desenvolve habilidades, valores e atitudes por meio do contato com a realidade, com o meio ambiente de trabalho e com o diálogo entre as pes- soas, sendo fundamentais condições facilitadoras e determinantes. Essas sessões de aprendizagem podem ser denominadas aulas, embora isso possa remeter a um sistema tradicional e dar uma conotação pedagógica não muito adequada para os treinamentos corporativos. Logo, a tarefa de mediar sessões de aprendizagem é uma das competências que todo instrutor deve apresentar. É importante que haja uma boa relação entre instrutor/aprendizagem e instrutor/grupo, pois, por mais que se utilize o melhor material didático e que se tenha um local com estrutura adequada e com todos os equipamentos necessários para o treinamento acontecer, se essas relações não forem boas, todo o processo de desenvolvimento ficará prejudicado. Uma das maneiras de entender essa relação é analisar a relação de aprendiz e instrutor. Veja como se espera que ambos ajam. Planejar sessões de ensino e aprendizagem Liderar a mediação, valorizando o saberdo outro, a negociação, a comunicação clara e o saber ouvir Promover a reflexão e a síntese das conclusões nas situações de aprendizagem desenvolvidas 7 Aprendiz Instrutor Apresentar motivação Apresentar os pré-requisitos necessários à assimilação dos novos conhecimentos Questionar de modo claro e objetivo Examinar, cultivar e memorizar as mensa- gens recebidas Ser parte ativa no processo, dando respos- tas operativas Transferir conhecimentos de uma situação para outra Alternar períodos de estudo com períodos de descanso – prática distribuída Criar situações para estimular o aprendiza- do, respeitando as características do trei- nando Diagnosticar o potencial do aprendiz e, a partir dele, definir a profundidade da infor- mação Ser fiel à realidade do aprendiz; dar e solici- tar feedback Apontar objetivos realistas, sempre passí- veis de reformulação, para serem analisadas pelo aprendiz ou mesmo formulados me- diante atuação conjunta de instrutor e trei- nando; fazer a conferência final das sessões (verificar se os objetivos foram efetivamente atingidos); apontar, solicitar e registrar rela- ções entre as tarefas; dar e pedir exemplos; testar e comprovar aptidões Fazer perguntas; solicitar reorganização de conduta em situações novas e tarefas desa- fiadoras; variar os treinos Quebrar rotinas e comportamentos habitu- ais, provocando a aplicação de conhecimen- tos Fonte: Reichel (2008). Considerar o problema da fadiga e da mono- tonia, dando mais importância ao seu papel na aprendizagem do que à necessidade de cumprir programas, horários e cronogramas 8 Um mesmo treinamento pode ser realizado inúmeras vezes, e cada grupo de que se inicia pode reagir de uma maneira específica. Entretanto, pode haver pontos comuns, principalmente no que se refere à aprendizagem. A aprendizagem, para todos os grupos, só será efetiva se provocar a transferência de conhecimen- to. Ela deve possibilitar soluções para um problema de um determinado contexto, possibilitando o esclarecimento de dúvidas e indicando caminhos em situações diferentes. Agora que já se conhecem todos os papéis na mediação da construção do conhecimento, é impor- tante entender quais são as etapas dela e verificar os procedimentos para a coleta dos dados e as análises que envolvem todo o processo. Não há uma receita fixa para o processo de mediação, sendo possível alterar ou dispensar alguma etapa. Ressalta-se que, para fins de auditorias, as empresas devem documentar todos os passos do treinamento, desde seu planejamento, até a avaliação da ação realizada. Veja a seguir a descrição das etapas da mediação do treinamento e dos dados que a empresa deverá coletar para que possa acompanhar o andamento e a eficácia das ações educativas reali- zadas. 1. Pré-mediação Na fase preliminar, também conhecida como pré-mediação, deve-se fazer um diagnóstico para definir as necessidades de treinamento. Este somente será eficaz se atender às necessidades diagnosticadas. Se o diagnóstico não for correto, a necessidade não será suprida, e o resultado não será atingido. A necessidade real do treinamento está na diferença existente entre o nível de competência prévio e o nível de competência que se deseja alcançar, o que pode englobar conhecimentos, habilidades e atitudes. Essa necessidade pode ser verificada a partir de informações obtidas com: Mediação – Procedimentos de coleta de dados e análise Observações Entrevistas com supervisores e colaboradores Reuniões entre os departamentos da empresa Avaliações de desempenho Movimentação de funcionários (demissão, licença, férias, faltas) Baixa produtividade, erros Reclamações de clientes Problemas de comunicação e cooperação Relatórios periódicos da empresa Experiências anteriores, estratégias e resultados obtidos 9 Para tanto, é necessário definir um procedimento para coleta de dados. Por exemplo, para realizar entrevistas, é importante organizar formulários previamente, para que o entrevistador se mantenha alinhado à pauta. Os questionários também poderão auxiliar no processo e se tornar uma ferramenta de resposta mais rápida pelos colaboradores, bem como ter um processamento mais rápido quando as questões são curtas e objetivas. O contato feito por telefone ou pessoalmente para o levantamento das informações contribui para o comprometimento dos participantes e para o melhor entendimento das necessidades da empresa. Atualmente, muitas empresas dispõem de sistemas de comunicação informatizados e on-line que podem proporcionar agilidade para realizar o procedimento de levantamento de dados por e-mails corporativos, mensagens de texto, aplicativos de comunicação etc. O setor de saúde e segurança da empresa deve estar atento a diversos fatores que podem gerar a necessidade de realizar treinamentos nas empresas, tais como: Assim, havendo a necessidade de realização do treinamento, é importante escolher o instrutor pela análise do currículo dos indicados. É preciso selecionar a pessoa mais adequada para aplicar o treinamento. Os instrutores podem fazer parte ou não do quadro de funcionários da empresa. Mas, independente- mente disso, a escolha deve ser feita de maneira criteriosa, pois se trata do principal responsável por mediar o processo de ensino e aprendizagem. Além disso, os instrutores devem ser qualificados e ter experiência, pois repassarão os conhecimentos deles aos treinandos. Contratações recentes (a empresa deve treinar os novos funcionários para desenvol- ver aspectos e habilidades necessários para o cargo) Mudança de função (o trabalhador se expõe a riscos diferentes dos presentes nas atividades desenvolvidas anteriormente) Realização de determinadas tarefas (com obrigatoriedade de treinamento estabele- cida pela legislação) Necessidade de eliminar a ocorrência de acidentes 10 2. Definição dos objetivos O instrutor, ou até mesmo o grupo de instrutores, deve entender o cotidiano da empresa e, conse- quentemente, dos trabalhadores a serem submetidos ao treinamento. O conteúdo a ser ministrado deve ser selecionado; e as prioridades, os objetivos e outras questões pertinentes para o sucesso do treinamento devem ser alinhados. É fundamental que todos os elementos estejam adequados à realidade da empresa, tanto no que se refere aos objetivos definidos pelo gestor como ao público a que o treinamento será direciona- do. Veja algumas perguntas que podem auxiliar na condução do processo. Quaisquer respostas negativas a perguntas feitas nesta etapa indicam a necessidade de aprimora- mento do programa de treinamento. Os objetivos estão claros e completos e são descritos em termos de comportamen- tos observáveis? Cumprirão o seu papel de guiar a aprendizagem dos treinandos? A metodologia de ensino e aprendizagem escolhida (presencial, semipresencial ou a distância) são compatíveis com as rotinas e as expectativas dos treinandos? As instruções a serem repassadas são compatíveis com os objetivos do treinamento e com o perfil dos trabalhadores? Os instrumentos de avaliação de aprendizagem são compatíveis com os objetivos do treinamento e com o perfil dos treinandos? As avaliações apresentam itens compatí- veis com o nível de exigência ou o critério de avaliação dos objetivos? As avaliações têm caráter instrucional, ou são punitivas? O treinando será de capaz de seguir em frente e melhorar o seu desempenho a partir dos feedbacks recebidos no treinamento? Os meios e as estratégias de ensino escolhidos facilitam a aprendizagem e estimu- lam boas práticas no ambiente de trabalho? 11 Entre os fatores que contribuem para que o treinamento seja eficaz, está a forma como são repassa- dos os conhecimentos aos treinandos. Há inúmeras técnicas de transmissão do conhecimento que o instrutor pode utilizar,e a escolha por uma delas será feita no planejamento de aula. A escolha da técnica independe do local onde o treinamento será realizado. A mudança do comportamento no trabalho resulta da obtenção de conhecimentos, habili- dades e atitudes a partir de elementos inseridos em objetivos instrucionais de treinamen- tos. Trata-se do resultado de aprendizagem desejado pela empresa. Quando uma pessoa participa de um treinamento para serviços com eletricidade, por exemplo, a aprendizagem ocorre nesse contexto, em sala de aula, mediante a assimila- ção de novos conhecimentos, de discussão com os colegas, de exercícios, avaliação etc. Ela será capaz de realizar suas tarefas com competência e segurança se seguir todos os procedimentos apresentados no treinamento. 3. O processo de ensino e aprendizagem Você já participou de algum evento e, enquanto ele ocorria, se perguntou: “O que estou fazendo aqui?” ou “Qual é o sentido disso para o meu trabalho?”. Essas perguntas podem indicar que a ação educativa não está alinhada com as atividades diárias, e por isso a dificuldade de se conectar com aquilo que é passado é maior. A mesma coisa ocorre com o processo de aprendizagem: para que ele seja eficaz e significativo, precisa ter relação com o dia a dia do profissional na empresa, para que o treinamento possa con- tribuir para gerar uma mudança de comportamento e permita que os resultados esperados sejam atingidos. É importante que os instrutores busquem ferramentas adequadas para mostrar aos treinandos as vantagens de se cumprirem as orientações repassadas nos treinamentos. A conexão entre a teoria e a prática permite uma maior associação e uma maior compreensão dos temas abordados. Além disso, a aprendizagem também representa o processo pelo qual se adquire uma competên- cia, enquanto esta é a manifestação do que o indivíduo realmente aprendeu. Tanto a aprendizagem quanto a competência estão relacionadas ao conceito de mudança. 12 Aulas expositivas Vejamos algumas técnicas de repasse de conteúdos de ensino. Aulas expositivas Nesta modalidade, que é a mais utilizada, o instrutor passa a informação ao grupo de aprendizes e permite que eles escla- reçam suas dúvidas. Normalmente, as aulas expositivas são complementadas com outras técnicas, para que o grupo se desenvolva ainda mais. Estudos de caso Gera-se aprendizado a partir de uma discussão ou de estudos de casos concretos. O treinando recebe por escrito o caso do problema de uma empresa e deve estudá-lo e sugerir uma solução. Posteriormente, o assunto é debatido em grupo. Filmes, programas de televisão e outros recursos de audiovisual O uso de filmes, por exemplo, permite associar a informação verbal a imagens, podendo ser um fator para o entendimento. Hoje em dia, existe uma série de vídeos curtos na Internet abordando os mais diversos temas. Esses materiais podem proporcionar um debate ou demonstrar como as ações de- vem ser realizadas nas organizações. Além dos vídeos curtos, também existem documentários específicos para áreas de empresas que podem ser apresentados aos trabalhadores. Discussão em grupo Deve ser realizada quando o objetivo é criar e modificar atitudes. A comunicação nos dois sentidos possibilita que os treinandos sejam capazes de ouvir as ideias dos demais. Recursos de audiovisual Estudos de caso Discussão em grupo 13 Simulação É uma técnica inovadora para realização de treinamentos. Experiências da vida real são replicadas, favorecendo um ambiente de interatividade entre os participantes. Isso facilita o processo de ensino e aprendizagem. Um exemplo são as simulações amplamente aplicadas nos treinamentos de eva- cuação de edificações para o cenário de incêndio. Seminários e workshops Os seminários podem ser divididos em três etapas: exposição (normalmente realizada por uma pessoa com muito conhe- cimento na área), discussão (em que os participantes fazem perguntas e debatem sobre o tema) e conclusão. O workshop é um evento cuja finalidade é detalhar o tema exposto de modo a que se atinjam objetivos práticos e técnicos. Também há a figura do expositor, que, no caso dos workshops, pode ser mais de um, mais um moderador. O pú- blico poderá discutir, indagar e trocar ideias, como um grande grupo. Palestras e conferências As palestras devem ser ministradas por pessoas com notório conhecimento nas áreas cobertas pelo evento. Elas possibili- tam que os participantes se atualizem. Normalmente, trata-se de eventos de curta duração, de 1 ou 2 horas, sendo recomendados para o ensino de conteúdo es- pecíficos. São diferentes de conferências, cujo público é mais especializado no assunto. Simulação Palestras e conferências Seminários e workshops 14 As escolhas por certas ferramentas pedagógicas não são feitas aleatoriamente. É importante o instrutor saber aonde quer chegar, pois assim ele encontrará os procedimentos didáticos adequados. Se o que pretende é contribuir para que os alunos sejam ativos e atuantes, ele deverá escolher procedimentos condizentes com o propósito de favorecer a participação. Se o instrutor acredita no saber do outro (do participante-treinando), as escolhas que aquele fizer recai- rão sobre métodos que permitam a interação e estimularão a participação. Caso se aceite que o processo educativo é uma via de mão dupla, os meios a serem adotados facilitarão a fala do outro. O papel do instrutor será, neste caso, reconhecer que o outro tem saberes a compartilhar com o grupo, e vice-versa. A diversidade de métodos, o trabalho em grupo e a utilização de experimentos farão com que o curso fique mais dinâmico, mais agradável e, por conseguinte, mais próximo do alcance de seus objetivos. Estes são um guia para o trabalho educativo, mas virão sempre atrelados à visão do mundo defendida pelo instrutor. Em uma organização, há trabalhadores com diferentes perfis. Eles podem ter um nível de aceitação adequado com relação ao processo de ensino, ou podem se mostrar relutantes. Por isso, é importante orientar o trabalho didático-pedagógico de modo que o trabalhador não impeça o seu próprio processo de aprendizado. Muitas vezes, embora sejam orientados sobre a importância do uso do equipamento de proteção indi- vidual (EPI), ainda há trabalhadores que desobedecem instruções, por exemplo. Isso pode se dever a hábitos criados em empresas que não prezavam pela adoção de métodos de trabalho seguro. O instrutor, como mediador do processo de ensino e aprendizagem, deve estruturar o treinamento de maneira a induzir os treinandos a buscarem o conhecimento individualmente ou em grupo, dentro de uma forma de autodesenvolvimento. Ou seja, ele deve induzi-los a adquirir atitudes seguras não só em atividades para as quais o treinamento se orienta, mas de um modo geral. No processo de ensino e aprendizagem, podem-se identificar ainda outras necessidades: Conscientizar os trabalhadores de que os conteúdos são necessários Adaptar e revisar o método constantemente, o que nem sempre é possível, devido às contra- dições diárias Valorizar o conhecimento que o trabalhador traz e transformá-lo em conhecimento científico Criar regras coletivas que viabilizem o treinamento e preocupar-se em cumprir o programa 15 Se um trabalhador faz um treinamento especificamente para usar EPIs para trabalho em altura, por exemplo, ele deve ser orientado também a adotar procedimentos de segurança em todas as outras atividades. É fundamental que ele tenha consciência de que, em todos os momentos, deve agir com responsabilidade e seguir os procedimentos que o setor de saúde e segurança repassa como funda- mentais para desenvolver um trabalho seguro. Assim, autodesenvolvimento implica fazer com que o trabalhador entenda que não é apenas o setor de saúde e segurança da empresa em que ele trabalha que deve se preocupar se os trabalhadores estão seguindo as orientações. Ele deve compreender que faz parte desseprocesso e que também pode contribuir ao verificar alguma atividade ou alguma atitude que pode induzir a um acidente. Quando problemas acontecem, o resultado poderá ser inúmeras perdas ou prejuízos para os envol- vidos. Além disso, no processo de ensino e aprendizagem, é importante levar em consideração outros fatores para que assim se consigam atingir os objetivos definidos. Veja: Deve-se querer ensinar o conteúdo com paixão e decisão, de modo a fazer o que es- tiver ao alcance para explicar tudo da melhor maneira possível. Deve haver um respeito mútuo e a consciência de que ninguém sabe mais do que ninguém. As pessoas apenas ocupam posições que, em determinado momento, conduzem a mais conhecimentos, o que lhes permite juntar experiências. Devem-se utilizar todos os recursos didáticos necessários para que os conceitos se tornem claros. Nesse processo, o instru- tor deve usar as estratégias adequadas para encantar o treinando desde o princípio, para chamar sua atenção e fazê-lo ter vontade de aprender. Durante o treinamento, é fundamental deixar claros os papéis e as responsabilidades dos trabalhadores e das lideranças na realiza- ção das atividades, bem como as potenciais consequências para a segurança caso as rotinas descritas não sejam cumpridas. É preciso que os treinandos entendam onde se aplica o conteúdo recém-aprendido e por que ele é importante para a sua vida e para a organização como um todo. Durante o treinamento, deixe claro o que é certo e o que é errado. Se possível, faça isso com fotografias, demonstrando as atitudes que se esperam do trabalhador e aquelas que não podem ser executadas. O conteúdo dos treinamentos de SST deve ficar disponível para todos os trabalha- dores da empresa, para que possam acessá- -lo quando necessário. O mesmo se dá com relação às instruções. Os treinamentos devem ser realizados de maneira contínua. Eles podem ocorrer pró- ximo à produção (desde que em local seguro e que permita a concentração da equipe) ou em sala de aula. Envolva as lideranças nos treinamentos de SST. Não se esqueça de que o compromis- so com saúde e segurança é de todos e que os períodos de treinamento são ótimos para essa demonstração. 16 É importante treinar os novos colabo- radores nos assuntos de SST. E estabelecer um tutor para os novos colaboradores que estão sendo treinados. Ele os acompanhará no seu dia a dia, tirará suas dúvidas e poderá orientá-los quanto as rotinas mais seguras a serem executadas. Muitas organizações que executam treinamentos de SST em campo esquecem que um tema pode demorar meses para ser tratado novamente e que um novo trabalhador pode trabalhar um longo período sem receber uma orientação correta sobre uma rotina com risco elevado. Identifique os novos colaboradores de um serviço. É importante que aqueles que es- tiverem em treinamento usem um crachá, um adesivo, um capacete diferenciado ou outro. Somente assim toda a equipe envolvida no trabalho poderá acompanhar o andamento das atividades dos novos funcionários e auxiliá-los quando houver necessidade. Ter uma visão clara do que deseja alcançar, seja para um curto espaço de tempo ou não Saber quais conhecimentos e experiên- cias são importantes, isto é, como alcançar a visão de futuro Ter a motivação, a dedicação e a persis- tência necessárias Realize avaliações sobre o conteúdo do treinamento. Elas ajudam a fixar o conheci- mento. É importante ouvir a opinião dos colabo- radores sobre o andamento do treinamento. Podem-se utilizar também nesse processo formulários para avaliar o treinamento. Isso ajuda a melhorar o seu desempenho Avalie o desempenho dos colaboradores pelas lideranças, incluindo requisitos de SST. Esse é um momento em que a liderança for- nece retorno sobre o desempenho do colabo- rador, e vice-versa. Ter a coragem e a força de superar os obstáculos que surgirão Contar com a presença e o apoio de um líder estimulador, que pode ser o chefe, um colega ou uma pessoa que se disponha a ser o guia pelos caminhos do desenvolvimento O processo de desenvolvimento pessoal do trabalhador não é algo simples. Para que ele possa aconte- cer, o trabalhador deve: Efetividade do treinamento O aprendizado ocorre somente quando há mudança no comportamento, como quando o funcionário de uma empresa não seguia métodos seguros de trabalho e, após um treinamento, passa a ter essa preocupação, adotando atitudes seguras. 17 A mudança é observada quando se comparam os testes aplicados antes e depois da estratégia educacional adotada. As provas realizadas no início e no fim do treinamento dão suporte para isso. Podem ocorrer divergências de resultados, isto é, um funcionário pode se sair muito bem antes do treinamento e posteriormente não atingir um bom resultado, mas nesses casos outros fatores podem estar envolvidos, como o nervosismo. Por outro lado, no que se refere à competência, a mudança pode ser observada quando se compara o desempenho anterior do indivíduo com o posterior ao processo de aprendizagem. Os treinamentos não devem ser considerados apenas momentos para transmitir informações de forma mecanizada. É fundamental que tenham um impacto positivo dentro da empresa, que possam encorajar mudanças e reflexão entre os profissionais. Eles devem contribuir para a formação de uma cultura de segurança, permitindo que atitudes e costumes sejam sempre compartilhados por um gru- po de pessoas, e ajudar a diminuir os riscos no ambiente de trabalho. A empresa não deixa de ter sua parcela de responsabilidade sobre acidentes e outros problemas, mas deixa de ser a única responsável pelo destino de seus empregados. Ela passa a ter um papel colaborativo e orientador no processo de desenvolvimento de atitudes seguras de trabalho. Uma organização moderna trabalha com metas, as quais são transformadas em números para que possam ser avaliadas e, consequentemente, para que se determinem ações a serem realizadas dentro da organização. Assim, é possível mensurar os resultados e verificar se o treinamento teve eficácia ou não. A competência geralmente é percebida como uma nova maneira de realizar as atividades diárias, com mais qualidade e com a adoção de métodos seguros de trabalho. 18 A melhor maneira de analisar um treinamento e os resultados para a empresa é elaborando um sistema de avaliação que permita monitorar o tempo, o conteúdo e a efetividade na prática do que foi ensinado. Ele também deve indicar o retorno para a empresa no que se refere à redução de: Por fim, é importante definir o que a empresa deseja alcançar com o treinamento. O resultado fora daquilo que foi planejado pode servir de suporte para tomar decisões no que se refere à implantação de mudanças em prol de resultados mais satisfatórios, que deem um retorno melhor para a organiza- ção como um todo. Além disso, a criação de uma cultura de aprendizagem nas organizações é muito importante para dar respostas a um ambiente exigente, complexo e dinâmico. A existência dessa cultura depende dos vínculos estabelecidos entre as pessoas e a organização. Taxas de frequência e gravidade de acidentes Atrasos e faltas no trabalho Conflitos internos Gastos inúteis de materiais Acomodação Perda da motivação de buscar novos conhecimentos Diminuição da capacidade produtiva Perda da qualidade Falta de sintonia com avanços científicos e tecnológicos Danos em ferramentas e máquinas Lentidão na execução das tarefas O processo de aprendizagem na organização dá condições concretas para que as pessoas compreendam a sua própria realidade e o contexto em que vivem e para que possam intera- gir com ele. Depois do treinamento, analisa-se a sua eficácia, que pode se revelar na correlação entre as taxas de incidentes e acidentes. Auditorias podem indicar tambémse houve alteração nas rotinas de trabalho. Mas, paralelamente à realização do treinamento, o trabalhador já pode ser avaliado no que se refere a mudanças de comportamento. 19 O recomendado é que a empresa mantenha registros de todas as ações educativas planejadas e executadas. Após realizado o treinamento, pode-se elaborar um relatório objetivo sobre ele, com linguagem clara e consistente, podendo apresentar: • Os pontos positivos do treinamento • A relação de causa, efeito e consequências • Um resumo dos objetivos e do conteúdo programático desenvolvido • Atas administrativas como datas, lista de treinandos, locais onde os treinamentos serão reali- zados etc. Por meio do relatório de avaliação do treinamento, é possível auditar os processos, compreender quais foram as não conformidades e tratá-las, para que de fato seja possível criar a cultura de segu- rança. É importante que a empresa esteja atenta, para conseguir identificar a causa desses desvios e adotar ações corretivas. Da mesma forma, a organização poderá aplicar ações preventivas para eliminar possíveis causas dessas não conformidades. Relatório de avaliação do treinamento Campanhas de saúde e segurança do trabalhador Não são apenas os treinamentos obrigatórios exigidos pelas NRs que constituem as ações educati- vas. Campanhas, palestras e capacitações também podem ter o papel de levar informações para os trabalhadores das empresas, para os gestores, para os empregadores e inclusive para as equipes que trabalham diretamente na área de saúde e segurança. A Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho (Canpat) traz ações para promoção da cultura de segurança e saúde do trabalho nas empresas. A campanha é promovida atualmente pelo Ministério da Economia, por meio da Secretaria do Trabalho e da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho (SIT). A cada ano, a Canpat apresenta um tema, visando a compartilhar conhecimentos a respeito da área. Em 2019, o foco foi a gestão de riscos ocupacionais (“O Brasil contra acidentes e doenças do traba- lho”), a fim de conscientizar as pessoas sobre a importância de mudar a cultura de remediação de ações para a cultura de prevenção de acidentes e doenças ocupacionais. Em 2020, a Canpat abordou um tema muito relevante: a modernização das NRs. A ideia foi reunir governo, trabalhadores e empregadores para que eles conhecessem tais mudanças e se conscienti- zassem sobre a importância de ter ambientes de trabalho mais seguros e saudáveis. 20 Figura 1 – Canpat 2019; tema: gestão de riscos ocupacionais Fonte: <https://www.sindimetalmaringa.com.br/canpat-2019-campanha-nacional-de-prevencao-de- -acidentes-de-trabalho>. Acesso em: 14 dez. 2020. Figura 2 – Canpat 2020; tema: modernização das normas regulamentadoras Fonte: <https://sit.trabalho.gov.br/portal/images/SST/SST_canpat/CANPAT_IMAGENS/CANPAT_2020_ BANNER.JPG>. Acesso em: 14 dez. 2020. : A imagem representa o banner de divulga- ção da Canpat de 2020. Na parte superior, está escrito “CANPAT 2020 – Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho”. Ao centro, em diagonal grande, estão as letras “N” e “R”. Pequena, ao lado, encontra-se a hashtag “chega de acidentes”. O texto que vem logo abaixo é o seguinte: “Modernização das Normas Regulamen- tadoras – Trabalhadores, empregadores e governo juntos na efetiva segurança e saúde no trabalho. O Brasil mais competitivo, seguro e saudável”. Desfocados, ao fundo da imagem, encontram-se dois trabalhadores usando coletes refletivos e segurando os capacetes abaixo do braço. A imagem mostra um trabalhador à esquerda usando um colete refletivo laranja sobre uma cami- sa listrada. O trabalhador segura um capacete amarelo e um par de luvas de segurança. Ao lado do trabalhador, à direita, há o laço verde da campanha e, mais ao lado, à direita, a escrita “Canpat 2019 – Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes do Trabalho”. Abaixo está o tema da campa- nha, que é: gestão de riscos ocupacionais – O Brasil contra acidentes e doenças do trabalho. 21 Com a aprendizagem, as pessoas adquirem novas habilidades e conhecimentos. A mediação exer- cida pelo instrutor busca ampliar a cultura do indivíduo, com o intuito de que ele possa intervir de modo crítico e atuante em sua realidade no ambiente de trabalho e de que, por meio da interação com outros trabalhadores, ele consiga refletir e transformar seu cotidiano. Assim, a interação presente nos treinamentos será responsável pela formação do pensamento que, depois de internalizado, ditará o comportamento tipicamente humano. Além disso, como as competências se desenvolvem por meio da aprendizagem, é importante que as organizações desenvolvam mecanismos para ampliar, ao mesmo tempo, a capacidade e a velocidade de aprendizagem dos trabalhadores. É fundamental não só propiciar às pessoas ações educacionais que lhes permitam desenvolver as competências necessárias ao trabalho seguro, mas também criar um ambiente organizacional esti- mulante e facilitador da aprendizagem. O desenvolvimento de competências profissionais depende do interesse de aprender do indivíduo, do ambiente de trabalho e de um estilo de gestão que incentive a aprendizagem, além do sistema de formação disponível. Considerações finais Para que um programa de treinamento tenha sucesso, o instrutor deverá estar preparado para atuar como um verdadeiro agente de mudança. A sua atuação poderá garantir o alcan- ce dos objetivos estabelecidos e o sucesso do treinamento. 22 Para desenvolver competências, é preciso dar às pessoas a oportunidade de mudar a forma como pensam e interagem, bem como fornecer as ferramentas e as informações necessárias. Não se pode simplesmente obrigá-las a fazer algo. Seria mais motivador, produtivo e prazeroso se o empregado pudesse eleger, entre as diversas opções de aprendizagem, a mais adequada para si, pois cada indivíduo tem as próprias preferências. A legislação, no entanto, estabelece metodologias para a realização de treinamentos que devem ser seguidas para atender a esses critérios. Cabe, portanto, ao mediador da ação educativa criar as inter- faces necessárias entre treinandos e as informações que precisam ser compartilhadas.
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