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CURSO ON-LINE – DIREITO ADMINISTRATIVO – TEORIA PROFESSOR: FABIANO PEREIRA www.pontodosconcursos.com.br PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS Talvez você esteja se questionando: por que o professor está iniciando o curso de Direito Administrativo pelos princípios, já que os livros primeiramente apresentam os conceitos teóricos, fontes, sistemas administrativos, etc? Esse é um questionamento comum nos cursos que ministro, mas que pode ser facilmente respondido. Entendo que este tópico sobre os princípios administrativos é certamente o mais importante de todo o nosso curso. Mas por quê? Porque é ele que irá lhe fornecer o necessário embasamento teórico para compreender as regras jurídicas positivadas (as leis) que iremos estudar dentro do Direito Administrativo. Tanto é verdade que voltaremos a conversar sobre princípios administrativos quando estivermos estudando servidores públicos, poderes administrativos, licitações, bens públicos, processo administrativo, enfim, todos os outros tópicos do nosso curso teórico. Eu tenho o hábito de afirmar aos alunos que o candidato que detém conhecimentos solidificados sobre princípios administrativos não possui qualquer dificuldade para entender o Direito Administrativo. É muito simples! O candidato não terá dificuldades porque todas as condutas e atos praticados pelos agentes públicos, no exercício da função pública, devem estar em conformidade com os princípios administrativos. Quando o agente público competente estiver editando um decreto de nomeação de candidato aprovado em concurso público, quando estiver decidindo sobre a proposta mais vantajosa para a Administração em um procedimento licitatório ou, ainda, quando for autuar um particular, em decorrência do exercício do poder de polícia, deverá sempre respeitar os princípios administrativos. Exemplo: imagine que você tenha sido aprovado como primeiro colocado em um concurso para Auditor de Tributos municipais, cujo edital divulgou a existência de 03 (três) vagas. Seis meses depois da homologação do edital, ainda sem ter sido nomeado, você encontrou um colega de cursinho na rua, que lhe informou que também havia sido aprovado no mesmo concurso, porém, na segunda colocação. Entretanto, para a sua surpresa, o colega declarou que já estava trabalhando, pois havia sido nomeado há aproximadamente três meses em razão de sua grande amizade com o Prefeito. CURSO ON-LINE – DIREITO ADMINISTRATIVO – TEORIA PROFESSOR: FABIANO PEREIRA www.pontodosconcursos.com.br 2 Ora, nesse caso, qual seria a sua reação ao saber que o segundo colocado fora nomeado antes do primeiro? Raiva, desespero, decepção, vontade de “esganar” a autoridade responsável pela nomeação? Provavelmente. Mas tente pensar no ato de nomeação em si. Num primeiro momento, o pensamento que lhe vem à mente é o de que a autoridade quis lhe prejudicar, ou então, beneficiar o segundo colocado (esse é o pensamento mais comum). Bem, independentemente de ter objetivado beneficiar o segundo colocado ou lhe prejudicar, o fato é que o agente público, ao desrespeitar a lista de classificação no concurso, violou diversos princípios administrativos, entre eles o da impessoalidade, que está previsto expressamente no caput do artigo 37 da Constituição Federal de 1988. Mas por que o princípio da impessoalidade foi violado? Porque tal princípio, em uma de suas acepções, determina que os agentes públicos devem conceder tratamento isonômico a todos os administrados, vedando tratamentos privilegiados ou prejudiciais em função de amizades, inimizades, parentescos ou troca de favores. Não é necessário ser nenhum especialista em Direito Administrativo para saber que a nomeação do primeiro colocado, em um concurso público, deve ocorrer antes da nomeação do segundo. Muito óbvio! Mesmo inexistindo lei determinando expressamente o respeito à ordem de classificação no concurso quando o agente público for efetuar a nomeação dos aprovados, é possível anular o ato de nomeação que desrespeitou tal classificação. Isso porque o ato violou vários princípios administrativos, como o da impessoalidade, moralidade, isonomia, entre outros. E, como bem afirma o professor Celso Antônio Bandeira de Mello, “[...] violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumélia irremissível a seu arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra. Isso porque, por ofendê-lo, abatem-se as vigas que o sustêm e alui-se toda a estrutura nelas esforçada”. Sendo assim, os atos editados pela Administração Pública, caso violem princípios administrativos, deverão ser anulados pela própria Administração ou pelo Poder Judiciário, já que estão em desconformidade com o Direito. CURSO ON-LINE – DIREITO ADMINISTRATIVO – TEORIA PROFESSOR: FABIANO PEREIRA www.pontodosconcursos.com.br 3 Os princípios administrativos estruturam, orientam e direcionam a edição de leis administrativas e a atuação da Administração Pública, pois não existe um sistema jurídico formado exclusivamente de leis. Os princípios contêm mandamentos com um maior grau de abstração, já que não especificam ou detalham as condutas que devem ser seguidas pelos agentes públicos, pois isso fica sob a responsabilidade da lei. Entretanto, no momento em que o legislador for criar a lei, deverá observar as diretrizes traçadas nos princípios, sob pena de sua invalidação. Para você entender, de uma vez por todas, a importância dos princípios, basta analisar o conteúdo do inciso III do artigo 1º da Constituição Federal de 1988, que prevê o princípio da dignidade da pessoa humana como um fundamento da República Federativa do Brasil. Mas o que significa isso? Significa que todas as leis criadas em nosso país, assim como todos os atos e condutas praticadas pela Administração Pública e pelos particulares, devem orientar-se pelo princípio da dignidade da pessoa humana. O princípio da dignidade da pessoa humana assegura que o ser humano tem direito a um “mínimo existencial”, ou seja, o direito a condições mínimas de existência para que possa sobreviver dignamente. Dentro do citado “mínimo existencial” estariam incluídos, por exemplo, o direito à renda mínima, saúde básica, educação fundamental e acesso à justiça. Sendo assim, não é necessário que seja criada uma lei ou várias leis detalhando como cada um dos direitos relativos ao “mínimo existencial” será usufruído. A simples existência do princípio no texto constitucional, por si só, já é capaz de assegurar a necessidade de seu cumprimento. Tanto é verdade que, se algum indivíduo tiver a sua dignidade humana violada por ação ou omissão do Estado, poderá recorrer ao Judiciário para exigir as providências cabíveis. O princípio da dignidade da pessoa humana já serviu como fundamentação, por exemplo, para o Superior Tribunal de Justiça garantir o fornecimento obrigatório de medicamentos pelo Poder Público (Recurso Ordinário em Mandado de Segurança – ROMS 11.183-PR) e para assegurar a matrícula de crianças em escolas públicas, independentemente da existência de vaga, dentre muitos outros casos. Para concluir, que fique bem claro, então, que, mesmo possuindo um grau de abstração e subjetividade superior ao das leis, os princípios devem ser obrigatoriamente respeitados pela Administração Pública e, consequentemente, pelos seus agentes. CURSO ON-LINE – DIREITO ADMINISTRATIVO – TEORIA PROFESSOR: FABIANO PEREIRA www.pontodosconcursos.com.br 4 1.1. Princípios expressos e implícitos Além de tudo que já foi exposto, é importante destacar ainda que os princípios administrativosse dividem em expressos e implícitos. Princípios expressos são aqueles taxativamente previstos em uma norma jurídica de caráter geral, obrigatória para todas as entidades políticas (União, Estados, Municípios, Distrito Federal e seus respectivos órgãos públicos), bem como para as entidades administrativas (autarquias, fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia mista). Não interessa se a norma jurídica de caráter geral possui status constitucional ou infraconstitucional, mas sim se é de cunho obrigatório para toda a Administração Pública, em todos os níveis. Sendo assim, é possível que tenhamos princípios expressos previstos em nível constitucional, como constatamos no caput do artigo 37 da Constituição Federal. Esse dispositivo estabelece a obrigatoriedade de a Administração respeitar os princípios da LEGALIDADE, IMPESSOALIDADE, MORALIDADE, PUBLICIDADE e EFICIÊNCIA. Da mesma forma, também encontraremos princípios expressos na legislação infraconstitucional, como acontece no artigo 3º da Lei de licitações, que determina a obrigatoriedade de respeito aos princípios da legalidade, moralidade, publicidade, vinculação ao instrumento convocatório, julgamento objetivo, dentre outros. Esses princípios são considerados expressos porque você consegue identificar claramente o “nome” de cada um deles no texto legal ou constitucional, como acontece, por exemplo, com o princípio da MORALIDADE. O nome deste princípio não é “princípio do respeito à ética e transparência dentro da Administração Pública”, mas sim MORALIDADE, com todas as letras! Em alguns casos, encontraremos princípios expressos em leis que não são de observância obrigatória para toda a Administração Pública brasileira, mas somente para determinado ente político. Podemos citar como exemplo a Lei 9.784/99, que regula o processo administrativo no âmbito federal. Em seu artigo 2º, a lei 9.784/99 declara que a Administração Pública obedecerá, entre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, segurança jurídica, eficiência, do interesse público e do contraditório. Entretanto, tais princípios são considerados expressos somente para a Administração Pública Federal (União, seus respectivos órgãos e entidades da administração indireta), pois estão previstos em uma norma jurídica que é de observância obrigatória apenas para a Administração Pública Federal. Tais princípios não podem ser considerados expressos CURSO ON-LINE – DIREITO ADMINISTRATIVO – TEORIA PROFESSOR: FABIANO PEREIRA www.pontodosconcursos.com.br 5 para o Distrito Federal ou para o meu maravilhoso município de Montes Claros – MG (terra da carne de sol com pequi), pois a referida lei é federal. O Estado de Minas Gerais, por exemplo, possui uma lei própria regulando os processos administrativos que tramitam no âmbito estadual (lei 14.184/02). Sendo assim, os princípios previstos no artigo 2º da Lei 9.784/99 não serão expressos em relação ao Estado de Minas Gerais, pois não têm caráter obrigatório em relação a este. Da mesma forma, no artigo 2º da lei estadual mineira, está previsto que a Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, finalidade, motivação, razoabilidade, eficiência, ampla defesa, do contraditório e da transparência. Observe que na lei federal não consta a obrigatoriedade de respeito ao princípio da transparência, que somente será expresso em relação ao Estado de Minas Gerais. Por outro lado, princípios implícitos são aqueles que não estão previstos expressamente em uma norma jurídica de caráter geral, pois são consequência dos estudos doutrinários e jurisprudenciais. São princípios cujos nomes não irão constar claramente no texto constitucional ou legal, mas que, de qualquer forma, vinculam as condutas e atos praticados pela Administração Pública. Um bom exemplo para facilitar o entendimento é o princípio da eficiência. Esse princípio somente foi introduzido no caput do artigo 37 da Constituição Federal a partir de 04 de junho de 1998, com a promulgação da Emenda Constitucional 19. Somente a partir dessa data é que esse princípio passou a ser expresso. Apesar disso, antes mesmo de ter sido incluído expressamente no caput do artigo 37 da Constituição Federal, tal princípio já era considerado implicitamente obrigatório para toda a Administração Pública brasileira pelos Tribunais do Poder Judiciário. Exemplo: O Ministro Luiz Vicente Cernichiaro, do Superior Tribunal de Justiça, em 1996, ao julgar o Recurso em Mandado de Segurança – RMS 5.590-6/DF, declarou que a “Administração Pública é regida por vários princípios. Além dos arrolados no art. 37, da Constituição da República: legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade, outros se evidenciam na mesma Carta Política. Sem dúvida, não se contesta, urge levar em conta ainda o princípio da eficiência, ou seja, a atividade administrativa deve voltar- se para alcançar resultado e interesse público”. Sendo assim, mesmo antes de ser incluído no texto constitucional, o princípio da eficiência tinha caráter obrigatório para toda a Administração CURSO ON-LINE – DIREITO ADMINISTRATIVO – TEORIA PROFESSOR: FABIANO PEREIRA www.pontodosconcursos.com.br 6 Pública brasileira, mas era considerado implícito, porque ainda não estava “escrito” no caput do artigo 37 da CF/88. 1.2. Conflito entre princípios É necessário destacar, desde já, que não existe hierarquia entre os princípios administrativos. Independentemente de estarem previstos no texto constitucional ou na legislação infraconstitucional (leis), todos os princípios estão no mesmo patamar hierárquico. Caso ocorra uma colisão entre princípios, o juiz deverá ponderar, em cada caso, conforme as circunstâncias, qual princípio deve prevalecer. Não é correto afirmar que o princípio “x” sempre deverá prevalecer em face do princípio “y”, ou vice-versa. Somente ao analisar o caso em concreto é que o judiciário terá condições de afirmar qual princípio deve prevalecer. Para a ponderação de princípios, o juiz poderá valer-se de outros princípios, principalmente o da proporcionalidade. No caso em concreto, o juiz irá analisar se a aplicação de ambos os princípios é adequada e necessária e, se realmente for, não irá excluir totalmente a incidência de um em detrimento do outro. Deverá, sim, reduzir o alcance de um princípio ou, em alguns casos, de ambos, a fim de se chegar a uma decisão que atenda às expectativas de ambas as partes e mantenha os efeitos jurídicos de ambos. 2. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE Historicamente, a origem do princípio da legalidade baseia-se na Magna Carta de 1215, sendo o primeiro esforço inglês de tentar restringir o poder absolutista do rei. No referido documento, estava escrito que "Nenhum homem livre será detido ou sujeito à prisão, ou privado de seus bens, ou colocado fora da lei, ou exilado, ou de qualquer modo molestado, e nós não procederemos nem mandaremos proceder contra ele senão mediante um julgamento regular pelos seus pares ou de harmonia com a lei do país". Conforme é possível constatar, desde 1215, já existia uma movimentação no sentido de que as relações jurídicas ocorridas entre os particulares, bem como aquelas entre o Estado e os particulares, ocorressem através de lei. Atualmente, o princípio da legalidade pode ser estudado sob dois enfoques distintos: em relação aos particulares e em relação à Administração Pública. Em relação aos particulares, o princípio da legalidade está consagrado no inciso II, do artigo 5º, da Constituição Federal de 1988, CURSO ON-LINE – DIREITO ADMINISTRATIVO – TEORIA PROFESSOR: FABIANO PEREIRA www.pontodosconcursos.com.br 7 segundo o qual "ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei". Isso significa que, em regra, somente uma lei (ato emanadodo poder legislativo) pode impor obrigações aos particulares. Segundo o saudoso professor Hely Lopes Meirelles, “enquanto os indivíduos, no campo privado, podem fazer tudo o que a lei não veda, o administrador público só pode atuar onde a lei autoriza”. Para ficar mais fácil o entendimento do princípio da legalidade em relação aos particulares, imaginemos o seguinte: Após ter sido aprovado no concurso público de Auditor Fiscal, você me convidou para comemorar a sua vitória em uma churrascaria da sua cidade. Depois de muitos “refrigerantes” e muita carne consumida, você solicitou ao garçom o valor da conta: R$ 330,00 (trezentos e trinta reais), sendo R$ 300,00 (trezentos reais) de consumo e mais R$ 30,00 (trinta reais) de gorjeta. Como nós não tivemos o atendimento merecido (e mesmo porque a sua primeira remuneração ainda nem havia sido creditada em conta corrente), você imediatamente alegou que não iria pagar o valor de R$ 30,00 (trinta reais) de gorjeta, pois aquela cobrança não seria justa. Para argumentar, o gerente da churrascaria compareceu à mesa e informou que a referida cobrança estava informada, com letras garrafais, no cardápio. Além disso, alegou ainda que tal cobrança estivesse amparada em Convenção Coletiva firmada entre o Sindicato dos restaurantes, churrascarias, bares, meios de hospedagem e similares e o Sindicato dos Garçons. Pergunta: Nesse caso, nós, ou melhor, você (fui apenas convidado) poderá ou não ser obrigado a pagar a referida gorjeta? (Antes de responder à pergunta acima, é necessário que você saiba que Convenção Coletiva não é lei, pois não foi votada no Poder Legislativo). Resposta: Muito simples. Você não será obrigado a pagar a gorjeta, pois ela não foi estabelecida por meio de lei. E, conforme previsto no inciso II do artigo 5º da CF/88, nós só podemos ser obrigados a fazer alguma coisa por meio de lei! O próprio Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em decisão recente (Apelação 2001.01.00.037891-8/DF), declarou a abusividade da cobrança de gorjeta do particular sem previsão legal. O princípio da legalidade, em relação aos particulares, também é conhecido como princípio da autonomia da vontade, pois é assegurada a liberdade para os indivíduos agirem da maneira que entenderem mais conveniente, exceto se existir proibição legal. Em relação à Administração, o princípio da legalidade assume um enfoque diferente. Nesse caso, está previsto expressamente no caput do artigo 37 da Constituição Federal de 1988 e significa que a Administração Pública somente pode agir se existir uma norma legal autorizando. CURSO ON-LINE – DIREITO ADMINISTRATIVO – TEORIA PROFESSOR: FABIANO PEREIRA www.pontodosconcursos.com.br 8 Segundo o professor Celso Antônio Bandeira de Mello, o princípio da legalidade “implica subordinação completa do administrador à lei. Todos os agentes públicos, desde o que ocupe a cúspide até o mais modesto deles, devem ser instrumentos de fiel e dócil realização das finalidades normativas”. Num primeiro momento, pode até parecer que a necessidade de autorização legal para que a administração possa agir estaria “engessando” a atividade administrativa. Contudo, não é esse o objetivo do referido princípio. Na verdade, conforme nos informa a professora Maria Sylvia Zanella di Pietro, “este princípio, juntamente com o de controle da Administração pelo Poder Judiciário, nasceu com o Estado de Direito e constitui uma das principais garantias de respeito aos direitos individuais”. Na prática, a vontade da Administração é a que decorre da lei e, portanto, os agentes públicos somente poderão fazer o que a lei permitir. O professor Celso Antônio Bandeira de Mello afirma que o princípio da legalidade pode sofrer constrições em função de circunstâncias excepcionais, mencionadas expressamente no texto constitucional, e cita como exemplo a edição de medidas provisórias, decretação de estado de defesa e, ainda, a decretação de estado de sítio pelo Presidente da República. Sendo assim, segundo o referido professor, os particulares podem ser obrigados a fazer ou deixar de fazer alguma coisa também em virtude de medida provisória ou decretos que instituem “estado de defesa ou de sítio”. Porém, é válido destacar que tal obrigação somente ocorre em caráter excepcional e em virtude de tais instrumentos possuírem força de lei, apesar de não serem lei em sentido formal. Pergunta: Mas o que é lei em sentido formal? É aquela que, em regra, origina-se no Poder Legislativo, com a participação do Poder Executivo e em conformidade com o processo legislativo previsto no texto constitucional. Para que seja caracterizada como formal é irrelevante o conteúdo da lei, basta que tenha surgido do Poder Legislativo. Pergunta: Aproveitando a oportunidade, professor, o que seria então a lei em sentido material? Lei em sentido material é aquela cujo conteúdo possui caráter genérico (aplicável a um número indefinido e indeterminável de pessoas) e abstrato (aplicável a um número indefinido e indeterminável de situações futuras), independentemente do órgão ou entidade que a tenha criado. Nesse caso, não interessa o processo ou o órgão de criação, mas o seu conteúdo, que deve ser normativo. CURSO ON-LINE – DIREITO ADMINISTRATIVO – TEORIA PROFESSOR: FABIANO PEREIRA www.pontodosconcursos.com.br 9 Em sentido material, podemos incluir tanto as leis em sentido formal como qualquer ato normativo com caráter geral e abstrato, independente de sua origem. É importante também chamar a sua atenção para o alerta dos professores Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo, que afirmam que a atividade administrativa não pode ser contra legem (contra a lei) nem praeter legem (além da lei), mas apenas secundum legem (segundo a lei). Afirmam ainda que os atos eventualmente praticados em desobediência a tais parâmetros são atos inválidos e, portanto, podem ter sua invalidade decretada pela própria Administração que o haja editado ou pelo Poder Judiciário. Pergunta: Professor, para finalizar o estudo sobre o princípio da legalidade, gostaria de saber como as bancas examinadoras podem cobrá-lo em prova? Bem, vejamos uma questãozinha básica, cobrada pela ESAF no concurso de Gestor Fazendário da Secretaria Estadual da Fazenda de MG, em 2005: (ESAF – GEFAZ/MG - 2005) Assinale a opção correta, relativamente ao princípio da legalidade. a) Tal princípio é de observância obrigatória apenas para a Administração direta, em vista do caráter eminentemente privatístico das atividades desenvolvidas pela Administração indireta. b) Não se pode dizer que todos os servidores públicos estejam sujeitos ao princípio da legalidade, na medida em que, para alguns, sua conduta profissional é regida precipuamente por regulamentos, editados pelo Poder Executivo. c) A inobservância ao princípio da legalidade, uma vez verificada, cria para o administrador o dever – e não a simples faculdade – de revogar o ato. d) Tal princípio não autoriza o gestor público a, nessa qualidade, praticar todos os atos que não estejam proibidos em lei. e) O princípio da legalidade é característico da atividade administrativa, não se estendendo à atividade legislativa, pois esta tem como característica primordial a criação de leis, e não sua execução. Como você pode perceber, a questão não apresenta maiores dificuldades, vejamos: CURSO ON-LINE – DIREITO ADMINISTRATIVO – TEORIA PROFESSOR: FABIANO PEREIRA www.pontodosconcursos.com.br 10 Letra “a” – Conforme o caput do artigo 37 da CF/88, o princípio da legalidade é de observância obrigatória para toda a Administração Pública brasileira, tanto a DIRETA quanto a INDIRETA. Errada. Letra “b” – Todos os servidores públicos estão sujeitos ao princípio da legalidade, conforme determina o caput do artigo 37 da CF/88. Errada. Letra “c” – O ato ilegal deve ser anulado, e não revogado como está descrito na assertiva (posteriormente estudaremos essa obrigaçãomais detalhadamente). Errada. Letra “d” – Correta a assertiva. O gestor público somente pode praticar atos que estejam autorizados em lei. Caso a lei seja omissa em relação à possibilidade, ou não, de o gestor praticar certo ato, então ele não poderá praticá-lo, diferentemente do que acontece com o particular. Em relação a este, é permitido fazer tudo aquilo que não está proibido em lei. Letra “e” – Todos os poderes estão submetidos ao crivo da lei, inclusive o legislativo. Tanto é verdade que no exercício da atividade legislativa deverá respeitar o processo legislativo previsto no texto constitucional, bem como as regras estabelecidas na Lei Complementar 95/98, que dispõe sobre a elaboração de leis. 3. PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE O princípio da impessoalidade, assim como o da legalidade, também está expresso no caput do artigo 37 da Constituição Federal de 1988. Em questões de concursos, as bancas examinadoras não têm aprofundado muito nas questões relativas a este princípio. Entretanto, temos que entender que ele pode ser estudado sob várias formas diferentes. Primeiramente, o princípio da impessoalidade impõe à Administração Pública a obrigação de conceder tratamento isonômico a todos os administrados que se encontrarem em idêntica situação jurídica, vedando, assim, o tratamento privilegiado a um ou alguns indivíduos em função de amizade, parentesco ou troca de favores. Da mesma forma, o princípio também veda aos administradores que pratiquem atos prejudiciais ao particular em razão de inimizade ou perseguição política, por exemplo. Nesse caso, tem-se o princípio da impessoalidade, como uma faceta do princípio da isonomia, e a obrigatoriedade de realização de concurso público para ingresso em cargo ou emprego público (artigo 37, II), bem como a obrigatoriedade de realização de licitação pela Administração (artigo 37, XXI), são exemplos clássicos de tal princípio, já que proporcionam igualdade de condições para todos os interessados. CURSO ON-LINE – DIREITO ADMINISTRATIVO – TEORIA PROFESSOR: FABIANO PEREIRA www.pontodosconcursos.com.br 11 Em uma segunda acepção, o princípio da impessoalidade determina que os atos praticados pela Administração Pública não podem ser utilizados para a promoção pessoal do agente público, mandamento expresso na segunda parte do § 1º do artigo 37 da Constituição Federal de 1988: § 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverão ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos. Como os atos praticados pelos agentes púbicos devem ser imputados à entidade política ou administrativa às quais se encontram vinculados, não podem esses se valer da propaganda institucional para se promover. Pergunta: O prefeito da minha cidade, cujo apelido é tamanduá, pode eleger como símbolo da administração municipal um tamanduá (animal), com uma enxada nas costas, e colocar um adesivo em cada veículo do município? É claro que não! Nesse caso, qualquer administrado que olhar para o adesivo em um veículo público estará vendo a “imagem” do prefeito, que tem como apelido o mesmo nome do animal que foi “escolhido” como símbolo da administração municipal. Outra pergunta: É possível que um Governador de Estado apareça nas propagandas institucionais veiculadas na televisão e pagas com recursos públicos, noticiando que “ele” foi o responsável pela construção da escola “y”, do asfaltamento da estrada “z”, pela reforma do hospital “X”, etc? Também não, pois, nesse caso, ele estaria se auto-promovendo através de propaganda custeada com recursos públicos. Ademais, os atos praticados durante a sua gestão devem ser imputados ao Estado e não à figura do Governador. O princípio da impessoalidade, numa terceira acepção, também pode ser estudado como uma aplicação do princípio da finalidade. Nesse caso, no sentido de que o alvo a ser alcançado primariamente pela Administração é sempre o interesse público e não o interesse privado. A finalidade do ato deve ser atingida tanto em sentido amplo quanto em sentido estrito para que seja considerado válido. Em sentido amplo, significa que todos os atos praticados pela Administração devem atender ao interesse público. Em sentido estrito, significa que todo ato praticado pela Administração possui uma finalidade específica, prevista em lei. Um exemplo muito comum em provas de concursos são as questões referentes à remoção de servidores, veja: CURSO ON-LINE – DIREITO ADMINISTRATIVO – TEORIA PROFESSOR: FABIANO PEREIRA www.pontodosconcursos.com.br 12 (Advogado IRB/2006 - ESAF)- Tício, servidor público de uma Autarquia Federal, aprovado em concurso público de provas e títulos, ao tomar posse, descobre que seria chefiado pelo Sr. Abel, pessoa com quem sua família havia cortado relações, desde a época de seus avós, sem que Tício soubesse sequer o motivo. Depois de sua primeira semana de trabalho, apesar da indiferença de seu chefe, Tício sentia-se feliz, era seu primeiro trabalho depois de tanto estudar para o concurso ao qual se submetera. Qual não foi sua surpresa ao descobrir, em sua segunda semana de trabalho, que havia sido removido para a cidade de São Paulo, devendo, em trinta dias, adaptar-se para se apresentar ao seu novo chefe, naquela localidade. Considerando essa situação hipotética e os preceitos, a doutrina e a jurisprudência do Direito Administrativo Brasileiro, assinale a única opção correta. a) A conduta do Sr. Abel não merece reparos, posto que amparada pela lei. b) O Sr. Abel agiu com excesso de poder, razão pela qual seu ato padece de vício. c) O Sr. Abel agiu corretamente, na medida em que Tício ainda se encontrava em estágio probatório. d) O Sr. Abel incidiu em desvio de finalidade, razão pela qual o ato por ele praticado merece ser anulado. e) Considerando que o ato do Sr. Abel padece de vício, o mesmo deverá ser revogado. Na citada questão, apesar de não ter constado expressamente, é possível supor que o Sr. Abel apenas removeu o servidor para a cidade de São Paulo em virtude de desavenças familiares, pois o servidor ainda estava em sua segunda semana de trabalho. Na verdade, o objetivo do Sr. Abel foi vingar-se do novo servidor e, para isso, editou um ato administrativo removendo-o para outra localidade. Pergunta: Qual é a finalidade, em sentido amplo, de um ato administrativo de remoção de servidor? Satisfazer o interesse público, assim como todo e qualquer ato editado pela Administração. Outra pergunta: E qual seria a finalidade, em sentido estrito, do mesmo ato de remoção de servidor? Suprir a carência de servidores em outra localidade. Todavia, o que se verifica na referida questão é que o Sr. Abel não editou o ato administrativo para suprir a carência de servidores na localidade de destino, mas sim para “ficar livre” daquele servidor em virtude de desavenças familiares. CURSO ON-LINE – DIREITO ADMINISTRATIVO – TEORIA PROFESSOR: FABIANO PEREIRA www.pontodosconcursos.com.br 13 Como o ato editado pelo Sr. Abel não cumpriu a sua finalidade específica de suprir a carência de servidores no local de destino, sendo editado apenas para satisfazer o seu interesse pessoal, deverá ser anulado por desvio de finalidade. Apesar de a Administração ter por objetivo alcançar o interesse público, é válido ressaltar que, em alguns casos, poderão ser editados atos com o objetivo de satisfazer o interesse particular, como acontece, por exemplo, na permissão de uso de um certo bem público (quando o Município, por exemplo, permite ao particular a possibilidade de utilizar uma loja do Mercado municipal para montar o seu estabelecimento comercial). Nesse caso, o interesse público também será atendido, mesmo que secundariamente. O que não se admite é que um ato administrativo seja editado parasatisfazer exclusivamente o interesse particular, portanto, fique atento às questões de concurso sobre o tema. 4. PRINCÍPIO DA MORALIDADE O princípio da moralidade, também previsto expressamente no caput do artigo 37 da Constituição Federal de 1988, determina que os atos e atividades da Administração devem obedecer não só à lei, mas também à própria moral, pois nem tudo que é legal é honesto. Como consequência do princípio da moralidade, os agentes públicos devem agir com honestidade, boa-fé e lealdade, respeitando a isonomia e demais preceitos éticos. É válido destacar que a moral administrativa é diferente da moral comum, pois, conforme Hauriou, a moral comum é imposta ao homem para a sua conduta externa, enquanto a moral administrativa é imposta ao agente público para sua conduta interna, segundo as exigências da instituição a que serve e a finalidade de sua ação, que é a satisfação do interesse público. Em razão de tal princípio, veda-se à Administração Pública qualquer comportamento que contrarie os princípios da lealdade e da boa-fé. Além disso, observe-se que o princípio deve ser respeitado não apenas pelo administrador, mas também pelos particulares que se relacionam com a Administração Pública. Em um processo licitatório, por exemplo, é muito comum o conluio entre licitantes com o objetivo de violar o referido princípio, conforme informa a professora Di Pietro. Afirma ainda a professora que, em matéria administrativa, sempre que se verificar que o comportamento da Administração ou do administrado que CURSO ON-LINE – DIREITO ADMINISTRATIVO – TEORIA PROFESSOR: FABIANO PEREIRA www.pontodosconcursos.com.br 14 com ela se relaciona juridicamente, embora em consonância com a lei, ofende a moral, os bons costumes, as regras de boa administração, os princípios de justiça e de equidade, além da idéia comum de honestidade, haverá ofensa ao princípio da moralidade administrativa. Em virtude de o conceito de moral administrativa ser um pouco vago, impreciso, cuidou-se o legislador de criar a Lei 8.429/92, estabelecendo hipóteses que caracterizam improbidades administrativas, bem como estabelecendo as sanções aplicáveis a agentes públicos e a terceiros, quando responsáveis pela prática de atos coibidos pelo texto normativo. A doutrina majoritária entende que a “probidade administrativa” seria uma espécie do gênero “moralidade administrativa”, já que estaria relacionada mais propriamente com a má qualidade de uma administração, não se referindo, necessariamente, à ausência de boa-fé, de lealdade e de justeza do administrador público. Fique atento às questões de concursos, pois, a qualquer momento, você pode se deparar com uma questão em prova afirmando que “probidade” e “moralidade” são expressões idênticas, informação que, segundo a doutrina majoritária, não procede. Esse também é o entendimento do professor Marcelo Figueiredo, ao afirmar que “a probidade é espécie do gênero ‘moralidade administrativa’ a que alude, por exemplo, o art. 37, caput e seu § 4° da CF. O núcleo da probidade está associado (deflui) ao princípio maior da moralidade administrativa, verdadeiro norte à administração em todas as suas manifestações. Se correta estiver a análise, podemos associar, como o faz a moderna doutrina do direito administrativo, os atos atentatórios à probidade como também atentatórios à moralidade administrativa. Não estamos a afirmar que ambos os conceitos são idênticos. Ao contrário, a probidade é peculiar e específico aspecto da moralidade administrativa”. Entre os atos de improbidade administrativa coibidos pela lei 8.429/92, estão aqueles que importam enriquecimento ilícito, os que causam prejuízos ao erário e os que atentam contra os princípios da Administração Pública, conforme podemos observar a seguir: Dos Atos de Improbidade Administrativa que Importam Enriquecimento Ilícito Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art. 1° desta lei, e notadamente: I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indireta, a título de comissão, percentagem, gratificação CURSO ON-LINE – DIREITO ADMINISTRATIVO – TEORIA PROFESSOR: FABIANO PEREIRA www.pontodosconcursos.com.br 15 ou presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público; II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou a contratação de serviços pelas entidades referidas no art. 1° por preço superior ao valor de mercado; III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a alienação, permuta ou locação de bem público ou o fornecimento de serviço por ente estatal por preço inferior ao valor de mercado; IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidores públicos, empregados ou terceiros contratados por essas entidades; V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de contrabando, de usura ou de qualquer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal vantagem; VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para fazer declaração falsa sobre medição ou avaliação em obras públicas ou qualquer outro serviço, ou sobre quantidade, peso, medida, qualidade ou característica de mercadorias ou bens fornecidos a qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta lei; VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, cargo, emprego ou função pública, bens de qualquer natureza cujo valor seja desproporcional à evolução do patrimônio ou à renda do agente público; VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de consultoria ou assessoramento para pessoa física ou jurídica que tenha interesse suscetível de ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público, durante a atividade; IX - perceber vantagem econômica para intermediar a liberação ou aplicação de verba pública de qualquer natureza; X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indiretamente, para omitir ato de ofício, providência ou declaração a que esteja obrigado; XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei; XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei. Dos Atos de Improbidade Administrativa que Causam Prejuízo ao Erário Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente: I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei; CURSO ON-LINE – DIREITO ADMINISTRATIVO – TEORIA PROFESSOR: FABIANO PEREIRA www.pontodosconcursos.com.br 16 II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens, rendas, verbasou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie; III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente despersonalizado, ainda que de fins educativos ou assistências, bens, rendas, verbas ou valores do patrimônio de qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância das formalidades legais e regulamentares aplicáveis à espécie; IV - permitir ou facilitar alienação, permuta ou locação de bem integrante do patrimônio de qualquer das entidades referidas no art. 1º desta lei, ou ainda a prestação de serviço por parte delas, por preço inferior ao de mercado; V - permitir ou facilitar aquisição, permuta ou locação de bem ou serviço por preço superior ao de mercado; VI - realizar operação financeira sem observância das normas legais e regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidônea; VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie; VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente; IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não autorizadas em lei ou regulamento; X - agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda, bem como no que diz respeito à conservação do patrimônio público; XI - liberar verba pública sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular; XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente; XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidor público, empregados ou terceiros contratados por essas entidades. XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por objeto a prestação de serviços públicos por meio da gestão associada sem observar as formalidades previstas na lei; (Incluído pela Lei nº 11.107, de 2005) XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público sem suficiente e prévia dotação orçamentária, ou sem observar as formalidades previstas na lei. (Incluído pela Lei nº 11.107, de 2005) Dos Atos de Improbidade Administrativa que Atentam Contra os Princípios da Administração Pública Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente: I - praticar ato visando a fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de competência; CURSO ON-LINE – DIREITO ADMINISTRATIVO – TEORIA PROFESSOR: FABIANO PEREIRA www.pontodosconcursos.com.br 17 II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício; III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que deva permanecer em segredo; IV - negar publicidade aos atos oficiais; V - frustrar a licitude de concurso público; VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo; VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro, antes da respectiva divulgação oficial, teor de medida política ou econômica capaz de afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço. O parágrafo 4º do artigo 37 da CF/88 não se descuidou de assegurar o cumprimento da moralidade administrativa, asseverando que: § 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. Ainda com o objetivo de resguardar a moralidade administrativa, a Constituição Federal também contemplou, em seu inciso LXXIII do artigo 5º, a Ação Popular, regulada pela Lei 4.717/65. Por meio dessa ação constitucional, qualquer cidadão pode deduzir a pretensão de anular atos praticados pelo poder público e que estejam contaminados de imoralidade administrativa. Para concluir, é importante ainda esclarecer que, na maioria das vezes, quando um ato praticado pela Administração viola um princípio qualquer, como o da impessoalidade, legalidade, publicidade, eficiência, etc, estará violando também, consequentemente e num segundo plano, o princípio da moralidade. 4. Princípio da publicidade O princípio da publicidade impõe à Administração Pública a obrigatoriedade de conceder aos seus atos a mais ampla divulgação possível entre os administrados, pois só assim estes poderão fiscalizar e controlar a legitimidade das condutas praticadas pelos agentes públicos. Ademais, a publicidade de atos, programas, obras e serviços dos órgãos públicos deverão ter caráter educativo, informativo ou de orientação social. CURSO ON-LINE – DIREITO ADMINISTRATIVO – TEORIA PROFESSOR: FABIANO PEREIRA www.pontodosconcursos.com.br 18 O referido princípio encontra amparo no caput do artigo 37 da Constituição Federal de 1988, bem como no inciso XXXIII do artigo 5º, que declara expressamente: XXXIII - Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. Conforme é possível constatar da leitura do citado inciso, nem toda informação de interesse particular ou de interesse coletivo ou geral serão disponibilizadas aos interessados, pois foram ressalvadas aquelas que coloquem em risco a segurança da sociedade e do Estado. Exemplo: Suponhamos que você tenha formulado uma petição administrativa destinada ao Ministro de Estado da Defesa e que, no seu texto, você tenha solicitado as seguintes informações: quantidade de tanques de guerra que estão em atividade no Brasil; número do efetivo de homens da marinha, exército e aeronáutica, e os endereços dos locais onde ficam guardados os equipamentos bélicos das Forças Armadas. Pergunta: Será que o Ministro de Estado da Defesa irá lhe fornecer as informações solicitadas? É lógico que não, pois tais informações são imprescindíveis à segurança da sociedade e do Estado. Imagine o que pode acontecer ao nosso país se essas informações forem parar em mãos erradas? (Hugo Chávez, por exemplo... brincadeira...) No mesmo sentido, o inciso IX do artigo 93 da CF/88 estabelece que todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciários serão públicos, entretanto, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação. Em decorrência do inciso IX do artigo 93 da CF/88, as ações que versem sobre direito de família (divórcio, separação judicial, alimentos, investigação de paternidade, entre outras) tramitarão no Poder Judiciário protegidas pelo sigilo, ou seja, as informações serão restritas somente às partes. Além disso, no caso em concreto, quando o juiz vislumbrar a existência de interesse público, poderá ser determinado o “segredo de justiça” em um determinado processo judicial a fim de se garantir a efetiva prestação jurisdicional e o princípio da duração razoável do processo (assegurado no inciso LXXVIII do artigo 5º da CF/88). CURSO ON-LINE – DIREITO ADMINISTRATIVO – TEORIA PROFESSOR: FABIANO PEREIRA www.pontodosconcursos.com.br 19 A divulgação oficial dos atos praticados pela Administração ocorre mediante publicação no Diário Oficial,isso em relação à União, aos Estados e ao Distrito Federal. Em relação aos Municípios, pode ser que algum não possua órgão oficial de publicação de seus atos (Diário Oficial) e, sendo assim, a divulgação poderá ocorrer mediante afixação na sede do órgão ou entidade que os tenha produzido. Exemplo: caso o ato seja de titularidade do Poder Executivo, poderá ser afixado no quadro de avisos localizado no saguão da Prefeitura. Caso o ato tenha sido editado pelo Poder Legislativo, poderá ser afixado no saguão da Câmara de Vereadores, em um quadro de avisos, a fim de que todos os interessados possam ter acesso e consultá-los quando necessário. Pergunta: O que pode ser feito quando um indivíduo solicita informações perante órgãos ou entidades públicas e essas informações são negadas ou sequer o pedido é respondido? Bem, nesse caso, é necessário que analisemos as diversas situações: 1ª) Se as informações requeridas são referentes à pessoa do requerente (informações particulares) e foram negadas pela Administração, será possível impetrar um habeas data (inciso LXXII do artigo 5º da CF/88) perante o Poder Judiciário para se ter acesso obrigatório a tais informações; 2ª) Se as informações requeridas são de interesse pessoal do requerente, mas relativas a terceiros (um amigo, por exemplo) e forem negadas pela Administração, será possível impetrar um mandado de segurança perante o Poder Judiciário para se ter acesso obrigatório a tais informações; 3ª) Caso tiver sido requerida a expedição de uma certidão de contagem de tempo de serviço perante o INSS, por exemplo, relativa à pessoa do requerente, e a entidade administrativa se recusar a fornecê-la, a ação constitucional cabível não mais será o habeas data, mas sim o mandado de segurança. Nesse caso, violou-se o direito líquido e certo à certidão e não o direito à informação. Destaca-se ainda que a Lei 9.051/95 determina que a Administração tem o prazo de 15 dias para emitir a certidão. Esgotado esse prazo, já é possível impetrar o mandado de segurança para ter acesso à certidão. Para as questões de concursos públicos, é importante destacar ainda que a publicação do ato administrativo em órgão oficial de imprensa não é condição de sua validade, mas sim condição de eficácia. Somente a partir da publicação é que o ato começará a produzir os seus efeitos jurídicos, mesmo que há muito tempo já esteja editado, somente aguardando a publicação. CURSO ON-LINE – DIREITO ADMINISTRATIVO – TEORIA PROFESSOR: FABIANO PEREIRA www.pontodosconcursos.com.br 20 5. PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA Conforme já foi destacado anteriormente, o princípio da eficiência somente foi introduzido no texto constitucional em 1998, com a promulgação da Emenda Constitucional nº 19. Antes disso, ele era considerado um princípio implícito. O professor Diógenes Gasparini informa que esse princípio é conhecido entre os italianos como “dever de boa administração” e impõe à Administração Pública direta e indireta a obrigação de realizar suas atribuições com rapidez, perfeição e rendimento. O desempenho da atividade administrativa deve ser rápido e oferecido de forma a satisfazer os interesses dos administrados em particular e da coletividade em geral. Nada justifica qualquer procrastinação, e a Administração poderá ser responsabilizada civilmente se dessa omissão surgir algum dano a terceiros. As atribuições administrativas também devem ser executadas com perfeição, valendo-se das técnicas e conhecimentos necessários a tornar a execução a melhor possível, evitando sua repetição e reclamações por parte dos administrados. Além disso, as atividades administrativas devem ser praticadas com rendimento, ou seja, com resultados positivos para o serviço público e satisfatório para o interesse da coletividade. Resultados positivos não significam lucros, embora, em alguns casos, possam existir. Informa ainda o professor que é a relação custo - benefício que deve presidir todas as ações públicas. Exemplo: não se deve estender rede de energia elétrica ou de esgoto por ruas onde não haja edificações ocupadas; nem implantar redes de iluminação pública em ruas não utilizadas, pois, nesses casos, toda a comunidade arcaria com os seus custos, sem qualquer benefício. Nesse sentido, o princípio da eficiência está relacionado diretamente com o princípio da economicidade, que impõe à Administração Pública a obrigatoriedade de praticar as atividades administrativas com observância da relação custo-benefício, de modo que os recursos públicos sejam utilizados de forma mais vantajosa e eficiente para o poder público. Esse princípio traduz-se num compromisso econômico com o cumprimento de metas governamentais, objetivando-se sempre atingir a melhor qualidade possível, atrelada ao menor custo. Fique atento às dicas fornecidas pelas bancas examinadoras nos concursos públicos. Quando a questão referir-se à relação custo/benefício, ou melhor, resultado/qualidade com menor investimento, primeiramente, CURSO ON-LINE – DIREITO ADMINISTRATIVO – TEORIA PROFESSOR: FABIANO PEREIRA www.pontodosconcursos.com.br 21 tente encontrar entre as alternativas o princípio da economicidade. Caso não o encontre, busque estão o princípio da eficiência como resposta. (ESAF/PFN/98) - No exercício do controle financeiro externo, incumbe ao Tribunal de Contas da União verificar se a despesa realizada ocorreu de modo a atender a uma adequada relação custo-benefício, entre o seu valor e o respectivo resultado para a população. Esse controle denomina-se: a) fidelidade funcional b) cumprimento de metas c) legitimidade d) economicidade e) legalidade Segundo a professora Maria Sylvia Zanella di Pietro, o princípio da eficiência pode ser estudado sob dois aspectos: em relação ao modo de atuação do agente público e em relação ao modo de organizar, estruturar e disciplinar a Administração Pública. Em relação ao primeiro aspecto (atuação do agente público), é importante que você entenda que a introdução do princípio da eficiência no texto constitucional repercutiu diretamente nas relações entre servidores e Administração Pública. Exemplo: antes da promulgação da Emenda Constitucional nº 19/98, constava no artigo 41 da CF/88 que os servidores públicos estáveis somente perderiam o cargo em virtude de sentença judicial transitada em julgado ou mediante processo administrativo em que lhe fosse assegurada ampla defesa. Atualmente, após a promulgação da referida EC 19/98, introduziu-se no artigo 41 da CF/88 mais uma hipótese que pode ensejar a perda do cargo pelo servidor público: procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei complementar, desde que assegurada a ampla defesa. Além disso, o mesmo artigo 41 da CF/88 passou a prever também a obrigatoriedade de o servidor submeter-se a uma avaliação especial de desempenho, realizada por comissão instituída para essa finalidade, como condição para a aquisição da estabilidade. Em relação ao modo de organizar, estruturar e disciplinar a Administração Pública, o princípio da eficiência consolidou o fim da administração burocrática, preocupada mais com o Estado em si e submetida “cegamente” ao texto legal e à excessiva fixação de regras para se alcançar o objetivo inicialmente pretendido. Isso acabava concedendo aos meios uma importância mais acentuada que os próprios fins almejados pela Administração. CURSO ON-LINE – DIREITO ADMINISTRATIVO – TEORIA PROFESSOR: FABIANO PEREIRA www.pontodosconcursos.com.br 22 A Administração Pública gerencial, consequência do princípio da eficiência, relaciona-se com os conceitos de boa administração, flexibilização, controle finalístico, contrato de gestão, qualidade e cidadão- cliente, voltando-se para as necessidades da sociedade, enfatizando mais os resultados que os próprios meios para alcançá-los. 6. PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO SOBRE O PRIVADO Esse princípio não estáprevisto de forma expressa no texto constitucional, mas pode ser encontrado no artigo 2º da Lei 9.784/99. Sendo assim, como a citada lei é federal, esse princípio somente pode ser considerado expresso para a Administração Pública Federal. De uma forma geral, o princípio da supremacia do interesse público sobre o privado é considerado implícito. Respaldada pelo princípio da supremacia do interesse público, a Administração irá atuar com superioridade em relação aos demais interesses existentes na sociedade. Isso significa que será estabelecida uma relação jurídica “vertical” entre o particular e a Administração, que se encontra em situação de superioridade. Apesar de tal supremacia, a Administração não pode desrespeitar completamente o interesse privado, pois o próprio texto constitucional assegura a necessidade de obediência ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e à coisa julgada (artigo 5º, XXXVI). A doutrina majoritária tem considerado esse princípio como a base do denominado “regime jurídico-administrativo”. Mas o que é isso? Nesse momento, entenda apenas que o regime jurídico-administrativo é o conjunto de normas que exorbita o direito privado e que estabelece sujeições e prerrogativas (também conhecidas por “vantagens”) à Administração quando esta estiver se relacionando com os particulares. Resumidamente falando, o princípio em questão concede à Administração uma série de vantagens, ou seja, benefícios que não existiriam em uma relação jurídica ocorrida entre particulares. Os professores Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo exemplificam as prerrogativas características da atuação da administração: 1ª) as diversas formas de intervenção na propriedade privada, como a desapropriação (assegurada justa e prévia indenização); a requisição administrativa, em que o interesse público autoriza o uso da propriedade privada, sem remuneração, só havendo indenização ulterior, se houver dano; o tombamento de um imóvel de interesse histórico, etc; CURSO ON-LINE – DIREITO ADMINISTRATIVO – TEORIA PROFESSOR: FABIANO PEREIRA www.pontodosconcursos.com.br 23 2ª) as diversas formas do exercício do poder de polícia do Estado. A própria definição de poder de polícia já traduz a ideia de limitação ou condicionamento do exercício de direitos individuais em prol do interesse público. 3ª) a existência das denominadas cláusulas exorbitantes nos contratos administrativos, possibilitando à Administração, por exemplo, modificar ou rescindir unilateralmente o contrato; Exemplo: Imagine que um determinado Município tenha firmado contrato administrativo com a Construtora Cimentão, após regular processo licitatório, para a construção de 100 (cem) casas populares. Entretanto, em função da crise econômica mundial (que tem sido desculpa para tudo mesmo!), o Município decidiu diminuir em 20% (vinte por cento) a quantidade de casas que seriam construídas, alterando unilateralmente o contrato. Pergunta: No exemplo apresentado, o Município pode alterar unilateralmente o contrato, reduzindo para 80 (oitenta) o número de casas a serem construídas? Sim, pois a Lei 8.666/93 (Lei geral de Licitação) estabelece tal possibilidade no parágrafo 1º de seu artigo 65, que declara que “o contratado fica obrigado a aceitar, nas mesmas condições contratuais, os acréscimos ou supressões que se fizerem nas obras, serviços ou compras, até 25% (vinte e cinco por cento) do valor inicial atualizado do contrato, e, no caso particular de reforma de edifício ou de equipamento, até o limite de 50% (cinqüenta por cento) para os seus acréscimos”. No exemplo citado, é fácil perceber que a redução do número de casas construídas está amparada no interesse público. No momento da assinatura do contrato, a economia brasileira e a mundial estavam em ritmo acelerado, com fartura de crédito e investimentos nacionais e internacionais. Contudo, em virtude da crise mundial, o interesse público passou a exigir do Município certa cautela, o que, em tese, justificou a redução do número de construção de casas inicialmente estabelecido. 7. PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE DO INTERESSE PÚBLICO Também considerado um princípio implícito, o princípio da indisponibilidade do interesse público pode ser estudado sob vários aspectos, mas todos eles estabelecendo restrições e limitações à disponibilidade do interesse público. São as denominadas sujeições administrativas. CURSO ON-LINE – DIREITO ADMINISTRATIVO – TEORIA PROFESSOR: FABIANO PEREIRA www.pontodosconcursos.com.br 24 Como os bens e interesses públicos não pertencem à Administração nem aos seus agentes, criam-se instrumentos que tenham por fim resguardá-los, permitindo-se que tais bens e interesses sejam apenas gerenciados e conservados pelo Poder Público. Dentre os instrumentos que têm por objetivo resguardar o interesse público, estão os concursos públicos e a obrigatoriedade de licitação, em regra, para a contratação de serviços, bens ou obras. Com tais sujeições, o administrador público fica impedido, por exemplo, de contratar os “colegas” e “indicados” para exercer funções inerentes a titulares de cargos de provimento efetivo, sem a realização de concurso público. Sendo assim, o concurso público é uma sujeição, uma restrição que se impõe à Administração Pública. Pergunta: Por que o concurso público é considerado uma sujeição ou restrição? É simples. Imagine um Prefeito que tenha acabado de tomar posse e esteja iniciando o seu primeiro mandado (cito muito a figura do Prefeito porque atualmente eu moro no Norte de Minas Gerais, uma das regiões mais pobres do país e, se eu lhe contar as barbaridades que presencio por aqui, tenho certeza de que você não irá acreditar!). Imagine ainda que durante a campanha eleitoral o Prefeito “prometeu” fornecer trabalho para a “metade” da cidade. Diante das promessas, após assumir o cargo de Prefeito, qual seria a conduta imediata do representante do povo? Prover cargos públicos com os “chegados” que o auxiliaram na campanha, com os famosos “cabos eleitorais”. Sendo assim, a exigência de concurso público impede que o Prefeito possa contratar esses seus “apadrinhados”, dispondo do interesse público. Da mesma forma, acontece com a obrigatoriedade de licitação. Suponhamos que o Município necessite adquirir 50 (cinquenta) computadores. Imaginemos agora que o filho do Prefeito tenha uma loja de informática e que possua, de pronta entrega, todos os computadores que o Município precisa adquirir. Ora, seria muito fácil para o Prefeito ligar para o filho dele e solicitar a entrega dos computadores no local indicado, sem precisar fazer licitação. Entretanto, nesse caso, o Prefeito estaria dispondo do interesse público, o que é vedado pelo princípio em estudo. Portanto, para adquirir os referidos computadores, o Município terá que se sujeitar à licitação. Como consequência da indisponibilidade do interesse público, veda-se ainda que a Administração renuncie ao recebimento de multas, tributos, receitas, entre outros, exceto se houver previsão legal. CURSO ON-LINE – DIREITO ADMINISTRATIVO – TEORIA PROFESSOR: FABIANO PEREIRA www.pontodosconcursos.com.br 25 No mesmo sentido, o artigo 2º da Lei 9.784/99 determina que a administração deve sempre perseguir o interesse coletivo ou geral, sendo vedada a renúncia total ou parcial de poderes ou competências, salvo autorização em lei. 8. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE Grande parte da doutrina entende que os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade são sinônimos. Outra parte afirma que tais princípios são autônomos, apesar do fato de a proporcionalidade ser um dos elementos da razoabilidade. Sendo assim, irei apresentar ambos os princípios conjuntamente, mas citando as peculiaridades de cada um para que você não se confunda no momento de responder às questões de prova. O princípio da razoabilidade está diretamente relacionado ao sensocomum do homem médio, do aceitável, do justo, do mediano. Sendo assim, em respeito a tal princípio, as condutas administrativas devem pautar-se no bom senso, na sensatez que guia a atuação do homem mediano, pois, caso contrário, devem ser invalidadas. O professor Luis Roberto Barroso nos ensina que o princípio da razoabilidade tem se mostrado um versátil instrumento de proteção de direitos e do interesse público contra o abuso de discricionariedade, tanto do legislador quanto do administrador. De fato, por força dele, excepciona- se a regra tradicional de que os atos públicos sujeitam-se apenas ao controle de legalidade, pois a aferição da razoabilidade enseja análise de mérito. Naturalmente, como não se deseja substituir a discricionariedade dos agentes políticos eleitos pela do Judiciário, somente deve ocorrer, sob tal fundamento, a invalidação de leis e atos administrativos quando estes forem claramente arbitrários ou caprichosos. O princípio da razoabilidade tem origem no sistema jurídico anglo- saxão, mas foi no direito norte-americano que se desenvolveu e ganhou autonomia, como consequência do devido processo legal, servindo de parâmetro obrigatório para a conduta tanto dos administradores quanto do legislador. Eis aqui uma importante informação que você deve guardar: O princípio da razoabilidade, que é considerado um princípio implícito, deriva do princípio do devido processo legal. Este previsto expressamente no inciso LIV do artigo 5º da CF/88. CURSO ON-LINE – DIREITO ADMINISTRATIVO – TEORIA PROFESSOR: FABIANO PEREIRA www.pontodosconcursos.com.br 26 O princípio do devido processo legal pode ser estudado sob dois aspectos diferentes: 1º) adjetivo, formal ou processual Significa que todos os indivíduos têm direito a um processo justo, podendo valer-se de todos os meios jurídicos existentes quando estiverem participando de um processo judicial, tais como o contraditório, a ampla defesa, princípio do juiz natural, entre outros. 2º) substantivo ou material Segundo este aspecto, impõe-se a obrigatoriedade de que todas as leis e atos normativos editados pelo Poder Público sejam adequados, justos e razoáveis, sob pena de serem declarados inconstitucionais. O Supremo Tribunal Federal, em várias oportunidades, reconheceu a obrigatoriedade da observância ao princípio da razoabilidade, como se constata, por exemplo, no julgamento ADI 2.019/MS. Nesta ADI, discutia-se a constitucionalidade da Lei 1.949/99, do Mato Grosso do Sul, que instituiu o pagamento de um salário mínimo mensal para todas as crianças geradas a partir de estupro ocorrido no Estado do Mato Grosso do Sul. Ao confrontar a Lei 1.949/99 com o texto constitucional, o STF entendeu não haver razoabilidade na concessão do benefício, tendo em vista que não se levou em consideração o estado e a necessidade dos beneficiários, mas tão-somente a forma em que eles foram gerados, ou seja, faltou o famoso “bom senso”. Destaca-se que o princípio da razoabilidade, bem como o da proporcionalidade, pode ser utilizado para controlar tanto a criação de leis quanto a discricionariedade administrativa (iremos estudar a discricionariedade posteriormente), permitindo ao judiciário analisar todas as leis e atos emanados do Poder Público, bem como invalidá-los, quando: 1º) A medida adotada pelo legislador ou pelo administrador não seja necessária, havendo alternativa menos onerosa e gravosa para se chegar atingir o mesmo objetivo; 2º) Não exista adequação entre o fim perseguido e os meios utilizados; 3º) Não houver proporcionalidade em sentido estrito, ou seja, os prejuízos advindos da medida adotada forem muito maiores que os benefícios objetivados. Fique atento, pois é muito comum você encontrar assertivas em prova afirmando que a razoabilidade e a proporcionalidade não são capazes de fundamentar a invalidação de leis e atos administrativos. Observe a afirmativa abaixo, que é falsa, extraída do concurso de Promotor de Justiça do Estado do Mato Grosso, realizado em 2005: CURSO ON-LINE – DIREITO ADMINISTRATIVO – TEORIA PROFESSOR: FABIANO PEREIRA www.pontodosconcursos.com.br 27 (Promotor de Justiça – MP / MT – 2005) - Não é juridicamente possível, com fundamento no princípio da proporcionalidade, a invalidação de atos administrativos praticados no exercício do poder discricionário. O princípio da razoabilidade, assim como o da proporcionalidade, é considerado implícito, já que não está previsto em uma norma jurídica de caráter geral. Entretanto, é válido destacar que ambos os princípios estão previstos no artigo 2º da Lei 9.784/99, sendo considerados expressos para a Administração Federal em razão do referido dispositivo. Da mesma forma, o princípio da razoabilidade também é considerado expresso para o Estado de Minas Gerais, por exemplo, já que a Constituição Estadual Mineira, em seu artigo 13, o consagrou entre os princípios de observância obrigatória para a Administração Pública Estadual. Art. 13 – A atividade de administração pública dos Poderes do Estado e a de entidade descentralizada se sujeitarão aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência e razoabilidade. Atenção: para as questões de concurso público, de uma forma geral, os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade são considerados implícitos, mas podem ser considerados expressos em determinadas situações. Exemplo: Em relação à Administração Pública Federal, ambos os princípios somente serão considerados expressos porque estão previstos no artigo 2º da Lei 9.784/99, que é FEDERAL, assim como acontece em relação ao Estado de Minas Gerais, cujo princípio é considerado expresso em razão do artigo 13 da Constituição Mineira. Acerca do princípio da proporcionalidade, os professores Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino nos informam que, em verdade, representa ele uma das vertentes do princípio da razoabilidade. Isso porque a razoabilidade exige, entre outros aspectos, que haja proporcionalidade entre os meios utilizados pelo administrador público e os fins que ele pretende alcançar. A professora Lúcia Valle Figueiredo, na tentativa de distinguir a proporcionalidade da razoabilidade, informa que a proporcionalidade pressupõe a adequação entre os atos e as necessidades, ou seja, “só se sacrificam interesses individuais em função dos interesses coletivos, de interesses primários, na medida da estrita necessidade, não se desbordando que seja realmente indispensável para a implementação da necessidade pública”. O princípio da proporcionalidade também pode ser entendido como princípio da “proibição de excesso”, já que o fim a que se destina é justamente limitar as ações administrativas que ultrapassem os limites adequados. Em outras palavras, significa que dizer que tal princípio impõe à CURSO ON-LINE – DIREITO ADMINISTRATIVO – TEORIA PROFESSOR: FABIANO PEREIRA www.pontodosconcursos.com.br 28 Administração Pública a necessidade de adequação entre meios e fins, sendo vedada a imposição de obrigações, restrições e sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento do interesse público (inciso VI do artigo 2º da Lei 9.784/99). Para fins de concurso público, que é o nosso foco principal, é importante que você saiba as características tanto da razoabilidade quanto da proporcionalidade, pois algumas bancas examinadoras elaboram questões como se ambos fossem sinônimos, e outras como se fossem princípios autônomos. Vejamos: (Analista Judiciário - Adm – TRT 23ª R/2004 / FCC) - A adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obrigações, restrições e sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento do interesse público; e a observância das formalidades essenciais à garantia dos direitos dos administrados, entre outras, dizem respeito ao princípio da (A) razoabilidade, sob a feição de proporcionalidade. (B) motivação, decorrente daformalidade. (C) finalidade, que se apresenta como impessoalidade. (D) ampla defesa, somada à segurança jurídica. (E) segurança jurídica atrelada à legalidade. (Especialista em Regulação – ANATEL 2006 / CESPE) O princípio da proporcionalidade - que tem fundamento no texto constitucional brasileiro - aplicado à garantia do indivíduo, em face do poder regulador do Estado, é uma das formas de manifestação da função de garantia e proteção que desempenha a Constituição. (Correta) 9. PRINCÍPIO DA AUTOTUTELA A Administração Pública, no exercício de suas atividades, frequentemente pratica atos contrários à lei e lesivos aos particulares (o que não é desejável, claro!). Entretanto, na maioria das vezes, a ilegalidade somente é detectada pela Administração depois que o ato administrativo já iniciou a produção de seus efeitos, mediante provocação do particular. Apesar de ser comum o fato de o particular provocar a Administração para informá-la sobre a prática de um ato ilegal, exigindo a decretação de sua nulidade, tal revisão também pode ser efetuada de ofício, pela própria Administração, independentemente de provocação. É o que afirma a Súmula 346 do Supremo Tribunal Federal: CURSO ON-LINE – DIREITO ADMINISTRATIVO – TEORIA PROFESSOR: FABIANO PEREIRA www.pontodosconcursos.com.br 29 Súmula nº 346 - A administração pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos. Na verdade, entende a doutrina que não se trata de uma faculdade, uma possibilidade, mas sim um dever da Administração anular o ato ilegal, porque deles não se originam direitos. Esse dever da Administração está expresso no artigo 53 da Lei 9.784/99: Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos. Ademais, não pode a Administração permanecer inerte diante de uma situação de ilegalidade de que já tem conhecimento, sendo então obrigada a agir, nem que seja para convalidar (corrigir) o ato, quando possível. A prerrogativa de correção (convalidação) do ato ilegal está prevista no artigo 55 da Lei 9.784/99, que declara: Art. 55. Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão ao interesse público nem prejuízo a terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados pela própria Administração. É importante destacar ainda que a possibilidade de a Administração controlar a legalidade de seus próprios atos não afasta a atuação do Poder Judiciário. Caso a Administração se depare com uma situação de ilegalidade e não adote as providências cabíveis, por exemplo, poderá o particular ingressar com uma ação judicial para pleitear a anulação da situação de ilegalidade, se for de seu interesse. Não são somente os atos ilegais que podem ser revistos pela Administração, mas também os atos legais, quando forem inoportunos e inconvenientes. Neste último caso, o ato está em perfeita conformidade com a lei, mas a Administração decide revogá-lo, pois a sua manutenção não atende mais ao interesse público. Exemplo: Após ter sido aprovado no estágio probatório, um servidor público federal compareceu ao Departamento de Recursos Humanos do órgão público em que trabalha e pleiteou uma licença para o trato de interesses particulares (iremos estudá-la posteriormente), por 02 (dois) anos. Após analisar o pedido, já que se trata de ato discricionário, a Administração Pública decidiu concedê-lo, pois era um momento oportuno (já que existia uma quantidade razoável de servidores trabalhando – cinco – enquanto a média dos últimos anos sempre foi três). Além disso, também era conveniente conceder a licença, pois, segundo informações informais do servidor, o prazo de dois anos seria utilizado para dedicar-se exclusivamente CURSO ON-LINE – DIREITO ADMINISTRATIVO – TEORIA PROFESSOR: FABIANO PEREIRA www.pontodosconcursos.com.br 30 à conclusão de uma pós-graduação lato sensu, sobre tema relacionado à sua área de atuação no serviço público. Bem, assim que a licença foi concedida, coincidentemente, várias situações inesperadas ocorreram. Dos quatro servidores que continuaram exercendo as suas funções, um foi escalar o pico Everest nas férias (servidor recém-aprovado no concurso da Receita Federal do Brasil, que não estava conseguindo gastar os vencimentos do fim do mês e foi inventar “moda”) e morreu congelado. Outro decidiu abrir uma pousada em Monte Verde/MG (lugarzinho gostoso para sentir frio, comer e descansar) e pediu exoneração do serviço público. Todos esses acontecimentos ocorreram no curto espaço de 06 (seis) meses após o início da licença para o trato de interesses particulares, solicitada pelo primeiro servidor. Pergunta: Diante da legalidade da licença, inicialmente concedida pelo prazo de dois anos, poderia a Administração posteriormente revogá-la, alegando inconveniência e inoportunidade em sua manutenção? É lógico que sim! Nesse exemplo, está claro que no momento da concessão da licença o órgão possuía 05 (cinco) servidores em seus quadros (contando com o servidor licenciado), mas agora, em função dos acontecimentos, restam apenas dois, que não estão conseguindo atender à demanda pelos serviços públicos ofertados pelo órgão. Sendo assim, é perfeitamente legal e legítima a revogação da licença, pois existe interesse público superveniente que fundamenta a decisão. Esse também é o entendimento da súmula 473 do Supremo Tribunal Federal: A Administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial. Posteriormente, na aula sobre atos administrativos, voltaremos a tratar sobre o tema com mais detalhes. 10. PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA Para que o homem possa conduzir os atos de sua vida civil, familiar e profissional, necessita de certo grau de estabilidade, de confiança e de certeza que as decisões tomadas no dia a dia não serão alteradas unilateralmente, por terceiros, em momento posterior. Assim, é possível programar o futuro e estabelecer projetos a curto, médio e longo prazo. CURSO ON-LINE – DIREITO ADMINISTRATIVO – TEORIA PROFESSOR: FABIANO PEREIRA www.pontodosconcursos.com.br 31 A necessidade de estabilidade, certeza e confiança se mostra ainda mais patente nas relações entre a Administração e os administrados. Conforme nos informa a professora Di Pietro, é muito comum, na esfera administrativa, haver mudança de interpretação de determinadas normas legais, com a consequente mudança de orientação, em caráter normativo, afetando situações já reconhecidas e consolidadas na vigência de orientação anterior. Essa possibilidade de mudança de orientação é inevitável, porém, gera uma grande insegurança jurídica, pois os interessados nunca sabem quando a sua situação será passível de contestação pela própria Administração Pública. Daí a regra que proíbe a aplicação retroativa de nova interpretação, prevista no artigo 2º, XIII, da Lei 9.784/99: Art. 2º, parágrafo único: Nos processos administrativos, serão observados, entre outros, os critérios de: XIII - interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento do fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de nova interpretação. Sendo assim, se a Administração Pública praticou certo ato amparada em uma determinada interpretação da lei, posteriormente, caso seja alterada a interpretação, não poderá a Administração aplicá-la ao ato que já havia sido praticado com base na interpretação anterior. Nessa situação, a nova interpretação somente poderá ser aplicada em casos futuros que se enquadrarem na nova interpretação. A Constituição Federal de 1988 vai ainda mais longe, pois declara em seu artigo
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