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Capitulo 1 - Princípios constitucionais da administração pública no Sistema Jurídico Brasileiro A doutrina costuma dividir os princípios em: Princípios Expressos (ou Específicos) e Princípios Implícitos (ou Inespecíficos ou Reconhecidos). Princípios Expressos são aqueles taxativamente previstos no texto normativo, como aqueles elencados no caput do Art. 37, da Constituição. Já os Princípios Implícitos são aqueles que não constam isoladamente do texto normativo, sendo reconhecidos a partir de uma elaboração doutrinária ou mesmo jurisprudencial. Princípio da legalidade administrativa O princípio da legalidade é enunciado na Constituição Federal, geográfica e topograficamente falando duas vezes: a primeira encontra-se no art. 5o, II, cuja enunciação é oriunda da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de que legalidade consiste em que ninguém está obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei; e, pela segunda vez, no Art. 37, caput, que o repete como um dos princípios da Administração – o princípio da legalidade administrativa. Mas, se já mencionado no Art. 5o, II, qual então o sentido dessa repetição no Art. 37, caput? Tal se justifica pelo fato de que o enunciado no Art. 5o, II, se aplica aos particulares, sendo certo que a eles é permitido fazer tudo o que a lei não veda, enquanto que a Administração deve agir conforme a lei. O Estado, hoje, só pode agir quando autorizado por lei. Somente a lei pode criar deveres e obrigações ao particular. Logo, a Administração não pode, por simples ato administrativo, impor obrigações a terceiros, extinguir e criar direitos. Ato administrativo não é lei. O ato administrativo tem um papel secundário. Ao haver uma colisão entre a lei e um ato administrativo, a lei prevalecerá e o ato administrativo deverá ser declarado nulo. Exemplos: 1. Caso concreto 1 - Casas invadidas pelas enchentes tiveram isenção do IPTU por decreto. O prefeito só poderia ter praticado tal ato se estivesse respaldado por lei. O que fez um cidadão? Em nome da moralidade pública, postulou e prosperou em uma ação popular, anulando tal benefício. 2. Caso concreto 2 - Prefeito que impediu, por meio de decreto municipal, o uso de minissaia nas ruas desse município, atendendo a pressão da Igreja. Consequentemente, o ato foi anulado. 3. Caso concreto 3 - Para se estabelecer o rodízio de veículos, deve ser elaborada uma lei nesse sentido e jamais por decreto poderia ser estabelecida essa proibição, porque somente a lei pode extinguir, criar direitos e impor obrigações ao particular. Ato administrativo não é lei. A vontade da Administração Pública é a vontade da lei. No direito Administrativo não há espaço para a liberdade, autodeterminação, arbítrio e bel prazer das partes, exatamente porque o poder público está enclausurado e amarrado ao estrito cumprimento da norma. Diferentemente do que ocorre no direito privado, no qual não havendo proibição legal, pode prevalecer a autonomia da vontade das partes. Em decorrência disso, a Administração não pode, por simples ato administrativo, conceder direitos de qualquer espécie, criar obrigações ou impor vedações. Princípio da impessoalidade Visa a dar tratamento igualitário a todos que se encontrem em idêntica situação jurídica. Mas, no Direito Administrativo, em especial, impessoalidade tem duas acepções distintas A primeira acepção é justamente a da impessoalidade como projeção da isonomia, isto é, impessoalidade no sentido de não pertencer a uma pessoa em particular, ou seja, aquilo que não pode ser aplicado, especialmente, a pessoas determinadas. É uma característica genérica da coisa que não pertence à pessoa alguma e é isso que a atividade da Administração Pública deve fazer: destinar-se a todos os administrados, à sociedade em geral, sem determinação ou discriminações que tenham o conteúdo de um privilégio odioso, não fundamentado em valores constitucionais. não podendo a Administração Pública, evidentemente, estabelecer tratamentos diferenciados, beneficiando determinadas pessoas ou empresas. A segunda acepção do princípio da impessoalidade não tem a ver com o princípio da isonomia, mas com a estrutura interna da Administração. Impessoalidade, nesse sentido, significa que os atos da Administração Pública não são imputáveis, não são atribuíveis aos agentes públicos que os praticam. Portanto, dizer-se que ato administrativo é impessoal. Nessa acepção, significa dizer que ele é praticado, em última análise, do ponto de vista jurídico, pela pessoa jurídica a que o agente público pertence, e não pela pessoa natural – agente público. Importante também é ressaltar que o princípio da Impessoalidade se encontra demonstrado internamente, ou seja, na própria gestão administrativa, quando o Art 37, § 1o, da CR, dispõe que atos de propaganda oficial de governo, como programas, obras, serviços e campanhas devem ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, mas que dessa publicidade não podem constar nomes dos governantes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal, podendo ser colocado, quando muito, por exemplo, “obra patrocinada pelo Governo do Estado”. Portanto, conclui-se que, além de legal e moral, o ato administrativo deve ser também impessoal, sendo vedada, portanto, a publicidade por parte da entidade pública que implique promoção pessoal de autoridades ou servidores. Logo, o administrador não poderá se autopromover com seus atos, mesmo em caráter educativo, informativo. O Governo tem a força de meramente gerir o patrimônio público e não de se autopromover. O princípio da Impessoalidade, por outro lado, admite atenuações, como, por exemplo, no tocante à possibilidade de imposição de limite de idade e sexo, para concorrer a concurso público, que é sempre tormentosa. Não se havendo de ignorar, como regra, que os cargos públicos são acessíveis àqueles que preencham os requisitos estabelecidos em lei (Art. 37, I, CR). De um lado, destacando-se a regra do Art. 7o, XXX, da CR, aplicável aos servidores públicos por força do Art 39, § 3o (redação da EC 19/98), que veda qualquer tipo de discriminação por motivo de idade, no processo de admissão a cargo ou emprego público, muito embora possa a lei estabelecer critérios diferenciados quando a natureza do cargo o exigir. Exemplos: 1. Caso concreto 1 - Outro caso que merece destaque, dentro deste mesmo princípio, é a limitação da publicidade em obras públicas ou entidades que, a qualquer título, recebam subvenção ou auxílio dos cofres públicos federais, como salienta o Art. 37, caput e § 19, da CR e os artigos 1º, 2º e 3º da Lei 6.454/77. Ou seja, em tais obras não podem constar nomes, símbolos ou imagens capazes de promover autoridades ou servidores públicos, sendo vedado, em todo território nacional, atribuir nome de pessoas vivas aos referidos bens, não estando presente a mesma regra nos casos envolvendo capital exclusivamente privado. 2. Caso concreto 2 - Em homenagem ao princípio da Impessoalidade, as questões de concursos públicos, sendo anuladas em virtude de estarem incorretas as suas formulações, causando a alteração de notas e, via de consequência, na classificação dos candidatos, tais questões anuladas atingirão indiscriminadamente todos os participantes, alterando a nota para todos os participantes. Equivocado seria o entendimento da Administração Pública se anulasse determinada questão e somente considerasse o equívoco em benefício do candidato que a tivesse reclamado. Portanto, verificado o erro na formulação das questões, deve a Administração proceder a sua correção, pois, caso contrário, seria legitimar o equívoco e possibilitar que os candidatos com menor conhecimento fossem aprovados em detrimento de outros, mais aptos e mais preparados. Em sendo assim, obviamente que, atribuindo a pontuação exclusivamente ao reclamante,estariam sendo feridos os princípios da Isonomia e da Impessoalidade. Princípio da moralidade administrativa A moral administrativa não tem liame com a moral comum, mas sim com a moral jurídica. A moralidade administrativa ampara e protege alguns bens jurídicos. Quais são eles? Lealdade, boa-fé, decoro. Portanto, ao se ferir a lealdade, a boa-fé, o decoro, estamos ferindo a moralidade pública com a utilização de qualquer modalidade de cargo e função, independentemente de importarem enriquecimento ilícito ou de causarem prejuízo material ao erário público. A Moralidade é o princípio que obriga não a Administração Pública, como também aos particulares que tratem com ela, a agir segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé. Assim, pode-se dizer que a Moralidade Administrativa impõe, enquanto princípio, que o comportamento da Administração Pública e dos administrados que com ela se relacionam juridicamente, não só a observância da lei (em sentido amplo), como também à moral, aos bons costumes, as regras de boa administração, os princípios de justiça, equidade e honestidade. Exemplos: 1. Caso concreto 1 - Imagine-se o seguinte exemplo: se o presidente do sindicato dos delegados de um determinado Estado é um reconhecido inimigo detrator do chefe da Polícia Civil e este chefe da Polícia Civil, ao assumir, transfere o presidente do sindicato dos delegados de uma delegacia da capital para delegacia regional que, por exemplo, fica na Zona da Mata. Em princípio, do ponto de vista da legalidade estrita, esse ato de relotação é legal. É legal porque há uma vaga na mencionada delegacia, e há outro delegado para ser provido na vaga aberta na capital com a relotação daquele delegado no interior. E a escolha de onde os delegados serão lotados, na falta de outro critério legal específico, é ato discricionário e constitui porção discricionária do ato do chefe da Polícia Civil, que é a autoridade administrativa hierarquicamente superior. Porém, conhecendo os fatos subjacentes a essa relotação, é possível dizer que o chefe da Polícia Civil se valeu de um meio lícito, que era discricionariamente lotar e relotar delegados, para atingir um fim ilícito, imoral do ponto de vista administrativo, que contraria em sentido amplo a finalidade da lei, que é utilizar a relotação para punir inimigos políticos, detratores políticos, ou para punir até servidores que tenham praticado algum tipo de infração. E relotação ou remoção não é meio de punição. A relotação é um meio de distribuir servidores de forma a atender o interesse do serviço. Tanto ainda que, se do ponto de vista da legalidade estrita o ato fosse inatacável, seria inválido, por imoral. Nesse caso, então, note-se que existe uma norma específica que foi violada, qual seja, o princípio da Finalidade. Todo ato administrativo, além de ter um agente competente, uma forma, um objeto e um motivo, tem que ter uma finalidade. E esta finalidade do ato de relotação, que seria atender o melhor interesse do serviço, foi contrariada aqui. Portanto, o ato seria ilegal e não imoral em sentido amplo. O problema é que o princípio da Legalidade nem sempre se apresenta de forma tão explícita, ele nem sempre delineia toda a sua finalidade. Em termos de autofixação, à luz da jurisprudência pátria, segue rol exemplificativo de condutas que demonstram infringência a tal princípio: a) Realização de gastos excessivos, a pretexto de outorga de títulos e honrarias, com bebidas, comestíveis, peças de vestuário etc.; b) Resolução de Câmara de Vereadores que fixou os subsídios destes, em época de congelamento de preços e salários instituído no plano federal, em quantia exorbitante; c) Custeio, pela municipalidade, das despesas de viagem ao exterior da esposa do Prefeito, em companhia dele, o que não representa nenhum benefício para o Município, ainda que ela dirigisse algum órgão público; sendo idêntica a conclusão em relação às despesas com viagens do Prefeito não autorizadas pela Câmara Municipal; e d) Abertura de conta corrente em nome de particular para movimentar recursos públicos, independentemente da demonstração de prejuízo material aos cofres públicos. Princípio da publicidade A Administração Pública não pode atuar secretamente. Como é que você poderá saber se determinado prefeito está agindo corretamente? É somente pela publicidade é que podemos controlar seus atos, certo? O administrador, ao cultivar o sigilo, ofende frontalmente o princípio democrático. Na Publicidade, a palavra-chave, aqui, é a transparência. A Publicidade visa a proteger a transparência, para que se possa exercer o controle sobre a Administração Pública. Metaforicamente, a Administração deve ser vista como uma casa de vidro onde a coletividade poderá enxergar o que está sendo realizado no seu interior. E é a partir dessa noção de Publicidade que se podem trazer algumas discussões concretas. Publicidade é a divulgação oficial do ato administrativo para conhecimento público e início de seus efeitos externos, porquanto a Administração, afinal, não pode atuar, em regra, secretamente, “por baixo dos panos”, isto é, ela tem que se mostrar para a sociedade, ressalvadas as hipóteses legais de sigilo, como por exemplo, assuntos ligados à defesa nacional, segurança pública, intimidade, vida privada, honra, sigilo da fonte, e alguns outros valores que devem ser sopesados e resguardados, mesmo diante da regra da Publicidade dos atos da Administração. Quanto à Transparência, como dito anteriormente, há quem a considere suprincípio da Publicidade. Talvez melhor será considerada como um princípio autônomo, que passou a ganhar peso, pois complementa e instrumentaliza a ideia da Publicidade, estando presente na legislação infraconstitucional, como por exemplo, na Lei de Acesso à Informação (Lei federal nº 12.527/2011). A Transparência instrumentaliza a Publicidade, porque não bastaria à Administração Pública divulgar os seus atos. Necessário também se faz que os atos do Poder Público sejam acessados e conhecidos pelos administrados de maneira clara, inequívoca, compreensível, atualizada, íntegra, verossímil, facilitada e participativa. Exemplo conhecido da aplicação do Princípio da Transparência é o Portal da Transparência, serviço de informação eletrônica mantido pelo Executivo Federal. Assim sendo, tratando-se a Publicidade de mais um dos princípios reitores da Administração Pública explícitos na Constituição Federal, este estabelece que a Administração está obrigada a dar conhecimento ao público, pelos mais variados meios de comunicação previstos em lei, de todos os seus atos, decisões e atividades, a fim de permitir não só o controle interno, bem como o externo, de sua obediência aos demais princípios de Administração, o que faz com que os administradores atuem às claras, permitindo aos cidadãos gozarem de pleno exercício do Estado Democrático de Direito. Daí, pelo princípio da Publicidade, torna-se obrigatória a divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas as hipóteses de sigilo legal, quando a própria Publicidade pode causar lesão a finalidade de interesse público a ser atendido Exemplos: 1. Caso concreto 1 - Seguindo essa afirmação, uma questão concreta, por exemplo, seria a da exoneração de um servidor ou da aposentadoria deste, supondo-se o seguinte: um servidor pede a exoneração de seu cargo, a contar do dia 1o de abril, ou pede a aposentadoria (aposentadoria a pedido), a contar do dia 1o de abril. Só que, chegando à casa, depois de protocolar esse pedido na Administração, ele se arrepende, não quer mais ser exonerado ou não quer mais se aposentar, quer continuar trabalhando. O servidor pode se arrepender ou esse arrependimento tem eficácia? Ele pode evitar a exoneração ou aposentadoria, nessa situação? Nesse caso, então, considerando-se que a exoneração ou a aposentadoria ainda nãotenha sido publicada, ele poderá, então, retratar-se. Diferentemente da situação desse servidor acordar no dia seguinte e o ato já se encontrar publicado no Diário Oficial, mesmo que o servidor manifeste seu desejo de desistência, esta não mais poderá ser concretizada porque, se o ato foi publicado, já produziu sua eficácia. Em regra, todos os atos administrativos são publicados, porque pública é a Administração que os realiza, exceto os que a lei ou o regulamento eximam dessa imposição, em razão de segurança nacional, investigação criminal ou interesse público, o que exige prévia declaração e motivação em processo regular. Assim, a Constituição restringe a publicidade dos atos processuais, por exemplo, quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem (art. 5o, LX); para a retificação de dados, quando não prefira o cidadão fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo (art. 5o, LXXII, “b”). 2. Caso concreto 2 – É legal a determinação, a título de ilustração, da Administração Pública no sentido de designar nova data para a realização da prova de aptidão física para a candidato, aprovado no exame intelectual , mas que perdeu a prova de exames físicos, porque não teve acesso à convocação feita pela internet. 3. Caso concreto 3 – João, objetivando adquirir determinado imóvel no bairro X, fica sabendo, por meio de amigos, que, nessa região, será construída uma nova linha do metrô e, consequentemente, diversos imóveis serão desapropriados. Tendo em vista referido fato, pede informações à Companhia do Metrô, que se recusa a fornecê-las. Com tal atitude, restou preterido o princípio da Administração Pública denominado da Publicidade. Princípio da eficiência Em tese, a eficiência não seria nem princípio e, sim, o resultado de uma atividade administrativa. O quinto e último princípio explícito no caput do Art 37, também reitor da função administrativa, é o princípio da Eficiência, que passou a integrar a Constituição da República com a edição da EC nº 19, de 1998, denominada de Reforma Administrativa do Estado, e cuja ideia básica é orientar toda a atividade administrativa no sentido de que ela seja desempenhada não só com legalidade, moralidade e impessoalidade, mas também com presteza, perfeição e funcionalidade, de modo que a Administração tem o dever de ser eficiente quando da prática de seus atos, não podendo o administrado ser punido ante a inoperância injustificada do órgão administrativo. A Eficiência é o resultado da própria atuação, podendo ser medida objetivamente através de pareceres, peças técnicas, perícias, etc. No princípio da Eficiência, a palavra-chave está na busca da perfeição, no rendimento funcional. É o que se espera de toda boa administração, um dever. Obs: Na real verdade, o princípio da Eficiência envolve uma análise prévia, na qual se busca equilibrar a relação custo/benefício. Exemplos: 1. Caso concreto 1 - Entre construir uma ponte ou construir um terminal de barcas para atravessar determinado riacho, a Administração deve levar em conta o custo dos investimentos e o benefício em termos de desenvolvimento econômico, de geração de empregos, geração de impostos. Então, como se observa facilmente, o princípio da Eficiência tem como objetivo um maior grau de racionalidade econômica nos gastos públicos. Ainda pelo princípio da Eficiência, é reprovável que um juiz, por exemplo, afirme que fez concurso para juiz e não para administrador de cartório. O perfil do juiz, hoje, também é o de supervisor e administrador, pois o juiz titular da Vara é o responsável pela condução das atividades desenvolvidas no âmbito de seu cartório. De forma que não vá o juiz só tomar conhecimento dos problemas que ali ocorrem, inviabilizando a prestação jurisdicional eficiente, quando estes se tornam manchete de jornais. Absurdo, por exemplo, as petições que são juntadas oito meses após a entrada do requerimento. A cada ano, há um milhão e duzentos mil processos novos e os juízes têm compromisso com a qualidade. A grande morosidade da justiça dá margem à perda de sua credibilidade; daí dizer-se que a justiça é lenta e cara. Outros princípios informadores do direito administrativo. Embora não explicitados pelo legislador no Art. 37, caput, da Constituição Federal, há outros princípios igualmente fundamentais a serem observados pela Administração Pública, pois que já se encontram enraizados por todo o Direito Administrativo, especificamente, nele incidindo com a mesma força jurídica daqueles formalmente inscritos, orientando o administrador público no seu proceder. Eis, então, alguns desses preceitos. A. Princípio da supremacia do interesse público Se constrói, exatamente em função da consagração dos princípios da Supremacia do Interesse Público sobre o Interesse Privado e o da Indisponibilidade dos Interesses Públicos pela Administração O primeiro proclama a superioridade do interesse da coletividade, firmando sua prevalência sobre o interesse do particular, como pressuposto de uma ordem social estável, em que todos e cada um possam sentirse garantidos e resguardados; e o segundo, porque parte do pressuposto de que a Administração possui poderes-deveres, ou seja, a ela são concedidos determinados poderes como meios para alcançar uma finalidade previamente estabelecida pela ordem jurídica, que é defesa do interesse público, da coletividade como um todo, e não da entidade governamental em si mesma considerada. "não pode fazer o que bem entender com os bens publicos." Exemplo: Caso concreto 1 - Partindo-se de um exemplo no campo do poder de polícia, imagina-se a atuação da polícia de trânsito não agindo para bloquear determinadas áreas. A presunção é sempre de que o interesse público não foi renunciado pela inação, e isto porque se pressupõe que a omissão, o não agir, foi a melhor maneira de preservar o interesse público naquelas circunstâncias. Contudo, não havendo justificativa para essa omissão, pode o servidor público responder administrativamente, e até criminalmente em algumas circunstâncias, e a Administração responder civilmente perante os administrados. Isto significa dizer que, mesmo no campo das competências discricionárias, o princípio da Indisponibilidade do Interesse Público impõe uma avaliação de que a omissão, ou seja, que a inação seja a conduta da Administração que melhor atende ao interesse público e, portanto, ela precisa ter uma justificativa à vista das circunstâncias do caso concreto. B. Princípio da autotutela Um dos mais importantes corolários do princípio da legalidade é a autotutela, que vem a ser um princípio informativo do Direito Administrativo de fácil entendimento, vez que já traz em sua própria nomenclatura a noção básica de seu significado, qual seja: se tutela é sinônimo de controle, logo, quando se fala em Autotutela, fala-se em autocontrole. Daí partindo, Autotutela administrativa significa o controle interno que a Administração Pública exerce sobre a sua própria atuação, sobre os seus próprios atos. Assim, por ser o Estado o guardião da legalidade, ao se deparar com algum vício de legitimidade, seja uma ilegalidade expressa, seja um vício de moralidade, ou até mesmo um equívoco de interpretação da lei, não pode a Administração Pública andar de braços dados com a ilegalidade, ou ficar de braços cruzados, se assim se preferir dizer, sob pena de ferir o Art 37 da Constituição Federal Então, ao exercer uma fiscalização interna quanto à sua atuação, seja de ofício ou por provocação do particular, a Autotutela possibilita à Administração Pública, de um lado, reapreciar seus atos e anular os que forem ilegais – nesse caso falase até em dever-poder de anulação, e não apenas em faculdade (em princípio é um dever, que não é absoluto, porque ainda teria a convalidação, assunto a ser estudado, mais detidamente, quando se começara apreciar a teoria geral do ato administrativo) – e, de outro, como segunda prerrogativa nesse autocontrole, a Administração também pode revogar os atos legais, por se apresentarem inconvenientes e inoportunos, e sem precisar de interferência do Judiciário. Exemplo: Caso concreto 1 - Exemplo semelhante é com relação ao INSS, que concedeu aposentadoria a uma pessoa e, posteriormente, a própria previdência percebeu que aquela tal pessoa está recebendo R$ 800,00 a mais do que deveria. No caso, o INSS pode diminuir o rendimento do aposentado? Sim, porque o princípio da Autotutela é de caráter obrigatório, ou seja, sendo detectado um vício de legitimidade no ato, a Administração não pode perpetuá-lo, devendo assim anular o ato em decorrência do princípio da legalidade. Portanto, não cabe direito adquirido diante de um ato anulado, diante do desfazimento daquele erro, porque a anulação produz efeitos ex tunc. Nesse caso, no entanto, tem que ser garantido o devido processo legal. Observação: Mas, e quanto à devolução do que foi recebido a mais? Nesse sentido, mister se faz salientar que, até pouco tempo, havia aquele entendimento de que os servidores ativos e inativos, e os pensionistas, tinham que devolver à União, por força de lei, os valores que indevidamente a eles foram pagos, mesmo reconhecida a boa-fé dos mesmos, e isto de acordo com a Súmula 235 do TCU. Recentemente, essa súmula acabou sendo revogada através de uma decisão do STF, via Recurso Extraordinário. E o que isso significa, concretamente? Significa que os servidores ativos e inativos, e os pensionistas, continuam obrigados, por força de lei, a restituir ao erário, em valores atualizados, as importâncias que lhes forem pagas indevidamente, mas só no caso de má-fé, assegurando aos interessados o contraditório e a ampla defesa. C. Princípio da razoabilidade e da proporcionalidade A aplicação da razoabilidade e da proporcionalidade só tem espaço, fundamentalmente, nas decisões discricionárias da Administração como um instrumento, vislumbrando-se no princípio da Proporcionalidade esta função instrumental, um instrumento que deve guiar a ponderação dos diversos interesses públicos e particulares que emergem em um dado caso concreto. Partindo-se dessa premissa, então, o que é ser razoável? Significa agir conforme a razão, ser moderado, comedido, aceitável, ponderado, sensato, sendo nesse sentido que o agente público, no desempenho de suas funções, deve buscar soluções dentro daqueles valores considerados razoáveis, compatíveis com os critérios lógicos que se pode exigir do bom administrador, ao visar ao interesse público. Então, há que se reconhecer que a conduta do administrador público se situa obrigatoriamente dentro dos padrões de aceitabilidade. Assim, todo ato será razoável quando houver adequação entre meios e fins, e somente os atos manifestamente absurdos devem ser controlados pelo Poder Judiciário com fundamento na razoabilidade. Exemplo: Caso concreto 1 - Por exemplo, caso seja exigido em um edital de concurso público o nível técnico para determinada área, é possível candidatos com o nível superior, da mesma área, concorrerem para estas vagas? A título de ilustração: técnico de administração e graduados em Administração. Existe algum princípio que ampare neste caso? Sim, o princípio da Razoabilidade. Se a formação superior na mesma área englobar os conhecimentos abrangidos pelo ensino técnico da mesma área, a recusa do candidato com formação superior à mínima exigida não é razoável. O candidato que tenha nível superior e que se interesse por uma vaga de nível médio pode prestar o concurso para a oportunidade; já o contrário é que não seria razoável (formação/escolaridade mínima). Na adequação entre meios e fins, o que se procura ver é em que medida sacrificar o interesse individual em nome do interesse público, ou vice-versa, constitui fator adequado da sua composição, do seu atendimento recíproco, sem que um exclua o outro completamente. Há alguma distinção entre Razoabilidade e Proporcionalidade? Na real verdade, trata-se de uma distinção conceitual, mas que não acrescenta nada na aplicação cotidiana desses princípios; aplica-se a razoabilidade e a proporcionalidade indistintamente, da mesma forma, que é o que está prevalecendo nos dias atuais, como o próprio STF vem fazendo, usando tais princípios como se fossem sinônimos. Então, possível verificar que diversas são as oportunidades em que a jurisprudência se utiliza dos termos razoabilidade e proporcionalidade indistintamente, assim como a doutrina a eles se referem. Outra particularidade do princípio da Razoabilidade está em que, para o Superior Tribunal de Justiça, com a edição da Súmula 266, é vedada a exigência do diploma do curso superior ao candidato para que ele possa fazer as provas, o que afronta os princípios da Razoabilidade e da Proporcionalidade, traduzindo-se em discriminação, que é repudiada pelo Direito. A apresentação do diploma para demonstrar que o candidato tem conhecimentos necessários ao desempenho da função ou cargo só pode ser exigida para os efeitos da posse (o candidato só passa a ser servidor público com a posse – Art 2o c/c Art. 7o, da Lei nº 8.112/90). Assim, tendo a parte interessada apresentado o diploma para o ato de posse, logo, satisfeito estará o requisito da capacitação profissional exigida no edital. Arbitrário é o ato da Administração Pública que a impede de tomar posse sob o argumento de que o diploma deveria ser apresentado no instante da inscrição. Exemplo: No caso em foco, em que um candidato ao ingresso a cargo público é excluído e considerado reprovado por ter, à época da posse, seu nome inscrito em cadastros de restrição ao crédito, parece ser esculpido de total falta de razoabilidade por parte do administrador, característica esta que esboça o princípio da razoabilidade, dando-lhe a consequente configuração da ilegalidade. Pecará o administrador se, na prática de seus atos e imbuído do poder que detém, agir de maneira indiscriminada e reprovar todo e qualquer candidato que tiver seu “nome sujo”, conforme o termo vulgarmente utilizado, constatado por meio de certidões que são exigidas no edital do certame. A este propósito, há que se distinguir – e aqui entra o dever do administrador de aplicar o princípio da Razoabilidade – entre o devedor contumaz, que reiteradamente deixa de cumprir suas obrigações e compromissos os quais assumiu, mesmo sabedor de que não detém recursos para honrá-los, e que muitas vezes já se configura um verdadeiro estelionatário, e aquele outro devedor que, independentemente de sua vontade e/ou por razões momentâneas, deixou de honrar alguns pagamentos, talvez pelo próprio fato de encontrar barreiras no mercado de trabalho e, por isso mesmo, ter se empenhado e obtido uma difícil aprovação em um emprego público. Ou seja, desclassificar esse candidato, seja no ato da inscrição ou no ato da posse, seria uma maneira abusiva e totalmente infundada por parte do administrador, que ignorou a sua obrigação de observar os princípios que regem a Administração Pública, sobretudo o da Razoabilidade. O princípio da Proporcionalidade decorre da materialização de um ato administrativo ao caso concreto que motivou sua expedição, reputando arbitrário todo aquele cujos meios utilizados para realizá-lo sejam desproporcionais aos fins que a Administração Pública quer alcançar. Ou seja, o princípio da Proporcionalidade impede a imposição de obrigações, restrições e sanções em medida superior ao estritamente necessário para o interesse público. O Poder Público, quando intervém nas atividades sob seu controle, deve atuar porque a situação reclama realmente a intervenção, mas esta deve se processar com equilíbrio, sem excessos e proporcionalmente ao fim a ser atingido. Portanto, a Proporcionalidade é um grande instrumento de frenagempara coibir, principalmente, a imperatividade do poder de polícia. Exemplo: Caso contrário, suponha-se que a Administração Pública tenha determinado que feirantes, ocupantes de área pública, deveriam ser transferidos para outro local que lhes foi destinado, fixando prazo para que se procedesse à transferência. Expirados todos os prazos fixados, foi dada ordem para que a Polícia Militar providenciasse a desocupação da área pública. Porém, os ocupantes, em número de quinze, resistiram, usando paus e pedras, às tentativas de desocupação. A polícia, por sua vez, com um efetivo de trinta homens, usou de força para cumprir as ordens recebidas. Terminado o confronto, dois feirantes foram mortos e vários sofreram lesões corporais graves provocadas por tiros disparados pela polícia. Em face dessa atuação hipotética, não há dúvidas que o denominado “poder de polícia” é autoexecutório, não necessitando de autorização judicial, e é também coercível, na medida em que poderá se valer da força física para realizá-lo, uma vez que a coercibilidade é característica do poder de polícia. Contudo, para ser lícita, a atuação da Administração deveria ter obedecido ao princípio da Razoabilidade e da Proporcionalidade. No caso objeto da questão, a polícia agiu desarrazoada e desproporcionalmente ao desferir disparos com arma de fogo, provocando mortes e ferimentos dos manifestantes, que não portavam arma de fogo, mas pedras e paus, e estavam em número menor do que o de policiais envolvidos. Capitulo 2 - Poderes administrativos OBS: CADERNO FALTA DE TEMPO 1. Normativo: (Poder regulamentar) Trata-se da capacidade da administração de especificar aplicações da lei ao caso concreto de modo a viabilizar sua execução na prática. Exemplos: Portarias, Resoluções, Instruções normativas. 2. Disciplinar: (Obs: É diferente de multas a particular) É o poder que a administração possui de apurar infrações e aplicar penalidades aos servidores publicos e aqueles que estiverem sujeito a sua determinação. Exemplos: Penalidades aos servidores, mesários, estudantes de escola publica. 3. Decorrente da hierarquia: Distribuição de competencias e a atribuições de forma coordenada e subordinada a. Dar ordens b. delegar e avocar(trazer de volta) atribuições c. Exercicio da autotutela. d. Aplicar sanções. 4. Poder de Polícia: Fiscalizar o particular(Embargar obras, Fechar estabelecimento, arrumar passeio) Atividade do estado consistente em limitar o exercicio dos direitos individuais em beneficio do interesse público Caracteristicas: a. Discricionariedade - proporcionalidade/decisão b. Auto executariedade c. Coercibilidade "CAPITULO 3" Administração Publica - Organização. Administração Direta: União: Ministerios Estado: Secretárias Municipios: Departamentos (Desconcentração) Interno - Assessores. Administração Indireta: Delegações(descentraliza a administração direta) Autarquias Fundações Sociedade de Economia mista Empresas públicas Observações gerais: Todos os cargos da administração são subordinadas aos seus superiores hierarquicos. Por isso há oneração de ministros a qualquer tempo. Processa a administração e não o cargo. Desconcentração x Descentralização Qual a diferença entre descentralização e desconcentração? A atividade administrativa pode ser prestada de duas formas, uma é a centralizada, pela qual o serviço é prestado pela Administração Direta, e a outra é a descentralizada, em que o a prestação é deslocada para outras Pessoas Jurídicas. Assim, descentralização consiste na Administração Direta deslocar, distribuir ou transferir a prestação do serviço para a Administração a Indireta ou para o particular. Note-se que, a nova Pessoa Jurídica não ficará subordinada à Administração Direta, pois não há relação de hierarquia, mas esta manterá o controle e fiscalização sobre o serviço descentralizado. Por outro lado, a desconcentração é a distribuição do serviço dentro da mesma Pessoa Jurídica, no mesmo núcleo, razão pela qual será uma transferência com hierarquia. Desconcentração: Distribuição de competencias dentro da mesma pessoa juridica, organizada hierarquicamente. (na administração direta) Descentralização: Distribuição de competencias de uma pessoa juridica para outra pessoa juridica (cria pessoa juridica, privado, publica, ou hibrida) (administração indireta) Caracteristicas desse ente descentralizado: Administração indireta a. Personalidade juridica b. Capacidade de autoadministração c. Delimitação geografica d. Capacidade generica para exercer a maior parte dos encargos publicos de interesse do coletivo e. Sujeição ao controle pelo poder central. Espécies f. Autarquias g. Fundações h. Empresas estatais(empresas públicas e sociedade de economia mista) Autarquias Pessoas juridicas de Direito Publico criada por lei com capacidade de auto administração, para o desempenho do serviço publico descentralizado. Classificação: a. Econômia(instituto de alcool e açucar) b. De previdencia(Inss) c. Profissionais(OAB, Crea) Autarquia Sui Generis - Esta na CF d. De cultura e ensino(Universidades Publicas) e. Autarquias de regime especial. Fundações Entidades personalizadas autorizadas por lei, regime juridico de direito publico privado que atravez de dotação orçamentaria ou de recursos publicos. subsidiadas atua em atividade da administração no âmbito social. Ex: Cultura, meio ambiente, desenvolvimento social, pesquisa, educação. a. Dotação pode ser inteiramente do poder publico ou semi publico. b. Personalidade juridica de Direito Publico ou Privado definido em lei c. Capacidade de auto administração d. Sujeição ao controle ou tutela por parte da administração direta. Exemplos: Funai; Funalfa; Fundação Osvaldo Cruz; IBGE; Fundocentro. Empresas estatais Todas as entidades civis ou comerciais de que o estado tenha o controle acionario. Algumas prestam serviço publico outras atuam mais no campo da atividade economica. Empresas publicas: a. Exercem atividade economica e/ou serviços publicos b. Capital 100% publico (adm direta e indireta) c. Pessoa juridica de direito privado - area economica d. Autorizada por lei diferente de autarquia. e. Patrimonio próprio. f. Interesse publico g. Forma de organização(ltda ou s/a) Exemplos: CEF, BNDS, CORREIOS, CESAMA, EMBRABA, AMPAR. Sociedade de economia mista a. Exercem atividades economicas e/ou serviços públicos b. Pessoa juridica de Direito Privado c. Autorizada por lei d. Na forma de sociedade anonima, cuja ações com o Direito a voto pertecem a administração publica(acionistas não votam) e. Interesse publico. Exemplos: Banco do Brasil, Eletrobrás, Petrobras, SABESP, Cemig. CAPITULO 4 - ATOS ADMINISTRATIVOS. FATO diferente de ATO a. Fato - decorre de um acontecimento b. Ato - decorre de uma vontade. Ato da administração: São todos os atos que a administração exerce, inclusive atos governamentais e politicas publicas. Ato administrativo: Propriamente dito aquele que decorre da vontade da administração, sujeitos ao regime juridico administrativo e sujeitos a controle de legalidade pelo poder judiciario ou pela auto tutela ELEMENTOS: (Tem que seguir todos, se houver vicio o ato é nulo) a. Agente: Sujeito capaz, competente. b. Motivo: A administração deve ser motivada para fazer seus atos. c. Objeto: Conteudo, Alvara, Licença, Multa, Decretos. d. Forma: Solene, previsto em lei pela administração. e. Finalidade: finalidade de toda conduta é servir o bem comum, o interesse público, logo, a finalidade do ato administrativo é satisfazer o interesse comum, o bem da coletividade. ATRIBUTOS: a. Presunção de legitimidade b. Auto executariedade - Até o limite do interesse publico. c. Imperatividade - Ato tem força de regra, contudo de norma.
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