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FONÉTICA E FONOLOGIA DO INGLÊS Ubiratã Kickhöfel Alves Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 Revisão técnica: Monica Stefani Bacharela em Letras – habilitação português/inglês Mestra em Letras – Literaturas de língua inglesa/literatura australiana Doutora em Letras – Literaturas de língua inglesa/estudos de tradução A474f Alves, Ubiratã Kickhöfel. Fonética e fonologia do inglês / Ubiratã Kickhöfel Alves, Andressa Brawerman-Albini, Mariza Lacerda ; [revisão técnica: Monica Stefani]. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. 164 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-162-4 1. Fonética. 2. Fonologia. I. Língua inglesa. II. Brawerman-Albini, Andressa. III. Lacerda, Mariza. IV. Título. CDU 37 Iniciais_Fonética e fonologia do inglês.indd 2 10/09/2017 12:31:37 Mecanismo de produção da fala Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: De� nir os objetos de estudo das áreas de Fonética e Fonologia, apontan do aspectos convergentes entre as duas áreas. Identi� car os mecanismos físicos de produção da fala, a � m de dife- renciar vogais, consoantes e semivogais. Caracterizar a propriedade de vozeamento e diferenciar segmentos surdos de sonoros. Introdução Você sabia que a Fonética e a Fonologia, apesar de se caracterizarem como ciências distintas, estão fortemente relacionadas? De fato, o foco de ambas está nas distinções entre os sons, nos seus aspectos físicos (Fonética) e nas suas propriedades funcionais em uma dada língua (Fonologia). Então, para que estudamos Fonética e Fonologia do inglês? Você poderá se surpreender que, ao contrário do que muitos podem pensar, não é para “soar como um falante nativo”. Neste capítulo, você vai estudar a diferença entre Fonética e Fonologia. Ao estudar essa diferença, vai descobrir a importância desta disciplina para a sua formação profissional. Você também vai identificar os mecanismos físicos de produção da fala, estudando o processo de produção dos sons, ao acompanhar a trajetória da corrente de ar desde os pulmões até o trato vocal. Ao percorrer esse caminho, estudará o papel importante da laringe e da propriedade de “vozeamento” para diferenciar sons surdos (sem vibração de pregas vocais) de sonoros (com vibração de pregas vocais). U1_C01_Fonética e fonologia do inglês.indd 13 10/09/2017 10:21:17 Fonética e Fonologia: duas ciências altamente relacionadas Talvez até um leigo saiba, ao ouvir as palavras “fonética” e “fonologia”, que ambas se tratam de áreas da Linguística (a ciência que estuda os sistemas linguísticos) que se relacionam, em linhas gerais, aos sons de uma língua. Entretanto, qual é a diferença entre Fonética e Fonologia? Se ambas lidam com os sons, existem diferenças entre essas duas ciências? Ou elas constituem uma única ciência com dois nomes? Para que você consiga diferenciar as duas ciências, vale a pena pensarmos em um exemplo. Pense na palavra “tia”, do português brasileiro. Como você a pronuncia na sua variedade de português? O som inicial dessa palavra, representado pela letra <t>, pode ser pronunciado diferentemente em função do dialeto do português brasileiro em que ela é falada. Na variedade do Rio de Janeiro (capital), o // inicial é pronunciado como [ʃ] (ou seja, como um segmento africado, produzido com um ponto de articulação palatoalveolar). Por sua vez, na cidade de Recife, ele é, quase categoricamente, produzido como [] (ou seja, como uma plosiva alveolar). Independentemente da produção que ouvir, você, como falante nativo do português, saberá a que se refere essa palavra: à irmã do seu pai ou de sua mãe. No que diz respeito às características articulatórias, de produção do som, não há dúvida de que temos produções diferentes. Entretanto, na língua portuguesa, essas duas produções apresentam o mesmo status funcional, pois não diferenciam significado. Agora vamos pensar nesses dois segmentos, [] e [ʃ], na língua inglesa. Será que a troca de um por outro causaria alterações de significado no inglês? Pense em palavras como tip (produzido com []) e chip (produzido com [ʃ]). Trata-se dos mesmos sons utilizados nas duas variantes de “tia”; porém, na língua inglesa, eles apresentam um status diferente: eles são capazes de diferenciar significado. A partir desse exemplo, fica clara a distinção entre Fonética e Fonologia. A Fonética se preocupa em descrever as propriedades físicas dos sons, indepen- dentemente do caráter distintivo/não distintivo de tais sons em um determinado sistema linguístico. Nesse exemplo, caberia à Fonética apontar que o segmento [t] é produzido com a obstrução total da passagem de ar nos alvéolos, seguido de uma explosão; caberia também à Fonética dizer que [ʃ] é produzido com uma obstrução total da passagem de ar na região palatoalveolar, seguido de uma soltura de ar com fricção. Por sua vez, a Fonologia se volta ao funcionamento dos sons da língua: cabe a esta área do conhecimento dizer que, enquanto no Mecanismo de produção da fala14 U1_C01_Fonética e fonologia do inglês.indd 14 10/09/2017 10:21:18 português tais sons não têm caráter distintivo, o mesmo não ocorre no inglês. À Fonologia também cabe dizer que, no inglês, esses dois sons são distintivos tanto em posição inicial (tip – chip) quanto final (cat – catch) de palavras. Dada essa diferença, você já deve ter notado que ambas as ciências estão fortemente relacionadas. Ainda que a Fonética tenha um caráter mais físico e a Fonologia apresente um caráter mais abstrato, é praticamente impossível entender Fonologia sem compreender minimamente um pouco de Fonética, e vice-versa. É por isso que, neste curso, você estudará Fonética e Fonologia de maneira integrada. Produções fonéticas são representadas com colchetes: [ ]. Fonemas, por sua vez, são representados por barras / /. A importância do estudo da Fonética e Fonologia do inglês Ao estudar Fonética e Fonologia, você aprenderá como articular os sons do inglês, bem como poderá entender as possibilidades de variação e as distinções de signifi cado que podem ocorrer, em sua produção em língua inglesa, a partir de diferentes pronúncias. Uma vez que o inglês é uma língua não nativa para os brasileiros, é natural que o sistema fonológico do português exerça influência sobre as produções nesse novo idioma. É por esse motivo que o aprendiz estrangeiro apresenta sotaque. Falar com acento estrangeiro (ou sotaque) é algo frequente e natural. Conforme apontam Derwing e Munro (2015), o objetivo do estudo da Fonética e Fonologia da língua estrangeira não é fazer com que o aprendiz fale como um “nativo”. De fato, ter sotaque não é problema; o problema é quando o sotaque afeta a “inteligibilidade em língua estrangeira”. Retomando o exemplo da seção anterior, é possível que falantes de dialetos como o do Rio de Janeiro ou Porto Alegre, por exemplo – por produzirem o // como [] em sua língua materna –, acabem produzindo a palavra cat como catch, soando como se estivessem produzindo outra palavra. O mesmo 15Mecanismo de produção da fala U1_C01_Fonética e fonologia do inglês.indd 15 10/09/2017 10:21:18 pode acontecer na produção, em inglês, da letra “D” [] como “G” [], que também pode ocasionar problemas de inteligibilidade. Podemos definir inteligibilidade como “[...] o grau de relação entre a men- sagem pretendida pelo falante e o conteúdo compreendido pelo ouvinte [...]” (DERWING; MUNRO, 2015, p. 5). Isso é diferente de se ter acento estrangeiro. Pode-se ter acento estrangeiro e, ao mesmo tempo, ser inteligível, contanto que o ouvinte consiga “decodificar” o que estamos falando. Ou seja, nem todo acento estrangeiro pode causar problemas de inteligibilidade, mas problemas de inteligibilidade da fala surgem, em grande parte, em função do grau de acento estrangeiro. Fica clara, assim, a importância do estudo da disciplina de Fonética e Fo- nologia da língua inglesa. O objetivodesta disciplina não é fazer o aluno falar como um “falante nativo” do inglês (até porque, assim como no português, há diferentes variedades da língua, cada uma com suas peculiaridades fonéticas). Ao estudar da Fonética e Fonologia do inglês, a intenção é que você apresente uma fala mais inteligível não somente para ouvintes nativos do idioma, mas, também, para qualquer usuário de língua inglesa, independentemente de sua língua materna. Pelo estudo desta disciplina, você conhecerá as diferenças de sons entre os sistemas de L1 (português) e de L2 (inglês) e aprenderá mais sobre as articulações dos sons da língua estrangeira. Além disso, você será capaz de prever as dificuldades enfrentadas pelo aprendiz brasileiro de inglês na aquisição de sons, sobretudo aquelas que podem implicar problemas de inteligibilidade da fala. Trata-se, pois, de uma disciplina fundamental para todo profissional que trabalhará com a língua inglesa. Para saber mais sobre inteligibilidade e a sua relação com grau de acento estrangeiro, leia Pronunciation Fundamentals (DERWING; MUNRO, 2015). Os mecanismos físicos de produção da fala Ao iniciar seu estudo de Fonética e Fonologia da língua inglesa, você deverá ser capaz de responder algumas das mais basilares questões da Fonética: “O Mecanismo de produção da fala16 U1_C01_Fonética e fonologia do inglês.indd 16 10/09/2017 10:21:19 que é o som?”, “Como o produzimos?”, “Qual é o caminho da corrente de ar para a produção dos sons do português e do inglês?”. Acusticamente, o som é um deslocamento das partículas de ar (LADEFO- GED, 1996). Dessa forma, ao produzirmos sons da fala, estamos realizando deslocamentos das colunas de ar. O mecanismo de produção da fala tem quatro componentes principais que acarretam quatro processos: (i) o processo de saída de ar; (ii) o processo de fonação; (iii) o processo oronasal; e (iv) o processo articulatório (LADEFOGED; JOHNSON, 2011). No que diz respeito ao primeiro processo, o ar em movimento tem início nos pulmões, no processo de expiração do processo de respiração, e percorre o aparelho fonador; A principal fonte de energia da produção dos sons é, portanto, o sistema respiratório. Em outras palavras, expulsamos ar dos pulmões para produzir os sons distintivos tanto do português quanto do inglês. Existem, em outras línguas do mundo, sons que não são produzidos com a expulsão do ar dos pulmões. Para saber mais sobre esses sons, leia o Capítulo 6 do livro A course in phonetics (LADEFOGED; JOHNSON, 2011). O processo de fonação diz respeito à ação das pregas vogais. É nessa etapa que se caracterizam as diferenças entre os sons surdos (sem vibração das pregas vogais) e sonoros (com vibração das pregas vocais). Ao sair dos pulmões, o ar vai se deslocando pela traqueia até chegar à laringe (Figura 1). A laringe se encontra na parte superior da tranqueia, sendo composta por cartilagens que constituem as pregas vocais (ou, popularmente, “cordas” vocais), que se parecem com dois lábios. Além da função clássica de válvula, impedindo a passagem de ar durante a deglutição e impedindo que alimentos caiam na via respiratória (GUYTON, 2000), tal órgão tem importante papel na produção dos sons. 17Mecanismo de produção da fala U1_C01_Fonética e fonologia do inglês.indd 17 10/09/2017 10:21:19 Figura 1. O aparelho vocal humano Fonte: Bear, Connor e Paradiso (2017, p. 687). O espaço entre as duas pregas vocais é chamado de glote, e as cordas vogais podem assumir configurações distintas para as formações dos sons. Quando as cordas vogais estão distanciadas entre si, o ar dos pulmões poderá passar sem maiores dificuldades pela glote, passando dos pulmões para a faringe e a boca. Nessa configuração, são produzidos os sons surdos. Por outro lado, se houver apenas uma estreita distância entre as pregas, o ar que estiver vindo dos pulmões, ao ter que atravessar tal passagem estreita, fará com que as pregas vibrem. Essa vibração ocorre por um jogo aerodinâmico. A propriedade de vozeamento é bastante importante para a caracterização dos sons e fonemas de uma língua; por isso, estudaremos essa característica a fundo na próxima seção. Mecanismo de produção da fala18 U1_C01_Fonética e fonologia do inglês.indd 18 10/09/2017 10:21:20 Os caminhos para o fluxo de ar acima da laringe (supraglotais) formam parte do trato vocal. É nessa parte que ocorrem os últimos dois processos: (iii) o processo oronasal e (iv) o processo articulatório. O trato vocal é caracterizado pelo trato (ou cavidade) oral ou pelo trato (ou cavidade) nasal (Figura 1). Dessa forma, o ar tem duas opções de passagem. Se o véu palatino estiver abaixado, o ar poderá sair pelo trato nasal – disso resultarão consoantes e nasais velares. Por sua vez, se o véu palatino estiver levantado, a saída de passagem de ar pelo nariz é impedida, e o ar seguirá pelo trato oral, de modo a formar os chamados sons orais (não nasais). É importante salientar que a forma do trato vocal é importantíssima para a produção dos sons. A forma do trato varia em função das posições dos articuladores. Dessa forma, o local do trato em que é feita a obstrução à passagem da corrente de ar, bem como o modo pelo qual tal corrente de ar será liberada, ocasionam as diferenças entre os sons das línguas do mundo. O trato vocal funciona como uma caixa de ressonâncias para a produção dos sons. Assim, a depender das articulações, essa caixa de ressonância pode assumir diferentes formas, o que exercerá efeitos nas propriedades acústicas dos sons produzidos. No capítulo seguinte, verificaremos cada um desses lugares (pontos) e modos de articulação. Diferenciando vogais de consoantes Ao considerar a produção de sons no trato oral, você também poderá fazer outra distinção fundamental em Fonética: diferenciar sons consonantais de vocálicos. Em princípio, tal tarefa pode parecer óbvia – sobretudo se consi- derarmos o sistema alfabético. Entretanto, qual seria a diferença, em termos fonéticos, entre uma consoante e uma vogal em inglês? Acesse o link ou código a seguir e assista ao vídeo das pregas vocais vibrando. https://goo.gl/BfnN2c 19Mecanismo de produção da fala U1_C01_Fonética e fonologia do inglês.indd 19 10/09/2017 10:21:21 Um segmento consonantal é aquele caracterizado por alguma forma de obstrução da passagem de ar no trato vocal. Essa obstrução pode ser: total (como no caso das plosivas [], [], [], [], [], []), em que o ar é impedido completamente de sair até o momento da explosão; ou parcial (como nos seg- mentos fricativos [], [], [], [], [], [], [], [], []), em que há uma estreita passagem pela qual o ar ainda consegue escapar. Por outro lado, em termos fonéticos, segmentos vocálicos são aqueles nos quais o ar sai pelo trato vocal praticamente sem impedimentos. O sistema de vogais do inglês é bem maior do que o do português. É, portanto, um desafio para o aprendiz de inglês fazer a distinção entre as vogais das palavras sheep [] e ship [], bed [] e bad [] ou pool [] e pull [], por exemplo. Letras e fonemas não são a mesma coisa! No sistema alfabético, temos 5 grafemas vocálicos. Entretanto, em português, por exemplo, temos 7 fonemas vocálicos: //, //, //, //, //, //, //. Há, também, as semivogais (também chamados de glides). As semivogais são foneticamente semelhantes às vogais, mas tendem a ser mais curtas. Ape- sar de serem foneticamente muito semelhantes às vogais, elas se comportam como consoantes, em termos de distribuição dentro da palavra. No inglês, elas sempre antecedem uma vogal, como // em yet, //, e // em one, //. Semivogais são consideradas segmentos consonantais. É por isso que, em inglês, dizemos an umbrella, mas a university. Isso ocorre porque o fonema inicial de umbrela, //, é vocálico. Entretanto, em university, //, o fonema inicial é justamente o do glide // (consonantal). Mecanismo de produção da fala20 U1_C01_Fonética e fonologia do inglês.indd20 10/09/2017 10:21:22 O vozeamento: diferenciando segmentos surdos e sonoros Nas línguas do mundo, conforme já visto, existem segmentos consonantais surdos (sem a vibração das pregas) e sonoros (com a vibração), distinção que é importantíssima para diferenciarmos os sons. É possível que dois sons tenham exatamente a mesma articulação e se distingam unicamente em fun- ção da propriedade de sonoridade. Em muitos casos, não é difícil identifi car a diferença entre surdos e sonoros – podemos sentir a diferença entre eles! Tente fazer um som de [] bastante longo. Agora, faça um som de [] com a mesma articulação. Você perceberá que ambos foram produzidos com a mesma articulação, mas [] tem a vibração das pregas vocais, e [] não tem. Logo, [z] é um som sonoro, enquanto [] é um som surdo. É bastante fácil verificar a diferença de fonação em pares de segmentos fricativos (produzidos com fricção e com continuidade ao longo do tempo). Tente comparar os membros dos pares [] e []: você perceberá que os membros de cada par têm exatamente a mesma articulação, mas o primeiro membro do par é sempre surdo, e o segundo elemento, sonoro. Já nos pares de segmentos plosivos (produzidos por um fechamento total da passagem de ar, seguido por uma explosão), diferenciar os segmentos surdos [], [] e [] dos sonoros [], [] e [], ao tentarmos reparar a vibração de nossas pregas vocais, pode vir a ser uma tarefa mais difícil. Em português, a vibração das pregas vocais que caracteriza os segmentos sonoros nesses segmentos ocorre durante o bloqueio total da passagem de ar pelos articula- dores (e, portanto, não é audível). Já no inglês, considerando-se as plosivas em posição inicial de palavra, tal como em bat, a vibração das pregas vocais é opcional. Há, entretanto, uma outra pista acústica que leva os ouvintes nativos do inglês a diferenciarem sons surdos de sonoros nessa posição: a presença de aspiração em consoantes surdas. A aspiração pode ser definida como uma soltura forte de ar após a explosão de um segmento plosivo e ocorre somente em sons surdos, em inglês. É importante que, ao produzir palavras como pet, você produza com aspiração para não ser interpretado como bet. 21Mecanismo de produção da fala U1_C01_Fonética e fonologia do inglês.indd 21 10/09/2017 10:21:22 A aspiração não ocorre somente na posição inicial (ainda que, nessa posi- ção, a sua ausência possa causar problemas de inteligibilidade). Os segmentos plosivos surdos devem ser aspirados, também, em posição medial de palavra, desde que tal segmento plosivo esteja iniciando uma sílaba tônica (forte). Preste atenção à pronúncia de /p/ nas palavras rapid e rapidity. O que você nota? Em rapidity, /p/ é produzido com aspiração ([]), pois tal consoante se encontra em início de sílaba tônica. Em rapid, não há aspiração. Caso tenha dúvidas, ouça os áudios dessas palavras em um dicionário on-line. A distinção entre consoantes sonoras e surdas, em inglês, ocorre nos seg- mentos plosivos (caracterizados pelo bloqueio total da passagem de ar, seguido de uma explosão), fricativos (produzida com uma saída de ar caracterizada como uma fricção) e africados (cujo início da produção lembra um segmento plosivo, e o final, um segmento fricativo). Esses três grupos de sons formam uma classe chamada de “obstruentes”. Dentre as consoantes obstruintes, //, //, //, //, //, //, //, //, // são surdas, e //, //, //, //, //, //, //, // são sonoras. Cabe ressaltar, por fim, que todas as vogais do inglês são produzidas com a vibração das pregas vocais (sonoros), bem como as consoantes nasais (//, //, //) e líquidas (// e //). Na página do famoso foneticista Peter Ladefoged, você pode comparar a produção de // inicial em espanhol (sem aspiração, como no português) e em inglês (com aspiração). Ouça os áudios e verifique a diferença! https://goo.gl/XW27J1 Mecanismo de produção da fala22 U1_C01_Fonética e fonologia do inglês.indd 22 10/09/2017 10:21:23 1. Escolha a alternativa correta. a) A fala com acento estrangeiro deve ser erradicada, pois acarreta problemas de inteligibilidade da fala. b) Quando estudamos Fonética e Fonologia do Inglês, devemos estudar ou o dialeto norte- americano ou o dialeto britânico. c) O foco do estudo da Fonética e Fonologia do Inglês é a percepção das variedades nativas da língua. d) O estudo de Fonética e Fonologia do Inglês é importante para que os alunos possam soar como falantes nativos desta língua. e) O estudo da Fonética e Fonologia do Inglês inclui não somente a produção por parte dos nativos, mas, também, as dificuldades de aprendizes de Inglês de diferentes nacionalidades. 2. Considerando que sons e letras não são a mesma coisa, quantos sons têm as palavras ‘have’, ‘brought ’, ‘chip’ e ‘thank ’, respectivamente? a) 4 – 7 – 4 – 5 b) 4 – 3 – 4 – 4 c) 3 – 3 – 3 – 4 d) 3 – 4 – 3 – 4 e) 3 – 4 – 4 – 4 3. Qual alternativa apresenta as três sequências corretas? a) a one-week course – a young boy – a university b) an one-week course – a young boy – a university c) a one-week course – an young boy – a university d) a one-week course – a young boy – an university e) an one-week course – an young boy – an university 4. Em qual das alternativas os sons consonantais iniciais de todas as palavras são surdos? a) tank, those, pat, kill b) nose, limb, rat, watch c) think, them, thought, thumb d) knife, pneumonia, cart, physics e) chair, case, tear, kill 5. Em qual das alternativas todos os fonemas /p/ devem ser aspirados? a) computation – computer – rapidity b) rapid – rapidity – report c) computer – rapidity – report d) computation – rapitidy – report e) computer – rapid – report 23Mecanismo de produção da fala U1_C01_Fonética e fonologia do inglês.indd 23 10/09/2017 10:21:24 BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. Neurociências: desvendando o sistema nervoso. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. DERWING, T.; MUNRO, M. J. Pronunciation fundamentals: evidence-based perspectives for l2 teaching and research. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 2015. GUYTON, A. C. Fisiologia humana. São Paulo: Saraiva, 2000. LADEFOGED, P. Elements of acoustic phonetics. 2nd ed. Chicago: The University of Chicago Press, 1996. LADEFOGED, P.; JOHNSON, K. A course in phonetics. 6th ed. Boston: Wadsworth Cen- gage Learning, 2011. Leituras recomendadas CALLOU, D.; LEITE, Y. Iniciação à fonética e à fonologia. 11. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2011. CRISTÓFARO-SILVA, T. Pronúncia do Inglês: para falantes do português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2012. LAMPRECHT, R. R. et al. Consciência dos sons da língua: subsídios teóricos e práticos para alfabetizadores, fonoaudiólogos e professores de língua inglesa. 2. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2012. Mecanismo de produção da fala24 U1_C01_Fonética e fonologia do inglês.indd 24 10/09/2017 10:21:24 Conteúdo: FONÉTICA E FONOLOGIA DO INGLÊS Ubiratã Kickhöfel Alves Andressa Brawerman-Albini Mariza Lacerda Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 Revisão técnica: Monica Stefani Bacharela em Letras – habilitação português/inglês Mestra em Letras – Literaturas de língua inglesa/literatura australiana Doutora em Letras – Literaturas de língua inglesa/estudos de tradução A474f Alves, Ubiratã Kickhöfel. Fonética e fonologia do inglês / Ubiratã Kickhöfel Alves, Andressa Brawerman-Albini, Mariza Lacerda ; [revisão técnica: Monica Stefani]. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. 164 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-162-4 1. Fonética. 2. Fonologia. I. Língua inglesa. II. Brawerman-Albini, Andressa. III. Lacerda, Mariza. IV. Título. CDU 37 Iniciais_Fonética e fonologia do inglês.indd 2 10/09/2017 12:31:37 O trato vocal: órgãos e funcionamento Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identi� car osórgãos do aparelho fonador, apontando suas funções. Enumerar os diferentes pontos de articulação, a � m de apontar as consoantes produzidas em cada ponto. Descrever os diferentes modos de articulação, a � m de determinar quais consoantes são produzidas com cada modo. Introdução Quando você começou a estudar inglês, possivelmente tinha muita dificuldade em pronunciar o som inicial da palavra think, []. Como muitos alunos, você provavelmente produzia tal palavra com o som []. Também possivelmente, seu professor tentou ajudá-lo, dizendo que, para produzir esse som, deveria colocar a ponta da língua entre os dentes incisivos superiores e inferiores. Seu professor, com essa explicação, lhe deu uma aula sobre “ponto de articulação”. Mesmo de uma forma “não técnica”, em uma aula de pronúncia, estamos sempre falando sobre os pontos de articulação. E por que você pronunciava o som [] como [], e não como [] (o som inicial de shoe), por exemplo? A resposta é simples: porque os locais de articulação de [] (labiodental) e [] (interdental) são bastante próximos! Neste texto, você aprenderá a identificar os diferentes locais (pon- tos) de articulação que caracterizam as consoantes da língua inglesa. Além disso, também vai aprender sobre o “modo de articulação” (como acontece a obstrução e a liberação da passagem de ar na produção de consoantes). Ao descrever as consoantes a partir do ponto de articulação, do modo de articulação e do vozeamento, você terá a oportunidade de melhorar sua pronúncia, sua compreensão auditiva e, ainda, entender as dificuldades de pronúncia de seus futuros alunos. U1_C02_Fonética e fonologia do inglês.indd 25 07/09/2017 20:32:29 O trato vocal O estudo do aparelho fonador inclui a análise da passagem do ar desde os pulmões, passando pelas pregas vocais na laringe (onde ocorrerá a fonação), até chegar ao trato vocal, onde o ar poderá ser liberado pela cavidade oral ou nasal. No que diz respeito ao trato vocal, é importante estudar o papel de cada um de seus articuladores (Figura 1). A depender do movimento dos articu- ladores, a caixa de ressonância que é nosso trato vocal vai mudar de forma; diferentes frequências de ressonância vão ser formadas, em função do ponto de obstrução da corrente do ar e, também, do modo como esse ar é liberado. Dessa forma, tem-se a produção dos diferentes sons da fala. Figura 1. O trato vocal e os pontos de articulação. Fonte: Tambeli (2014, p. 131). Na produção dos sons, podem ter papel relevante diversos articuladores da cavidade oral, tais como os lábios e os dentes (superiores e inferiores). Na parte superior da boca, encontram-se o alvéolo (localizado na parte anterior do céu da boca, atrás dos dentes incisivos superiores), o palato duro (localizado atrás do alvéolo, no céu da boca, formado por uma estrutura óssea) e o palato mole (também chamado de “véu palatino”, que se localiza atrás do palato duro e se caracteriza como uma área flácida, por não ser sustentada por um osso). Por ser constituído de tecido, o véu palatino pode se movimentar, possibilitando a passagem de ar ou não para a cavidade nasal. 1– Pontos de articulação: (1) bilabiais; (2) labiodentais; (3) dentais; (4) alveolares; (5) palato-alveolares; (6) palatais; (7) velares; (8) glotais. O trato vocal: órgãos e funcionamento26 U1_C02_Fonética e fonologia do inglês.indd 26 07/09/2017 20:32:30 Descubra, você mesmo, o seu alvéolo, o palato duro e o palato mole. Corra a ponta da sua língua pela parte superior da sua boca. Logo após os dentes, quando você sentir uma parte “crespa”, você terá encontrado o alvéolo. Desloque sua língua mais para trás e encontrará uma parte mais dura, em função do osso que ali está – você encontrou o palato duro. Ao correr a língua ainda mais para trás, você vai notar onde o osso termina e vai sentir a região flácida que caracteriza o véu palatino (muitas pessoas sentem cócegas ao passar a língua nessa região). Na Figura 1, também se pode verificar a língua. A língua pode ser dividida em quatro partes: ápice (ou ponta), lâmina, corpo e raiz (CRISTÓFARO-SILVA, 2011). A depender do som a ser articulado, cada uma das partes da língua pode assumir papel fundamental. Por exemplo, na produção de /t/, a ponta da língua se movimenta em direção aos alvéolos; já na articulação de /k/, é a parte posterior da língua que se move em direção ao véu palatino. Os órgãos articulatórios podem ser caracterizados como ativos ou passivos. Na produção de uma consoante, os articuladores ativos são aqueles que se movimentam em direção aos articuladores passivos (estáticos), para realizar a obstrução à passagem de ar (que pode ser total ou parcial). Os articuladores ativos são a língua, os lábios e os dentes inferiores (que alteram o formato da cavidade oral, ou seja, da “caixa de ressonâncias”), o véu palatino (que permite a passagem de ar para a cavidade nasal, quando abaixado) e as pregas vocais (que, ao vibrarem, produzem segmentos sonoros). Por sua vez, os articuladores passivos são o lábio superior, os dentes superiores, os alvéolos e o palato duro. Os articuladores envolvidos na produção do som determinam os pontos de articulação, ou seja, os lugares do trato vocal em que ocorre a oposição à saída do ar. 27O trato vocal: órgãos e funcionamento U1_C02_Fonética e fonologia do inglês.indd 27 07/09/2017 20:32:30 Os pontos de articulação O ponto de articulação “[...] corresponde à localização, no trato oral, em que o articulador ativo encontra o articulador passivo, na produção dos sons [...]” (LAMPRECHT et al., 2012, p. 264). Os pontos de articulação que se mostram relevantes para descrever as consoantes do inglês são: Bilabial: caracterizado pelo encontro dos lábios inferior e superior. O articulador ativo é o lábio inferior, e o articulador passivo é o lábio inferior. É o ponto de articulação das consoantes iniciais das palavras pie, bye e my. Labiodental: consoantes labiodentais são produzidas com os dentes inci- sivos superiores (articulador passivo) realizando uma constrição com o lábio inferior (articulador ativo). As consoantes iniciais das palavras fat e vet são labiodentais. Interdental: caracterizado pelo movimento da ponta ou lâmina da língua (articulador ativo) em direção a um ponto entre os dentes incisivos (articula- dores passivos). Os segmentos interdentais do inglês correspondem aos sons iniciais de think e those. Em alguns dialetos do inglês, a ponta/lâmina da língua simplesmente se aproxima dos dentes superiores. Por isso, alguns manuais de fonética do inglês usam o termo “dental” (YAVAS, 2011). Alveolar: sons alveolares são produzidos com a ponta (ápice) ou lâmina da língua (articulador ativo) se movimentando em direção aos alvéolos (arti- culador passivo). Em inglês, os sons iniciais das palavras tape, dull, size, zoo, new e lake são alveolares. Palatoalveolar: para a produção destes sons, a lâmina da língua (articulador ativo) se dirige em direção à parte medial do palato duro. Encontramos este ponto nos sons finais das palavras rush, massage, catch e fudge. Para aprender mais sobre o trato oral, veja este vídeo do blog “Language Rush”. Aproveite para visitar todo o blog, pois você encontrará explicações, figuras e muitos vídeos sobre ponto e modo de articulação. https://goo.gl/bzioow O trato vocal: órgãos e funcionamento28 U1_C02_Fonética e fonologia do inglês.indd 28 07/09/2017 20:32:30 https://goo.gl/bzioow Retroflexo: sons retroflexos são produzidos com uma retração da ponta ou lâmina da língua (articulador ativo), curvando-se em direção aos alvéolos (articulador passivo). O único som retroflexo, em inglês, é o encontrado no início das palavras rat e ripe, por exemplo. Palatal: é produzido quando o corpo da língua (articulador ativo) se apro- xima em direção ao palato duro (articulador passivo). A única consoante palatal em inglês é o glide [], encontrando no início da palavra yes. Velar: para a produçãodos sons velares, a parte posterior da língua (ar- ticulador ativo) se dirige em direção ao véu palatino ou palato mole (articu- lador passivo). Em inglês, as consoantes velares são as encontradas no início das palavras cat e goat, bem como a consoante nasal final da palavra ring (considerando-se dialetos que não produzem [] final). Glotal: não se trata, estritamente, de um ponto de articulação. Consoantes glotais têm o articulador ativo e o articulador passivo nos músculos da glote (CRISTÓFARO-SILVA, 2011). No inglês, encontramos uma consoante glotal no início da palavra house, por exemplo. O glide // (encontrado em one e what, por exemplo) apresenta dois pontos de arti- culação. Na produção desse som, os lábios estão arredondados (ponto de articulação labial), enquanto o dorso da língua está levantado em direção ao véu palatino (ponto dorsal). Alguns autores, inclusive, chamam tal consoante de “labiovelar” (YAVAS, 2011). Com o estudo dos pontos de articulação, você é capaz de entender muitos fenômenos de coarticulação e processos variáveis da língua inglesa, a partir dos quais podemos ter a impressão de que uma consoante é “transformada” em outra. Ao pensarmos em articulações secundárias, entendemos o que acontece na produção de /l/ em final de palavra, tal como em fill e call. Na produção desse som, além da articulação alveolar primária da ponta da língua, elevamos o dorso da língua em direção ao véu palatino, como se fôssemos produzir um /k/. Dizemos, portanto, que o /l/ em final de palavra é produzido velarizado e usamos o símbolo [] para representar a produção de tal consoante final. No que diz respeito à impressão de que um segmento é “transformado” em outro, um exemplo de produção variável bastante frequente na fonologia do inglês diz respeito ao fenômeno de palatalização. Em “want you”, a consoante 29O trato vocal: órgãos e funcionamento U1_C02_Fonética e fonologia do inglês.indd 29 07/09/2017 20:32:31 final da primeira palavra pode ser produzida, variavelmente, como [] ou []. Por sua vez, em “need you”, a consoante final de “need” também pode ser produzida como [] ou []. Atente ao fato de que essas consoantes variam em termos de ponto de articulação, mas não em termos de vozeamento. Por que esse fenômeno variável acontece no inglês? Preste atenção no ponto de articulação da consoante inicial da segunda palavra, []: ele é palatal, enquanto os segmentos [t] e [d] são alveolares. As consoantes palatoalveolares [] e [], por sua vez, estão “no meio do caminho”: produzir tais consoantes tende a implicar menos esforço articulatório do que realizar [] e []. O mesmo fenômeno também ocorre com fricativas. Em miss you, por exemplo, a consoante final da primeira palavra pode ser produzida tanto como [] (alveolar) quanto como [] (palatoalveolar). Já em as you, a consoante final pode ser produzida tanto como [] quanto como []. Busque exemplos de ocorrência desse fenômeno em músicas em inglês! Na canção Miss you, de Katy Perry, a cantora pronuncia /s/ ora como [s], ora como []. Nas canções Come as you are (Nirvana), As long as you love me (de Justin Bieber ou Backstreet Boys), o /z/ de as you é pronunciado como []. Ouça as músicas e confira! Os modos de articulação O modo de articulação corresponde a um critério de classifi cação caracteri- zado “[...] em função de como os articuladores se posicionam e de como se dá a soltura de ar no momento da produção do som [...]” (LAMPRECHT et al., 2012, p. 263). O trato vocal: órgãos e funcionamento30 U1_C02_Fonética e fonologia do inglês.indd 30 07/09/2017 20:32:31 Os modos de articulação que caracterizam os fonemas consonantais do inglês são: Plosiva: também chamadas de oclusivas. Os segmentos plosivos são pro- duzidos com uma obstrução completa da passagem de ar na boca (trata-se, portanto, de sons orais). Com o final da obstrução, tem-se uma forte explosão acústica gerada pela soltura repentina de ar. Em inglês, os segmentos plosivos podem ser encontrados nos sons iniciais das palavras pie, bye, tie, die, Kate e gate. Fricativa: os articuladores se aproximam, mas há uma estreita passagem pela qual o ar pode escapar. Dessa forma, a passagem da corrente de ar por tal passagem ocasionará uma fricção audível. Em inglês, os segmentos fricativos são encontrados nos sons iniciais das palavras five, view, thank, those, say, zoo, shoe, genre e house. Africada: no início de sua produção, a consoante é produzida com uma obstrução total do fluxo do ar. Com o relaxamento da oclusão, a soltura de ar se dá de maneira gradual, havendo uma fricção, como nos segmentos fricati- vos. Dessa forma, diz-se que uma africada “começa como plosiva e termina como fricativa”. No inglês, encontramos africadas no início de palavras como cheap e jeep. Segmentos plosivos, fricativos e africados, por apresentarem uma obstrução forte à saída de ar, são também chamados de obstruintes (em inglês, obstruents). Nasais: na produção destes sons, no trato oral, os articuladores produzem uma obstrução completa da passagem de ar. O véu palatino se encontra abai- xado, de modo que o ar possa se dirigir tanto à cavidade oral quanto à nasal. Dessa forma, o ar “[...] ressoa também na cavidade oral antes de ser expelido apenas através da cavidade nasal [...]” (SEARA; NUNES; LAZZAROTTO- -VOLCÃO, 2015, p. 72). Encontramos nasais nos segmentos iniciais de mate e null, bem como no segmento final de king (nos dialetos em que a plosiva [] não é produzida). Aproximantes: na produção das aproximantes, um articulador está próximo do outro, mas não suficientemente próximo para causar uma saída de ar com 31O trato vocal: órgãos e funcionamento U1_C02_Fonética e fonologia do inglês.indd 31 07/09/2017 20:32:31 turbulência ou fricção. Em inglês, as aproximantes são os sons iniciais de late, rate, young e work. Dentre a classe das aproximantes, diferenciamos as “líquidas” dos “glides”. As consoantes iniciais de late e rate são chamadas de “líquidas”. As líquidas podem ser sons laterais ou róticos. O som inicial de late é chamado de lateral, uma vez que a obstrução ocorre na linha central do trato vocal e a corrente de ar flui pelas aberturas laterais do trato oral. Por sua vez, em inglês, o som inicial de rate pertence à classe dos segmentos róticos, que designa segmentos relacionados a um som de “r” (CRISTÓFARO-SILVA, 2011). No que diz respeito aos glides, conforme já visto, ainda que foneticamente tais segmentos apresentem características de vogais, esses se comportam, fonologicamente, como consoantes em função de sua distribuição na sílaba. Glides (ou semivogais) nunca podem ocupar o núcleo da sílaba e, portanto, estão sempre acompanhando uma vogal principal. Em yet e university, temos o glide [], e em what e one temos o glide []. Tanto as consoantes fricativas quanto as aproximantes são chamadas de sons contínuos (continuants). No site da University of IOWA, você poderá ver anima- ções dos articuladores em movimento, na realização dos pontos e modos de articulação que você desejar! https://goo.gl/RKvc6e O trato vocal: órgãos e funcionamento32 U1_C02_Fonética e fonologia do inglês.indd 32 07/09/2017 20:32:32 https://goo.gl/RKvc6e Classificando consoantes Uma consoante pode ser caracterizada por meio de três critérios: seu ponto de articulação, seu modo de articulação e seu vozeamento. É importante saber determinar esses parâmetros em cada uma das consoantes, uma vez que elas se diferenciam em função dessas propriedades. [] (sake) e [] (shake) são consoantes que compartilham o mesmo modo de articulação (fricativas) e o mesmo vozeamento (surdas ou desvozeadas), diferenciando-se apenas no ponto de articulação (alveolar e palatoalveolar, respectivamente). [] (bay) e [] (may) são consoantes que compartilham o mesmo ponto (bilabiais) e o mesmo vozeamento (sonoras ou vozeadas), diferenciando-se apenas no modo de articulação (plosiva e nasal, respectivamente).[] (few) e [] (view) são consoantes que compartilham os mesmos ponto e modo de articulação (fricativas labiodentais), diferenciando-se apenas no vozeamento (surdo e sonoro, respectivamente). Além disso, os fenômenos fonético-fonológicos de uma língua tendem a ocorrer entre consoantes que compartilham o mesmo ponto de articulação, modo de articulação ou vozeamento. Por meio dessas características, os seg- mentos se agrupam em grandes classes. A aspiração que ocorre no início de palavras, em inglês, ocorre em segmentos plosivos surdos iniciais. A partir de agora, você já é capaz de descrever, em termos articulatórios, cada uma das consoantes da língua inglesa. Comece a presentar atenção aos pontos e modos de articulação de cada consoante para que sua pronúncia fique mais clara e para que você possa entender outros falantes com maior facilidade. 33O trato vocal: órgãos e funcionamento U1_C02_Fonética e fonologia do inglês.indd 33 07/09/2017 20:32:32 Para saber mais sobre a caracterização articulatória das consoantes do inglês, leia o primeiro capítulo do livro “A course in phonetics”, de Ladefoged e Johnson (2011). O trato vocal: órgãos e funcionamento34 U1_C02_Fonética e fonologia do inglês.indd 34 07/09/2017 20:32:33 CRISTÓFARO-SILVA, T. Dicionário de fonética e fonologia. São Paulo: Contexto, 2011. LADEFOGED, P.; JOHNSON, K. A course in phonetics. 6th ed. Boston: Wadsworth; Cen- gage Learning, 2011. LAMPRECHT, R. R. et al. Consciência dos sons da língua: subsídios teóricos e práticos para alfabetizadores, fonoaudiólogos e professores de língua inglesa. 2. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2012. SEARA, I.; NUNES, V. G.; LAZZAROTTO-VOLCÃO, C. Para conhecer fonética e fonologia do português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2015. TAMBELI, C. H. Fisiologia oral. Porto Alegre: Artes Médias, 2014. YAVAS, M. Applied English phonology. 2nd ed. West Sussex: Wiley-Blackwell, 2011. Leituras recomendadas CELCE-MURCIA, M. et al. Teaching pronunciation: a course book and reference guide. Cambridge: Cambridge University, 2010. CRISTÓFARO-SILVA, T. Fonética e fonologia do Português: roteiro de estudos e guia de exercícios. 9. ed. São Paulo: Contexto, 2007. Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo: FONÉTICA E FONOLOGIA DO INGLÊS Ubiratã Kickhöfel Alves Andressa Brawerman-Albini Mariza Lacerda O sistema fonológico do inglês: vogais, consoantes e semivogais Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Enumerar as consoantes da língua inglesa e determinar quais delas não ocorrem no português brasileiro. Identi� car as vogais e semivogais da língua inglesa, a � m de contrastá- -las com os segmentos vocálicos e glides do português brasileiro. Ler transcrições fonéticas – realizadas com o Alfabeto Fonético Internacional. Introdução Você sabia que, em inglês, as palavras aural e oral têm a mesma pronúncia? E que as palavras man e men têm pronúncias diferentes? Para se certificar das pronúncias das palavras, é importante ser capaz de ler os símbolos fonéticos nos dicionários. Para isso, você precisa ter um bom conhecimento não somente desses símbolos, mas também saber dizer quais são os fonemas do inglês, bem como as possibilidades de pronúncia (variantes alofônicas) de cada fonema. Com este capítulo, você conseguirá entender melhor os símbolos referentes à pronúncia das palavras, ao buscá-las no dicionário. Com esse objetivo, você iniciará estudando os fonemas consonantais do in- glês. Após isso, você estudará o sistema fonológico das vogais. Por fim, você aprenderá um pouco mais sobre o uso dos símbolos fonéticos nos dicionários. U1_C03_Fonética e fonologia do inglês.indd 36 12/09/2017 08:42:42 As consoantes da língua inglesa Antes de você verifi car a descrição dos fonemas vocálicos e consonantais do inglês, é preciso que você tenha clara a diferença entre fonemas e alofones. O fonema corresponde às unidades sonoras da língua que apresentam a ca- pacidade de diferenciar signifi cado; apresentam, portanto, um status mental e funcional na língua em questão. São elementos que, “[...] quando substitu- ídos ou eliminados, mudam o sentido das palavras [...]” (SEARA; NUNES; LAZZAROTTO-VOLCÃO, 2015). Para verifi car se dois sons constituem fonemas em um dado sistema linguístico, basta fazer o teste da comutação: substitua um som por outro e veja se você vai ter um novo item lexical. A partir da comutação, verifi camos a possibilidade de pares mínimos, ou seja, duas palavras cujas cadeias sonoras se mostram idênticas exceto por um segmento, na mesma posição estrutural (CRISTÓFARO-SILVA, 2011). Se realmente houver um par mínimo, esses sons são capazes de modifi car signifi cado – é o caso de // e //, no inglês. São exemplos de pares mínimos, em inglês: taught // e thought // – que se diferenciam em função da consoante inicial; mood // e mud // – que se diferenciam em função da vogal que é núcleo da sílaba; lack // e laugh // – que se diferenciam em função da consoante final. As diversas variantes de um mesmo fonema podem ser chamadas de alofones. A substituição de um alofone por outro não implica diferença de significado. Por exemplo, em português, [] e [] são alofones de /t/, pois são duas variantes fonéticas que não causam diferença de significado nessa língua (a palavra “tia”, por exemplo, pode ser produzida como []ia ou []ia). Como exemplo de alofonia no inglês, na variedade norte-americana, o fonema /t/ pode ser pronunciado como uma plosiva [t] ou como um tepe (“tap”) [], caracterizado por uma única e rápida batida da língua nos alvéolos. Essas duas possibilidades podem ocorrer desde que o fonema /t/ se encontre entre dois sons vocálicos e não esteja iniciando uma sílaba tônica, tanto dentro da palavra (como em city) quanto entre palavras (com em at all). 37O sistema fonológico do inglês: vogais, consoantes e semivogais U1_C03_Fonética e fonologia do inglês.indd 37 12/09/2017 08:42:42 Muitos dos fonemas consonantais do inglês já são conhecidos. Grande parte deles, inclusive, é comum ao português e ao inglês. Os fonemas con- sonantais do inglês são apresentados na Figura 1. Veja que os exemplos de palavras empregados demonstram que, da comutação entre tais segmentos, há mudanças de significado. No material online do livro de Ladefoged e Johnson (2011), você pode ouvir as diferenças da produção de /t/ nas variedades britânica e norte-americana: https://goo.gl/T4vx2c Figura 1. Os fonemas consonantais do inglês. Fonte: Ladefoged (2005). buy die guy pie tie kite w why j (”y”) — l lie r rye m my ram n nigh ran rang f �e θ thigh s sigh shy mission h high v vie ð thy z Zion mizzen vision chime jive O sistema fonológico do inglês: vogais, consoantes e semivogais38 U1_C03_Fonética e fonologia do inglês.indd 38 12/09/2017 08:42:43 A maioria dos símbolos fonéticos utilizados é muito semelhante às letras do alfabeto. Chamam a atenção os símbolos ŋ (nasal velar – sing), θ (fricativa interdental surda – think), ð (fricativa interdental sonora – those), ʃ (fricativa palatoalveolar surda – shoe), (fricativa palatoalveolar sonora – usual), (afri- cada palatoalveolar surda – cheap) e (africada palatoalveolar sonora – gym). Além de apresentar os símbolos correspondentes aos fonemas consonan- tais, a Figura 1 organiza os segmentos em grupos, em função de seu modo de articulação. As palavras do primeiro grupo são iniciadas pelos segmentos plosivos. Tanto em português quanto em inglês, contamos com seis fonemas plosivos: //, //, /, //, // e //. A uma primeira vista, você pode pensar que, por termos os mesmos fonemas na língua materna, não é necessário incluí- -los na aula de pronúncia. Entretanto, em cada uma das línguas,há muitas diferenças entre o comportamento desses fonemas, bem como na maneira como eles são produzidos. Primeiramente, é preciso considerar que, em inglês, esses fonemas podem figurar em posição final de palavra, tal como em cop. Tal fato já implica um desafio para o aprendiz brasileiro, uma vez que ele deve aprender a não produzir um segmento vocálico ao final da plosiva, de modo que sua produção não soe como copy. Além disso, produzir diferenças entre pares mínimos como cap e cab, que se diferenciam em função da sonoridade da consoante final, também implica desafios para o aprendiz brasileiro de inglês. Há, ainda, a necessidade de aspiração em posição inicial de palavra (port) e de sílaba tônica (report), o que não acontece em português. O segundo grupo de fonemas consonantais agrupa a categoria das apro- ximantes, com dois glides (//, //) e duas líquidas (//, //). Os glides têm características fonéticas de vogais, mas se comportam como consoantes. No que diz respeito às líquidas, uma delas não ocorre no inventário fonológico do português: //, encontrada em palavras como rat e rope. Trata-se de uma consoante com ponto de articulação retroflexo, então a ponta da sua língua Você poderá ouvir a produção das palavras da Figu ra 1 ao acessar o link ou código a seguir: https://goo.gl/4gypB8 39O sistema fonológico do inglês: vogais, consoantes e semivogais U1_C03_Fonética e fonologia do inglês.indd 39 12/09/2017 08:42:44 tem de se curvar para produzi-la. Essa consoante é produzida como variante alofônica em algumas variedades do português brasileiro em final de sílaba, como em “par” e “por.ta” (o que caracteriza o denominado “sotaque do in- terior”). Mesmo assim, produzir tal consoante em posição inicial de sílaba pode representar um desafio para qualquer falante do português brasileiro. Alguns autores também transcrevem a consoante retroflexa com o símbolo // (YAVAS, 2011). O fonema /r/ diferencia as chamadas variedades róticas das não róticas, no inglês. Enquanto nas variedades róticas (presentes em boa parte dos Estados Unidos) a consoante /r/ é produzida foneticamente em final de sílaba ou pala- vra, nas variedades não róticas (sobretudo no inglês britânico), tal consoante tende a ser suprimida. Para saber mais sobre a produção do /r/ final, ouça novamente o áudio do primeiro link sugerido neste capítulo. Ao ouvir as palavras better e writer, note como a consoante é plenamente pronunciada na variedade norte-americana, mas não é pronunciada no inglês britânico. Com relação a /l/ – uma vez que, em português, temos palavras como “leite” e “anel” –, você poderia pensar, também, que não haveria necessidade de estudar a pronúncia de tal fonema. De fato, em posição inicial de sílaba, a produção desse fonema é semelhante em ambas as línguas; dessa forma, não é difícil produzir o /l/ de palavras como like e delicious. Entretanto, em posição final de palavra, tal fonema é produzido com velarização. Não é trivial, então, ensinar a produção de tal fonema em posição final de sílaba. No terceiro grupo da Figura 1, você encontra os fonemas nasais do inglês: //, // e //. Nesse grupo, você pode ver um espaço vazio para a nasal velar //. O sistema fonológico do inglês: vogais, consoantes e semivogais40 U1_C03_Fonética e fonologia do inglês.indd 40 12/09/2017 08:42:45 Isso acontece porque, em inglês, essa consoante somente é produzida em posição final de sílaba (como em ring e sing.ing). É por isso que uma segunda coluna é apresentada – para que se demonstre que tal consoante é capaz de modificar significado, considerando-se a comutação de segmentos em final de sílaba. Em posição final de sílaba, as produções dos fonemas // e // são diferentes em português e em inglês. Em inglês, essas consoantes finais são plenamente articuladas, diferentemente do que acontece em português. A nasal velar, por sua vez, é um alofone em português, também ocorrendo somente em posição final de sílaba. A nasal velar [], ainda que tampouco seja plenamente articulada, pode ser encontrada em palavras de nossa língua como “manca” e “manga”, por exemplo. Ela é produzida porque a nasal, nessa posição, já adapta seu ponto de articulação à da consoante inicial da sílaba anterior. Entretanto, em inglês, essa consoante pode ser produzida em posição final absoluta de palavra, como em king [], o que torna a sua produção bastante difícil. No penúltimo conjunto de fonemas da Figura 1, temos as fricativas. Nova- mente, temos um espaço em branco no fonema //. Isso porque somente palavras que correspondem a empréstimos estrangeiros podem ser iniciadas com essa consoante. Um exemplo é a palavra genre, trazida do francês. Em posição inicial de sílaba, a produção fonética desse fonema não é difícil, uma vez que temos palavras como “jeito” e “rejeitar” em português. Entretanto, sua produção em posição final de sílaba é, sim, difícil para brasileiros. Das fricativas, há três fonemas que não ocorrem em português: //, // e //. Com relação às fricativas interdentais, essas ocorrem tanto em posição inicial (//, think; //, this) quanto em final de palavra (//, teeth; //, bathe). Nessa última posição, é ainda mais difícil para o aprendiz conseguir pronunciá-las. Por sua vez, a fricativa // é glotal e surda e ocorre em palavras como hot e high, por exemplo. Para produzi-la, faça de conta que você está sem ar e expire forte: sua língua deve estar em posição de descanso. Em termos fonéticos, algumas variedades do português produzem tal fricativa em palavras como “parto” e “corpo”, em que o /R/ é seguido de uma consoante surda. Ainda 41O sistema fonológico do inglês: vogais, consoantes e semivogais U1_C03_Fonética e fonologia do inglês.indd 41 12/09/2017 08:42:45 assim, a produção de tal consoante em posição inicial, tal como em house e her, é difícil para qualquer brasileiro, independentemente do dialeto. Em inglês, // não pode figurar em posição final de sílaba. Finalmente, o último grupo é o dos dois fonemas africados. É preciso que o aprendiz aprenda que esses dois sons, ao contrário de no português, não são alofones de /t/ e /d/ e que a troca de [] por [], ou de por [] por [], pode causar mudanças de significado, tais como em till – chill e dim – gym. As vogais da língua inglesa O Português conta com 7 fonemas vocálicos: //, //, //, //, //, // e //. Em inglês, o número de fonemas vocálicos é bem maior. O número de vogais do inglês varia em função do dialeto que está sendo descrito, bem como em função do autor que descreve as vogais. Considerando-se monotongos e ditongos, a variedade norte-americana conta com um quadro de 15 elementos (LADEFOGED, 2005). O sistema fonológico do inglês: vogais, consoantes e semivogais42 U1_C03_Fonética e fonologia do inglês.indd 42 12/09/2017 08:42:45 Os aprendizes brasileiros tendem a apresentar mais dificuldades com vogais do que com consoantes, tanto em termos de percepção quanto de produção. Dentre essas dificuldades, pares de palavras tais como beat, // – bit, // e pool, // – poll, // são geralmente confundidos em termos perceptuais e não são produzidos de modo que a diferença entre os membros desses pares seja clara. Cabe mencionar, por ora, que os primeiros membros desses pares tendem a ser mais longos e mais altos, com maior tensão muscular. Sobretudo na variedade norte-americana do inglês, a diferença entre pares mínimos como men // e man // é, também, difícil. A impressão que o aprendiz brasileiro tem é de que está ouvindo sempre a vogal da palavra “pé”. Para produzir a diferença entre essas duas vogais, é preciso saber que a vogal de man é mais baixa (a vogal é mais aberta) e, consequentemente, mais longa. Você poderá ouvir a produção das palavras da Figura 2 ao acessar o link ou código a seguir. https://goo.gl/UfpBGf Figura 2. Fonemas vocálicos do inglês norte-americano. Fonte: Ladefoged (2005). 1 bead 9 bode 2 bid 10 booed 3 bayed 11 bud 4 bed 12 bird 5 bad 13 bide 6 bod(y) 14 bowed 7 bawd 15 Boyd 8 budd(hist) b___d IPA b___d IPA 43O sistema fonológico do inglês: vogais, consoantes e semivogais U1_C03_Fonética e fonologia do inglês.indd 43 12/09/2017 08:42:46 A vogal [] é representada, por muitos autores e dicionários, como [e]. Há vogais cujos símbolos fonéticos podem não parecer muitos simples. Dois bons exemplos são // e //. A vogal // é central, de altura média, produzida em monossílabos tônicos tais como cup e love. A produção dessa vogal não se mostra muito difícil para o aprendiz brasileiro. Ainda mais estranho pode parecer o símbolo da vogal []. Essa vogal é encontrada em palavras como bird e fur. Ela evidencia o fenômeno de r-coloring: quando uma vogal é seguida de um /r/, essa consoante tem a capacidade de afetar a qualidade de tal vogal. Esse é o caso de //: ela é uma vogal roticizada, que, no inglês americano, se diferencia de // justamente por demonstrar os efeitos de // sobre ela. Por sua vez, na variedade britânica, a consoante final /r/ não é pronunciada. Por esse motivo, neste dialeto, // e // são produzidas com uma qualidade distinta, sendo // realizada com a altura da língua um pouco mais baixa. A vogal // sempre será ortograficamente representada por um grafema vocálico seguido da letra <r>: learn, bird, fur. Há, ainda, uma vogal que não é apresentada na Figura 2, mas que é mui- tíssimo comum em qualquer variedade do inglês: trata-se do schwa []. Essa é a vogal mais frequente na língua inglesa. Ela não se encontra nesse quadro porque é, na verdade, o resultado de uma redução vocálica – trata-se de uma vogal não acentuada. Por exemplo, em atom, a vogal inicial é []. Já em atomic, em que a vogal inicial não é mais acentuada, tem-se a produção do schwa []. O aprendiz brasileiro precisa não se deixar levar pela influência da ortografia e produzir schwas nos contextos átonos. Por exemplo, em around, o aprendiz brasileiro tende a produzir a vogal inicial como [], com bastante intensidade e sem redução, de modo que soe como a round. O sistema fonológico do inglês: vogais, consoantes e semivogais44 U1_C03_Fonética e fonologia do inglês.indd 44 12/09/2017 08:42:47 É possível que você encontre, nas transcrições de dicionários de inglês britânico, o símbolo //. No inglês britânico, essa vogal ocorre em palavras como body, hot e clock (que, na variedade norte-americana, seriam produzidas como [] ou até mesmo como [], dependendo do dialeto). A vogal // é mais posterior e um pouco mais arredondada do que []. Para ver e ouvir o quadro de vogais do inglês britânico (LADEFOGED, 2005), acesse o link ou código a seguir: https://goo.gl/3Yqx8E Por fim, cabe falar sobre os ditongos. O número de ditongos também varia em função da variedade de inglês. No dialeto norte-americano, temos cinco ditongos (Figura. 2). Pronunciá-los não é complicado para um aprendiz brasileiro, e seus símbolos fonéticos não são difíceis de entender. Note que os ditongos apresentados na Figura 2 são todos decrescentes. Isso porque ditongos crescentes, tais como os encontrados em one // e yet //, são produzidos com um glide seguido de uma vogal, de modo que apenas o segundo elemento ocupe o núcleo da sílaba. Nos ditongos da Figura 2, não se considera a vogal mais fraca como glide consonantal: é por isso que tais ditongos estão sendo apresentados no quadro de vogais, de modo que ambos os segmentos do ditongo ocupem o núcleo da sílaba. Aprendendo a pronúncia de palavras em dicionários Uma das habilidades mais importantes a serem adquiridas com o estudo da Fonética e Fonologia do inglês diz respeito à capacidade de ler os símbolos fonéticos que se encontram nos dicionários de língua estrangeira. Essa ca- 45O sistema fonológico do inglês: vogais, consoantes e semivogais U1_C03_Fonética e fonologia do inglês.indd 45 12/09/2017 08:42:47 pacidade é muito importante, uma vez que possibilita ao aluno descobrir a pronúncia de qualquer palavra do léxico. Com os símbolos de vogais e consoantes que você viu até agora, você já se mostra instrumentalizado para “ler” os símbolos e produzir corretamente as palavras de cuja pronúncia você tem dúvidas. Trata-se de um exercício de prática que você vai desenvolvendo conforme for lendo mais e mais palavras –mas atenção: nem todos os dicionários de língua estrangeira apresentam os mesmos símbolos fonéticos! Dessa forma, os símbolos empregados neste capítulo não necessariamente serão os utilizados em seu dicionário. Por esse motivo, a primeira coisa que você deve fazer é buscar o quadro de símbolos fonéticos empregados no dicionário que você estiver usando. A listagem de símbolos fonéticos empregados no dicionário tende a estar nas primeiras ou últimas páginas do dicionário. Ao lado de cada símbolo empregado, há sempre um exemplo de palavra com o som correspondente. Geralmente, os dicionários comerciais de inglês em língua estrangeira tendem a fazer uma mistura entre transcrição fonética e transcrição fono- lógica. Grande parte dos dicionários usa barras / / em suas transcrições (o que denotaria uma transcrição fonológica), mas, ao mesmo tempo, apresenta aspectos fonéticos em tais transcrições, tal como a marcação da sílaba tônica. É importante ter em mente que os dicionários tendem a omitir aspectos fonéticos que sejam previsíveis pelo contexto. Dessa forma, na transcrição de palavras como report, por exemplo, dificilmente você encontrará um dicionário que apresente o símbolo [], correspondente à aspiração da plosiva //. Isso acontece porque tal fenômeno já é esperado: uma vez que tal consoante se encontra em posição inicial de uma palavra monossílaba, não há dúvida de que é necessário aspirar – dessa forma, os autores de dicionário presumem que não é necessário acrescentar essa informação. O sistema fonológico do inglês: vogais, consoantes e semivogais46 U1_C03_Fonética e fonologia do inglês.indd 46 12/09/2017 08:42:48 No caso de /l/ em final de sílaba, os dicionários não tendem a transcrever a velarização, representável pelo símbolo []. É esperado, mesmo assim, que você realize tal variante alofônica em palavras como feel e ball, por exemplo. Tampouco os dicionários tendem a trazer todas as variantes alofônicas que podem ocorrer em um mesmo contexto fonológico. No caso da palavra bit, por exemplo, o dicionário possivelmente transcreverá a palavra como //, sem mencionar que a consoante final pode ser produzida com explosão normal, sem explosão audível (símbolo []) ou até como uma plosiva glotal (símbolo []), dentre outras formas. No que diz respeito às variedades regionais, a maioria dos dicionários comerciais tende a apresentar dois dialetos: as variedades consideradas como padrão do inglês norte-americano e do inglês britânico. Existem dicionários específicos de pronúncia. Nesses dicionários, você não encontrará definições para os itens lexicais, apenas transcrições fonéticas das possibilidades de pronúncia já atestadas para uma determinada palavra. São dicionários, portanto, que abrangem uma maior gama de variedades regionais. Quando tiver dúvida sobre as diversas possibilidades de pronúncia de uma palavra, consulte o Longman Pronunciation Dictionary (WELLS, 2008). Além dos símbolos de vogais e consoantes, os dicionários são muito impor- tantes por apresentarem a sílaba tônica (ou seja, a sílaba mais forte) da palavra. É também importante verificar, na lista de símbolos utilizados, como a sílaba tônica é demarcada. Na maioria dos dicionários comerciais de língua inglesa, geralmente é utilizado o símbolo [] para demonstrar que a sílaba tônica é a seguinte. Nas palavras que apresentam acento secundário (não tão forte quanto o primário), utiliza-se o diacrítico [] antes de tal sílaba. 47O sistema fonológico do inglês: vogais, consoantes e semivogais U1_C03_Fonéticae fonologia do inglês.indd 47 12/09/2017 08:42:48 No MacMillan Dictionary (c2017), a palavra de duas sílabas giraffe é transcrita como //. Por sua vez, a palavra de três sílabas chimpanzee, com acento primário e secundário, é transcrita como //. 1. Sobre as consoantes // e //, pode-se dizer que, em inglês: a) Ambas podem tanto iniciar quanto terminar uma sílaba. b) Nenhuma das duas pode iniciar sílabas. c) Nenhuma das duas pode terminar sílabas. d) // somente inicia sílabas, e // somente termina sílabas. e) // apenas inicia sílabas, e // somente termina sílabas. 2. Considere as seguintes afirmações: I. A nasal velar // é um alofone em português, mas é um fonema em inglês. II. A fricativa glotal // é um fonema em português, mas é um alofone em inglês. III. A africada surda // é um alofone em português, mas é um fonema em inglês. Estão certas: 3. Em qual das alternativas todas as palavras podem ter o fonema /t/ produzido como um tap? a) attend – city – at all b) exotic – photo – worked a lot c) attic – active – at all d) exotic – active – put it e) attic – photo – put it 4. Um dicionário apresenta as seguintes transcrições: //, //, // e //. A que palavras essas transcrições se referem, respectivamente? a) pull – ship – bet – caught b) pull – ship – bat – cut c) pool- sheep – bet – caught d) pool – sheep – bat – cut e) pull – sheep – bet – caught 5. As transcrições das palavras shut, shot, shoot e sheet são, respectivamente: a) //, //, //, // b) //, //, //, // c) //, //, //, // d) //, //, //, // e) //, //, //, // O sistema fonológico do inglês: vogais, consoantes e semivogais48 U1_C03_Fonética e fonologia do inglês.indd 48 12/09/2017 08:42:49 CRISTÓFARO-SILVA, T. Dicionário de fonética e fonologia. São Paulo: Contexto, 2011. LADEFOGED, P. Vowels and consonants. 2nd ed. [S.l.]: Blackwell Publishing, 2005. Áudios e figuras disponíveis em: <http://www.phonetics.ucla.edu/vowels/contents.html>. Acesso em: 15 ago. 2017. LADEFOGED, P.; JOHNSON, K. A course in phonetics. 6th ed. Boston: Wadsworth Cen- gage Learning, 2011. Áudios e material suplementar disponível em: <http://www. phonetics.ucla.edu/course/contents.html>. Acesso em: 15 ago. 2017. MACMILLAN DICTIONARY. [S.l.]: MacMillan, c2017. Disponível em <http://www.mac- millandictionary.com/>. Acesso em: 17 ago. 2017. SEARA, I.; NUNES, V. G.; LAZZAROTTO-VOLCÃO, C. Para conhecer fonética e fonologia do português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2015. WELLS, J. C. Longman pronunciation dictionary. 3rd ed. Essex: Pearson, 2008. YAVAS, M. Applied English phonology. 2nd ed. West Sussex: Wiley-Blackwell, 2011. Leituras recomendadas CELCE-MURCIA, M. et al. Teaching pronunciation: a course book and reference guide. Cambridge: Cambridge University, 2010. ZIMMER, M. C.; SILVEIRA, R.; ALVES, U. K. Pronunciation instruction for Brazilians: bringing theory and practice together. Newcastle Upon Tyne: Cambridge Scholars, 2009. 49O sistema fonológico do inglês: vogais, consoantes e semivogais U1_C03_Fonética e fonologia do inglês.indd 49 12/09/2017 08:42:50 FONÉTICA E FONOLOGIA DO INGLÊS Ubiratã Kickhöfel Alves Andressa Brawerman-Albini Mariza Lacerda Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 Revisão técnica: Monica Stefani Bacharela em Letras – habilitação português/inglês Mestra em Letras – Literaturas de língua inglesa/literatura australiana Doutora em Letras – Literaturas de língua inglesa/estudos de tradução A474f Alves, Ubiratã Kickhöfel. Fonética e fonologia do inglês / Ubiratã Kickhöfel Alves, Andressa Brawerman-Albini, Mariza Lacerda ; [revisão técnica: Monica Stefani]. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. 164 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-162-4 1. Fonética. 2. Fonologia. I. Língua inglesa. II. Brawerman-Albini, Andressa. III. Lacerda, Mariza. IV. Título. CDU 37 Iniciais_Fonética e fonologia do inglês.indd 2 10/09/2017 12:31:37 O sistema consonantal do inglês Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever as propriedades articulatórias das consoantes do inglês. Reconhecer formas variantes dos fonemas consonantais do inglês. Explicar as di� culdades enfrentadas pelos alunos brasileiros na aqui- sição do sistema consonantal do inglês. Introdução Você sabia que, apesar de serem uns dos sons mais ressaltados na língua inglesa, as consoantes [] e [] não correspondem a prioridades no ensino de inglês? De fato, nem todos os dialetos do inglês a produzem. E quais outras possibilidades de diferenças dialetais você conhece no que diz respeito à produção das consoantes? Neste capítulo, você iniciará estudando as consoantes do inglês e suas possibilidades de variação contextual (ou seja, em função da posição que ocupam na sílaba, na palavra e na frase). Em seguida, estudará as possibilidades de variação dialetal referentes às consoantes. Após essa descrição, você aprenderá mais sobre as dificuldades dos aprendizes brasileiros na aquisição do sistema consonantal, de modo a refletir sobre as prioridades de ensino a aprendizes brasileiros de inglês. Descrevendo as consoantes Ao descrever as consoantes por meio de seu ponto de articulação, modo de articulação e vozeamento, você já aprendeu muitíssimo sobre a produção de cada um desses segmentos. Dada a importância dessa caracterização, a Figura 1 apresenta o quadro consonantal do inglês. No caso de duas consoantes com dois segmentos na mesma célula, a primeira consoante é sempre surda, e a U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 68 12/09/2017 08:54:49 segunda, sonora. No caso de células com apenas um segmento, com exceção de //, todos esses segmentos são sonoros. A organização dos segmentos em termos de modo de articulação também permitirá estudar as peculiaridades de cada modo, bem como as suas possibilidades de variação. Figura 1. Quadro de consoantes do inglês. Fonte: Eulenberg (2011). Stop Fricative A�ricate Nasal Lateral Rhotic Glide Li qu id So no ra nt O bs tr ue nt Voiceless Voiced Voiceless Voiced Voiceless Voiced Voiced Voiced Voiced Voiced () () MANNER VOICING Bilabial Labiodental Interdental Alveolar Palatal Velar Glottal PLACE Caso necessite revisar os conceitos sobre ponto de articulação, modo de articulação e vozeamento, veja o vídeo produzido na University of British Columbia sobre a produção de consoantes do inglês: https://goo.gl/MBVvSL A descrição desses três parâmetros é necessária sobretudo para caracterizar a produção individual de cada som. Dentro de uma sílaba, de uma palavra ou de uma frase, as consoantes mostram grande variabilidade. Essa variabilidade também depende das características articulatórias dos elementos sonoros contíguos entre si. Muitas dessas características podem ser previstas com a ajuda do quadro acima. 69O sistema consonantal do inglês U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 69 12/09/2017 08:54:52 Plosivas Ao longo deste curso, você já ouviu falar muito sobre as plosivas. Você sabe que elas são caracterizadas por diferentes etapas de articulação: é preciso movimentar os articuladores para que eles se aproximem e ocasionem a se- gunda etapa, caracterizada pelo bloqueio total de ar. Após este bloqueio de ar, há a soltura, que se dá de modo forte, como uma explosão. As plosivas são caracterizadas, por muitos autores, como os elementos segmentais mais versáteis (YAVAS, 2011). Como você já sabe, faz-se necessária a aspiração das plosivas surdas em posição inicial de palavra e de sílaba tônica. Além Para saber um pouco mais sobre a não soltura (unrele- ase), veja o vídeo do canal Fluent IQ, do YouTube, em: https://goo.gl/7WRsuD disso, você também precisa saber que, na posição de fi nal desílaba, há a pos- sibilidade de as consoantes plosivas serem produzidas sem soltura audível de ar (“unreleased”), o que é representado com o símbolo [ ] após o segmento plosivo (p. ex.: [], []). A não soltura é um fenômeno variável no inglês, podendo acontecer nos casos em que a consoante em final de sílaba é seguida por silêncio, ou, então, por outra consoante plosiva ou nasal. Tal consoante seguinte pode estar dentro de uma mesma sílaba (act [], apt []), em uma sílaba seguinte (captain [.]) ou, inclusive, em uma palavra seguinte (that day []). É justamente no caso das consoantes sem soltura audível que se faz neces- sário prestar atenção na duração da vogal precedente para diferenciar pares mínimos como cap e cab. De fato, não é necessário (e tampouco natural) produzir essas consoantes finais com uma explosão exagerada, no intento de demonstrar a presença ou ausência de vozeamento; é preciso enfatizar O sistema consonantal do inglês70 U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 70 12/09/2017 08:54:52 a duração da vogal, de modo que a duração vocálica da consoante antes do segmento sonoro seja maior. A duração da vogal também se mostra importante em casos em que tanto a plosiva /t/ da palavra writer quanto a consoante /d/ de rider são produzidas com tepe. Nesse caso, a duração do ditongo em rider também será maior. Os contextos em que a plosiva pode ser produzida sem soltura audível possibilitam, também, a realização de uma outra variante: a plosiva glotal []. Trata-se de uma plosiva surda, caracterizada como “o som (ou falta de som) que ocorre quando as pregas vocais estão juntas uma à outra, de modo a fechar a glote” (LADEFOGED; JOHNSON, 2011, p. 61). Para ouvir exemplos de palavras encerradas por plosivas sem soltura audível, com plosivas glotais e até com ambas, visite a página do Professor Peter Ladefoged: https://goo.gl/bNpvN9 A oclusiva glotal geralmente pode ser ocorrer como um alofone de /t/ e pode ser encontrada tanto em final de palavra (rat []) quanto em palavras como button ([.], em que o /t/ vem seguido de /n/, que acaba ocupando o núcleo silábico. 71O sistema consonantal do inglês U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 71 12/09/2017 08:54:53 Se, por um lado, a produção de um /t/ seguido de /n/ pode resultar na realização da plosiva como uma oclusiva glotal [], um /n/ seguido de /t/ átono (sem aspiração), por sua vez, pode resultar em formas variáveis com o apagamento da plosiva. Dessa forma, em international, você pode ter a equivocada impressão de ter ouvido inner national. Fricativas e africadas As fricativas interdentais [] (think) e [] (those) tendem a roubar a cena no contexto de ensino, ainda que a sua substituição não tenda a afetar a inteligi- bilidade em língua estrangeira. No que diz respeito a essas duas consoantes, é importante que você saiba que, ao preceder as fricativas alveolares /s, z/, elas tendem a ser apagadas. A palavra clothes pode ser produzida como []. A duração da vogal é, entretanto, um pouco mais curta do que a de close. Com relação à posição inicial da sílaba, ainda mais importante é a pro- dução de [] como fricativa surda e glotal. Não produza essa consoante com vozeamento. Além disso, a língua deve estar em posição de repouso. O sistema consonantal do inglês72 U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 72 12/09/2017 08:54:53 No que diz respeito a fricativas em coda, tais segmentos tendem a ser parcialmente dessonorizados em contextos antes de pausa (final de frase) ou antes de uma plosiva ou fricativa sonora (como em prove to). O vozeamento pleno da fricativa em final de palavra somente será verificado quando tal consoante for seguida de uma vogal (p. ex.: save a girl) ou outra consoante sonora (como em sounds nice). Novamente, em pares mínimos como safe ([] final) e save ([] final) ou lace ([] final) e laze ([] final), assim como nas plosivas, a duração da vogal precedente é a pista acústica que contribui para a distinção. Não há a necessidade, portanto, de forçar um vozeamento exagerado para o segmento fricativo sonoro, uma vez que a vogal já serve como indicador do status de sonoridade. A questão da duração das vogais também é válida para as africadas: a vogal tende a ser mais longa antes de badge [] do que de batch []. Veja este vídeo sobre a pronúncia da fricativa [] no canal English Pronunciation Roadmap, do https://goo.gl/5aNHAz Veja este vídeo do canal Rachael´s English, do You- Tube, em que é explicado o desvozeamento das fricativas finais e a duração da vogal precedente: https://goo.gl/tS8ugz 73O sistema consonantal do inglês U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 73 12/09/2017 08:54:54 Nasais É na posição fi nal de sílaba, sobretudo, que as consoantes nasais do inglês se diferenciam das do português. Muitos aprendizes pronunciam a palavra him do inglês como se estivessem realizando a nasal da palavra “rim” do português brasileiro. Você consegue notas as diferenças das duas línguas, no que diz respeito à vogal e à nasal? Primeiramente, em português brasileiro, a vogal é muito mais nasalizada, pois ela sofre o efeito da nasalização da consoante seguinte. Em função disso, tampouco a consoante é plenamente articulada, uma vez que a vogal já carregou grande parte da nasalidade. Em inglês, ainda que haja uma certa nasalização da vogal, ela é muito menor do que em nossa língua, dado que a consoante é plenamente articulada. Em outras palavras, a consoante [], em fi nal de sílaba, é realmente realizada com uma articulação bilabial, de modo que você tenha que realmente realizar a obstrução total dos articuladores, ao contrário do que existe em inglês. Veja o vídeo da Professora Karina Fragozo no canal En- glish in Brazil, do Youtube, para aprender a diferença entre o /m/ final no português brasileiro e no inglês: https://goo.gl/zvAfv1 Além disso, brasileiros tendem a ditongar a vogal nasalizada. Uma pala- vra como “tem”, em português, é produzida com um ditongo nasalizado. A nasalidade cai tanto sobre a vogal, que o ponto de articulação da consoante nasal é pouco identificável. Em inglês, ao pronunciar uma palavra como ten, é preciso, por sua vez, realizar a consoante final com a produção alveolar completa. Em outras palavras, em inglês, tanto o [m] quanto o [n] devem ser produzidos de forma igual em início e final de sílaba. O sistema consonantal do inglês74 U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 74 12/09/2017 08:54:54 Em pares mínimos como them e then, saber articular plenamente a consoante final faz toda a diferença! Ainda no que diz respeito às nasais, é preciso prestar atenção na distribuição da nasal velar. Lembre-se de que a articulação dessa consoante é semelhante à de uma plosiva velar ([] ou []), porém o ar deve ser liberado pelo nariz. Essa nasal, na língua inglesa, pode ocorrer seguida ou não de uma plosiva velar (p. ex.: sing [], sink []). Ainda que possamos encontrar tal con- soante como um alofone em português, em palavras como “cinco” (em que a nasal é também seguida por uma plosiva velar na sílaba seguinte), aprender a pronunciá-la com articulação plena (sem demasiada nasalização da vogal) em palavras como sink é um desafio. Além disso, saber produzi-la com plena articulação em posição final de sílaba, sem uma consoante plosiva de apoio, é uma das grandes dificuldades do aprendiz brasileiro. Na sequência ortográfica <ng> em final de palavras, podemos encontrar uma produção variável, com ou sem a plosiva []. Nos dialetos em que tal sequência ortográfica é produzida como [] em vez de [], é preciso prestar atenção, também, nas palavras derivadas dessa palavra. Em tais dialetos, em singer, por exemplo, tampouco será produzida a plosiva [] (p. ex.: [.]), o que pode tornar a compreensão auditiva dessa palavra um pouco mais difícil. Agora preste atenção às palavras finger e longer. Você vai ver que,nessas duas palavras, a plosiva [] é pronunciada inclusive nos dialetos que não rea- lizam tal consoante final em sing ou rang. Por que isso acontece? Em finger, a plosiva é produzida porque a sequência <ng> faz parte da raiz da palavra. Por sua vez, em longer temos um caso excepcional – ainda que, na variedade padrão do inglês, não se produza a vogal em sing, singer e no próprio adjetivo long, a plosiva deve ser sempre produzida em formas com o sufixo comparativo –er e o superlativo –est. Dessa forma, em stronger, strongest, longer e longest, por exemplo, a plosiva [] será sempre explodida. Esse é um excelente exemplo da interação da morfologia com a fonologia na língua inglesa. 75O sistema consonantal do inglês U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 75 12/09/2017 08:54:55 No caso em que –er não é um sufixo comparativo, a plosiva [] não é realizada nos dialetos que não a realizam em posição final na sequência <ng>. Por exemplo: hang – hanger ([] – [.]; sing – singer ([] – [.]). Dessa forma, o sufixo –er exige a produção da oclusiva quando corresponde à forma comparativa. Aproximantes Com relação às aproximantes, além da produção da líquida retrofl exa em rat e car (lembre-se de que, na variedade britânica, tal consoante não é produzida em fi nal de sílaba), é preciso chamar a atenção para a articulação do /l/ escuro (dark /l/), que ocorre em fi nal de sílaba. Sua tendência, como falante de por- tuguês brasileiro, é de produzir tal consoante como um glide (como se você estivesse produzindo a palavra “fi o” em português). Com essa realização, não é produzida uma distinção entre few e feel. Atente para o fato de que, quando o fonema /l/ se encontra em posição de início de sílaba, a tendência é produzi- -lo como um /l/ claro (alveolar), assim como o da palavra “lá” em português. A produção do /l/ claro também tende a acontecer quando tal consoante em fi nal de palavras for seguida, sem pausas, por uma vogal, como em doń t kill it. Por sua vez, o segmento /l/ mantém-se como velarizado (escuro) antes de consoantes, como em doń t kill dogs (LADEFOGED; JOHNSON, 2011, p. 69). Ouça os exemplos do parágrafo anterior na página do professor Peter Ladefoged e pratique sua produção de /l/. https://goo.gl/FXdfV8 O sistema consonantal do inglês76 U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 76 12/09/2017 08:54:55 Por sua vez, os glides não tendem a causar dificuldades ao aprendiz bra- sileiro. Note que, na Figura 1, o glide /w/ se encontra em duas células (pontos de articulação bilabial e velar) por apresentar dois pontos de articulação: ele é labial e velar ao mesmo tempo. Caso ainda haja dificuldades com a produção do sistema consonantal do inglês, treine com exercícios de três manuais de pronúncia de inglês específicos para o público brasileiro: Godoy, Gontow e Marcelino (2006), Silveira, Zimmer e Alves (2009) e Cristófaro-Silva (2012). Variação das consoantes em função do dialeto As consoantes apresentam muitíssima diversidade dialetal. Nesta seção, você se concentrará naqueles aspectos que já se mostram mais bem documentados na literatura ou que apresentam maior difi culdade, em termos de percepção, ao aprendiz brasileiro de inglês. Ao começar pelos segmentos plosivos, você já sabe sobre a possibilidade de realização da plosiva glotal em final de palavra ou em palavras como bitten, em que o /t/ é seguido pela nasal de mesmo ponto. Entretanto, no dialeto do Cockney English (região do East End de Londres), há, também, a realização da plosiva glotal entre vogais, como em butter [], kitty [], fatter [] ou até mesmo antes de uma vogal substituindo /h/, como em how []. Para ouvir a produção da plosiva glotal nesses con- textos, veja o vídeo do canal British English Pro, do YouTube: https://goo.gl/Whkx8A 77O sistema consonantal do inglês U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 77 12/09/2017 08:54:56 Palavras como kitty e fatter tenderiam a ser produzidas por um falante norte-americano como um tepe. Você já sabe que o tepe corresponde a um alofone de /t/ ou /d/ quando essa consoante se encontra entre sílabas e não se encontra no início de uma sílaba tônica. É importante que você ainda saiba que o tepe pode ocorrer, também, em palavras como bottle [] e little [], em que a consoante lateral /l/ é produzida como núcleo de sílaba. Em dialetos que não produzem o tepe, este [t] pode, ainda, ser aspirado (YAVAS, 2011). Os segmentos fricativos, por sua vez, já não apresentam tantas variações quanto as plosivas, com exceção das interdentais [] e [] e das palatoalveo- lares. No que diz respeito às interdentais, é preciso deixar claro que alguns dialetos do inglês, tais como o da cidade de Nova York e do Sul da Irlanda, não produzem esses sons, sendo possível realizá-los como [] e [] dentalizados. Uma vez que [] e [] não são produzidos em alguns dialetos (e que, além disso, não implicam problemas para a inteligibilidade – cf. JENKINS, 2000), tais segmentos não correspondem a prioridades de ensino de pronúncia, apesar de serem bastante ressaltados em qualquer aula de inglês. No que diz respeito às fricativas palatoalveolares, podemos encontrar diferenças no vozeamento em função do dialeto. Enquanto palavras como Asia, Persia e version são produzidas com a consoante sonora [] no inglês norte-americano, tais palavras podem ser produzidas com [] ou [] no inglês britânico. Por sua vez, as fricativas de issue e sensual são categoricamente produzidas como [] na variedade norte-americana, mas tanto como [] ou [] no inglês britânico (YAVAS, 2011). Por fim, ainda a respeito das fricativas, cabe mencionar a variação encontrada na palavra schedule: enquanto na variedade britânica ela é produzida como [], na variedade norte-americana, é produzida como []. Diferenças em certas palavras também são en- contradas em relação às africadas: enquanto statue e virtue são produzidas invariavelmente como [] na variedade norte-americana, na britânica tais palavras podem ser pronunciadas com [] ou []. O sistema consonantal do inglês78 U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 78 12/09/2017 08:54:56 O mesmo acontece com a contraparte sonora da africada, em palavras como individual e education, produzidas como [] no inglês norte-americano e como [] e [] no inglês britânico. No que diz respeito às nasais, o segmento velar é sujeito a bastante variação. Lembre-se de que a sequência ortográfica <ng> final de sing e rung pode ser produzida como [] em alguns dialetos – tais como o da cidade de Nova York (PENNINGTON 1996 e o do Norte da Inglaterra (YAVAS, 2011). Além disso, na variedade norte-americana, // pode vir a ser produzida como [n] em posições átonas, sobretudo no presente contínuo, como em He is talking. No que diz respeito às líquidas, lembre-se da produção variável da consoante // em coda. Ainda que se tenda a generalizar a presença/ausência de /r/ em função das variedades norte-americana e britânica, há de se considerar que, no Leste dos Estados Unidos, há variedades que tampouco produzem essa consoante. Quanto à produção do fonema /l/, algumas variedades, tais como a de Wales, produzem o /l/ final como alveolar (clear /l/); outras variedades, por sua vez, podem produzir o /l/ final como uma semivogal. Por fim, no que diz respeito ao glide, ao passo que tune, nude e news são produzidas como [], [] e [] na variedade norte-americana, há a produção de um ditongo ([]) na variedade britânica. Isso acontece porque, na variedade norte-americana, [] não pode seguir uma obstruinte alveolar. Entretanto, após segmentos bilabiais (music, pure), velares (cure, cute) ou soantes (tenure, failure), há a produção de um ditongo em ambos os dialetos. Dificuldades do aprendiz brasileiro Muitas das difi culdades com consoantes resultam em problemas de inteligi- bilidade. Com relação ao aprendizado das consoantes do inglês,exemplos de prioridades de ensino são listados a seguir: Aspiração das plosivas: /p/, /t/, /k/ em posição inicial de palavra e sí- laba tônica precisam ser aspiradas. Do contrário, podem-se confundir produções como pit e bit; 79O sistema consonantal do inglês U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 79 12/09/2017 08:54:56 Diferenciação da duração vocálica de diferenças funcionais entre pares mínimos terminados por consoantes surdas e sonoras (lit – lid e hiss – his): é importante que o aluno tenha clara essa distinção – não somente para tornar sua fala mais inteligível, mas também para melhorar sua compreensão oral. Articulação plena das nasais finais: além de denotar grande sotaque estrangeiro, a não articulação plena da consoante pode ter consequências para a inteligibilidade. Além dessas dificuldades, ressaltam-se aqui substituições consonantais realizadas pelo aprendiz de inglês. Muitas dessas substituições são simples- mente resultado da transferência dos padrões grafo–fônico–fonológicos do português ao inglês (ZIMMER; SILVEIRA; ALVES, 2009). A pronúncia da consoante retroflexa [] é um bom exemplo disso. Os aprendizes tendem a produzir rat e real, por exemplo, com a mesma pronúncia com que produzem a letra <r> das palavras “rato” e “real” do português. Por sua vez, a fricativa [] de hat também é produzida com essa mesma consoante. Dessa forma, o aprendiz brasileiro tende a produzir, de maneira homófona, pares mínimos como rat – hat e hose – rose. Atente para o fato de que nem rat, tampouco hat, são produzidas com a consoante inicial da palavra “rato”. Na palavra rat do inglês, é preciso realizar um segmento líquido retroflexo. Em hat, a consoante é uma fricativa glotal surda que você produz como se estivesse sem fôlego. Trata-se de sons diferentes entre si, sendo ambos diferentes do que você encontra no início de sílaba do português. Uma grande confusão diz respeito aos fonemas /t/, //, /t/, ou suas con- trapartes sonoras //, //, //. Uma das primeiras dificuldades é quanto à distinção entre [] e [], ou [] e [], nos dialetos de português brasileiro que palatalizam a oclusiva alveolar inicial. Entretanto, mesmo nos dialetos em que não haja tal efeito da L1, ainda há dificuldade em função dos padrões grafo–fônico–fonológicos da língua materna. Em função da grafia de <ch> em português e em inglês, no que diz respeito à consoante surda, a africada O sistema consonantal do inglês80 U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 80 12/09/2017 08:54:57 // tende a ser produzida como [], de modo que muitos aprendizes podem vir a não fazer a distinção entre chair [] e share []. Os correlatos ortográficos de [] são <sh> (share), <c>, (ocean), <s> (sure), <t> (station) e <ss> (mission). Dessa forma, <ch>, em inglês, não é um correlato ortográfico de []. Os correlatos ortográficos de [] são <ch> (chair), <t> (nature), <c> (cello) e <tch> (watch). Já no que diz respeito às consoantes sonoras, a situação se mostra ainda mais complexa, uma vez que o grafema <g>, quando seguido do grafema <e>, serve como como correlato ortográfico tanto de [] (massage) quanto de [] (message). Dessa forma, produções equivocadas de massage com [] final não são incomuns entre os aprendizes brasileiros. Os grafemas <z> (azure) e <s> (pleasure) podem ser correlatos de [], mas não de []. Os grafemas <j> (Jack), <dj> (adjective), <gg> (suggest), <dge> (edge) podem ser correlatos de [], mas não de []. Por sua vez, o grafema <g> pode representar tanto [] (garage) quanto [] (massage). Ainda com relação aos efeitos da transferência grafo–fônico–fonológica do português ao inglês, podemos mencionar a produção de palavras como think e that como [t]ink e [t]at, demonstrando, dessa forma, influência da ortografia. Essas produções ocorrem nas primeiras etapas de aquisição do aluno brasileiro. Após algum tempo, palavras como think e thought, que apresentam a consoante surda inicial, passam a ser produzidas como [f] ou [s], e palavras como them e that, que apresentam a fricativa sonora, passam a ser produzidas com [d]. Note que, ainda que não produza os sons da língua-alvo, o aprendiz acaba preservando o vozeamento da consoante estrangeira, uma vez que substitui [] por consoantes surdas e [] por sonoras. Essas substituições, 81O sistema consonantal do inglês U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 81 12/09/2017 08:54:57 dessa forma, servem como um bom preditor para que professores saibam se o <th> está representando a consoante surda ou a sonora. Pense em como os alunos de inglês produzem: a produção do aprendiz, ainda que não venha a ser a fricativa interdental, terá a sonoridade da consoante-alvo. É preciso deixar claro, além disso, que substituições desse tipo são realizadas pelos próprios falantes nativos de inglês, conforme já afirmado. Cabe, ainda, mencionar novamente a dificuldade de realização de /l/ final. Ao produzir o /l/ final como [], o aprendiz poderá levar à confusão de pares mínimos. Entretanto, ainda são necessários estudos que demonstrem se tal alteração exerce efeitos sobre inteligibilidade. É importante levar em conta que tais substituições são realizadas, inclusive, por algumas variedades da língua inglesa. Em suma, ao trabalhar a produção de consoantes, o professor deve ter em mente a necessidade de explorar, prioritariamente, aqueles aspectos que podem ter efeitos na compreensão da fala do aluno por parte de ouvintes que não compartilham a sua língua materna. Trabalhar a percepção dos sons, explorar a variação linguística e as possibilidades de previsibilidade fornecidas pelas correspondências entre letra e som podem representar estratégias importantes para desenvolver o sistema fonológico do inglês entre brasileiros. Para exemplos de atividades de sala de aula com consoantes, veja Kelly (2000). O sistema consonantal do inglês82 U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 82 12/09/2017 08:54:57 1. Em qual destas palavras deve ser produzida uma nasal velar? a) bench b) drunk c) pants d) camp e) lend 2. Em qual das alternativas o segundo membro dos pares mínimos apresentados tem uma vogal mais longa do que a do primeiro? a) phase – face b) lag – lack c) leaf – leave d) his – hiss e) badge – batch 3. Assinale a alternativa em que pode ser produzido um /l/ claro: a) I cań t fall behind. b) All I want is you. c) Why doń t you answer my call? d) Yoú re a fool to everyone. e) Is that all? 4. Assinale a alternativa cujas palavras sejam produzidas com o ditongo [] tanto na variedade norte- americana quanto na britânica: a) pure, nude b) cute, lute c) news, music d) pure, cute e) lute, news 5. Assinale a alternativa que apresenta correlatos ortográficos de []: a) <sh>, <tch>, <ch> b) <sh>, <t>, <ch> c) <ss>, <tch>, <c> d) <c>, <tch>, <sh> e) <t>, <tch>, <ch> BRITISH ENGLISH PRO. What is a glottal stop? Disponível em: <https://www.youtube. com/watch?v=_4MJUi03GHM>. Acesso em: 22 ago. 2017. CRISTÓFARO-SILVA, T. Pronúncia do inglês: para falantes do português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2012. ENGLISH IN BRAZIL – by Karina Fragozo. Pronúncia do inglês: /m/ final. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=YDiChZWYqfc>. Acesso em: 22 ago. 2017. ENGLISH PRONUNCIATION ROADMAP. How to Pronounce H. Disponível em: <https:// www.youtube.com/watch?v=kv6EAPVGCNU>. Acesso em: 22 ago. 2017. EULENBERG, J. Descriptive Phonetics. 2011. Disponível em: <https://msu.edu/course/ asc/232/index.html#Special>. Acesso em: 26 ago. 2017. 83O sistema consonantal do inglês U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 83 12/09/2017 08:54:58 FLUENT IQ. Real English # 24: Voiceless stops – end of words. Disponível em: <https:// www.youtube.com/watch?v=2Q7FhlCDApQ<. Acesso em: 22 ago. 2017. GODOY, S. M. B.; GONTOW, C.; MARCELINO, M. English Pronunciation for Brazilians: the Sounds of American English. São Paulo: Disal, 2006. JENKINGS, J.The Phonology of English as an International Language. Oxford: Oxford University Press, 2000. KELLY, G. How to Teach Pronunciation. Essex: Pearson Longman, 2000. LADEFOGED, P.; JOHNSON, K. A Course in Phonetics. 6. ed. Boston: Wadsworth – Cen- gage Learning, 2011. Áudios e material suplementar disponível em: <http://www. phonetics.ucla.edu/course/contents.html>. Acesso em: 15 ago. 2017. PENNINGTON, M. C. Phonology in English Language Teaching: an International Appro- ach. London: Longman, 2006. RACHEĹ S ENGLISH. Ending Voiced vs. Unvoiced Consonants – American Accents. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=IG95Nc_KV5g>. Acesso em: 22 ago. 2017. SILVEIRA, R.; ZIMMER, M.; ALVES, U. K.. Pronunciation Instruction for Brazilians: student´s book. Newcastle upon Tyne: Cambridge Scholars Publishing, 2009. UNIVERSITY OF BRITISH COLUMBIA. Introduction to Articulatory Phonetics (Conso- nants). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=dfoRdKuPF9I&t=246s>. Acesso em: 15 ago. 2017. YAVAS, M. Applied English Phonology. 2. ed. West Sussex: Wiley-Blackwell, 2011. ZIMMER, M. C.; SILVEIRA, R.; ALVES, U. K. Pronunciation Instruction for Brazilians: brin- ging Theory and Practice Together. Newcastle upon Tyne: Cambridge Scholars Publishing, 2009. Leituras recomendadas CELCE-MURCIA, M.; BRINTON, D. M.; GOODWIN, J. M; GRINER, B. Teaching Pronunciation: a Course Book and Reference Guide. Cambridge: Cambridge University Press, 2010. KREIDLER, C. The Pronunciation of English: a Course Book. 2. ed. Oxford: Blackwell Publishing, 2004. O sistema consonantal do inglês84 U2_C05_Fonética e fonologia do inglês.indd 84 12/09/2017 08:54:58 FONÉTICA E FONOLOGIA DO INGLÊS Ubiratã Kickhöfel Alves Andressa Brawerman-Albini Maria lacerda Estrutura silábica Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Caracterizar a estrutura suprassegmental sílaba e determinar sua função nos sistemas linguísticos. Identi� car os padrões silábicos na língua inglesa e compará-los com os encontrados no português brasileiro. Explicar as di� culdades enfrentadas pelos alunos brasileiros na aqui- sição dos padrões silábicos do inglês. Introdução Quando você ouve a palavra “sílaba”, provavelmente deve se lembrar das regras referentes à separação ortográfica do português – as quais você provavelmente praticou muitíssimo nos seus primeiros anos de vida escolar. Entretanto, você sabia que a sílaba é uma unidade supras- segmental fundamental para os estudos fonológicos? É por causa dela, por exemplo, que um aprendiz brasileiro produz a palavra top do inglês como []. Além disso, é por meio da sílaba que definimos contextos para a ocorrência de variantes alofônicas, como você já estudou nos capítulos anteriores. Por fim, determinar os padrões silábicos de uma língua é fundamental para que se possam definir os padrões acentuais de tal sistema linguístico. Neste capítulo, você aprenderá a caracterizar o que é uma sílaba, bem como refletirá acerca de sua importância. Além disso, você contrastará os padrões silábicos do português brasileiro e do inglês e verá que a língua inglesa permite uma variedade muito maior de possibilidades de padrões. A partir dessa comparação, poderá determinar os desafios pelos quais passam os aprendizes brasileiros na aquisição do molde silábico da língua-alvo. U N I D A D E 3 U3_C06_Fonética e fonologia do inglês.indd 85 12/09/2017 08:58:59 Caracterizando a unidade “sílaba” Para os estudos de Fonética e Fonologia, a sílaba é uma unidade representa- cional fundamental em qualquer língua. Cada língua apresentará o seu padrão silábico, que determinará como se organizam sequencialmente os segmentos vocálicos e consonantais naquela língua em questão. Dizer que a sílaba é uma unidade mental implica dizer que todos os falantes de uma dada língua, ainda que inconscientemente, reconhecem a existência dessa unidade. Todos os falantes reconhecem, também, o padrão silábico característico de sua língua. Isso fica claro se pensarmos em um exemplo, que determinará a relação entre a sílaba e os elementos segmentais no português brasileiro. Como você sabe, em um par mínimo como “seio” e “cheio”, temos a evidência de que // e // são elementos distintivos em nossa língua. Trata-se, portanto, de dois fonemas. Entretanto, pense na palavra “pasta”. Como você produz o som representado ortograficamente pela letra <s>? Em um dialeto como o do Rio de Janeiro, a consoante a ser produzida é []. Por sua vez, em São Paulo, realiza-se a consoante []. Ainda que em alguns dialetos se produza [] e noutros [], há, nesse caso, diferença de significado? Não. Reconhecemos ambas as produções como indicadores de um mesmo objeto. Isso porque, nesse contexto, [] e [] não são distintivos. O que nos garante isso é a posição dos segmentos dentro da unidade sílaba: em posição inicial de sílaba (também chamada de ataque ou onset), [] e [] vão distinguir significado, em português brasileiro. O mesmo não pode ser dito a respeito da posição final de sílaba (chamada de “coda”): em nossa língua, a diferença entre [] e [] não é fonológica nessa posição silábica. O mesmo pode ser dito no que diz respeito aos casos em que a fricativa se encontra seguida por um segmento vozeado na sílaba seguinte. No que diz respeito à oposição entre [] e [], sabemos que tais sons são distintivos em onset, uma vez que temos pares de palavras como “chato” e “jato”. Entretanto, em posição final de sílaba, enquanto alguns dialetos produzirão a palavra “musgo” com [], outros a produzirão com []. Todos os falantes de português têm esse conhecimento implicitamente adquirido, uma vez que ninguém questiona o fato de que cariocas e paulistanos estão se referindo à mesma coisa. Na língua inglesa, também temos muitíssimas evidências da necessidade de uma unidade mental como a sílaba. Conforme você já viu nos capítulos anteriores, essa unidade irá definir, muitas vezes, muitos fenômenos de alofo- nia nessa língua. Você sabia que, em onset silábico, o fonema /l/ é produzido como alveolar (light /l/), mas que, em coda, há a produção de uma consoante velarizada (dark /l/)? As variantes referentes às consoantes plosivas também Estrutura silábica86 U3_C06_Fonética e fonologia do inglês.indd 86 12/09/2017 08:59:00 se definem a partir do contexto silábico: somente aspiramos plosivas em início de sílaba. Em coda silábica, as plosivas podem ser produzidas sem soltura ou até mesmo glotalizadas. No que diz respeito aos segmentos vocálicos, você também estudou que vogais frouxas necessitam apresentar uma coda. Em suma, ainda que você nunca tenha realizado uma análise fonológica, consegue “sentir”, em sua língua, os efeitos dessa unidade mental suprassegmental. Tendo um status linguístico, ao longo dos anos, muitos fonólogos têm se dedicado a propor uma representação para a unidade sílaba. Uma das repre- sentações mais tradicionais é a proposta por Selkirk (1982). Figura 1. Estrutura representacional da sílaba proposta por Selkirk (1982). Fonte: Collischonn (2014, p. 100). A representação da Figura 1 é caracterizada por uma estrutura arbórea. A sílaba (símbolo σ) se divide em Ataque (Onset) e Rima; essa última parte, por sua vez, divide-se em núcleo e coda. O núcleo de uma sílaba é seu elemento fundamental, uma vez que não há sílaba sem núcleo. Geralmente o núcleo é ocupado por uma vogal, por serem as vogais os segmentos com maior so- noridade; no inglês, o núcleo pode, também, ser ocupado por uma líquida (como em bottle) ou por uma nasal (como em button). O onset e a coda são elementos opcionais; tanto em português brasileiro quanto em inglês, podemos ter sílabas sem onset (como em “ar”, air) ou sem coda (como em “pá”, fee). Sílabas sem coda são chamadas de sílabas abertas; por sua vez, sílabas com coda são chamadas de fechadas. 87Estrutura silábica U3_C06_Fonética e fonologia do inglês.indd 8712/09/2017 08:59:00 Para uma introdução às diferentes abordagens teóricas sobre os padrões silábicos do português brasileiro e do inglês, leia o sexto capítulo do livro “Fonologia, Fonologias: uma introdução” (HORA; MATZENAUER, 2017). Para uma descrição completa de todos os padrões de onset e coda possíveis na língua inglesa, leia Hammond (1999). Com base na Figura 1, uma palavra como tip, por exemplo, ocuparia os três slots silábicos: [] ocuparia o onset; [], o núcleo; e [], a coda. Entretanto, o que aconteceria com uma palavra como strip? Sabemos que essa palavra possui apenas uma sílaba, uma vez que apresenta somente uma vogal. Uma vez que temos três consoantes antes da vogal, é preciso que tenhamos um onset complexo de três elementos. E no caso de uma palavra como fact, que apresenta duas consoantes após a vogal? Nesse caso, temos uma coda complexa de dois elementos. No caso de ditongos decrescentes, tal como stray, temos um núcleo complexo de dois elementos. Em uma palavra como strikes, temos uma palavra de uma sílaba. Os segmentos [], [] e [] ocupam a posição de onset; [] e [] ocupam o núcleo; e [] e [] ocupam a coda. Conforme a Figura 1, núcleo e coda estão representados sob um único nó para expressar a estreita relação entre esses dois elementos – tal relação determinará o peso silábico. A noção de peso silábico tem sido estudada por diversos autores da área da Fonologia, e diferentes caracterizações para o peso silábico têm sido propostas para o inglês. Com essa noção, sílabas podem ser leves ou pesadas. Em linhas gerais, em inglês, uma sílaba pesada é aquela composta por uma vogal tensa ou um ditongo no núcleo (uma vez que esses dois casos caracterizam um núcleo complexo); sílabas pesadas podem, também, ser caracterizadas por uma vogal (tensa ou frouxa) seguida por uma consoante em coda. Estrutura silábica88 U3_C06_Fonética e fonologia do inglês.indd 88 12/09/2017 08:59:00 A definição de peso silábico é importante, uma vez que a caracterização dos padrões de acento (sílaba tônica) da língua inglesa depende dessa propriedade. Padrões silábicos do português brasileiro e do inglês Os padrões silábicos do português brasileiro e do inglês são bastante diferentes. O inglês permite um número maior de padrões de onsets e codas complexos do que o português brasileiro. Desse fato resultam as difi culdades do aprendiz de língua estrangeira. É preciso, portanto, comparar os padrões de onsets e codas complexos permitidos nas duas línguas. No português brasileiro, a posição de onset pode ser ocupada por, no má- ximo, duas consoantes. Quando o onset for preenchido por duas consoantes, a primeira delas deve ser uma plosiva ou uma fricativa labial, e a segunda deve ser uma líquida. Alguns exemplos de palavras do português brasileiro que apresentam um onset complexo são: Plosiva + líquida: [] prato, [] claro, [] trato Fricativa + líquida: [] flauta, [] frota A posição de coda, em português brasileiro, é bastante restrita. Em codas simples (de uma consoante), são permitidas apenas líquidas (par, mal), nasais (man.to, man.ga) ou fricativas alveolares/palatoalveolares (a depender do dialeto) (pas.ta, mus.go). A coda complexa é ainda mais restrita: permitem-se no máximo dois elementos, sendo que o primeiro deles deve ser uma líquida 89Estrutura silábica U3_C06_Fonética e fonologia do inglês.indd 89 12/09/2017 08:59:00 ou uma nasal, e o segundo uma fricativa alveolar/palatoalveolar (mons.tro, pers.pi.caz). Essas restrições às combinações consonantais da sílaba do português contrastam com os padrões silábicos da língua inglesa, que permitem não somente um número maior de elementos em onset e em coda, mas, também, uma maior combinação entre os elementos. A posição de onset simples, no inglês, permite que figure qualquer con- soante, com exceção de []. Por sua vez, os onsets complexos podem ser compostos por dois ou três elementos. Os onsets de dois elementos podem ser de dois tipos (HAMMOND, 1999, p. 55): 1. [s] seguido por uma plosiva surda, fricativa ou nasal ([] spot, [] star, [] scar, [] sphere, [] small, [] snail, dentre outras) 2. Uma plosiva ou fricativa surda seguida por [w, l, r]: ([] play, [] bring, [] drown, [] crown, [] swim, [] slim, [] float, [] shrink, dentre outras). Os onsets de três elementos sempre iniciam pela fricativa [s]. Os segundo e terceiro elementos devem constituir sequências possíveis em onsets de dois elementos ([] spring, [] stray, [] screw, [] split). Por iniciarem com [s], onsets de três elementos são difíceis para o aprendiz brasileiro. Com relação à coda simples do inglês, qualquer consoante, com exceção de [], pode ocupar essa posição. No que diz respeito à coda complexa, o número de combinações também é muitíssimo maior do que em português. O número de possíveis combinações é ainda maior com a análise das codas sufixadas, que são formadas com a adição dos sufixos de passado ou particípio passado –ed ([] ou [], a depender da sonoridade da raiz), do plural de substantivos ou da terceira pessoa do singular do presente simples dos verbos ([s] ou [z], a depender da sonoridade da raiz) e de numerais ordinais ([], como em tenth). Dessa forma, ao se analisarem codas complexas, é preciso considerar o status morfológico dessas sequências consonantais (se sufixadas ou não). Estrutura silábica90 U3_C06_Fonética e fonologia do inglês.indd 90 12/09/2017 08:59:01 Os encontros consonantais de duas consoantes em coda podem ser caracterizados pelas seguintes combinações (HAMMOND, 1999, p. 58): 1. uma consoante nasal seguida por uma obstruinte ([] camp, [] tent, [] sink, [] French) 2. [s] seguida por uma plosiva surda ([] grasp, [] fist, [] ask) 3. uma líquida seguida por uma nasal, obstruinte ou outra líquida ([] storm, [] help, [] cart, [] curl) 4. qualquer consoante seguida por uma obstruinte coronal (isso é, dentais, alveolares, palatoalveolares e palatais) ([] apt, [] act, [] draft, [] ex) Além disso, a coda do inglês pode apresentar até mais do que duas conso- antes, o que torna as combinações ainda mais complexas. Muitas das codas de três ou mais consoantes são compostas pelo acréscimo do sufixo, tal como na palavra texts [], cuja coda é composta de quatro elementos, sendo a última consoante o sufixo de plural. Uma coda de três ou mais consoantes é sempre formada por duas sequências de duas consoantes: dessa forma, uma coda [mpt] (exempt) é possível porque a língua permite codas [mp] (camp) e [pt] (apt). Veja este vídeo do canal English Pronunciation Ro- admap, do YouTube, sobre encontros consonantais finais difíceis para aprendizes de inglês, disponível no link ou código a seguir: https://goo.gl/AsPeQq 91Estrutura silábica U3_C06_Fonética e fonologia do inglês.indd 91 12/09/2017 08:59:01 Dificuldades do aprendiz brasileiro de inglês Dada a complexidade do sistema silábico do inglês frente ao do português brasileiro, é natural que os aprendizes tendam a “adaptar” os padrões da lín- gua estrangeira aos da língua materna. Para falantes brasileiros, a estratégia de reparo típica de estruturas silábicas é a epêntese vocálica. Trata-se da inserção de uma vogal, que implicará a formação de um novo núcleo silábico e, por conseguinte, de uma nova sílaba. A epêntese vocálica é uma estratégia de reparo tanto de onsets quanto de codas, simples ou complexas. A vogal epentética típica do português brasileiro é []. Alunos brasileiros de inglês tendem a produzir [] ou []para o alvo star []; [] para o alvo big []; [] para o alvo cap []; e [], [], [] ou [] para o alvo fact [], por exemplo. No que diz respeito às estruturas de onset, a grande dificuldade do apren- diz brasileiro está relacionada aos encontros consonantais iniciados por [s], como em stem, spark, sleep, smart. Isso se deveao fato de que os encontros consonantais iniciais do português nunca são começados por [s]. De fato, no português brasileiro, essa consoante aparece somente em onsets de um elemento (saia, sem). Por isso, na produção do aprendiz em língua inglesa, a epêntese é inserida em posição inicial, de modo que o [s] passe a ser a coda da sílaba, como em []tem (stem). Isso ocorre porque, na interlíngua português– inglês, havendo a possibilidade de inserir a vogal nos extremos da palavra, tal possibilidade é preferida do que ferir a contiguidade dos segmentos, o que ocorreria se produzíssemos [si]tem. No caso de encontros consonantais (ou clusters) cuja segunda consoante é vozeada, é importante não sonorizar o [s], o que também seria uma tendência no português brasileiro. Se o aprendiz não prestar atenção a esses detalhes, sua produção da palavra snow [], por exemplo, soará como is no [ ]. Estrutura silábica92 U3_C06_Fonética e fonologia do inglês.indd 92 12/09/2017 08:59:02 No que diz respeito às codas, tanto as simples quanto as complexas podem ser difíceis para o aprendiz brasileiro. No caso das codas simples com elementos outros que aqueles permitidos em nossa língua, a epêntese tenderá a ser a estratégia utilizada pelo aprendiz, sobretudo nas etapas iniciais da aquisição do inglês. O aprendiz tenderá a inserir uma vogal final em palavras como top, cat, tick, laugh, rash e catch. A representação ortográfica é, também, um grande fator ocasionador da epêntese. Por exemplo, na palavra house [], o aprendiz brasileiro tende a produzir uma epêntese final em função da presença do grafema <e>. De fato, em nossa língua, temos uma estrutura silábica semelhante (como na palavra como “caos”, formada pelo glide e a fricativa) e não inserimos uma vogal. O mesmo pode ser dito na palavra horse []: não haveria a necessidade de produção de uma vogal epentética final, uma vez que temos codas complexas de líquida e fricativa em nossa língua (pers.pi.caz). O professor de língua inglesa tem que ter claro que a forma ortográfica representa, portanto, uma dificuldade adicional. No que diz respeito às codas complexas, padrões diferentes de epêntese podem ser verificados em codas monomorfêmicas e bimorfêmicas. Nas codas complexas monomorfêmicas, podem ser produzidas uma ou duas epênteses. Em fast [], por exemplo, a tendência do aprendiz brasileiro seria produzir apenas uma epêntese: [.]. De fato, não há por que produzir uma vogal após [], dado que essa consoante é possível de ocorrer em coda, no português brasileiro. A epêntese, nesse caso, ocorre na extremidade da palavra (até Veja o vídeo do canal Rachels English, do YouTube, sobre os encontros consonantais de onset iniciados por [s], disponível no link ou código a seguir: https://goo.gl/wxUMcw 93Estrutura silábica U3_C06_Fonética e fonologia do inglês.indd 93 12/09/2017 08:59:02 porque uma produção como [.] não resolveria a proibição de /t/ final no português brasileiro). Já em codas complexas de dois elementos não passíveis no inglês, é possível, entre aprendizes de nível inicial, a produção de duas vogais epentéticas: nesse caso, uma palavra como fact [] pode ser produzida como [..]. Já com um nível um pouco mais adiantado de proficiência na língua-alvo, produções como [.] são possíveis, até o ponto em que o aprendiz atinja a forma-alvo. No caso de encontros consonantais finais de duas plosivas, é pertinente ressaltar ao aluno a possibilidade de não soltura da primeira plosiva do encontro, como em act [] e apt []. Codas simples tendem a ser adquiridas antes de codas complexas. Entretanto, a aqui- sição, em codas simples, dos dois elementos que compõem a coda complexa não implica necessariamente a aprendizagem da sequência consonantal. Por exemplo, é possível que o aprendiz brasileiro já tenha adquirido os padrões silábicos de coda simples em app [] e at [], mas ainda não tenha adquirido a combinação de [] e [] em coda complexa, como em apt []. No que diz respeito a codas complexas com sufixo, o padrão de epêntese produzido pelo aluno vai depender de qual morfema está sendo adicionado. O sufixo [], comum em números ordinais como em seventeenth e twelfth, tende a ser bastante difícil, até porque a aquisição segmental da fricativa que corresponde ao sufixo já é, por si, dificultosa. Por sua vez, no caso de sufixos como o de plural ou terceira pessoa do singular do presente simples, a epêntese tende a ocorrer após o segmento que antecede tal marca morfológica, como em [.] para apps []; [.], para rats []; e [.], para lacks []. No caso desse sufixo, também pode haver codas de três elementos: dessa forma, uma palavra como acts [] tende ser produzida como [..] ou [..]por alunos de nível básico. Com relação a esse sufixo, uma grande dificuldade diz respeito ao seu vozeamento, que dependerá do vozeamento do segmento final da raiz que o antecede. Se o segmento final da raiz for surdo, como em [], [], [], [] e [], o morfema será produzido como [s]. Se for sonoro ([], [], [], [], [], [], [], [], [], [], vogais e ditongos), será produzido como [z]. Estrutura silábica94 U3_C06_Fonética e fonologia do inglês.indd 94 12/09/2017 08:59:02 Exemplos de produção do morfema de terceira pessoa do singular no presente simples são: [s]: stops, meets, lacks, laughs [z]: robs, mugs, dreams, feels Mais importante do que produzir a sonoridade é atentar para a duração da vogal de núcleo, que deverá ser mais longa nos casos em que a coda for sonora. De fato, em posição anterior à pausa ou a segmentos consonantais surdos, o [z] tende a ser parcialmente dessonorizado. Não há, portanto, a necessidade de exagerar a vibração das pregas vocais na realização da consoante, uma vez que a duração vocálica é a pista que provê a informação sobre o status surdo ou sonoro da coda. O acréscimo do morfema de terceira pessoa do presente simples ou de plural dos substantivos pode, ainda, acarretar um novo padrão silábico. Isso ocorre quando a consoante final da raiz já é uma sibilante, ou seja, é caracterizada por uma fricção na região alveolar ou palatoalveolar ([], [], [], [], [], []). Nesse caso, os falantes nativos inserem uma vogal [] entre a consoante da raiz e a fricativa final, que será produzida como []. Esse acréscimo tende a ser, inclusive, expresso na ortografia, como <es> (ainda que nem toda grafia <es> corresponda à produção de []). São exemplos desses casos as palavras dresses e washes. Veja o vídeo do canal Rachaels English, do YouTube, sobre a pronúncia do morfema do plural. As regras são as mesmas para o morfema de terceira pessoa do singular no presente. https://goo.gl/qzC4gc 95Estrutura silábica U3_C06_Fonética e fonologia do inglês.indd 95 12/09/2017 08:59:03 Com relação ao sufixo de passado simples/particípio passado dos verbos regulares (-ed), o grau de dificuldade do aprendiz é ainda maior, uma vez que sua aquisição sofre a influência não somente dos padrões silábicos da L1, mas, também, da própria forma ortográfica. Foneticamente, o morfema -ed é produzido como [], [] ou [], a depender da sonoridade do segmento final da raiz do verbo: os segmentos finais surdos [], [], [], [], [], [] e [] farão com que o morfema seja produzido também como uma plosiva alveolar surda, []. Por sua vez, os segmentos finais vozeados [], [], [], [], [], [], [], [], [], [], [] e [], além das vogais, farão com que o morfema seja produzido como uma plosiva alveolar sonora, []. Novamente, a pista acústica prioritária na percepção dessa distinção é a vogal do núcleo da sílaba, que deverá ser mais longa caso a coda seja vozeada. Por fim, nos casos em que a consoante final da raiz já é uma plosiva coronal ([] ou []), é necessário adicionar uma vogal epentética para que o morfema se diferencie da raiz. Nesse caso,o morfema é produzido como []. Exemplos de produções do sufixo -ed são: []: stopped, asked, laughed, wished []: robbed, mugged, starved, managed []: wanted, needed Em termos de padrões silábicos resultantes do acréscimo desse sufixo, a realização de -ed como [] é a que se mostra menos difícil para o aprendiz brasileiro, uma vez que implica apenas a produção de uma coda simples. Entretanto, nos casos de realização do sufixo como [] ou [], há a produção de codas complexas não permitidas no português brasileiro. Além dessa difi- culdade, um aspecto primordial diz respeito ao fato de tal morfema contar com o grafema <e> em sua forma grafada. Isso leva o aprendiz brasileiro, muitas vezes, a produzir um vogal epentética antes da plosiva alveolar, mesmo em contextos em que tal vogal não seria necessária, em termos de reparo silábico. Estrutura silábica96 U3_C06_Fonética e fonologia do inglês.indd 96 12/09/2017 08:59:03 A produção de uma vogal epentética após o [] de missed [] é um excelente exemplo da influência da ortografia. Considerando-se a palavra monomorfêmica mist, homófona a missed, bem como palavras como fast e list, há evidências de que a vogal epentética pode vir a ser produzida apenas após [], mas não após [], dado que o português brasileiro permite a fricativa coronal em posição de coda. O fato de missed ser produzida com a vogal após [] – tal como em [], [] ou [] – é, portanto, influência direta da ortografia (ALVES; BARRETO, 2012). Produções do morfema -ed com a vogal epentética resultante da forma grafada perduram até os níveis avançados de proficiência da língua. É pos- sível que, sem a devida instrução, os aprendizes tendam a sempre produzir essa vogal. Trata-se de um caso de epêntese mais grave do que o resultante da adaptação de padrões silábicos da L2 ao molde silábico da L1 (ZIMMER; SILVEIRA; ALVES, 2009). Produções de called como [], por exemplo, podem ter um grande impacto na inteligibilidade da fala estrangeira, uma vez que tal palavra pode ser entendida como call it. Veja o vídeo do canal Rachel’s English, do YouTube, para aprender a pronúncia do morfema -ed: https://goo.gl/4ZBzx7 Em suma, o ensino dos padrões silábicos do inglês implica não somente o treino de percepção e produção de novas sequências de sons em onset e coda, mas, também, implica chamar a atenção para padrões ortográficos da língua materna que podem ter impacto na produção da L2. Dado o efeito prejudicial que a epêntese pode ter na inteligibilidade em L2, a instrução explícita dos 97Estrutura silábica U3_C06_Fonética e fonologia do inglês.indd 97 12/09/2017 08:59:03 aspectos fonético-fonológicos da língua-alvo é, sem sombra de dúvidas, um recurso pedagógico fundamental. Saiba mais sobre as dificuldades do aprendiz brasileiro na aquisição dos padrões silábicos do inglês e realize exercícios de percepção e produção sobre esta questão em Zimmer, Silveira e Alves (2009). Estrutura silábica98 U3_C06_Fonética e fonologia do inglês.indd 98 12/09/2017 08:59:04 ALVES, U. K.; BARRETO, F. O processamento e a produção dos aspectos fonético- -fonológicos da L2. In: LAMPRECHT, R. R. et al. Consciência dos sons da língua: subsídios teóricos e práticos para alfabetizadores, fonoaudiólogos e professores de língua inglesa. 2. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2012, p. 193-209. COLLISCHONN, G. A sílaba em português. In: BISOL, L. (Org.). 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De� nir as palavras acentuadas em frases. Reconhecer o acento nuclear. Introdução Neste capítulo, você vai estudar a acentuação em inglês além da palavra simples: o acento em palavras compostas, acentuação em frases e o acento nuclear. Todos os tipos de acento são de extrema importância para o entendi- mento do ouvinte e para evitar mal-entendidos. Entretanto, os pesquisa- dores consideram que alguns tipos de acento são mais importantes para a inteligibilidade do que outros, e isso depende também se o aprendiz está se comunicando com um falante nativo ou um não nativo. Segundo Walker (2010), a importância do acento na inteligibilidade depende do tratamento do inglês como língua estrangeira ou como língua franca. No primeiro caso, a meta é o entendimento por parte de falantes nativos, e o acento de palavras tem um papel crucial para a inteligibilidade. Já no segundo caso, a importância é o entendimento por falantes não nativos, e, então, o acento de palavras não seria tão relevante. Jenkins (2000, p. 150) considera o acento de palavras “[...] uma área cinzenta [...]”, visto que a acentuação de palavras parece ser razoavelmente importante para ouvintes nativos, mas raramente causa problemas de inteligibilidade nos dados da fala da interlíngua – e, quando causa, segundo ela, isso acontece em combinação com outro erro fonológico. Portanto, de acordo com Walker (2010) e Jenkins (2000), a relevância da acentuação depende do tratamento dado à língua inglesa. Entretanto, mesmo nos casos em que a língua inglesa é tratada como língua franca, a preocupação com a U3_C08_Fonética e fonologia do inglês.indd 112 12/09/2017 09:00:52 tonicidade é justificada devido ao acento nuclear, um elemento impor- tante nos dados da língua franca. A acentuação pode, ainda, causar um sotaque que dificulta a inteligibilidade e que – juntamente com outras dificuldades, como ritmo, entonação ou a pronúncia inadequada de algum segmento – pode impedir a compreensão. Assim, neste texto, você vai ver cada um desses tipos de acento. A acentuação em palavras compostas De forma geral, as palavras em inglês são classifi cadas em simples ou comple- xas. As palavras simples são compostas por apenas uma unidade gramatical, como care. Já as complexas possuem mais de uma unidade e podem ser palavras derivadas, quando há a adição de um prefi xo ou sufi xo (careful, careless, carefully), ou, ainda, palavras compostas, quando são formadas de duas ou mais palavras independentes, como em hot dog. Nesse caso, a com- binaçãodessas palavras gera um único item lexical com signifi cado distinto das palavras originais. Os compostos em inglês podem ser escritos como uma única palavra (armchair), separados por hífen ( fruit-cake) ou ainda como duas palavras separadas (desk lamp). É nesse tipo de palavras que nos concentraremos nesta seção. A acentuação das palavras compostas em língua inglesa costuma ser problemática para os aprendizes brasileiros, pois no português brasileiro o acento primário é atribuído sempre ao último elemento do composto, como em “cachorro quente” ou “guarda-chuva”. Já no inglês, a colocação do acento no primeiro ou no segundo elemento vai depender se a expressão é realmente uma palavra composta ou um sintagma. Sintagmas são elementos que constituem uma unidade significativa e que mantêm relações de dependência e de ordem entre si. Assim, a expressão hot dog é um composto quando se refere ao sanduíche formado pelo pão e a salsicha, mas pode ser um sintagma caso o interlocutor queira se referir a um cachorro que está quente ou com calor. O mesmo seria 113Padrões de acentuação em palavras compostas e frases U3_C08_Fonética e fonologia do inglês.indd 113 12/09/2017 09:00:52 possível na expressão White House, por exemplo. Se nos referirmos à casa onde mora o presidente dos Estados Unidos, estamos usando uma palavra composta. Entretanto, se quisermos mencionar apenas uma casa que é branca, usamos um sintagma. Agora que você já aprendeu a diferenciar palavras compostas de sintag- mas, deve estar se perguntando onde entra o acento em tudo isso. Pois bem, os compostos em inglês são acentuados no primeiro elemento, enquanto os sintagmas têm o acento no segundo elemento. Assim, hot dog deve ser acentuado no primeiro elemento para evitar uma possível confusão com um cachorro que está quente. Portanto, quando quisermos nos referir à residência do presidente norte-americano, devemos pronunciar White House com o acento na primeira palavra. Por outro lado, se nosso intuito for mencionar uma casa branca qualquer, a pronúncia será White House, com o acento na segunda palavra. Podemos pensar em outros exemplos para essa estrutura: English teacher seria o professor de inglês, enquanto English teacher é um professor vindo da Inglaterra; blackboard é o quadro utilizado em salas de aula e black board é apenas um quadro preto; greenhouse é a construção que chamamos de estufa e greenhouse é uma casa verde. Pesquisas como a de Bertochi (2014) mostram que os falantes brasileiros não costumam apresentar dificuldade em identificar qual dos dois elementos em um composto é o mais proeminente, mas possuem dúvidas em apontar a diferença de significado entre um composto e um sintagma causada pelo padrão acentual. Isso é compreensível, uma vez que, além de entender a diferença do padrão acentual, os falantes precisam dominar uma distinção sintática: o que é um composto e o que é um sintagma. Além disso, esse padrão de acentuação forte-fraco para palavras compostas é uma estrutura métrica totalmente nova para brasileiros. Padrões de acentuação em palavras compostas e frases 114 U3_C08_Fonética e fonologia do inglês.indd 114 12/09/2017 09:00:53 Apesar dessa aparente previsibilidade da acentuação em palavras compostas no inglês, existem situações em que os compostos recebem acento no segundo elemento. Fudge (1984) lista alguns desses casos: 1. Compostos em que o primeiro elemento é um adjetivo e o segundo termina com o morfema -ed: bad- tempered; heavy- handed. 2. Compostos em que o primeiro elemento é um número: second- class; five- finger. 3. Compostos que funcionam como advérbios: North- East; down stream. 4. Compostos que funcionam como verbos cujo primeiro elemento é um advérbio: back- pedal; ill- treat. Carr (2013) cita outros casos em que essa regra de acentuação na primeira parte do composto é violada: 1. Nomes de lugares e ruas: New York; London Road. 2. Compostos em que o primeiro elemento expressa do que é feito o objeto: brick wall; apple pie. 3. Compostos formados por duas cores: dark green; pale blue. 4. Compostos derivados de phrasal verbs: passer- by (derivado de pass by), washing- up (derivado de wash up). Entretanto, como podemos perceber, nenhuma dessas situações trata de compostos formados por dois substantivos. Nesse caso, ainda podemos afirmar que a grande maioria das palavras compostas formadas por dois substantivos seguirá a regra de acentuação dos compostos e terá o acento no primeiro elemento. Assim, como podemos observar nesta seção, a acentuação de palavras compostas é governada por uma regra geral que, entretanto, possui várias exceções e uma dificuldade extra: determinar se algumas construções são mais semelhantes a compostos ou a sintagmas. Contudo, de forma geral, ainda vale a dica da acentuação no primeiro elemento. Portanto, o conhecimento de regras gerais, mesmo que com exceções, é de extrema importância para falantes de inglês como língua estrangeira (ou língua franca). Vale ressaltar que o ensino explícito de pronúncia, ainda pouco realizado nas aulas de inglês, é de extrema valia para garantirmos uma comunicação mais eficaz. 115Padrões de acentuação em palavras compostas e frases U3_C08_Fonética e fonologia do inglês.indd 115 12/09/2017 09:00:53 A pesquisadora Jenkins (2000) criou o Lingua Franca Core – uma lista de aspectos da pronúncia do inglês que seriam cruciais para garantir a inteligibilidade do falante em um ambiente de inglês como língua franca. Nessa lista, o acento de palavras não está presente, mas o acento nuclear, sim. A acentuação em frases Agora que já vimos regularidades sobre o acento em palavras compostas, podemos ir além do limite da palavra e focar o acento em frases. Se o acento de palavra é a proeminência dada para uma ou mais sílabas, o acento na frase é a ênfase dada para uma ou mais palavras. Vale lembrar que, quando o acento da frase é atribuído a palavras com mais de uma sílaba, ele tende a se concentrar na sílaba que recebe o acento da palavra. Assim, na frase a seguir, as palavras meet e tomorrow são acentuadas, e, no caso de to morrow, que é uma palavra polissilábica, a sílaba -mo recebe o acento. Shé ll meet him tomorrow. Uma exceção para esse caso seria o que chamamos de stress shift, que acontece para evitar que duas sílabas adjacentes sejam acentuadas, o que quebraria o ritmo do inglês. Assim, a expressão fifteen boys teria dois acentos adjacentes: -teen e boys. Para evitar essa quebra de ritmo da língua, pronunciaríamos com o acento modificado da segunda para a primeira sílaba de fifteen: fifteen boys. O ritmo da língua inglesa está diretamente ligado à acentuação. O inglês é uma língua de ritmo acentual, ou seja, possui as sílabas tônicas em intervalos de tempo praticamente constantes. Assim, ao ouvirmos uma frase como a Padrões de acentuação em palavras compostas e frases 116 U3_C08_Fonética e fonologia do inglês.indd 116 12/09/2017 09:00:53 seguinte, temos uma alternância de sílabas fracas e fortes, como se fossem batidas de um instrumento. The women went to the pub. Neste caso, ouviríamos as batidas em women, went e pub, mas não em the e to. Aqui temos a primeira regularidade em relação ao acento de frases em inglês: apenas palavras de conteúdo podem ser acentuadas, enquanto palavras funcionais tendem a ser reduzidas. Segundo o Dicionário de Fonética e Fonologia (CRISTÓFARO SILVA, 2011), palavras funcionais ou gramaticais são aquelas que possuem função gramatical, mas conteúdo lexical pouco específico, como as preposições e os artigos. Já as palavras de conteúdo possuem conteúdo semântico bem especificado, como verbos, substantivos, adjetivos ou advérbios. Consideremos, então, mais um exemplo: This is the house that Jack built. Novamente, as palavras de conteúdo são acentuadas (this, house, Jack, built) e as palavras funcionais são reduzidas (is, the, that). Além disso, percebe-sea alternância das sílabas fortes e fracas, gerando o ritmo da língua inglesa. Neste ponto, você pode estar se perguntando: como há alternância se Jack e built são duas palavras acentuadas e adjacentes? Para entendermos melhor, precisamos introduzir o conceito de pé métrico: o intervalo entre o começo de uma sílaba acentuada e o começo da próxima sílaba acentuada (GIEGERICH, 1992). Quando nos referimos à língua inglesa como uma língua de ritmo acentual, usamos também a ideia de isocronia dos pés métricos. No caso do exemplo acima, a frase é composta por quatro pés métricos, e são esses pés que ocorrem no mesmo intervalo de tempo, independentemente do número de sílabas que cada um contém. 117Padrões de acentuação em palavras compostas e frases U3_C08_Fonética e fonologia do inglês.indd 117 12/09/2017 09:00:54 A distinção acerca de uma língua possuir ritmo acentual ou silábico não é sempre unânime. O português brasileiro, por exemplo, tem uma classificação controversa nesse aspecto. Alguns pesquisadores acreditam que a língua tenha ritmo acentual, outros acreditam que seja silábico e outros, inclusive, mencionam a possibilidade de um ritmo misto, visto que o português brasileiro teria características de ambos os padrões. Vejamos agora outro exemplo (ROACH, 2009, p. 107): 1 2 3 4 5 Walk down the path to the end of the ca nal. Mais uma vez, teríamos sílabas acentuadas ocorrendo em intervalos de tempo regulares mesmo nos casos em que elas não são separadas por sílabas átonas. As sílabas 1 e 2 não são separadas por outras sílabas; 2 e 3 são sepa- radas por uma sílaba átona; 3 e 4, por duas; e, por fim, 4 e 5, por três sílabas. Independentemente desse número de sílabas, o ritmo acentual é mantido, e consideramos, então, que cada pé métrico ocorre no mesmo intervalo de tempo. Nesse exemplo, portanto, teríamos cinco pés. É importante ressaltar que, ao falarmos inglês, podemos mudar nosso ritmo (ROACH, 2009). A fala rítmica de uma palestra, por exemplo, soa bem diferente da fala artificial ou quase sem ritmo de quando estamos nervosos ou hesitantes. O ritmo acentual não é, portanto, característico de todos os estilos de fala, mas sempre haverá em inglês algum grau desse tipo de ritmo. Isso nos chama a atenção para o fato de que, ao falarmos inglês, devemos não só lembrar de acentuar as sílabas adequadas, mas também (e no mesmo grau de importância) de reduzir as sílabas átonas. Esse ritmo acentual, embora difícil para falantes de língua cujo ritmo é silábico, só pode ser conseguido se a alternância forte-fraco for realizada, ou seja, acentuando as sílabas fortes e reduzindo as sílabas fracas. Padrões de acentuação em palavras compostas e frases 118 U3_C08_Fonética e fonologia do inglês.indd 118 12/09/2017 09:00:54 O acento nuclear Vimos na seção anterior que o acento em frases tem uma base gramatical (palavras de conteúdo × palavras funcionais) e é responsável pelo ritmo da língua. Nesta seção, veremos um outro tipo de acento, o acento nuclear, que está relacionado ao signifi cado da frase. Para isso, devemos pensar que uma sentença pode estar dividida em partes menores de signifi cado com curtas pausas antes e depois chamadas de grupos entonacionais. A duração de cada um desses grupos depende da possibilidade de eles formarem unidades de discurso coerentes e podem ser menores ou maiores, mas costumam ter uma média de cinco palavras. Cada um desses grupos terá uma sílaba ou palavra mais proeminente para enfatizar o signifi cado, contexto ou, até mesmo, a intenção do falante. Aqui percebemos que esse tipo de acento pode mudar de acordo com o contexto ou com o que o falante deseja enfatizar. Assim, na frase a seguir, teríamos as palavras de conteúdo acentuadas (Paul, told, leave). Paul told me to leave. Agora imaginemos que o falante queira enfatizar a palavra me, talvez para que o ouvinte entenda exatamente quem deve sair. Nesse caso, teríamos: Paul told me to leave. O pronome me seria acentuado para realizar uma ênfase, um contraste: “Sou eu quem deve sair, não você”. Esse acento também poderia ser alterado se a intenção do falante fosse enfatizar outra palavra: Paul told me to leave (não John, por exemplo) ou Paul told me to leave (sair e não ficar). Um outro exemplo da função contrastiva do avento nuclear seria nesta: This is my cat. Acentuando-se o primeiro elemento (This is my cat), enfatizamos o fato de que este é meu gato e não aquele, por exemplo. Ao acentuar a terceira palavra (This is my cat), ressaltamos que o gato é meu e não seu ou dele. Por fim, se acentuarmos a palavra cat (This is my cat), podemos mostrar que o animal é um gato e não um cachorro. Percebemos, então, que diferentemente do acento em palavras, o acento nuclear não é fixo e pode mudar dependendo do contraste que se queira estabelecer. Uma outra função desse tipo de acento é para introduzir informações novas quando respondemos a uma pergunta, por exemplo. Vejamos este diálogo: 119Padrões de acentuação em palavras compostas e frases U3_C08_Fonética e fonologia do inglês.indd 119 12/09/2017 09:00:54 A: What́ s your teacheŕ s name? B: Her namé s Mary. A palavra Mary é um novo elemento, já que her namé s faz parte da per- gunta. É também a ênfase da resposta por ser o conhecimento novo que o ouvinte está procurando. Assim, Mary recebe o acento nuclear nessa frase. Esse tipo de acento não parece ser de muita dificuldade para os brasileiros que aprendem inglês, pois acontece de forma parecida quando um falante quer enfatizar ou corrigir alguma informação em português, conforme este exemplo: A: Ele comprou um apartamento? B: Não, uma casa. Assim, “casa” recebe o acento nuclear para contrastar com a palavra “apar- tamento”. Percebemos, então, o acento nuclear sendo usado no português com uma função de contraste ou correção, tal como no inglês. Por fim, é importante lembrar que, como citamos no início deste capítulo, o acento nuclear encontra-se no Lingua Franca Core de Jenkins (2000) e é considerado de grande importância para a inteligibilidade do inglês em um contexto de língua franca. Saiba mais sobre a acentuação em frases e o acento nuclear em: https://goo.gl/XHpyzk https://goo.gl/paVMN8 https://goo.gl/eenx6B https://goo.gl/4ctoZn Padrões de acentuação em palavras compostas e frases 120 U3_C08_Fonética e fonologia do inglês.indd 120 12/09/2017 09:00:55 1. Qual destes compostos não é acentuado no primeiro elemento? a) open-ended. b) birthmark. c) suitcase. d) sunrise. e) typewriter. 2. Qual destas classes de palavras não é acentuada em frases? a) Verbos. b) Substantivos. c) Artigos. d) Adjetivos. e) Advérbios. 3. Quantos pés métricos tem a frase “I want a cup of coffee”? a) 2 b) 3 c) 4 d) 5 e) 6 4. Qual destas não é uma característica de línguas de ritmo acentual? a) Redução de sílabas átonas e proeminência de sílabas fortes. b) Alternância de sílabas fortes e fracas. c) Isocronia dos pés métricos. d) Sílabas tônicas em intervalos de tempo constantes. e) Sílabas em intervalos de tempo constantes. 5. Qual a intenção do falante ao acentuar a palavra pizza na frase “Yesterday I ate pizza with my mom”? a) Enfatizar que ontem ele comeu pizza e não hoje. b) Enfatizar que ele comeu e não bebeu. c) Enfatizar quem comeu pizza. d) Enfatizar que ele comeu pizza e não um sanduíche. e) Enfatizar que ele comeu com a mãe e não o pai. 121Padrões de acentuação em palavras compostas e frases U3_C08_Fonética e fonologia do inglês.indd 121 12/09/2017 09:00:56 BERTOCHI, M. A percepção do aluno brasileiro quanto ao acento tônico dos compos- tos do inglês. In: BRAWERMAN-ALBINI, A.; GOMES, M.L.C. (Org.). O jeitinho brasileiro de falar inglês: pesquisas sobre a pronúncia do inglês por falantes brasileiros. Campinas: Pontes, 2014. CARR, P. English phonetics and phonology: an introduction. West Sussex: Wiley-Blackwell, 2013. CRISTÓFARO SILVA, T. Dicionário de fonética e fonologia.São Paulo: Contexto, 2011. FUDGE, E. English word stress. London: George Allen & Unwin, 1984. GIEGERICH, H. 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Padrões de acentuação em palavras compostas e frases 122 U3_C08_Fonética e fonologia do inglês.indd 122 12/09/2017 09:00:56 FONÉTICA E FONOLOGIA DO INGLÊS Ubiratã Kickhöfel Alves Andressa Brawerman-Albini Mariza Lacerda Padrões de acentuação na palavra Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Entender a de� nição de acento. Descrever as propriedades envolvidas na percepção do acento. Apontar regularidades para a acentuação em inglês e acentuar diferen tes tipos de palavras. Introdução A acentuação é um dos elementos mais importantes no ritmo da fala – e a acentuação inadequada é uma causa importante de problemas de inteligibilidade para falantes estrangeiros. De acordo com Kenworthy (1987), quando um falante nativo não entende uma palavra, é comum que a dificuldade seja pela acentuação incorreta e não pela pronúncia inadequada de determinado som. A autora fornece alguns exemplos em que o entendimento é prejudicado devido à colocação incorreta do acento: a acentuação na segunda sílaba da palavra written faz com que o ouvinte entenda retain; a acentuação de com- e -ta- em comfortable gera a interpretação come for a table; e a acentuação nas sílabas -duc- e -ty em productivity faz com que o ouvinte entenda productive tea. O acento é uma propriedade encontrada em grande parte das línguas. Considera-se que ele tenha um papel fundamental na estrutura fonoló- gica e/ou morfológica de várias línguas. Entretanto, há muitas questões e controvérsias a respeito do que é acento, quais são suas propriedades e quais são as regras relativas a ele. Neste capítulo, você vai entender um pouco mais sobre a definição de acento, quais propriedades estão envolvidas na percepção dele e quais são algumas das regularidades que nos ajudam a acentuar palavras inglesas. U3_C07_Fonética e fonologia do inglês.indd 100 10/09/2017 12:14:48 O que é acento? Apesar de a defi nição de acento ainda ser bastante controversa entre os pes- quisadores, ela não parece ser muito distante da nossa realidade como falantes de línguas. No que você pensa quando ouve termos como “acentuação”, “to- nicidade” ou “sílaba tônica”? Logo deve vir à mente expressões como “sílaba forte”, “mais longa”, “mais alta” ou você deve até mesmo ouvir as batidas de um tambor e associar aquelas batidas mais altas às sílabas acentuadas em uma palavra. Assim, podemos concluir que o acento de uma palavra se refere à ênfase dada para uma determinada sílaba ou uma maior proeminência de uma sílaba em relação às vizinhas. Em sua pesquisa sobre a inteligibilidade de falantes brasileiros que produziram o acento em sílabas inadequadas, Gomes, Brawerman-Albini e Engelbert (2014) relatam outros exemplos em que a acentuação inadequada pode gerar mal-entendidos: a acentuação na última sílaba da palavra satisfying gerou o entendimento set fine; a acentuação da palavra architecture na terceira sílaba fez com que falantes nativos entendessem texture ou, até mesmo, caricature. Existem línguas que possuem acento fixo e outras com acento livre. O acento fixo é previsível e pode ser derivado por regras. Assim, em muitas línguas, é possível prever a acentuação de uma palavra a partir de suas proprie- dades fonológicas, como a estrutura da sílaba e os pés métricos. No polonês, por exemplo, palavras com mais de uma sílaba possuem acento paroxítono; no francês, todas as palavras são oxítonas; e em tcheco e húngaro, o acento encontra-se sempre na primeira sílaba. Em outras línguas, o acento é lexical, ou seja, é imprevisível e deve ser armazenado juntamente com a representação da palavra no léxico, como acontece no português brasileiro e em inglês. Em uma língua com acento lexical, como no russo, por exemplo, o acento pode ser posicionado em qualquer sílaba da palavra. 101Padrões de acentuação na palavra U3_C07_Fonética e fonologia do inglês.indd 101 10/09/2017 12:14:48 Não confunda o acento lexical com o acento ortográfico. Neste capítulo, quando usamos o termo “acento”, nos referimos à sílaba tônica e não à acentuação gráfica. Assim, a aparente previsibilidade da acentuação em português diz respeito ao acento ortográfico e não ao lexical. Há línguas, ainda, como o francês, o finlandês e o cantonês, em que as sílabas ocorrem em intervalos de tempo aproximadamente iguais e são, por isso, chamadas de línguas de ritmo silábico. Outras, como o inglês e o alemão, possuem as sílabas tônicas em intervalos de tempo praticamente constantes – sendo, portanto, chamadas de línguas de ritmo acentual. Falantes de línguas de ritmo silábico costumam ter uma grande dificuldade com o ritmo de línguas acentuais, como o inglês, podendo ter problemas na inteligibilidade de sua fala pela interferência do ritmo inadequado. Fudge (1984) argumenta que a imposição do ritmo silábico em inglês é provavelmente mais prejudicial à inteligibilidade do que qualquer distorção da pronúncia de vogais ou consoantes. O acento pode, ainda, ser distintivo em algumas línguas, como o inglês e o português. Em inglês, ele pode ser usado para a distinção de verbos e substantivos, como re cord (verbo) e record (substantivo). Em português, o acento também distingue palavras, como “sábia”, “sabia” e “sabiá” ou “fu- giram” e “fugirão”. O diacrítico é usado antes de sílabas com acento primário em transcrições fonéticas, e o símbolo é usado antes de sílabas com acento secundário. Padrões de acentuação na palavra102 U3_C07_Fonética e fonologia do inglês.indd 102 10/09/2017 12:14:49 Na língua portuguesa e na língua inglesa, o acento pode ser usado para distinguir substantivos e verbos, como em “fábrica” e “fabrica”, “rótulo” e “rotulo” ou insult (verbo) e insult (substantivo). Como percebemos o acento? Na seção anterior, percebemos que costumamos ligar o acento a termos como “forte”, “longo” ou “alto”. Isso acontece porque as diferenças de acento são percebidas como variações limitadas por quatro dimensões: altura, volume, pitch (efeito acústico produzido pela frequência de vibração das cordas vocais) e qualidade da vogal. Várias propriedades acústicas são comumente associadas às sílabas tônicas, como um aumento da frequência fundamental, uma duração mais longa, uma intensidade mais alta e uma diferença na qualidade da vogal. Em inglês, as sílabas em palavras polissilábicas são percebidas com di- ferentes graus de proeminência, que são considerados os diferentes graus de acento das palavras: primário, secundário e átono. Essa distinção entre o acento primário e o secundário é um fator importante no processamento de palavras longas no inglês. Palavras como intro duction e kanga roo, por exemplo, possuem uma sílaba mais proeminente que tem o acento primário da palavra, uma sílaba com o acento secundário e uma ou mais sílabas átonas. Essa maior proeminência, como já mencionado, é realizada acusticamente por alguns parâmetros, tais como duração, intensidade, pitch e qualidade da vogal. Segundo Cruttenden (1997), o pitché a qualidade mais eficaz na percepção de sílabas tônicas em inglês, seguido pela duração e a intensidade. Assim, sílabas acentuadas em inglês costumam ter um pitch e uma intensidade mais alta e uma duração mais longa. Já no português brasileiro, os principais correlatos do acento (em ordem decrescente de importância) seriam a duração, a intensidade e a qualidade vocálica (MASSINI-CAGLIARI, 1992). Assim, as sílabas tônicas seriam mais longas e intensas. Em relação à qualidade da vogal na língua inglesa, nem todas as vogais do inglês, por exemplo, podem ser o núcleo de uma sílaba tônica. Vogais tônicas curtas são impossíveis em posição final de palavras em inglês. As- 103Padrões de acentuação na palavra U3_C07_Fonética e fonologia do inglês.indd 103 10/09/2017 12:14:49 sim, não existem palavras oxítonas que terminem em [ɪ, e, ɒ, ʌ, ʊ]. As vogais normalmente encontradas na posição final de palavras oxítonas são núcleos complexos (vogais longas ou ditongos), como, por exemplo, see, flaw, destroy, below (GUSSMANN, 2002). Sílabas fortes teriam uma qualidade total da vogal, enquanto sílabas fracas teriam vogais centrais ou reduzidas, geralmente o schwa []. Sílabas tônicas podem, ainda, ser alongadas com a presença de vogais longas, e sílabas átonas tendem a se “enfraquecer” pela redução da vogal. Uma das poucas afirmações que se pode fazer a respeito da acentuação em inglês é que a sílaba tônica nunca conterá uma vogal reduzida (BOLINGER, 1972). Essa diferença entre os vários graus de acento costuma ser uma dificuldade extra para falantes de inglês como língua estrangeira perceberem a sílaba acentuada e a produzirem de forma clara. É muito comum que falantes não nativos acentuem demais as sílabas átonas em inglês, evitando a redução vo- cálica e fazendo com que a distinção entre sílabas tônicas e átonas seja quase inexistente, e, consequentemente, falantes nativos podem ter dificuldade para interpretar o que os não nativos produzem. Agora que já você já sabe como definir acento e as propriedades envolvidas na percepção dele, vamos discutir um pouco sobre as regularidades existentes para a acentuação de palavras inglesas. Como acentuamos palavras em inglês? Como vimos, tanto o inglês quanto o português são línguas em que o acento é lexical, ou seja, imprevisível. Assim, qualquer descrição das regras acentuais do inglês envolve também um grande número de exceções e, por isso, vamos tratar as tendências na acentuação em inglês como regularidades e não regras. Apesar da difi culdade que essa aparente imprevisibilidade na acentuação de línguas como o inglês e o português pode gerar a falantes não nativos, existem regularidades a respeito da estrutura silábica ou morfológica que podem ajudar um falante de inglês como L2 a “aprender” ao menos parte da acentuação em língua inglesa. É isso que veremos nesta seção. Padrões de acentuação na palavra104 U3_C07_Fonética e fonologia do inglês.indd 104 10/09/2017 12:14:49 Apesar dessa dificuldade na acentuação em inglês, devemos tentar entender as re- gularidades existentes e ensiná-las aos nossos alunos. Um maior entendimento dos padrões de acentuação em inglês e de quais padrões geram maior dificuldade para os falantes brasileiros é essencial para um ensino de pronúncia mais eficiente. A primeira coisa que precisamos saber sobre a acentuação de palavras inglesas é que elas podem ser acentuadas em qualquer sílaba, diferentemente do português, que tem palavras acentuadas em uma das três últimas sílabas. Palavras pré-proparoxítonas (acentuadas na quarta sílaba do fim para o começo da palavra) são comuns em inglês, principalmente em palavras sufixadas, quando um sufixo é adicionado a uma palavra que já possuía acento proparoxí- tono. Isso geraria, por exemplo: operator, a partir de operate, ou recognizing, a partir de recognize. Há, normalmente, um acento secundário na última sílaba da base, que se torna a penúltima na palavra com sufixo. A tendência dos falantes de português brasileiro é colocar o acento primário justamente na penúltima sílaba dessa palavra derivada (p. ex., ope rator; recog nizing), uma vez que as palavras no português brasileiro costumam ser acentuadas em uma das três últimas sílabas e as palavras paroxítonas são grande maioria no léxico do português brasileiro. As pré-proparoxítonas são, portanto, um padrão de acentuação relativamente novo para os estudantes brasileiros e apresentam um desafio para os aprendizes de inglês, que precisam aprender um padrão métrico não comum em sua L1. Assim, uma das regularidades da acentuação inglesa diz respeito à fre- quência dos tipos de acento. Clopper (2002) conduziu uma busca para obter informações sobre a frequência dos padrões acentuais nas palavras inglesas. A Tabela 1 mostra o número de palavras que segue cada um dos padrões, a frequência de cada padrão a cada milhão de palavras e a frequência média. 105Padrões de acentuação na palavra U3_C07_Fonética e fonologia do inglês.indd 105 10/09/2017 12:14:49 Fonte: Clopper (2002, p. 5). Padrão de palavra Número de palavras Frequência Frequência média 2 síl. – paroxítonas 3624 67693 18,68 2 síl. – oxítonas 995 19881 19,98 3 síl. – proparoxítonas 2619 24558 9,38 3 síl. – paroxítonas 1510 15278 10,12 3 síl. – oxítonas 369 1398 3,79 4 síl. – pré-proparoxítonas 497 3549 7,14 4 síl. – proparoxítonas 1331 9014 6,77 4 síl. – paroxítonas 1017 6831 6,72 4 síl. – oxítonas 37 97 2,62 Tabela 1. Informações de frequência para nove padrões acentuais do inglês. Percebe-se que palavras de duas e três sílabas possuem uma quantidade maior de palavras acentuadas na primeira sílaba, embora elas não sejam tão frequentes quanto dissílabos oxítonos e trissílabos paroxítonos. Também é possível notar uma tendência à acentuação proparoxítona em palavras mais longas. Palavras de três sílabas oxítonas são menos frequentes do que palavras de quatro sílabas acentuadas em qualquer uma das três primeiras sílabas. Além disso, palavras oxítonas tendem a ser menos frequentes do que os outros padrões de acentuação em palavras com três ou quatro sílabas. Juntando-se as palavras de duas e três sílabas, percebe-se uma tendência à acentuação na sílaba mais à esquerda da palavra, enquanto juntando as palavras de três e quatro sílabas, nota-se uma tendência à acentuação proparoxítona. Além das regularidades relativas aos tipos de acento, outras regularidades possíveis de serem listadas dizem respeito à estrutura silábica ou morfológica. Acento e estrutura silábica Giegerich (1992) propõe algumas generalizações sobre a acentuação em inglês a partir da estrutura silábica das palavras. De acordo com ele, em inglês há uma correlação entre a estrutura silábica e a acentuação: para ser tônica, a Padrões de acentuação na palavra106 U3_C07_Fonética e fonologia do inglês.indd 106 10/09/2017 12:14:50 sílaba precisa satisfazer a exigências estruturais. A primeira exigência é que sílabas tônicas precisam ser pesadas, enquanto sílabas átonas podem ser leves ou pesadas. Toda sílaba tônica, portanto, deve ter uma rima complexa, ou seja, aquela que contém pelo menos dois elementos. Sílabas pesadas são aquelas que possuem uma rima complexa, ou seja, uma vogal longa ou um ditongo. As generalizações sobre o acento e a estrutura silábica podem ser resumidas da seguinte maneira (GIEGERICH, 1992): 1. O acento em sílabas finais é possível somente em palavras com sílabas finais pesadas (p. ex., Ju ly, bal loon). 2. Enquanto o acento final em verbos e adjetivos é muito comum (p. ex., obey, di vine), os substantivos em inglês tendem a evitá-lo. Substantivos oxítonos são raros e instáveis, sendo muitos deles empréstimos de outras línguas (p. ex., bou quet, maga zine). 3. Em substantivos, a penúltima sílaba é acentuada se for pesada (p. ex., to mato, a genda). Caso contrário, o acento é colocado na antepenúltima sílaba (p. ex., camera, discipline). 4. As sílabas tônicassão pesadas, mas nem todas as sílabas pesadas são tônicas. 5. A acentuação em inglês é previsível em algumas situações, mas im- previsível em outras. 6. Alguns dos fatores relevantes na acentuação são fonológicos, como o peso da sílaba, por exemplo. Entretanto, outros são não fonológicos, como a categoria lexical da palavra. A acentuação em inglês, de acordo com Cruttenden (1997), pode ser re- sumida da seguinte forma: 107Padrões de acentuação na palavra U3_C07_Fonética e fonologia do inglês.indd 107 10/09/2017 12:14:50 1. Verbos e adjetivos: a) Acentue a penúltima sílaba quando a sílaba final contiver uma vogal curta ou for seguida por uma única consoante (p. ex., polish; rigid; ex plicit). b) Caso contrário, o acento é na última sílaba (sujeito à regra 3 a seguir), p. ex., re late; re ject; di vine; cor rect. 2. Substantivos: a) Se a sílaba final contiver uma vogal curta, desconsidere a sílaba e aplique as regras 1 “a” e “b” anteriores, p. ex., elephant; moment; complexion. b) Acentue a sílaba final caso ela contenha uma vogal longa (sujeito à regra 3 a seguir), p. ex., po lice; dis pute; campaign. 3. Palavras com mais de duas sílabas com uma vogal final longa: o acento pode não ser na sílaba final, mas na antepenúltima, p. ex., anecdote; pedigree; organise. Como vimos, a estrutura silábica e o fato de a sílaba conter uma vogal curta, longa ou até mesmo um ditongo são muitas vezes essenciais para a colocação do acento. Entretanto, muitas regras são ainda confusas, de difícil aplicação e têm diversas exceções. Outro aspecto que pode influenciar o acento é a morfologia, que veremos na próxima seção. Acento e estrutura morfológica A estrutura morfológica das palavras possui um papel importante nas regu- laridades da acentuação em inglês. Embora a adição de um prefi xo não mude a acentuação da palavra original, os sufi xos são morfemas que infl uenciam muito a acentuação na língua inglesa. Com a adição de um sufi xo, palavras derivadas podem ter a sílaba tônica igual ou diferente da palavra que a origi- nou (p. ex., nine – ninety, solid – so lidify). De acordo com Fudge (1984), os sufi xos podem ser: 1. Sufixos neutros: não modificam a acentuação da palavra original. Em alguns casos, apenas adicionam flexões a ela, como o -s/-es do plural, -er do comparativo, -ed do passado e -ing do gerúndio. Assim: cupboard – cupboards, pretty – prettier, demonstrate – demonstrated, in form – in forming. Há também sufixos neutros derivacionais, como -th, -less, -hood (seven – seventh, use – useless, child – childhood). Padrões de acentuação na palavra108 U3_C07_Fonética e fonologia do inglês.indd 108 10/09/2017 12:14:50 2. Sufixos autoacentuados: atraem a tonicidade para si, como millionaire, ciga rette, seven teen, pictu resque, Chi nese, mudando a acentuação da palavra inicial. 3. Sufixos “pre-stressed”: sendo o maior grupo de sufixos, é aquele em que o acento é colocado em alguma sílaba anterior a ele. a) Sufixos “pre-stressed” 1: a sílaba tônica é a imediatamente prece- dente ao sufixo (-erie, -ic, -id, -ion, -ish, -ity/-ety, -uble), p. ex., microscope – micro scopic. b) Sufixos “pre-stressed” 2: o acento se posiciona duas sílabas anteriores ao sufixo (-able, -tude, -ify), p. ex., person – per sonify. c) Sufixos “pre-stressed” 1/2: se a sílaba anterior ao sufixo for pesada, ela é acentuada. Caso contrário, a sílaba anterior a esta recebe o acento (-ive, -ature, -ide, -ory), p. ex., ex pensive, con secutive. d) Sufixos “pre-stressed” 2/3: se a sílaba localizada duas sílabas antes do sufixo for pesada, ela recebe o acento. Caso seja leve, a sílaba anterior a esta é acentuada (-graph, -scope e vários sufixos gregos), p. ex., ka leidoscope, heliograph. 4. Sufixos mistos: possuem dois ou mais modos de ação. O sufixo -ate, por exemplo, é autostressed em palavras de duas sílabas, como ro tate, mas pre-stressed 2 em palavras tri ou polissilábicas, como demonstrate. Outro problema é a distinção entre os tipos de sufixos, pois nem sempre um sufixo se comporta da mesma forma. Um sufixo que muda o acento em alguns casos pode não mudar em outros. Assim, -ity muda o acento em solemnity, mas não em divinity, em que a qualidade da vogal é diferente da base (divine), mas o acento se mantém na mesma sílaba. Mais uma vez, as regras da acentuação em inglês encontram exceções que comprovam sua imprevisibilidade. Para saber mais sobre acento e estrutura silábica e morfológica, leia Fudge (1984) e Giegerich (1992). 109Padrões de acentuação na palavra U3_C07_Fonética e fonologia do inglês.indd 109 10/09/2017 12:14:50 Saiba mais sobre a acentuação de pala- vras em inglês em: https://goo.gl/irN2q7 https://goo.gl/tT2BYg https://goo.gl/hG3Dv7 Padrões de acentuação na palavra110 U3_C07_Fonética e fonologia do inglês.indd 110 10/09/2017 12:14:52 BOLINGER, D. L. Around the edge of language: intonation. In: BOLINGER, D.L. (Ed.). Intonation. Middlesex: Penguin, 1972. p. 19-29. CLOPPER, C. G. Frequency of stress patterns in English: a computational analysis. Indiana University Linguistics Club Working Papers, v. 2, n. 1, 2002. CRUTTENDEN, A. Intonation. Cambridge: Cambridge University Press, 1997. FUDGE, E. English word stress. London: George Allen & Unwin, 1984. GIEGERICH, H. English phonology: an introduction. Cambridge: Cambridge University Press, 1992. GOMES, M. L. C.; BRAWERMAN-ALBINI, A.; ENGELBERT, A. P. P. F. The perception of vowel epenthesis and word stress in an English as a lingua franca context. Concordia Working Papers in Applied Linguistics, v. 5, p. 185-202, 2014. GUSSMANN, E. Phonology: analysis and theory. Cambridge: Cambridge University Press, 2002. KENWORTHY, J. Teaching English pronunciation. Essex: Longman, 1987. MASSINI-CAGLIARI, G. Acento e ritmo. São Paulo: Contexto, 1992. Leitura recomendada BRAWERMAN-ALBINI, A.; GOMES, M. L. C. (Org.). O jeitinho brasileiro de falar inglês: pesquisas sobre a pronúncia do inglês por falantes brasileiros. Campinas: Pontes, 2014. 111Padrões de acentuação na palavra U3_C07_Fonética e fonologia do inglês.indd 111 10/09/2017 12:14:52 FONÉTICA E FONOLOGIA DO INGLÊS Ubiratã Kickhöfel Alves Andressa Brawerman-Albini Maria Lacerda Relação entre acento, proeminência e ritmo Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar as seguintes habilidades: Identi� car a função da acentuação silábica na língua inglesa. Relacionar as características da proeminência silábica na língua inglesa. Reconhecer a importância entre o ritmo e a comunicação. Introdução O processo de comunicação é uma via de mão dupla. Precisamos falar para nos expressarmos. Precisamos ouvir para compreendermos o que as outras pessoas dizem. Quando estudamos outro idioma, é comum termos a crença de que a nossa pronúncia deve ser idêntica à de um falante nativo para que sejamos fluentes. Porém, vivemos em um mundo diversificado: cada pessoa é única, e cada fala é uma apropriação individual que as pessoas fazem das línguas. Assim sendo, a comunicação possui aspectos extralinguísticos. Ao nos voltarmos para a língua inglesa, é preciso levar em conta que o estudo desse idioma também envolve muitos fatores. É preciso conhecer certos aspectos linguísticos dessa língua para que a aprendizagem aconteça de forma consistente e significativa. Neste texto, você vai desenvolver conhecimentos sobre alguns fenômenos que conferem à língua inglesa traços específicos, como a acentuação, a proeminência e o ritmo. U4_C09_Fonética e fonologia do inglês.indd 123 07/09/2017 22:08:11 A função da acentuação silábica na língua inglesa A acentuação silábica das palavras é um fator importante no processo de comunicação. É ela que permite enfatizar as sílabas durante a pronúncia dos vocábulos. Na língua portuguesa, por exemplo, esse aspecto fonológico é conhecido como “acentuação tônica”. Para indicar a tonicidade,utilizamos acentos gráfi cos fi xos que seguem a norma de acentuação prescrita nas gra- máticas normativas. Também classifi camos as posições das sílabas tônicas em monossílabos tônicos, oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas. A tonicidade dá ao português o seu ritmo. Quando falamos de acentuação, um dos fatores que precisamos ter em mente é que cada língua terá o seu ritmo e as suas regras de tonicidade. Segundo Silva (2012), há variações entre os inventários fonéticos das línguas, ou seja, eles não são equivalentes. Nesse sentido, existirão sons de uma língua que não existirão, necessariamente, em outra. Portanto, a acentuação também faz com que haja traços singulares nas línguas. No que diz respeito à língua inglesa, o termo “accent” é utilizado para indicar a tonicidade silábica nesse idioma. Para tanto, utiliza-se o termo “pro- minence” (proeminência) para designar as sílabas que se destacam das demais na pronúncia do inglês. Para Roach (2009, p. 01), é importante destacar que essa palavra pode ser empregada em dois diferentes sentidos: 1. O primeiro se refere à proeminência dada a uma sílaba pelo uso do tom (pitch) diferente e acentuado. Por exemplo, na palavra potato, a sílaba do meio (to) é a mais proeminente. Ao pronunciá-la, você provavelmente produzirá uma queda na sílaba do meio, o que fará dela uma sílaba acentuada. Observe que, mesmo com o tom mais baixo, a sílaba foi acentuada, pois, na pronúncia, tem maior ênfase em relação às outras sílabas. Além disso, é importante ressaltar que a palavra “accent” se distingue do termo “stress”, que é utilizado, de forma geral, para se referir a todo tipo de proeminência, incluindo o aumento do volume e comprimento e a qualidade do som durante a fala. 2. O segundo diz respeito ao emprego da palavra “accent” para se referir ao modo particular de pronúncia dos falantes da língua inglesa. Por exemplo, alguns nativos podem compartilhar da mesma gramática e vocabulário e terem diferentes tipos de acentuação. Esse aspecto da fala está relacionado ao fenômeno da variação linguística. Relação entre acento, proeminência e ritmo 124 U4_C09_Fonética e fonologia do inglês.indd 124 07/09/2017 22:08:12 A variação linguística pode ocorrer por questões históricas, regionais e comunicacionais. A língua é uma parte viva de uma cultura. Insere-se em uma sociedade complexa formada por diferentes grupos sociais. Por isso, é normal que questões como re- gionalismos e ajustes feitos pelos falantes na comunicação influenciem o constante processo formativo de uma língua ao longo do tempo. Esse tema é objeto de um ramo da Linguística chamado de Sociolinguística. Diante dos aspectos apresentados, é possível observar que a acentuação constitui uma característica importante da língua inglesa. Ela está presente no nível linguístico (nas unidades silábicas das palavras) e no extralinguístico (na unidade individual da fala dos indivíduos). Prosódia é um campo de estudo inserido na área da Linguística. Nesse campo estudam- -se aspectos linguísticos como a acentuação, a entonação, a ênfase, o ritmo, entre outros fatores que envolvem a linguagem falada. Atualmente, a análise prosódica também engloba fatores extralinguísticos, como atitudes, emoções, gêneros, fatores sociais etc. Conheça mais sobre essa área de investigação lendo o artigo “Das concepções primeiras ao recorte científico atual” (BARBOSA, 2008). A proeminência silábica na língua inglesa A acentuação silábica, no inglês, é usada como recurso para conferir pro- eminência às sílabas das palavras. Nesse sentido, as sílabas que recebem maior tonicidade têm em comum o fato de serem mais proeminentes do que as outras sílabas. Há, também, importantes características que fazem uma sílaba acentuada ser reconhecida. Para Roach (2009, p. 85), há quatro fatores a serem considerados em relação à proeminência silábica na língua inglesa: 125Relação entre acento, proeminência e ritmo U4_C09_Fonética e fonologia do inglês.indd 125 07/09/2017 22:08:12 1. A maioria das pessoas percebe que as sílabas acentuadas são mais altas do que as sílabas não acentuadas. Dessa forma, a intensidade com a qual uma sílaba é pronunciada torna-se um componente da proeminência. Por exemplo, mesmo na sequência de sílabas idênticas “ba: ba: ba: ba:”, se uma sílaba fosse reproduzida de forma mais alta do que as demais, ela seria ouvida de forma proeminente. 2. O comprimento das sílabas tem um papel importante a desempenhar na proeminência. Se a uma das sílabas da palavra hipotética “ba: ba: ba: ba:” fosse pronunciada de forma mais longa, haveria uma forte tendência para que ela fosse ouvida como a sílaba proeminente. 3. Toda sílaba vocal é dita em algum tom. A fala está intimamente rela- cionada à frequência de vibração das pregas vocais e à noção musical de notas baixas e agudas. Se uma das sílabas do exemplo acima fosse dita em um tom visivelmente diferente do das demais, ela teria uma forte tendência a produzir o efeito de proeminência. 4. Uma sílaba tenderá a ser proeminente quando tiver uma vogal diferente como vizinha. Se mudarmos uma das vogais do nosso exemplo (ba: bi: ba: ba:), a sílaba bi: estará propensa a ser ouvida com mais tonicidade. Sua acentuação ocorrerá em contraste às características específicas das sílabas não acentuadas. Portanto, a proeminência será produzida por quatro fatores: (1) volume; (2) duração; (3) tom; e (4) característica. Nesse âmbito, é importante consi- derar, também, a dimensão do uso da língua nesse processo. A forma como os indivíduos, sejam eles falantes nativos ou não nativos, se apropriam da língua, no ato da fala, também estará intimamente relacionada ao fenômeno da proeminência. Muitas vezes, ao aprendermos outra língua, transferimos para ela algumas normas de acentuação da nossa língua materna. Leia o texto “A produção da vogal final/i/em dissílabos do inglês por aprendizes brasileiros: uma questão de tempo” (ENGELBERT; SILVA, 2012) como exemplo de uma pesquisa sobre esta interferência. Relação entre acento, proeminência e ritmo 126 U4_C09_Fonética e fonologia do inglês.indd 126 07/09/2017 22:08:12 A importância do ritmo na comunicação O ritmo é um movimento fl uido que ocorre em períodos sucessivos. No con- texto linguístico, é ele que dará movimento e dinamicidade à língua inglesa em diferentes situações comunicacionais. De acordo com Schütz (2008), em relação ao ritmo, as línguas são classi- ficadas em syllable-timed (ritmo silábico) e stress-timed (ritmo acentual). A língua portuguesa é um exemplo da primeira classificação; a língua inglesa, da segunda. Nas línguas syllable-timed, é a sílaba que imprime ritmo à fala. Cada uma é pronunciada em um intervalo de tempo semelhante. Assim, o tempo gasto para pronunciar uma frase estará relacionado ao número de sílabas de todas as palavras que a constituem. Conseguimos perceber, por exemplo, que todas as sílabas das palavras são pronunciadas de forma regular no português. Já nas línguas do tipo stress-timed, o ritmo é marcado pela sílaba tônica das palavras. Ele ocorre em intervalos mais irregulares. Consequentemente, os seguimentos de algumas sílabas não acentuadas tendem a ficar comprimidos, aglutinados. Algumas sílabas, dependendo da percepção do ouvinte, podem ficar imperceptíveis. Assim, o tempo gasto para pronunciar uma frase na língua inglesa, por exemplo, depende do número total das sílabas tônicas das palavras. Dessa forma, se considerarmos, especificamente, as características relacio- nadas ao inglês, veremos que o conhecimento acerca do ritmo desse idioma é fundamental para que a comunicação aconteça de forma satisfatória. Ele é essencial na compreensão e na pronúncia do idioma. Você já pensou em como a acentuação e o ritmo podem ser importantes no ensino do inglês como segunda língua? Leia o texto “Acento e ritmo: aspectos fonético-prosódicos no ensino de inglês como L2” (SILVA JÚNIOR, 2016) para saber mais sobre o assunto.127Relação entre acento, proeminência e ritmo U4_C09_Fonética e fonologia do inglês.indd 127 07/09/2017 22:08:13 Considerações finais Você pôde perceber, por meios dos temas estudados neste texto, que a lín- gua inglesa possui aspectos linguísticos que conferem a ela características específi cas. A aprendizagem efetiva de um idioma envolve, mais do que uma pronúncia clara, o conhecimento dos elementos que constituem a língua como um todo signifi cativo. Relação entre acento, proeminência e ritmo 128 U4_C09_Fonética e fonologia do inglês.indd 128 07/09/2017 22:08:14 BARBOSA, P. Das concepções primeiras ao recorte científico atual. Belo Horizonte: Psi- colinguística Wiki, 2008. Disponível em: <http://psicolinguistica.letras.ufmg.br/wiki/ index.php/Pros%C3%B3dia>. Acesso em: 16 ago. 2017. ENGELBERT, A. P. P. F.; SILVA, A. H. P. A produção da vogal final/i/em dissílabos do inglês por aprendizes brasileiros: uma questão de tempo. Revista Verba Volant, Pelotas, v. 3, n. 1, p. 72-83, jan./jun. 2012. Disponível em: <https://goo.gl/GxsKcv>. Acesso em: 16 ago. 2017. ROACH, P. English phonetics and phonology glossary (a little encyclopaedia of phone- tics). Cambridge: [s.n.], 2009. Disponível em: <http://www.ff.umb.sk/app/cmsFile. php?disposition=a&ID=14179>. Acesso em: 16 ago. 2017. SCHÜTZ, R. Ritmo e o fenômeno de redução das vogais em inglês. English Made in Brazil, 18 jun. 2008. Disponível em: <http://www.sk.com.br/sk-reduc.html>. Acesso em: 27 ago. 2017. SILVA JÚNIOR, L. J. Acento e ritmo: aspectos fonético-prosódicos no ensino de inglês como L2. Leia Escola, v. 15, n. 2, p. 34-44, 2016. Disponível em: <http://revistas.ufcg. edu.br/ch/index.php/Leia/article/view/512>. Acesso em: 17 ago. 2017. SILVA, T.C. Fonética e fonologia do português. Roteiro de estudos e guia de exercícios. Contexto: São Paulo, 2012. Leituras recomendadas AVERY, P.; EHRLICH, S. Teaching American pronunciation. Oxford: Oxford University Press, 1995. BOLINGER, D. L. A theory of pitch accent in English. Word, v. 14, n. 2-3, p. 109-149, 1958. Disponível em: <http://www.tandfonline.com/doi/pdf/10.1080/00437956.1958.1165 9660>. Acesso em: 16 ago. 2017. 129Relação entre acento, proeminência e ritmo U4_C09_Fonética e fonologia do inglês.indd 129 07/09/2017 22:08:14 FONÉTICA E FONOLOGIA DO INGLÊS Ubiratã Kickhöfel Alves Andressa Brawerman-Albini Mariza Lacerda Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 Revisão técnica: Monica Stefani Bacharela em Letras – habilitação português/inglês Mestra em Letras – Literaturas de língua inglesa/literatura australiana Doutora em Letras – Literaturas de língua inglesa/estudos de tradução A474f Alves, Ubiratã Kickhöfel. Fonética e fonologia do inglês / Ubiratã Kickhöfel Alves, Andressa Brawerman-Albini, Mariza Lacerda ; [revisão técnica: Monica Stefani]. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. 164 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-162-4 1. Fonética. 2. Fonologia. I. Língua inglesa. II. Brawerman-Albini, Andressa. III. Lacerda, Mariza. IV. Título. CDU 37 Iniciais_Fonética e fonologia do inglês.indd 2 10/09/2017 12:31:37 Linkings: ajustes na fala conectada e entonação do inglês Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Relacionar os elementos que in� uenciam a pronúncia de sentenças. Identi� car relações de ligação entre palavras de uma mesma sentença. Reconhecer o papel da entonação na produção de signi� cados. Introdução Os textos orais produzidos em língua inglesa são formados por palavras. É a organização lógica dessas unidades linguísticas que permite que os usuários desse idioma se expressem em interações sociais distintas. As atividades linguageiras funcionam como cadeias de sentido nas quais os sujeitos, ao utilizarem intencionalmente a língua, também assumem um papel importante nas trocas simbólicas construídas em diferentes eventos comunicativos. Nessa perspectiva, é preciso levar em conta tanto os aspectos que constituem a língua inglesa como um código linguístico quanto os que envolvem o seu uso por parte de seus falantes. Neste texto, desenvolveremos conhecimentos que envolvem a pro- núncia de sentenças, a ligação entre diferentes elementos de sentenças e a entonação como um fator relacionado à produção de significados. Fatores relacionados à pronúncia de sentenças na língua inglesa A pronúncia da língua inglesa possui uma característica que faz com que determinadas palavras, ao serem pronunciadas, conectem-se foneticamente U4_C10_Fonética e fonologia do inglês.indd 130 12/09/2017 09:04:49 umas às outras. Esse fenômeno é conhecido como “connected speech” (fala conectada ou discurso conectado). Para Avery e Ehrlich (1992), a pronúncia desse idioma também está rela- cionada a aspectos que envolvem o uso dessa língua por parte dos falantes, como ritmo, ênfase e entonação, os quais também serão fatores essenciais para a produção e compreensão da fala conectada. Se um falante não nativo, por exemplo, não tiver familiaridade com a fluidez da fala conectada ao ouvir um falante nativo, sua compreensão da língua oral poderá ser comprometida. O mesmo pode ocorrer com a sua pronúncia, que pode não ser compreendida por um falante nativo. Na fonologia, os sons podem ser estudados em duas dimensões: segmental e supras- segmental. Na primeira, são considerados aspectos formativos das palavras, como as vogais e as consoantes. Na segunda, são estudados fatores que envolvem a dimensão do uso da língua, como ritmo, ênfase e entonação. De acordo com os autores, para produzir sentenças que tenham a ênfase adequada, é preciso conhecer dois grupos da língua inglesa: as palavras de conteúdo (content words) e as palavras funcionais ( function words). O primeiro grupo é composto por palavras que expressam significados de forma independente: substantivos, verbos principais, advérbios, adjetivos, palavras interrogativas (conhecidas como wh-questions) e pronomes demonstrativos. Essas palavras geralmente serão enfatizadas nas sentenças. O segundo grupo é composto por palavras que estabelecem relações gramaticais: artigos, pre- posições, verbos auxiliares, pronomes, conjunções e pronomes relativos. Esse grupo de palavras não costuma ser enfatizado em sentenças. Dadas as distinções, utilizemos as palavras funcionais como exemplos para observarmos a fala conectada. Abaixo, estão representadas as pronúncias de palavras funcionais empregadas de forma isolada (pronúncia forte) e utilizadas em sentenças (pronúncia fraca). 131Linkings: ajustes na fala conectada e entonação do inglês U4_C10_Fonética e fonologia do inglês.indd 131 12/09/2017 09:04:50 Fonte: Avery e Ehrlich (1992). Palavras funcionais Forma forte Forma fraca can [kæn] [kn] will [wil] [wl], [l] have [hæv] [v], [v] to [tuw] [t] he [hiy] [iy] them [ðm] [ðm], [m] and [ænd] [n], [n] Tabela 1. Como você pode notar, o uso dessas palavras como elementos consti- tuintes de sentenças modificou a pronúncia dos vocábulos. Veja, agora, mais um exemplo. Observe o que ocorre com as consoantes finais das palavras funcionais of e and ao serem empregadas em sentenças: Fonte: Avery e Ehrlich (1992). Sentenças Transcrições fonéticas A cup of coffee. [ kp kafiy] A lot of nonsense. [ lat nansns] Cream and sugar. [kriym n gr] Now and then. [naw n ðn] Tabela 2. Observe, no exemplo apresentado, que as palavras funcionais perderam as suas consoantes finais ao serem utilizadas em sentenças que apresentaram o fenômeno da fala conectada. Tal ocorrência demonstra que a conexão entre as Linkings: ajustes na fala conectada e entonação do inglês132 U4_C10_Fonética e fonologia do inglês.indd 132 12/09/2017 09:04:50 palavras segmentadas discursivamente acarreta mudanças fonéticas específicas em vocábulos empregados sintaticamente. Diante dos aspectos apresentados, é possível notar, portanto, que existemfatores prosódicos que influenciam determinados sons da língua inglesa. Dessa forma, o fenômeno da fala conectada ilustra a importância que a dimensão do uso da língua representa quando estudamos a pronúncia desse idioma. Os sons do idioma falado são representados pelo Alfabeto Fonético Internacional (International Phone- tic Alphabet – IPA), um sistema de notação fonética padronizado e representativo. Acesse o link ou código a seguir para ler mais: https://goo.gl/cN5JRj A ligação entre palavras de uma mesma sentença na língua inglesa Na pronúncia da língua inglesa, algumas palavras são “ligadas” durante o processo da fala conectada. Linguisticamente, essa relação é designada pelo termo inglês “linking”, que representa a ligação dos sons de palavras segmentadas em sentenças. Avery e Ehrlich (1992) apresentam exemplos que categorizam essa ligação fonética entre as palavras: 1. Ligação entre consoantes e vogais: ocorre quando uma palavra que termina com uma consoante é seguida por uma palavra que começa com uma vogal. A consoante parece se tornar parte da palavra seguinte. Exemplo: stop it; with it; washed it; cash out; e back out. 2. Ligação entre consoantes: acontece quando uma palavra que termina com uma consoante é seguida por uma palavra que também começa com uma consoante. A consoante final geralmente não é pronunciada. 133Linkings: ajustes na fala conectada e entonação do inglês U4_C10_Fonética e fonologia do inglês.indd 133 12/09/2017 09:04:50 https://goo.gl/cN5JRj Exemplo: stop trying; bad judge; lap dog; big boy; e let down. 3. Ligação entre consoantes idênticas: ocorre quando a consoante final de uma palavra e consoante inicial da palavra seguinte possuem sons idênticos. Ambas são pronunciadas como uma consoante mais longa. Exemplo: if Fred; hurt Tom; with thanks; black cat; e push Shirley. 4. Ligação entre vogais: acontece quando palavras que terminam com vogais longas, como /iy/, /ey/, /uw/ ou /ow/, são seguidas por palavras que começam com uma vogal. As palavras são ligadas pela semivogal da vogal longa final e vogal inicial da palavra seguinte. Observe a representação da junção dos sons entre parênteses. Exemplo: pay up (ey+V); way up north (ey+V); flew in (uw+V); grow up (ow+V); e blow out (ow+V). 5. Ligação entre vogais e semivogais: ocorre quando palavras que termi- nam com vogais longas, como /iy/, /ey/, /uw/ ou /ow/, são seguidas por palavras que começam com a mesma semivogal que termina a vogal longa. Elas serão ligadas como consoantes idênticas. O som produzido pela junção dos sons está representado entre parênteses. Exemplo: be yourself (iy+y); pay yourself (ey+y); stay united (ey+y); do we (uw+w); e blow wind blow (ow+w). A influência que um som exerce sobre o outro faz com que eles compartilhem características articula- tórias similares. Esse fenômeno é conhecido como “Assimilação” (Assimilation). Acesse o link ou código a seguir para saber mais: https://goo.gl/6oU7tA Linkings: ajustes na fala conectada e entonação do inglês134 U4_C10_Fonética e fonologia do inglês.indd 134 12/09/2017 09:04:51 https://goo.gl/6oU7tA Os exemplos reproduzidos no texto demonstram que o processo de seg- mentação das palavras é permeado por fenômenos fonéticos. Assim sendo, é de extrema importância considerarmos a correlação entre os componentes das palavras, como vogais, semivogais e consoantes, no processo de segmentação de vocábulos. Você também deve perceber a influência desses elementos na pronúncia e compreensão oral da língua inglesa. A entonação e a produção de significados O processo de entonação da fala pode ser concebido como a forma como o falante de uma língua dá tom aos sons vocais que produz. Por variar de falante para falante, esse aspecto prosódico da emissão de sons faz com que características individuais dos sujeitos que se comunicam estejam presentes nas trocas simbólicas dos processos comunicativos. Para Roach (2009), a entonação possui uma dimensão atitudinal, pois é ela que permite ao ouvinte identificar atitudes particulares dos falantes, como o entusiasmo, a dúvida, a amizade etc. Nesse sentido, para que a comunicação se dê de forma satisfatória, é necessário que o tom de fala seja utilizado de forma compreensível pelo falante para evitar, por exemplo, que a sua intenção comunicativa seja mal interpretada pelo seu ouvinte. Em outra instância, também existem línguas que utilizam a entonação sintaticamente. A língua inglesa é um exemplo desse emprego. Para Avery e Ehrlich (1992), no contexto linguístico, a entonação é comumente chamada de melodia da língua, pois está relacionada à mudança de tom que as pessoas usam quando falam, de forma padronizada. Por isso, ela assume um papel importante na produção de significados. Para exemplificar, vamos observar os usos da entonação em dois exemplos apresentados pelos autores: 1) Denna’s helpful, isn’t she? Neste exemplo, a finalização da sentença em um tom ascendente significa que o falante não tem certeza sobre o que diz de Denna. Ele espera que o ouvinte se manifeste. 2) Denna’s helpful, isn’t she? 135Linkings: ajustes na fala conectada e entonação do inglês U4_C10_Fonética e fonologia do inglês.indd 135 12/09/2017 09:04:53 Já neste outro exemplo, o tom descendente utilizado ao final da sentença indica que o falante tem certeza sobre o que afirma de Denna. Ele aguarda que o ouvinte concorde com ele. Os exemplos apresentam a importância da entonação no uso de tag questions (outros usos igualmente relevantes da entonação no inglês são para interro- gações, frases afirmativas, listagem de elementos, expressão de sentimentos, ênfase e contraste entre elementos). Note que o uso diferenciado da entona- ção produziu diferentes sentidos nas sentenças. Ainda, os demais aspectos abordados no texto também demonstraram como a entonação é importante na produção de significados durante o processo de interação entre falantes e ouvintes, tanto na dimensão sintática quanto na prosódica. Desse modo, você precisa considerar a importância desse componente fonológico na comunicação e produção de significados na língua inglesa, identificando suas nuances. A entonação, assim como outros aspectos prosódicos do inglês, também está relacionada à cultura desse idioma. Acesse o link ou utilize o código a seguir para ler o artigo da Revista brasileira de linguística aplicada, que traz relatos de brasileiros sobre as diferenças culturais percebidas por brasileiros no uso da língua inglesa: https://goo.gl/sbSxBL Considerações finais Após os estudos dos temas abordados neste texto, você aprendeu que há vários fatores que infl uenciam a segmentação de palavras na construção de textos orais em língua inglesa, os quais fazem com que a língua seja constituída por fenômenos internos e externos ao código linguístico. Linkings: ajustes na fala conectada e entonação do inglês136 U4_C10_Fonética e fonologia do inglês.indd 136 12/09/2017 09:04:53 https://goo.gl/sbSxBL 1. São aspectos suprassegmentais: a) as vogais e as consoantes. b) as vogais e a entonação. c) o ritmo e as semivogais. d) a ênfase e a entonação. e) a ênfase e as consoantes. 2. Em relação às palavras de conteúdo, é correto afirmar que: a) elas não são enfatizadas nas sentenças. b) elas dependem de outras palavras para produzirem significado. c) elas são utilizadas apenas para estabelecerem relações gramaticais. d) elas não interferem no processo de ênfase. e) elas expressam significado de forma independente. 3. O fenômeno da ligação (linking) entre palavras envolve a conexão de: a) significados. b) sentenças. c) sons. d) palavras. e) apenas vogais. 4. A conexão entre palavras (linking) é de natureza: a) suprassegmental e fonológica. b) apenas segmental. c) segmental e fonética. d) apenas suprassegmental. e) suprassegmental e fonética. 5. O fenômeno da entonação ocorre de forma: a) apenas prosódica. b) sintática e prosódica.c) apenas fonológica. d) fonológica, sintática e prosódica. e) sintática e fonológica. 137Linkings: ajustes na fala conectada e entonação do inglês U4_C10_Fonética e fonologia do inglês.indd 137 12/09/2017 09:04:54 AVERY, P.; EHRLICH, S. Teaching American Pronunciation. Oxford: Oxford University Press, 1992. NOGUEIRA, A. S. Diferenças culturais percebidas por brasileiros no uso da língua inglesa no exterior e seu tratamento em livros didáticos. Revista brasileira de linguística aplicada, Belo Horizonte, v. 13, n. 1, p. 345-368, 2013. Disponível em: <http://www. scielo.br/pdf/rbla/2012nahead/aop1612.pdf>. Acesso em: 21 ago. 2016 ROACH, P. English phonetics and phonology glossary: a little encyclopaedia of phonetics. Cambridge: Peter Roach, 2009. Disponível em: <http://www.ff.umb.sk/app/cmsFile. php?disposition=a&ID=14179>. Acesso em: 16 ago. 2017. Leituras recomendadas ALFABETO FONÉTICO INTERNACIONAL. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2017. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Alfa- beto_fon%C3%A9tico_internacional>. Acesso em: 21 ago. 2017. NORDQUIST, R. Assimilation in Speech: glossary of Grammatical and Rhetorical Terms. ThoughtCo, New York, 2017. Disponível em: <https://www.thoughtco.com/what-is- -assimilation-phonetics-1689141>. Acesso em: 21 ago. 2017. ROACH, P. English Phonetics and Phonology: a practical course. 2. ed. Cambridge: Cambridge University Press, 1998. Linkings: ajustes na fala conectada e entonação do inglês138 U4_C10_Fonética e fonologia do inglês.indd 138 12/09/2017 09:04:54 http://scielo.br/pdf/rbla/2012nahead/aop1612.pdf http://www.ff.umb.sk/app/cmsFile. https://pt.wikipedia.org/wiki/Alfa- https://www.thoughtco.com/what-is- Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo: FONÉTICA E FONOLOGIA DO INGLÊS Ubiratã Kickhöfel Alves Andressa Brawerman- Albini Mariza Lacerda Padrão entonacional do inglês Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Relembrar a importância da tonicidade na língua inglesa. Reconhecer as regras de entonação da língua inglesa. Relacionar a entonação do inglês americano à do inglês britânico. Introdução Você já notou que um maestro, ao reger sua orquestra, dá o tom antes que tudo se inicie? É o tom que estipula como os sons dos instrumentos deverão ser produzidos. É, também, a execução harmoniosa desses sons que criará melodias agradáveis aos nossos ouvidos. A música é uma linguagem, e a linguagem, que se materializa nos usos da língua, também é musical. Dessa forma, a língua inglesa, ao ter a sua tonicidade, também terá as suas melodias. Cada sílaba, cada palavra e cada sentença serão como instrumentos para os seus falantes, que, guiados pelos tons e variações do idioma, entoarão as suas canções para os seus ouvintes. Neste texto, você desenvolverá conhecimentos relacionados ao pa- drão entonacional da língua inglesa. Além disso, você irá estudar aspectos como a importância da tonicidade e as regras de entonação. A tonicidade na língua inglesa Como você já viu em outros capítulos, a acentuação está presente na língua inglesa no seu nível linguístico, conferindo proeminência às palavras e sen- tenças, e no nível extralinguístico, relacionando-se ao modo particular de fala dos falantes do idioma. Ela também está intimamente relacionada ao ritmo do inglês, pois ele é marcado pela acentuação das palavras. U4_C11_Fonética e fonologia do inglês.indd 139 12/09/2017 09:11:42 Você também já sabe, o conceito de “pitch”, isto é, o efeito acústico pro- duzido pela frequência de vibração das cordas vocais, e a entonação está relacionada ao “tom” que é conferido às unidades linguísticas da língua inglesa durante a fala. Portanto, tanto a acentuação quanto a entonação conferem tonicidade ao inglês. Para Roach (1998), sob a perspectiva dos estudos da linguagem, a acen- tuação e a entonação dizem respeito à fonologia suprassegmental, pois são aspectos que se sobrepõem aos sons segmentais da língua inglesa. Especifi- camente em relação à entonação, o autor afirma que o “tom de voz” é fator essencial para a compreensão desse conceito, pois são as variações da fala que permitem identificá-lo. Você já reparou que, quando estamos nervosos, costumamos aumentar o nosso tom de voz e que também costumamos baixá-lo quando estamos tris- tes e desmotivados? A forma como dizemos algo e o uso diferenciado do nosso tom de voz nos permitem expressar emoções. Dessa forma, a entonação faz com que os nossos sentimentos, por meio da fala, se tornem atitudes. Acesse o link ou código a seguir e leia o artigo “Vocal expression and perception of emo- tion” (BACHOROWSKI, 1999) para saber mais sobre os processos de expressão e percepção relacionados à entonação: https://goo.gl/YK9HD6 Ao tratar as funções da entonação, o estudioso demonstra que a melhor forma de compreender esse aspecto da fala é pensando sobre o que seria perdido se não a utilizássemos. Como seria a linguagem se todas as sílabas fossem pronunciadas no mesmo nível de acentuação e sem pausas ou mudanças na velocidade e altura dos sons? Como os falantes poderiam expressar as suas emoções, na língua oral, em uma linguagem sonoramente inalterável? Após tentarmos imaginar como o uso da língua inglesa seria sem essas mudanças de tom, podemos concordar com a afirmação do autor de que o resultado seria uma Padrão entonacional do inglês140 U4_C11_Fonética e fonologia do inglês.indd 140 12/09/2017 09:11:42 espécie de “fala mecânica”, inexpressiva. Dessa forma, torna-se perceptível a importância da tonicidade como um fator significativo na comunicação entre os falantes desse idioma. Veja a seguinte frase: I can’t believe he gave you a ride home! A exclamação pode indicar alegria, surpresa ou incômodo, dependendo da entonação do falante na situação comunicativa. Se o falante utiliza uma entonação ascendente (rising intonation), percebemos sua alegria ou até mesmo surpresa ao saber que o fato ocorreu (aqui, a carona dada). Outra interpretação pode ser de incômodo (a carona ter sido dada por alguém sem condições de dirigir, por exemplo). As regras de entonação da língua inglesa Você vai ver agora algumas regras de entonação resumidas da língua inglesa. Como o idioma é falado em inúmeros países, é natural que você encontre outras variantes, cujas regras próprias de entonação talvez variem um pouco (como o inglês australiano, o inglês canadense, o inglês indiano, entre outros), mas não o sufi ciente para invalidar o que é descrito aqui. Na verdade, também podemos alertá-lo de que essas regras são apresentadas de modo distinto Na dimensão prosódica dos estudos linguísticos, a entonação tem sido um tema relevante para o desen- volvimento de pesquisas. Leia um estudo sobre essa dimensão da linguagem no artigo de Maria Aparecida C. M. Borges da Silva, intitulado “A importância da pro- sódia na análise da interação”, na revista Intercâmbio (v. 8, 1999), do Programa de Estudos Pós-Graduados em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem da PUC/SP, disponível no link ou código a seguir: https://goo.gl/XVRXHb 141Padrão entonacional do inglês U4_C11_Fonética e fonologia do inglês.indd 141 12/09/2017 09:11:43 dependendo do autor do material de referência. No entanto, grosso modo as regras se aplicam ao inglês padrão, e as diferenças não chegam a causar grandes problemas (compreender as diferenças é importante para facilitar sua compreensão da língua, bem como sua performance). Em geral, na língua inglesa, a entonação possui duas funções básicas. A primeira é unir as palavras em orações e sentenças no discurso oral. Nesse âmbito, a utilização diferenciada do pitch permite que sejam produzidos dife- rentes efeitos de sentido ao que é dito pelos falantes desse idioma. A segunda funçãoda entonação é diferenciar os tipos de sentenças, isto é, o que o falante está tentando nos transmitir: é uma afirmação que ele está fazendo? Ou uma pergunta? Ele está dando uma ordem? Ele está fazendo uma exclamação? Ele está entediado? E assim por diante. É pela entonação que você com frequência consegue detectar o “mood” (ou o estado de ânimo) do seu interlocutor. Por exemplo, veja a seguinte frase: I am so excited for you. Se o falante procura o efeito de sarcasmo ou ironia, ele produzirá a frase utilizando uma entonação descendente ( falling intonation), realizada com um pitch baixo (logo, dando a entender justamente o contrário). Veja na Figura 1 a seguir como a entonação serve de referência em um brevíssimo diálogo: Figura 1. Entonação como referência em um diálogo monovocabular. Fonte: Hancock (2006, p. 116). Padrão entonacional do inglês142 U4_C11_Fonética e fonologia do inglês.indd 142 12/09/2017 09:11:43 Avery e Erhlich (1995) apresentam padrões básicos de entonação na língua inglesa: a entonação que não ocorre no final de sentenças (non-final intonation); e a entonação que ocorre no final de sentenças ( final intonation). Os dois tipos de entonação possuem funções distintas na pronúncia de sentenças em inglês. A non-final intonation é utilizada para pen- samentos incompletos, frases introdutórias, séries de palavras e em escolhas. Por exemplo, para sinalizar que você tem mais algo a dizer, eleve o pitch no fim da frase, como no contraste a seguir: Com expressões introdutórias, como actually, by the way, as a matter of fact, que por si só já indicam que o pensamento não foi concluído, a non-final intonation se aplica. Em listagens, como parte da non-final entonation, a voz sobe no fim de cada item, mas cai no último, como em: 143Padrão entonacional do inglês U4_C11_Fonética e fonologia do inglês.indd 143 12/09/2017 09:11:43 Por fim, utilizamos a non-final intonation quando fazemos escolhas entre uma ou mais opções. Por exemplo: Quanto ao padrão de final intonation, temos os seguintes tipos: Entonação ascendente-descendente (rising-falling intonation): nesse padrão, o tom de voz sobe na pronúncia da palavra mais acentuada na sentença e desce em seguida. Esse é o padrão de entonação mais comum na língua inglesa. Ele é utilizado em declarações simples, ordens e questões que utilizam as wh-questions. Observe o percurso do tom a partir das palavras mais acentuadas nas sentenças a seguir: Você pôde observar que, em todos os casos, os tons aumentaram nas palavras mais fortes das sentenças e desceram em seguida. Nesse padrão de entonação, a queda geralmente indica que o falante concluiu sua fala. Entonação ascendente (rising intonation): nesse padrão, o tom de voz também sobe na pronúncia da palavra mais acentuada da sentença. Contudo, não há queda no tom após a subida. Por isso, o padrão desse tipo de entonação é ascendente. Ele é característico de questões que requerem uma resposta simples (yes or no questions). Os exemplos a seguir representam esse padrão de entonação: Padrão entonacional do inglês144 U4_C11_Fonética e fonologia do inglês.indd 144 12/09/2017 09:11:44 A entonação ascendente é comumente utilizada para indicar dúvida por parte do falante, que necessita que o ouvinte o responda. O seu uso também pode ser feito em afirmações, fazendo com que elas funcionem como um tipo de yes/no question. Vejamos mais um exemplo: Observe que, com o uso dessa entonação, a sentença deixa de ser uma afirmação e passa a indicar dúvida, sendo necessária a resposta do ouvinte. Vejamos, agora, as características de um padrão de entonação que não ocorre apenas no final de sentenças: Entonação ascendente-descendente (rising-falling intonation): esse tipo de entonação é utilizado em sentenças complexas, que geralmente possuem mais de uma oração. O tom sobe na pronúncia da palavra mais acentuada da primeira oração e apresenta uma leve descida, que indica que o pensamento do falante ainda está incompleto. Na segunda oração, também ocorre a subida do tom na palavra acentuada, seguida de uma descida mais longa que indica que o pensamento, após a finalização da sentença, está completo. Os exemplos apresentados a seguir ilustram esse tipo de entonação: 145Padrão entonacional do inglês U4_C11_Fonética e fonologia do inglês.indd 145 12/09/2017 09:11:44 Note que, nesse tipo de entonação, a intensidade da descida do tom após a pronúncia das palavras acentuadas nas orações é o que diferencia o pensamento incompleto do completo. Entonação de ascendência contínua: é utilizada geralmente em listas. O tom de voz nessa entonação eleva-se ligeiramente em cada substantivo listado para indicar que a fala está incompleta. No substantivo final da lista, ocorre um aumento e diminuição do tom de forma mais intensa. Veja os exemplos: Perceba que o aumento do tom de voz ocorreu de forma contínua em cada substantivo utilizado nas sentenças até ser acentuado e, em seguida, reduzido na pronúncia do último substantivo listado. De forma complementar, cabe relembrar que você viu outra aplicação pos- sível da entonação no exemplo das tag questions, no qual os usos de padrões de entonação distintos alteraram os significados de uma mesma sentença. Assim, é possível concluir que a entonação exerce diversas funcionalidades na língua inglesa. Ela está intimamente relacionada à compreensão oral desse idioma nas interações. Tente criar o hábito de utilizar podcasts (arquivos multimídia transmitidos pela Internet). Use-os para complementar os seus estudos e trabalhar diferentes estímulos sensoriais. Que tal começar pela sonori- dade da entonação inglesa? Acesse o link ou código a seguir: https://goo.gl/4AQH5k Padrão entonacional do inglês146 U4_C11_Fonética e fonologia do inglês.indd 146 12/09/2017 09:11:45 Reveja os usos das entonações da língua inglesa na Tabela 1: Situação de uso Padrão de entonação geralmente utilizado Perguntas que utilizam as wh-questions Utiliza-se a entonação descendente (falling intonation) Perguntas simples (yes/no questions) Emprega-se a entonação descendente (falling intonation) Sentenças afirmativas A entonação é geralmente descendente (falling intonation). Dependendo da atitude do falante, também pode ser ascendente (rising intonation), desde que utilize o ponto de exclamação. Sentenças exclamativas A entonação também pode ser descendente (falling intonation) ou ascendente (rising intonation). O emprego também depende da atitude do falante. Sentenças imperativas Emprega-se geralmente a entonação descendente (falling intonation). A entonação ascendente também pode ser usada se o falante desejar. Tabela 1. Usos e entonações correspondentes na língua inglesa. (Continua) 147Padrão entonacional do inglês U4_C11_Fonética e fonologia do inglês.indd 147 12/09/2017 09:11:45 Fonte: adaptada de Santos e Vieira (2015). Situação de uso Padrão de entonação geralmente utilizado Enumerações em forma de listas Use-se a entonação de ascendência contínua. No último elemento listado, ocorre a subida e descida do tom. Questions tags Emprega-se a entonação descendente (falling intonation) quando o falante tem certeza da resposta e espera a confirmação do ouvinte. Utiliza-se a entonação ascendente (rising intonation) quando o falante não tem certeza da resposta e espera o esclarecimento do ouvinte. Tabela 1. Usos e entonações correspondentes na língua inglesa. (Continuação) A entonação do inglês americano e do inglês britânico Você estudou, na seção anterior, as regras de entonação do inglês padrão, logo, elas valem tanto para o inglês americano quanto para o inglês britânico e para as demais variantes (lembre-se de que o inglês é falado em muitos países!). Nesta seção, vamos chamar sua atenção para algumas diferenças entre esses padrões de entonação, começando com a variante britânica da língua inglesa. Inglês britânico Deacordo com o Cambridge Dictionary (2017), existem três tipos de entonação no inglês britânico, os quais, terminologicamente, são similares aos do inglês americano ao utilizarem variações dos mesmos verbos (“to rise” e “to fall”) para indicar a gradação de volume do tom de voz: Padrão entonacional do inglês148 U4_C11_Fonética e fonologia do inglês.indd 148 12/09/2017 09:11:45 a entonação descendente ( falling intonation); a entonação ascendente (rising intonation); e a entonação ascendente-descendente (rising-falling intonation). Veja, a seguir, exemplos que ilustram as funções de cada uma delas. Entonação descendente: a “falling intonation” representa a diminuição do tom de voz na sílaba tônica final de uma frase ou grupo de palavras. O uso dessa entonação é bastante comum em “wh-questions”. Observe o exemplo: A entonação descendente também é utilizada quando o falante quer dizer algo definitivo ou quando ele quer ser bem claro sobre algum assunto: Nesses exemplos, você pôde observar dois usos da entonação des- cendente. No primeiro, sua função foi indicar o fim de perguntas; no segundo, destacar a intenção comunicativa do falante. Entonação ascendente: a “rising intonation” representa a forma como o tom de voz aumenta no final de sentenças. Ela é comumente utilizada em “yes/no questions”. Veja os exemplos: 149Padrão entonacional do inglês U4_C11_Fonética e fonologia do inglês.indd 149 12/09/2017 09:11:46 Em ambos os exemplos, esse padrão entonacional sinaliza que o falante espera uma resposta do ouvinte após sua pergunta. Entonação ascendente-descendente: a “rising-falling intonation” se refere à forma como o tom de voz diminui e depois aumenta. Ela é frequentemente utilizada após afirmações em que o falante apresenta dúvida ou quando ele tem algo a acrescentar, como representado nos exemplos a seguir: A entonação ascendente-descendente também é utilizada em perguntas, especialmente quando o falante solicita alguma informação ou faz um convite para alguém. Esse padrão entonacional confere às questões um tom mais polido. Ao ver os padrões entonacionais do inglês britânico, você consegue perceber que a sua entonação, assim como no inglês americano, também é utilizada de forma padronizada nessa variante do idioma. Salvo algumas exceções (como o tom polido conferido pelo uso da entonação ascendente-descendente do inglês britânico), é possível notar ainda que os padrões de ambos possuem muitas similaridades tanto em suas nomenclaturas quanto em suas aplicações funcionais. Inglês americano O padrão de entonação do inglês americano não difere tanto assim. No entanto, ao assistir a um fi lme britânico e a um fi lme americano, você consegue notar algumas diferenças, como as pronúncias, os ritmos e, é claro, as entonações. Padrão entonacional do inglês150 U4_C11_Fonética e fonologia do inglês.indd 150 12/09/2017 09:11:46 Como a grande maioria dos fi lmes e seriados a que você assiste é produzida nos Estados Unidos, é natural que você tenha seu ouvido preparado para detectar o ritmo, a pronúncia e a entonação dessa variante. No inglês americano, é comum o uso de um tom ascendente para marcar uma nova afirmativa ou um novo enunciado. Já o inglês britânico tende a usar um tom descendente para indicar um novo enunciado, portanto o padrão americano pode soar como uma pergunta a um ouvido britânico, isto é, o falante aparentemente estará sempre pedindo confirmação, mesmo de uma afirmativa. Esse tipo de entonação é conhecido como “upspeak” e está se tornando comum (e alvo de críticas) no inglês britânico (pela influência do inglês americano). Quanto à expressão de emoções, detectamos um padrão de uso de pitch no inglês americano: um pitch muito alto pode indicar que o falante está surpreso; um pitch muito baixo pode indicar que o falante está com raiva; e um pitch muito neutro pode indicar que o falante está entediado. No inglês britânico, o pitch alto tende a ser mais intenso do que o do inglês americano. A entonação é um tópico importante no ensino de línguas, mas parece ser deixada de lado por muitos profissionais. Se você gostou do tema, fique à vontade para consultar o livro do professor J. C. WELLS, intitulado English Intonation: An Introduction (Cambridge University Press, 2006), que apresenta um interessante panorama sobre a entonação no inglês. Considerações finais Após a leitura dos textos, você pôde conhecer aspectos relacionados ao padrão entonacional da língua inglesa e a importância desse aspecto fonológico para a comunicação nesse idioma. Além disso, você também descobriu que a entonação pode ser utilizada de forma padronizada nas variantes americana e britânica da língua inglesa e identifi cou algumas de suas diferenças. 151Padrão entonacional do inglês U4_C11_Fonética e fonologia do inglês.indd 151 12/09/2017 09:11:46 AVERY, P.; EHRLICH, S. Teaching American Pronunciation. Oxford: Oxford University Press, 1995. BACHOROWSKI, J. Vocal expression and perception of emotion. Current directions in psychological science, Washington, DC, v. 8, n. 2, p. 53-57, 1999. Disponível em: <https://pdfs.semanticscholar.org/ade3/c26198d7690288fc658712603032cf6a2939. pdf>. Acesso em: 27 ago. 2017. CAMBRIDGE DICTIONARY. Intonation: English Grammar Today. Cambridge: Cambridge University Press, 2017. Disponível em: <http://dictionary.cambridge.org/pt/gramatica/ gramatica-britanica/speaking/intonation>. Acesso em: 25 ago. 2017. HANCOCK, M. English Pronunciation in use: self-study and classroom use. Cambridge: Cambridge University Press, 2006. ROACH, P. English Phonetics and Phonology: a practical course. 2. ed. Cambridge: Cambridge University Press, 1998. SANTOS, E. M.; VIEIRA, C. A. C. Intonation. In: SANTOS, E. M.; VIEIRA, C. A. C. Fonética do Inglês. São Cristóvão: CESAD, 2015. Cap. 9. Disponível em: <http://www.cesadufs. com.br/ORBI/public/uploadCatalago/17053710112015Fonetica_do_Ingles_-_Aula_09. pdf.> Acesso em: 29 ago. 2017. SILVA, M. A. C. M. B. A importância da prosódia na análise da interação. Intercâmbio, São Paulo, v. 8, p. 249-258, 1999. Disponível em: <https://revistas.pucsp.br/index. php/intercambio/article/view/4040>. Acesso em: 23 ago. 2017. WELLS, J. C. English Intonation: an Introduction. Cambridge: Cambridge University Press, 2006. Leituras recomendadas INTONATION. Acast, Estocolmo, 2016. Disponível em: <https://www.acast.com/lear- nenglishwithenglishbanana/intonation>. Acesso em: 25 ago. 2017. MOJSIN, L. Mastering the American Accent. Hauppauge: Barron’s Educational Series, 2009. 153Padrão entonacional do inglês U4_C11_Fonética e fonologia do inglês.indd 153 12/09/2017 09:11:47 FONÉTICA E FONOLOGIA DO INGLÊS Ubiratã Kickhöfel Alves Andressa Brawerman-Albini Mariza Lacerda O ensino de pronúncia na sala de aula de inglês: inteligibilidade, compreensibilidade e grau de acento Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Relacionar o aprendiz ao processo de ensino e aprendizagem da língua inglesa. Reconhecer os conceitos de inteligibilidade, compreensibilidade e grau de acento. Identi� car o papel do componente fonológico-fonético no ensino da pronúncia da língua inglesa. Introdução Aprender significa adquirir entendimento sobre algo. É um processo que envolve o contexto sociocultural no qual o aprendiz está inserido. Também está relacionado ao ritmo, habilidades e atitudes desse aprendiz, além do seu conhecimento de mundo. A aprendizagem, no contexto do ensino da língua inglesa, não é diferente. Os ambientes de ensino precisam considerar as particularidades de cada aprendiz a fim de possibilitar a construção do conhecimento por meio da troca de experiências, dificul- dades e habilidades. O ensino de pronúncia do inglês, especificamente, se concretiza na linguagem oral. Por isso, é imprescindível que os ajustes e esforços dos falantes e dos ouvintes,no processo de interação, sejam vistos como parte desse processo. Neste capítulo, você irá refletir sobre o aprendiz e o processo de aprendizagem, a importância dos conceitos de inteligibilidade, compre- U4_C12_Fonética e fonologia do inglês.indd 154 12/09/2017 09:09:10 ensibilidade e grau de acento, além do componente fonológico-fonético no ensino de pronúncia. O aprendiz e a aprendizagem da língua inglesa A aprendizagem é o ato de aprender. Ela signifi ca adquirir conhecimento de algo, instruir-se, adquirir habilidades. É um processo contínuo que pode ocorrer por toda a vida, envolvendo processos históricos, sociais, culturais, biológicos, entre outros. Para Alonso, Gallego e Honey (2002), o processo de aprendizagem varia de aprendiz para aprendiz. Para os autores, há quatro estilos de aprendizagem, os quais são baseados nas experiências dos aprendizes: Ativo: refere-se ao indivíduo que aprende a partir da própria experiência. Reflexivo: relaciona-se ao indivíduo que aprende por meio do estudo, análise e reflexão de fatos e dados. Teórico: representa o indivíduo que aprende baseado em um referencial teórico, que estrutura e fundamenta a sua reflexão. Pragmático: denomina o indivíduo que aprende por testes, experimen- tando para testar suas hipóteses. No contexto de ensino e aprendizagem, é preciso considerar que todos esses estilos serão predispostos de maneira particular pelos aprendizes. Es- pecificamente no ensino de língua inglesa, é preciso focalizar, junto com a metodologia e a abordagem de ensino, o aluno, permitindo que a interação em sala de aula viabilize, de forma efetiva, a construção compartilhada do conhecimento e o reconhecimento de estilos e habilidades distintos. Além disso, como afirmam os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Inglesa (BRASIL, 1998), é necessário que o aluno conheça a natureza metacognitiva do que está aprendendo e da forma como aprende. Quanto melhor for o controle dos aprendizes sobre a aprendizagem, maiores serão os benefícios decorrentes desse processo. Se o aprendiz está em um curso de leitura em língua estrangeira, é necessário informá-lo dos objetivos das unidades pedagógicas (p. ex.: saber que uma determinada tarefa tem como foco o ensino da organização textual). É por meio da metacognição que os aprendizes se conscientizam sobre os seus próprios conhecimentos, suas habilidades de aprendizagem e também suas dificuldades, tornando-se ativos na construção do conhecimento. 155O ensino de pronúncia na sala de aula de inglês U4_C12_Fonética e fonologia do inglês.indd 155 12/09/2017 09:09:10 Dessa forma, é indispensável que as características individuais dos apren- dizes sejam consideradas no planejamento e na prática do ensino de língua inglesa. Além disso, é preciso que esses indivíduos estejam cientes do papel que eles desenvolvem nesse processo. Existem fatores que também influenciam a conduta dos indivíduos, como a motiva- ção. Leia o artigo intitulado “Motivação e desmotivação no aprendizado de línguas” (SCHÜTZ, 2003). Inteligibilidade, compreensibilidade e grau de acento A aprendizagem da pronúncia inglesa envolve aspectos relacionados ao seu componente fonológico-fonético, como a inteligibilidade, a compreensibilidade e o grau de acento, os quais infl uenciam a comunicação entre o aprendiz de outro idioma falante e seu ouvinte. Para Derwing, Munro e Wiebe (1998 apud ALVES, 2015), apesar de existir uma tendência de os estudos empíricos brasileiros enfatizarem a comparação da pronúncia dos aprendizes com a dos falantes nativos, também é preciso considerar a relevância de estudos internacionais que se voltam para o construto teórico da inteligibilidade, que, em linhas gerais, seria definida como o quanto o enunciado do aprendiz da língua estrangeira é processado satisfatoriamente pelo ouvinte (DERWING; MUNRO; WIEBE, 1998 apud ALVES, 2015). Ela também pode ser compreendida em relação a quanto um ouvinte entende de um enunciado produzido por esse aprendiz. Assim, a inteligibilidade envolve tanto a produção oral do aprendiz quanto a compreensão oral do seu ouvinte. Para o autor, uma fala considerada inteligível não seria necessariamente livre de acento estrangeiro, portanto o conceito de inteligibilidade também se re laciona com outros dois construtos teóricos: a compreensibilidade e o grau de acento. A compreensibilidade seria definida como uma medida do grau de dificuldade e do grau de esforço feitos pelo ouvinte ao tentar entender a fala estrangeira (DERWING et al., 2014; DERWING; MUNRO, 2015 apud O ensino de pronúncia na sala de aula de inglês 156 U4_C12_Fonética e fonologia do inglês.indd 156 12/09/2017 09:09:10 ALVES, 2015). O grau de acento, por sua vez, diz respeito às diferenças fono- lógicas que permeiam a fala do aprendiz e a do ouvinte, o qual será concebido, por nós, como falante nativo da língua (DERWING; MUNRO, 2015 apud ALVES, 2015). O estudioso também adverte que é inegável a possibilidade de que o grau de acento estrangeiro possa, sim, colaborar com o aumento dos índices de compreensibilidade e inteligibilidade. Logo, os três construtos, mesmo que sejam independentes, mostram-se relacionados. Considerando os apontamentos do autor, a inteligibilidade, a compreensibili- dade e o grau de acento demonstram que aprender a pronúncia de outro idioma é um processo complexo, pois ele é permeado pelos esforços e ajustamentos dos falantes e dos ouvintes na busca por uma comunicação efetiva. Que tal aprofundar os seus conhecimentos com um estudo sobre o conceito de inteligibilidade aplicado ao ensino de língua inglesa? Sugerimos a leitura do artigo escrito por Martins e Stander (2016), intitulado “A pesquisa em inteligibilidade de fala e sua relevância para o ensino de pronúncia do inglês”. O componente fonológico-fonético no ensino da pronúncia da língua inglesa Nos capítulos deste livro, você aprendeu como o componente fonológico- -fonético é importante na língua inglesa. Desde a produção articulatória dos sons até a concretização da fala, você pôde perceber que a língua é um código sistêmico que, apesar de possuir padrões, é permeado pelo fl uxo da comunicação oral e pelas atitudes discursivas dos seus falantes. Esses fatores serão indispensáveis para o ensino da pronúncia inglesa. Segundo Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (1996), em relação ao ensino de pronúncia, é possível detectar sinais de que ele está se afastando do debate segmental ou suprassegmental e indo na direção de uma visão mais balanceada. Essa visão reconhece que tanto a incapacidade de reconhecer os sons e as suas funcionalidades quanto a de distinguir características suprassegmentais podem ter um impacto negativo na comunicação oral e na habilidade de 157O ensino de pronúncia na sala de aula de inglês U4_C12_Fonética e fonologia do inglês.indd 157 12/09/2017 09:09:10 escuta ou compreensão auditiva (listening) dos falantes não nativos da língua inglesa. Por isso, identificar os pontos mais importantes de ambos os aspectos tem sido uma busca na construção dos conteúdos curriculares relacionados ao ensino de pronúncia. Assim, no ensino da pronúncia da língua inglesa, é preciso considerar a importância do componente fonológico-fonético no processo de aprendizagem. Em termos práticos, um caminho possível para o ensino desse componente seria, primeiramente, o conhecimento sobre os estilos de aprendizagem dos alunos e os materiais didáticos mais adequados a esses estilos (p. ex.: textos impressos, mídias sonoras, mídias audiovisuais, etc.). De forma basilar, o uso do dicionário, importante ferramenta que compila as palavras da língua inglesa, também poderia ser utilizado como ponto de partida para atividades didáticas que iniciassem com o estudo dos símbolos fonéticos e fossem ao encontro dos pontos mais importantes do aspecto segmental e suprassegmental do inglês (ao final desta seção apresentaremos uma proposta de atuação voltadapara a aplicação dos conceitos tratados neste capítulo). No que se refere à análise de materiais didáticos, Bollela (2002) afirma que, apesar de a pronúncia receber uma atenção cada vez maior em sua lite- ratura, a maioria dos livros didáticos ainda não reflete esse interesse. O que se encontram são atividades que enfocam a fala ou a compreensão auditiva – a pronúncia tem sido negligenciada. No entanto, para a autora, nesse tipo de abordagem existe o risco de que se sacrifique a correção fonológica em detrimento de uma fluência conversacional. Para que isso não ocorra, uma possível solução seria a utilização de materiais e atividades comunicativas que priorizassem a correção da língua estrangeira e buscassem, em vez de sacrificar a sua fluência, aprimorá-la. Nesse sentido, é possível notar que o “erro” (aqui entre aspas porque, em Linguística Aplicada, esse conceito é estudado sob inúmeras perspectivas) também tem um papel importante no ensino da pronúncia inglesa, pois ele pode ajudar a identificar as dificuldades dos aprendizes e contribuir para o seu aperfeiçoamento. Diante disso, é possível indagar por que a pronúncia estaria sendo dei- xada em segundo plano. Talvez pela grande facilidade de acesso a recursos na Internet atualmente para que os alunos consigam, junto com o professor ou como atividades extraclasse, aperfeiçoar sua pronúncia. Não podemos esquecer que diversos conteúdos didáticos são compartilhados nas redes, portanto também é necessário que o professor conheça os hábitos dos alunos em relação a esses conteúdos, pois a aprendizagem, na contemporaneidade, não ocorre apenas em sala de aula. O ensino de pronúncia na sala de aula de inglês 158 U4_C12_Fonética e fonologia do inglês.indd 158 12/09/2017 09:09:10 Portanto, da mesma forma que a dimensão fonológico-fonética está relacio- nada à natureza da pronúncia, que se realiza na língua oral, o conhecimento também acontece em outros espaços. Com a língua inglesa, que se realiza na interação, em uma sociedade cada vez mais conectada, não seria diferente. Dessa forma, ensinar a pronúncia desse idioma se torna, além de uma neces- sidade, um fazer complexo. Proposta de atuação em sala de aula Até aqui, falamos no plano teórico do ensino, defi nindo os três pilares que sustentam nossa prática em sala de aula quanto ao ensino de pronúncia. Porém, para que você tenha um entendimento desses conceitos em ação, sugerimos algumas atividades. Proposta de atuação: the /t/ sound Contextualização: os alunos da turma já conhecem os fonemas da língua inglesa, mas ainda têm dificuldades com alguns. O fonema /t/ é um deles. Muitos alunos, por exemplo, apesar de chamarem o professor em inglês, não conseguem pronunciar adequadamente a palavra teacher. Pré-requisitos: conhecer os fonemas da língua inglesa. Objetivos: ■ Reconhecer características do fonema /t/ (atividade 1); ■ Descrever características do fonema /t/ (atividade 2); ■ Aplicar a pronúncia do fonema /t/ (atividade 3). Atividade 1: ■ Professor e alunos visitam o site Sounds of Speech, da Universidade de Iowa (Estados Unidos), para relembrar das características do fonema /t/, bem como termos em inglês (abordados nos capítulos anteriores deste livro) – por exemplo, modo de articulação (manner of articulation), vozeamento (voicing) e características da consoante oclusiva (stop consonant characteristics). ■ Para mais informações, acesse: https://goo.gl/M1BxQ5 Atividade 2: ■ O professor pronuncia as palavras listadas a seguir uma a uma e os alunos as repetem. Em seguida, os alunos descrevem como o som foi articulado e suas características, utilizando os conceitos 159O ensino de pronúncia na sala de aula de inglês U4_C12_Fonética e fonologia do inglês.indd 159 12/09/2017 09:09:11 relembrados na atividade 1. Em seguida, as palavras são transcritas com o auxílio de dicionários. town tiny two taxis to teacher Atividade 3: ■ Os alunos são divididos em pequenos grupos. O professor dá a se- guinte frase por escrito para cada grupo e a pronuncia uma vez para cada um. Todos do grupo devem treinar a pronúncia entre eles e escolher um representante para pronunciar a frase em voz alta. “Two tiny teachers take two taxis to town.” ■ Os grupos justificam a escolha dos representantes. O voto deve ser justificado levando em conta a acentuação, a pronúncia correta dos fonemas e a clareza de todas as palavras. Acontece mais uma votação e um vencedor é escolhido. Após o final da votação, o professor e os alunos refletem sobre os pontos levantados sobre a compreensão da frase e as diferenças na pronúncia de palavras isoladas e segmentadas. Possíveis desdobramentos: ■ Dúvidas em relação à pronúncia segmentada de fonemas devem ser consideradas. Caso não possam ser sanadas na hora, o professor deve esclarecê-las posteriormente. ■ O professor pode usar o tongue twister e outros fonemas como temas de trabalhos para apresentação oral e tarefas lúdicas que alterem, por exemplo, o ritmo de pronúncia. A partir de sua experiência com essa atividade, e dos resultados que você obtiver, adaptações certamente poderão ser feitas, como a substituição de materiais (fique à vontade para modificar os recursos online utilizados) ou até mesmo do ponto de partida – em vez de começar com a apresentação de um site específico, o exercício pode ser feito com um trecho de um algum seriado que a turma goste, por exemplo, ou até mesmo com alguma música que apresente a característica fonética de interesse. Afinal, alguns alunos se mostrarão mais receptivos a esse tipo de atividade do que outros, portanto as estratégias que você resolve adotar dependerão do feeling e do engajamento dos alunos. Existem inúmeras possibilidades de trabalhar a oralidade e a compreensão auditiva, mas o que deve ficar claro aqui é a necessidade de O ensino de pronúncia na sala de aula de inglês 160 U4_C12_Fonética e fonologia do inglês.indd 160 12/09/2017 09:09:11 incorporar os aspectos fonológico-fonéticos estudados neste livro na sua prática de ensino de língua inglesa. No âmbito da Linguística Aplicada, o ensino de línguas está relacionado ao desen- volvimento de estudos e à criação de metodologias de ensino. Para aprofundar os seus conhecimentos sobre o assunto, leia o artigo de Jalil e Procailo (2009), intitulado “Metodologia de ensino de línguas estrangeiras: perspectivas e reflexões sobre os métodos, abordagens e o pós-método”. Considerações finais Após a leitura dos temas estudados neste texto, você aprendeu que o processo de aprendizagem é complexo, pois envolve fatores externos e internos que variam de indivíduo para indivíduo. Você também pôde notar que o ensino de pronúncia, por se concretizar na comunicação oral da língua inglesa, relaciona- -se com o componente fonológico-fonético e com especifi cidades relacionadas ao seu aprendizado, como os esforços dos falantes e dos aprendizes. 1. No que diz respeito aos estilos de aprendizagem, é correto afirmar que: a) Eles são baseados nas experiências dos professores. b) O estilo de aprendizagem ativo refere-se ao indivíduo que aprende por meio do estudo, da análise e da reflexão. c) O estilo de aprendizagem teórico refere-se ao indivíduo que aprende pela própria experiência. d) Os estilos de aprendizagem são idênticos. e) O estilo de aprendizagem pragmático denomina o indivíduo que aprende por teste e experimentos. 2. Sobre o conceito de inteligibilidade, é correto afirmar que: a) Ela está relacionada à pronúncia do falante nativo de uma língua materna. 161O ensino de pronúncia na sala de aula de inglês U4_C12_Fonética e fonologia do inglês.indd 161 12/09/2017 09:09:11 b) Ela não se relaciona com os construtos teóricos de compreensibilidade e grau de acento. c) Ela diz respeito à pronúncia do aprendiz de uma língua estrangeira. d) Ela se relaciona apenas ao conceito de compreensibilidade. e) Ela se relaciona apenas como conceito de grau de acento. 3. Em relação ao conceito de grau de acento, é possível concluir que: a) Ele não diz respeito às diferenças fonológicas entre a fala do aprendiz e a do falante nativo de um idioma. b) Ele diz respeito apenas às diferenças fonológicas da fala do aprendiz. c) Ele abarca as diferenças fonológicas entre a fala do aprendiz e a do falante nativo de um idioma. d) Ele diz respeito apenas à pronúncia do falante nativo de um idioma. e) Ele atrapalha o processo de inteligibilidade e compreensibilidade. 4. Sobre o conceito de compreensibilidade, é possível afirmar que: a) Ela diz respeito à pronúncia do falante nativo. b) Ela está relacionada ao esforço do aprendiz de um idioma para se expressar. c) Ela abarca o esforço do falante nativo para entender um enunciado produzido por um aprendiz do seu idioma. d) Ela mensura a forma como a fala do aprendiz de um idioma é processada pelo falante nativo. e) Não é um conceito desenvolvido de forma independente quando comparado aos conceitos de inteligibilidade e grau de acento. 5. O ensino de pronúncia da língua inglesa: a) deve priorizar apenas o aspecto segmental da língua inglesa. b) deve se pautar na correção fonológica em detrimento da fluência. c) deve se basear apenas no aspecto suprassegmental da língua inglesa. d) deve ser feito por meio de atividades que enfocam a fala ou a compreensão auditiva. e) deve considerar os pontos principais dos aspectos segmentais e suprassegmentais. O ensino de pronúncia na sala de aula de inglês 162 U4_C12_Fonética e fonologia do inglês.indd 162 12/09/2017 09:09:12 ALONSO, C. M.; GALLEGO, D. J.; HONEY, P. Los estilos de aprendizaje: procedimientos de diagnóstico y mejora. Madrid: Mensajero, 2002. ALVES, U. K. Ensino de pronúncia na sala de aula de língua estrangeira: questões de discussão a partir de uma concepção de língua como sistema adaptativo e complexo. Revista Versalete, Curitiba, v. 3, n. 5, p. 392-413, jul./dez. 2015. BOLLELA, M. F. P. Uma proposta de ensino da pronúncia da língua inglesa com ênfase nos processos rítmicos de redução vocálica. 2002. 380 f. Tese (Doutorado em Letras) – Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Araraquara, 2002. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: língua estrangeira. Brasília: MEC/SEF, 1998. CELCE-MURCIA, M.; BRINTON, D. M.; GOODWIN, J. M. 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