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Indivíduo em sociedade e ética, justiça e Direitos Humanos Anniele Rosinski da Silva 1ª Edição Coordenação de Educação a Distância Faculdade de Direito de Santa Maria - FADISMA Copyright © 2020 - FADISMA - Todos os direitos reservados Versão 1.0 - Atualizada em 25 de maio de 2020 1 INDIVÍDUO EM SOCIEDADE E ÉTICA, JUSTIÇA E DIREITOS HUMANOS Para início de estudo Nesta aula veremos o indivíduo e a sociedade juntamente da ética, justiça e Direitos Humanos e a relação frequente e necessária entre os fenômenos, implicações e atravessamentos que se geram com a própria definição do que é a palavra lei. Também veremos sobre o que é lei e norma, como surgiu e os seus significados, e sobre o Mal estar na cultura mencionando Freud com a sua obra Totem e tabu. Tendo por base esses esclarecimentos iniciais, prosseguiremos com o estudo da temática. Para isso, o conteúdo está dividido em subtítulos, a contemplar: 1. Indivíduo e sociedade: ética, justiça e Direitos Humanos; 2. Mal estar na cultura. 1. Indivíduo e sociedade: ética, justiça e Direitos Humanos As leis modificam-se de acordo com os interesses, princípios e ideais, são expressadas das mais numerosas formas de poder, através da lei econômica, lei moral, lei da física, lei jurídica, Lei do Pai, entre outras. O acesso, a maior liberdade de expressões/posicionamentos, permitiu um movimento evolutivo do conhecimento às leis da natureza/física. Diante de todos os conhecimentos científicos conduzidos foi direcionado e almejado a alcançar a primeira lei. O que busca com a compreensão neste assunto é a relação frequente e necessária entre os fenômenos, implicações e atravessamentos que se geram com a própria definição do que é a palavra lei. Conforme o pensamento de Platão as leis são realizadas para anunciar as ordens da razão, ou seja, divulgar aos que não podem ganhá-las desta diretamente. Com isso, a lei jurídica vem manifestar e expor-se Versão 1.0 - Atualizada em 25 de maio de 2020 2 para cada sociedade ordenada, o seu sentido e promover o seu viver coletivo. E se a lei jurídica descreve a representação da razão, esta razão vem de onde? O que permite dá o direito, a lei jurídica proferir esta razão? O que aprova o Estado a determinar a norma? Existe algo em comum entre as outras leis e a lei jurídica? Para Hans Kelsen (1986), em uma de suas obras menciona a reformulação da definição de norma fundamental, e estabelece que a ciência jurídica não é a mentora de normas, que somente o sistema positivo descreve a norma. Ao que pode descrever a ciência jurídica anteriormente, o sistema positivado, há uma norma fundamental que é a possibilidade lógico-transcendental, circunstância de validade. É a norma precursora do sistema jurídico. Desse modo, a norma fundamental que o autor reporta-se, licenciadora do sistema positivo, nos conduz e estimula a refletir e a procurar, juntamente da contribuição histórica, antropológica e em especial aos elementos teóricos psicanalíticos a superioridade da condição lógica. O psicanalista Sigmund Freud (1969), em sua obra “Totem e Tabu”, onde mencionarei mais a frente, refere-se a uma lei primeira, como uma lei básica e fundamental. Para o autor os tabus primitivos e a relação totêmica, assemelha possuir uma relação fundamental com as proibições morais e acordos pelos quais nos conduzimos, em razão disso possibilitou a existência da lei jurídica. Promovendo o olhar para a origem complexa de nosso próprio imperativo categórico. 1.1 A ideia de lei A origem da palavra lei, vem do latim lex, legere (escrever), que significa de forma mais ampla a relação constante e necessária entre os fenômenos. Sua ciência é formada por cada grupo ou série de fenômenos que levam consigo suas próprias leis/crenças. Sua verbalização se dá conforme a designação da matéria a que participam, como as Versão 1.0 - Atualizada em 25 de maio de 2020 3 leis biológicas, físicas, sociais, econômicas, astronômicas, entre outras. No contexto jurídico, é a regra da escrita fundada pelo legislador que designa o sentido de um poder delegado pela soberania popular. O mandado desse escrito procedente do órgão responsável do Estado é obtido como fundamental característica a obrigatoriedade e universalidade. Tornando seu posicionamento e conduta, a efetividade, determinação e as especificidade das demais leis. É a lei que é responsável por instituir a ordem jurídica, onde origina a regulamentação, fixada e evoluída, para conservar a estabilidade entre as relações do sujeito na sociedade, relativo a suas obrigações e direitos. As leis para Montesquieu (1960), são relações essenciais que decorrem da natureza das coisas, com isso todos os indivíduos possuem suas leis, como homens, cargos superiores, mundo material, e outros. Para August Comte (1934), lei são relações contínuas de seguimento e afinidade entre os fenômenos em conformidade com o que é permitido imaginar certos fenômenos. O italiano e mestre Giorgio Del Vecchio (1959) aponta a definição de lei, identificando através de duas vertentes, a lei física e a lei jurídica. A lei física, advém de uma realidade da experiência, ou seja, algo vivido, que ocorreu. Possibilitando algum acontecimento ocorrer de forma contrária para perder o seu valor, a sua verdade e a sua natureza da lei. A lei jurídica não consiste em ser advinda a sua natureza e conhecimentos dos fenômenos, não se reporta como lei moral o que é, mas o que deve ser. 1.2 Lei e norma São duas expressões muito utilizadas e têm sentidos semelhantes e correspondentes, porém não obtém o mesmo significado. Para maior compreensão é necessário fazer sua distinção. Versão 1.0 - Atualizada em 25 de maio de 2020 4 ➔ Norma é utilizada como regra jurídica, modelo, paradigma, ou tudo que for se define em lei ou regulamento para servir a pauta, padrão ou forma de agir. A norma jurídica, fundada em lei, pronuncia a orientação a ser conduzida em todos os atos jurídicos, definir e impor os fundamentos de forma e fundo, que estabelecem necessidades, para que sua realização se efetive legitimamente. Assim está fixada a regra que deve ser seguida e respeitada. É a conduta do Direito. A norma indica uma possibilidade positiva de elaboração de futuras medidas necessárias para contribuir com regularidade jurídica a ser feita. ➔ A lei de forma resumida, é a norma geral da conduta. E a norma é um comando de conduta. Norma enquanto um dever de conduta, é um conjunto de obrigações, proibições, permissões, originados por indivíduos entre si em relações de subordinação, coordenação e formam seus comportamentos coletivamente, compondo seus próprios regulamentos, marcando o exercício do poder e outros. Neste seguimento, leis são normas tanto na função reguladora de enunciados como em seu grau estruturador de comportamento. De qualquer maneira, lei e norma são similares, embora contenham conceitos um mais amplo que a outro. 1.3 Como surgiu a lei A partir do momento em que o homem passou a ter o convívio com o outro, ele começou a estabelecer leis para regrar este convívio. Existem vários exemplos de notícias e registros de leis escritas de milênios atrás. Um dos exemplos mais antigos é o Código Hamurabi, conjunto de leis do mundo, e considerado no entendimento jurídico-formal como um código certo relacionado ao aspecto técnico, podendo ser descrito até mesmo como um código constitucional. Historicamente esta norma constitucional é uma das mais importantes, mesmo não sendo uma das primeiras anunciadas. Versão 1.0 - Atualizada em 25 de maio de 2020 5 Importante destacar Hamurabi foi o sexto rei da primeira dinastia babilônica dos Amoritas e o fundador do 1º Império Babilônico unindo amplamente o mundo mesopotâmico, ligando os sumérios e os semitas e direcionando a Babilônia ao máximo esplendor. Hamurabi nasceu supostamente por volta de 1810 a.C. e morreuem 1750 a.C. Seu nome é um dos mais importantes códigos jurídicos da antiguidade, o Código de Hamurabi. O código de Hamurabi ordenava regras de vida e de propriedade, expandindo a lei a todos os súditos do império. Súditos eram pessoas que estavam submissas a vontade de outra pessoa, neste caso a do rei. Atualmente já obtemos a informação de outros códigos anteriores a este, mas o Código Hamurabi se manteve durantes anos com a crença de ser o código escrito em linguagem babilônica com caracteres cuneiformes e sua recopilação de leis da civilização mesopotâmica. Independente dos códigos, havia uma estrutura semelhante às dos nossos códigos atuais, e também com as nossas constituições de hoje em dia. Porém antes destas leis/códigos existiam as leis bíblicas, como, os Dez Mandamentos. Havendo uma semelhança entre as leis bíblicas (Moisés) e o Código Hamurabi (Hamurabi), pois ambos receberam de Deus a inspiração de conceder normas a seus povos que os identificaram como supremos legisladores. Também para romanos, hindus e gregos, a lei jurídica apresenta inicialmente como segmento da religião. As leis permaneceram por um longo período como algo sagrado, para o povo de antigamente, a sua compreensão era de que as leis eram criadas pelos deuses. O Direito, leis, não manifestavam através do homem baseado no que era justo ou injusto, elas originavam dos cultos religiosos e dos povos mais primitivos. Sua nascente se dava através da consequência necessária e direta da crença, única, uma religião colocada entre às relações dos homens. 2. Mal estar na cultura Sua origem se deu na Primeira Guerra Mundial Versão 1.0 - Atualizada em 25 de maio de 2020 6 (1914-1918) que modificou a história do mundo e a maneira de pensar do autor Freud. Com isso ele se aprofunda e traz reflexões importantes acerca do papel na cultura na condução do mal-estar, trabalho que foi importante em sua trajetória. 2.1 Totem e tabu Para o psicanalista Freud (1969) em sua obra “Totem e tabu”, que também é remetida às primeiras leis do homem. Tabu é um termo polinésio, que não obtém atualmente uma tradução exata, não possui mais o conceito que significa. Era uma palavra mencionada e de uso frequente entre os romanos como sacer/sagrado. A palavra tabu tinha como significado referente a proibição, restrição. O antropólogo e fundador da psicanálise Wundt, descreve o tabu como o mais antigo código de leis não escrito do homem, ou melhor, o tabu é mais antigo que os deuses e relembra a existência de um período anterior a qualquer religião ou espécie. Já para Freud (1969) “Totem e tabu” remete a um lugar de começo da lei, anterior as religiões primitivas, prescrições e cultos. Conduzindo o seu conto à história e aos comportamentos dos povos primitivos apresentados por antropólogos como miseráveis, mais atrasados e selvagens. Possibilitando nos aproximar do elemento primordial, da origem da lei que fundamenta o contexto total do sistema judiciário atual e aplicação das leis morais. O texto “Totem e tabu” juntamente da antropologia, mostra povos primitivos com seus costumes e presenças de totens e tabus, que marcavam leis básicas e organizadoras para aqueles selvagens. Totem representa um animal, ou um vegetal, ou um fenômeno natural, como vento, chuva, e até mesmo um objeto, que permanece com um vínculo/relação, característico com o clã. Os integrantes de cada clã obtinham o seu totem, e cada um tinha a obrigação sagrada de não destruí-lo. O totem era o espírito protetor e auxiliar, e a base de todas as restrições morais e obrigações sociais das tribos. Nos locais em que haviam totens, existiam leis contra as Versão 1.0 - Atualizada em 25 de maio de 2020 7 relações sexuais entre pessoas do mesmo clã, com forte vínculo entre o totemismo (crença na existência de parentesco, ou afinidade mística entre um grupo humano) e exogamia (relacionamento íntimo entre indivíduos sem parentesco ou com distância no grau de parentesco), tratando de uma ordenação sagrada de origem não conhecida. O incesto (latim - incesto - impuro/impudico) é a atividade sexual entre membros de uma família ou entre parentes que possui uma relação consanguínea. O tabu do incesto é e tem sido um dos mais difundidos de todos tabus culturais, tanto no presente como em muitas sociedades antigas. Uma forma para impedir o incesto, era a proibição das relações sexuais entre as pessoas do mesmo clã, também da forma grupal, o cuidado era grande pois era uma preocupação dos povos selvagens. Estas preocupações sexuais, de cuidado, estão distantes de ser morais e dos nossos padrões atuais. Interessante ressaltar, que o horror do incesto diante dos povos primitivos continham diversidades inexplicáveis, as proibições entre as tribos eram diferentes entre uma e outra, como exemplo, enquanto uma tribo a sua proibição era o relacionamento sexual entre pai e filha, para a outra era o relacionamento sexual entre sogra e genro, e, em outra entre irmãos etc. Desse modo, cada totem possuía sua condição de leis de proibições sexuais. Mas todas tinham proibições sexuais, uma proibição ao incesto independente dos laços de sangue. Com isso o tabu, como já supracitado, concordava, entre os primitivos as proibições e impedimentos. Esse ato de proibir sem ter a argumentação e nem a concepção do porquê desta proibição. O ato também atingia a não liberdade de prazer, movimento e comunicação. Os tabus com os animais, era proibido matá-los e comê-los, compondo o núcleo do totemismo. O porque esse aprofundamento em proibições mais primitivas para conhecer onde se encontra a origem do nosso SAIBA MAIS Totem e tabu é uma reflexão sobre culturas e sociedades. A inspiração para o trabalho foi a turbulência política da crise da Ucrânia em 2013. Mostra o rito de iniciação de um soldado ucraniano na cultura da Europa Ocidental, com uma senhora idosa que se apresenta como a bruxa de Snowwhite oferecendo uma batata arruinada. Versão 1.0 - Atualizada em 25 de maio de 2020 8 ordenamento jurídico? Segundo o psicanalista Freud (1969) menciona que onde existe uma proibição tem sentido com um desejo subjacente. Enfim, não existe a necessidade de proibir algo que não se deseja realizar, e o que é proibido com maior destaque, como o incesto, é algo que deve ser desejado. Se transferirmos esta proposição aos nossos povos primitivos, seríamos conduzidos a ideia final de que alguns de seus maiores desejos eram de matar os seus reis e sacerdotes, agir de forma incorreta com os mortos, cometer o incesto, etc. Parece improvável. E se aplicássemos, mesmo nos contradizendo a esta tese, e que nós mesmos ouvíssemos com maior compreensão a consciência. “Você não sentiria uma vontade de violar nenhuma proibição dessas?! Como alguns mandamentos?!” É possível pensar então, que toda lei há uma vontade que lhe contrapõe e também refletir que os crimes que a lei proíbe são muitos crimes que os homens têm uma “tendência” natural de executá-los. “Por que então, qual seria o motivo de proibí-los?“ Freud (1969) com a sua investigação, concluiu que o princípio da sociedade, da arte, da moral, da religião tem um encontro ao Complexo de Édipo. Ademais o Complexo de Édipo é a Lei do pai (Lacan), a primeira lei do indivíduo e o que estrutura enquanto sujeito, oportunizando o acesso à linguagem, permitindo o acesso à cultura. E para finalizar, procurou-se demonstrar com este módulo que o incesto é o alicerce de todas as proibições. Sendo a primeira Lei, a lei fundante e estruturante do indivíduo, logo da sociedade e do ordenamento jurídico. Somente a partir da primeira lei é que o homem obteve o contato à linguagem, foi o que possibilitou perceber que com a proibição que existiam com outros totens é que podia existir a cultura. Conclusão O conteúdo vigente apresenta questões em que os indivíduo e a sociedade atravessavam juntamente da ética, Versão 1.0 - Atualizada em 25 de maio de 20209 justiça e Direitos Humanos. A história ocorreu com caminhadas, modificações, interesses e princípios. Foram expressados o poder através das leis, como, a lei econômica, a lei moral, a lei da física, a lei jurídica, a Lei do Pai, e entre outras, bem como o surgimento, significado e o conceito da palavra juntamente dos seus atravessamentos. A obra “Totem e tabu” mencionada, conta sua história com o posicionamento de outros autores, também remetidos às primeiras leis do homem. Citando sobre proibições, restrições e permitindo realizar uma reflexão no final: “O porque esse aprofundamento em proibições mais primitivas para conhecer onde se encontra a origem do nosso ordenamento jurídico?” Sendo assim, é possível citar o motivo do porque o homem foi marcado pela Lei do Pai, a primeira lei, que permitiu além de ser necessária realizar as leis da sociedade onde habitua o estabelecimento de um determinado jurídico. Referências bibliográficas COMTE, Auguste. Catecismo positivista, ou sumária apresentação da Religião universal. 4a ed. Rio de Janeiro : Apostolado Positivista do Brasil, 1934. DEL VECCHIO, Giorgio. Lições de filosofia do direito. Trad. de Antônio José Brandão. Coimbra: Arménio Amado Editor, 1959. FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas. Tradução de Orizon Carneiro. Totem e Tabu e outros Trabalhos. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1969. KELSEN, Hans. Teoria geral das normas. Trad. de José Florentino Duarte. Porto Alegre: Fabris, 1986. MONTESQUIEU. Do espírito das leis. Trad. de Gabriela de Andrada Dias Barbosa. São Paulo: Edições e Publicações Brasil Editora, 1960. Versão 1.0 - Atualizada em 25 de maio de 2020 10
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