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HISTÓRIA DA ARTE Priscila Farfan Barroso Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB-10/2147 B277h Barroso, Priscila Farfan. História da Arte / Priscila Farfan Barroso, Hudson de Souza Nogueira ; [revisão técnica: Max Elisandro dos Santos Ribeiro]. – Porto Alegre: SAGAH, 2018. 221 p. ; il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-297-3 1. Arte – História. I. Nogueira, Hudson de Souza. II. Título. CDU 7 Revisão técnica: Max Elisandro dos Santos Ribeiro Licenciatura Plena em História Especialista em Gestão e Tutoria EaD Mestre em Educação HA_Iniciais_Impressa.indd 2 12/01/2018 17:08:09 Arte Moderna: principais tendências Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Compreender as principais ideias da Arte Moderna. � Apontar as tendências da Arte Moderna envolvendo o estilo. � Identificar as tendências da Arte Moderna relacionadas à questão da mente e da função. Introdução A Arte Moderna surgiu no final do século XIX e início do século XX, percorrendo tanto a Europa quanto os países da América, incluindo o próprio Brasil. Neste texto, você vai conhecer os vários movimentos artísticos da Arte Moderna que surgiram em decorrência de acontecimentos na história mundial. Também vai identificar as tendências desse estilo de arte. Arte Moderna e suas ideias A Arte Moderna surgiu no final do século XIX e início do século XX. Essa denominação é dada ao conjunto de expressões artísticas que envolve a ar- quitetura, a pintura, a escultura e a literatura desta época. Inicialmente, a Arte Moderna nasceu na Europa, mas durante a primeira Guerra Mundial foi introduzida na América. Isso ocorreu porque muitos artistas, moradores de Paris, se mudaram para fugir da guerra. Alguns deles foram para Nova York, como Francis-Marie Martinez Picabia (1879-1953), um reconhecido desenhista e pintor francês da primeira metade do século XX. Observe uma obra de Picabia na Figura 1. HA_U3_C11.indd 141 12/01/2018 15:45:05 Figura 1. Idílio, de Francis Picabia. Fonte: Aegis Education (c2018). A modernidade foi um período de transformações caóticas e vertigino- sas que ficou marcado pela sensação de fragmentação da realidade. Os ar- tistas modernistas acreditavam que as formas tradicionais de arte estavam ultrapassadas, e que deveriam criar uma nova cultura para transformar as características sociais e culturais já estabelecidas, substituindo-as por novas visões e formas. Com essa nova concepção da modernidade cultural, a ideia de destruição criativa passa a ser essencial na modernidade. Assim, os artistas seriam os responsáveis por representar e definir a essência da humanidade, como explicar Argan (1987, p. 49): “Arte Moderna” não significa arte contemporânea, ou então arte do nosso século ou dos nossos dias. Há um período, ao qual atualmente nos referimos como o das “fontes do século XX”, em que se pensou que a arte, para ser arte, deveria ser moderna, ou seja, refletir as características e as exigências de uma cultura conscientemente preocupada com o próprio progresso, de- sejosa de afastar-se de todas as tradições, voltada para a superação contínua de suas próprias conquistas. A arte deste período é também conhecida como “modernista” – programaticamente moderna e, portanto, consciente da ne- cessidade de desenvolver-se em novas direções, com frequência contraditória em relação às anteriores. Arte Moderna: principais tendências142 HA_U3_C11.indd 142 12/01/2018 15:45:06 A Arte Moderna sofreu influência de vários acontecimentos que ocorreram nesse período, como a Revolução Industrial, as máquinas a vapor, a fotografia, o cinema, o avião, o estudo da mente humana, o uso da energia nuclear, a con- quista do espaço, o uso crescente da computação e dos satélites (que colocam a comunicação em tempo real as mais distantes partes do mundo) e outros elementos que contribuíram para as mudanças nos movimentos artísticos. Como resultado, surgiram três correntes artísticas: 1. Estilo: em que se desejava romper com as regras e propor um novo estilo para se expressar, sendo esses movimentos: Fauvismo, Futurismo, Cubismo, Escola de Paris, Neoplasticismo, entre outros. 2. Mente: que buscava o sensível e a emoção na representação artística, como os movimentos: Simbolismo, Expressionismo, Suprematismo, Dadaísmo, Surrealismo e outros. 3. Função: que tinha uma preocupação com a funcionalidade da arte e sua forma, como os movimentos: Arts & Crafts, Art Noveau, Construti- vismo, Bauhaus, De Stijl, Arte Deco, Estilo internacional, entre outros. No artigo “Modernismo e contexto político: a recepção da Arte Moderna no Correio da Manhã (1924-1937)”, o autor Rafael Cardoso (2015) analisa mais a fundo como a Arte Moderna foi recebida no Brasil. Para ler o artigo, acesse o link a seguir. https://goo.gl/8TxLku Tendências da Arte Moderna: correntes envolvendo estilo O Fauvismo é um movimento artístico iniciado na França e que apareceu no começo do século XX. É conhecido pelo uso de cores fortes e puras a partir de obras que fugiam das regras da realidade. O nome desse movimento teve origem na expressão francesa criada pelo crítico de arte Louis Vauxcelles “les fauves”, que significava “os selvagens”, e se referia ao intenso e puro uso das cores pelos artistas em sua obra. Observe a obra de Henri Matisse na Figura 2. 143Arte Moderna: principais tendências HA_U3_C11.indd 143 12/01/2018 15:45:06 https://goo.gl/8TxLku Figura 2. A Dança, de Henri Matisse. Fonte: Ellen Artes (c2018). O Fauvismo não era considerado um movimento organizado, pois não tinha um posicionamento político-social e nem um manifesto, mas, ainda assim, podemos delinear suas características a partir do conjunto de obras que as representam. São elas: o uso intenso das cores puras (não misturadas), com destaque para o vermelho, azul e amarelo; a falta de compromisso com a realidade; a liberdade da cor (uso das cores de forma subjetiva); a melancolia, a moralização e a tristeza representadas de maneira alegre e suave; as cores que transmitem positivas emoções; a arte sem intenções políticas ou críticas; e a criação sem manter relação com intelectos ou sentimentos. Assim, Proença (2003, p. 153) explica sobre os princípios que regem o Fauvismo: Dois princípios que regem esse movimento artístico: a simplificação das formas das figuras e o emprego das cores puras. Por isso as figuras fauvinistas são apenas sugeridas e não representadas realisticamente pelo pintor. Da mesma forma, as cores não são as da realidade. Elas resultam de uma escolha arbitraria do artista e são usadas puras, tal como estão no tubo da tinta. O pintor não as torna mais suaves nem cria gradação de tons. Os artistas do Fauvismo apenas reproduziam a subjetividade das emoções em suas obras. Dentre as suas referências, temos as obras dos pintores franceses Arte Moderna: principais tendências144 HA_U3_C11.indd 144 12/01/2018 15:45:06 André Derain (1880-1954), Maurice de Vlaminck (1876-1958), Vincent van Gogh (1853-1890) e Henri-Émile-Benoît Matisse (1869-1954), e também as máscaras africanas, devido às características das cores quentes e fortes, entre outros. O Futurismo foi um movimento artístico e literário iniciado em 1909. A publicação do Manifesto Futurista, do poeta italiano Felippo Marinetti, deu início a vanguarda futurista. Umberto Boccioni (1882-1916) foi um pintor e escultor italiano do movimento futurista, e é considerado um dos mais célebres futuristas italianos (veja um exemplo de suas obras na Figura 3). Em 1901, ele se transfere para Roma, juntamente com sua família, e realiza atividades de ilustrador e produtor de cartazes. Figura 3. Carga dos lanceiros, de Umberto Boccioni. Fonte: Wikipédia (2017). As principais características do futurismo são: a desvalorização do mora- lismo e da tradição; a valorização do desenvolvimento tecnológico e industrial; a defesa de umaligação entre o mundo moderno e as artes plásticas; o uso da propaganda como principal forma de comunicação; a utilização de onomato- peias (palavras com sonoridade que imitam ruídos, vozes, sons de objetos); as poesias com uso de frases fragmentadas para passar a ideia de velocidade; as pinturas com uso de cores vivas e contrastantes; a sobreposição de imagens, traços e pequenas deformações para passar a ideia de movimento e dinamismo; e o uso da multiplicação de detalhes e linhas. 145Arte Moderna: principais tendências HA_U3_C11.indd 145 12/01/2018 15:45:06 O Cubismo é considerado o movimento artístico mais influente da Arte Moderna. Com suas formas geométricas, muitas vezes, representadas por cilindros e cubos, a arte cubista quebrou os padrões estéticos que buscavam a perfeição das formas em uma imagem realista da natureza. Essa nova forma de expressão pode ser vista por diferentes ângulos ao mesmo tempo. Segundo Francastel (1970, p. 247): [...] a primeira ação do Cubismo, por volta de 1907, foi uma especulação sobre as dimensões do espaço. Influenciados pelos vocábulos que circulavam à sua volta, os cubistas acreditaram estar fazendo obra científica positiva ao introduzir em suas telas uma quarta dimensão ou ao suprimirem a terceira. As principais características do cubismo são: o tratamento geométrico das formas da natureza; as representações dos objetos em todos os seus ângulos no mesmo plano, constituindo uma figura de três dimensões; a predominância de linhas retas, modeladas basicamente por cilindros e cubos, conforme a geometrização das formas e volumes; a renúncia da perspectiva; o abandono da noção de profundidade; e o rompimento com as linhas de contorno, de modo que a natureza passa a ser retratada de forma simples. Observe um exemplo de obra cubista na Figura 4. Figura 4. Les Demoiselles D’avignon, de Pablo Picasso. Fonte: Toda Matéria (c2011-2018). Arte Moderna: principais tendências146 HA_U3_C11.indd 146 12/01/2018 15:45:06 Ainda, podemos dizer que o cubismo pode ser considerado como uma arte que privilegia o exercício mental no plano conceitual, como maneira de expressão das ideias. Os temas mais retratados são as naturezas mortas urba- nas e os retratos. Os artistas que se destacam nesse movimento são o pintor espanhol Pablo Picasso (1881-1973), o artista Albert Gleizes (1881-1953), o pintor francês Georges Braque (1882-1963) e a pintora brasileira Tarsila do Amaral (1886-1973). Na literatura cubista, as qualidades que se destacam são: a elaboração formal do texto, o uso da impressão tipográfica e o destaque para os espaços em preto e branco. O francês Guillaume Apollinaire (1880-1918) foi o mais importante escritor da literatura cubista. Ele teve uma grande proximidade com Picasso, como explicita Veneroso (2006, p. 153): As colagens de Picasso lembram os caligramas de Apollinaire, artista que, em seus experimentos gráficos, teve uma sensibilidade próxima à de Picasso. Ao mesmo tempo em que este experimentava o uso de letras e materiais diversos, estranho à pintura, Apollinaire fazia experiências com o texto visual. Em “L’esprit nouveau et les poètes”, publicado em 1918 no Mercure de France, Apollinaire observa que a poesia “deve ser como a página do jornal, da qual saltam simultaneamente aos olhos as coisas mais díspares”. Apollinaire co- nheceu Picasso em 1905 e era um ardente defensor dos cubistas, sobre os quais publicou um livro em 1913. Tendências da Arte Moderna: correntes envolvendo mente e função O Expressionismo foi um movimento artístico e cultural que surgiu no início do século XX, provavelmente na Alemanha, por isso também é chamado de Expressionismo Alemão. Os círculos artísticos e intelectuais alemães se mantiveram nesse movimento por duas décadas. Ele é considerado um movimento transversal aos campos artísticos das artes plásticas, literatura, música, cinema, dança, teatro e fotografia. O pintor norueguês Edvard Munch (1863-1944) é considerado o precursor do Expressionismo, e sua obra mais importante é O Grito (1893), que você observar na Figura 5. 147Arte Moderna: principais tendências HA_U3_C11.indd 147 12/01/2018 15:45:06 Figura 5. O Grito, de Edvard Munch. Fonte: Wikimedia Commons (2015). Como explica Proença (2003, p. 152): Nela a figura humana não apresenta suas linhas reais mas contorce-se sob o efeito de suas emoções. As linhas sinuosas do céu e da água, e a linha diagonal da ponte, conduzem o olhar do observador para a boca da figura que se abre num grito perturbador. Essa atitude inédita para as personagens da pintura e a ênfase para as linhas fortes evidenciam a emoção que o artista procurar expressar. Arte Moderna: principais tendências148 HA_U3_C11.indd 148 12/01/2018 15:45:07 Essa obra é considerada, uma das mais importantes do movimento ex- pressionista, e representa uma figura andrógina em um momento de profunda angústia e desespero existencial. O plano de fundo é a doca de Oslo, na No- ruega, ao pôr do sol. Sobre as características do Expressionismo, evidenciamos: a busca da expressão das emoções e dos sentimentos do autor da obra; a distorção e o exagero dos temas em seu processo de purificação; a reflexão sobre a angústia existencialista do indivíduo que habita a sociedade industrializada; a defor- mação do mundo real, para representar a natureza e o ser humano; o desprezo pela perspectiva e pela luz; a defesa do da liberdade individual por meio da subjetividade e do irracionalismo; o uso de cores (fortes e puras) usadas de forma emotiva; e as linhas com formas retorcidas e agressivas. Seus temas são miséria, solidão e loucura, pois reflete o espírito da época, sendo muitas vezes considerados depravados e subversivos. O Dadaísmo ou simplesmente “Dadá”, foi um movimento artístico eu- ropeu do século XX, cujo lema era: “a destruição também é criação”. Seu fundador, Tristan Tzara (1896-1963), considerou o movimento propulsor das ideias surrealistas, com caráter ilógico e antirracionalista. Micheli (1991, p. 41) explica mais sobre esse movimento: Com o dadaísmo, uma nova realidade toma posse de seus direitos. A vida aparece uma simultânea confusão de barulhos, de cores, de ritmos espirituais que são imediatamente retratados na arte dadaísta pelos gritos e pelas febres sensacionais da sua audaz psique quotidiana e em toda a sua brutal realidade. Eis a encruzilhada bem definida que distingue o dadaísmo de todas as outras tendências da arte [...]. A Fonte, um urinol de porcelana branco, como você pode ver na Figura 6, é considerada a obra que melhor representa o dadaísmo na França. Criada em 1917, é uma das mais notórias obras do artista francês Marcel Duchamp (1887-1968). 149Arte Moderna: principais tendências HA_U3_C11.indd 149 12/01/2018 15:45:07 Figura 6. A Fonte, de Marcel Duchamp. Fonte: Artsy (c2018). De modo geral, as principais características do dadaísmo são: o rompimento com os modelos tradicionais e clássicos; o espírito de liderança e de protesto; a espontaneidade, a improvisação e a irreverência artística; a busca do caos e da desordem; o teor ilógico e irracional; o caráter irônico, radical, destrutivo, agressivo e pessimista; a aversão a guerra e aos valores burgueses; a rejeição ao nacionalismo e ao materialismo; e a crítica ao consumidor e ao capitalismo. O Surrealismo foi outro movimento artístico europeu que surgiu em Paris no início do século XX. Na Europa, o período entre a primeira e a segunda guerra (1918-1939), ficou conhecido como “os anos loucos”. A incerteza de se viver em paz, levou as pessoas ao desejo de “viver apenas o presente”. Foi nesse período de incertezas, desequilíbrio, insatisfação e contradições que surgiram diversos movimentos artísticos, chamados de “vanguardas europeias”, como uma nova maneira de ver a realidade. Assim, a Ades (1991, p. 92) explica que: Arte Moderna: principais tendências150 HA_U3_C11.indd 150 12/01/2018 15:45:08 A imagem surrealistanasce da justaposição fortuita de duas realidades di- ferentes, e é da centelha gerada por esse encontro que depende a beleza da imagem; quanto mais diferentes forem os dois termos da imagem, mais bri- lhante será a centelha. Suas características são: a valorização da fantasia, da loucura e da utiliza- ção da reação automática; o uso em potencial o subconsciente como fonte de imagens fantásticas de sonhos como o maior objetivo para o artista; as artes plásticas e a literatura vistas como meio de expressar a fusão da realidade com os sonhos, em uma realidade absoluta, uma “surrealidade; e o artista se deixar levar pelo impulso, fazendo tudo o que lhe vier à mente, sem a preocupação da lógica. Esse movimento teve sua origem em reação ao racionalismo e ao ma- terialismo da sociedade ocidental. A arte surrealista influenciou além das artes plásticas, outras manifestações artísticas, como a literatura, o teatro e o cinema. A obra intitulada A Persistência da Memória, apresentada na Figura 7, é uma pintura de 1931 do pintor catalão Salvador Dalí (1904-1989). A pintura pertence a coleção do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque desde 1934, e é amplamente reconhecida e referenciada na cultura popular por conta do impacto visual de seus objetos, que parecem se derreter no ambiente externo. Figura 7. A Persistência da Memória, de Salvador Dali. Fonte: Amorosi (c2018). 151Arte Moderna: principais tendências HA_U3_C11.indd 151 12/01/2018 15:45:08 O Simbolismo foi um movimento que se desenvolveu nas artes plásticas, no teatro e na literatura. Surgiu na França, no século XIX, em oposição ao Realismo e ao Naturalismo. Poetas, pintores, escritores e dramaturgos foram influenciados pelo misticismo, refletindo nas suas produções. Esse movimento, apelidado de “decadentismo”, devido à decadência dos valores estéticos, foi individualista e místico. As principais características do Simbolismo são: a ênfase em temas místi- cos, subjetivos e imaginários; o caráter individualista; a desconsideração das questões sociais; a aproximação da poesia e da música, com a estética marcada pela musicalidade; e as obras de arte serem feitas com intuição, desprezando a lógica e a razão. Em 1886, um manifesto trouxe o nome que iria marcar essa corrente, com ideais românticos, envolvendo a literatura, os palcos teatrais e as artes plásticas. A poesia “As Flores do Mal”, do poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867), é que deu origem ao Simbolismo, mas na época a obra foi censurada, só vindo à tona na integra, após a morte do poeta. As Flores do Mal Dá um tempo, ó minha dor, controla tua agressividade. Tu querias a noite; aí está; ela vem descendo; Uma atmosfera sombria já envolve quase toda a cidade, Uns encontram a paz; outros seguem padecendo. Enquanto dos mortais a multidão vil, Sob o chicote do prazer, esse impiedoso carrasco, Vai colhendo remorsos na festa servil, Minha dor, me dá a mão, vamos por aqui, sem asco, Ver, longe deles, debruçaram-se os anos defuntos, Sobre os balcões do céu, usando velhos conjuntos; Emergir a saudade, do fundo das águas, sorridente; O sol moribundo adormecer atrás da arcada mansa, E, como uma longa mortalha arrastando-se no Oriente, Ouve, minha cara, ouve a doce noite que avança. (BAUDELAIRE, 1985, tradução de Ivan Junqueira). O Construtivismo foi um movimento artístico do início do século XX que se deu na capital da Rússia, Moscou, tendo forte influência na arquitetura e na arte ocidental. Esse movimento foi até 1920 e influenciou outro movimento artístico, o da Bauhaus, que foi uma escola de design, artes plásticas e arquitetura de vanguarda na Alemanha. Nesse período, os artistas tinham a preocupação de Arte Moderna: principais tendências152 HA_U3_C11.indd 152 12/01/2018 15:45:08 mostrar uma nova configuração da arte, influenciada pela Revolução Industrial. Assim, pretendiam romper com o passado tradicional e sugerir outras formas de apresentação com os avanços tecnológicos modernos, como as máquinas, a engenharia elétrica e eletrônica, a evolução fabril, entre outros. Os artistas usaram o relevo, os objetos industriais, a fotografia, a tipografia, a moda e a tridimensionalidade para expressar os ideais do movimento. O Construtivismo representou um importante movimento revolucionário da frente russa. As principais características desse movimento foram: o rompi- mento com a arte clássica, acadêmica e tradicional; o uso da arte geométrica, tridimensional e abstrata; a proposta da antiarte e experimentações artísticas; o uso de colagens, suportes, objetos pré-fabricados e de uso comum como madeira, plástico, ferro, vidro, arame e outros a influência do Marxismo, Futurismo e racionalismo científico; temas com fundo político e sociais; e o desejo de ser um movimento contrário ao Naturalismo e ao Expressionismo. Veja um exemplo de obra construtivista na Figura 8. Figura 8. Neuer, de El Lissitzy. Fonte: The Museum of Modern Art (1923). 153Arte Moderna: principais tendências HA_U3_C11.indd 153 12/01/2018 15:45:08 O movimento Art Nouveau surgiu na Europa, entre 1890 e 1910, e in- fluênciou a arquitetura e as artes gráficas. É uma arte decorativa, voltada para o desenho e a arquitetura, que influenciou as artes plásticas. Os novos materiais produzidos pelas indústrias, como o ferro, o vidro, o alumínio, o aço e o cimento, foram a principal contribuição para o nascimento da arquitetura moderna, com novas formas. Como explica Barilli (1991, p. 9): Aplicamos o termo art nouveau a um estilo de arquitetura e das artes figurativas e aplicadas que floresceu na última década do século XIX e nos primórdios do século XX. Precedido de uma longa fase preparató- ria, o fenômeno influenciou muitos ramos da arte até a eclosão da I Guerra Mundial e foi simultâneo em toda a Europa Ocidental, sendo exemplo da fermentação e do intercâmbio ininterrupto de idéias e de experimentos no seio de nossa cultura. Na escultura, o traço marcante são as formas abstratas, a integração entre espaço, movimento, luz e até mesmo som. Foi no século XIX que apareceram as primeiras construções metálicas, com formas totalmente novas. Um desses exemplos é a construção da Torre Eiffel (apresentada na Figura 9), idealizada por Gustav Eiffel, que hoje é reconhecida como símbolo de Paris. Figura 9. Torre Eiffel, de Gustav Eiffel. Fonte: Dmitry Brizhatyuk / Shutterstock.com Arte Moderna: principais tendências154 HA_U3_C11.indd 154 12/01/2018 15:45:09 No link a seguir, você pode assistir a um documentário sobre a Semana de Arte Moderna de 1922 (MENDONA, 2017) e conhecer o impacto das tendências da Arte Moderna no Brasil. https://goo.gl/sLT7m6 1. Quais as principais ideias da Arte Moderna? a) Trazer os dogmas clássicos e tradicionais nas expressões artísticas. b) Ênfase no realismo, na simetria, harmonia e perfeição. c) Trazer novas formas de perceber a sociedade pela arte. d) Ênfase em trabalhos sem sentido e sem motivo. e) Trazer ainda mais as concepções religiosas e mitológicas do mundo moderno. 2. Qual destes movimentos de Arte Moderna se preocupavam com questões sociais e políticas? a) Fauvismo. b) Simbolismo. c) Dadaísmo. d) Art nouveau. e) Construtivismo. 3. Por meio de quais características o Expressionismo demonstrou a subjetividade? a) Apresentando figuras abstratas e ilógicas. b) Buscando a expressão da emoção e do sentimento por meio da deformação do mundo real. c) Apresentando cores claras e destacando a luminosidade da cena. d) Buscando a expressão a partir das linhas retas e planos perpendiculares. e) Apresentando a emoção por meio da racionalidade e da lógica matemática. 4. Sobre o Dadaísmo, é correto afirmar que: a) propunha como arte elementos do cotidiano. b) não foi considerado um movimento. c) propunha como arte a retomada do valores greco-romanos. d) não produzia artisticamente algo relevante. e) propunha como arte temas envolvendo flores e frutas. 5. Dos movimentosexistentes na Arte Moderna, a qual Pablo Picasso se vinculou? a) Neoclassicismo. b) Cubismo. c) Dadaísmo. d) Surrealismo. e) Construtivismo. 155Arte Moderna: principais tendências HA_U3_C11.indd 155 12/01/2018 15:45:09 https://goo.gl/sLT7m6 ADES, D. Dadá e surrealismo. In: STANGOS, N. Conceitos da arte moderna. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1991. p. 81-99. AEGIS EDUCATION. Dicionário Aegis de design: PICABIA, Francis. [S.l.]: Aegis Strategy, c2018. Disponível em: <http://www.aegis-education.com/dicionario.php?id=243>. Acesso em: 07 jan. 2018. AMOROSI, M. Gli orologi molli (Salvador Dali). [S.l.]: Celeste, c2018. Disponível em: <ht- tps://www.celesteprize.com/artwork/ido:130255/>. Acesso em: 07 jan. 2018. ARGAN, G. C. As fontes da arte moderna. Novos Estudo (Cebrap), São Paulo, n. 18, p. 49-56, set. 1987. ARTSY. Marcel Duchamp. [S.l.: s.n.], c2018. Disponível em: <https://www.artsy.net/ artist/marcel-duchamp>. Acesso em: 07 jan. 2018. BARILLI, R. Art nouveau. São Paulo: M. 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Arte Moderna: principais tendências156 HA_U3_C11.indd 156 12/01/2018 15:45:10 http://www.aegis-education.com/dicionario.php?id=243 tps://www.celesteprize.com/artwork/ido https://www.artsy.net/ http://www.scielo.br/pdf/rh/n172/2316-9141-rh-172-00335.pdf http://comunidades.net/ell/ellen-artes/fauvismo2.jpg https://www.youtube.com/watch?v=GRKio1yJeXA https://www.moma.org/collection/works/88312 http://static.todamateria.com.br/upload/pi/ca/picasso-1.jpg https://commons.wikimedia.org/wiki/File https://pt.wikipedia.org/ Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo: HISTÓRIA DA ARTE Priscila Farfan Barroso Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB-10/2147 B277h Barroso, Priscila Farfan. História da Arte / Priscila Farfan Barroso, Hudson de Souza Nogueira ; [revisão técnica: Max Elisandro dos Santos Ribeiro]. – Porto Alegre: SAGAH, 2018. 221 p. ; il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-297-3 1. Arte – História. I. Nogueira, Hudson de Souza. II. Título. CDU 7 Revisão técnica: Max Elisandro dos Santos Ribeiro Licenciatura Plena em História Especialista em Gestão e Tutoria EaD Mestre em Educação HA_Iniciais_Impressa.indd 2 12/01/2018 17:08:09 Arte Pós-moderna Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Compreender as características e as influências da Arte Pós-Moderna. � Identificar as obras e artistas internacionais da Arte Pós-Moderna � Reconhecer o Pós-modernismo no Brasil e alguns artistas em destaque. Introdução A Pós-modernidade surge após os anos 1960 e apresenta uma oposição em relação à Modernidade. As artes produzidas neste período investem na interação com o público, trazem elementos do cotidiano, são fáceis de compreender e têm elementos cômicos e estranhos. Trata-se de uma nova proposta. Neste capítulo, você conhecerá a Arte Pós-moderna e vai perceber a liberdade no momento da construção da obra de arte, bem como a grande variação de estilos e técnicas que podem ser usados dentro desse movimento de arte. Características e influências da Arte Pós- moderna A arte no Pós-Modernismo surge nos anos de 1960, ao mesmo tempo em que acontece muitas mudanças nas ciências e nas sociedades. Chamamos de “Pós-moderna” o momento depois da Arte Moderna, que foi identificada com a Revolução Industrial e os ideais do Iluminismo. Para compreender o Pós-modernismo é importante peceber suas principais diferenças com o Modernismo, apresentadas no Quadro 1. HA_U4_C16.indd 209 12/01/2018 15:46:43 Fonte: Santos (1997, p. 42). Modernismo Pós-modernismo cultura elevada estetização interpretação obra/originalidade forma/abstração hermetismo conhecimento superior oposição ao público crítica cultural afirmação da arte banalização do cotidiano antiarte desestetização processo/pastiche conteúdo/configuração fácil compreensão jogo com arte participação do público comentário cômico, social desvalorização obra/autor Quadro 1. Comparativo Modernismo e Pós-Modernismo. Se o Modernismo estava associado ao consumo, a Pós-modernidade está ligada à comunicação. Nesse momento, o avanço dos meios de comunicação e a evolução da tecnologia eletrônica, com informações em tempo real, di- versões e serviços, marca o mundo com grandes mudanças. A era digital e a globalização permitem a sociedade contemporânea absorver novos conceitos e tendências, dando origem ao novo movimento artístico que recebeu o nome de Pós-Modernismo. Essa nova tendência, considerada por alguns como antiarte, vigora até os nossos dias na literatura, escultura, arquitetura, cinema e artes plásticas. Deste modo, Eagleton (1998, p. 7) reforça que: Pós-modernidade é uma linha de pensamento que questiona as noções clássicas de verdade, razão, identidade e objetividade, a ideia de progresso ou emanci- pação universal, os sistemas únicos, as grandes narrativas ou os fundamentos definitivos de explicação. [...] vê o mundo como contingente, gratuito, diverso, instável, imprevisível, um conjunto de culturas ou interpretações desunificadas gerando certo grau de ceticismo em relação à objetividade da verdade, da his- tória e das normas, em relação às idiossincrasias e à coerência de identidade. As principais características da arte Pós-Moderna são: � aceitação do efêmero, do fragmentário, do descontínuo e do caótico; � desenvolvimento de ações por meio da proliferação, da justaposição e da disjunção; Arte Pós-moderna210 HA_U4_C16.indd 210 12/01/2018 15:46:44 � descontrucionismo, entrelaçamento textual (colagem montagem e outros); � imitação vulgar de um estilo particular; � desterritorialização da cultura; � culturas híbridas, que apresentam o resultado de elementos de duas culturas diferentes; � constante referência a obras e estilos do passado reinterpretados e recriados com técnicas e propostas novas (ver Figura 1); � interação com a participação do público para a configuração de uma obra de arte; � modo particular de experimentar, interpretar e ser no mundo; � imprecisão e espontaneidade;� liberdade para criar; � arte destituída de hierarquizações; � multiplicidade de estilos; � combinação de tendências; � hiper-realismo; � aproximação com a cultura popular; � imaginação e criatividade; � cotidiano banalizado. Figura 1. A Persistência da Memória, de Sollier. Fonte: Sollier (2013). 211Arte Pós-moderna HA_U4_C16.indd 211 12/01/2018 15:46:44 Soma-se a essas características o individualismo, como próprio do século XX, que evidencia a atitude de quem vive exclusivamente para si e demonstra pouca ou nenhuma solidariedade, inclusive na produção artística. Assim, cabe dizer que esse estilo reúne várias escolas artísticas heterogêneas, que se agrupam por possuírem uma mesma característica: a ausência de um método específico. Observe a Figura 2. Figura 2. Obra do arquiteto Nicholas Gimenes. Fonte: Gimenes (2014). Assista à palestra O pensamento pós-moderno e a falência da modernidade, do jornalista Juremir Machado (JULIAN NETO, 2014), que vai ajudar você a refletir sobre as principais questões do tema. https://goo.gl/Ak8i9D Principais artistas da Arte Pós-moderna O período Pós-modernismo acontece ao mesmo tempo do chamado capita- lismo pós-industrial, que é caracterizado pela troca de bens imateriais como Arte Pós-moderna212 HA_U4_C16.indd 212 12/01/2018 15:46:45 https://goo.gl/Ak8i9D a informação e os serviços, consequência das tecnologias eletrônica e nuclear. Esse é um estilo que emerge a partir de grandes inovações técnicas, artís- ticas, sociais, literárias e políticas, por isso não o encontramos em todas as partes do mundo, mas naqueles países com zonas de maior industrialização e transformações sociais. Na Arte Pós-modernista podemos perceber a progressiva implantação do abstracionismo na figuração, impondo-se a crise da representação, pro- jetada pelos impressionistas (Monet, Sisley, Cézanne e Renoir), pontilhistas (Seurat, Signac), cubistas (Picasso, Bracque) e futuristas (Boccioni, Carra, Giacomo Balla), entre outros movimentos vanguardistas. Seu auge se deu quando a mera referência à figura foi totalmente eliminada. Assim, em meio a esse contexto, o mundo das artes entendeu que a liberdade criativa se devia traduzir na liberdade de opção em linguagens e referências formais e conceituais. Na literatura, a condição pós-moderna é expressa pelo francês Jean François Lyotard, que apresenta o fim das metanarrativas – a narrativa contida dentro ou além da própria narrativa – e entende esse período como “[...] o estado da cultura após as transformações que afetaram as regras dos jogos da ciência, da literatura e das artes” (LYOTARD, 1993, p. 15). Agora, você vai conhecer alguns dos artistas Pós-modernos e suas obras. John Baldessari nasceu em 1931 e é um arquiteto e artista conceitual norte- -americano. Ele é uma das grandes influências do século XX, sendo pioneiro no Pós-modernismo e influenciando outros artistas. Você pode observar uma de suas obras na Figura 3. Em 1970, ele queimou a maior parte de suas obras e guardou as cinzas em uma obra com forma de livro. Tedesco (2016, p. 65) ainda fala sobre outras obras do autor: Convém mencionar que Baldessari, durante a década de 1970, realizou mais de duas dezenas de vídeos e alguns filmes super-8, nos quais a linguagem audiovisual era ponto centra daquelas obras. Em I’m making art, vídeo de 1971, o artista fica diante da câmera, em pé, olhando para o monitor, que transmite sua imagem. Cada vez que pronuncia a frase I’m making art, mo- vimenta um de seus braços em gestos simples como dobrar, esticar, levantar, ou inclina-se para frente ou para o lado, sempre com curtos movimentos. Uma proposição na qual o artista relaciona sua imagem e ação ao texto falado e ao modo como o diz, Baldessari diz - eu estou fazendo arte, e expressa isso em pé, diante da câmera, movimentando seus braços, a visibilidade dessa articulação, nos mostra tudo, numa camada sutil, o vídeo explicita o seu posicionamento diante da arte. 213Arte Pós-moderna HA_U4_C16.indd 213 12/01/2018 15:46:45 Figura 3. Pura Belleza, de John Baldessari. Fonte: Jakulis (2016). Jeff Koons, nascido em 1955, é um artista norte-americano que estudou pin- tura em Chicago. Ele usou várias técnicas e materiais para construir suas obras. Entre os seus trabalhos estão Puppy, um cachorro formado por flores, medindo 16 metros de altura, como você pode ver na Figura 4; Rabbit, um coelho feito de plástico espelhado, imitando aço inoxidável; e série de objetos de porcelana. Assim, ele se tornou mais conhecido da cultura de massa. Seu objetivo é transfor- mar objetos do cotidiano em peças de arte, tornando-se, dessa forma, um artista controverso, intrigante e provocador. Koons ainda expressa a estética popular massiva conhecida como kitsch, que remete a um sistema de imitação a partir de artefatos culturais e estilos de decoração inócuos com certa extravagância. Figura 4. Puppy, obra de Jeff Koons. Fonte: Wikipedia (2017). Arte Pós-moderna214 HA_U4_C16.indd 214 12/01/2018 15:46:45 Meyer Vaisman é um artista venezuelano, desenhista, escultor, autor de um conjunto de autorretratos irónicos e de naturezas mortas, nascido em 1960. Suas obras têm grande projeção na cena nova-iorquina nos anos de 1980 e 1990, uma vez que ele se formou na Parsons School of Design, em Nova York. Uma das definições dada a sua obra foi a “estética da razão cínica”, por conta da influência do Posapropiacionismo, do Simulacionismo neoabstracto e do Neo Geo, que visavam à apropriação de elementos mo- dernos buscando novas significações através da arte. Observe uma de suas artes na Figura 5. Figura 5. Obra de Meyer Vaisman. Fonte: Christie (2008). Veja o documentário Saída pela loja de presentes-Bansky (DESLISE, 2017), sobre a produção artística de Bansky que realiza trabalhos pós-modernos em estêncil nas ruas de Bristol, Londres e outras cidades. https://goo.gl/GM2swj 215Arte Pós-moderna HA_U4_C16.indd 215 12/01/2018 15:46:46 https://goo.gl/GM2swj Pós-modernismo no Brasil No Brasil, o Pós-modernismo é um movimento contemporâneo com uma mudança geral em todos os aspectos, das artes até as ciências. Trata-se de um momento de colocar ideias e pensamentos livres de objeções, a partir de um processo individualista, liberto de crenças, medos e preconceitos. Por meio das tecnologias, da mídia e da eletrônica, as informações levam o indivíduo ao consumo, e essas obras de arte do Pós-modernismo se propõem a provocar uma reflexão crítica sobre esse processo de consumo demasiado. No Brasil, os artistas Pós-modernos que se destacaram são Vik Muniz e Eduardo Kobra, ambos referências não apenas por divulgarem suas artes por meio da pintura, mas pela versatilidade de suas construções. Vik Muniz, brasileiro nascido em 1961, é artista plástico, pintor e fotógrafo. Ficou conhecido por usar materiais inusitados em suas obras, como lixo, açúcar e chocolate. Entre seus trabalhos está uma cópia da Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, feita com manteiga de amendoim e geleia como matéria-prima. Recriou muitos trabalhos do francês Monet e, com calda de chocolate, pintou o retrato de Sigmund Freud, o pai da psicanálise. Após compor estas imagens com materiais inusitados, que vão se degra- dando com o passar do tempo, em razão dos elementos perecíveis que utiliza, ele se preocupa em fotografar as superfícies criadas e apresentar o retrato como produto final do efeito permitido com o uso desses elementos. Seu sucesso foi grande devido a sua criatividade e, em 2011, produziu um documentário sobre suas obras usando o lixo como material, como você pode observar na Figura 6. O documentário foi feito no aterro de Jardim Gramacho e eleito o melhor documentário pelo Festival de Sundance, bem como indicado para concorrer ao Oscar no ano seguinte. Atualmente, ele reside em Nova York. Arte Pós-moderna216 HA_U4_C16.indd 216 12/01/2018 15:46:46 Figura 6. O Beijo, de Vik Muniz. Fonte: Kristin (2011). EduardoKobra, nascido em1976, é um brasileiro que iniciou sua carreira como pichador artístico. Depois, se tornou grafiteiro, com o projeto Muro das Memórias, em São Paulo, no qual retratou cenas antigas da cidade e, atualmente, se considera um muralista. Foi convidado para fazer o Mural da Paz, em Roma, e fez também diversos trabalhos em outros países. É dele também Todos somos um, mural de 3 mil metros feito para as Olimpíadas do Rio de Janeiro, de 2016 (veja na Figura 7). Foi premiado, em 2011, no maior evento de arte em 3D do mundo, o Sarasota Chalk Festival. Figura 7. Todos somos um, no Rio de Janeiro, por Eduardo Kobra. Fonte: Garcia (2016). 217Arte Pós-moderna HA_U4_C16.indd 217 12/01/2018 15:46:46 Apesar da modernidade em suas obras, ele apresenta nas pinturas cenas e locais de épocas antigas, personalidades renomadas, trazendo certo saudosismo. Esse artista também tem experiência com a pintura em 3D em pavimentos a partir da técnica anamórfica, que tem a função de “enganar os olhos” de quem a aprecia, sendo necessário que observador se posicione em certo ângulo para compreender a imagem. Assim, é possível reconhecer a profundidade e a realidade da imagem criada. Para conhecer mais sobre o trabalho de Eduardo Kobra e suas influências, acesse o site do artista (KOBRA, 2017), no qual ele apresenta sua biografia, projetos e até vende suas obras. https://goo.gl/y29fKf 1. Qual diferença entre Modernismo e Pós-modernismo? a) O modernismo valoriza a antiarte e o pós-modernismo, a arte. b) O modernismo traz a banalidade do cotidiano e o pós-modernismo valoriza a cultura elevada. c) O modernismo valoriza mais o processo e o pós- modernismo, mais a obra. d) O modernismo valoriza o artista e o pós-modernismo, a participação do público. e) O modernismo valoriza a interpretação e o pós- modernismo, a fácil compreensão. 2. Sobre as características do Pós-modernismo, é correto afirmar que: a) esse estilo se baseias dos dogmas greco-romanos da arte. b) pode envolver materiais de uso cotidiano em uma composição artística. c) esse estilo aparece bastante em edificações sagradas e locais religiosos. d) a proposta utiliza métodos clássicos e baseados na ciência. Arte Pós-moderna218 HA_U4_C16.indd 218 12/01/2018 15:46:47 https://goo.gl/y29fKf e) esse estilo se destaca por privilegiar o pontilhismo para a produção da obra. 3. Em relação às influências do Pós-modernismo, assinale a alternativa correta. a) A sociedade passa por transformações sociais, mas isso não incide nas artes. b) Há influência da arte neoclássica e suas inspirações magistrais no campo da arquitetura. c) A era digital e a globalização trazem novos conceitos que incidem na arte. d) A influência da arte surrealista faz com que criem releituras de obras clássicas. e) A sociedade se mantém coesa e uniforme desde que surgiu. 4. Sobre os artistas internacionais no Pós-modernismo, marque a alternativa correta. a) John Baldessari é considerado um artista conceitual porque fez releituras de obras clássicas. b) Explicitaram em suas obras a liberdade artística com opções de linguagens e referenciais conceituais. c) Jeff Koons se valeu da estética kitsch que resgata a iluminação da obra. d) Explicitaram o formalismo artístico e retomaram os autorretratos. e) Meyer Vaisman enfatizou em suas produções abstrações sem a figura humana. 5. Sobre os artistas brasileiros do Pós-Modernismo, é correto afirmar que: a) Eduardo Kobra evidencia um estilo melancólico em suas esculturas. b) Vik Muniz propôs sua arte a partir do muralismo e do grafite. c) Eduardo Kobra trabalha com materiais do lixo e depois fotografa as cenas. d) Vik Muniz fez sua a arte principalmente a partir do mármore, bronze e ferro. e) Obras de arte do Pós- modernismo se propõem a provocar uma reflexão crítica sobre esse processo de consumo demasiado e no Brasil não foi diferente. 219Arte Pós-moderna HA_U4_C16.indd 219 12/01/2018 15:46:47 CHRISTIE. Meyer Vaisman (b. 1960). New York: Invaluable, 2008. Disponível em: <ht- tps://www.invaluable.com/auction-lot/meyer-vaisman-venezuelan-b-1960-244-c- -hmx1ltgmhs>. Acesso em: 11 jan. 2018. DESLISE. Saída pela loja de presentes (exit through the gift shop) – Banksy – legen- dado. [S.l.]: YouTube, 2017. 1 vídeo. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=qVYYHDKhqHQ>. Acesso em: 11 jan. 2018. EAGLETON, T. 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Arte Pós-moderna220 HA_U4_C16.indd 220 12/01/2018 15:46:48 tps://www.invaluable.com/auction-lot/meyer-vaisman-venezuelan-b-1960-244-c- https://www.youtube.com/ http://theconversation.com/why-art-needs-to-retake-the-olympic- http://www.nicholasgimenes.com.br/2014/10/as-obras-pos-modernas-do-arquiteto. http://atrapadosporlaimagen.blogspot.com.br/2016/04/john- https://www.youtube/ http://www.eduardokobra.com/ http://blogspot.com.br/2011/05/pictures-of-garbage.html https://www.sollier/ http://gallery.com/?lightbox=image1hro https://en.wikipedia.org/wiki/Jeff_Ko- Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo: ESTUDO DA PLÁSTICA Celma Paese Concretismo e Neoconcretismo Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer os movimentos de Concretismo e Neoconcretismo. � Identificar o Concretismo e o Neoconcretismo nas artes plásticas. � Definir o Concretismo e o Neoconcretismo na arquitetura. Introdução Neste capítulo, você vai estudar o Concretismo e o Neoconcretismo, suas principais características e diferenças. Além disso, vai aprender a identificar esses movimentos artísticos nas artes plásticas e na arquitetura. O Concretismo e o Neoconcretismo O Concretismo foi um movimento artístico e cultural que surgiu na Europa em meados do século XX, o qual visava à criação de uma nova linguagem, uma arte não figurativa, a princípio baseada em planos e cores. Formas geométricas dominavam as experiências plásticas. A vanguarda russa, o construtivismo, o suprematismo, a Bauhaus e o Neoplasticismo (DeStijl), entre outros, foram mo- vimentos que continham ideias da arte concreta em suas formas de expressão. No Brasil, esse movimento de vanguarda chegou por volta de 1950, por meio do Suíço Max Bill (1908-1994), um dos precursores do movimento, ao lado do russo Vladimir Maiakovski (1893-1930). A partir da Exposição Nacional de Arte Concreta (1956), um grupo de artistas dá sinal de um futuro rompimento, em prol de outros ideais. Surgem os neoconcretistas, ou concretistas cariocas, que lançam seu manifesto em 1959 junto com sua primeira mostra, no Rio de Janeiro. As mudanças culturais no Brasil ocorriam com grande velocidade e entusiasmo, acom- panhando o ritmo da construção de Brasília. A nova capital foi o ápice do projeto desenvolvimentista do presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, conhecido pelo lema “Cinquenta anos em cinco”. A atual capital começou a ser construída em 1957 e foi inaugurada, ainda incompleta, em 1960. A cidade foi erguida no meio do cerrado, a partir de uma concepção modernista de urbanismo e arquitetura. A figura a seguir traz o plano-piloto da cidade, desenvolvido por Lucio Costa (1957). Arte concreta Segundo a Enciclopédia Itaú Cultural (ARTE…, 2018), o Manifesto Arte Concretista foi escrito em 1930, por Theo van Doesburg, influente intelectual que também determinou os fundamentos do Neoplasticismo holandês. O manifesto, publicado no primeiro número da revista Arte concreta, lança as bases conceituais do movimento: � A arte é universal. � A obra de arte deve ser inteiramente concebida e formada pelo espírito antes de sua execução. � O quadro deve ser inteiramente construído com elementos puramente plásticos, isto é, planos e cores. Concretismo e Neoconcretismo2 � Um elemento pictural só significa a “si próprio” e, consequentemente, o quadro não tem outra significação que “ele mesmo”. � A construção do quadro, assim como seus elementos, deve ser simples e controlável visualmente. � A técnica deve ser mecânica, isto é, exata, anti-impressionista. � Esforço pela clareza absoluta. Sem implicar uma arte figurativa, a arte concreta nasce também como oposição à arte abstrata em termos de forma, podendo trazer vestígios sim- bólicos por causa de sua origem na abstração da representação do mundo: linha, ponto, cor e plano não figuram nada e são o que há de mais concreto em uma pintura. Para os concretistas, o que há de concreto em uma pintura são os elementos formais. O movimento concreto se constituiu, primeiro, na cidade de São Paulo, em meados da década de 1950, sendo liderado pelos poetas e irmãos Augusto e Haroldo de Campos, conhecidos como os “irmãos Campos”, e Décio Pignatari. O grupo concretista de São Paulo foi fundador da Revista Noigandres (1952), divulgadora das ideias atreladas ao Concretismo. Segundo a Enciclopédia Itaú Cultural (EXPOSIÇÃO…, 2017), o espírito que comandou a Exposição Nacional de Arte Concreta, em 1956, oficializando o movimento fica explícito nas palavras que o poeta Décio Pignatari (1927- 2012) pronunciou em 1957: “esse foi o primeiro encontro nacional das artes de vanguarda realizado no país, tanto no que se refere às artes visuais quanto à poesia concreta” (EXPOSIÇÃO…, 2017, documento on-line). Realizada por iniciativa do grupo concreto paulista, a mostra aconteceu em São Paulo, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), em dezembro de 1956, e no Rio de Janeiro, no Ministério da Educação e Saúde, em janeiro e fevereiro de 1957. Participaram artistas das duas cidades. A exposição era composta de cartazes-poemas, obras pictóricas, esculturas e desenhos, além de palestras e conferências. A revista Ad-arquitetura e decoração incluiu em seu n. 20 o material exposto, fato que a fez funcionar como uma espécie de catálogo da mostra. Nos dois eventos, foram exibidas obras de diversos artistas plásticos como: Geraldo de Barros (1923-1998), Aluísio Carvão (1920-2001), Waldemar Cordeiro (1925-1973), João José da Silva Costa (1931), Judith Lauand (1922) e Maurício Nogueira Lima (1930-1999). Além disso, participam como convi- dados especiais do evento os poetas: Décio Pignatari, os irmãos Haroldo de Campos (1929-2003) e Augusto de Campos (1931), Ferreira Gullar (1930-2016) e Ronaldo Azeredo (1937-2006). 3Concretismo e Neoconcretismo Amilcar de Castro (1920-2002) foi gravador, desenhista, escultor, pintor, diagramador e professor. Há muito tempo fora da base, suas obras se estendem horizontalmente no solo e dialogam com a paisagem. Num percurso de cerca de cinco décadas, Amilcar de Castro experimenta infinitas possibilidades do plano. Resistente ao excesso de racionalismo, suas dobras tornam a geometria maleável e mais humana (AMILCAR..., 2018). A imagem a seguir apresenta uma escultura de Amilcar de Castro, no jardim do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP). Fonte: Costa (2015). Concretismo e Neoconcretismo4 Arte neoconcreta O movimento neoconcreto ou Neoconcretismo surgiu como reação ao movi- mento concretista de São Paulo, no final da década de 1950, no Rio de Janeiro. A partir da Exposição Nacional de Arte Concreta, um grupo de artistas dá sinal de um futuro rompimento, em prol de outros ideais. Segundo a Enciclopédia Itaú Cultural (NEOCONCRETISMO, 2017), esse rompimento foi oficializado com a publicação, em 23 de março de 1959, no Rio de Janeiro, do Manifesto Neoconcretista no suplemento dominical do Jornal do Brasil. A publicação teve como autores os artistas Amilcar de Castro, Ferreira Gullar, Franz Weissmann, Lygia Clark, Lygia Pape, Reinaldo Jardim e Theon Spanudis. No mesmo dia da publicação do Manifesto ocorreu a “I Exposição de Arte Neoconcreta” com obras dos artistas que mais se destacaram no movimento e que assina- ram o “Manifesto Neoconcreto”. Duas outras exposições nacionais de arte neoconcreta ocorreram nos anos seguintes: uma em 1960, no Ministério da Educação, no Rio de Janeiro, e outra em 1961, no Museu de Arte Moderna de São Paulo. O fim da década de 1950 se tornava, então, o grande marco de uma nova forma de se expressar artisticamente. Não se tratando somente de uma disputa histórica entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo (sede dos artistas concretistas), o movimento neoconcreto partia da subjetividade do artista e da possibilidade da experiência física da obra de arte ante a arte tida como racional e dogmática dos artistas paulistanos da década de 1950. Os neoconcretistas ou concretistas cariocas acreditavam que a arte não podia ser considerada como um mero objeto tal qual consideravam os poetas paulistas, de forma que, para eles, a expressividade estava acima da forma. Para tanto, criticavam a tendência racional, positivista, dogmática e técnico-científica do concretismo ortodoxo paulista: A recuperação das possibilidades criadoras do artista (não mais considerado um inventor de protótipos industriais) e a incorporação efetiva do observador (que, ao tocar e manipular as obras, torna-se parte delas) apresentam-se como tentativas de eliminar a tendência técnico-científica presente no Concretismo. Antes de questionar se esse foi um movimento de superação a outro, é importante refletirmos sobre o período em que o Concretismo se consolidou. O Brasil, e principalmente a cidade de São Paulo, passava por um processo de intensa urbanização e industrialização, o que acabou refletindo nas produções artísticas daquele momento. 5Concretismo e Neoconcretismo O Team X, projetado pelos Smithsons e construído em Londres apenas em 1972, é um conjunto habitacional popular claramente brutalista, como se percebe na imagem a seguir. Segundo Fazio, Moffett e Wodehouse (2011), o projeto foi criado para ser uma resposta simpática à vida urbana da classe trabalhadora inglesa. O enorme edifício é um contínuo de aparência externa dura e ousada. Incluía “ruas elevadas” em forma de passarelas entreligando os blocos de edifícios, que serviriam como equipamentos de socialização entre oshabitantes: “a presença de amplas varandas de concreto no terceiro pavimento de cada edifício, oferecendo vistas para o jardim central e criando espaço comum de encontro para seus habitantes e para as crianças brincarem” (LYNCH, 2017, documento on-line). Robin Hood Gardens começou a ser demolido oficialmente pelo governo inglês em 2017: segundo Lynch (2017), a falta de manutenção dos jardins internos e das “ruas suspensas” fez com que as condições do complexo se tornassem precárias, transformando-se em uma incubadora de crimes. Fonte: Wikipedia (2018). Arquitetura concreta e neoconcreta A arquitetura concreta aconteceu nos países da Europa junto com os mo- vimentos de vanguarda no entreguerras, como ocorreu com o De Stijl e o Construtivismo Russo, e pode ser considerada uma vertente da arquitetura Concretismo e Neoconcretismo6 modernista. No pós-guerra, o que aconteceu foi o surgimento da arquitetura brutalista na Inglaterra, que se espalha pelo mundo e chega ao Brasil no final dos anos 1950. No Brasil, não existem arquiteturas que se intitularam concretas e neoconcretas. O que existiu na época foi um período em que a arquitetura mo- derna ganha força com a construção de Brasília e o reconhecimento definitivo de Lucio Costa e Oscar Niemeyer como estrelas da arquitetura nacional. Outro fato marcante para a época foi a urbanização de São Paulo e o surgimento da arquitetura brutalista no Brasil e de nomes como o Arquiteto Vilanova Artigas, no início dos anos 1960 e, mais tarde, Paulo Mendes da Rocha. Brutalismo O brutalismo aconteceu a partir de uma radicalização de determinados pre- ceitos modernos que privilegiavam “a verdade estrutural das edificações”, de forma a nunca esconder os seus elementos estruturais (o que se conseguia ao tornar o concreto armado aparente ou destacando os perfis metálicos de vigas e pilares). Para Fazio, Moffett e Wodehouse (2011), essa radicalização pode ser considerada a última manifestação da arquitetura moderna, já anunciando a transição para o pós-moderno que começava a nascer paralelamente nos Estados Unidos nos anos 1950 e se impõe, nos anos 1960, como uma resposta à radicalização dos cânones modernistas. O brutalismo não pode ser considerado um movimento, mas sim uma vertente do moderno. As últimas obras de Le Corbusier são consideradas brutalistas. Em 1953, durante uma reunião do Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM), no sul da França, um grupo chamado Team-X expôs suas ideias deixando claro que pensava de maneira não convencional. O Team-X incluía o casal de arquitetos britânicos Peter e Alisson Smitson, Ralph Erskine e Aldo Van Eyck. A arquitetura do Team-X propunha pensar nos problemas sociais das cidades e da necessidade de habitações no contexto regional e local (FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE, 2011). Acesse o link a seguir para ler mais sobre a arquitetura paulista brutalista (CONCEITOS, [201-?]). https://goo.gl/iizyW 7Concretismo e Neoconcretismo Brutalismo no Brasil Principal ator arquitetônico da urbanização da maior cidade do Brasil, o bru- talismo paulista, também conhecido como Escola Paulista, foi uma arquitetura extremamente marcada por um discurso ético, sendo este o principal ponto de contato com o brutalismo inglês (SANVITTO, 2013). A preocupação com questões sociais e com a “verdade dos materiais” tem a mesma postura ética da arquitetura brutalista inglesa que teve nos Smithson seus maiores defensores. Por outro lado, afirma Sanvitto (2013), a influência formal está vinculada claramente a Le Corbusier, quando se observa o concreto bruto aplicado aos prismas puros, e a busca por uma volumetria única. Apesar das semelhanças, o brutalismo adquiriu características próprias no Brasil. E, assim, o brutalismo paulista afirmou-se como uma arquitetura com características próprias. A Escola Paulista acreditava na verdade, na correção, na virtude e na igualdade entre as pessoas. Tal ideologia conduzia soluções arquitetônicas nas quais nada havia a esconder. A sugestão da vida comunitária é explícita na utilização do espaço único. A ideia da não aceitação das segregações era refletida nas compartimentações evitadas (SANVITTO, 2013). O espaço único e a continuidade interior-exterior eram vistos como sinônimo de liberdade, pois permitiam a livre circulação. Constituíam a força moral que orientava essa arquitetura, que condenava as perversidades que ocorrem na intimidade fechada dos interiores: por esse motivo, o espaço fechado era descartado. O espaço único, portanto, era visto como agente da liberdade dos vícios, crimes, segregações e conluios, considerados frutos da privacidade que a compartimentação pode oferecer. O privado, portanto, era visto como uma forma associada ao ilícito. Vilanova Artigas, a respeito do seu projeto para a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU USP). Pensei que este espaço fosse a expressão da democracia. Pensei que o homem na Faculdade de arquitetura teria o viço e que nenhuma atividade aqui seria ilícita, que não teria de ser vista por ninguém, e que os espaços teriam uma dignidade de tal ordem que eu não podia pôr uma porta de entrada, porque era para mim um crime (SANVITTO, 2013, p. 11). Concretismo e Neoconcretismo8 Fonte: Santos (2010). AMILCAR de Castro. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/ pessoa2448/amilcar-de-castro>. Acesso em: 19 de dez. 2018. ARTE Concreta. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3777/ arte-concreta>. Acesso em: 19 de dez. 2018. CONCEITOS. In: ZEIN, R. V. (Coord.). Arquitetura Paulista Brutalista 1953-1973, [201-?]. Dis- ponível em: <http://www.arquiteturabrutalista.com.br/index1port-conceitos.htm>. Acesso em: 19 dez. 2018. COSTA, M. M. Gigante Dobrada, de Amílcar de Castro. Inhotim — Brumadinho, Minas Gerais, 9 fev. 2015. Disponível em: <http://marianamagcosta.com/2016-1-24-inhotim- -brumadinho-minas-gerais/>. Acesso em: 9 jan. 2019. EXPOSIÇÃO Nacional de Arte Concreta (1. : 1956 : São Paulo, SP). In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/evento80977/exposicao-nacional-de-arte- -concreta-1-1956-sao-paulo-sp>. Acesso em: 19 de dez. 2018. FAZIO, M.; MOFFETT, M.; WODEHOUSE, L. A história da arquitetura mundial. 3. ed. Porto Alegre: AMGH, 2011. 9Concretismo e Neoconcretismo LYNCH, P. Robin Hood Gardens de Alison e Peter Smithson começa a ser demolido. ArchDaily, 7 set. 2017. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/878712/robin- -hood-gardens-de-alison-e-peter-smithson-comeca-a-ser-demolido>. Acesso em: 19 dez. 2018. NEOCONCRETISMO. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/ termo3810/neoconcretismo>. Acesso em: 19 de dez. 2018. SANTOS, M. Andares superiores do prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Uni- versidade de São Paulo (FAU – USP), concluído em 1969 na Cidade Universitária, São Paulo. 2010. Disponível em: <http://www.imagens.usp.br/?p=1003>. Acesso em: 9 jan. 2019. SANVITTO, M. L. A. Brutalismo paulista: uma estética justificada por uma ética? In: SEMI- NÁRIO DOCOMOMO BRASIL ARQUITETURA MODERNA E INTERNACIONAL: conexões brutalistas 1955-75, 10., 2013, Curitiba. Anais... Rio de Janeiro: Docomomo Brasil, 2013. p. 1-24. Disponível em: <http://docomomo.org.br/wp-content/uploads/2016/08/CON_03. pdf>. Acesso em: 19 dez. 2018. WIKIPEDIA. The west side (inner side) of the 10 storey east block. Robin Hood Gardens, 23 dez. 2018. Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/Robin_Hood_Gardens#/ media/File:RobinHoodgardens.jpg>. Acesso em: 9 jan. 2019. Leituras recomendadas CHING, F. D. K. Arquitetura:forma, espaço e ordem. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013. FRAMPTON, K. História crítica da arquitetura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1997. Concretismo e Neoconcretismo10 Conteúdo: História da Arquitetura Jana Cândida Castro dos Santos Arquiteturas modernista e pós-modernista Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever os movimentos da arquitetura contemporânea pós-ecletismo. Identificar as características da arquitetura contemporânea. Reconhecer as principais obras e os artistas da arquitetura modernista e pós-modernista. Introdução Os acontecimentos do século XX, combinados aos avanços tecnológicos na construção civil (marcados pelo uso do aço e do concreto armado) deram uma nova visão às cidades como um local para abrigar indústrias e sistemas modernos de transporte. Pensando-se ainda na questão da saúde física e mental, caracterizaram nesse contexto o surgimento das arquiteturas modernista e, mais tarde, pós-modernista. Neste capítulo, você verá a descrição dos movimentos da arquitetura contemporânea pós-ecletismo, a partir da identificação de suas características e principais obras e artistas. Arquitetura modernista Durante o período de transição da Revolução Industrial até nossa contempo- raneidade, surgem novos problemas e, com isso, repostas diferentes e únicas, a partir de um leque de novas experimentações. Para Pereira (2010, p. 227), esses novos problemas levaram “[...] a uma desagregação dos nexos morfoló- gicos tradicionais em todos os campos”. O século XX traz consigo mudanças culturais e científi cas importantes. Tais mudanças e as novas descobertas levaram a teorias que abalaram a sensação “típica do século XIX de progresso infi nito”, abrindo caminho para uma nova etapa cultural e arquitetônica. A nova etapa cultural é marcada pelo modernismo, do qual fazem parte outros tantos movimentos, como será visto a seguir. O percurso será iniciado pela explicação sobre o abandono do ornamento na arquitetura modernista. Adolf Loos (1870–1933) deu início à sua carreira associada à Sezession de Viena, mas logo se afastou. Após entrar em contato com os textos de Louis Sullivan, começou a opor-se ao uso de ornamentos na arquitetura. E, assim, dedicou-se a explorar, criando um novo método de composição espacial, cha- mado de Raumplan. Um de seus textos mais famosos foi publicado em 1908, o Ornamento e crime, seguindo a sugestão de abandonar a ornamentação na arquitetura, como já sugerido por Sullivan, e adotando como resultado “formas vernaculares simples”, construções funcionais e desadornadas, adequadas, a seu ver, para a era das máquinas (Figura 1). Figura 1. Casa Moller, Viena, 1927–1928. Fonte: Ching, Jarzombek e Prakash (2019. p. 703). A Casa Moller se mostra como um projeto paradigmático de Loos, visto que sua fachada é simples e “[...] um tanto opressora” (CHING; JARZOMBEK; PRAKASH, 2019, p. 703). E se, por um lado, o exterior da casa é simples, os Arquiteturas modernista e pós-modernista2 ambientes internos, por outro, “[...] são ricamente revestidos de lâminas de madeira clara nas paredes e de tapetes orientais no piso, criando uma sensação de suntuosa elegância”, como colocam Ching, Jarzombek e Prakash (2019, p. 703). Embora Loos seja considerado como um dos precursores do modernismo, nesse caso, ele apresenta uma aproximação com o ideal do movimento das artes e ofícios, em razão do tratamento do interior e seu intimismo. O futurismo e o construtivismo O futurismo italiano e o construtivismo russo foram dois movimentos que infl uenciaram o desenvolvimento do modernismo europeu, apesar de terem sido relativamente breves. Filippo Marinetti (1876–1944) foi o principal responsável por apresentar os ideais futuristas, publicando um manifesto, em 1909, para sua fundação, mesmo ano em que Frank Lloyd Wright seguia para a Europa após abandonar os Estados Unidos. Marinetti acreditava piamente que a paisagem italiana, assim como sua arquitetura, deveria sofrer uma mudança radical. Segundo Fazio, Moffett e Wodehouse (2011, p. 483), ele “[...] louvava a velocidade, o perigo, a audácia e até mesmo a guerra como meio de limpar a sociedade; também anunciou o fim das noções tradicionais de tempo e espaço”. Para Marinetti (apud CHING; JARZOMBEK; PRAKASH, 2019, p. 708), “[...] a arte não pode ser nada além de violência, crueldade e injustiça”. Ao redor dessa retórica agressiva, estavam artistas e escultores, ainda sem meios gráficos para se expressarem. O arquiteto mais conhecido do movimento foi Antonio Sant’Elia (1888– 1916). A arquitetura futurista perdeu muita força após a sua morte. Sant’Elia ficou conhecido a partir da exposição de 1914, Città Nuova (Cidade Nova) e da publicação que a acompanhou, Messagio (Mensagem), que se tornou o manifesto da arquitetura futurista. Sua técnica envolvia perspectivas exube- rantes, projetos para hangares de aeronaves, blocos de apartamentos, centro de transporte, entre outros. Os projetos se caracterizavam por “[...] fortes volumes sem ornamentação, verticalidade, paredes inclinadas ou escalonadas, múltiplos níveis de circulação horizontal, elevadores externos e equipamentos de geração de energia aparentes”, como como ser visto na Figura 2 (FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE, 2011, p. 484). 3Arquiteturas modernista e pós-modernista Figura 2. Antonio Sant’Elia, detalhe de La Città Nuova, 1914. Sant’Elia explorou as pos- sibilidades de uma cidade dinâmica domi- nada por múltiplos meios de transporte. As altas torres de elevadores conectadas às laterais dos prédios por passarelas são especialmente impressionantes. Fonte: Fazio, Moffett e Wodehouse (2011. p. 484). Assim como os futuristas, os construtivistas também eram muito ra- dicais na Rússia revolucionária, ainda que determinados a desaparecer, em vista do classicismo de Stalin. O construtivismo idealizava uma República Soviética cuja arquitetura fosse impulsionada pelas forças da industrialização. No entanto, muitas dessas ideias construtivistas transpunham o cenário rural e o estado de confusão total que caracterizava o país. Propunham o uso de materiais de construção modernos, como aço e o concreto, e grandes áreas de vidro. Entre seus projetos, destaca-se o Pavilhão Soviético para a Exposition des Arts Décoratifs, de 1925, projeto de Konstantin Melnikov (1890–1974), com “volumes romboides e estrutura em balanço” enfatizando o dinamismo, ao passo que “[...] os espaços interconectados expressavam a agenda ainda em aberta do Comunismo Soviético” (Figura 3) (FAZIO; MOFFETT; WO- DEHOUSE, 2011, p. 485). Arquiteturas modernista e pós-modernista4 Figura 3. Konstantin Melnikov, Pavilhão Soviético, Exposition des Arts Décoratifs, Paris, 1925. Para criar esta forma dinâmica, Melnikov usou um grelha de planejamento interseccionada por uma escadaria diagonal. Fonte: Fazio, Moffett e Wodehouse (2011, p. 485). O expressionismo holandês e alemão Os pintores dos grupos alemães Brucke (Ponte) e Blauer Reiter (Cavaleiro Azul), entre 1900 e 1914, revoltaram-se contra o naturalismo acadêmico, passando a expressar suas emoções, pensamentos e sentimentos diretamente na pintura. No período pós-guerra, os artistas e arquitetos europeus viam- -se emocionados em relação à barbárie da guerra enquanto a sociedade se recuperava da devastação. Os membros do expressionismo holandês, trabalhando em Amsterdã, deviam muito à obra de H. P. Berlage (1856–1934). Em suas obras, buscavam ressaltar o processo artesanal da construção, revelar a estrutura e um alto nível de detalhes. Um dos prédios pelo qual Berlage ficou conhecido é o da Bolsa de Valores de Amsterdã (1897–1903). O edifício apresenta paredes portantes de tijolo e pedra com inspiração medieval, cobertura de treliças de ferro e claraboias acima do grande salão (Figura 4). 5Arquiteturas modernista e pós-modernista Figura 4. H. P. Berlage, Bolsa de Valores de Amsterdã, Amsterdã, 1907–1903(exterior e interior do edifício). Fonte: Fazio, Moffett e Wodehouse (2011, p. 487). Fazio, Moffett e Wodehouse (2011, p. 487) revelam que: Berlage se inspirou na longa tradição holandesa de construção com tijolos. A alvenaria de tijolo da Bolsa de Valores fica ainda mais rica pelo uso de pedras policromáticas tanto no interior quanto no exterior. No interior não há apenas tijolo e pedra, mas ferro na forma de arcos treliçados. O material que antigamente era considerado apropriado apenas para edificações como estufas e estações ferroviárias passou a ser aceito em edifícios institucionais. Diferentemente do holandês, o expressionismo alemão se mostrou muito mais diversificado, pois se preocupava tanto com a forma como com a utopia. Foram fundamentais para o movimento os escritos de Paul Scheerbart, que enxergava na arquitetura de vidro e cristalina um modo de amenizar a opaci- dade “opressora” a seu ver, característica da cultura moderna. Dentre as obras do expressionismo alemão, um monumento bastante di- vulgado é o da Caixa d’Água, de Posen (atual Poznan, na Polônia), projeto de Hans Poelzig, o qual juntou funções aparentemente heterogêneas com uma estética industrial, com um aspecto “quase alucinógeno” (Figura 5). Sobre essa obra, Fazio, Moffett e Wodehouse (2011, p. 491) afirmam que: [...] vedações externas da edificação são facetadas e extremamente texturiza- das, incluindo alvenaria variada e padrões de vidraça. No interior, inserido em uma estrutura independente [...] e sob o reservatório de água. Poelzig projetou um espaço de exibição que pretendia transformar em mercado público. A edificação é um impressionante amálgama de função e fantasia. Arquiteturas modernista e pós-modernista6 Figura 5. Hans Poelzig, Caixa d’Água de Posen, Posen, 1911. Hans Poelzig era um membro muito respeitado da Werkbund; atualmente seria descrito como um corporativista. Mesmo assim, não encontrou dificuldades para produzir este projeto evocativo baseado em painéis policromados facetados. Alguns panos de tijolo externos se refletem no interior, entre a estrutura independente de pilares treliçados. Fonte: Fazio, Moffett e Wodehouse (2011, p. 491). A Art Déco A Art Déco abrange uma linguagem diversifi cada de projeto, incluindo de gráfi cos a móveis, de arquitetura a cerâmicas. Suas artes decorativas — tam- bém conhecidas como l’art moderne — fl oresceram na França em meados de 1910, ao passo que sua arquitetura seguiu popular nos Estados Unidos ao longo da década de 1930, particularmente em arranha-céus e teatros. Como estilo, a Art Déco só foi reconhecida na década de 1960 (FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE, 2011, p. 492). 7Arquiteturas modernista e pós-modernista Um exemplo do movimento Art Déco é o Cristo Redentor, do Rio de Janeiro, estátua localizada no alto do morro do Corcovado, cuja construção teve início em 1926. Para Giumbelli (2008, p. 88): [...] o Cristo Redentor participa e testemunha a própria consolidação de um estilo que pretendia encarnar os índices da suprema modernidade. No quadro da arquitetura brasileira e carioca, a estátua figura como uma das obras pioneiras do Art Déco. O movimento Art Déco, assim como a Art Nouveau e as demais experiências modernistas, buscou a inovação em um novo século, mas suas inspirações eram extremamente ecléticas. Além das inspirações que serão citadas a se- guir, o movimento também trouxe inspirações do Egito Antigo, da África, do Oriente e de outros locais, utilizando flores estilizadas, formas vegetais onduladas, formas geométricas facetadas e figuras humanas estilizadas, idealizadas e heroicas. Inspirações do cubismo: formas sobrepostas e facetadas. Inspirações do construtivismo russo: linguagem da mecanização. Inspirações do futurismo: o fascínio pelo movimento. O movimento Déco, ainda que abraçasse a estética da máquina, apresentava um modo de celebrar tanto a arte como a tecnologia. Dentro de sua produção arquitetônica, destaca-se um famoso arranha-céu, o Edifício Chrysler (1928), situado em Nova Iorque e projetado por William Van Alen (1883–1954). Como vemos na Figura 6 e segundo Fazio e colaboradores (2011, pp. 492–493), o edifício, com sua “cúpula em forma de coroa feita de aço inoxidável, com sucessivos arcos preenchidos com raios de sol e coroada com uma flecha”, se tornou um marco na paisagem urbana. Ainda se destacam “suas gárgulas de águias e o famoso acrotério com motivos radiais e friso adjacente com rodas de veículos abstratas”. Arquiteturas modernista e pós-modernista8 Figura 6. William Van Alen, Edifício Chrysler, Nova Iorque, 1928. A silhueta mais característica na linha do horizonte de Nova Iorque ainda é a coroa de aço inoxidável do Edifício Chrysler. Ignorado por muito tempo pelos modernistas, este ornamento para edifícios altos ressurgiu quase como um fetiche nas décadas de 1970 e 1980. Fonte: Fazio, Moffett e Wodehouse (2011, p. 492). Além dos edifícios altos Art Déco que se destacam em Nova Iorque, há um conjunto particularmente rico em Miami Beach, Flórida, “[...] onde a linguagem internacional se misturou com uma paleta de cores local e se adaptou ao clima subtropical” (FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE, 2011, p. 495). São edifícios 9Arquiteturas modernista e pós-modernista de escala modesta, mas pintados com tons fortes. Em geral, apresentam brises e balcões que enfatizam a horizontalidade do conjunto, sendo pontuados por elementos marcadamente verticais, como entradas e torres de escada. Sua decoração é marcada por motivos da Art Déco, como raios de sol, motivos da fauna e flora locais, incluindo as tradicionais palmeiras e flamingos de Miami (Figura 7), como ressaltam os autores citados. Figura 7. Anton Skislewicz, The Breakwater, Miami Beach, Flórida, 1939. As volumetrias mais populares entre os edifícios da Art Déco em Miami combinam vários pavimentos horizontais com um alto elemento central — neste caso, um letreiro de hotel e uma caixa de escada. Fonte: Fazio, Moffett e Wodehouse (2011, p. 496). O De Stijl As origens do movimento holandês De Stijl remontam às obras do pintor Piet Mondrian (1872–1944) e do arquiteto H. P. Berlage (também comentado no ex- pressionismo holandês) e possuem duas fases, ambas coordenadas por Theo Van Doesburg — pintor, projetista, tipógrafo, crítico, escritor e agitador de multidões. Os dois artistas que marcam o início do movimento buscavam em sua obra uma maneira moderna de se expressar. Os projetos de De Stijl são marcados pela ultrarracionalidade e por serem abstratos e mecânicos, diferentemente dos ex- pressionistas holandeses, que tendiam ao fi gurativismo, sintonizados com o meio artesanal de produzir edifi cações (FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE, 2011). Arquiteturas modernista e pós-modernista10 Primeira fase do De Stijl: tem início em 1921 e inclui como parti- cipantes Mondrian, vários outros pintores holandeses e os arquitetos Rob van t’Hoff (1887–1979) e J. J. P. Oud (1890–1963), que defendiam a criação de formas universais espacialmente ilimitadas e em sintonia com a tecnologia moderna. Segunda fase do De Stijl: de 1921 a 1922, mudaram os participantes, e o movimento ganhou um perfil mais internacional, sem Mondrian e com a permanência de Van Doesburg. Temos a entrada dos russos construtivistas El Lissitzky (1890–1941), Friedrich Kiesler (1890– 1965), do Grupo Berlim G (que incluía o jovem Mies va der Rohe), o planejador Cor Van Eesteren (1897–1988) e o arquiteto e desenhista de móveis holandês Gerrit Rietveld (1888–1964). Nessa fase, as obra do De Stijl continuaram abstratas e com caráter tecnicista, porém se tornaram mais construtivistas e radicais em relação à exploração do espaço tridimensional. Dessa produção, podemos dar destaque, entre os desenhos de móveis, à Cadeira Vermelha e Azul (1917–18) de Rietveld, até hoje produzida (Figura 8). Figura 8. Gerrit Rietveld, Cadeira Vermelha e Azul, 1917– 1918. Essa cadeira, nas cores primárias características do estilo, ainda
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