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0 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 2 DESENVOLVIMENTO HUMANO E SUAS ETAPAS .................................. 4 2.1 O desenvolvimento humano na infância ............................................... 6 2.2 O desenvolvimento humano na adolescência ...................................... 8 2.3 O desenvolvimento humano na vida adulta .......................................... 9 3 TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO ...................................... 10 3.1 Teorias do desenvolvimento humano ................................................. 10 4 DESENVOLVIMENTO HUMANO NAS TEORIAS MOTORA, COGNITIVA, AFETIVA E SOCIAL ................................................................................. 17 4.1 Desenvolvimento Motor ...................................................................... 18 4.2 Desenvolvimento Afetivo .................................................................... 23 4.3 Desenvolvimento Cognitivo ................................................................ 26 4.4 Desenvolvimento Social ..................................................................... 32 5 APRENDIZAGEM ..................................................................................... 38 5.1 Relação entre aprendizagem e desenvolvimento ............................... 40 6 APRENDIZAGEM MOTORA ..................................................................... 41 7 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 44 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 DESENVOLVIMENTO HUMANO E SUAS ETAPAS Fonte: jrmcoaching.com Segundo Cortinaz (2015), o desenvolvimento humano é o determinante da trajetória de vida de todos. Portanto, precisamos prestar atenção aos fatores que afetam de alguma forma o desenvolvimento pessoal. Entre eles, podemos citar dois que são extremamente importantes no desenvolvimento das disciplinas: cada pessoa, ao nascer, carrega a carga genética herdada de seus pais biológicos, o que tem uma importante ligação com o desenvolvimento humano de cada pessoa. No entanto, essas heranças podem ou não se desenvolver em resposta a intervenções ambientais. Conforme Consolaro (2009 apud CORTINAZ, 2015) afirma, [...] as características dos seres vivos são determinadas por unidades hereditárias chamadas genes. Esse conceito, por ser muito incisivo e fechado, acabou por ser dogmaticamente utilizado. A transmissibilidade das características de um ser para outras gerações não depende exclusivamente dos genes; devemos considerar a célula como um todo – com o seu citoplasma, suas mitocôndrias e o material genético que carrega em sua estrutura –, assim como o organismo como um todo, e a complexidade do meio ambiente (CONSOLARO, 2009, p.14 apud CORTINAZ, 2015). De acordo com as palavras do autor a hereditariedade é importante para o desenvolvimento dos seres humanos. Porém, não é definitiva sendo que as questões externas, relacionadas ao meio ambiente no qual cada indivíduo vive, também, são fundamentais na trajetória de vida de cada um. O meio ambiente é um fator de extrema 5 importância no desenvolvimento dos seres humanos, pois é através das relações e interações dos sujeitos com o meio que esses se constituem (CORTINAZ, 2015). [...] o desenvolvimento do ser humano está subordinado a dois grupos e fatores: os fatores da hereditariedade e adaptação biológica, dos quais depende a evolução do sistema nervoso e dos mecanismos psíquicos elementares, e os fatores de transmissão ou de interação sociais, que intervêm desde o berço e desempenham um papel de progressiva importância, durante todo o crescimento, na constituição dos comportamentos e da vida mental (PIAGET, 1998, p. 17 apud CORTINAZ, 2015). Dessa forma, Cortinaz (2015) afirma quanto estímulos oferecidos pelo meio ambiente, maiores serão as condições de desenvolvimento e de aprendizagem dos seres humanos. A psicologia do desenvolvimento estuda e pesquisa as diferentes fases da maturidade e desenvolvimento humano; analisa as mudanças e a estabilidade dos seres humanos desde o nascimento até a maturidade. O campo da psicologia tenta encontrar essas características universais de mudança e permanência, essas características ajudam a compreender melhor o ser humano (CORTINAZ, 2015). O campo do desenvolvimento humano concentra-se no estudo científico dos processos sistemáticos de mudança e estabilidade que ocorrem nas pessoas. Os cientistas do desenvolvimento (ou desenvolvimentistas) – indivíduos empenhados no estudo profissional do desenvolvimento humano – observam os aspectos em que as pessoas se transformam desde a concepção até a maturidade, bem como as características que permanecem razoavelmente estáveis. Quais são as características com mais chances de perdurar? Quais têm mais chances de mudar, e por quê? Essas são algumas das perguntas que os cientistas do desenvolvimento procuram responder. (PAPALIA; FELDMAN, 2013, p. 36 apud CORTINAZ, 2015). No início da história, a psicologia do desenvolvimento dedicou-se a estudar a infância – período em que muitas mudanças são observáveis – e, após algum tempo, passou a dedicar-se também ao estudo de outros períodos do desenvolvimento humano. Hoje é possível organizar o desenvolvimento humano em oito diferentes períodos (PAPALIA; FELDMAN, 2013 apud CORTINAZ, 2015): Período pré-natal (da concepção ao nascimento); Primeira infância (do nascimento aos 3 anos de idade); Segunda infância (dos 3 aos 6 anos de idade); Terceira infância (dos 6 aos 11 anos de idade); Adolescência (até aos 20 anos de idade, aproximadamente); 6 Início da vida adulta (dos 20 aos 40 anos de idade); Vida adulta intermediária (dos 40 aos 65 e anos de idade); Vida adulta tardia (dos 65 em diante) (CORTINAZ, 2015). Esses períodos informados não são inquestionáveis, portanto, é possível que ocorra variações para diferentes indivíduos, diversas culturas e diferentes sociedades. Porém, ainda que um pouco arbitrárias, são faixas etárias aproximadas em que é possível observar características comuns para melhor compreender o desenvolvimento humano (CORTINAZ, 2015). A divisão do ciclo de vida em períodos é uma construção social: um conceito ou prática que pode parecer natural e óbvio àqueles que o aceitam, mas na realidade é uma invenção de uma determinada cultura ou sociedade. Não há nenhum momento objetivamente definível em que uma criança se torna adulta ou um jovem torna-se velho. De fato, o próprio conceito de infância pode ser visto como uma construção social. Ao contrário da relativa liberdade que têm as crianças hoje [...], as crianças pequenas no período colonial eram tratadas até certo ponto como pequenos adultos [...] (PAPALIA; FELDMAN, 2013, p. 38, grifo das autorasapud CORTINAZ, 2015). O desenvolvimento humano, para fins de estudo e pesquisa, pode ser organizado em três diferentes âmbitos: desenvolvimento físico, desenvolvimento cognitivo e desenvolvimento psicossocial. O desenvolvimento físico engloba o crescimento do corpo humano, as capacidades sensoriais e as habilidades motoras. O desenvolvimento cognitivo é composto pelos processos de aprendizagem, pela memória, pela linguagem e pelo raciocínio. Por último, o desenvolvimento psicossocial inclui as emoções, a personalidade e as relações sociais (PAPALIA; FELDMAN, 2013 apud CORTINAZ, 2015). Essa organização é bastante útil para fins de estudo e pesquisa, como referido anteriormente, mas esses diferentes âmbitos do desenvolvimento humano estão inter-relacionados e afetam uns aos outros. 2.1 O desenvolvimento humano na infância Conforme Cortinaz (2015), a primeira infância, tem o período que vai do nascimento aos 3 anos de idade, aproximadamente, pode-se destacar, em relação ao desenvolvimento físico, que o crescimento do corpo e o desenvolvimento das habilidades motoras se dão em um ritmo rápido e facilmente observável. O cérebro das crianças, nesse período, está sensível às influências do ambiente e se torna mais 7 complexo em seu desenvolvimento. Em relação ao desenvolvimento cognitivo, pode- se destacar que, desde as primeiras semanas de vida, as capacidades de aprendizagem e de memória estão presentes, há uma rápida evolução do uso e da compreensão da linguagem (ainda que de forma incipiente) e, por volta do segundo ano de vida, desenvolve-se a capacidade de usar símbolos e solucionar alguns problemas simples. Já em relação ao desenvolvimento psicossocial, é possível observar a formação de vínculos afetivos com a família e outras pessoas, há um aumento do interesse por outras crianças e há uma diminuição da dependência dos adultos e o desenvolvimento de um pouco de autonomia. Na segunda infância, o período que vai dos três aos seis anos de idade, aproximadamente, pode-se destacar, em relação ao desenvolvimento físico, que há uma constância no crescimento do corpo humano e um desenvolvimento significativo das habilidades motoras. Em relação ao desenvolvimento cognitivo, é possível observar avanços no uso da memória e da linguagem. Já em relação ao desenvolvimento psicossocial, a compreensão das emoções se torna mais complexa, há um aumento da independência, a criança toma mais iniciativas e tem mais autocontrole. Nesse período, em geral, observa-se o desenvolvimento da identidade de gênero (PAPALIA; FELDMAN, 2013 apud CORTINAZ, 2015). A família ainda será o centro da vida social, mas outras crianças se tornam cada vez mais importantes na vida da criança. Por último, a terceira infância, período que vai dos seis aos onze anos de idade, aproximadamente, observa-se, em relação ao desenvolvimento físico, que o crescimento do corpo humano se torna mais lento se comparado aos períodos anteriores, mas a força física aumenta. Em relação ao desenvolvimento cognitivo, o raciocínio lógico apresenta avanços que permitem à criança acessar o ensino formal da escola. Já em relação ao desenvolvimento psicossocial, o autoconceito se torna mais complexo e afeta a autoestima das crianças, os colegas e amigos assumem uma relevância cada vez maior e a regulação das famílias sobre as crianças diminui, pois essas passam a regular-se mais (CORTINAZ, 2015). 8 2.2 O desenvolvimento humano na adolescência A adolescência pode ser circunscrita no período que vai desde os onze até os vinte anos de idade, aproximadamente (PAPALIA; FELDMAN, 2013 apud CORTINAZ, 2015), mas [...] a caracterização da adolescência não constitui tarefa muito fácil, porque aos fatores biológicos específicos, atuantes na faixa etária, se somam as determinantes socioculturais, advindas do ambiente onde o fenômeno da adolescência ocorre [...]. (CAMPOS, 1987, p. 28 apud CORTINAZ, 2015). Além dos fatores biológicos, estão, o ambiente familiar, cultural e social que influencia o desenvolvimento humano na adolescência (CORTINAZ, 2015). Assim como durante a infância, Cortinaz (2015) afirma que o desenvolvimento humano na adolescência é acompanhado pelo crescimento do corpo humano. Em relação ao desenvolvimento físico, destaca-se que as mudanças físicas são rápidas e intensas, e a maturidade reprodutiva é o marco desse período. É nesse período que ocorre de forma mais acentuada o crescimento dos seios e dos órgãos genitais, além do crescimento de pelos na face, nas axilas e no púbis. Podem-se observar, também, mudanças no tom de voz, no desenvolvimento do esqueleto e na estatura. Esse conjunto de ocorrências também pode ser denominado de puberdade. Todas essas mudanças podem acarretar algumas inseguranças no período da adolescência: a perda do corpo e da identidade infantil faz com que o adolescente, muitas vezes, não se reconheça mais no seu próprio corpo, compare-se com os outros e questione sua identidade. Em relação ao desenvolvimento cognitivo, pode-se destacar o aprimoramento das capacidades de pensamento abstrato e raciocínio científico (PAPALIA; FELDMAN, 2013 apud CORTINAZ, 2015). O instrumento do pensamento do adolescente é a linguagem ou qualquer outro sistema simbólico, como, por exemplo, a matemática. Nesta medida, ele é capaz de formular hipóteses e, a partir delas, de chegar a conclusões que independem da verdade fatual ou da observação (RAPPAPORT, 1981, p. 69 apud CORTINAZ, 2015). Como afirma Rappaport, a partir do pensamento e da reflexão, o adolescente submete o meio aos seus esquemas mentais. Inicialmente, o adolescente pode se incomodar com as contradições entre o que pensa e o meio em que vive, mas, aos poucos, percebe que a função do pensamento e da reflexão não é tão somente 9 contradizer, mas também interpretar a experiência. Assim, o adolescente compreende a importância do pensamento e da reflexão para a sua ação sobre o meio (CORTINAZ, 2015). Já em relação ao desenvolvimento psicossocial, esse período é marcado pela busca de uma identidade, incluindo a identidade sexual (PAPALIA; FELDMAN, 2013 apud CORTINAZ, 2015). O grupo de amigos é uma importante expressão do meio para o adolescente, influenciando seu vocabulário, modo de vestir e outros aspectos do comportamento. A identidade do adolescente se consolida e tem relação com a identidade do grupo com o qual se relaciona ou ao qual pertence. É importante destacar que os interesses dos adolescentes são diversos e mutáveis e uma maior estabilidade será observada quando chegar à vida adulta. 2.3 O desenvolvimento humano na vida adulta O início da vida adulta se estende dos vinte aos quarenta anos de idade, aproximadamente. Nesse período, o desenvolvimento físico alcança o ápice desse processo e, próximo ao final desse período, o desenvolvimento físico apresenta um ligeiro declínio. Em relação ao desenvolvimento cognitivo, é possível destacar que os pensamentos e julgamentos morais se tornam mais complexos se comparados aos períodos anteriores. Já em relação ao desenvolvimento psicossocial, é nesse período que identidade e personalidade se tornam estáveis (PAPALIA; FELDMAN, 2013 apud CORTINAZ, 2015). Os indivíduos, em geral, tomam decisões sobre relacionamentos e estilo de vida, como, por exemplo, casar-se e/ou ter filhos. A vida adulta intermediária se estende do período que vai dos quarenta aos sessenta e cinco anos de idade, aproximadamente. Em relação ao desenvolvimento físico, pode ocorrer o início de uma lenta deterioração das habilidades sensoriais, assim como do vigor e da força física, mas são grandes as diferenças individuais. É nesse período que, normalmente, as mulheres entram na menopausa. Em relação ao desenvolvimento cognitivo, as capacidades mentais atingem o seu auge. Já em relação ao desenvolvimento psicossocial, pode haver uma reduçãoda vida social mais ativa e um sentimento de ausência em relação aos amigos e familiares (PAPALIA; FELDMAN, 2013 apud CORTINAZ, 2015). 10 Por último, a vida adulta tardia se estende dos sessenta e cinco anos de idade até o fim da vida. Em relação ao desenvolvimento físico, pode ser observado um declínio das capacidades físicas, assim como um tempo de reação mais lento em relação aos estímulos e interações. Em relação ao desenvolvimento cognitivo, pode- se observar a deterioração da inteligência e da memória. Já em relação ao desenvolvimento psicossocial, a busca de significado para a vida pode assumir uma grande importância (PAPALIA; FELDMAN, 2013 apud CORTINAZ, 2015). Muitos pesquisadores têm se dedicado ao estudo da vida adulta, buscando identificar padrões comuns a esse período da vida. 3 TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO Na opinião de Gonçalves (2017), as transformações que ocorrem ao longo do período do ciclo vital e que aumentam ou diminuem as capacidades funcionais são denominadas desenvolvimento. Essas modificações ocorrem em diversas dimensões do ser humano, como os aspectos físicos, motores, sociais e afetivos, e se apresentam de diferentes formas, dependendo de fatores genéticos relacionados aos estímulos ambientais ou às histórias de vida e contexto que permeiam cada um dos indivíduos. Para Gonçalves (2017), evidenciar os processos de desenvolvimento humano, muitos teóricos buscaram compreender as modificações que os sujeitos apresentam em cada uma de suas dimensões. 3.1 Teorias do desenvolvimento O desenvolvimento pode ser definido como uma série de mudanças que ocorrem durante a vida de todos os seres vivos. Essas mudanças podem ser observadas a partir de diversas óticas, como na maturação fisiológica, nas mudanças comportamentais e por meio das habilidades cognitivas. Nos seres humanos, o interesse pelo desenvolvimento ganhou força a partir do início do século XIX, quando o debate científico sobre as experiências na infância e suas relações com as características inatas das crianças buscavam ser compreendidas por cientistas (GONÇALVES, 2017). 11 Papalia, Olds e Feldman (2013 apud GONÇALVES, 2017) explicam que esse fenômeno surgiu após um menino com características selvagens aparecer nu e com feridas por todo o seu corpo em uma cidade no sul da França, em 1798. Após ser nomeado como Victor, o “Selvagem de Aveyron” (como foi apelidado em alusão à cidade e condições em que foi encontrado), a criança foi encaminhada para uma escola de surdos. Lá, despertou a curiosidade de um educador e estudante de medicina mental (o equivalente à psiquiatria atualmente), Jean Marc Gaspard Itard, que o acolheu e o abrigou em sua casa, a fim de estudar os processos de domesticação de um menino que aparentava nunca ter vivido em uma sociedade civilizada. Após anos desenvolvendo seus métodos com Victor, Itard percebeu avanços em alguns aprendizados civilizatórios, como escrever poucas palavras e se vestir, por exemplo. No entanto, Victor jamais aprendeu a falar e sempre demonstrou maior motivação em correr em campos abertos e matas fechadas (como os animais selvagens), até morrer, por volta dos 40 anos. Outro fator observado foi a maior aceitação de tarefas estabelecidas e dirigidas, assim como o sentimento de orgulho e de necessidade de agradar quando em contato com a governanta Guérin, que o tratava com maior afetividade em relação a Itard (GONÇALVES, 2017). Por um século conforme Gonçalves (2017) explica, as teorias sobre a infância se desenvolveram e abriram espaço para as pesquisas e teorias ao longo da vida. Até o início do século XX, a adolescência não era compreendida como uma fase separada da vida adulta, ou seja, a criança, tornava-se adulta à medida que seu corpo ganhava os vigores físicos característicos da nova fase e que a possibilitava exercer algum ofício. Os estudos promovidos pelo psicólogo Granville Stanley Hall, culminaram em um livro sobre a adolescência, no ano de 1904, que foi a primeira obra a retratar essa fase do desenvolvimento humano. Hall foi também o pioneiro nos estudos sobre o envelhecimento, produzindo uma obra voltada à senescência, em 1922. Contudo, a comunidade científica só voltou suas atenções ao envelhecimento na década de 1930, após a Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, dedicar uma unidade acadêmica voltada a esses processos (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2013 apud GONÇALVES, 2017). Com o apoio das instituições científicas, muitos teóricos passaram a desenvolver seus estudos na tentativa de compreender como os seres humanos se desenvolviam, 12 acompanhando os sujeitos desde o seu nascimento até a velhice, em estudos longitudinais. Teoria do desenvolvimento psicossexual — Freud Muitas das teorias atuais possuem influências da teoria psicanalítica desenvolvida por Sigmund Freud (1856-1939) que, por sua vez, foi influenciado pelas teorias evolucionistas de Charles Darwin (COUTO, 2017 apud GONÇALVES, 2017). Ainda que suas teorias não tenham se centrado especificamente nos processos de desenvolvimento, mas sim em aspectos relacionados à formação da personalidade e dos funcionamentos psíquicos anormais, Freud propôs que os seres humanos passam por estágios psicossexuais cujas bases são as atividades motoras e as sensações físicas. A teoria freudiana apresenta a formação da personalidade a partir de três dimensões do aparelho psíquico: o id, uma fonte inconsciente de busca de prazer, de motivos, de desejos e paixões; o ego, que busca realizar uma adequação permanente entre o que os instintos almejam e aquilo que é eticamente correto; e o superego, uma forma contrária ao id, que produz a internalização dos pensamentos éticos e morais. A partir dessa tríade, Freud propõe que os estágios psicossexuais se apresentem a partir de conflitos e experiências que os sujeitos vão vivenciando, que os permitem seguir e fundamentam a fase seguinte. Com isso, Freud aborda que o desenvolvimento ocorre nos estágios oral, anal, fálico, latente e genital (COUTO, 2017 apud GONÇALVES, 2017). No estágio oral, que se estende até o primeiro ano de vida, a boca é a principal zona erógena, uma vez que as fontes de prazer estão no ato de mamar e de se alimentar. O principal conflito é o desmame, em que os indivíduos devem se afastar do contato contínuo de suas fontes de prazer. Já no estágio anal, de 1 a 3 anos, o foco da libido se encontra na bexiga e na evacuação. O principal desafio é o controle das necessidades corporais, formadoras das sensações de controle e independência. O estágio fálico, aproximadamente entre os 3 e 6 anos, tem o foco da libido nos órgãos genitais, é quando a criança começa a perceber a presença do “falo” (pênis). Freud expunha que o principal desafio nessa fase era lidar com o medo da castração para os meninos e o desejo de possuir um pênis e, para as meninas, o desejo em adquiri- lo (COUTO, 2017 apud GONÇALVES, 2017). No estágio latente, que dura até a puberdade, o ego e o superego mais desenvolvidos contribuem para uma inibição da libido. A energia sexual é transferida paras as atividades socializadoras e intelectuais. Trata-se, portanto, de uma pausa para a transição do desenvolvimento psicossexual. 13 Por último, no estágio genital, as funções da libido atendem a um caráter reprodutivo. Nesse momento, o grande desafio é a desvinculação dos pais e a busca por um objeto de amor do mundo externo (GONÇALVES, 2017). Teoria do desenvolvimento psicossocial — Erikson As teorias de Freud serviram de influências para os estudos de Erik Erikson (1902-1994), seu aluno. No entanto, Erikson se opôs a algumas características freudianas por não considerar aspectos relativos às contribuições que o meio em que cada indivíduo está inserido exercem no desenvolvimento. Com isso, Erikson se concentrou nas influências que a sociedade exerce,estabelecendo consequências a partir das influências sociais e afetivas ocorridas ao longo da vida, em vez do sexo. A teoria psicossocial de Erikson envolve oito estágios, em que os fatores ambientais exercem maior influência do que a hereditariedade no ciclo da vida humana, se apresentando de forma sequencial, conforme o avanço dos estímulos sociais e dos aspectos referentes às experiências (GALLAHUE; OZMUN, 2013 apud GONÇALVES, 2017). O equilíbrio entre os sentimentos experimentados durante as fases da vida é fundamental para o desenvolvimento. No primeiro estágio, há a experimentação de confiança versus desconfiança, em que o desenvolvimento se baseia na confiança que a criança adquire por seus cuidadores. O processo inverso, a desconfiança, pode comprometer a segurança do indivíduo em se posicionar frente ao mundo. A partir do primeiro ano de vida, toma forma o estágio de autonomia versus vergonha e dúvida, cujo desenvolvimento parte do orgulho em conseguir controlar o próprio corpo e fazer coisas básicas, como se alimentar. O sentimento contrário, quando em excesso, provoca sensações de inadequação e insegurança. Entre 3 e 5 anos, surge o estágio de iniciativa versus culpa, no qual as crianças desenvolvem o seu poder de iniciativa junto a outras crianças, liderando e propondo jogos. Caso esses objetivos não sejam atingidos, passam por sentimentos de dúvida de si e de falta de iniciativa (GALLAHUE; OZMUN, 2013 apud GONÇALVES, 2017). A segunda metade da infância é caracterizada pelo estágio de produtividade versus inferioridade, que se mostra a partir do orgulho em dominar certas habilidades e realizar sua exposição para os outros sujeitos. As crianças que recebem pouco estímulo social passam a se sentir inferiores às demais. A chegada da adolescência 14 pode ser um tanto confusa, sendo caracterizada pelo estágio de identidade versus confusão de identidade, que se constitui a partir das descobertas sobre os próprios interesses e de sua valorização. As pessoas que recebem o estímulo necessário se tornam seguras de si mesmas e de suas escolhas, mas as que não, podem apresentar um sentimento de insegurança em relação ao futuro (GONÇALVES, 2017). O início da vida adulta se dá a partir do estágio de intimidade versus isolamento, no qual o êxito ocorre a partir do estabelecimento de relações estreitas com outras pessoas, favorecendo as relações íntimas. No decorrer da vida adulta, ocorre o estágio de generatividade versus estagnação, em que os sentimentos de contribuição e atividade social devem prevalecer; caso contrário, os indivíduos adultos são tomados por sentimentos de improdutividade (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2013 apud GONÇALVES, 2017). Por último, na velhice, há o estágio de integridade versus desespero, no qual o sentimento de que a vida valeu a pena e que muitos objetivos foram alcançados para o bem social devem prevalecer. Os indivíduos mal sucedidos nessa fase costumam experimentar diversos arrependimentos e medo de morrer. Teoria do marco desenvolvimentista — Piaget Uma das teorias mais populares atualmente é a postulada por Jean Piaget (1896-1980), que buscou caracterizar as fases de desenvolvimento a partir da cognição. Para Piaget, o desenvolvimento cognitivo ocorre em um processo cíclico envolvendo a acomodação, a assimilação e a adaptação (GALLAHUE; OZMUN, 2013 apud GONÇALVES, 2017). Antes de descrever esse processo, no entanto, é necessário relembrar que a teoria de Piaget considera que toda criança já tem conhecimentos cognitivos intrínsecos a ela, mesmo que sejam básicos reconhecimentos de padrões, os quais são chamados de esquemas. Considerando a criança em um estágio inicial de aprendizagem, com o repertório de esquemas cognitivos que possui, podemos dizer que ela está equilibrada. Por exemplo, ela possui um esquema que, ao identificar um objeto esférico, grande e de textura de couro, classifica este objeto como uma bola. De repente, o professor de educação física apresenta à criança um novo objeto, uma bola de futebol americano. Diante desse novo estímulo, a criança busca uma associação com seus esquemas prévios e encontra similaridades deste esquema (características que definem uma bola) com o novo objeto (bola de futebol americano), processo 15 denominado assimilação. Após esse processo de assimilação, ocorre uma percepção (muitas vezes ocorre com intermédio de um professor), em que a criança percebe que se trata de um objeto diferente do que ela conhecia até então, que tem formato, textura e peso diferentes; logo, o esquema prévio que ela possuía já não é suficiente para compreender esse novo objeto (GONÇALVES, 2017). A partir da identificação dessas diferenças, ela constrói um novo esquema cognitivo, que agora possibilita o reconhecimento e a diferenciação de uma bola de futebol e uma bola de futebol americano. A construção desse esquema é o processo chamado acomodação, que são os ajustes das respostas atuais a fim de atender demandas específicas de um objeto. Esses dois processos que atuam em conjunto (assimilação e acomodação) são as etapas que compõem a adaptação, termo que posteriormente foi modificado por Piaget para equilibração, e pode ser definido como os ajustes cognitivos à mudança do ambiente (GONÇALVES, 2017). Podemos pensar como caracteriza Gonçalves (2017), que esse ciclo de aprendizagem não só através do reconhecimento de um objeto, mas também baseado em uma ação. Imagine que um jovem pré-adolescente já costuma jogar futebol e futsal como goleiro, ou seja, possui esquemas cognitivos que o permitem racionalizar como uma bola se comporta no ar e reagir de forma a fazer contato com essa bola, agarrando-a. Ao possuir esquema de reconhecimento de trajetória, velocidade, oscilação, bem como os gestos motores que precisam ser feitos para agarrar uma bola de futebol, o jovem está adaptado a aquela ação motora. De repente, em uma nova unidade didática da disciplina de educação física, seu professor apresenta o futebol americano. Considerando que o esporte envolve lançamentos do quarterback para os recebedores, o aluno imagina que terá sucesso com muita facilidade nesta nova modalidade por conta de seus esquemas prévios, ou seja, ele realiza inicialmente uma assimilação, pois nas duas ações existem similaridades, como a junção da coordenação espaço-temporal para calcular a trajetória da bola e a coordenação óculo-manual para perceber a bola se aproximando e agarrá-la. Porém, quando o aluno executa a ação de se deslocar e receber um lançamento, o aluno é exposto a um novo estímulo, afinal, a bola de futebol americano flutua no ar de uma maneira diferente, com velocidade e trajetória diferentes das observadas na bola de futebol, além de ter também um formato diferente, o que impactará no posicionamento de suas 16 mãos para agarrar a bola no ar, portanto, logo ele percebe que seus esquemas previamente construídos não serão capazes de resolver esse problema (GONÇALVES, 2017). Há, então, a necessidade de construir um novo esquema para adequar-se às características diferentes da bola de futebol americano. Após diversas ações realizadas, o aluno percebe as particularidades dessa ação motora e ocorre o processo de acomodação, isto é, o estudante agora tem um esquema que o permite calcular a trajetória de uma bola de futebol americano e executar a ação motora de agarrá-la. Assim, há a construção e consolidação de um novo esquema cognitivo, que torna o aluno hábil em desempenhar a função de goleiro no futebol, bem como a função de recebedor no futebol americano, ou seja, houve uma adaptação (GONÇALVES, 2017). No mesmo estilo dos teóricos anteriores, Gonçalves (2017) aborda que Piaget elaborou fases de desenvolvimento. No entanto, suas teorias apontaram para a importância das atividades físicas, em específico os jogos na construção do desenvolvimentoda cognição. Com isso, os estágios do desenvolvimento são separados nas fases sensório-motora, do pensamento pré-operacional, das operações concretas e das operações formais. Na fase sensório-motora, que se estende até os 2 anos, a criança constrói os significados do seu mundo a partir das experimentações motoras e sensoriais, que são possíveis com os movimentos. Na fase do pensamento pré-operacional, que ocorre entre 2 e 7 anos, há uma ligação simbólica do seu mundo com as palavras e com as imagens. A atividade física é utilizada para realizar os processos cognitivos. Na fase das operações concretas, entre 7 e 11 anos, as crianças conseguem raciocinar sobre eventos e objetos concretos, realizando a classificação e o pareamento com outros eventos, objetos e seres que já conhece. Por último, a fase das operações formais, que se dá a partir dos 11 anos, o adolescente consegue deduzir e formular hipóteses abstratas a partir de processos de raciocínio mais complexos (GALLAHUE; OZMUN, 2013 apud GONÇALVES, 2017). Com isso, você pode perceber que muitos teóricos apresentaram diversas formulações acerca do desenvolvimento humano. Contudo, não existe uma teoria completamente correta ou equivocada, mas diferentes perspectivas de descrever e interpretar o fenômeno do desenvolvimento. Embora alguns teóricos tenham ganhado destaque ao longo da história, não podemos esquecer que muitas outras teorias 17 apresentam considerações relevantes sobre este tema. A psicologia da Gestalt, por exemplo, propôs que o desenvolvimento está baseado nas estruturas biológicas que vamos conseguindo utilizar ao longo da vida. Já o Behaviorismo traduzia os aprendizados como as percepções que ocorriam por meio dos estímulos e das respostas (GONÇALVES, 2017). A psicologia da Gestalt, na qual seus pesquisadores expunham que o desenvolvimento está baseado nas estruturas biológicas que vamos conseguindo utilizar ao longo da vida; o Behaviorismo, que traduzia os aprendizados como as percepções que ocorriam por meio dos estímulos e das respostas; e o sociointeracionismo de Vygotsky, que buscava compreender o desenvolvimento baseado nas relações sociais e culturais que os indivíduos construíam, entre tantas outras perspectivas, são fundamentais para compreender o desenvolvimento humano (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2013 apud GONÇALVES, 2017). Sem dúvida, as teorias que surgem atualmente sofrem influências de um ou mais teóricos no intuito de explicar o desenvolvimento nas mais diversas dimensões humanas. Na seção a seguir, você verá uma breve análise do desenvolvimento humano a partir dos aspectos físicos e motores, cognitivos e psicossociais. 4 DESENVOLVIMENTO HUMANO NAS TEORIAS MOTORA, COGNITIVA, AFETIVA E SOCIAL Na visão de Gonçalves (2017), as contribuições que os estudos tiveram para a ciência do desenvolvimento humano permitiram a elaboração das ideias acerca das diversas influências que podem estar relacionadas a fatores como os períodos histórico-sociais em que a criança se desenvolveu. De modo geral, essas investigações evidenciaram que o processo de desenvolvimento se dá ao longo da existência dos indivíduos, gerando a ideia de desenvolvimento do ciclo vital. Nesse conceito, o desenvolvimento é vitalício e cumulativo, ou seja, todos os fenômenos que cada um dos sujeitos experimenta em seu desenvolvimento são fruto de eventos passados e constituem marcas para os eventos futuros (GONÇALVES, 2017). 18 4.1 Desenvolvimento Motor Assim como o desenvolvimento cognitivo e social, o desenvolvimento motor também é uma área vital para o estudo do comportamento humano. Esse campo de desenvolvimento só foi apresentar estudos aprofundados recentemente, pois apenas a partir da década de 1980 se buscou modelos teóricos e mais aprofundados sobre o comportamento humano ao longo da vida (GALLAHUE; OZMUN, 2005 apud SILVA, 2018). Desenvolvimento motor é definido como a alteração progressiva na capacidade motora de um indivíduo ao longo da vida, principalmente durante os primeiros anos. São alterações no comportamento motor, do bebê ao adulto, e um envolvido no processo permanente de aprender a se mover de forma eficiente (GALLAHUE; OZMUN, 2005 apud SILVA, 2018). As mudanças que ocorrem em um indivíduo desde sua concepção até a morte são denominadas desenvolvimento humano. A palavra desenvolvimento implica mudanças comportamentais e/ou estruturais dos seres vivos durante a vida. Já o processo de desenvolvimento motor, revela- se por alterações no comportamento motor (GALLAHUE; OZMUN, 2005 apud SILVA, 2018). Ainda sobre desenvolvimento motor, Clark e Whitall (1989 apud CORRÊA; PEROTTI JUNIOR; PELLEGRINI, 1995, p. 94 apud SILVA, 2018) conceituam sobre as mudanças no comportamento motor durante o ciclo vital, e o processo ou processos que embasam essas mudanças. De acordo com Caetano, Silveira e Gobbi (2005 apud SILVA, 2018) o desenvolvimento motor é um processo de alterações no nível de funcionamento de um indivíduo, em que uma maior capacidade de controlar movimentos é adquirida ao longo do tempo, por meio da interação entre as exigências da tarefa, da biologia do indivíduo e o ambiente. Haywood e Getchel (2004 apud SILVA, 2018) sublinham que o desenvolvimento motor é um dos pressupostos fundamentais para a integração corporal das pessoas ao ambiente em que atuam. Ambos os autores definem o desenvolvimento motor como um processo contínuo e sequencial, ligado à idade cronológica. Nele, o indivíduo progride de um movimento simples, sem habilidade, até atingir o ponto das habilidades motoras mais complexas e organizadas e, assim, chegar ao ajuste dessas habilidades que irão acompanhá-lo até o envelhecimento. 19 Ferreira et al. (2006 apud SILVA, 2018) apontam que, apesar de esse processo ser organizado e apresentar uma sequência, podem ocorrer variações na velocidade do desenvolvimento de um indivíduo para o outro. Gallahue e Ozmun (2005 apud SILVA, 2018) apontam que essas variações ocorrem devido a três aspectos que interagem entre si: a biologia do indivíduo, o ambiente e as exigências da tarefa. Pellegrini e Barela (1998 apud SILVA, 2018) destacam a importância do movimento para o desenvolvimento, afinal, o deslocamento de parte do corpo ou do corpo como um todo está presente em todas as nossas ações, incluindo aquelas mais básicas, como as relativas à alimentação e à comunicação. O movimento passa a existir da influência entre a conexão do indivíduo, do ambiente e da tarefa, mas o sistema corporal não se desenvolve na mesma taxa, podendo amadurecer em alguns casos de forma mais lenta e, em outros, mais rápida. Como exemplo de desenvolvimento corporal mais lento, podemos citar o desenvolvimento na forma de deslocamento, no qual a força muscular seria um limitador de taxa ou um controlador para o caminhar, até que a criança atingisse um nível de força suficiente para suportar seu corpo no rastejar, engatinhar, rolar e caminhar, permitindo então o estudo do desenvolvimento ao longo do ciclo da vida (HAYWOOD; GETCHELL, 20 apud SILVA, 2018). Já o desenvolvimento corporal de forma mais rápida ocorre por meio dos estímulos apresentados desde a primeira infância, como exercícios envolvendo equilíbrio, coordenação motora, esquema corporal, lateralidade. Sendo assim, Gallahue e Ozmun (2005 apud SILVA, 2018) afirmam que o período da infância é o ideal para que a criança adquira e refine seu repertório motor por meio das experiências vividas. Começando do movimento simples para o complexo. Os autores classificam os movimentos em três categorias, conforme apresentado: 1 - Movimentos manipulativos: referem-se à manipulação motora rudimentar ou refinada. 2 – Movimentos estabilizadores: são qualquer movimento que requeira algum grau de equilíbrio. 3 – Movimentos locomotores: envolvem mudança na localização do corpo relativamentea um ponto fixo na superfície (SILVA, 2018). 20 Fases do desenvolvimento motor Gallahue e Ozmun (2005 apud SILVA, 2018) divide o desenvolvimento motor em quatro fases: fase do movimento reflexo, fase de movimentos rudimentares, fase de movimentos fundamentais e fase de movimentos especializados. Cada fase possui características e idades específicas. Fase do movimento reflexo Essa fase tem como característica os movimentos involuntários, controlados subcorticalmente e que irão formar a base das fases posteriores do desenvolvimento motor (GALLAHUE; OZMUN, 2005 apud SILVA, 2018). Esses movimentos começam ainda na vida intrauterina e duram, aproximadamente até o primeiro ano. Os autores apontam que: Por meio da atividade reflexa, o bebê consegue informações sobre o ambiente imediato. As reações do bebê à luz, ao toque, a sons e mudanças de pressão disparam a atividade do movimento involuntário. Esses movimentos involuntários, combinados com a crescente sofisticação cortical nos primeiros meses da vida pós-natal, desempenham papel importante na tarefa da criança de aprender mais sobre o próprio corpo e o mundo externo (GALLAHUE; OZMUN, 2005, p. 68 apud SILVA, 2018) Esta fase conforme Silva (2018), é subdividida em movimentos primitivos e posturais. Os reflexos primitivos são aqueles que visam à proteção e à nutrição, temos como exemplo a fixação — ligada à tentativa de proteção — e a sucção — estimulação dos lábios ou da gengiva na tentativa de gerir o alimento —, que são considerados meios de sobrevivências primitivos. Os reflexos posturais são movimentos também involuntários, mas que possuem grande semelhança com os voluntários. São movimentos relacionados à estabilização, à locomoção e à manipulação. Como exemplo, temos o reflexo da marcha, que vai lembrar a caminhada quando o bebê é colocado em posição ereta, com o peso do corpo depositado para frente em superfície plana. Em resposta, o bebê “caminha” para frente, utilizando os membros inferiores) e se arrastar pelo chão (que parece o engatinhar, quando o bebê é colocado em posição inclinada e aplica pressão na sola de um de seus pés, expressando o reflexo de engatinhar, utilizando os membros superiores e inferiores). Gallahue e Ozmun (2005 apud SILVA, 2018) destacam que está fase possuem dois estágios. 21 Estágio de codificação de informações: ocorre do período fetal até o quarto mês de vida. Fase em que os bebês coletam e agrupam informações. Estágio de decodificação de informações: a partir do quarto mês, em que o bebê passa a processar as informações coletadas e há a inibição de alguns reflexos, devido ao desenvolvimento dos centros cerebrais (SILVA, 2018). Fase do movimento rudimentar Esta fase se caracteriza pelo aparecimento dos movimentos voluntários e ocorre desde o nascimento até os dois anos, geralmente. Gallahue e Ozmun (2005, p. 70 apud SILVA, 2018) sublinham que estes “movimentos são determinados pela maturação e são caracterizados por uma sequência de surgimento bastante previsível”. Gallahue e Ozmun (2005 apud SILVA, 2018) dividem esta fase em dois estágios. Estágio de inibição do reflexo: começa no nascimento e, com o desenvolvimento do córtex, os movimentos reflexos (involuntários) são substituídos pelos rudimentares (voluntários). No entanto, os movimentos ainda são descontrolados e sem refinamento. Estágio de pré-controle: inicia-se por volta do primeiro ano, quando começa a haver maior controle e precisão dos movimentos, devido ao rápido desenvolvimento cognitivo e motor. Neste estágio, surge a manutenção e a aquisição do equilíbrio, a locomoção e a manipulação dos objetos. Entre os movimentos surgidos na fase rudimentar estão: estabilizadores (controle da cabeça, do pescoço, do tronco, sentar e ficar em pé), locomotores (arrastar-se, engatinhar e ficar em pé) e manipuladores (alcançar, segurar e soltar) (SILVA, 2018). Fase do movimento fundamental Esta fase se caracteriza por uma maior exploração da criança na capacidade motora do seu corpo. Gallahue e Ozmun (2005 apud SILVA, 2018) apontam que a fase do movimento fundamental aporta padrões básicos de comportamentos 22 observáveis. No entanto, para chegar a esse padrão não é necessário somente a maturação, mas também o estímulo e o ambiente. Este período inicia-se aos dois anos e, geralmente, dura até os sete. Os movimentos fundamentais, embora adquiridos na infância, tem utilidade durante toda vida e são importantes no cotidiano e em movimentos básicos. Gallahue e Ozmun (2005 apud SILVA, 2018) classificam esta fase em três estágios, conforme descrito a seguir. Estágio inicial: representa as primeiras tentativas da criança para realizar a habilidade fundamental. O movimento é caracterizado pela ausência de algumas partes ou por uma sequência inapropriada, sendo o uso do corpo limitado ou exagerado. A integração espaço-tempo é insatisfatória. Esse estágio ocorre, geralmente, dos 2 aos 3 anos e, como exemplo, temos a corrida. Nesse estágio, a criança apresenta passos largos e irregulares com extensão incompleta da perna de apoio, o balanço da perna tende a ser para fora do quadril e a fase de voo não é observada. Estágio elementar: há maior controle motor e coordenação rítmica do movimento fundamental. Com isso, a sincronização e a coordenação geral aumentam, embora ainda ocorra alguma limitação ou exagero. Esse estágio dura, geralmente, até os 5 anos. Usando o mesmo exemplo da corrida, a criança já apresenta uma fase de voo observável, embora limitada. A perna de apoio, no impulso, apresenta uma extensão mais completa. Há também um aumento na oscilação de braço e pé de trás, cruzando a linha mediana da altura. Estágio de proficiência: caracteriza-se por um movimento mecanicamente eficiente, coordenado e controlado. Geralmente, alcança-se esse estágio entre 5 e 6 anos. Gallahue e Ozmun (2005 apud SILVA, 2018) destacam, mais uma vez, a importância da prática e do ambiente. Sem atingir esse estágio, é muito difícil atingir a fase do movimento especializado. Nesse estágio, a criança tem a fase de voo bem definida, apresenta a máxima extensão da passada, a extensão completa da perna de apoio e a oscilação vertical do braço em oposição às pernas. 23 Segundo Silva (2018), entre os movimentos desta fase estão: estabilizadores (equilíbrio dinâmico e estático), manipulativos (chutar, lançar e pegar) e locomotores (andar, correr e saltar). Fase do movimento especializado Esta é a fase do refinamento das habilidades fundamentais, que se tornam combinadas e elaboradas para serem utilizadas em situações de maior grau de dificuldade, na vida diária, de forma recreativa ou em prática esportiva. Geralmente, começam a ser dominadas a partir dos sete anos e duram até aos 14 anos ou mais. Gallahue e Ozmun (2005 apud SILVA, 2018) dividem esta fase em três estágios. Estágio de transição: ocorre entre os sete e os 10 anos. É a fase em que a criança começa a combinar as habilidades fundamentais para executar em ambientes esportivos, e os movimentos apresentam maior controle e precisão. São exemplos dessa fase andar em pontes de corda, pular corda, em que são necessários usar uma combinação de movimentos fundamentais como o equilíbrio (estabilizador), o salto e a caminhada (locomotores). Estágio de aplicação: geralmente ocorre entre 11 e 13 anos. É a fase de sofisticação do movimento e da tomada de decisões, ou seja, o indivíduo decide de qual modalidade quer participar, sendo que sua escolha se dará a partir de suas facilidades e dificuldades em realizar determinada tarefa. Estágio de utilização ao longo da vida: começa em torno dos 14 anos e segue por toda a vida adulta. É o ápice do desenvolvimento motor e se caracteriza pelo uso do movimento ao longo da vida. O nível de participaçãodo indivíduo depende do talento, da oportunidade, da questão física e de sua motivação (SILVA, 2018). 4.2 Desenvolvimento Afetivo Segundo Vygotsky (1989 apud AZEVEDO et al, 2019), as emoções são identificadas por motivações que influenciam e organizam nossos comportamentos e 24 nossas ações. As emoções são compreendidas como integradas à personalidade. Assim, as mesmas fazem parte de um processo histórico complexo que envolve as relações estabelecidas. Para ele as emoções são construídas culturalmente. Assim as reações e os sentimentos desencadeados em uma situação, mas em sociedades culturalmente diferentes, podem ser distintas. Além do que, cada indivíduo possui peculiaridades, que influenciará constituição de sua personalidade, que é entendida por Vygotsky como um sistema complexo integrador da vida psíquica individual e vai de acordo com o sentido que as experiências têm para o sujeito. Rego (1995 apud AZEVEDO et al, 2019) sugere que através do modelo vygotskyano: [...] é possível concluir que as funções psíquicas humanas estão intimamente vinculadas ao aprendizado, à apropriação (por intermédio da linguagem) do legado cultural de seu grupo. Esse patrimônio, material e simbólico, é o conjunto de valores, conhecimentos, sistemas de representação, construtos materiais, técnicas, formas de pensar e de se comportar que os seres humanos constroem ao longo de sua história. E isto implica uma ação partilhada, já que é por intermédio dos outros que as relações entre sujeito e objeto de conhecimento são estabelecidas. O longo caminho do desenvolvimento humano segue, portanto, do social para o individual. (p.32 apud AZEVEDO et al, 2019) Nesta perspectiva, Vygostky apud Arantes (2003 apud AZEVEDO et al, 2019) afirma que: [...] só se pode compreender adequadamente o pensamento humano, quando se compreende a sua base afetiva. Quem separa o pensamento do afeto, nega de antemão a possibilidade de estudar a influência inversa do pensamento no plano afetivo. A vida emocional está conectada a outros processos psicológicos e ao desenvolvimento da consciência de um modo geral (p.18-19 apud AZEVEDO et al, 2019). Wallon (2007 apud AZEVEDO et al, 2019) diferencia o conceito de afetividade do conceito de emoção. Segundo ele, as emoções são sistemas de atitudes que corresponde, cada uma, a uma determinada espécie de situação, ou seja, são exteriorizações de estados subjetivos, de caráter orgânico, e classificadas de acordo com o grau de tensão referente à experiência vivida. Ela apresenta três propriedades: a plasticidade, que é a capacidade de refletir sobre o corpo os seus sinais; a contagiosidade, capacidade de contaminar o outro com sua emoção; e a regressividade, que é a capacidade regredir as atividades ao raciocínio. Já a afetividade, para ele, se refere à capacidade do sujeito de ser afetado pelo mundo, tanto externo quanto o interno, podendo vivenciar situações consideradas agradáveis ou desagradáveis e reagindo às mesmas de determinada 25 maneira. A afetividade é um conjunto de manifestações mais amplas, integrada pelas emoções, que possui origem biológica, pelo sentimento, que possui origem psicológica, e pela paixão (AZEVEDO et al, 2019). Com o desenvolvimento dos indivíduos e dos relacionamentos com outros, surgem novas necessidades emocionais e as emoções se expandem e se tornam mais complexas. Será formada nas fases posteriores do desenvolvimento, envolvendo a experiência mais complexa, apropriando-se do processo simbólico da cultura, possibilitando a reprodução (AZEVEDO et al, 2019). Wallon (2007 apud AZEVEDO et al, 2019) expõe a indissociabilidade entre o desenvolvimento psíquico e o desenvolvimento biológico do homem, para ele ambos sofrem ações recíprocas, ou seja, o ser humano age sobre o meio assim como o meio age sobre ele. Wallon (1968 apud MAHONEY 2000 apud AZEVEDO et al, 2019) acredita que o processo de aprendizagem é enriquecido quando o professor consegue integrar a dimensão cognitiva, afetiva e motora. Para ele: [...] o motor, o afetivo, o cognitivo, a pessoa, embora cada um desses aspectos tenha identidade estrutural e funcional diferenciada, estão tão integrados que cada um é parte constitutiva dos outros. Sua separação se faz necessária apenas para a descrição do processo. Uma das consequências dessa interpretação é de que qualquer atividade humana sempre interfere em todos eles. Qualquer atividade motora tem ressonâncias afetivas e cognitivas; toda disposição afetiva tem ressonâncias motoras e cognitivas; toda operação mental tem ressonâncias afetivas e motoras. E todas essas ressonâncias têm um impacto no quarto conjunto: a pessoa. (p. 15 apud AZEVEDO et al, 2019). Para Azevedo et al (2019), nesta perspectiva, Wallon ressalta a importância desses três aspectos, que estão totalmente interligados, enfatizando que a questão afetiva irá causar impactos em todos os âmbitos de formação do eu do aluno. Sendo assim, é de grande importância que todas essas áreas sejam tratadas de forma conjunta no processo de formação da criança. Assim se o comportamento de um aluno em sala de aula é afetado pela atitude do professor em relação a ele, mais próximo o educador estará do aluno, o que torna a sala de aula mais significativa, pois os educadores começam a sugerir atividades mais adequadas aos interesses dos alunos (AZEVEDO et al, 2019). Uma prática pedagógica alicerçada na afetividade permite estabelecer um clima de confiança e respeito entre o professor e o aluno. Este vínculo é uma fonte de 26 motivação no processo de ensino e aprendizagem, no qual fortalece o desenvolvimento cognitivo da criança (AZEVEDO et al, 2019). Desse modo, podemos dizer que a afetividade e a cognição fazem parte da constituição do sujeito. Os vínculos afetivos atuam como instrumentos que permitirão a aprendizagem intelectual significativa do aluno, fortalecendo o processo de aquisição do conhecimento (AZEVEDO et al, 2019). Piaget (1977 apud AZEVEDO et al, 2019), afirma a vida afetiva e a vida cognitiva são inseparáveis, embora distintas. Elas caminham juntas no processo de formação. Afetividade é importante para a aprendizagem cognitiva dos alunos, pois é pela via afetiva que a aprendizagem se realiza. Para este autor, não existem estados afetivos sem elementos cognitivos. Considera a afetividade como a fonte de energia que a cognição utiliza para seu desenvolvimento. De acordo com Azevedo et al (2019), com a influência dos estudos de autores como Wallon (2007), Piaget (1977), Vygostky (1989 e 1998) dentre outros, passou-se a direcionar o olhar para a questão afetiva no ambiente escolar. Pois, é por meio da afetividade que o aluno exterioriza seus desejos e suas vontades. Segundo Wallon apud Mahoney e Almeida (2005 apud AZEVEDO et al, 2019) a afetividade, Refere-se à capacidade, à disposição do ser humano de ser afetado pelo mundo externo/interno por sensações ligadas a tonalidades agradáveis ou desagradáveis. Ser afetado é reagir com atividades interna/externas que a situação desperta (p.19 apud AZEVEDO et al, 2019). 4.3 Desenvolvimento Cognitivo Como informa Silva (2018), o desenvolvimento cognitivo apresenta características inerentes ao ser humano e, para desenvolvê-lo, algumas características são essenciais, como a memória, a percepção, a atenção e o raciocínio. Um dos pensadores importantes nessa área é Jean Piaget, que traz conceitos como a acomodação e a assimilação, bem como as fases de cada criança nesse desenvolvimento. O processo do aprender sempre causou grandes dúvidas e inquietações no ser humano. Há algum tempo tanto os profissionais da educação como da psicologia se desdobram na tentativa de explicá-lo, sendo que, atualmente, diversas teorias falam como acontece a aprendizagem e suas variadas formas. O que se sabe é que esse 27 processo envolve inúmeros aspectoscomo o biológico, o social, o psíquico e o cognitivo. No entanto, antes de abordar o desenvolvimento cognitivo, considere que o processo de aprendizagem acontece desde o período uterino até o estágio final da vida, sendo contínuo, permanente e cumulativo (SILVA, 2018). Para o professor atingir seu objetivo ao ensinar, se faz necessário compreender tanto as características do seu aluno como do funcionamento desse processo de ensino-aprendizagem. Del Prette (2012 apud SILVA, 2018) aponta que ela pode ser não reflexiva (que exige pouca atividade intelectual de parte de quem aprende) e reflexiva (quando requer uma capacidade cognitiva maior). Segundo Linhares (2017 apud SILVA, 2018), o desenvolvimento cognitivo ocorre por meio de processos relativos à aquisição de conhecimento, os quais são a percepção (reconhecer determinada situação), a atenção (estar centrado nela), a memória (lembrar-se dela) e o raciocínio (resolver ou pensar nela). Veja a seguir o que significa cada um desses processos, segundo a autora. Percepção: conjunto de processos psicológicos pelos quais as pessoas reconhecem, organizam, sintetizam e atribuem significado (no cérebro) às sensações recebidas dos estímulos ambientais (nos órgãos dos sentidos). Atenção: relação cognitiva entre a quantidade limitada de informação, que é realmente manipulada mentalmente, e a enorme quantidade de informação disponível por meio dos sentidos e das memórias armazenadas. Memória: meios pelos quais as pessoas recorrem ao conhecimento passado, a fim de utilizá-lo no presente. Servem para codificar, armazenar e recuperar uma informação. Raciocínio: processo cognitivo pelo qual uma pessoa pode inferir uma conclusão a partir de um grupo de evidências ou de declarações de princípios (SILVA, 2018). Os autores que seguem esta corrente enfatizam uma linha chamada de teorias cognitivas. Cavalcanti e Ostermann (2011, p. 31 SILVA, 2018) apontam que ela “preocupa-se com o processo de compreensão, transformação, armazenamento e uso da informação envolvido na cognição e procura regularidades nesse processo mental”. Entre seus autores, se destacam Jerome Bruner, David Ausubel e, sobretudo, Jean Piaget. 28 Piaget é o principal autor da linha construtivista, a qual não aceita uma visão imutável e tradicional de educação, em que o conhecimento está pronto e acabado. O construtivismo se baseia em mudanças de ordem qualitativa que ocorrem no decorrer do desenvolvimento (LINHARES, 2017 SILVA, 2018), no qual o conhecimento parte da interação dos seres humanos com os outros, com o meio ambiente e os objetos, e a aprendizagem somente acontece com a desordem e ordem daquilo que já existe dentro de cada sujeito (PIAGET, 1973 SILVA, 2018). Esse processo de conhecimento baseado na interação se chama de assimilação e acomodação (SILVA, 2018). Segundo o Piaget (1973, p. 13 SILVA, 2018), assimilação é: [...] uma integração a estruturas prévias, que podem permanecer invariáveis ou são mais ou menos modificadas por esta própria integração, mas sem descontinuidade com o estado precedente, isto é, sem serem destruídas, mas simplesmente acomodando-se à nova situação. Linhares (2017 apud SILVA, 2018) sublinha que ela é a incorporação de dados sobre os objetos, acontecimentos ou conceitos aos esquemas existentes. Por exemplo, ao ter um esquema de cachorro na mente, a criança pode chamar qualquer animal de quatro patas de cachorro. Já a acomodação é toda mudança de comportamento e alteração do sujeito, que acontece apenas quando este se transforma, amplia ou muda os seus esquemas (NEVES, 2018 apud SILVA, 2018). Linhares (2017 apud SILVA, 2018) afirma que ela se trata de qualquer modificação de um esquema ou uma estrutura pelos elementos assimilados e leva à construção de novos esquemas de assimilação, promovendo, dessa forma, o desenvolvimento cognitivo (CAVALCANTI; OSTERMANN, 2011 apud SILVA, 2018). Para Piaget (1973 apud SILVA, 2018), somente há aprendizagem quando o esquema de assimilação sofre acomodação. Por exemplo, ao acomodar o esquema do cachorro, a criança sabe que não se aplica a um gato, apesar de ambos terem quatro patas. Outro elemento importante na aprendizagem para Piaget é o processo de equilibração: A mente, sendo uma estrutura para Piaget, tende a funcionar em equilíbrio. No entanto, quando esse equilíbrio é rompido por experiências não assimiláveis, a mente sofre acomodação a fim de construir novos esquemas de assimilação e atingir novo equilíbrio. Esse processo de reequilíbrio é 29 chamado de equilibração majorante e é o responsável pelo desenvolvimento mental do indivíduo. Portanto, na abordagem piagetiana, ensinar significa provocar o desequilíbrio na mente da criança para que ela, procurando o reequilíbrio, se reestruture cognitivamente e aprenda (CAVALCANTI; OSTERMANN, 2011, p. 33 apud SILVA, 2018). Há também outro elemento essencial na aprendizagem, o erro. La Taille, Oliveira e Dantas (1997, p. 25 apud SILVA, 2018) citam que a teoria piagetiana da inteligência humana reorganizou o enfoque sobre esse aspecto, porque, para Piaget, se uma pessoa segue errando, três situações podem ocorrer. Na primeira, a pessoa não tem estrutura suficiente para compreender o conhecimento desejado e, para isso, deve-se criar um ambiente melhor de clima, diálogo ou trabalho para atingir tais estruturas. Já na segunda situação, ela pode estar com estruturas em formação e, portanto, trabalha-se com a ideia de que o erro é constitutivo e o professor deve fazer a mediação colaborando, assim, para que o aluno supere suas dificuldades (SILVA, 2018). Na última, ela possui as estruturas formadas e não aprende, com isso, os procedimentos estão errados. Piaget aponta, ainda, que as respostas erradas são geralmente associadas à imprecisão ou à falta de conhecimento do aluno, porém, afirma que elas sublinham o estágio do pensamento da criança. Assim, o autor sugere que o professor, antes de tudo, observe a criança frente à tarefa dada para saber de qual ajuda ela necessita. Nesta seção, você viu os conceitos e as características do desenvolvimento cognitivo baseado nas ideias de Jean Piaget, assim como os conceitos de assimilação, acomodação e equilibração (SILVA, 2018). Fases do desenvolvimento cognitivo Para Silva (2018), entre as análises dos modos de aprendizagem e conhecimento do ser humano, Jean Piaget caracterizou, em quatro períodos, o estágio de desenvolvimento cognitivo: sensório-motor, pré-operacional, operacional- concreto e operacional-formal. Sensório-motor Abrange, aproximadamente, dos 0 aos 2 anos e está dividida em seis subestágios. Piaget (1973 apud SILVA, 2018) aponta as seis características principais dessa fase. 30 1. Reflexo: no qual ela não se diferencia do mundo exterior, servindo como um conector entre o bebê e seu ambiente. Os bebês têm a capacidade de diferenciar objetos (como quando aprendem que alguns podem ser sugados, e outros não); quanto à integração, característica que permite uma coordenação com as duas mãos, por exemplo, quando seguram um brinquedo com uma mão, e o braço da mãe com a outra (COLE, M.; COLE, S. R., 2003 apud SILVA, 2018). 2. Primeiras diferenciações: nelas, existe uma coordenação entre mão e boca, bem como uma diferenciação entre pegar e sugar, surgem os primeiros sentimentos como a alegria, a tristeza, o prazer e desprazer, que estão ligados à ação. Meneses (2012 apud SILVA, 2018) aponta que, nessa etapa, os bebês também começam a se atentar aos sons, demonstrando capacidade de coordenar diferentes tipos de informações sensoriais, como visão e audição, e seu universo visual com o tátil. 3. Reprodução de eventos interessantes: nela, surge os primeiros sons da fala, e os bebês começam a entender que os objetos são mais que extensões de suas próprias ações, no entanto, não possuem noção deespaço à sua volta (COLE, M.; COLE, S. R., 2003 apud SILVA, 2018). 4. Coordenação de esquemas: nela, começa-se a usar um esquema em outras coisas para ver se obtém o mesmo resultado, por exemplo, a criança balança um chocalho e vê que aquilo faz barulho, ao pegar outro objeto, ela vai balançar para ver se também fará barulho. 5. Experimentação: nela, há a invenção de novos meios, a criança passa a criar novos comportamentos, ações a partir da tentativa e do erro, bem como consegue a inteligência ao solucionar problemas. Meneses (2012 apud SILVA, 2018) cita que ela realiza imagens mentais, a capacidade de representar de modo simbólico uma realidade mentalmente. 6. Representação: nela, começa-se a ter um sentimento de escolha, o que quer ou não fazer. A criança passa a escolher objetos, brinquedos de que mais gosta, preterindo os demais (SILVA, 2018). Piaget aponta que, até os 8 meses, há uma total ausência de noção, em que, se um objeto é ocultado da frente da criança, ela age como se ele não existisse mais, como a brincadeira em que os pais cobrem o rosto, sendo que, para ela, eles não estão mais ali. A partir dessa idade, existe o desenvolvimento, a noção de que algo 31 segue a existir mesmo que não esteja em sua frente (LINHARES, 2017 apud SILVA, 2018). Depois dos 18 meses, a criança passa a ter um pensamento representativo, a representar o que não está ausente, usando, assim, as imagens mentais para realizar ações. Pré-operacional Abrange, aproximadamente, dos 2 aos 6 anos e chama-se de fase pré-escolar, na qual surge a inteligência simbólica, como uso de imagens e da linguagem (Figura 2). Neves (2018, documento on-line apud SILVA, 2018) aponta algumas das principais características dessa fase: Primeira – a imitação diferida ou imitação de objetos distantes; segunda – jogo simbólico é também imitativo, a criança não se preocupa se o outro irá entendê-la, ela se preocupa com o seu entendimento, é uma forma de se auto expressar; terceira – desenho, é a sua forma de deixar uma marca, ela desenha o que quer, sendo ou não real; quarta – imagem mental, as imagens são estáticas, são imagens que representa o interno, algo que já foi passado; quinta – linguagem falada, a criança começa a falar uma palavra como se fosse uma frase, aos pouco ela vai aumentando o seu repertório vocábulo (SILVA, 2018). Nesta fase, o pensamento se caracteriza por ser egocêntrico, intuitivo e mágico. O egocentrismo ocorre por volta dos 4 aos 5 anos, no qual a criança imagina que todos pensam como ela. Linhares (2017 apud SILVA, 2018) aponta que o pensamento pré-operacional é marcado por irreversibilidade e uma certa confusão entre a aparência e a realidade. Operacional-concreto Abrange, aproximadamente, dos 7 aos 11 anos e se caracteriza como a fase escolar, em que a criança desenvolve os pensamentos lógicos e começa a apresentar argumentos mais elaborados para suas questões, como aponta Neves (2018, documento on-line apud SILVA, 2018): A criança descentra suas percepções e acompanha as transformações, ela também começa a ser mais social saindo da sua fase egocêntrica ao fazer o uso da linguagem, a fala é usada com a intenção de se comunicar, ela percebe que as pessoas podem pensar e chegar a diferentes conclusões, sendo elas diferentes das suas, ela interage mais com as pessoas, quando aparece um conflito ela usa o raciocínio para resolver (SILVA, 2018). 32 Linhares (2017 apud SILVA, 2018) diz que o pensamento nesse período é reversível com coordenações mentais e esquemas conceituais, em que se passa a compreender noções lógico-matemáticas de conservação de massa, volume e classificação. Já o egocentrismo diminui, surgindo a ideia de equipe e cooperação. Operacional-formal Esta fase, adolescente, ocorre após os 12 anos, aproximadamente, em que surge o pensamento hipotético-dedutivo e se começa a levantar hipóteses e deduzir conclusões. Piaget (1973 apud SILVA, 2018) aponta que o adolescente usa esquemas aprendidos dos estágios anteriores para fortalecer as hipóteses deste estágio, assim ele vai aprimorando cada vez mais os estágios anteriores. Deste estágio em diante o que ocorre é o aperfeiçoamento dos estágios passados. Esse período é marcado por inteligência abstrata (operações formais), pensamento igualmente abstrato, reflexão de conceitos não concretos reais ou observáveis e experiência. O egocentrismo tende a desaparecer, tendo o aumento significativo do processo de socialização e a construção da autonomia. Neste tópico, foram apresentadas as fases do desenvolvimento cognitivo segundo a teoria piagetiana. Na sequência, você acompanhará estudos de caso conforme os estágios citados (SILVA, 2018). 4.4 Desenvolvimento Social Como caracteriza Silva (2018), o estudo do desenvolvimento social surge a partir da linha de pensadores que vão formar a abordagem sociointeracionista. Esta linha teórica propõe que o desenvolvimento humano se dá nas relações, por meio da troca entre parceiros sociais via mediação e interação. O principal pensador dessa linha é Lev Semenovitch Vygotsky, que criou conceitos importantes como a ZDP e a abordagem das funções da linguagem e do pensamento. Vygotsky é, portanto, o pioneiro dessa linha, que conta com outros nomes importantes, entre eles o brasileiro Paulo Freire. Pode-se afirmar que as teorias, tanto de Piaget como de Vygotsky, têm um ponto em comum como destaque: a importância do ambiente para o desenvolvimento humano. No entanto, enquanto Piaget considera um ambiente um estímulo, a linha 33 adotada por Vygotsky enfatiza a questão da relação pessoal e da influência cultural. Rabelo e Passos (2014, documento on-line apud SILVA, 2018) apontam: Em Vygotsky, ao contrário de Piaget, o desenvolvimento – principalmente o psicológico/mental (que é promovido pela convivência social, pelo processo de socialização, além das maturações orgânicas) – depende da aprendizagem na medida em que se dá por processos de internalização de conceitos, que são promovidos pela aprendizagem social, principalmente aquela planejada no meio escolar (SILVA, 2018). Além disso, Vygotsky não considera o aparato biológico suficiente, mas sim a participação do indivíduo em ambientes para que a aprendizagem ocorra por meio das experiências. Essa relação passa a ser melhor entendida quando se remete ao conceito de ZPD. Segundo Vygotsky “a zona de desenvolvimento proximal define aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão em processo de maturação, funções que amadurecerão, mas que estão presentemente em estado embrionário” (VYGOTSKY, 1989, p. 97 apud SILVA, 2018). Para o autor a ZDP é a distância entre o nível de desenvolvimento real, ou seja, determinado pela capacidade de resolver problemas de forma independente, e o nível de desenvolvimento proximal, demarcado pela capacidade de solucionar problemas com ajuda de um parceiro mais experiente. São as aprendizagens que ocorrem na ZDP que fazem a criança se desenvolver ainda mais, ou seja, desenvolvimento com aprendizagem na ZDP leva a mais desenvolvimento, por isso dizemos que, para Vygotsky, esses processos são indissociáveis (SILVA, 2018). A implicação pedagógica mais relevante desse conceito reside na forma como é vista a relação entre o aprendizado e o desenvolvimento. Ao contrário de outras teorias pedagógicas, como a piagetiana, que sugerem a necessidade de o ensino ajustar-se a estruturas mentais já estabelecidas, para Vygotsky, o aprendizado orientado para níveis de desenvolvimento que já foram atingidos é ineficaz do ponto de vista do desenvolvimento global da criança. Ele não se dirige para um novo estágio do processo de desenvolvimento, mas, ao invés disso, vai a reboque desse processo. Assim, a noção de zona de desenvolvimento proximal capacita-nos a propor uma nova fórmula, a de que o “bom aprendizado” é somente aqueleque se adianta ao desenvolvimento (OSTERMANN; CAVALCANTI, 2011, p. 42 apud SILVA, 2018). Dentro dessa zona em que ocorre a aprendizagem, Silva (2018) afirma que o professor agiria favorecendo esse processo, servindo de mediador entre a criança e o mundo. Essa construção começaria a partir do nível de desenvolvimento da criança na zona real. Ela seria o ponto de partida para que o professor traçasse seus objetivos 34 e procedimentos para a construção do conhecimento. Dentro dessa perspectiva, então, a aprendizagem acontece pela maturação biológica associada à interação e à presença de mediadores, que são os professores. O conceito de mediação é fundamental na teoria vygotskyana, pois toda relação é mediada pela linguagem ou por instrumentos técnicos, que passam a intervir no processo. Os dois principais elementos mediadores são os instrumentos e os signos. Por instrumentos é possível compreender, por exemplo, o machado, que permite um corte mais afiado e preciso; ou uma vasilha, que facilita o armazenamento de água, entre outros. Alguns animais, sobretudo primatas, podem até utilizá-los eventualmente, mas é o homem que concebe um uso mais sofisticado, guardando instrumentos para o futuro, inventando novos e deixa instruções para que outros os fabriquem (MONROE, 2018 apud SILVA, 2018). Já os signos, segundo Vygotsky (1989 apud SILVA, 2018), são um meio para sua atividade interior, dirigida a dominar o próprio ser humano, ou seja, o signo está orientado para dentro. Eles agem como representações como a escrita, os desenhos, a linguagem e os mapas. Por fim, temos ainda a internalização por meio da experiência com o outro. Assim, Vygotsky aponta: [...] o aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer. Assim, o aprendizado é um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas (VYGOTSKY, 2003, p. 118 apud OSTERMANN; CAVALCANTI, 2011, p. 43 apud SILVA, 2018). As ideias de Vygotsky influíram diretamente no modelo de educação proposto pelo brasileiro Paulo Freire, a partir dos anos 1960. Os primeiros projetos de Freire se voltaram à alfabetização de adultos. Em 1962, ele e seu grupo alfabetizaram 300 cortadores de cana em apenas 45 dias (GADOTTI, 1991 apud SILVA, 2018). Exilado do Brasil, no período da ditadura militar, Freire passou a divulgar suas experiências no Chile, país onde residia. Gadotti (1991 apud SILVA, 2018) destaca o prefácio que Linda Bimbi escreveu na edição italiana do livro “Pedagogia do Oprimido”, apontando um certo “desconforto” causado pelo método freiriano: A originalidade do método de Paulo Freire não reside só na eficácia dos métodos de alfabetização, mas, acima de tudo, na inovação de seus 35 conteúdos para “conscientizar” (...). A conscientização nasce em um determinado contexto pedagógico e apresenta características originais: com as novas técnicas se aprende uma nova visão de mundo, a qual implica uma crítica cujos caminhos não são impostos, mas deixados à capacidade criadora da consciência “livre”; não se conscientiza um indivíduo isolado, mas sim uma comunidade, quando ela é totalmente solidária com respeito a uma situação- -limite comum. Portanto, a matriz do método, que é a educação concebida como um momento do processo global de transformação revolucionária da sociedade, é um desafio toda situação pré-revolucionária e sugere a criação de atos pedagógicos humanizantes (e não humanísticos) que se incorporam em uma pedagogia da revolução (GADOTTI, 1991, p. 37 apud SILVA, 2018). Assim, como afirma Silva (2018), percebe-se que o método de Paulo Freire apresenta uma ideia de comprometimento com a sociedade, perspectiva que explorava o que o aluno trazia consigo, como seus hábitos, experiências e vivencias. A forma de trabalho era dividida em investigação temática e estabelecimento das palavras geradoras e temas geradores. A investigação temática consistia: O educador ia ao ambiente dos educandos com um caderno ou um gravador, quando possível. Registrava tudo que via e ouvia; • Não havia normas ou regras rígidas nesse processo: o educador perguntava sobre a vida dos alunos, suas visões de mundo e aspirações. O objetivo primordial era registrar as palavras mais usadas pela comunidade já alfabetizada; • Tudo era registrado: formas de falar, versos, descrições do mundo; • Daí nasciam as chamadas palavras geradoras e temas geradores. As palavras geradoras eram escolhidas não apenas pelo significado, mas pela relevância social. Tinham também que representar todos os fonemas da língua portuguesa (OSTERMANN; CAVALCANTI, 2011, p. 45-46 apud SILVA, 2018). No estabelecimento das palavras geradoras e temas geradores, as palavras seriam esmiuçadas e ligadas a temas geradores. A palavra governo, por exemplo, geraria novas palavras para o debate, como política, participação popular, poder, etc. A partir disso, se dava o modelo de educação proposto por Freire, que visava uma educação libertadora (SILVA, 2018). Fases do desenvolvimento social Conforme Silva (2018) explica, Vygotsky aponta as fases do desenvolvimento social sob dois vieses: o do pensamento e o da linguagem. Por meio deles vão ocorrer as transformações sociais em cada criança e, para Vygotsky, a relação de ambos é estreita. Para o autor, linguagem e pensamento são fenômenos de desenvolvimento independentes nos primeiros meses de vida, manifestando-se com autonomia. Porém, por volta do segundo ano, as curvas de evolução do pensamento e da linguagem se 36 encontram, passando a exercer uma relação de dependência mútua — interdependência. Assim, linguagem e pensamento “passam a interferir no complexo universo cognitivo da criança de modo a determinar, a certa altura, que a linguagem pode servir de impulso para o pensamento” (FERNANDES, 2003, p. 9; PALANGANA, 2001 apud SILVA, 2018). Linguagem e pensamento Para Vygotsky, a linguagem é o nosso instrumento de relação com os outros e constituidora do sujeito, podendo ser verbal, gestual ou escrita. Além disso, é por meio dela que aprendemos a pensar (RIBEIRO, 2005 apud SILVA, 2018). Sobre a linguagem, Rabelo e Passos (2014, documento on-line apud SILVA, 2018) afirmam que, antes de tudo, ela é social, “portanto, sua função inicial é a comunicação, expressão e compreensão. Essa função comunicativa está estreitamente combinada com o pensamento. A comunicação é uma espécie de função básica porque permite a interação social e, ao mesmo tempo, organiza o pensamento”. Segundo o autor, a aquisição da linguagem passa por três fases ou estágios. Linguagem social: é a primeira forma de linguagem, pois surge ainda no nascimento e permanece até os 3 anos. Tem como principal função denominar, comunicar e acompanhar as ações gerais da criança, porém, de maneira dispersa e caótica. Linguagem egocêntrica: é a transição da fala social para a fala interna, ou seja, da função comunicativa para a função intelectual, ficando bem próxima ao pensamento. Segundo Rabelo e Passos (s.d), trata-se da fala que a criança emite para si, em voz baixa, enquanto está concentrada em alguma atividade. Essa fala, além de acompanhar a atividade infantil, é um instrumento para pensar em sentido estrito, isto é, planejar uma resolução para a tarefa durante a atividade na qual a criança está entretida (RIBEIRO, 2005 apud SILVA, 2018). Sendo assim, a linguagem se caracteriza como sendo da pessoa para a própria pessoa, o conhecido “falar sozinho”. Rabelo e Passos (2014, documento on-line apud SILVA, 2018) apontam que esse “falar sozinho” é “essencial porque ajuda a organizar melhor as ideias e planejar melhor 37 as ações. É como se a criança precisasse falar para resolver um
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