Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 2 SUMÁRIO 1 A SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL ................................................................ 5 2 SURGIMENTO DO SUS ............................................................................. 7 2.1 Universalidade ...................................................................................... 9 2.2 Integralidade ....................................................................................... 10 2.3 Equidade ............................................................................................ 11 2.4 Princípios organizativos ...................................................................... 12 3 AVANÇOS E DESAFIOS DO SUS ........................................................... 16 3.1 Descentralização da gestão do SUS .................................................. 16 3.2 Arranjo institucional e processo decisório do SUS ............................. 16 3.3 Regionalização da assistência à saúde.............................................. 17 3.4 Espaços de governança do SUS ........................................................ 17 3.5 Recursos financeiros .......................................................................... 18 3.6 Responsabilidades dos entes que compõem o SUS .......................... 19 3.7 Estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS) ..................................... 20 3.8 VIII Conferência Nacional de Saúde e o SUS .................................... 22 4 Legislação Básica do SUS ........................................................................ 23 4.1 Lei orgânica da Saúde........................................................................ 23 4.2 NOB — Normas Operacionais Básicas .............................................. 23 6 DIREITOS E DEVERES DOS USUÁRIOS DO SUS ................................ 25 6.1 Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde ......................................... 26 7 SERVIÇOS E ATENDIMENTOS DO SUS ................................................ 31 7.1 Estratégia Saúde da Família — ESF .................................................. 32 7.2 Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) .................................... 33 3 7.3 Programa Nacional de Imunização — PNI ......................................... 34 7.4 Humaniza SUS ................................................................................... 37 7.5 Serviço de atenção domiciliar — melhor em casa .............................. 39 7.6 Força Nacional do Sistema Único de Saúde ...................................... 40 7.7 Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ) ...................................................................................................... 41 7.8 Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB) ......................................... 42 7.9 Farmácia popular ............................................................................... 43 7.10 Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP) ................. 44 7.11 Programa Nacional de Triagem Neonatal ....................................... 45 7.12 Rede cegonha ................................................................................. 47 7.13 Caderneta da gestante .................................................................... 48 8 Rede de Atenção Psicossocial — RAPS .................................................. 49 9 REDE DE BANCOS DE LEITE HUMANO .............................................. 51 10 Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) ............................... 52 10.1 Rede de atenção às urgências e emergências ............................... 53 10.2 Unidade de Pronto Atendimento (UPA 24h).................................... 55 11 Programa Nacional de Controle do Tabagismo — PNCT ......................... 56 12 Sistema Nacional de Laboratórios de Saúde Pública ............................... 57 12.1 Biossegurança laboratorial .............................................................. 58 12.2 Sistema Gerenciador de Ambiente Laboratorial (GAL) ................... 58 13 Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) .................................................. 59 14 SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE — SIS .................................. 60 14.1 Datasus — Departamento de informática do SUS. ......................... 61 14.2 Principais sistemas do Datasus ...................................................... 62 14.3 Sistema de Informações de Nascidos Vivos — SINASC ................ 62 14.3.1 Benefícios ........................................................................................ 63 4 14.3.2 Funcionalidades ......................................................................... 63 14.4 Sistema de Informação de Agravos de Notificação — SINAN ........ 63 14.5 Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações-SI- PNI 65 14.6 Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS — SIA .................. 66 14.7 Sistema de Informações Hospitalares do SUS — SIH .................... 67 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 67 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro — quase improvável — um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para ser esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é o mesmo. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 1 A SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL Durante o período colonial e imperial no Brasil, que abrangeu aproximadamente 389 anos, houve uma notável ausência de iniciativas relacionadas à saúde pública. A inexistência de políticas públicas estruturadas e a ausência de estabelecimentos de assistência médica eram evidentes. Além disso, o acesso ao tratamento e à assistência médica estava fortemente condicionado à posição social: os nobres e colonos brancos, que detinham propriedades e posses, desfrutavam de maior acesso aos médicos e medicamentos da época, aumentaram suas chances de sobrevivência. Enquanto isso, os menos privilegiados, como os pobres e escravos, enfrentavam condições de vida extremamente precárias e tinham poucas chances de sobreviver às doenças que assolavam a região (MERELES, 2018). Nesse contexto colonial, os recursos alocados no Brasil foram direcionados principalmente para melhorias estruturais mínimas, destinadas a facilitar o escoamento da matéria-prima explorada na colônia. Não havia um interesse genuíno em investir na melhoria das condições de vida da maioria da população, composta majoritariamente por indígenas, senhores e escravos. Durante esse período, epidemias de doenças transmissíveis, como malária (1549), varíola (1561), hanseníase e febre-amarela (1680), que foram trazidas pelos colonizadores e aventureiros envolvidos no comércio de escravos, eram recorrentes (ORDONEZ, 2017). A chegada da Família Real portuguesa ao Brasil em 1808 marcou o início de uma mudança significativa na paisagem da saúde pública. O objetivo da Família Real era modernizar o Brasil, queo aproximou mais da realidade vívida em Portugal. Uma das primeiras medidas tomadas foi a criação de cursos universitários, isso inclui cursos de Medicina, Cirurgia e Química. Logo levou à fundação de instituições pioneiras, como a Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro e o Colégio Médico-Cirúrgico no Real Hospital Militar de Salvador. Com o tempo, médicos brasileiros ou formados no Brasil substituíram gradualmente os estrangeiros (MERELES, 2018). Ao analisar a história da saúde pública brasileira, nota-se que o conceito predominante é o da filantropia, mais especificamente, a filantropia de natureza religiosa, baseada na caridade. As instituições e médicos filantropos desempenharam um papel crucial no atendimento à população. Paralelamente, o Estado realizou 6 intervenções esporádicas em saúde, especialmente em resposta a epidemias, como campanhas de vacinação. Isso foi evidenciado no final do século XIX e no início do século XX, durante o saneamento do Rio de Janeiro e a extensa campanha de vacinação contra a varíola (CARVALHO, 2013). A maioria da população, que não tinha recursos, buscava socorro na medicina popular, recorreu aos serviços oferecidos pelas instituições conhecidas como Santas Casas de Misericórdia. Estas instituições eram responsáveis por abrigar e tratar os pobres e pessoas com problemas de saúde mental (ORDONEZ, 2017). Durante muitas décadas, as Santas Casas foram a única alternativa de assistência e tratamento disponível para aqueles sem recursos financeiros. Elas foram implicações para instituições religiosas e, inicialmente, estavam ligadas ao conceito de caridade, abrangeram o período que se estendeu do século XVIII até 1837 (MERELES, 2018). Quanto ao financiamento para a construção e manutenção dessas instituições, a Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas (CMB, 2020) afirma que “desde sua origem, até o início das relações com os governos, as Santas Casas foram criadas e mantidas pelas doações das comunidades, viveram períodos áureos, em que construíram seus patrimônios que foram boa parte destes tombados como patrimônio histórico”. No Brasil, a atuação das Santas Casas passou por duas fases distintas: a primeira, que ocorreu aproximadamente do século XVIII até 1837, tinha um caráter predominantemente caritativo; uma segunda fase, de 1838 a 1940, teve uma abordagem mais filantrópica (CMB, 2020). O cenário da saúde no Brasil antes da criação do Sistema Único de Saúde (SUS) era notavelmente diferente em comparação com a situação atual. Naquela época, a saúde era conceituada como ausência de doença, com a assistência centrada principalmente em instituições médicas e hospitalares. A promoção da saúde era uma responsabilidade exclusiva do Ministério da Saúde (MS), e todas as ações de saúde eram centralizadas no nível do governo federal, sem a participação ativa dos estados e municípios. 7 2 SURGIMENTO DO SUS O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado pela Constituição Federal de 1988 e regulamentado pelas leis 8.080/90 e 8.142/90, relativas à participação da população nos serviços de saúde (BRASIL, 1990a, 1990b). A Constituição, em seus artigos 196, 197 e 198, criou o SUS com base nas seguintes considerações: ➢ A saúde é um direito de todos e um dever do Estado; ➢ O acesso às ações e serviços de promoção, prevenção e recuperação da saúde é universal e igualitário, ou seja, todos têm direito. ➢ E foi definido da seguinte maneira: ➢ Descentralização, com direção única em cada esfera de governo; ➢ Atendimento integral, com prioridade para as atividades de prevenção, sem prejuízo dos serviços assistenciais; ➢ Participação da comunidade. Após sua criação, houve a necessidade de regulamentação, que ocorreu em 1990, com a promulgação das duas Leis Orgânicas da Saúde: a Lei 8.142/90, que dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do SUS e sobre a transferência intergovernamental de recursos financeiros no setor de saúde e outras medidas e a Lei 8.080/90, que estabelece as diretrizes para a promoção, segurança e restauração da saúde, a estruturação e operação dos serviços relacionados e a abordagem de outras medidas convenientes. (ARCARI, 2020). Desde sua concepção o SUS visa oferecer à toda população brasileira acesso universal, integral e gratuito aos serviços de saúde. Além dos procedimentos médicos como consultas, exames, cirurgias, internações e reabilitação. O sistema é responsável também pelas campanhas de vacinação, gerenciamento dos programas de doação de órgãos e medula óssea, planejamento, organização, controle e execução das ações do serviço de saúde em articulação com o conselho municipal 8 local e a esfera estadual para aprovar e implantar o plano municipal de saúde (CARVALHO, 2020). Apresenta também princípios fundamentados em valores éticos e solidários, para orientar o sistema de saúde: inclusividade (garantia de que todos os cidadãos brasileiros tenham o direito de utilizar os serviços do SUS); imparcialidade (a oferta de serviços deve ser determinada com base nas necessidades individuais de cada cidadão ou população, promove a justiça social); e abrangência (os serviços devem abranger a prevenção de doenças, a promoção da saúde, a cura e a reabilitação, atender de forma integral às necessidades de saúde da população em geral). Detalhes adicionais sobre esses princípios serão considerados posteriormente (SOLHA, 2014). A implantação do SUS foi realizada de forma gradual: primeiro veio o Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde — SUDS; depois, a incorporação do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social — INAMPS, ao Ministério da Saúde; e pôr fim a Lei Orgânica da Saúde (Lei n.º 8.080, de 19 de setembro de 1990), finalmente o SUS (HANNA SOBRINHO, 2014). A figura 1 relata os Princípios e diretrizes do SUS: Figura 1 – Princípios e diretrizes do SUS Fonte: https://encurtador.com.br/aluEX 9 Os princípios e diretrizes do SUS estão na Constituição Federal de 1988, regulamentados e confirmados no capítulo II, artigo 7º da lei 8.080/90: Art. 7º. As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde — SUS são desenvolvidos conforme as diretrizes previstas no artigo 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios: I — Universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; II — Integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema; III — preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral; IV — Igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie; V — Direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde; VI — divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua utilização pelo usuário; VII — utilização da epidemiologia para estabelecer prioridades, a alocação de recursos e a orientação programática; VIII — participação da comunidade; IX — Descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de governo: Ênfase na descentralização dos serviços para os municípios; Regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde; X — Integração ao nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamento básico; XI — conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na prestação de serviços de assistência à saúde da população; XII — capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência; XIII — organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidadede meios para fins idênticos. XIV — organização de atendimento público específico e especializado para mulheres e vítimas de violência doméstica em geral, que garanta, entre outros, atendimento, acompanhamento psicológico e cirurgias plásticas reparadoras, segundo a Lei n.º 12.845, de 1º de agosto de 2013. (Redação dada pela Lei n.º 13.427, de 2017) (BRASIL, 1990). São no total 14 princípios/diretrizes, dos quais, dar-se-á destaque aos que julgam mais importantes, tais como: universalidade, integralidade e equidade. 2.1 Universalidade O princípio da universalidade estabelece que a saúde é um direito de todos os cidadãos, conforme definido na Constituição Federal como uma obrigação do Estado. Com a implementação desse princípio, todas as pessoas passaram a ter o direito de utilizar os serviços de saúde, uma prerrogativa que anteriormente estava restrita aos 10 indivíduos segurados pela Previdência Social ou aqueles que buscavam atendimento na rede privada (ARCARI, 2020). Devido à história do sistema de saúde no Brasil e à prevalência da cultura de consumo nas sociedades contemporâneas, muitos associam equivocadamente a ideia de universalidade à gratuidade. No entanto, a universalidade implica a noção de direito, torna inadequada qualquer referência a pagamento ou gratuidade. No Brasil, o direito à saúde é um direito social, de caráter coletivo, e não um direito individual condicionado ao pagamento (MATTA, 2020). A saúde é reconhecida como um direito civil de todos os indivíduos, o Estado deve garantir esse direito. O acesso aos serviços de saúde será assegurado a todas as pessoas, independentemente de gênero, raça, ocupação ou outras características sociais, ou pessoais (BRASIL, 2020). A universalidade do Sistema Único de Saúde (SUS) não representa apenas o direito à saúde assegurado por meio de políticas públicas, mas também enfatiza o direito à vida e à igualdade de acesso, sem discriminação com base em raça, gênero, religião ou qualquer outra forma de diferenciação dos cidadãos brasileiros (MATTA, 2020). Além disso, para garantir o acesso universal, é necessário levar em consideração a gravidade do risco à saúde, considerar a vulnerabilidade da pessoa e a classificação cronológica, com respeito às particularidades condicionais por lei para pessoas com necessidades especiais. Os riscos individuais e coletivos deverão sempre prevalecer sobre quaisquer outros critérios. Por exemplo, se um indivíduo for aguardar um determinado exame devido a uma condição específica, como uma endoscopia para investigar uma gastrite, e outra pessoa para ser adicionada à lista depois dele para o mesmo exame, mas para investigar um câncer de estômago, esta última terá prioridade na fila devido à gravidade do caso (SOLHA, 2014). 2.2 Integralidade O princípio de integralidade fundamenta-se no entendimento de que as pessoas têm o direito de serem atendidas no conjunto de suas necessidades, individuais e coletivas, e que os serviços de saúde devem estar organizados de modo 11 a oferecer todas as ações requeridas por essa atenção integral. Dessa forma, o SUS deve desenvolver ações, em relação ao ambiente e às pessoas, destinadas à promoção, à proteção e à recuperação da saúde, bem como à reabilitação. (ARCARI, 2018). A integralidade fundamenta-se no entendimento de que as pessoas têm o direito de serem atendidas no conjunto de suas necessidades, individuais e coletivas, e que, os serviços de saúde devem estar organizados de modo a oferecer todas as ações requeridas por essa atenção integral. Sobre esse princípio: Este princípio considera as pessoas na totalidade, atendendo a todas as suas necessidades. Para isso, é importante a integração de ações, incluindo a promoção da saúde, a prevenção de doenças, o tratamento e a reabilitação. Juntamente, o princípio de integralidade pressupõe a articulação da saúde com outras políticas públicas, para assegurar uma atuação intersetorial entre as diferentes áreas que tenham repercussão na saúde e qualidade de vida do indivíduo (ARCARI, 2018, documento online). É crucial para que os profissionais de saúde adotem uma abordagem integral no cuidado, que envolva a atenção de todas as necessidades dos usuários. Os gestores de saúde têm a responsabilidade de organizar os serviços para fornecer espaços adequados para uma escuta atenta, gerenciamento e solução dos problemas apresentados pelos usuários, que muitas vezes não se limitam à saúde, mas exercem uma influência significativa sobre ela (SOLHA, 2014). Essa perspectiva da integralidade representa uma mudança substancial na maneira como a saúde é percebida, afasta-se das questões puramente biomédicas centradas no modelo médico-hospitalar. Ela busca uma compreensão mais ampla e complexa das questões de saúde, com um foco no ser humano inserido em seu contexto social em constante evolução. Isso requer adaptações por parte do sistema de saúde e dos profissionais para atender às novas demandas de forma mais flexível e alinhada com a realidade do momento. 2.3 Equidade O princípio da equidade surge como uma resposta aos profundos problemas históricos do país, que incluem as disparidades sociais e econômicas. Essas disparidades resultam em desigualdades no acesso aos serviços de saúde, na sua 12 gestão e produção (MATTA, 2020). O propósito desse princípio é reduzir essas desigualdades. Embora todos tenham direito aos serviços, as pessoas não são iguais e, portanto, possuem necessidades específicas. Em termos simples, a equidade envolve tratar de maneira diferenciada aqueles que estão em situações desiguais, direcionar mais recursos para onde a carência é mais pronunciada (BRASIL, 2020). As orientações do novo sistema de saúde serviram como base para implementar as mudanças permitidas, fortalecer o processo de descentralização, permitir que cada município passasse a gerenciar as ações de saúde conforme as necessidades locais. Esse conceito implica em buscar a equidade, em vez de tratar todas as pessoas de maneira idêntica, visa agir com justiça, diminui as disparidades sociais. Dada a extensão dos graves problemas civis no país, muitos indivíduos enfrentam dificuldades para atender necessidades básicas que garantem uma vida saudável, como a educação. Isso limita o acesso a informações cruciais e a capacidade de empreender ações para preservar sua saúde, colocar-se em uma posição de maior vulnerabilidade (SOLHA, 2014). 2.4 Princípios organizativos Regionalização e hierarquização Os serviços devem ser estruturados com uma progressão em sua complexidade, delimitam-se a uma região geográfica específica, orientados por critérios epidemiológicos e estabelecem definições de serviços e informações. A regionalização representa o processo de coordenação dos serviços já existentes para sua gestão unificada (BRASIL, 2020). Em contrapartida, a hierarquização distribuirá os níveis de atenção e garantir a disponibilidade dos serviços necessários para atender aos diferentes níveis de complexidade em uma determinada área, considerar os recursos disponíveis (BRASIL, 2020). Apesar de ser uma medida estrutural fundamental para o Sistema Único de Saúde (SUS), a regionalização enfrenta desafios significativos. Isso inclui a dificuldade de integrar e coordenar atividades e serviços em diversas áreas geográficas, sob 13 diferentes administrações, para atender às necessidades de saúde da população de forma abrangente, com qualidade e eficiência. O sistema se organiza por meio da integração das atividades e serviços de saúde entre as unidades governamentais, forma as redes de saúde, como destacado por Arcari (2018, p. 94). O princípio de Descentralização estabelece a descentralização da gestão e das políticas da saúde no país. Nesse princípio, o poder e a responsabilidade sobre a saúde são distribuídos entre ostrês níveis de governo, objetivando uma prestação de serviços com mais eficiência e qualidade e também a fiscalização e o controle por parte da sociedade. Os municípios passam a ser os responsáveis pela organização da oferta de todas as ações e serviços de saúde e por estabelecer as políticas locais de saúde. O princípio de Hierarquização é uma forma de organização dos serviços e ações que visa atender as diferentes necessidades de saúde da população, sendo a atenção básica a responsável pela resolubilidade da maioria das necessidades em saúde da população e a ordenadora da rede de atenção à saúde. Descentralização e comando único A descentralização implica na redistribuição de autoridade e obrigação entre os três níveis de governo. No contexto da saúde, o seu propósito é melhorar a qualidade dos serviços e garantir o controle e a supervisão pelos cidadãos. No âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), a responsabilidade pela saúde deve ser detalhada para o município, visto que este cumpre os requisitos econômicos, técnicos, administrativos e financeiros necessários para desenvolver essa função. Para que o princípio da descentralização seja eficaz, existe uma concepção constitucional de uma norma única, na qual cada instância de poder é autônoma e soberana em suas decisões e atividades, respeita os princípios gerais e a participação da sociedade (BRASIL, 2020). No contexto do SUS, a política de descentralização envolve a transferência de autoridade política, responsabilidades e recursos da esfera federal para o estadual e municipal. Em resumo, ocorre uma 'desconcentração' do poder da União em direção aos estados e municípios, para consolidar os princípios e diretrizes do Sistema Brasileiro de Saúde (MATTA, 2020). Participação Popular 14 A participação popular e o controle social em saúde, entre os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), destacam-se como elementos de importância significativa, social e política, pois garantir que a população desempenhe um papel ativo na elaboração e fiscalização das políticas de saúde públicas. Para efetivar esse princípio, é fundamental estabelecer conselhos e conferências de saúde específicas para a formulação de estratégias, bem como para o monitoramento e avaliação da implementação das políticas de saúde (BRASIL, 2020). Esse princípio envolve a organização e a participação da comunidade na administração do SUS, regulamentado legalmente por meio de conselhos e conferências de saúde no âmbito nacional, estadual e municipal (ARCARI, 2018). A participação não ocorre sem possibilidade de conflitos. É importante considerar que as necessidades da população nem sempre coincidem com as respostas dadas pelo Estado em relação à oferta e à estrutura dos serviços de saúde. Além disso, essas necessidades podem diferir das percepções dos profissionais de saúde e dos interesses privados, que frequentemente experimentam influências na opinião pública contra o Sistema Único de Saúde (SUS) em vários benefícios. Isso é evidenciado pela cobertura midiática que muitas vezes destaca apenas as dificuldades e falhas do sistema (basta observar as notícias e programas de televisão que se concentram predominantemente nessas questões) (SOLHA, 2014). A Lei n.º 8.142, de 28 de dezembro de 1990, estabelece as diretrizes para a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e aborda as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde, além de tratar de outras questões relacionadas. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei: Art. 1° O Sistema Único de Saúde (SUS), de que trata a Lei n.° 8.080, de 19 de setembro de 1990, contará, em cada esfera de governo, sem prejuízo das funções do Poder Legislativo, com as seguintes instâncias colegiadas: I — A Conferência de Saúde; e II — o Conselho de Saúde. § 1.º A Conferência de Saúde reunir-se-á a cada quatro anos com a representação dos vários segmentos sociais, para avaliar a situação de saúde e propor as diretrizes para a formulação da política de saúde nos níveis correspondentes, convocada pelo Poder Executivo ou, extraordinariamente, por esta ou pelo Conselho de Saúde. § 2.º O Conselho de Saúde, em caráter permanente e deliberativo, órgão colegiado composto por representantes do governo, prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários, atua na formulação de estratégias e no controle da execução da política de saúde na instância correspondente, 15 inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas decisões serão homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada esfera do governo. § 3.º O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems) terão representação no Conselho Nacional de Saúde. § 4.º A representação dos usuários nos Conselhos de Saúde e Conferências será paritária em relação ao conjunto dos demais segmentos. § 5.º As Conferências de Saúde e os Conselhos de Saúde terão sua organização e normas de funcionamento definidas em regimento próprio, aprovadas pelo respectivo conselho. Art. 2° Os recursos do Fundo Nacional de Saúde (FNS) serão alocados como: I — Despesas de custeio e de capital do Ministério da Saúde, seus órgãos e entidades, da administração direta e indireta; II — Investimentos previstos em lei orçamentária, de iniciativa do Poder Legislativo e aprovados pelo Congresso Nacional; III — investimentos previstos no Plano Quinquenal do Ministério da Saúde; IV — Cobertura das ações e serviços de saúde a serem implementados pelos Municípios, Estados e Distrito Federal. Parágrafo único. Os recursos referidos no inciso IV deste artigo destinar-se- ão a investimentos na rede de serviços, à cobertura assistencial ambulatorial e hospitalar e às demais ações de saúde. Art. 3° Os recursos referidos no inciso IV do art. 2° desta lei serão repassados de forma regular e automática para os Municípios, Estados e Distrito Federal, segundo os critérios previstos no art. 35 da Lei n.° 8.080, de 19 de setembro de 1990. § 1.º Enquanto não for regulamentada a aplicação dos critérios previstos no art. 35 da Lei n.° 8.080, de 19 de setembro de 1990, será utilizado, para o repasse de recursos, exclusivamente o critério estabelecido no § 1.º do mesmo artigo. § 2.º Os recursos referidos neste artigo serão destinados, pelo menos setenta por cento, aos Municípios, afetando-se o restante aos Estados. § 3.º Os Municípios poderão estabelecer consórcio para execução de ações e serviços de saúde, remanejando, entre si, parcelas de recursos previstos no inciso IV do art. 2° desta lei. Art. 4° Para receberem os recursos, de que trata o art. 3° desta lei, os Municípios, os Estados e o Distrito Federal deverão contar com: I — Fundo de Saúde; II — Conselho de Saúde, com composição paritária conforme o Decreto n.° 99.438, de 7 de agosto de 1990; III — plano de saúde; IV — Relatórios de gestão que permitam o controle de que trata o § 4.º do art. 33 da Lei n.° 8.080, de 19 de setembro de 1990; V — Contrapartida de recursos para a saúde no respectivo orçamento; VI — Comissão de elaboração do Plano de Carreira, Cargos e Salários (PCCS), previsto o prazo de dois anos para sua implantação. Parágrafo único. O não atendimento pelos Municípios, ou pelos Estados, ou pelo Distrito Federal, dos requisitos estabelecidos neste artigo, implicará em que os recursos concernentes sejam administrados, respectivamente, pelos Estados ou pela União. Art. 5° É o Ministério da Saúde, mediante portaria do Ministro de Estado, autorizado a estabelecer condições para aplicação desta lei. Art. 6° Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 7° Revogam-se as disposições em contrário. Brasília, 28 de dezembro de 1990; 169° da Independência e 102.º da República (BRASIL, 1990). 16 3 AVANÇOS EDESAFIOS DO SUS 3.1 Descentralização da gestão do SUS A descentralização político-administrativa, por meio da municipalização, resultou na reestruturação dos serviços e iniciativas de saúde, na redistribuição de autoridade e competências, e na responsabilização dos municípios por promover alterações no modelo de atendimento, no planejamento, na organização, no controle, na avaliação e na administração dos serviços de saúde públicos em suas áreas geográficas. Essa estratégia foi adotada para reduzir as disparidades regionais. No cenário nacional, os municípios assumiram a função principal na gestão da rede de serviços de saúde e na prestação direta da maioria das ações e programas de saúde (ARCARI, 2020). As Conferências e os Conselhos de Saúde são compostos por gestores, profissionais de saúde, usuários do sistema (representando 50% do total) e outras entidades ou indivíduos representativos, em uma composição paritária. Eles desempenham várias funções, isso inclui a formulação de diretrizes para a política de saúde e o acompanhamento de sua implementação, entre outras responsabilidades. 3.2 Arranjo institucional e processo decisório do SUS O sistema é estruturado por meio da colaboração e coordenação das ações e dos serviços de saúde entre os diferentes níveis de governo, resulta na formação de uma rede abrangente de cuidados de saúde, conhecida como redes de atenção à saúde. Ao examinar o SUS em termos de sua organização, competências e prestação de serviços, inclui a estruturação em regiões de saúde, a hierarquização com base na complexidade dos serviços, as responsabilidades constitucionais e as disparidades entre as entidades federativas e as instâncias de tomada de decisão, fica evidente uma interdependência dentro do SUS. Essa interdependência implica que os serviços de saúde devem ser integrados entre si nas regiões de saúde (ARCARI, 2020). 17 3.3 Regionalização da assistência à saúde A regionalização no Sistema Único de Saúde (SUS) representa uma estratégia prioritária destinada a garantir o direito à saúde, reduzir disparidades sociais e territoriais, promover a equidade e a integralidade da assistência, bem como otimizar os recursos financeiros e melhorar a descentralização. Ela oferece os meios necessários para aprimorar de forma progressiva e a integração dos serviços de saúde, controlar os custos e envolver mais os cidadãos no processo de tomada de decisões (ARCARI, 2020). Apesar de ser uma medida essencial para a estruturação do SUS, a regionalização apresenta desafios importantes, introduz dificuldades na cooperação e integração das ações e serviços em diferentes regiões geográficas, sob gestões diversas, para atender adequadamente às necessidades e demandas de saúde da população em termos de escala, qualidade e custos. O sistema é organizado por meio da integração das ações e dos serviços de saúde entre os diferentes níveis de governo, resulta na formação das redes de atenção à saúde. 3.4 Espaços de governança do SUS As Comissões Intergestores foram condicionantes como uma inovação de gestão na política de saúde e representam espaços permanentes de negociação, planejamento e tomada de decisões relacionadas a questões operacionais, descentralização e acordos nacionais, estaduais e regionais no âmbito do SUS. Eles oferecem uma oportunidade para fortalecer a governança nesses contextos e enfatizar a responsabilização dos entes envolvidos, garantem que as decisões de gestão sejam transparentes e busquem a promoção do acesso integral à assistência à saúde. No contexto brasileiro a partir da década de 1990, houve um esforço significativo na construção de um modelo de saúde e na definição de papéis para cada esfera de governo. Durante esse período, foram construídas estruturas, tecnologias e mecanismos institucionais de interação entre os gestores no SUS, bem como entre eles e a sociedade. Isso resultou na determinação dos papéis de cada entidade e sua função na gestão do sistema de saúde (ARCARI, 2020). 18 Os gestores de saúde desempenham funções em dois domínios interligados: o domínio político e o domínio técnico. No domínio político, o compromisso principal é com a população, e os gestores atuam como agentes de gestão de saúde voltados para o interesse público, em oposição a interesses particulares ou privados. Nesse sentido, é relevante destacar a participação e a contribuição dos conselhos nacionais de representação dos gestores estaduais (CONASS) e municipais (CONASEMS), que constituem espaços formais na relação entre os entes federados e sua participação nas Comissões Intergestores Tripartites (CITs), Comissões Intergestores Bipartidas (CIBs) e Comissões Intergestores Regionais (CIRs). Além disso, os conselhos de saúde permanentes e deliberativos, que fazem parte da estrutura decisória do SUS, (BRASIL, 2009). 3.5 Recursos financeiros Os percentuais de investimento financeiro destinados ao SUS pelos municípios, estados e União são atualmente previstos pela Lei Complementar n.º 141, datada de 13 de janeiro de 2012, resultante da aprovação da Emenda Constitucional 29 (BRASIL, 2012). De acordo com essa lei, os municípios e o Distrito Federal são obrigados a aplicar, no mínimo, 15% da arrecadação dos impostos anuais em ações e serviços públicos de saúde, enquanto aos estados cabe o compromisso de destinar 12% desses recursos. No caso da União, o montante aplicado deve corresponder ao valor empenhado no exercício financeiro anterior, acrescido do percentual relativo à variação do Produto Interno Bruto (PIB) do ano anterior à aprovação da lei orçamentária anual (ARCARI, 2020). A diminuição da participação dos recursos federais no financiamento da saúde pública implica na redução do papel desempenhado pelo governo federal na formulação da política de saúde, com uma ênfase crescente nos municípios. Isso levou a uma preocupação crescente dos gestores municipais, situação que tende a se agravar e considerar a promulgação da Emenda Constitucional n.º 95, de 15 de dezembro de 2016, que atribuiu um teto para os gastos com saúde pelos próximos 20 anos, com limitações desfavoráveis na correção dos investimentos na área da saúde (BRASIL, 2016). Em relação às mudanças no financiamento do SUS, em 28 de 19 dezembro de 2017, uma edição extraordinária do Diário Oficial da União publicou a Portaria n.º 3.992, que dinamiza um novo modelo de financiamento para o SUS. Desde a publicação da Portaria n.º 204/2007, os blocos de financiamento foram incluídos como blocos financeiros, cada um com uma conta-corrente vinculada, abrangendo os cinco blocos de custeio: atenção básica, média e alta complexidade ambulatorial e hospitalar, assistência farmacêutica, vigilância em saúde e gestão do SUS, além do Bloco de Investimento (BRASIL, 2007). A nova Portaria trouxe mudanças significativas, cuja inclusão da fusão dos antigos blocos de financiamento de custeio em um único bloco, mantiveram grupos de ações dentro desse Bloco de Custeio. Esses grupos de ações devem refletir a destinação dos recursos no final de cada exercício, bem como o que foi previsto no Plano de Saúde e na Programação Anual de Saúde dos entes envolvidos. 3.6 Responsabilidades dos entes que compõem o SUS ➢ União: a gestão federal da saúde é realizada por meio do Ministério da Saúde. O governo federal é o principal patrocinador da rede pública de saúde. Anteriormente, o Ministério da Saúde destinava metade dos recursos de gastos no país em saúde pública em todo o Brasil, e estados e municípios, em geral, contribuem com o restante dos recursos. O Ministério da Saúde formula políticas nacionais de saúde, mas não realiza as ações. Para a execução dos projetos, depende de seus parceiros (estados, municípios, ONGs, fundações, empresas, etc.). Possui funções de planejamento, desenvolvimento de normas, avaliação e utilizaçãode ferramentas de controle do SUS (BRASIL, 2020). ➢ Estados e Distrito Federal: os estados possuem secretarias específicas para a gestão de saúde. O gestor estadual deve aplicar recursos próprios, inclusive nos municípios, e os repassados pela União. Além de ser um dos parceiros na aplicação de políticas nacionais de saúde, o estado formula suas próprias políticas de saúde. Ele coordena e planeja o SUS ao nível estadual, conforme as normas federais. Os gestores estaduais são responsáveis pela organização do atendimento à saúde em seu território (BRASIL, 2020). ➢ Municípios: São responsáveis pela execução das ações e serviços de saúde no âmbito do seu território. O gestor municipal deve aplicar recursos próprios e 20 os repassados pela União e pelo estado. O município desenvolve suas próprias políticas de saúde e também é um dos parceiros na adoção de políticas nacionais e estaduais de saúde. Coordena e planeja o SUS ao nível municipal, segundo as normas federais. Pode estabelecer parcerias com outros municípios para garantir o atendimento pleno de sua população, para procedimentos de complexidade que estejam acima daqueles que pode oferecer (BRASIL,2020). 3.7 Estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS) O Sistema Único de Saúde (SUS) é composto pelo Ministério da Saúde, Estados e Municípios, conforme determina a Constituição Federal. Cada ente tem suas corresponsabilidades (BRASIL, 2020): Quadro 1-Estrutura do SUS Ministério da Saúde Gestor nacional do SUS, formula, normatiza, fiscaliza, monitora e avalia políticas e ações, em articulação com o Conselho Nacional de Saúde. Atua no âmbito da Comissão Intergestores Tripartite (CIT) para pactuar o Plano Nacional de Saúde. Integram sua estrutura: Fiocruz, Funasa, Anvisa, ANS, Hemobrás, Inca, Into e oito hospitais federais. Secretaria Estadual de Saúde (SES) Participa da formulação das políticas e ações de saúde, presta apoio aos municípios em articulação com o conselho estadual e participa da Comissão Intergestores Bipartite (CIB) para aprovar e implementar o plano estadual de saúde. Secretaria Municipal de Saúde (SMS) Planeja, organiza, controla, avalia e executa as ações e serviços de saúde em articulação com o conselho municipal e a esfera estadual para aprovar e implantar o plano municipal de saúde 21 Conselhos de Saúde O Conselho de Saúde, no âmbito de atuação (Nacional, estadual ou Municipal), em caráter permanente e deliberativo, órgão colegiado composto por representantes do governo, prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários, atua na formulação de estratégias e no controle da execução da política de saúde na instância correspondente, inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas decisões serão homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada esfera do governo. Cabe a cada Conselho de Saúde definir o número de membros, que obedecerá a seguinte composição: 50% de entidades e movimentos representativos de usuários; 25% de entidades representativas dos trabalhadores da área de saúde e 25% de representação de governo e prestadores de serviços privados conveniados, ou sem fins lucrativos. Comissão Intergestores Tripartite (CIT) Foro de negociação e pactuação entre gestores federal, estadual e municipal, quanto aos aspectos operacionais do SUS Comissão Intergestores Bipartite (CIB) Foro de negociação e pactuação entre gestores estadual e municipais, quanto aos aspectos operacionais do SUS Conselho Nacional de Secretário da Saúde (Conass) Entidade representativa dos entes estaduais e do Distrito Federal na CIT para tratar de matérias referentes à saúde Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) Entidade representativa dos entes municipais na CIT para tratar de matérias referentes à saúde. 22 Conselhos de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems) São reconhecidos como entidades que representam os entes municipais, no âmbito estadual, para tratar de matérias referentes à saúde, desde que vinculados institucionalmente ao Conasems, na forma que dispuserem seus estatutos. Fonte: saúde.gov.br 3.8 VIII Conferência Nacional de Saúde e o SUS A 8ª Conferência Nacional de Saúde, que ocorreu de 17 a 21 de março de 1986, representou um momento crucial na definição do Sistema Único de Saúde (SUS). Durante esse evento, foram discutidos três temas principais: “A saúde como dever do Estado e direito do cidadão”, “A reformulação do Sistema Nacional de Saúde” e “O financiamento setorial”. Essa conferência marcou um ponto de viragem na história do SUS ao ser a primeira a ser aberta à participação da sociedade. Desempenhou um papel fundamental na divulgação dos ideais da Reforma Sanitária e culminou na criação do Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS), que foi realizado de um convênio entre o INAMPS e os governos estaduais. Além disso, foram lançadas as bases para que a seção “Da Saúde” fosse incorporada à Constituição Brasileira de 1988 (ORDENEZ, 2017). A nova ordem jurídica estabelecida na Constituição consagrou o Brasil como um Estado Democrático de Direito, registrada a saúde como um direito de todos e um dever do Estado. Ela distribuiu mecanismos e canais de controle e participação social para garantir a efetivação dos princípios constitucionais que protegem tanto os direitos individuais quanto os direitos sociais (BRASIL, 2020). A proposta da VIII Conferência Nacional de Saúde foi aprovada na Constituição de 1988, seção II, art. 196, capítulo 1: A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção o, proteção o e recuperação (BRASIL, 1988 documento on-line). 23 4 LEGISLAÇÃO BÁSICA DO SUS A legislação básica do SUS consiste na Constituição Federal (artigos 196 a 200), na Lei Orgânica da Saúde (Lei 8.080/1990), nas Normas Operacionais Básicas (NOB) e no Decreto 7.508/2011 que regulamenta a Lei 8.080/1990 e a Lei 8.142/1990 (ARCARI, 2018). 4.1 Lei orgânica da saúde A Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990, mais conhecida como Lei Orgânica da Saúde, estabelece as diretrizes para o funcionamento e a organização do SUS. Em seu primeiro artigo, a lei define que ela regulamenta todas as ações e serviços de saúde realizados em todo o território nacional, seja de forma permanente ou eventual, por pessoas naturais ou jurídicas de direito público, ou privado (BRASIL, 1990). Por outro lado, a Lei n.º 8.142, de 28 de dezembro de 1990, trata da participação da comunidade na gestão do SUS e das transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde (BRASIL, 1990b). Essas leis solidificaram o papel central dos municípios como principais executores das ações de saúde, o que representa uma expansão do processo de descentralização. 4.2 NOB — Normas Operacionais Básicas Diversas portarias do MS regulamentaram o SUS, especialmente as que originaram as NOBs de 1991, 1993 e 1996. A implantação do SUS no conjunto do país passa a acontecer de forma gradual ao longo dos anos 1990. As NOB-SUS são os principais instrumentos normalizadores do processo de descentralização das ações e serviços de saúde no Brasil, um dos pilares de sustentação do SUS, conforme demonstra o quadro 1 (ARCARI, 2018). Quadro 1 – Normas Operacionais Básicas 24 Fonte: Arcari, 2018 25 6 DIREITOS E DEVERES DOS USUÁRIOS DO SUS Toda pessoa tem o direito de acessar bens e serviços organizados e estruturados para garantir a promoção, prevenção, proteção, tratamento e recuperação da saúde (FENAFAR, 2018). A entrada no sistema de saúde deve ser preferencialmentepela atenção básica (postos de saúde, centros de saúde, Unidades de Saúde da Família, etc.). A partir desse primeiro atendimento, o indivíduo será encaminhado para outros serviços de saúde pública de maior complexidade (hospitais e clínicas especializadas) (BRASIL, 2013). O Conselho Nacional de Saúde (CNS) criou a Carta dos Direitos e Deveres da Pessoa Usuária da Saúde para garantir que toda a população conheça seus direitos e deveres em relação ao Sistema Único de Saúde (SUS), uma das maiores políticas públicas do mundo (FENAFAR, 2018). A primeira versão da Carta foi elaborada em junho de 2009 e passou por revisões posteriores para aprimorar a linguagem e contemplar a diversidade das pessoas que utilizam o SUS (FENAFAR, 2018). Na versão inicial, havia seis princípios fundamentais que garantem aos cidadãos brasileiros um acesso digno aos sistemas de saúde, sejam eles públicos ou privados (BRASIL, 2020): ➢ Todo cidadão tem direito a um acesso organizado e estruturado aos sistemas de saúde. ➢ Todo cidadão tem direito a um tratamento adequado e eficaz para sua condição. ➢ Todo cidadão tem direito a um atendimento humanizado, acolhedor e sem discriminação. ➢ Todo cidadão tem direito a um atendimento que respeite sua pessoa, valores e direitos. ➢ Todo cidadão também tem responsabilidades de garantir que seu tratamento ocorra de maneira adequada. ➢ Todo cidadão tem direito ao comprometimento dos gestores de saúde para garantir o cumprimento dos princípios anteriores (BRASIL, 2020). 26 Em 2017, o CNS formou um Grupo de Trabalho encarregado de revisar e atualizar a Portaria n.º 1.820, de 13 de agosto de 2009, que trata dos direitos e deveres dos usuários da saúde. Além disso, o CNS lançou uma consulta pública à sociedade em abril de 2017 para ampliar a participação social no processo (FENAFAR, 2018). O documento foi apresentado e aprovado pelo plenário durante a 61ª Reunião Extraordinária do CNS em 9 de agosto de 2017, quando os conselheiros nacionais de saúde aprovaram a Resolução n.º 553, que estabelece as diretrizes dos Direitos e Deveres da Pessoa Usuária da Saúde. 6.1 Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde I. Direito a saúde Cada indivíduo tem o direito de ser recebido no serviço de saúde no momento de sua chegada, considerar suas necessidades de saúde e características específicas, sem a necessidade de senhas ou procedimentos burocráticos e respeitar as prioridades determinadas pela lei. A promoção e proteção da saúde devem estar relacionadas com as condições sociais, culturais e econômicas das pessoas, abrangem aspectos como: ➢ Garantia de segurança alimentar e nutricional. ➢ Melhorias no saneamento básico e ambiental. ➢ Tratamento adequado para doenças negligenciadas, adaptado a cada região do país. ➢ Iniciativas para o combate às endemias e doenças transmissíveis. ➢ Combater todas as formas de violência e discriminação. ➢ Educação fundamentada nos princípios dos Direitos Humanos. ➢ Promoção de empregos dignos. ➢ Acesso à moradia, transporte, atividades de lazer, segurança pública e previdência social. 27 II. Tratamento adequado Cada indivíduo tem direito a um atendimento integral que inclua procedimentos adequados e oportunos para solucionar seus problemas de saúde, segue os princípios orientadores que envolvem: ➢ Atendimento rápido, com estratégias para prevenir o agravamento, utiliza tecnologia adequada, fornecida por uma equipe multiprofissional de gerenciamento e em condições adequadas. ➢ Acesso contínuo e disponibilidade de vacinas conforme o calendário e necessidades regionais. ➢ Estabelecimento de espaços de comunicação entre pacientes, profissionais de saúde, gestores e serviços de assistência jurídica para discutir as diversas opções de tratamento possíveis. ➢ Fornecimento de informações claras e respeitosas sobre o estado de saúde do indivíduo, em uma linguagem adequada para atender às suas necessidades. III. Atendimento humanizado Cada indivíduo tem o direito de ser atendido de forma inclusiva, calorosa e receptiva, prolongada por profissionais capacitados, em um espaço limpo, agradável e de fácil acesso. As informações a seguir desempenham um papel crucial na orientação de uma abordagem renovada de atendimento humanizado: ➢ Nos serviços de saúde haverá igual visibilidade aos direitos e deveres das pessoas usuárias e das pessoas que trabalham no serviço. ➢ A rede de Serviços do SUS utilizará as tecnologias disponíveis para facilitar o agendamento de procedimentos nos serviços em todos os níveis de complexidade. ➢ Os serviços de saúde serão organizados segundo a demanda da população, e não limitados por produção ou quantidades de atendimento pré-determinados. ➢ A utilização de tecnologias e procedimentos nos serviços deverá proporcionar celeridade na realização de exames e diagnósticos e na disponibilização dos resultados. 28 ➢ Haverá regulamentação do tempo de espera em filas de procedimentos. ➢ A lista de espera de média e alta complexidade deve considerar a agilidade e transparência. ➢ As medidas para garantir o atendimento incluem o cumprimento da carga horária de trabalho dos profissionais de saúde. ➢ Nas situações em que ocorrer a interrupção temporária da oferta de procedimentos como consultas e exames, os serviços devem providenciar a remarcação destes procedimentos e comunicar aos usuários. ➢ As redes de serviço do SUS devem se organizar e pactuar no território a oferta de plantão de atendimento 24 horas, inclusive nos finais de semana. ➢ Cada serviço deverá adotar medidas de manutenção permanente dos equipamentos, bens e serviços para prevenir interrupções no atendimento. ➢ É direito das pessoas, na rede de serviços da saúde, ter atendimento humanizado, acolhedor, livre de qualquer discriminação, restrição ou negação em virtude de idade, raça, cor, etnia, religião, orientação sexual, identidade de gênero, condições econômicas ou sociais, estado de saúde, de anomalia, patologia ou deficiência. IV. Direitos A carta de direitos do Ministério da Saúde tem em vista informar os direitos dos usuários do Sistema Único de Saúde, garante sua proteção e garantia: Toda pessoa deve ter seus valores, culturais e direitos respeitados na relação com os serviços de saúde. Escolha o tipo de plano de saúde que melhor lhe convier, segundo as exigências mínimas constantes da legislação e a informação pela operadora sobre a cobertura, custos e condições que está adquirindo. Sigilo e a confidencialidade de todas as informações pessoais, mesmo após a morte, salvo nos casos de risco à saúde pública. Acesso da pessoa ao conteúdo do seu prontuário ou de pessoa por ele autorizada e a garantia de envio e fornecimento de cópia, em caso de encaminhamento a outro serviço ou mudança de domicílio. Obtenção de laudo, relatório e atestado sempre que justificado por sua situação. Obtenção de laudo, relatório e atestado sempre que justificado por sua situação de saúde. Consentimento livre, voluntário e esclarecido, a quaisquer procedimentos diagnósticos, preventivos ou terapêuticos, salvo nos casos acarretem risco à saúde pública, considerando que o consentimento anteriormente dado poderá ser revogado a qualquer instante, por decisão livre e esclarecida, sem que sejam imputadas à pessoa sanções morais, financeiras ou legais. Pleno conhecimento de todo e qualquer exame de saúde admissional, periódico, de retorno ao trabalho, de mudança de função, ou demissional realizado e seus resultados. 29 A indicação de sua livre escolha, a quem confiará a tomada de decisões par a eventualidade de tornar-se incapaz de exercer sua autonomia. O recebimento ou a recusa à assistência religiosa, espiritual, psicológica e social. A liberdade, em qualquer fase do tratamento, de procurar segunda opinião ou parecer de outro profissional,ou serviço sobre seu estado de saúde, ou sobre procedimentos recomendados. A não-participação em pesquisa que envolva ou não tratamento experimental sem que tenha garantias claras de sua liberdade de escolha e, no caso de recusa em participar ou continuar na pesquisa, não poderá sofrer constrangimentos, punições ou sanções pelos serviços de saúde. O direito de se expressar e ser ouvido nas suas queixas, denúncias, necessidades, sugestões e outras manifestações por meio das ouvidorias, urnas e qualquer outro mecanismo existente, sendo sempre respeitado na privacidade, no sigilo e na confidencialidade. A participação nos processos de indicação e eleição de seus representantes nas conferências, nos conselhos de saúde e nos conselhos gestores da rede SUS (BRASIL, 2011, p.3-4). V. Corresponsabilidade Cada indivíduo possui obrigações e prerrogativas que garantem a integridade e continuidade do seu tratamento e recuperação, segundo os princípios estabelecidos na carta de direitos dos usuários da saúde: Prestar informações apropriadas nos atendimentos, nas consultas e nas internações. Expressar se compreendeu as informações e orientações recebidas e, caso ainda tenha dúvidas, solicitar esclarecimentos sobre elas. Seguir o plano de tratamento proposto pelo profissional ou pela equipe de saúde responsável pelo seu cuidado, que deve ser compreendido e aceito pela pessoa que também é responsável pelo seu tratamento. Informar ao profissional de saúde ou à equipe responsável sobre qualquer fato que ocorra em relação a sua condição de saúde. Assumir a responsabilidade formal pela recusa a procedimentos, exames ou tratamentos recomendados e pelo descumprimento das orientações do profissional ou da equipe de saúde. Contribuir para o bem-estar de todas e todos nos serviços de saúde, evitar ruídos, uso de fumo e derivados do tabaco e bebidas alcoólicas, colaborar com a segurança e a limpeza do ambiente. Adotar comportamento respeitoso e cordial com as demais pessoas que usam ou trabalham no estabelecimento de saúde. Realizar exames solicitados, buscar os resultados e apresentá-los aos profissionais dos serviços de saúde. Tem em mão seus documentos e, quando solicitados, os resultados de exames que estejam em seu poder. Adotar medidas preventivas para situações de sua vida cotidiana que coloquem em risco a sua saúde e de sua comunidade. Comunicar aos serviços de saúde, às ouvidorias ou à vigilância sanitária irregularidades relacionadas ao uso e à oferta de produtos e serviços que afetem a saúde em ambientes públicos e privados. Desenvolver hábitos, práticas e atividades que melhorem a sua saúde e qualidade de vida. 30 Comunicar à autoridade sanitária local a ocorrência de caso de doença transmissível, quando a situação requerer o isolamento ou quarentena da pessoa, ou quando a doença constar da relação do Ministério da Saúde. Não dificultar a aplicação de medidas sanitárias, bem como as ações de fiscalização sanitárias, bem como as ações de fiscalização sanitária (BRASIL, 2011, p.5-7). VI. Direito a informação Cada indivíduo possui o direito de receber informações sobre os serviços de saúde e ter acesso aos vários meios de participação disponíveis. A educação permanente em saúde e a educação permanente para o controle social devem estar incluídas em todas as instâncias do SUS, e evolver a comunidade. As unidades básicas de saúde devem constituir conselhos locais de saúde com participação da comunidade. As ouvidorias, Ministério Público, audiências públicas e outras formas institucionais de exercício da democracia garantida em lei, são espaços de participação cidadã. As instâncias de controle social e o poder público devem promover a comunicação dos aspectos positivos do SUS. Devem ser estabelecidos espações para as pessoas usuárias manifestarem suas posições favoráveis ao SUS e promovidas estratégias para defender o SUS como patrimônio brasileiro. As informações prestadas à população devem ser claras, para propiciar a compreensão por toda e qualquer pessoa. (BRASIL, 2011, p.6). Os conselhos de saúde deverão informar à população sobre: a) Formas de participação b) Composição do conselho de saúde c) Regimento interno dos conselhos d) Conferências de Saúde e) Data, local e pauta das reuniões f) Deliberações e ações desencadeadas. VII. Participação Todas as pessoas têm o direito de participar em conselhos e conferências de saúde, além do poder exigido que os gestores sigam os princípios indicados anteriormente. As conferências municipais e estaduais de saúde representam locais de participação aberta e ampla da comunidade, complementadas por conferências livres, distritais e locais, bem como plenárias de segmentos. 31 De acordo com a estrutura democrática do Brasil, qualquer indivíduo possui o direito de acompanhar os órgãos de controle social como forma de participação cidadã, observado o regulamento interno de cada instância. Os gestores do Sistema Único de Saúde (SUS), nas três esferas de governo, comprometem-se a cumprir essas diretrizes. Promover o respeito e o cumprimento desses direitos e deveres, com a adoção de medidas progressivas, para sua efetivação. Adotar as providências necessárias para subsidiar a divulgação desta Resolução, inserindo em suas ações as diretrizes relativas aos direitos e deveres das pessoas. Incentivar e implementar formas de participação dos trabalhadores e usuários nas instâncias e participação de controle social do SUS. Promover atualizações necessárias nos regimentos e estatutos dos serviços de saúde, adequando-os a esta Resolução. Aditar estratégias para o cumprimento efetivo da legislação e das normatizações do SUS. Promover melhorias contínuas, na rede SUS, como a informatização para implantar o Cartão SUS e o Prontuário Eletrônico. (BRASIL, 2011, p.7). 7 SERVIÇOS E ATENDIMENTOS DO SUS O atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS), um direito assegurado a todos os cidadãos brasileiros, segue um modelo de organização que classifica os serviços de saúde em diferentes níveis de complexidade. A ideia é que situações menos urgentes possam ser tratadas em instâncias que não exigem acesso a centros especializados de alta complexidade, o que contribui para aprimorar a eficiência e a eficácia do sistema de saúde (MATA, 2020). Dessa forma, o atendimento pelo SUS é estruturado em três níveis de atenção: ➢ Unidades Básicas de Saúde e os Postos de Saúde, que servem como uma “porta de entrada” para o sistema, oferece consultas, exames e procedimentos básicos, como curativos e imunizações. ➢ Ambulatórios, unidades de pronto atendimento e hospitais de ensino, que lidam com procedimentos de média complexidade, além de casos clínicos e agudos. ➢ Hospitais de grande porte, onde são realizadas intervenções mais invasivas e procedimentos de alto risco à vida (MATTA, 2020). 32 7.1 Estratégia Saúde da Família — ESF A Estratégia Saúde da Família (ESF) visa promover a qualidade de vida da população brasileira e intervir nos fatores que ameaçam a saúde, como inatividade física, alimentação econômica e tabagismo, entre outros. Mediante uma abordagem de atenção integral, equitativa e contínua, a ESF se consolida como a principal porta de entrada no Sistema Único de Saúde (SUS). A proximidade entre a equipe de saúde e o indivíduo permite um conhecimento mais profundo da pessoa, sua família e comunidade, o que aumenta a adesão do paciente aos tratamentos e intervenções sugeridos pela equipe de saúde. Isso, por sua vez, resulta na resolução de mais problemas de saúde na atenção primária, evita a necessidade de recorrer a serviços de mídia ou de alta complexidade, como unidades de pronto atendimento (UPA 24h) ou hospitais. A Equipe de Saúde da Família está associada à Unidade Básica de Saúde (UBS) local, com capacidade de resolver cerca de 80% dos problemas de saúde da população.No entanto, se uma pessoa necessitar de cuidados mais específicos, o ESF fará o encaminhamento adequado. Composição da ESF: A Estratégia Saúde da Família (ESF) é oferecida por uma equipe multiprofissional que inclui pelo menos um médico generalista ou especialista em saúde da família, um enfermeiro generalista ou especialista em saúde da família, um auxiliar ou técnico de enfermagem e agentes comunitários de saúde (ACS). Além disso, há uma equipe de Saúde Bucal composta por um cirurgião-dentista generalista ou especialista em saúde da família, bem como auxiliares e/ou técnicos em Saúde Bucal. A quantidade de ACS deve ser suficiente para cobrir integralmente a população cadastrada, com um limite máximo de 750 pessoas pela gente e de 12 ACS por equipe de Saúde da Família, respeita o limite recomendado de pessoas por equipe. Cada equipe de Saúde da Família é responsável por um máximo de 4.000 pessoas em uma área específica, esses indivíduos compartilham a responsabilidade pelo cuidado com sua saúde. As atividades essenciais de uma equipe de Saúde da Família incluem: 33 ➢ Conhecer a realidade das famílias sob sua responsabilidade e identificar os problemas de saúde mais comuns e situações de risco enfrentadas pela população. ➢ Executar procedimentos de vigilância à saúde e vigilância epidemiológica nas diferentes fases da vida, segundo a qualificação de cada profissional. ➢ Garantir a continuidade do tratamento, faz referência adequada quando necessário. ➢ Prestar assistência integral, atende de maneira contínua e racionalizada às demandas, promove a saúde por meio da educação sanitária. ➢ Promover ações colaborativas com organizações formais e informais na comunidade para enfrentar conjuntamente os problemas de saúde. ➢ Fomentar discussões contínuas sobre cidadania com a equipe e a comunidade, enfatiza os direitos de saúde e suas bases legais. ➢ Estimular a formação e/ou participação ativa nos conselhos locais de saúde e no Conselho Municipal de Saúde. 7.2 Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) Os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) foram estabelecidos pelo Ministério da Saúde em 2008 com o propósito de apoiar a consolidação da Atenção Primária no Brasil, expandir as opções de assistência à saúde na rede de serviços, bem como melhorar a capacidade de resolução, alcance e abordagem das disciplinas. A regulamentação desses núcleos ocorreu por meio da Portaria GM/MS n.º 635, datada de 22 de maio de 2023. Esta portaria institui incentivos financeiros federais para a implementação e manutenção das equipes Multiprofissionais na Atenção Primária à Saúde, chamadas de eMulti. As equipes eMulti consistem em profissionais de saúde de diferentes áreas de especialização que colaboram de maneira complementar e integrada com as demais equipes da Atenção Primária à Saúde — APS, assumiram responsabilidades compartilhadas em relação à população e ao território, em cooperação com outros setores e a Rede de Atenção à Saúde — RAS (BRASIL, 2023). Essa abordagem integrada viabiliza a discussão de casos clínicos, possibilita atendimentos colaborativos entre profissionais, tanto em unidades de saúde quanto 34 em visitas domiciliares, e permite uma elaboração conjunta de planos terapêuticos, o que amplia e aprimora as intervenções no território e na saúde de grupos populacionais. Essas ações de saúde também podem envolver a cooperação com outros setores, com ênfase especial na prevenção e promoção da saúde. 7.3 Programa Nacional de Imunização — PNI O Programa Nacional de Imunizações (PNI) tem evoluído progressivamente ao longo dos anos, melhorou a qualidade de vida da população por meio da prevenção de doenças. O Calendário Nacional de Vacinação do Brasil, semelhante aos países desenvolvidos, abrange não apenas crianças, mas também adolescentes, adultos, idosos, gestantes e povos indígenas. Em sua rotina de imunização, são disponibilizadas 19 vacinas que iniciam a proteção desde o nascimento, estende-se ao longo da vida (BRASIL, 2020). O PNI foi elaborado em 1973 por iniciativa do Ministério da Saúde, com o propósito de coordenar as ações de imunização que foram anteriormente descritas pela descontinuidade, natureza episódica e cobertura limitada. A concepção do Programa, elaborado por especialistas do Departamento Nacional de Profilaxia e Controle de Doenças do Ministério da Saúde e da Central de Medicamentos (CEME — Presidência da República), foi aprovada em reunião realizada em Brasília em 18 de setembro de 1973, com a participação de renomados profissionais da saúde e infectologistas, além de representantes de diversas instituições (BRASIL, 2020). O PNI do Brasil é um dos maiores do mundo, oferece 45 imunobiológicos diferentes para todas as faixas etárias da população. Campanhas anuais de atualização da caderneta de vacinação são realizadas (BRASIL, 2020). As vacinas são seguras e estimulam o sistema imunológico e protegem contra doenças infecciosas. Quando utilizados como estratégia de saúde pública, são considerados um dos melhores investimentos em saúde, devido ao seu custo- benefício. A bem-sucedida Campanha de Vacinação contra a varíola na década de 1960 declarou que a vacinação em massa pode erradicar doenças. O último caso de varíola registrado no Brasil foi em 1971, e no mundo, em 1977, na Somália (BRASIL, 2018). 35 Em 1975, o PNI foi institucionalizado, consolidado a utilização de imunizantes no país. Este plano passou a coordenar as atividades de imunização realizadas rotineiramente na rede de serviços e elaborou diretrizes baseadas na experiência da Fundação de Serviços de Saúde Pública (FSESP), que oferece serviços abrangentes de saúde por meio de sua própria rede. A legislação específica sobre imunizações e vigilância epidemiológica (Lei 6.259 de 30/10/1975 e Decreto 78.231 de 30/12/76) destacou as atividades permanentes de vacinação e fortaleceu institucionalmente o Programa (BRASIL, 2020). A partir de 1980, após a erradicação da varíola, iniciou-se a 1ª Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite, para vacinar todas as crianças menores de 5 anos em um único dia. O último caso de poliomielite no Brasil ocorreu na Paraíba em março de 1989, conforme o Ministério da Saúde (2018). Em setembro de 1994, o Brasil e os países das Américas receberam o certificado da Comissão Internacional para a Certificação da Ausência de Circulação Autóctone do Poliovírus Selvagem nas Américas, atestaram a eliminação da doença e do vírus no continente. De 1990 a 2003, o PNI fez parte da Fundação Nacional de Saúde. A partir de 2003, passou a fazer parte da DEVEP/SVS — Secretaria de Vigilância em Saúde, integrada na Coordenação Geral do Programa Nacional de Imunizações (CGPNI). Ao longo do tempo, o PNI alcançou avanços importantes na consolidação da estratégia de vacinação nacional. As metas atuais incluem a eliminação do sarampo e do tétano neonatal, além do controle de outras doenças imunopreveníveis, como difteria, coqueluche, tétano acidental, hepatite B, meningite, febre-amarela, formas graves da tuberculose, rubéola e caxumba em alguns estados. O PNI adquire, distribui e estabelece diretrizes para o uso de imunobiológicos especiais destinados a situações e grupos populacionais específicos, atendidos nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE). A cooperação também é responsável pela implantação do Sistema de Informação e pela consolidação dos dados de cobertura vacinal em todo o país (BRASIL, 2020). O objetivo principal do Programa é oferecer vacinas de qualidade a todas as crianças nascidas anualmente no país, busca alcançar coberturas vacinais de 100% de forma subterrânea em todos os municípios e bairros. Atualmente, o PNI faz parte do programa da Organização Mundial da Saúde, com apoio técnico, operacional e 36 financeiro daUNICEF, além de contribuições do Rotary Internacional e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Dentre os desafios enfrentados pelo SUS, destaca-se a falta de preparação dos profissionais de saúde para adotar uma abordagem integral no atendimento, considerar a pessoa na totalidade, abranger aspectos emocionais, sociais e biológicos. Muitas vezes, os pacientes são atendidos sem que haja um olhar gentil por parte dos profissionais. Isso levanta a questão de como é possível estabelecer um vínculo quando o paciente não se sente realmente visto. Por outro lado, alguns profissionais tendem a focar apenas nos aspectos sociais e psicológicos, desconsidera a presença de doenças biológicas. Encontrar um equilíbrio entre essas duas perspectivas é um desafio significativo, mas factível. Para garantir que uma população seja reconhecida e valorizada como parte ativa do processo de saúde-doença, é necessário promover uma maior corresponsabilidade entre gestores, profissionais de saúde e a comunidade. Além disso, é fundamental consideração e respeito à diversidade cultural do Brasil, entre outras medidas. Nesse contexto, a Política Nacional de Humanização (PNH) foi desenvolvida não apenas para transformar a interação entre profissionais de saúde e a população, mas também para promover uma abordagem humanizada entre os próprios profissionais e serviços de saúde. A humanização deve ser um elemento presente em toda a Rede de Atenção à Saúde (RAS), desde a gestão dos serviços até as situações de cuidado prestado à população. Para esse objetivo, as diretrizes específicas da PNH são: ➢ Clínica ampliada: uma estratégia de cuidado que foca a participação de profissionais de diferentes áreas, colabora para a construção de uma assistência integral, incorpora perspectivas e conhecimentos de diversas profissões. ➢ Cogestão: envolve uma maior participação de trabalhadores e usuários nos processos de gestão dos serviços de saúde, com tomada de decisões compartilhadas, em vez de se concentrar apenas na figura do gestor ou gerente. 37 ➢ Acolhimento: a prática da escuta ativa, alinhada com as diretrizes da PNAB (Política Nacional de Atenção Básica). ➢ Valorização do trabalho e do trabalhador da saúde. ➢ Promoção de grupos, coletivos e redes, incentiva a construção coletiva da saúde e fortalece tanto as redes informais de apoio à comunidade quanto as redes formais já existentes. 7.4 Humaniza SUS A Política Nacional de Humanização (PNH), uma política abrangente do Sistema Único de Saúde (SUS) que abrange diversas ações, políticas públicas e órgãos gestores, foi estabelecida em 2003 com o objetivo de efetivar os princípios do SUS nas práticas de atenção e gestão, melhora assim a qualidade da saúde pública no Brasil. A PNH está ligada à Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde (SAS) e dispõe de uma equipe técnica baseada em Brasília (DF), que oferece suporte técnico para as áreas locais por meio das Secretarias Estaduais de Saúde, auxilia na implementação dos projetos da PNH. Esses projetos incluem a análise de desafios e problemas, para promover mudanças no modelo de atenção e gestão, sempre focar nas necessidades dos cidadãos, na produção de saúde e nos processos de trabalho em saúde. Isso envolve uma valorização dos profissionais de saúde e das relações sociais no ambiente de trabalho. A PNH enfatiza a valorização de todos os envolvidos no processo de produção de saúde, inclui usuários, profissionais de saúde e gestores. Promover a autonomia e o protagonismo desses atores e grupos, busca aumentar a corresponsabilidade, humanizar a gestão e envolver os trabalhadores nos processos de tomada de decisão. Além disso, a PNH incentiva o estabelecimento de vínculos solidários na produção de saúde em rede. Estrutura da PNH: ➢ Princípios ➢ Método 38 ➢ Diretrizes ➢ Dispositivos Princípios: ➢ Transversalidade: A Política Nacional de Humanização (PNH) deve se fazer presente e estar inserida em todas as políticas e programas do SUS. A PNH transformará as relações de trabalho a partir da ampliação do grau de contato e da comunicação entre as pessoas e grupos, tiran-os do isolamento e das relações de poder hierarquizadas. Transversalizar é reconhecer que as diferentes especialidades e práticas de saúde estão conectadas na produção do cuidado e podem conversar com a experiência daquele que é assistido. Juntos, esses saberes podem produzir saúde de forma corresponsável. A política é transversal porque se baseia em método e modo de fazer, assume uma função meio para qualificação do SUS. Desta forma, se aplica às demais políticas, práticas e espaços do SUS, uma vez que não se identifica especificamente a nenhum objeto em si e sim a todo o SUS. ➢ Indissociabilidade entre atenção e gestão: As decisões da gestão interferem diretamente na atenção à saúde. Por isso, trabalhadores e usuários devem buscar conhecer como funciona a gestão dos serviços e da rede de saúde, assim como participar ativamente do processo de tomada de decisão nas organizações de saúde e nas ações de saúde coletiva. Ao mesmo tempo, o cuidado e a assistência em saúde não se restringem às responsabilidades da equipe de saúde. O usuário e sua rede sócio familiar devem também corresponsabilizar-se pelo cuidado de si nos tratamentos, assumir posição protagonista com relação a sua saúde e a daqueles que lhes são caros. A gestão precisa estar em sintonia e coerência com a atenção, assim como a atenção necessita corresponder na prática à proposta da gestão. De certa forma, além da corresponsabilização implicada na prática de processos cogeridos, todos devem fazer gestão de sua própria prática. ➢ Protagonismo, corresponsabilidade e autonomia dos sujeitos e dos coletivos: qualquer mudança na gestão e atenção é mais concreta se construída com a vontade das pessoas envolvidas, as quais compartilham 39 responsabilidades. Os usuários dos serviços de saúde não são só pacientes, os trabalhadores não só cumprem ordens: as mudanças acontecem com o reconhecimento das diversas faces do papel de cada um. Um SUS humanizado reconhece cada pessoa como legítima cidadã de direitos e valoriza e incentiva sua atuação na produção de saúde. 7.5 Serviço de atenção domiciliar — melhor em casa A atenção domiciliar (AD) constitui uma modalidade de assistência à saúde prestada no próprio domicílio do paciente, caracterizada por um conjunto de intervenções que engloba promoção da saúde, prevenção de doenças, tratamento e reabilitação. Essa forma de atendimento garante a continuidade dos cuidados de saúde e está integrada à Rede de Atenção à Saúde. No âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), a AD é oferecida conforme a necessidade de cada paciente e envolve diferentes equipes de profissionais de saúde. O serviço conhecido como “Melhor em Casa” destina-se a indivíduos que enfrentam dificuldades temporárias ou permanentes para deslocar-se até uma unidade de saúde, bem como aqueles que se encontram em situações em que a atenção domiciliar é a opção mais adequada para o seu tratamento. A atenção domiciliar procura proporcionar aos pacientes um cuidado que se aproxime da rotina familiar, reduzir hospitalizações ocasionais, minimizar riscos de infecções e permitir que o paciente permaneça no conforto de sua residência. Para casos que exigem visitas regulares, equipes específicas de atenção domiciliar, como os integrantes do Programa “Melhor em Casa”, são designadas para prestar assistência. Essas equipes são multidisciplinares e, em sua maioria, compostas por médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e profissionais de fisioterapia ou assistentes sociais. Benefícios do melhor em casa ➢ Aprimorar e ampliar os serviços de assistência do Sistema Único de Saúde (SUS) destinados a pacientes com problemas de saúde,
Compartilhar