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1 INTRODUÇÃO A PRÁTICA EM PERÍCIA GRAFOTÉCNICA 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia-se com a ideia visionária e da realização do sonho de um grupo de empresários na busca de atender à crescente demanda de cursos de Graduação e Pós Graduação. E assim foi criado o Instituto, como uma entidade capaz de oferecer serviços educacionais em nível superior. O Instituto tem como objetivo formar cidadão nas diferentes áreas de co- nhecimento, aptos para a inserção em diversos setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e assim, colaborar na sua formação continuada. Também promover a divulgação de conhecimentos científicos, técnicos e culturais, que constituem patrimônio da humanidade, transmitindo e propagando os saberes através do ensino, utilizando-se de publi- cações e/ou outras normas de comunicação. Tem como missão oferecer qualidade de ensino, conhecimento e cultura, de forma confiável e eficiente, para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética, primando sempre pela inovação tecnológica, ex- celência no atendimento e valor do serviço oferecido. E dessa forma, conquistar o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos de quali- dade. 3 SUMÁRIO NOSSA HISTÓRIA ............................................................................................. 2 1.CONCEITOS IMPORTANTES ........................................................................ 4 2.A PERÍCIA GRAFOTÉCNICA ......................................................................... 5 3.DESLINDE PERICIAL ..................................................................................... 7 4.PERÍCIA GRAFOTÉCNICA ........................................................................... 14 4.1.Qualidade do Traçado ................................................................................ 15 4.2.Elementos de Ordem Geral ........................................................................ 16 4.3.Elementos de Natureza Genética ............................................................... 17 5.PEÇAS PADRÃO E QUESTIONADA ............................................................ 18 6.FRAUDE DOCUMENTAL.............................................................................. 19 7.AS AUTENTICIDADES ................................................................................. 24 8.MÉTODOS GRAFOSCÓPICOS .................................................................... 25 8.1.Método Morfológico .................................................................................... 26 8.2.Método Grafológico .................................................................................... 26 8.3.Método Grafométrico .................................................................................. 27 8.4.Método Sinalético ....................................................................................... 27 8.5.Método Grafocinético ................................................................................. 27 8.6.Pontos Importantes .................................................................................... 28 9.AS LEIS DA ESCRITA .................................................................................. 29 9.1.1ª Lei Da Escrita ......................................................................................... 29 9.2.2ª Lei Da Escrita ......................................................................................... 31 9.3.3ª Lei Da Escrita ......................................................................................... 32 9.4.4ª Lei Da Escrita ......................................................................................... 32 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 34 4 (Fonte: Google) 1. CONCEITOS IMPORTANTES O conceito tradicional de Grafoscopia está relacionado aos estudos criminalísticos. Como finalidade da disciplina, tem-se a verificação da autenticidade ou falsidade documental, bem como, a determinação de sua autoria. O conceito de Grafoscopia, segundo Gomide, “é a disciplina que tem por finalidade determinar a origem do documento gráfico”. Este, por sua vez, é o objeto da disciplina, devendo ser verificada a autoria ou a existência de suposta fraude. Ademais, para Gomide, documento “é o suporte que contém um registro gráfico”. Alguns suportes utilizados são: papéis, pergaminhos, tecidos, plásticos, entre outros materiais. Isto é, objetos, ou superfícies, utilizados para a fixação de inscrições. Quanto aos registros gráficos, o que se destaca é a escrita, sendo a mais importante e conceituada pelo respeitável Gomide. Além disso, afirma que os registro gráficos devem conter um mínimo de elementos técnicos para a determinação de sua autoria. A escrita pode ser direta ou indireta, conforme seu tipo de formação: 5 ➢ Diretas, ou grafismos, são as provenientes diretamente do homem através do ato de escrever; e ➢ Indiretas, ou impressões, são aquelas produzidas através de processos artificiais. Quanto aos tipos de grafismos, têm-se: ➢ Rubricas; ➢ Assinaturas; ➢ Escritas cursivas; ➢ Escritas em letras de forma; ➢ Pictografias; e ➢ Criptografias. Assim, com os conceitos básicos em mente, começaremos o estudo da grafoscopia. 2. A PERÍCIA GRAFOTÉCNICA 6 (Fonte: Google) O Laudo deverá ser entregue no prazo fixado pelo juiz, com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência à data da audiência de instrução e julgamento (art. 477, CPC). Havendo justo motivo, o perito poderá requerer ao juíz, uma única vez, a prorrogação do prazo para entrega do laudo, o que não excederá a metade do prazo originariamente assinado (art. 476, CPC).Um dos principais objetivos que norteiam o trabalho pericial é encontrar “respostas conclusivas” para os quesitos formulados pelas partes, pelo juiz e pelo Ministério Público. Naturalmente, ao iniciar seus trabalhos o expert se debruça sobre o o objeto da perícia almejando responder tudo o que lhe foi indagado. Para que a perícia atinja sua finalidade de levar aos autos do processo todos os esclarecimentos necessários à compreensão da matéria, viabilizando a valoração da respectiva prova, todas as regras que disciplinam a forma do ato devem ser escrupulosamente observadas, sob pena do trabalho pericial e respectivo laudo serem considerados insuficientes e lacônicos, acarretando a inviabilidade. Na visão dos autores Luiz Roberto Ferreira Falat e Hildebrando Magno Rebello Filho: No momento em que temos contato com a grafoscopia, e por consequente com o Laudo pericial grafotécnico, é que se tem noção da profundidade e complexidade envolvidas no assunto em lide (FALAT E REBELLO FILHO 2003 A 2012:Introdução) Na visão do autor André Luís Pinheiro Monteiro, cada perito estabelece sua metodologia de trabalho, optando livremente por qual ferramenta técnico- científica (gênese gráfica, dinâmica, espontaneidade e aspectos secundários), primeiramente, irá empregar vez que o produto final deverá estar traduzido tecnicamente de forma clara, concisa e objetiva – o laudo grafotécnico (MONTEIRO, 2008: Sinopse). Na visão do autor Gleibe Pretti o Perito Grafotécnico para efetuar o seu minucioso trabalho para afirmar a autoria e / ou autenticidade ou a falsidade de lançamentos gráficos questionados, através de exame e análise para a produ- ção do laudo, ou mesmo de um parecer, deve respeitar quatro critérios muito https://www.jusbrasil.com.br/topicos/28892125/artigo-477-da-lei-n-13105-de-16-de-marco-de-2015https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/174788361/lei-13105-15 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/28892127/artigo-476-da-lei-n-13105-de-16-de-marco-de-2015 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/174788361/lei-13105-15 7 importantes como: adequabilidade, contemporaneidade, quantidade e autenti- cidade (Pretti, 2017:35). Ao comparar as citações e possível perceber que se completam e con- vergem entre si, assim ainda mais conceituando o trabalho pericial grafotéc- nico. 3. DESLINDE PERICIAL “A conclusão de uma perícia grafotécnica é o resultado final de um trabalho investigativo intenso durante e marcha do trabalho. Sendo a resposta para indagações propostas, é o item mais importante de todo o trabalho. Nesta etapa do trabalho o perito informará o resultado de todo trabalho investigativo. Para isso, é fundamental a utilização de palavras ou expressões que necessariamente traduzam a opinião final do perito. Cuidados deverão ser dispensados no sentido de não se empregarem palavras, expressões, terminologias que sugiram dúbio entendimento, ou mesmo que venham a modificar o entendimento que o perito tinha proposto como parecer final. Portanto, no momento da descrição da conclusão, o perito deve utilizar- se de um texto límpido, conciso e que exprima na medida certa o resultado das observações durante o trabalho pericial. Tendo em vista o grau de importância, este item deverá estar separado do anterior, utilizando-se de fontes que destaquem o seu enunciado. A conclusão poderá ainda ser expressa apenas diante das respostas aos quesitos formulados pelas partes envolvidas, fato que dispensaria a apresentação de item específico no corpo do trabalho” (FALAT E REBELLO FILHO 2003 A 2012:63 a 64). “Lembramos que a peça objeto de questionamento constitui na verdade a parte principal de um processo, portanto o examinador deve observar em 8 suas perquirições a todo o documento, assim como registrar os pontos de relevância que individualizam os escritos. Fica claro que no trabalho pericial deverá sempre se utilizar do original do documento posto que fotocópia não goza da certeza de autenticidade, podendo ser contaminada de vícios, trazendo, destarte, total insegurança ao examinador e mesmo porque nada substitui o que foi feito primeiramente. Caso o examinador durante a pesquisa considerar que a produção se fez acompanhar dos requisitos reclamados em Leis e se dispuser a confeccionar o Laudo, mesmo com os inconvenientes citados para a realização de uma perícia deve fazer constar do corpo do seu trabalho ressalva de uma eventual mudança de posicionamento à vista, no futuro, de originais e salvaguardar sua responsabilidade em razão desse novo fato. Tenha sempre em mente que a cautela é um apoderosa arma que o perito tem a sua disposição e não pode descuidar-se disso. Caso o perito sinta necessidade já nos exames preliminares de requerer a presença em Juízo de qualquer das partes para a coleta de material gráfico e outros que possam trazer esclarecimnetos sobre determinados pontos que trouxeram dúvida, deverá ser feito tão logo marcado o início da perícia. Durante a coleta de material não deve ser mostrada a peça objeto de questionamneto, tampouco fornecer textos prontos para serem copiados. O perito deve ditar o texto contendo dizeres constantes da peça do exame manuscrita ou mecânica e mais, na coleta de assinatura o suspeito deverá grafar seus espécimes no mínimo dez vezes, para tanto ficará este completamente à vontade, a fim de que transmita seu grafismo com naturalidade e sem qualquer tipo de pressão. O perito deve estar ciente de suas obrigações e que o Juiz em hipótese alguma ficará dependente do seu trabalho, podendo sim aceitá-lo ou rejeitá-lo, por conseguinte não poderá afastar-se da materialização da verdade. 9 Assim, sua exposição no corpo do Laudo tem de ser clara, objetiva, precisa e concisa, quanto aos elementos convergentes e divergentes, bem como discorrer de forma consubstanciada e esclarecedora os quesitos formalizados pelas partes. Tenha sempre em mira que o perito não pode ficar atrelado à exigüidade de tempo na solução de um problema e ser humilde em reconhecer suas limitações, como também não existe a obrigatoriedade de conclusão, sem deixar, contudo, de justificar tecnicamente tal impossibilidade“ (MONTEIRO, 2008: 137 a 138). “Seguindo os preceitos mencionados, o perito grafotécnico não se atentará simplemente a morfologia / forma; ele atentará, sobretudo, à mofodinâmica. O objetivo da comparação não é só e nem principalmente a forma, mas sim os movimentos, o dinamismo e as forças utilizados no gesto de escrever, os hábitos da escritae a aavaliação do significado das respectivas semelhanças, variações ou diferenças, para identificação da autoria. Quando se inicia o aprendizado da escrita, o escritor aprendiz pe exercitado para reproduzir forma caligrafica usual. Mas, com o decorrer do tempo e com a prática, aquele modelo escolar primário, vai se alterando, devido a outros fatores, como educação, treino, gosto pessoal, floreios, habilidade artística, tônus muscular, maneirismos etc. Essas alterações acabam cristalizando na medida em que o a escrita vai se tornando um hábito automático” (Pretti, 2017:34 a 35). “A Documentoscopia, por estar inserida no âmbito forense, exige que seu objeto de estudo se conceitue por meio da legislação e da doutrina jurídica brasileira. A Lei Federal nº 12.527 de 18 de novembro de 2011, que regula o acesso a informações, no inciso II do artigo 4º, define documento como “unidade de registro de informações, qualquer que seja o suporte ou formato”. Perceba-se o grande alcance que tem tal concepção, posto que não restringe o suporte nem o recurso utilizado para o registro da informação. De Plácido e Silva (1998) segue o mesmo entendimento amplo, quando diz que “o https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1029987/lei-12527-11 10 documento é uma representação material destinada a reproduzir, com idoneidade, uma certa manifestação do pensamento”. O Processo Civil brasileiro guia-se pela mesma trilha da abrangência e considera documento “toda coisa capaz de representar um fato” (MARINONI; ARENHART, 2005). Em vista disso, entram no rol dos documentos papéis, tatuagens, sinais esculpidos em uma lápide, fotografias, desde que possam provar fatos (SILVA; FEUERHARMEL, 2013). O Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística (BRASIL, 2005) classifica os objetos de estudo em discussão por gêneros. Citam-se alguns: a) textual: documentos manuscritos, datilografados ou impressos, como atas de reunião, cartas, decretos, livros de registro, panfletos e relatórios; b) pessoal: documento que serve à identificação de uma pessoa, como cédula de identidade, CPF, CNH, passaporte; c) audiovisual: documentos que contêm imagens, fixas ou em movimento, e registros sonoros, como vídeos; d) digital/eletrônico: documento codificado em dígitos binários, acessível somente por equipamentos eletrônicos, como arquivos de computador contendo textos, sons, imagens ou instruções (ICP OAB, 2014); e) oficial: emanado do poder público ou de entidades de direito privado capaz de produzir efeitos de ordem jurídica na comprovação de um fato, como ofício e memorando. De outro modo, na esfera penal é adotada a concepção restritiva. O artigo 232 do Código de Processo Penal conceitua documentos por “quaisquer escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares”. De tal definição surge a necessidade de esclarecimento quanto aos termos apresentados, trazido por Nucci (2013): a) escrito: papel ou outra base material que contenha a representaçãode palavras ou ideias por meio de sinais, desde que constitua fato juridicamente relevante; https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1028351/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41 11 b) instrumento: documento pré-constituído para formação de prova, como recibos, procurações; c) papel: termo residual, ou melhor, as demais manifestações de pensamento, ideias ou fatos diversos da escrita, tal como fotografias, que são imagens registradas em papel. O autor também expõe a classificação quanto à origem. O documento pode ser público, quando produzido por funcionário público, no exercício de suas funções, possuindo maior credibilidade (certidões, atestados), ou privado, quando constituído por particular, sem qualquer intervenção do Estado. Na percepção da Documentoscopia, qualquer estrutura pode ser suporte para lançamentos gráficos que transmitam ideias ou indiquem a existência de fatos, ainda que a maioria dos documentos se manifeste em papéis escritos ou impressos. Essa disciplina não abriga em si conflito no conceito de documento. Faz uso do entendimento amplo e se mantém independente frente ao Direito Penal (SILVA; FEUERHARMEL, 2013). As legislações de todos os países concordam na presunção da veracidade dos documentos desde que não seja demonstrada sua falsidade (CASTRO; MIRANDA, 1917 apud MARINONI; ARENHART, 2005). Segundo o artigo 427, parágrafo único do Código de Processo Civil (CPC), a falsidade consiste em formar documento não verdadeiro ou alterar documento verdadeiro. Tendo em vista que os documentos compõem-se de dois elementos, conteúdo e suporte, a falsidade tem lugar quando se forma ou altera um ou outro. Quanto à falsidade do conteúdo, “caracteriza-se como alteração documental toda modificação estrutural, seja por meio de supressão, acréscimo ou substituição de parte ou do todo dos dizeres de um determinado documento”. As modificações por supressão se dão, por exemplo, por rasura, raspagem, lavagem química, entre outros. Por sua vez, os acréscimos se realizam por retoque, emenda, intervocabulação, interlineação (ACADEMIA DE POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS, 2006). Caso a autenticidade de um documento seja contestada, a questão deve ser resolvida por meio de exame pericial (LESSA, 2010). A perícia é admissível https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/174788361/lei-13105-15 12 quando o esclarecimento de questões técnicas depender de conhecimento especial que extrapole os conhecimentos que se possam exigir do julgador (MARINONI; ARENHART, 2005). Ainda que no ordenamento jurídico brasileiro não haja hierarquia de provas, cabe ressaltar que a prova pericial tem certa prevalência sobre outras provas, tais como documental, testemunhal, depoimento pessoal. Tal prioridade se justifica pelo fato de a prova pericial ser produzida a partir de fundamentação científica e, à vista disso, não depender de interpretações subjetivas (PINHEIRO, 2010). Consoante o Princípio do Livre Convencimento Motivado, do qual dispõem os artigos 298 e 371 do CPC, o juiz aprecia livremente a prova e não está adstrito ao laudo pericial, podendo formar a sua convicção com outros elementos ou fatos provados no processo, desde que apresente embasamento. Com o intuito de impedir ou ao menos dificultar a falsificação, são incorporados aos documentos elementos de segurança, que protejam seu valor e possam auxiliar na determinação de sua autenticidade. Essa categoria designa-se por documentos de segurança e tem como exemplos passaporte, carteira de identidade, carteira de motorista, bilhetes de loteria, cédulas de dinheiro, cheques, selos, certidões de nascimento e de óbito, diploma (UNODC, 2010). É comum que o nível de segurança associado acompanhe o valor, monetário ou legal, inerente ao documento (LIMA, 2013). Essa situação se manifesta nas cédulas de maior valor, que apresentam elementos de segurança em maior número e de mais alto grau de sofisticação, o que garante que sejam mais difíceis de reproduzir. Outros fatores determinam quais e quantos elementos devem ser inseridos como, por exemplo, função do documento, frequência com que será utilizado, forma pela qual será armazenado e portado, expectativa de vida útil, entre outros (SILVA; FEUERHARMEL, 2013). Os elementos de segurança devem ser suficientemente aparentes para que os oficiais competentes possam examinar os documentos por inspeção visual e tátil ou por meio de equipamentos simples e, desse modo, detectar fraudes menos elaboradas. Se, diante de suspeitas remanescentes, uma análise mais rigorosa se fizer necessária, esta será https://www.jusbrasil.com.br/topicos/28895414/artigo-131-da-lei-n-13105-de-16-de-marco-de-2015 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/174788361/lei-13105-15 13 realizada por instrumentação mais complexa de atribuição dos especialistas em Documentoscopia (UNODC, 2011). Nesse sentido, os elementos de segurança são classificados em três níveis conforme a técnica empregada para seu reconhecimento (ABNT NBR 15368:2006). Os elementos de segurança de primeiro nível são aqueles de segurança aberta, que exigem apenas análise visual e tátil, de fácil verificação pelo público leigo, como a marca d’água e as impressões em alto relevo. Os elementos de segundo nível são os de segurança semiaberta, que podem ser identificados por pessoal treinado com o uso de equipamentos simples (lâmpadas de radiação ultravioleta e lentes de aumento). São exemplos as fibras fluorescentes e as microimpressões. Por fim, os elementos de terceiro nível são os de segurança fechada, que requerem treinamento específico e uso de equipamentos de laboratório. Ilustram o último nível os marcadores físicos e químicos (LIMA, 2013; SILVA; FEUERHARMEL, 2013). Definido o objeto, passa-se a conceituar a disciplina que o estuda. Del Picchia Filho e Del Picchia (1976) definem Documentoscopia como “a disciplina relativa à aplicação prática e metódica dos conhecimentos científicos, objetivando verificar a autenticidade ou determinar a autoria dos documentos”. Note-se sua unicidade, quando comparada a outras disciplinas que estudam o mesmo assunto, em não se contentar com a prova da falsidade de um documento, mas ir além e buscar determinar quem o produziu e quais foram os meios para tanto. Ostenta, assim, essência nitidamente investigativa (ROMÃO et al., 2011). Três subáreas compõem a Documentoscopia, quais sejam, Grafoscopia, Mecanografia e Exames de Autenticidade Documental. A primeira dedica-se exclusivamente à escrita resultante direta do gesto executado pelo homem, que se denomina por grafismo (DEL PICCHIA FILHO; DEL PICCHIA, 1976). Trata dos exames de autenticidade gráfica, quando o autor dos lançamentos gráficos é quem deveria ser, e dos exames de autoria gráfica, quando quem produziu o grafismo difere do suposto autor. A segunda subárea encarrega-se dos exames em documentos impressos por máquina de escrever, impressoras, fax, ou carimbo com o intuito de identificar ou, ao menos, eliminar determinado 14 equipamento de impressão. Na terceira, mais abrangente, incluem-se os exames em documentos de segurança e também em documentos sem elementos de segurança. Aqui, têm lugar as análises de documentos contrafeitos ou falsos – reproduzidos sem autorização – e de documentos alterados ou falsificados – resultantes de modificações em documentos autênticos (SILVA; FEUERHARMEL, 2013). Frise-se que os primeiros são falsos em sua totalidade, enquanto os últimos apresentam falsidade parcial. É nesse contexto que exames de cruzamento de traços, lavagem química e datação de tintas tomam forma”(FERREIRA, 2017: Site Pesquisa Internet). “Falsificaçãopor Imitação Servil: Diante do fato que neste tipo de falsificação são utilizados padrões à vista do escritor e da possibilidade de se exercitar através dos grafismos, dependendo da habilidade do autor da contrafação, a percepção deste tipo de fraude pode tornar-se difícil, exigindo da pessoa que efetua o cotejo gráfico, a utilização das técnicas inseridas neste conteúdo” (FALAT E REBELLO FILHO 2003 A 2012:124 e 125). “Nesta modalidade de falsificação a verdade vem à tona através do exame minucioso dos gramas. A pressa aplicada no cotejo das assinaturas poderá induzir o conferente ao erro em decorrência dos aspecto formal apresentar similitude” (MONTEIRO, 2008: 46). 4. PERÍCIA GRAFOTÉCNICA “O grafismo é individual e inconfundível. Este é o princípio fundamental, presidindo a todos os trabalhos grafotécnicos” (DEL PICCHIA, 2005). Na definição de Mendes (2010) a escrita é um gesto gráfico psicossomático, que inclui elementos que individualizam o punho escritor, pois é a expressão muscular do centro nervoso do cérebro. A principal base do exame grafotécnico é a qualidade do traçado e os elementos objetivos da escrita, que foram divididos em: de ordem geral e natureza genética (TELLES, 2010). 15 4.1. Qualidade do Traçado O traçado é um conjunto de traços que formam uma escrita, sendo resultante de duas forças, vertical e lateral. A força vertical é a pressão do instrumento escrevente, e a força lateral é a velocidade do movimento no suporte. Portanto o traçado é o registro do movimento que forma um lançamento gráfico, ele não pode ser medido, mas é avaliado de acordo com o seu aspecto, se o mesmo é espontâneo ou artificial. Um traçado espontâneo é lançado naturalmente, é escorreito e pode apresentar espessura variável, pois o traçado não possui a mesma espessura ao longo do desenvolvimento, ele varia em traços finos e grossos. Já o traçado artificial, apresenta trêmulos, morosidade, paradas anormais do instrumento escrevente, indecisão (D’ÁLMEIDA, 2015). Figura: assinatura lançada com espontaneidade. Fonte: FALAT (2013) 16 Figura: assinatura com alterações na espontaneidade, conforme apontadas. Fonte: FALLAT (2013) 4.2. Elementos de Ordem Geral Nos elementos de ordem geral do grafismo temos os subjetivos e objetivos. Os elementos subjetivos são aqueles no qual não é possível demonstra-los concretamente, embora eles sejam sentidos pelo examinador. Os elementos mais apontados pelos especialistas são: ritmo da escrita, velocidade, habilidade do punho e dinamismo gráfico (MENDES, 2010). Os elementos objetivos do grafismo, ao contrário dos subjetivos, podem ser medidos, analisados e ilustrados. São elementos objetivos: calibre, inclinação axial, espaçamentos gráficos, andamento gráfico, alinhamentos gráficos, valores angulares e curvilíneos. Segundo Mendes (2010), os elementos objetivos não são identificadores, embora possa revelar hábitos inconscientes do escritor, que o falsário não reproduz nas falsificações. 17 Figura: elementos de ordem geral objetivos do grafismo. Fonte: MENDES (2010) 4.3. Elementos de Natureza Genética De acordo com D’Almeida (2015) os elementos de natureza genética são de elevada importância para à análise da escrita, pois eles que estabelecem a conclusão da perícia, seja de uma autenticidade ou falsidade gráfica. Esses elementos são formados por aspectos dinâmicos da escrita, e responsáveis pela forma durante a construção do traço, registrando elementos específicos de cada punho escritor. Cada punho tem as suas características gráficas produzidas por 18 impulsos cerebrais. Esses elementos são representados por ataques, remates, ligações, traços e maneirismos gráficos. Ao periciar a grafia, o perito deve, principalmente, atentar-se à formação dos pontos de ataques e remates dos traços, aos efeitos dos traços ornamentais, às construções das letras maiúsculas e minúsculas, às construções das letras que possuem formato em lançadas (como: “l”, “g”) ou em hastes (como: “h”, “t”), às ligações entre as letras, aos movimentos curvos ou de vai e vem reto, provocando acúmulo de tinta, e aos maneirismos, como, a forma de pingar a letra “i”, as alturas e posições das letras, os traços e pontos, a presenças de pontos finais, a angulação dos traços, entre outros (D’ÁLMEIDA, 2015). 5. PEÇAS PADRÃO E QUESTIONADA De acordo com Monteiro (2008) a peça padrão consiste em assinaturas autênticas em documentos que indicam credibilidade, por exemplo, cédulas de identidade, para que o examinador possa utilizá-la como base de comparação. É recomendado dispor do maior número possível de padrões, sendo necessário no mínimo três padrões, para identificar elementos da grafia que se repetem ou não na peça questionada. Gomide (2000) ressalta os requisitos são importantes nos padrões de confronto. A autenticidade, requisito essencial para o exame, a adequabilidade, como a qualidade do papel e a utilização do mesmo instrumento escrevente, a contemporaneidade, procurando não exceder o prazo de dois anos da peça questionada, e a quantidade, quanto maior o número de padrões melhor para a perícia. Quanto à peça questionada, trata-se do grafismo colocado sob suspeita, que deverá ser periciado, para determinar sua autenticidade ou não (MONTEIRO, 2008). 19 6. FRAUDE DOCUMENTAL No entender do professor Gomide (2000) as fraudes documentais em escritas ocorrem indevidamente, durante ou após a escrita, e são classificadas de acordo com o procedimento utilizado pelo falsário. Revisaremos os processos de falsificações em escritas, evidenciando as suas principais características. ✓ Falsificação sem Imitação Segundo Falat (2003) a falsificação sem imitação ocorre nos casos em que a vítima perde ou tem o seu talão de cheques furtado. Dessa forma o falsário só possui o nome da vítima contido no documento, sem um padrão de assinatura para se basear. Desconhecendo os padrões gráficos da vítima, o falsário escreve o nome do proprietário do documento com o seu próprio grafismo. Esse tipo de falsificação é facilmente identificado. Com uma simples visualização será possível observar que a peça questionada possui gênese conflitante com a da vítima. Figura: imagens de trechos da peça com falsificação sem imitação e da peça padrão. Fonte: D’ ALMEIDA (2015). ✓ Falsificação de Memória Na percepção de Mendes (2010) a falsificação de memória é aquela em que o falsário memoriza determinada escrita ou assinatura autêntica de sua vítima, procurando reproduzi-la sem os padrões gráficos no momento da falsificação. No entanto a memória só guardará os aspectos gerais do grafismo, gestos mais aparentes, como as letras iniciais e traços ornamentais que arrematam as assinaturas, mas não o conjunto todo. 20 A comparação da falsificação com os padrões revela uma divergência nas características genéticas da escrita. É necessária uma análise mais cuidadosa no confronto da peça para evidenciar uma mistura de grafias razoavelmente bem imitada com outras totalmente diferentes da escrita da vítima (MENDES, 2010). Figura: imagens de padrão de confronto e peça de exame com falsificação de memória. Fonte: GOMIDE (2000). ✓ Imitação Servil Aos ensinamentos de Falat (2003) a imitação servil é a falsificação com o modelo à vista, realizada por cópia de um padrão disponível. Durante a cópia o falsário é sujeito a pausar sua escrita paraolhar o modelo novamente, o que resulta em paradas no traçado. A análise deste tipo de fraude pode se tornar dificultosa, quando o falsário esforçar-se a melhorar o lançamento por meios de retoques. Todavia, um perito grafotécnico, dispondo de seus conhecimentos, identificará os antagonismos gráficos. Por mais que a peça questionada apresente uma semelhança formal, será evidente na escrita o traçado moroso, a gênese conflitante e as paradas do traço. 21 Figura: imagens de padrão e peça de exame com falsificação de imitação servil. Fonte: GOMIDE (2000). ✓ Falsificação Exercitadas No entender de Silva (2013) as falsificações exercitadas também são realizadas com o modelo à vista. Contudo a falsificação só ocorrerá depois de treinar exaustivamente, até que seja possível reproduzi-lo automaticamente, sem o modelo. O resultado final é uma escrita com aspecto formal compatível com o modelo, sem apresentar traçado moroso e pressão excessiva da caneta. Embora essa técnica produza uma escrita com características do modelo, ao realizar uma perícia grafoscópica será notada uma discrepância nos elementos genéticos. Pois a diferença em relação à escrita modelo será mais frequentes em características pouco perceptíveis ao falsificador. ✓ Descalques As falsificações por decalque, na percepção de Silva (2013), são bem características, e podem ser feitas de modo direto ou indireto. Essas imitações são semelhantes às falsificações servis, onde nota-se grande semelhança formal com o modelo, porém apresenta divergências nos elementos de natureza genética. 22 “No decalque direto, a fraude é realizada por transparência diretamente no papel, sem qualquer esboço prévio. No decalque indireto, a fraude é realizada indiretamente, através de debuxo feito à ponta seca por carbono (ex.: papel- carbono), transferindo o traçado da assinatura ao documento para depois recobrir o debuxo com o instrumento escrevente” (D’ÁLMEIDA, 2015). Ao analisar uma falsificação por decalque, Silva (2013) ressalta que a grande semelhança formal com o modelo, não esconde o traçado lento, os trêmulos, a parada do instrumento escrevente e a gênese conflitante. O atrativo desse método para os falsários, é que uma vez provada a falsificação, não é possível determinar a autoria. Figura 7 Imagens de padrão de confronto e peça de exame com falsificação por decalque. Fonte: GOMIDE (2000). ✓ Falsificação por Recorte A falsificação por recorte consiste na montagem de um texto com letras retiradas de um manuscrito autêntico. Após a montagem dessas letras é 23 realizado o processo de decalque direto, criando o documento definitivo. Ao analisar um documento que sofreu falsificação por recorte, um perito grafotécnico irá notar a presença de trêmulos, indecisões, paradas anormais, retoques, desigualdade do calibre das letras, modificação da inclinação axial, e características da falsificação por decalque, devido à justaposição dos recortes em outra folha de papel (MENDES, 2010). ✓ Falsificação Ideológica Esse tipo de falsificação raramente é realizado, no entender de Gomide (2000), trata-se de uma fraude refinada onde o falsário aproveita da ingenuidade da vítima. Fraudes desse tipo costumam ocorrer em cheques assinados em branco, ou em um papel que já contenha uma assinatura. “A Grafoscopia pode auxiliar na apuração desse tipo de fraude através dos exames do comportamento do texto (reflexos de evitamento), anacronismos e prioridades de lançamentos (cruzamentos de traços). Porém, nem sempre tais exames permitem o desvendar esse tipo de fraude, que na realidade não é uma fraude documental, mas uma fraude intelectual” (GOMIDE, 2000). ✓ Assinatura à mão guiada Diferente dos outros tipos de fraude, a assinatura à mão guiada, pode ou não ser realizada de má-fé. Mendes (2010) explica que essa fraude pode ocorrer quando um indivíduo se encontra paralítico e ao seu pedido, terceiros guiam sua mão para escrever. O resultado é uma escrita com características da mão-guia, apresentando um lançamento arrastado, com indecisões e trêmulos. Outro caso é o de um indivíduo impossibilitado de escrever, que ao pedir ajuda de terceiros, apresentará um traçado com evidentes conflitos do gesto gráfico da mão-guia com a mão guiada. Por fim, se um terceiro guia a mão de um indivíduo contra a sua vontade, temos um traçado descontrolado, deformado devido à luta de dois punhos escreventes. Independente da forma como a assinatura à mão guiada ocorrer, ela sempre será considerada uma falsificação. 24 7. AS AUTENTICIDADES O nobre escritor Mendes (2010) explica que é um erro acreditar que a fraude documental só ocorre por meio de falsificações e alterações, e faz menção aos quatro tipos de fraudes de autenticidade, realizadas com documentos que apresentam assinaturas legítimas. Essas fraudes são: autofalsificação, simulação de falso, transplante da escrita e negativa de autenticidade. ✓ Autofalsificação “A autofalsificação consiste na introdução de disfarces no lançamento da própria assinatura” (GOMIDE, 2000). Segundo Mendes (2010) o falsário lança a sua assinatura com algumas modificações, reduzindo a velocidade do lançamento, alterando o calibre das letras, deformando alguns caracteres, mudando a direção da inclinação axial e introduzindo trêmulos, para no futuro acusar essa assinatura de falsa. Os elementos formais citados podem sofrer algumas alterações, mas ao analisar a assinatura o perito irá constatar a semelhança nos elementos de natureza genética, concluindo tratar-se de uma assinatura autêntica. ✓ Simulação de Falso Monteiro (2008) explica que a simulação de falso, diferente da autofalsificação, ocorre quando o falsário lança a sua assinatura para depois acrescentar vícios, como, emendas, tremores, retoques, e assim, no futuro, questionar a autenticidade do documento. Dessa forma, ao analisar essa assinatura fica evidente a semelhança das características gráficas produzidas por impulsos cerebrais, ou seja, os elementos de natureza genética. Uma assinatura pode ser retocada sem a intenção da simulação de falso, mas nesse caso, ao corrigir uma falha o escritor faria de forma aparente. Um falsário procura fazer retoques cuidadosamente, de forma que não sejam percebidos. É o examinador que deverá decidir se os retoques possuem características de fraudes (MENDES, 2010). 25 ✓ Transplante de escrita De acordo com Mendes (2010) o transplante de escrita consiste em descolar o selo de um documento com o trecho de uma assinatura autêntica para reaproveita-lo em outro documento com o texto que lhe é de interesse, acrescentando apenas o início e final da assinatura. O resultado da perícia irá apresentar uma assinatura verdadeira no corpo do selo, mas também comprovará o transplante realizado pelo falsário, uma vez que, os traços acrescentado no início e final não mostram solução de continuidade com a assinatura do selo. Será possível analisar a diferença de tinta do instrumento escrevente nos traços acrescidos, devido à diferença de fluorescência apresentada em um exame sob os efeitos dos raios violetas. O selo deverá ser destacado cuidadosamente para o estudo do seu dorso, que pode revelar o uso de uma cola diferente, ou pequenos retalhos do documento primitivo que pode ficar aderido. ✓ Negatividade de Autenticidade Ainda com os ensinamentos de Mendes (2010), a negativa de autenticidade ocorre quando, o escritor assina um documento e depois alega falsidade para fugir da responsabilidade. Ao examinar a assinatura seráencontrada total semelhança nos elementos formais e nos elementos de natureza genética. No entanto pode ocorrer que o escritor negue a autenticidade do documento como vítima da modalidade de falsificação ideológica, já abordada anteriormente. 8. MÉTODOS GRAFOSCÓPICOS Ao longo dos anos, a perícia grafoscópica utilizou diversos métodos para examinar a escrita. Alguns métodos, por ineficiência, foram deixados para trás enquanto outros perduraram até os dias atuais. Dessa forma, inicia-se o estudo do método mais antigo ao mais atual, sempre apontando os prós e contras intrínsecos. 26 8.1. Método Morfológico Também chamado de homológico de comparação formal ou método de Bertillon, consiste na apreciação de convergências e divergências dos elementos de ordem puramente formal, além de semelhanças no feitio das letras, mediante a comparação de letra por letra. Assim, havendo analogias, as escritas provavelmente teriam saído do mesmo punho. Se predominassem divergências, a conclusão seria, obrigatoriamente, contrária. Historicamente, desse método, resultaram graves erros judiciais. Relatado como um dos mais importantes, o caso de Dreyfus, que era oficial do exército francês e foi falsamente acusado de passar informações militares para os alemães. 8.2. Método Grafológico Enquanto o método morfológico tem por base observar apenas as formas, o método grafológico, atribui maior atenção às características subjetivas do grafismo, como o estudo dos símbolos. Desse método, surgiram duas escolas: A francesa, chefiada por Crepieux-Jasmin e a alemã de Ludwirges Klages. A escola francesa segue diversos critérios, como: dimensão; direção; forma; ordem; pressão; continuidade; velocidade; entre outros. Ademais, objetivava buscar “signos” reveladores das qualidades morais, intelectuais e artísticas do escritor. Com base nesses signos, acreditavam ser possível determinar a identificação gráfica. Vale lembrar que, na escola alemã, os “grafismos-tipp” são, por assim dizer, subordinados às diferentes classes de ritmos gráficos e aos signos substituídos pelo movimento de concentração e relaxamento muscular, dessa forma, revelando o escritor por suas qualidades temperamentais. 27 8.3. Método Grafométrico Este método foi criado por Edmond Locard, Perito Francês e autor do tratado sobre criminalística. Locard procurou se fundamentar nas observações iniciadas por Langebruch, que ensinava a variabilidade da escrita em todas as suas características e que essa permanecia constante na proporcionalidade de seus gramas. Isto é, na Grafometria, a maior preocupação gira em torno das grandezas da escrita, como o estudo do calibre das letras, cujo fundamento pressuposto seria de que as características de proporcionalidade não variam. Porém, o próprio Locard reconheceu que o método requer a coleta de textos de extensão razoável e, portanto, é impraticável no exame de assinaturas. 8.4. Método Sinalético Este método teve como fundador o italiano Ottolengui, que simplesmente procurou melhorar o método de Bertillon. Assim, de posse de padrões de confronto, deveria o técnico analisá-los, partindo do geral para o particular e procurando individualizar os valores da escrita para, depois, pesquisá-los na peça questionada. Este método teve poucos seguidores, posto que ignora a verdade de que a escrita reúne elementos qualitativos, identificados e integrados, que se vinculam aos elementos quantitativos de reciprocidade compreensível e naturalmente fundamentais. 8.5. Método Grafocinético Este método não é embasado em características isoladas, pelo contrário, considera todos os elementos gráficos de qualquer natureza, dando-lhes valor consoante e raciocínio pericial. O método Grafocinético, ou Morfocinético, foi estabelecido em 1927 por Edmond Solange Pellat, em seu livro Les lois de l’écriture, que formulou as denominadas leis da escrita. Mais à frente, aprofundaremos o assunto. 28 Antes de iniciar a perícia, i.e., confrontação entre peça questionada e padrões paradigmas, o perito deve estar ciente da finalidade do seu trabalho: se objetiva a confirmação da autenticidade ou, caso não seja autêntica, de quem seria a autoria da falsificação. Conforme Cavalcante e Lira, nesse método é dada atenção especial aos movimentos que dão origem ao gesto gráfico e objetiva verificar: ➢ Como se formam os traços; ➢ Quais os hábitos de movimentação do escritor; e ➢ Quais são as causas determinantes de impulsos, ênfases e anomalias do gesto gráfico. ➢ O exame necessita ser procedido sob o critério racional, derivado de profundo estudo das diversas maneiras de produção gráfica. 8.6. Pontos Importantes Há uma distinção importante entre GRAFOLOGIA e GRAFOSCOPIA. Ambos estudam os grafismos, contudo, com objetivos diferentes. A Grafologia se refere à ciência que estuda as características da personalidade do homem por meio de seu grafismo, muito utilizada na área de recursos humanos, posto que é um exame rápido (muitas vezes por meio de ditado) e não há a possibilidade de simulações. Portanto, o método Grafológico não é utilizado para exames de apuração quanto a autenticidade ou falsidade. A Grafologia não se confunde com Grafoscopia ou Grafotecnia. Como sabemos, a grafologia está voltada ao estudo da personalidade. Já, a Grafoscopia, é o estudo do punho escritor, cujo objetivo é conhecer a autoria de um grafismo. Sendo o Método Grafocinético, atualmente, o mais utilizado para tal exame. 29 Sem mais delongas, passemos para o próximo capítulo, em que começaremos a estudar a fundo os elementos da grafoscopia, por meio do método grafocinético. 9. AS LEIS DA ESCRITA É importante ressaltar que as leis da escrita independem dos alfabetos utilizados. Após esse breve aviso, iniciemos o estudo das quatro Leis da escrita retiradas do livro Les lois de l’écriture, do perito francês Edmond Solange Pellat. 9.1. 1ª Lei Da Escrita “O gesto gráfico está sob a influência imediata do cérebro. Sua forma não é modificada pelo órgão escritor se este funciona normalmente e se encontra suficientemente adaptado à sua função”. O cérebro humano é o gerador do gesto gráfico, onde nasce a imagem das letras e demais símbolos utilizados na escrita. Assim, desde que o mecanismo muscular esteja convenientemente adaptado à sua função, haverá produção da escrita sempre com as mesmas peculiaridades. Após a Segunda Grande Guerra Mundial, observou-se que pessoas cujas mãos ou cujos braços haviam sido amputados e que desenvolveram a habilidade de escrever segurando o lápis ou a caneta com outro órgão, como, por exemplo, 30 a boca ou o pé, mantiveram suas características individualizadoras da escrita. A literatura a este respeito é farta, portanto, provada pela casuística pericial. Dessa forma, o indivíduo com punho escritor destro, i.e, que escreve com a mão direita, se, por exemplo, passar a fazê-lo com a mão esquerda, canhota, após treinamento, apresentará escrita com as mesmas características grafocinéticas. A situação dos loucos é outro exemplo. Em seus acessos não conseguem escrever, porém voltam a fazê-lo nos momentos de lucidez, sendo a maior evidência da premissa da primeira lei de Solange Pellat. O cérebro comanda o sistema motor composto por ossos, músculos e nervos, cuja tonicidade e controle varia de pessoa para pessoa. Portanto, o ato de escrever é um gesto humano que se origina no cérebro. Robert Saudek, grafologista tcheco, que fundou a sociedade de grafologia profissional na Holanda, publicou o estudo “GrafologiaExperimental” em 1929, que examinou a velocidade da escrita. Com uso de microscópio, paquímetro, placa de pressão, régua, transferidor e imagens em câmera lenta, seu estudo relatou que “ninguém é capaz de imitar, ao mesmo tempo, estes cinco elementos do grafismo: riqueza e variedade de formas, dimensão, enlaces, inclinação e pressão”. Assim, constata-se que, como não existem duas pessoas com cérebro, músculos, ossos e nervos idênticos, também não existem duas pessoas com escritas idênticas. A doutrina explica que, para produzir o grafismo, o ser humano passa por três fases: 1) Evocação; 2) Ideação; e 3) Execução. 31 A evocação é a busca de informações, imagens, sons ou emoções dentro da memória/cérebro, sendo considerada a imagem gráfica (morfologia). A ideação é a fase na qual o escritor, após ter evocado a ideia, põe em funcionamento a sua criatividade, acrescentando à simbologia sua característica individual (gênese). A execução é a emissão da ordem do cérebro para que o órgão que porta o instrumento escritor execute os movimentos sobre o papel ou documento, já evocados e ideados (cinetismo). As duas primeiras fases provêm do cérebro, já, a terceira, é a parte motora. Em resumo: a evocação é O QUE fazer; a ideação é COMO fazer; e, por fim, a execução é o ATO de fazer. 9.2. 2ª Lei Da Escrita “Quando se escreve, o “eu” está em ação, mas o sentimento quase inconsciente de que o “eu” age passa por alternativas contínuas de intensidade e de enfraquecimento. Ele está no seu máximo de intensidade onde existe um esforço a fazer, isto é, nos inícios, e no seu mínimo de intensidade onde o movimento escritural é secundado pelo impulso adquirido, isto é, nas extremidades”. O enunciado da segunda lei se aplica aos casos de anonimografia, onde o esforço inicial dos disfarces é muito mais acentuado e perde sua intensidade à medida que a escrita progride. Isso ocorre, pois, o punho escritor nunca conseguirá mascarar o seu verdadeiro “eu” por muito tempo, denunciando-se em certos momentos. O mesmo ocorre em casos de falsificação, demonstrando a importância de um exame mais atento aos fins de lançamentos, onde os maneirismos gráficos ocorrerão com mais frequência. Contudo, cumpre esclarecer que o falsário buscará imitar, principalmente, inícios e fins. 32 9.3. 3ª Lei Da Escrita “Não se pode modificar voluntariamente em um dado momento sua escrita natural senão introduzindo no seu traçado a própria marca do esforço que foi feito para obter a modificação”. Na prática, essa lei tem aplicação usual em casos de autofalsificação/disfarces, podendo ocorrer em simulações. O farsante busca modificar os seus hábitos para elaborar uma escrita/assinatura disfarçada, ou seja, autofalsificação. Esse disfarce, pode ser feito com adições e/ou subtrações ao seu traçado normal. Todavia, o simulador poderá se trair através de: paradas súbitas; desvios; quebras; mudanças abruptas de direção; ou, ainda, sobreposições na escrita, cabendo ao técnico em grafotecnia interpretar essas particularidades. 9.4. 4ª Lei Da Escrita “O escritor que age em circunstâncias em que o ato de escrever é particularmente difícil, traça instintivamente ou as formas de letras que lhe são mais costumeiras, ou as formas de letras mais simples, de um esquema fácil de ser construído”. Há casos em que se torna difícil ou penoso escrever, tais como: circunstâncias desfavoráveis; posições desfavoráveis, como em veículos em movimento ou deitado em uma cama; suportes inadequados, como em madeiras e paredes; enfermidades; ou, ainda, situações que demandem extrema urgência. Em circunstâncias como as mencionadas, há de se prevalecer a “lei do mínimo esforço”, resultando em simplificações, abreviaturas, uso preferencial por letras de forma ou esquemas pouco usuais. Essa lei explica também as simplificações ocorridas quando é necessário realizar o lançamento de diversas assinaturas em um curto período, como por 33 exemplo, assinar vários cheques pré-datados para pagar a anuidade de um curso. 34 REFERÊNCIAS ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10520: citações: elaboração. Rio de Janeiro, 2002. ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14724: formatação de trabalhos acadêmicos. Rio de Janeiro, 2002. ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: informação e documentação: referências: elaboração. Rio de Janeiro, 2002. ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6028: resumo: elaboração. Rio de Janeiro, 2002. CAVALCANTI, A. e LIRA, E. Grafoscopia essencial. Porto Alegre: Sagra – Luzato, 1996. p. 32. CAVALCANTI, A. e LIRA, E. Grafoscopia essencial. Porto Alegre: Sagra – Luzato, 1996. p. 68. CAVALCANTI, A. e LIRA, E. Grafoscopia essencial. Porto Alegre: Sagra – Luzato, 1996. p. 17. D’ÁLMEIDA, M. L. 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