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Aula 03 Natália Gindri Fiorenza Maria Paula de Souza Sampaio Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Diretora Editorial ANDRÉA CÉSAR PEDROSA Projeto Gráfico MANUELA CÉSAR ARRUDA Autor EDUARDO NASCIMENTO DE ARRUDA Desenvolvedor CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS NATÁLIA FIORENZA Olá. Meu nome é Natália Fiorenza. Sou formada em Ciências Biológicas, com mestrado e doutorado na área de Ciências da Saúde. Passei por diferentes laboratórios de pesquisa, publicando trabalhos científicos e participando de muitos Congressos e Cursos em diferentes áreas de saúde e educação. Fui professora universitária e tutora durante 4 anos do curso de medicina, onde me conectei com minha paixão pela docência e por metodologias ativas de ensino. Sou ávida por aprender e ensinar e por trocar conhecimentos quer na area científico-acadêmica, quer na área de desenvolvimento humano e autoconhecimento. Recebi com muita alegria o convite da Editora Telesapiens para integrar seu elenco de autores independentes, pois tenho como propósito transmitir aquilo que sei e auxiliar outras pessoas no início de sua jornada profissional. Estarei com você nessa caminhada de muito estudo e trabalho. Conte comigo! MARIA PAULA SAMPAIO Meu nome é Maria Paula, sou graduada em Biomedicina, habilitada em Citopatologia. Além da prática com a minha habilitação, pude realizar um curso avançado em Citopatologia Cérvico-Vaginal. Atualmente, sou voluntária de um projeto de pesquisa na Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) sobre Patologia Mamária Comparada, onde fiz iniciação científica por um ano. Em minha jornada de estudante pude participar ativamente de congressos e projetos de estudo, e sempre tive uma paixão por ensinar. Junto com Natália, pretendo transmitir todo o ensinamento que obtive até aqui, buscando sempre aprender mais. Estamos juntos nesse aprendizado! Autoras INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimen- to de uma nova competência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser prioriza- das para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e inda- gações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofun- damento do seu conhecimento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últimas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma ativi- dade de autoapren- dizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; Iconográficos Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo pro- jeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: SUMÁRIO Controle de qualidade em laboratório de Biologia Molecular 12 Fase pré-analítica 13 Fase analítica 13 Fase pós-analítica 14 Programas de acreditação em laboratório clínico 15 Detecção de vínculo genético 15 Paternidade 15 Exame de Paternidade 18 Cartão FTA 18 Swab bucal 21 Repetições em Tandem (Microssatélites) 22 Polimorfismo no Comprimento do Fragmento de Restrição (RFLP) 24 Perícia criminal 26 Detecção de mutações 28 Mutações 28 Erros de replicação 29 Lesões no DNA 30 Tipos de mutações moleculares 32 Reparo e recombinação 33 Rearranjos e alterações cromossômicas 34 Alterações cromossômicas 34 Rearranjos cromossômicos 35 Técnicas para detecção de mutações 36 PCR 36 Microarranjos (microarrays) 37 FISH 37 Exames de cariótipo 38 Detecção de doenças infecto-parasitárias e imunogenética 40 Doenças infecciosas 40 Retrovírus 41 Herpes vírus 43 Infecção bacteriana e seus genes de resistência 44 Protozoários 45 Imunogenética 46 Complexo principal de histocompatibilidade 47 Prova Cruzada 49 Tipagem HLA 49 Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 9 UNIDADE 03 Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial10 Nesse capítulo nós abordaremos aspectos da rotina de um laboratório de biologia molecular. Veremos como funciona o programa de controle de qualidade, tanto interna como externa. Além dos exames laboratoriais que podem ser realizados, com base nas técnicas que foram abordadas anteriormente. Serão abordadas as fases dos processos de controle de qualidade e suas características. Dentre os exames laboratoriais de biologia molecular, destacaremos a detecção de vínculo paterno, detecção de mutações e detecção de doenças infecto-parasitárias e técnicas de histocompatibilidade. Todos esses assuntos abordados serão muito importantes para entender a importância da aplicação da biologia molecular no diagnóstico laboratorial, relacionando-os com os assuntos já vistos. Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! Vamos nessa? INTRODUÇÃO Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 11 Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 3. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Controle de qualidade em laboratório de Biologia Molecular. 2. Detecção de vínculo genético. 3. Detecção de mutações. 4. Detecção de doenças infecto-parasitárias e Imunogenética. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! OBJETIVOS Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial12 Controle de qualidade em laboratório de Biologia Molecular INTRODUÇÃO: Neste capítulo iremos abordar os processos de controle de qualidade interna durante as três fases: pré-analítica, analítica e pós-analítica. Por fim, abordaremos a função de programas de acreditação laboratorial, como a PALC, na manutenção da qualidade das três fases do processo interno de qualidade laboratorial. E então, vamos lá? Como foi visto nas unidades anteriores, existem diversas técnicas em biologia molecular que são métodos fundamentais no diagnóstico das doenças humanas que resultam de lesões do DNA. Esses testes podem ser realizados com amostras advindas dos mais diversos tipos de tecidos. A inovação tecnológica oferecida pela técnica de PCR possibilitou que quantidades mínimas dessas amostras pudessem ser analisadas. O alcance e a precisão dos diagnósticos genéticos são de extrema importância e demandam responsabilidades clínicas, éticas e legais sem precedentes. Além de erros técnicos, a interpretação incorreta de exames laboratoriais é bastante prejudicial. Levando em consideração esses fatores, as normas e metas dos laboratórios dessa área devem obter rigorosidade ao realizar qualquer procedimento, para que a quantidade de erros seja a mínima possível ou nenhuma. Para que um laboratório de biologia molecular exerça suas atividades com responsabilidade, é necessário que haja um controle de qualidade. É muito importante que os laboratórios forneçam serviços que superem as expectativas dos pacientes. Importante conter um sistema de qualidade eficiente, com infra-estrutura adequada e equipe treinada, utilizar reagentes de qualidade comprovada, sistema de limpeza de vidrarias e processos de coleta e conservação de amostras seguindo os protocolos implantados. Além do mais, deve conter uma gestão de qualidade que será responsável por determinar o apoio e disponibilizar os recursos necessários. Na realização de um exame pelo laboratório deve-se considerar as etapas pré-analíticas, analíticas e pós-analíticas. Aplicação da Biologia Molecular no DiagnósticoLaboratorial 13 Fase pré-analítica Tudo que ocorre nessa etapa é mais difícil de se controlar e de obter monitoramento e isso é devido ao fato de a maior parte dos fatores ocorrem fora do laboratório. Destacamos alguns fatores que podem afetar os resultados dos exames, podendo causar erros ou variações. A identificação do paciente de forma correta é de extrema importância, devendo conter nome do paciente, data e hora da coleta e o tipo de material que foi colhido. A preparação do paciente também é muito importante pois pode afetar o resultado dos exames diretamente. Alguns exames necessitam de jejum, o paciente não deve consumir álcool ou drogas, a quantidade de exercício físico também influencia e até mesmo há a interferência de medicamentos. A hora da coleta da amostra também demanda bastante atenção, seja no ato da coleta, no preparo do material ou no armazenamento da amostra. Todos esses fatores citados podem interferir de alguma maneira no resultado do exame. Os principais erros que podem ocorrer nessa fase envolvem a escrita ilegível ou erro nos dados do paciente, interpretação incorreta do exame, falta de orientação para realização do exame, troca de amostras, uso de tubo e anticoagulante errados, volume excedido ou insuficiente para exame, hemólise de hemácias e lipemia, além de contaminação de material e amostra. Fase analítica Essa etapa envolve basicamente o método de diagnóstico que será utilizado. Deve-se levar em consideração a confiabilidade (precisão, exatidão, especificidade, sensibilidade, linearidade) e praticidade (tipo de amostra e volume, necessidade de equipamentos, estabilidade IMPORTANTE: Deve haver uma padronização nos procedimentos realizados pelo laboratório, todas as atividades devem ser documentada através de Procedimento Operacional Padrão (POP) ou Instrução de Trabalho (IT), que deverão ficar disponíveis a toda a esquipe do laboratório. Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial14 dos reagentes, complexidade da metodologia utilizada) dos métodos analíticos. Também devem ser levados em consideração a qualidade da água utilizada nas técnicas, a limpeza da vidraria e os equipamentos devem estar todos bem calibrados (pipeta, balança). Os métodos analíticos devem ser documentados e devem estar à disposição dos responsáveis pelos exames. Os controles interno e externo da qualidade são utilizados na monitoração e avaliação dos métodos analíticos. O controle interno da qualidade envolve o nível de segurança fundamental para que seja garantida a qualidade, eficiência e confiabilidade aos resultados dos exames. O controle externo é interlaboratorial onde o resultado de cada teste do laboratório é comparado com a média de consenso do grupo envolvido, ou seja, compara a exatidão dos exames de um laboratório com a de outros. Nessa fase podem ocorrer erros de má pipetagem, de reagentes mal conservados, contaminados ou fora da validade; de tempo de reação ou nos cálculos de concentração e diluição. Fase pós-analítica Essa etapa consiste no que acontece após a realização do exame, ou seja, envolve o cálculo dos resultados, a análise, a liberação dos laudos, o armazenamento do material e arquivamento de resultados. O laboratório deve assegurar que o laudo seja entregue ao paciente e o laudo precisa conter todas as informações necessárias, sendo escrito de forma legível e sem rasuras. Os dados contidos no laudo são totalmente sigilosos e confidenciais ao paciente e tem que ser respeito o prazo para entrega do laudo. O laboratório deve obter cópias do laudo para recuperação posterior, se for necessário. Os erros mais frequentes nessa etapa envolvem a transcrição de dados do paciente incorreta, resultado ilegível, falta de identificação de interferentes possíveis, além de falta de especificidade e sensibilidade do teste utilizado. Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 15 Programas de acreditação em laboratório clínico O Programa de Acreditação específico para Laboratórios Clínicos (PALC) e os programas de acreditação, em geral, avaliam o laboratório como um todo, incluindo o sistema de qualidade, competência da equipe do laboratório, equipamentos, reagentes, métodos, controles interno e externo da qualidade, segurança, preparo do paciente, métodos e laudos. No Brasil, existem dois programas de acreditação patrocinados por sociedade científica, que são: Sociedade Brasileira de Patologia Clínica (SBPC), através do PALC, e Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC), através do Departamento de Inspeção e Credenciamento da Qualidade (DICQ). Detecção de vínculo genético INTRODUÇÃO: Ao término do capítulo, você entenderá a investigação do DNA para detecção de vínculo de paternidade ou identidade genética. Durante o capítulo iremos entender como e o porquê que esse exame pode ser utilizado emáreas como a paternidade e a perícia forense. Então, vamos iniciar nossa jornada? Paternidade O registro e assumo da responsabilidade legal do filho por parte do pai biológico é assunto de extrema importância. O abandono paterno tem alertado algumas entidades públicas por conta de seu aumento no número de casos. Por exemplo, em São Paulo, em 2015 o Brasil ganhou mais de um milhão de famílias compostas por uma mãe solo, isso foi um aumento em um período de 10 anos. Claro que, quando falamos de famílias com mãe solo, muitas causas podem estar presentes, inclusive o falecimento do progenitor. Entretanto, o número de pais que não registraram suas crianças acaba sendo maior do que esses casos. Entretanto, esses casos não abrangem somente as pessoas nascidas a partir de 2000. Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial16 Algumas entidades públicas, como o ministério público, promovem eventos dedicados à coleta de amostra de mães, filhos, irmãos e possíveis candidatos a pai biológico das crianças para análise em um laboratório terceirizado, afim de detectar vínculo através da identidade genética. Normalmente, esses mutirões acabam não chamando atenção somente de mães e crianças com a necessidade de encontrar os pais biológicos, mas também chama a atenção de adultos de todas as idades que tem a curiosidade ou necessidade de saber a identidade de seus pais biológicos. Portanto, programas de paternidade ajudam milhões de pessoas a identificar seus pais. Antigamente, esses exames podiam serem feitos a partir de outras vertentes biológicas, que não eram a genética. O sistema sanguíneo ABO RH+ consegue identificar, mas não com muita precisão, a paternidade de uma criança e seus pais. Isso porque o nosso sistema ABO RH+ deriva de nossos pais, puxando dois alelos, um para o A, B ou Oe o outro para o RH+, sendo positivo ou negativo, formando assim o sistema mais imunogênico da fração vermelha do nosso sangue. Basicamente, a herança genética envolvida nesse sistema é mediada pelos genes IA e IB, dois genes dominantes, e um gene i, recessivo. O pai e a mãe de um indivíduo hipotético vão passar um desses alelos. Caso o pai seja A, ele pode ser IAIA ou IAi, já a mãe sendo B, ela será IBIB ou IBi. Sendo assim, se o filho for O, significa dizer que ele só possui os alelos recessivos ii obrigatoriamente e os pais IAi e IBi. Existem casos também de AB, ou seja, nesse caso hipotético, isso só seria possível se o filho herdasse os IAe IB dos pais, sendo ele IAIB. É por esse raciocínio que a paternidade era explorada utilizando os grupos sanguíneos. Entretanto, não era tão específico, já que qualquer pessoa, possuindo parentesco ou não, pode ter, por coincidência, um grupo sanguíneo idêntico ao verdadeiro pai biológico. Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 17 Tabela 1: Correlações dos grupos sanguíneos Grupo sanguíneo quem podem ocorrer... dos pais ... que podem ser constatado nos filhos ... que não podem ser constatado nos filhosO com O O A, B, AB O com A O, A B, AB A com A O, A B, AB O com B O, B A, AB B com B O, B A, AB A com B O, A, B, AB - O com AB A, B O, AB A com AB A, B, AB O B com B A, B, AB O AB com AB A, B, AB O Hoje em dia, os exames de DNA visam vertentes mais precisas para investigar vínculo genético. O projeto genoma humano descobriu que todos os seres humanos possuem, entre si, similaridade de 99%. Sendo assim, 1% equivale a regiões altamente polimórficas que variam de pessoa a pessoa, tornando somente os gêmeos univitelinos totalmente idênticos geneticamente. VOCÊ SABIA?: Esses elementos polimórficos são repetições de pares de bases ao longo de um locus cromossômico, denominado de microssatélites, ou repetições em tandem (STR). Essas repetições variam de pessoa a pessoa e os filhos herdam dos pais. Portanto, o exame de paternidade é focado nessas repetições que estão presentes em determinados locus gênicos dos progenitores e o resultado vai mostrar esses locus, o polimorfismo nesse locus de todos os participantes e o filho(a) precisa herdar, necessariamente, uma repetição do locus do pai e outra repetição do locus da mãe, portanto, o que será analisado não é a repetição em si, mas se elas foram herdadas para os descendentes. Esse método confere maior precisão na discriminação da paternidade. Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial18 Exame de Paternidade Após a coleta do material de todos os participantes, a amostra é encaminhada diretamente ao laboratório que irá realizar o exame e o protocolo é diferente a depender do material colhido. Os participantes incluem o autor da investigação, o filho ou filha, sua mãe e o(s) possível(eis) pai(s). Em um caso, pode haver mais de um possível pai e quando não há, então recorrerá para os parentes de 2° grau (em relação ao filho ou filha) para que haja a investigação. Lembrando que tudo que acontecer no caso, será em relação ao investigante, que é o filho ou filha. Os seus parentes de segundo grau envolvem tios, tias, avô e avó. Um outro caso pode ser investigação de parentesco do filho com o seu possível irmão, uma pessoa já registrada pelo pai. A não ser que o possível pai não tenha falecido, todas as investigações têm que serem feitas com o possível pai. Após o cadastro devido da amostra, identificando e correlacio- nando os dados contidos no rótulo da amostra com os dados cadastrais do caso, a amostra será processada de acordo com os seus respectivos materiais. Um dos métodos são via swab bucal ou por cartão de FTA. Cada um possui suas especificidades, que serão discutidas com mais detalhes a partir de agora. Cartão FTA O método de extração envolvendo o cartão FTA é uma forma invasiva de obter amostra biológica para a extração do DNA de todos os participantes, pois ela envolve a retirada de uma gota de sangue através de um pequeno furo com uma lanceta na ponta do dedo de cada envolvido para que se obtenha uma espécie de impressão digital feita de sangue no cartão. Por ser um método que envolve sangue, não é recomendado para qualquer pessoa que esteja fazendo o teste de paternidade porque, além de invasivo, a depender do participante, essa técnica pode dar resultados não condizentes com a realidade. Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 19 Outro fator que limita a utilização do cartão FTA é a idade dos participantes. Normalmente, quando o autor da investigação é um bebê ou recém-nascido o procedimento é feito através de um swab, material esse que será explicado mais tarde, devido à dificuldade de acesso, tendo que ser feito na região calcânea, por causa da circulação sanguínea em crianças dessa idade. Lembrando que, antes de qualquer coleta, deve-se realizar a massagem no local para levar a circulação na ponta do dedo ou na região do calcâneo e a assepsia com álcool a 70%. EXPLICANDO MELHOR: Uma pessoa que recebeu ou recebe frequentemente uma bolsa de sangue não pode realizar o exame a partir do cartão FTA, já que o sangue coletado pode conter duas identidades genéticas: a do próprio participante e da pessoa que a doou a bolsa de sangue. VOCÊ SABIA? As pessoas que frequentemente recebem ou já receberam bolsas de sangue para transfusão podem ter passado por alguma cirurgia de risco ou sofrerem de enfermidades como anemia falciforme ou leucemias, principalmente aquelas que envolvem bastante depleção do conteúdo vermelho (hemácias) do sangue, sendo assim, diminuindo também a concentração de hemoglobina. Entretanto, a transfusão crônica de sangue pode levar ao desenvolvimento de reações transfusionais, mesmo prestando bastante atenção no sistema ABO, já que outros grupos sanguíneos em contato crônico, caso não sejam levados em conta, podem ativar uma reação pós-transfusional no paciente. É por esse motivo, que estão desenvolvendo bolsas de sangue artificial, sem os grupos sanguíneos, com o intuito de aumentar o fluxo de transfusões sanguíneas para essas pessoas em programa de transfusões crônicas, podendo também, não interferir na coleta do sangue para o teste de paternidade, já que será sangue sintético artificialmente. Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial20 Após a coleta, realizar o transporte do material até o laboratório, onde será deixado em overnight para secar o material sanguíneo e posteriormente retirar uma pequena rodela do material coletado a partir de uma caneta coletora. Figura 1: Kit com cartão FTA e caneta coletora Fonte: http://bit.ly/35Jykpv A utilização desse método de coleta, que também serve como um ótimo método de transporte de amostra, é que evita a coleta desnecessária de um tubo de sangue, além também de superar as dificuldades de transporte de um material fresco entre locais distintos, que muitas vezes podem envolver o transporte de uma cidade do interior de um estado até a outra cidade. É uma técnica simples, não tão invasiva quanto a coleta venosa, há redução de volume e peso e não tem a necessidade de refrigeração da amostra. Além disso, o cartão é feito de um material que contém uma área com a presença de reagentes que inativam e inibem o crescimento microbiológico, além de lisarem as células sanguíneas e liberam o DNA, o qual é preservado contra ação de nucleases (DNases), oxidação e raios UV. Elas podem ser armazenadas sem refrigeração por 17 anos. O procedimento envolvido na obtenção do DNA serve para extrai- lo do pequeno pedaço do cartão extraído, estando ele contido em um reagente de eluição, preparado para ser amplificado pela técnica de PCR e posteriormente analisado em um sequenciador automático capaz de identificar os locus cromossômicos dos microssatélites. Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 21 Swab bucal A técnica de swab é uma forma alternativa de se coletar a amostra biológica, é menos invasiva e pode ser utilizada para qualquer situação, embora haja seus fatores de interferência. O swab é um bastão tipo de cotonete, que será imerso na boca de cada participante afim de retirar células na mucosa da boca que irão fixar na parte de algodão do swab. São células escamosas da mucosa da boca, sendo assim, não precisa ser feita muita força para a sua retirada. Figura 2: Kit comercial do swab bucal Fonte: http://bit.ly/37MxzxQ Como dito anteriormente, essa técnica pode ser utilizada para muitas situações (praticamente todas). No caso em que algum participante do caso tenha recebido sangue através de transfusões, a forma alternativa de coletar um material biológico é através da coleta por swab, que levará na aquisição da amostra real dos pacientes, já que estamos falando de células escamosas próprias. Outro fator que a utilização dele acaba superando a do cartão FTA é na coleta em bebês e recém-nascidos, afinal se trata de um método não tão invasivo, sendo não desconfortável para o bebê e podendo gerar resultados precisos da mesmaforma. No kit da coleta por swab, são disponibilizados dois cotonetes para a extração. É essencial a utilização desses dois cotonetes em casos de re-extração, como será explicado logo a frente. Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial22 Recomenda-se não ingerir qualquer alimento e nem beber nada além de água por um período de 1 hora antes do teste, afinal o alimento ingerido pode criar uma camada de sujeira que será coletada junto com as células escamosas. Nesses casos, da para superar a ação dessa sujeira através de processos de lavagens mais rigorosas. Após a coleta, deixar o material secar antes de embalá-lo para análise. O armazenamento ineficiente pode levar à germinação de esporos de fungos no local da amostra devido ao ambiente úmido promovido pela não secagem correta do material. Outros casos que podem acontecer é o transporte de um material amassado, ralado, ou quebrado, comprometendo a viabilidade da amostra para a análise. Esses casos podem ser muito comuns quando uma amostra acaba sendo transportada de uma cidade à outra e quando não tomado os devidos cuidados, os cotonetes podem vim completamente comprometidos quanto a sua total viabilidade para extração do DNA. Após a coleta e o transporte do material até o laboratório responsável pela extração desse material, o swab será submetido à fricção da sua parte coletora em um tubo contendo um reagente de diluição. Essa fricção vai permitir que as células coletadas na boca de cada participante migre para o reagente de diluição, tornando o tubo com um reagente límpido para um tubo com um reagente turvo ou, dependendo das orientações seguidas pelos participantes, o tubo ficará com uma coloração diferente e aparência turva caso o aquele participante não tenha se resguardado de qualquer alimentação dentro de uma hora. Após todo o processamento da amostra, ela então será amplificada pela técnica da PCR e sequenciada em um sequenciador automático de DNA, tipo o ABI 3500. Repetições em Tandem (Microssatélites) Como foi abordado anteriormente, os microssatélites são regiões polimórficas do DNA e possuem uma grande taxa de variabilidade entre os seres vivos. Além de serem bastante explorados para identificar paternidade, são também utilizados para identificar regiões polimórficas que predispõe câncer. Essas repetições contribuem significantemente com variações fenotípicas, adaptação evolucionária e doenças humanas. Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 23 Eles consistem de pequenos fragmentos que podem ter até 10 pares de base que são repetidas em uma sequência genômica. O fato de estarem presentes repetidos de tal forma, pode interferir em eventos de recombinação e até mesmo da replicação, causando erros nesses processos, levando ao ganho ou perda de função. IMPORTANTE: Apesar de sua alta variabilidade, os microssatélites frequentemente residem em regiões funcionais do DNA, como regiões codificantes e regulatórias. Sendo assim, eles conseguem exercer uma alta variabilidade fenotípica, sendo os marcadores mais visados para identificação de paternidade, já que possivelmente muitas características fenotípicas herdadas por um indivíduo dos pais pode ter uma alta relação com essas repetições em tandem herdadas. É estimado que os microssatélites estejam presentes em cerca de 6% de toda a região codificável do genoma, destacando também seu potencial em afetar o risco para o desenvolvimento de doenças e outras enfermidades complexas. Os microssatélites são encontrados em outros seres vivos além do humano, como baleias, Drosophila, camundongos, bovinos e caprinos, espécies vegetais, entre outros. Em plantas, a sua existência já havia sido sugerida, com a observação de que oligonucleotídeos contendo elementos repetidos de TG e GATA/GACA detectam polimorfismo, quando utilizados como sondas RFLP. Os elementos repetidos mais frequentes em mamíferos são extensos de dinucleotídeos CA e TG. Em genomas de eucariotos, estas sequências simples são mais frequentes, melhor distribuídas ao acaso e formam lócus hipervariáveis constituídos por minissatélites. Este locus altamente polimórfico, amplificado via PCR foi também denominado de “STMS- Sequence Tagged Microsatellite”, ou seja, sítios de microssatélites marcados por sequência, e constitui a classe mais polimórfica de marcadores moleculares disponíveis hoje. Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial24 Polimorfismo no Comprimento do Fragmento de Restrição (RFLP) Seguindo a linha dos microssatélites, no genoma humano existem trechos altamente polimórficos que variam de pessoa a pessoa. Sendo assim, seguindo essa lógica, uma outra técnica foi criada e, até mesmo antes da ampla difusão dos sequenciadores automáticos, ela era bem utilizada para identificar paternidade devido esses fragmentos polimórficos. Há 25 anos atrás, essa técnica foi desenvolvida com o intuito de identificar polimorfismo viral sem seu DNA, comparando as cadeias polinucleotídicas entre os mesmos vírus. Em pouco tempo, estes marcadores tornaram-se uma ferramenta importante em várias áreas da biologia e têm sido utilizados para aprofundar o conhecimento em diferentes temas. Imaginemos dois DNAs, cada um de indivíduos diferentes, porém das mesmas espécies. Ao clivar ambos os DNAs com a mesma enzima de restrição, iremos obter fragmentos de DNA como o produto da reação. Normalmente, como se trata de indivíduo da mesma espécie, os fragmentos de DNA tendem a ter os mesmos comprimentos e pesos. Entretanto, isso seria verdadeiro caso o DNA não fosse cortado em regiões específicas do genoma humano. Ao submetermos os fragmentos de ambos os indivíduos a uma corrida de eletroforese, perceberemos a formação de bandas, mas para o diferencial da técnica, algumas bandas não estarão na mesma faixa de peso molecular. Sendo assim, há o questionamento: Ao cortar a mesma região gênica de dois indivíduos da mesma espécie, como irá gerar fragmentos de comprimentos diferentes? A resposta para essa pergunta está na compreensão de que nem todos os indivíduos terão o mesmo comprimento de fragmento em determinado locus, isso porquê cada indivíduo tem uma região polimórfica, e isso é uma das contribuições que nos diferem um dos outros. Portanto, ao cortar os dois DNAs com uma enzima de restrição, fragmentos de tamanhos distintos, em locus específicos, serão gerados e, quando corridos em eletroforese, haverá a discriminação das bandas, resultando em duas bandas de um mesmo gene em posições diferentes de peso molecular. Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 25 Devido a esses resultados, o nome da técnica foi dado como polimorfismo no comprimento do fragmento de restrição (RFLP), podendo ser muito utilizada para exames envolvendo investigação de vínculo genético. Afinal, essas regiões polimórficas não são criadas, são herdadas. Sendo assim, elas têm que ser herdadas de um pai e de uma mãe, 2 alelos. Figura 3: Resultado de eletroforese de RFLP Fonte: http://bit.ly/34sYtsj Para a visualização dos fragmentos polimórficos, serão utilizadas sondas de DNA, que podem ser de cDNA, vindo a partir da transcrição reversa de um mRNA, fragmentos de DNA genômico e da amplificação via PCR de sequências conhecidas utilizando primers específicos. O melhor DNA a ser utilizado como sonda seria os fragmentos de DNA genômico ou um amplificado a partir de um primer, já que os fragmentos de DNA gerados a partir da clivagem por enzimas de restrição terão sequências íntrons em sua região codificante.Sendo assim, a utilização de cDNA seria mais para avaliar a expressão de um gene, não sua presença. Isso porque, como já foi explicado, o cDNA possui somente sequências de exons, por vir de um mRNA que passou por suas etapas de processamento pós transcricional. Se os fragmentos gerados viremde procariotos, a utilização de um cDNA não terá o mesmo raciocínio do que quando vindas de eucariotos, já que o mRNA de bactérias não sofre processamentos pós transcricionais. Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial26 Perícia criminal Além dos benefícios da análise de regiões polimórficas para identificar paternidade entre indivíduos de um caso, essa análise pode ajudar a polícia a desvendar um caso, achando o culpado por um crime através da perícia criminal. A perícia é um ramo investigativo que possui várias vertentes, dentre elas a genética. A descoberta do DNA e suas propriedades e elementos teve um grande impacto em diversas áreas desse conhecimento. Todos sabem que o DNA é a identidade do ser humano, ou seja, todas as informações sobre as características genotípicas e fenotípicas estão presentes nessa longa cadeia de dupla fita em formato helicoidal. O departamento investigativo da polícia trabalha buscando por provas que possam traçar e definir a identidade do principal suspeito de algum crime e o DNA acaba sendo uma das maiores pistas que um perito pode usar. O perito pode utilizar amostra de todos os tipos: sangue, saliva, pele, esperma, músculo, cabelo, dente, osso, dentre outros. Todas essas amostras biológicas servem como uma ótima ferramenta de rastreio. Isso porque a identidade genética de cada ser humano é única, a não ser que sejam gêmeos. E essa identidade genética pode ser comparada: a amostra de sangue encontrada em uma cena de crime pode ser comparada com a da vítima e a do suspeito afim de achar alguma correspondência molecular entre eles. Caso não haja amostra de um suspeito, pode comparar com os progenitores desse suspeito (mãe e pai) ou outros parentes como irmãos, avós e tios. SAIBA MAIS: O Departamento Federal de Investigação (Federal Bureau ofInvestigation– FBI) realizou um estudo identificando os marcadores variáveis, microssatélites, ou STR, através de estudos populacionais, no genoma humano e chegou à conclusão que 13 marcadores são suficientespara gerar um perfil que é único e exclusivo para cada ser humano. Esse resultado foi divulgado em 1997 e em 2017 esses marcadores já tinham subido para 20. Entretanto, cada país possui sua estratégia para marcação. Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 27 A análise é feita da mesma forma que é feita para identificar à paternidade, entretanto, as nomenclaturas mudam, de suposto pai vai para suspeito. O DNA é extraído, de diferentes amostras, assim como na paternidade, mas se extraem mais de swabe cartão FTA, por serem mais simples, já a perícia vai utilizar as amostras disponíveis na cena. Após a extração e o processamento, o DNA será amplificado nos locus alvos para sequenciamento ou para ser corrido em gel de eletroforese. SAIBA MAIS: Para mais informações sobre os casos periciais, estude o artigo realizado sobre um caso que houve no Rio de Janeiro: Identification of a criminal by DNA typing in a rape case in Rio de Janeiro, Brazil, disponível em: https://bit.ly/2jXWDOd RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Para facilitar a compreensão deste tema que é tão importante dentro da biologia molecular, vamos resumir tudo o que vimos. Você aprendeu aqui existem alguns métodos de investigação do DNA. Conseguiu entender as técnicas que envolvem o teste de paternidade, podendo ser feitas através de coleta por swab ou por cartão FTA; aprendeu sobre os microssatélites e sua funcionalidade no DNA.Entendeu que utilizar o sistema ABO para teste de paternidade não traz muita especificidade e compreendeu os motivos. Conheceu sobre a importância da biologia molecular também para a perícia criminal e ciência forense, descobriu que as mesmas técnicas utilizadas para paternidade podem ser utilizadas para perícia, afim de solucionar casos e identificar suspeitos. Também aprendeu sobre a técnica de polimorfismo no comprimento do fragmento de restrição (RFLP), viu que ela é muito utilizada para exames que envolvem investigação de vínculo genético. Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial28 Detecção de mutações INTRODUÇÃO: Nesse capítulo nós estudaremos a aplicação de técnicas moleculares e citogenéticas para a identificação de alterações moleculares e cromossômicas. Na primeira parte iremos abordar os princípios de cada mutação e o porquê que muitas delas causam doenças ou alterações congênitas tão aberrantes e prejudiciais à saúde humana. A outra parte será focada em explanar os métodos diagnósticos comumente utilizados para a detecção dessas mutações. Mutações A manutenção do material genético depende das taxas mínimas de mutação e também da capacidade de nossas células em identificar erros e repará-los. Durante os processos replicativos celulares pode haver alterações na estrutura da nova cadeia a ser gerada, essas alterações, podendo ser prejudiciais ou não, são chamadas de mutação. Algumas formas de mutação podem gerar em uma cadeia proteica defeituosa ou com funções alteradas, podendo danificar um processo fisiológico importante. Essas mutações são nocivas a seres vivos, podendo levar a danos extensos e generalizados. Entretanto, há mutações que não são capazes de modificar a estrutura de aminoácidos de uma proteína, sendo assim, não alterando a função fisiológica daquela proteína. Essas mutações não são nocivas e, se passadas pelo mecanismo de reparo celular, são passadas despercebidas. Isso por conta da característica degenerativa do código genético, a qual um aminoácido pode ser codificado por mais de um códon, e nunca um códon pode codificar mais de um aminoácido. Essa característica confere um maior poder de manutenção das proteínas, suportando pequenos polimorfismos. As mutações podem ocorrer em dois tipos de células: as somáticas e as germinativas. As células somáticas são as do corpo, incapazes de transmitir informação de forma hereditária. Sendo assim, uma mutação nessa célula, caso nociva, pode causar doença de forma restrita ao Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 29 próprio indivíduo. Entretanto, mutações nas células germinativas terão a capacidade de serem passadas para gerações futuras, já que as células germinativas estão envolvidas na fecundação (entre dois gametas) para a formação de um zigoto. Esse zigoto teria herdado essa mutação, sendo ela molecular, cromossômica ou genômica, iria se desenvolver a partir dessas informações mutáveis e geraria indivíduos com características e predisposições totalmente diferentes de um indivíduo sem mutação prejudicial. Um exemplo disso é a trissomia 21, mais discutida poste- riormente, que irá levar na Síndrome de Down. Mutações altamente extensivas e elevadas na linhagem somá- tica, destruiriam o indivíduo. Taxas de mutações altamente elevadas e extensivas na linhagem germinativa, destruiriam a espécie. IMPORTANTE: As células dependem do funcionamento correto de milhares de genes e de seus mecanismos de reparo e cada um deles pode ser danificado por uma mutação nos diversos sítios da sequência que codifica suas proteínas, ou nas suas regiões flanqueadoras que promovem a expressão ou o processamento de seu mRNA. Apesar de todos os efeitos, as mutações também são eventos necessários para a evolução de organismos simples em organismos complexos. Sem a variação genética necessária, a evolução seria perdida. Sendo assim, uma perpetuação fiel do material genético não permitirá que a raça humana, por exemplo, tivesse existido. Assim, a vida e a biodiversidade dependem de um equilíbrio entre a ocorrência de taxas de mutação e os processos de reparo. Erros de replicação As mutações incluem praticamente todas as alterações permanentes concebíveis nas sequências de DNA. Existem mutações simples, onde somente uma base é trocada, chamada de mutação pontual. Essa mutação pontual pode ser transição, onde umapurina é trocada por outra purina ou uma pirimidina é trocada por outra pirimidina Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial30 como A por G e T por C. O outro caso são as transversões, onde pode haver a troca de uma pirimidina por uma purina e vice-versa, como A com T e C com G. Outros tipos de erros podem causar inserções e deleções extensas, ou rearranjos grosseiros. Porém, essa parte será detalhada mais pra frente. A taxa geral de haver qualquer mutação espontânea em um sítio cromossômico é de 1 em 106 por ciclo de replicação do DNA, sendo áreas mais “atrativas”, tendo uma maior frequência de mutações. Uma das sequências mais propensas para mutação no genoma humano são os microssatélites, anteriormente falado. Isso se deve a alguns “deslizes” provocados pela DNA polimerase. As repetições CA, onde a maquinaria celular não consegue replicar com fidelidade, provocando uma redução ou extensão dessas sequências na fita nova. Sendo assim, acaba gerando em polimorfismos em um sítio cromossômico, podendo fornecer um marcador eficiente para o rastreio de mutações hereditárias ou não através da técnica de mapeamento genético, que será mais explicada posteriormente. Como foi visto anteriormente, a DNA polimerase possui um mecanismo excelente de revisão, que pode servir também de reparo, devido a sua função exonucleásica 3’ – 5’. Entretanto, alguns nucleotídeos podem escapar dessa função revisora, gerando mau pareamento entre a fita-molde e a fita recém-sintetizada, o que resulta em um total de 12 possíveis maus pareamentos, levando em conta o mau pareamento das 4 bases. Caso esse mau pareamento não seja retirado, haverá uma alteração permanente (mutação), onde que o que era um erro de pareamento, vai ser um pareamento comum, como se fosse o certo, já que a fita com o nucleotídeo errado irá formar uma outra fita com o “nucleotídeo certo” para aquele pareamento, gerando um erro permanente. Tautomerizações também são fontes de possíveis mal pareamentos, como já foi explicado na Unidade 1. Lesões no DNA Os erros na molécula do DNA também podem vir de fatores externos, como radiação, fatores químicos (agentes mutagênicos) e pela água (já o DNA, para ficar em sua conformação ideal, precisa estar em meio Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 31 aquoso). Dentre as ações da água, ela pode promover a desaminação da citosina, gerando assim uma uracila, que durante a replicação levará na geração de uma nova fita com adenina ao invés de uma guanina (que deveria ter pareado com uma citosina). A desaminação pode ocorrer com a adenina, produzindo uma hipoxantina, que faz ligação de hidrogênio com a citosina, ao invés da timina. Por fim, a desanimação também pode atingir a guanina, formando a xantina, que ainda tem afinidade com a citosina, embora faça somente 2 ligações de hidrogênio. O DNA também sofre depurinação pela hidrólise espontânea da ligação N-glicosídica entre a pentose e a sua base, formando um nucleotídeo básico na molécula de DNA. A ação da metiltransferase em citosinas com o intuito de promover o controle da expressão, vai levar na formação da 5-metilcitosina. Essa base metilada, quando desaminada pela água, gera uma timina. Ao contrário da uracila, a timina não é uma base estranha ao DNA, portanto, o sistema de reparo não atuará nesse caso, levando em uma mutação pontual (G -> A) na fita recém-feita. Sendo assim, o fato do DNA não ter uracila acaba conferindo uma vantagem evolutiva, já que previne mais taxas de mutações pontuais, podendo ser nocivas. O DNA também é vulnerável à alquilação, oxidação e radiação. EXPLICANDO MELHOR: A alquilação é a transferência de grupos metil e etil para os sítios reativos das bases ou fosfatos que se ligam ao açúcar do nucleotídeo. A nitrosamina, um reagente alquilante e mutagênico artificial, vai transferir um radical metil para o carbono 6 da guanina, formando a O6-metilguanina, capaz de se parear com timinas, assim surgindo uma nova fita com mutação de C -> T. Espécies reativas de oxigênios gerados por radiação ionizante ou até mesmo por compostos químicos têm a capacidade de oxigenar bases, como a guanina, gerando o oxoG. Esse composto é extremamente mutagênico, podendo interagir com a adenina e com a citosina. Se ele parear com a adenina, irá gerar uma transversão. Assim, a fita nova que seria G -> C, será A -> T, uma das mutações mais comuns em alguns cânceres. Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial32 Radiação ultravioleta (UV) na faixa dos 260 nm pode gerar uma fusão fotoquímica entre os pares de base, onde pode ser com duas cadeias pirimidinas em posições adjacentes na mesma cadeia. Por exemplo, pode haver a fusão de duas timinas, formando dímero de timina. No caso de uma timina adjacente a uma citosina, forma uma timina-citosina, sendo essas bases incapazes de parear com outras, interrompendo a replicação da DNA polimerase. Tipos de mutações moleculares Além das mutações pontuais e as silenciosas já mencionadas, há outros tipos de mutações, como os polimorfismos, mutação missense, mutação nonsensee mutação frameshift. Os polimorfismos são tipos de mutações que alteram o tripleto de base (códon) a ser codificado através do ribossomo e do tRNA. Apesar de levar na mudança do aminoácido, esse aminoácido acaba tendo pouca ou nenhuma repercussão sobre a ação da proteína. Pode até levar na redução da função proteica, mas por si só não são o suficiente para causar doenças. A mutação missense leva à alteração de uma base no códon do mRNA, levando à tradução de um aminoácido incorreto, podendo ter alto ou menor grau de interferência. O caso da anemia falciforme leva à mutação pontual A -> T, codificando uma valina no lugar do ácido glutâmico. Nesse caso, a alteração é de alto grau por produzir uma hemoglobina aberrante, dificultando o transporte de hidrogênio. Na mutação nonsense há troca de uma base gerando um códon de parada, ao invés de um códon de um aminoácido. Sendo assim, a proteína nascente é truncada (cortada) prematuramente, podendo interferir em um alto grau ou não na estrutura da proteína. A mutação frameshift interfere na janela de leitura dos códons do mRNA, devido a inserções ou deleções. Como a janela de leitura lê de 3 em 3 bases, então deleções ou inserções vão alterar o início da leitura, podendo traduzir um aminoácido incorreto e também gerar um stop códon prematuramente. Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 33 Reparo e recombinação Muitos fatores podem danificar o DNA e, por essa razão, as células têm que possuir mecanismos de reparo eficiente de DNA para as ocasiões, caso contrário, as células não iriam conseguir sobreviver por muito tempo. Para os maus pareamentos ocorridos durante a replicação, dois mecanismos de reparo entram em ação. Um é o reparo por excisão, onde um nucleotídeo pareado indevidamente é retirando do DNA, formando uma lacuna que será preenchida pelo nucleotídeo correto. Normalmente, esses mecanismos de reparo acontecem em uma das fases do checkpoint do ciclo celular. O reparo por excisão conserta pareamentos incorretos no DNA, a partir de uma fita molde, que não foi danificada. Outra forma de reparo é um pouco mais complexa, devido às altas distorções do DNA causadas pelos raios UV, por exemplo. Esse mecanismo irá retirar um pequeno fragmento de DNA e substitui-lo por um pequeno fragmento complementar. Entretanto, algumas lesões são muito graves, o bastante para levar à morte celular diretamente. Nessas lesões, há a quebra da dupla fita do DNA, gerando duas fitas quebradas. Nesses casos, dois mecanismos podem reverter o processo: reparo homólogo e reparo por união de extremidades não homólogas. Na junção homóloga, as enzimas responsáveis utilizarão uma cadeia de DNA molde para reparar a dupla fita quebrada. Nesse processo,será feita a junção de holliday, onde uma fita quebrada é amplificada da dupla fita molde não atingida e uma fita de DNA da dupla fita não atingida será amplificada no DNA quebrado, permitindo que a outra fita quebrada do DNA lesado seja reparada a partir da fita migrada do DNA não lesado. Essa junção vai levar ao reparo efetivo da dupla fita de DNA quebrada, não perdendo nenhuma informação. Já o reparo por extremidades não homólogas consiste na união das duas fitas quebradas, sem a reposição do conteúdo que estava entre elas. Esse processo só ocorre quando não há uma fita molde para que haja o processo e pode haver perda de um gene (deleção) ou inserção de pares de bases em um gene (inserção). Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial34 Figura 5: Junção de holliday Fonte: http://bit.ly/34t0Mvt Rearranjos e alterações cromossômicas Rearranjos cromossômicos fazem parte das mutações que abrangem os cromossomos (duplicação de um alelo) ou até mesmo os genomas (aneuploidia). Ao contrário das mutações moleculares, as mutações cromossômicas ou genômicas causam alterações altamente expressivas em sua totalidade dos casos. Os rearranjos incluem translocações, inserções, deleções, duplicações e inversões. Alterações cromossômicas A aneuploidia é uma aberração genômica onde a célula acaba perdendo ou ganhando um cromossomo. Por exemplo, no organismo humano, as células somáticas (2n) possuem 46 cromossomos, sendo 23 vindos do pai e 23 da mãe. Quando um cromossomo é adicionado no quadro geral do genoma humano (2n+1), isso é chamado de trissomia. Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 35 A aneuploidia também pode incluir mais de um, tanto para mais, quanto para menos, cromossomo (2n-3 ou 2n+2). No entanto, um outro caso também pode ocorrer, quando um conjunto completo de cromossomos é adicionado (3n) ao genoma do ser vivo. Isso é chamado de poliploidia. Esse caso é mais raro em animais, entretanto mais presente em insetos, plantas e outros vegetais, por exemplo. Essas situações ocorrem devido a não disjunção dos cromossomos, ou seja, quando não ocorre a separação das cromátides irmãs durante a meiose. Em embriões humanos, a falta de ao menos um cromossomo autossômico (não sexual) humano é inviável para a geração da vida. Sendo assim, as monossomias são, em geral, bastante letais, devido a baixa dose de proteínas e de outros produtos que são codificados por genes que estão em falta. A maioria das trissomias autossômicas também impedem que o embrião se desenvolva até o nascimento. Entretanto, em cromossomos menores, aquele embrião consegue se desenvolver até o nascimento e viver uma vida. Os cromossomos são 13, 15, 18, 21 e 22. Quando um cromossomo a mais está presente, ele pode comprometer o equilíbrio do produto de genes do cromossomo duplicado e dos outros genes, podendo até mesmo predispor algumas doenças severas, como acontece nos indivíduos com trissomia 21, tendo maior predisposição ao desenvolvimento de leucemias. A trissomia do 21 é a manifestação mais comum entre os embriões que sobrevivem. Rearranjos cromossômicos Os rearranjos fazem parte de outra classe de mutações em larga escala, onde grandes pedaços cromossômicos, não eles por inteiro, são afetados. Os rearranjos podem ser divididos em duplicações, inserções, deleções, inversões, transposições e translocações. As duplicações EXPLICANDO MELHOR: Um genoma onde há mais uma cópia onde deveria ter somente duas (47). No caso em que há um cromossomo a menos (2n-1), isso acaba sendo chamado de monossomia, onde no genoma que deveria estar presente duas cópias, está somente 1 (45). Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial36 ocorrem quando uma parte de um cromossomo é duplicada, aumentando assim o comprimento daquele cromossomo. As deleções ocorrem quando uma parte do cromossomo é removido. Normalmente isso ocorre devido a processos de recombinações em resposta a uma agressão ao DNA. O reparo de DNA por união de extremidades não homólogas pode levar à deleção de genes, já que o DNA quebrado não foi reposto, mas sim colado suas extremidades quebradas. As inversões são regiões cromossômicas invertidas, apontando para direção contrária do que realmente deveria estar. As inserções ocorrem quando trechos de DNA são inseridos no genoma, devido, por exemplo, ao processo de reparo por não homologia. As translocações são eventos que normalmente acontecem durante o processo de meiose. As permutas cromossômicas (crossing over) são duas regiões, uma de cada cromossomo, que são trocadas, translocadas, de um cromossomo para o outro. Essa característica acaba aumentando a variabilidade genética, favorecendo a evolução. Esse processo fisiológico é considerado como uma translocação recíproca. As translocações não recíprocas envolvem a permuta do pedaço de somente um cromossomo ao outro e não vice-versa. Técnicas para detecção de mutações Muitas das mutações são causadoras de doenças altamente nocivas como os cânceres ou alguma síndrome de caráter cromossômica como a síndrome de Down. Entretanto, para identifica-las é necessário metodologias precisas para encontrar mutações moleculares ou genômicas. A seguir, serão descritas algumas metodologias bastante utilizadas em rotina de laboratório de biologia molecular. PCR A técnica da Reação em Cadeia da Polimerase, já bem discutida, que tem a capacidade de amplificar um determinado trecho genômico a partir de um fragmento de primer, é bastante utilizada para amplificar regiões codificantes (éxons) polimórficas que estão muito associadas com o desenvolvimento de processos carcinogênicos. O RT-PCR é bastante utilizado para o diagnóstico de câncer de estômago através da Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 37 amplificação dos genes HER-2 e topisomerase IIα. Além disso, analisa múltiplos genes de diversas doenças. Outra aplicação para o PCR é na amplificação de regiões polimórficas para sua posterior digestão enzimática em um procedimento chamado de RFLP, como já discutido anteriormente. Essa reação também consegue amplificar alelos para identificar deleções ou inserções, discriminando o tamanho desse alelo. Um exemplo prático é na fibrose cística ao amplificar o gene DF508. Microarranjos (microarrays) Os microarranjos de DNA, ou chip de DNA, é um arranjo de pontos, sendo cada um uma sonda, distribuídos em uma placa que é capaz de identificar uma molécula alvo (DNA ou RNA) através de processos de hibridização, produzindo resultados quantitativos. Podem ser utilizados para analisar níveis de expressão gênica. Esses microensaios também são utilizados para a detecção de duplicações e deleções cromossômicas no genoma humano que podem levar a distúrbios genéticos. Os SNP-array é uma técnica capaz de detectar polimorfismos de nucleotídeo único dentro de uma população de DNA. A amostra de um paciente é introduzida em um chip (GeneChip) contendo sondas específicas que irão hibridizar ao DNA da amostra. Caso haja polimorfismos, haverá uma emissão de sinal, correspondente ao DNA marcado, e será convertida em dados computacionais por um software específico. O CGH+SNP array é uma técnica similar, porém com a utilização de uma amostra controle de DNA para que haja a comparação de fluorescência entre a amostra teste e a amostra controle. Essa é a ferramenta mais indicada pela Academia Americana de Genética para o estudo de crianças e adultos com suspeitas de síndromes genéticas causadas por anomalias cromossômicas, atraso do desenvolvimento neuropsicomotor e autismo. FISH Outro exame de citogenética baseado na utilização de sondas fluorescentes capaz de detectar mutações e rearranjos cromossômicos como deleções. O diferencial é que essa técnica, ao contrário dos Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial38 microensaios, não érealizada em microchips. É um método histoquímico que permite a enumeração, identificação e localização simultânea de regiões gênicas polimórficas. IMPORTANTE: Além de rearranjos complexos, há a identificação precisa de microssatélites no genoma das amostras analisadas. Uma aplicação dessa técnica é a identificação da amplificação de genes envolvidos com processos carcinogênicos como o HER-2. Figura 6: Histoquímica do FISH para o marcador HER-2 Fonte: http://bit.ly/33m7Zw9 Exames de cariótipo O exame de cariótipo é mais uma vertente da citogenética com o objetivo de identificar e analisar os cromossomos e suas regiões. O teste é realizado mediante a cultura de célula, para a obtenção do estágio do ciclo celular em metáfase, onde encontrará os cromossomos formados e conectados ao fuso mitótico, já prestes a se dividir, e sua posterior coloração. Através das bandas cromossômicas identificadas, é possível visualizar as aberrações cromossômicas numéricas ou estruturais. Ou seja, os exames de cariótipo nos permitem ver aneuploidia e os rearranjos cromossômicos anteriormente mencionados. O cariótipo é recomendado para casais que buscam aconselhamento genético. Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 39 Um dos métodos utilizados é o cariótipo em sangue periférico (LCBS), onde será cultivado linfócitos estimulados com agentes mitógenos para a indução da divisão celular e obtenção da metáfase para análise cromossômica. A realização do cariótipo em sangue periférico é referenciada para síndromes congênitas, como a síndrome de Down, crianças com atraso de desenvolvimento ou aprendizagem, incluindo atraso na fala ou déficit intelectual e entre outros. Após o interrompimento da divisão celular, através da ação da colchicina, a amostra será pré-tratada com uma enzima proteolítica (tripsina) e sua posterior coloração. Esta técnica proporciona a produção de bandas transversais nos cromossomos que permite a identificação de cada par cromossômico individualmente e o estudo numérico e estrutural destes com resolução de 400 - 550 bandas. São avaliadas, em média, 20 células em metáfase para a determinação do cariótipo do paciente. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Para facilitar a compreensão deste tema que é tão importante dentro da biologia molecular, vamos resumir tudo o que vimos. Você aprendeu aqui que mutações podem acontecer com o DNA. Aprendeu também sobre as técnicas e exames moleculares e citogenéticas para a identificação de alterações moleculares e cromossômicas. Viu que essas alterações podem estar relacionadas a processos oncopatológicos hereditários ou não. Compreendeu os princípios de cada técnica, como a FISH, SNP-array e o cariótipo banda G. Além de aprender sobre a utilização de testes moleculares na identificação de mutação em códons ou genes específicos que levam ao desenvolvimento de alguns tipos de câncer (como de mama, estômago e pulmão). Compreendeu que muitos fatores podem danificar o DNA e devido a isso, as células têm que possuir mecanismos de reparo eficiente de DNA para as ocasiões, caso contrário, as células não iriam conseguir sobreviver por muito tempo. Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial40 Detecção de doenças infecto-parasitárias e imunogenética INTRODUÇÃO: Neste capítulo veremos a aplicação da biologia molecular para o diagnóstico de doenças infecto-parasitárias e para a obtenção da compatibilidade entre dois tecidos sólidos diante de um transplante. Testes mais precisos, sensíveis e específicos são necessários para a exata identificação desses patógenos, excluindo possibilidades de diagnósticos falso-negativos. A mesma lógica serve para a identificação da histocompatibilidade. Doenças infecciosas A saúde pública brasileira tem sido transformada desde a criação do Sistema Único de Saúde (SUS). O SUS é um dos mais complexos sistemas de saúde no mundo, onde sua eficácia é reflexo de uma política de saúde preventiva e atendimento integral à pessoa. O SUS se divide em atenção primária, secundária e terciária, e cada divisão possui suas especificidades. Dentro de cada atenção, há o monitoramento de doenças altamente infecciosas e de importância epidemiológica no Brasil. Por exemplo, existe o Sistema de Notificação Compulsória, que, por meio de uma Lista Nacional de Notificação Compulsória de Doenças, determina a obrigatoriedade da notificação e comunicação por meio de profissionais de saúde ou responsáveis pelos estabelecimentos públicos ou privados. A importância dessa lista é a notificação visando o rápido controle de eventos que requerem pronta intervenção. Dentro dessa lista há doenças como Dengue, Botulismo, AIDS, Doença de Chagas, Doença de Creutzfeldt-Jakob (causada por príons), Meningite, Sífilis, Influenza (novo subtipo viral), Varíola, Antraz, Ebola, Febre amarela, Tuberculose, Malária, Pneumococo e entre outras. Há uma lista completa sobre as doenças de notificação compulsória e notificação imediata. Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 41 Além da importância da notificação, os testes diagnósticos disponíveis têm que ter eficiência e precisão na detecção desses agentes patógenos, já que tem o maior potencial de disseminação e de elevadas taxas de mortalidade, caso não sejam controlados. Principalmente porque alguns não possuem uma cura ou tratamento bem efetivo (Creutzfeldt-Jakob, Ebola, HTLV e HIV, por exemplo). Algumas dessas doenças serão abordadas a seguir, explicitando suas formas de infecção, geração de doença e métodos diagnósticos. Retrovírus Desde a década de 80, os retrovírus foram apresentados a partir da descoberta do primeiro vírus dessa família, o HTLV-1. Em 1980, dois vírus isolados de pessoas, em diferentes partes do mundo, com manifestações leucêmicas, hoje definida como leucemia de células T do adulto, e com uma doença neurodegenerativa do sistema nervoso periférico (HAM/TSP). Foi determinada a associação desse vírus com tais doenças e descoberto seu tropismo pelas células T, sendo então chamado de Vírus Linfotrófico de Células T Humana. Em 1985 descobriu-se um agente viral em pessoas com deficiência imunitária, sendo muitos casos associados com pneumonias graves. Muitos confundiam esse agente patogênicocom uma outra cepa viral do HTLV, entretanto, quando isolado e identificado, descobriram que se tratava de outro vírus, portanto nomeado de HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana, o terceiro retrovírus descoberto dentre a população mundial. Assim como o HTLV-1, ele tem tropismo forte pelas células T auxiliares (CD4) e, ao contrário do HTLV-1, o HIV-1 tem um caráter lítico, ou seja, ele rompe as células infectadas, difundindo pelo plasma sanguíneo e infectando novas células. O HTLV-1 possui um ciclo lisogênico, no qual se multiplica junto com a célula, tendo sua atuação de forma muito lenta. Ambos são retrovírus por possuírem um genoma de RNA, porém, se inserirem ao DNA genômico por meio da transcriptase reversa. Essa enzima, já mencionada em capítulos anteriores, tem o potencial de converter um fragmento de RNA em um DNA complementar (cDNA), permitindo assim sua integração ao genoma do hospedeiro. Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial42 A diferença entre ambos os vírus, é que o processo que ocorre no HIV acaba sendo muito mais mutagênico, ou seja, criando cDNAs e posteriormente RNAs com regiões polimórficas, já o genoma do HTLV-1 consegue ser muito mais estável. Apesar de o HTLV não estar inserido nem mesmo na lista de doenças negligenciadas (do tanto que é um patógeno negligenciado), sua epidemiologia é altamente concentrada, dentre todos os locais do mundo. IMPORTANTE: Um fato importante que aumenta sua importância epidemiológica é que, como ambos os vírus, HIV-1 e HTLV-1, possuem as mesmas rotas de infecção (via contato sexual, lesãocom materiais perfurocortantes infectados e entre outro), existem muitos casos de co-infecção por ambos os agentes virais. Existem testes sorológicos para ambas as doenças, porém, a forma mais sensível de se diagnosticar esses vírus é através da técnica de PCR, a qual irá amplificar as regiões virais a partir de um primer. Essa técnica é ainda mais requisitada para os casos de infecção por HTLV-1. Esse vírus, por ter uma atuação, em sua maioria, lisogênica, ele não libera partículas virais para o meio plasmático, sendo assim, tornando difícil a detecção desse vírus por métodos sorológicos e também a sua infecção para novos hospedeiros via acidente com materiais infectados, como agulha. Sendo assim, a extração do DNA viral no genoma das células infectadas para a amplificação via PCR é a melhor forma de diagnóstico desse vírus. Um método mais sensível para o diagnóstico do HTLV-1 é o uso da técnica de Nested PCR, que é uma segunda amplificação a partir do DNA amplificado anteriormente. Essa técnica permite a amplificação de uma região dentro da região amplificada. A RT-PCR vai permitir a amplificação de mais de uma região gênica de ambos os vírus (HIV-1 e HTLV-1), permitindo uma maior discriminação na detecção de ambos os vírus. Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 43 Herpes vírus Herpes é uma doença que normalmente está associada às manifestações dérmicas, como acontece com as pessoas infectadas pelo Vírus Varicela-Zóster, o causador da catapora (Varicela) e o herpes vírus tipo 1 e 2, causador do herpes simplex. Esses vírus possuem a capacidade de permanecer em latência por longos períodos de tempo, como o que ocorre com o varicela-zoster, capaz de permanecer em latência nos gânglios nervosos, e quando ativado, pode provocar doenças do sistema nervoso periférico (SNP). O herpes vírus tipo 1 é causador de lesões em mucosas da boca, face e tronco, enquanto que o herpes vírus tipo 2 está relacionado às infecções na genitália e de transmissão geralmente sexual. Entretanto, os dois vírus podem infectar qualquer área da pele ou das mucosas. As manifestações clínicas são distintas e relacionadas ao estado imunológico do hospedeiro. O citomegalovírus (CMV) é outro vírus pertencente à família do herpes vírus. Seu nome reflete ao fato de ele ser o maior vírus dentre todos os outros. Normalmente, esses vírus infectam as pessoas desde a sua infância, podendo ser transmitido via respiratória (tosse, espirros, fala, saliva, secreção brônquica) sendo essa via a principal, transmissão vertical, transfusão sanguínea e entre outros. Ele pode não causar nenhuma manifestação clínica, ou causar febre baixa até doenças graves que comprometem o aparelho digestivo, sistema nervoso central e retina. O Epstein Barr (EBV) é um vírus da família do herpes, também conhecido como Herpervírus4 humano, tem a capacidade de gerar um processo patológico glandular, também chamado de “febre glandular” ou “doença do beijo”, a mononucleose infecciosa. É uma doença de baixa mortalidade e letalidade, de manifestações agudas e geralmente benignas, com achados clínicos como amigdalo faringite, linfadenopatia e hepatoesplenomegalia. A técnica de PCR, mais uma vez, é capaz de identificar, quantificar e discriminar os tipos virais dos agentes pertencentes à família herpes. Sendo assim, a técnica em tempo real, que consegue amplificar mais de uma região gênica de cada vírus e quantificar em tempo real, é a melhor técnica, de biologia molecular, para o diagnóstico preciso. Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial44 Infecção bacteriana e seus genes de resistência As bactérias são organismos celulares muito importantes para a manutenção da homeostasia corpórea, já que elas participam de funções essenciais para o organismo humano, como a defesa inata. Entretanto, algumas bactérias que fazem parte de um sistema corpóreo (a pele, comoStaphylococcus aureus) podem causar doenças em partes diferentes do corpo ou até mesmo na mesma região de colonização, isso por conta de sua característicaoportunista, esperando uma brecha do sistema imune para gerar doença. Entretanto, há outras bactérias que são patogênicas em todos os casos, como a Mycobacterium tuberculosis, agente da tuberculose; Mycobacterium leprae, agente etiológico da hanseníase; Neisseriameningitidis, um diplococo, principal causador da meningite; Streptococcus pneumoniae, causador da pneumonia e em casos mais graves da meningite também; Treponema pallidum, causador da sífilis; Leptospira, agente causador da leptospirose, entre outros. VOCÊ SABIA? Um dos maiores riscos para a saúde é a sepse. A sepse é uma reação imunológica generalizada em resposta à difusão plasmática de uma bactéria. Os lipopolissacarídeos presentes em sua parede celular irão estimular os monócitos e neutrófilos presentes na circulação, que irão liberar fatores quimiotáticos, citocinas, capazes de gerar toda manifestação pró-inflamatória. Sendo assim, essa manifestação pode ser causada por quaisquer bactérias, principalmente as contendo fatores de resistência para os mais diversos agentes antimicrobianos existentes. Como explicado anteriormente, a resistência bacteriana é mediada pela conjugação entre uma bactéria, que irá transportar um plasmídeo contendo um fator de resistência bacteriana para uma outra bactéria receptora. Atualmente, existem bactérias resistentes aos antibióticos mais potentes, como vancomicina. Isso acaba sendo um grande problema para a saúde pública, já que esse paciente infectado com a chamada superbactéria, acaba tendo altas chances de mortalidade. Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 45 Já foi identificado que há uma cepa da Neisseriagonorrhoeae, agente causador da gonorreia, como superbactéria. Essa cepa está associada a infecções faríngeas. Cepas bacterianas e seus genes de resistências podem ser identificadas em hemoculturas suplementadas com um antibiótico em específico. Entretanto, o resultado dessas hemoculturas demora de 24 a 36 horas para serem liberadas. Portanto, técnicas em biologia molecular, sensíveis e rápidas, são usadas hoje em dia para dar um diagnóstico preciso e rápido. Em casos de sepse, por exemplo, um diagnóstico rápido tem grandes chances de salvar a vida de um paciente. Um método muito eficiente é a amplificação do gene 16S rDNA diretamente da hemocultura. O resultado mostrou que essa técnica foi duas vezes mais sensível que o método convencional, sugerindo assim a importância da aplicabilidade da PCR nesses casos. Uma outra metodologia é a utilizando de chip-array, onde neles terão sondas capazes de hibridizar os plasmídeos contendo os genes de resistência. Essa técnica é sensível e muito mais rápida, provendo um diagnóstico em tempo hábil para aqueles pacientes com suspeita de sepse. Protozoários Os protozoários são seres eucariontes, ou seja, possuem núcleo celular organizado dentro de uma carioteca. A maioria deles são heterótrofos, embora alguns sejam autótrofos, produzem clorofila e com ela realizam a fotossíntese, onde vem a fonte de seus alimentos. Existem 60.000 espécies conhecidas, sendo 10.000 parasitas de diferentes animais, e apenas algumas dezenas são agentes etiológicos de doenças humanas. Dentre elas, algumas são muito importantes à saúde pública, como as causadoras da giardíase, toxoplasmose, doença de chagas, leishmaniose, malária, tricomoníase e amebíase, por exemplo. A toxoplasmose é causada pelo Toxoplasma gondi, um esporo- zoário muito relacionado à transmissão de animais a humanos, como por exemplo de gatos para grávidas. Nesse caso, há um grande risco para lesões na retina e sistema nervoso da criança em desenvolvimento. Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial46 Mães que já tinham a toxoplasmose (infecção crônica) e engravidam, não são capazesde transmitir esse agente ao filho. A malária é uma doença causada por protozoários que infectam o sangue. O Plasmodium falciparum, maior agente causador da malária, infecta as hemácias e são capazes de gerar complicações como calafrios, febre alta que duram de 3 a 4 horas, profundo mal-estar, cefaleia, náuseas e dores articulares. Algumas pessoas têm uma melhora espontânea ou uma morte devido a complicações pulmonares, renais e coma cerebral. O diagnóstico de todas essas infecções parasitárias pode ser realizado via PCR ou RT-PCR, para identificação e quantificação. Imunogenética A imunogenéticaé a área do conhecimento voltada ao estudo dos aspectos genéticos acerca das interações antígeno-anticorpo, mas não envolvendo um patógeno e um anticorpo produzido por um linfócito, e sim as características genéticas que definem as interações dos anticorpos com antígenos considerados “nossos” e antígenos considerados estrangeiros. Dentro dessa área, há divisões que pode em: estudo das doenças autoimunes, estudo das deficiências imunológicas, estudo dos mecanismos de transplante e estudo dos grupos sanguíneos. Um dos ramos mais explorados, e que será foco na discussão a seguir, é a imunogenética dos transplantes. O transplante de órgãos é um procedimento altamente delicado, pois cada indivíduo possui uma configuração quanto à compatibilidade mediada pelo complexo principal de histocompatibilidade (HLA). Isso significa dizer que, assim como as pessoas possuem diferentes polimorfismos em locus contendo microssatélites, elas também podem conter diferenças em seus HLAs. E será justamente essa compatibilidade que será explorada nesse ramo, e pra haver a transfusão de um órgão a um indivíduo, a compatibilidade entre os HLAs deve ser a melhor possível. Caso não haja um bom nível de compatibilidade, o organismo hospedeiro irá rejeitar aquele enxerto transplantado, criando uma reação imunológica, podendo ser generalizada. Outra complicação é a Doença do Enxerto contra o Hospedeiro, atrelada ao transplante de medula óssea ou células tronco, onde as Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 47 células enxertadas criaram resposta imunológica contra o organismo do hospedeiro. Além das complicações envolvendo rejeição, o órgão transplantado ou o organismo hospedeiro pode estar infectado com alguns vírus como o CMV, Varicela-zoster ou poliomavírus, como JCV e BKV, que normalmente estão no organismo humano em forma de latência, porém, ao hospedeiro ser submetido às terapias de imunossupressão, afim de evitar as repostas imunológicas de rejeição, esses vírus podem entrar em forma ativa, gerando suas complicações. Complexo principal de histocompatibilidade O complexo principal de histocompatibilidade humano (HLA), descrito em 1958, define-se como um conjunto de locus ligados intimamente no braço curto do cromossomo 6. Esses locus são responsáveis pela produção de aloantígenos, ou seja, antígenos que se diferem dentro de uma mesma espécie. Esses antígenos também são chamados de Antígenos de Leucócitos Humanos (HLA), cuja importância foi reconhecida inicialmente no campo dos transplantes de órgãos, por participarem do processo de rejeição quando transferidos para um hospedeiro incompatível. O MHC humano é constituído pelas regiões gênicas de classe I, II e III. O sistema HLA é codificado por genes de classe I (A, B,C), os quais expressam glicoproteínas de superfície celular que são encontradas na membrana das células nucleadas do organismo e determinam o reconhecimento do antígeno pelo linfócito T. Os linfócitos que expressam moléculas CD8 reagem com as moléculas do MHC classe I. Esses linfócitos geralmente têm função citotóxica, sendo assim capazes de reconhecer qualquer célula infectada, visto que todas as células nucleadas expressam moléculas MHC de classe I. Sendo assim, o HLA de classe 1 (ou MHC de classe 1) é reconhecido somente por linfócitos T CD8. Alguns genes MHC de classe I codificam moléculas MHC não clássicas, como HLA-G (que pode ter um papel na proteção do feto contra a resposta imunitária materna) e HLA-E (que apresenta peptídeos para certos receptores nas células NK). Os genes HLA de classe II (DR, DQ,DP) são expressos em linfócitos B, macrófagos, monócitos, linfócitos T ativados e células dendríticas Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial48 foliculares, sendo reconhecidos assim como células apresentadoras de antígeno. Essas células irão determinar as interações delas com linfócitos CD4, afim de apresentar os antígenos a essas células para que uma reposta adaptativa seja criada. A maior parte das células nucleadas podem ser induzidas a expressar MHC de classe II pelo IFN gama. As moléculas de MHC classe II são formadas por duas cadeias polipeptídicas, as quais são codificadas por genes nas regiões HLA-DP, HLA-DQ ou HLA-DR do cromossomo 6. A região de classe III contém muitos genes responsáveis por várias funções, incluindo proteínas do sistema complemento (C2, C4 e fator B), enzimas como a 21-hidroxilase, as enzimas glicosiladoras de moléculas HLA, fator de necrose tumoral alfa e beta (TNF), receptor para interferon gama, além de outros genes, cujos produtos ainda não foram definidos. Os genes do sistema HLA são codominantes, isto é, tanto os de origem paterna como os de origem materna se expressam na membrana celular. O conjunto de antígenos codificados por genes de um cromossomo haploide (n) constitui um haplótipo. O conjunto de haplótipos paterno e materno constitui o genótipo, ou seja, dois alelos do mesmo gene, porém de pessoas diferentes, gerando um diploide (2n). Por herança Mendeliana simples, há 25% de probabilidade de dois irmãos apresentarem dois haplótipos comuns (HLA idênticos), 50% de probabilidade de apresentarem um haplótipo comum (haploidênticos) e 25% de probabilidade de não apresentarem identidade (HLA distintos). Os locus HLA são os mais polimórficos conhecidos dentre do genoma humano. Cada loco HLA (A,B,C,DR,DQ e DP) pode ser ocupado alternativamente por uma série de genes alélicos. SAIBA MAIS: O polimorfismo MHC é tão elevado que frequentemente a heterozigose, em populações acasaladas ao acaso, aproxima-se de 100%. É praticamente impossível encontrar dois indivíduos, não aparentados, portando o mesmo genótipo HLA. Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 49 A diversidade de genes, o polimorfismo, a herança mendeliana simples e a participação de genes HLA na resposta imune constituem as principais características que tornam o complexo HLA extremamente atraente sob o ponto de vista de estudos de doenças e também a razão de estudá-lo para entender o porquê de ser tão difícil encontrar um doador HLA compatível, sendo empregadas provas para identificar a compatibilidade entre indivíduos, antes da transfusão. Prova Cruzada A prova cruzada é empregada para identificar anticorpos pré- formados, específicos para o órgão doador, sendo assim considerado uma simulação do transplante in vitro. Ainda que seja o primeiro transplante, o teste vai identificar se os receptores do receptor possuem sensibilidade contra os antígenos de HLA do doador. Caso o resultado seja positivo, então aquele doador apresenta um alto risco para o receptor, significando uma resposta cruzada contra o HLA do doador. Essa metodologia pode ser aplicada em citometria de fluxo, onde será incubado o soro do paciente a receber o órgão com linfócitos do doador. Após a incubação, que deve ocorrer a formação de complexo antígeno-anticorpo (se no soro houver a presença de anticorpos anti- HLA), adiciona-se a reação, anticorpos monoclonais marcados com fluorescência direcionados aos linfócitos T e B, que será detectada pelo citômetro de fluxo a reação positiva ou negativa. A citometria vai identificar os anticorpos anti-HLA do doador, devido a sensibilização
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