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Aula 04 Natália Gindri Fiorenza Maria Paula de Souza Sampaio Citopatologia Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Diretora Editorial ANDRÉA CÉSAR PEDROSA Projeto Gráfico MANUELA CÉSAR ARRUDA Autor EDUARDO NASCIMENTO DE ARRUDA Desenvolvedor CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS NATÁLIA FIORENZA Olá. Meu nome é Natália Fiorenza. Sou formada em Ciências Biológicas, com mestrado e doutorado na área de Ciências da Saúde. Passei por diferentes laboratórios de pesquisa, publicando trabalhos científicos e participando de muitos Congressos e Cursos em diferentes área de saúde e educação. Fui professora universitária e tutora durante 4 anos do curso de medicina, onde me conectei com minha paixão pela docência e por metodologias ativas de ensino. Sou ávida por aprender e ensinar e por trocar conhecimentos quer na área científico-acadêmica, quer na área de desenvolvimento humano e autoconhecimento. Recebi com muita alegria o convite da Editora Telesapiens para integrar seu elenco de autores independentes, pois tenho como propósito transmitir aquilo que sei e auxiliar outras pessoas no início de sua jornada profissional. Estarei com você nessa caminhada de muito estudo e trabalho. Conte comigo! As Autoras MARIA PAULA DE SOUZA SAMPAIO Meu nome é Maria Paula, sou graduada em Biomedicina, habilitada em Citopatologia. Além da prática com a minha habilitação, pude realizar um curso avançado em Citopatologia Cérvico-Vaginal. Atualmente, sou voluntária de um projeto de pesquisa na Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) sobre Patologia Mamária Comparada, onde fiz iniciação científica por um ano. Em minha jornada de aprendizado contínuo pude participar ativamente de congressos e projetos de estudo, e sempre tive uma paixão por ensinar. Junto com Natália, pretendo transmitir todo o ensinamento que obtive até aqui, buscando sempre aprender mais. Estamos juntos nesse aprendizado! INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimen- to de uma nova competência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser prioriza- das para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e inda- gações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofun- damento do seu conhecimento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últimas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma ativi- dade de autoapren- dizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; Iconográficos Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo pro- jeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: SUMÁRIO Compreendendo a citopatologia pulmonar 10 Citologia do escarro 12 Citologia em escovados e lavados 15 Citologia do derrame pleural 17 Citologia no câncer de pulmão 17 Citopatologia do sistema urinário 19 Métodos de coleta 20 Urina cateterizada 21 Lavado vesical 21 Escovação 21 Células do trato urinário 22 Achados benignos 24 Células atípicas 25 Lesões Uroteliais 25 Neoplasias Uroteliais 27 Citopatologia da tireoide 28 Material encontrado nos aspirados da tireoide 30 Células foliculares 31 Células de Hürthle (oncócitos) 32 Coloide 32 Classificação das amostras 33 Classe I 33 Classe II 34 Classe III 34 Classe IV 35 Classe V 36 Classe VI 36 Citopatologia da pele e do sistema nervoso 38 A citologia nas lesões da pele 38 Citologia do líquido cefalorraquidiano 39 Celularidade do líquor 40 Detecção de células malignas no LCR e diferenciação dos tipos de meningites 41 Psicofarmacologia Clínica 7 UNIDADE 04 Citopatologia8 Você sabia que a área da Citopatologia possui uma importância na utilização do exame citológico para complementar o diagnóstico clínico de órgãos como pulmão, pele, hormônio tireoide e do sistema urinário? Isso mesmo. A área de Citopatologia estuda as patologias através das alterações citomorfológicas, que podem ser visualizadas ao microscópio, utilizando critérios estabelecidos sobre as características das células. Cada sistema possui suas peculiaridades e é composto por diferentes tipos celulares, que poderão ser analisados citologicamente. Sua principal responsabilidade é auxiliar no diagnóstico de lesões pré-cancerosas e cancerosas, como o câncer de pulmão e da bexiga. Podendo também indicar alterações não cancerosas, como processos inflamatórios e infecciosos que ocorrem em diferentes tecidos. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! INTRODUÇÃO Citopatologia 9 Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 4. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Compreender sobre as técnicas citológicas e diferentes tipos de amostra do sistema respiratório. Diferenciar a citologia normal das infecções inflamatórias e do câncer de pulmão. 2. Conhecer a citologia e tumores do trato urinário, juntamente com suas alterações inflamatórias e técnicas especiais diagnósticas. 3. Estudar sobre as lesões benignas e neoplásicas dos nódulos da tireoide, a técnica utilizada e os carcinomas detectados pela citologia. 4. Abordar técnicas citológicas para melanomas e tumores do sistema nervoso, mostrando a citologia normal e neoplásica de ambos. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conheci- mento? Ao trabalho! OBJETIVOS Citopatologia10 Compreendendo a citopatologia pulmonar INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender como funcionam as técnicas de citopatologia nos lavados presentes no pulmão. Terá conhecimento sobre os tipos de amostra do sistema respiratório e os principais componentes presentes no lavado, tanto em normalidades como em patologias, além de conhecer as características citológicas do câncer de pulmão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! A citopatologia pulmonar pode ser realizada em amostras como escarro, lavado bronquial, punção pulmonar ou escovado pulmonar. O lavado bronco-alveolar (BAL) é utilizado como diagnóstico diferencial em patologias e infecções pulmonares. Apesar de não ser indicado no diagnóstico de carcinoma bronquial, tendo em vista que tumores periféricos podem não ser vistos, em metástases pulmonares, carcinoma difuso invasivo broncoalveolar e linfoma, a análise citológica do BAL é muito importante. Podendo ser um instrumento de diagnóstico definitivo quando o pulmão está comprometido pela doença primária, por uma infecção oportunista, por hemorragia alveolar ou por alveolite induzida por drogas. A coleta é feita através de instilação seguida de aspiração de soro fisiológico no pulmão, o volume obtido durante o procedimento deve ser levado em consideração, podendo interferir na quantidade de células epiteliais e proteínas presentes. As células são preparadas através de centrifugação, mas também pode ser feito o esfregaço direto à lâmina, porém obter-se-a uma amostra menos concentrada. As colorações mais utilizadas são a de Papanicolaou e de Wright-Giemsa, sendo essa última mais indicada na diferenciação de células inflamatórias. Existem alguns riscos durante o procedimento da coleta do lavado, como broncoespasmo, laringoespasmo, convulsões e arritmias cardíacas, que podem ocorrer quando há aplicação incorreta da anestesia. É preciso tomar cuidado!! Citopatologia 11 O principal papel do BAL nos portadoresde câncer do pulmão é diagnosticar infecções oportunistas nos pacientes em tratamento com quimioterapia, doenças hematológicas no pulmão, doença intersticial, carcinoma brônquio-alveolar e adenocarcinoma de mama com metástase para pulmão, não sendo excluído do diagnóstico de neoplasias pulmonares. A citologia do escarro deverá ser utilizada em casos de lesões tumorais centrais, quando não puder ser feito outro método diagnóstico, como a broncoscopia. Caso o paciente apresente bronquite macroscopicamente purulenta, o procedimento deverá ser realizado após o tratamento, visto que as células inflamatórias podem obscurecer os achados em nível alveolar. A maior parte do diagnóstico citológico pulmonar estuda as vias respiratórias em geral. O escarro é composto predominantemente por muco e números variáveis de células epiteliais e de inflamação; sua produção espontânea em grandes quantidades pode indicar alguma enfermidade pulmonar. As variações nas quantidades de macrófagos, neutrófilos e células epiteliais podem informar sobre os processos inflamatórios. Os lavados e escovados bronco-alveolares são técnicas complementares à citologia do escarro no diagnóstico de lesões pulmonares. O excesso de células ciliadas ou escamosas epiteliais (mais que 5%) indicam contaminação, tornando a amostra inadequada. Escassez de macrófagos alveolares, exsudato mucopurulento com grandes quantidades de polimorfonucleares, muitas hemácias e artefatos também tornam inadequada a amostra, sendo necessária nova coleta. Tabela 1 – Valores de referência de células em BAL em indivíduos normais. Células Valores de referência em % (com relação ao número total de células, menos as epiteliais) Macrófagos 80-90 Linfócitos 5-15 Polimorfonucleares 1-3 Eosinófilos <1 Mastócitos <1 Citopatologia12 Citologia do escarro Em condições normais, são encontrados elementos celulares, como macrófagos, leucócitos, células escamosas, cilíndricas, caliciformes e cuboides no pulmão. As células escamosas são encontradas na cavidade oral, na faringe, laringe superior e nas cordas vocais. Figura 1: Células escamosas da cavidade oral. As células cilíndricas ciliadas estão presentes nas cavidades nasais, seios paranasais, traquéia, brônquios e bronquíolos. Sua ausência pode ser causada por mal processamento ou processo de degeneração tecidual. A resposta a agentes patogênicos se traduz em hiperplasia ou metaplasia. Figura 2: Célula cilíndrica ciliada. As células caliciformes são mais abundantes que as ciliadas, e, em caso de irritação crônica, como asma ou bronquite, sua quantidade aumenta consideravelmente. A presença ou ausência de células cuboides (arredondadas) não é indicativo de complicações. Citopatologia 13 Figura 3: Grupo de células caliciformes. Outras células, como macrófagos e leucócitos, são comumente encontradas em amostras de escarro. Os macrófagos podem conter algumas partículas fagocitadas. Já os leucócitos estão presentes na boca e na nasofaringe. Quando há campos com grandes quantidades de polimorfonucleares, bactérias em abundância e poucas células escamosas, é indicativo de infecção. Grandes quantidades de eosinófilos sugerem doenças alérgicas, parasitárias ou fúngicas, já grandes quantidades de linfócitos estão relacionadas com leucemia, linfomas, tuberculose, bronquite crônica e câncer. Existem microorganismos que também podem ser visualizados no exame citológico dessas amostras, que vão estar presentes em processos infecciosos. O escarro é muito utilizado para diagnosticar infecções como paragonimíase pulmonar, pneumocistose, micoses e tuberculose, podendo ser visualizados os parasitas, fungos e bactérias causadores dessas patologias. Também podem ser visualizados elementos não celulares, como espirais de Curschmann, que representam muco inspirado condensado dos bronquíolos. A presença ou ausência desses espirais e o nível de pigmentação dentro dos macrófagos vão indicar a fisiopatologia pulmonar implícita. Esses espirais devem ser analisados com bastante cautela pois podem apresentar células neoplásicas aderidas, que podem ter sido parte de um tumor obstruindo a luz bronquial. Citopatologia14 Figura 4: Macrófagos presentes em amostra de escarro. Figura 5: Espirais de Curschmann com muco se formando como um molde de bronquíolo. Outros elementos que podem estar presentes são corpos amiloides, corpos ferruginosos e cristais de Charcot Leyden, que se observam juntos a vários eosinófilos e são encontrados principalmente na asma. Uma amostra adequada de escarro deve conter macrófagos alveolares, já que a ausência dessas células indica que há apenas saliva. Não existe uma quantidade mínima de macrófagos que devem estar presentes porém deve-se haver uma quantidade facilmente visualizada ao microscópio e a amostra deve ser suficiente para preparar 2 a 4 esfregaços, sendo que a preparação de 4 esfregaços de uma amostra aumenta consideravelmente o rendimento diagnóstico. Citopatologia 15 Citologia em escovados e lavados Esses dois tipos de amostras serão utilizadas em técnicas comple- mentares à citologia do escarro no diagnóstico de lesões pulmonares. Ambos são realizados através de um broncoscópio. Os esfregaços de escovados são preparados imediatamente rodando a extremidade da escova na lâmina, depois são fixados com álcool ou spray fixador. Caso a fixação leve muito tempo para ser realizada e a amostra seque ao ar, haverá artefatos. Uma amostra adequada de escovados deve conter um grande número de células epiteliais ciliadas bem conservadas e macrófagos. Amostras insatisfatórias são compostas por poucas células, contaminação, obscurecimento por células escamosas orais, sangue, inflamação acentuada ou artefatos. Quando são realizados diversos escovados durante a broncoscopia, outros procedimentos mais invasivos poderão ser descartados. Figura 6: Amostra satisfatória de escovado mostrando a presença de polimorfonucleares e macrófagos. As amostras de lavado coletadas para citologia bronquial confirmam o diagnóstico pelo escarro. Através do exame broncoscópio é possível localizar a origem e a causa das patologias, e, apesar de ser uma técnica invasiva, o BAL pode ser utilizado com segurança. Junto com a punção por agulha fina representam as únicas técnicas citológicas que podem estudar os componentes das vias aéreas mais profundas, sendo que o BAL pode investigar melhor as doenças pulmonares intersticiais difusas (ILDs). BAL pode proporcionar informação prognóstica muito útil em casos especiais, como Alveolitis fibrosante, onde é possível visualizar uma grande quantidade de neutrófilos e eosinófilos associada a alto risco de comprometimento funcional. Citopatologia16 Tabela 2: Achados no BAL úteis no diagnóstico de ILDs. Achados Diagnóstico sugerido Eosinófilos ≥ 25% Pneumonia eosinofílica Linfócitos ≥ 25% Sarcoidose, reação a drogas, desordens linfoproliferativas, pneumonia linfoide intesticiail Neutrófilos ≥ 50% Dano alveolar difuso (DAD), infecção pulmonar, exacerbação aguda de fibrose pulmonar intersticial Fluido sanguinolento Hemorragia difusa alveolar, hemorragia pulmonar Células CD1 > 4% Histiocitose de células de Langerhans Linfócitos monotípicos Malignidade pulmonar linfomatosa Células malignas Malignidade pulmonar Células epiteliais escamosas > 5% Contaminação de vias áreas superiores Células epiteliais bronquiais > 5% Pode ser inviável para análise Uma amostra inadequada de lavado é composta por grande quantidade de células ciliadas ou escamosas epiteliais (mais que 5%), visto que indicam contaminação por material bronquial ou oral, indicando que a amostra não é representativa de áreas mais distantes. Também é considerada insatisfatória amostra com poucos macrófagos por campo, muitas células epiteliais, presença de exsudato purulento de polimorfonucleares, muitas hemácias e artefatos causando obscurecimento.Figura 7: Amostra adequada de lavado mostrando células epiteliais e macrófagos, sem malignidade. Citopatologia 17 Citologia do derrame pleural A citologia do derrame pleural é muito utilizada no diagnóstico do mesotelioma epitelial difuso. Ela se baseia na interpretação cuidadosa das células mesoteliais do líquido, que estão em grandes quantidades e atípicas. As amostras do líquido pleural são colhidas por meio da toracocentese, uma técnica cirúrgica que não será abordada aqui. Algumas características possuem valor diagnóstico particular, como presença de gotículas intraciplasmáticas nas células suspeitas, indicando adenocarcinoma metastático de tumores secretores de mucina, ou mucopolissacarídeos sensíveis à enzima hialuronidase, sugestivo de carcinoma. IMPORTANTE: A sensibilidade dos diferentes métodos citológicos nas lesões periféricas do pulmão é: lavado (37% a 43%); escovado (48% a 52%) e biópsia (46% a 60%). Os 3 métodos associados têm sensibilidade de 66% a 69%. Citologia no câncer de pulmão A punção por agulha fina (PAAF) é uma técnica muito utilizada para citologia de patologias localizadas, e a mais eficaz para estabelecer o diagnóstico definitivo do câncer de pulmão. A PAAF transtorácica é utilizada para diagnóstico tanto de tumores primários como de metástase e a biópsia percutânea de PAAF é uma das melhores escolhas para investigar a presença de nódulos e massas. Em alguns casos, se a citologia de escarro for negativa para lesão pulmonar e ela estiver presente na periferia ou no ápice do pulmão, a PAAF transtorácica será realizada sem a broncoscopia. Na PAAF é necessário encontrar alguma inflamação ou processo patológico, senão a amostra é considerada inadequada. O citodiagnóstico é voltado para a aparência geral das células e seus núcleos, incluindo a celularidade da amostra, a distribuição celular, tamanho e forma das células e a aparência citoplasmática. Com relação ao núcleo devem ser levados em consideração o tamanho, a forma e a posição do núcleo dentro da célula, a quantidade de núcleos, o padrão da cromatina, a aparência dos nucléolos e a presença de figuras de mitose. Citopatologia18 O fundo da lâmina pode fornecer indícios quanto à natureza do material que está sendo examinado e não deverá ser desconsiderado. Figura 8: Adenocarcinoma de pulmão com macronucleação. SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Artigo “Diretrizes da Sociedade Papanicolau de Citopatologia para o Exame de Amostras Citológicas Obtidas a Partir do Sistema Respiratório” (Kenneth C. Suen M.D. et. al.), acessível pelo link: http://bit.ly/2PJFTqC E então? Como foi este capítulo? Está tudo na ponta da língua? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que existem algumas técnicas utilizadas para a análise citológica pulmonar, assim como existem diferentes tipos de amostras a serem colhidas, como o escarro e os lavados. A escolha da técnica vai depender do paciente e a sua situação pessoal. Existem diversas patologias que podem ser diagnosticadas pelo escarro, que é uma técnica menos invasiva que as outras. Compreendeu quais tipos celulares existem em amostras citológicas do pulmão, que sua abundância ou escassez é importante para o diagnóstico, podendo indicar malignidade ou benignidade. Entendeu as diferenças entre as Citopatologia 19 características citomorfológicas visualizadas na citologia do escarro, BAL, escovados e derrame pleural, como também na citologia de PAAF. Aprendeu sobre os critérios para que a amostra possa ser considerada satisfatória ou insatisfatória. E conheceu um pouco sobre o câncer de pulmão e entendeu o porquê de não ser viável a utilização de técnicas menos invasivas, como a citologia do escarro, já que não será possível a visualização de processos neoplásicos. Citopatologia do sistema urinário INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender como funcionam as técnicas de citopatologia nas amostras presentes no trato urinário. Terá conhecimento sobre os tipos de amostra, assim como os principais componentes presentes, tanto em normalidades como em tumores do trato urinário. Você também aprenderá acerca das alterações inflamatórias e o diagnóstico. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos adinte! A citologia diagnóstica do trato urinário é realizada através da análise microscópica da urina, sendo realizada através de diversas técnicas de coleta, que serão estudadas agora. Existem técnicas que são utilizadas em conjunto com a citologia urinária, complementando o diagnóstico, como os marcadores urinários. A citopatologia urinária pode ser útil desde o auxílio de pacientes em tratamento, até a detecção de achados benignos e diagnóstico oncológico. É um método diagnóstico acessível, não invasivo, com alta especificidade e sensibilidade, capaz de detectar lesões de alto grau (80%) e carcinoma da bexiga. Também é utilizado para rastreamento de carcinoma urotelial, na vigilância e seguimento de neoplasias e para terapêutica. Entretanto, existem limitações, como a quantidade de falso-negativo em pacientes com tumores uroteliais de baixo grau, além de problemas na hora da coleta e preservação da amostra. Há uma taxa muito alta de resultados equívocos ou atípicos, e a falta de padronização da nomenclatura dos laudos citopatológicos dificulta a conduta do urologista. Além disso, como a amostra é um material líquido, Citopatologia20 é necessário um rápido preparo para aumentar a detecção de células atípicas preservadas, tornando a análise limitada. O sistema excretor é composto pelos rins, ureteres, bexiga urinária e uretra. A pelve renal, os ureteres, a bexiga e a uretra são revestidas pelo urotélio, um epitélio altamente especializado e único (epitélio transicional). O urotélio possui função de formação de barreira para a urina tóxica, e é composto por uma camada basal de células cuboides sobre a membrana basal, camadas intermediárias, e uma camada superficial de células “guarda-chuva”. A urina é um líquido acelular, produto do sistema excretor, composta basicamente por ureia e substâncias orgânicas e inorgânicas, que carreia as células derivadas do epitélio das estruturas presentes que descamam. Em condições normais ela apresenta pH ácido e sua composição dependerá de fatores como alimentação, atividade física, função renal, entre outros. O trígono vesical pode ser revestido por epitélio escamoso e áreas de epitélio produtor de muco também podem ser observadas. Além dessas células, podem ser encontradas células de inflamação, histiócitos e hemácias. O início da medicina laboratorial através da análise urinária foi com o ‘Papilo Cirúrgico de Edwin Smith’, hieróglifo egípcio, que demonstrou médicos da antiguidade analisando uma amostra de urina, observando características como cor, turvação e odor. Os achados citológicos da urina são classificados de acordo com suas características citomorfológicas e arquiteturais. Métodos de coleta Para que os resultados da citologia urinária sejam fidedignos é necessário que haja uma coleta adequada, com cuidados especiais. Algumas regras devem ser seguidas, como não coletar a primeira urina da manhã; deve ser coletada 3 horas após a primeira urina, ingerindo de 3-4 copos de água. O material deve ser refrigerado imediatamente e deve ser processado o mais rápido possível. O método da coleta será escolhido de acordo com o paciente e seu estado clínico. O método da urina espontânea é o menos invasivo e mais utilizado, sem apresentar riscos ao paciente. Esse método interfere muito pouco no padrão morfológico das células descamadas do sistema renal. Citopatologia 21 Métodos como a cateterização, lavado ou escovado, que sãoinvasivos, são indicados para pacientes que apresentam retenção urinária, dificuldades de locomoção ou que façam uso de sonda uretral. Urina cateterizada Por ser um método invasivo, com risco de ocorrência de infecções no trato urinário, esse apresenta algumas desvantagens para o paciente. É capaz de interferir na arquitetura celular, mimetizando células malignas, além de exigir uma grande atenção e conhecimento por quem realiza. Alguns fragmentos celulares benignos podem ser retirados pela ponta do cateter, podendo apresentar lesões papilíferas de baixo grau. As células uroteliais também podem estar pouco preservadas e apresentarem núcleos alterados devido à degeneração do material. Lavado vesical Também é um método invasivo, realizado por meio da introdução de um cateter irrigando a bexiga com cerca de 50 mL de solução salina, produzindo assim uma suspensão das células uroteliais recém- esfoliadas. Esse método apresenta vantagens quando comparado à urina cateterizada e dever ser realizado antes de qualquer procedimento de biópsia. As vantagens são a coleta de material com maior celularidade e preservação e a diminuição de chances de contaminação por detritos urinários, tendo em vista que a urina retida na bexiga é retirada. Entretanto, também traz riscos ao paciente com relação a infecções do trato urinário. Escovação Esse método é realizado através da introdução de um endoscópio, permitindo a visualização direta, e assim coleta-se o material. Os métodos de escovação e de lavagem do trato urinário superior permitem a localização do tumor. Através da visualização de células uroteliais malignas é possível identificar se o tumor encontra-se na porção superior esquerda ou direita do trato urinário, pois a coleta é realizada separadamente. Citopatologia22 É possível coletar material da porção superior do trato urinário através de métodos como a própria escovação ou o lavado. Essa coleta é indicada quando há suspeita de neoplasia da pélvis renal, coletando, então, material dos ureteres. Tabela 1: Características das amostras em diferentes tipos de coleta. Urina espontânea Urina cateterizada Lavagem vesical Celularidade Escassa Moderada Elevada Preservação Ruim/média Boa Boa Arquitetura Células isoladas Agrupamentos Agrupamentos Vantagens Não invasivo Mais material Melhor material Desvantagens Degeneração, material escasso, contaminação Instrumentação, infecção, artefatos Invasivo, antibiótico profilático Células “guarda-chuva” “guarda-chuva”, basais “guarda-chuva”, basais Células do trato urinário As principais células presentes no trato urinário são as uroteliais, que estão presentes em diversas camadas do epitélio. Em sua normalidade, as células uroteliais apresentam núcleos uniformes, com cromatina fina, citoplasma fino e apresenta nucléolos proeminentes. Podem ser divididas em células superficiais (guarda-chuva), células intermediárias e células basais. As células “guarda-chuva” são binucleadas ou multinucleadas, de tamanho variável, e forma poligonal, apresentam grande citoplasma, fino, possuem uma relação núcleo-citoplasma baixa. Essas células são frequentemente vistas em amostras de ureteres ou da pélvis renal. As células intermediárias e basais possuem tamanho menor, podendo ser idênticas às células parabasais do epitélio pavimentoso cervical. Possuem formato poligonal ou redondo, tendo pouca variação em seu tamanho. Seu núcleo possui cromatina fina e granular e o citoplasma é claro e abundante. Algumas vezes podem dificultar o diagnóstico por formarem estruturas parecidas com células benignas, quando esfoliam em grupos. Na citologia normal, encontra-se células uroteliais em geral, células colunares, células de camadas mais profundas, células tubulares renais, cilindros renais, cristais de urina, polimorfonucleares Citopatologia 23 e hemácias. Podem ser encontrados outros elementos menos comuns, como espermatozoides, células endometriais e agentes infecciosos (tricomonas, ovos de Schistosoma, alguns vírus). Figura 9: Células “guarda-chuva” em lavado de bexiga. Figura 10: Citologia normal do urotélio. Na análise de urina espontânea espera-se encontrar células uroteliais intermediárias dispersas, com citoplasma finamente vacuolizado, núcleo redondo apresentando nucléolo. As células podem estar em formato colunar ou fusiforme. Há também a presença de células uroteliais superficiais, com citoplasma abundante e núcleos aumentados de tamanho com bi ou multinucleação. Quando é realizado um método mais invasivo, as células uroteliais estão em maior quantidade e agrupadas, além haver a presença de células basais juntas com as superficiais e intermediárias. Os cristais que podem ser observados na urina não possuem significado clínico relevante à citologia, já os cilindros possuem uma importância clínica, sendo encontrados em indivíduos normais em pequena quantidade (sem anexos celulares), e em casos de patologias do trato renal se apresentam em grandes quantidades e com anexos celulares, que podem ser as células vindas do seu local de formação. Citopatologia24 Achados benignos Algumas alterações que ocorrem no trato urinário podem ser analisadas através da citologia da urina. São observadas modificações na arquitetura das células, assim como alta celularidade, com possível sobreposição celular, apresentando formato arredondado ou papilífero. Algumas vezes o núcleo encontra-se aumentado ou hipercromático, semelhante ao padrão em lesões. Essas alterações podem ser causadas por agentes bacterianos, virais, fúngicos, por protozoários e até mesmo casos de litíase (presença de cálculos renais) podem gerar alterações que irão dificultar a análise. Durante a análise citológica é comum se deparar com situações em que os critérios vistos sugerem alterações benignas, e, muitas vezes, auxiliam no diagnóstico diferencial de lesões malignas. IMPORTANTE: O citopatologista deve manter-se atento às características que se mantêm típicas, como por exemplo, os núcleos das células afetadas pelas alterações. Quando ocorrem alterações causadas pelos agentes patogênicos citados, é comum observar ao esfregaço uma flora exacerbada, com degeneração celular, às vezes há a presença de hemorragia, as células apresentam-se picnóticas e com citoplasma sem delimitação de bordas. Algumas características particulares podem ser encontradas, como infecções por parasitos, que podem aumentar a descamação das células escamosas, e em infecções bacterianas há a presença de macrófagos com inclusões de coloração eosinófila. Em infecções virais podem ser visualizados efeitos citopáticos em células uroteliais, como coilócitos. Outras alterações relacionadas a disfunções homeostática do trato urinário, por exemplo, em casos de rejeição ao transplante renal, podem ser observadas na citologia. Observa-se uma celularidade alta, com descamação, presença de muitas células tubulares, cilindros epiteliais, polimorfonucleares, presença de degeneração, hematúria e necrose. Caso pelo menos 5 dessas características sejam vistas no esfregaço, pode-se concluir o diagnóstico de positivo para rejeição do transplante. Citopatologia 25 Células atípicas As células atípicas podem ser divididas em células uroteliais atípicas de significado indeterminado (AUC-US) e células uroteliais atípicas suspeitas de carcinoma urotelial de alto grau (AUG-HG). Essas atipias possuem alterações escassas em quantidade e qualidade para malignidade, seguindo a mesma linha de raciocínio do Bethesda para citologia cérvico-vaginal, a partir dos critérios citomorfológicos do trato urinário. Podem estar presentes em diversas situações, como papiloma, neoplasia urotelial papilar com baixo potencial maligno, inflamação intensa, litíase ou pós tratamento com quimio e/ou radioterapia. As células apresentam-se agrupadas, com um leve aumento na relação núcleo-citoplasma,citoplasma heterogêneo e núcleo com membrana irregular, cromatina grosseira, sem hipercromasia. A quantidade de células suspeitas é muito importante no diagnós- tico, sendo que menos de 10 células atípicas são caracterizadas como suspeitas, e mais que 10 são consideradas positivas. Figura 11: Agrupamento de células uroteliais apresentando algumas células atípicas, com leve aumento da relação núcleo-citoplasma e núcleos irregulares. Lesões Uroteliais As lesões uroteliais foram classificadas a partir de um consenso realizado entre a Organização Mundial de Saúde e a Sociedade Internacional de Patologia Urológica (ISUP), que as dividiram de acordo com arquitetura dos agrupamentos celulares, planos ou papilares. Sendo assim, ficaram agrupadas em lesões papilares as neoplasias benignas papilíferas (papiloma e papiloma invertido), neoplasia urotelial maligna não invasiva (neoplasia papilífera de baixo potencial de malignidade Citopatologia26 e carcinomas papilíferos não invasivos de baixo e de alto grau) e as neoplasia urotelial maligna invasiva (carcinoma urotelial invasivo de baixo e de alto grau), e em lesões planas as displasias e o carcinoma in situ. As lesões papilares são formadas por células que possuem arquitetura em formato de papilas, o papiloma urotelial é um exemplo dessas lesões, e caracteriza-se por células pequenas com alta coesão, agrupadas, gerando descamação. A neoplasia urotelial papilífera de baixo grau possui atipias discretas ou até mesmo um padrão de células normais, apresentando células agrupadas com núcleo levemente alterado, presentes em fundo limpo com hematúria. Em casos de neoplasias uroteliais papilíferas de baixo potencial de malignidade a citologia urinária tem uma sensibilidade baixa para detecção. A lesão urotelial de baixo grau (carcinoma urotelial papilífero de baixo grau) possui alta celularidade, apresentando células normais junto a células atípicas isoladas ou agrupadas com formação de papilas. As atipias incluem cariomegalia, núcleos hipercromáticos com bordas irregulares, citoplasma homogêneo e leve aumento da relação núcleo-citoplasma. Já a lesão urotelial de alto grau (carcinoma urotelial papilífero de alto grau) possui uma grande quantidade de células atípicas, isoladas ou em agrupamentos, com uma alta relação entre o núcleo e o citoplasma, células bastantes hipercromáticas, com membrana nuclear irregular e cromatina granular e presença de nucléolo proeminente. Nesse último caso, a citologia apresenta uma alta sensibilidade de detecção. Figura 12: Carcinoma urotelial papilífero de baixo grau. Citopatologia 27 Figura 13: Carcinoma utotelial papilífero de alto grau. Com relação às lesões planas, as displasias possuem células atípicas estendidas, geralmente isoladas, com núcleo moderadamente hipercromático e levemente irregular, e seu diagnóstico é confirmado através da histologia. Outra lesão plana é o carcinoma urotelial in situ, com alta celularidade atípica em fundo geralmente limpo, e células muito hipercromáticas, com cariomegalia, macronucléolo e cromatina grosseira. Muito cuidado no diagnóstico diferencial entre lesões benignas e malignas, visto que alterações causadas por patógenos ou radiação podem mimetizar alterações características de lesões. Neoplasias Uroteliais As neoplasias primárias ou metastáticas também podem ser visualizadas através da citologia da urina. Assim como tumores, que também podem ser observados, porém são de mais difícil detecção. O carcinoma urotelial (de células transicionais) é uma neoplasia primária que apresenta células com citoplasma queratinizado, pontes citoplasmáticas, núcleos hipercromáticos e aumentados, além da presença de pérolas córneas atípicas, que auxiliarão no diagnóstico diferencial com carcinoma escamoso metastático, carcinoma escamoso de células da cérvice-vaginal e com o condiloma acuminado de bexiga. Já o carcinoma de células claras, também uma neoplasia primária, possui difícil diagnóstico através da citologia da urina, apesar de possuir características especificas e marcantes, como células pequenas com citoplasma abundante e claro, com aumento nuclear, cromatina vesicular e nucléolo proeminente. Citopatologia28 E você? Conseguiu compreender o assunto tratado aqui? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu este tema tão importante, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que existem algumas técnicas utilizadas na citologia do trato urinário, assim como as características citomorfológicas presentes nos diversos órgãos desse sistema. A escolha da técnica da coleta da urina vai depender do paciente e a sua situação pessoal, sendo que a urina espontânea é o método menos invasivo e preferencial. Existem diversas patologias que podem ser diagnosticadas através da urina, desde alterações causadas por agentes externos à lesões e neoplasias. Compreendeu que os elementos celulares e não-celulares presentes nas amostras são importantes para o diagnóstico diferencial, podendo indicar malignidade ou benignidade. Entendeu as diferenças entre as características citomorfológicas visualizadas na citologia da urina espontânea, urina cateterizada, escovados e dos lavados vesicais. Aprendeu sobre os tipos de atipias e lesões que podem afetar o trato urinário, assim como as características e critérios de classificação, e pôde entender porque nem sempre a citologia urinária é viável, podendo não visualizar neoplasias malignas. Citopatologia da tireoide SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Artigo “DIRETRIZES PARA CARCINOMA UROTELIAL DO TRATO URINÁRIO SUPERIOR” (Rouprêt e col.), acessível pelo link: http://bit.ly/3apjo2a INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender qual a técnica mais utilizada na citopatologia da glândula tireoide. Terá conhecimento sobre os tipos de alterações e lesões presentes nessa glândula, assim como os critérios utilizados para classificação. O exame citopatológico da tireoide é o método de escolha para o diagnóstico de nódulos e lesões dessa glândula e contribui para a diminuição da realização de cirurgias desnecessárias. E então? Motivado para desen- volver esta competência? Então vamos lá! Citopatologia 29 A tireoide é uma glândula que possui função de secreção de hormônios e armazenamento dos mesmos, os quais são responsáveis pelo regulação do metabolismo. Anatomicamente falando, essa glândula é constituída por dois lobos laterais que possuem como unidade funcional o folículo, formado por epitélio folicular. A tireoide é amplamente vascularizada e possui capilares e artérias que envolvem e complementam individualmente os folículos. Nódulos na tireoide são frequentemente encontrados e se caracterizam por pequenas lesões na região da glândula. Desde a década de 80 a avaliação dos nódulos da tiroide vem sendo aprimorada, a técnica da punção aspirativa por agulha fina (PAAF) foi introduzida e tornou-se o método mais preciso para diagnosticar nódulos, além de diferencia-los entre benignos ou malignos e possuir um alto custo-benefício, comparada com os exames de imagem também utilizados para diagnosticar nódulos. A citologia ajuda, dessa forma, no diagnóstico de nódulos e lesões, diminuindo a realização de cirurgias desnecessárias. A PAAF consegue fornecer informações de diagnóstico na maioria dos pacientes, tendo alta sensibilidade. O diagnóstico é realizado com nódulos maiores que 1 centímetro ou com nódulos menores, porém com características suspeitas, como limites imprecisos, microcalcificações, hipoecogenicidade (vistas através da ultrassonografia) e vascularização (vista no Doppler). O processamento das amostras inclui centrifugação e fixação e a coloração de Papanicolaou é mais utilizada, permitindo uma melhor visualização das características nucleares. Entretanto, coloração como a de Romanowskyé bastante útil para avaliar os detalhes citoplasmáticos e o material extracelular, como coloide. O sistema Bethesda é utilizado para classificar os achados citológicos da tireoide, dividindo-os em 6 categorias e correlacionando o resultado com a possibilidade de carcinoma de tiroide. Tabela 1: Classificação de Bethesda para exames citológicos da tireoide. Classe Significado Risco de malignidade Classe I Amostra insatisfatória 1-4% Classe II Nódulo benigno 0-3% Classe III Atipia de significado indeterminado ou lesão folicular de significado indeterminado 5-15% Classe IV Neoplasia folicular ou nódulo suspeito de neoplasia folicular 15-30% Classe V Lesão suspeita de malignidade 60-75% Classe VI Nódulo maligno 97-99% Citopatologia30 A Organização Mundial da Saúde (OMS) dividiu os tumores da tireoide (1988) em tumores epiteliais, não epiteliais, linfomas malignos e tumores diversos. Sendo que os tumores epiteliais são classificados em benignos (adenoma folicular e variantes, e outros) e malignos (carcinoma folicular, carcinoma papilar, carcinoma anaplásico e outros), e os tumores não epiteliais também classificados em benignos e malignos (angiosarcoma e outros). Quanto menor o número de punções pela PAAF, menor o risco de complicações envolvendo essa técnica. Embora complicações sejam raras, existe a possibilidade de ocorrerem hemorragia, hematoma, infecção, edema, perfuração traqueal e disseminação tumoral através da agulha que pode provocar a semeadura de células. Figura 14: PAAF em glândula tireoide. Material encontrado nos aspirados da tireoide Cada folículo é revestido por células foliculares cuboidais, contendo coloide, que representam o substrato para os hormônios da tireoide. Os folículos são envolvidos por uma membrana basal e, no meio dessa membrana, existem células parafoliculares. Diversas características devem ser consideradas na avaliação das amostras, como o tipo de célula analisada (células da tireoide, macrófagos, linfócitos), a quantidade de coloide e se está fluido ou denso, a celularidade e arquitetura das células, a presença de núcleos desnudos e outras características citológicas (citoplasma, padrão de cromatina, membrana nuclear, pseudoinclusões). Citopatologia 31 Figura 15: Folículos revestidos por epitélio cuboide, células com anisonucleose (característica normal das glândulas endócrinas). Células foliculares As células foliculares variam de acordo com a função da glândula tireoide, tendo relação direta com o seu citoplasma (quanto mais ativas, mais abundante o citoplasma). Essas células estão organizadas em “favo de mel” ou em arranjos esféricos. São intactas, esparsas e isoladas, com núcleo redondo ou oval, de contorno suave, às vezes levemente aumentados e hipercromáticos, com cromatina fina e granular e citoplasma pálido e delicado, quando não fazem parte do epitélio neoplásico. Núcleolos não são comuns, porém podem ser vistos em regeneração ou reatividade. Quando as células aparecem amontoadas formando microfolículos ou papilas, apresentando amoldamento nuclear com irregularidade, com nucléolos proeminentes ou múltiplos e citoplasma denso, são características de atipias ou lesões. Figura 16 – Células foliculares normais. Citopatologia32 Alterações semelhantes a reparo típico podem ser encontradas nessas células associadas a lesões benignas. Podem ser observados células coesas, em grupo, sem sobreposição, com núcleo aumentado, cromatina fina, nucléolo proeminente, citoplasma abundante e denso. Células de Hürthle (oncócitos) São células foliculares carregadas de mitocôndrias que se tornam oncócitos e são comuns em lesões benignas (tireoidite de Hashimoto, bócios, sarcoidose e neoplasias). São células poligonais com citoplasma abundante, denso e com grânulos correspondentes às mitocôndrias, núcleos excêntricos com volume aumentado de 2-4 vezes o tamanho de uma célula folicular normal, podendo ocorrer bi ou multinucleação. Figura 17 – Células de Hürthle. Coloide Representa o substrato para a síntese dos hormônios tireoideanos que se coram com mucicarmim e está presente em lesões foliculares. Quando está em grande quantidade, está relacionado a folículos grandes (macrofolículos), e em pouca quantidade está relacionado a folículos pequenos (microfolículos). Na análise citológica pode ser visto de duas formas: aquosa (difuso) e densa (sólido), sendo que quanto mais fino e pálido maior a atividade glandular, e quanto mais denso, menor. No Papanicolaou o amiloide se assemelha ao coloide denso. Citopatologia 33 Figura 18 – Coloide abundante sem células foliculares. Células parafoliculares, da paratireoide e ciliadas não são vistas ou são indistinguíveis nos aspirados da PAAF. Classificação das amostras Classe I As amostras são consideradas insatisfatórias quando há a presença de muito sangue, dessecação, quando os esfregaços são muito grossos, quando a fixação é feita ao ar ou quando há pouca quantidade de células foliculares. Para ser considerada satisfatória, a amostra deve conter pelo menos 5 ou 6 grupos, com pelo menos 10 células em cada, de células foliculares benignas. Uma exceção é quando há coloide abundante e menos de 6 grupos de células identificados e a amostra é considerada satisfatória. Caso o diagnóstico de malignidade seja possível com amostras com baixa celularidade, será satisfatória a amostra. Figura 19 – Amostras insatisfatórias com material escasso e fundo hemorrágico. Citopatologia34 Classe II Na categoria de células benignas encontram-se os esfregaços sem atipias e sem critérios de malignidade, adequados para análise. É a classe mais frequente, tendo em vista que a maioria dos nódulos tiroidianos é benigna. Entre as lesões temos bócio nodular, nódulos hiperplásicos (adenomatóides), nódulos coloides, nódulos em doença de Graves e adenomas macrofoliculares. Importante ressaltar que se o resultado for negativo, não quer dizer que há ausência de malignidade, pois a técnica de PAAF apresenta falso-negativo. Figura 20 – Achado benigno com células de núcleos redondos e regulares, com cromatina fina e nucléolo pequeno, citoplasma pequeno. Classe III A lesão folicular de significado indeterminado demonstra uma dúvida com relação à benignidade e malignidade da amostra. Os esfregaços dessa categoria incluem células com atipia ou arquitetura fora dos critérios de suspeita para neoplasia folicular. Essa classificação deverá ser usada quando houver uma população de microfolículos que não se encaixam na categoria IV, quando houver predominância de células de Hürtle em esfregaço com baixa celularidade, em amostras com aspecto benigno, porém com áreas focais sugerindo carcinoma papilar, ou quando predominaram células foliculares de aspecto benigno, mas contendo células de revestimento cístico que parecem atípicas. Citopatologia 35 Figura 21 – esfregaço benigno com áreas focais com células de núcleos grandes, claros e com fendas nucleares (células de revestimento cístico). Classe IV As amostras da classe de neoplasia folicular ou nódulo suspeito de neoplasia folicular são representadas por uma alta celularidade, células isoladas, coloide escasso ou ausente, fundo hemático e microfolículos. As células apresentam-se normais ou com tamanho pouco aumentado, citoplasma com quantidade escassa ou moderada, núcleo redondo e levemente hipercromático. É necessário especificar se a neoplasia suspeita é de um carcinoma ou adenocarcinoma. Quando há suspeita de lesão folicular envolvendo células de Hürtle, utiliza-se a mesma classe IV, adicionando informação sobre a natureza das células, por exemplo, suspeito de neoplasia folicular, variante de células de Hürtle. Figura 22 – Neoplasia folicular, arranjos microfoliculares. Citopatologia36 Classe V Essa classe abrange as lesões com suspeita de malignidade, porém com células insuficientes para diagnóstico conclusivode amostra maligna. Quando os esfregaços são suspeitos de carcinoma papilar, carcinoma medular ou linfoma são classificados nessa categoria, porém podem ser suspeitas de qualquer malignidade. Figura 23 – Células foliculares formando placa sincicial com núcleos irregulares e eventuais fendas, sugerindo carcinoma papilar. Classe VI Essa classe abrange as amostras que possuem todos os critérios para malignidade, podendo ser considerados malignos: carcinoma papilar de tireoide, carcinoma pouco diferenciado, carcinoma medular de tireoide, carcinoma indiferenciado (anaplásico), carcinoma de células escamosas, carcinoma misto (especificando os tipos presentes), carcinoma metastático, linfoma não Hodgkin e outros. Figura 24 – Diferentes tipos de carcinomas. As imagens de cima demonstram carcinoma papilífero, com as setas pretas indicando fendas e inclusões e a seta verde indicando micronucléolo. As outras imagens são de carcinoma medular e anaplásico. Citopatologia 37 Com relação aos tumores da paratireoide, destacam-se os adenomas e o carcinoma paratireoidiano, ambos podem ser clinicamente confundidos com nódulos tireoidianos. Nos esfregaços celulares, as células possuem núcleo arredondados, com padrão de cromatina granular e espessa, citoplasma também granular e podem ser encontrados núcleos desnudos e células isoladas levemente pleomórficas; não encontra-se coloide. Os adenomas da paratireoide são frequentemente confundidos com lesões foliculares, e poderão ser diferenciados por outras características, como a hipercalcemia, que está geralmente presente em pacientes com adenoma de paratireóide. SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Artigo “Punção aspirativa com agulha fina (PAAF) em nódulo da tireóide: análise de 61 casos” (Torres et. al.), acessível pelo link: http://bit.ly/32JXML2 Como foi o estudo deste tema? Deu para perceber a importância do exame citopatológico para o diagnóstico de nódulos e lesões da tireoide? Então agora, vamos para o nosso resumo para enumerarmos os pontos mais importantes. Você deve ter aprendido que a citologia também é utilizada para auxiliar no diagnóstico de nódulos da tireoide, conhecendo as características citomorfológicas presentes nessa glândula. Viu que a técnica de coleta mais utilizada é a punção por agulha fina (PAAF), tendo raras complicações na sua execução. Existem diversas patologias que podem ser diagnosticadas através da citologia da tireoide, desde alterações causadas por agentes externos, à lesões e neoplasias. Compreendeu que os elementos celulares e não-celulares presentes nas aspirados da tireoide são importantes para o diagnóstico diferencial, podendo indicar benignidade ou malignidade. Pôde conhecer acerca dos critérios de classificação do sistema Bethesda, sobre as características de cada classe (entre as 6) e a diferença entre elas. Aprendeu sobre os tipos de atipias e lesões dos nódulos da glândula tireoide, assim como as características e critérios de classificação, visualizando algumas imagens de diferentes carcinomas e aprendendo um pouco sobre os tumores da paratiroide. Citopatologia38 Citopatologia da pele e do sistema nervoso INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender um pouco sobre as lesões da pele e o papel da citopatologia em detectá-las, além de aprender sobre a análise citológica do liquido cefalorraquidiano. Terá conhecimento sobre os tipos de coleta que podem ser utilizadas. Além de conhecer acerca dos carcinomas da pele e das meningites. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! A citologia nas lesões da pele A pele é considerada o maior órgão do corpo e está constantemente sofrendo ações de agentes físicos, químicos e ambientais. A exposição a esses agentes pode ocasionar em proliferações neoplásicas. Os métodos mais utilizados para detecção dos tumores de pele são as técnicas citológicas e histológicas. Os imprints são utilizados quando ocorrem lesões cutâneas ulceradas ou exsudativas, para uma rápida avaliação das células presentes. A técnica se baseia na remoção de células superficiais de lesões através do contato direto da lâmina do microscópio. Geralmente são reveladas células da superfície de impressão e eventuais células inflamatórias, além de ser útil na identificação de microrganismos, se estiverem presentes. Células neoplásicas, com exceção de tumores de células redondas, não esfoliam em formações ulceradas e exsudativas, podendo não se visualizadas em amostras citológicas. A amostra citológica não oferece tanta informação sofre o tecido estudado como a histologia, portanto o citopatologista necessita obter um conhecimento sobre a lesão primária e sobre a suposta malignidade, necessitando integrar os resultados citológicos com informações clínicas e exames de imagem. A dificuldade na citopatologia de pele se dá em determinar o diagnóstico preciso da lesão e do seu subtipo. A citologia cutânea não é indicada para a avaliação de lesões/processos neoplásicos (nódulos firmes ou moles, tumores), nesses casos deve-se utilizar a técnica de punção por aspiração de agulha fina/citologia de aspiração Citopatologia 39 por agulha fina. O câncer de pele é causado pelo crescimento anormal e descontrolado das células que compõem a pele. As células estão dispostas em camadas, sendo que as células escamosas (ceratinócitos) são as células estruturais da epiderme, que é a camada mais externa da pele, e as células basais estão presentes na camada mais inferior da epiderme. Os tipos mais frequentes de carcinomas da pele são carcinoma basocelular e carcinoma espinocelular, que surgem em células basais e escamosas, respectivamente. O melanoma é tipo de pior prognóstico e é menos frequente, tem origem nos melanócitos, que são células que produzem o pigmento da cor (melanina). A biópsia é necessária para confirmar esses tipos de lesões. Citologia do líquido cefalorraquidiano O líquor ou líquido cefalorraquidiano (LCR) é formado nas cavidades ventriculares do sistema nervoso central (SNC), onde são localizados o cerebelo e a coluna espinal dorsal. O LCR é formado primeiramente através da filtração passiva do sangue através do endotélio capilar coroidal, e após a secreção ativa pelo epitélio monoestratificado, que é modulado por sistemas neuroendócrinos e hormonais. O líquor possui função de fornecer nutrientes essenciais ao cérebro, além de remover produtos da atividade dos neurônios e proteger as células cerebrais. A sua composição e produção podem ser afetadas pela presença de infecções, traumas, tumores, isquemias e hidrocefalias. A análise citológica do liquor permite a visualização de informações importantes sobre patologias, como meningite. A coleta do líquor é bastante invasiva, é realizada pelo médico requisitante e necessita de assinatura no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Pode ser feita por três vias clássicas: a lombar é a mais utilizada na rotina, faz-se a punção entre os espaços entre as vértebras lombares L3 e L4, L4 e L5 ou L5 e S1, seguida pela suboccipital, feita na região cisterna magna entre o occipital, e a via ventricular, que é realizada diretamente em um dos ventrículos laterais. A punção lombar é a mais empregada, porém, caso não seja realizada de forma correta pode levar à herniação das amígdalas cerebelares, levando à morte devido à compressão repentina dos centros bulbares cardiorrespiratórios. A punção suboccipital é a menos Citopatologia40 dolorosa e mais simples, com menor risco de perda de material, porém exige maior segurança técnica para evitar lesão do tronco cerebral.]] O exame citológico quantitativo deve ser realizado imediatamente após a coleta do LCR, para melhores resultados. O exame citológico específico é complementar ao anterior, e possuigrande importância, pois através dele pode-se definir o tipo de reação celular, fornecendo informações ao diagnóstico e prognóstico. A coloração de Ravaut é bastante utilizada e permite diferenciar bem as células do líquor normal e patológico. Figura 25 – Punções para coleta do LCR. A punção é indicada em casos como infecção das meninges, hemorragia subaracnoide, malignidade primária ou metastática e doenças desmielinizantes. Na análise citológica leva-se em consideração elementos figurados do líquor, células como hemácias e leucócitos, células tumorais, leveduras e fungos. O LCR não contém esses elementos normalmente, porém após a extração é necessário que se faça a contagem global de hemácias e leucócitos (contagem de leucócitos e hemácias de até 5 células/mL para indicar normalidade). Celularidade do líquor A citologia tem significado relevante e requer uma atenção especial quando há uma alta celularidade no LCR. Não é possível confirmar o diagnóstico apenas com o exame citológico, mas é possível identificar o tipo de meningite presente. Em condições patológicas, surgem células Citopatologia 41 que auxiliam no diagnóstico, como granulócitos (neutrófilos e eosinófilos), macrófagos e plasmócitos. Os neutrófilos não são encontrados no líquor normalmente, os eosinófilos mostram-se presentes em casos de parasitose do sistema nervoso, como cisticercose, e em casos de hemorragia cerebral e irritação meníngea. A presença de plasmócitos sugere sífilis no sistema nervoso (neurolues) e os macrófagos são observados principalmente na fase final de limpeza do líquor em meningites ou hemorragias. Os elementos figurados do LCR são pequenas células redondas, semelhante a linfócitos, e monócitos. A presença de 0 a 3 células é característica de normalidade. Figura 26 – LCR normal com linfócitos pequenos. Detecção de células malignas no LCR e diferenciação dos tipos de meningites A análise citológica do líquor é muito importante no diagnóstico de tumores cerebrais, dependendo de fatores como o volume do LCR obtido e a rapidez com que as amostras cheguem ao laboratório. Volumes insuficientes podem trazer falso-negativos e a demora após a coleta causa perda de células. No meduloblastoma, uma neoplasia maligna primitiva do SNC, é possível visualizar no exame citológico células agrupadas de aspecto blástico, se moldando em formato de mosaico, com núcleos volumosos e cromatina fina, com presença de nucléolos e citoplasma escasso, além de rosetas e pseudorosetas. O meduloblastoma é bastante infiltrante e compromete as meninges, esfoliando as células para o líquor. Na citologia não é possível diferenciar as metástases do meduloblastoma com as do neuroblastoma. O encontro de células neoplásicas sugere o envolvimento de câncer no SNC. Citopatologia42 Tabela 1 – Células presentes no líquor e seus significados. Células Significado clínico sugestivo Linfócitos/Monócitos Normal, meningites viral, tuberculosa, fúngica, início de meningite bacteriana e esclerose múltipla Neutrófilos Meningite bacteriana, início de meningite viral e hemorragia cerebral Eosinófilos Infecções parasitárias, reações alérgicas e válvulas intracranianas Macrófagos Meningite bacteriana crônica e hemorragia subaracnoide Plasmócitos Inflamações subagudas e crônicas, esclerose múltipla e mieloma múltiplo Células ependimárias e do plexo coroide Traumas, cirurgia do SNC, válvulas e neonatos Blastos Leucemias e linfomas Células neoplásicas Tumores primários do SNC e metástase (mama, pulmão, melanoma) Células imaturas Punção acidental da vértebra Figura 27 – Células atípicas de tumores metastáticos em LCR. Como foi visto, a citologia é muito importante para a diferen- ciação dos tipos de meningites. Na meningite bacteriana aguda (MBA), o LCR apresenta aspecto purulento, pleocitótico (número de leucócitos aumentado), sendo que a maioria dos leucócitos presentes são neutrófilos, a coloração de Gram permite a visualização de microorganismos presentes. Nas meningites e meningoencefalites virais o LCR apresenta aspecto normal ou turvo, com pleocitose linfocitária. Na meningoencefalite herpética (MEH) há pleocitose linfocitária ou mista. A neurotuberculose é semelhante à MBA, líquor com aspecto opaco e pleocitose. Na meningite fúngica o LCR apresenta-se pleocitótico, com predomínio de linfomononucleares. Os diferentes quadros clínicos das meningites mostram uma sintomatologia semelhante, enfatizando a importância de um diagnóstico diferencial correto. Citopatologia 43 Figura 28 – Meningite viral, tuberculosa ou fúngica. SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Artigo “MENINGITE NEOPLÁSICA EM PACIENTE COM CÂNCER DE PULMÃO: ACHADOS LABORATORIAIS EM AMOSTRA DE LÍQUIDO CEFALORRAQUIDIANO” (Pereira e Viegas), acessível pelo link: http://bit.ly/2VMKZq1 Aqui finalizamos mais um capítulo. Como foi sua jornada pela citopatologia dos tecidos e sistemas? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que a citologia também é utilizada para auxiliar no diagnóstico das lesões na pele, conhecendo algumas características citomorfológicas presentes no tecido. Viu que as técnicas de coleta utilizadas são imprints e punção por agulha fina (PAAF). Entendeu que, apesar da citologia ser utilizada em carcinomas de pele, não é o método de melhor diagnóstico, sendo necessária a biópsia na maioria dos casos. Além disso, aprendeu um pouco sobre a citologia do líquido cefalorraquidiano e que existem diversas patologias que podem ser diagnosticadas através da citologia, desde lesões causadas por vírus, bactérias, parasitos e fungos, até tumores primários e metastáticos. Compreendeu que a contagem dos elementos celulares e não-celulares presentes no líquor são importantes para o diagnóstico diferencial, principalmente das meningites. Pôde conhecer acerca dos métodos de coleta do líquido cefalorraquidiano e os riscos que pode trazer. Entendeu a importância da citologia, sendo uma das melhores formas de diagnóstico das meningites. Citopatologia44 REFERÊNCIAS http://bit.ly/2Ig0hvk http://bit.ly/2PG5iS8 http://bit.ly/3ch5UqO http://bit.ly/3crrzN0 http://bit.ly/32PZs62 http://bit.ly/3cxfHJJ http://bit.ly/2PJFTqC http://bit.ly/2PKeKUn http://bit.ly/2wrBTnG http://bit.ly/2VFqJX6 http://bit.ly/2TMe5Dl http://bit.ly/2TtNA5i http://bit.ly/3cs2QZ1 http://bit.ly/3aik1ua http://bit.ly/32JXML2 http://bit.ly/2PKyZkR http://bit.ly/2IgcH6A http://bit.ly/3ch5UqO http://bit.ly/2VHEHrE http://bit.ly/3apnY0m http://bit.ly/39jsoFX http://bit.ly/2TjQavW http://bit.ly/2wlUGB5 http://bit.ly/2IhU2qV http://bit.ly/2x4H915 https://msdmnls.co/2Tk8uoH http://bit.ly/2VC39KZ http://bit.ly/2Tk8DbJ http://bit.ly/2Ic2msh http://bit.ly/38imbIZ http://bit.ly/2Tk8DbJ http://bit.ly/2uNHAfh http://bit.ly/2Ti1l88