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Livro Didático Digital Uroanálise e Líquidos Corpóreos Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria CAROLINA GALVÃO SARZEDAS AUTORIA Carolina Galvão Sarzedas Olá! Sou formada em Ciências Biológicas, com mestrado e doutorado em Ciências. Tenho experiência técnico-profissional na área de bioquímica e biologia molecular há mais de 18 anos. Minha formação acadêmica começou na UFRJ, onde me apaixonei pela ciência e pela educação. Tenho experiência tanto na área de orientação acadêmica quanto na produção de materiais didáticos para grandes empresas de educação. Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Introdução à Urinálise ............................................................................... 10 História da Urinálise ....................................................................................................................... 10 Tipos de Amostra ............................................................................................................................. 11 Métodos de Coleta......................................................................................................................... 13 Entrega da Urina ao Laboratório .......................................................................................... 14 Separação do Sedimento Urinário ..................................................................................... 15 Exames Químico, Físico e Sedimentar da Urina ............................. 17 Métodos de Análise ....................................................................................................................... 17 Exame Químico.............................................................................................................. 17 Exame Físico (Macroscópico) ............................................................................. 20 Exame Sedimentar (Microscópico)..................................................................22 Avaliação Laboratorial e Aplicação Clínica de Compostos Nitrogenados não Proteicos ................................................................... 25 Compostos Nitrogenados não Proteicos .......................................................................25 Ureia .......................................................................................................................................25 Creatinina ...........................................................................................................................27 Ácido Úrico .......................................................................................................................28 Avaliação Laboratorial de Nitrogenados não Proteicos .....................................29 Avaliação da Ureia .......................................................................................................29 Avaliação da Creatinina .......................................................................................... 30 Avaliação do Ácido Úrico ...................................................................................... 31 Controle de Qualidade em Análises Clínicas ..................................34 Fase Pré-Analítica ...........................................................................................................................35 Fase Analítica ..................................................................................................................................... 38 Fase Pós-Analítica ......................................................................................................................... 39 Controle Interno de Qualidade (CIQ) ................................................................................ 40 Controle Externo de Qualidade (CEQ) ............................................................................ 40 7 UNIDADE 02 Uroanálise e Líquidos Corpóreos 8 INTRODUÇÃO Você sabia que a urinálise é o conjunto de técnicas e métodos utilizados para a análise da urina? Através do estudo de uma amostra de urina pode-se detectar a presença e medir as concentrações de glicose, ácido úrico, proteínas, sangue, entre outros. É um meio específico de avaliação da função renal, sendo considerado um forte auxiliar no diagnóstico de patologias em geral. Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! Uroanálise e Líquidos Corpóreos 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo àUnidade 2. Nosso objetivo é auxiliar você no atingimento dos seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: 1. Explicar os fundamentos da análise da urina. 2. Diferenciar as diferentes técnicas de análise da urina. 3. Reconhecer os compostos nitrogenados não proteicos e sua importância na clínica médica. 4. Identificar a importância do controle de qualidade na urinálise. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 10 Introdução à Urinálise OBJETIVO: Ao final deste capítulo, você será capaz de entender os fundamentos da urinálise, seus principais componentes, suas funções na clínica médica, como deve ser feita a coleta, o armazenamento e a entrega do material para que as informações diagnósticas possam ser reveladas com sucesso, não esquecendo que para um resultado adequado e verdadeiro, alguns padrões de segurança e controle precisam ser adotados. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! História da Urinálise Historicamente, a análise da urina foi o primeiro exame da medicina laboratorial. Com o uso de métodos simples, como a observação da cor, a turbidez, odor, volume, viscosidade e presença de açúcar (algumas amostras atraíam formigas), era possível que o médico obtivesse informações acerca do diagnóstico de algumas doenças. É um exame muito requisitado pelos médicos, por ser de obtenção rápida, de fácil coleta e ter baixo custo. Na urina estão contidas informações metabólicas muito valiosas, que podem diagnosticar problemas renais, estruturais e detectar doenças inicialmente assintomáticas, como diabetes mellitus e hepatopatias. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 11 Figura 1 – Diferentes amostras de urina para exame Fonte: Freepik. Com o advento do microscópio, passou a ser possível a análise do sedimento urinário e desenvolvimento de métodos de quantificação. Atualmente, existem métodos modernos de urinálise que permitem não só uma análise física, mas também química e microscópica do sedimento urinário. Tipos de Amostra O exame de urina simples de rotina é uma referência mundial(EAS), e por isso é o mais solicitado, além de ter baixo custo e avaliar de forma geral o trato urinário, diagnosticando desde uma infecção até uma lesão renal. Divide-se em 3 etapas: exame físico, químico e de sedimentoscopia (análise do sedimento). O EAS é solicitado quando o paciente se queixa de dor ao urinar, ardência, vontade de urinar e não conseguir, diminuição ou aumento do volume urinário, entre outras. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 12 Para a análise da urina, alguns tipos de amostras podem ser solicitados, como: • Amostra aleatória – é coletada a qualquer momento, detecta anormalidades evidentes. A mais indicada é a primeira da manhã, por ser mais concentrada, pois amostras aleatórias podem estar diluídas e terem como resultado um falso-negativo. • Amostra de qualquer jato (geriátrica ou pediátrica) – é utilizada em crianças que ainda não possuem controle de esfíncter ou em idosos com o controle comprometido. Sua coleta é feita com o uso de sacos coletores, que devem ser colocados de forma asséptica, trocados a cada 30 minutos, com repetição da assepsia. É muito importante que não haja contaminação fecal. • 1ª amostra da manhã (urina de jato médio) ou amostra de 8 horas – pode ser realizada fazendo assepsia da região genital antes da coleta. É coletada assim que o paciente se levanta, desprezando- se o primeiro jato (serve para limpar a uretra, de modo a eliminar bactérias e restos celulares da microbiota), e é a ideal para triagem. É uma amostra indicada para diagnóstico de proteinúria ortostática, teste de gravidez ou urinálise do tipo 1. A amostra deve ser entregue ao laboratório em até duas horas após a coleta. • Amostra em jejum (ou segunda da manhã) – tem o objetivo de fazer com que metabólitos da alimentação da noite anterior não interfiram no resultado. O paciente despreza a primeira urina e se mantém em jejum até a coleta da segunda amostra. Este exame é recomendado para o monitoramento da glicose. • Amostra de 24 horas (ou cronometrada) – o laboratório fornece garrafas coletoras e o paciente coleta toda a sua urina em um período de 24 horas, sendo que a primeira do dia deve ser desprezada e seu horário deve ser anotado. Toda a urina deve ser armazenada de forma refrigerada. As coletas são encerradas com a primeira urina do dia seguinte e levadas ao laboratório. O resultado quantitativo preciso se dá com uma amostra regularmente cronometrada por parte do paciente. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 13 • Amostra por sonda de alívio – mais comum em pacientes acamados ou idosos, na qual um cateter é inserido através da uretra até a bexiga para a coleta da amostra. É um exame utilizado para cultura de bactérias. • Amostra de teste de tolerância à glicose (TTG) – coletam-se amostras em jejum, 30 minutos, 1, 2, 3, 4, 5 e 6 horas. O objetivo é a análise da presença de glicose e cetona na urina. O TTG é realizado em concomitância com o exame de sangue. • Amostra de duas horas pós-prandial – o paciente deve urinar antes de fazer a refeição e coletar uma amostra de urina após a refeição. É um exame realizado para monitorar pacientes diabéticos. • Punção suprapúbica – introduz-se uma agulha através do abdome para a coleta de amostras de urina diretamente da bexiga. Como a urina é estéril, tem-se uma urina livre de contaminação para a realização de cultura de bactérias e análise citológica. • Amostra para investigar prostatite – a coleta é feita em 3 frascos para exame de infecção prostática. Coleta-se o primeiro jato e o jato médio separados em recipientes estéreis. A próstata é massageada para que o líquido prostático seja eliminado junto com o terceiro jato de urina, também coletado em recipiente estéril. As 3 amostras seguem para análise de culturas quantitativas, sendo que a primeira e a terceira vão para análise microscópica. • Amostra para análise de drogas – é preciso que procedimentos e documentações sejam respeitados para que seus resultados tenham validade jurídica, como a presença de testemunha no momento da micção. Métodos de Coleta A amostra de urina para fornecer resultados representativos e fidedignos precisa seguir rigorosamente o protocolo estabelecido pelo laboratório. Todas as informações sobre coleta, armazenamento e transporte da amostra precisam ser informadas aos pacientes, de modo a garantir a qualidade do resultado do seu exame. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 14 Por não exigir nenhum tipo de preparo especial por parte do paciente, muitas vezes a coleta da urina é negligenciada, perdendo a capacidade de fornecer informações corretas sobre o diagnóstico. PASSO A PASSO Obtenção de uma amostra de urina asséptica: Sexo feminino – a assepsia da região urogenital com água e sabão (ou clorexidina aquosa a 0,2%) deve ser realizada com movimentos da frente para trás. Deve-se evitar a coleta durante o período menstrual, mas sendo inevitável, toma-se o cuidado para que a urina não seja contaminada com o sangue menstrual. Sexo masculino – assepsia da região peniana com água e sabão (ou clorexidina aquosa a 0,2%). Como dito anteriormente, a coleta mais comum é realizada com o desprezo do primeiro jato de urina. Entrega da Urina ao Laboratório Ao ser entregue ao laboratório (se não for coletada lá), a amostra deve ser identificada com o nome completo do paciente, hora da coleta, data e método de conservação (urinas congeladas, transportadas e preservadas em recipientes que não foram fornecidos pelo laboratório não devem ser aceitas). Pacientes que fazem uso de algum tipo de medicamento precisam informar o nome deste e o horário da ingestão. O volume ideal para a entrega é em torno de 40ml. O uso de luvas deve ser usado de forma preventiva, uma vez que a urina é um material biológico que pode ser infectante. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 15 NOTA: O frasco de coleta deve ter tampa de rosca (menor risco de vazamento), deve ter boca larga para facilitar a coleta, feito de material transparente, com espaço suficiente para que a amostra seja misturada por agitação e que tenha fundo chato para não tombar. Após a entrega, a amostra deve ser analisada dentro de duas horas, do contrário, precisa ser refrigerada em temperatura entre 2 e 8ºC. Se for impossível manter a refrigeração por motivo de distância, conservantes químicos podem ser adicionados, mas sabendo de antemão que a amostra pode sofrer modificações. Separação do Sedimento Urinário A sedimentoscopia é a análise dos sedimentos encontrados na urina. Para isso, é necessário que a urina passe por um processo físico de separação da urina líquida e dos possíveis sedimentos. A seguir vamos conhecer as etapas do processo. PASSO A PASSO • Um volume de urina padrão é centrifugado (10ml) em tubo cônico entre 1.500 a 2.000RPM durante 5 minutos. • Após a centrifugação, 9ml do sobrenadante são retirados, de modo que fique 1ml no tubo mais os sedimentos. • O conteúdo precipitado é ressuspenso por agitação até que se torne homogêneo. • A amostra é, então, transferida para a câmara de Neubauer ou equivalente, de modo a preencher cuidadosamente a área de contagem, sem formação de bolhas de ar ou transbordamento. Os elementos figurados presentes nos quatro quadrantes, de dezesseis quadradinhos cada, são contados. Os resultados em ml devem ser contados nos quatro quadrantes e multiplicar o resultado por 250, ou contar dois quadrantes e multiplicar por 500, e ainda, dependendo da quantidade de elementos figurados encontrados, conta-se 1 quadrante e Uroanálise e Líquidos Corpóreos 16 multiplica-se o resultado por 1.000. Só depois deste processo o resultado pode ser liberado. SAIBA MAIS: Para saber mais sobre a urinálise e cultura de urina, acesse o Manual MSD. RESUMINDO: E então? Gostou do que mostramos? Neste capítulo aprendemos que o exame de urina é um dos testes maissolicitados como exame de rotina, não sendo apenas utilizado para detecção de infecções no trato urinário, mas podendo revelar diversas doenças no organismo. O exame de urina pode ser solicitado para avaliação de sintomas, diagnóstico de enfermidades, acompanhamento de doenças ou simplesmente rotina médica. A urina pode ser analisada através de métodos físicos, químicos e microscópicos. Para coletar urinar, não é necessário nenhum tipo de preparação, podendo ser feita em casa, seguindo as instruções do laboratório, sempre tendo em mente que a qualidade do resultado depende da confiabilidade da coleta da amostra. Após a entrega da urina no laboratório (em torno de 40ml), ela deverá ser identificada com o nome completo do paciente, hora da coleta, data e o método de conservação. Pacientes que fazem uso de algum tipo de medicamento precisam informar o nome deste e o horário da ingestão. Para a análise microscópica (sedimentar), a amostra passa por um processo de centrifugação para que os possíveis sedimentos sejam separados da urina líquida. Após todas essas etapas, a urina segue para análise. Uroanálise e Líquidos Corpóreos https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-renais-e-urin%C3%A1rios/diagn%C3%B3stico-dos-dist%C3%BArbios-renais-e-urin%C3%A1rios/urin%C3%A1lise-e-cultura-de-urina https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-renais-e-urin%C3%A1rios/diagn%C3%B3stico-dos-dist%C3%BArbios-renais-e-urin%C3%A1rios/urin%C3%A1lise-e-cultura-de-urina 17 Exames Químico, Físico e Sedimentar da Urina OBJETIVO: Ao final deste capítulo, você saberá a importância das diferentes técnicas de análise da urina. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Métodos de Análise Os métodos de análise variam entre químico, físico, microscópico e sedimentar. Exame Químico O exame químico é feito a partir do uso de tiras reagentes (urofitas) submersas na amostra de urina. A partir da mudança de cor na urofita, é feita uma análise semiquantitativa e qualitativa, que pode ser visual, comparando-se a cor obtida com a escala de cores da leitura, ou de maneira automatizada, com o uso de equipamentos baseados no princípio de fotometria de reflexão. Figura 2 – Urina sendo analisada pela urofita Fonte: Adobe Stock. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 18 As urofitas possuem os seguintes parâmetros de análise: pH – em indivíduos normais, com dieta equilibrada, o valor do pH pode variar entre 4,5 e 8,0, mas é comum uma média de 6,0 (ligeiramente ácido). A alteração do pH pode indicar as tentativas dos rins em compensar alterações de acidose/alcalose metabólica ou respiratória. Fatores que alteram os valores: alimentação, medicamentos e patologias. Sangue – a presença de sangue na urina modifica a urofita para uma cor verde, porém é um resultado preliminar que precisa ser confirmado pela contagem da sedimentoscopia. Este resultado está baseado no princípio de ação nas atividades pseudo-oxidativas da hemoglobina. O sangue pode estar presente na forma de eritrócitos íntegros (hematúria) ou em uma forma menos comum, de hemoglobina livre (hemoglobinúria). Fatores que levam à hematúria: • Srcem glomerular – nefropatias, nefrite hereditária e glomerulonefrite. • Srcem não glomerular no trato urinário superior – pielonefrite, cálculo renal, anemia falciforme, neoplasias renais, entre outros. • Srcem não glomerular no trato urinário inferior – cistite, uretrite, câncer de bexiga, uretrite e estenose de uretra. • Srcem desconhecida – prática de exercícios físico intensos e hiperanticoagulação. Fatores que levam à hemoglobinúria: anemias hemolíticas, queimaduras, malária, entre outros. Bilirrubina – é o produto da degradação da hemoglobina, é excretada pelos rins caso esteja em excesso na corrente sanguínea, sendo detectada na urina. A urina passa a apresentar cor ictérica ou marrom- esverdeada, sendo indicativo precoce de doença hepática. Não existe mínimo aceitável para a presença de bilirrubina. Fatores que levam à detecção de bilirrubina na urina: obstrução do fluxo biliar do fígado ou doença hepatocelular. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 19 Urobilinogênio – em condições normais, é eliminado, em grande parte, pelas fezes. Forma-se a partir da ação de bactérias intestinais após hidrolisarem a bilirrubina conjugada que não foi absorvida pelo intestino. Em caso de incapacidade do fígado em remover este composto, quantidades anormais são desviadas para os rins e excretadas na urina. IMPORTANTE: O excesso de urobilinogênio com ausência de bilirrubina está associado à hemólise. Seu valor de referência é de até 1mg/dL. Fatores que levam à detecção de urobilinogênio na urina: cirrose, substâncias tóxicas, uso de drogas ou hepatite viral. Glicose: estados normais de saúde não apresentam glicose na amostra de urina. A chamada glicosúria ocorre quando os túbulos renais não conseguem reabsorver toda a glicose (glicose em grande quantidade) presente no sangue. Fatores que levam à detecção de glicose na urina: diabetes mellitus, disfunção tubular renal ou distúrbios metabólicos ou endócrinos. IMPORTANTE: A análise química mais realizada na urina é o exame de glicose. Por ser de fácil diagnóstico, auxilia na detecção de problemas antes que haja complicações mais graves. Proteínas: como possui taxa máxima de reabsorção tubular, sua detecção em altos níveis sugere lesão renal. A proteinúria pode ser consequência de um processo de desidratação. Suas causas são muito variadas, e comumente agrupadas em 3 grupos: pré-renal, renal e pós- renal. Usa-se a técnica de eletroforese de proteínas para detectar o tipo de proteína presente na urina. Fatores que levam à proteinúria: diabetes mellitus, nefropatias, condições inflamatórias/malignas do trato urinário, entre outros. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 20 Corpos cetônicos: resultado do metabolismo lipídico, sua presença em grande concentração é consequência de erros na absorção ou desequilíbrio na dieta. Fatores que levam à presença de corpos cetônicos: diabetes mellitus, descompensação metabólica do equilíbrio ácido/base. Nitrito: resultado da transformação do nitrato realizada por bactérias patogênicas do trato urinário. Seu resultado positivo na urofita não descarta a possibilidade de infecção urinária. NOTA: A urina é rica em nitrato. A presença de grande quantidade de nitrito sugere infecção urinária, porém a confirmação precisa ser feita por urocultura. Exame Físico (Macroscópico) Podemos dizer que o exame físico é feito a “olho nu”, sem o auxílio de microscópio. Através da observação é possível determinar o volume, a turbidez, a densidade e a coloração. EXEMPLO Para o exame de urina tipo 1, a análise do volume é um critério de rejeição da amostra, pois se o jato médio ou a amostra aleatória for abaixo de 5ml de volume, não há possibilidade de realização do exame. Análise da coloração: a urina pode aparentar diversas tonalidades, e isso pode estar relacionado a diversos fatores, entre eles: atividade física, ingestão de alimentos, estados metabólicos, consumo de drogas ou medicamentos, ou pode ser resultado de alguma patologia. O urocromo é o pigmento que dá a coloração amarela à urina. Sua eliminação está relacionada a taxa metabólica de cada indivíduo. Em caso de jejum ou problemas na tireoide, sua eliminação pode aumentar. Uroeritrina e urobilina são outros pigmentos presentes na urina, só que em menores concentrações. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 21 Partindo das informações anteriores, podemos dizer que pessoas normais produzem urina da cor amarelo-clara se bem hidratadas, ou até amarela escura, na ausência de hidratação. A hematúria, a hemoglobinúria e a mioglobinúria podem apresentar várias tonalidades diferentes de vermelho, dependendo da concentração dos compostos envolvidos. A cor vermelha na urina, por exemplo, podeser resultado da ingestão de alimentos como beterraba ou contaminação com sangue menstrual. EXPLICANDO MELHOR: Hematúria: presença de eritrócitos na urina; deve ser confirmada com mais duas amostras de urina diferentes. Hemoglobinúria: presença de hemoglobina em excesso. Mioglobinúria: pode ocorrer em graves lesões renais, em que há esmagamento (ou necrose) muscular e consequente liberação de mioglobina na corrente sanguínea. As colorações azul, verde ou laranja podem ser resultados da ingestão de medicamentos. A cor verde-acastanhada pode estar associada a pigmentos biliares. A cor laranja aparece em urina com presença de urobilinogênio (produto final do trabalho das bactérias intestinais sobre a bilirrubina, uma parte do urobilinogênio é reabsorvida, levada à circulação e excretada pelo rim, onde é convertido em urocromo). Uma coloração esbranquiçada-leitosa está presente em doenças purulentas do trato urinário e uma urina incolor é característica de diabetes. Análise do odor: a urina apresenta odor característico devido à presença de ureia. Quanto maior for sua concentração, mais forte será o odor. Antigamente, quando a análise da urina ainda estava no começo, o odor, ou até mesmo o sabor era usado para direcionar o tratamento. Atualmente, com o advento dos equipamentos de análise, a análise do odor passou a ser substituída por outros testes com maior significado clínico. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 22 Alguns alimentos e medicamentos podem alterar o odor da urina, assim como doenças genéticas (leucinose e fenilcetonúria) e amostras com presença de bactérias (odor fétido). Análise do aspecto: no geral, a coloração da urina tem aspecto límpido e claro, porém pode ser turvo ou até leitoso (purulento). A amostra que apresenta turvação quando ainda não foi centrifugada pode ser indicativo da precipitação de sais em formas de cristais, e necessitam de uma investigação mais profunda. Outros fatores que podem causar turvação na amostra são: presença de muco, contaminação por fezes, leveduras, lipidúria, entre outros. Toda a turbidez deve ser confirmada pela análise microscópica após centrifugação. Análise da densidade: determina a diluição ou concentração de uma amostra, podendo indicar o estado de hidratação do paciente e auxiliar na avaliação da capacidade renal. Em adultos hidratados, a densidade apresentada é de 1,015 a 1,025. A densidade pode ser analisada através de diversos métodos, entre eles, o uso de algumas gotas de urina para medir o índice de refração da solução, que será proporcional ao conteúdo de sólidos dissolvidos na amostra. Exame Sedimentar (Microscópico) Após a amostra de urina concentrada ser centrifugada, são separados os elementos celulares dos não celulares para a análise em microscópio comum. Os valores de referências variam de acordo com o laboratório que realizar a análise. Muitos componentes microscópicos podem ser encontrados, citaremos apenas os mais comuns: Hemácias: em pequenos números, é comum encontrar hemácias na urina de indivíduos normais (2 a 5 hemácias por campo de grande aumento ou até 10.000/ml). Valores fora da referência podem indicar várias patologias do trato urinário. EXEMPLO Normalmente, a hemácia possui forma discoide bicôncavo e de aparência pálida, podendo variar em seu tamanho. Podem se apresentar com as margens em formato ondulado (hemácias crenadas), Uroanálise e Líquidos Corpóreos 23 em urinas hipertônicas. Devido à lise celular causada por amostras diluídas, as hemácias liberam a hemoglobina e assumem o formato de uma membrana celular vazia, conhecida como hemácia fantasma. Eventualmente, as hemácias podem ser confundidas com leveduras em processo de gemulação. Se o microscopista responsável pela análise não encontrar brotamentos e hifas de leveduras para a distinção, é indicado pingar duas gotas de ácido acético para que as hemácias sejam lisadas e a dúvida seja esclarecida. Leucócitos: a análise do sedimento precisa ser realizada logo após a coleta, pois ocorre lise celular em 50% dos leucócitos presentes se a urina for mantida durante 2 ou 3 horas em temperatura ambiente. O neutrófilo é o mais encontrado no sedimento. DEFINIÇÃO: Piúria é o nome que se dá ao aumento do número de leucócitos acima do valor de referência encontrado na urina. Células epiteliais: a maioria das células epiteliais não possuem resultado clínico significante, pois resultam de descamação do revestimento epitelial, porém algumas podem demonstrar a presença de lesão epitelial ou doença renal. Podem ser de três tipos: as escamosas (comuns na urina, principalmente em mulheres e gestantes), tubulares do epitélio renal (em grande quantidade podem indicar lesão tubular) e uroteliais (de transição). Qualquer tipo de célula epitelial encontrada em valores superiores à referência requer investigação por outro método para que haja um diagnóstico específico. Ácido úrico: são cristais que se formam em pH abaixo de 5,0 e podem ser vistos em uma grande diversidade de formas. Altos níveis de ácido úrico na urina estão relacionados à nefropatia da gota, podendo sugerir a presença de pequenos cálculos renais no ureter. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 24 SAIBA MAIS: Na urina de crianças, durante a fase de crescimento acelerado, ocorre o metabolismo intenso de nucleoproteínas, podendo resultar no aparecimento de cristais de ácido úrico na urina. Muitos outros tipos de sedimento podem ser encontrados, como cilindros, cristais, uratos e fosfatos amorfos, entre outros. RESUMINDO: Agora vamos fazer um resumo dos pontos principais deste capítulo para não esquecermos. A urina pode ser analisada a partir de métodos químicos, físicos e sedimentares (microscópicos). O exame químico é feito a partir da mudança de cor de uma urofita; a análise pode ser visual (comparação com a escala de cores), qualitativa ou semi- quantitativa (princípio da fotometria de reflexão). A urofita mede os seguintes parâmetros: pH, sangue, bilirrubina, urobilinogênio, presença de glicose, de proteínas e corpos cetônicos. O exame físico é feito sem o auxílio de microscópio e possibilita a observação da coloração, do odor, do aspecto e da densidade. Após a centrifugação da amostra de urina, é possível separar a parte líquida dos elementos sólidos para a análise em microscópio. Microscopicamente, vários componentes podem ser analisados, como hemácias, leucócitos, células epiteliais, ácido úrico, além de cristais, cilindros, entre outros. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 25 Avaliação Laboratorial e Aplicação Clínica de Compostos Nitrogenados não Proteicos OBJETIVO: Ao final deste capítulo, você saberá reconhecer os compostos nitrogenados não proteicos e sua importância na clínica médica. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante!. Compostos Nitrogenados não Proteicos São compostos nitrogenados não proteicos todos aqueles compostos séricos, com exceção das proteínas. Existem mais de 15 compostos nitrogenados não proteicos no plasma, sendo que os principais são: aminoácidos, amônia, ureia, creatinina e ácido úrico. Eles são resultados do catabolismo de proteínas endógenas (tecidos), exógenas (dieta) e ácidos nucléicos. A dosagem destes compostos faz parte do estudo do “status” renal do paciente. Ureia Os aminoácidos provenientes do catabolismo proteico são desaminados com a produção de amônia, que por ser extremamente tóxica, é convertida em ureia no fígado. (NH2-CO-NH2). Após sua síntese no fígado, a ureia é transportada até os rins através do plasma, onde é filtrada pelos glomérulos e reabsorvida pelos túbulos (40 a 70% da ureia total). A ação da flora bacteriana normal é responsável por metabolizar ¼ da ureia, formando amônia e CO2; a amônia formada é reabsorvida e levada ao fígado onde é reconvertida em ureia. A função renal, o estado de hidratação, a quantidadede proteína ingerida na dieta, a presença de sangramento intestinal e o teor de catabolismo proteico afetam diretamente o nível da ureia plasmática. Embora seja limitado usar a ureia como indicador da função renal pela Uroanálise e Líquidos Corpóreos 26 variedade de resultados provenientes de fatores não renais, medir o nível da ureia ajuda na predição e na distinção entre inúmeras causas de insuficiência renal. A ureia constitui em torno de 45% do nitrogênio não proteico no sangue. A seguir listaremos algumas enfermidades renais medidas através da análise da ureia. Hiperuremia: o aumento dos teores de ureia plasmática pode ser causado por diferentes tipos de lesões renais, como glomerular, tubular, intersticial ou vascular, sendo limitado como indicativo de enfermidade renal por conta da variedade nos resultados produzidos por fatores não renais. Alguns sintomas são: acidemia, náusea, vômito, podendo evoluir para estado de torpor e coma. Podem ser de três tipos: • Uremia pré-renal: detecta-se pelo aumento da ureia plasmática sem a concomitante elevação da creatinina no sangue. É resultado da perfusão inadequada dos rins, isto é, a função renal permanece normal, mas a filtração glomerular está diminuída, causada por insuficiência cardíaca grave, diminuição do fluxo sanguíneo renal (ex: hemorragia e desidratação), choque, alteração no metabolismo de proteínas (dieta rica em proteína, febre, último trimestre da gravidez), terapia com corticoides ou tetraciclina, entre outros. • Uremia renal: a ureia fica retida pela diminuição da filtração glomerular em consequência de doença renal aguda ou crônica, como glomerulonefrites, necrose tubular aguda, lesão arteriolar provocada por hipertensão, desidratação e edema. • Uremia pós-renal: a ureia é reabsorvida pela circulação como consequência da obstrução do trato urinário. É encontrada em obstrução ureteral e obstrução na saída da bexiga. Hipouremia: baixos níveis de ureia são muitas vezes encontrados em hepatopatias graves, pois a formação de amônia no sangue é consequência de fígado lesado, que não tem capacidade de sintetizar a ureia a partir do amônio (produto do metabolismo proteico), causando encefalopatia hepática. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 27 Creatinina A creatina é uma substância sintetizada pelo fígado, rim e pâncreas, e é transportada para o cérebro e músculos (atua como reservatório energético). Em condições fisiológicas, a creatina muscular perde água para formar creatinina. Na sua forma livre, a creatinina não é reutilizada pelo metabolismo, funcionando somente como produto de resíduos de creatina. No plasma, quando está em grandes concentrações, a creatinina é excretada pelos túbulos renais. A creatinina é produzida como resultado da desidratação não enzimática da creatina muscular. A quantidade de creatinina excretada é proporcional à massa muscular do indivíduo e sua velocidade de excreção é relativamente constante, pois sua produção não depende do metabolismo proteico ou de fatores externos, sendo então, um interessante método de avaliação da função renal. O estudo da velocidade da filtração glomerular pode ser medida pelos teores de creatinina sérica e pela concentração de ureia plasmática, porém os teores de creatinina sérica são mais sensíveis para a avaliação. .A seguir listaremos algumas enfermidades renais medidas através da análise da creatinina. Hipercreatinemia: o aumento plasmático da creatinina é consequência da redução da velocidade de excreção da filtração glomerular (haverá menor excreção da creatinina pela urina e, com isso, maior concentração da creatinina plasmática). Os níveis séricos são proporcionais à gravidade da enfermidade renal, sendo que muitas vezes, até que 50-70% da função renal esteja comprometida, os valores não ultrapassam os limites de referência. Suas causas podem ser: • Pré-renal: aumentos comuns em necrose muscular esquelética, atrofia, traumas, distrofias musculares, poliomelite, fome e ainda em insuficiência cardíaca congestiva, diabetes mellitus, uso excessivo de diuréticos, entre outros. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 28 • Renal: aumentos encontrados em lesão de glomérulo, túbulos, vasos sanguíneos ou tecido intersticial renal. • Pós-renal: aumentos encontrados em doenças congênitas que bloqueiam ou comprimem os ureteres, cálculos e hipertofia prostática. Ácido Úrico O ácido úrico é formado principalmente no fígado a partir da xantina pela ação da enzima xantina oxidase, sendo o principal produto do catabolismo das bases púricas (adenina e guanina). Alguns fatores são responsáveis pela variação do ácido úrico plasmático, como sexo (referência maior em homens), obesidade (maior em indivíduos obesos), classe social (quanto mais abastado, maior tendência à hiperuricemia) e dieta (aumento do ácido úrico em consumo elevado de proteínas e ácidos nucléicos) Veja algumas enfermidades renais medidas através da análise do ácido úrico: Hiperurecemia: • Gota: caracterizada por deposição de cristais de uratos insolúveis nas juntas das extremidades, podendo causar várias deformidades. Pode ser primária (genética) ou secundária (adquirida). Pacientes com gota primária podem vir a desenvolver cálculos renais compostos de ácido úrico. • Defeitos na eliminação de uratos: podem ser causados por insuficiência renal crônica, salicilatos (drogas que afetam as vias de transporte), redução da secreção tubular distal, doenças metabólicas inerentes, doença cardíaca isquêmica e hipertensão. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 29 Avaliação Laboratorial de Nitrogenados não Proteicos Avaliação da Ureia Para a determinação do nível de ureia, o paciente não precisa de nenhum cuidado especial. A amostra para análise são soro e plasma heparinizado (não usar heparina amoniacal), sem hemólise. Se bem refrigeradas, as amostras ficam estáveis em torno de uma semana. IMPORTANTE: Resultado falso-positivo: acetona, ácido ascórbico, anfotericina B, antiácidos alcalinos, arginina, captopril, cloranfenicol, esteroides anabólicos, entre outros. Resultado falso-negativo: abuso do álcool, acromegalia, amiloidose, cirrose, desnutrição hepática, dieta (proteína in adequada), entre outros. A ureia pode ser medida através de métodos indiretos e diretos. No método direto, a ureia reage com compostos formando cromogênios. No método indireto, quantifica-se a formação da amônia que é consequência da hidrólise da ureia pela urease. Métodos de análise: Urease – um dos primeiros métodos empregados, na qual a amônia formada é determinada colorimetricamente pelo reagente de Nessler ou pela reação de Berthelot. Urease/glutamato desidrogenase (GLDH) – medida espectrofotométrica em que duas reações ocorrem de modo acoplado: o NADH é oxidado à NAD+ pela enzima α-cetoglutarato e a amônia é obtida através da reação com uréase. É um método muito utilizado em equipamentos automáticos, pois interferências causadas por desidrogenases e amônia na amostra são eliminadas pelo método cinético de análise. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 30 Corante indicador – uso de corante indicador de pH que produz cor e mede a amônia obtida pela reação com a uréase. É usado na tecnologia de química seca (DT Vitros). Conductimetria – a reação ureia-urease causa alteração na condutividade, que é utilizada como método de quantificação de ureia. Há ainda outros métodos empregados, como a condensação de diacetilmonoxima com ureia, formando o cromogênio diazina amarelo (fotossensível); a reação da urease controlada por eletrodo íon sensível eletrodo e a reação da o-ftaldeído com aminas primárias com a ureia. Quadro 1 – Valores de referência para a ureia (mg/dl) Adultos 15 a 39 Fonte: Adaptado de Motta (2003). Avaliação da Creatinina A avaliação da creatinina requer que o paciente evite exercícios intensos durante 8horas e ingestão de carne vermelha em excesso 24 horas antes do teste. As amostras de sangue para análise são soro e plasma sanguíneo sem hemólise, lipemia ou ictérico. Para o exame de urina, colhe-se a urina de 24 horas sem conservantes. As amostras, se estiverem refrigeradas, têm estabilidade de uma semana. IMPORTANTE: Resultados falsamente elevados podem ser vistos pelo uso de ácido ascórbico, anfotericina B, barbitúricos, entre outros. Métodos de análise: Jaffé – método colorimétrico que determina a presen- ça de creatinina no sangue ou na urina. A partir deste método, outros mais eficientes foram desenvolvidos. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 31 Jaffé/terra de fuller – usado para melhorar a especifici- dade. Usa-se o reagente de Lloyd (silicato de alumínio, terra de fuller lavada) e mede-se a velocidade da reação. IMPORTANTE: Jaffé/terra de fuller é o método referência para a análise de creatinina. Jaffé/cinético – mede-se a velocidade da reação entre a creatina e o ácido pícrico diretamente no soro, eliminando algumas interferências positivas da glicose e ascorbato. Cromatografia de alta performance – a creatina é separada por troca iônica e quantificada. Quadro 2 – Valores de referência para creatina Homens 0,6 a 1,2mg/dL Mulheres 0,6 a 1,1mg/dL Urina (homens) 14 a 26mg/kg/d Urina (mulheres) 11 a 20mg/kg/d Fonte: Adaptado de Motta (2003). Avaliação do Ácido Úrico Para ser avaliado, o paciente não necessita de nenhum cuidado especial. As amostras para análise são plasma (sem EDTA ou fluoreto), soro e urina, separando-se o plasma do soro o mais rápido possível. Sob refrigeração, a amostra fica estável entre 3 e 5 dias; se colocada a -20º C, a amostra fica estável por 6 meses. Métodos de análise: Ácido fosfotúgstico – método colorimétrico, no qual o ácido úrico em solução alcalina reduz o ácido fosfotúgstico a azul de tugnistênio. Pode aparecer turvação no desenvolvimento da cor. Uricase – pode ser utilizado através da quantificação por diferença de absorção antes e depois da uricase, pela colorimetria do peróxido Uroanálise e Líquidos Corpóreos 32 de hidrogênio produzido e pela média polarográfica da quantidade de oxigênio consumido na reação. Cromatografia líquida de alta performance – métodos de referência que não são realizados rotineiramente. Quadro 3 – Valores de referência para o ácido úrico HOMENS MULHERES Soro sanguíneo 3,5 a 7,2mg/dL 2,6 a 6,0mg/dL Urina de 24h 250 a 750mg/d 250 a 750mg/d Fonte: Adaptado de Motta (2003). SAIBA MAIS: Normalmente, durante um dia inteiro, produzimos entre 600ml e 2L de urina, dependendo da quantidade de água que os rins excretam em relação à água que ingerimos. Porém, esses valores podem variar dependendo da ingestão de líquidos, da perda dos fluidos por outra via que não seja a renal, variações na secreção do ADH, eliminação de glicose na urina etc. A redução do volume urinário é denominada oligúria, e pode ocorrer em casos de choque e nefrite aguda, desidratação corporal, por vômito, diarreia, suor e queimaduras graves. A oligúria pode levar à anúria, que é a completa supressão da formação e do fluxo de urina, que pode ser resultante de danos graves aos rins ou de diminuição do fluxo de sangue para os rins, podendo ser menor do que 100 por dia. RESUMINDO: E então? Gostou do que mostramos? Aprendeu mesmo, tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Os compostos nitrogenados não proteicos estão presentes no soro, com exceção das proteínas. Dentre os mais de 15 compostos, podemos Uroanálise e Líquidos Corpóreos 33 citar os mais importantes como aminoácidos, amônia, ureia, creatinina e ácido úrico, e dizer que suas concentrações mostram a situação renal do paciente. A ureia está diretamente relacionada com a função renal, a quantidade de proteínas ingeridas na dieta, entre outros, e sua medida ajuda no diagnóstico de várias causas de insuficiência renal. A creatinina, na sua forma livre, funciona como produto de resíduos de creatina. Estando relacionada com a massa muscular do indivíduo, sua produção é relativamente constante e é um interessante método de avaliação da função renal. O ácido úrico é o principal produto do catabolismo de bases púricas, e sua concentração avalia algumas disfunções renais, como gota e excreção de uratos, além de muitos outros compostos que existem em menor concentração e são usados para auxiliar no diagnóstico de diversas doenças. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 34 Controle de Qualidade em Análises Clínicas OBJETIVO: Ao final deste capítulo, saberá identificar a importância do controle de qualidade na urinálise. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! A qualidade está relacionada ao valor de alguma coisa, à sua conformidade com as devidas especificações e às expectativas de alguém. Pode ser definida como o excedente de expectativas que um consumidor tem quando faz uso de um produto ou serviço. A qualidade passou a ocupar um papel estratégico e não somente de cumprimento de legislação. No serviço de saúde, os laboratórios de análises clínicas passaram a desenvolver e adotar programas de qualidade cada vez mais rigorosos em vista da pressão que vem sendo exercida tanto por parte do governo quanto por parte dos consumidores. O rigoroso controle na área de saúde ainda tem em vista que uma falha pode significar danos irreversíveis ou a perda de uma vida humana. Em 1990, Donabedian estabeleceu alguns atributos conhecidos como os “sete pilares da qualidade” que definem a qualidade no cuidado em saúde, sendo eles: aceitabilidade, efetividade, eficácia, eficiência, equidade, legitimidade e otimização. Quando focamos no termo “exame”, que é um produto oferecido pelos laboratórios de análise, a qualidade passa a ser mais padronizada e objetiva, sendo monitorada e controlada por requisitos de uma legislação exigente, e valendo-se de dois termos complementares: garantia e controle de qualidade. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 35 DEFINIÇÃO: Garantia de qualidade: é o conjunto de atividades planejadas e sistemáticas que promovem a confiança de que o estabelecimento atenderá os requisitos para a qualidade. Controle de qualidade: são técnicas e atividades operacionais que têm por objetivo monitorar um processo de forma a eliminar causas de desempenho insatisfatório durante todas as etapas do ciclo de qualidade. Precisamos ter em mente que a qualidade de um exame oferecido se inicia com a padronização de todos os processos envolvidos, desde o momento em que o médico solicita um exame, passando pela coleta do material biológico até a liberação do laudo. O estabelecimento de processos-padrão assegura o monitoramento e a análise de situações que venham a ser adversas àquelas normalizadas, de modo a sanar possíveis fontes de erros, prevenindo e corrigindo possíveis situações que estejam fora das exigências. A divisão em três fases torna o entendimento do mecanismo de controle mais prático, sendo elas: fase pré-analítica, fase analítica e fase pós-analítica. Fase Pré-Analítica Esta fase compreende tudo que precede ao ensaio laboratorial, seja dentro ou fora do laboratório. Inicia-se com o médico prescrevendo o exame, passando pela preparação do paciente, a coleta, a manipulação e termina com o armazenamento da amostra que ocorre antes da determinação analítica. Por ter etapas que ocorrem fora do ambiente laboratorial, é considerada a mais difícil de ser monitorada e de ter ações corretivas aplicadas em caso de não conformidade. As estatísticas mostram que 68 a 93% dos erros laboratoriais acontecem durante esta fase, simplesmente Uroanálise e Líquidos Corpóreos 36 pela dificuldade de padronização, por isso existe uma grande necessidade de implementar métodos mais rigorosos paradetecção, classificação e redução dos erros. A seguir listaremos de forma mais detalhada alguns fatores que são apontados como fonte de erros ou geradores de variações na fase pré- analítica. Escolha incorreta do teste de laboratório: o contato laboratório- médico precisa ser de parceria e confiança para que o laboratório possa oferecer ao médico o desfecho clínico que ele busca. Uma maneira que tem sido buscada, de modo a orientar as prescrições médicas, é integrar médicos patologistas no corpo profissional dos laboratórios. Ilegibilidade: devido à leitura errada do nome do exame solicitado, do paciente ou do médico solicitante, o laboratório pode emitir um exame equivocado e que seja irrelevante para o diagnóstico do paciente. O advento da informática vem reduzindo esse tipo de erro, porém não na sua totalidade. Preparação do paciente: considerado um fator crítico, a preparação do paciente depende das informações passadas ao paciente pela equipe profissional do laboratório de maneira clara e objetiva, enfatizando a importância de uma preparação correta para a obtenção de resultados fidedignos. E, por conseguinte, depende que o paciente compreenda e execute corretamente as orientações profissionais. Dentre algumas informações essenciais estão o tempo necessário de jejum, a restrição à exercícios físicos e consumo de bebidas alcoólicas antes da coleta, a interferência de drogas terapêuticas (que podem ter sua interferência in vitro, in vivo, ou em ambos os mecanismos). Interferências em ambos os mecanismos (in vivo e in vitro): uso de alguns medicamentos como as cefalosporinas de 2ª e 3ª gerações, com excreção via renal, e a cefoperazona, com excreção renal e hepática, que causam interferências in vivo (causando disfunção renal, aumentado a concentração de creatinina sérica) e in vitro (interferindo no método de Jaffé de diagnóstico). Uroanálise e Líquidos Corpóreos 37 EXPLICANDO MELHOR: In vivo: estão relacionados aos efeitos biológicos destas drogas, tanto na sua ação principal quanto aos seus efeitos colaterais. In vitro: a interferência da droga ou de seus metabólitos é sentido no processo analítico de maneiras variadas. Uma maneira de evitar e investigar possíveis interferências é com a realização de diferentes métodos de análise. Por exemplo: o uso de vitamina C interfere na análise de glicose, hemoglobina e nitrito na amostra de urina, podendo ainda ocultar a presença de sangue nas fezes e interferir em dosagens de creatinina sérica. Muitas fórmulas de emagrecimento (usadas sem prescrição médica) podem conter hormônios tireoidianos e diuréticos, e por serem consideradas “naturais”, os pacientes não informam seu uso. Horário ou momento da coleta: alguns analitos sofrem alterações em função do tempo, ou seja, o momento da coleta pode interferir no resultado. EXEMPLO A concentração da aldosterona pode se elevar em até 100% na fase pré-ovultatória quando comparada à fase folicular ou, ainda, coletas realizadas na parte da tarde para análise de ferro e cortisol no soro podem mostrar resultados 50% mais baixos do que as coletas realizadas durante a manhã. Identificação dos materiais: não pode haver erro na identificação do paciente, do material, da data e da hora da coleta. Coleta da amostra: pode ocorrer perda do material biológico se a obtenção, o preparo ou o transporte for realizado de forma errada. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 38 NOTA: É frequente o encontro de microcoágulos em amostras de sangue que terão sua coagulação analisada, o que pode ser resultado de uma homogeneização incorreta ou uso equivocado da quantidade de anticoagulante. Fase Analítica Esta fase tem início com a validação do sistema e termina com a geração de um resultado pela determinação analítica. A validação do sistema se dá através do controle de qualidade na amplitude normal e patológica, abrangendo diferentes e impactantes concentrações no monitoramento da linearidade e sensibilidade. A fase analítica se dá de maneira contínua à fase pré-analítica, no qual se iniciou um atendimento específico e padronizado de qualidade, e esta continuidade é vista quando se fala em automação de processos, e o desenvolvimento de novas tecnologias e metodologias envolvendo reagentes, como por exemplo: • Maior reprodutibilidade dos dados, evidenciada pela redução nos coeficientes de variação analítica. • Uso de tubos primários nos equipamentos e diminuição de etapas de pipetagem, de modo a dar maior segurança quanto à manipulação de fluidos biológicos. • Aumento da capacidade de produção de exames/hora. • Maior agilidade na liberação de resultados com impacto no tempo de atendimento total (TAT) entre o momento da solicitação do exame e o horário de sua liberação. • Diminuição do volume necessário para efetivação das determinações analíticas tanto de material biológico (menor quantidade de fluido biológico) quanto de reagente (economia). Uroanálise e Líquidos Corpóreos 39 Mas uma coisa precisa ficar clara: é preciso pensar em um conjunto que englobe os melhores equipamentos e um programa de suporte adequado na área de tecnologia da informação. A automação de um laboratório de maneira isolada não garante ter qualidade, mas a existência desse conjunto torna os processos mais eficientes e eficazes. Com ou sem equipamentos, é essencial que se façam estudos para identificar a tecnologia que mais se adequa aos requisitos de qualidade estabelecidos pelo laboratório e às necessidades metodológicas. Os controles internos e externos são ferramentas indispensáveis na detecção preventiva de erros e suas causas, de maneira que não gere consequências para o consumidor. E apesar de todos os cuidados, os erros nesta fase podem chegar a 16%. Fase Pós-Analítica São os procedimentos feitos após a realização do exame. Esta fase inclui cálculo e análise de resultados, armazenamento da amostra do paciente, transmissão e arquivamento de resultados. A fase pós-analítica foi beneficiada pelo aprimoramento da tecnologia da informação por ter minimizado ou eliminado várias fontes de erros, tendo o aumento da sua qualidade nitidamente percebida. PASSO A PASSO O que fazer para minimizar ou eliminar potenciais erros: • Atualizar as “máscaras” dos laudos de diagnósticos sempre que houver mudança de metodologia, equipamento ou valores de referência. • Testar o sistema de liberação técnica e interfaceamento, de maneira a identificar e rastrear possíveis falhas. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 40 Controle Interno de Qualidade (CIQ) São procedimentos conduzidos de maneira associada ao exame do paciente, de modo a avaliar os limites de tolerância predefinidos do sistema analítico. O CIQ está diretamente relacionado à precisão dos exames e tem como principais funções: controlar o desempenho de materiais, equipamentos e métodos analíticos, registrando as ações executadas; identificar a estabilidade do processo e suas mudanças; criar sinais de alerta de modo a prevenir que resultados errados sejam liberados, indicando a necessidade de ações corretivas. Controle Externo de Qualidade (CEQ) Também chamado de avaliação externa de qualidade, fundamenta- se na comparação dos sistemas analíticos utilizados e na avaliação dos resultados dos exames de maneira interlaboratorial. Os laboratórios que são provedores de ensaios de proficiência, periodicamente distribuem alíquotas de um mesmo material para os demais participantes. Os resultados, a metodologia e os equipamentos têm seus resultados agrupados, e sua média é calculada para cada parâmetro. Com a participação neste programa, o laboratório participante poderá garantir resultados o mais próximo possível dentro de uma variabilidade analítica permitida. Todos os que obtiverem desempenho adequado, integrarão a listagem do certificado de proficiência. SAIBA MAIS: Para saber mais, leia o artigoEnsaio de proficiência demonstra que o diagnóstico de diabetes mellitus pode ser influenciado por diferentes metodologias. Uroanálise e Líquidos Corpóreos https://controllab.com/pdf/banner_aacc_port.pdf 41 RESUMINDO: E então? Gostou do que mostramos? Vamos relembrar alguns conceitos importantes. A avaliação de qualidade é um processo de garantia da qualidade da assistência ao paciente e é regulamentada para todos os ensaios. Um diagnóstico fidedigno requer padronização das etapas envolvidas na realização dos exames desde o momento em que o médico solicita um exame, passando pela coleta do material biológico até a liberação do laudo. O programa de controle de qualidade inclui três fases: pré-analítica, analítica e pós-analítica. A fase pré-analítica refere-se à orientação feita ao paciente sobre os métodos de coleta, o tempo de chegada até o laboratório e a conservação da amostra até a entrega. A fase analítica engloba todas as condutas e boas práticas laboratoriais, como o uso de reagentes dentro do prazo de validade e equipamentos calibrados, por exemplo. A fase pós-analítica precisa padronizar os resultados liberados, o armazenamento destes e o descarte de materiais dentro dos padrões de segurança. E ainda, é cobrada a realização de testes de proficiência que garantam a padronização dos testes, dando ao serviço a certificação de qualidade e excelência no serviço. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 42 REFERÊNCIAS GONÇALVES, F. B. et al. Uroanálise e fluidos corporais. São Paulo: Técnica do Brasil, 2015. MOTTA, V. T. Bioquímica Clínica: princípios e interpretações. 4. ed. Porto Alegre: Médica Missau, 2003. SHAH, A. P. Avaliação do paciente renal. Manual MSD, 2019. XAVIER R. M. et al. Laboratório na prática clínica. 2. ed. Porto Alegre: Atmed, 2011. Uroanálise e Líquidos Corpóreos Introdução à Urinálise História da Urinálise Tipos de Amostra Métodos de Coleta Entrega da Urina ao Laboratório Separação do Sedimento Urinário Exames Químico, Físico e Sedimentar da Urina Métodos de Análise Exame Químico Exame Físico (Macroscópico) Exame Sedimentar (Microscópico) Avaliação Laboratorial e Aplicação Clínica de Compostos Nitrogenados não Proteicos Compostos Nitrogenados não Proteicos Ureia Creatinina Ácido Úrico Avaliação Laboratorial de Nitrogenados não Proteicos Avaliação da Ureia Avaliação da Creatinina Avaliação do Ácido Úrico Controle de Qualidade em Análises Clínicas Fase Pré-Analítica Fase Analítica Fase Pós-Analítica Controle Interno de Qualidade (CIQ) Controle Externo de Qualidade (CEQ)
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