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Fundamentos da Parasitologia Parasitologia Clínica Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria EDINÉIA BONIN AUTORIA Edinéia Bonin Olá! Sou analista de Alimentos, mestre em Ciência de Alimentos e doutoranda em Ciência de Alimentos pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), com experiência técnico-profissional de mais de cinco anos na área de Microbiologia. Passei por empresas multinacionais nas quais desenvolvi experiência em análise de laboratório físico-química e microbiológica. Sou apaixonada pela leitura e pelo que faço, e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso, fui convidada pela Editora TeleSapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Compreendendo a Parasitologia ......................................................... 10 Histórico da Parasitologia ....................................................................................................... 10 Introdução à Parasitologia ..................................................................... 21 Tipos de Relação entre os Seres Vivos e o Ambiente .........................................23 Conceito Básico da Parasitologia .....................................................................26 Parasita ................................................................................................................................28 Adaptações são Sinais do Parasitismo ............................................. 33 Morfológicas .......................................................................................................................................33 Biológicas...........................................................................................................................34 Tipos de Associações entre os Seres Vivos ............................................ 36 Competição .........................................................................................................................................37 Competição por um Nicho Ecológico ..........................................................37 Canibalismo ......................................................................................................................37 Predatismo .......................................................................................................................................... 38 Associação entre Organismos ........................................................................... 38 Comensalismo .............................................................................................................. 38 Forésia .................................................................................................................................................... 39 Parasitismo ....................................................................................................................... 40 Mutualismo .......................................................................................................................42 Simbiose ................................................................................................................................................42 Ciclo Biológico dos Parasitos .................................................................45 Ciclo Biológico Monoxeno ........................................................................................................45 Ciclo Biológico Heteroxeno ..................................................................................47 Vetores ................................................................................................................................................... 48 Classificação dos Parasitas .................................................................................. 49 7 UNIDADE 01 Parasitologia Clínica 8 INTRODUÇÃO Estímulo vem da vontade de aprender coisas novas, de buscar um material que auxilie e ajude a compreender com mais facilidade os desafios do estudo. E o estudo da Parasitologia é bastante instigante. A Parasitologia busca entender os parasitas, as doenças parasitárias humanas e como os sintomas são gerados e controlados; entender a interação do parasita com o hospedeiro, mantendo o ciclo de vida do parasita sem ocasionar a morte do hospedeiro; intervir para dissolver a cadeia de transmissão; e devolver a qualidade de vida do hospedeiro. A função de um pesquisador em Parasitologia é a aplicação de estratégias cada vez mais fundamentadas, com o uso de tecnologias com base na ciência, com técnicas inovadoras e modernas. O estudo da Biologia Molecular e da Engenharia Genética voltado para os parasitas abriu uma ampla linha de pesquisa e com isso o desenvolvimento de novos métodos de diagnósticos, estratégias terapêuticas e vacinas. Ao professor de Parasitologia, compete apresentar os parasitas aos estudantes incentivando-os a descobrir e entender o ciclo biológico, agente etiológico (agente causador ou responsável pela doença) e cadeia de transmissão, para orientar populações carentes, que, pelas condições de hiegiene, falta de saneamento básico, pouca escolaridade e tipo de habitação, são as mais afetadas pelos parasitas. Aos futuros profissionais e estudantes das áreas da Saúde e Biologia, e amantes da leitura, apaixonados pelo conhecimento, sejam bem-vindos a conhecer e entender a Parasitologia, sejam multiplicadores de boas ações do conhecimento. Parasitologia Clínica 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1 – Fundamentos da Parasitologia. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Explicar a evolução da Parasitologia. 2. Aplicar as estratégias envolvidas nos ciclos biológicos dos parasitos. 3. Analisar os efeitos do parasitismo entre os hospedeiros. 4. Executar os procedimentos e as técnicas em prol da população mais carente, a fim solucionar os problemas das parasitoses. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Parasitologia Clínica 10 Compreendendo a Parasitologia OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender o avanço dos estudos da Parasitologia que aconteceram ao longo dos séculos, a cadeia interligada para sobrevivência das espécies, bem como identificar a evolução das epidemias parasitárias, a relação parasita/hospedeiro e seus diferentes comportamentos para sobrevivência, prevenção e desenvolvimento de tratamentos e doenças causadas pelos parasitas em seres humanose animais. No Brasil, a incidência de infecções acometidas por parasitas ainda é um problema de saúde pública, e o futuro profissional parasitologista precisa estar bem fundamentado com o conhecimento das formas de infestação no ciclo de vida e reprodução e quanto aos fatores que influenciam a disseminação dos parasitas. Por serem parasitas das mais diferentes espécies que infectam homem e animais, isso faz com que o profissional precise de uma boa capacitação para o diagnóstico. Seja curioso e busque cada vez mais melhorar seu conhecimento, vamos aprender sobre o estudo da Parasitologia. Bem-vindo a esta viagem, desvendando o mundo dos parasitas.. Histórico da Parasitologia Entre as doenças consideradas da pobreza, vamos aprender um pouco mais sobre as parasitárias, ou parasitoses. Inicialmente como um ramo da história natural, aqui temos um breve relato sobre alguns agentes de transmissão de doenças parasitárias que marcaram séculos e ainda são considerados problemas de saúde pública no Brasil. Parasitologia Clínica 11 VOCÊ SABIA? A Parasitologia foi considerada inicialmente como uma lata de “vermes” e surgiu por volta do século XIX juntamente a várias outras áreas da medicina. Essa ciência foi indicada como um ramo natural da história, mas, posteriormente, foi construída com a descoberta e descrição de vários agentes etiológicos. Agentes etiológicos? São aqueles organismos causadores de doenças, que precisam de um vetor para proliferar a doença ou completar o seu ciclo de parasitismo. Os fundamentos da ciência denominada Parasitologia foram estabelecidos, e os parasitas se tornaram então os responsáveis por importantes doenças do homem e dos seus animais domésticos. Porém, a história nos mostra que os eventos aconteceram ao longo dos séculos XIX e XX em laboratórios das universidades, em precárias condições, na maioria das vezes. Na África, em 1908, Charles Nicolle e Luis Hubert Manceaux pesquisaram a Leshmania em tecido do fígado de um roedor silvestre denominado Ctenodactylus gondii, que foi batizado de protozoário, posteriormente foi proposta a nomenclatura do Toxoplasma gondii, com base na morfologia de um microrganismo. No ano de 1923, foi detectado o primeiro caso da toxoplasmose em humano por meio de um ferimento da retina ocular de uma criança. Alguns anos depois (1930), constatada a transmissão congênita humana por Wolf e Cohen. E, por comparações biológicas e imunológicas, estudiosos identificaram vários parasitas idênticos ao Toxoplasma gondii, dificultando os exames parasitológicos. Na década de 1940, foi relatado nos Estados Unidos o primeiro caso em felino, constatando-se posteriormente que o felino era o hospedeiro definitivo. Parasitologia Clínica 12 No histórico da Parasitologia no Brasil, podemos citar renomados médicos parasitologistas brasileiros, como Oswaldo Cruz e Carlos Chagas. Oswaldo Cruz criou a escola de medicina voltada para a saúde pública em 1902, já Carlos Chagas pesquisador reconhecido internacionalmente do Instituto Oswaldo Cruz, descobriu o parasita Trypanosoma cruzi, inseto conhecido como barbeiro, vetor que transmitia a doença de Chagas. Figura 1 – Pesquisa com parasita Trypanosoma cruzi, inseto conhecido como barbeiro pelo Instituto Oswaldo Cruz Fonte: Wikimedia Common. VOCÊ SABIA? O Instituto Oswaldo Cruz, referência em pesquisa no Brasil e no mundo, foi fundado em 1917, por Oswaldo Cruz. Com a morte de Oswldo Cruz, Carlos Chagas assumiu a diretoria dando continuidade às pesquisas. Contando um pouquinho a trajetória destes pesquisadores, Oswaldo Cruz, médico sanitarista, nasceu em 1872 em São Luís do Paraitinga/ SP, e ficou à frente da diretoria geral de saúde pública do Brasil, nos anos de 1903 a 1909. No século XX, conduziu campanhas sanitárias contra doenças como peste bubônica, febre amarela e varíola. Oswaldo Cruz foi orientador de Carlos Chaga na tese de doutorado, posteriormente Carlos Chagas ajudou Oswaldo com a campanha contra a malária, na Companhia Docas de Santos, em São Paulo. O Instituto Oswaldo Cruz foi responsável pela reforma sanitarista no Brasil. Parasitologia Clínica 13 Figura 2 – Foto dos pesquisadores Carlos Chagas e Oswaldo Cruz, exposta no museu da vida (sentados, o segundo é Carlos e o quarto é Oswaldo, da esquerda para direita) Fonte: Fiocruz ([s. d.]). O histórico da descoberta da leishmania foi marcado com dados incertos e vagos inicialmente. VOCÊ SABIA? Viajando pelas regiões da Amazônia um missionário observa lesões nos braços e pernas de pessoas, relacionadas a picadas de insetos e, como consequência, lesões destrutivas na boca e no nariz. Isso levou a pensar que essa endemia na Amazônia, derivada da Bolívia e do Peru, foi a porta de entrada para disseminação em outros estados do Norte do país, por pessoas que foram em busca de trabalho e retornaram infectados para seus estados. Parasitologia Clínica 14 Em 1903, Wright identifica o agente Helcosoma tropicum e coloca o nome de botão do Oriente ou botão da Bahia, denominado posteriormente como Leishmania furunculosa. A leishmaniose teve várias denominações no século XX, e uma epidemia de casos no estado de São Paulo, na construção da Estrada de Ferro Noroeste. Devido às úlceras, acompanhadas de lesões mucosas, foi denominada como úlcera de Bauru e em 1909 foi identificado o agente por Lindenberg. Figura 3 – Lesões ocasionadas pela picada do mosquito leishmaniose, doença inicialmente denominada como botão do Oriente, botão da Bahia e ulcera de Bauru Fonte: Pixabay Em um breve relato sobre a malária, doença transmitida pelo mosquito do gênero Plasmodium, no século XVII, na América do Sul, padres jesuítas observaram populações indígenas que usavam casca de uma árvore (Cinchona), tratamento de alguns tipos de febre. Essa casca possui um princípio ativo, a quinina, que é responsável por combater o vírus da doença, e ficou conhecida popularmente nos EUA como “pó dos jesuítas”. Em 1880, um médico do exército francês, Alphonse Laveran, descreve o agente etiológico da malária, e seu estudo é seguido pelo do médico britânico Ronald Ross, que esclareceu a etiologia de doenças associadas aos agentes transmissores. Parasitologia Clínica 15 Quanto ao combate e controle da malária, estimulado durante a Primeira Guerra Mundial, os países que participavam da guerra tiveram grandes perdas decorrentes do protozoário parasita do gênero Plasmodium. Essa foi a doença que causou mais mal ao maior número de países. Em 1942, criou-se o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), para controlar a doença e, em 1992, o empenho foi estabelecido para controlar o mosquito e erradicar no mundo a malária. O combate aos mosquitos foi apoiado pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), porém, a situação epidemiológica da malária continuou. No Brasil, em 1999, o Plano de Intensificação das Ações de Controle da Malária (PIACM) foi criado para tentar mudar as estratégias de erradicação para um controle por meio de diagnóstico. Entre os casos existentes, 99% estavam concentrados na região da Amazônia. O governo brasileiro criou então o Programa Nacional de Prevenção e Controle da Malária (PNCM). Quer saber mais sobre esse programa? Acesse o link no Saiba mais. Por meio da leitura, adquirimos mais conhecimento, então vamos ler o manual. SAIBA MAIS: Entenda um pouco mais sobre o Programa Nacional de Prevenção e Controle da Malária (PNCM), da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde. Acesse clicando aqui. REFLITA: Agora, convido você a pensar sobre esse assunto, a malária. Mesmo com as descobertas de novos produtos, programas de controle e estratégias de tratamento, por que a doença ainda apresenta dados elevados de incidência? Parasitologia Clínica http://bit.ly/2GA5sFq 16 O parasita responsável pela doença amebíase foi observado em 1860 por Lambl, que deduziu que erammicrorganismos em fezes de um garoto. No ano de 1875, Lõch, por meio de estudos microscópicos e clínicos, fez associações entre desinteria e microrganismos, quando o examinou as fezes de um doente. Ali a Amoeba coli foi denominada. Em 1887, Köch e Graffki observaram a invasão de tecidos por amebas. No ano de 1891, os pesquisadores Councilman e Lafleur denominaram como Entamoeba dysenterie, pois observaram uma patogenicidade pela invasão da ameba no intestino e fígado. Porém, alguns mistérios ainda surgiram, pois existia casos de amebíase sintomático e assintomático. Foi aí que os pesquisadores descobriram que a Entamoeba tinha outras espécies e, em 1970, Brumpt descobriu a diferença entre Entamoeba histolytica e a Entamoeba díspar, depois de muita polêmica. Além dessas, existem vários nomes científicos de ameba, que podem ser encontradas no intestino grosso. Figura 4 – Ilustração de cisto Entamoeba Histolytica que adere ao intestino grosso ocasionando infecção Fonte: Wikimedia Commons Além desses dados históricos descritos sobre os parasitas, temos mais um grupo de helmintos conhecidos popularmente como vermes, que constituem um grupo numeroso de parasitas de vida parasitária ou livre e são um grave problema de saúde pública no mundo. No Brasil, Parasitologia Clínica 17 entre 1916 e 1921, foi registrado o primeiro levantamento de indivíduos com infecções enteroparasitas, com o apoio da Fundação Rockfeller. A grande incidência de grupos de helmintos intestinais está associada principalmente à população carente e de baixo desenvolvimento econômico, à falta de saneamento básico e higiene, e a moradores de áreas rurais. VOCÊ SABIA? Estima-se que de 20% a 30% da população da América Latina esteja infectada por alguma espécie de parasita helminto (verme). Ao longo da história, esse é indicado como um dos mais sérios problemas da saúde pública do Brasil. No Brasil, essas infecções estão presentes em todas as regiões, alterando-se de acordo com a população. Cerca de 50% das crianças sofrem com algum tipo de parasitose e 33% dos adultos. O problema do país é considerado endêmico pela Organização Mundial da Saúde (OMS). As parasitoses atingem principalmente crianças, pelo fato destas ainda não terem conhecimento sobre hábitos higiênicos, como a correta da lavagem das mãos ou não pegar comida do chão e comer. A Taenia solium, popularmente conhecida como solitária ou lombriga, é um dos parasitas que infectam crianças, essas parasitoses causam sérios problemas, como a perda de peso, mudança no humor, prejuízos ao crescimento, desenvolvimento e aprendizagem, até a morte. Atinge mais crianças em comunidades de baixa renda ou áreas rurais. Nos anos de 1960 a 1970, com a melhoria nas condições de vida em países com desenvolvimento em expansão, as pessoas voltaram a ter percepções otimistas em relação às doenças parasitárias. No entanto, no século XX, casos de epidemiologia fizeram com que esse cenário mudasse, passando a ser um problema de atenção prioritária em diferentes países. Parasitologia Clínica 18 Algumas doenças parasitárias ganharam destaque na saúde pública do Brasil (dados de 1967 a 2016). O país passou por várias epidemias urbanas, e nas áreas rurais, década de 1960, mais de 50% da população apresentava algum tipo de doença parasitária, sendo as mais prevalentes a doença de Chagas, a malária e a esquistossomose. Com base em dados científicos, a febre amarela tem reincidência no Brasil a cada cinco anos entre seres humanos. Os últimos dados de surtos ocorreram nos estados do Rio Grande do Sul e São Paulo, porém, considera-se que essas doenças não são por falta de cuidado ou prevenção, pois foram registradas epidemias em 1999 na Bolívia, em 2007 no Paraguai e em 2016 na China. A dengue, transmitida pelo vetor Aedes aegypti, com registro de casos graves e aumento da mortalidade (1976), estende-se até os dias atuais, com registro de epidemias em todo o território brasileiro. Em 2010, foi registrado o quarto estágio de avanço do sorotipo da doença (DENV- 4), que também está entre os principais problemas de saúde pública do Brasil, com crescente aumento de hospitalização e óbitos todos os anos. O Aedes aegypti foi responsável pelo surgimento em 2014 de novos casos de emergência de Zika vírus e Chikungunya, sendo que o Zika deixou várias sequelas e malformações em crianças no Nordeste brasileiro. SAIBA MAIS: Sobre as doenças parasitárias e infecciosas que ocasionaram epidemias no Brasil nos últimos 50 anos, convido você a fazer a leitura do artigo Trajetória das doenças infecciosas no Brasil nos últimos 50 anos: um contínuo desafio. Acesso clicando aqui. Parasitologia Clínica http://bit.ly/3bfMguS http://bit.ly/3bfMguS 19 Em países emergentes, as doenças parasitárias ocorrem com maior frequência, em toda a extensão geográfica, em virtude dos problemas socioeconômicos, como precárias condições sanitárias, habitacionais e deficiências de alimentação. No Brasil, é considerado alto o índice de doenças parasitárias. De acordo com todos esses dados, podemos afirmar que algumas doenças que ocasionaram enfermidade e morte durante anos são reincidentes e até o momento atual são consideradas doenças negligenciadas em países com frequente expansão. Também foram denominadas de doenças tropicais por afetarem diferentes dimensões geográficas. Essas doenças têm como características comuns o índice elevado em áreas rurais e urbanas com problemas sociais, como extrema pobreza. Elas afetam o crescimento e desenvolvimento intelectual infantil, e são poucas as pesquisas para o desenvolvimento de novos fármacos e vacinas. S falta de interesse pela indústria farmacêutica faz com que sejam doenças frequentes em regiões de pobreza. Entre as doenças consideradas negligenciadas em termos de pesquisa e desenvolvimento de controle, com maior registro de casos dentro da Parasitologia, temos: malária, diversos tipos de parasitoses (platyhelmintos e nemathelminthes), doença de chagas, toxoplasmose e leishmanioses. Algumas das doenças parasitárias, além de problemas de saúde pública, estão associadas a doenças mais graves, como câncer, anemia aguda e infecções. A malária é uma doença parasitária causada pelo protozoário do gênero Plasmodium, que pode causar a ruptura das hemácias (anemia hemolítica) e graves infecções. Está associada também a um tipo de câncer que afeta o sistema linfático, que são as células de defesa do corpo, denominado Linfoma de Burkitt, constituído de três tipos: endêmico, esporádico e relacionado à imunodeficiência. O câncer considerado endêmico está associado à malária na África Equatorial. As infecções parasitárias intestinais ocasionadas por protozoários e helmintos estão associadas à deficiência de ferro, e a leishmaniose pode causar diminuição de hemácias, plaquetas e leucócitos. Parasitologia Clínica 20 RESUMINDO: A Parasitologia é a ciência que estuda os parasitas, os hospedeiros e a relação entre eles. Os parasitas protozoários são responsáveis por causarem doenças como Leishmaniose, Toxoplasma gondii, doença de Chagas (Trypanosoma cruzi), amebíase (Entamoeba dysenterie) e malária. Eles são responsáveis por importantes doenças do homem e de seus animais domésticos. Os primeiros relatos aconteceram por volta dos séculos XX a XIX. Essas doenças trazem prejuízos para a população até os dias atuais, pois são relacionadas com fatores sociais, como pobreza e falta de qualidade de vida. Além dessas doenças ocasionadas por parasitas, temos também o grupo de parasitas de vida parasitária ou livre, que constituem um grave problema de saúde pública no mundo e no Brasil. São os grupos dos helmintos, popularmente conhecido como vermes. No Brasil, é considerado um problema endêmico pela OMS, pois cerca de 33% dos adultos e 50% das crianças são infectados por essas doenças parasitárias.Parasitologia Clínica 21 Introdução à Parasitologia OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de compreender a relação das cadeias interligadas para a sobrevivência das espécies, entre os seres vivos e o ambiente, bem como a subdivisão dos parasitas e as adaptações para viver como parasita. Estudante, seja livre e audacioso para entender a Parasitologia.. O conjunto de seres vivos microrganismos e parasitas é estudado pela Microbiologia e Parasitologia, ambas permitem estudar a diferença a partir de pontos de vista diferentes. A Microbiologia estuda os pequenos organismos que não podem ser vistos a olho nu. A Parasitologia estuda todos os organismos vivos que infectam outros seres vivos, os seus hospedeiros, a relação entre eles, bem como o ciclo de vida. Ambas as ciências derivam da Biologia, porém a Microbiologia é considerada um ramo da Biologia sistemática e a Parasitologia estuda os parasitas e parasitismo, independentemente da complexidade e do seu tamanho. Nesse grupo, estão incluídos bactérias, fungos, vírus, protozoários, helmintos e artrópodes. Parasitologia Clínica 22 Figura 5 – Descrição da divisão da Biologia em Microbiologia e Parasitologia Fonte: Adaptada de Pumorola (1992). DEFINIÇÃO: A Biologia Sistêmica é a ciência que busca o entendimento dos organismos biológicos como um todo. Parasitologia Clínica 23 Tipos de Relação entre os Seres Vivos e o Ambiente Pense naquele indivíduo que vive às custas de outra pessoa, ou mesmo da sociedade, incluindo nesse conceito uma recriminação ou reprovação por oportunismo, abuso ou mau-caratismo. No dito popular, qualquer pessoa o chamará de parasita, esse é um exemplo bem simples para lembrar a definição na Parasitologia. Certamente os parasitas dependem de outros seres vivos, algumas vezes dos seres humanos, que se tornam seu hospedeiro. Biologicamente falando, quase todos os seres vivos vivem em cadeia para existir, dependendo assim uns dos outros, como os parasitas. Existem exceções, como algumas espécies de bactérias, capazes de viver com matérias inorgânicas e usar a luz solar como fonte energética ou metabolizar a energia química contida em compostos. As plantas verdes utilizam a luz solar por meio da fotossíntese, mas necessitam encontrar no solo nutrientes nitrogenados que são indispensáveis; ou dependem de outros microrganismos que decomponham os compostos orgânicos excretados por outros seres vivos ou possibilitados por estes ao morrer. Isso permite a nutrição das plantas com nitritos, nitratos ou sais amoniacais, ocorrendo o término do ciclo nitrogênio na natureza. Assim, os vegetais sintetizam suas proteínas e aminoácidos. Parasitologia Clínica 24 Figura 6 – Ciclo do nitrogênio na natureza: um organismo depende do outro para sobrevivência Fonte: Santos ([s. d.]). As plantas verdes, algas e fitoplâncton, que são organismos produtores, utilizam a energia solar para sintetizar moléculas inorgânicas, isto é, são capazes de sintetizar seu próprio alimento e são essenciais para o equilíbrio dos ecossistemas. Os herbívoros são os consumidores primários, que se alimentam e digerem as plantas; depois são consumidos pelos carnívoros e onívoros, consumidores secundários e terciários que os utilizam para o seu metabolismo, crescimento e reprodução, entre eles está o homem. Assim, temos de início os microrganismos e vegetais sintetizadores, continuando com herbívoros, granívoros, frugívoros até chegar aos Parasitologia Clínica 25 carnívoros e onívoros (homem), que transfere matéria e energia por meio de carboidratos, lipídios e proteínas, permitindo que a vida continue. Segundo os ecologistas, organismos produtores são as plantas e vegetais; as demais partes da cadeia alimentar são os consumidores. Figura 7 – Cadeia alimentar, ciclo da vida desenvolvimento na face da terra Fonte: Adaptada de Pumorola (1992). EXPLICANDO MELHOR: Herbívoros, granívoros, frugívoros são consumidores primários, isto é, alimentam-se dos produtores (plantas). Os carnívoros alimentam-se dos herbívoros (cobra de sapo, gato de pássaro), são consumidores secundários. Consumidores terciários são os carnívoros, que se alimentam de outros carnívoros (gavião de cobra). Pastagens extensas são importantes para alimentar os herbívoros e manter um crescimento vegetal seguro, com abundância de alimentos por um longo período de tempo. O equilíbrio da cadeia alimentar depende do número de carnívoros, com a sua fonte de alimentação herbívoros; ao Parasitologia Clínica 26 contrário, pode ocorrer desequilíbrio na cadeia e seriam devorados por seus inimigos naturais. O mesmo podemos falar dos carnívoros (leão) que comem carnívoros (jacaré). Depois de um breve entendimento sobre a cadeia alimentar, vamos entrar no foco principal do nosso estudo: os parasitas. Esses são organismos consumidores que podem posicionar-se em níveis de consumidores primários, secundários, terciários ou quaternários, segundo a natureza de seus hospedeiros: plantas, animais herbívoros ou carnívoros. A população de parasitas pode ser muito maior do que a dos seus hospedeiros ou espécies parasitadas, por serem pequenos e às vezes microscópios. Um único paciente pode abrigar vários ascaris (lombriga), milhares de esquistossomos no trato gastrointestinal e um milhão de unidades de Plasmodium, que causa a malária no sangue. Mas ainda são considerados pequenos quando comparados ao hospedeiro. Conceito Básico da Parasitologia Doenças causadas por protozoários, nematelmintos e artrópodes são estudadas pela Parasitologia. Bactérias patogênicas, vírus e fungos também são parasitas e vivem em relações harmônicas e desarmônicas com seu hospedeiro. Porém, as infecções causadas por parasitas são estudadas em um grupo único: a Parasitologia. Para alguns países essas infecções são de importância moderada, pois atingem populações carentes, e alguns casos são negligenciadas. Os países considerados tropicais têm programas de prevenção e maior preocupação com esse problema, pois cerca um bilhão de pessoas são infectadas por vermes intestinais, 600 milhões pelo protozoário gênero Plasmodium, da malária, e 300 milhões por nematódeos, que causam as doenças ascaridíase, amarelão, elefantíase, oxiuríase. A Parasitologia foi denominada primeiramente como medicina tropical. Os protozoários e helmintos são organismos considerados de maior complexidade, que ainda precisam de muita pesquisa para serem elucidados. Temos conhecimento de que estes ativam a defesa do organismo, porém não entendemos por que o sistema imunológico não consegue eliminá-los, ocasionando infecções por anos. Essas doenças causam impacto e redução da qualidade de vida de milhões de pessoas, Parasitologia Clínica 27 sendo consideradas problema grave de saúde pública. Esses parasitas foram separados também pelo ciclo de vida diferenciado, visto que diversos hospedeiros encontram ampla distribuição geográfica. SAIBA MAIS: Confira o artigo Homens e parasitas: a contribuição da Paleoparasitologia para a questão da origem do homem na América. Acesse clicando aqui. Pensando no ciclo da vida, nenhum indivíduo consegue permanecer ou se manter isolado ou sozinho, sem depender de um ou mais outros seres. Na parasitologia, não é diferente. Os organismos dependem de indivíduos da mesma espécie ou espécies diferentes, para sua reprodução, nutrição e desenvolvimento. Nesse contexto, temos dois tipos de interações: as interespecíficas, que são interações formadas por seres de diferentes espécies da mesma comunidade, e as intraespecíficas, formadas por indivíduos de uma mesma população. Essas interações visam exclusivamente obter alimento entre os organismos relacionados. Denomina-se parasitismo quando a sobrevivência de um organismo de uma espécie se estabelece com base na dependência de nutrientes produzidos por outros indivíduos. IMPORTANTE: Acreditoque você tenha entendido o que é parasitismo ou já fez associação com algo, com base na parte introdutora. Para melhorar sua fixação, parasitismo são associações de seres vivos (como se fosse uma sociedade com dois sócios), em que somente um tira proveito ou se beneficia da sociedade, e o outro sócio é o hospedeiro, que é prejudicado pela sociedade. Parasitologia Clínica http://bit.ly/39gylmt 28 Parasita Parasita é o organismo que vive sobre outro organismo ou dentro dele para garantir sua sobrevivência. Depende de organismos (para sua nutrição) ou outras funções que garantem sua sobrevivência, o chamado hospedeiro, que, em tamanho, no geral é bem maior que o parasita. Podemos citar cinco classificações para os parasitas: microparasita, macroparasita, endoparasita, ectoparasita e hiperparasita. Os organismos que se multiplicam dentro do hospedeiro, em estado de latência ou dormência, possuem tamanho não visto a olho nu, suas doenças têm geralmente curta duração e que a imunidade do hospedeiro pode ser duradoura são denominados de microparasitas. Os macroparasitas, como o nome já induz, são seres de tamanho maior, que passam parte do ciclo de vida em contato com o hospedeiro. Geralmente são vermes com período de vida longa. Sua carga parasitária é maior em uma parcela da população e a intensidade dessa carga depende da resistência do hospedeiro. Algumas vezes, seu estágio permanece fora do ciclo do hospedeiro, em ovos ou larvas. Os macroparasitas não induzem imunidade eficiente, então pode ocorrer a recontaminação do hospedeiro, sempre que este for exposto ao parasita. Endoparasitas, por dedução, podemos entender que são parasitas que durante a fase parasitária vivem no interior do corpo do hospedeiro, no tubo digestivo, sangue e outros tecidos, e podem levar à morte. São exemplos de endoparasitas: Trypanosoma cruzi, vermes nematódeos (Ascaris lumbricoides (lombriga) ou platelmintos (Taenia solium) e protozoários Trypanosoma cruzi (doença de Chagas). Ectoparasitas são os parasitas que, durante a fase parasitária, vivem na superfície do corpo do hospedeiro (animal), sugando-lhes nutrientes. Por exemplo: Pulex irritans (pulga), Pediculus capitis (piolho humano), carrapatos e moscas. São parasitas de animais e homens. Hiperparasitas são os que parasitam outros parasitas. Eles colocam seus ovos em outro parasita e os ovos fecundados eclodem novos parasitas que usam para nutrição o hospedeiro. Por exemplo: Entamoeba Histolytica, que são parasitadas por fungos ou cocobacilos. Acompanhe no Quadro 1. Parasitologia Clínica 29 Quadro 1 – Classificação dos parasitas Microparasitas Podem ser vistos a olho nu (micro), vivem dentro do hospedeiro. Macroparasitas Maiores em tamanho (macro), parte da vida no hospedeiro. Endoparasitas Vivem dentro do hospedeiro (endo), verme e lombriga. Ectoparasitas Vivem sob a superfície do hospedeiro (ecto), piolho, pulga, carrapato. Hiperparasitas Parasitam outros parasitas (hiper). Fonte: Adaptado de Pumorola (1992). Por viverem em uma associação familiar com outra espécie, os parasitas procuram um ambiente fisicamente benigno, com vistas a terem mecanismos de reconhecimento e destruição de invasores dos hospedeiros. Os parasitas devem viver em um ambiente agressivo para poderem ir de um hospedeiro para o outro. Muitos parasitas executam essas tarefas por meio de um ciclo de vida, configurações de resistência que advêm pelo ambiente externo. Alguns hospedeiros carregam alelos resistentes a certos parasitas, por isso os parasitas preferem hospedeiros suscetíveis, para que possam explorá-los. Os parasitas exploram os genótipos resistentes dos hospedeiros, tirando benefício disso. Para evitar essa exploração seletiva, os hospedeiros vivem sob pressão. EXPLICANDO MELHOR: Hospedeiros com maior variabilidade genética, ou seja, com tendência dos diferentes alelos de um mesmo gene variarem entre si, são capazes de resistir mais às pressões dos parasitas. Para melhorar o gene e com isso garantir a sobrevivência da popu- lação, alguns se reproduzem sexuadamente e outros assexuadamente. Parasitologia Clínica 30 Nos primeiros, para observar as mudanças no gene, foram realizados ex- perimento cuja modalidade de reprodução assexuada se destacou em um primeiro momento, por ser de fácil realização e garantir a passagem de todos os genes para a espécie. Figura 8 – Esquema de organismo microscópio formado por uma única célula, reprodução assexuada Fonte: Wikimedia Commons. Avaliando a adaptação e resistência dos parasitas, observou-se em estudo que a reprodução sexuada possibilita a formação e codificação de novos genes, assegurando a sobrevivência de parasitas com menor resistência. SAIBA MAIS: Para melhor compreender a reprodução sexuada dos protozoários, assista ao vídeo Reprodução sexuada dos protozoários – diversidade dos seres vivos. Acesse clicando aqui. Para ocorrerem essas fases, os parasitas necessitam dos hospedeiros, sendo quatro os tipos de hospedeiros: definitivo, intermediário, natural e acidental. Parasitologia Clínica http://bit.ly/2uKXXZW http://bit.ly/2uKXXZW 31 Hospedeiros definitivos abrigam os parasitas, mas não são afetados pela doença parasitária, a exemplo dos felinos, que são hospedeiros da doença toxoplasmose. É considerado o hospedeiro definitivo, pois toda a fase sexuada do parasita ocorre no hospedeiro. Os parasitas estão sujeitos a usarem os recursos de metabolismo para sobreviverem no hospedeiro. Alguns parasitas mantêm relação com dois ou mais hospedeiros. EXPLICANDO MELHOR: No hospedeiro definitivo, o parasita se instala por um período maior, para poder sobreviver, crescer e se reproduzir. Exemplos: Schistosoma mansoni (esquistossomose, popularmente conhecida como barriga d’água ou doença do caramujo) e Trypanosoma cruzi (doença de chagas), que se reproduz por fase sexuada e tem o homem como hospedeiro definitivo. O hospedeiro intermediário é fundamental no ciclo do parasita, que desenvolve nele fases larvais ou assexuadas. O caramujo é o hospedeiro intermediário do Schistosoma mansoni, causando a doença esquistossomose, e depois infecta o homem como hospedeiro definitivo. Figura 9 - Ilustração do caramujo que causa a infecção esquistossomose ou barriga d’água Fonte: Wikimedia Commons. Parasitologia Clínica 32 O hospedeiro natural garante a perpetuação da espécie. Além de não sofrer com o parasita, funciona como meio de contágio para outros animais. Exemplo: Rhipicephalus sanguineus ou carrapato de canil, cujo hospedeiro natural é o cão doméstico. O hospedeiro acidental são casos raros ou não habituais no ciclo de vida. Exemplo: Dipylidium caninum (parasita do cão); que pode parasitar crianças, ou larvas de moscas, que vivem em frutos e acidentalmente chegam até o homem. RESUMINDO: O conjunto de seres vivos microrganismos e parasitas é estudado pela Microbiologia e Parasitologia, e ambas permitem estudar a diferença a partir de pontos de vista diferentes. Nesse grupo, estão incluídos bactérias, fungos, vírus, protozoários, helmintos e artrópodes. Certamente, os parasitas dependem de outros seres vivos, algumas vezes dos seres humanos, tornando-o seu hospedeiro. Biologicamente, quase todos os seres vivos dependem de uma cadeia para existirem, dependendo assim uns dos outros, como os parasitas. Os parasitas, organismos que vivem sobre outro organismo ou dentro dele, para garantir sua sobrevivência depende de organismos (para sua nutrição) ou outras funções que garantam sua sobrevivência. Podemos citar cinco classificações para os parasitas: microparasita, macroparasita, endoparasita, ectoparasita e hiperparasita. Por viverem em uma associação familiar com outra espécie, os parasitas precisam de um ambiente fisicamente benigno, vistos os mecanismos de reconhecimento e destruição de invasores dos hospedeiros. Os parasitas necessitam dos hospedeiros para suasobrevivência, nutrição e desenvolvimento. Esse hospedeiro pode ser definitivo, intermediário, natural e acidental. Parasitologia Clínica 33 Adaptações são Sinais do Parasitismo OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você terá a capacidade de compreender as diferentes associações harmônicas, desarmônicas e adaptações que os parasitas desenvolveram ao longo de seu ciclo para sobrevivência e reprodução. Foco e força nos estudos! Os seres vivos na natureza possuem inter-relações, variando desde a colaboração mútua por meio da simbiose até o predatismo e canibalismo. O parasitismo ocorreu quando um ser vivo menor se sentiu beneficiado com uma dessas associações, quer seja pela proteção ou pela obtenção de alimento. Com a evolução da associação depois de alguns anos, o relacionamento com o hospedeiro melhorou e a adaptação tornou o parasita (invasor) mais e mais dependente do hospedeiro. As adaptações são o sinal do parasitismo. Nesse sentido, ocorreram algumas alterações metabólicas e outras modificações nas organizações estruturais morfológicas e biológicas, variando de grau e forma, desde aquelas perceptíveis até as imperceptíveis. Vamos entender um pouco mais. Morfológicas As degenerações ou atrofias são representadas por perdas no aparelho locomotor, digestivo (exemplo: Taenia) e sensorial. Podemos citar as pulgas, os percevejos e algumas moscas que perderam suas asas. Os cestoides não têm aparelho digestivo, mas desenvolveram tegumento para se alimentarem, e possuem órgão de fixação, como ventosas. A hipertrofia ocorre principalmente em órgãos de fixação (como ventosas em Taenia), reprodução, proteção e resistência. Alguns helmintos possuem órgãos de fixação fortes, como lábios, ventosas, bolsa copuladora. Possuem também alta capacidade de reprodução, com aumento de Parasitologia Clínica 34 ovário, testículos e útero para armazenar ovos (Ascaris lumbricoides, que produzem mais de 200 ovos por dia). Alguns insetos hematófagos têm a estrutura alimentar aumentada para auxiliar a perfuração da pele e, por sucção, se alimentar de sangue. Essas características asseguram a maior probabilidade de transmissão do parasita de um hospedeiro a outro. Figura 10 – Ilustração de percevejos que perderam as asas (atrofia) Fonte: Wikimedia Commons. Biológicas Para passarem pelas dificuldades de infectar novos hospedeiros e escaparem dos organismos predadores externos e perpetuar a espécie, os parasitas produzem grandes quantidades de ovos, cistos ou outras formas infectantes; este é uma capacidade reprodutiva desenvolvida pelos parasitas. Também na Parasitologia são apresentados diferentes tipos de reprodução: a partenogênese, o hermafroditismo, a poliembrionia (reprodução a partir de jovens). Esses mecanismos de reprodução Parasitologia Clínica 35 permitem facilitar a fecundação de machos e fêmeas, assegurando a reprodução da espécie. Os parasitas desenvolveram capacidade de proteção à agressão dos hospedeiros. Os helmintos possuem uma enzima (antiquinase), que neutraliza a ação dos sucos gástricos pelo hospedeiro, tornando- se resistentes a anticorpos ou macrófagos, capacidade para reduzir a atividade ou eficiência do sistema imunológico (imunossupressão). Organismos vivos têm seu crescimento orientado por meio de estímulos; isso é denominado tropismo. Podemos chamar de positivo quando o movimento ocorre em direção ao estímulo, e negativo quando ocorre ao contrário do estímulo. Na Parasitologia, são considerados como facilitador da reprodução, colonização ou sobrevivência das espécies os movimentos de mudança de direção de crescimento que ocorrem em organismos vivos ou suas partes devido ao estímulo de um fator externo (tropismo). Eles são classificados em: fototropismo – o organismo cresce em direção à luz; quimiotropismo – precisa de um estímulo químico para crescer; geotropismo – crescimento orientado pela gravidade, organismo acolher-se na terra é modo positivo, e acima na superfície, modo negativo; tigmotropismo – crescimento ao redor de um objeto sólido. Figura 11 – Organismos vivos e seu crescimento orientado por estímulos Fonte: Pixabay. Parasitologia Clínica 36 Tipos de Associações entre os Seres Vivos Os seres vivos individualmente nascem, crescem, reproduzem, envelhecem e morrem. Passam por adaptações para evoluírem e são utilizados como habitat para outros organismos, formando comunidades biológicas complexas e mantendo equilíbrio entre os indivíduos para obterem alimento e abrigo. Muitas espécies passam a conviver em um mesmo ambiente, gerando interações. Essas interações podem ser: harmônicas/ positivas, quando há benefício mútuo ou ausência de prejuízo mútuo; ou desarmônicas/negativas, quando há prejuízo para pelo menos para algum dos participantes. As interações podem ser classificadas como intraespecíficas (quando ocorrem na mesma espécie) e interespecíficas (relações entre espécies diferentes), gerando interações que podem ser: positivas, quando há benefício mútuo ou cooperação (interespecíficas: comensalismo, mutualismo, simbiose); negativas, quando há prejuízo para algum participante do grupo, quando competem pelo mesmo espaço ou fonte de alimentos (interespecíficas: competição, canibalismo, predatismo e parasitismo). Figura 12 – Ilustração de interações positivas (1) e negativas (2) entre os seres vivos Comensalismo Mutualismo Simbiose + 1 Competição Canibalismo Predatismo Parasitismo _ _ 2 Fonte: Adaptada de Pumorola (1998). Parasitologia Clínica 37 Competição É uma associação desarmônica na qual exemplares da mesma espécie ou espécies diferentes lutam pelo mesmo abrigo, espaço, calor, luz, água ou alimento. Nessa competição, as espécies menos preparadas perdem. Essa competição é um importante fator de regulação do número populacional de certas espécies. EXEMPLO: As moscas de cadáveres (Calliphoridae e Sarcophagidae), quando no estágio larval, alimentam-se do cadáver. O alimento é suficiente para um número limitado de indivíduos e as que chegam primeiro se alimentam mais rapidamente, as demais, se chegarem a moscas adultas, serão menores e inférteis. Competição por um Nicho Ecológico Para sobreviver, uma espécie de organismos necessita de um conjunto de recursos para poder viver e reproduzir. Isso é denominado de nicho ecológico, que determina a importância das necessidades fisiológicas de uma espécie. Quando duas espécies têm o mesmo requisito ocupando o mesmo nicho ecológico, a competição será inevitável e uma das espécies será eliminada pela outra (a que melhor se adaptar ao meio ou com maior capacidade reprodutiva). Podemos dizer que em cada nicho ecológico, não é comum encontrar mais que uma espécie. Canibalismo É quando um animal se alimenta do outro da mesma família ou espécie. É considerado um relacionamento desarmônico e ocorre devido à superpopulação ou falta de alimento para todos os indivíduos. Assim, as mais fortes devoram as mais fracas ou menores. Parasitologia Clínica 38 SAIBA MAIS: Conheça um exemplo de larvas de mosquito que se alimentam de outras espécies no artigo Lutzia tigripes (Diptera: Culicidae, Metalutzia) for the mosquito larval control: a new prospect of mosquito control. Acesse clicando aqui. Predatismo O predatismo é quando uma espécie, para sua sobrevivência, depende da morte da outra espécie na cadeia alimentar, ou quando destrói os membros dessa outra espécie para prover sua alimentação. Os carnívoros são predadores. Exemplos: onças se alimentam de pacas, antílopes ou animais de maior porte. Gavião caça roedores e aves de outras espécies, aranhas se nutrem de insetos. Dentro da predação, temos os micropredadores, que são animais pequenos (carrapatos, piolho, pulga) que sugam o homem e animais para sua sobrevivência. Associação entre Organismos Entre as relações de cooperação, temos as intraespecíficas einterespecíficas. As relações da mesma espécie que se reúne em grupos, como enxames, colônias, cardumes, manadas e rebanhos, ou grupos mais organizados, como formigueiros, colmeias e sociedade humana, são denominadas intraespecíficas. Nas associações interespecíficas, as relações de coabitação entre os indivíduos de espécies diferentes podem ser também complexas e diversificadas, com base em fisiologias metabólicas e ecológicas. Comensalismo É uma associação harmônica entre duas espécies, na qual uma obtém vantagem sem prejudicar a outra ou uma usa o corpo da outra espécie para nutrição. Exemplo associação entre actíneas (anêmonas-do- mar) e paguro (crustáceo de abdome mole que ocupa as conchas vazias Parasitologia Clínica http://bit.ly/36AyNdu http://bit.ly/36AyNdu 39 de moluscos gastrópodes para sua proteção). As actíneas se aproveitam dos restos alimentares que o paguro rejeita ou dispersa. Outro exemplo é a Entamoeba coli, que vive no intestino grosso do homem. O comensalismo pode ser dividido em: • Inquilismo – Nessa relação, uma espécie (inquilino) vive no interior ou sobre a outra (hospedeiro), usando-a como abrigo ou suporte. Essa espécie se beneficia, porém, sem gerar prejuízos a outra. Exemplos: peixe-agulha (Fierasfer) abriga-se no corpo do pepino- do-mar (holotúria), sai apenas para se alimentar, em seguida, retorna (segurança). • Protocooperação – É a relação de duas espécies que se associam para benefício mútuo, mas sem obrigatoriedade, isto é, uma não depende da outra para sobrevivência. Exemplos: as formigas Camponotus, que sugam as secreções de pulgões e cigarrinhas, e em troca oferecem proteção contra inimigos naturais. Entre o comensalismo, temos também a forésia, que será estudada a seguir. Forésia Associação em que uma espécie fornece suporte, abrigo ou transporte para outra e cada qual mantém sua independência alimentar, sendo que a convivência permite obter alimentos mais facilmente. O caranguejo de água doce (Potamonautes) beneficia o desenvolvimento das larvas aquáticas. Estas crescem aderidas a partes do seu corpo e, por deslocamento, conseguem melhores condições de alimentação. As moscas do berne (Dermatobia hominis) apanham mosquitos hematófagos e depositam seus ovos em seu abdome. As larvas se desenvolvem e aproveitam, quando o inseto for picar homens ou animais, para infectarem e viverem como parasitas. Parasitologia Clínica 40 Parasitismo Diferentes grupos, além dos microrganismos, podem ser parasitas e todos os animais podem ser parasitados. O parasitismo tem vantagens metabólicas, nutricionais e reprodutivas. Na relação mais estreita e profunda entre seres vivos, existe unilateralidade de benefícios: o hospedeiro é espoliado, pois fornece alimento e abrigo para o parasita. De um modo geral, esta relação tende para o equilíbrio, pois a morte do hospedeiro causa prejuízo para o parasita. Em muitos casos, o parasita cria laços de dependência metabólica, ou seja, o metabolismo do parasita fica vinculado ao hospedeiro. As relações metabólicas dos parasitas com os hospedeiros são de natureza nutritiva, em que o parasita retira do animal parasitado os nutrientes de que necessita para sobrevivência. Essa associação entre as espécies raramente leva à morte do hospedeiro; este sofre espoliação, mas não é o suficiente para causar-lhe a morte. Exemplos: o tatu, que é o hospedeiro do Trypanosoma cruzi, raramente morre devido ao parasita por ser hospedeiro natural, já homem, gato e cão geralmente morrem quando adquirem a doença de Chagas. Podemos falar também das regiões endêmicas da malária. Na população residente na região (nasceram, cresceram), o número de morte é muito baixo. Entretanto, quando pessoas que não residem na região entram e são infectadas com a doença na sua forma de maior patogenicidade, frequentemente morrem. Dessa forma, é possível entender por que, no parasitismo de um modo geral, tem-se equilíbrio entre ambos (parasita mais hospedeiro), porém frequentemente ocorrem epidemias ou casos graves de parasitose. É que, em locais com alta população, modificação do ambiente, baixas condições de higiene, falta de nutrição (alimentos), a população é mais suscetível, pois há condições favoráveis para multiplicação do parasita. Podemos citar a esquistossomose mansoni, que se dissemina e abrange seus casos mais graves, quando o homem altera o ambiente para plantar verduras ou construir valas de irrigação de arrozais e canaviais. Parasitologia Clínica 41 Os parasitas têm vantagens em relação a seu hospedeiro. Para o desenvolvimento reprodutivo, essa característica importante pode ser controlada pelo hospedeiro parcialmente ou completamente. O hospedeiro fornece moléculas da superfície celular para que ocorram a aderência e interação do parasita. Estes dependem de sinais de moléculas para entrarem na célula do hospedeiro e iniciarem o ciclo reprodutivo. Essa pode ser uma desvantagem dos parasitas, pois o hospedeiro controla seu desenvolvimento. Não ocorrendo o desenvolvimento, se não houver hospedeiro adequado, não é possível continuar o ciclo reprodutivo. Por essas vantagens e desvantagens, os parasitas evoluíram para promover a sobrevivência por longos ciclos, adaptando-se às mudanças do meio externo e construindo uma relação de harmonia com o hospedeiro. Em alguns casos, as relações entre parasitas e hospedeiro foram construídas de forma acidental, e isso resultou em sobrevivência prolongada, nutrição adequada e replicação. EXPLICANDO MELHOR: Parasitismo é uma relação da ecologia, criada entre espécies diferentes, é uma cooperação de troca de benefícios ao longo de uma vida, na qual se observa uma submissão duradoura. O organismo cria uma dependência do hospedeiro em níveis variados, desde zero até total, podendo ser uma condição permanente ou temporária. Exemplos: alguns parasitas externos (ectoparasitas) obtêm o oxigênio do meio externo – berne e bicho- de-pé (a fêmea grávida Tunga penetrans). Os parasitas internos (endoparasitos) necessitam totalmente de seus hospedeiros como fonte nutritiva. Parasitologia Clínica 42 Mutualismo No mutualismo, duas espécies se associam e ambas são beneficiadas. O hospedeiro fornece o alimento para o parasita e se utiliza do seu metabolismo e dos produtos formados pelo organismo, obtendo benefício também. A convivência torna-se recíproca e vantajosa. A exemplo disso, temos as larvas de Spirometra mansonoides (tênia de gatos), que completam seu ciclo em crustáceos de água doce (gênero Cyclops) e, quando realizados ensaios experimentais, produzem uma secreção semelhante ao hormônio de crescimento; quando inseridas em camundongos (não é hospedeiro natural), conseguem desenvolver seu corpo de 3 a 4 vezes mais do que no seu hospedeiro natural. SAIBA MAIS: Leia o artigo Spirometra mansonoides (Cestoda: Diphyllobothriidae) nas fezes de felídeos atendidos em Porto Alegre/RS: um parasita negligenciado. Acesse clicando aqui. Simbiose A simbiose é uma relação em que os indivíduos vivem por meio de trocas de vantagens em nível alto, de modo que são incapazes de viver separadamente, ou melhor, é a dependência metabólica recíproca entre duas espécies diferentes, em que nenhuma delas consegue viver isolada da outra. Exemplos: os cupins, que se alimentam de madeira, precisam das enzimas produzidas pelos protozoários flagelados que habitam o tubo digestivo dos insetos, para digerirem a celulose. Já os cupins são o único habitat natural para as triconinfas. Os protozoários vivem em associação com os ruminates (bovinos), enquanto fornecem alimentação e proteção para os protozoários, estes fornecem a enzima (celulase), que quebra a celulose ingerida pelo bovino. Parasitologia Clínica http://bit.ly/2UzPrHU 43 SAIBA MAIS: Para compreender a relação de bactérias, protozoários, tendo uma relação harmônica, faça a leiturado artigo Estudo dos principais microrganismos do rúmen. Acesse clicando aqui. Citamos várias associações ou relações entre os parasitas e o hospedeiro; algumas harmônicas e outras desarmônicas. As relações desarmônicas podem ocasionar a morte do hospedeiro ou reações que interfiram em sua qualidade de vida. Podemos citar aqui o parasitismo. Este, dependendo da intensidade da doença provocada no hospedeiro, pode ocasionar gravidades, como: • Ação espoliativa: quando o parasita absorve nutrientes do hospedeiro, ocasionando lesões na mucosa. • Ação tóxica: ocorrem reações alérgicas pela produção de enzimas ou metabólitos. • Ação mecânica: quando o parasita impede a absorção de nutrientes ou o fluxo normal da alimentação. • Ação irritativa: ocorre irritação no local parasitado (pele ou mucosa intestinal). • Ação traumática: ocorrem lesões de células ou tecidos pelo parasita, como rompimento das hemácias, úlceras intestinais, migração cutânea e lesões hepáticas. • Anóxia: os parasitas causam infeções agudas ou anemia no hospedeiro. Parasitologia Clínica https://revistacultivar.com.br/artigos/artigo-estudo-dos-principais-microorganismos-do-rumen 44 RESUMINDO: Você viu que os seres vivos na natureza possuem inter- relações, que variam desde a colaboração mútua por meio da simbiose até o predatismo e canibalismo. A relação de parasitismo aconteceu quando o indivíduo se sentiu prejudicado com alguma dessas relações. Ocorreram modificações nas organizações estruturais morfológicas e biológicas. Alterações morfológicas, como degenerações ou atrofias ou hipertrofia; ou biológicas, como passar pelas dificuldades de infectar novos hospedeiros e escapar dos organismos predadores externos para perpetuar a espécie. Muitas espécies passam a conviver em um mesmo ambiente, gerando interações. Essas interações são positivas quando há benefício mútuo ou cooperação – interespecíficas (comensalismo, mutualismo, simbiose). São negativas quando há prejuízo para algum participante do grupo, quando competem pelas mesmo espaço ou fonte de alimentos – interespecíficas (competição, canibalismo, predatismo e parasitismo). Parasitologia Clínica 45 Ciclo Biológico dos Parasitos OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender os ciclos monoxeno e heteroxeno, e as ações que o parasita usa para crescimento e mudança de hospedeiro, irá conhecer as formas de invasões da lombriga e da Taenia solium no homem e os meios de recontaminação, bem como os vetores que potencializam a transmissão para o homem. Avante e bons estudos! O organismo, desde o nascimento até a morte, possui um conjunto de processos denominado ciclo da vida. São mudanças e acontecimentos aos quais organismo é submetido ao longo das suas fases da vida. Com os parasitas, esse ciclo não é diferente. São as transformações ao longo da vida do parasita, as quais abrangem reprodução, desenvolvimento e evolução, que podem ser em um hospedeiro ou mais, também chamado de ciclo evolutivo. Mas o que seria esse ciclo evolutivo? Está diretamente relacionado com o hospedeiro que o parasita se instala para completar seu ciclo. Este compreende dois ciclos: o monóxeno, que possui um único hospedeiro; e heteroxeno, que possui dois ou mais hospedeiros, podendo estes ser definitivos ou intermediários. Os hospedeiros definitivos são infectados pelo parasita na reprodução sexuada ou fase adulta do parasita. Este é o mais prejudicado com o parasitismo, geralmente é o que desenvolve as doenças parasitárias. Já o hospedeiro intermediário abriga o parasita na primeira fase da vida (estágio larval), que é quando ocorre a reprodução assexuada. Ciclo Biológico Monoxeno No ciclo monóxeno, o parasita necessita de apenas um hospedeiro (Ascaris lumbricoides, um único hospedeiro, ex.: homem). Já no ciclo Parasitologia Clínica 46 polixeno, o nome já indica, mais que um hospedeiro; acometem as fases assexuadas e sexuadas e são organismos que potencializam a transmissão, os vetores. VOCÊ SABIA? Alguns parasitas do ciclo monoxeno precisam de um hospedeiro para concluírem seu ciclo, a exemplo da lombriga ou oxiúro (Ascaris lumbricoides, Enterobius vermiularis), parasita do intestino do homem. As fêmeas fecundam os ovos no meio externo e o homem, quando ingere esses ovos devido a condições higiênicas e sanitárias inadequadas, reproduzem no intestino suas larvas, que crescem e são fecundadas pelo macho, produzindo novamente ovos. Esse é o ciclo evolutivo dos parasitas. Os parasitas estenoxenos infectam poucas espécies ou apenas uma. No entanto, os eurixenos podem conviver com um grande número de hospedeiros. Esses seres procuram pele, trato digestivo, fígado, pulmões, sistema nervoso, cabeça do seu hospedeiro; porém, possuem capacidade de alcançar outro hospedeiro, e essa passagem se dá por métodos bioquímicos complexos, determinados por estímulos, e ações concisas, para completar seu desenvolvimento ou ciclo biológico. Essas ações são de grande importância para os profissionais da saúde, pois, com estudos, conseguem prevenir as doenças parasitárias. EXPLICANDO MELHOR: O ciclo monoxeno de vida de um parasita se inicia com os seus ovos ou larvas depositadas em alimentos ou locais de fácil interação com o hospedeiro. O hospedeiro pode ingerir ou abrigar os parasitas. Estes se desenvolvem e se proliferam no interior do seu organismo, causando-lhe sintomas da doença característica. Por meio das fezes ou secreções, o hospedeiro pode eliminar ovos e larvas do parasita no ambiente, e essas larvas logo iniciarão um novo ciclo, colonizando novos hospedeiros. Parasitologia Clínica 47 Ciclo Biológico Heteroxeno No complexo ciclo heteroxeno, o parasita precisa manter a ordem de desenvolvimento, sem mudar a rota, para infectar dois ou mais hospedeiros. Os primeiros são os hospedeiros intermediários, que também podem ser os vetores infectantes, nos quais ocorre o crescimento das larvas, e o hospedeiro definitivo, que desenvolve o parasita na fase adulta. Figura 13 – Ciclo heteroxeno da Taenia solium Fonte: Wikimedia Commons. Como ilustrado, a Taenia solium, um verme intestinal do homem, precisa de dois hospedeiros para completar seu ciclo: o homem e o porco. O homem infectado libera os ovos no solo; o porco, quando solto, se infecta com esses ovos que se desenvolvem; o homem consome a carne do porco infectada e assim ocorre o ciclo. REVISANDO: No ciclo heteroxeno, o parasita se aloja no hospedeiro intermediário e se desenvolve até a fase adulta. Depois dessa fase, coloniza o hospedeiro definitivo a partir da transmissão pela ingestão de carne do hospedeiro intermediário ou do transporte do vetor. A transmissão pode variar conforme o parasita e a forma de interação com o vetor intermediário, quando existir. Algumas doenças Parasitologia Clínica 48 parasitárias ocorrem pela ingestão de ovos e larvas ao consumir alimento infectado, como carnes de suínos e bovinos. Outras infecções ocorrem após a interação do vetor com o hospedeiro definitivo por meio de picadas (quando o vetor for um inseto) ou mordidas (quando o vetor for um animal, como cães e gatos). O importante é saber que uma infecção só ocorre pelo contato direto entre o parasita e o hospedeiro definitivo, o qual, às vezes, se dá sob influência de um hospedeiro intermediário (vetor). Vetores Os vetores são responsáveis por doenças infecciosas com índice elevado de mortes por ano (mais de um milhão). Eles podem transmitir doenças entre animais para o homem, ou somente para o homem. Os vetores mais conhecidos são os mosquitos, porém podem ser incluídos moscas, carrapatos, pulgas, barbeiro e molusco de água doce, que podem causar diferentes tipos de doenças infeciosas. Todos os anos, são registradas mais de um milhão de mortes e bilhões de novos casos em todo o mundo. Entre as doenças transmitidas por vetores, podemos citara esquistossomose, leishmaniose, doença de Chagas, malária, Zika, febre amarela e Chikungunya. Os hospedeiros intermediários também podem ser chamados de vetores quando o objeto de estudo é a doença causada e não o parasita em si. São organismos que causam a doença, ou são o veículo para a transmissão de algum causador da doença (mosquitos, moluscos). De acordo com a sociedade brasileira de Parasitologia, os vetores podem ser classificados em dois tipos: biológico e mecânico. Acompanhe: • Vetor biológico: está diretamente relacionado com o ciclo evolutivo do patógeno. Além de ser o transporte do parasita, também pode ser identificado como aquele que serve de local para a multiplicação de um agente causador de doença. É no vetor biológico que o patógeno passa parte do seu ciclo de vida. • Vetor mecânico: serve apenas como transporte para o parasita, não estando intimamente relacionado com o agente causador da doença, não se multiplica e desenvolve neste local, não está Parasitologia Clínica 49 ligado ao processo do ciclo de vida do patógeno. Nas doenças transmitidas por vetores não acontecem o contágio de uma pessoa contaminada para outra. Por exemplo, no caso da dengue, o vírus não é transmitido pelo contato com o doente, sendo o mosquito Aedes Aegypti o vetor. Ele precisa estar infectado para que a transmissão ocorra. Isso significa que o vírus da dengue é transmitido para outros organismos por meio da interação entre o mosquito. Normalmente, o outro organismo é infectado pela picada do mosquito (nesse caso, o mosquito é o vetor). Além da dengue, temos outros exemplos de doenças que são transmitidas pelos vetores: febre amarela, doença de Chagas, leishmaniose, Zika e Chikungunya. Figura 14 – Ciclo de vida heteroxeno do protozoário do gênero Leishmania, causador da leishmaniose Fonte: Wikimedia Commons. Classificação dos Parasitas Supõe-se que na terra existam mais de milhões de seres vivos presentes no meio ambiente, que foram agrupados para melhor entendimento. Os seres vivos foram divididos em dois grandes reinos: animal e vegetal, e posteriormente em cinco grupos: monera, que estuda Parasitologia Clínica 50 os procariotos: vírus, bactérias e algas cianofíceas; protista, que estuda os eucariotos, como protozoários, algas e fungos; plantae, que estuda as células vegetais; fungi, que abrange cogumelo, fungos e leveduras; e animália, que compreende os artrópodes, répteis, aves e mamíferos. Esses agrupamentos seguem leis e possuem vocabulário próprio, como designação científica, são as denominadas Regras Internacionais de Nomenclatura e Zoológica. Em regra, todo nome científico deve estar destacado no texto, podendo ser escrito em itálico ou sublinhado caso o trabalho seja escrito à mão. Pode compreender diferentes níveis de classificação taxonômica: reino, filo, classe, ordem, família, gênero e espécie. A nomenclatura das espécies deve ser latina e binomial (duas palavras), sendo a primeira palavra designada para gênero e a segunda para espécie. Considera-se erro grave usar o nome da espécie isoladamente, sem ser antecedido pelo gênero. O nome relativo ao gênero deve ser um substantivo simples ou composto, escrito com inicial maiúscula; já para a espécie, deve ser um adjetivo escrito com inicial minúscula, mesmo sendo nome de pessoa. Por exemplo: no Brasil, é Trypanosoma cruzi, já que o termo cruzi é a transliteração latina do nome de Oswaldo Cruz, uma homenagem a esse grande sanitarista brasileiro. Quando a espécie possui subespécie, é denominada trinomial, e essa palavra vem logo em seguida da espécie sem pontuação. Exemplo: Culex pipiens fatigans – Culex = gênero, pipiens = espécie e fatigans = subespécie. A mesma forma de escrita para subgênero. Em zoologia, a família é denominada pela adição do sufixo -idae ao radical correspondente ao nome do gênero-tipo (gênero mais característico da família). Para subfamília, o radical adotado é -inae. Exemplos: Gato - gênero: Felis; família: Felidae; sufamília: Felinae. Quando for descrever o nome de uma espécie, este deve ser relacionado a algo simples. Pode ser homenagem a quem pesquisou a espécie, a escrita deve ser sempre em latim, quando for homem acrescenta i (cruzi) e quando for mulher acrescenta ae (mariae). Parasitologia Clínica 51 Quanto à espécie, refere-se a seres que são semelhantes tanto entre si quanto em relação aos semelhantes. Já subespécie é quando indivíduos de determinada espécie se destacam dos demais por possuírem características individuais. Quanto ao gênero, quando várias espécies são reunidas em um grupo só, podemos deduzir que um grupo possui várias espécies e subespécies. Dentro da Parasitologia, podemos encontrar cinco filos: • Protozoa: protozoários unicelulares. • Platyhelminthes: vermes com corpo achatado. • Acantocephala: vermes com características arredondadas. • Arthropoda: insetos e ácaros em geral. Os parasitas também são classificados segundo o modo de transmissão, em que a doença é descrita segundo a Nomenclatura Internacional de Doenças, acrescentando-se o -íase ao nome do agente que causa a doença. Já para a língua nativa de um país ou local, acrescenta- se -ose ao nome do agente infectante. Devido a confusões e dúvidas aos sufixos indicadores de doenças parasitárias, alguns pesquisadores e estudiosos da grafia estudaram o caso e indicaram a terminação -ose para gênero do agente infectante, quando este indicar doença ou infecção. Porém, encontramos ainda os dois sufixos empregados ao consultar a literatura. SAIBA MAIS: Entenda melhor a classificação dos seres vivos quanto à nomenclatura, às divisões entre reinos e à sistemática dos seres vivos. Acesse clicando aqui. Parasitologia Clínica http://bit.ly/2S65kUV 52 RESUMINDO: E então? Gostou do que mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você conheceu o ciclo evolutivo ou biológico dos parasitas, os meios de transmissão, reprodução (assexuada ou sexuada) e os tipos de ciclos monoxeno (um único hospedeiro) e heteroxeno (dois ou mais hospedeiros). Os hospedeiros definitivos que abrigam o parasita na fase adulta são os que mais sofrem com a doença ocasionada pelo parasita, e os intermediários são colonizados pela fase inicial ou larvária. Você compreendeu que os vetores podem ser classificados em dois tipos: biológico e mecânico. Os vetores são veículos de transmissão da doença, como o mosquito. A regra geral é que todo nome científico deve estar destacado no texto, podendo ser escrito em itálico ou sublinhado se o trabalho for escrito à mão. Espécie se refere a seres que são semelhantes tanto entre si quanto em relação aos semelhantes. Subespécie é quando indivíduos de determinada espécie se destacam dos demais por possuírem características individuais. Gênero, quando várias espécies são reunidas em um só grupo, podemos deduzir que um grupo possui várias espécies e subespécies. Dentro da Parasitologia, podemos encontrar cinco filos: Protozoa (protozoários unicelulares); Platyhelminthes (vermes com corpo achatado); Acantocephala (vermes com características arredondadas) e Arthropoda (insetos e ácaros em geral). Parasitologia Clínica 53 REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Guia Prático para o Controle das Geo-helmintíases. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Brasília: Ministério da Saúde, 2018. FIOCRUZ. Oswaldo Cruz e Carlos Chagas. Museu da Vida, [s. d.]. Disponível em: h t t p : //m u s e u d av i d a . f i o c r u z . b r/ i n d ex . p h p /n o t i c i a s /1 1- visitacao/1076-oswaldo-cruz-e-carlos-chagas. Acesso em: 08 07 nov. 2021. PUMAROLA,A. et al. Microbiologia y Parasitologia Medica. 2. ed. Maringá: Masson, 1992. SANTOS, V. S. Ciclo do Nitrogênio, Brasil Escola, [s. d.]. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/Biologia/ciclo-nitrogenio.htm. Acesso em: 07 nov. 2021. Parasitologia Clínica Compreendendo a Parasitologia Histórico da Parasitologia Introdução à Parasitologia Tipos de Relação entre os Seres Vivos e o Ambiente Conceito Básico da Parasitologia Parasita Adaptações são Sinais do Parasitismo Morfológicas Biológicas Tipos de Associações entre os Seres Vivos Competição Competição por um Nicho Ecológico Canibalismo Predatismo Associação entre Organismos Comensalismo Forésia Parasitismo Mutualismo Simbiose Ciclo Biológico dos Parasitos Ciclo Biológico Monoxeno Ciclo Biológico Heteroxeno Vetores Classificação dos Parasitas
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