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Parasitologia Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Norton Claret Levy Junior Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro Introdução à Parasitologia e Noções de Epidemiologia • Definição de Parasitologia; • Conceitos para Compreensão da Parasitologia; • Definição e Noções de Epidemiologia; • Interação entre os Seres Vivos; • Anexo I. • Conhecer e entender os conceitos fundamentais no estudo da Parasitologia; • Adquirir noções básicas de Epidemiologia; • Tomar ciência da nomenclatura utilizada; • Entender a relação entre parasita e hospedeiro. OBJETIVOS DE APRENDIZADO Introdução à Parasitologia e Noções de Epidemiologia Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Introdução à Parasitologia e Noções de Epidemiologia Definição de Parasitologia Estamos iniciando o estudo da parasitologia, que, em uma definição clássica, significa “o estudo dos parasitos e suas relações com o hospedeiro”, ou ainda, em uma definição mais simplista, “o estudo dos parasitas, seres que vivem às custas de outro ser vivo”. Em uma abordagem mais ampla, podemos dizer que o parasito obtém alimento do hospedeiro consumindo-lhe os tecidos e humores (líquido tecidual) ou o con- teúdo intestinal. Esse relacionamento do parasita com seu hospedeiro tem base nutricional e, preferencialmente, não deve lesá-lo drasticamente, evitando altera- ções comprometedoras que o levem à morte rapidamente – quanto mais tempo o hospedeiro viver maior será o sucesso do parasita. Pense bem: “o parasitismo ideal” seria aquele em que o hospedeiro não so- fresse danos e não ficasse doente e, assim, o parasita teria abrigo e alimento por tempo indeterminado. Isso é o que acontece com alguns parasitas que, ao longo de milhares de anos, se adaptaram de tal forma aos seus hospedeiros que passaram a viver outro tipo de relação entre dois organismos denominada “simbiose”. Os seres investigados na Parasitologia são os protozoários (Figura 1A), os hel- mintos achatados denominados de platelmintos (Figura 1B), os helmintos cilíndri- cos denominados de nematodos (Figura 1C) e alguns artrópodes (Figura 1D). Figura 1 – Imagem microscópica do Trypanosoma cruzi (protozoário), o agente infeccioso da Doença de Chagas. B - Fotografia de uma tênia adulta (helminto achatado-platelminto). C - Fotografia de uma fêmea adulta de Ascaris lumbricoides (helminto cilíndrico-nemetodo). D - Fotografia Dermatobia hominis em fase adulta, causadora de miíase furunculares – berne (artrópodes) Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons 8 9 Os helmintos parasitos são macroscópicos e podem ser observados a olho nu, tais como os vermes causadores da teníase e da esquistossomose e as lombri- gas (Ascaris lumbricoides), que vivem no intestino delgado de alguns seres humanos e disseminam-se através das nossas fezes devido à falta de saneamen- to básico, e ainda vermes do gênero Ancylostoma e Necator, causadores da ancilostomose, denominada pela população do interior como amarelão. Também macroscópico, um grupo de artrópodos, Miíase, tem a capacidade de se alimentar de tecido animal em decomposição (miíases traumáticas-bichei- ra) e de tecido animal vivo (miíase furunculares-berne). Lembre-se de que a maioria dos artródodos são ectoparasitos e causam, portanto, infestações e não infecções, tais como os insetos (classe Insecta) bichos-de-pé, piolhos e uma variedade muito grande de pulgas. Embora não causem infecções, algumas variedades de pulgas são vetores de diversos tipos de patógenos – entre eles, destaca-se a Yersini pestis, bactéria causadora da peste bulbônica (antigamente chamada de peste negra). Assim como os ácaros e os carrapatos (classe Arachnida), também são ectoparasitos. Lembrando que alguns carrapatos, como o carrapato-estrela, são vetores da febre maculosa. Já os protozoários não podem ser vistos ao olho nu, são seres unicelulares nu- cleados e, portanto, Eucariontes. É impossível estudar sua morfologia sem o auxílio de um microscópio. São semelhantes às bactérias, que são menores, também cau- sam doença e não possuem núcleo, sendo elas, portanto, Procariontes. As bactérias, os fungos e os vírus são seres microscópicos estudados em um ramo da biologia denominado de Microbiologia. No entanto, neste estudo, da- remos atenção aos vírus por serem parasitos intracelulares obrigatórios. São diversos os agentes causadores de protozooses no ser humano, entre eles podemos citar o Trypanossoma cruzi (Doença de Chagas), Giardia lamblia (Giardíase), Entamoeba hytolitica (Amebíase), Plasmodium malariae (Malária), Toxoplama gondii (Toxoplasmose), Leishmania sp (Leishimaniose) e outros. Visite os sites recomendados e amplie seus conhecimentos em Parasitologia: • Defi nições em Parasitologia: https://goo.gl/29to9L • Sociedade Brasileira de Parasitologia: https://goo.gl/5gA1Ne Ex pl or 9 UNIDADE Introdução à Parasitologia e Noções de Epidemiologia Conceitos para Compreensão da Parasitologia Para darmos continuidade ao estudo da parasitologia, precisamos conhecer al- guns termos e conceitos mais frequentemente utilizados nesta ciência. Habitat Refere-se ao local onde uma espécie ou sua população habita, a exemplo do Ascaris lumbricoides, que vive no intestino delgado dos humanos. Infecção X Infestação Preste atenção a estes termos, pois é muito comum as pessoas confundi-los. • Infecção: de uma maneira simples, podemos dizer está relacionada com o parasitismo causado por endoparasitas, ou seja, causado por parasitas que adentrem o hospedeiro. Uma definição mais completa é que o parasita pe- netre no hospedeiro, alimente-se, desenvolva-se, reproduza-se e cause danos aos seus tecidos. • Infestação: corresponde ao parasitismo causado no organismo por ectopara- sita, que se fixa, alimenta-se e lesiona os tecidos externos do corpo, como os piolhos e os carrapatos (Figura 2). Figura 2 – Carrapato, um ectoparasita que causa infestação Fonte: iStock/Getty Images 10 11 Hospedeiro Hospedeiro é o organismo que serve de habitat para outro que o parasito se instale e encontre condições de sobrevivência. Os hospedeiros podem ser classifi- cados em três tipos: definitivo, intermediário e paratênico. O hospedeirodefinitivo apresenta o parasito em fase de atividade sexual (fase de maturidade). O hospedeiro intermediário apresenta o parasito em fase assexuada (larvária). O hospedeiro paratênico (ou de transporte) é o hospedeiro intermediário no qual o parasito não sofre desenvolvimento, mas permanece encistado até que o hospedeiro definitivo o ingira. Agente Etiológico Agente etiológico é o causador ou o responsável pela origem da doença. Pode ser um vírus, uma bactéria, um fungo, um protozoário ou um helminto. Vetor A maioria dos vetores são artrópodos, mas podem ser moluscos ou outro veículo que transmita o parasito entre dois hospedeiros. O vetor mecânico somente transporta e dissemina o parasito. No vetor biológico, o parasito, além de ser transportado e disseminado, realiza parte de seu ciclo de biológico, ou seja, desenvolve-se, multiplica-se. Portador É um hospedeiro susceptível a um patógeno, manifestando a parasitose em maior (sintomático) ou menor grau (assintomático), mas capaz de transmiti-lo a outros hospedeiros, também conhecido como “portador assintomático”. Quando ocorre doença e o portador pode contaminar outras pessoas em diferentes fases, temos o “portador em incubação”, “portador convalescente”, “portador temporá- rio”, “portador crônico”. Reservatório Pode ser um local como as fezes de um animal, o solo, ou diversos animais, incluindo o homem ou plantas onde vive e se multiplica um agente infeccioso. Nos reservatórios vivos, os agentes infecciosos geralmente não apresentam patogenicidade e, quando a apresentam, é muito baixa. O Trypanosoma cruzi, que nos causa Doença de Chagas, não faz mal algum ao gambá, seu reservatório. 11 UNIDADE Introdução à Parasitologia e Noções de Epidemiologia Fômite Fômite é um perfurante, um cortante ou outro tipo de objeto e, ainda, as vesti- mentas e afins que possam veicular o agente infeccioso entre hospedeiros. Zoonose Zoonose é uma doença infeciosa transmitida por um animal vertebrado ao homem. Profilaxia Profilaxia é o conjunto de medidas que visa à prevenção, à erradicação ou ao controle de doenças infecciosas, baseadas em sua epidemiologia. Ciclo Biológico É o caminho que o parasito percorre desde o abandono do hospedeiro atual até atingir um novo hospedeiro, inclusive no interior deste. Também chamado de ciclo de vida ou ciclo evolutivo, é o desenvolvimento, reprodução e evolução de indivídu- os de uma espécie que permite a sua perpetuação. • Ciclo Monoxeno: parasitos que completam seu ciclo biológico em um hospe- deiro, a exemplo do agente etiológico da ancilostomose (Figura 3). Figura 3 – Ciclo biológico monoxeno ocorre com parasitos que completam seu ciclo biológico em um hospedeiro • Ciclo Heteroxeno: parasitos que necessitam de dois ou mais hospedeiros para completar o ciclo biológico. O agente infeccioso da esquistossomose passa à fase larvária em um caramujo e à fase de maturidade no ser humano (Figura 4). 12 13 Figura 4 – Ciclo biológico heteróxeno ocorre com parasitos que necessitam de dois ou mais hospedeiros para completar o ciclo biológico Tipos de Parasitismo • Obrigatório: quando o parasito é incapaz de sobreviver sem seu hospedeiro. • Errático: quando o parasito se instala e consegue se alimentar em um local que não é o normal, a exemplo do StrongyIodes stercoraIis, que usualmente parasita as paredes do jejuno, mas já foi encontrado no pâncreas. • Acidental: quando o parasito instala e consegue se alimentar em um hospe- deiro que não é o normal, como o Dipylidium caninum, que é um parasita canino e pode infectar crianças. • Facultativo: quando o ser vivo possui vida livre e vida parasitária, a exemplo das larvas de mosca Sarcophagidae que se desenvolvem tanto em feridas ne- crosadas como em matéria orgânica em decomposição, que podem ser ani- mais mortos, esterco e outros. Especificidade Parasitária • Eurixeno: parasitos encontrados em hospedeiros pertencentes a várias espécies distantes na escala zoológica, como o Toxoplasma gondii, que pode parasitar praticamente todos os mamíferos, além de muitas espécies de aves. Parasitos eurixenos são encontrados em hospedeiros pertencentes a várias espécies distan- tes na escala zoológica, a exemplo do Toxoplasma gondii: https://goo.gl/DKk2YoEx pl or 13 UNIDADE Introdução à Parasitologia e Noções de Epidemiologia • Estenoxeno: parasitos encontrados em uma só espécie ou espécies muito próximas na escala zoológica, como Ascaris lumbricoides, que só infecta o homem, ou a Taenia solium, que infecta o homem e os porcos apenas, como observado na figura 4. Ação dos parasitos sobre o Hospedeiro • Espoliativa: o parasita absorve nutrientes (Ancilostomídeos) ou sangue do hospedeiro (hematofagismo de mosquitos). • Mecânica (obstrutiva): presença de Ascaris lumbricoides em grande quanti- dade causa obstrução da alça intestinal. • Tóxica: os metabólitos de alguns parasitos podem ser tóxicos e produzir reações alérgicas nos teciduais no hospedeiro. Ascaris lumbricoides produz tais metabólitos. • Enzimática: enzimas produzidas por cercárias do Schistosoma mansoni auxi- liam sua penetração na pele do ser humano. • Irritativa: provocada pela ação de ventosas como as de Taenia sp. • Traumática: provocada pela migração de larvas como as de Plasmodium falciparum, que rompem as hemácias. • Anóxia: provocada por parasitos que utilizam O2 da hemoglobina, como os Plasmodium sp, e matam células humanas. • Anêmica: provocada por qualquer parasito que destruas as hemácias e, por- tanto, cause anemia. Geralmente causadas por Plasmodium e infecções ma- ciças de Ancylostomas. Definição e Noções de Epidemiologia Ciência que estuda fatores que determinam a frequência e a distribuição de doenças ou enfermidades, assim como seus determinantes na população humana. O grupo de pessoas estudadas pode ser pequeno, mas, na maioria das vezes, envolve populações numerosas. A Epidemiologia tem muito em comum com a demografia, pois ambas estudam populações. Podemos citar como objetivos da Epidemiologia: descrição da magnitude e da distribuição dos problemas de saúde das populações humanas; geração de dados essenciais para o planejamento, execução e avaliação das ações de prevenção, controle e tratamento das doenças, bem como para estabelecer prioridades; iden- tificação da origem e da causa da doença. Para entendermos melhor, vamos dizer que o principal objetivo da Epidemiolo- gia é a prevenção de doenças e a manutenção da saúde em grupos populacionais. 14 15 Além das doenças infecciosas causadas por vírus, bactérias, fungos, protozoá- rios e helmintos, a Epidemiologia também estuda outros problemas relacionados à saúde humana, tais como fatores genéticos, exposição de indivíduos aos agentes tóxicos, traumas por acidentes automobilísticos, armas de fogo e objetos cortantes, desastres e outros eventos que causem danos à integridade física humana, como incapacidades intelectuais e físicas e até mesmo a morte. Para tanto, investiga as distribuições e as quantidades em relação à saúde e à doença. Por meio de estudos estatísticos, a Epidemiologia indica aspectos da doença ou de- sastre, como sua frequência, sua distribuição geográfica e a população que mais corre risco. É importante que conheçamos os termos: epidemia, endemia e pandemia. Introdução aos Estudos Epidemiológicos – Resumo – Epidemiologia: https://youtu.be/Jl18GmGOyiIExp lo r Epidemia Epidemia e elevação progressiva, inesperada e indeterminada de uma doença es- pecífica em uma determinada região, ultrapassando os limites endêmicos esperados. Endemia Endemia é a presença constante de uma determinada doença em uma popula- ção de determinada área geográfica (Figura 5). Tempo Endemia Epidemia Nº de ca so s d e d oe nç a Figura 5 – O gráfi co mostra que a endemia é a presença constante de uma doença e a epidemia é uma elevação progressiva, inesperada e indeterminada dessa doença 15 UNIDADE Introdução à Parasitologia e Noções de Epidemiologia PandemiaPandemias são epidemias que ocorrem ao mesmo tempo em vários países. Leia o e-book Doenças transmissíveis, endemias, epidemias e pandemias. LUNA, E. J. A.; SILVA JUNIOR, J. B. Doenças transmissíveis, endemias, epidemias e pande- mias. In: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. A saúde no Brasil em 2030 – prospecção estraté- gica do sistema desaúde brasileiro: população e perfil sanitário [on-line]. Rio de Janeiro: Fiocruz/Ipea/Ministério da Saúde/Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, 2013. Vol. 2. pp. 123-176.ISBN 978-85-8110-016-6. Available from SciELO Books, disponível em: https://goo.gl/PzvmmM Ex pl or Interação entre os Seres Vivos Caro(a) aluno(a), vamos lembrar que individualmente os seres vivos nascem, aprendem táticas de obtenção de alimentos, de defesa, de abrigo e de sobrevivên- cia, crescem, buscam pares para a reprodução, deixam descendentes, envelhecem e morrem. Cada espécie se adapta e evolui para convivência em grupo ou em po- pulações. No entanto, algumas poucas espécies, como ursos, onças, rinocerontes, doninhas, leopardos e outros seres, vivem de forma isolada, buscando uma compa- nhia somente no momento da reprodução. Quando indivíduos de duas ou mais espécies convivem e interagem juntos, temos uma comunidade interagindo. Muitas vezes, essas populações coevoluem entre si, a exemplo de hospedeiros, que, por meio de mutações gênicas, adquirem resistência e imunidade aos patógenos, que não conseguem mais infectar o hospedeiro. Sendo que o patógeno pode sofrer nova mutação gênica e voltar a infectar o hospedeiro. Enfim, vários são os fatores que regulam os fenômenos individuais, populacionais e das comunidades que propiciam a indivíduos de cada espécie a melhor forma de obter alimento, abrigo e proteção para a sua sobrevivência e perpetuação da espécie. Para aperfeiçoar esses processos, muitas espécies passam a conviver em um mesmo ambiente, gerando associações ou interações que podem ou não interferir entre si. Essas interações podem ser harmônicas (positivas) ou desarmônicas (nega- tivas). É pertinente lembrar que, se a interação ocorre entre indivíduos da mesma espécie, nós as denominamos de intraespecíficas e, se ocorre entre indivíduos de espécies diferentes, nós as denominamos de interespecíficas. Interações Harmônicas Esse tipo de interação ocorre quando há beneficio mútuo ou ausência de pre- juízo mútuo. 16 17 Comensalismo Relação em que o hóspede recebe vantagens e o hospedeiro não. No entanto, o hospedeiro não sofre prejuízo. O hóspede pode se beneficiar ou pelo abrigo, ou pela proteção, ou pelo transporte, ou pela nutrição. Temos três classes de comensalismo: 1. Forésia: relaciona-se ao abrigo e transporte, a exemplo do Echneis remora (Figura 6), que utiliza sua ventosa para se aderir a tubarões acompanhando-os nas suas caçadas e, dessa forma, também pode se alimentar das suas sobras. Figura 6 – Rêmora acompanhando tubarão Fonte: iStock/Getty Images 2. Inquilinismo: ocorre quando uma espécie abriga-se em outra como forma de proteção. Exemplo: o peixe-palhaço abriga-se nos tentáculos urticantes de algumas anêmonas (Figura 7) sem lhe causar prejuízo, diferentemente de seus predadores, e ainda consegue se nutrir de restos alimentares. Figura 7 – Peixe-palhaço abriga-se nos tentáculos urticantes de uma anêmona Fonte: iStock/Getty Images 17 UNIDADE Introdução à Parasitologia e Noções de Epidemiologia 3. Sinfilismo ou protocooperação: é uma associação de benefício mútuo, onde ambas as espécies se beneficiam, porém, sem obrigatoriedade para a sobrevivência. Os pulgões se alimentam de tanta seiva das raízes de algumas plantas que acabam liberando açúcares absorvidos em excesso pelo ânus; as formigas se beneficiam ao lamber o abdômen dos pulgões para aproveitar esse açúcar excedente e levar para seus formigueiros; em contrapartida, os pulgões ficam protegidos das joaninhas que os atacam, pois temem as formigas ao seu redor. Mutualismo Associação em que ambas as espécies envolvidas se beneficiam e não sofrem prejuízo. Por alguns autores, considerada sinônimo de simbiose, pois consideram que há a obrigatoriedade na associação para a sobrevivência das espécies envolvi- das. Outros autores consideram que não há a obrigatoriedade na associação para a sobrevivência das espécies envolvidas, como no caso do líquen (Figura 8), que é composto por algas e fungos, e cada um deles sobrevive fora da associação. Figura 8 – Líquen composto por algas e fungos, sendo que cada um deles sobrevive fora da associação Fonte: iStock/Getty Images Simbiose Veja, como mencionado no parágrafo anterior, nesta associação entre seres vivos, há uma troca de vantagens em nível tal que eles seres são incapazes de viver isoladamente. Nesse tipo de associação, as espécies realizam funções com- plementares, indispensáveis à vida de cada uma. Como exemplo, podemos citar as bactérias que vivem no interior de protozoários de vida livre, as quais sintetizam substâncias necessárias ao desenvolvimento do protozoário, como a vitaminas do complexo B, e ele fornece abrigo e fontes alimentares para as bactérias. 18 19 Interações Desarmônicas Este tipo de interação ocorre quando há prejuízo para algum dos participantes. Competição Quando ocorre entre espécies diferentes (competição intraespecífica), geralmen- te é por alimento, a exemplo de leões e hienas, ou por abrigo. Quando é interes- pecífica, ou seja, entre indivíduos da mesma espécie, pode ser pelos motivos acima citados, ou machos competindo por fêmeas. A competição é um importante fator de regulação do nível ou número populacional de certas espécies e também de aprimoramento evolutivo delas, pois machos mais fortes copulam e deixam filhos com suas características. Canibalismo Trata-se do indivíduo que se alimenta da própria espécie ou da mesma família. Na maioria das vezes, ocorre devido à superpopulação e à deficiência alimentar no criadouro, e as formas mais ativas ou mais fortes devoram as menores ou mais fra- cas. Se as formas mais fracas são eliminadas, também há aprimoramento evolutivo da espécie. Tubarões e hienas agem dessa forma. Predatismo Uma espécie animal se alimenta da outra espécie animal, causando sua morte, o que chamamos de cadeia alimentar. A onça está no topo da cadeia alimentar da flores- ta amazônica, portanto, praticamente todos os animais podem ser predados por ela. Parasitismo É uma relação em que nitidamente uma espécie tem prejuízo, o hospedeiro, e a outra tem benefícios, o parasito. O hospedeiro é espoliado, fornecendo ao parasito alimento e abrigo. Geralmente, as relações parasitárias tendem ao equilíbrio, pois a morte do hospedeiro prejudica o parasito. Em algumas relações de parasitismo duradouras, a espoliação é constante, mas insuficiente para levar o hospedeiro à morte, como, por exemplo, o tatu, que é hospedeiro do Trypanossoma cruzi, mas raramente morre devido a esse parasitismo. Já o homem e alguns animais domés- ticos como o gato e o cão frequentemente morrem com a doença de Chagas. 19 UNIDADE Introdução à Parasitologia e Noções de Epidemiologia Anexo I Glossário • Coevolução: processo em que duas ou mais espécies evoluem simultanea- mente, sendo que há uma influência nos processos evolutivos entre ambas. As mutações gênicas sofridas pelas espécies as adaptam em uma evolução mútua. • Encistado: forma de latência de um protozoário. • Espoliar: retirar, pilhar, roubar. • Eucariontes: seres vivos que possuem células nucleadas e dotadas de organe- las membranosas. • Hemácias: células sanguíneas responsáveis pelo transporte dos gases respiratórios. • Hospedeiro: ser vivo que alimenta e /ou abriga outro ser vivo causador de doença que pode ser denominado de parasita. • Humores: líquidos corporais. • Jejuno: porção mediana do intestino delgado. • Metabólitos: substâncias oriundas das reações químicas celulares e que não têm mais serventia no ambiente intracelular. • Patogenicidade: é a capacidade doagente invasor em causar doença com suas manifestações clínicas entre os hospedeiros suscetíveis. • Patógeno: ser vivo que provoca ou pode provocar doença. • Procariontes: seres vivos que possuem células anucleadas, sendo representa- dos basicamente pelas bactérias. 20 21 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Introdução à Parasitologia – parte 1 https://youtu.be/WwM6pdzB0y8 Introdução à Parasitologia https://goo.gl/9bDpxC Leitura Apostila de Parasitologia Professor: Sandro Gazzinelli (Doutor em Parasitologia pela UFMG). https://goo.gl/bn3iHu Docência no Ensino Superior: as disciplinas Parasitologia e Microbiologia na formação de professores de Biologia Docência no Ensino Superior: as disciplinas Parasitologia e Microbiologia na formação de professores de Biologia – Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências Vol. 11, Nº3, 2011. https://goo.gl/MGdjFB Uma abordagem histórica da trajetória da parasitologia MASCARINI, L. M. Uma abordagem histórica da trajetória da parasitologia. Ciência & Saúde Coletiva, 8(3):809-814, 2003. https://goo.gl/X9KjJf 21 UNIDADE Introdução à Parasitologia e Noções de Epidemiologia Referências BORGES, A. P. A.; COIMBRA, A. M. C. Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa. Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca. Educação a Distância; organizado por Ana Paula Abreu Borges e Angela Maria Castilho Coimbra. – Rio de Janeiro: EAD/ENSP, 2008. DE CARLI, G. A. Parasitologia Clínica: Seleção de Métodos e Técnicas de Labora- tório para o Diagnóstico das Parasitoses Humanas. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2007. FERREIRA, M. U. Parasitologia Contemporânea. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. GRIMI, B. M. Glossário de Ecologia e Ciências Ambientais. 3. ed. João Pessoa. Disponível em: <http://www.acszanzini.net/wp-content/uploads/material/carti- lhas/CARTILHA%20CI%C3%8ANCIAS%20AMBIENTAIS.pdf>. NEVES, D. P.; MELO, A. L.; LINARDI, P. M.; VITOR, R. W. A. Parasitologia Humana. 13. ed. São Paulo: Atheneu, 2016. REY, L. Bases da Parasitologia Médica. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. 22
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