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Artrópodes, Parasitoses e o Diagnóstico Parasitologia Clínica Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria EDINÉIA BONIN AUTORIA Edinéia Bonin Olá! Sou analista de Alimentos, mestre em Ciência de Alimentos e doutoranda em Ciência de Alimentos pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), com experiência técnico-profissional de mais de cinco anos na área de Microbiologia. Passei por empresas multinacionais nas quais desenvolvi experiência em análise de laboratório físico-química e microbiológica. Sou apaixonada pela leitura e pelo que faço, e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso, fui convidada pela Editora TeleSapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Os Parasitas e a Doença: Ancilostomídeos e Ancilostomíase . 10 Introdução a Ancilostomídeos ............................................................................................... 10 Trichuris, Trichinella e Outros Nematoides ................................................ 18 Imunodeficiências e Parasitoses .................................................................... 20 Artrópodes Parasitas ou Vetores de Doenças?...............................24 Descrição dos Artrópodes ........................................................................................................24 Hemípteros: Triatomíneos e Percevejos .................................................... 30 Família dos Cimicidae: Os Percevejos ......................................................... 31 Parasitoses Humanas ................................................................................ 35 Sifonápteros: As Pulgas .............................................................................................................35 Anopluros: Os Piolhos Sugadores ..................................................................37 Acari: Os Carrapatos e os Ácaros da Escabiose e de Outras Dermatoses .....................................................................................................................42 Aspectos de Diagnóstico de Doenças ................................................48 Doenças Transmitidas por Aedes aegypti e Aedes albopictus ................... 48 Métodos e Técnicas Usuais no Diagnóstico Parasitológico ........53 Métodos de Estudos dos Protozoários, Helmintos, Moluscos e Insetos .................................................................................................................................55 7 UNIDADE 04 Parasitologia Clínica 8 INTRODUÇÃO O aprendizado faz com que você conheça e forme um pensamento crítico de novas descobertas, buscando um material que auxilie e ajude a compreender com mais facilidade os desafios do estudo. As doenças infeciosas associadas a vetores transmitidas ao homem constituem um grupo de doenças com grande importância clínica, epidemiológica e laboratorial. Os principais vetores são os mosquitos, os flebótomos, as carraças, as pulgas e os piolhos, não só porque integram um conjunto muitíssimo alargado de doenças, algumas consideradas como as de maior mortalidade e morbilidade a nível mundial, mas também porque um diagnóstico e uma vigilância epidemiológica integrada permitem que sejam desencadeadas medidas de prevenção, que em muito podem reduzir a sua severidade. Os agentes das doenças infeciosas transmitidas por mosquitos destacam-se pela sua gravidade, em doenças causadas por parasitas como a Malária (Plasmodium). Os flebótomos são responsáveis pela transmissão de agentes como a Leishmania e o Flebovírus. Entre as doenças transmitidas por pulgas, a peste é, sem dúvida, a que se reveste de maior importância em termos mundiais, mas outras existentes necessitam de um diagnóstico laboratorial, como a doença da arranhadura do gato. Os piolhos podem também transmitir doenças infecciosas, e as epidemias ocasionadas pelo Aedes aegypti e Aedes albopictus, os principais vetores dos vírus da dengue (DENV-1, DENV-2, DENV-3, DENV- 4), Chikungunya, febre amarela e Zika, e os métodos e técnicas usuais no diagnóstico parasitológico. Aos futuros profissionais e estudantes, sejam bem-vindos a conhecer e entender a parasitologia, em modo geral, que infecta o homem, e seus graves problemas de Saúde Pública. Sejam multiplicadores de boas ações do conhecimento. Parasitologia Clínica 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 4 – Artrópodes, parasitoses e o diagnóstico. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Identificar os parasitas e as doenças ocasionadas por Ancilostomídeos. 2. Observar os problemas e doenças ocasionados por Artrópodes. 3. Identificar as parasitoses do homem, como pulgas, piolhos, carrapatos e ácaros. 4. Explicar o ciclo transmissão do Aedes aegypti e Aedes albopictus. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Parasitologia Clínica 10 Os Parasitas e a Doença: Ancilostomídeos e Ancilostomíase OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender Ancylostomidae, que pertence à família importante dos nemátodas, parasitas do homem. Provocam a ancilostomíase ou ancilostomose, popularmente conhecidas como amarelão, ocasionadas pelos parasitas intestinais Necator americanos e Ancylostoma duodenale. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então, vamos lá. Avante! Introdução a Ancilostomídeos Os ancilostomídeos são helmintos que foram herdados pela espécie humana por meio da evolução simultânea do parasita e do hospedeiro, ou adaptaram-se aos homens ou aos nossos ancestrais hominídeos, quando e abandonaram as florestas para viverem em savanas, margens de rios ou lagos e começaram a frequentar ambientes favoráveis ao ciclo de transmissão dos helmintos de outras espécies. VOCÊ SABIA? Os ancilostomídeos caíram no esquecimento, esses parasitas tiveram que esperar mais alguns séculos para que fossem redescobertos várias vezes e em diferentes países. Desde 1637, no Brasil, Piso, médico holandês que acompanhava o príncipe Maurício de Nassau, assinala epidemias de uma doença caracterizada por perturbações intestinais, fraqueza e uma anemia que conduzia, por vezes, à hidropisia e que era frequente entre os escravos. Parasitologia Clínica 11 Cinquenta anos depois, Labat a descreve em Guadalupe, enquanto que, no curso dos séculos XVIII e XIX, os médicos a diagnosticara um pouco por toda parte nos países tropicais e em certas regiões temperadas da América, da Europae norte da África, assim como na Ásia e nas ilhas do Pacífico (REY, 2001). A anemia ancilostomótica recebeu os nomes de clorose do Egito, anemia dos mineiros, caquexia africana, anemia intertropical, amarelão e opilação, esses dois últimos no Brasil. Em 1838, Dubini encontrou o parasita nos intestinos de uma mulher falecida de pneumonia, que autopsiara em Milão. A ele, deve-se a primeira descrição detalhada do verme e o nome Ancylostoma duodenale. Tendo encontrado o parasita várias vezes nas autópsias, foi levado a fazer pesquisas sistemáticas, mas, ainda que os exames se mostrassem positivos em 20% dos casos, ele não chegou a estabelecer sua relação com a anemia, visto que a causa morte era geralmente outra. Coube a Griessinger (1851) e a Bilharz (1853), no Egito, o mérito de associar a presença e a ação dos ancilóstomas à clorose do Egito. Wucherer (1886) e outros médicos, no Brasil, confirmaram os trabalhos de Bilharz. A partir de 1878, o diagnóstico de ancilostomíase tornou-se fácil e preciso, graças aos trabalhos de Grassi e dos irmãos Parona, na Itália, que mostraram a possibilidade de estabelecê-lo buscando os ovos do parasita nas fezes dos pacientes. Ancylostomidae é uma família importante dos Nematodas que parasitam o homem. Provocam a ancilostomíase ou ancilostomose, popularmente conhecida como amarelão, é uma parasitose intestinal provocada por dois vermes que infectam o ser humano, Necator americanos e Ancylostoma duodenale. Parasitologia Clínica 12 Figura 1 – Classificação do Necator americanos e Ancylostoma duodenale Reino: Animalia Filo: Aschelminthes Classe: Nematoda Ordem: Strongylida Família: Ancylostomatidae Espécie: Necator americanos e Ancylostoma duodenale Fonte: Neves (2005). Os nematelmintos são vermes que apresentam corpo cilíndrico, liso (não segmentado), alongado e revestidos por uma película proteica. São de vida livre e vivem em ambiente terrestre ou aquático. Podem parasitar vegetais e diversos animais, incluindo o homem. São protostômios (do grego protos - primitivo, primeiro e stoma - boca), pois o blastóporo dá origem primeiro a boca e, depois, ao orifício excretor e apresentam tubo digestório completo com boca e ânus. Também são animais triblásticos, ou seja, possuem ectoderme, mesoderme e endoderme. Tem simetria bilateral. São pseudocelomados. A musculatura é apenas longitudinal paralela ao eixo do corpo. Possuem um tubo digestivo completo com boca e ânus. Pela boca, ocorre a tomada de alimentos e, pelo ânus, a saída de resíduos, formando um trânsito de mão única dos alimentos. É uma novidade do sistema digestório que se inicia nos nematelmintos, pois nos celenterados e platelmintos há mistura de alimento (recém ingeridos ou em digestão) Parasitologia Clínica 13 com resíduos. Nos demais filos a diante, todos os sistemas digestórios são de uma única direção. Na digestão, ocorre a distribuição dos nutrientes pelo o corpo e retirada de substâncias tóxicas. Inicialmente, o alimento é digerido por enzimas digestivas, em seguida, os nutrientes atravessam a parede intestinal, vão para o fluido que preenche a cavidade pseudocelomática e alcançam as células de todo o corpo. Da mesma maneira, as células difundem suas excretas no fluido do pseudoceloma, que em seguida são retirados por células que compõem os canais excretores e são eliminados para fora do corpo do animal. O sistema excretor é celular podendo ser de dois tipos. Simples, quando ocorre em nematoides mais primitivos e não parasitas. Duplo em nematoides mais complexos e parasitas; há dois tubos nas linhas laterais que se unem na linha mediana ventral e assim as paredes dos tubos absorvem por osmose as excretas, sendo a amônia a principal. O sistema nervoso apresenta um anel periesofagiano de onde saem seis cordões nervosos anteriores “curtos” e seis ou oito cordões nervosos posteriores “longos”, sendo o dorsal e o ventral os mais desenvolvidos. Além disso, também apresentam gânglios de onde saem feixes nervosos que vão inervar os órgãos. Na reprodução, são dioicos com fecundação interna e desenvolvimento indireto, ou seja, quando o organismo nasce (nematoide) é completamente diferente do adulto. Os machos possuem vida mais curta, são menores e menos numerosos. Apresentam a extremidade posterior curvada e têm órgãos acessórios da cópula para a fixação durante o ato sexual, como espículas e bolsa copuladora. Os espermatozoides não possuem flagelos e se locomovem por pseudópodes. Os espermatozoides são depositados nas fêmeas pela cloaca. As fêmeas possuem vida mais longa, são maiores e mais numerosas que os machos. Possuem um poro genital por onde a cloaca dos machos deposita os gametas. Os espermatozoides fecundam os ovócitos no útero, onde se completa a formação do ovo. Em alguns nematoides, o embrião se desenvolve dentro do ovo no meio exterior, em outros, o embrião se Parasitologia Clínica 14 desenvolve dentro do ovo ainda no útero da fêmea que elimina larvado e, ainda, em alguns nematoides, o ovo tem desenvolvimento semelhante, porém a casca é mole (bainha) e a larva libera-se da casca do ovo ainda no útero da fêmea. Sendo assim, as fêmeas podem ser ovíparas, ovovíparas ou vivíparas. Sendo assim, após a fecundação, ocorre 5 estádios (L1, L2, L3, L4 e L5) de desenvolvimento com troca de cutícula em cada estádio. As larvas podem ser rabditoides, filarioides e migrans, podendo o ciclo ser direto (monoxênico) e indireto (heteroxênico) dependendo de cada uma. VOCÊ SABIA? Os nematoides não possuem aparelho respiratório, circulatório e esquelético. Já os Ancylostoma duodenale são cilindros com extremidade cefálica é curvada dorsalmente, dando ao animal um aspecto de gancho. Possuem cápsula bucal profunda com dois pares de dentes ventrais na margem interna da boca, e um par de lancetas ou dentes triangulares subventrais no fundo da cápsula bucal. O verme se prende à mucosa do intestino pelas lancetas. Os machos medem de 8 a 11 mm de comprimento por 0,4-0,5 de largura e possuem na extremidade bolsa copuladora bem desenvolvida. As fêmeas têm de 10 a 18 mm de comprimento por 0,5-0,7 de largura, possuem abertura genital (vulva) no terço posterior do corpo, extremidade posterior afilada, com um pequeno processo espiniforme terminal e ânus antes do final da cauda. O aparelho digestivo de ambos se constitui por boca, esôfago e intestino. O esôfago, na fêmea, termina no ânus, situado na cauda, e no macho, na cloaca, situada em uma bolsa copuladora aberta. Os ovos quando eliminados são ovais, sem segmentação ou clivagem. Medem 60 por 40 μm, a casca é transparente hialina e muito fina. O Ancylostoma duodenale elimina em torno de 20 a 30 mil ovos por dia, Parasitologia Clínica 15 vivendo de seis a oito anos. As características dos ovos de Ancylostoma duodenale estão ilustradas na Figura 2. Figura 2 – Ovos de Ancylostoma duodenale Fonte: Wikimedia Commons. Os Necator americanos adultos têm como característica forma cilíndrica e apresentam a extremidade cefálica curvada dorsalmente. Têm cápsula bucal profunda constituídas por 2 lâminas cortantes (semilunares) que se localizam na margem interna da boca (subventral) e têm duas lâminas cortantes na margem interna (subdorsal), sustentadas por uma placa subdorsal e duas lancetas ou dentículos em forma de triângulos. Os machos são menores do que a fêmea e medem 5 a 9mm de comprimento por 300 pm de largura. Possuem bolsa copuladora bem desenvolvida com lobo dorsal simétrico aos dois laterais. As fêmeas medem de 9 a 11 mm de comprimento por 350 mm de largura, com abertura genital próxima ao terço anterior do corpo, possuem extremidade posterior afilada e ânus antes do final da cauda. Os ancilostomídeos têm ciclo biológico direto, ou seja, não necessitam de hospedeiro intermediário, como demostrado na Figura 3. Parasitologia Clínica 16 Apresentam duas fases de desenvolvimento:a primeira é de vida livre, pois se desenvolvem no meio exterior, a segunda se desenvolve no hospedeiro definitivo como parasita obrigatório. Figura 3 – Ciclo biológico dos ancilostomídeos Fonte: Wikimedia Commons. As fêmeas depositam os ovos no intestino delgado do hospedeiro que são eliminados por meio das fezes e contaminam o solo. No meio exterior, em ambiente propício (oxigenação, alta umidade e temperatura elevada), acontece a formação da larva de primeiro estádio (L1), do tipo rabditoide e a eclosão do ovo. A larva de segundo estádio (L2) se forma com a troca de cutícula externa e, ainda, é do tipo rabditoide. A larva de terceiro estádio (L3) se forma com a estruturação de uma cutícula nova, que fica interna à cutícula já existente (larva filarioide), a L3 é a única forma infectante para o hospedeiro. A larva L3 pode infectar o homem por meio da pele ou por via oral. Quando ocorre a penetração da larva pela pele ou mucosas, também chamada de penetração ativa, alcança a corrente sanguínea ou linfática e vai para o coração. Posteriormente, chega ao pulmão por meio de artérias, atinge os brônquios, traqueia, faringe e laringe, até seringeridas e chegar no intestino delgado. Parasitologia Clínica 17 As larvas podem demorar de dois a sete dias da penetração na pele até atingirem o intestino delgado. Na migração pelos pulmões, a larva troca de cutícula transformando-se em larva do quarto estádio (L4). No intestino delgado, ocorre a fixação da cápsula bucal na mucosa do duodeno iniciando o parasitismo hematófago e, com média de 15 dias de infecção, a larva se torna de quinto estádio. Com média de 30 dias de infecção, ocorre a diferenciação das larvas em adultos. A eliminação dos ovos pelas fezes entre 35 e 60 dias da infecção. Na contaminação via oral por meio da ingestão de água ou alimentos, a L3 se transforma em L4 ao penetrar no duodeno, mais especificamente nas células de Lieberkühn, após 2 ou 3 dias de infecção, posteriormente voltam a luz intestinal e se fixam na mucosa, iniciando o parasitismo e se diferenciando em adultos com 15 dias de infecção. As duas infeções por ancilostomídeos (Figura 4) mais comuns entre seres humanos são a ancilostomíase, causada pela espécie Ancylostoma duodenale, e a necatoríase, causada pela espécie Necator americanus. Figura 4 – Ancilostomídeos Fonte: Wikimedia Commons. Parasitologia Clínica 18 Os sinais e sintomas podem ser dor epigástrica, redução do apetite, má digestão, indisposição, fraqueza, náusea, vômito, fezes com sangue, intestino desregulado (diarreia ou constipação). Além disso, pode provocar anemia profunda, deixando a pessoa pálida e de cor amarelada. O tratamento é feito com vermífugos anualmente e, quando tem anemia, utiliza-se a suplementação de ferro. Na prevenção, é importante melhorar as condições sanitárias do local e andar sempre de calçados para interromper o ciclo do verme. Trichuris, Trichinella e Outros Nematoides A triquinose é uma infecção parasitária que apresenta como agente etiológico os parasitas nematódeos do gênero Trichinella. Os vermes adultos apresentam forma de um chicote e essa aparência se deve ao fato de terem um afilamento na região esofagiana que se estende por 2/3 do corpo e do alargamento posterior na região do intestino e órgãos genitais. O homem é o principal hospedeiro, porém pode também infectar porcos e macacos. Os vermes adultos medem entre 3 e 5 cm de comprimento e as fêmeas são maiores do que os machos. A boca fica na extremidade anterior, não possuem lábios e o esôfago é longo, fino e ocupa 2/3 do corpo. Apresentam sistema reprodutor simples. O intestino termina no ânus na extremidade da cauda. O macho tem testículo, canal diferente e canal ejaculador que termina com um espiculo. Além disso, a parte posterior é curvada ventralmente e apresentam espinhos. A fêmea tem ovário e útero, que se abrem na vulva que fica entre esôfago e intestino. Os ovos têm forma elíptica e são constituídos por três camadas: uma camada lipídica externa, uma camada intermediaria de quitina e a camada interna vitelínica; o que confere aos ovos resistência no meio ambiente. O ciclo biológico necessita de um hospedeiro apenas para completar seu ciclo, ou seja, são animais monóxenos. O parasita pode viver no intestino do hospedeiro por até 4 anos, conforme ilustrado na Figura 5. Parasitologia Clínica 19 Figura 5 – Ciclo biológico do Thichinella Fonte: Wikimedia Commons. O macho e a fêmea se reproduzem sexuadamente no intestino grosso e os ovos são eliminados no meio externo por meio das fezes. Depois de fecundada, a fêmea pode liberar 20 mil ovos por dia e cerca de 60 mil ovos são encontrados no útero, pois há reposição diária dos ovos. Os ovos contaminam líquidos e alimentos, dessa forma são ingeridos pelo homem e quando chegam no intestino grosso, os ovos eclodem. Na região do ceco, as larvas são transportadas para as células epiteliais e fazem túneis sinuosos até a superfície da mucosa. Em seguida, as larvas passam pelos 4 estágios necessários para o seu desenvolvimento até atingirem a vida adulta. Os ovos de Trichiura são eliminados nas fezes e contaminam o ambiente. O embrião dentro do ovo se forma no meio Parasitologia Clínica 20 ambiente e quando a larva se torna infectante permanece no ovo, até serem ingeridos pelo hospedeiro. Os sinais e sintomas são dor abdominal, flatulência, febre moderada, insônia, diarreia ou constipação, prolapso retal. O tratamento é feito com medicamentos como albendazol, mebendazol, pamoato de pirantel e pamoato de oxipirantel. Para a prevenção, é importante ferver a água, lavar adequadamente os alimentos (frutas e verduras), usar a técnica correta de lavagens das mãos ao manipular alimentos. Imunodeficiências e Parasitoses O Trichinella spiralisé um nematódeo que parasita seres humanos. O macho tem de 1,4 a 1,6 mm de comprimento, possui esôfago comprido e, na parte posterior, tem as células glandulares chamadas de esticócitos. Além disso, os machos possuem duas prolongações laterais, chamadas de pseudobolsa copulatória. As fêmeas são maiores do que os machos, e a abertura vaginal é localizada na região mediana do esôfago. As fêmeas são vivíparas e as larvas eliminadas vão para a musculatura do hospedeiro por meio da circulação, formam cistos e desenvolvem até tornarem-se infectantes. O homem é infectado quando ingere a carne com cisto (com larva L1) do parasita. Após passarem pelo estômago do hospedeiro, as larvas são liberadas do cisto, penetram a mucosa duodenal e formam túneis por onde migram. Em seguida, as larvas passam por quatro fases e amadurecem. Ainda nesses túneis intracelulares, ocorre a reprodução sexuada e, posteriormente, as fêmeas fecundadas eliminam as larvas. Por meio da circulação sanguínea, atingem os tecidos e causam infecção em várias células, porém a forma infectante só se desenvolve na musculatura estriada esquelética. Os vermes adultos presentes no intestino são eliminados após semanas de infecção, porém os cistos na musculatura podem permanecer por anos. Os sinais e sintomas, em geral, são náusea, vômitos, diarreia. Dependendo de por onde as larvas migraram no hospedeiro, podem causa pneumonia, nefrite, meningite e até morte. Parasitologia Clínica 21 Figura 6 – Trichinella spiralisem tecidos Fonte: Wikimedia Commons. O Capillaria hepática é um parasita do parênquima hepático que pode afetar o homem e é muito comum em ratos, esquilos, porcos e cães. A morfologia é muito parecida com o Trichiura, C. hepática são vermes pequenos de 20 mm de comprimento, o macho tem a metade do tamanho da fêmea. As fêmeas depositam os ovos no parênquima do fígado, local onde os ovos ficam e se tornam vermes adultos. A contaminação para outros animais acontece quando o hospedeiro morre e é decomposto no ambiente ou quando há ingestão de fígado contaminado. Ao seremingeridos, quando atingem o intestino, migram para o fígado e se desenvolvem em vermes adultos. A presença de vermes adultos e ovos no fígado provocam lesões no órgão com perda da função hepática. A evolução da infecção é muito grave, podendo ser fatal. Não existe tratamento específico e o diagnóstico só pode ser feito por biópsia hepática. Parasitologia Clínica 22 Figura 7 – Capillaria hepática em fígado de rato macroscopicamente e microscopicamente Fonte: Wikimedia Commons. A tricuríase é a terceira infecção parasitária mais comum. Estima- se que 604 a 795 milhões de pessoas estejam infectadas em todo o mundo. Trichuris trichiura ocorre principalmente em regiões tropicais e subtropicais, em que as fezes humanas são utilizadas como fertilizante ou onde as pessoas defecam no solo, mas as infecções também ocorrem no sul dos Estados Unidos. As crianças são as mais infectadas. A infecção é disseminada pela via fecal-oral. Os ovos ingeridos eclodem e entram nas criptas do intestino delgado como larvas. Após amadurecerem por 1 a 3 meses, os vermes migram para o ceco subindo até o cólon, no qual se unem à mucosa superficial, acasalam-se e colocam ovos. A tricuríase é uma infecção causada por Trichuris trichiura. Os sintomas podem incluir dor abdominal, diarreia e, em infecções intensas, anemia e desnutrição. O diagnóstico é feito pela detecção de ovos nas fezes. O tratamento é com mebendazol, albendazol ou ivermectina. Parasitologia Clínica 23 RESUMINDO: Os ancilostomídeos são helmintos herdados pela espécie humana por meio da evolução simultânea do parasita e do hospedeiro, Ancylostomidae é uma família importante dos Nematodas que parasitam o homem. Provocam a ancilostomíase ou ancilostomose, popularmente conhecida como amarelão, é uma parasitose intestinal provocada por dois vermes que infectam o ser humano, Necator americanos e Ancylostoma duodenale. Os vermes adultos apresentam forma de um chicote e essa aparência se deve ao fato de terem um afilamento na região esofagiana que se estende por 2/3 do corpo e do alargamento posterior na região do intestino e órgãos genitais. O homem é o principal hospedeiro, porém, pode também infectar porcos e macacos. Os ovos de Trichiura são eliminados nas fezes e contaminam o ambiente. O embrião dentro do ovo se forma no meio ambiente e quando a larva se torna infectante permanece no ovo, até serem ingeridos pelo hospedeiro. O Capillaria hepática é um parasita do parênquima hepático que pode afetar o homem e é muito comum em ratos, esquilos, porcos e cães. Parasitologia Clínica 24 Artrópodes Parasitas ou Vetores de Doenças? OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você terá compreendido os seres artrópodes hematófagos que são insetos (6 patas na fase adulta) e os carrapatos (8 patas na fase adulta) que se alimentam de sangue. Podem ser vetores de infecções por serem capazes de transmitir agentes infecciosos para os homens ou animais. Descrição dos Artrópodes Os artrópodes foram responsáveis por transmitir inúmeras doenças ao longo da história, algumas são consideradas epidemias até os dias de hoje (peste, tifo, malária, febre amarela), como a malária, febre amarela e dengue ainda constituem problema de Saúde Pública. As doenças transmitidas por artrópodes são, a cada ano, responsáveis por uma em cada 17 mortes no mundo. Estão entre os principais riscos para a saúde durante as viagens e podem ocorrer inclusive nos países mais desenvolvidos (MARTINS et al., 2008). Os Artrópodes hematófagos compreendem os insetos (6 patas na fase adulta) e os carrapatos (8 patas na fase adulta) que se alimentam de sangue. Podem ser vetores de infecções, por serem capazes de transmitir agentes infecciosos entre seres humanos ou animais. Estes artrópodes não servem apenas como meio de transporte mecânico, uma vez que neles ocorre, obrigatoriamente, parte do ciclo de desenvolvimento dos agentes infecciosos. Existe uma relação estreita entre a dinâmica da transmissão de doenças e as características biológicas e ecológicas destes vetores. A longevidade (de dias a anos), a capacidade reprodutiva (de dezenas a milhares de novos insetos gerados por fêmea), as preferências alimentares Parasitologia Clínica 25 (seres humanos, animais) e os hábitos (local e horário de maior atividade) desses vetores determinam a importância relativa do artrópode como transmissor de uma doença infecciosa e as peculiaridades da transmissão (maior durante o dia, ou à noite em determinadas épocas do ano). As variáveis ambientais como disponibilidade de água, chuvas, temperatura, umidade e altitude podem influenciar no ciclo dos agentes infecciosos nos Artrópodes ou no desenvolvimento dos próprios vetores. Conforme a Figura 8, temos as classes dos Artrópodes (MARTINS et al., 2008). Figura 8 – Filo dos Artrópodes Classe Insecta Crustácea Arachnida Diplopoda Chilopoda Filo: Arthropoda Fonte: Neves (2005). Características gerais: o filo Arthropoda é o mais diversificado que existe, pois agrupa mais de 800 mil espécies. Vive em diversos ambientes e pode ter vida livre ou ser parasita. São animais triblásticos, celomados e com simetria bilateral. Possuem um espaço amplo, porém não é o celoma, e sim, lacunas sanguíneas que banham diretamente os órgãos. No geral, os artrópodes possuem: apêndices articulados; exoesqueleto de quitina; sistema digestivo completo (glândulas salivares, fígado e pâncreas); sistema respiratório, respiração traqueal e branquial; circulação aberta; excreção feita por tubos de Malpighi, sistema nervoso ganglionar e órgãos sensitivos especializados. O corpo é segmentado e, na maioria, Parasitologia Clínica 26 ocorre fusão de metâmeros para diferenciar partes do corpo, chamados de Tagmas, conforme ilustrado na Figura 9. Figura 9 – Metâmeros em Arthropoda Fonte: Wikimedia Commons. Dentro dos artrópodes alguns vetores transmitem doenças infecciosas ao homem. Os vetores mais importantes são os mosquitos, os flebótomos, as carraças, as pulgas e os piolhos. Não só porque integram um conjunto muitíssimo alargado de doenças, algumas consideradas como as de maior mortalidade e morbilidade a nível mundial, mas também porque um diagnóstico e uma vigilância epidemiológica integrados permitem que sejam desencadeadas medidas de prevenção que em muito podem reduzir a sua severidade. Insetos: a grande diversidade de insetos pode ser explicada pelo fato do exoesqueleto ser formado de quitina, pois lhe confere proteção ao corpo, e também por terem asas, já que voando podem ter um melhor deslocamento, fugir de predadores, capturar de alimentos e encontrar o ambiente mais adequado para viverem. A estrutura do corpo é dividida em três partes: cabeça, tórax e abdômen. Cabeça: os insetos possuem um par de antenas que tem função sensorial e são eficientes na percepção de cheiros. Aparelho bucal: é diferente entre os insetos e pode ser mastigador ou triturados, sugador e lambedor. Cada tipo de aparelho bucal é adaptado para o tipo Parasitologia Clínica 27 de alimento que será consumido. No gafanhoto, é do tipo mastigador, nas abelhas é lambedor, nos mosquitos é picador, nas borboletas é sugador. Olhos: podem ter olhos simples que permitem apenas a percepção da luz no ambiente e podem ter olhos compostos formados por unidades menores que permitem uma visão detalhada e ampla. Figura 10 – Representação esquemática da morfologia externa de um inseto Fonte: Wikimedia Commons. Sistema nervoso: os insetos têm sistema nervoso do tipo ganglionar ventral, são vários gânglios nervosos na cabeça. Pernas e patas: os insetos têm três pares de patas (hexápodes), no tórax há três segmentos e em cada um deles tem um par de pernas. Asas: também podem não ter asas, ter um par ou dois pares. Existe uma diversidade muito grande de insetos, com formas corporais diferenciadas. As pulgas, traças e piolhosnão têm asas. As formigas e cupins têm asas apenas quando estão férteis. As moscas e mosquitos têm apenas um par. Abelhas e borboletas têm dois pares. Parasitologia Clínica 28 Figura 11 – Característica da asa do inseto C Costa Sc Subcosta R Radius M Media C Cubitus A1 Anal 1 A2 Anal 2 A3 Anal 3 Fonte: Wikimedia Commons. Abdômen: é onde localizam-se as vísceras. Em cada segmento abdominal, há pequenos orifícios laterais chamado de estigmas ou espiráculos, aberturas por onde os insetos respiram. Reprodução: são unissexuados e podem se diferenciar em macho e fêmea. A fecundação é interna quase todas são ovíparas. Os insetos podem sofrer metamorfose, alguns são ametábolos (sem metamorfose), hemimetábolos (com metamorfose incompleta) e holometábolos (metamorfose completa). Parasitologia Clínica 29 VOCÊ SABIA? Os insetos formam a maior classe do Reino Animal, são mais de 800.000 espécies conhecidas. Os insetos vivem espalhados por todo o mundo. Desde as regiões polares até as zonas tropicais, passando por rios, mares e oceanos. Embora a aparência dos insetos seja muito variada, o corpo de todos eles, é dividido em cabeça, tórax e abdômen. Na cabeça, há um par de antenas e 3 pares de mandíbulas. Todos os insetos possuem 3 pares de patas. Nem todos os insetos têm asas. A maioria desses animais alcança a maturidade por meio da metamorfose. Não é possível dizer que um inseto encontrado sobre uma planta qualquer sem maior importância econômica seja uma “praga”. A maior parte das espécies de insetos (cerca de 98%) não se enquadra nessa categoria. Na realidade, essas espécies todas fazem parte de um delicado e importante equilíbrio biológico natural, cuja perturbação pelo homem pode resultar no aparecimento de pragas. Distribuídos por mais de 30 ordens. Um dos critérios usados para a classificação dos insetos é o número e a forma das asas. Citaremos aqui algumas ordens (PINHO, 2008). • Himenópteros - asas parecidas com membranas - aqui se incluem insetos sem asas, podem-se citar a formiga e a abelha. • Dípteros - duas asas, podem-se citar a mosca e o mosquito. • Coleópteros - asas formando estojo, podem-se citar o besouro. • Ortópteros - asas retas, formando ângulo reto com o corpo, podem-se citar a barata e o gafanhoto. Parasitologia Clínica 30 Hemípteros: Triatomíneos e Percevejos Características gerais: os hemípteros existem em grande quantidade, em torno 119 mil espécies, entre eles cigarras, barbeiros, percevejos, pulgões e cochonilhas. É uma ordem de insetos que possui tamanho variável de 1 a 110 mm de comprimento. Apresenta aparelho bucal picador- sugador, lábio articulado, as asas são metade membranosas a outra metade do tipo coriácea. Os hemípteros também têm como característica a metamorfose incompleta (GRAZIA et al., 2012). Figura 12 – Subordem dos Hemípteros Subordem: Sternorrhyncha Auchenorrhyncha Heteroptera Coleorrhyncha Ordem: Hemípteros Pulgões, cochonilhas, moscas-brancas e psilídeos Cigarras e cigarrinhas Percevejos Fonte: Neves (2005). Os triatomíneos, popularmente conhecidos como barbeiros, são vetores da doença de Chagas. Existem três gêneros de Triatomíneos e a diferenciação está na localização do tubérculo antenífero, ou seja, onde está o ponto de inserção das antenas na região anteocular. Panstrongylus – apresenta a cabeça curta e tem as antenas na região anterior aos olhos compostos. Rhodnius – apresenta a cabeça alongada e tem as antenas próxima ao ápice da cabeça. Triatoma – apresenta a cabeça de tamanho médio e tem as antenas na metade da distância entre os olhos compostos e o clipe (JURBERG et al., 2014). O ciclo de vida dos triatomíneos é em três fases de desenvolvimento em ninfas, formas jovens e se diferenciam dos adultos por não ter asas e nem genitália formada. Porém, no quinto estádio, diferenciam-se em Parasitologia Clínica 31 macho ou fêmea. Da ninfa até o adulto são cinco estádios (JURBERG et al., 2014). A cor do ovo é branca no início e conforme o embrião se desenvolve fica rosada. Porém, em R. brethesi o ovo tem cor acinzentada e vai escurecendo conforme o embrião se desenvolve. O embrião se forma próximo a eclosão do ovo e quando eclode libera a ninfa. Adultos reproduzem por copulação, tanto os machos como as fêmeas se alimentam de sangue. Dependendo da espécie, podem voar de 100 m a 1 km. O ciclo dos triatomíneos pode completar de 6 meses a 2 anos, dependendo da espécie. Para que os insetos mudem de um estádio para o outro é necessário que ocorra a troca da muda, ou seja, a troca do esqueleto desses insetos. Para que o ciclo biológico se complete, a temperatura deve estar entre 27 e 30°C e a umidade 60 a 100%, caso as condições sejam desfavoráveis as ninfas não trocam de estádio e morrem (JURBERG et al., 2014). A doença de Chagas é causada pelo parasito protozoário Trypanosoma cruzi e tem como inseto vetor os triatomíneos. Atualmente atinge muitas pessoas, principalmente no Amazonas, a transmissão ocorre quando os insetos vetores da doença picam o homem e na lesão da pele, o barbeiro deposita suas fezes contendo formas tripomastigotas metacíclicas do T. cruzi, permitindo a penetração do parasita. A doença infecciosa pode se diferenciar em fase aguda e crônica e tem formas cardíacas, digestivas, cardio-digestivas e indeterminadas. Os sinais e sintomas da fase aguda são febre prolongada, dor de cabeça, fraqueza intensa e inchaço no rosto e pernas. Na fase crônica, aparecem problemas cardíacos (insuficiência cardíaca) e problemas digestivos (JURBERG et al., 2014). Família dos Cimicidae: Os Percevejos Entre os grupos descritos anteriormente, temos os percevejos Cimicidae é uma importante família de ectoparasitas, popularmente denominados percevejos, amplamente conhecida devido a sua distribuição global e impactos na saúde causados pelo gênero Cimex. Existem aproximadamente 100 espécies de Cimicidae, distribuídos em Parasitologia Clínica 32 seis subfamílias, organizadas em 22 gêneros incluindo os percevejos de cama associados ao homem, aos morcegos e às aves. A literatura reporta 12 gêneros de Cimicidae exclusivos de morcegos, nove de aves e um de humanos, denominado Cimex. Dentro desse gênero, somente três espécies possuem importância em Saúde Pública devido ao hábito domiciliado: Cimex lectularius (Figura 13), distribuído por todo o mundo, Cimex hemipterus distribuído pelas regiões tropicais do mundo e Leptocimex boueti é exclusivo do continente africano. Figura 13 – Ilustração do percevejo de cama Cimex lectularius Fonte: Wikimedia Commons Os percevejos de cama possuem relativa resistência ao jejum, podendo ficar sem alimentação por períodos prolongados de até um ano. Além disso, são insetos com ciclo de vida paurometábulo, apresentando os estádios de ovo, de ninfa e de adulto. O ciclo de vida está diretamente relacionado à temperatura, sendo que a 23ºC, uma ninfa que emerge de um ovo chega à fase adulta em cerca de 90 dias, mas em temperaturas mais elevadas, mais que 28ºC o ciclo de vida encerra-se em 34 dias. Em condições favoráveis, a reprodução ocorre durante todo o ano. As fêmeas podem ovipor de 1 a 4 ovos ao dia, chegando a 500 ovos ao longo da vida toda. Do ovo emergem as ninfas, que se desenvolvem em Parasitologia Clínica 33 cinco estágios ninfais até alcançarem a fase adulta, na qual apresentam marcado dimorfismo sexual. A inseminação extragenital traumática é uma característica marcante dos percevejos de cama e é compartilhada com poucos artrópodes. Essa forma de inseminação é deletéria para as fêmeas, já que os machos perfuram o exoesqueleto da cavidade abdominal das fêmeas para injetar seu esperma. Além disso, esses insetos possuem um aparato de feromônios bem desenvolvido que define a relação entre os indivíduos e o comportamento de agregação. Sabe-se que os feromônios, substânciasquímicas produzidas e liberadas por um indivíduo de uma espécie que atuam em outros indivíduos da mesma espécie, se liberados, emitem sinais de perigo quando uma ameaça é detectada, além de serem responsáveis por manter os cimicídeos agregados em um mesmo local. EXPLICANDO MELHOR: São ovais, de cor acastanhados e se alimentam exclusivamente de sangue de humanos ou animais. São pequenos com 5 a 7 mm de comprimento, tem formato oval e achatado. Possuem hábitos noturnos. Algumas das espécies que mais atingem o homem são Cimex lectularius e a Cimex hemipterus. Ciclo de vida: pode durar até 5 semanas e é dividido em três fases de desenvolvimento: ovo, ninfa e adultos. Os ovos eclodem em até 21 dias. A fêmea deposita cerca de 500 ovos durante sua vida e pode viver por 1 ano. Podem sobreviver em uma ampla faixa de temperatura de -10°C a 45°C. Quando esses insetos perfuram a pele, conseguem extrair o sangue e injetam a saliva que contém anticoagulantes e anestésicos, dessa forma, consegue se alimentar por 5 minutos ou mais. As lesões provocam coceira e podem desencadear reação alérgica. São parasitas que se alimentam de sangue, porém não transmitem doença ao homem. O quadro atual de infestação por Cimex é bastante diferente do passado, visto que, as infestações eram geralmente associadas a condições de habitação e de higienes precárias que favoreciam a instalação e permanência dos insetos no intradomicílio. Porém, em Parasitologia Clínica 34 países desenvolvidos, o Cimex ainda tem sido considerado como uma das principais pragas urbanas com altas taxas de infestação. Algumas hipóteses são consideradas para essas altas taxas de infestações, como o aumento do turismo internacional, tamanho pequenos dos cimicídeos que podem se abrigar em vários locais, aumento do comércio de móveis usados, que pode estar infestado de percevejos, declínio no nível de conhecimento popular durante os anos de baixa infestação e resistência aos inseticidas. RESUMINDO: Os artrópodes foram responsáveis por transmitir inúmeras doenças ao longo da história, algumas são consideradas epidemias até os dias de hoje (peste, tifo, malária, febre amarela), como a malária, febre amarela e dengue, ainda constituem problema de Saúde Pública. Os artrópodes hematófagos compreendem os insetos (6 patas na fase adulta) e os carrapatos (8 patas na fase adulta) que se alimentam de sangue. Podem ser vetores de infecções, por serem capazes de transmitir agentes infecciosos entre seres humanos ou entre animais. Características gerais: o filo Arthropoda é o mais diversificado que existe, pois agrupam mais de 800 mil espécies. Vivem em diversos ambientes e podem ter vida livre ou ser parasitas. Os hemípteros existem em grande quantidade, em torno 119 mil espécies, dentro deles as cigarras, barbeiros, percevejos, pulgões e cochonilhas. Percevejos: são ovais, de cor acastanhados e se alimentam exclusivamente de sangue de humano ou animal. Algumas das espécies que mais atingem o homem são Cimex lectularius e a Cimex hemipterus. Parasitologia Clínica 35 Parasitoses Humanas OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você saberá descrever as pulgas, seres que não possuem asas, porém conseguem pular para infectar seus hospedeiros, também compreender sobre os Anopluros que são os insetos conhecidos como piolhos, e os acari e carrapatos vetores de doenças. Sifonápteros: As Pulgas As pulgas são insetos pertencente à ordem Siphonaptera, do grego “Siphon” – sifão e ápteros – sem asas. Não podem voar, mas podem pular cerca de 300 vezes a sua altura, conforme a Figura 14. Existem mais de 3 mil espécies de pulgas no mundo e, no Brasil, já foram identificadas mais de 50 espécies. As pulgas podem viver na pelagem dos pelos do hospedeiro e neles se alimentam, ou ainda terem seu ninho e apenas tem contato com o hospedeiro para se alimentarem. São ectoparasitas. Como parasitas podem provocar lesões e reações alérgicas ao hospedeiro, dependendo da quantidade de pulgas e o tamanho do hospedeiro, pode provocar anemia. Podem transmitir muitas doenças ao homem, pois são vetores de bactérias, vírus, fungos, protozoários. Exemplo: peste bubônica, Salmonellose, febre de prisão, tétano e outras. As pulgas têm de 1 a 3 mm, são castanho-escuros, não possuem asas e o último par de pernas é adaptado para saltar. Os machos são menores que as fêmeas e têm órgão genital na extremidade posterior, onde se encontra o órgão copulador espiralado pontudo e voltado para cima. As fêmeas possuem extremidade posterior arredondada e exibe uma estrutura visível no abdômen, é uma estrutura contendo quitina e tem como função armazenar espermatozoides. As pulgas se alimentam exclusivamente de sangue, e as larvas vivem no solo, frestas de assoalho ou ninhos. Cada refeição da pulga pode demorar até 10 minutos e se alimentam de 2 a 3 vezes por dia. As pulgas, muitas vezes, expelem gotículas de sangue pelo ânus, muitas vezes misturados com fezes. Parasitologia Clínica 36 Figura 14 – Siphonaptera (pulga) Fonte: Wikimedia Commons No ciclo biológico, ocorre a cópula e após a fecundação necessita de sangue para começar a ovipor. São insetos que têm metamorfose completa. As fases de evolução são ovo, larva I, larva II, larva III, pupa e adultos. Figura 15 – Fases de evolução da pulga Fonte: Wikimedia Commons Parasitologia Clínica 37 Existem oito famílias de pulgas no Brasil, porém apenas três são de importância médica: Pulex irritans, que é a pulga que mais ataca o homem, Xenopsylla cheopis, é a pulga que ataca ratos podendo transmitir a peste bubônica e contaminar o homem e Xenopsylla. Porém, outras espécies também são importantes como a Tunga penetrans, conhecida como bicho-de-pé, mostrado na Figura 16 Nessa espécie, a fêmea penetra nos tecidos e se alimenta de líquido tissular e sangue, fica cheia de ovos. Figura 16 – Ciclo biológico da Tunga penetrans Fonte: Wikimedia Commons As fêmeas penetram na pele e provocam coceira intensa. Podem transmitir tétano (Clostridium tetani), micoses (Paracoccidioides brasiliensis) e gangrena gasosa (Clostridium perfringens). Anopluros: Os Piolhos Sugadores Estes artrópodes, taxonomicamente incluídos na classe Insecta, subordem Anoplura, são hematófagos estritos e fazem o ciclo de vida completo no homem. Anopluros são insetos conhecidos como piolhos. São hematófagos, parasitas de mamíferos e com metamorfose gradual. Parasitologia Clínica 38 Existem cerca de 532 espécies, porém apenas dois parasitam o homem, são elas: Pediculus capitis, o piolho da cabeça e Pediculus humanus, o piolho do corpo. Apesar de atualmente apresentarem um baixo nível de morbilidade, em tempos remotos foram considerados vetores de devastadores surtos de doença, destacando-se o período da Primeira Guerra Mundial e durante os anos 30 e 40 do século passado. Ocorrem muitos surtos de piolho de cabeça em todo o mundo, acometem crianças em idade escolar, um dos motivos pelo qual esses surtos ainda acontecem é devido à resistência desses insetos a inseticidas. Os piolhos podem veicular tifo exantemático (Rickettsia prowazeki), a febre das trincheiras (Bartonella quintana = Rochalimaea quintana) e a febre recorrente (Borrelia recurrentis). O tifo exantemático é transmitido pelas fezes e pelo esmagamento dos piolhos. A febre das trincheiras é transmitida pelos esmagamentos dos insetos pelos os dedos, a febre recorrente é transmitida pela picada e fezes de piolhos, a picada do piolho ainda pode provocar coceira e dermatite. São insetos pequenos, possuem pernas fortes e tem uma garra, na qual o inseto consegue segurar firmemente um pelo. Os ovos são colocados nos pelos e são conhecidos como lêndeas. Figura 17 – Piolhos com a garra no fio de cabelo Fonte: Wikimedia Commons Parasitologia Clínica 39 As duas espécies de Pediculus têm comportamento de maneira diferentes. Pediculus capitis é o piolho da cabeça ebota ovos na base do cabelo da cabeça. Pediculus humanus é o piolho do corpo e bota ovos nas dobras das roupas. O ciclo biológico possui fases de desenvolvimento, são elas: ovo, ninfa I, ninfa II, ninfa III e adulto. Esta ilustração da Figura 16 mostra o ciclo de vida de um piolho sugador (Pediculus humanus var. corporis), e as mudanças morfológicas que ocorrem em cada platô de desenvolvimento sucessivo alcançado. Todos os estágios de desenvolvimento do ciclo de vida do piolho são passados enquanto ele reside como um ectoparasita em seu hospedeiro mamífero. Os estágios incluem o ovo, a primeira ninfa, a segunda ninfa e a terceira ninfa, o macho e a fêmea adultos. O ciclo de vida do piolho de cabeça inicia-se com a postura de ovos pela fêmea em cabelos ou vestuário (7 a 10 ovos por dia). Após a eclosão, que pode variar entre 4 e 14 dias em média, os imaturos passam por três estados ninfais, cada um com a duração aproximada de três dias até completarem o desenvolvimento e surgirem os adultos. Pode viver 40 dias no hospedeiro e, fora dele, apenas poucas horas. Em todas as fases ninfais e de adulto, os piolhos necessitam de ingerir sangue, quer para passarem à fase seguinte, quer para que o ciclo se complete com uma nova postura. Após os adultos atingirem a maturidade sexual, em menos de um dia depois da eclosão, o acasalamento ocorre imediatamente, a fêmea pode botar de 200 a 300 ovos durante seu período de vida. Já o piolho de corpo pode viver por 3 meses e botar 110 ovos durante a vida. Parasitologia Clínica 40 Figura 18 – Pediculus humanus var. corporis e as mudanças morfológicas Fonte: Wikimedia Commons O piolho do couro cabeludo (Pediculus humanus capitis) é um inseto que se alimenta do sangue das pessoas e reproduz-se com rapidez. Transmitido de uma pessoa para outra, ele se instala no folículo piloso, ou seja, na base do cabelo, onde deposita seus ovos – as lêndeas –, fáceis de serem reconhecidos e que diferem da caspa porque ficam grudadas no pelo. Existem termos que designam espécies diferentes de piolhos de acordo com a região que atingem. O de cabeça, chamamos de piolho; o de corpo, muquirana; e o de pelos pubianos, chato (que podem infestar também sobrancelhas e cílios). O piolho adulto tem cerca de 2 a 3 mm (tamanho de um grão de gergelim), seis patas e sua cor varia de marrom a branco-acinzentado. A fêmea vive de três a quatro semanas e, quando adulta, coloca até 10 ovos por dia. Ou seja, em um mês, cada uma pode dar origem a 300 piolhos, então, é necessário controlar a infestação o quanto antes e garantir que tanto piolhos adultos quanto lêndeas sejam retiradas. Parasitologia Clínica 41 Os ovos se fixam na raiz dos cabelos por meio de uma substância parecida com uma cola, produzida pelo próprio piolho. Os ovos viáveis se camuflam no cabelo da pessoa infectada; o invólucro dos ovos vazios, as lêndeas, são mais visíveis porque são brancas. Muitos chamam de lêndeas tanto os ovos viáveis quanto os invólucros dos ovos vazios. Transmissão: o piolho não pula nem salta, ele se arrasta. Por isso, só é transmitido por meio de contato direto entre a pessoa infectada e a não infectada. A transmissão devida a compartilhamento de objetos pessoais, como escova de cabelo e roupa de cama, é mais rara. Porém, ao pentear o cabelo seco é possível produzir eletricidade estática que pode lançar os insetos a até um metro de distância. Tratamento: Eliminar piolhos e lêndeas exige paciência e disciplina, mas seguindo as recomendações você certamente será recompensado. O tratamento convencional é feito à base de inseticidas piretroides de uso local como a permetrina. Depois da aplicação, o medicamento deve permanecer na cabeça protegida por uma touca durante 10 a 15 minutos. Evite usar sacos plásticos para tampar a cabeça, principalmente em crianças pequenas, que podem sufocar. Após esse tempo com a touca, é indispensável o uso de pente fino, pois os medicamentos não eliminam as lêndeas. Utilize no banho, para aproveitar e deixar que a água do chuveiro leve-os embora. Após algumas horas, passe novamente o pente fino para eliminar piolhos e lêndeas que possam ter restado. Os medicamentos atuais normalmente precisam de somente uma aplicação, mas 7 dias depois deve-se verificar se há sinais de infestação. Caso encontre, deve-se fazer uma segunda aplicação. Se 7 dias depois ainda houver sinais, é indicado procurar um médico. Piolho de corpo: trocar a roupa contaminada e lavar a roupa em água fria com formol. Nas lesões, aplicar pomadas a base de antibióticos. Piolho de cabeça: o uso de piolhicidas é discutível, pois podem provocar intoxicações. Os piolhos da cabeça podem ser retirados manualmente, usar secador de cabelos podem matar as lêndeas, raspar cabelos e uso de óleo deixa os fios lisos e dificultam a sobrevivência do inseto. Parasitologia Clínica 42 Acari: Os Carrapatos e os Ácaros da Escabiose e de Outras Dermatoses Os aracnídeos são artrópodes com corpo fundido cefalotórax e abdômen, possuem 4 pares de patas e não possuem antenas. Na parte anterior, possuem peças bucais (quelíceras e os palpos). As quelíceras funcionam como pinças para cortar e tirar os tecidos. Esse grupo é representado pelas aranhas, escorpiões, carrapatos e ácaros. Carrapatos: são ectoparasitas obrigatórios que se alimentam de sangue. Podem viver por anos e ficam no hospedeiro para se alimentar, mas podem sobreviver fora dele. São achatados dorsoventral, possuem contorno oval ou elíptico e são revestidos por tegumento coreáceo e distensível. Além disso, possuem um conjunto de peças bucais quitinizadas. Podem causar vários prejuízos como lesões no hospedeiro, alergias, irritabilidade e transmitir doenças. A febre maculosa é transmitida pelo carrapato e é causada pela bactéria Rickettsia rickettsii. Para que ocorra a infecção ao homem, o carrapato deve ficar de 6 a 10 horas em contato com a pessoa. Provoca febre acima de 39°C, calafrios, dores de cabeça e musculares. A doença de Lyme é transmitida pelo carrapato e é causada pela bactéria Borrelia burgdorferi. Provoca inchaço e vermelhidão no local, sendo considerada uma doença grave, caso não seja tratada com antibiótico a tempo pode levar a morte. Já a doença de Powassan provocada por um vírus transmitido ao homem pelo carrapato. Provoca febre, dor de cabeça, vômitos e fraqueza. É considerada uma doença grave, pois pode provocar inflação e inchaço do cérebro, meningite. Também causa perda de coordenação, confusão mental, problemas na falta e perda de memória. O ciclo biológico possui quatro fases: ovo, larva, ninfa e adulto. Quando não estão no hospedeiro, passam a maior parte no ninho, onde trocam de fase. O carrapato não troca de fase no animal. Parasitologia Clínica 43 Figura 19 – Ciclo biológico do carrapato Fonte: Wikimedia Commons Medidas de controle de carrapatos: o conhecimento dos parâmetros biológicos dos estádios da fase de vida livre e suas inter- relações com os fatores climáticos a que são submetidos é fundamental para a implementação das medidas de controle integrado e estratégico do carrapato Rhipicephalus microplus. Programas de controle do Rhipicephalus microplus buscam interromper seu ciclo de vida na fase parasitária, empregando compostos químicos sintéticos com atividade acaricida. Entretanto, o uso inadequado desses produtos pode resultar na diminuição da eficiência da droga e, consequentemente, na redução da eficácia dos tratamentos. Outra medida de controle é o uso de carrapaticidas, porém podem deixar resíduos na carne. Ácaros da escabiose e de outras dermatoses: algumas espécies de áscaris importantes para o homem são a Sarcoptidae, com a espécie Sarcoptes scabiei que é agente da sarna, e Pyroglyphidae, com a espécie Dermatophagoides farinae, que provoca reações alérgicas do aparelho respiratório. Escabiose: existem váriasespécies de ácaros que provocam sarnas em animais, porém no homem a única espécie é a Sarcoptes scabiei. A S. scabiei tem corpo globoso, pernas curtas, não tem garras, tem curículas marcadas por finas estrias, tem cerdas finas e flexíveis, espinhos Parasitologia Clínica https://www.google.com.br/url?sa=i&url=https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Ciclo_de_vida_do_Carrapato-estrela.jpg&psig=AOvVaw3t2MrY6E-V4S18OOzHLjcB&ust=1582774668286000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCPit4-yl7ucCFQAAAAAdAAAAABAD 44 curtos e robustos. Pode ter vários hospedeiros, porém a escabiose de um animal não passa para outro, como a sarna do cão não pega no homem. Os adultos fazem túneis na epiderme de mão, punho, cotovelos, pernas, costas, seios e deixam rastros contendo ovos. Tem como período de incubação até 5 dias e, na sequência, eclodem larvas hexápodas, em que ficam nos túneis ou na superfície da pele. As larvas se desenvolvem em ninfas octópodes e, posteriormente, tornam-se machos ou fêmeas. Os parasitas não sugam o sangue, e sim se alimentam de fluidos celulares. As escavações provocam inflamação de pele, perdas de pelos e infecção secundárias, conforme ilustrado na Figura 20. Figura 20 – Ciclo biológico dos ácaros Fonte: Wikimedia Commons Parasitologia Clínica 45 A sarna ou escabiose é uma parasitose humana causada pelo ácaro Sarcoptes scabiei variedade hominis. O contágio se dá somente entre humanos, por contato direto com pessoa ou roupas e outros objetos contaminados. O contato deve ser prolongado para que ocorra a contaminação. A fecundação do ácaro ocorre na superfície da pele. Logo após o macho morrer, a fêmea penetra na pele humana, cavando um túnel, por um período aproximado de 30 dias. Depois, deposita seus ovos. Quando eles eclodem, liberam as larvas que retornam à superfície da pele para completar seu ciclo evolutivo. Esse processo de maturação é de 21 dias. Importante: animais como gato e cachorro não transmitem a sarna humana. As manifestações clínicas são decorrentes da ação direta do ácaro, quando ele se movimenta nos túneis. E, também, em grande parte, pela hipersensibilidade desenvolvida pelo paciente contaminado. O principal sintoma da escabiose é a coceira ou prurido, que é sentido principalmente à noite. As principais lesões na pele são os túneis e, nas suas extremidades, pequenas vesículas. Essas lesões aparecem, principalmente, entre os dedos das mãos, nas axilas, na parte do punho que segue a palma da mão, auréolas e genitais. A cabeça sempre é poupada. Escoriações na pele são frequentes, por causa da coceira intensa. O diagnóstico é geralmente clínico, pelo achado dos túneis e pelas áreas características do aparecimento das lesões de escabiose. Pacientes idosos, ou já tratados com corticoides, podem ser difíceis de ser diagnosticados. Nesse caso, é preciso fazer uma pesquisa do parasita na pele, coletando o material nas lesões dos sulcos. O tratamento consiste em usar medicamentos tópicos em todo o tegumento (pele, pelos e cabelo) ou uso de medicamentos orais. A escolha vai depender das características da doença em cada paciente e, também, das suas condições gerais de saúde. Portanto, o tratamento é individualizado pelo médico para cada paciente. Parasitologia Clínica 46 VOCÊ SABIA? A prevenção consiste, basicamente, em evitar contato com pessoas e roupas contaminadas. Uma vez detectado um paciente com escabiose, todos que com ele tenham contato direto devem ser examinados e tratados. Caso estejam infectados, devem também ser tratados. Dessa forma, é interrompida a cadeia de transmissão da parasitose. Dermatites humanas: existem quatro dermatites humanas encontradas no Brasil: Dermatophagoides farinae, D. pteronyssinus, Euroglyphus maynei e Sturmophagoides brasiliensis. As duas primeiras são cosmopolitas, vivendo na poeira doméstica, depósitos de panos, alimentos, rações, e o D. pteronyssinus, seus ácaros, fragmentos e dejetos provocam diversas manifestações alérgicas do aparelho respiratório humano, incluindo a asma. O ciclo biológico desses ácaros são o ovo, larva hexápoda, ninfa octópode e adultos ostópodos, o ciclo dura de 20 a 30 dias. As fêmeas botam até 50 ovos durante a vida. Podem viver em móveis de casa, assoalhos, guarda-roupas, cortinas. A profilaxia é higiene da casa, o tratamento é uso de sarnicidas e limpeza correta do domicílio. Parasitologia Clínica 47 RESUMINDO: As pulgas são insetos pertencente à ordem Siphonaptera, do grego “Siphon” – sifão e ápteros – sem asas. Não podem voar, mas podem pular cerca de 300 vezes a sua altura. São insetos que têm metamorfose completa. As fases de evolução são ovo, larva I, larva II, larva III, pupa e adultos. Existem oito famílias de pulgas no Brasil, porém apenas três são de importância médica: Pulex irritans, Xenopsylla cheopis e Tunga penetrans. Anoplura são hematófagos estritos e fazem o ciclo de vida completo no homem. Os anopluros são insetos conhecidos como piolhos. Considerados vetores de devastadores surtos de doença no período da Primeira Guerra Mundial e durante os anos 30 e 40 do século passado. São responsáveis pelas doenças de tifo exantemático, febre das trincheiras e a febre recorrente. Os aracnídeos são artrópodes com corpo fundido cefalotórax e abdômen, possuem 4 pares de patas e não possuem antenas. Esse grupo é representado pelas aranhas, escorpiões, carrapatos e ácaros. Carrapatos: são ectoparasitas obrigatórios que se alimentam de sangue. A febre maculosa, doença de Lyme e Powassan são doenças transmitida pelo carrapato. Parasitologia Clínica 48 Aspectos de Diagnóstico de Doenças OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você saberá descrever as doenças consideradas epidemias no Brasil, ocasionadas pelo mosquito Aedes aegypti e Aedes albopictus, são doenças negligenciadas e temperaturas altas favorecem a proliferação do mosquito, consideradas preocupação de Saúde Pública no Brasil. Além disso, neste tópico vai ser relatado os métodos de diagnósticos para investigação das parasitoses. Doenças Transmitidas por Aedes aegypti e Aedes albopictus O Aedes aegypti é o nome científico de um mosquito ou pernilongo que transmite a dengue, febre amarela urbana, além da zika e da chikungunya, doenças chamadas de arboviroses. Possui uma característica que o diferencia dos demais mosquitos, que é a presença de listras brancas no tronco, cabeça e pernas. O Aedes aegypti não é um mosquito nativo. Originário da África, já foi eliminado do Brasil na história do controle da dengue em 1955, retornando em 1976 por falhas de cobertura de ações do controle. Provavelmente, teve sua reintrodução por meio de fronteiras e portos e alcança altas infestações em domicílios localizados em regiões com altas temperaturas e umidades, principalmente na época chuvosa e quente (verão), típica de países tropicais como o Brasil. Nos dias atuais, é considerado epidemia no Brasil, o Ministério da Saúde divulgou um boletim em que apresenta 30 mil casos prováveis de dengue registrados nas primeiras semanas de 2020. O Centro-Oeste é a região mais afetada, com 32,5 casos a cada 100 mil habitantes. O estado de São Paulo registra 10.271 casos prováveis (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020). Parasitologia Clínica 49 IMPORTANTE: A dificuldade do controle do mosquito no Brasil é a não uniformidade do cumprimento das diretrizes do programa de controle da dengue, Zika e Chikungunya em todos os municípios, além da incapacidade da vigilância epidemiológica e entomológica em eliminar todos os focos (criadouros) possíveis existentes em todas as regiões de todas as cidades brasileiras. Por isso, a participação social é fundamental. É necessário que cada um faça sua parte, eliminando todos os possíveis focos de proliferação do mosquito. O mosquito Aedes aegypti é de cor preta com listras brancas e mede menos de 1 centímetro. O ciclo de vida do mosquito Aedesaegypti compreende quatro fases: ovo, larva, pupa e adulto. Os ovos são depositados em condições adequadas, ou seja, em lugares quentes e úmidos, preferencialmente em lugares próximos a linha d’água, em recipientes como latas e garrafas vazias, pneus, calhas, caixas d’água descobertas, pratos sob vasos de plantas dentro ou nas proximidades das casas, apartamentos, hotéis, ou em qualquer local com água limpa parada. Apesar disso, alguns estudos apontam focos do mosquito em água suja também. O macho alimenta-se de seivas de plantas. A fêmea, no entanto, necessita de sangue humano para o amadurecimento dos ovos, que são depositados separadamente nas paredes internas dos objetos, próximos a superfícies de água, local que lhes oferece melhores condições de sobrevivência. A fêmea faz postura de ovos a cada repasto de sangue e conseguem liberar até 70 ovos em cada postura. Os ovos têm 1 mm de comprimento e, após a fecundação, o embrião demora 48 horas para o desenvolvimento, em condições de temperatura e umidade favoráveis. Segundo estudos em condições desfavoráveis, os ovos resistam até 450 dias sem o contato com a água. Dessa forma, a erradicação do mosquito torna-se muito difícil. Parasitologia Clínica 50 As larvas passam por 4 estágios de desenvolvimento que podem demorar semanas e se alimentam de matérias orgânicos presentes nos reservatórios, pupas não se alimentam e é, nesse momento, que ocorre a metamorfose, os adultos podem acasalar após 24 horas de terem emergido e um único acasalamento é suficiente para a fêmea. Uma única inseminação é suficiente para fecundar todos os ovos que a fêmea venha a produzir durante sua vida. A dispersão pelo voo ocorre dentro de 100 metros, porém a fêmea grávida em busca de local adequado para a oviposição pode voar até 3 metros. Compreenda melhor o ciclo de vida do mosquito Aedes aegypti, observando a Figura 21. Figura 21 – Ciclo biológico do mosquito Aedes aegypti Fonte: Brasil (2020). Parasitologia Clínica 51 As doenças são transmitidas pela fêmea que pica uma pessoa infectada e obtém o vírus atrás da saliva. A partir desse contato, ocorre a incubação do mosquito que fica infectado por toda a sua vida e pode e transmite para um outro indivíduo por meio da picada. O mosquito Aedes aegypti pode transmitir ao homem a dengue, febre amarela, chikungunya e zika. Dengue: é uma doença febril aguda que provoca dores intensas nos músculos e articulações. É um vírus do gênero Flavivírus da família Flaviviridae e existe 4 sorotipos: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. Uma vez infetado, o homem tem proteção imunológica contra o mesmo sorotipo e proteção temporário contra os outros três. No Brasil, duas espécies de mosquito podem transmitir a dengue, são elas: Aedes aegypti e Aedes albopictus. A dengue provoca febre, hemorragias, hepatomegalia e insuficiência circulatória. Muitas vezes a dengue pode ser assintomática. Febre amarela: é um vírus da família Flavivírus que provoca infecção grave. O período de incubação pode durar até 15 dias. A infecção inicial provoca febre alta, dores de cabeça e muscular, náuseas e vômitos, icterícia, hemorragia, insuficiência renal e hepática. Existe vacina para febre amarela, sendo a medida mais importante de prevenção e controle da doença. Chikungunya: é uma doença provocada pelo vírus da família Togarividae. É muito semelhante à dengue, provoca febre, dores musculares, dor de cabeça, náusea, cansaço e manchas na pele com coceira intensa e dor forte nas articulações com inchaço. As dores nas articulações podem durar anos. Zika: recente no Brasil, tem provocado muita preocupação, principalmente nas gestantes, por estar sendo associada às ocorrências de microcefalia em recém-nascidos. Sintomas: febre não muito alta, dor de cabeça, dor nas articulações, manchas vermelhas no corpo com coceira, vermelhidão nos olhos e cansaço, e podem durar até 7 dias, em algumas pessoas pode não ter nenhum sintoma. Parasitologia Clínica 52 IMPORTANTE: Atualmente, não há vacina disponível contra o vírus Zika. Por isso, é essencial que a população faça a sua parte. Se cada um agir corretamente e tomar todos os cuidados possíveis diários para evitar criadouros do mosquito Aedes aegypti, é possível evitar o Zika vírus, a microcefalia, a febre amarela, a dengue e a Chikungunya. Se você agir e fazer sua parte, é possível evitar! Aedes albopictus: é um mosquito muito semelhante ao Aedes aegypti e é transmissor das mesmas doenças. Onde o Aedes aegypti não é encontrado, o Aedes albopictus pode existir. As características de ambos mosquitos são praticamente as mesmas, ilustrado na Figura 22. Figura 22 – Aedes aegypti e Aedes albopictus Fonte: Wikimedia Commons Você, como um estudante da parasitologia, deve estar atualizado que o Ministério da Saúde convoca a população brasileira a continuar, de forma permanente, com a mobilização nacional pelo combate ao mosquito transmissor da dengue, Zika e Chikungunya, doenças que podem gerar outras enfermidades, como microcefalia e Guillain-Barré, o Aedes Aegypti. E devemos ressaltar a importância da atuação ativa de toda a população para se evitar possíveis criadouros em suas residências, escolas e ambientes de trabalho, somando esforços com as atividades de rotinas dos programas municipais e estaduais, cuide das suas casas e também do lote do vizinho, o mosquito Aedes mata e é considerado uma epidemia no Brasil. Parasitologia Clínica https://www.saude.gov.br/microcefalia 53 Métodos e Técnicas Usuais no Diagnóstico Parasitológico Para diagnosticar algumas parasitoses são utilizados exames de fezes, sangue, raspado cutâneo (exames parasitológicos de pele) e biopsia de tegumentos. Exame de fezes: o exame macroscópico permite verificar a consistência, odor, presença de muco, sangue e vermes adultos nas fezes, e exame microscópico permite visualizar cistos, trofozoítos ou oocistos de protozoários. O método quantitativo permite fazer a contagem de ovos nas fezes para avaliar a intensidade do parasitismo. E o exame de sangue pode diagnosticar com precisão a parasitose, podendo ser examinado o sangue ao microscópio sobre uma lâmina. Pode ser possível observar o parasito vivo, ou observar o parasita fixado e corado com a técnica do esfregaço. Raspado cutâneo (exames parasitológicos de pele), também é um exame que contribui para o diagnóstico, exame direto entre lâmina e lamínula associado ao uso de clarificadores: estágios evolutivos de ácaros causadores da sarna humana (Sarcoptes scabei) e fungos determinantes de lesões superficiais são as principais indicações diagnósticas por esta técnica. VOCÊ SABIA? Os materiais cutâneos (fragmentos de pele, pelo, unha, raspado cutâneo, crostas e pus) podem ser coletados com suab, agulha ou raspado e são encaminhados para identificação parasitológica, fúngica, bacteriana e viral, que são sempre auxiliares no diagnóstico dermatológico. Biopsia: procedimento simples no qual um pequeno fragmento da pele ou da mucosa é retirado para análise patológica. As biópsias cutâneas podem ser feitas com um “punch”, por “shaving”, curetagem ou Parasitologia Clínica 54 por excisão com bisturi. Todas as técnicas são precedidas por anestesia local, o procedimento não traz qualquer desconforto ou risco ao paciente. • Punch: um cilindro de superfície cortante que, ao ser girado rotatoriamente, aprofunda-se na pele e permite a remoção de um cone que pode alcançar até a gordura subcutânea, a ferida é pequena e é costurada (saturada) para cicatrização mais rápida. • Having: é feito com uma navalha que não causa corte profundo, remove um fragmento mais superficial da pele, mas mais extenso do que os removidos por punch. Essa maior extensão pode facilitar o estudo patológico das inflamações ou dos tumores de localização superficial, a cicatrização é mais rápida. • Curetagem: raspagem realizadapor meio de uma cureta que retira vários e pequenos fragmentos de pele, cicatrização muito rápida. • Excisão com bisturi: remove fragmentos que podem ter grande extensão e profundidade. É utilizada para remoção de tumores, de bolhas, de paniculites ou de outros processos inflamatórios profundos ou em áreas onde a excisão com bisturi gera melhores cicatrizes. Figura 23 – Simulação de biópsia Fonte: Wikimedia Commons Parasitologia Clínica 55 A biópsia, em casos dermatológicos, é realizada a fim de diagnosticar doenças de pele císticas, tumorais, inflamatórias, demonstração de procedimento da biópsia na Figura 23. A cultura de Leishmania pode ser realizada a partir do fragmento de tecido retirado na biópsia do bordo da lesão, que é semeado em meio específico. A coleta do material pode ser feita por meio de aspiração de material da lesão utilizando-se uma seringa de 5 ml com agulha de 25×8, na qual, após assepsia e anestesia local, a agulha é introduzida no bordo da lesão injetando-se cerca de 1-3 ml de salina estéril e, por meio de movimentos rotacionais, é possível aspirar o material, pode ser semeado em meio de cultura. Biópsia de baço e fígado: são procedimentos de elevado risco e só devem ser realizados em condições especiais. Face à maior simplicidade e ao menor risco ao paciente, o material de medula óssea é coletado por meio de punção do esterno, tíbia ou da crista ilíaca. Na Leishmaniose visceral, o agente etiológico é a L. chagasi, o qual são demonstradas em amostras de tecido obtidas por punção de vísceras (baço, fígado e medula óssea). Imunohistoquímica: é a união entre técnica imunoquímica envolvendo anticorpos de espécie pré-definidas com sistema de alta sensibilidade de detecção, o que resulta numa reação, com um produto colorido quando observado ao microscópio. O poder dessa técnica é a observação simultânea da morfologia do tecido, permitindo a integração da morfologia e das informações imunoterápicas. Métodos de Estudos dos Protozoários, Helmintos, Moluscos e Insetos Não existe um único método capaz de diagnosticar todas as formas parasitárias ao mesmo tempo. Os métodos gerais podem diagnosticar parasitas intestinais, porém outros métodos devem ser específicos para determinado parasita. Os métodos gerais são: Hoffman, Pons e Janer. Já os métodos específicos são MIF, Ritchie e Coprotest. Na maioria das vezes, um dos testes gerais é feito e, se necessário, também se utiliza algum teste específico. Parasitologia Clínica 56 Método de Hoffman, Pons e Janer: métodos de sedimentação espontânea que detecta ovos nas fezes, utilizando a coloração com lugol, é possível visualizar cistos de protozoários e larvas de helmintos. Esse método consiste em misturar as fezes com água e filtrar com gaze cirúrgica após repouso, a sedimentação dos restos fecais é colocada em uma lâmina, feito o esfregaço e observado no microscópio. Método de MIF: utiliza-se para diagnosticar ovos e larvas de helmintos, além de cistos de protozoários. É um método de centrifugação e sedimentação utilizando éter-mertiolate. Método de Ritchie: é uma técnica que utiliza formol-éter e visualiza cistos de protozoários, ovos e larvas de helmintos. É um processo simplificado e seguro de sedimentação por centrifugação. Método de Coprotest: o paciente adquire na farmácia o Coprotest que já vem com o conservador (formol a 10%), coloca as fezes no coletor, fecha o frasco, agita por 2 minutos para homogeneizar e as envia para o laboratório. Método de Willis-Mollay: também verifica ovos de helmintos e cistos de protozoários utilizando solução saturada de NaCl (cloreto de sódio), em água 30%. Esse método não é muito indicado, pois tem grande chance de contaminar todo o local de trabalho. Todos estes testes são realizados nas fezes. O sangue é examinado por método direto ou exame a fresco, e indireto, para os seguintes parasitas: Plasmodium, Microfilarias, Tripanossoma e Leishmania. A técnica mais comumente usada para exame de sangue é o esfregaço de sangue corado. VOCÊ SABIA? Para a rotina de microscopia de malária, um esfregaço fino e um espesso são feitos na mesma lâmina. Um esfregaço fino como indicação, se bem preparado, é também útil para confirmação de espécies. O esfregaço espesso deve ser usado para exame. Parasitologia Clínica 57 Os métodos diretos: exame a fresco ou direto, para esta técnica usa-se uma pequena gota de sangue, obtida por punção ou sangue venoso colhido com anticoagulante, adicionado entre lâmina e lamínula examinada com microscópio em objetiva de (40x). Porém, por ser uma pequena quantidade de sangue, o método precisa ser repetido várias vezes até encontrar e identificar o parasita. Preparações coradas, o esfregaço delgado e a gota espessa devem ser preparados e corados pelo método de Giemsa ou de Leishman. O exame do material corado permite, além da detecção, a diferenciação morfológica entre tripomastigotas sanguíneos de T. cruzi e T. rangeli e a identificação específica de Plasmodium spp. A desvantagem dos esfregaços corados é que, normalmente, requerem parasitemias elevadas para evidenciação do parasita. No entanto, a utilização de diferentes métodos parasitológicos isolados ou combinados, podem levar à detecção rápida e precoce da infecção, conforme a Figura 24, do esfregaço delgado para identificação de P. vivax. Figura 24 – Esfregaço de sangue para identificar P. vivax Fonte: Wikimedia Commons Métodos indiretos: hemocultura é uma técnica mais difícil de ser realizada uma vez que requer condições assépticas para a coleta e o manuseio da amostra de sangue, o que a torna pouco prática nos trabalhos Parasitologia Clínica 58 de campo. O T. cruzi é capaz de crescer e de multiplicar-se em diferentes meios de cultura acelulares que contenham derivados da hemoglobina. Xenodiagnóstico: é uma técnica perfeitamente aplicável para a pesquisa de campo e/ou isolamento de amostras de T. cruzi de pacientes ou animais. Esse método introduzido por Brumpt, em 1914, é largamente empregado ainda nos dias atuais no diagnóstico da doença de Chagas. Entretanto, sua utilização em pacientes pode ocasionar com certa frequência reações alérgicas decorrentes da saliva dos triatomíneos levando à rejeição do exame pelo paciente. Inoculação em animais de laboratório: a inoculação de camundongos ou cobaias jovens tem sido utilizada por alguns pesquisadores. Face aos avanços científicos atuais, essa metodologia não é mais empregada para o diagnóstico da infecção chagásica. Entretanto, a inoculação de animais pode ser perfeitamente utilizada para isolamento de amostras de T. cruzi, a partir de sangue positivo, tanto de pacientes como de outros reservatórios do parasita. Exames de tecidos também são usados, como amostras de pequenos pedaços de pele, que são examinados para ancorcerquíase (cegueira de rio), a infecção filarial de humanos. Os vermes vivem em nódulos, em tecidos subcutâneos. Diagnóstico imunológico das parasitoses: o método indireto de detecção de anticorpos produzidos pelo hospedeiro é de grande importância. A especificidade da resposta imunológica, por tanto dos anticorpos produzidos, é a característica que confere elevado valor preditivo aos testes imunológicos. Outra característica importante na padronização dos testes imunológicos é a estabilidades dos imunocomplexos formados, já que será a detecção desses imunocomplexos que permitirá identificar a presença de anticorpos na amostra obtida. Métodos utilizando ligantes: esses métodos utilizam substâncias químicas acopladas (conjugadas) a antígenos ou anticorpos, que passam a ter a característica mensurável da substância química. De acordo com as características do ligante, os testes são classificados em: fluorescentes, enzimáticos, radioativos e luminescentes. Parasitologia Clínica 59 Imunofluorescência: uma técnica que permite a
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