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Objetivo do capítulo Compreender as doenças de interesse para a Parasitologia Clínica, os mecanismos de contaminação e as características das doenças. ESQUISTOSSOMOSE • Características do agente etiológico e do vetor biológico • Características do ciclo de desenvolvimento • Mecanismos de contaminação e fi siopatologia da doença • Métodos de diagnóstico e tratamento FASCIOLÍASE • Características do agente etiológico • Características do ciclo de desenvolvimento • Mecanismos de contaminação e fi siopatologia da doença • Métodos de diagnóstico e tratamento CESTOIDES PARASITAS DO HOMEM • Características do agente etiológico • Características do ciclo de desenvolvimento • Mecanismos de contaminação e fi siopatologia da doença • Métodos de diagnóstico e tratamento AS TENÍASES • Características dos agentes etiológicos • Características do ciclo de desenvolvimento • Mecanismos de contaminação e fi siopatologia da doença • Métodos de diagnóstico e tratamento TÓPICOS DE ESTUDO PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 119 Os helmintos são animais de corpo achatado dorso-ventralmente e com tegumento de- licado, sem cutícula. Entre aqueles que parasitam o homem e outros animais, a maio- ria tem ciclo biológico heteroxênico e desenvolvimento indireto, ou seja, passam pelos estágios de ovo, larvas e adultos. De acordo com o aspecto da anatomia externa, o fi lo Platyhelminthes é dividido em duas classes: Trematoda e Cestoda. Diante desse cenário, surge uma questão importante: Quais são as características morfológicas das classes Trematoda e Cestoda? Contextualizando o cenário PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 120 Esquistossomose5.1 A esquistossomose mansônica é uma doença que acomete milhões de pessoas dos conti- nentes africano e americano e que estão relacionadas aos vetores, os caramujos da família Pla- norbidae. A doença é conhecida no Brasil como xistose, barriga-d'água ou mal-do-caramujo. Os parasitos chegaram ao continente americano durante o período colonial, com o tráfi - co de escravizados. Indivíduos contaminados eliminaram os ovos junto com as fezes, assim, considerando os fatores ambientais propícios e a presença dos hospedeiros intermediários, a doença se instalou em algumas regiões das Américas, nas quais se tornou endêmica. Características do agente etiológico e do vetor biológico5.1.1 Schistosoma mansoni é um platelminto da classe Trematoda, família Schistomatidae, dióico, com dimorfi smo sexual, que parasita as veias do mesentério humano. A espécie foi des- crita pela primeira vez em 1907, de maneira independente por Sambon, em Londres, e Pirajá da Silva, no Brasil. O parasito passa por várias fases durante o ciclo biológico: adultos machos e fêmeas, ovo, miracídio, esporocisto e cercária. ESCLARECIMENTO: Schistosoma mansoni foi encontrado nos vasos sanguíneos por Bilharz, em 1852, duran- te uma necropsia, e o nome do gênero Schistosoma foi dado por Weinland, em 1858, porque o macho tem as extremidades laterais dobradas (schisto = fenda; soma = corpo). foi encontrado nos vasos sanguíneos por Bilharz, em 1852, duran- foi encontrado nos vasos sanguíneos por Bilharz, em 1852, duran- foi encontrado nos vasos sanguíneos por Bilharz, em 1852, duran- foi dado por Weinland, em 1858, soma = corpo). soma = corpo). soma foi encontrado nos vasos sanguíneos por Bilharz, em 1852, duran- foi encontrado nos vasos sanguíneos por Bilharz, em 1852, duran- foi encontrado nos vasos sanguíneos por Bilharz, em 1852, duran- foi dado por Weinland, em 1858, foi encontrado nos vasos sanguíneos por Bilharz, em 1852, duran- foi dado por Weinland, em 1858, foi dado por Weinland, em 1858, foi dado por Weinland, em 1858, foi dado por Weinland, em 1858, Estágios do Schistosoma mansoni encontrados no homem: • Macho: mede cerca de um centímetro, é esbranquiçado e tem o corpo recoberto por pro- tuberâncias responsáveis pela absorção dos nutrientes. A região anterior tem duas ventosas: oral e ventral, também chamada acetábulo. Na região posterior, que se inicia logo após a ven- tosa ventral, há uma dobra do tegumento, na qual repousa a fêmea e se chama canal ginecófo- ro. O casal vive em cópula, uma vez que os espermatozoides saem diretamente do poro genital para o orifício genital da fêmea. • Fêmea: é maior do que o macho, medindo aproximadamente 1,5 cm, e tem o tegumento liso e mais escuro, uma vez que recebe o alimento semidigerido. Assim como no macho, há ventosa oral e acetábulo na metade anterior, seguindo-se a vulva, o útero – que contém um ou dois ovos – e o ovário. A parte posterior contém glândulas vitelogênicas (ou vitelinas) e o ceco. PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 121 Figura 1. Casal de Schistosma mansoni em cópula. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 02/09/2019. • Ovo: mede 150 por 60 μm, é oval, não tem opérculo, é transparente e apresenta um es- pículo na parte anterior, voltado para trás. O processo de embriogênese ocorre no percurso entre as veias do mesentério, onde ocorre a oviposição, e o intestino grosso. Por isso, os ovos eliminados com as fezes já são larvados. Cerca de 50% dos ovos são dispersos pela circulação e encaminham-se para o fígado, baço e outros órgãos, nos quais desencadearão resposta in- flamatória granulomatosa. Estágios do Schistosoma mansoni encontrados no meio ambiente e nos hospedeiros inter- mediários: • Miracídio: larva cilíndrica, com 180 por 64 μm, apresenta cílios para movimentar-se no meio aquático. Possui uma papila apical, ou terebratorium, que participa do processo de pe- netração no caramujo, que é o hospedeiro intermediário desse parasito, por meio de termi- nações das glândulas adesivas (anteriormente chamadas "glândulas de penetração") e de um conjunto de cílios e espículos anteriores, e, ainda, terminações nervosas com funções tácteis e sensoriais. Na parte posterior do miracídio, existem 50 a 100 células germinativas, que darão origem às cercárias no caramujo. • Cercárias: larva formada no caramujo, do qual saem para nadar em busca do hospedeiro de- finitivo, que é o homem. O corpo, que mede 500 mm, é dividido em cabeça e cauda bifurcada, com duas ventosas: oral, que contém as terminações das glândulas de penetração, e ventral ou acetábulo, cuja musculatura é mais desenvolvida, proporcionando a fixação da cercaria na pele do hospedeiro. PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 122 Figura 2. Ovo de Schistosoma mansoni em amostra de fezes. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 02/09/2019. Figura 3. Ovo calcificado de Schistosoma mansoni no fígado. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 02/09/2019. Os hospedeiros intermediários e vetores do S. mansoni são os caramujos do gênero Biomphalaria, os quais apresentam concha com até 40 μm de diâmetro. Possuem hemolin- fa vermelha devido à hemoglobina, sistemas respiratório, circulatório, digestivo, excretor e nervoso. Atingem a maturidade sexual aos 30 dias de idade, quando iniciam a oviposição após autofecundação ou fecundação cruzada, posto que são hermafroditas. Aproximada- mente 100 ovos são envolvidos em massas gelatinosas, depositadas sobre plantas, pedras, madeira, concha de outros moluscos, plástico e isopor. A eclosão ocorre sete dias após a oviposição. Habitam, preferencialmente, coleções de água doce que apresentem pouca turbidez e com velocidade lenta da água, com leito raso, lodoso ou rochoso e vegetação próxima das margens. As principais espécies de planorbídeos hospedeiros do S. mansoni, no Brasil, são: • Biomphalaria glabrata: com 40 mm de diâmetro, apresenta seis a sete giros e uma pe- culiaridade anatômica interna: uma crista renal pigmentada ao longo da superfície ventral do tubo renal dos adultos. Distribui-se numa faixa contínua em todos os estados brasileiros desde PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 123 o Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul, além do Pará, Maranhão e Piauí. É o vetor mais efi ciente da esquistossomose mansoni nas Américas e um único exemplar infectadomilímetros a dezenas de centímetros. Todos os nematoides passam por diferentes estágios durante o ciclo biológico: ovo, larvas de diferentes está- dios e adulto. Os ovos contêm três membranas e o embrionamento para formação da larva de primeiro estádio (L1 rabditoide) ocorre dentro deles, sendo que a eclosão pode se dar dentro do hospedeiro ou no meio ambiente. A infecção humana pode ocorrer pela ingestão de ovos ou pela penetração de larvas fi larioides na pele. Diante desse cenário, surge uma questão importante: os nematoides podem ser transmitidos por contato di- reto de um hospedeiro contaminado para outro suscetível? Contextualizando o cenário PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 150 Estrongiloidíase6.1 A estrongiloidíase é uma doença intestinal provocada pelo Strongyloides stercoralis, um pa- rasita cuja distribuição é mundial, mas predominante nas áreas de clima tropical. Várias espé- cies de mamíferos podem ser infectadas por essa espécie. Contudo, há diferenças genotípicas entre algumas delas. A elevada prevalência, a facilidade de transmissão e o caráter crônico da doença, além da possibilidade de autoinfecção e desenvolvimento da forma disseminada da doença com evolução ao óbito faz com que essa doença seja um importante problema médico e social (NEVES, 2016). É importante notar que os termos rabditoide e fi larioide se referem ao aspecto do esôfago das larvas dos nematoides. O esôfago rabditoide apresenta duas dilatações, nas extremidades e uma constrição no meio e é típico das larvas de primeiro e segundo estádio. O esôfago fi la- rioide é retilíneo, característico das larvas L3. Características do agente etiológico 6.1.1 Os estágios morfológicos exibidos por Strongyloides stercoralis são: ovo, larva e adultos ma- cho e fêmea. Há, entretanto, duas formas morfológicas distintas para as fêmeas de acordo com o habitat: fêmeas partenogenéticas, no intestino delgado humano, e fêmeas de vida livre, no solo e no esterco. As fêmeas partenogenéticas apresentam autonomia reprodutiva e seus óvulos não dependem da fecundação para continuarem a divisão e formar o embrião. Esse tipo de reprodução assexuada se chama partenogênese, associada ao gene c-mos. O macho é menor que a fêmea e mede 0,7 mm de comprimento, apresentando a extre- midade posterior encurvada ventralmente. Apresenta um testículo, um canal deferente e um canal ejaculador que se abre na cloaca. Dois espículos pequenos e móveis, guiados pelo gu- bernáculo – uma estrutura quitinizada presente na parede da cloaca –, auxiliam o macho durante a cópula. Os machos são encontrados exclusivamente no meio ambiente. Assim como as fêmeas de vida livre, vivem em solo úmido e alimentam-se de detritos, não resistindo à des- secação e a variações da temperatura, sobretudo ao frio. Os ovos são elípticos, com parede fi na e transparente. Medem de 40 a 70 mm e apresentam a casca muito delgada, fi cando com a aparência de larvas. São produzidos pelo acasalamento dos ma- chos e fêmeas de vida livre, sendo encontrados no solo. As fêmeas parasitas realizam a oviposição no intestino delgado, mas a eclosão das larvas ocorre ainda no hospedeiro, de modo que os ovos só serão observados nas fezes do indivíduo parasitado, caso apresente diarreia. Em casos de estron- giloidíase disseminada, é possível encontrar os ovos nos líquidos corporais (BISOFFI et al., 2013). PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 151 Figura 1. (a) Ovos embrionados de Strongyloides stercoralis no lavado brônquico de um paciente com estrongiloidíase disseminada com evolução fatal; (b) fêmeas de vida livre de S. stercoralis, com ovos no interior do corpo; e (c) larvas fi larioides (L3) de S. stercoralis em amostra de solo úmido. Fonte: BISOFFI et al., 2013; CDC, 2019. (Adaptado). A descrição das fêmeas e das larvas rabditoides e fi larioides está disposta nos Diagramas 1 e 2, respectivamente, para a comparação das caraterísticas. Diagrama 1. Características das fêmeas parasitas partenogenéticas e de vida livre de S. stercoralis FÊMEA PARASITA PARTENOGENÉTICA FÊMEA DE VIDA LIVRE Corpo fi liforme longo. Mede de 1,7 a 2,5 mm de comprimento por 0,03 mm de largura; extremidade anterior arredondada e posterior afi liada; cutícula fi na, transparente e comestrias fi nas. Corpo fusiforme. Mede de 0,8 a 1,2 mm de comprimento por 0,05 a 0,07 mm de largura; extremidade anterior arredondada e porterior afi lada; cutícula fi na, transparente e com estrias fi nas. Boca com três lábios; esôfago longo fi larioide, ocupa 1/3 do parasito, circundado pelo anel nervoso na porção terminal; ânus próximo à extremidade posterior. Boca com três lábios; esôfago curto rabditoide, dividido em três porções, circundado por anel nervoso na última porção; ânus próximo à extremidade posterior. Ovários, útero anfi delfo, ovidutos e vulva, localizada no terço posterior; ausência de receptáculo seminal. Reprodução assexuada por partenogênese. Ovovivipara, elimina 30 a 40 ovos por dia. Ovários, útero anfi delfo, ovidutos e vulva, localizada no meio do corpo; presença de receptáculo seminal. Há cópula, porém o nú- cleo do gameta masculino não se funde ao feminino (pseudogamia). Ovovivípara, elimina aproximada- mente 28 ovos por dia. Vivem mergulhadas nas glândulas de Liberkun e em outras regiões da mucosa do duodeno jejuno. Nas formas graves, habitam desde a porção pilórica do esôfago até o intestino grosso. Vive em esterco e terra úmida, alimentando-se de detritos. PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 152 Diagrama 2. Características das larvas rabditoides L1 e L2 e fi larioides L3 de S. stercoralis LARVAS RABDITOIDES: ESTÁDIOS L1 E L2 L1 eclode dos ovos ainda no intes- tino, onde também se diferenciam em L2; medem de 0,2 a 0,3 mm. Vestíbulo bucal curto, menor que o diâmetro apresentado pela larva – característica importante para diferenciação das larvas rabditoides dos ancilostomídeos. Esôfago rabditoide. Extremidade posterior afi lada. Primórdio genital evidente. Cauda pontiaguda. L1 e L2 são encontradas nas fezes dos indivíduos contaminados (25 larvas por grama) e exibem movimentos ondulatórios. Nos casos de estrongiloidíase disseminada, também na bile, escarro, urina, líquidos pleural, duodenal e cefalorraquidiano. FÊMEA DE VIDA LIVRE Diferenciam-se a partir das L2, no intestino grosso ou no ambiente. Medem de 0, 35 a 0,50 mm, vestígio bucal curto e ânus no último terço do comprimento. Esôfago fi larioide, longo, atinge o primeiro terço do corpo da larva. Extremidade posterior afi lada. Cauda entalhada, termina em duas pontas. Larvas fi larioides podem se diferenciar ainda no hospedeiro e ser encontradas no exame de fezes ou no meio ambiente. Figura 2. Estágios morfológicos do Strongyloides stercoralis. Adultos fêmea parasita partenogenética, fêmea de vida livre, macho de vida livre e ovo e os estádios larvários L1 e L3, rabditoide e fi larioide, respectivamente. Legenda: an – ânus; bo – boca; ca – cauda enta- lhada; cl – cloaca; ep – espículo; es – esôfago; in – intestino; ov – ovário; pg – primórdio genital nítido; te – testículo; ut – útero divergen- te; vb – vestíbulo bucal curto; vu – vulva. Fonte: NEVES, 2016. (Adaptado). PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 153 Características do ciclo de desenvolvimento6.1.2 O ciclo biológico do S. stercoralis é monoxênico. O parasito pode ter um ciclo de vida livre ou de vida parasitária. No ciclo de vida livre, as larvas rabidtoides liberadas nas fezes humanas, em contato com o solo, podem seguir dois caminhos diferentes: • Ciclo indireto – as larvas rabditoides passam por quatro ecdises até se diferenciarem em adultos machos e fêmeas. Nesse caso, o acasalamento e a oviposição ocorrem no solo, no qual há a eclosão das larvas rabditoides L1 e ecdises até formar a larva L3, fi larioide. Essas, então, poderão se diferenciar em adultos machos e fêmeas de vida livre, mantendo o ciclo no meio ambiente; ou retornar à vida parasitária ao penetrara pele ou a mucosa do hospedeiro; • Ciclo direto – as larvas rabditoides realizam a mudança para larvas fi larioides e infectam outro hospedeiro, reiniciando o ciclo parasitário. O ciclo parasitário ocorre quando a larva fi larioide penetra na pele humana, usando, para isso, metaloproteases. Elas caem na corrente sanguínea e linfática e são transportadas para o átrio e o ventrículo direito do coração, de onde são transportadas pela artéria pulmonar até os pulmões. A ecdise para o estádio L4 ocorre nos capilares pulmonares. Essas larvas sobem a árvore brônquica com auxílio dos movimentos ciliares do epitélio e das secreções brônquicas e atingem a faringe. Então, elas podem ser eliminadas pela expectoração ou deglutidas. No úl- timo caso, alcançam o intestino delgado e atingem a forma adulta de fêmea partenogenética. As fêmeas vivem imersas na mucosa do duodeno e do jejuno, alimentando-se e realizan- do as desovas de ovos embrionados, produzidos por partenogênese, isto é, sem que tenha ocorrido fecundação. Tão logo haja a oviposição, ocorre a eclosão das larvas rabditoides de primeiro estádio (L1). Essas larvas, assim como as L2 e L3, podem ser liberadas nas fezes, por- que as ecdises de L1 para L2, e desta para L3, é muito rápida e encontra recursos no próprio hospedeiro para ocorrer. As larvas L3 podem reinfectar o paciente. Mecanismos de contaminação e fi siopatologia da doença6.1.3 A via de contaminação é a penetração da pele ou da mucosa pela forma infectante do S. stercoralis, a larva fi larioide L3. Pode haver autoinfecção interna, quando as larvas fi larioides penetram a mu- cosa do íleo ou cólon, geralmente quando o trânsito intestinal estiver lento e a ecdise ocorrer ainda no interior do intestino. No caso da autoinfecção externa, a penetração das larvas L3 ocorre na região perianal, geralmente em decorrência do contato com as fezes de usuários de fraldas ou em condições inadequadas de higienização após a evacuação. PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 154 A estrongiloidíase é, frequentemente, assintomática. Contudo, os indivíduos doentes podem apresentar lesões urticariformes, maculopapulares, serpiginosa ou linear pruriginosa mi- gratória em resposta à penetração das larvas. A passagem das larvas pelos pulmões causar síndro- me de Löffl er, que consiste em tosse seca, dispneia, broncoespasmo e edema pulmonar. É possível que as larvas se tornem adultos ainda nos pulmões e realizem a postura dos ovos nesse órgão, au- mentando ainda mais o número de larvas e sintomas pulmonares. Na forma disseminada da doença, as larvas podem ser encontradas no derrame pleural, pericárdico e no escarro (REY, 2013). A estrongiloidíase intestinal pode apresentar-se com média ou grande intensidade, sendo frequen- te os casos de dor abdominal acompanhada por fl atulência e diarreia. Pode evoluir para anorexia, náusea, vômitos e dor epigástrica semelhante à úlcera gástrica. A doença não tratada, em pacientes imunocompetentes, evolui para fase crônica e é acompanhada por aumento do peristaltismo e alte- rações da mucosa intestinal, que fi ca congestionada e edemaciada. A autoinfecção pode provocar aumento considerável no número de parasitas e determinar a es- trongiloidíase disseminada, que é uma forma grave da doença, associada a quadros de imunode- pressão e leva ao óbito. O paciente pode apresentar, além dos sintomas intestinais e pulmonares anteriormente descritos, diarreias profusas, hemoptise, angústia respiratória e febre (REY, 2013). As lesões intestinais são de ordem mecânica, histolítica e irritativa. Métodos de diagnóstico e tratamento6.1.4 O diagnóstico da estrongiloidíase requer exame parasitológico de fezes, do escarro ou do la- vado gástrico, por meio de metodologias específi cas para identifi cação das larvas. Os métodos empregados são os de Baermann-Moraes, o de Rugai, Mattos e Brisola e o de Harada-Mori, sendo o último utilizado quando se deseja diferenciar as larvas de Strongyloides das de ancilos- tomídeos. Os testes imunológicos, como imunofl uorescência indireta, ELISA e hemaglutinação indire- ta, auxiliam, mas não comprovam a infecção. A reação intradérmica é sensível, mas não pode ser usada como controle de cura, uma vez que permanece positiva após a eliminação dos pa- rasitos. Exames de imagem do intestino delgado podem auxiliar no diagnóstico. O tratamento da estrongiloidíase é realizado com: • Cambendazol – 5 mg/kg, em dose única, via oral para adultos e crianças, atuando sobre as larvas e fêmeas partenogenéticas; • Tiabendazol – atuando apenas sobre as fêmeas partenogenéticas, com vários esquemas terapêuticos: • 25 mg/kg/dia, de cinco a sete dias; PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 155 • 50 mg/kg/dia, em dose única, à noite; • 10 mg/dia, por 30 dias para os casos de autoinfecção interna e pacientes com imunode- ficiência da imunidade celular; • Albendazol – 40 mg/dia, por três dias, contraindicado para gestantes; • Ivermectina – dose única, via oral, nas dosagens de acordo com o peso do paciente: • Entre 15 a 24 kg – ½ comprimido; • Entre 25 e 35 kg – 1 comprimido; • Entre 36 e 50 kg – 1 ½ comprimidos; • Entre 51 e 65 kg – 2 comprimidos; • Entre 65 e 79 kg – 2 ½ comprimidos; • 80 kg – 3 comprimidos ou 200 mg/kg. Há necessidade de realização do controle de cura após o tratamento, por meio de três exa- mes parasitológicos de fezes, após 7, 14 e 21 dias do tratamento. As características epidemiológicas que favorecem a ocorrência de estrongiloidíase são asso- ciadas aos climas tropicais e subtropicais. De acordo com a prevalência da doença, as áreas são definidas como esporádica (menor que 1%), endêmica (de 1 a 5%) e hiperendêmica (maior que 5%). Cães, gatos e macacos são reservatórios naturais de S. stercoralis e o contato com esses ani- mais favorece a transmissão da doença. A doença prevalece entre trabalhadores da área agrícola e crianças. No Brasil, a estrongiloidíase atinge predominantemente crianças e adolescentes de 0 a 15 anos de idade. Os Estados que mais frequentemente a diagnosticam são Minas Gerais, Amapá, Goiás e Rondônia (BRASIL, 2010; NEVES, 2016). A profilaxia da estrongiloidíase se baseia na redução da fonte de infecção, realizada por meio do tratamento sanitário adequado das fezes e do uso de calçados pela população. O tratamento em massa da população de áreas de alta endemicidade da doença é recomendado por alguns autores, mas ainda não é uma prática adotada em todos os lugares. Os animais domésticos, que são reservatórios do parasito, devem ser tratados. Pacientes imunossuprimidos e aqueles que recebem tratamento com drogas imunossupressoras devem realizar exames a fim de diagnosti- car o parasito e iniciar o tratamento, caso infectados (BRASIL, 2010; NEVES, 2016). PAUSA PARA REFLETIR As parasitoses intestinais provocadas por nematoides são veiculadas por meio da contami- nação do meio ambiente com fezes humanas e, em alguns casos, por contato pessoa-pes- soa. Quais são as vias usuais de contaminação por esses nematoides e as respectivas formas contaminantes? PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 156 Ancilostomose6.2 A ancilostomose humana é uma doença intestinal de ampla distribuição mundial, pro- vocada pelo Ancylostoma duodenale e pelo Necator americanos. No entanto, prevalece nas regiões de clima tropical, uma vez que a embriogênese e as ecdises das larvas necessitam de contato com o solo úmido. A doença pode se tornar crônica levando à anemia, pois esses nematoides se alimentam de alta quantidade de sangue. Recentemente, foi mostrado que o Ancylostoma ceylanicum, responsável pela ancilostomose canina, também pode infectar hu- manos, sem, contudo, alcançar maturidade sexual (REY, 2013; NEVES, 2016). Características do agente etiológico6.2.1 A ancilostomose humana é desencadeada por duas espécies de ancilostomídeos: Ancy- lostoma duodenale, mais frequente nas regiões de clima temperado, e Necator americanus, que prevalece nas regiõestropicais, como o Brasil. Esses parasitos têm a boca adaptada para a hematofagia, pois alimentam-se exclusivamente de sangue. São cilindriformes, apresentam sexo separado e acentuado dimorfismo sexual. Os machos são sempre me- nores que as fêmeas. As duas espécies de parasitos passam pelos estágios de ovo, larvas rabditoides L1 e L2, larva filarioide L3, larvas L4 e adultos macho e fêmea. Os ovos das duas espécies são elípticos, transparentes e sem segmentação ou clivagem quando eliminados nas fe- zes. Medem 60 mm por 40 µm nos diâmetros maior e menor, respectivamente. Eles são idênticos morfologicamente. A embriogênese acontece no meio ambiente e depende do contato com o solo, sob condições de temperatura, umidade e oxigenação elevada e for- ma a larva rabditoide L1. Nesse ambiente terrestre, ainda acontecem duas ecdises para a formação das larvas L2 e l3. As características morfológicas dessas larvas são: • Larvas L1 rabditoides – apresentam esôfago rabditoide, mede 300 µm de compri- mento e apresenta bainha; movimentam-se ativamente, executando movimentos ser- pentiformes, e alimentam-se de detritos e microrganismos encontrados no solo; • Larvas L2 rabditoides – apresentam esôfago rabditoide, medem 400 µm e apresen- tam restos de bainha; também se alimentam de detritos e microrganismos encontrados no solo; • Larvas L3 filarioide – apresentam esôfago filarioide, medem 600 µm e mantêm uma cutícula externa sob a cutícula velha, de modo a obliterar a cavidade bucal; são as formas infectantes. PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 157 Diagrama 3. Características morfológicas dos ancilostomídeos Necator americanus e Ancylostoma duodenale Figura 3. Ovo de ancilostomídeo em amostra de fezes. Fonte: INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS, 2019. As características morfológicas que diferenciam as duas espécies de ancilostomídeos estão descritas no Diagrama 3. Necator americanus Ancylostoma duodenale Cápsula bucal com duas lâminas cortantes; extremidade anterior recurvada dorsoventralmente. Cápsula bucal grande, profunda, com três pares de dentes: dois pares ventrais e um par subventral. Fêmeas: 9-11 mm x 350 de mm de largura; extremidade posterior afilada: vulva no terço anterior do corpo e ânus antes do final. Fêmeas: 10-18 mm de comprimento por 600 mm de largura; extremidade posterior afilada; vulva no terço posterior do corpo. Machos: 5-9 mm comprimento por 300 µm de largura; extremidade posterior com bolsa copuladora com lobo dorsal simétrico aos dois laterais, sem gubernáculo. Machos: 8-11 mm de comprimento por 400 µm de largura; extremidade posterior com bolsa copuladora bem desenvolvida, com gubernáculo. PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 158 Características do ciclo de desenvolvimento6.2.2 O ciclo biológico dos ancilostomídeos é monoxênico. A larva fi larioide penetra na pele e na mucosa conjuntiva do homem. A infecção pode também ocorrer por via oral (NEVES, 2016). As larvas L3 liberam enzimas que facilitam a invasão da pele, completada em 30 minutos. Então, as larvas alcançam a circulação sanguínea e linfática, e chegam ao coração. Desse ponto, são levadas pelas artérias pulmonares para os pulmões, onde passam por nova ecdise e se dife- renciam em larvas L4 após dois a sete dias. Essas larvas chegam aos alvéolos e são empurradas pelos cílios para a árvore brônquica, a traqueia, a faringe e a laringe, e são deglutidas. As larvas L4 chegam ao intestino delgado oito dias após ter ocorrido a infecção, fi xam a cápsula bucal na mucosa do duodeno e iniciam a hematofagia. Então, ocorre a última ecdise e passam do estádio de larva L4 para L5 e, 30 dias após a infecção, as larvas completam a maturação, diferenciando-se em adultos macho ou fêmea. Ocorre o acasalamento e a oviposição dos ovos não segmentados, os quais são elimi- nados junto com as fezes (NEVES, 2016; REY, 2013). Figura 4. Exemplares de ancilostomídeos adultos: (a) Necator americanus; (b) Ancylostoma duodenale; (c) cápsula bucal do Necator americanus; (d) cápsula bucal de Ancylostoma sp., mostrando os pares de dentes. Fonte: INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS, 2019. (Adaptado). A C D B PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 159 A embriogênese acontece no meio ambiente e depende do contato com o solo, sob condi- ções de temperatura, umidade e oxigenação elevada. A larva rabditoide L1 eclode do ovo 12 horas após o contato com o solo, possui movimentos serpentiformes e alimenta-se de detri- tos e microrganismos encontrados no solo. Depois de três ou quatro dias, ocorre ecdise para larvas L2, também rabditoides. Dentro de mais cinco dias, ocorre a última ecdise das larvas no meio ambiente, para formar as larvas L3, fi larioides, as quais têm geotropismo negativo, hidrotropismo, termotropismo e tigmotropismo positivo. Essas caraterísticas das larvas são fundamentais para o sucesso da infecção. Por haver necessidade do solo para completar a embriogênese, os ancilostomídeos estão incluídos no grupo dos geo-helmintos. ESCLARECIMENTO: O termo geo-helmintos se refere aos helmintos intestinais cuja evolução depende do contato com o solo. Assim, os ovos dos ancilostomídeos, de Ascaris lumbricoides e de Trichuris trichiura eliminados com as fezes humanas, contêm células embrionárias, mas a embriogênese fi ca interrompida até que alcancem o solo. Então, haverá formação da larva L1 que eclode nos ancilostomídeos para passar por duas ecdises formando L2 e L3, que infecta o homem por penetração na pele e mucosas. Já as ecdises para forma- ção de L2 e L3 ocorrem no interior dos ovos de A. lumbricoides e de T. trichiura. eliminados com as fezes humanas, contêm células embrionárias, mas eliminados com as fezes humanas, contêm células embrionárias, mas O termo geo-helmintos se refere aos helmintos intestinais cuja evolução depende do e de eliminados com as fezes humanas, contêm células embrionárias, mas a embriogênese fi ca interrompida até que alcancem o solo. Então, haverá formação da larva L1 que eclode nos ancilostomídeos para passar por duas ecdises formando L2 e a embriogênese fi ca interrompida até que alcancem o solo. Então, haverá formação da larva L1 que eclode nos ancilostomídeos para passar por duas ecdises formando L2 e L3, que infecta o homem por penetração na pele e mucosas. Já as ecdises para forma- A. lumbricoides e de T. trichiura O termo geo-helmintos se refere aos helmintos intestinais cuja evolução depende do Ascaris lumbricoidesAscaris lumbricoidesAscaris lumbricoidesAscaris lumbricoidesAscaris lumbricoidesAscaris lumbricoides eliminados com as fezes humanas, contêm células embrionárias, mas a embriogênese fi ca interrompida até que alcancem o solo. Então, haverá formação da larva L1 que eclode nos ancilostomídeos para passar por duas ecdises formando L2 e eliminados com as fezes humanas, contêm células embrionárias, mas eliminados com as fezes humanas, contêm células embrionárias, mas a embriogênese fi ca interrompida até que alcancem o solo. Então, haverá formação da a embriogênese fi ca interrompida até que alcancem o solo. Então, haverá formação da a embriogênese fi ca interrompida até que alcancem o solo. Então, haverá formação da larva L1 que eclode nos ancilostomídeos para passar por duas ecdises formando L2 e larva L1 que eclode nos ancilostomídeos para passar por duas ecdises formando L2 e larva L1 que eclode nos ancilostomídeos para passar por duas ecdises formando L2 e L3, que infecta o homem por penetração na pele e mucosas. Já as ecdises para forma-L3, que infecta o homem por penetração na pele e mucosas. Já as ecdises para forma- 1 - Ovo nas fezes 2 - Larva rabditoide 3 - Ecdise para larva fi larioide 4 - Larva fi larioide penetra a pele hu- mana Ancilostomíase intestinal As larvas são levadas pela circulação até os pulmões, onde se diferenciam em L4 Sobem às árvores brônquicas até a laringe e são deglutidas 5 - Alcançam o duodeno, iniciam a hematofagiae se diferenciam e L5 e depois, em adultos machos e fêmeas; ocorre acasalamento e oviposição Ancylostoma duodenale Ancylostoma ceylanicum Ancylostoma americanus Figura 5. Ciclo biológico dos ancilostomídeos no homem. Fonte: CDC, 2019. (Adaptado). PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 160 Mecanismos de contaminação e fi siopatologia da doença6.2.3 A contaminação com ancilostomídeos se dá pela penetração das larvas fi larioides na pele e nas mucosas ou por via oral. Nesse caso, as larvas penetram a mucosa da boca ou o epitélio da faringe e caem na corrente sanguínea, para realizar o ciclo pulmonar (NEVES, 2016). A penetração das larvas provoca lesões traumáticas na pele e alterações vasculares, com desenvol- vimento de prurido, edema, eritema e erupção papulovesicular. Essas dermatites podem sofrer con- taminação bacteriana e o quadro, então, complica-se. Caso contrário, tendem a regredir em dez dias. As alterações fi siopatogênicas da ancilostomose são proporcionais à carga parasitária. Na fase aguda da doença, podem ocorrer alterações decorrentes da migração das larvas pelos pulmões, tais como febre e tosse. Muito raramente, acontecem hemorragias localizadas com infi ltrado eosi- nofílico. Quando os ancilostomídeos alcançam a mucosa intestinal e se tornam adultos, iniciam-se os sintomas intestinais: dor epigástrica, acompanhadas de náuseas, vômitos e fl atulência. O pa- ciente pode apresentar modifi cações do apetite e alterações do hábito intestinal (diarreia e consti- pação). Os sintomas fi cam mais evidentes quando a oviposição é iniciada. Na fase crônica, o paciente desenvolve anemia microcítica e hipocrômica devido à hemato- fagia exercida pelos parasitos; além de hipoproteinemia e hipoalbuminemia, atribuídas à diminui- ção da capacidade de síntese da albumina pelo fígado, perda de plasma no local da fi xação dos parasitos e desnutrição. Com isso, aparecem lassidão, cefaleia, falta de ar, palpitações, taquicar- dias, sopros cardíacos, edemas nos membros inferiores e anorexia. A patogenia depende da carga parasitária e da quantidade de ferro ingerida na dieta. Cada parasita adulto ingere, diariamente, de 0,04 ml (N. americanus) até 0,3 ml (A. duodenale). O organismo pode reabsorver parte do ferro eliminado pelos vermes. O paciente apresenta apetite depravado, chamado síndrome de Pica e, frequentemente, quer ingerir barro. Figura 6. Ilustração 3D mostrando a localização do A. duodenale no duodeno; enfatiza-se a região anterior e os dentes do Ancylosoma duodenale, adaptados a atingir a mucosa para hematofagia. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 23/09/2019. PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 161 Métodos de diagnóstico e tratamento6.2.4 O diagnóstico de certeza da ancilostomose é feito pela identifi cação dos ovos no exame parasitológico de fezes. Considerando que os ovos do Necator americanus e do Ancylosoma duodenale são idênticos, esses métodos não permitem a identifi cação da espécie responsá- vel pela ancilostomose e o resultado do exame expressa apenas ovos de ancilostomídeos. Os métodos qualitativos, que visam a ava- liar a presença dos parasitos e oferecem bons resultados são os de sedimentação espontânea (Hoff man, Pons e Janer), Kato-Katz (pesquisa realizada rapidamente para a glicerina não difi cultar a identifi cação dos ovos) e de Willis (centrífugo-fl utuação). Para avaliar o comprometimento do paciente, é importante quantifi car o número de parasitos, o que pode ser realizado pelo método de Stoll, determinando o número de ovos dos parasitas por grama de fezes (OPG). Considera-se infecção leve/moderada quando são encontrados até 10.000 ovos/grama de fezes. A partir desse número, as infecções são consideradas intensas. A identifi cação da espécie de ancilostomídeo responsável pelo parasitismo pode ser realizada mediante a identifi cação das larvas pela coprocultura, a qual permite o desenvolvimento dos ovos recuperados das fezes até o estádio de larvas fi larioides L3. A contagem das larvas também é um critério para avaliar o número de parasitos presentes no paciente. O método de coprocul- tura mais utilizado é o de Harada-Mori. O paciente com ancilostomose deve ser tratado para eliminar os parasitos e se recuperar da anemia. É necessário realizar o controle de cura 15 a 20 dias após o tratamento através de três exames de fezes. Os medicamentos utilizados são: • Pamoato de pirantel – 10 mg/quilo por três dias (ou 20 mg/kg, dose única); provoca paralisia muscular (antagonismo colinérgico) nos vermes, matando-os; • Benzimidazóis – são contraindicados durante a gravidez; provocam a degeneração nas células do tegumento e do intestino do parasita, por interferir na síntese de tubulina, de duas formas: • Mebendazol – 100 mg duas vezes ao dia durante três dias, ou 500 mg em dose única; • Albendazol – 400 mg em dose única a partir dos dois anos de idade; • Sulfato ferroso – 200 mg de duas a três vezes ao dia até a normalização do quadro hemato- lógico, junto com a alimentação rica em ferro. PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 162 A profi laxia da ancilostomose em áreas endêmicas se baseia em oferecer saneamento básico à população, bem como realizar educação sanitária. É importante que a população faça adesão às medidas de proteção individual, tais como a utilização de calçados, a fi m de evitar a penetração das larvas fi larioides no organismo. As larvas são atraídas pela pele, quente e úmida, pois exibem geo- tropismo negativo e termotropismo, hidrotropismo e tigmotropismo positivos. O hábito de andar calçado difi culta a transmissão da doença. O destino adequado para as fezes humanas (privadas e fossas) também é uma medida neces- sária. As boas práticas de higiene, como os hábitos de lavar sempre as mãos, sobretudo após ir ao banheiro e antes das preparações das refeições e de comer são úteis para a profi laxia da ancilosto- mose e de outras doenças. Tem sido sugerido o plantio de ervas larvicidas, como o capim-cidreira (Cymbopogon citratus), menta e crisântemo como estratégia de eliminar as larvas presentes no solo (REY, 2013). É importante realizar o tratamento dos indivíduos parasitados. Os fatores epidemiológicos en- volvidos na ancilostomose mostram que a infecção é mais comum em adolescentes e adultos do que em crianças menores de seis anos de idade. Há indícios de que pessoas brancas são mais suscetíveis à doença do que pessoas negras. Regiões com solo arenoso, úmido e aerado, rico em matéria orgâ- nica, oferecem boas condições para o desenvolvimento dos estádios larvários, sendo que as larvas fi larioides podem permanecer viáveis por semanas nessas condições. O N. americanus está melhor adaptado a esse clima do que o A. duodenale, sendo a espécie mais encontrada no Brasil. Contudo, em umidade inferior a 90% e de raios ultravioletas do sol, as larvas perecem rapidamente. A infecção através da ingestão oral (larvas que penetram a mucosa oral) não atravessa a fase pulmonar. Os parasitas passam apenas pelo coração antes de alcançarem a maturidade no intes- tino delgado. PAUSA PARA REFLETIR As verminoses intestinais são, frequentemente, associadas à anemia. Mas todos os parasitos nematoides que podem provocar essa condição? Ascariose e enterobíase6.3 Ascariose e enterobíase são infecções parasitárias intestinais provocadas pelos nema- toides Ascaris lumbricoides e Enterobius vermicularis, respectivamente. São doenças muito frequentes no mundo todo, sendo predominantes nas áreas desprovidas de saneamento básico adequado. PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 163 Características do agente etiológico6.3.1 Durante o ciclo biológico, o Ascaris lumbricoides e o Enterobius vermicularis passam pelos es- tágios de ovos, larvas e parasitos adultos machos e fêmeas. As características morfológicas de cada fase estão descritas no Diagrama 4. Figura 7. (a) Casal de Ascaris lumbricoides – o macho (parte inferior da fi gura) apresenta a cauda enrolada e é menor do quea fêmea (parte superior da fi gura); (b) ovo infértil, eliminado sem que a fêmea tenha acasalado; e (c) ovo fértil encontrado nas fezes, contendo células embrionárias. Fonte: INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS, 2019. (Adaptado). (b)(a) (c) Diagrama 4. Estágios morfológicos de Ascaris lumbricoides e Enterobius vermicularis Ovo fértil – arredondado; 50 µm; castanhos devido ao contato com as fezes; cápsula espessa, formada por três membranas: (1) com ou sem membrana externa mamilonada, formada por polissacarídeos; (2) média, formada por quitina e proteína; e (3) interna, delgada e im- permeável à água, formada por 25% de proteína e 75% de lipídeos, confere resistência às condições ambientais; embrionamento e ecdises (L1, L2 e L3) no interior dos ovos, no meio ambiente (solo). Ovo infértil – não fecundado; alongado; membrana mamilonada mais delgada e citoplasma granuloso. Vermes adultos – o tamanho diminui com o aumento da carga parasitária; compridos; branco leitosos; boca com três lábios com serrilhas. • Machos: 20 a 30 cm, com extremidade posterior afi lada e encurvada; dois espículos, sem gubernáculo; papilas pré e cloacais. • Fêmeas: 30 a 40 cm, com extremidade posterior afi lada. Ovo – ovóide; 50 µm de comprimento por 20 µm de largura; com uma face mais plana e outra mais abaulada, semelhante à letra D invertida; membrana lisa, dupla e transparente; embriogênese e ecdises no interior da fêmea (autoinfecção). Vermes adultos – brancos, fi liformes, com asas cefálicas na região anterior; boca pequena. • Macho: 0,5 cm por 0,2 mm de largu- ra; um espículo. • Fêmea: 1 cm por 0,4 mm de diâmet- ro; cauda pontiaguda e alongada; vulva na porção média e anterior. ASCARIS LUMBRICOIDES ENTEROBIUS VERMICULARIS PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 164 Figura 8. (a) Ovo de Ascaris lumbricoides; (b) verme adulto, com aproximadamente 10 cm; e (c) ovo mostrando início da segmentação. Fonte: CDC, 2018. (Adaptado). Figura 9. Ovo de Enterobius vermicularis, mostrando a larva rabditoide. Fonte: INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS, 2019. Características do ciclo de desenvolvimento6.3.2 A. lumbricoides e E. vermicularis são nematoides com ciclo biológico do tipo monoxênico e o homem é seu único hospedeiro. No ciclo biológico do A. lumbricoides, o homem se infecta ao ingerir os ovos com as larvas no estádio L3. Estimulados pelo pH, pela temperatura, pelos sais e pela concentra- ção de CO2, os ovos eclodem no intestino delgado. Uma vez liberadas, as larvas L3 atra- vessam a parede intestinal ao nível do ceco e chegam ao fígado pela circulação sanguínea e linfática, em até 24 horas após a eclosão. Depois de dois ou três dias, alcançam, pela veia cava, o coração. De quatro a cinco dias depois, chegam aos pulmões, onde passam pelas duas ecdises que ocorrem dentro do hospedeiro. A passagem pelos pulmões é conhecida como ciclo pulmonar ou ciclo de Loss. Após três dias nos pulmões, as larvas L3 passam por uma ecdise e se diferenciam em larvas L4. Estas rompem os capilares, alcançam os alvéolos PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 165 e sofrem a última ecdise do estádio larvário, para formar as larvas L5. Elas são, então, empurradas para a árvore brônquica e para a traqueia pelos batimentos ciliares, até chegarem à faringe. As larvas L5 são expectoradas ou deglutidas, passam pelo estômago sem sofrer lesões pelo suco gástrico, e chegam ao intestino delgado. Nesse ponto, tornam-se adultas, machos e fêmeas, e iniciam a cópula e a oviposição. Os ovos são encontrados nas fezes do hospedeiro após 60 dias da infecção. Cada fêmea de A. lumbricoides elimina 200 mil ovos não embrionados por dia ao longo de sua vida, que é de aproximadamente dois anos. Em contato com o solo, os ovos férteis tornam-se embrionados em 15 dias, desde que a temperatura esteja entre 25 e 30 ºC, a umidade mí- nima seja de 70% e haja oxigênio disponível. Essa larva de primeiro estádio, L1, é do tipo rabditoide e passa por uma ecdise para formar a larva de segundo estádio L2, também rabditoide, que por sua vez, passa pela última ecdise no interior dos ovos para formar a larva infectante L3, filarioide. Os ovos permanecem viáveis e infectantes no meio am- biente por muitos meses (NEVES, 2016). No ciclo biológico do E. vermicularis, o homem adquire a infecção ao ingerir os ovos contendo as larvas rabditoides no estádio L2. Eles eclodem e as larvas penetram na mu- cosa do intestino delgado. Elas passam por duas ecdises até alcançarem o hábitat defini- tivo, que é o ceco, onde atingem a maturação sexual. Ocorre o acasalamento e as fêmeas, grávidas e repletas de ovos, migram durante a noite para a região do ânus e do períneo, onde realizam a oviposição e morrem. Mecanismos de contaminação e fi siopatologia da doença6.3.3 A ascariose e a enterobíase são adquiridas pela ingestão dos ovos larvados. O A. lum- bricoides é um geo-helminto e, por isso, os ovos dependem do contato com o solo para tornarem-se infectantes. A fisiopatogenia dessas doenças depende da carga parasitária e do estado do paciente. As crianças sofrem sintomas mais graves. Na ascariose, o homem se infecta ao ingerir os ovos contendo as larvas rabditoides L3. Não há autoinfecção, uma vez que a embriogênese só ocorre no meio ambiente, es- timulada pelo contato com o solo. A fisiopatologia da ascariose é atribuída à migração das larvas e à presença dos adultos no intestino delgado. As larvas podem provocar pe- quenos focos hemorrágicos no fígado, que se seguem por necrose e fibrose. Durante a migração das larvas pelos pulmões, as larvas estimulam a resposta imunoló- gica do hospedeiro e a ativação de mastócitos e eosinófi los para matar as larvas, o que de fato acontece muitas vezes, levando a um quadro de tosse, febre, dispneia e bronquite. PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 166 Esse conjunto de sintomas decorrente do ciclo pulmonar caracterizam a síndrome de Löffler. O paciente apresenta eosinofilia sanguínea, e o aumento dos eosinófilos e a infla- mação desencadeada por essas células nos pulmões leva a um quadro conhecido como eosinofilia pulmonar tropical. No intestino delgado, os parasitos adultos podem exercer várias alterações: • Espoliadora – em razão do alto consumo de proteínas, carboidratos, vitaminas A e C, além de lipídeos, levando o paciente à subnutrição e ao comprometimento do cresci- mento físico e mental; • Tóxica – desencadeada pela reação imunológica do hospedeiro em resposta aos an- tígenos alergênicos liberados pelos helmintos; • Mecânica – devido às lesões provocadas pelos lábios dos parasitos na mucosa do intestino e ao grande número de nematoides em pacientes com hiperinfecção, formando bolos de áscaris e obstruindo o trânsito intestinal; • Ectópica – quando parasitos adultos migram para outras regiões anatômicas além do intestino delgado, em função da alta carga parasitária ou de irritação provocada por medicamentos, condimentos ou quando o paciente apresenta febre. Figura 10. Ação mecânica exercida pela alta carga parasitária de Ascaris lumbricoides no intestino delgado, provocando rompimento do mesmo. Fonte: INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS, 2019. Na enterobíase, o homem se infecta ao ingerir os ovos contendo as larvas rabdi- toides L2. Como os ovos já saem do hospedeiro na condição de infectantes, é possível ocorrer autoinfecção externa, interna e retroinfecção. No primeiro caso, os ovos são levados da região anal para a boca, principalmente por crianças, e esse mecanismo é responsável pela enterobíase crônica. Na autoinfecção interna, as larvas eclodem no reto e retornam ao ceco, onde passam à adultos, sendo que esse processo é raro. Já na retroinfecção, as larvas eclodem na região perianal, penetram o ânus e migram para o ceco. PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 167 Métodos de diagnóstico e tratamento6.3.4 O diagnóstico laboratorial da ascariose é feito pelo exame parasitológico de fezes, que iden- tifi ca os ovos dos parasitos. Considerando que asfêmeas de A. lumbricoides eliminam milha- res de ovos por dia, praticamente todos os métodos são capazes de identifi cá-los. Porém, a Organização Mundial de Saúde recomenda a realização do método de Kato-Katz para inquéri- tos parasitológicos, pois permitem a quantifi cação dos ovos e, consequentemente, a avaliação do número de parasitos (NEVES, 2016). A heteroinfecção ocorre quando os ovos liberados pelo indivíduo contaminado são dispersos no meio ambiente e ingeridos acidentalmente por outras pessoas. A transmis- são direta por contato pessoa-pessoa é muito comum, o que faz com que todas as pes- soas de uma família estejam infectadas. A fisiopatologia da enterobíase é, muitas vezes, imperceptível, porém o incômodo mais comum decorre da migração noturna da fêmea grávida, que provoca coceira e pru- rido. A ação mecânica exercida pelos adultos provoca erosão da mucosa intestinal e es- carificação da mucosa intestinal e da epiderme perianal. Raramente, os parasitos podem migrar pela vagina e uretra, provocando vaginite e cistite. Em hiperinfecções, observam- -se inflamações irritativas do tipo catarral e exsudativa, com congestão anal-intestinal e epiderme perianal. CURIOSIDADE: Uma grande parte da população mundial está infectada com um ou mais geo-hel- minto. Dados epidemiológicos indicam que existem entre 807 e 1121 milhões de pessoas contaminadas com Ascaris lumbricoides. Uma grande parte da população mundial está infectada com um ou mais geo-hel-Uma grande parte da população mundial está infectada com um ou mais geo-hel- minto. Dados epidemiológicos indicam que existem entre 807 e 1121 milhões de Uma grande parte da população mundial está infectada com um ou mais geo-hel- minto. Dados epidemiológicos indicam que existem entre 807 e 1121 milhões de Uma grande parte da população mundial está infectada com um ou mais geo-hel- minto. Dados epidemiológicos indicam que existem entre 807 e 1121 milhões de Uma grande parte da população mundial está infectada com um ou mais geo-hel- O diagnóstico da enterobíase é feito, preferencialmente, pelo método de Graham ou da fi ta gomada, em decorrência da necessidade de a fêmea grávida migrar para a região perianal e perineal no período da noite. A coleta da amostra é realizada no período da manhã, antes da higienização, e permite recuperar os ovos e, eventualmente, as próprias fêmeas mortas de En- terobius vermicularis do períneo e da região perineal, tocados pela fi ta gomada, os quais podem ser observados no microscópio. Os demais métodos parasitológicos de fezes, como a sedimentação espontânea, o método direto e o Kato-Katz, também podem identifi car os ovos. Porém, exibem menor sensibilidade, PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 168 AFIRMAÇÃO: E. vermicularis é o nematoide mais prevalente nos países de clima temperado e que contam com rígidas medidas de saneamento básico. O confi namento das pessoas no ambiente doméstico favorece a contaminação por contato pessoa-pessoa e o contato com os ovos (MARKELL; JOHN; KROTOSKI, 2003). contam com rígidas medidas de saneamento básico. O confi namento das pessoas é o nematoide mais prevalente nos países de clima temperado e que contam com rígidas medidas de saneamento básico. O confi namento das pessoas contam com rígidas medidas de saneamento básico. O confi namento das pessoas no ambiente doméstico favorece a contaminação por contato pessoa-pessoa e o é o nematoide mais prevalente nos países de clima temperado e que contam com rígidas medidas de saneamento básico. O confi namento das pessoas no ambiente doméstico favorece a contaminação por contato pessoa-pessoa e o é o nematoide mais prevalente nos países de clima temperado e que contam com rígidas medidas de saneamento básico. O confi namento das pessoas contam com rígidas medidas de saneamento básico. O confi namento das pessoas no ambiente doméstico favorece a contaminação por contato pessoa-pessoa e o já que as fezes arrastam os ovos e os parasitos da região perianal, e a identifi cação fi ca na de- pendência de a amostra coletada ter sido a primeira a ser eliminada pelo paciente. Os tratamentos da ascariose e da enterobíase podem ser realizados com diferentes drogas: • Albendazol – em dose única de 400 mg, via oral. A droga inibe a polimerização dos microtú- bulos e, com isso, a divisão celular; também impede a captação de glicose e a formação de ATP; • Mebendazol – 500 mg, via oral, ingerido com alimentos gordurosos para aumentar a ab- sorção. Atua da mesma forma que o albendazol; • Levamisol – em dose única de 80 mg, para crianças, e de 150 mg, para adultos, via oral. A droga inibe os receptores de acetilcolina do parasito, provocando paralisia espástica imediata e, com isso, facilitando sua eliminação; mas não elimina os ovos; • Piperazina – 50 mg/kg de peso, com dose máxima de 3,0 g, indicada quando houver bolo de áscaris, com oclusão ou suboclusão intestinal. Provoca paralisia fl ácida nos parasitos, em razão da atuação sobre os canais de cloro dependentes do GABA. É associada ao óleo mineral (50 mL) para aumentar o peristaltismo e facilitar a eliminação dos vermes. As epidemiologias da ascariose e da enterobíase envolvem fatores associados aos hábitos de higiene e à disponibilidade de serviço sanitário. A epidemiologia da enterobíase é favoreci- da pela maturação rápida das larvas dentro dos ovos, que ocorre ainda no corpo do paciente, favorecendo a autoinfecção. A doença é mais frequente em crianças e frequentadores de am- bientes coletivos, tais como creches e asilos. Os dados epidemiológicos mostrando a ocorrên- cia de Enterobius vermicularis são subestimados quando comparados ao diagnóstico clínico desse verme na população. O resultado falso negativo se deve, provavelmente, aos hábitos da fêmea, que realiza oposição nas regiões perianal e perineal no período da noite. Os ovos são, então, arrastados junto às fezes por ocasião da evacuação. A profi laxia da ascariose e da enterobíase se baseia em medidas de higiene e disponibilida- de de serviço sanitário. Deve ser dada atenção especial ao consumo de água e de hortaliças, adotando os procedimentos de fi ltração em porcelana e procedendo com a higienização folha a folha em água corrente, seguida por imersão em água com hipoclorito de sódio. PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 169 Toxocaríase6.4 Toxocaríase ou larva migrans visceral é uma síndrome determinada pela migração de larvas de nematoides que parasitam animais e, acidentalmente, infectam humanos. As espécies que mais comumente provocam a doença em humanos são a Toxocara canis e a Toxocara catti, lom- brigas parasitas de cães e de gatos, respectivamente. A doença é considerada uma infecção parasitária negligenciada, uma vez que faz parte do grupo de doenças tropicais endêmicas que atingem, principalmente, as populações pobres. Características do agente etiológico6.4.1 Toxocara é um nematoide que vive no intestino delgado de cães. O parasito adulto se asse- melha ao Ascaris lumbricoides, entretanto, é menor, atingindo de 4 a 10 cm de comprimento. Apresentam três lábios na boca e duas expansões laterais ou asas cefálicas. Seu hospedeiro defi nitivo são cães e gatos. E o hospedeiro acidental é o homem. Figura 11. Eclosão da larva fi larioide de Toxocara. Fonte: CDC, 2019. Características do ciclo de desenvolvimento6.4.2 O ciclo biológico do Toxocara só se completa no hospedeiro habitual. Os cães e os gatos adquirem o parasito ao ingerir os ovos contendo as larvas no estádio L3 de T. canis e T. cattis, respectivamente. As larvas eclodem no intestino delgado e são levadas pela circulação para o fígado, o coração e os pulmões, onde ocorrem as ecdises para larvas L4. Essas larvas sobem a árvore brônquica e atingem a faringe e a laringe, sendo deglutidas. Ao chegarem no intestino delgado, atingem a maturidade transformando-se em adultos machos e fêmeas. Ocorre o aca- salamento e a oviposição, sendo os ovos embrionadosliberados nas fezes. PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 170 Em contato com o solo, em condições de umidade, temperatura e oxigenação, os ovos tor- nam-se embrionados, formando as larvas rabditoides L1, que passam por ecdise para formar as L2 e, fi nalmente, as L3, ainda dentro dos ovos. Dessa forma, eles se tornam infectantes. Quando cães maiores de dois meses de idade se infectam, as larvas L3 que eclodem são barradas pela imunidade nos tecidos e não completam o desenvolvimento. Contudo, em es- tados de imunossupressão, como na gestação, as larvas deixam o estado de quiescência e retornam ao ciclo normal, reiniciam a migração e contaminam o feto. Assim, os cãezinhos já nascem infectados com T. canis (NEVES, 2016). Mecanismos de contaminação e fi siopatologia da doença6.4.3 A infecção humana ocorre quando há ingestão acidental dos ovos do parasita, eliminados nas fezes dos hospedeiros usuais. Após a eclosão, as larvas de Toxocara caem na corrente sanguínea e migram por diversos órgãos, em busca das condições adequadas para completarem o desen- volvimento, o qual não acontece. Os órgãos mais atingidos são o fígado, o coração, os pulmões, o cérebro, os músculos e os olhos. A fi siopatogenia da toxocaríase depende de fatores ligados ao hospedeiro e à migração das larvas, sendo que muitas pessoas não desenvolvem sintomas. A gravidade da infecção está asso- ciada à quantidade de ovos ingeridos e, consequentemente, de larvas migrando no corpo humano, além dos órgãos atingidos pela resposta imunológica. O paciente pode apresentar leucocitose, eosinofi lia sanguínea acentuada, hepatomegalia e linfadenite. Pode haver febre, dispneia, tosse, anorexia e desconforto abdominal. No sistema nervoso, as larvas provocam granulomas e a res- posta infl amatória levar à epilepsia, meningite e encefalite. A presença das larvas nos olhos é, em geral, unilateral e provoca endoftalmia crônica, envolvendo a coroide, a retina e o vítreo. O quadro pode evoluir para a perda da visão. A infecção tem caráter autolimitado, com duração de 18 meses (NEVES, 2016). Métodos de diagnóstico e tratamento6.4.4 O diagnóstico da toxocaríase é difícil e a comprovação requer a identifi cação das larvas nos tecidos por meio de biópsias. A história do paciente, o resultado do hemograma mostrando aumento exacerbado do número de eosinófi los, a hipergamaglobulinemia (sobretudo, de anti- corpos das classes IgM e IgE) e a hepatomegalia sugerem o diagnóstico de toxocaríase. Os testes sorológicos para pesquisar anticorpos específi cos (principalmente, o ELISA), uti- lizando antígenos de secreção e excreção de larvas de Ascaris suum, a lombriga parasita de PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 171 porcos, apresenta 80% de sensibilidade e 90% de especificidade. O Western blot também é empregado para diagnosticar a infecção. Considerando o caráter autolimitado da toxocaríase, não há necessidade de realizar o tra- tamento da infecção. Contudo, em casos especiais, podem ser utilizados os anti-helmínticos: • Albendazol – duas doses diárias de 5 mg/kg cada, via oral, durante cinco dias; • Ivermectina – 12 mg, via oral, em dose única; • Tiabendazol – 25 mg/kg, duas vezes ao dia, via oral, durante três dias. Os fatores epidemiológicos mais importantes envolvidos na toxacaríase humana incluem a presença de cães e gatos infectados e a contaminação ambiental por suas fezes. Os proprie- tários de cães e gatos são mais suscetíveis à infecção, sobretudo crianças e adolescentes. Os parques de areia e praias são locais que contêm maior contaminação com fezes de gatos e cães, sendo que a umidade favorece a viabilidade dos ovos. Assim como os ovos de A. lumbricoides, os ovos de Toxocara possuem camadas que os tor- nam muito resistentes às adversidades ambientais, e eles permanecem viáveis por meses. Considerando que cães e gatos são animais de companhia para humanos e que eles convivem no mesmo ambiente, a profilaxia da infecção humana está na dependência dos cuidados adequados à saúde dos animais, os quais devem ser examinados e tratados rotineiramente. Proposta de Atividade Agora é a hora de pôr em prática tudo o que você aprendeu neste capítulo! Para isso, elabo- re um quadro comparando os parasitos estudados, destacando as principais ideias abordadas ao longo do capítulo. Ao produzir seu quadro, considere as leituras básicas e complementares realizadas. Dicas: coloque uma coluna para o nome dos parasitas nematoides e nas demais colunas a forma infectante para o homem, o ciclo biológico, os mecanismos fisiopatogênicos e assim por diante. Recapitulando Agora que já estudamos os principais parasitos do filo Nematoda, estamos prontos para responder à questão proposta do no início do capítulo: os nematoides podem ser transmi- tidos por contato direto de um hospedeiro contaminado para outro suscetível? Vimos que todos os seres vivos desse filo têm em comum a oviposição de ovos. A em- briogênese pode ocorrer no hospedeiro ou no ambiente. Nas espécies Strongyloides sterco- ralis, esses ovos já saem larvados da fêmea, que é ovovivípara. A eclosão ocorre ainda no PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 172 hospedeiro, assim como as ecdises para formar a larva rabidtoide L2, nos casos de trânsito intestinal lento, e a larva filarioide L3, forma infectante do parasito. Portanto, é possível acontecer transmissão por contato direto pessoa-pessoa. Já nos ancilostomídeos Ascaris lubricoides e Toxocara, a embriogênese só ocorre no meio ambiente, em contato com o solo. As ecdises entre estágios requerem alguns dias também de contato com o solo. Sendo as- sim, essas espécies não são transmitidas por contato direto. Para responder às Pausas para refletir sobre os nematoides que podem provocar ane- mia, vamos nos lembrar que entre todos eles, apenas Necator americanus e Ancylostoma duo- denale utilizam o sangue como fonte de alimento. Esses parasitos consomem tanto sangue que podem provocar a anemia, razão pela qual a doença ficou conhecida por amarelão, em referência ao aspecto amarelo dos indivíduos doentes. O Ascaris lumbricoides pode provo- car espoliação de nutrientes, sobretudo carboidratos, vitaminas A e C e lipídeos, mas não consome sangue. Em infecções maciças, esses parasitos podem levar ao atraso no desen- volvimento físico e mental, porém sem provocar anemia. Quanto às vias de infecção, todos os nematoides são de transmissão fecal-oral, sendo a ingestão de ovos larvados a forma de contaminação. As exceções são os ancilostomídeos e o S. stercoralis, cujas larvas filarioides atravessam a pele. Caso sejam ingeridas com água ou alimento, as larvas podem penetrar a mucosa da boca e realizar a infecção. Por fim, a toxocaríase é uma doença provocada pelas formas imaturas do Toxocara, um nematoide parasita de cães e gatos que equivale ao A. lumbricoides que afeta humanos. A ingestão acidental de seus ovos e a eclosão das larvas, seguida pela migração das mesmas, provoca reações inflamatórias que podem resultar em doença para humanos, sendo que a gravidade depende do número de parasitos e órgãos afetados. PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 173 Referências bibliográficas BISOFFI, Z. et al. Strongyloides stercoralis: A Plea For Action. PLOS: Neglected Tropical Disea- ses, [s. l.]. v. 7, n. 5, mai. 2013. Disponível em . Acesso em: 24 set. 2019. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso. 8. ed. rev. Brasília: Ministé- rio da Saúde, 2010. Disponível em: . 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Seu ciclo biológico foi descrito inicialmente por Lutz, no Brasil, e, posteriormente, por Leiper, no Egito, de forma independente (NEVES, 2016; REY, 2013). No ser humano, o ciclo do parasito começa com a pe- netração da larva cercária na pele, cuja salinidade já provoca, de imediato, alterações morfoló- gicas e fi siológicas para garantir adaptação do parasito, que antes vivia no ambiente isotônico aquático, às condições encontradas no hospedeiro. Há separação entre a cauda e a cabeça da cercária, que se alonga, perde o glicocálix e passa a resistir ao poder lítico do soro. Durante essa fase juvenil, o S. mansoni é chamado de esquistossômulo. Após dois ou três dias na pele, os esquistossômulos que sobreviveram às reações imunoló- gicas do hospedeiro são levados pela corrente sanguínea para o coração e pulmões, em cujos vasos se alongam, passando de 100 μm para 400 μm de comprimento, e migrando, na se- quência, para o fígado, onde penetram nas veias do sistema porta (REY, 2013). Ocorre, então, a maturação sexual do parasito e, após o acasalamento, machos e fêmeas adultos migram para as veias do mesentério e realizam a oviposição. Cada fêmea elimina cerca de 400 ovos por dia, dos quais 200 caem na corrente sanguínea e são disseminados pela circulação porta, enquan- to os outros 200 alcançam as fezes. No percurso entre as veias e o intestino grosso, ocorrem a embriogênese e a formação da larva miracídio, dentro do ovo. Os ovos embrionados são eliminados junto com as fezes e, no ambiente aquático, os mira- cídios eclodem e nadam em busca de seus hospedeiros intermediários: as espécies Biompha- laria glabrata, B. straminea e B. tenagophila. No interior do manto dos moluscos, cada miracídio forma um esporocisto, dentro do qual se formarão, por reprodução assexuada, 300 mil larvas cercárias, as formas infectantes para os seres humanos. Os caramujos infectados permane- cem liberando cercárias por até um ano. O homem se infecta quando está em atividade recrea- tiva ou laboral em águas contaminadas (NEVES, 2016; REY, 2013). PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 124 Mecanismos de contaminação e fi siopatologia da doença5.1.3 A contaminação por S. mansoni ocorre por meio da penetração das larvas cercárias na pele, que passam, imediatamente, a seu estágio seguinte de desenvolvimento, transformando-se em esquistossômulos. Estes últimos são alvo da resposta imunológica do hospedeiro, provo- cando dermatite cercariana. Essa reação é mais intensa entre os indivíduos das áreas endê- micas, que apresentam maiores concentrações de anticorpos IgE específi cos, cujo mecanis- mo efetor resulta na diminuição da carga parasitária, mas também provoca coceira, prurido, eritema, edema e formação de pequenas pápulas. As populações das áreas endêmicas se refe- rem às coleções de água contaminadas com cercárias como “lagoas de coceira”, uma vez que sentem o prurido após entrarem nessas águas (REY, 2013). A migração dos esquistossômulos pode provocar linfadenia generalizada, febre, espleno- megalia e sintomas pulmonares. Os vermes adultos podem permanecer anos nas veias me- sentéricas, consumindo glicose e cerca de 2,5 mg de ferro por dia, mas sem produzir lesões importantes (exceto quando morrem). PAUSA PARA REFLETIR Indivíduos provenientes das áreas endêmicas sabem que, ao entrar nas lagoas de coceira, sentirão prurido e coceira. Qual a explicação fi siopatogênica desse fenômeno? Aproximadamente 50% dos ovos do S. mansoni não conseguem chegar até o intestino grosso para serem eliminados com as fezes. Eles caem na circulação porta e são dissemi- nados para vários órgãos, concentrando-se principalmente no fígado e no baço. Então, antígenos solúveis secretados pelo envelope de Von Lichtenberg – a membrana interna da casca do ovo maduro do parasito – ativam a resposta imunológica do hospedeiro. Os linfócitos T e macrófagos ativados, sob ação das citocinas infl amatórias, formam camadas concêntricas ao redor dos ovos na tentativa de contê-los. O resultado é a morte dos mira- cídios – as larvas que estão dentro dos ovos – e a necrose do tecido onde o ovo se instalou. Os granulomas passam por três fases: 1) necrótica-exsudativa, com necrose em volta do ovo, circundada por exsudação de eosinófi los, neutrófi los e histiócitos com deposição de material eosinofílico; 2) produtiva ou de reação histiocitária, que inicia os mecanismos de reparo da área necrosada; 3) fase de cura e fi brose, com posterior calcifi cação da área do granuloma. A esquistossomose mansônica é resultado da resposta infl amatória granulo- matosa nas fases aguda e crônica da doença. PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 125 O principal processo patológico da esquistossomose é decorrente da formação dos granulomas na fase crônica da doença. Os locais mais atingidos são a parede do intestino e o fígado, cujo vo- lume aumenta sobretudo no lobo esquerdo. À medida que os miracídios morrem em decorrência da ação do infi ltrado infl amatório, os granulomas são circundados por colágeno substituindo as células infl amatórias. As larvas são, então, reabsorvidas e o ovo se calcifi ca. A simultaneidade entre a formação de novos granulomas e a cicatrização dos velhos provoca alterações importantes na arquitetura dos órgãos afetados. O acúmulo de granulomas nos capilares dos espaços porta do fígado leva à formação de um manguito fi broso em torno das ramifi cações intra-hepáticas da veia porta, conhecida como fi brose periportal ou fi brose em haste de cachimbo de barro. Com isso, a circulação pré-sinusoidal fi ca bloqueada, reduzindo o fl uxo sanguíneo da região drenada pela veia porta, que é responsável por 75% da circulação de sangue no fígado. Apesar de haver a neovascularização do tecido fi brosado, a qual assegura a oxigenação e nutrição do parênquima hepático, por serem de origem arterial, esses vasos não melhoram a circulação venosa que chega ao fígado. Ocorre, então, hipertensão porta, edema na pare- de do estômago e dos intestinos, congestão e esplenomegalia (esta última atribuída também à hiperplasia das células do sistema monocítico-fagocitário). A difi culdade circulatória e a hi- pertensão porta induzem o desenvolvimento de anastomoses entre os sistemas porta e veia cava inferior, acarretando circulação colateral. Há aumento do calibre dos vasos abdominais, tornando-os visualmente perceptíveis e suscetíveis à ruptura. Pode haver hemorragias digesti- vas, edema e derrame cavitário (ascite ou barriga-d’água), com comprometimento das funções hepáticas, que pode evoluir para caquexia e coma hepático (REY, 2013). Métodos de diagnóstico e tratamento5.1.4 O diagnóstico da esquistossomose mansônica deve considerar se a doença está na fase pré-postural, aguda ou crônica e associar as condições epidemiológicas nas quais vivem o indi- víduo. É importante realizar confi rmação laboratorial, e a escolha do método deve considerar o objetivo do diagnóstico: confi rmar a suspeita clínica, a efi cácia do tratamento ou o inquérito epidemiológico. Existem vários métodos disponíveis, e os mais empregados são: • Parasitológicos: Mostram os ovos dos parasitos em amostras de fezes ou tecidos, além das alterações por eles provocadas nos órgãos. • Exame parasitológico de fezes: o sucesso da identifi cação de ovos do parasito nas fezes está associado à carga parasitária e pode ser realizado pelos métodos de sedimentaçãoou cen- trifugação em éter sulfúrico, baseados na alta densidade dos ovos, ou por Kato-Katz. Esse últi- mo tem a vantagem de ser quantitativo, oferecendo resultados satisfatórios e apresentando a PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 126 probabilidade de 1/24 de identificar ovos eliminados por uma única fêmea (estimados em apro- ximadamente 200 ovos por dia) ao considerar a análise de 42 mg de fezes em uma lâmina. Para aumentar a sensibilidade do método, é necessário realizar coleta e análise de várias amostras de fezes, sobretudo para avaliação do controle de cura, já que é possível que alguns parasitos permaneçam viáveis após a medicação e eliminem poucos ovos (BRASIL, 2014; NEVES, 2016). • Biópsia ou raspagem da mucosa retal: embora desconfortável e invasiva, essa me- todologia é útil para avaliar a presença de ovos com ou sem miracídio na mucosa, após realização do tratamento. Caso sejam encontrados apenas ovos com miracídio, deduz-se que os mesmos tenham sido eliminados antes do tratamento. A biópsia hepática só deverá ser realizada quando se suspeitar de outra etiologia da doença, sendo contraindicada para diagnóstico da esquistossomose. • Ultrassonografia: indicada para diagnosticar, com precisão, alterações e grau de cirro- se no fígado. • Imunológicos: podem apresentar resultados falso-positivos, decorrentes das reações cru- zadas com outros parasitos, assim como resultados negativos. Não podem ser utilizados como controle de cura, pois permanecem positivos mesmo após eliminação dos parasitos. • Intradermorreação: indicada para inquéritos parasitológicos. Baseia-se na reação de hipersensibilidade tipo I, medindo-se a pápula formada após 15 minutos da inoculação do antígeno dos parasitos adultos. • Método imunoenzimático – ELISA: utiliza pequenas quantidades de antígenos e de amostras de soro. Tem alta sensibilidade e apresenta a vantagem de poder fazer vários tes- tes ao mesmo tempo. Para avaliar o sucesso do tratamento da esquistossomose, é dentro de 3 a 4 meses após a medicação. Existem duas drogas para o tratamento da esquistossomose mansônica, e ambas atuam nas fases juvenis e adultas do parasito: • Praziquantel – de acordo com o Plano de Controle da Esquistossomose, a recomendação para o tratamento no Brasil é realizada, desde 1996, exclusivamente com praziquantel. Os com- primidos (600 mg) devem ser ingeridos após a refeição, na dose de 50 mg/kg para indivíduos adultos e 60 mg/kg para crianças. Essa droga atua contra todas as espécies de Schistosoma, e é eficiente para eliminar as fases juvenis (cercárias e esquistossômulos) e adultas do parasito. O medicamento provoca lesões no tegumento do parasito, expondo assim antígenos-alvo para a atuação da resposta imune do hospedeiro. As reações adversas mais relatadas são: dor ab- dominal, diarreia, astenia, tontura, cefaleia e sonolência por algumas horas após a medicação. O tratamento com praziquantel se mostra eficiente em aproximadamente 90% dos indivíduos, comprovados por exames parasitológicos ou biópsia retal realizados 4 meses após a medica- PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 127 ção. Esse medicamento substituiu o oxamniquine, por apresentar bons resultados e ter custo mais acessível (BRASIL, 2014); • Oxamniquina – esse medicamento foi muito utilizado entre 1970 e 1990, porém, o Minis- tério da Saúde recomendou sua substituição. O esquema de tratamento mais utilizado era a administração de dose única via oral para adultos (15 mg/kg) e crianças (20 mg/kg) após as refeições. O medicamento tem efeito anticolinérgico, aumentando a motilidade do helminto e inibindo a síntese de ácidos nucleicos. As reações adversas incluem: alucinações, tonteiras, excitação e mudanças de comportamento que duram de seis a oito horas após a administra- ção do medicamento, razões pelas quais recomendava-se o repouso por três horas após a medicação (BRASIL, 2014). Os fatores epidemiológicos associados à introdução do S. mansoni no Brasil datam da che- gada dos africanos, que foram retirados de sua terra pelos colonizadores e escravizados no Brasil. Eles traziam consigo o parasito e os ovos, que eliminados junto com as fezes contamina- ram as coleções de água em que havia os hospedeiros intermediários Biomphalaria. O homem é o principal hospedeiro definitivo do S. mansoni e a proliferação dos caramu- jos hospedeiros intermediários foi favorecida por modificações ambientais produzidas pela atividade humana, possibilitando a dispersão dos moluscos. Por exemplo, a construção de represas aumenta a área disponível para disseminação da população de moluscos, do mes- mo modo, atividades como aquariofilia, comércio de plantas aquáticas e pesque-pagues fa- cilitam o transporte dos ovos e dos próprios moluscos, assim como das areias retiradas das margens de coleções hídricas (NEVES, 2016). A expansão das fronteiras agrícolas e a implan- tação de sistemas de irrigação também são fatores que contribuem para o crescimento da população de caramujos e, consequentemente, de casos de esquistossomose (BRASIL, 2013). Além disso, a doença é mais comum em regiões de baixo desenvolvimento socioeconômico e condições inadequadas de saneamento básico. A presença dos caramujos transmissores em diversas regiões do território nacional, assim como a migração de populações das áreas endêmicas em busca de emprego e melhores condições de vida, contribui para a formação de novos focos de transmissão. O clima tropical associado à grande disponibilidade de luz nas regiões em que há foco da doença são fatores que também contribuem para a epidemia da esquistossomose. Os para- sitos se adaptaram aos hábitos de seus hospedeiros intermediários e definitivos, de modo a favorecer o encontro entre eles. Assim, a eclosão do miracídio e a saída das cercárias do corpo dos caramujos acontecem nas horas mais quentes do dia e são estimuladas pela luz, coinci- dindo com o período no qual há mais pessoas exercendo atividades laborais e recreativas em ambiente aquático (REY, 2013; BRASIL, 2014). PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 128 Figura 4. Distribuição da esquistossomose mansônica no Brasil, de 2010 a 2015. Fonte: BRASIL, 2017. (Adaptado). Distribuição da esquistossomose, de acordo com a faixa de positividade, por município. Brasil, 2010-2015 Positividade (%) 0 15 Sem informação Sistemas de coordenadas geográfi cas Datum Horizontal: WGS84 A profi laxia da esquistossomose se baseia no tratamento em larga escala com oxamniquina de todos os indivíduos com diagnóstico positivo para o parasito, especialmente aqueles de fai- xas etárias mais jovens, para reduzir as formas hepatoesplênicas. As medidas de saneamento básico, que ofereçam rede de esgotos e tratamento de água, são fundamentais para prevenir a transmissão da esquistossomose e de todas as doenças de veiculação hídrica provocadas pela poluição da água por fezes humanas. Ainda, medidas de combate às populações de caramujos auxiliam a prevenção da transmissão da esquistossomose. Fasciolíase5.2 Fasciolíase é uma infecção provocada pelo trematódeo Fasciola hepatica, adquirida pela inges- tão das larvas metacercárias, frequentemente junto com agrião ou outras plantas aquáticas. A primeira descrição de infecção em bovinos no Brasil foi em 1918, no Rio Grande do Sul, e desde então a doença tem sido detectada em animais em Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. O primeiro caso de infecção humana no Brasil aconteceu em 1958, no Mato Grosso. Posteriormente, foram descritos casos no Vale do Paraíba, em São Paulo e em Curitiba, no Paraná. A doença em humanos acontece em regiões onde há prevalência dos animais parasitados (NEVES, 2016). PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 129 Características do agente etiológico5.2.1 Fasciola hepatica é um parasito da vesícula e canais biliares mais calibrosos de mamíferos, incluindo ovinos, bovinos, caprinos e suínos,distribuído em áreas úmidas e alagadiças de qua- se todos os países do mundo. Mede 3 cm x 1,5 cm, é pardo-acinzentado e possui ventosa oral e ventosa ventral ou acetábulo, na extremidade anterior, seguida pelo poro genital. Esse parasito é hermafrodita e tem o tegumento recoberto por espinhos. Em humanos, pode ser encontrado nas vias biliares e nos alvéolos pulmonares (NEVES, 2016). Características do ciclo de desenvolvimento5.2.2 Fasciola hepatica é um parasito heteroxeno, cujos hospedeiros defi nitivos são os herbívoros, acidentalmente o homem, e os hospedeiros intermediários são os caramujos Lymnaea colu- mela e L. viatrix. O homem e outros animais se infectam ao ingerir água ou verdura com metacercárias. As metacercárias desencistam-se no intestino delgado, perfuram a parede e alcançam a cavidade peritoneal, migrando para o parênquima hepático, após perfurarem a cápsula de Glisson. Após dois meses, alcançam os ductos biliares, onde se tornam adultos e iniciam a oviposição. Os ovos operculados, contendo células germinativas, saem junto com a bile, alcan- çam o intestino e são eliminados com as fezes e precisam alcançar a água para acontecer a embriogênese. Em condições ambientais favoráveis, de temperatura entre 25 e 30 ºC, umidade e au- sência de putrefação, os miracídios se formam dentro do ovo, permanecendo viáveis por até nove meses. A eclosão do miracídio ocorre na água e é estimulada pela luz solar. Essa larva é atraída pelo muco produzido pelos caramujos, penetrando-os, mas só se de- senvolve naqueles do gênero Lymnea, os quais podem, inclusive, morrer caso a infecção seja massiva. Cada miracídio vai formar, no molusco, um esporocisto, que dá origem de cinco a oito larvas chamadas rédias, as quais podem formar rédias de segunda geração, quando as condições forem desfavoráveis, ou cercárias. Após 30 a 40 dias da penetração dos caramujos pelas rédias, inicia-se a liberação de seis a oito cercárias por dia durante cerca de três meses. A cercária tem o corpo dividido em cabeça e cauda simples, sem bifurcação e mede 900 mm. Logo após sair do caramujo, nada em busca de uma vegetação, na qual se adere e em seguida perde a cauda, encistando-se, com ajuda das glândulas cistogênicas e formando a me- tacercária (cercária encistada) – forma infectante para os herbívoros. PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 130 Mecanismos de contaminação e fi siopatologia da doença5.2.3 Os herbívoros, incluindo o homem, contaminam-se ao ingerir água e verduras contami- nadas com metacercárias. A fi siopatogenia da fasciolose é decorrente de um processo infl a- matório crônico do fígado e dos ductos biliares. A doença é mais grave nos animais devido à grande quantidade de formas imaturas migrando pelo fígado, que chega a provocar hepatite traumática e hemorragias. No homem, que não é o hospedeiro normal do parasito, há um pequeno número de para- sitos e as lesões são decorrentes da migração de formas imaturas e ação das enzimas por elas liberadas, provocando liquefação dos tecidos hepáticos e, posteriormente, a fi brose. A movimentação constante dos vermes adultos nas vias biliares, os quais contêm espinhos na cutícula, provoca ulcerações e lesões no endotélio dos ductos, provocando hiperplasia epi- telial e, posteriormente, fi brose e deposição de sais de cálcio. Essas alterações levam a uma diminuição do fl uxo biliar, provocando cirrose e insufi ciência hepática. Métodos de diagnóstico e tratamento A fasciolíase humana pode ser diagnosticada pela pesquisa de ovos nas fezes ou na bile (tubagem). Porém, considerando que, no homem, a F. hepatica produz um reduzido número de ovos, é comum resultados falso-negativos. Nesse caso, apesar da baixa especifi cidade dos mé- todos sorológicos, os quais podem apresentar reação cruzada com esquistossomose e hida- tidose, eles podem auxiliar a fechar o diagnóstico. A intradermorreação, imunofl uorescência, ELISA e a reação de fi xação do complemento são os métodos sorológicos mais indicados para diagnóstico da fasciolíase humana (NEVES, 2016). O tratamento dos humanos com fasciolíase pode ser realizado com: • Bithionol – 50 mg/kg/dia, divididos em três doses diárias, em dias alternados, durante 10 dias; • Deidroemetina – 10 mg (via oral) ou 30 a 60 mg por dia (via parenteral); • Albenzadol – 10 mg/kg, que tem oferecido bons resultados (NEVES, 2016). Os fatores epidemiológicos envolvidos na fasciolose humana incluem a criação extensiva de bovinos e ovinos em pastos próximos a áreas úmidas e alagadiças e a longevidade dos ovos por meses nesses ambientes. Além disso, a presença de roedores, que são reservatórios do parasito e dos caramujos Lymnaea nos pastos, associados à longevidade da metacercária, que permanece viável por até um ano na vegetação aquática, além da presença de animais parasitados e da plantação de agrião, são fatores importantes que favorecem a transmissão da fasciolíase (NEVES, 2016). A fasciolíase humana pode ser prevenida pela adoção das seguintes medidas: 1) tratamen- to em massa dos animais com rafoxanide, clorzulon associado à ivermectina e albendazol ou PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 131 triclabendazol; 2) combate aos caramujos por meio de moluscocidas (sulfato de cobre, Frescon ou Bayluscide), drenagem de pastagens e variação periódica do nível da água de açudes e re- presas e criação de Solicitoides sp., molusco predador de formas jovens do Lymnaea; 3) cuida- dos do homem com a ingestão de água e verduras cultivadas em área contaminada por fezes de ruminantes (como esterco). Métodos de diagnóstico e tratamento5.2.4 O diagnóstico clínico da fasciolíase humana pode ser realizado durante a apalpação no exame clínico, que revela aumento do tamanho do fígado e dores no hipocôndrio direito, ou por análise do hemograma, que mostra eosinofi lia. Contudo, é necessário realizar diagnóstico confi rmatório pelo exame parasitológico de fezes, que mostra os ovos do parasito. É muito importante que o paciente não se alimente com fígado de nenhum animal no período anterior à coleta das fezes, uma vez que os ovos do parasito são comuns entre os herbívoros e passam pelo sistema digestório humano e são eliminados com as fezes, podendo provocar um resul- tado falso-positivo. O tratamento da fasciolíase é feito com triclabendazol, com uma dose de 10 mg/kg por via oral, devendo ser tomado após uma refeição. Deve-se aumentar para duas doses nos casos de infecções graves, mantendo um intervalo de 12 a 24h entre as doses. Uma alternativa é a nitazoxanida 500 mg via oral duas vezes ao dia durante sete dias. Cestoides parasitas do homem5.3 Os animais da classe Cestoda têm, em comum, o corpo achatado dorsoventralmente e apre- sentam estruturas de fi xação na região anterior, denominada escólex, a qual contém diferen- tes estruturas adesivas, de acordo com a espécie: ventosas, bótrias, botrídias, acúleos etc. O corpo ou estróbilo é formado por um conjunto de proglotes ou segmentos e seu tamanho varia de milímetros a dezenas de metros, de acordo com a espécie. Todos os cestódeos são parasitas e, por isso, exibem traços marcantes associados à adaptação à vida parasitária, como a ausência de sistema digestório e o desenvolvimento extraordinário do sistema reprodutor. São hermafroditas e têm desenvolvimento indireto, passando pelos estágios de ovo, larvas e adultos. A larva dos cestódeos encontrada no interior do ovo chama-se oncosfera ou embrião hexacanto e possui seis acúleos na região da cabeça (REY, 2001; NEVES, 2016). Existem nove ordens de Cestódeos, mas apenas duas delas contêm espécies que po- dem parasitar o homem: Pseudophyllidea (Diphyllobotrium latum e Dipylidium caninum) e PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 132 Cyclophyllidea (Taenia, Hymenolepis e Echinococcus). A maioria desses cestódeos tem ciclo biológico heteroxênico e todos passam pelos estágios de ovo, larva e adulto. A sistemática dos parasitos da classe Cestoda estáresumida no Diagrama 1. Diagrama 1. Representação resumida da posição dos parasitos da classe Cestoda com importância médica para humanos Classe Cestoda Dilepidiae Dipylidium caninum Taenia solium T. saginata Ecchinococcus Diphyllobotrium latum Hymenorepis nana: frequente em humanos H. diminuta (ratos), raros em humanos Diphyllobothriidae Hymenolepididae larva cisticercoide Teniidae - larvas: cisticerco (Taenia) e hidátide (Ecchinococcus) Ordem Pseudophyllidea: Escólex com pseudobotrídias, proglotes curtas e largas, abertura uterina na superfície ventral. Proglotes grávidas não se destacam do estróbilo Ordem Cyclophyllideae: Tamanho: milímetros a metros, escílex com quatro ventosas, com ou sem acúleos, poros genitais nas margens das proglotes Características do agente etiológico5.3.1 Vamos estudar, nesta seção, os cestódeos que provocam a dilepidíase, a esparganose e a himenolepsíase que parasitam o homem. • Dipylidium caninum: é um cestódeo parasita de canídeos e felídeos, sendo o homem um hospedeiro acidental. O adulto mede de 20 a 40 cm de comprimento e possui escólex romboi- de, com rostro retrátil, formado por 30 a 150 acúleos dispostos em círculos paralelos, os quais aumentam com a idade do parasito. O colo é curto e, seguindo-se a ele, um conjunto de 60 a 180 proglotes jovens, maduras e grávidas, levemente avermelhadas. As proglotes grávidas contêm um sistema reprodutor masculino e um feminino, simétricos, cujas aberturas ocorrem em lados opostos. O útero é formado por sacos contendo de 3 a 30 ovos, os quais saem nas fezes dos indivíduos infectados, sendo também possível a eliminação de proglotes grávidas desprendidas por apólise. Os ovos permanecem viáveis por curto período após terem sido eliminados. PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 133 Figura 5. Diphyllobotrium latum: estróbilo (A), proglotes com 2 mm de comprimento (B), proglotes grávidas (C) e (D) ovos. Fonte: EM- MEL et al., 2006. (Adaptado). • Hymenolepis nana – ou tênia anã: o verme adulto mede de 2 a 4 cm de comprimento e a parte mais larga do estróbilo não ultrapassa 1 mm, mas apresentam tamanho ainda menor nos casos de hiperinfecções, quando há centenas de vermes. O escólex apresenta rostro re- trátil, formado por uma fileira com 20 a 30 acúleos e todas as aberturas genitais localizam-se do mesmo lado do estróbilo. A região do colo ou pescoço é relativamente comprida e, assim como nos outros cestódeos, é responsável pela formação das proglotes. As proglotes grávidas exibem útero em forma sacular e sofrem apólise, desintegrando-se ainda no intestino do pa- ciente e liberando os ovos, os quais são eliminados com as fezes do hospedeiro. Os ovos são ovais e medem de 40 a 50 μm, com embrião hexacanto ou oncosfera protegidos pelas duas cascas refringentes. A primeira tem extremidades mamelonadas nos polos, das quais saem filamentos sinuosos. Permanecem viáveis por apenas dez dias após serem eliminados. • Hymenolepis diminuta – a tênia do rato ou verme adulto mede de 10 a 60 cm de com- primento e o escólex apresenta rostro retrátil, formado por uma fileira com 20 a 30 acúleos e todas as aberturas genitais localizam-se do mesmo lado do estróbilo. A região do colo ou pescoço é curta, seguida por proglotes que são mais largas que longas. As proglotes grávidas, assim como em H. nana, sofrem apólise e liberam os ovos ainda no intestino, os quais são eli- • Diphyllobotrium latum – ou tênia de peixe: o estróbilo desse cestódeo pode conter até 4.000 proglotes e alcançar dez metros de comprimento. O escólex tem forma de amêndoa e mede aproximadamente 2 a 3 mm de comprimento, não tem ventosas nem acúleos, mas pseudobotrídeias ou bótrias, com musculatura pouco desenvolvida. Diferente dos outros ces- tódeos, não se observa apólise no estróbilo de D. latum, e as proglotes só se desprendem por ruptura mecânica. Os parasitas podem viver por até 20 anos. Assim como nos outros cestó- deos, grande número de ovos são eliminados junto com as fezes, chegando a um milhão por dia. Eles são elípticos, medem aproximadamente 60 por 45 μm, são envolvidos por uma casca e apresentam um opérculo polar. A B C D PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 134 minados com as fezes do hospedeiro. Os ovos são ovais e medem de 70 a 80 μm, com embrião hexacanto ou oncosfera protegidos pelas duas cascas refringentes. A primeira tem extremi- dades mamelonadas nos polos, porém sem os fi lamentos sinuosos encontrados em H. nana. Permanecem viáveis por apenas uma semana após serem eliminados. Figura 6. Morfologia dos cestódeos. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 09/09/2019. Características do ciclo de desenvolvimento5.3.2 O ciclo biológico dos cestódeos é heteroxênico, com exceção da Hymenolepis nana. O hospe- deiro defi nitivo alberga os parasitos no intestino e libera ovos nas fezes, os quais podem estar livres ou contidos nas proglotes. O hospedeiro intermediário se infecta ingerindo os ovos que contêm a larva oncosfera ou embrião hexacanto. Neles, se desenvolvem as larvas infectantes para humanos, as quais são ingeridas junto à carne contaminada ou, no caso de H. diminuta e de D. caninum, de pulgas e coleópteros. A seguir, faremos uma breve descrição das particulari- dades dos ciclos biológicos dos principais cestódeos que afetam o homem. • Dipylidium caninum tem ciclo biológico heteroxênico, sendo os cães os hospedeiros defi niti- vos e as pulgas Ctenocephalides sp., Pulex sp. e os coleópteros Tribolium sp. e Tenebrium sp. os hos- pedeiros intermediários. As proglotes grávidas desprendem-se por apólise e são eliminadas espontaneamente ou junto com as fezes dos cães e eventualmente de crianças, que podem ser acidentalmente infectadas. As proglotes movimentam-se por contrações e liberam os ovos no meio ambiente, os quais são ingeridos pelas larvas dos hospedeiros intermediários. A oncosfera é liberada no intestino do artrópode, atravessa a parede do tubo digestivo, atinge a hemocele e desenvolve-se junto com o processo de mudanças de estágios do inseto, até alcançar a forma in- fectante de larva cisticercoide. Esse processo dura em torno de 30 dias. O hospedeiro defi nitivo se infecta ao ingerir acidentalmente os artrópodes com as larvas cisticercoides. PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 135 ESCLARECIMENTO: As proglotes grávidas de muitos cestódeos podem se desprender do estróbilo por um processo chamado apólise e saírem pelo ânus fora do período de eva- cuação, ou serem eliminadas junto com as fezes. Como elas são repletas de ovos, os quais são eliminados pelos poros genitais ou diretamente pelo tegu- mento, que não tem cutícula, contaminam o meio ambiente. por um processo chamado apólise e saírem pelo ânus fora do período de eva-por um processo chamado apólise e saírem pelo ânus fora do período de eva- As proglotes grávidas de muitos cestódeos podem se desprender do estróbilo por um processo chamado apólise e saírem pelo ânus fora do período de eva- cuação, ou serem eliminadas junto com as fezes. Como elas são repletas de ovos, os quais são eliminados pelos poros genitais ou diretamente pelo tegu- As proglotes grávidas de muitos cestódeos podem se desprender do estróbilo As proglotes grávidas de muitos cestódeos podem se desprender do estróbilo As proglotes grávidas de muitos cestódeos podem se desprender do estróbilo por um processo chamado apólise e saírem pelo ânus fora do período de eva- cuação, ou serem eliminadas junto com as fezes. Como elas são repletas de por um processo chamado apólise e saírem pelo ânus fora do período de eva-por um processo chamado apólise e saírem pelo ânus fora do período de eva-por um processo chamado apólise e saírem pelo ânus fora do período de eva-por um processo chamado apólise e saírem pelo ânus fora do período de eva- cuação, ou serem eliminadas junto com as fezes. Como elas são repletas de cuação, ou serem eliminadas junto com as fezes. Como elas são repletas de cuação, ou serem eliminadas juntocom as fezes. Como elas são repletas de ovos, os quais são eliminados pelos poros genitais ou diretamente pelo tegu- cuação, ou serem eliminadas junto com as fezes. Como elas são repletas de ovos, os quais são eliminados pelos poros genitais ou diretamente pelo tegu-ovos, os quais são eliminados pelos poros genitais ou diretamente pelo tegu-ovos, os quais são eliminados pelos poros genitais ou diretamente pelo tegu- • Diphyllobotrium latum: esse parasito tem ciclo biológico heteroxênico e envolve três hospedeiros para passar por todos os estágios. Os ursos e os humanos são os hospedei- ros defi nitivos, os crustáceos e os peixes os hospedeiros intermediários. Os hospedeiros defi nitivos albergam os parasitos adultos e eliminam os ovos junto com as fezes. A matu- ração dos ovos ocorre após 15 dias a 25 ºC, quando então a massa de células se organiza formando uma larva ciliada denominada coracídio. Ao chegar na água, o coracídio eclode, saindo pelo opérculo, e nada até ser ingerido pelos primeiros hospedeiros intermediários: os crustáceos dos gêneros Cyclops e Diaptomus, nos quais se transformam em larvas pro- cercoides, após 20 dias. Os segundos hospedeiros intermediários são os peixes – truta e salmão – os quais se infectam ao ingerir os crustáceos contaminados. As larvas procercoi- des atravessam a parede intestinal e alcançam os músculos, onde se diferenciam em larva plerocercoide ou espargano. O homem e o urso se infectam ao comer os peixes contami- nados com os esparganos. • Hymenolepis nana: em geral, o ciclo é monoxênico com transmissão direta de um hospe- deiro para o outro, podendo haver autoinfecção interna e externa. A contaminação se dá pela ingestão dos ovos e a ação da tripsina e dos sais biliares auxilia a dissolução da casa para faci- litar a eclosão do embrião hexacanto no intestino delgado. As larvas liberam o conteúdo das glândulas de penetração na mucosa do jejuno e, com auxílio dos acúleos, invadem-na, para se diferenciarem em larvas cisticercoides, dotadas de um escólex invaginado, uma vesícula e uma cauda pequena, quatro dias após a invasão. O cisticercoide deixa a mucosa e migra para o íleo, onde o escólex desenvagina-se, fi xa-se à mucosa e atinge a maturidade sexual. Frequen- temente, ocorre reprodução cruzada e os ovos são eliminados nas fezes. O ciclo biológico se completa em aproximadamente um mês. • H. diminuta: ciclo biológico heteroxênico. Os hospedeiros intermediários são as larvas de pulgas e de coleópteros, que se contaminam ao ingerir os ovos eliminados nas fezes do hospe- deiro defi nitivo. As larvas cisticercoides se desenvolvem na hemolinfa e o ciclo tem continuida- de quando os artrópodes são ingeridos pelos hospedeiros defi nitivos. PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 136 Mecanismos de contaminação e fi siopatologia da doença5.3.3 As diferentes espécies de cestódeos que parasitam humanos contaminam-no por diferen- tes vias: ingestão de ovos, geralmente presentes em água ou verduras, ingestão de carne do hospedeiro intermediário, contaminadas com larvas, e até a ingestão acidental de pulgas e besouros nos quais as larvas estão presentes. A fi siopatogenia provocada pelo parasitismo varia de acordo com a espécie de cestódeos, podendo passar despercebida quando houver pequena carga parasitária e o hospedeiro for saudável, ou provocar dores abdominais com diarreia e até mesmo anemia. Quadro 1. Mecanismos de contaminação e fi siopatogenias desencadeadas por alguns cestódeos humanos Cestódeo Mecanismo de contaminação Fisiopatogenia da doença Dipylidium caninum Ingestão acidental de pulgas e coleópteros contaminados com as larvas cisticercoides. Podem ser assintomáticas ou apresentar desconforto abdominal, diarreia, prurido anal e irritabilidade. Diphyllobotrium latum Ingestão das larvas plerocercoides ou espargano presente nos músculos dos peixes. A asparganose provoca dor abdominal, fl atulência, anorexia, astenia, vômito e perda de peso. Pode provocar anemia perniciosa devido ao consumo de vitamina B12. Hymenolepis nana ingestão de ovos: auto e heteroinfecção. Assintomática ou com sintomas nas hiperinfecções, mais comuns em crianças: congestão da mucosa, com infi ltrado linfocitário e úlceras. Eosinofi lia (4 a 15%). Sintomas: anorexia, perda de peso, inquietação e prurido, dor abdominal, vômitos, diarreia e até crises epileptiformes. Hymenolepis diminuta Ingestão acidental de artrópodes contaminados com as larvas cisticercoides. A maioria das infecções é assintomática e com poucos parasitos. ESCLARECIMENTO: O primeiro caso de asparganose diagnosticado no Brasil, provocado por D. la- tum, foi publicado em 2006, e descoberto em um senhor de 65 anos de idade, residente em Porto Alegre. Ele havia viajado para New Orleans dois anos antes, onde ingeriu camarão e peixe, e anos antes viajou para Itália, Inglaterra e Espa- nha (EMMEL et al., 2006). , foi publicado em 2006, e descoberto em um senhor de 65 anos de idade, , foi publicado em 2006, e descoberto em um senhor de 65 anos de idade, D. la- , foi publicado em 2006, e descoberto em um senhor de 65 anos de idade, residente em Porto Alegre. Ele havia viajado para New Orleans dois anos antes, residente em Porto Alegre. Ele havia viajado para New Orleans dois anos antes, onde ingeriu camarão e peixe, e anos antes viajou para Itália, Inglaterra e Espa- O primeiro caso de asparganose diagnosticado no Brasil, provocado por O primeiro caso de asparganose diagnosticado no Brasil, provocado por D. la-O primeiro caso de asparganose diagnosticado no Brasil, provocado por , foi publicado em 2006, e descoberto em um senhor de 65 anos de idade, residente em Porto Alegre. Ele havia viajado para New Orleans dois anos antes, , foi publicado em 2006, e descoberto em um senhor de 65 anos de idade, , foi publicado em 2006, e descoberto em um senhor de 65 anos de idade, , foi publicado em 2006, e descoberto em um senhor de 65 anos de idade, , foi publicado em 2006, e descoberto em um senhor de 65 anos de idade, residente em Porto Alegre. Ele havia viajado para New Orleans dois anos antes, residente em Porto Alegre. Ele havia viajado para New Orleans dois anos antes, residente em Porto Alegre. Ele havia viajado para New Orleans dois anos antes, onde ingeriu camarão e peixe, e anos antes viajou para Itália, Inglaterra e Espa- residente em Porto Alegre. Ele havia viajado para New Orleans dois anos antes, onde ingeriu camarão e peixe, e anos antes viajou para Itália, Inglaterra e Espa-onde ingeriu camarão e peixe, e anos antes viajou para Itália, Inglaterra e Espa-onde ingeriu camarão e peixe, e anos antes viajou para Itália, Inglaterra e Espa- PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 137 Métodos de diagnóstico e tratamento5.3.4 O diagnóstico dos cestódeos é feito mediante identifi cação de ovos ou proglotes nas fezes do hospedeiro defi nitivo, pelo exame parasitológico de fezes, ou de cápsulas ovíferas, seme- lhantes à semente de melão, para D. caninum. O tratamento dos indivíduos contaminados é realizado com praziquantel (25 mg/kg em dose única), com o procedimento sendo repetido após uma semana. A necessidade de repetir o tratamento se justifi ca pelo fato de as drogas atuarem exclusivamente nas formas adultas dos parasitos. Há a possibilidade de tratamento com niclosamida (2 g), a qual deve ser masti- gada em jejum, ingerindo pequena quantidade de água logo após. O mebendazol também é uma alternativa para o tratamento das infecções por D. caninum. O tratamento da aspargano- se necessita suplementação de vitamina B12. Os aspectos relacionados à epidemiologia e profi laxia dos cestódeos estão resumidos no Quadro 2. As teníases5.4 As teníases são doenças provocadas por cestódeos da família Taeniidae. O homem pode ser infectado pelas espécies Taenia solium, Taenia saginata e Echinococcus granulosus. A pre- sença dos parasitos adultos no intestino delgado determina a doença intestinal e as formaslarvárias de E. granulosus e de Taenia solium provocam a hidatidose e a cisticercose humana, doenças cuja gravidade estão relacionadas ao número e localização das larvas. Quadro 2. Epidemiologia e profilaxia de alguns cestódeos parasitos humanos Cestódeo Epidemiologia Profi laxia D. caninum Os ovos são pouco resistentes no meio ambiente e as crianças podem ser infectadas, sendo hospedeiras acidentais. Há poucos casos descritos. Tratamento dos cães e gatos e combate às pulgas e coleópteros. Diphyllobotrium latum O risco zoonótico da infecção humana relaciona-se com o hábito de consumir peixes crus, mal cozidos ou defumados. Não ingerir peixe cru, malcozido ou defumado. Hymenolepis nana Cosmopolita, mais frequente em regiões de clima temperado. Os ovos perdem a viabilidade dez dias após terem sido eliminados. Artrópodes coprófagos podem ingerir os ovos e as larvas cisticercoides se desenvolverem, mantendo-se nos seus tecidos. A ingestão acidental desses artrópodes pode dar continuidade ao ciclo biológico. Medidas de educação sanitária. Tratar todas as pessoas infectadas do domicílio e realizar controle de cura. Cortar unhas e intensifi car medidas de higiene. Combate aos roedores, proteção dos alimentos contra o contato com vetores. Hymenolepis diminuta O parasitismo humano é raro e está associado à densidade populacional de ratos. Idem. PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 138 Características dos agentes etiológicos5.4.1 E. granulosus: o verme adulto é encontrado no intestino dos cães e mede de 4 a 6 mm de comprimento. Apresenta escólex com quatro ventosas e coroa dupla de 30-40 acúleos; o colo é a região de crescimento do estróbilo, composto por três proglotes, sendo a última grávida, e contém, em média, de 600 a 800 mil ovos. Os ovos medem aproximadamente 50 μm, são redondos e contêm embriões esféricos com três pares de acúleos – o embrião hexacanto e o embrióforo (casca espessa e estriada). O cisto hidático, uma forma esférica que se forma após a ingestão dos ovos pelo hospedeiro intermediário, geralmente no fígado e pulmões dos hos- pedeiros intermediários, é responsável pela formação das larvas do parasito. É formado por três membranas: • Adventícia: tecido fi broso, reação do hospedeiro contra a larva; • Anista ou hialina: germinativa, hialina e homogênea, formada por polissacarídeos e pro- teínas; • Germinativa ou prolígera: interna, 10 μm, superfície rugosa, forma as vesículas prolígeras e as outras membranas. Dentro do cisto hidático formam-se vesículas hidáticas, as quais originam de 2 a 60 larvas chamadas protoescóleces por brotamento (poliembrionia). Taenia solium e T. saginata adultos são muito semelhantes e a identifi cação da espécie re- quer análise da morfologia do escólex e da morfologia interna do útero grávido. Além das qua- tro ventosas, T. solium apresenta rostro armado com acúleos. O colo, assim como nos demais cestódeos, é responsável pela formação do estróbilo, formado por centenas de proglotes, que Figura 7. Morfologia externa de Taenia saginata. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 07/09/2019. PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 139 aumentam de tamanho à medida que se distanciam do colo e alcançam aproximadamente seis e três metros em T. saginata e T. solium, respectivamente. As proglotes são hermafroditas e podem desprender-se por apólise, sendo eliminadas com as fezes e, em T. saginata, há libe- ração fora do período de evacuação. As ramifi cações uterinas da T. saginata são dicotômicas e constituem aproximadamente 26 pares, ao passo que em T. solium são dendríticas e menos numerosas, em torno de 12 pares. Características do ciclo de desenvolvimento5.4.2 O ciclo biológico das tênias é heteroxênico. Os hospedeiros defi nitivos albergam o parasito adulto no intestino delgado e eliminam os ovos contendo as larvas oncosferas ou embrião he- xacanto junto às fezes. Os hospedeiros intermediários ingerem os ovos e, no intestino delgado, após ativação da oncosfera, há liberação dessas larvas as quais diferenciam-se em cisticercos e migram para os músculos (Taenia) ou em cisto hidático (Ecchinococcus). Mecanismos de contaminação e fi siopatologia da doença5.4.3 O homem adquire a teníase quando ingere carne de porco ou de boi, mal cozidas ou cruas, contaminadas com as larvas cisticercos de Taenia solium ou de Taenia saginata, respectivamente. A cisticercose é adquirida quando o homem ingere acidentalmente ovos de Taenia solium. Isso ocorre quando fezes de pessoas parasitadas por T. solium alcançam água e verduras, as quais Diagrama 2. Esquema simplifi cado do ciclo biológico das tênias que parasitam o homem Hospedeiro defi nitivo: homem Hospedeiro intermediário: bois Taenia saginata Taenia solium Hospedeiro defi nitivo: homem Hospedeiro intermediário: porcos Hospedeiro defi nitivo: cães Hospedeiro intermediário: herbívoros e humanos Ecchinococcus granulosus PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 140 são ingeridas sem a devida higienização. Outra via de contaminação é a autoinfecção externa, na qual o indivíduo com teníase provocada por T. solium ingere os ovos ou proglotes eliminados nas próprias fezes. Essa via de contaminação tem sido relatada em pacientes que exercem a coprofagia devido às condições inadequadas de higiene ou distúrbios psiquiátricos. Também é possível ocorrer autoinfecção interna, quando os ovos ou as proglotes grávidas de T. solium são regurgitados do intestino delgado para o estômago durante o vômito ou movimentos retrope- ristálticos. A ação do suco gástrico provoca dissolução do embrióforo e ativação da oncosfera, a qual segue para o intestino delgado, onde se diferenciará em larva cisticerco, que migra para os tecidos (NEVES, 2016). A fisiopatogenia da teníase decorre da fixação das ventosas na mucosa do intestino delgado e da resposta inflamatória do hospedeiro em resposta às substâncias alergênicas e tóxicas liberadas pela tênia durante o período em que a pessoa ficou contaminada. Pode ocorrer he- morragia, infiltrado celular com produção aumentada ou diminuída de muco. Além disso, a competição da tênia por alimentos faz com que o hospedeiro apresente intenso apetite, porém acompanhado de astenia, tonturas e vômitos. O abdômen se torna alargado e apresenta-se dolorido em locais diferentes. O tamanho exagerado do estróbilo pode provocar obstrução do intestino delgado, e, embora raro, as proglotes também podem apresentar localização ectópi- ca e penetrarem no apêndice (NEVES, 2016). A fisiopatogenia da cisticercose é ainda mais grave e está relacionada, entre outros fatores, ao número, tamanho e localização dos cisticercos, além do estágio de desenvolvimento em que se encontram e da resposta imunológica do hospedeiro. A cisticercose pode ser pratica- mente assintomática quando as larvas se instalam nos músculos, restringindo-se a reações locais. Contudo, a presença de grande número de cisticercos nos tecidos musculares esque- léticos, sobretudo na região da nuca, na região lombar e nas pernas, é acompanhada de dor, fadiga e câimbras, independentemente de estarem calcificados ou não. A cisticercose cardíaca provoca palpitações e ruídos anormais e até mesmo dispneia. A fisiopatogenia da oftalmocisticercose varia de acordo com a localização dos cisticer- cos: na câmara anterior do olho, provoca dor e significativa resposta inflamatória e dor, levando o paciente a procurar atendimento médico rápido. Por outro lado, cisticercos aloja- dos na câmara posterior do olho não produzem dor, e o paciente só procura ajuda médica quando há alteração visual central ou periférica em decorrência do descolamento e até mesmo perfuração da retina, atingindo o humor vítreo. A resposta inflamatória desenca- deia opacificação do humor vítreo e desorganização intraocular, podendo, inclusive, levar à perda da visão (REY, 2013). As manifestações da neurocisticercose estão associadas a três diferentes fatores: PARASITOLOGIAGERAL E CLÍNICA 141 • Localização dos cisticercos no parênquima cerebral ou espaços liquóricos, que promove compressão, irritação e obstrução vascular ou do fluido cefalorraquidiano, hipertensão crania- na, hidrocefalia e calcificações; • Reação inflamatória, que se intensifica por ocasião da degeneração das larvas e pode provocar encefalite focal, edema, vasculite e ruptura da barreira hematoencefálica. Com isso, o paciente pode apresentar crises epilépticas, síndrome de pressão intracraniana e distúr- bios mentais. • Fibrose, granuloma e calcificação dos espaços atingidos pelos cisticercos, as quais corres- pondem à forma cicatricial da neurocisticercose (NEVES, 2016). A contaminação humana pelo E. granulosus ocorre pela ingestão dos ovos do parasito eli- minados com as fezes dos cães. A fisiopatogenia pode variar de lesão benigna de crescimento lento a lesões graves, dependendo do órgão afetado, e se devem à ação mecânica de com- pressão e às reações de hipersensibilidade decorrentes da resposta imune do hospedeiro em resposta aos polipeptídeos das larvas. Figura 8. Aspectos macroscópicos e histológicos da cisticercose bovina: (A) Lesões nodulares, de coloração branca e amarela no músculo masseter e coração. (B) Superfície de corte de um cisto degenerado no músculo masseter, com material caseoso amarelo e friável envolto por cápsula fibrosa. (C) Aspecto histológico de um cisticerco degenerado no músculo masseter composta por necrose caseosa no centro e grande quantidade de debris celulares, envolta por infiltrado inflamatório corado pela Hematoxilia-eosina com aumento de 100x. (D) Detalhes histológicos da imagem C observados em aumento de 200x. Fonte: PANZIERA, 2017. (Adaptado). A B C D PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 142 Métodos de diagnóstico e tratamento5.4.4 O diagnóstico da teníase é realizado por meio da identifi cação das proglotes do para- sito nas fezes, pelo método de tamização em peneira fi na. Para identifi cação da espécie de Taenia, é necessário proceder a coloração das proglotes grávidas e realizar o estudo da mor- fologia das ramifi cações do útero. Os ovos da Taenia podem ser identifi cados pelos exames parasitológicos pelos métodos de Hoff man, Pons e Janer, dentre outros, e também pela fi ta gomada. Contudo, os ovos de T. solium e T. saginata exibem morfologia idêntica, não sendo possível realizar o diagnóstico da espécie. A pesquisa de coproantígenos pelo método de ELISA de captura, utilizando soro policlonal contendo anti- corpos específi cos para as larvas e para antígenos excretados e secretados pelo parasito, é um método sensível e simples para o diagnóstico da teníase (NEVES, 2016). O diagnóstico da cisticercose pode ser realizado pela identifi cação do parasito em análises anatomopatológicas obtidas por biópsias, necropsias e cirurgias, sendo também possível iden- tifi car os cisticercos durante o exame oftalmoscópico de fundo de olho. Os métodos imuno- lógicos permitem detectar anticorpos IgG, IgM, IgA e IgE do paciente, específi cos para a larva cisticerco, em amostras do humor aquoso, no líquor cefalorraquidiano e de soro. O método mais utilizado é o ELISA, devido à alta sensibilidade e especifi cidade. Os resultados obtidos pelo ELISA podem ser correlacionados aos sinais clínicos apresentados pelos pacientes e aos resultados de tomografi a computadorizada, uma vez que foram encontradas altas concentra- ções de anticorpos nos pacientes que apresentavam forma ativa dos cisticercos, as quais eram acompanhadas de intensa resposta infl amatória (NEVES, 2016). O tratamento medicamentoso da teníase e da cisticercose oferece bons resultados, mas o paciente necessita receber as orientações profi láticas, a fi m de não se contaminar novamente. O diagnóstico da hidatidose humana é feito por exames de imagem e sorologia, com a pesqui- sa de antígenos específi cos do parasito. PAUSA PARA REFLETIR Considerando que, entre os cestódeos que parasitam o homem, a patogenia pode ser de- sencadeada pelas larvas ou pelos adultos, qual forma dos parasitos oferece mais risco de óbito ao paciente? PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 143 Quadro 3. Métodos de diagnóstico da hidatidose humana Hemograma Eosinofilia leve Radiologia Imagens redondas Cintilografia Acompanha-se a vascularização até as bordas das hidátides, permitindo diferenciação de tumores malignos Ultrassonografia Número de cistos, presença de vesículas-filhas, localização Tomografia Melhor resolução que a radiologia, US e cintilografia Laparoscopia Abdominopelviana Avalia a aderência, localização Sorologia Antígeno 5 e antígeno B O tratamento medicamentoso da teníase e da cisticercose oferece bons resultados, ainda assim é importante que o paciente receba orientações profiláticas a fim de não se contaminar novamente. Tratamento da teníase: • Niclosamida ou clorossalicilamida: têm efeito sobre o sistema nervoso, provocando a imo- bilização das tênias, facilitando, assim, sua eliminação junto às fezes. A dose para adultos e crianças com oito anos ou mais é de 2 g e, para aquelas com idade entre dois e oito anos, 1 g, por via oral, dividido em duas doses pela manhã com intervalo de uma hora entre elas. Uma hora após o último comprimido, o paciente deve tomar duas colheres de leite de magnésio para facilitar a eliminação das tênias inteiras e evitar a autoinfecção por T. solium, que poderia determinar a cisticercose. As reações adversas incluem cefaleia, dor de estômago, náusea e tontura de pouca duração. • Praziquantel: 600 mg em dose única, sendo contraindicado no tratamento de pacientes que apresentarem infecção concomitante com cisticercose. • Mebendazol: 200 mg, duas vezes ao dia, durante três dias, por via oral. • Albendazol: 400 mg ao dia, durante três dias, por via oral. Tratamento da neurocisticercose: • Praziquantel, (50 mg/kg/dia), durante 21 dias, associado à dexametasona, para minimizar os efeitos das reações inflamatórias decorrentes da morte dos cisticercos. Essa droga rompe a membrana do cisticerco, provocando o vazamento do líquido da vesícula (rico em antígenos imunogênicos) e estimulando a resposta imunológica e inflamatória local. Por isso, é necessá- rio que o tratamento seja realizado em ambiente hospitalar e associado ao anti-inflamatório; • Albendazol (15 mg/dia), durante 30 dias, dividido em três doses diárias, associado a 100 mg de metilpredinisolona, no primeiro dia de tratamento, a partir do qual se mantém 20 mg/ dia durante os 30 dias. Há uma tendência a utilizar esse medicamento em substituição ao pra- ziquantel, uma vez que apresenta menor toxicidade e maior eficácia (SAÚDE, 2010). PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 144 É necessário avaliar o uso concomitante de anticonvulsivantes para os pacientes portadores de epilepsia. Os aspectos epidemiológicos envolvidos na teníase e na cisticercose incluem, além da au- sência de educação sanitária, sobretudo nas regiões rurais, a falta de fossas ou destino ade- quado para o esgoto, favorecendo a contaminação ambiental. Considerando que os porcos são coprófagos e que é relativamente comum a ingestão de fezes humanas pelos bovinos, é necessária a mudança de hábitos da população para não permitir que as fezes tenham destino incorreto. Um único indivíduo infectado elimina milhões de ovos por dia e, ainda, as apólises e proglótides, cada uma contendo de 80.000 a 250.000 ovos, associado à resistência dos ovos que permanecem viáveis por vários meses (URQUHART et al., 1996; REY, 2013). A contamina- ção dos reservatórios urbanos de água pode ocorrer quando córregos provenientes de áreas rurais contaminadas cruzam a região das cidades. As medidas profiláticas para evitar a teníase e a cisticercose devem focalizar a educa- ção sanitária da população, uma vez que a fonte de infecção para bovinos e suínos são as fezes humanas com ovos de Taenia. A inspeção das carcaças nos matadouros diminui a ocorrência da teníase e a fiscalizaçãodas hortas, para que não sejam contaminadas com fezes humanas, tem efeito protetor contra a cisticercose. Também é necessário realizar o tratamento em massa dos indivíduos contaminados e orientar a população a não comer carne crua ou mal cozida. Tratamento da hidatidose: A cirurgia é indicada para remoção dos cistos maiores que 10 cm, de fácil acesso e super- ficiais, acompanhada pela quimioterapia com albendazol (400 mg). Recomenda-se realizar punção, aspiração, injeção de substâncias protoscolicidas (etanol 75-95% ou cetrimida 0,5%) e reaspiração, em cistos visíveis pela ecografia (PAIR) para remoção dos antígenos do parasito presentes no cisto e que podem desencadear reação anafilática no paciente, caso haja extra- vasamento de líquido hidático durante o procedimento cirúrgico. Proposta de Atividade Agora é a hora de pôr em prática tudo o que você aprendeu nesse capítulo! Para isso, elabo- re um quadro comparando os parasitos estudados, destacando as principais ideias abordadas ao longo do capítulo. Ao produzir seu quadro, considere as leituras básicas e complementares realizadas. Dicas: coloque uma coluna para o nome dos parasitas da classe Cestoda e, nas demais colunas, a forma infectante para o homem, o ciclo biológico, os mecanismos fisiopato- gênicos e assim por diante. PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 145 Recapitulando Agora que já estudamos os principais parasitos do filo Platyhelminthes, estamos pron- tos para responder à questão proposta no início do capítulo, certo? Nós vimos que todos os seres vivos desse filo têm, em comum, o corpo achatado dorso-ventralmente e o tegumen- to não tem cutícula, o que permite a absorção de nutrientes diretamente do meio. Entre os platelmintos que parasitam o homem e outros animais, a maioria tem ciclo biológico heteroxênico e desenvolvimento indireto, ou seja, passam pelos estágios de ovo, larvas e adultos. De acordo com o aspecto da anatomia externa, o filo Platyhelminthes é dividido em duas classes: Trematoda e Cestoda. A principal diferença morfológica entre as espécies da classe Trematoda em relação à classe Cestoda é que o corpo dos primeiros tem o formato de folha e a presença de duas ventosas de fixação: a ventosa oral e a ventosa ventral, também chamada acetábulo. Esses parasitos utilizam moluscos habitantes de água doce como hospedeiros intermediários, nos quais se desenvolvem as larvas cercárias. Já entre os Cestoda, o corpo apresenta forma de uma fita, apresentando a região anterior, denominada escólex, com ventosas utilizadas para a fixação na mucosa do hospedeiro definitivo. Seguindo-se ao escólex, há uma região responsável pelo crescimento do corpo do parasito, chamada colo ou pescoço. Finalmen- te, o estróbilo consiste numa sequência de proglotes constituídas por todos os sistemas fisiológicos, ou seja, são independentes umas das outras. Por isso, é possível, e inclusive comum, entre os cestódeos, o desprendimento das proglotes do estróbilo – denominado apólise – sem que o parasito sofra qualquer prejuízo ao contrário, esse processo está as- sociado à dispersão dos ovos dos parasitos, uma vez que as proglotes que se desprendem são grávidas e contêm milhares de ovos, os quais serão eliminados junto com as fezes. Sobre a coceira desencadeada pela penetração das cercárias, devemos nos lembrar que, quanto maior o número de reinfecções, mais intensa será a resposta inflamatória mediada por anticorpos IgE específicos, os quais interagem com as cercárias no momento da pene- tração da pele. Esses anticorpos ativam mastócitos e eosinófilos, os quais liberam substân- cias inflamatórias que matam muitas larvas, diminuindo a carga parasitária do paciente, mas que também provoca a dermatite cercariana, com coceira, eritema e prurido na região. Vimos que a esquistossomose é uma doença endêmica no Brasil, adquirida quando larvas cercárias, encontradas nas regiões de água doce em que há caramujos do gênero Biomphalaria (hospedeiro intermediário), atravessam a pele do hospedeiro definitivo (o ser humano). O principal mecanismo fisiopatogênico da doença é a formação de granulomas ao redor dos ovos do parasito que se dispersam para a parede do intestino, fígado e outros PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 146 órgãos do hospedeiro. A fibrose dos granulomas compromete a circulação porta e desen- cadeia hepatoesplenomegalia, circulação colateral e ascite. A fasciolíase, por outro lado, é adquirida pela ingestão de metacercárias aderidas geralmente à vegetação. Costuma estar associada ao cultivo de agrião em áreas alagadiças contaminadas por fezes bovinas. Nesse caso, o parasito vive nas vesículas e nos canais biliares. Finalmente, para responder a reflexão acerca das formas dos cestódeos que mais ofere- cem riscos aos humanos, devemos pensar nas larvas, que podem se alojar em diferentes órgãos, como no sistema nervoso, pulmões e no fígado, comprometendo suas funções. PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 147 Referências bibliográficas BRASIL. Ministério da Saúde. Mapa e distribuição da esquistossomose, de acordo com a faixa de positividade por município: Brasil, 2010-2015. Brasília, 2017. Disponível em: . Acesso em: 17 set. 2019. BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. Doenças infecciosas e parasitarias: guia de bolso. 8. ed. rev. Brasília: Minis- tério da Saúde, 2010. Disponível em: . Acesso em: 30 out. 2019. EMMEL, V. et al. Diphyllobothrium latum: relato de caso no Brasil. Revista da Sociedade Brasilei- ra de Medicina Tropical, Uberaba, v. 39, n. 1, jan./fev. 2006. Disponível em: Acesso em: 17 set. 2019. KASPER, D. L. Doenças infecciosas de Harrison. 2. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. NEVES, D. P. Parasitologia humana. 13. ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2016. PANZIERA, W. et al. Aspectos macroscópicos e histológicos da cisticercose bovina. Pesquisa Veterinária Brasileira, Rio de Janeiro, v. 37, n. 11, nov. 2017. Disponível em: Acesso em: 17 set. 2019. REY, L. Parasitologia. Rio de janeiro: Guanabara Koogan, 2013. TORTORA, G. J. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. URQUHART, G. M. et al. Classe cestoda. Parasitologia Veterinária. 2. ed. Rio de janeiro: Guana- bara Koogan, 1996. PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 148 Objetivo do capítulo Compreender as doenças de interesse para a Parasitologia Clínica, os mecanismos de contaminação e as características das doenças. ESTRONGILOIDÍASE • Características do agente etiológico • Características do ciclo de desenvolvimento • Mecanismos de contaminação e fi siopatologia da doença • Métodos de diagnóstico e tratamento ANCILOSTOMOSE • Características do agente etiológico • Características do ciclo de desenvolvimento • Mecanismos de contaminação e fi siopatologia da doença • Métodos de diagnóstico e tratamento ASCARIOSE E ENTEROBÍASE • Características do agente etiológico • Características do ciclo de desenvolvimento • Mecanismos de contaminação e fi siopatologia da doença • Métodos de diagnóstico e tratamento TOXOCARÍASE • Características do agente etiológico • Características do ciclo de desenvolvimento • Mecanismos de contaminação e fi siopatologia da doença • Métodos de diagnóstico e tratamento TÓPICOS DE ESTUDO PARASITOLOGIA GERAL E CLÍNICA 149 O fi lo Nematoda reúne um grande número de vermes alongados e redondos, revestidos por uma cutícula lisa e que apresentam sistema digestivo completo (com boca e ânus). Há espécies de vida livre e também espécies parasitas de plantas e animais. O tamanho desses parasitos varia de