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CONTROLE E QUALIDADE DOS ALIMENTOS CONTROLE E QUALIDADE DOS ALIMENTOS ORGANIZADORES NATALY MARIA VIVA DE TOLEDO ; TANYARA BALIANI PAYOLLA ORGANIZADORES NATALY MARIA VIVA DE TOLEDO ; TANYARA BALIANI PAYOLLA Controle e qualidade dos alim entos GRUPO SER EDUCACIONAL O controle e a segurança dos alimentos vêm ganhando destaque à medida que as empresas estão cada vez mais comprometidas com o tema diante das exigências do mercado. As autoras prepararam este livro de forma didática e com linguagem clara para que você tenha um conhecimento mais profundo para fundamentar seus estudos. A obra se divide em quatro unidades que vão tratar dos principais temas nesta sequência: fundamentos de qualidade e segurança dos alimentos, segurança e qualidade dos alimentos de origem animal e vegetal; legis- lação e ferramentas de controle e garantia da qualidade; �nalizando com ensinamentos sobre a gestão da qualidade. Bons estudos e aproveite estes ensinamentos! gente criando futuro C M Y CM MY CY CMY K CONTROLE E QUALIDADE DOS ALIMENTOS Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, do Grupo Ser Educacional. Diretor de EAD: Enzo Moreira Gerente de design instrucional: Paulo Kazuo Kato Coordenadora de projetos EAD: Manuela Martins Alves Gomes Coordenadora educacional: Pamela Marques Equipe de apoio educacional: Caroline Guglielmi, Danise Grimm, Jaqueline Morais, Laís Pessoa Designers gráficos: Kamilla Moreira, Mário Gomes, Sérgio Ramos,Tiago da Rocha Ilustradores: Anderson Eloy, Luiz Meneghel, Vinícius Manzi Toledo, Nataly Maria Viva de. Controle e qualidade dos alimentos / Nataly Maria Viva de Toledo ; Tanyara Baliani Payolla. – São Paulo: Cengage, 2020. Bibliografia. ISBN 9786555581416 1. Engenharia de Alimentos. 2. Nutrição. 3. Payolla, Tanyara Baliani. Grupo Ser Educacional Rua Treze de Maio, 254 - Santo Amaro CEP: 50100-160, Recife - PE PABX: (81) 3413-4611 E-mail: sereducacional@sereducacional.com “É através da educação que a igualdade de oportunidades surge, e, com isso, há um maior desenvolvimento econômico e social para a nação. Há alguns anos, o Brasil vive um período de mudanças, e, assim, a educação também passa por tais transformações. A demanda por mão de obra qualificada, o aumento da competitividade e a produtividade fizeram com que o Ensino Superior ganhasse força e fosse tratado como prioridade para o Brasil. O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego – Pronatec, tem como objetivo atender a essa demanda e ajudar o País a qualificar seus cidadãos em suas formações, contribuindo para o desenvolvimento da economia, da crescente globalização, além de garantir o exercício da democracia com a ampliação da escolaridade. Dessa forma, as instituições do Grupo Ser Educacional buscam ampliar as competências básicas da educação de seus estudantes, além de oferecer- lhes uma sólida formação técnica, sempre pensando nas ações dos alunos no contexto da sociedade.” Janguiê Diniz PALAVRA DO GRUPO SER EDUCACIONAL Autoria Nataly Maria Viva de Toledo Bacharel em Ciências dos Alimentos (2010) pela Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - ESALQ/USP. Mestre em Química na Agricultura e no Ambiente (2013) pelo Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo - CENA/USP, com estágio internacional na Universidad Nacional del Litoral (Argentina, 2012). Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela ESALQ-USP (2018), com vivência internacional na Universidad de Murcia, Espanha (2016-2017). Possui Licenciatura plena em Pedagogia (2019) pelo Centro Universitário de Araras Dr. “Edmundo Ulson” - UNAR, e MBA em Gestão de Projetos (conclusão prevista para julho/2020) pela ESALQ/USP. Atua como docente no UNAR (2018-atual) nos cusos de Nutrição e Gastronomia, sendo responsável pelas disciplinas de ciências dos alimentos, bioquímica de alimentos, tecnologia de alimentos, bromatologia, rotulagem nutricional; além de ser membro atuante no Núcleo Docente Estruturante (NDE). Atua como docente nas Faculdades Integradas Einstein de Limeira (2019-atual), onde é membro do NDE do curso de Nutrição e responsável pelas disciplinas de tecnologia dos alimentos, bioquímica dos alimentos, composição dos alimentos e higiene e legislação. Apresenta experiência no desenvolvimento e análise de projetos nas áreas de aproveitamento de subprodutos de frutas; inovação de produtos alimentícios; análise de alimentos; tecnologia de alimentos, sensorial de alimentos e bebidas. (Fonte: CV Lattes). Tanyara Baliani Payolla Bacharel em Nutrição (2012) e Mestre (2015) em Ciências da Nutrição e do Esporte e Metabolismo pela Faculdade de Ciências Aplicadas-Unicamp, na área de Biologia Molecular e Metabolismo. Doutora (2019) em Ciências, na área de Fisiologia Humana, pelo Instituto de Ciências Biomédicas-USP. Adquiriu experiência na área de Controle Sanitário em estágio na Vigilância Sanitária. Atua nas áreas de Nutrição e Saúde como professora SUMÁRIO Prefácio .................................................................................................................................................8 UNIDADE 1 - Fundamentos de qualidade e segurança dos alimentos .............................................11 Introdução.............................................................................................................................................12 1 Conceitos gerais sobre segurança dos alimentos ............................................................................... 13 2 Importância da qualidade no panorama atual ................................................................................... 19 3 Histórico dos procedimentos de controle de qualidade ....................................................................21 PARA RESUMIR ..............................................................................................................................26 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................27 UNIDADE 2 - Segurança e qualidade dos alimentos de origem animal e vegetal .............................29 Introdução.............................................................................................................................................30 1 Segurança e qualidade na cadeia produtiva de alimentos de origem animal ...................................31 2 Segurança e qualidade na cadeia produtiva de alimentos de origem vegetal ...................................42 3 Conceito integrado de segurança na cadeia produtiva ......................................................................44 4 Conceito de Boas Práticas Agrícolas (BPA) ......................................................................................... 46 5 Produtos brasileiros no mercado interno e internacional ..................................................................46 6 Parâmetros críticos a considerar na cadeia produtiva .......................................................................48 PARA RESUMIR ..............................................................................................................................50 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................51 UNIDADE 3 - Legislação e ferramentas de controle e garantia da qualidade ..................................53 Introdução.............................................................................................................................................54 1 Legislação relacionada à segurança dos alimentos ............................................................................55 2 Ferramentas de controle e garantia da qualidade ............................................................................. 60 PARA RESUMIR ..............................................................................................................................70 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................71 UNIDADE 4 - Gestão da qualidade .................................................................................................73 Introdução.............................................................................................................................................74 1 Gestão de processos da qualidade .................................................................................................... 75 2 Conceito de inspeção por amostragem ............................................................................................. 78 3 Gestão da qualidade em alimentos ................................................................................................... 79 4 Principais ferramentas para o estabelecimento de programas de garantia da qualidade .................80 5 Fundamentos comportamentais de recursos humanos.....................................................................83 PARA RESUMIR ..............................................................................................................................91 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................92 As autoras prepararam este livro de forma didática e com linguagem clara para seus estudos no tema de controle e qualidade dos alimentos. A obra se divide em quatro unidades que vão tratar dos principais temas nesta sequência: fundamentos de qualidade e segurança dos alimentos, segurança e qualidade dos alimentos de origem animal e vegetal; legislação e ferramentas de controle e garantia da qualidade; finalizando com a gestão da qualidade. A primeira unidade orientará você com os fundamentos de qualidade e segurança dos alimentos, detalhando os principais conceitos relacionados à definição de alimento seguro e qual sua relação com food safety. Por que é tão importante conhecermos os possíveis perigos encontrados nos alimentos e quais medidas devem ser adotadas para que eles sejam evitados? Estas questões serão amplamente abordadas com foco principalmente na qualidade, apresentando os procedimentos de qualidade que devem ser adotados e a evolução desse tema até chegarmos aos conhecimentos que temos hoje. A segunda unidade vai tratar da segurança e qualidade dos alimentos de origem animal e vegetal com mais profundidade descrevendo os principais elementos que fazem parte da cadeia produtiva de produtos de origem animal e vegetal e os processos associados à segurança e qualidade alimentar de cada um desses produtos. Você aprenderá aqui o conceito de Boas Práticas Agrícolas, os critérios considerados para o controle da produção, transporte, armazenamento e comercialização, além de apresentar as funções fundamentais da embalagem e a cadeia de suprimentos para a segurança e qualidade desses alimentos, a posição de produtos brasileiros no mercado interno e internacional e os parâmetros críticos a considerar na cadeia produtiva. Importante também destacar assuntos relacionados a legislação e ferramentas de controle e garantia da qualidade. Na terceira unidade você conhecerá as principais legislações sanitárias de âmbito nacional direcionadas à segurança dos alimentos e entenderá que a importância de estabelecimentos da área alimentar segui-las. Discutiremos mais sobre as ferramentas de Boas Práticas de Fabricação (BPF), Procedimentos Operacionais Padronizados (POP) e Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), que são utilizadas por serviços de alimentação e indústrias com o intuito de garantir que os aspectos higiênico-sanitários dos alimentos sejam alcançados. PREFÁCIO Finalizando o livro, será abordada a gestão da qualidade. Abordaremos aqui a gestão de processos de qualidade e os fundamentos comportamentais de recursos humanos. A qualidade e seu histórico, além dos conceitos e gerenciamentos dessa área serão temas desta unidade também, além de apresentar a inspeção por amostragem e o estudo dos principais mecanismos e ferramentas para o estabelecimento de programas de garantia da qualidade, com ênfase na segurança e no comportamento motivacional, evolução das condições de trabalho, funcionamento dos grupos, liderança, motivação e percepção. Aproveite os estudos que este livro proporciona na área do Controle e Qualidade dos Alimentos. UNIDADE 1 Fundamentos de qualidade e segu- rança dos alimentos Olá, Você está na unidade Fundamentos de qualidade e segurança dos alimentos. Conheça aqui os principais conceitos relacionados à definição de alimento seguro e qual sua relação com food safety. Entenda por que é tão importante conhecermos os possíveis perigos encontrados nos alimentos e quais medidas devem ser adotadas para que eles sejam evitados. Além disso, aprofunde seu conhecimento em relação à qualidade a partir da discussão sobre esse conceito tão empregado atualmente no mercado. Estude um pouco mais sobre como surgiram os procedimentos de qualidade e quais suas etapas de transição até os dias de hoje. Bons estudos! Introdução 13 1 CONCEITOS GERAIS SOBRE SEGURANÇA DOS ALIMENTOS Considerando o contexto de atuação de um nutricionista, é importante que você, futuro profissional da área, entenda quais são os conceitos relacionados a um alimento seguro. Além disso, saber abordar de maneira correta alguns termos comumente empregados na área de alimentos, como segurança dos alimentos (food safety) e segurança alimentar (food security) é essencial. Tais conhecimentos são amplamente debatidos no cenário atual, já que cada vez mais as pessoas têm realizado suas refeições fora de casa, além de consumirem grandes quantidades de alimentos processados e prontos para consumo. Assim, torna-se responsabilidade da indústria e dos serviços de alimentação oferecer alimentos inócuos à população, sendo esse um possível campo de atuação para o nutricionista, profissional que poderá liderar e integrar equipes que prezarão pela qualidade e segurança dos alimentos nesses estabelecimentos. 1.1 Food safety versus food security A alimentação é um ato essencial para a manutenção e o bom funcionamento do organismo humano. Assim, é de suma importância que os alimentos consumidos, além de serem interessantes do ponto de vista nutricional e sensorial, também sejam considerados seguros. Mas afinal, o que é um alimento seguro? Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o alimento seguro é aquele que “não contém agentes ou substâncias nocivas em quantidades que possam causar agravos à saúde ou danos ao consumidor” (ANVISA, 2014). Nesse contexto, você poderá encontrar alguns termos que, apesar de serem muito parecidos e estarem relacionados entre si, apresentam diferentes sentidos para a nutrição. As expressões “segurança dos alimentos” e “segurança alimentar” são aplicadas em diferentes ocasiões, e cabe ao nutricionista compreender em qual situação cada uma delas deve ser utilizada corretamente. Segurança dos alimentos Proveniente do termo inglês food safety, está relacionada ao âmbito da vigilância sanitária e se preocupa com a produção de alimentos seguros, livres de contaminantes e que não colocam em risco a saúde do consumidor. Pode-se dizer que a segurança dos alimentos é consequência da adoção de medidas, recomendadas pelos órgãos regulatórios, durante todas as etapas da cadeia de produção, ou seja, desde o campo até a mesa do consumidor. No âmbito mundial, o Codex Alimentarius é uma grande referência que apresenta normas, recomendações e padrões, a fim de facilitar o livre-comércio de mercadorias, alémde proteger 14 a saúde do consumidor. Já no âmbito nacional, entre os principais órgãos responsáveis pela inspeção e regulação dos alimentos no Brasil, devemos destacar a Anvisa, a qual é uma autarquia (ou seja, apesar de estar ligada ao governo, é um órgão que tem certa autonomia) vinculada ao Ministério da Saúde; o Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), o qual também é uma autarquia federal, porém vinculada ao Ministério da Economia e, por fim, o Mapa (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento). Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: Já quando nos referimos à segurança alimentar, cujo termo é originário do inglês food security, este pode ser entendido como: o direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis. (BRASIL, 2006, p. 01) A FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) e a OMS (Organização Mundial da Saúde) são os órgãos que lideram a discussão da segurança alimentar no âmbito FIQUE DE OLHO Quer entender um pouco mais sobre as atividades desenvolvidas pelo Codex Alimentarius? Leia o artigo de Ortega e Borges (2012), “Codex alimentarius: a segurança alimentar sob a ótica da qualidade” da Revista Segurança Alimentar e Nutricional. O artigo demonstra os principais instrumentos e diretrizes apresentadas pelo órgão em relação aos aspectos de qualidade, segurança alimentar e segurança dos alimentos. 15 internacional. Segundo dados do último relatório publicado (FAO/WHO, 2019), cerca de 2 bilhões de pessoas vivem em insegurança alimentar moderada ou grave devido à falta de acesso regular à alimentos, fazendo com que mais de 820 milhões de pessoas ainda passem fome no mundo. Assim, entende-se que as ações ligadas à Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) são aquelas que visam desenvolver políticas públicas para reduzir as desigualdades econômicas e sociais, as quais impactam diretamente no quadro de insegurança alimentar e desnutrição. A partir do exposto, ficou claro compreender que iremos focar nos conceitos relacionados à segurança dos alimentos (food safety), a qual é fundamental para o fornecimento de alimentos de qualidade e livres de perigos ao consumidor. 1.2 Fontes de contaminação dos alimentos Podemos relacionar o sucesso da segurança dos alimentos à adoção de práticas de higiene, as quais podem ser entendidas como medidas de segurança e salubridade dos alimentos ao longo de toda a cadeia produtiva. Dessa maneira, os princípios de higiene devem ser seguidos por todos os estabelecimentos que trabalham de maneira direta (bares, lanchonetes, restaurantes etc.) ou indiretamente (produtores, fornecedores, vendedores etc.) com a manipulação dos alimentos. Para a divulgação desse conhecimento à população, a OMS (WHO, 1989) desenvolveu uma ferramenta instrutiva a qual aborda as “dez regras de ouro”, a fim de se evitar a presença de possíveis contaminantes nos alimentos, os quais podem ser de origem física, química ou microbiológica. Vamos aprender um pouco mais sobre cada uma dessas fontes de contaminação? Veja cada uma delas no esquema a seguir. 16 Figura 1 - Regras de ouro recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) Fonte: Elaborado pela autora (2020). #ParaCegoVer: A figura mostra dez círculos coloridos e dentro de cada um deles é apresentada uma regra de ouro divulgada pela OMS para a produção de alimentos seguros. Podemos compreender os contaminantes da seguinte maneira: Contaminantes físicos Podem ser compreendidos como corpos estranhos que não deveriam estar presentes nos alimentos, como cacos de vidro, parafusos, insetos, ossos, espinhas, caroços, pedaços de plástico, papel, lascas de madeira, fios de cabelo, pedras, areia etc. Nesses casos, os contaminantes costumam ser originários dos equipamentos utilizados no processamento, os quais podem desprender parafusos, pedaços de embalagens (papel, plástico etc.) ou das próprias matérias- primas, as quais podem conter grande quantidade de sujidades aderidas ou não são devidamente preparadas durante sua manipulação (remoção de espinhas, caroços etc.). Contaminantes químicos Podemos associá-los à presença de resíduos de produtos de higiene (desinfetantes, detergentes etc.), agrotóxicos, antibióticos, metais pesados etc. Mercúrio, chumbo e cobre são 17 exemplos de metais pesados, os quais são tóxicos a nosso organismo e podem ser encontrados com mais frequência em pescados. A higienização incorreta de alguns utensílios e alimentos também ocasionam a contaminação por resíduos de produtos saneantes devido ao enxágue insuficiente ou inexistente. O uso excessivo e inadequado de alguns pesticidas nos produtos agrícolas e de antibióticos em animais destinados ao consumo humano também podem representar um potencial risco à saúde. Contaminantes biológicos São aqueles provocados por microrganismos, como vírus, fungos, bactérias, protozoários etc. Você sabia que esses são considerados as principais causas de contaminação nos alimentos? Isso porque os microrganismos são seres muito pequenos, os quais não conseguimos ver a olho nu. Além disso, são capazes de se proliferar de maneira muito rápida, dependendo das condições encontradas nos alimentos. Fatores intrínsecos, ou seja, condições encontradas no próprio alimento (como disponibilidade de nutrientes, pH, atividade de água, presença de substâncias antimicrobianas e presença de microrganismos competidores) e fatores extrínsecos, os quais estão ligados ao ambiente em que o alimento se encontra (como temperatura, umidade relativa, presença de gases como oxigênio), são capazes de influenciar no crescimento e desenvolvimento microbiano. Dessa maneira, devemos dar atenção a esses fatores quando desejamos prolongar a vida útil dos alimentos e também para produzi-los de maneira segura. Quando nos referimos aos microrganismos nos alimentos, devemos entender que, de acordo com sua ação, eles podem ser classificados em dois tipos: os deteriorantes e os patogênicos. Microrganismos deteriorantes são aqueles que comprometem a qualidade do alimento por interferirem em suas propriedades organolépticas e sensoriais, porém não causam doenças aos seres humanos. Já os microrganismos patogênicos são aqueles que causam doenças, porém podem ou não promover modificações nas características dos alimentos. É aí que está o grande perigo, pois muitas vezes um alimento pode conter microrganismos patogênicos e não apresentar mudanças em sua coloração, aroma ou sabor, fazendo com que ele seja consumido e, posteriormente, relacionado ao desenvolvimento de Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA). As DTA, portanto, podem ser definidas como as doenças que são ocasionadas devido ao consumo de água ou alimentos contaminados. Anualmente, milhares de pessoas adoecem devido à ocorrência de DTA no mundo, o que gera grandes impactos econômicos, sociais e na área da saúde. Atualmente, mais de 250 tipos de DTA são conhecidas, sendo que elas podem ser classificadas como infecções, intoxicações ou toxi-infecções alimentares (BRASIL, 2020). 18 Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: As infecções alimentares ocorrem quando a doença é ocasionada pela ingestão de células vivas de microrganismos (exemplos: salmonelose, a qual ocorre pela presença de Salmonella spp.; toxoplasmose, causada pelo Toxoplasma gondii). Os quadros de intoxicações estão relacionados à ingestão de toxinas previamente produzidas nos alimentos por microrganismos (exemplo: botulismo, o qual deve-se à ingestão da toxina botulínica produzida pela bactéria Clostridium botulinum; intoxicação estafilocócica, a qual está ligada ao consumo de toxinas produzidas pela bactéria Staphylococcus aureus). As toxi-infecções são aquelasresultantes da ingestão de alimentos que contêm determinada quantidade de microrganismos vivos, os quais são capazes de produzir ou liberar toxinas após seu consumo (exemplo: Vibrio cholerae, o qual é o agente causador da cólera) (BRINQUES, 2015). Dentre os principais sintomas desencadeados pelas DTA estão náuseas, vômitos, dores abdominais, diarreia, dores de cabeça etc. Devemos nos lembrar que esses sintomas podem variar dependendo do tipo de microrganismos envolvido e do estado de saúde do paciente, já que indivíduos mais vulneráveis, como crianças, idosos e pessoas com a saúde debilitada podem FIQUE DE OLHO Vamos estudar um pouco mais sobre a ocorrência das principais DTA no Brasil? Você poderá se inteirar mais sobre esse assunto a partir do estudo de Ferreira (2017), o qual apresenta um panorama dessas enfermidades nos últimos anos em nosso país, indicando a necessidade do desenvolvimento de políticas públicas e orientações em boas práticas de manipulação para prevenção e reversão do quadro. 19 apresentar agravamento dos sintomas, o que pode até levá-los à morte. Quando duas ou mais pessoas apresentam os mesmos sintomas após a ingestão de água ou alimentos de mesma origem, isso configura um quadro de surto alimentar e, nesses casos, a Vigilância Sanitária deverá ser acionada para investigação epidemiológica. Quando não notificados rapidamente, torna-se mais complicada a coleta de amostras para confirmação do agente etiológico (microrganismo) envolvido no surto. Além disso, como em alguns casos os sintomas de DTA são considerados brandos, os indivíduos acabam não buscando por atendimento médico, o que faz com que o número de casos seja subestimado. Devemos considerar que os contaminantes podem chegar aos alimentos de diferentes formas, inclusive pelo o que denominamos de contaminação cruzada, a qual se refere à transmissão de substâncias ou microrganismos de um local contaminado para um alimento pré-preparado ou pronto para consumo. Isso pode ocorrer tanto por contato direto ou ainda de maneira indireta, pelo uso compartilhado de equipamentos e utensílios, pela falta de higiene do manipulador, como também pelo mal planejamento do fluxo de produção. Dessa forma, para que a elaboração de alimentos seguros seja eficaz, torna-se necessária a adoção de práticas higiênico-sanitárias e ferramentas de qualidade, tais como as Boas Práticas de Fabricação (BPF), Procedimentos Operacionais Padronizados (POP) e Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), cuja implementação é recomendada pela Anvisa. Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 2 IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE NO PANORAMA ATUAL O consumidor atual tem se mostrado cada vez mais exigente e consciente de suas escolhas 20 alimentares. Ele busca por alimentos que, além de serem saborosos e nutritivos, também sejam produzidos a partir das recomendações higiênico-sanitárias, apresentem selos e certificados de qualidade, sejam padronizados e que possuam uma rotulagem informativa. Essas condições levam a uma maior confiança e credibilidade da marca ou empresa, influenciando de maneira positiva, a decisão de compra do consumidor (ITAL, 2010). Assim, a implementação de programas e ferramentas de qualidade, que antes era vista como um diferencial, hoje é dada como uma exigência de mercado, afinal esses programas e essas ferramentas auxiliam na obtenção de produtos seguros e que atendam às expectativas e necessidades do consumidor. Para a indústria de alimentos, a qualidade é um fator elementar no sucesso de seus produtos e, para isso, é muito importante que tenhamos claro o que de fato contempla o conceito de qualidade, além de saber como e por que ela surgiu. 2.1. Conceitos e definições de qualidade Atualmente, muito se ouve falar o quão importante é termos um produto de qualidade. Mas e aí, quais atributos um alimento precisa ter para ser considerado “de qualidade”? Você seria capaz de definir? Apesar de parecer algo simples, definir o que é qualidade pode ser uma tarefa nada fácil. Isso porque o uso desse termo se tornou muito abrangente, tanto em nosso cotidiano quanto no mundo empresarial. Além disso, pode-se dizer que o conceito de qualidade é algo temporal, ou seja, pode se modificar com o passar dos anos, ademais deve ser algo relativo (BOND, BUSSE, PUSTILNICK, 2012). Quando pensamos, por exemplo, em um hambúrguer de qualidade, quais características vêm em sua mente? São as mesmas que para os seus colegas? Muitas vezes não. Você pode atribuir o conceito de qualidade a características sensoriais do seu hambúrguer, como a textura da carne, seu sabor e aroma; enquanto que para seu colega, atributos de qualidade estão relacionados a propriedades nutricionais (quantidade de gorduras, vitaminas, minerais), práticas higiênico- sanitárias (uso de boas práticas de fabricação) etc. Já parou para pensar nessa possibilidade? Assim, na literatura encontramos diversas definições empregadas para o termo qualidade. Dentre elas, podemos destacar as apresentadas por alguns dos gurus da qualidade: Joseph Juran Ele afirma que “qualidade são aquelas características do produto que atendem as necessidades dos clientes e, portanto, promovem a sua satisfação; qualidade consiste na ausência de deficiências” (1999, p. 21). 21 Kaoru Ishikawa Uma importante figura da qualidade no Japão afirma que “qualidade é desenvolver, projetar, produzir e comercializar um produto de qualidade que é mais econômico, mais útil e sempre satisfatório para o consumidor” (1993, p. 43). Willian Edwards Deming Vai além e complementa que “qualidade é tudo aquilo que melhora o produto do ponto de vista do cliente. Somente o cliente é capaz de definir a qualidade de um produto. O conceito de qualidade muda de significado na mesma proporção em que as necessidades dos clientes evoluem” (1993, p. 56). Vicente Falconi Campos Por fim, no entendimento de Campos (2004, p. 2), “um produto ou serviço de qualidade é aquele que atende perfeitamente, de forma confiável, de forma acessível, de forma segura e no tempo certo às necessidades do cliente” Em todas as perspectivas, observe que tamanha atenção é dada ao cliente/consumidor. Pensando na indústria de alimentos, lembre-se que para a qualidade ser atingida, práticas de higiene e qualidade devem permear por toda a cadeia produtiva, ou seja, desde o campo, transporte, processamento, armazenamento, distribuição, preparo até o momento do consumo do alimento. A implementação de ferramentas e programas de qualidade torna-se então imprescindível, afinal, qualquer falha que ocorra em alguma etapa do processo poderá favorecer a ocorrência de problemas no produto final, como possíveis perigos e contaminações. Isso, além de gerar possíveis prejuízos à imagem e reputação da empresa, sabemos que representa danos à saúde do consumidor. Os conceitos e as estratégias de qualidade nem sempre foram empregados da maneira como é feito no mundo atual. Para entender um pouco mais sobre como foi a evolução desses procedimentos, vamos estudar um breve histórico das diversas etapas vivenciadas pelas empresas até se chegar na ideia de sistema de gestão da qualidade que temos nos dias de hoje. 3 HISTÓRICO DOS PROCEDIMENTOS DE CONTROLE DE QUALIDADE Como você já pôde observar, o conceito de qualidade não é algo muito recente. Desde os tempos mais primórdios, o homem buscava por acesso a bens que atendessem suas necessidades e interesses. Segundo David Garvin (2002), outro estudioso da qualidade, a evolução dos 22 procedimentos ligados à área pode ser compreendida em quatro estágios distintos: inspeção, controle estatístico da qualidade, garantia da qualidade e gestão da qualidade total. Vamos conhecer um pouco mais sobre como a qualidade foi abordada em cada uma dessas fases? 3.1 Inspeção Na idade média, os artesãos eram as figuras responsáveis não apenas pela produção, como também pela inspeção do produto. Eles participavam de todo o processo de produção e buscavamencontrar possíveis falhas e defeitos no produto final de acordo com seus próprios critérios. Essa tarefa, apesar de minuciosa, não era tão demandante, visto que naquela época os materiais eram produzidos em pequenas escalas, feitos normalmente sob encomendas. Já no início do século XX, com a Revolução Industrial, os produtos passaram a ser produzidos em massa (grandes quantidades) e, portanto, houve a necessidade da padronização da produção. Desse modo, tornou-se essencial que as inspeções fossem aplicadas de maneira mais formal, foi quando surgiu a figura do inspetor ou supervisor de qualidade. Os produtos, então, passavam por medidas de inspeção e controle (gabaritos e fichas de modelo padrão), sendo avaliados se estavam ou não em conformidade aos padrões estabelecidos. Tal medida, no entanto, não colaborou para melhoras na produtividade, pois nesse momento apenas o produto final era avaliado e não todo seu processamento. Dessa maneira, os inspetores não se atentavam em quais eram as causas dos problemas e quais as práticas preventivas necessárias para se evitar falhas ou erros encontrados. O produto defeituoso apenas era corrigido ou modificado antes de chegar às mãos do consumidor. Em casos em que isso não era possível, o produto era descartado, gerando custos e desperdícios para a empresa. 3.2 Controle estatístico da qualidade Vendo que a figura do inspetor de qualidade não era suficiente para entrega de produtos satisfatórios em meio à alta produtividade demandada na época, novas medidas precisaram ser adotadas. Assim, em 1931, o engenheiro e estatístico americano, Walter A. Shewhart sugeriu o uso de técnicas estatísticas para controlar os processos, já que havia a preocupação de que os produtos fabricados atendessem as especificações exatas de seus clientes. De acordo com a proposta científica de Shewhart, era impossível que sem o uso de um método de controle de qualidade as peças produzidas oferecessem precisamente as mesmas características, afinal, variações nas matérias-primas, mão de obra (a qual era pouco preparada) e uso de equipamentos influenciavam diretamente na qualidade do produto final (DAMIAN, 2018). A falta de padronização dos elementos produzidos em larga escala fez com que muitos países tivessem problemas com seus equipamentos bélicos e militares na Primeira Guerra mundial (1914-1918), por exemplo. 23 Frente à falta de tempo e custos excessivos para inspeção dos produtos, o emprego de procedimentos estatísticos, como a amostragem, auxiliou no controle da qualidade da produção. A partir desse embasamento, não mais todos os produtos necessitavam ser analisados individualmente em relação a cada um de seus atributos, mas sim apenas uma pequena parcela (amostra) deles. Além disso, outras ferramentas, como o gráfico de controle de processos, também auxiliaram na constatação de quais eram as causas das variações nos processos produtivos, relacionando-as aos defeitos observados nos produtos. Nessa vertente, o serviço de inspeção foi então sendo pouco a pouco substituído pelo controle de processo, o qual já estava bem implementado ao final da Segunda Guerra mundial (1939- 1945). Nesse novo patamar, as indústrias levavam em consideração não mais apenas o produto final, mas todas as suas etapas de produção, sendo o processo, portanto, o foco da qualidade. Em meados de 1950, os japoneses que encontravam seu país arrasado após a Segunda Guerra mundial, buscavam por medidas práticas para recuperar sua economia e conter os problemas sociais. Foi quando dois estudiosos norte-americanos, Deming e Juran, foram convidados a treinar os alto executivos nipônicos sobre como melhorar os projetos de qualidade implantando ferramentas de controle estatístico. Os resultados foram visivelmente satisfatórios, o que levou a uma verdadeira revolução na indústria japonesa. 3.3 Garantia da qualidade Ainda na década de 50, a indústria precisou evoluir os conceitos antes empregados sobre controle de qualidade para ferramentas que priorizavam à garantia da qualidade. Você consegue ver a diferença entre o uso dos termos controle e garantia? Será que eles apresentam o mesmo significado? Já posso te adiantar que não. Vamos lá! Apesar de ambos serem práticas essenciais para obtenção de um produto de qualidade, elas têm definições diferentes. Controle Quando falamos de ações que visam o controle da qualidade, nos referimos à execução de práticas que visam identificar e corrigir problemas encontrados no produto final. Tais ações, portanto, são reações frente à presença de não conformidades (algum defeito ou erro detectado) no produto final, sendo o controle de qualidade considerado uma ferramenta corretiva. Garantia Quando nos referimos à garantia da qualidade, falamos de um conjunto de ações preventivas, ou seja, que visam evitar possíveis erros ou defeitos durante o processamento e que, consequentemente, interfeririam no produto final. Assim, podemos dizer que a garantia da qualidade é uma ferramenta de gestão, em que toda equipe deve estar envolvida para a correta 24 verificação do andamento do sistema. O cenário do pós-guerra fez com que muitas mudanças ocorressem nos Estados Unidos e no Japão. Estados Unidos Uma potência mundial que tanto tinha investido na produção de armamentos e material bélico, observavam que outros produtos, como bens de consumo, começaram a apresentar uma qualidade muito inferior à desejada, com muitos defeitos e alta recusa do consumidor. Nessa época, a indústria norte-americana havia deixado de lado o conceito de qualidade e prezava pela produção em grandes volumes, a fim de abastecer o mercado. Assim, os custos com a qualidade se tornaram cada vez maiores e ao final gerou-se um grande deficit para a economia do país. Japão Enquanto isso, no Japão, a economia tentava se recuperar e as indústrias se atentavam à prevenção dos defeitos na linha de produção, desenvolvendo padrões e normas de qualidade que deveriam ser seguidos não apenas por um departamento específico (como o departamento de controle de qualidade), mas sim por toda a organização. Nessa nova ideologia, os elevados custos com o tratamento de produtos defeituosos foram realocados para uso na prevenção no processo, e os conceitos de qualidade passaram a ser praticados desde o projeto de criação do produto até o consumidor final. A satisfação do cliente sobre os bens e serviços também passou a ser considerada. Nesse período, várias teorias foram elaboradas por estudiosos da área de qualidade, como o norte-americano Philip Crosby, o qual lançou na década de 60 o programa “defeito zero”. Esse tinha por objetivo demonstrar que a ausência de defeitos deveria ser o padrão de desempenho dos sistemas de gestão e, portanto, as empresas deveriam se preocupar em fazer o trabalho certo já na primeira vez, evitando-se assim futuros gastos com problemas de má qualidade dos produtos. No Japão, Kaoru Ishikawa foi o responsável por adaptar as ideias de Deming e Juran no país, auxiliar na criação da JUSE (Japanese Union of Scientists and Engineers) e na implantação de diversas ferramentas de qualidade, como o Círculo de Controle de Qualidade e o Diagrama de Ishikawa (ACADEMIA PEARSON, 2011). Dessa maneira, impulsionado pela necessidade de melhorar as condições do país no pós- guerra, o Japão colocou em prática com imensa disciplina as teorias desenvolvidas e logo observou um grande avanço na sua economia. Os produtos japoneses começaram então a ganhar notoriedade mundial, sobretudo pela qualidade superior aos do mercado ocidental. 25 3.4 Gestão da qualidade total Nas décadas de 70 e 80, Japão e Estados Unidos apresentavam-se como as grandes potências industriais, sendo que cada país investia em uma estratégia distinta para seu crescimento econômico: enquanto os EUA privilegiavam aspectos como visão de mercado e necessidades dos clientes, os japoneses davam prioridade à melhoria contínua de seus processos. Entre as décadas de 80 e 90 foiquando o modelo japonês de fato se sobressaiu e difundiu-se entre os demais países, já que todos queriam conhecer essa nova ferramenta que propiciou tão rápido crescimento à economia japonesa, promovendo a satisfação do cliente e trazendo redução de custos à organização (CORTADA e QUINTELLA apud SCHUCHTER, 2004). A gestão da qualidade total trouxe um novo olhar de gerenciamento, demonstrando que para uma empresa ter sucesso no mercado, é imprescindível que ela otimize seu desempenho como um todo, promovendo a satisfação mútua, ou seja, atenda às necessidades e expectativas de todos os participantes do sistema produtivo, por exemplo: clientes, fornecedores, funcionários, acionistas etc. Para isso, investimentos em treinamentos e programas de qualidade devem ser considerados com o intuito de encontrar ações de planejamento, controle, monitoramento e melhoria contínua do processo. Um exemplo de ferramenta utilizada para assegurar a qualidade total são as apresentadas pelas normas internacionais da série ISO 9000. Agora ficou fácil para você entender um pouco mais sobre como foi o aprimoramento dos procedimentos de qualidade ao passar dos anos e a grande relevância do sistema de gestão de qualidade para o mercado atual. FIQUE DE OLHO Frente à grande concorrência do mercado atual, uma conduta planejada tornou-se ponto fundamental para o gerenciamento das atividades, sobretudo no setor de alimentos. A partir do trabalho de Coletto (2012), podemos acompanhar um pouco mais sobre como é a realidade e o funcionamento da gestão da qualidade nas agroindústrias. 26 Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • entender o conceito de alimento seguro; • compreender as diferenças entre os princípios de food safety e food security • conhecer os principais órgãos de regulação na área de segurança dos alimentos e segurança alimentar; • estudar as principais fontes de contaminação dos alimentos: química, física e microbiológica; • aprender sobre as ações dos microrganismos nos alimentos, com destaque para as doenças transmitidas por alimentos (DTA); • conhecer os diferentes conceitos e definições empregados para qualidade; • aprender sobre as quatro eras relacionadas à evolução dos procedimentos de qualidade: inspeção, controle estatístico da qualidade, garantia da qualidade e gestão da qualidade total; • conhecer alguns dos principais gurus e estudiosos da área de qualidade; • compreender a diferença entre controle e garantia da qualidade; • entender sobre a relevância dos conceitos de qualidade para o mercado. PARA RESUMIR ACADEMIA PEARSON. Gestão da qualidade. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2011. ANVISA. Boas práticas de manipulação em serviços de alimentação. 2014. Módulo I: Entendendo a contaminação dos alimentos. Disponível em: https://jundiai.sp.gov.br/sau- de/wp-content/uploads/sites/17/2015/01/Aula-1.pdf. Acesso em: 04 abr. 2020. BOND, M. T.; BUSSE, A.; PUSTILNICK, R. Qualidade total: o que é e como alcançar. Ed. 1. Curitiba: Intersaberes, 2012. BRASIL. Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006. Cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - SISAN com vistas em assegurar o direito humano à alimentação adequada e dá outras providências. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 18 set. 2006. Seção 1, p. 1-2. BRASIL. Ministério da Saúde Doenças Transmitidas por Alimentos: causas, sintomas, tratamento e prevenção. Disponível em: https://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/doen- cas-transmitidas-por-alimentos. Acesso em: 09 abr. 2020. BRINQUES, G. B. 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Conheça também as funções fundamentais da embalagem e a cadeia de suprimentos para a segurança e qualidade desses alimentos, a posição de produtos brasileiros no mercado interno e internacional e os parâmetros críticos a considerar na cadeia produtiva. Bons estudos! Introdução 31 1 SEGURANÇA E QUALIDADE NA CADEIA PRODUTIVA DE ALIMENTOS DE ORIGEM ANIMAL No Brasil, a produção de alimentos de origem animal e vegetal é muito comum, tanto para consumo externo quanto interno, exercendo um grande impacto no desenvolvimento socioeconômico para o país e sua população. Assim, as seguranças alimentares compõem o alicerce da saúde da população e por esse motivo é objetivo de programas governamentais que propiciem a sua eficácia (SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). A definição de alimento seguro é um alimento propício para o consumo, sendo necessário um controle sobre os contaminantes biológicos, físicos e químicos, evitando exposição do consumidor ao risco de contaminação. Já em relação à qualidade do produto, no mundo globalizado e competitivo no qual vivemos torna-se indispensável eliminar desperdícios e possíveis defeitos na produção, visando a sobrevivência no mercado (MAIA; DINIZ, 2009) . Responsável pelo fornecimento de alimentos com alto valor proteico, o Brasil ocupa um papel de destaque no mercado internacional, pois é o maior produtor, segundo maior consumidor e segundo maior exportador de carne bovina e maior exportador de carne de frango do mundo. A contribuição brasileiracomo maior exportador de carne do mundo se dá pela combinação de dois fatores, o custo da produção e qualidade e quantidade produzidas (EMBRAPA, 2017a). Nesse caso, torna-se essencial um controle sanitário dos seus rebanhos, evitando a contaminação por patógenos e doenças transmitidas pelos alimentos (DTA) (CHIARI, 2017). Os aspectos envolvidos na segurança e qualidade da cadeia produtiva de alimentos de origem animal abrangem todo o sistema de produção, contando com a alimentação do gado e embalagem do produto disponível nas prateleiras dos supermercados, desenvolvimento de tecnologias para erradicação de enfermidades e análises sensoriais físicas e químicas para garantir o controle de qualidade dos produtos (SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). 1.1 Principais elementos da cadeia produtiva de origem animal Antes de tudo, é importante definirmos o conceito de cadeia alimentar, e em nutrição esse termo envolve a produção dos alimentos, os beneficiamentos, a comercialização e, por fim, o consumo (SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). Esses estágios da cadeia alimentar podem ser melhor compreendidos com a expressão “do campo à mesa” (GERMANO; GERMANO, 2008; SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). Os principais componentes da cadeia produtiva de origem animal são as carnes bovina, suína, ovinos e caprinos, aves e ovos, pescados, leite e produtos lácteos e o mel. Para a produção dos produtos cárneos, comercializados frescos e processados, é de fundamental importância que a 32 matéria-prima oriunda da fazenda tenha qualidade de excelência (SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). 1.2 Segurança alimentar das carnes bovinas, suínas, ovinos e caprinos As carnes são partes musculares comestíveis que podem ser retiradas de diferentes espécies de animais no açougue, que devem ser manipuladas em boas condições higiênicas e provenientes de animais saudáveis, com certificação de um médico veterinário que fará a inspeção. Quando entregues para o consumo, deverão estar sob refrigeração e certificadas após avaliação da segurança higiênico-sanitária, presença de conservadores, análises microbiológicas e sensoriais e características físico-químicas (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 2008).] Figura 1 - Processamento da carne Fonte: Ammit Jack, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra uma pessoa cortando uma peça de carne em ambiente que provavelmente indica o local correto de processamento de carne. A carne suína é hoje a fonte proteica mais consumida no mundo e para que essa produção maciça chegue à mesa dos brasileiros e estrangeiros, o Brasil conta com uma cadeia produtiva organizada que visa a qualidade e segurança do produto (EMBRAPA, 2017b). Nessa cadeia produtiva, fazem parte, associados à ciência: • o produtor de grãos; • as rações e suas indústrias; • os transportadores; • os abatedouros e frigoríficos; • os medicamentos; • os equipamentos; 33 • a distribuição; • o consumidor final. Além disso, os pesquisadores têm uma grande função em todos os segmentos da cadeia produtiva, pois eles irão elaborar normas para a produção, soluções e tecnologia que garantirão a segurança alimentar do produto (EMBRAPA, 2017c). Já os caprinos e ovinos têm sido cada vez mais utilizados, principalmente na região Nordeste, como uma opção alimentar. Desses animais são comercializados a carne, o couro, a lã e também o leite. Devido ao crescimento da sua criação e comercialização, a Embrapa vem lançando publicações, cursos e seminários, visando contribuir para a qualidade sanitária desses produtos. Um dos pontos centrais discutidos é o adequado destino das carcaças dos animais (EMBRAPA, 2015). Dessa forma, são utilizadas quatro áreas para definição da qualidade da carne em relação ao seu processamento: Visual Envolve a apresentação e o aspecto do produto. Gustativa Sensação durante o consumo Higiênico-sanitária Envolve o processo e a produção. Nutritiva Relacionada aos valores nutricionais e composição do alimento, que deve atender à meta de nutrientes essenciais (EMBRAPA, 2017d). Em relação à área visual e gustativa, as análises sensoriais das carnes são fundamentais, pois são os aspectos mais afetados no princípio da deterioração das carnes. (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 2008). Veja a seguir quais são os aspectos utilizados na análise sensorial das carnes. 34 Tabela 1 - Aspectos utilizados na análise sensorial das carnes Fonte: Instituto Adolfo Luftz, 2008 (Adaptado). #ParaCegoVer: A tabela apresenta um resumo dos aspectos considerados para avaliação sensorial das carnes. 35 A qualidade do processamento das carnes precisa começar no manejo pré-abate, um dos requisitos são as viagens mais rápidas dos caminhões ao invés das viagens a pé e as condições físicas desses caminhões, o que garantirão o bem-estar dos animais. (EMBRAPA, 2017e). Na atualidade, a condição dos abates dos animais em frigoríficos mudou bastante com a adoção de procedimentos antiestresse no momento de espera do animal para o abate e procedimentos mais humanitários (EMBRAPA, 2017f). Além disso, são utilizados mapeamentos de pontos críticos de controle, a fim de evitar contaminações durante a operação de abate. Nessa etapa, são realizadas inspeções sanitárias e é estabelecido o local de descarte correto para as carcaças que apresentarem alterações higiênico- sanitárias. O correto procedimento de abate contribui para a qualidade visual e sensorial, evitando o endurecimento pela estimulação elétrica e correto resfriamento da carcaça e o escurecimento por sangria inapropriada, sendo então determinante para a qualidade higiênico-sanitária do produto (EMBRAPA, 2017g). Outro ponto importante a ser abordado em relação ao abate é o descanso, a disposição de dieta hídrica e o jejum antes do abate, evitando estresse e evisceração e consequentemente a contaminação das carcaças. Se a desossa for realizada pelos frigoríficos, os cortes serão embalados a vácuo e disponibilizados diretamente para o consumidor, reduzindo custos operacionais e tendo a qualidade pela limpeza e coloração garantida pela embalagem. Nesse momento, é realizada a maturação da carne com enzimas responsáveis pela quebra da estrutura muscular, o que aumenta sua maciez e contribui para os aspectos sensoriais da carne (EMBRAPA, 2017g). A garantia da segurança da carne no processamento ocorre mediante a adoção de procedimentos Padrão de Higiene Operacional (PPHO), com o controle da temperatura de resfriamento da carcaça, embalagem e higiene durante os processos e utensílios usados. É nessa fase de processamento que ocorrem maiores contaminações por bactérias e esse risco ainda é aumentado quando a desossa é realizada pelos açougues, potencializada pelo transporte do produto (EMBRAPA, 2017g). 1.3 Segurança alimentar e controle de qualidade das aves e dos ovos Para garantir a qualidade das carnes de frango, são aplicadas as Boas Práticas de produção (BPP) dentro da granja. Essas boas práticas envolvem todos os aspectos da qualidade do ambiente, o bem-estar do animal, as questões de manejo, a biossegurança, a alimentação, o ambiente, a qualidade da ração utilizada, a higiene do trabalhador, as características da granja, os equipamentos, entre outros aspectos. Em relação às aves, as características sensoriais de coloração, odor e aparência também irão determinar a qualidade do produto (OLIVEIRA, 1999). Além dessas, as características mais utilizadas são: 36 • análise de pH; • proteínas; • cinzas; • umidade; • colesterol; • sódio; • corantes artificiais; • reação de Éber para a amônia; • prova de rancidez para as partes gordurosas; • provas de formaldeído; • presença de conservantes nitratos e nitritos; • proteínas de soja; • quantidade de gorduras saturadas (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 2008). Figura 2 - Produção de aves Fonte: Kharkhan Oleg, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra várias aves agrupadas em um local que muito provavelmente é o local responsável pela criação e produção desses animais. 37 Para garantir a qualidade e segurançaalimentar dos ovos, são observadas as características físicas e sensoriais do interior e da parte externa (ODENEZ, 2007). Para a avaliação da parte externa é observado o tamanho, a forma, a cor e as uniformidades relativas aos lotes. Eles serão então classificados pela cor de suas cascas, peso e a qualidade nutricional (BRASIL, 2017). Além disso, para garantir a segurança alimentar dos ovos, é realizado o exame de oviscopia. Esse exame mostra a situação da casca, a situação interna da gema, clara e pequenos coágulos por meio de um foco de luz quando são colocados em rotação (ODENEZ, 2007). Os ovos que apresentarem odor forte, membranas da casca rompida e sujos não estarão aptos para o consumo. Os ovos trincados e com rompimento das membranas da casca se a gema estiver intacta poderão ser processados desde que passe pelo sistema de pasteurização (BRASIL, 1990). Dentro da cadeia de produção dos ovos, o armazenamento é uma importante parte do processamento a ser considerada para garantir a segurança alimentar do produto (ODENEZ, 2007). Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: FIQUE DE OLHO Você pode saber mais sobre regulamentações higiênico-sanitárias de carne de aves lendo o Regulamento técnico da inspeção tecnológica e higiênico-sanitária de carne de aves que consta na Portaria nº 210 de 10 de novembro de 1998. FIQUE DE OLHO Saiba mais sobre a inspeção de ovos em consultando as normas gerais de inspeção de ovos e derivados que consta na Portaria nº 21 de 21 de fevereiro de 1990 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). 38 Quando esses ovos forem armazenados em casca e em período máximo de 30 dias, é preconizado manutenção de temperatura entre 4 e 12°C e controle de umidade relativa do ar. É preconizado também controlar as temperaturas das câmaras frigoríficas, pois as oscilações podem facilitar a penetração de bactérias por meio da casca. Caso sejam armazenados por períodos mais longos, o ideal é manter a temperatura em torno de 0°C, sem congelar o produto, em umidade relativa do ar de 70 a 80% (BRASIL,1990). 1.4 Segurança alimentar dos pescados Os pescados também são considerados como uma das principais fontes proteicas. Deles é possível obter peixes óleos, rações e outros produtos que possuem um valor comercial para a indústria. Os pescados são os peixes e os frutos do mar atribuídos para o consumo humano. Cerca de 12.000 espécies são conhecidas e 1.500 relevância comercial (ORDENEZ, 2007). Alguns fatores irão influenciar o frescor e a comercialização desse produto, como: grau de asfixia; liberação de enzimas proteolíticas; produção de mucos, que é um processo que ocorre pós-morte e pode facilitar contaminação bacteriana; limpeza; rigor mortis e pH baixo, degradação proteica e de gorduras e decomposição da carne (SOUZA et al., 2016). Figura 3 - Processamento de peixes Fonte: Nolte Lourens, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra vários peixes sendo manipulados, limpos e embalados em ambiente que muito provavelmente é o local responsável pelo processamento desse produto. 39 O peixe fresco será considerado apto para o consumo se tiver os requisitos estabelecidos na Instrução Normativa 85 de 1997 (BRASIL, 1997). Um manual de inspeção foi elaborado pelo Mapa, que é utilizado como referencial teórico das inspeções de todas as cadeias produtivas por meio da inspeção visual comparativa do pescado, reduzindo perdas (BRASIL, 2016). O pescado pode sofrer ações de bactérias e deteriorações, mesmo se ele for estocado em refrigeração. Essas bactérias e enzimas proteolíticas poderão gerar amônia, ácidos voláteis, dimetilamina e outros compostos. Para determinar a presença desses compostos, são utilizados vários métodos, como a destilação por arraste de vapor para o caso da amônia. Por exemplo, um dos agentes causadores de contaminação e intoxicação alimentar no atum é a histamina. Algumas bactérias possuem enzimas que agirão no aminoácido histidina, descarboxilando ele e formando a histidina. Essa quantidade será proporcional à degradação dos aminoácidos e sua dosagem pode ser feita para determinar sua concentração e evitar contaminações (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 2008). Sendo assim, para o controle sanitário e a qualidade do peixe, é necessário avaliar os principais requisitos sensoriais estabelecidos na IN 85 de 1997 (BRASIL, 1997). Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: FIQUE DE OLHO Saiba mais sobre Boas Práticas e qualidade de pescados com fotos didáticas e orientações quanto ao seu processamento lendo o documento da Embrapa “Boas práticas de manipulação para entrepostos de pescados”. 40 As bactérias que estão muito associadas com a formação histidina podem estar presentes naturalmente na pele, no intestino, nas brânquias e dependendo das concentrações e em condições fisiológicas podem não causar danos à saúde. O que intensifica sua produção são temperaturas acima de 4,4°C, manipulação e conservação inadequadas e refrigeração durante a pesca (SOUZA et al., 2016; SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). Entre as bactérias mais comuns de formação de histidina são Morganella morganii, Proteus vulgaris, Escherichia coli e salmonela (SOUZA et al., 2016). 1.5 Segurança alimentar do leite e de produtos lácteos O leite tem elementos essenciais, como micronutrientes, aminoácidos e ácidos graxos em concentrações altas. Além disso, apresenta alta concentração de cálcio, proteínas de boa qualidade, substâncias bioativas e outras (BRESSAN; MARTINS, 2004). Já discutimos em outros tópicos que a segurança alimentar não será exclusiva do segmento de produção, isso será apenas a parte inicial do processo. É necessário que o alimento esteja seguro em todas as etapas da cadeia de produção. Os requisitos de higiene na obtenção da matéria-prima, os resíduos químicos e físicos, o transporte, a refrigeração, a conservação e o tempo de vida de prateleira na hora que chega ao consumidor são características a serem consideradas na cadeia de produção do leite. A cadeia de produção do leite começa nas indústrias e nos fornecedores de insumos e produtores de leite que farão parte do processamento da matéria-prima, depois temos os distribuidores, os atacadistas e varejistas e por último o consumidor. Todos esses segmentos apresentarão pontos críticos e análise de perigos para serem avaliados e garantir a segurança do produto. Para cada uma dessas etapas existe uma legislação específica para garantir a segurança do leite (BRESSAN; MARTINS, 2004). FIQUE DE OLHO Fique por dentro e conheça especificamente cada uma das legislações de todas as etapas da cadeia produtiva de leite consulte o site Inspeção de Leite e Derivados. Lá você verá um resumo de todas as legislações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e também do Ministério de agricultura de Agropecuária e Abastecimento. 41 Figura 4 - Processamento de leite Fonte: Serpil_Borlu, iStock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra garrafas de leite sendo embaladas, o que indica um possível local de processamento do leite. 1.6 Segurança alimentar do mel O mel é definido como solução concentrada de açúcar, predominantemente a glicose e frutose, produzido de abelhas malíferas por meio do néctar das flores ou secreções de partes vivas das plantas ou excreções de insetos que irão sugar as plantas recolhidas pelas abelhas, transformadas e maturadas nos favos (BRASIL, 2000). Faz parte da sua composição minerais, substâncias aromáticas, enzimas, aminoácidos, carboidratos, pigmentos de pólen e cera de abelhas. No mel não poderá ser acrescentado açúcares e outras substâncias que afetarão sua composição original. É proibida a adição de qualquer tipo de aditivo (BRASIL, 2000; SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). As características sensória-indispensáveis para a classificação da qualidade do mel são: cor incolor a pardo-escura, sabor característico e consistência que pode variar do estado físico que o mel se apresenta. Além disso, para determinar sua qualidade, é necessárioavaliar umidade, acidez, sacarose aparente, cinzas, sólidos, sólidos insolúveis em água e indicação de adulteração pelas reações de Lung Fiehe e de Lugol (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 2008). 42 Figura 5 - Produção de mel Fonte: Diyana Dimitrova, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra várias abelhas em um favo de mel em um ambiente que possivelmente está indicando seu local de produção. O mel não é um alimento estéril e por isso também é apto para contaminações se manipulado de maneira imprópria. Isso irá depender da presença de valores pré-estabelecidos de coliformes, leveduras e bolores sob umidade anormal (MENDES, 2009). 2 SEGURANÇA E QUALIDADE NA CADEIA PRODUTIVA DE ALIMENTOS DE ORIGEM VEGETAL A classificação dos produtos vegetais, subprodutos e resíduos, assim como requisitos de qualidade, serão estabelecidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). As principais análises da cadeia produtiva de origem vegetal são realizadas para determinar o percentual de matérias estranhas, impurezas, folhas, fragmentos, cascas, partículas entre outros não provenientes da planta (BRASIL, 2010; SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). Os padrões para feijão serão determinados pela IN nº 12, de 28 de março de 2008; para arroz pela IN nº 9, de 18 de fevereiro de 2009 e para o trigo pela IN nº 38, de 1º de dezembro de 2010. 2.1 Principais elementos da cadeia produtiva de origem vegetal Com o objetivo de garantir a segurança alimentar e a qualidade dos produtos da cadeia de origem vegetal, são realizadas fiscalizações nos estabelecimentos que produzem grãos e cereais, cafés, azeite de oliva, farinhas, frutas e outros. Esses são os principais elementos da cadeia produtiva de vegetais. 43 2.2 Controle e qualidade de raízes, tubérculos e bulbos Entre esses produtos estão fécula, sagu, tapioca de mandioca, batata doce, batata baroa, inhame e aipim (BRASIL, 2017). Para serem próprios para o consumo, devem vir de espécimes vegetais genuínos e satisfazer os critérios de qualidade que são: ser proveniente de colheita recente, secagem ao sol em locais secos, ventilados e limpos, desenvolvidos com tamanho, aroma e sabor característicos da sua espécie, não estar danificados, livres de terra, isentos de umidade e não apresentarem rachaduras ou cortes na casca (BRAZIL, 1978; SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). As principais análises físicas desses elementos estão relacionadas às suas dimensões, como é o caso da batata com limites de tolerância estabelecidos pela IN nº 27 (BRAZIL, 2017). As cinzas totais estarão relacionadas com o índice de refinação, na farinha de mandioca, por exemplo, a maior concentração de cinza indica contaminações, nos açúcares irão dificultar a cristalização e a descolorização. Além dessas análises físico-químicas, também será avaliada a umidade, as proteínas, as cinzas, os lipídeos e os carboidratos presentes nesses alimentos (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 2008). Outros compostos químicos poderão ser avaliados, como o cianeto presente na mandioca. Dependendo da quantidade, a mandioca poderá ser considerada brava ou amarga e será usada apenas para fins industriais e se considerada mansa (macaxeira e aipim) poderá ser utilizada para o consumo (EMBRAPA, 2005; SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). Raízes e tubérculos seguirão um padrão mínimo microbiológico, o máximo aceitável de bactérias do grupo coliforme fecal é 2x102 UFC/g, segundo IN nº 12, de 1978, ausência de salmonela em 25g de alimento. 2.3 Controle e qualidade das frutas e hortaliças As frutas serão classificadas pelo tamanho, pela cor e pela qualidade, segundo padrões oficiais atualizado em 2017 (BRASIL, 2017b). Foi criado um programa paulista para melhoria dos padrões comerciais e de embalagem em 1997, alterado para Programa Brasileiro para modernização da Horticultura, visando o estabelecimento de normas e padrões de qualidade para comercialização de frutas (PBMH, 2017; SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). Mais de 40 cartilhas de classificação foram reeditadas ao longo dos anos. Assim como para hortaliças, há cartilhas específicas de classificação também para as frutas (PBMH 2017). 44 Figura 6 - Produção de frutas Fonte: Aluxum, iStock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra várias frutas que podem representar a produção de frutas no país. Os requisitos mínimos exigidos são estabelecidos pela portaria DAS nº 99, de 2017. São avaliadas a maturação das frutas, a determinação do ponto de colheita, verificando a mudança de coloração da casca, o crescimento da fruta, a acidez, a firmeza da polpa, o teor de sólidos totais, entre outros. Sobre os padrões microbiológicos das frutas, são estabelecidos pela RDC 12, de 2001, os limites máximos de coliformes a 45°C e ausência de salmonella sp (BRASIL, 2001; SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). Para hortaliças, legumes e similares, como cogumelos, foram estabelecidos os limites de coliformes também a 45°C e ausência salmonella em 25 g. Para as que forem branqueadas, foram adicionados limites para os estafilococos coagulase positiva (BRASIL, 2001; SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). 3 CONCEITO INTEGRADO DE SEGURANÇA NA CADEIA PRODUTIVA É um conceito complexo e basicamente é conhecido como sendo capaz de juntar benefícios estratégicos e operacionais ao longo da cadeia produtiva, visando ganhos na integração, ou seja, o conceito integrado de segurança na cadeia produtiva irá focar na excelência dos processos e é hoje uma forma de gerir os negócios com vários representantes da cadeia de produção. Nesse processo, todas as partes envolvidas na elaboração de um produto poderão estar integradas em um único sistema, garantindo o trabalho efetivo rumo ao mesmo ideal (TALAMINI; PEDROZO; SILVA, 2005) . Veja a representação desse processo no esquema a seguir. 45 Figura 7 - Gestão de segurança na cadeia produtiva Fonte: Johnkworks, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra vários locais por onde passam o produto em seu processamento e depois as flechas indicam como eles podem ser transportados até chegar ao consumidor, indicando a gestão da segurança da cadeia produtiva. Existem alguns elementos de decisão-chave para o conceito integrado de segurança na cadeia produtiva, são eles se os processos estão conectados: os membros de cada cadeia, os componentes da gestão da cadeia e a estrutura da cadeia. As dimensões estruturais de uma cadeia também são necessárias para gerenciar a cadeia de suprimentos, são elas: Estruturas horizontais: número de camadas na cadeia. Estruturas verticais: onde poucas empresas estarão presentes em cada nível. Além das dimensões, há também os tipos de ligações entre os membros, como ligações gerenciadas, processos monitorados, processo não gerenciados e processos com não membros (TALAMINI; PEDROZO; SILVA, 2005). 46 4 CONCEITO DE BOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS (BPA) Todas as práticas que estejam relacionadas a medidas necessárias para garantir a segurança do alimento em todas as etapas da cadeia alimentar são conhecidas como boas práticas de higiene. O conceito geral de Boas Práticas (BP) aplica-se a regras que se praticadas irão contribuir para minimizar os riscos. Para assegurar que os produtos sejam feitos conforme especificação e ausentes de perigos, as BP garantem que os procedimentos de fabricação e de controle de qualidade sejam realizados. Elas podem ser aplicadas em vários segmentos da cadeia alimentar e quando são aplicadas à produção de alimentos no campo são denominadas de Boas Práticas Agrícolas (BPA) (SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). Elas visam proteção a saúde do consumidor, principalmente quando relacionada a doenças que poderiam ser transmitidas por meio do consumo direto ou indireto dos produtos agrícolas. Além disso, visa também garantir a adequação do produto agrícola para o consumo e a manutenção da confiança sobre esses produtos nos mercados nacionais e internacionais (SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). Incluem também o período de carência dos agrotóxicos, adequações no uso de tecnologias e EPIs (equipamento de proteçãoindividual), manejo das pragas, destino da sobra dos agrotóxicos e do descarte das suas embalagens, a forma que o alimento será embalado e transportado, entre outros fatores. Todos estes procedimentos convergem em minimização dos riscos e proteção da saúde do consumidor via redução das contaminações químicas, por meio do uso de agrotóxicos, contaminação física e biológica dos alimentos (EMBRAPA, 2017d). Existem algumas etapas para a implantação da BPA. Ela se inicia com nível mínimo e vai evoluindo para as ações mais complexas, que incluem avaliações APPCC e uso de Sistemas de Qualidade, como ISO 9000 e ISO 22000 (SARDÁ, FERRAREZZO., 2018). 5 PRODUTOS BRASILEIROS NO MERCADO INTERNO E INTERNACIONAL O Brasil é um grande exportador e consumidor de produtos que vimos até aqui, veja um panorama de cada um no mercado interno e internacional. Carne Sobre a cadeia produtiva da carne e sua produção, na atualidade o mercado brasileiro conta com um rebanho de 209 milhões de cabeças, mais que o dobro do valor de 40 anos atrás. Além disso, havia a dependência de importação para o consumo interno e várias questões sanitárias 47 complexas que não permitiam a sua exportação. Esse avanço foi decorrente da adoção de tecnologias, manejo, saúde e genética do animal (EMBRAPA, 2017d). A melhoria genética e pastagem do rebanho, com introdução do gado zebu, técnicas de fecundação in vitro, clonagem e produção de embriões foram de grande importância para a expansão da produção na região central do país. Além disso, a indústria de nutrição animal contém as melhores e atuais tecnologias do mercado, seguindo uma rígida legislação e fiscalização que impedem que os gados sejam alimentados de produtos de origem animal, minimizando risco da ocorrência do mal da vaca louca, um problema encontrado com frequência na produção de carnes no mundo e inexistente no Brasil (EMBRAPA, 2017d). Frango No ranking de exportação, o Brasil também ocupa o primeiro lugar da cadeia produtiva de frangos. O consumo de carne de frango no país também é alto, cerca de 41 kg de frango por habitante em um ano, não apenas in natura, mas também em produtos processados. Ovo Assim como a carne de frango, o brasileiro consome muito ovo, cerca de 190 ovos por ano por pessoa, são produzidos mais de 30 bilhões de unidades todos os anos e cerca de 10.000 toneladas são exportadas. Frutas O Brasil exporta, ainda, cerca de 40 milhões de toneladas de frutas por ano e ocupa o terceiro lugar entre os maiores produtores, perdendo para a China e Índia. Entre as frutas mais produzidas está a banana, uva, laranja, maça e a melancia, correspondendo 58,4% da produção de frutas do mundo (CARVALHO, 2017; IBGE 2017). Pescados Sobre a comercialização de pescados no nosso país, segundo dados atualizados do Mapa, vem aumentando ao longo dos anos e supera a recomendação estabelecida pela OMS de 12 kg/pessoa/ano. Porém ainda é menor que a média mundial de 20kg (BRASIL, 2017b; SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). O agronegócio sempre contribuiu para a balança comercial do Brasil. Atualmente, o país atinge valores recordes nas exportações. De 1998 a 2013 a balança comercial fechou em US$ 82,9 bilhões. Entre os produtos em expansão encontra-se a soja, que em 2011 representou 3,81% do valor de exportações agrícolas, com taxa anual de crescimento de 12,5% (PEREIRA et al., 2016) . 48 6 PARÂMETROS CRÍTICOS A CONSIDERAR NA CADEIA PRODUTIVA Entre os parâmetros críticos para considerar na cadeia produtiva, as bactérias, os fungos e os parasitas apresentam um perigo microbiológico e são responsáveis pelo desenvolvimento da maioria das DTA. Entre os principais agentes de surtos de contaminação registrados estão: o Clostridium botulinum e Clostridium perfringens, Salmonela sp, Staphylococcus aureus, Bacillus cereus, Escherichia coli, Listeria monocytogenes, Vibrio spp, Clostridium botulinum e Clostridium perfringens (GERMANO; GERMANO, 2008; SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). Os parâmetros críticos na produção avícola, como carnes e ovos, são as contaminações por bactéria ou substâncias nocivas à saúde humana. Um fator preocupante à segurança e qualidade do produto são os metabólicos químicos provenientes das microtoxinas, rações ou drogas veterinárias ou mesmo os pesticidas. Nos ovos, temos um exemplo recente, a presença de melamina, usada para produzir resina, resultado do consumo de ração contaminada. Surgiram então alguns programas destinados a monitorar essa substância nos ovos e também nas carnes no âmbito mundial, já que houve relatos de problemas à saúde humana (MAZZUCO, 2011) . Nos pescados, o problema mais usual é no processo da salga, conhecido como a “vermelhidão”, que acontece pela ação de bactérias halofílicas, que poderão estar no sal ou “saltão”, ocorre devido ao desenvolvimento da larva de mosca (VASCONCELOS, 2010; SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). Sobre os patógenos mais frequentes e que representam um ponto crítico a ser considerados na cadeia produtiva, estão a bactéria Salmonella, Compylobacter e Escherichia coli e afetam milhões de pessoas anualmente. Entre os alimentos envolvidos nos surtos da salmonelose estão os ovos, as aves e outros produtos de origem animal. Para o Campylobacter estão o leite cru e as aves cruas; em relação à Escherichia coli, o leite não pasteurizado e a carne malcozida, assim como frutas e vegetais mal lavados (SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). A qualidade da água acaba sendo um dos pontos críticos a ser considerado, visto que a boa qualidade da água pode influenciar no desempenho e na saúde dos animais. É possível definir a qualidade da água pela presença de uma ou mais características: odor, aparência, sabor, teor de macro e micronutrientes, presença de microrganismos e substâncias tóxicas, propriedades químicas e físicas. Qualquer alteração relacionada a esses aspectos e também em relação aos hábitos alimentares e perda de saúde dos animais serão motivos para uma análise da sua composição (PALHARES, 2014) . Para a produção segura de proteína animal, além do volume de água, garantido pelas riquezas 49 hídricas do Brasil, é necessário que ela seja disponibilizada com qualidade. A falta de saneamento, tanto urbano quanto rural, o processo e a urbanização e industrialização, problemas relacionados à fiscalização e até mesmo o estímulo dos sistemas agropecuários associados ao desconhecimento da importância do cuidado hídrico para a produção animal podem expor a água a várias ameaças (PALHARES, 2014) . São muito os parâmetros a serem considerados na cadeia produtiva e eles serão distintos dependendo do produto e sua origem. Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 50 Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • entender o conceito de alimento seguro; • compreender as diferenças entre os princípios de food safety e food security • conhecer os principais órgãos de regulação na área de segurança dos alimentos e segurança alimentar; • estudar as principais fontes de contaminação dos alimentos: química, física e micro- biológica; • aprender sobre as ações dos microrganismos nos alimentos, com destaque para as doenças transmitidas por alimentos (DTA); • conhecer os diferentes conceitos e definições empregados para qualidade; • aprender sobre as quatro eras relacionadas à evolução dos procedimentos de quali- dade: inspeção, controle estatístico da qualidade, garantia da qualidade e gestão da qualidade total; • conhecer alguns dos principais gurus e estudiosos da área de qualidade; • compreender a diferença entre controle e garantia da qualidade; • entender sobre a relevância dos conceitos de qualidade para o mercado. PARA RESUMIR ACADEMIA PEARSON. Gestão da qualidade. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2011. ANVISA. Boas práticas de manipulação em serviços de alimentação. 2014. Módulo I: Entendendo a contaminação dos alimentos. Disponível em: https://jundiai.sp.gov.br/ saude/wp-content/uploads/sites/17/2015/01/Aula-1.pdf. Acesso em: 04 abr. 2020. BOND, M. T.; BUSSE,A.; PUSTILNICK, R. Qualidade total: o que é e como alcançar. Ed. 1. Curitiba: Intersaberes, 2012. BRASIL. Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006. Cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - SISAN com vistas em assegurar o direito humano à alimentação adequada e dá outras providências. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 18 set. 2006. Seção 1, p. 1-2. BRASIL. Ministério da Saúde Doenças Transmitidas por Alimentos: causas, sintomas, tratamento e prevenção. Disponível em: https://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/ doencas-transmitidas-por-alimentos. Acesso em: 09 abr. 2020. BRINQUES, G. B. Higiene e vigilância sanitária. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015. CAMPOS, V. F. TQC: Controle da qualidade total (no estilo japonês). Nova Lima: INDG, 2004. COLETTO, D. Gerenciamento da segurança dos alimentos e da qualidade na indústria de alimentos. Porto Alegre, 2012. 45 f. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Instituto de Ciência e Tecnologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/72762/000870926.pdf. Acesso em: 05 abr. 2020. DAMIAN, T. Gestão de empresa: Tópicos especiais em gestão empresarial. Jundiaí: Paco Editorial, 2018. DEMING, W. E. The New Economics. Cambridge: Massachusetts Institute of Technology, 1993. FAO/WHO. The state of food security and nutrition in the world 2019. Safeguarding against economic slowdowns and downturns. Rome: FAO, 2019. Disponível em: https:// www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/72762/000870926.pdf. Acesso em: 04 abr. 2020. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FERREIRA, J. A. F. Panorama das doenças transmitidas por alimentos no Brasil entre 2000 e 2015. São Paulo, 2017. 76 f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo. Disponível em: https://www. teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6138/tde-11052017-165548/publ ico/ JessicaDeAragaoFreireFerreraREVISADA.pdf. Acesso em: 08 abr. 2020. GARVIN, D. A. Gerenciando a qualidade: a visão estratégica e competitiva. Rio de Janeiro: Qualimark, 2002. ITAL. Brasil Food Trends 2020. São Paulo: ITAL/FIESP, 2010. 173 p. Disponível em: http:// www.brasilfoodtrends.com.br/. Acesso em: 04 abr. 2020. ISHIKAWA, K. Controle de Qualidade Total: à maneira japonesa. Rio de Janeiro: Campos, 1993. 29 p. JURAN, J. M.; GODFREY, A. B. Juran’s quality handbook. 5 ed., New York: McGraw Hill, 1999. ORTEGA, A. C.; BORGES, M. S. Codex alimentarius: a segurança alimentar sob a ótica da qualidade. Revista Segurança Alimentar e Nutricional. 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Saiba mais sobre as ferramentas de Boas Práticas de Fabricação (BPF), Procedimentos Operacionais Padronizados (POP) e Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), as quais são utilizadas por serviços de alimentação e indústrias com o intuito de garantir que os aspectos higiênico-sanitários dos alimentos sejam alcançados. Bons estudos! 55 1 LEGISLAÇÃO RELACIONADA À SEGURANÇA DOS ALIMENTOS Você já parou para pensar por que existem os atos normativos na área de segurança de alimentos? Tem ideia de quem são os responsáveis pela elaboração dessas normas? Bom, como você já deve imaginar as legislações são fundamentais para organizar a vida em comunidade e, no caso da segurança dos alimentos, não é diferente, afinal é necessário que as medidas higiênico- sanitárias sejam adotadas de forma padronizada em todos os estabelecimentos destinados à produção de alimentos. Além disso, a legislação sanitária é, sobretudo, uma forma de colocar em prática recomendações quanto ao uso de ferramentas de controle e garantia da qualidade. Para você, futuro profissional nutricionista, esse conhecimento é essencial, já que você terá a oportunidade de atuar como Responsável Técnico (RT) em serviços de alimentação, nos quais poderá desenvolver atividades de gestão, treinamento e orientação de outros profissionais. Assim, vamos te apresentar um breve histórico do surgimento dos atos normativos relacionados à segurança dos alimentos e focar nas principais legislações empregadas em âmbito nacional. Vamos lá? 1.1 Panorama sobre as legislações sanitárias no Brasil Como você deve se recordar, quando falamos da segurança dos alimentos, um fator muito importante a ser considerado é a adoção de práticas de vigilância sanitária. Pode-se dizer que tais práticas foram aprimoradas no Brasil após a década de 90, com a publicação da Lei nº 8.080, a qual “dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes” (BRASIL, 1990). Atualmente, a legislação sanitária no Brasil é considerada um tanto complexa, envolvendo a participação de diversos órgãos e entidades, como o Instituto Nacional de Metrologia e Normalização (Inmetro), Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) e Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (PROCON), sendo maior destaque dado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Anvisa Surgiu em 1999, como uma autarquia federal, ou seja, um órgão que apesar de estar vinculado ao Ministério da Saúde, apresenta independência administrativa e financeira. Sua missão é a de proteger e promover a saúde dos indivíduos por meio de ações de vigilância sanitária sobre produtos e serviços, tais como os alimentos, aos quais incluem bebidas, águas envasadas, uso de 56 aditivos alimentares, embalagens, resíduos de agrotóxicos e medicamentos veterinários. Mapa Atua sobre a inspeção de alimentos de origem animal (como carnes, pescados, ovos, leite, mel e todos os produtos derivados), bebidas (alcoólicas, não alcoólicas e fermentadas) e vegetais in natura. Portanto, perceba que o âmbito de atuação de ambos os órgãos é distinto e, dependendo da linha de produção com a qual você irá trabalhar, deverá pesquisar os atos regulatórios em uma ou outra entidade. Antes de aprofundarmos nossos conhecimentos a respeito das legislações sanitárias pertinentes à área de alimentos, é importante que você tenha domínio do uso e abrangência de alguns termos comumente empregados nesse contexto. Lei Refere-se a um ato normativo que tem caráter de obrigatoriedade, o qual é de uso do Poder Legislativo e aprovado pelo Poder Executivo (Presidente da República, Governador do Estado, Prefeito). Decreto É uma norma que serve para regulamentar um assunto tratado pela lei, sendo pertinente ao chefe do Poder Executivo. Portaria Quando tratamos de uma Portaria, estamos nos referindo a um documento administrativo emitido pelo responsável do órgão em questão. Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) Corresponde a um ato legislativo de conteúdo concreto, definido por um grupo de especialistas da área. Instrução Normativa (IN) Ato administrativo que funciona como uma norma complementar aos atos normativos de nível hierárquico superior. Pronto! Agora ficou fácil conhecermos um pouco mais sobre os atos normativos direcionados à legislação sanitária. No Brasil, a primeira lei a tratar da inspeção sanitária de alimentos a nível federal foi a Lei nº 1.283, de 18 de dezembro de1950 (BRASIL, 1950). No entanto, essa mesma lei 57 abrangia apenas os produtos de origem animal. Posteriormente, em 1967, foi criada a Comissão Nacional de Normas e Padrões para Alimentos (CNNPA), a qual ficou responsável pela emissão das normas técnicas relacionadas à produção e distribuição de alimentos e bebidas. Com o passar dos anos, houve o surgimento da Anvisa e a descentralização das ações de vigilância sanitária como forma de fortalecer as três esferas de governo (União, Estados e Municípios), além de tornar a fiscalização mais eficiente. Assim, os atos normativos da Anvisa são considerados referências a serem seguidas pelos órgãos de vigilância estadual e municipal, os quais podem emitir outras normas complementares, de acordo com sua realidade e necessidade local. Dentre as principais legislações sanitárias preconizadas pela Anvisa estão: a Portaria nº 1.428, de novembro de 1993; a RDC nº 275, de outubro 2002; a RDC nº 216, de setembro de 2004 e a RDC nº 43, de setembro de 2015. Além dessas, temos algumas resoluções que foram atualizadas e podem ser consideradas complementares. Vamos entender quais são os assuntos abordados em cada um desses atos normativos? 1.2 Considerações sobre a Portaria nº 1.428 A Portaria 1.428 foi publicada em 26 de novembro de 1993 e foi a que trouxe as novas recomendações quanto à inspeção sanitária de alimentos. Tal portaria teve como objetivo Estabelecer as orientações necessárias que permitam executar as atividades de inspeção sanitária, de forma a avaliar as Boas Práticas para a obtenção de padrões de identidade e qualidade de produtos e serviços na área de alimentos com vistas à proteção da saúde da população. (BRASIL, 1993) Portanto, a partir de sua publicação ficou determinado que os estabelecimentos da área de alimentos adotassem suas próprias medidas de Boas Práticas de Fabricação (BPF), conceito que foi revisto por resoluções posteriores, uma vez que, dessa maneira, não havia uma padronização das medidas tomadas. Além disso, o ato normativo instituiu que o sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), cujos conceitos estudaremos mais adiante, fosse utilizado como um critério de inspeção. Nessa época, diversos países europeus haviam implantado o APPCC em sua cadeia de produção. Assim, as empresas brasileiras não poderiam ficar para trás, e de uma hora para outra precisaram se adequar à nova realidade, o que foi um grande desafio, tanto para os produtores quanto para os auditores e fiscais que não conheciam a ferramenta tão afundo. Pela Portaria também ficou instituída a necessidade de se estabelecer os Padrões de Identidade e Qualidade (PIQ) para produtos e serviços na área de alimentos. Nesse momento, os PIQs compreendiam os padrões adotados pelo próprio estabelecimento, o que também não é condizente com as práticas atuais, uma vez que hoje os produtos alimentícios devem atender aos requisitos definidos pelo órgão de regulação e fiscalização competente. Assim, temos distintas legislações que fixam os Padrões de Identidade e Qualidade para cada categoria de alimentos. O documento do PIQ traz informações sobre composição, características sensoriais, 58 uso de ingredientes, entre outras informações relevantes para caracterizar o alimento ou produto alimentício a ser comercializado. A Portaria nº 1.428 também foi a que introduziu a figura do Responsável Técnico (RT) nos estabelecimentos da área alimentar. Tal função tornou-se necessária para a adoção das novas medidas capazes de atender todas as exigências legais definidas. Atuar como RT representa, na atualidade, um vasto campo de possibilidades para os nutricionistas, já que envolve atividades de planejamento, coordenação, direção, supervisão e avaliação. 1.3 Considerações sobre a RDC nº 216 Já a RDC nº 216 foi publicada em 15 de setembro de 2004 e estabelece os procedimentos de Boas Práticas de Fabricação (BPF) que devem ser adotas de forma padronizada nas Unidades de Alimentos e Nutrição (UAN), ou seja, em estabelecimentos que desempenham atividades relacionadas à alimentação e nutrição, como o fornecimento de refeições (restaurantes, lanchonetes, bufê, alimentação escolar, cozinhas institucionais etc.). A legislação se inicia apresentando a definição de alguns termos, como boas práticas, contaminantes, antissepsia desinfecção, higienização, resíduos, saneantes, entre outros. Em seguida, aborda as condições de BPF, as quais devem ser adotadas nos estabelecimentos desde atividades de planejamento inicial, como avaliar as condições de edificações, equipamentos, móveis, utensílios e abastecimento de água; assim como para atividades do cotidiano de seu funcionamento, como manejo de resíduos, práticas de higiene dos manipuladores, entrega de matérias-primas etc. Por fim, a RDC enfatiza a necessidade de presença de um responsável técnico para coordenar todas essas ações. Vale destacar, que essas indicações relacionadas às BPF foram baseadas em normas apresentadas pelo Codex Alimentarius, um conjunto de padrões internacionais da área de alimentos formulado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e Organização Mundial da Saúde (OMS). Além disso, atos normativos nacionais também devem ser conhecidos como complementares à RDC nº 216, tais como a Portaria nº 326, a qual FIQUE DE OLHO Quer conhecer um pouco mais sobre as condições necessárias para atender o Padrão de Identidade e Qualidade (PIQ) de produtos lácteos? Acesse a Portaria nº 146, de 07 de março de 1996, publicada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), e veja quais informações são exigidas para o atendimento do PIQ de manteiga, queijos, creme de leite, entre outros. 59 também aborda as condições higiênico-sanitárias e de BPF para estabelecimentos produtores de alimentos; e a RDC nº 52, a qual inclui um novo artigo à RDC nº 216, altera dizeres de seu âmbito de aplicação, além de excluir lactários, unidades de terapia de nutrição enteral e bancos de leite de sua abrangência. 1.4 Considerações sobre a RDC nº 275 A RDC nº 275, ato normativo republicado em 6 de novembro de 2002, é uma legislação que complementa as informações da RDC nº 216, sendo aplicada aos estabelecimentos que realizam atividades relacionadas à “produção/industrialização, fracionamento, armazenamento e transporte de alimentos industrializados” (BRASIL, 2002). Nela é apresentada a ferramenta de Procedimentos Operacionais Padronizados (POP), documento que apresenta de forma clara e objetiva as instruções sequenciais para a realização de tarefas rotineiras e específicas dentro dos serviços de alimentação. Tais documentos são essenciais para o monitoramento, a avaliação e o registro das condições higiênico-sanitárias pela implementação das BPF. A resolução apresenta ainda o Anexo II, o qual traz uma lista de verificação das BPF, que pode ser utilizada pelos estabelecimentos para realização de auditorias internas, ou seja, para observar e checar o andamento dos procedimentos de BPF no local. Tal instrumento pode também ser empregado pelos fiscais da vigilância sanitária para inspeção do local, como forma de padronizar as exigências requeridas. 1.5 Considerações sobre a RDC nº 43 A RDC nº 43 foi publicada em 1º de setembro de 2015 com o intuito de estabelecer regras sobre o cumprimento dos requisitos sanitários pelos serviços de alimentação na realização de eventos em massa (públicos ou privados) que envolvam mais de 1.000 indivíduos (BRASIL, 2015). Sabe-se que a realização de eventos como shows, jogos esportivos, festas típicas regionais etc., em que há uma grande aglomeração de pessoas, pode representar um desafio no âmbito da saúde, já que nessas ocasiões interagem indivíduos de diferentes locais, culturas, hábitos, condições de saúde etc. Portanto, se alguns cuidados não forem tomados, enfermidades podem ser disseminadas, constituindo-se um fator de risco. Além das doenças transmissíveis entre os humanos,nesses eventos estamos sujeitos à ocorrência das Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA), uma vez que a produção das refeições pode ser realizada em locais sem infraestrutura prévia para tal feito. Além disso, para se atender a demanda local, algumas preparações são elaboradas com muito tempo de antecedência, o que pode ser preocupante caso não sejam seguidas as BPF, fazendo com que os alimentos fiquem 60 expostos a condições inadequadas de transporte, manipulação e armazenamento. Nesse sentido, a RDC nº 43 é uma norma cujo conhecimento é obrigatório aos administradores dos estabelecimentos, organizadores de eventos e aos prestadores de serviço ligados à área de manipulação. A resolução apresenta os requisitos de BPF que devem ser atendidos quanto à documentação, instalações e serviços de manipulação, sendo obrigatória a presença de pelo menos um profissional treinado em BPF em cada instalação e serviço. Ao final da resolução, é apresentado um checklist, o qual pode ser utilizado pelas autoridades de vigilância local, tanto antes ou durante o evento, para verificar se as condições de BPF preconizadas estão sendo atendidas. Observe que, assim como para as demais legislações, no caso da organização de um evento em massa é necessário que os profissionais também possuam o conhecimento dos atos normativos emitidos pelos órgãos estaduais e municipais de vigilância sanitária, de modo a complementar as informações da presente resolução. 2 FERRAMENTAS DE CONTROLE E GARANTIA DA QUALIDADE Apesar de o trabalho relacionado à segurança de alimentos parecer algo muito burocrático, no qual devemos seguir determinadas regras e padrões, tudo isso se faz necessário para que possamos produzir alimentos de maneira segura e livres de contaminantes. Para muitos indivíduos que desconhecem o ramo de controle e garantia da qualidade, tais ações podem parecer exageradas e muitas vezes desnecessárias. No entanto, devemos nos lembrar de que as ferramentas empregadas para segurança dos alimentos são evidenciadas em trabalhos científicos e, portanto, sua implementação tem o intuito de auxiliar as indústrias e os serviços de alimentação. E aí, pelo o que estudamos até o momento, você já imagina quais são as principais ferramentas ligadas à produção dos alimentos seguros? Vamos estudar um pouco mais sobre cada uma delas? 2.1 Boas Práticas de Fabricação (BPF) Atuar em uma indústria de alimentos ou serviço de alimentação requer que as atividades desenvolvidas sejam executadas com muito cuidado. Por muitas vezes, algumas práticas equivocadas se tornam repetidas em nosso cotidiano, e é comum ouvirmos frases como “eu sempre fiz assim e nunca aconteceu nada”. Será mesmo? Nesse contexto, é fundamental o papel do nutricionista para conscientizar toda a equipe sobre a importância da adoção das BPF, como forma de auxiliar no bom funcionamento, na organização e na qualidade de todo o sistema produtivo. Segundo a Anvisa, as boas práticas são definidas como os “procedimentos que devem 61 ser adotados por serviços de alimentação a fim de garantir a qualidade higiênico-sanitária e a conformidade dos alimentos com a legislação sanitária” (BRASIL, 2004). A adoção desses procedimentos é relevante, portanto, para que as ações dentro dos ambientes de produção sejam padronizadas, evitando-se possíveis perigos e contaminações. Sabemos que os alimentos apresentam condições favoráveis ao crescimento de microrganismos deteriorantes e patogênicos, o que pode ocasionar tanto danos à saúde do consumidor como gerar custos e difamar a reputação da empresa. Assim, além dos quesitos relacionados à higiene, podemos ressaltar que a implementação das BPF pode ser uma ferramenta de auxílio de gestão financeira, uma vez que conduz atitudes de maneira planejada, a fim de se evitar desperdícios (como os de alimentos e produtos de limpeza), má distribuição de funcionários e insumos. Para tanto, as BPF englobam medidas relacionadas a doze diferentes tópicos: • Edificação, instalações, equipamentos, móveis e utensílios; • Higienização de instalações, equipamentos, móveis e utensílios; • Controle integrado de vetores e pragas urbanas; • Abastecimento de água; • Manejo de resíduos; • Manipuladores; • Matéria-prima, ingredientes e embalagens; • Preparação do alimento; • Armazenamento e transporte do alimento preparado; • Exposição ao consumo do alimento preparado; • Documentação e registro; • Responsabilidade. Vamos conversar sobre a aplicação dessas recomendações dentro das Unidades de Alimentação e Nutrição (UAN)? Edificações Em relação às edificações, é recomendado que as elas estejam em bom estado de conservação, livres de trincas, vazamentos, bolores e objetos em desuso, tanto na sua parte externa quanto interna. Além disso, é necessário que seu dimensionamento seja compatível às operações realizadas, de maneira a facilitar o fluxo ordenado de produção, evitando-se aglomeração de 62 funcionários e cruzamento entre as etapas, o que poderia gerar possíveis focos de contaminação. Iluminação A iluminação no ambiente deve ser suficiente para a visualização de sujidades, sendo que as luminárias instaladas sobre a área de produção de alimentos devem apresentar proteção contra explosão e quedas acidentais, evitando-se possíveis contaminantes físicos (como cacos de vidro) nos alimentos. Fácil higienização É importante também que ambiente, móveis e utensílios apresentem materiais de fácil higienização, como pisos e azulejos de revestimento liso, de cor clara e impermeável; mesas, equipamentos e talheres de aço inoxidável. A madeira é um material não indicado para ser utilizado em serviços de alimentação devido à sua alta porosidade, o que facilita o armazenamento de água e resíduos na superfície, aumentando os riscos de proliferação de fungos e bactérias. Limpeza Quanto à limpeza do ambiente, a área deve ser higienizada quantas vezes forem necessárias e imediatamente ao final do expediente, sendo que todas essas operações devem ser registradas em documentos específicos para esse fim. Lixo gerado O lixo gerado na produção deve ser frequentemente coletado e estocado em local fechado e isolado da área de preparação e armazenamento dos alimentos. Todas essas medidas evitam o acúmulo de sujidades de um dia para o outro, o que poderia dificultar a remoção de incrustações, além de ser um atrativo para o aparecimento de vetores e pragas. Nesse quesito, é imprescindível que o estabelecimento defina um conjunto de medidas eficazes e contínuas, como o uso de telas milimétricas removíveis (para facilitar a limpeza) em portas e janelas, a fim de evitar a entrada de vetores e pragas. Quando tais medidas não são suficientes, é necessária também a realização de controle químico, o qual deve ser efetuado por empresas dedetizadoras especializadas. Abastecimento de água Sobre o abastecimento de água, as BPF reforçam a necessidade de se utilizar apenas água potável para a manipulação dos alimentos, inclusive na fabricação de gelo. O reservatório de água do estabelecimento deve ser construído com materiais que não comprometam a qualidade da água e deve permanecer devidamente tampado. Recomenda-se que a higienização desse local seja efetuada sempre que necessário ou no intervalo máximo de seis meses, devendo ser mantidos registros da operação. 63 Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: Os manipuladores representam outra importante fonte de contaminação dos alimentos e, portanto, devem adotar medidas de higiene durante o desempenho de suas atividades. É indispensável o uso de uniforme completo, limpo e em bom estado de conservação, o qual deve ser de uso exclusivo no local e trocado diariamente. Deve-se incluir o uso de sapatos fechados, antiderrapantes e de toucas para a proteção dos cabelos. As unhas devem estar curtas, limpas e sem esmaltes (inclusive base), sendo que durante a manipulação devem ser removidos todos os adornos, tais como relógio, pulseiras, brincos etc., alémde maquiagem. Os manipuladores não devem apresentar lesões ou sintomas de enfermidades e devem evitar práticas como fumar, falar desnecessariamente, cantar, espirrar, cuspir, tossir, comer ou manipular dinheiro. Outra orientação primordial é a de que sempre seja feita a correta higienização das mãos a cada troca de atividade. Assim, cartazes com instruções das etapas do processo de higienização das mãos devem ser afixados em instalações sanitárias e lavatórios. FIQUE DE OLHO Você sabia que a água destinada ao consumo humano deve passar por procedimentos de controle e vigilância de sua qualidade? A Portaria nº 2.914 de dezembro de 2011 é o ato normativo que aborda essas necessidades, além de exibir os padrões necessários para a potabilidade da água. 64 Figura 1 - Cartaz orientativo de como higienizar as mãos Fonte: Elenabsl, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A figura ilustra um exemplo de cartaz que pode ser utilizado para instruir os manipulares de alimentos sobre as etapas para a correta higienização das mãos. 65 Estas são outras recomendações e medidas adotas pelas BPF: Matéria-prima Tratando-se da qualidade da matéria-prima, é recomendado que sejam definidos critérios para a avaliação e seleção dos fornecedores, já que se o material oferecido apresentar não conformidades já em sua recepção, dificilmente o produto final atenderá aos padrões de qualidade necessários. Assim, durante o recebimento das matérias-primas, embalagens e ingredientes deve ser feita uma inspeção para aprovação ou rejeição dos itens (por exemplo: produto com embalagem danificada, prazo de validade vencido etc.). Estocagem O material deverá ser estocado sobre paletes ou prateleiras, de maneira a evitar o contato direto com o solo, o qual representa outra fonte de contaminação. Para organização do estoque, recomendamos que seja adotada a regra PEPS (primeiro que entra, primeiro que sai). Assim, mercadorias que chegam antes ao depósito devem ser as primeiras a serem utilizadas, evitando- se que expire seu prazo de validade, o que geraria prejuízos financeiros ao estabelecimento. Preparo Referente ao preparo dos alimentos, a resolução reforça que o contato direto ou indireto entre alimentos crus e prontos para consumo deve ser evitado, a fim de prevenir a contaminação cruzada. Em caso de os ingredientes não serem utilizados em sua totalidade, eles devem ser acondicionados e identificados corretamente com informações como designação do produto, data de fracionamento e prazo de validade. A temperatura também é um fator relevante no preparo dos alimentos, a fim de se evitar o crescimento microbiano. Para alimentos cozidos, por exemplo, recomenda-se que todas as partes do alimento atinjam no mínimo 70ºC. Já no caso de descongelamento de produtos, é indicado que seja efetuado em temperaturas inferior a 5ºC, ou seja, em geladeira ou refrigerador. Assim, o controle e registro de temperatura será uma etapa fundamental na adoção das BPF. Registro Para o acompanhamento e registro de todas as atividades citadas, é obrigatório que os serviços de alimentação disponham de um Manual de Boas Práticas e apresentem documentos de instruções, como os Procedimentos Operacionais Padronizados (POP), os quais deverão permanecer acessíveis tanto aos funcionários quanto às autoridades sanitárias. 66 Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: O nutricionista é o profissional que poderá assumir o papel de Responsável Técnico (RT) pela implementação das BPF dentro da UAN. Assim, caberá a ele oferecer suporte e treinamento aos funcionários manipuladores de alimentos sobre temas relacionados a contaminantes alimentares, doenças transmitidas por alimentos, manipulação higiênica dos alimentos e Boas Práticas de Fabricação. No início da implementação do programa de BPF, é comum que ocorra uma certa resistência de alguns funcionários em aderirem às novas medidas sugeridas. No entanto, caberá ao RT promover a conscientização do pessoal por meio de constante orientação e capacitação, de maneira que os funcionários entendam a importância da adoção dessas práticas e se sintam realmente envolvidos como membros da equipe e parte da resolução dos desafios encontrados. 2.2 Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) A Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), originária da sigla em inglês HACCP (Hazard Analysis and Critical Control Points), é uma ferramenta de controle da qualidade cujo foco é identificar e prevenir a ocorrência de perigos específicos na cadeia produtiva, gerando, assim, alimentos seguros. Tal sistema surgiu nos anos 60, por incentivo das Forças Armadas dos Estados Unidos, os quais convidaram a empresa Pillsbury para desenvolver alimentos que pudessem ser FIQUE DE OLHO Para a realização do treinamento dos funcionários, é necessário que você utilize linguagem clara e objetiva para a fácil compreensão de todas as informações. A Anvisa disponibiliza uma Cartilha sobre as Boas Práticas de Fabricação, a qual pode ser utilizada durante os cursos de capacitação (ANVISA, 2004). 67 utilizados pelos astronautas durante as viagens espaciais organizadas pela NASA. Frente a essa realidade, era imprescindível que as refeições fossem inócuas, ou seja, não oferecessem riscos de acidentes ou doenças transmitas por alimentos. Afinal, como os tripulantes resolveriam esses problemas no espaço? Dessa maneira, a empresa trabalhou com a ideia de identificação dos potenciais perigos que haviam em pontos específicos da cadeia produtiva e passou a monitorá-los e avaliá-los para averiguar se tudo estava sob controle e livre de falhas. Visto os resultados favoráveis, na década de 70, as indústrias alimentícias passaram a empregar o APPCC como uma ferramenta de controle e garantia da qualidade. No Brasil, o APPCC foi implantado pela Portaria nº 46, de 10 de fevereiro de 1998, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), com o intuito de aperfeiçoar a qualidade dos produtos de origem animal. Para tanto, foi seguido o modelo de procedimentos sugerido pelo Codex Alimentarius e a adoção do novo sistema foi realizada de forma gradativa pelas indústrias. Para compreendermos como funciona essa ferramenta, é interessante que fique claro o significado de alguns conceitos empregados. Perigo Para o APPCC, o termo perigo refere-se ao agente causador de danos à saúde ou integridade do consumidor; assim, entendemos que os contaminantes físicos, químicos ou biológicos são considerados perigosos. Risco Quando falamos sobre o risco, nos referimos à probabilidade de um perigo ocorrer. Por exemplo, é alto o risco de você disseminar uma DTA caso não higienize corretamente as mãos antes da manipulação, principalmente de limentos crus. Ponto de controle Podemos também encontrar a expressão ponto de controle, o qual corresponde a uma situação que deve ser monitorada ou corrigida, mas que não apresenta risco imediato à saúde. Ponto crítico de controle Temos também o ponto crítico de controle, o qual representa um local ou uma situação que causa risco imediato à saúde e, portanto, merece atenção constante. 68 A partir do conhecimento dessas definições, ficará mais claro entendermos sobre as etapas preliminares para o desenvolvimento do APPCC dentro de uma indústria ou serviço de alimentação. Etapa 1 A primeira etapa a ser realizada é a criação de uma equipe multidisciplinar, a qual ficará responsável pela implementação da ferramenta em toda a cadeia produtiva. Etapa 2 Em seguida, é recomendado que sejam preenchidos alguns documentos para identificação da empresa, incluindo o organograma (representação gráfica da estrutura hierárquica da organização). Etapa 3 Para o correto funcionamento do APPCC, é imprescindível que outras ferramentas de qualidade sejam previamente implantadas. Assim, BPF e POP são considerados Programas de Pré-requisitos, os quais são abordados já na etapa inicial da adoção do sistema de garantia de qualidadena indústria de alimentos. Etapa 4 Outro ponto relevante é o oferecimento de capacitação técnica à equipe sobre assuntos referentes às ferramentas de qualidade, DTA, microbiologia de alimentos etc. Etapa 5 Recomenda-se ainda que seja feita uma breve descrição do produto e das etapas da cadeia produtiva (fluxograma) de forma simples e clara. Etapa 6 Por fim, deve-se haver a aprovação, implantação e validação da ferramenta APPCC na indústria. Vale ressaltar que a conscientização e o comprometimento da alta direção é um item essencial no andamento do sistema, tanto para participar da tomada de decisões quanto para alocação de recursos e funcionários. Já quando em andamento, o funcionamento da ferramenta APPCC se baseará na sequência de sete princípios a serem adotados: 69 • Identificação dos perigos na cadeia produtiva; • Estabelecimento do Ponto Crítico de Controle (PCC); • Determinação dos Limites Críticos (LC) em relação aos PCC; • Monitoramento e acompanhamento de cada PCC, a fim de prevenir possíveis falhas; • Estabelecimento de ações corretivas para controlar os PCCs quando os resultados encon- trados apresentarem erros ou falhas; • Definição dos procedimentos a serem adotados para verificação do funcionamento do sistema; • Realização do registro dos resultados como forma de acompanhamento e rastreabilidade. Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: Você pode estar se perguntando, mas como saberei se um perigo é um PCC dentro da cadeia produtiva? Para isso, é importante que você conheça afundo todas as etapas referentes à elaboração do produto, faça uma vasta consulta bibliográfica para identificar os potenciais perigos da cadeia produtiva e, a partir daí, aplique um diagrama de perguntas conhecido como árvore decisória, o qual te auxiliará na classificação daquele perigo como um PCC ou não. A adoção do sistema APPCC traz muitas vantagens ao estabelecimento e, por isso, é recomendada por órgãos internacionais, como a OMS, FAO, Organização Mundial do Comércio (OMC) e Mercado Comum do Sul (Mercosul). Quando implementada de maneira adequada, a ferramenta auxilia no atendimento dos aspectos legais da empresa, evitando possíveis autuações e problemas de fiscalização; auxilia na diminuição do desperdício, o que possibilita a redução de custos; assegura que os produtos se apresentem dentro dos padrões de identidade e qualidade requeridos. Outros benefícios, como aumento da confiança da marca no mercado, promoção da satisfação dos clientes e facilidade para obtenção de certificações, como a ISO 22000, também são conquistados. 70 Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • conhecer as principais legislações sanitárias e órgãos responsáveis para a obtenção de um alimento seguro; • entender sobre a importância da aplicação da legislação sanitária nas indústrias e nos serviços de alimentação; • aprofundar seus conhecimentos sobre o uso das ferramentas de controle e garantia de qualidade; • estudar as medidas adotadas na implementação das Boas Práticas de Fabricação (BPF); • aprender sobre o desenvolvimento da ferramenta APPCC e seus princípios de fun- cionamento. PARA RESUMIR AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Cartilha sobre Boas Práticas para Serviço de Alimentação. 2004 Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/ documents/33916/389979/Cartilha+Boas+Pr%C3%A1ticas+para+Servi%C3%A7os+de+ Alimenta%C3%A7%C3%A3o/d8671f20-2dfc-4071-b516-d59598701af0. Acesso em: 17 abr. 2020. BRASIL. Lei nº 1.283, de 18 de dezembro de 1950. Dispõe sobre a inspeção industrial e sanitária dos produtos de origem animal. 1950. Disponível em: https://www2.camara.leg. br/legin/fed/lei/1950-1959/lei-1283-18-dezembro-1950-362530-publicacaooriginal-1- pl.html. Acesso em: 15 abr. 2020. BRASIL. Lei nº 8080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. 1990. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm. Acesso em: 16 abr. 2020. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Portaria nº 146, de 07 de março de 1996. Aprova Regulamentos Técnicos de Identidade e Qualidade dos Produtos Lácteos. 1996. Disponível em: https://www.defesa.agricultura.sp.gov.br/legislacoes/ portaria-mapa-146-de-07-03-1996,669.html. Acesso em: 16 abr. 2020. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Portaria nº 46, de 10 de fevereiro de 1998. Institui o Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle - APPCC a ser implantado, gradativamente, nas indústrias de produtos de origem animal sob o regime do serviço de inspeção federal - SIF, de acordo com o manual genérico de procedimentos. 1998. Disponível em: http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis- consulta/consultarLegislacao.do?operacao=visualizar&id=1139. Acesso em: 16 abr. 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Portaria nº 1.428, de 26 de novembro de 1993. Aprova, na forma dos textos anexos, o “Regulamento Técnico para Inspeção Sanitária de Alimentos”, as “Diretrizes para o Estabelecimento de Boas Práticas de Produção e de Prestação de Serviços na Área de Alimentos” e o “Regulamento Técnico para o Estabelecimento de Padrão de Identidade e Qualidade (PIQs) para Serviços e Produtos na Área de Alimentos”. Determina que os estabelecimentos relacionados à área de alimentos adotem, sob responsabilidade técnica, as suas próprias Boas Práticas de Produção e/ou Prestação de Serviços, seus Programas de Qualidade, e atendam aos PIQ\’s para Produtos e Serviços na Área de Alimentos. 1993. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/documents/33916/388704/ Portaria_MS_n_1428_de_26_de_novembro_de_1993.pdf/6ae6ce0f-82fe-4e28-b0e1- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS bf32c9a239e0. Acesso em: 15 abr. 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Portaria nº 326, de 30 de julho de 1997. Aprova o Regulamento Técnico “Condições Higiênico-Sanitárias dos Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos. 1997. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/svs1/1997/prt0326_30_07_1997.html. Acesso em: 13 abr. 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 275, de 23 de outubro de 2002. Dispõe sobre o Regulamento Técnico de Procedimentos Operacionais Padronizados aplicados aos Estabelecimentos Produtores/ Industrializadores de Alimentos e a Lista de Verificação das Boas Práticas de Fabricação em Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos. 2002. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/documents/10181/2718376/RDC_275_2002_COMP.pdf/ fce9dac0-ae57-4de2-8cf9-e286a383f254. Acesso em: 13 abr. 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 216, de 15 de setembro de 2004. Dispõe sobre Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação. 2004. Disponível em: http://portal.anvisa.gov. br/documents/33916/388704/RESOLU%25C3%2587%25C3%2583O-RDC%2BN%2B216 %2BDE%2B15%2BDE%2BSETEMBRO%2BDE%2B2004.pdf/23701496-925d-4d4d-99aa- 9d479b316c4b. Acesso em: 13 abr. 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 52, de 29 de setembro de 2014. Altera a Resolução RDC nº 216, de 15 de setembro de 2004, que dispõe sobre o Regulamento Técnico de Boas Práticas para os Serviços de Alimentação. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/documents/33880/2568070/ rdc0052_29_09_2014.pdf/c05fbeae-fa2c-4a34-a062-47123c6aebb9. Acesso em: 13 abr. 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.914, de 12 de dezembro de 2011. Dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade. 2011. Disponível em: http://site.sabesp.com. br/site/uploads/file/asabesp_doctos/PortariaMS291412122011.pdf. Acesso em: 17abr. 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 43, de 1º de setembro de 2015. Dispõe sobre a prestação de serviços de alimentação em eventos de massa. 2015. Disponível em: http://portal.anvisa.gov. br/documents/10181/2718376/RDC_43_2015_.pdf/2d1da3b5-f322-47b0-85b7- d538f6658493. Acesso em: 15 abr. 2020. UNIDADE 4 Gestão da qualidade Olá, Você está na unidade Gestão da qualidade. Conheça aqui a gestão de processos de qualidade e os fundamentos comportamentais de recursos humanos. Aprenda sobre a qualidade, seu histórico, conceitos e gerenciamentos. Conheça também os conceitos em inspeção por amostragem e o estudo dos principais mecanismos e ferramentas para o estabelecimento de programas de garantia da qualidade, com ênfase na segurança e no comportamento motivacional, evolução das condições de trabalho, funcionamento dos grupos, liderança, motivação e percepção. Bons estudos! Introdução 75 1 GESTÃO DE PROCESSOS DA QUALIDADE O não aproveitamento de alimento e a contaminação por doenças causadas por alimentos é muito comum no mundo e no nosso país e apesar de termos uma legislação ampla para segurança alimentar e controle da qualidade é a gestão de qualidade que tornará cada vez mais possível a redução do desperdício e da contaminação em toda a cadeia produtiva dos alimentos de origem animal e vegetal. Assim, a gestão da qualidade está relacionada com as escolhas que as empresas tomam visando garantir a qualidade dos seus produtos e serviços (LÉLIS, 2012) . Essa preocupação com a qualidade dos serviços não é recente, pois a inspeção dos bens e produtos já era uma preocupação e foi caracterizada como “era da inspeção”. A inspeção tinha como foco os produtos acabados e não gerava qualidade, apenas encontrava produtos com defeito (LONGO, 1996) . A preocupação com a qualidade ocorre desde os primórdios das civilizações, sofreu mudanças pela Revolução Industrial, ganhou novas teorias, como no Controle estatístico da qualidade, teve o conceito ampliado pela necessidade de segurança e nos nossos dias é fundamental para garantir a qualidade dos serviços, dos produtos, de instalações e equipamentos, dando origem ao Controle Total de Qualidade. Hoje, o atendimento aos desejos dos consumidores relacionados à economia, à segurança e ao desempenho do produto dá sentido ao conceito mais atualizado da palavra, que é adequação ao uso. Isso significa dar prioridade ao que é mais apropriado, não necessariamente ao mais caro ou melhor (FERNANDES, 2011) . 1.1 Introdução, histórico, conceitos e gerenciamento da qualidade A qualidade está presente na vida do homem desde que ele se preocupava com a qualidade dos alimentos que eram extraídos das florestas para sua sobrevivência. É claro que o termo na época não existia ainda, porém o conceito de qualidade era presente. Com o processo de agricultura, o homem cuidava da qualidade do que plantava, colhia, das pedras para fabricação de ferramentas e armas. Por exemplo, uma fábrica de ferramentas construídas com pedras de 2,3 milhões de anos atrás foi descoberta por arqueólogos franceses no Quênia. Nesse período de idade das pedras, o homem necessitava entender como preservar os alimentos em climas severos (FERNANDES, 2011). Depois de anos, aproximadamente 3000 a.C., na idade do bronze, o homem começou a unir cobre e estanho para formar o bronze e passou a confeccionar ferramentas mais resistentes. Na idade do ferro, esses conceitos metalúrgicos evoluíram ainda mais junto com outros avanços, como roda, arado e moinho de vento. A evidência prática da qualidade é também representada nesse período da história, arqueólogos descobriram uma metrópole na Índia, que existiu há 4000 anos e a chamaram de Dholarvira. Nessa cidade, eram utilizados selos para bens comercializados, 76 padrões de higiene avançados e instalação para fabricação de joias (FERNANDES, 2011). Há inúmeros outros exemplos de que o conceito de qualidade já estava presente nesses períodos, como a presença de um observatório astronômico conhecido como Stonehenge para acompanhar os movimentos da Lua e do Sol, os palácios da cultura Maia, a qualidade do artesanato chinês e o surgimento de leis da Dinastia Ming, em 1368 d.C., fixando punições para produtores de utensílios não duráveis e seda produzida fora das especificações (FERNANDES, 2011). A qualidade era uma preocupação também das civilizações egípcia, grega e romana. É possível observar a aplicação de controle de processo na construção de pirâmides, organização militar e construção Naval e da responsabilidade dos artesãos por todo o processo de produção até a Revolução Industrial. Esse período trouxe mudanças radicais causadas pela mecanização dos processos de produção, criação da máquina a vapor e tear mecânico. As fábricas começaram a dividir o processo industrial em marketing, concepção, projeto, aquisição, produção e comercialização, dando origem a um dos primeiros problemas relacionados à qualidade do produto, que é o distanciamento entre produtor e consumidor. Nesse período, a qualidade do produto deixou de ser tarefa do artesão e passou a ser responsabilidade do supervisor (FERNANDES, 2011). A maneira como é avaliada a qualidade do produto mudou muito, e para entender essas alterações, a evolução histórica da gestão de qualidade divide-se em quatro grandes eras: Era da inspeção, Era do controle estatístico de qualidade, Era da garantia da qualidade e Era da gestão da qualidade total (LÉLIS, 2012). Era da inspeção A gestão da qualidade era realizada mediante inspeção do produto e ocorria como uma triagem, em que os produtos com defeito eram separados dos perfeitos e descartados. Em alguns casos, o produto poderia ser consertado, mas isso dependia do tempo e do dinheiro dos produtores. Nesse caso, a inspeção garantia que o produto fosse livre de defeito, mas não garantia a correção do erro que gerou esse defeito e, então, não poderia impedir que novos defeitos ocorressem (LÉLIS, 2012). Controle estatístico de qualidade O tempo passou e novas tecnologias criaram máquinas com maior eficiência e elevaram a produção. Com o aumento da produção, os inspetores observaram que seria impossível fazer as avaliações sozinhos e foi então que surgiu o controle estatístico de qualidade. Esse recurso foi introduzido por Walter A. Shewart no final de 1930 (LÉLIS, 2012). Entre os métodos criados pelo físico, está a carta de controle estatístico de processo, que permitiu que a inspeção fosse realizada por amostragem ao invés de 100% da produção. 77 Além disso, previa o momento que o processo poderia sair do controle e fazer o diagnóstico de defeitos aleatórios ou sistemáticos (FERNANDES, 2011). A preocupação saiu da qualidade do produto e passou a ser entendida como qualidade da produção. Esse conceito foi fixado por meio de órgãos de controle de qualidade na segunda Guerra Mundial e passou a substituir as inspeções (LÉLIS, 2012). Era da garantia da qualidade A possibilidade da Guerra Fria entre Oriente e Ocidente após segunda Guerra Mundial fez com que a qualidade ganhasse maior importância, visto que a ocorrência de uma Guerra Nuclear entre os Estados Unidos e a União Soviética era iminente. As empresas, que se preocupavam especificamente com a qualidade do “chão de fábrica” e deixavam de lado os distintos órgãos e níveis hierárquicos passaram a cobrar dos seus fornecedores implantação de programas de garantia da qualidade. Assim, os órgãos responsáveis pela compra de produtos dos Estado Unidos passaram a fazer essas exigências. Hoje este sistema é conhecido como Sistemas de Qualidade. Além disso, durante a segunda Guerra Mundial a concentração na produção de armas fez com que os Estados Unidos deixassem de inovar em máquinas e tecnologia para a produção de mercadorias para o dia a dia. Com o término da Guerra, era necessário produzir mais sem perder a qualidade (LÉLIS, 2012). A garantia de qualidade foi resultadoda união da teoria de sistemas com o princípio de controle total da qualidade e assegura ao consumidor que o fornecedor será capaz de cumprir todos os requisitos estabelecidos nas normas e contratos (FERNANDES, 2011). Era da gestão da qualidade total Em contrapartida, produtores japoneses já estavam colocando em prática o conceito de que prevenir um problema seria melhor do que corrigir. É ai que surge o conceito de qualidade total, onde a qualidade passou a ser um trabalho de todos os funcionários em todas as cadeias de produção e não apenas de um único departamento (LÉLIS, 2012). A era da qualidade total surge marcada pela concorrência entre Japão e Estados Unidos, disputando para ver quem produzia com melhor qualidade. A gestão da qualidade se preocupa não apenas com a produção dos produtos, mas também com o cliente e toda a atividade de uma empresa é pensada, desde a escolha de matéria-prima até sua pós-venda. (LÉLIS, 2012) A Gestão da Qualidade Total (GQT) ou Total Quality Management (TQM) é ocasionada pelas eras anteriores e está vigente na atualidade. Diz respeito à garantia da qualidade e controle estatístico, mas o principal foco da sua atuação é a garantia da satisfação do cliente. Como vimos, o conceito de qualidade mudou com o tempo e nesse processo alguns pesquisadores ficaram conhecidos como gurus da qualidade, porque desenvolveram teorias que formam as bases do conceito de qualidade que conhecemos na atualidade (SARDÁ; FERRAREZZO, 2018; LÉLIS, 2012; GARVIN, 2002; FEIGENBAUM, 1994; ISHIKAWA,1993; JURAN, 1992; DEMING,1990) 78 Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: O gerenciamento dos processos surge para manter a competitividade entre as empresas por meio da melhoria da qualidade contínua, introdução de maior valor ao produto e, principalmente, do atendimento da necessidade dos clientes (MACHADO, 2012). 2 CONCEITO DE INSPEÇÃO POR AMOSTRAGEM Com o surgimento da produção em massa do século XX pela indústria automobilística gerada por Henry Ford, o trabalho foi dividido em operações especializadas, visando garantir a qualidade do produto, conhecido como fordismo. O valor para a realização da inspeção de 100% das peças tornava esse processo impossível. Houve a necessidade, então, de adotar técnicas mais robustas, que foram chamadas de amostragem (FERNANDES, 2011) . Esse conceito de inspeção por amostragem surge pela produção em massa e a necessidade FIQUE DE OLHO Você pode saber mais com artigos e normas, além de se atualizar com diversos temas sobre qualidade por meio da busca por artigos e publicações em algumas revistas on-line da área, como: Banas Qualidade e Quality Magazine. FIQUE DE OLHO Saiba mais sobre o conceito de inspeção por amostragem pesquisando e assistindo ao vídeo “Gestão da Qualidade Total – Fase da Inspeção” do Instituto Montari. 79 da criação de técnicas de amostragem. A finalidade é a inspeção por meio de uma parte retirada do lote e não 100% da produção (COLETTO, 2012). Figura 1 - Cartaz orientativo de como higienizar as mãos Fonte: Elenabsl, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra o funcionamento de uma linha de produção em uma indústria onde trabalhavam apenas mulheres. Percebe-se que, provavelmente, era uma indústria do ramo alimentar. O conceito surgiu em 1930 com a criação do controle estatístico da qualidade por Walter Shewhart, que trabalhava na Bell System, Estado Unidos, e foi responsável pelo desenvolvimento de inúmeras técnicas de controle estatístico de qualidade. Essas técnicas adicionadas às técnicas de amostragem de dois pesquisadores e colegas de trabalho, Dodge e Romig, deram origem à inspeção por amostragem e ao departamento de controle de qualidade. Os departamentos chamados antigamente de controle de qualidade passaram a ser conhecidos como departamento de controle de processo (FERNANDES, 2011). 3 GESTÃO DA QUALIDADE EM ALIMENTOS Existe uma estimativa de que aproximadamente 33 milhões de casos de doenças causadas pelos alimentos (DTA) ocorrem todo ano nos Estados Unidos (MACHADO, 2012) . No Brasil, segundo dados epidemiológicos do Sistema de Informação de Agravos e Notificações (SINAN), em 2018 ocorreram mais de 500 surtos de DTA e mais de 8.000 pessoas contaminadas (BRASIL, 2019). 80 A gestão de qualidade em alimentos deve garantir que um alimento seja sanitariamente adequado para o consumo e consequentemente pode auxiliar na redução do número de contaminações e mortes por DTA. Para isso, é necessário entender as relações existentes entre a contaminação e toxicidade por alimentos com o homem e seu estado nutricional, assim como o sistema de suprimentos (MACHADO, 2012). Toda a preocupação e prevenção de riscos começa na elaboração da matéria-prima, depois passa por toda a cadeia produtiva, como processamento, transporte, armazenamento e exposição à venda. Há recursos tecnológicos que são utilizados pela indústria para o controle e a segurança alimentar, como melhorias nas embalagens, nos sensores e nos sistemas computacionais, além da necessidade de conhecimento dos mecanismos moleculares envolvidos no desenvolvimento da doença e da relação dieta/saúde (MACHADO, 2012). 4 PRINCIPAIS FERRAMENTAS PARA O ESTABELECIMENTO DE PROGRAMAS DE GARANTIA DA QUALIDADE A Gestão da Qualidade Total (GQT) precisa ser aplicada em todos os níveis hierárquicos e de processos das cadeias produtivas, com o objetivo de gerar a consciência da qualidade em todos os participantes. Para a GQT ser instalada, é muito importante que haja foco no cliente e aprendizado contínuo e, para isso, são utilizados ferramentas e mecanismos para o estabelecimento de programas de garantia da qualidade (SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). Veja alguns deles a seguir. 5S Introduzido na segunda Guerra Mundial no Japão, o objetivo dessa ferramenta é a redução do desperdício, organização e limpeza (SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). Visa também o aumento da produtividade por meio da melhoria da qualidade de vida e do ambiente de trabalho do funcionário (COLETTO, 2012). 5S representa cinco palavras japonesas que começam com a letra S, porém em português foi traduzida como “Senso de” e a palavra literalmente traduzida. O 1° S FIQUE DE OLHO No Brasil, encontramos muitas normas obrigatórias para garantir a qualidade e segurança de produtos. Para saber mais sobre as normas exigidas pela Vigilância Sanitária, pesquise e acesse o site da instituição e para conhecer as normas do Instituto de Metrologia, Qualidade e tecnologia (Inmetro) acesse também o site do Inmetro. 81 é de Seiri e significa Senso de utilização, o 2° S de Seiton, significa Senso da ordenação, o 3° S de Seisou significa Senso da limpeza, o 4° S de Seiketsu significa Senso da saúde e o 5° S de Shitsuke significa Senso da autodisciplina (SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). Histogramas (gráficos de barra) É uma ferramenta usada para avaliar o número de produtos que não estão dentro do padrão, por meio de gráficos de barra, que ilustram a distribuição da frequência de um conjunto de dados quantitativos contínuos (SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). Checklist É uma lista de verificação usada para se chegar a um quadro com dados de análise e tratamento. Será utilizado para obter dados por meio de observações amostrais, a fim de analisar com qual frequência ocorre certo evento em um período de tempo pré-estabelecido (COLETTO, 2012). 5W1H É uma ferramenta utilizada para guiar o objetivo pretendido pelas melhores opções de aplicação, por meio de questões-chaves, como: What (O quê?), Who (Quem?), When (Quando?), Where (Onde?), Why (Por quê?) e How (Como?), daí a denominação da ferramenta. Assim, com esses questionamentos, é possível estruturar os planos de ação (COLETTO, 2012). Análise do modo e meio de falhas É uma ferramenta que visa a redução das ocorrências de falhas para os clientes externos e internos (COLETTO, 2012). Diagrama de Pareto ou Gráfico de Pareto Ferramenta marcada pela relação 20-80, onde 20% das causas levam a 80% dos efeitos.A organização de dados se dá pela prioridade. O gráfico é construído com barras em ordem decrescente e as causas menores estarão em ordem decrescente do lado direito (COLETTO, 2012). Espinha de Peixe ou Diagrama de Ishikawa Chamado de gráfico de Ishikawa, apresenta uma forma parecida com a espinha de um peixe. O fluxo das informações é apresentado no eixo principal e as contribuições secundárias em análise formam as espinhas, com isso é possível identificar causas que podem estar associadas a efeitos estabelecidos e a relação desses efeitos com as suas causas (SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). As ferramentas a seguir também são utilizadas para a implementação de programas de garantia da qualidade. 82 Fluxograma É uma ferramenta utilizada para mostrar o fluxo das ações, considerando a observação dos problemas e a sua origem (COLETTO, 2012) . É a sequência operacional do desenvolvimento de um processo. Brainstorming Com esta ferramenta, é possível criar ideias, traduzido do inglês significa tempestade cerebral. É a maneira de desenvolver ideias com a ajuda de todos os participantes de um grupo (SEBRAE, 2005) . Essas ideias são obtidas livremente, sem críticas e em curto espaço de tempo (COLETTO, 2012) . Seis sigma Ferramenta associada à diminuição da variabilidade, tanto dos processos quanto dos produtos determinados pelo cliente e para sua satisfação (COLETTO, 2012) . É conhecida também como six sigma. Ciclo PDCA Do inglês Plan-do-check-act, é uma ferramenta usada para gerenciamento da qualidade. O Plan significa planejar de acordo com a diretriz da empresa. O Do significa fazer o projeto usando registros de ocorrência. O Check significa verificar e avaliar com periodicidade o projeto e sua execução. O Act significa ação e inclui ações para prevenção e correção de um problema (SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). Série ISO 9000-9004 É um exame sistemático que avalia se os resultados obtidos estão de acordo com o planejado. É uma ferramenta de implementação da qualidade e apresenta procedimentos que possam garantir a qualidade. A ISO 9000-9004 tem cinco normas elaboradas para a indústria, contribuindo para garantir a qualidade do planejamento, do serviço, da produção e outros (MACHADO, 2012) . Série ISO 14000 É uma ferramenta que permite a emissão de certificação para o gerenciamento ambiental após cumprimento de requisitos relacionados ao descarte de resíduos, emissões de gases tóxicos e outros componentes referentes à preservação ambiental (MACHADO, 2012) . Série ISO 22000 É uma ferramenta utilizada para controle de qualidade e segurança alimentar em toda a cadeia alimentar e oferece em uma única norma a implementação do sistema APPCC (Análise 83 de Perigos e Pontos Críticos de Controle), que pode ser adotado em qualquer região do mundo (MACHADO, 2012) . 5 FUNDAMENTOS COMPORTAMENTAIS DE RECURSOS HUMANOS Atividades integradas com a finalidade de agregar, aplicar, recompensar, desenvolver, monitorar e manter fazem parte da gestão de pessoas. Esses processos ocorrerão de maneira contínua, e para avançar para outra etapa é necessário obter resultados do processo anterior. Alguns fatores internos e externos contribuem para a influência desses processos. Os fatores internos podem ser a cultura, a visão, o estilo de liderança, a missão, os objetivos e a natureza das tarefas. Os fatores externos estão relacionados à legislação, à economia, à competição e aos fatores sociais (MARQUES, 2015). Atividades integradas com a finalidade de agregar, aplicar, recompensar, desenvolver, monitorar e manter fazem parte da gestão de pessoas. Esses processos ocorrerão de maneira contínua, e para avançar para outra etapa é necessário obter resultados do processo anterior. Alguns fatores internos e externos contribuem para a influência desses processos. Os fatores internos podem ser a cultura, a visão, o estilo de liderança, a missão, os objetivos e a natureza das tarefas; já os externos estão relacionados à legislação, à economia, à competição e aos fatores sociais (MARQUES, 2015) . Para a gestão da qualidade, a teoria dos sistemas acaba sendo fundamental para o desempenho da indústria, porque todos irão assumir uma responsabilidade para a resolução de um determinado problema. Sobre a importância dos recursos humanos relacionados à qualidade está a perspectiva comportamental e o capital humano com foco em estratégias (TEIXEIRA, 2013). 84 Figura 2 - Organização e estabelecimento de metas dentro da empresa Fonte: Rawpixel.com, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra um grupo de pessoas reunidas e estabelecendo metas e objetivos dentro de uma empresa. A singularidade dos recursos humanos é diferente de outros ativos organizacionais e, por isso, sua gestão tem muito valor para as organizações em criar um bom ambiente de trabalho com recompensas para os funcionários e compreensão das suas necessidades. A maneira que as pessoas pensam em relação às condições de trabalho podem influenciar em suas atitudes e comportamento. Dessa forma, uma gestão de recursos humanos ineficiente pode trazer prejuízos para as organizações (TEIXEIRA, 2013) . Assim, para se ter uma gestão de recursos humanos eficiente, é preciso identificar as práticas de recursos humanos necessárias para o negócio e dar prioridade a elas, com intenção de levar a melhoria contínua e o desempenho da qualidade como um todo (TEIXEIRA, 2013; YANG, 2006) . Isso porque o insucesso na implementação de um sistema de qualidade está associado a três razões (EDWARDS, SOHAL, 2003; TEIXEIRA, 2013): Razão 1 Oposição em relação à gestão. Razão 2 Insatisfação da gestão com os colaboradores. Razão 3 Programas de preparação para implementação mal desenvolvidos. 85 5.1 Educação e aprendizagem A formação e o aprendizado para o sucesso das organizações são fundamentais. As empresas em que o aprendizado é contínuo, os colaboradores passam a solucionar problemas, experimentar novas ideias e a transmitir o conhecimento aprendido aos demais. Sendo assim, as organizações modernas são aquelas que investem em educação (GARCIA, 2015). A transformação da organização que se autoeduca ocorre por meio da revolução em educação, poder de decisão e criatividade que são gerados (CRUZ, 2010). Harvey (1992, p. 119) aponta que: A disciplinação da força de trabalho para os propósitos de acumulação do capital – um processo como vou me referir, de modo geral, como “controle do trabalho” – é uma questão muito complicada. Ela envolve, em primeiro lugar, alguma mistura de repressão, familiarização, cooptação e cooperação, elementos que têm de ser organizados não somente no local de trabalho como na sociedade como um todo. A socialização do trabalhador nas condições de produção capitalista envolve o controle social bem amplo das capacidades físicas e mentais. A educação, o treinamento, a persuasão, a mobilização de certos sentimentos sociais (a ética do trabalho, a lealdade aos companheiros, o orgulho local ou nacional) e propensões psicológicas (a busca da identidade através do trabalho) (...) desempenham um papel e estão claramente presentes na formação de ideologias dominantes cultivadas pelos meios de comunicação de massa, pelas instituições religiosas e educacionais, pelos vários setores do aparelho do Estado. 5.2 Liderança e contexto organizacional Para sobreviver a um mercado globalizado e competitivo, as organizações precisam de uma boa gestão, e esta precisa ter a implantação da mudança por meio da liderança. Nesse caso, para alcançar os resultados e serem mais produtivas, as organizações precisam da função integrada da gestão e liderança (RH PORTAL, 2015). Liderança é um tema bastante discutido na atualidade e importante para as organizações visto que, para atingir seus objetivos as organizações, precisam de pessoas que busquem pela missão e visão de futuro da instituição. O desempenho poderá ser maximizado pelos indivíduos responsáveis e, para isso, eles precisam se sentir motivados e satisfeitoscom a liderança praticada. Assim, para cumprir o objetivo e alcançar os resultados estabelecidos, os líderes devem exercer sua atividade dando o exemplo, mostrando continuamente como se faz. Existem inúmeras definições para a palavra liderança e a maioria se resume na maneira de conseguir, via influência, a cooperação dos seus liderados (RH PORTAL, 2015). Ao passo que a liderança é um processo mais emocional, tendo os líderes a necessidade de serem criativos e carismáticos, mais intuitivos do que racionais, a gestão acaba tendo maior abrangência por reunir componentes comportamentais, como planejamento, controle e regulamentos, o que tende mais para o pensamento racional. Sendo assim, os gestores devem lutar pela melhoria na utilização dos recursos e, com isso, cumprir os objetivos almejados (RH PORTAL, 2015). 86 Independente da gestão ou liderança, há diferentes maneiras de gerir a equipe por meio de distintos líderes, ou seja, existem estilos distintos de liderança (MERIGHI et al., 2013; GARCIA, 2015). Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 5.3 Comportamento motivacional A definição para motivação se resume em introdução de elementos de estimulação, persistência, esforço e recompensa com a intenção de motivar o colaborador. A motivação é capaz de influenciar as pessoas para cumprirem tarefas específicas e trabalharem arduamente para isso e pode levar uma pessoa a se sentir satisfeita e feliz. Por isso, é um fator importante a ser considerado pelas empresas e precisa ser incluída como uma estratégia organizacional (KENT, 2015). Os colaboradores são necessários para que as organizações cumpram seus objetivos, da mesma maneira as organizações são fundamentais para que os colaboradores atinjam suas metas pessoais. Para isso, é necessária a estratégia organizacional, o que é um desafio para os gestores em recursos humanos dentro da organização, tendo em vista as características individuais de cada colaborador. O desempenho dos funcionários está intimamente ligado ao seu nível de motivação e, por isso, é imprescindível motivá-los para que possam atingir altos padrões de desempenho e isso pode ocorrer de duas maneiras distintas: motivação intrínseca e extrínseca. Na motivação intrínseca, o próprio trabalho traz satisfações ao funcionário. A motivação extrínseca está relacionada à finalidade de ter uma recompensa após a conclusão de uma tarefa (KENT, 2015). A ciência da psicologia diz que a motivação é um estado psicológico em que a pessoa se sente com energia e se interessa por atividades das quais ela inclui significado e trabalhará para 87 conquistá-lo. Assim, é importante entender no contexto da motivação que esse processo pode levar a condutas distintas para se chegar ao mesmo resultado (BOCK, 2011; GARCIA, E. 2015). O processo motivacional passou a ser interesse das organizações no início do século XX por meio da Teoria das Relações Humanas. Para os pesquisadores que desenvolveram essa teoria, a preocupação estava voltada para entender o que poderia motivar um grupo dentro do ambiente de trabalho. Logo depois, a motivação individual foi estudada por meio da Teoria Comportamental, conhecida como Behaviorismo. De lá para cá, a pesquisa sobre motivação tem demonstrado que o sentido que o subordinado imputa ao trabalho é responsável pelo impacto na sua motivação. O motivo para mais de 80% das pessoas entrevistadas, em uma pesquisa, responderem que continuariam trabalhando mesmo sem necessidade, foi o relacionamento e o vínculo criado no ambiente de trabalho, que poderia trazer sentido para vida delas (MORIN, 2002; GARCIA, 2015). Segundo a pesquisa, esse sentido só ocorre se o trabalho levar o indivíduo a um objetivo, ou seja, é necessário que a as organizações deixem muito claro as metas, sua importância e como concluí-las. Outra condição é o trabalho ser satisfatório, de criatividade e ter independência para a resolução de problemas, além do feedback da organização quanto ao trabalho do subordinado, que é um dos pontos importantes no ponto de vista dos empregados. Os fatores éticos, morais e espirituais também são uma condição para gerar sentido ao funcionário, assim como o trabalho em equipe, a garantia de segurança e ocupação em grau suficiente não excessivo (MORIN, 2002; GARCIA, 2015). Sendo assim, a responsabilidade mútua dos funcionários e da organização é imprescindível para a motivação no trabalho. Além disso, é de interesse de ambos atender as necessidades, tanto da organização como do colaborador, com comprometimento e resultados satisfatórios para cumprir metas e obter a qualidade do trabalho (GARCIA, 2015). 5.4 Evolução das condições de trabalho O trabalho vem passando por um processo de transformações, todas elas moldadas pela globalização, mundialização, terceira revolução tecnológica e industrial e que são impulsionadas por mudanças em estratégias empresariais. Em relação ao perfil dos trabalhadores, seu desenvolvimento implica novas aquisições, aprendizagem e competências por meio da ergonomia. O conceito de ergonomia surge em 1940 e tem suas bases na psicologia comportamental, o que permite entender as variáveis determinantes para o trabalho, analisando o comportamento e, com isso, a elaboração de um diagnóstico para transformar as condições de trabalho (ABRAHÃO; PINHO, 2002). 88 A gestão de recursos humanos nas organizações está relacionada a melhorias na qualidade de vida do trabalhador, que nada mais é do que a sensação de bem-estar advinda do cumprimento da necessidade individual. A qualidade de vida é fruto da realização pessoal e se dá em vários níveis, como saúde, trabalho, família e religião. Esse assunto tem se tornado uma preocupação e direcionada para a garantia da satisfação do trabalhador. Por isso, a prática de programas voltados para a qualidade de vida do trabalhador permite uma resistência maior ao stress, motivação, segurança no trabalho e eficiência e tem sido entendida como uma ferramenta para impulsionar melhorias no ambiente em todos os níveis hierárquicos (LIMA, 2017). 5.5 Fundamento dos grupos A gestão de recursos humanos precisa buscar estratégias de formação de equipes, pois as empresas que organizam suas estratégias em equipes obtêm melhor desempenho (SANTOS; CARPINETTI; GONÇALVES, 1997). O trabalho em equipe teve origem da necessidade do indivíduo de somar esforços para cumprir suas metas. Nas organizações, as equipes de trabalho estão conquistando cada vez mais espaço por estarem associadas a resultados satisfatórios. As empresas que possuem uma equipe, impedem condições opressivas de trabalho e estão relacionadas com a motivação do funcionário, além disso, ela valoriza o cliente e aumenta a autonomia dos colaboradores na tomada de decisões (FÉLIX, 2015). Nesse sentido, os trabalhadores serão envolvidos para atuação em conjunto para aprender mais e cumprir as tarefas impostas em tempo reduzido. As equipes são formadas pela junção de pessoas que apresentam o mesmo objetivo e compartilham das mesmas tarefas e dificuldades. As equipes de solução de problemas serão formadas com esse objetivo, as equipes de criação explorarão novas alternativas para o desenvolvimento de um produto e as equipes táticas irão executar uma tarefa pré-determinada e cada membro terá uma função estabelecida. A sociabilização faz com que o trabalhador viva a equipe e a comunicação é importante para a alto performance (FÉLIX, 2015). Pensando nas particularidades de cada indivíduo, algumas vezes os conflitos pelas discordâncias são inevitáveis. Assim, a criatividade para a manutenção do equilíbrio entre os membros e a abertura para mudanças são importantes para a superação dos desafios. O mais importante é que as equipes atuem em sinergia e valorizem as competências de cada membro, FIQUE DE OLHO Saiba mais sobre esse assunto pesquisando pelo artigo “Os sentidos do trabalho e suas implicações para a formação dos indivíduos inseridos nas organizações contemporâneas”, de autoriade Romilda Ramos de Araújo e Maria Iolanda Sachuk. 89 trabalhando no mesmo ritmo e sempre respeitando as diferenças (FÉLIX, 2015). Figura 3 - Sinergia do trabalho em grupo Fonte: Nasirkhan, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra várias pessoas reunidas e cada uma delas está sento direcionada para um único sentido ou objetivo, demonstrando a sinergia do trabalho em equipe. 5.6 Liderança, motivação e percepção Alguns programas motivacionais surgiram logo em 1960 e foram nomeados de “zero defeito” e tinham a filosofia de que se os trabalhadores estivessem satisfeitos isso eliminaria os defeitos. Nesse mesmo período, no Japão, surgiram grupos de controle de qualidade voltados para a resolução dos problemas. O crescimento desses grupos, também chamados de círculos, foi exponencial (FERNANDES, 2011). Atualmente, alguns programas motivacionais têm sido colocados em prática pelas empresas, como os programas de reconhecimento dos funcionários, envolvidos na teoria de reforço e recompensas por bons comportamentos. Para isso, as ações de reconhecimento são imputadas de maneira simples desde a escrita de um bilhete ou um anúncio público, o agradecimento por uma meta realizada a programas que envolvem maiores custos e premiações (GARCIA, 2015). 90 Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: Além disso há também os programas de envolvimento do funcionário, os quais estão relacionados com o envolvimento do funcionário em assuntos que são do seu interesse, levando a um controle do ambiente de trabalho, motivação e satisfação do funcionário. Alguns exemplos são (GARCIA, 2015; ROBINS, 2005): Gestão participativa Envolve reuniões para tomada de decisão conjunta. Círculos de qualidade Envolve a seleção de funcionários para resolver um problema em específico. Planos de participação acionária Envolve a participação dos funcionários em ações da empresa como acionistas. FIQUE DE OLHO Pesquise pelo artigo “10 competências de liderança que o coaching ajuda a desenvolver”, de autoria do site SBCoaching, para você saber mais sobre o tema liderança. 91 Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • conhecer a gestão de processos de qualidade relacionados à garantia de qualidade do produto; • compreender a qualidade, seu histórico, conceitos e gerenciamentos; • aprender sobre gestão de qualidade relacionada aos alimentos; • aprender sobre os conceitos em inspeção por amostragem; • estudar os principais mecanismos e ferramentas para o estabelecimento de programas de garantia de qualidade, com ênfase em segurança; • compreender os fundamentos comportamentais de recursos humanos; • conhecer o comportamento motivacional e a evolução das condições de trabalho; • estudar o funcionamento dos grupos; • conhecer sobre liderança, motivação e percepção. PARA RESUMIR ABRAHÃO, J. I.; PINHO, D. L. M. As transformações do trabalho e desafios teórico- metodológicos da Ergonomia. Estudos de Psicologia (Natal), [S. l.], v. 7, n. spe, p. 45–52, 2002. Disponível em: https://doi.org/10.1590/s1413-294x2002000300006. Acesso em: 21 abr. 2020. BARBOSA, F. M.; GAMBI, L. N.; GEROLAMO, M. C. Liderança e gestão da qualidade – um estudo correlacional entre estilos de liderança e princípios da gestão da qualidade. Gestão & Produção, [S. l.], v. 24, n. 3, p. 438–449, 2017. Disponível em: https://doi. org/10.1590/0104-530x2278-16. Acesso em: 21 abr. 2020. BASS, B. M. Leadership and performance beyond expectations. 1985. New York: Free Press. BOCK, A. M. B.; TEIXEIRA, M. L. T.; FURTADO, O. Psicologia Fácil. São Paulo: Saraiva, 2011. BRASIL. Ministério da Saúde. Surtos de doenças transmitidas por alimentos no Brasil. Informe 2018. [S. l.]. 2019. Disponível em: https://www.saude.gov.br/images/pdf/2019/ maio/17/Apresentacao-Surtos-DTA-Maio-2019.pdf. Acesso em: 14 abr. 2020. BURNS, J. M. 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A obra se divide em quatro unidades que vão tratar dos principais temas nesta sequência: fundamentos de qualidade e segurança dos alimentos, segurança e qualidade dos alimentos de origem animal e vegetal; legislação e ferramentas de controle e garantia da qualidade; finalizando com ensinamentos sobre a gestão da qualidade. Bons estudos e aproveite estes ensinamentos!