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CONTROLE E QUALIDADE DOS ALIMENTOS CONTROLE E QUALIDADE DOS ALIMENTOS ORGANIZADORES NATALY MARIA VIVA DE TOLEDO ; TANYARA BALIANI PAYOLLA ORGANIZADORES NATALY MARIA VIVA DE TOLEDO ; TANYARA BALIANI PAYOLLA Controle e qualidade dos alim entos GRUPO SER EDUCACIONAL O controle e a segurança dos alimentos vêm ganhando destaque à medida que as empresas estão cada vez mais comprometidas com o tema diante das exigências do mercado. As autoras prepararam este livro de forma didática e com linguagem clara para que você tenha um conhecimento mais profundo para fundamentar seus estudos. A obra se divide em quatro unidades que vão tratar dos principais temas nesta sequência: fundamentos de qualidade e segurança dos alimentos, segurança e qualidade dos alimentos de origem animal e vegetal; legis- lação e ferramentas de controle e garantia da qualidade; �nalizando com ensinamentos sobre a gestão da qualidade. Bons estudos e aproveite estes ensinamentos! gente criando futuro C M Y CM MY CY CMY K CONTROLE E QUALIDADE DOS ALIMENTOS Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, do Grupo Ser Educacional. Diretor de EAD: Enzo Moreira Gerente de design instrucional: Paulo Kazuo Kato Coordenadora de projetos EAD: Manuela Martins Alves Gomes Coordenadora educacional: Pamela Marques Equipe de apoio educacional: Caroline Guglielmi, Danise Grimm, Jaqueline Morais, Laís Pessoa Designers gráficos: Kamilla Moreira, Mário Gomes, Sérgio Ramos,Tiago da Rocha Ilustradores: Anderson Eloy, Luiz Meneghel, Vinícius Manzi Toledo, Nataly Maria Viva de. Controle e qualidade dos alimentos / Nataly Maria Viva de Toledo ; Tanyara Baliani Payolla. – São Paulo: Cengage, 2020. Bibliografia. ISBN 9786555581416 1. Engenharia de Alimentos. 2. Nutrição. 3. Payolla, Tanyara Baliani. Grupo Ser Educacional Rua Treze de Maio, 254 - Santo Amaro CEP: 50100-160, Recife - PE PABX: (81) 3413-4611 E-mail: sereducacional@sereducacional.com “É através da educação que a igualdade de oportunidades surge, e, com isso, há um maior desenvolvimento econômico e social para a nação. Há alguns anos, o Brasil vive um período de mudanças, e, assim, a educação também passa por tais transformações. A demanda por mão de obra qualificada, o aumento da competitividade e a produtividade fizeram com que o Ensino Superior ganhasse força e fosse tratado como prioridade para o Brasil. O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego – Pronatec, tem como objetivo atender a essa demanda e ajudar o País a qualificar seus cidadãos em suas formações, contribuindo para o desenvolvimento da economia, da crescente globalização, além de garantir o exercício da democracia com a ampliação da escolaridade. Dessa forma, as instituições do Grupo Ser Educacional buscam ampliar as competências básicas da educação de seus estudantes, além de oferecer- lhes uma sólida formação técnica, sempre pensando nas ações dos alunos no contexto da sociedade.” Janguiê Diniz PALAVRA DO GRUPO SER EDUCACIONAL Autoria Nataly Maria Viva de Toledo Bacharel em Ciências dos Alimentos (2010) pela Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - ESALQ/USP. Mestre em Química na Agricultura e no Ambiente (2013) pelo Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo - CENA/USP, com estágio internacional na Universidad Nacional del Litoral (Argentina, 2012). Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela ESALQ-USP (2018), com vivência internacional na Universidad de Murcia, Espanha (2016-2017). Possui Licenciatura plena em Pedagogia (2019) pelo Centro Universitário de Araras Dr. “Edmundo Ulson” - UNAR, e MBA em Gestão de Projetos (conclusão prevista para julho/2020) pela ESALQ/USP. Atua como docente no UNAR (2018-atual) nos cusos de Nutrição e Gastronomia, sendo responsável pelas disciplinas de ciências dos alimentos, bioquímica de alimentos, tecnologia de alimentos, bromatologia, rotulagem nutricional; além de ser membro atuante no Núcleo Docente Estruturante (NDE). Atua como docente nas Faculdades Integradas Einstein de Limeira (2019-atual), onde é membro do NDE do curso de Nutrição e responsável pelas disciplinas de tecnologia dos alimentos, bioquímica dos alimentos, composição dos alimentos e higiene e legislação. Apresenta experiência no desenvolvimento e análise de projetos nas áreas de aproveitamento de subprodutos de frutas; inovação de produtos alimentícios; análise de alimentos; tecnologia de alimentos, sensorial de alimentos e bebidas. (Fonte: CV Lattes). Tanyara Baliani Payolla Bacharel em Nutrição (2012) e Mestre (2015) em Ciências da Nutrição e do Esporte e Metabolismo pela Faculdade de Ciências Aplicadas-Unicamp, na área de Biologia Molecular e Metabolismo. Doutora (2019) em Ciências, na área de Fisiologia Humana, pelo Instituto de Ciências Biomédicas-USP. Adquiriu experiência na área de Controle Sanitário em estágio na Vigilância Sanitária. Atua nas áreas de Nutrição e Saúde como professora SUMÁRIO Prefácio .................................................................................................................................................8 UNIDADE 1 - Fundamentos de qualidade e segurança dos alimentos .............................................11 Introdução.............................................................................................................................................12 1 Conceitos gerais sobre segurança dos alimentos ............................................................................... 13 2 Importância da qualidade no panorama atual ................................................................................... 19 3 Histórico dos procedimentos de controle de qualidade ....................................................................21 PARA RESUMIR ..............................................................................................................................26 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................27 UNIDADE 2 - Segurança e qualidade dos alimentos de origem animal e vegetal .............................29 Introdução.............................................................................................................................................30 1 Segurança e qualidade na cadeia produtiva de alimentos de origem animal ...................................31 2 Segurança e qualidade na cadeia produtiva de alimentos de origem vegetal ...................................42 3 Conceito integrado de segurança na cadeia produtiva ......................................................................44 4 Conceito de Boas Práticas Agrícolas (BPA) ......................................................................................... 46 5 Produtos brasileiros no mercado interno e internacional ..................................................................46 6 Parâmetros críticos a considerar na cadeia produtiva .......................................................................48 PARA RESUMIR ..............................................................................................................................50 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................51 UNIDADE 3 - Legislação e ferramentas de controle e garantia da qualidade ..................................53 Introdução.............................................................................................................................................54 1 Legislação relacionada à segurança dos alimentos ............................................................................55 2 Ferramentas de controle e garantia da qualidade ............................................................................. 60 PARA RESUMIR ..............................................................................................................................70 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................71 UNIDADE 4 - Gestão da qualidade .................................................................................................73 Introdução.............................................................................................................................................74 1 Gestão de processos da qualidade .................................................................................................... 75 2 Conceito de inspeção por amostragem ............................................................................................. 78 3 Gestão da qualidade em alimentos ................................................................................................... 79 4 Principais ferramentas para o estabelecimento de programas de garantia da qualidade .................80 5 Fundamentos comportamentais de recursos humanos.....................................................................83 PARA RESUMIR ..............................................................................................................................91 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................92 As autoras prepararam este livro de forma didática e com linguagem clara para seus estudos no tema de controle e qualidade dos alimentos. A obra se divide em quatro unidades que vão tratar dos principais temas nesta sequência: fundamentos de qualidade e segurança dos alimentos, segurança e qualidade dos alimentos de origem animal e vegetal; legislação e ferramentas de controle e garantia da qualidade; finalizando com a gestão da qualidade. A primeira unidade orientará você com os fundamentos de qualidade e segurança dos alimentos, detalhando os principais conceitos relacionados à definição de alimento seguro e qual sua relação com food safety. Por que é tão importante conhecermos os possíveis perigos encontrados nos alimentos e quais medidas devem ser adotadas para que eles sejam evitados? Estas questões serão amplamente abordadas com foco principalmente na qualidade, apresentando os procedimentos de qualidade que devem ser adotados e a evolução desse tema até chegarmos aos conhecimentos que temos hoje. A segunda unidade vai tratar da segurança e qualidade dos alimentos de origem animal e vegetal com mais profundidade descrevendo os principais elementos que fazem parte da cadeia produtiva de produtos de origem animal e vegetal e os processos associados à segurança e qualidade alimentar de cada um desses produtos. Você aprenderá aqui o conceito de Boas Práticas Agrícolas, os critérios considerados para o controle da produção, transporte, armazenamento e comercialização, além de apresentar as funções fundamentais da embalagem e a cadeia de suprimentos para a segurança e qualidade desses alimentos, a posição de produtos brasileiros no mercado interno e internacional e os parâmetros críticos a considerar na cadeia produtiva. Importante também destacar assuntos relacionados a legislação e ferramentas de controle e garantia da qualidade. Na terceira unidade você conhecerá as principais legislações sanitárias de âmbito nacional direcionadas à segurança dos alimentos e entenderá que a importância de estabelecimentos da área alimentar segui-las. Discutiremos mais sobre as ferramentas de Boas Práticas de Fabricação (BPF), Procedimentos Operacionais Padronizados (POP) e Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), que são utilizadas por serviços de alimentação e indústrias com o intuito de garantir que os aspectos higiênico-sanitários dos alimentos sejam alcançados. PREFÁCIO Finalizando o livro, será abordada a gestão da qualidade. Abordaremos aqui a gestão de processos de qualidade e os fundamentos comportamentais de recursos humanos. A qualidade e seu histórico, além dos conceitos e gerenciamentos dessa área serão temas desta unidade também, além de apresentar a inspeção por amostragem e o estudo dos principais mecanismos e ferramentas para o estabelecimento de programas de garantia da qualidade, com ênfase na segurança e no comportamento motivacional, evolução das condições de trabalho, funcionamento dos grupos, liderança, motivação e percepção. Aproveite os estudos que este livro proporciona na área do Controle e Qualidade dos Alimentos. UNIDADE 1 Fundamentos de qualidade e segu- rança dos alimentos Olá, Você está na unidade Fundamentos de qualidade e segurança dos alimentos. Conheça aqui os principais conceitos relacionados à definição de alimento seguro e qual sua relação com food safety. Entenda por que é tão importante conhecermos os possíveis perigos encontrados nos alimentos e quais medidas devem ser adotadas para que eles sejam evitados. Além disso, aprofunde seu conhecimento em relação à qualidade a partir da discussão sobre esse conceito tão empregado atualmente no mercado. Estude um pouco mais sobre como surgiram os procedimentos de qualidade e quais suas etapas de transição até os dias de hoje. Bons estudos! Introdução 13 1 CONCEITOS GERAIS SOBRE SEGURANÇA DOS ALIMENTOS Considerando o contexto de atuação de um nutricionista, é importante que você, futuro profissional da área, entenda quais são os conceitos relacionados a um alimento seguro. Além disso, saber abordar de maneira correta alguns termos comumente empregados na área de alimentos, como segurança dos alimentos (food safety) e segurança alimentar (food security) é essencial. Tais conhecimentos são amplamente debatidos no cenário atual, já que cada vez mais as pessoas têm realizado suas refeições fora de casa, além de consumirem grandes quantidades de alimentos processados e prontos para consumo. Assim, torna-se responsabilidade da indústria e dos serviços de alimentação oferecer alimentos inócuos à população, sendo esse um possível campo de atuação para o nutricionista, profissional que poderá liderar e integrar equipes que prezarão pela qualidade e segurança dos alimentos nesses estabelecimentos. 1.1 Food safety versus food security A alimentação é um ato essencial para a manutenção e o bom funcionamento do organismo humano. Assim, é de suma importância que os alimentos consumidos, além de serem interessantes do ponto de vista nutricional e sensorial, também sejam considerados seguros. Mas afinal, o que é um alimento seguro? Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o alimento seguro é aquele que “não contém agentes ou substâncias nocivas em quantidades que possam causar agravos à saúde ou danos ao consumidor” (ANVISA, 2014). Nesse contexto, você poderá encontrar alguns termos que, apesar de serem muito parecidos e estarem relacionados entre si, apresentam diferentes sentidos para a nutrição. As expressões “segurança dos alimentos” e “segurança alimentar” são aplicadas em diferentes ocasiões, e cabe ao nutricionista compreender em qual situação cada uma delas deve ser utilizada corretamente. Segurança dos alimentos Proveniente do termo inglês food safety, está relacionada ao âmbito da vigilância sanitária e se preocupa com a produção de alimentos seguros, livres de contaminantes e que não colocam em risco a saúde do consumidor. Pode-se dizer que a segurança dos alimentos é consequência da adoção de medidas, recomendadas pelos órgãos regulatórios, durante todas as etapas da cadeia de produção, ou seja, desde o campo até a mesa do consumidor. No âmbito mundial, o Codex Alimentarius é uma grande referência que apresenta normas, recomendações e padrões, a fim de facilitar o livre-comércio de mercadorias, alémde proteger 14 a saúde do consumidor. Já no âmbito nacional, entre os principais órgãos responsáveis pela inspeção e regulação dos alimentos no Brasil, devemos destacar a Anvisa, a qual é uma autarquia (ou seja, apesar de estar ligada ao governo, é um órgão que tem certa autonomia) vinculada ao Ministério da Saúde; o Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), o qual também é uma autarquia federal, porém vinculada ao Ministério da Economia e, por fim, o Mapa (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento). Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: Já quando nos referimos à segurança alimentar, cujo termo é originário do inglês food security, este pode ser entendido como: o direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis. (BRASIL, 2006, p. 01) A FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) e a OMS (Organização Mundial da Saúde) são os órgãos que lideram a discussão da segurança alimentar no âmbito FIQUE DE OLHO Quer entender um pouco mais sobre as atividades desenvolvidas pelo Codex Alimentarius? Leia o artigo de Ortega e Borges (2012), “Codex alimentarius: a segurança alimentar sob a ótica da qualidade” da Revista Segurança Alimentar e Nutricional. O artigo demonstra os principais instrumentos e diretrizes apresentadas pelo órgão em relação aos aspectos de qualidade, segurança alimentar e segurança dos alimentos. 15 internacional. Segundo dados do último relatório publicado (FAO/WHO, 2019), cerca de 2 bilhões de pessoas vivem em insegurança alimentar moderada ou grave devido à falta de acesso regular à alimentos, fazendo com que mais de 820 milhões de pessoas ainda passem fome no mundo. Assim, entende-se que as ações ligadas à Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) são aquelas que visam desenvolver políticas públicas para reduzir as desigualdades econômicas e sociais, as quais impactam diretamente no quadro de insegurança alimentar e desnutrição. A partir do exposto, ficou claro compreender que iremos focar nos conceitos relacionados à segurança dos alimentos (food safety), a qual é fundamental para o fornecimento de alimentos de qualidade e livres de perigos ao consumidor. 1.2 Fontes de contaminação dos alimentos Podemos relacionar o sucesso da segurança dos alimentos à adoção de práticas de higiene, as quais podem ser entendidas como medidas de segurança e salubridade dos alimentos ao longo de toda a cadeia produtiva. Dessa maneira, os princípios de higiene devem ser seguidos por todos os estabelecimentos que trabalham de maneira direta (bares, lanchonetes, restaurantes etc.) ou indiretamente (produtores, fornecedores, vendedores etc.) com a manipulação dos alimentos. Para a divulgação desse conhecimento à população, a OMS (WHO, 1989) desenvolveu uma ferramenta instrutiva a qual aborda as “dez regras de ouro”, a fim de se evitar a presença de possíveis contaminantes nos alimentos, os quais podem ser de origem física, química ou microbiológica. Vamos aprender um pouco mais sobre cada uma dessas fontes de contaminação? Veja cada uma delas no esquema a seguir. 16 Figura 1 - Regras de ouro recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) Fonte: Elaborado pela autora (2020). #ParaCegoVer: A figura mostra dez círculos coloridos e dentro de cada um deles é apresentada uma regra de ouro divulgada pela OMS para a produção de alimentos seguros. Podemos compreender os contaminantes da seguinte maneira: Contaminantes físicos Podem ser compreendidos como corpos estranhos que não deveriam estar presentes nos alimentos, como cacos de vidro, parafusos, insetos, ossos, espinhas, caroços, pedaços de plástico, papel, lascas de madeira, fios de cabelo, pedras, areia etc. Nesses casos, os contaminantes costumam ser originários dos equipamentos utilizados no processamento, os quais podem desprender parafusos, pedaços de embalagens (papel, plástico etc.) ou das próprias matérias- primas, as quais podem conter grande quantidade de sujidades aderidas ou não são devidamente preparadas durante sua manipulação (remoção de espinhas, caroços etc.). Contaminantes químicos Podemos associá-los à presença de resíduos de produtos de higiene (desinfetantes, detergentes etc.), agrotóxicos, antibióticos, metais pesados etc. Mercúrio, chumbo e cobre são 17 exemplos de metais pesados, os quais são tóxicos a nosso organismo e podem ser encontrados com mais frequência em pescados. A higienização incorreta de alguns utensílios e alimentos também ocasionam a contaminação por resíduos de produtos saneantes devido ao enxágue insuficiente ou inexistente. O uso excessivo e inadequado de alguns pesticidas nos produtos agrícolas e de antibióticos em animais destinados ao consumo humano também podem representar um potencial risco à saúde. Contaminantes biológicos São aqueles provocados por microrganismos, como vírus, fungos, bactérias, protozoários etc. Você sabia que esses são considerados as principais causas de contaminação nos alimentos? Isso porque os microrganismos são seres muito pequenos, os quais não conseguimos ver a olho nu. Além disso, são capazes de se proliferar de maneira muito rápida, dependendo das condições encontradas nos alimentos. Fatores intrínsecos, ou seja, condições encontradas no próprio alimento (como disponibilidade de nutrientes, pH, atividade de água, presença de substâncias antimicrobianas e presença de microrganismos competidores) e fatores extrínsecos, os quais estão ligados ao ambiente em que o alimento se encontra (como temperatura, umidade relativa, presença de gases como oxigênio), são capazes de influenciar no crescimento e desenvolvimento microbiano. Dessa maneira, devemos dar atenção a esses fatores quando desejamos prolongar a vida útil dos alimentos e também para produzi-los de maneira segura. Quando nos referimos aos microrganismos nos alimentos, devemos entender que, de acordo com sua ação, eles podem ser classificados em dois tipos: os deteriorantes e os patogênicos. Microrganismos deteriorantes são aqueles que comprometem a qualidade do alimento por interferirem em suas propriedades organolépticas e sensoriais, porém não causam doenças aos seres humanos. Já os microrganismos patogênicos são aqueles que causam doenças, porém podem ou não promover modificações nas características dos alimentos. É aí que está o grande perigo, pois muitas vezes um alimento pode conter microrganismos patogênicos e não apresentar mudanças em sua coloração, aroma ou sabor, fazendo com que ele seja consumido e, posteriormente, relacionado ao desenvolvimento de Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA). As DTA, portanto, podem ser definidas como as doenças que são ocasionadas devido ao consumo de água ou alimentos contaminados. Anualmente, milhares de pessoas adoecem devido à ocorrência de DTA no mundo, o que gera grandes impactos econômicos, sociais e na área da saúde. Atualmente, mais de 250 tipos de DTA são conhecidas, sendo que elas podem ser classificadas como infecções, intoxicações ou toxi-infecções alimentares (BRASIL, 2020). 18 Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: As infecções alimentares ocorrem quando a doença é ocasionada pela ingestão de células vivas de microrganismos (exemplos: salmonelose, a qual ocorre pela presença de Salmonella spp.; toxoplasmose, causada pelo Toxoplasma gondii). Os quadros de intoxicações estão relacionados à ingestão de toxinas previamente produzidas nos alimentos por microrganismos (exemplo: botulismo, o qual deve-se à ingestão da toxina botulínica produzida pela bactéria Clostridium botulinum; intoxicação estafilocócica, a qual está ligada ao consumo de toxinas produzidas pela bactéria Staphylococcus aureus). As toxi-infecções são aquelasresultantes da ingestão de alimentos que contêm determinada quantidade de microrganismos vivos, os quais são capazes de produzir ou liberar toxinas após seu consumo (exemplo: Vibrio cholerae, o qual é o agente causador da cólera) (BRINQUES, 2015). Dentre os principais sintomas desencadeados pelas DTA estão náuseas, vômitos, dores abdominais, diarreia, dores de cabeça etc. Devemos nos lembrar que esses sintomas podem variar dependendo do tipo de microrganismos envolvido e do estado de saúde do paciente, já que indivíduos mais vulneráveis, como crianças, idosos e pessoas com a saúde debilitada podem FIQUE DE OLHO Vamos estudar um pouco mais sobre a ocorrência das principais DTA no Brasil? Você poderá se inteirar mais sobre esse assunto a partir do estudo de Ferreira (2017), o qual apresenta um panorama dessas enfermidades nos últimos anos em nosso país, indicando a necessidade do desenvolvimento de políticas públicas e orientações em boas práticas de manipulação para prevenção e reversão do quadro. 19 apresentar agravamento dos sintomas, o que pode até levá-los à morte. Quando duas ou mais pessoas apresentam os mesmos sintomas após a ingestão de água ou alimentos de mesma origem, isso configura um quadro de surto alimentar e, nesses casos, a Vigilância Sanitária deverá ser acionada para investigação epidemiológica. Quando não notificados rapidamente, torna-se mais complicada a coleta de amostras para confirmação do agente etiológico (microrganismo) envolvido no surto. Além disso, como em alguns casos os sintomas de DTA são considerados brandos, os indivíduos acabam não buscando por atendimento médico, o que faz com que o número de casos seja subestimado. Devemos considerar que os contaminantes podem chegar aos alimentos de diferentes formas, inclusive pelo o que denominamos de contaminação cruzada, a qual se refere à transmissão de substâncias ou microrganismos de um local contaminado para um alimento pré-preparado ou pronto para consumo. Isso pode ocorrer tanto por contato direto ou ainda de maneira indireta, pelo uso compartilhado de equipamentos e utensílios, pela falta de higiene do manipulador, como também pelo mal planejamento do fluxo de produção. Dessa forma, para que a elaboração de alimentos seguros seja eficaz, torna-se necessária a adoção de práticas higiênico-sanitárias e ferramentas de qualidade, tais como as Boas Práticas de Fabricação (BPF), Procedimentos Operacionais Padronizados (POP) e Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), cuja implementação é recomendada pela Anvisa. Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 2 IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE NO PANORAMA ATUAL O consumidor atual tem se mostrado cada vez mais exigente e consciente de suas escolhas 20 alimentares. Ele busca por alimentos que, além de serem saborosos e nutritivos, também sejam produzidos a partir das recomendações higiênico-sanitárias, apresentem selos e certificados de qualidade, sejam padronizados e que possuam uma rotulagem informativa. Essas condições levam a uma maior confiança e credibilidade da marca ou empresa, influenciando de maneira positiva, a decisão de compra do consumidor (ITAL, 2010). Assim, a implementação de programas e ferramentas de qualidade, que antes era vista como um diferencial, hoje é dada como uma exigência de mercado, afinal esses programas e essas ferramentas auxiliam na obtenção de produtos seguros e que atendam às expectativas e necessidades do consumidor. Para a indústria de alimentos, a qualidade é um fator elementar no sucesso de seus produtos e, para isso, é muito importante que tenhamos claro o que de fato contempla o conceito de qualidade, além de saber como e por que ela surgiu. 2.1. Conceitos e definições de qualidade Atualmente, muito se ouve falar o quão importante é termos um produto de qualidade. Mas e aí, quais atributos um alimento precisa ter para ser considerado “de qualidade”? Você seria capaz de definir? Apesar de parecer algo simples, definir o que é qualidade pode ser uma tarefa nada fácil. Isso porque o uso desse termo se tornou muito abrangente, tanto em nosso cotidiano quanto no mundo empresarial. Além disso, pode-se dizer que o conceito de qualidade é algo temporal, ou seja, pode se modificar com o passar dos anos, ademais deve ser algo relativo (BOND, BUSSE, PUSTILNICK, 2012). Quando pensamos, por exemplo, em um hambúrguer de qualidade, quais características vêm em sua mente? São as mesmas que para os seus colegas? Muitas vezes não. Você pode atribuir o conceito de qualidade a características sensoriais do seu hambúrguer, como a textura da carne, seu sabor e aroma; enquanto que para seu colega, atributos de qualidade estão relacionados a propriedades nutricionais (quantidade de gorduras, vitaminas, minerais), práticas higiênico- sanitárias (uso de boas práticas de fabricação) etc. Já parou para pensar nessa possibilidade? Assim, na literatura encontramos diversas definições empregadas para o termo qualidade. Dentre elas, podemos destacar as apresentadas por alguns dos gurus da qualidade: Joseph Juran Ele afirma que “qualidade são aquelas características do produto que atendem as necessidades dos clientes e, portanto, promovem a sua satisfação; qualidade consiste na ausência de deficiências” (1999, p. 21). 21 Kaoru Ishikawa Uma importante figura da qualidade no Japão afirma que “qualidade é desenvolver, projetar, produzir e comercializar um produto de qualidade que é mais econômico, mais útil e sempre satisfatório para o consumidor” (1993, p. 43). Willian Edwards Deming Vai além e complementa que “qualidade é tudo aquilo que melhora o produto do ponto de vista do cliente. Somente o cliente é capaz de definir a qualidade de um produto. O conceito de qualidade muda de significado na mesma proporção em que as necessidades dos clientes evoluem” (1993, p. 56). Vicente Falconi Campos Por fim, no entendimento de Campos (2004, p. 2), “um produto ou serviço de qualidade é aquele que atende perfeitamente, de forma confiável, de forma acessível, de forma segura e no tempo certo às necessidades do cliente” Em todas as perspectivas, observe que tamanha atenção é dada ao cliente/consumidor. Pensando na indústria de alimentos, lembre-se que para a qualidade ser atingida, práticas de higiene e qualidade devem permear por toda a cadeia produtiva, ou seja, desde o campo, transporte, processamento, armazenamento, distribuição, preparo até o momento do consumo do alimento. A implementação de ferramentas e programas de qualidade torna-se então imprescindível, afinal, qualquer falha que ocorra em alguma etapa do processo poderá favorecer a ocorrência de problemas no produto final, como possíveis perigos e contaminações. Isso, além de gerar possíveis prejuízos à imagem e reputação da empresa, sabemos que representa danos à saúde do consumidor. Os conceitos e as estratégias de qualidade nem sempre foram empregados da maneira como é feito no mundo atual. Para entender um pouco mais sobre como foi a evolução desses procedimentos, vamos estudar um breve histórico das diversas etapas vivenciadas pelas empresas até se chegar na ideia de sistema de gestão da qualidade que temos nos dias de hoje. 3 HISTÓRICO DOS PROCEDIMENTOS DE CONTROLE DE QUALIDADE Como você já pôde observar, o conceito de qualidade não é algo muito recente. Desde os tempos mais primórdios, o homem buscava por acesso a bens que atendessem suas necessidades e interesses. Segundo David Garvin (2002), outro estudioso da qualidade, a evolução dos 22 procedimentos ligados à área pode ser compreendida em quatro estágios distintos: inspeção, controle estatístico da qualidade, garantia da qualidade e gestão da qualidade total. Vamos conhecer um pouco mais sobre como a qualidade foi abordada em cada uma dessas fases? 3.1 Inspeção Na idade média, os artesãos eram as figuras responsáveis não apenas pela produção, como também pela inspeção do produto. Eles participavam de todo o processo de produção e buscavamencontrar possíveis falhas e defeitos no produto final de acordo com seus próprios critérios. Essa tarefa, apesar de minuciosa, não era tão demandante, visto que naquela época os materiais eram produzidos em pequenas escalas, feitos normalmente sob encomendas. Já no início do século XX, com a Revolução Industrial, os produtos passaram a ser produzidos em massa (grandes quantidades) e, portanto, houve a necessidade da padronização da produção. Desse modo, tornou-se essencial que as inspeções fossem aplicadas de maneira mais formal, foi quando surgiu a figura do inspetor ou supervisor de qualidade. Os produtos, então, passavam por medidas de inspeção e controle (gabaritos e fichas de modelo padrão), sendo avaliados se estavam ou não em conformidade aos padrões estabelecidos. Tal medida, no entanto, não colaborou para melhoras na produtividade, pois nesse momento apenas o produto final era avaliado e não todo seu processamento. Dessa maneira, os inspetores não se atentavam em quais eram as causas dos problemas e quais as práticas preventivas necessárias para se evitar falhas ou erros encontrados. O produto defeituoso apenas era corrigido ou modificado antes de chegar às mãos do consumidor. Em casos em que isso não era possível, o produto era descartado, gerando custos e desperdícios para a empresa. 3.2 Controle estatístico da qualidade Vendo que a figura do inspetor de qualidade não era suficiente para entrega de produtos satisfatórios em meio à alta produtividade demandada na época, novas medidas precisaram ser adotadas. Assim, em 1931, o engenheiro e estatístico americano, Walter A. Shewhart sugeriu o uso de técnicas estatísticas para controlar os processos, já que havia a preocupação de que os produtos fabricados atendessem as especificações exatas de seus clientes. De acordo com a proposta científica de Shewhart, era impossível que sem o uso de um método de controle de qualidade as peças produzidas oferecessem precisamente as mesmas características, afinal, variações nas matérias-primas, mão de obra (a qual era pouco preparada) e uso de equipamentos influenciavam diretamente na qualidade do produto final (DAMIAN, 2018). A falta de padronização dos elementos produzidos em larga escala fez com que muitos países tivessem problemas com seus equipamentos bélicos e militares na Primeira Guerra mundial (1914-1918), por exemplo. 23 Frente à falta de tempo e custos excessivos para inspeção dos produtos, o emprego de procedimentos estatísticos, como a amostragem, auxiliou no controle da qualidade da produção. A partir desse embasamento, não mais todos os produtos necessitavam ser analisados individualmente em relação a cada um de seus atributos, mas sim apenas uma pequena parcela (amostra) deles. Além disso, outras ferramentas, como o gráfico de controle de processos, também auxiliaram na constatação de quais eram as causas das variações nos processos produtivos, relacionando-as aos defeitos observados nos produtos. Nessa vertente, o serviço de inspeção foi então sendo pouco a pouco substituído pelo controle de processo, o qual já estava bem implementado ao final da Segunda Guerra mundial (1939- 1945). Nesse novo patamar, as indústrias levavam em consideração não mais apenas o produto final, mas todas as suas etapas de produção, sendo o processo, portanto, o foco da qualidade. Em meados de 1950, os japoneses que encontravam seu país arrasado após a Segunda Guerra mundial, buscavam por medidas práticas para recuperar sua economia e conter os problemas sociais. Foi quando dois estudiosos norte-americanos, Deming e Juran, foram convidados a treinar os alto executivos nipônicos sobre como melhorar os projetos de qualidade implantando ferramentas de controle estatístico. Os resultados foram visivelmente satisfatórios, o que levou a uma verdadeira revolução na indústria japonesa. 3.3 Garantia da qualidade Ainda na década de 50, a indústria precisou evoluir os conceitos antes empregados sobre controle de qualidade para ferramentas que priorizavam à garantia da qualidade. Você consegue ver a diferença entre o uso dos termos controle e garantia? Será que eles apresentam o mesmo significado? Já posso te adiantar que não. Vamos lá! Apesar de ambos serem práticas essenciais para obtenção de um produto de qualidade, elas têm definições diferentes. Controle Quando falamos de ações que visam o controle da qualidade, nos referimos à execução de práticas que visam identificar e corrigir problemas encontrados no produto final. Tais ações, portanto, são reações frente à presença de não conformidades (algum defeito ou erro detectado) no produto final, sendo o controle de qualidade considerado uma ferramenta corretiva. Garantia Quando nos referimos à garantia da qualidade, falamos de um conjunto de ações preventivas, ou seja, que visam evitar possíveis erros ou defeitos durante o processamento e que, consequentemente, interfeririam no produto final. Assim, podemos dizer que a garantia da qualidade é uma ferramenta de gestão, em que toda equipe deve estar envolvida para a correta 24 verificação do andamento do sistema. O cenário do pós-guerra fez com que muitas mudanças ocorressem nos Estados Unidos e no Japão. Estados Unidos Uma potência mundial que tanto tinha investido na produção de armamentos e material bélico, observavam que outros produtos, como bens de consumo, começaram a apresentar uma qualidade muito inferior à desejada, com muitos defeitos e alta recusa do consumidor. Nessa época, a indústria norte-americana havia deixado de lado o conceito de qualidade e prezava pela produção em grandes volumes, a fim de abastecer o mercado. Assim, os custos com a qualidade se tornaram cada vez maiores e ao final gerou-se um grande deficit para a economia do país. Japão Enquanto isso, no Japão, a economia tentava se recuperar e as indústrias se atentavam à prevenção dos defeitos na linha de produção, desenvolvendo padrões e normas de qualidade que deveriam ser seguidos não apenas por um departamento específico (como o departamento de controle de qualidade), mas sim por toda a organização. Nessa nova ideologia, os elevados custos com o tratamento de produtos defeituosos foram realocados para uso na prevenção no processo, e os conceitos de qualidade passaram a ser praticados desde o projeto de criação do produto até o consumidor final. A satisfação do cliente sobre os bens e serviços também passou a ser considerada. Nesse período, várias teorias foram elaboradas por estudiosos da área de qualidade, como o norte-americano Philip Crosby, o qual lançou na década de 60 o programa “defeito zero”. Esse tinha por objetivo demonstrar que a ausência de defeitos deveria ser o padrão de desempenho dos sistemas de gestão e, portanto, as empresas deveriam se preocupar em fazer o trabalho certo já na primeira vez, evitando-se assim futuros gastos com problemas de má qualidade dos produtos. No Japão, Kaoru Ishikawa foi o responsável por adaptar as ideias de Deming e Juran no país, auxiliar na criação da JUSE (Japanese Union of Scientists and Engineers) e na implantação de diversas ferramentas de qualidade, como o Círculo de Controle de Qualidade e o Diagrama de Ishikawa (ACADEMIA PEARSON, 2011). Dessa maneira, impulsionado pela necessidade de melhorar as condições do país no pós- guerra, o Japão colocou em prática com imensa disciplina as teorias desenvolvidas e logo observou um grande avanço na sua economia. Os produtos japoneses começaram então a ganhar notoriedade mundial, sobretudo pela qualidade superior aos do mercado ocidental. 25 3.4 Gestão da qualidade total Nas décadas de 70 e 80, Japão e Estados Unidos apresentavam-se como as grandes potências industriais, sendo que cada país investia em uma estratégia distinta para seu crescimento econômico: enquanto os EUA privilegiavam aspectos como visão de mercado e necessidades dos clientes, os japoneses davam prioridade à melhoria contínua de seus processos. Entre as décadas de 80 e 90 foiquando o modelo japonês de fato se sobressaiu e difundiu-se entre os demais países, já que todos queriam conhecer essa nova ferramenta que propiciou tão rápido crescimento à economia japonesa, promovendo a satisfação do cliente e trazendo redução de custos à organização (CORTADA e QUINTELLA apud SCHUCHTER, 2004). A gestão da qualidade total trouxe um novo olhar de gerenciamento, demonstrando que para uma empresa ter sucesso no mercado, é imprescindível que ela otimize seu desempenho como um todo, promovendo a satisfação mútua, ou seja, atenda às necessidades e expectativas de todos os participantes do sistema produtivo, por exemplo: clientes, fornecedores, funcionários, acionistas etc. Para isso, investimentos em treinamentos e programas de qualidade devem ser considerados com o intuito de encontrar ações de planejamento, controle, monitoramento e melhoria contínua do processo. Um exemplo de ferramenta utilizada para assegurar a qualidade total são as apresentadas pelas normas internacionais da série ISO 9000. Agora ficou fácil para você entender um pouco mais sobre como foi o aprimoramento dos procedimentos de qualidade ao passar dos anos e a grande relevância do sistema de gestão de qualidade para o mercado atual. FIQUE DE OLHO Frente à grande concorrência do mercado atual, uma conduta planejada tornou-se ponto fundamental para o gerenciamento das atividades, sobretudo no setor de alimentos. A partir do trabalho de Coletto (2012), podemos acompanhar um pouco mais sobre como é a realidade e o funcionamento da gestão da qualidade nas agroindústrias. 26 Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • entender o conceito de alimento seguro; • compreender as diferenças entre os princípios de food safety e food security • conhecer os principais órgãos de regulação na área de segurança dos alimentos e segurança alimentar; • estudar as principais fontes de contaminação dos alimentos: química, física e microbiológica; • aprender sobre as ações dos microrganismos nos alimentos, com destaque para as doenças transmitidas por alimentos (DTA); • conhecer os diferentes conceitos e definições empregados para qualidade; • aprender sobre as quatro eras relacionadas à evolução dos procedimentos de qualidade: inspeção, controle estatístico da qualidade, garantia da qualidade e gestão da qualidade total; • conhecer alguns dos principais gurus e estudiosos da área de qualidade; • compreender a diferença entre controle e garantia da qualidade; • entender sobre a relevância dos conceitos de qualidade para o mercado. PARA RESUMIR ACADEMIA PEARSON. Gestão da qualidade. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2011. ANVISA. Boas práticas de manipulação em serviços de alimentação. 2014. Módulo I: Entendendo a contaminação dos alimentos. Disponível em: https://jundiai.sp.gov.br/sau- de/wp-content/uploads/sites/17/2015/01/Aula-1.pdf. Acesso em: 04 abr. 2020. BOND, M. T.; BUSSE, A.; PUSTILNICK, R. Qualidade total: o que é e como alcançar. Ed. 1. Curitiba: Intersaberes, 2012. BRASIL. Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006. Cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - SISAN com vistas em assegurar o direito humano à alimentação adequada e dá outras providências. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 18 set. 2006. Seção 1, p. 1-2. BRASIL. Ministério da Saúde Doenças Transmitidas por Alimentos: causas, sintomas, tratamento e prevenção. Disponível em: https://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/doen- cas-transmitidas-por-alimentos. Acesso em: 09 abr. 2020. BRINQUES, G. B. 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Conheça também as funções fundamentais da embalagem e a cadeia de suprimentos para a segurança e qualidade desses alimentos, a posição de produtos brasileiros no mercado interno e internacional e os parâmetros críticos a considerar na cadeia produtiva. Bons estudos! Introdução 31 1 SEGURANÇA E QUALIDADE NA CADEIA PRODUTIVA DE ALIMENTOS DE ORIGEM ANIMAL No Brasil, a produção de alimentos de origem animal e vegetal é muito comum, tanto para consumo externo quanto interno, exercendo um grande impacto no desenvolvimento socioeconômico para o país e sua população. Assim, as seguranças alimentares compõem o alicerce da saúde da população e por esse motivo é objetivo de programas governamentais que propiciem a sua eficácia (SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). A definição de alimento seguro é um alimento propício para o consumo, sendo necessário um controle sobre os contaminantes biológicos, físicos e químicos, evitando exposição do consumidor ao risco de contaminação. Já em relação à qualidade do produto, no mundo globalizado e competitivo no qual vivemos torna-se indispensável eliminar desperdícios e possíveis defeitos na produção, visando a sobrevivência no mercado (MAIA; DINIZ, 2009) . Responsável pelo fornecimento de alimentos com alto valor proteico, o Brasil ocupa um papel de destaque no mercado internacional, pois é o maior produtor, segundo maior consumidor e segundo maior exportador de carne bovina e maior exportador de carne de frango do mundo. A contribuição brasileiracomo maior exportador de carne do mundo se dá pela combinação de dois fatores, o custo da produção e qualidade e quantidade produzidas (EMBRAPA, 2017a). Nesse caso, torna-se essencial um controle sanitário dos seus rebanhos, evitando a contaminação por patógenos e doenças transmitidas pelos alimentos (DTA) (CHIARI, 2017). Os aspectos envolvidos na segurança e qualidade da cadeia produtiva de alimentos de origem animal abrangem todo o sistema de produção, contando com a alimentação do gado e embalagem do produto disponível nas prateleiras dos supermercados, desenvolvimento de tecnologias para erradicação de enfermidades e análises sensoriais físicas e químicas para garantir o controle de qualidade dos produtos (SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). 1.1 Principais elementos da cadeia produtiva de origem animal Antes de tudo, é importante definirmos o conceito de cadeia alimentar, e em nutrição esse termo envolve a produção dos alimentos, os beneficiamentos, a comercialização e, por fim, o consumo (SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). Esses estágios da cadeia alimentar podem ser melhor compreendidos com a expressão “do campo à mesa” (GERMANO; GERMANO, 2008; SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). Os principais componentes da cadeia produtiva de origem animal são as carnes bovina, suína, ovinos e caprinos, aves e ovos, pescados, leite e produtos lácteos e o mel. Para a produção dos produtos cárneos, comercializados frescos e processados, é de fundamental importância que a 32 matéria-prima oriunda da fazenda tenha qualidade de excelência (SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). 1.2 Segurança alimentar das carnes bovinas, suínas, ovinos e caprinos As carnes são partes musculares comestíveis que podem ser retiradas de diferentes espécies de animais no açougue, que devem ser manipuladas em boas condições higiênicas e provenientes de animais saudáveis, com certificação de um médico veterinário que fará a inspeção. Quando entregues para o consumo, deverão estar sob refrigeração e certificadas após avaliação da segurança higiênico-sanitária, presença de conservadores, análises microbiológicas e sensoriais e características físico-químicas (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 2008).] Figura 1 - Processamento da carne Fonte: Ammit Jack, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra uma pessoa cortando uma peça de carne em ambiente que provavelmente indica o local correto de processamento de carne. A carne suína é hoje a fonte proteica mais consumida no mundo e para que essa produção maciça chegue à mesa dos brasileiros e estrangeiros, o Brasil conta com uma cadeia produtiva organizada que visa a qualidade e segurança do produto (EMBRAPA, 2017b). Nessa cadeia produtiva, fazem parte, associados à ciência: • o produtor de grãos; • as rações e suas indústrias; • os transportadores; • os abatedouros e frigoríficos; • os medicamentos; • os equipamentos; 33 • a distribuição; • o consumidor final. Além disso, os pesquisadores têm uma grande função em todos os segmentos da cadeia produtiva, pois eles irão elaborar normas para a produção, soluções e tecnologia que garantirão a segurança alimentar do produto (EMBRAPA, 2017c). Já os caprinos e ovinos têm sido cada vez mais utilizados, principalmente na região Nordeste, como uma opção alimentar. Desses animais são comercializados a carne, o couro, a lã e também o leite. Devido ao crescimento da sua criação e comercialização, a Embrapa vem lançando publicações, cursos e seminários, visando contribuir para a qualidade sanitária desses produtos. Um dos pontos centrais discutidos é o adequado destino das carcaças dos animais (EMBRAPA, 2015). Dessa forma, são utilizadas quatro áreas para definição da qualidade da carne em relação ao seu processamento: Visual Envolve a apresentação e o aspecto do produto. Gustativa Sensação durante o consumo Higiênico-sanitária Envolve o processo e a produção. Nutritiva Relacionada aos valores nutricionais e composição do alimento, que deve atender à meta de nutrientes essenciais (EMBRAPA, 2017d). Em relação à área visual e gustativa, as análises sensoriais das carnes são fundamentais, pois são os aspectos mais afetados no princípio da deterioração das carnes. (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 2008). Veja a seguir quais são os aspectos utilizados na análise sensorial das carnes. 34 Tabela 1 - Aspectos utilizados na análise sensorial das carnes Fonte: Instituto Adolfo Luftz, 2008 (Adaptado). #ParaCegoVer: A tabela apresenta um resumo dos aspectos considerados para avaliação sensorial das carnes. 35 A qualidade do processamento das carnes precisa começar no manejo pré-abate, um dos requisitos são as viagens mais rápidas dos caminhões ao invés das viagens a pé e as condições físicas desses caminhões, o que garantirão o bem-estar dos animais. (EMBRAPA, 2017e). Na atualidade, a condição dos abates dos animais em frigoríficos mudou bastante com a adoção de procedimentos antiestresse no momento de espera do animal para o abate e procedimentos mais humanitários (EMBRAPA, 2017f). Além disso, são utilizados mapeamentos de pontos críticos de controle, a fim de evitar contaminações durante a operação de abate. Nessa etapa, são realizadas inspeções sanitárias e é estabelecido o local de descarte correto para as carcaças que apresentarem alterações higiênico- sanitárias. O correto procedimento de abate contribui para a qualidade visual e sensorial, evitando o endurecimento pela estimulação elétrica e correto resfriamento da carcaça e o escurecimento por sangria inapropriada, sendo então determinante para a qualidade higiênico-sanitária do produto (EMBRAPA, 2017g). Outro ponto importante a ser abordado em relação ao abate é o descanso, a disposição de dieta hídrica e o jejum antes do abate, evitando estresse e evisceração e consequentemente a contaminação das carcaças. Se a desossa for realizada pelos frigoríficos, os cortes serão embalados a vácuo e disponibilizados diretamente para o consumidor, reduzindo custos operacionais e tendo a qualidade pela limpeza e coloração garantida pela embalagem. Nesse momento, é realizada a maturação da carne com enzimas responsáveis pela quebra da estrutura muscular, o que aumenta sua maciez e contribui para os aspectos sensoriais da carne (EMBRAPA, 2017g). A garantia da segurança da carne no processamento ocorre mediante a adoção de procedimentos Padrão de Higiene Operacional (PPHO), com o controle da temperatura de resfriamento da carcaça, embalagem e higiene durante os processos e utensílios usados. É nessa fase de processamento que ocorrem maiores contaminações por bactérias e esse risco ainda é aumentado quando a desossa é realizada pelos açougues, potencializada pelo transporte do produto (EMBRAPA, 2017g). 1.3 Segurança alimentar e controle de qualidade das aves e dos ovos Para garantir a qualidade das carnes de frango, são aplicadas as Boas Práticas de produção (BPP) dentro da granja. Essas boas práticas envolvem todos os aspectos da qualidade do ambiente, o bem-estar do animal, as questões de manejo, a biossegurança, a alimentação, o ambiente, a qualidade da ração utilizada, a higiene do trabalhador, as características da granja, os equipamentos, entre outros aspectos. Em relação às aves, as características sensoriais de coloração, odor e aparência também irão determinar a qualidade do produto (OLIVEIRA, 1999). Além dessas, as características mais utilizadas são: 36 • análise de pH; • proteínas; • cinzas; • umidade; • colesterol; • sódio; • corantes artificiais; • reação de Éber para a amônia; • prova de rancidez para as partes gordurosas; • provas de formaldeído; • presença de conservantes nitratos e nitritos; • proteínas de soja; • quantidade de gorduras saturadas (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 2008). Figura 2 - Produção de aves Fonte: Kharkhan Oleg, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra várias aves agrupadas em um local que muito provavelmente é o local responsável pela criação e produção desses animais. 37 Para garantir a qualidade e segurançaalimentar dos ovos, são observadas as características físicas e sensoriais do interior e da parte externa (ODENEZ, 2007). Para a avaliação da parte externa é observado o tamanho, a forma, a cor e as uniformidades relativas aos lotes. Eles serão então classificados pela cor de suas cascas, peso e a qualidade nutricional (BRASIL, 2017). Além disso, para garantir a segurança alimentar dos ovos, é realizado o exame de oviscopia. Esse exame mostra a situação da casca, a situação interna da gema, clara e pequenos coágulos por meio de um foco de luz quando são colocados em rotação (ODENEZ, 2007). Os ovos que apresentarem odor forte, membranas da casca rompida e sujos não estarão aptos para o consumo. Os ovos trincados e com rompimento das membranas da casca se a gema estiver intacta poderão ser processados desde que passe pelo sistema de pasteurização (BRASIL, 1990). Dentro da cadeia de produção dos ovos, o armazenamento é uma importante parte do processamento a ser considerada para garantir a segurança alimentar do produto (ODENEZ, 2007). Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: FIQUE DE OLHO Você pode saber mais sobre regulamentações higiênico-sanitárias de carne de aves lendo o Regulamento técnico da inspeção tecnológica e higiênico-sanitária de carne de aves que consta na Portaria nº 210 de 10 de novembro de 1998. FIQUE DE OLHO Saiba mais sobre a inspeção de ovos em consultando as normas gerais de inspeção de ovos e derivados que consta na Portaria nº 21 de 21 de fevereiro de 1990 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). 38 Quando esses ovos forem armazenados em casca e em período máximo de 30 dias, é preconizado manutenção de temperatura entre 4 e 12°C e controle de umidade relativa do ar. É preconizado também controlar as temperaturas das câmaras frigoríficas, pois as oscilações podem facilitar a penetração de bactérias por meio da casca. Caso sejam armazenados por períodos mais longos, o ideal é manter a temperatura em torno de 0°C, sem congelar o produto, em umidade relativa do ar de 70 a 80% (BRASIL,1990). 1.4 Segurança alimentar dos pescados Os pescados também são considerados como uma das principais fontes proteicas. Deles é possível obter peixes óleos, rações e outros produtos que possuem um valor comercial para a indústria. Os pescados são os peixes e os frutos do mar atribuídos para o consumo humano. Cerca de 12.000 espécies são conhecidas e 1.500 relevância comercial (ORDENEZ, 2007). Alguns fatores irão influenciar o frescor e a comercialização desse produto, como: grau de asfixia; liberação de enzimas proteolíticas; produção de mucos, que é um processo que ocorre pós-morte e pode facilitar contaminação bacteriana; limpeza; rigor mortis e pH baixo, degradação proteica e de gorduras e decomposição da carne (SOUZA et al., 2016). Figura 3 - Processamento de peixes Fonte: Nolte Lourens, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra vários peixes sendo manipulados, limpos e embalados em ambiente que muito provavelmente é o local responsável pelo processamento desse produto. 39 O peixe fresco será considerado apto para o consumo se tiver os requisitos estabelecidos na Instrução Normativa 85 de 1997 (BRASIL, 1997). Um manual de inspeção foi elaborado pelo Mapa, que é utilizado como referencial teórico das inspeções de todas as cadeias produtivas por meio da inspeção visual comparativa do pescado, reduzindo perdas (BRASIL, 2016). O pescado pode sofrer ações de bactérias e deteriorações, mesmo se ele for estocado em refrigeração. Essas bactérias e enzimas proteolíticas poderão gerar amônia, ácidos voláteis, dimetilamina e outros compostos. Para determinar a presença desses compostos, são utilizados vários métodos, como a destilação por arraste de vapor para o caso da amônia. Por exemplo, um dos agentes causadores de contaminação e intoxicação alimentar no atum é a histamina. Algumas bactérias possuem enzimas que agirão no aminoácido histidina, descarboxilando ele e formando a histidina. Essa quantidade será proporcional à degradação dos aminoácidos e sua dosagem pode ser feita para determinar sua concentração e evitar contaminações (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 2008). Sendo assim, para o controle sanitário e a qualidade do peixe, é necessário avaliar os principais requisitos sensoriais estabelecidos na IN 85 de 1997 (BRASIL, 1997). Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: FIQUE DE OLHO Saiba mais sobre Boas Práticas e qualidade de pescados com fotos didáticas e orientações quanto ao seu processamento lendo o documento da Embrapa “Boas práticas de manipulação para entrepostos de pescados”. 40 As bactérias que estão muito associadas com a formação histidina podem estar presentes naturalmente na pele, no intestino, nas brânquias e dependendo das concentrações e em condições fisiológicas podem não causar danos à saúde. O que intensifica sua produção são temperaturas acima de 4,4°C, manipulação e conservação inadequadas e refrigeração durante a pesca (SOUZA et al., 2016; SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). Entre as bactérias mais comuns de formação de histidina são Morganella morganii, Proteus vulgaris, Escherichia coli e salmonela (SOUZA et al., 2016). 1.5 Segurança alimentar do leite e de produtos lácteos O leite tem elementos essenciais, como micronutrientes, aminoácidos e ácidos graxos em concentrações altas. Além disso, apresenta alta concentração de cálcio, proteínas de boa qualidade, substâncias bioativas e outras (BRESSAN; MARTINS, 2004). Já discutimos em outros tópicos que a segurança alimentar não será exclusiva do segmento de produção, isso será apenas a parte inicial do processo. É necessário que o alimento esteja seguro em todas as etapas da cadeia de produção. Os requisitos de higiene na obtenção da matéria-prima, os resíduos químicos e físicos, o transporte, a refrigeração, a conservação e o tempo de vida de prateleira na hora que chega ao consumidor são características a serem consideradas na cadeia de produção do leite. A cadeia de produção do leite começa nas indústrias e nos fornecedores de insumos e produtores de leite que farão parte do processamento da matéria-prima, depois temos os distribuidores, os atacadistas e varejistas e por último o consumidor. Todos esses segmentos apresentarão pontos críticos e análise de perigos para serem avaliados e garantir a segurança do produto. Para cada uma dessas etapas existe uma legislação específica para garantir a segurança do leite (BRESSAN; MARTINS, 2004). FIQUE DE OLHO Fique por dentro e conheça especificamente cada uma das legislações de todas as etapas da cadeia produtiva de leite consulte o site Inspeção de Leite e Derivados. Lá você verá um resumo de todas as legislações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e também do Ministério de agricultura de Agropecuária e Abastecimento. 41 Figura 4 - Processamento de leite Fonte: Serpil_Borlu, iStock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra garrafas de leite sendo embaladas, o que indica um possível local de processamento do leite. 1.6 Segurança alimentar do mel O mel é definido como solução concentrada de açúcar, predominantemente a glicose e frutose, produzido de abelhas malíferas por meio do néctar das flores ou secreções de partes vivas das plantas ou excreções de insetos que irão sugar as plantas recolhidas pelas abelhas, transformadas e maturadas nos favos (BRASIL, 2000). Faz parte da sua composição minerais, substâncias aromáticas, enzimas, aminoácidos, carboidratos, pigmentos de pólen e cera de abelhas. No mel não poderá ser acrescentado açúcares e outras substâncias que afetarão sua composição original. É proibida a adição de qualquer tipo de aditivo (BRASIL, 2000; SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). As características sensória-indispensáveis para a classificação da qualidade do mel são: cor incolor a pardo-escura, sabor característico e consistência que pode variar do estado físico que o mel se apresenta. Além disso, para determinar sua qualidade, é necessárioavaliar umidade, acidez, sacarose aparente, cinzas, sólidos, sólidos insolúveis em água e indicação de adulteração pelas reações de Lung Fiehe e de Lugol (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 2008). 42 Figura 5 - Produção de mel Fonte: Diyana Dimitrova, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra várias abelhas em um favo de mel em um ambiente que possivelmente está indicando seu local de produção. O mel não é um alimento estéril e por isso também é apto para contaminações se manipulado de maneira imprópria. Isso irá depender da presença de valores pré-estabelecidos de coliformes, leveduras e bolores sob umidade anormal (MENDES, 2009). 2 SEGURANÇA E QUALIDADE NA CADEIA PRODUTIVA DE ALIMENTOS DE ORIGEM VEGETAL A classificação dos produtos vegetais, subprodutos e resíduos, assim como requisitos de qualidade, serão estabelecidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). As principais análises da cadeia produtiva de origem vegetal são realizadas para determinar o percentual de matérias estranhas, impurezas, folhas, fragmentos, cascas, partículas entre outros não provenientes da planta (BRASIL, 2010; SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). Os padrões para feijão serão determinados pela IN nº 12, de 28 de março de 2008; para arroz pela IN nº 9, de 18 de fevereiro de 2009 e para o trigo pela IN nº 38, de 1º de dezembro de 2010. 2.1 Principais elementos da cadeia produtiva de origem vegetal Com o objetivo de garantir a segurança alimentar e a qualidade dos produtos da cadeia de origem vegetal, são realizadas fiscalizações nos estabelecimentos que produzem grãos e cereais, cafés, azeite de oliva, farinhas, frutas e outros. Esses são os principais elementos da cadeia produtiva de vegetais. 43 2.2 Controle e qualidade de raízes, tubérculos e bulbos Entre esses produtos estão fécula, sagu, tapioca de mandioca, batata doce, batata baroa, inhame e aipim (BRASIL, 2017). Para serem próprios para o consumo, devem vir de espécimes vegetais genuínos e satisfazer os critérios de qualidade que são: ser proveniente de colheita recente, secagem ao sol em locais secos, ventilados e limpos, desenvolvidos com tamanho, aroma e sabor característicos da sua espécie, não estar danificados, livres de terra, isentos de umidade e não apresentarem rachaduras ou cortes na casca (BRAZIL, 1978; SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). As principais análises físicas desses elementos estão relacionadas às suas dimensões, como é o caso da batata com limites de tolerância estabelecidos pela IN nº 27 (BRAZIL, 2017). As cinzas totais estarão relacionadas com o índice de refinação, na farinha de mandioca, por exemplo, a maior concentração de cinza indica contaminações, nos açúcares irão dificultar a cristalização e a descolorização. Além dessas análises físico-químicas, também será avaliada a umidade, as proteínas, as cinzas, os lipídeos e os carboidratos presentes nesses alimentos (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 2008). Outros compostos químicos poderão ser avaliados, como o cianeto presente na mandioca. Dependendo da quantidade, a mandioca poderá ser considerada brava ou amarga e será usada apenas para fins industriais e se considerada mansa (macaxeira e aipim) poderá ser utilizada para o consumo (EMBRAPA, 2005; SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). Raízes e tubérculos seguirão um padrão mínimo microbiológico, o máximo aceitável de bactérias do grupo coliforme fecal é 2x102 UFC/g, segundo IN nº 12, de 1978, ausência de salmonela em 25g de alimento. 2.3 Controle e qualidade das frutas e hortaliças As frutas serão classificadas pelo tamanho, pela cor e pela qualidade, segundo padrões oficiais atualizado em 2017 (BRASIL, 2017b). Foi criado um programa paulista para melhoria dos padrões comerciais e de embalagem em 1997, alterado para Programa Brasileiro para modernização da Horticultura, visando o estabelecimento de normas e padrões de qualidade para comercialização de frutas (PBMH, 2017; SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). Mais de 40 cartilhas de classificação foram reeditadas ao longo dos anos. Assim como para hortaliças, há cartilhas específicas de classificação também para as frutas (PBMH 2017). 44 Figura 6 - Produção de frutas Fonte: Aluxum, iStock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra várias frutas que podem representar a produção de frutas no país. Os requisitos mínimos exigidos são estabelecidos pela portaria DAS nº 99, de 2017. São avaliadas a maturação das frutas, a determinação do ponto de colheita, verificando a mudança de coloração da casca, o crescimento da fruta, a acidez, a firmeza da polpa, o teor de sólidos totais, entre outros. Sobre os padrões microbiológicos das frutas, são estabelecidos pela RDC 12, de 2001, os limites máximos de coliformes a 45°C e ausência de salmonella sp (BRASIL, 2001; SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). Para hortaliças, legumes e similares, como cogumelos, foram estabelecidos os limites de coliformes também a 45°C e ausência salmonella em 25 g. Para as que forem branqueadas, foram adicionados limites para os estafilococos coagulase positiva (BRASIL, 2001; SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). 3 CONCEITO INTEGRADO DE SEGURANÇA NA CADEIA PRODUTIVA É um conceito complexo e basicamente é conhecido como sendo capaz de juntar benefícios estratégicos e operacionais ao longo da cadeia produtiva, visando ganhos na integração, ou seja, o conceito integrado de segurança na cadeia produtiva irá focar na excelência dos processos e é hoje uma forma de gerir os negócios com vários representantes da cadeia de produção. Nesse processo, todas as partes envolvidas na elaboração de um produto poderão estar integradas em um único sistema, garantindo o trabalho efetivo rumo ao mesmo ideal (TALAMINI; PEDROZO; SILVA, 2005) . Veja a representação desse processo no esquema a seguir. 45 Figura 7 - Gestão de segurança na cadeia produtiva Fonte: Johnkworks, Shutterstock, 2020. #ParaCegoVer: A imagem mostra vários locais por onde passam o produto em seu processamento e depois as flechas indicam como eles podem ser transportados até chegar ao consumidor, indicando a gestão da segurança da cadeia produtiva. Existem alguns elementos de decisão-chave para o conceito integrado de segurança na cadeia produtiva, são eles se os processos estão conectados: os membros de cada cadeia, os componentes da gestão da cadeia e a estrutura da cadeia. As dimensões estruturais de uma cadeia também são necessárias para gerenciar a cadeia de suprimentos, são elas: Estruturas horizontais: número de camadas na cadeia. Estruturas verticais: onde poucas empresas estarão presentes em cada nível. Além das dimensões, há também os tipos de ligações entre os membros, como ligações gerenciadas, processos monitorados, processo não gerenciados e processos com não membros (TALAMINI; PEDROZO; SILVA, 2005). 46 4 CONCEITO DE BOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS (BPA) Todas as práticas que estejam relacionadas a medidas necessárias para garantir a segurança do alimento em todas as etapas da cadeia alimentar são conhecidas como boas práticas de higiene. O conceito geral de Boas Práticas (BP) aplica-se a regras que se praticadas irão contribuir para minimizar os riscos. Para assegurar que os produtos sejam feitos conforme especificação e ausentes de perigos, as BP garantem que os procedimentos de fabricação e de controle de qualidade sejam realizados. Elas podem ser aplicadas em vários segmentos da cadeia alimentar e quando são aplicadas à produção de alimentos no campo são denominadas de Boas Práticas Agrícolas (BPA) (SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). Elas visam proteção a saúde do consumidor, principalmente quando relacionada a doenças que poderiam ser transmitidas por meio do consumo direto ou indireto dos produtos agrícolas. Além disso, visa também garantir a adequação do produto agrícola para o consumo e a manutenção da confiança sobre esses produtos nos mercados nacionais e internacionais (SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). Incluem também o período de carência dos agrotóxicos, adequações no uso de tecnologias e EPIs (equipamento de proteçãoindividual), manejo das pragas, destino da sobra dos agrotóxicos e do descarte das suas embalagens, a forma que o alimento será embalado e transportado, entre outros fatores. Todos estes procedimentos convergem em minimização dos riscos e proteção da saúde do consumidor via redução das contaminações químicas, por meio do uso de agrotóxicos, contaminação física e biológica dos alimentos (EMBRAPA, 2017d). Existem algumas etapas para a implantação da BPA. Ela se inicia com nível mínimo e vai evoluindo para as ações mais complexas, que incluem avaliações APPCC e uso de Sistemas de Qualidade, como ISO 9000 e ISO 22000 (SARDÁ, FERRAREZZO., 2018). 5 PRODUTOS BRASILEIROS NO MERCADO INTERNO E INTERNACIONAL O Brasil é um grande exportador e consumidor de produtos que vimos até aqui, veja um panorama de cada um no mercado interno e internacional. Carne Sobre a cadeia produtiva da carne e sua produção, na atualidade o mercado brasileiro conta com um rebanho de 209 milhões de cabeças, mais que o dobro do valor de 40 anos atrás. Além disso, havia a dependência de importação para o consumo interno e várias questões sanitárias 47 complexas que não permitiam a sua exportação. Esse avanço foi decorrente da adoção de tecnologias, manejo, saúde e genética do animal (EMBRAPA, 2017d). A melhoria genética e pastagem do rebanho, com introdução do gado zebu, técnicas de fecundação in vitro, clonagem e produção de embriões foram de grande importância para a expansão da produção na região central do país. Além disso, a indústria de nutrição animal contém as melhores e atuais tecnologias do mercado, seguindo uma rígida legislação e fiscalização que impedem que os gados sejam alimentados de produtos de origem animal, minimizando risco da ocorrência do mal da vaca louca, um problema encontrado com frequência na produção de carnes no mundo e inexistente no Brasil (EMBRAPA, 2017d). Frango No ranking de exportação, o Brasil também ocupa o primeiro lugar da cadeia produtiva de frangos. O consumo de carne de frango no país também é alto, cerca de 41 kg de frango por habitante em um ano, não apenas in natura, mas também em produtos processados. Ovo Assim como a carne de frango, o brasileiro consome muito ovo, cerca de 190 ovos por ano por pessoa, são produzidos mais de 30 bilhões de unidades todos os anos e cerca de 10.000 toneladas são exportadas. Frutas O Brasil exporta, ainda, cerca de 40 milhões de toneladas de frutas por ano e ocupa o terceiro lugar entre os maiores produtores, perdendo para a China e Índia. Entre as frutas mais produzidas está a banana, uva, laranja, maça e a melancia, correspondendo 58,4% da produção de frutas do mundo (CARVALHO, 2017; IBGE 2017). Pescados Sobre a comercialização de pescados no nosso país, segundo dados atualizados do Mapa, vem aumentando ao longo dos anos e supera a recomendação estabelecida pela OMS de 12 kg/pessoa/ano. Porém ainda é menor que a média mundial de 20kg (BRASIL, 2017b; SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). O agronegócio sempre contribuiu para a balança comercial do Brasil. Atualmente, o país atinge valores recordes nas exportações. De 1998 a 2013 a balança comercial fechou em US$ 82,9 bilhões. Entre os produtos em expansão encontra-se a soja, que em 2011 representou 3,81% do valor de exportações agrícolas, com taxa anual de crescimento de 12,5% (PEREIRA et al., 2016) . 48 6 PARÂMETROS CRÍTICOS A CONSIDERAR NA CADEIA PRODUTIVA Entre os parâmetros críticos para considerar na cadeia produtiva, as bactérias, os fungos e os parasitas apresentam um perigo microbiológico e são responsáveis pelo desenvolvimento da maioria das DTA. Entre os principais agentes de surtos de contaminação registrados estão: o Clostridium botulinum e Clostridium perfringens, Salmonela sp, Staphylococcus aureus, Bacillus cereus, Escherichia coli, Listeria monocytogenes, Vibrio spp, Clostridium botulinum e Clostridium perfringens (GERMANO; GERMANO, 2008; SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). Os parâmetros críticos na produção avícola, como carnes e ovos, são as contaminações por bactéria ou substâncias nocivas à saúde humana. Um fator preocupante à segurança e qualidade do produto são os metabólicos químicos provenientes das microtoxinas, rações ou drogas veterinárias ou mesmo os pesticidas. Nos ovos, temos um exemplo recente, a presença de melamina, usada para produzir resina, resultado do consumo de ração contaminada. Surgiram então alguns programas destinados a monitorar essa substância nos ovos e também nas carnes no âmbito mundial, já que houve relatos de problemas à saúde humana (MAZZUCO, 2011) . Nos pescados, o problema mais usual é no processo da salga, conhecido como a “vermelhidão”, que acontece pela ação de bactérias halofílicas, que poderão estar no sal ou “saltão”, ocorre devido ao desenvolvimento da larva de mosca (VASCONCELOS, 2010; SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). Sobre os patógenos mais frequentes e que representam um ponto crítico a ser considerados na cadeia produtiva, estão a bactéria Salmonella, Compylobacter e Escherichia coli e afetam milhões de pessoas anualmente. Entre os alimentos envolvidos nos surtos da salmonelose estão os ovos, as aves e outros produtos de origem animal. Para o Campylobacter estão o leite cru e as aves cruas; em relação à Escherichia coli, o leite não pasteurizado e a carne malcozida, assim como frutas e vegetais mal lavados (SARDÁ; FERRAREZZO, 2018). A qualidade da água acaba sendo um dos pontos críticos a ser considerado, visto que a boa qualidade da água pode influenciar no desempenho e na saúde dos animais. É possível definir a qualidade da água pela presença de uma ou mais características: odor, aparência, sabor, teor de macro e micronutrientes, presença de microrganismos e substâncias tóxicas, propriedades químicas e físicas. Qualquer alteração relacionada a esses aspectos e também em relação aos hábitos alimentares e perda de saúde dos animais serão motivos para uma análise da sua composição (PALHARES, 2014) . Para a produção segura de proteína animal, além do volume de água, garantido pelas riquezas 49 hídricas do Brasil, é necessário que ela seja disponibilizada com qualidade. A falta de saneamento, tanto urbano quanto rural, o processo e a urbanização e industrialização, problemas relacionados à fiscalização e até mesmo o estímulo dos sistemas agropecuários associados ao desconhecimento da importância do cuidado hídrico para a produção animal podem expor a água a várias ameaças (PALHARES, 2014) . São muito os parâmetros a serem considerados na cadeia produtiva e eles serão distintos dependendo do produto e sua origem. Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: 50 Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • entender o conceito de alimento seguro; • compreender as diferenças entre os princípios de food safety e food security • conhecer os principais órgãos de regulação na área de segurança dos alimentos e segurança alimentar; • estudar as principais fontes de contaminação dos alimentos: química, física e micro- biológica; • aprender sobre as ações dos microrganismos nos alimentos, com destaque para as doenças transmitidas por alimentos (DTA); • conhecer os diferentes conceitos e definições empregados para qualidade; • aprender sobre as quatro eras relacionadas à evolução dos procedimentos de quali- dade: inspeção, controle estatístico da qualidade, garantia da qualidade e gestão da qualidade total; • conhecer alguns dos principais gurus e estudiosos da área de qualidade; • compreender a diferença entre controle e garantia da qualidade; • entender sobre a relevância dos conceitos de qualidade para o mercado. PARA RESUMIR ACADEMIA PEARSON. Gestão da qualidade. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2011. ANVISA. Boas práticas de manipulação em serviços de alimentação. 2014. Módulo I: Entendendo a contaminação dos alimentos. Disponível em: https://jundiai.sp.gov.br/ saude/wp-content/uploads/sites/17/2015/01/Aula-1.pdf. Acesso em: 04 abr. 2020. BOND, M. T.; BUSSE,
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