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Livia Fornaciari- Dominio público de personagens com varias versões (mickey mouse)

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO (PUC – RIO) 
DIREITO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL 
 
 
LIVIA FORNACIARI MARCOS 
 
 
 
O DOMÍNIO PÚBLICO DE PERSONAGENS COM VÁRIAS VERSÕES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2023 
1/12 
 
O DOMÍNIO PÚBLICO DE PERSONAGENS COM VÁRIAS VERSÕES 
 
LIVIA FORNACIARI MARCOS 
 
 
 
RESUMO 
O artigo explora o conceito de domínio público de forma geral e faz uma especial análise 
para personagens fictícios, com ênfase no icônico Mickey Mouse da Walt Disney. O 
estudo compara os sistemas copyright versus Droit D´Auteur e destaca as mudanças 
legislativas que os EUA fizeram no último século, que atingiram diretamente a proteção 
autoral do personagem Mickey Mouse. Após uma proteção autoral de 95 anos, a primeira 
versão do Mickey Mouse, que é a do desenho lançado em 18/11/1928, cai em domínio 
público, onde qualquer um poderá criar obras derivadas e explorá-las sem que a Disney 
possa se opor. O artigo conclui com os desafios enfrentados nesse momento. 
Palavras-chave: Direito autoral. Domínio público. Mickey mouse. Primeira versão do 
Mickey mouse. 
 
INTRODUÇÃO 
Uma obra com personagens fictícios é um grande quebra-cabeça, primeiro fruto 
do imaginário do autor, depois fruto do imaginário das pessoas que se esforçam para dar-
lhes sentido na ordem material das coisas. As crianças acreditam, os adultos se inspiram. 
É assim que a sociedade tem desenvolvido a habilidade de transformar os personagens 
fictícios em realidade. 
A legislação trata a interação da obra com a sociedade através da liberdade de 
expressão e do direito de exploração, sendo que ambos os direitos estão previstos na 
Constituição Federal brasileira. Contudo, como já é implícito no ordenamento jurídico 
brasileiro, o assunto também é tratado em lei específica, a lei 9.609/96. Nessa lei, tais 
direitos ganham o nome de “direito do autor” e “direito conexo”. 
Conforme será discorrido no presente trabalho, a lei brasileira define que o prazo 
para o domínio público da obra é de 70 anos a contar do dia primeiro de janeiro do ano 
subsequente à morte de seu autor, entretanto, o que chama a atenção é que esse prazo não 
é comum para os países signatários da WIPO. Para se ter uma ideia, nos EUA esse prazo 
2/12 
 
é de até 95 anos do lançamento da obra. Além dessa discrepância de prazos, há outra que 
merece destaque: é que o sistema autoral estabelecido nos EUA é o copyright, sistema no 
qual é protegida a obra, sem que haja um direito moral. Já o Brasil é diferente, pois segue 
o direito do autor (“Droit D´Auteur”). 
Na transição para o domínio público, uma fase vital no ciclo de vida de uma obra, 
a legislação busca um equilíbrio entre interesses sociais e econômicos. O domínio público 
libera a obra para uso amplo, desencadeando oportunidades para exploração, adaptação e 
transformação. Este conceito, fundamental para a compreensão do presente trabalho, será 
analisado em profundidade, com foco especial nas implicações do domínio público para 
o icônico personagem de desenho animado, Mickey Mouse. 
Nesse contexto, será analisado o direito autoral da Walt Disney sobre o 
personagem fictício Mickey Mouse, cujo domínio público está previsto para o início de 
2024. O impacto do Mickey na indústria infantil e adulta é inegável, e alcança grandes 
receitas1 em todo o mundo, sendo assim, sua queda em domínio público será um grande 
marco para a Propriedade Intelectual e o Direito Autoral como um todo. 
A metodologia adotada será a de revisão bibliográfica descritiva, de temas 
atinentes ao instituto do domínio público das obras autorais, passando por suas razões 
sociais e econômicas, com breve análise comparada do copyright e do Droit D´Auteur, 
finalizando com considerações acerca do personagem fictício Mickey Mouse, da Disney. 
Para tanto, serão utilizados livros, artigos e periódicos. 
 
DESENVOLVIMENTO 
Os personagens fictícios podem assumir várias formas e desempenhar diversos 
papéis em diferentes narrativas. Seus autores os criam com o objetivo principal de contar 
uma história e em muitos casos o personagem ganha tanto reconhecimento social e 
 
1 The world's most famous mouse may be turning 75 years* old today, but he hasn't aged a bit. Ever since 
his birth in 1928, Mickey Mouse has reigned in the fictional characters' kingdom and presided over The 
Walt Disney Co. 's empire. A testimony to his enduring appeal is that today, as a senior citizen, he still 
manages to rank second on our annual list of the Top-Earning Fictional Characters, with a $4.7 billion 
income. Even in his old age, Mickey Mouse still beats youngsters such as Viacom 's SpongeBob 
SquarePants, Marvel Enterprises ' Spider-Man and 4Kids Entertainment 's Pokemon. *Não foi localizada 
informação atualizada sobre os lucros. FORBES. At 75, Mickey Mouse Still Makes Billions. Forbes 
Nova Jersey. Publicado em 18/11/2003. Disponível em: 
<https://www.forbes.com/2003/11/18/cx_al_1118mickey.html?sh=53cb2a08baf1>. Acesso em: 
03/12/2023. 
https://www.forbes.com/2003/11/18/cx_al_1118mickey.html?sh=53cb2a08baf1
3/12 
 
econômico, que passa a ser conveniente contar uma história própria e exclusivamente 
dele. Contudo, nada disso seria possível sem os requisitos para a proteção dos direitos 
autorais. 
Para serem passíveis de proteção legal, a criação deve a) ser humana, b) estar 
externalizada em algum meio ou suporte que seja passível de percepção e reprodução, c) 
ser original2; d) e estar dentro do prazo de proteção da lei. Primeiro, o requisito da 
humanidade está atrelado à necessidade de a obra ser uma emanação do espírito, 
conforme determina a legislação brasileira em seu art. 7º da LDA3. A exigência da 
humanidade subtende que um animal ou a inteligência artificial, por exemplo, não podem 
ser sujeitos de direito autoral, uma vez que não possuem consciência e não se expressam 
por meio de criações de cunho íntimo e de seu interior.4 
Já a exigência de a obra ser externalizada em algum suporte passível de percepção 
e de reprodução está diretamente relacionada à expressividade do autor. É impossível 
proteger o desconhecido, entrando aqui a noção de um pensamento ou de uma ideia. 
Nesse sentido, ROCHA SOUZA e SCHIRRU discorrem que o direito autoral protege a 
forma que contém a ideia, e não a ideia em si. É nesse contexto que os autores inserem o 
requisito estético da obra, cujo conceito abarca não somente as coisas visualmente 
perceptíveis, mas também sons e formas, o que importa, em essência, é sentir a existência 
da obra5. 
Ainda no assunto dos requisitos para a proteção dos direitos autorais, o requisito 
da originalidade é o principal e o mais polêmico. De início, vale distinguir obra originária 
de obra original, nas palavras de ABRÃO (2021, p. 94). 
O conceito de original não deve ser confundido com o de originário. Obra 
originária (art. 5º, VIII, “f”) é a criação primígena da qual decorrem outras 
obras adaptadas, traduzidas, musicadas, etc. Originária é aquela que pôde ser 
transformada em outras de gênero diferente, como o livro que deu origem ao 
filme. 
 
Noutras palavras: obra originária é aquela que pode ser transformada em outras 
derivadas, e obra original, é aquela que inaugura uma tendencia (Mickey). Segundo a 
 
 
3 Lei 9.610 de 1998, Lei de Direitos Autorais, LDA. 
4 ROCHA SOUZA e SCHIRRU. Rascunho. Obra protegida e não protegida, p. 4. 
5 ROCHA SOUZA e SCHIRRU. Rascunho. Obra protegida e não protegida, p. 5. 
4/12 
 
autora, não há hierarquia entre estas, já que é a criatividade que fornecerá a identidade e 
individualidade no caso concreto.6 
A novidade e a singularidade da criação também são requisitos essenciais 
atrelados à originalidade, garantindo que a obra contribua de maneira significativa para o 
panorama cultural. Aliás, há uma discrepância legislativa quanto à aplicabilidade da 
proteção autoral, flutuando entre a proteção de apenas obras relacionadasà literatura, 
ciência e arte, e contrapondo-se a obras de cunho em geral. A discrepância ocorre tanto 
no âmbito nacional como no âmbito internacional, contudo, no cenário brasileiro o 
conceito mais abrangente e otimista está previsto na Constituição Federal e é, portanto, o 
adotado: Art. 5º CF, inciso XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, 
publicação ou reprodução de suas obras literárias, artísticas e científicas, transmissível 
aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar (grifo nosso); 
A humanidade, a exteriorização e a originalidade, entretanto, não são os únicos 
requisitos considerados. A obra também deve ser resultado do esforço intelectual do 
autor, envolvendo uma quantidade substancial de trabalho criativo. Esse requisito busca 
distinguir fatos e ideias, de uma expressão original desses elementos, sendo que esse 
esforço intelectual criativo é medido, até certo grau, pela noção de novidade. A noção de 
novidade aqui não é tão exigente como no direito patentário – aqui a novidade é no sentido 
de autenticidade, de originalidade da coisa. 
Outro requisito para que a obra seja passível de proteção por direito autoral é a 
não utilização, integral e exclusiva, de elementos preexistentes7 que já estejam em 
domínio público, pois o domínio público libera a exploração da obra, mas não o direito 
autoral do conteúdo da obra, em si8. Portanto, segundo ROCHA SOUZA e SCHIRRU9, 
a usurpação da autoria, é considerada plágio e não é permitida pelo sistema jurídico. 
Em resumo, esses requisitos garantem que a proteção legal seja concedida a obras 
que verdadeiramente representem uma contribuição valiosa para a sociedade, 
 
6 ABRÃO, 2021, p. 94. 
7 Cada obra deve ser protegida individualmente, desde que não seja espelho, ou derivação de outra pré-
existente. O direito de cada autor a uma obra termina onde começa o direito do outro à obra respectiva. 
ABRAO, 2021, p. 26. 
8 A perpetuidade do vínculo autor-obra – uma vez publicada, uma obra jamais deixará de estar vinculada 
a seu autor, sendo este conhecido. O exercício dos direitos prescreve com o tempo, mas o vínculo a 
autor/obra é, de fato, indissolúvel. ABRÃO, 2021, p. 25. 
9 ROCHA SOUZA e SCHIRRU. Rascunho. Obra protegida e não protegida, p. 6 
5/12 
 
promovendo assim a inovação e a diversidade criativa. Falando em contribuição valiosa 
para a sociedade, é hora de adentrar o campo do domínio público. 
Segundo BRANCO (2011, p. 37-38), o Direito autoral é um gênero, do qual o 
direito do autor e o direito patrimonial, também chamado de direito conexo, são 
espécies10. A respeito do domínio público, este recai apenas sobre o aspecto patrimonial 
da obra, estando relacionado com o requisito da externalização, já que atine ao objeto - 
corpus mechanicum -, em si, e não à concepção do espírito – corpus misticum -11. O 
conceito de domínio público refere-se ao status de uma obra que não está mais protegida 
por direitos autorais patrimoniais, seja por decurso de prazo de proteção ou por ou 
renúncia intencional do seu autor. Antes de entrar em domínio público, a obra está no 
período de proteção, também chamado de “temporariedade” (do que é temporário). Para 
fins deste trabalho, será tratado apenas o domínio público por esgotamento de prazo, 
dispensada a hipótese da renúncia. 
O domínio público é uma necessidade social na medida em que derruba a proteção 
autoral da obra, liberando-a para ser usada por todos independentemente de autorização 
do autor. Em domínio público, as obras podem ser exploradas, alteradas, reeditadas, 
transformadas, traduzidas ou adaptadas, sem que seja necessário o estabelecimento de 
contrato entre o autor e o segundo agente para que isso seja possível. O segundo agente 
pode, sem represálias, auferir lucro com a obra alheia em domínio público. 
Obras em geral entram em domínio público contados 70 anos a partir da morte do 
seu autor ou do seu último coautor, entretanto esse prazo é contado de forma diferente 
para obras fotográficas e audiovisuais, sendo a partir da data da publicação. Essa distinção 
é importante ao presente trabalho, pois mais à frente será tratado o caso do domínio 
público do personagem fictício Mickey Mouse. 
Há razões sociais e econômicas correlatas ao instituto do domínio publico e ambas 
falam sobre o “retorno de algo” e a busca do equilíbrio entre os interesses privados e 
públicos, tidos na figura do autor e da sociedade, respectivamente. 
 
10 Os direitos autorais seriam, portanto, gênero, do qual os direitos de autor e os direitos conexos seriam 
espécies. BRANCO, 2011, p. 37-38. 
11 A doutrina usualmente chama a obra intelectual de corpus misticum, enquanto que ao bem físico se 
costuma atribuir a denominação de corpus mechanicum. Dessa forma, a LDA visa a proteger a obra 
intelectual, não seu suporte. BRANCO, 2011, p. 39. 
6/12 
 
Das razões sociais, segundo Branco (2011, p. 56), o domínio público nasce da 
necessidade que o ser humano tem de se expressar e de se comunicar, sendo assim, a 
concepção de uma obra “não é fruto de uma geração espontânea: toda a cultura, de todos 
os lugares e épocas, é reflexo das circunstâncias”. O autor completa dizendo: “Toda 
criação é, de certo modo, uma derivação”. Nesse sentido, o domínio público seria o 
resultado da sociedade retornando, de fato, à sociedade, é a contribuição do indivíduo no 
todo. 
Das razões econômicas, há dois enfoques, um diretamente relacionado ao autor 
da obra e outro relacionado à exploração da obra por terceiros. A respeito do autor da 
obra, tem-se que o prazo de proteção é imprescindível para que este obtenha o retorno 
financeiro almejado, sendo assim, a proteção também atua como um incentivo à 
propriedade intelectual. Nas palavras de FULIARO, apud BRANCO: 
As razões desta proteção já foram especuladas, chegando-se à conclusão de 
que a norma visa a assegurar a necessária segurança financeira ao autor 
para que faça do desenvolvimento da arte seu ofício, garantindo-lhe, 
também, que sua família não estará imediatamente desamparada no caso de 
seu falecimento. (2011, p. 59). 
 
Contudo, do enfoque da exploração da obra por terceiros, quanto maior o prazo 
de proteção, maior a perda do valor econômico sofrida pela obra12, em decorrência do 
surgimento de obras novas – com as quais as obras mais antigas precisam competir -. Na 
análise de exploração econômica deve-se questionar qual é o potencial de lucro por 
licença ou cessão, que determinada obra é capaz de oferecer. Sobre esse aspecto, 
LANDES, William M. e POSNER, Richard, apud BRANCO13, citam um exemplo 
esdruxulo e, por isso mesmo, muito claro: 
(...) uma coisa é alguém ter que pagar por obras criadas a partir do início do 
século XX. Outra, bem diferente, é pagar pela utilização de qualquer obra 
criada desde que o ser humano aprendeu a se expressar. Quanto ao argumento 
de que seria muito difícil encontrar os titulares de direitos referentes a obras 
produzidas há muitos anos (ou séculos), 
 
 
12 Em síntese, por todo o exposto, do ponto de vista do autor, não parece haver – em regra – interesse em 
fazer incidir sobre a obra intelectual direitos autorais perpétuos. Se o fundamento primeiro da exclusividade 
é remunerar o autor, o fundamento se perde tão logo este venha a falecer. Se a manutenção do direito se dá 
para além da morte do autor com o intuito de não desamparar os familiares, nem sempre esse objetivo será 
alcançado, já que a maior parte das obras perde seu valor econômico com a passagem do tempo. Uma das 
razões da perda do valor econômico ocorre certamente por conta do surgimento de obras novas – com as 
quais as obras mais antigas precisam competir. Como consequência, muitas vezes os próprios autores 
deixam de ter interesse na republicação de suas obras. BRANCO, 2011, 62. 
13 BRANCO, 2011, p. 63. 
7/12 
 
Assim sendo, uma extensão excessiva na proteção dos direitos autorais 
inevitavelmente desencorajaria a produção culturale prejudicaria o sistema de exploração 
e divulgação de obras. Por outro lado, a presença do domínio público fomenta a 
criatividade e facilita o acesso a criações intelectuais. 
Nas palavras de BRANCO (2011, p. 57), “quanto mais extenso o domínio público 
(e, portanto, menor o prazo de proteção), maior o manancial para a (re)criação livre”. 
(acréscimo nosso). No mesmo sentido, ao discorrer sobre o Primado do Interesse Público 
no Direito Autoral, ASCENÇÃO comenta14: “Houve uma consciência muito nítida que a 
atribuição de direitos exclusivos implicava uma restrição de liberdade dos outros. (...) 
(por isso) as restrições deveriam ser temporárias (...)”, e assim o é. 
Tudo o tecido até o momento está relacionado a obras originárias que caem em 
domínio público, sendo justamente o caso do Mickey Mouse, que será tratado adiante. 
Primeiramente, para contextualizar, “Mickey Mouse” é um personagem de 
desenho animado da Walt Disney, protagonista de aventuras e muito carismático. Ele foi 
concebido por Walter Disney em um trem, por meio de rabiscos em um guardanapo em 
um dia difícil. Seu nome foi escolhido pela Lilly, esposa do Walter. Walter era desenhista 
e estava na área de animações há um tempo, mas nenhum de seus personagens havia 
emplacado até então, aliás, até o próprio Mickey sofreu um pouco para emplacar. Isso, 
porque, antes do primeiro sucesso houve outras duas versões do personagem. 
Na versão que fez sucesso, lançada em 18 de novembro de 1928, o desenho era 
em cores preto e branco, o boneco não possuía luvas nas mãos e a voz do personagem era 
dublada pelo próprio Walter Disney. É com toda certeza uma obra de sucesso, que agora 
está entrando em domínio público e, como já é de conhecimento comum, a empresa 
Disney e o homem Walter Disney são estadunidenses, e ele, o criador do Mickey Mouse, 
hoje já é falecido. 
Merece destaque a nacionalidade do autor e da obra, porque a lei de Direitos 
Autorais é territorial e, muito embora seja um tema internacional tratado na convenção 
de Berna, a legislação brasileira e a dos EUA tem algumas importantes diferenças, para 
 
14 Houve uma consciência muito nítida que a atribuição de direitos exclusivos implicava uma restrição da 
liberdade dos outros. O fundamento foi encontrado numa razão de interesse público: as restrições deveriam 
ser temporárias, e justificavam-se por a atribuição dos direitos, recompensando o autor, estimular a 
criatividade. Passado o periodo normal de protecção, dar-se-ia a queda no domínio público. ASCENÇÃO, 
2022, p. 115. 
8/12 
 
começar, o Brasil cuida do tema a partir do “Droit D´Auteur” (ou direito de autor 
europeu), ao passo que os EUA cuidam a partir do copyright. 
Dentro do Direito comparado, o “Droit D´Auteur” se baseia na teoria da 
propriedade-trabalho e na remuneração da criação, estando muito interligado com a ideia 
da função social e econômica da temporariedade da proteção e também da entrada no 
domínio público. Em contrapartida, o sistema copyright se baseia na obra como um fato 
comercial, sendo, no primeiro momento, independente de “quem a produziu”. É uma 
situação patrimonial cuja proteção atua como um monopólio visando o incentivo 
econômico. 
Uma distinção evidente entre o sistema copyright e o “Droit D´Auteur” reside na 
perspectiva utilitarista do primeiro. Segundo PAUL GOLDSTEIN, apud BRANCO 
(2011, p. 120), no utilitarismo há grande interesse em prorrogar o prazo de proteção do 
direito autoral, fundamentado na natureza utilitária da obra, visando estimular a criação 
de novas obras com vistas ao retorno financeiro. Em contraste, no âmbito do Droit 
D'auteur, no qual se pode invocar fundamentos de direito natural, o autor desfruta de 
proteção motivada por considerações éticas e de justiça, de interesse mais social que 
financeiro, sendo assim não há interesse em prorrogar o prazo da proteção autoral, pois 
prejudicaria o gozo das obras. 
Visto isso, é possível compreender o que ocorreu com a legislação americana (dos 
Estados Unidos) nos últimos tempos. Baseada no sistema copyright, a legislação 
americana passou por mudanças para prorrogar o prazo de proteção autoral das obras15. 
Para se ter uma ideia, quando o personagem Mickey Mouse nasceu, o prazo de proteção 
do direito autoral nos EUA era de 28 anos, sendo que ao longo de várias mudanças 
alcançou-se o prazo de 50 (Convenção de Berna), 70, 95 e 120 anos, vigentes. A 
problemática dessas alterações sucessivas de prazos é que seus efeitos foram modulados 
 
15 A primeira lei de direitos autorais federal, promulgada em 1790, especificou um prazo inicial de quatorze 
anos, renovável pelo mesmo prazo, desde que o autor ainda estivesse vivo ao final do prazo inicial. O prazo 
inicial foi ampliado para vinte e oito anos em 1831 e o prazo de renovação, para vinte e oito anos, em 1909, 
para quarenta e sete anos, em 1962, e para sessenta e sete anos em 1998. O Copyright Act de 1976 passou 
[o prazo de proteção] de um prazo fixo a um prazo variável, mas ainda limitado, consistente na vida do 
autor mais cinquenta anos, elevados para a setenta anos em 1998 pela Sony Bono Copyright Term Extension 
Act. A Lei de 1976 fixou um prazo para os trabalhos sob encomenda de setenta e cinco anos a partir da 
publicação ou 100 anos a partir da criação, o que expirasse primeiro; o Sony Bono Act estendeu estes termos 
a noventa e cinco e 120 anos. A Lei de 1976 também tornou os direitos autorais sobre obras criadas após 1 
de janeiro de 1978 não renováveis, mas permitiu que cessões e outras transferências de direitos autorais 
produzissem efeitos para o autor ou seus herdeiros até trinta e cinco anos após a cessão ou transferência. 
BRANCO, 2011, p. 122. 
9/12 
 
permitindo que obras já em domínio público pudessem retomar a sua proteção autoral, se 
cumpridos alguns requisitos. Nas palavras de BRANCO, “o efeito da medida compromete 
substancialmente o domínio público”. (BRANCO, 2011, p. 124). 
Nos EUA, os prazos de 70, 95 e de 120 anos são aplicados em situações diferentes. 
Basicamente, a proteção dura a vida do autor mais 70 anos, entretanto, se a obra foi feita 
sob encomenda ou se se trata de obra anônima ou pseudônima, são 95 anos contados da 
data de publicação ou 120 anos a partir da criação, o que ocorrer antes. Há algumas 
modulações desses prazos, mas o que importa ao momento é que o personagem fictício 
Mickey Mouse primeiro teria proteção autoral de 28 anos, depois passou a ter 50 anos 
(adotado na Convenção de Berna), depois 70, que venceria em 2003, e prorrogado a 95 
anos, vencendo-se no final do ano de 2023, com domínio público em primeiro de janeiro 
de 2024. 
Mickey é uma obra que preenche todos os requisitos para a proteção autoral 
discorridos anteriormente. Entretanto, apesar do decurso temporal e da sua entrada em 
domínio público, esse personagem pertence a um contexto narrativo cujas versões 
continuam sendo feitas e refeitas. O personagem saiu da televisão e ganhou vida nos 
parques de diversões e nas prateleiras, e, ainda, deixou de ser personagem para assumir 
também o papel de marca e trade dress. Mickey está muito longe de ser esgotado. O 
personagem é apenas um, sendo que suas versões alteram suas características, como 
roupinhas, luvinhas, cores, sons e cenários. 
Cediço que o domínio público permite que a obra seja explorada por qualquer um, 
desde que lhe seja alterada e incrementada alguma coisa capaz de configurar uma obra 
original, do contrário, estará configurada a usurpação da autoria, considerada plágio e não 
é permitida pelo sistema jurídico. Aqui, portanto, abre-se as oportunidades da criação e 
exploração de obras derivadas e inspiradas, pois em ambos os casos estará dispensada a 
autorização do autor da obra originária, pois já em domínio público. 
É bom notar que a criação de obra derivada a partir de obra original, que já esteja 
em domínio público, gera direitos autorais (de autor e conexos) para o autor da obra10/12 
 
derivada e esse autor poderá impedir que outros a explorem sem a sua devida autorização. 
Esse direito ele poderá exercer apenas quanto à sua16. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Há grande tensão na indústria como um todo em relação ao domínio público do 
Mickey, sobretudo por se tratar de desenho animado antigo, que surgiu ainda na televisão 
em cores preto e branco. É importante destacar que o domínio público não recai sobre o 
personagem somente, mas sim à obra como um todo, pois ideias e conceitos abstratos não 
são elementos protegidos por direitos autorais. Portanto, ainda que se faça o pinçamento 
do personagem, o direito autoral recai sobre o conteúdo em sua forma total. 
Diante dessas considerações, abre-se dois importantes desafios na indústria 
Disney: Primeiro ela terá o dever de tolerar a exploração por terceiros da primeira versão 
do desenho do Mickey, pois já está em domínio público; e segundo ela terá o direito 
privativo da exploração das outras versões do Mickey e, sobre essas versões, continuará 
com o direito de fiscalizar e impedir que se façam obras derivadas sem a sua autorização. 
Os autores, por sua vez, terão de usar muita criatividade para recriar o primeiro 
Mickey sem aproximá-lo das outras versões sob proteção da Disney. 
 
 
16 Da mesma forma, a utilização de um texto em domínio público, por exemplo, gera para aquele que o 
utiliza (quer reimprimindo-o, quer produzindo uma obra derivada) direito exclusivo de aproveitamento 
econômico sobre aquela utilização (e se não gera direito de propriedade sobre o bem resultante do uso é 
porque a natureza do direito autoral não a comporta). Mas o texto continua à disposição de terceiros, em 
sua integridade. 
11/12 
 
REFERENCIAS BILIOGRÁFICAS 
ABRÃO, Eliane Yachouh. Propriedade intelectual e bens de personalidade: O 
contemporâneo essencial. São Paulo: Editora IASP, 2021 
ASCENÇÃO, José de Oliveira. O direito intelectual em metamorfose. Revista de Direito 
Autoral. São Paulo, volume 2. n 4. Página 3-24, fev. 2006. Disponível em: 
<https://pt.scribd.com/document/430474346/Fichamento-O-Direito-Intelectual-Em-
Metamorfose>. Acesso em: 06 dez. 2023. 
BARBOSA, Denis Borges. Uma Introdução à Propriedade Intelectual. 2ª edição. Rio de 
Janeiro. Editora Lumen Juris, 2010. 
BRANCO, Sergio. O Domínio Publico no Direito Autoral Brasileiro – Uma obra em 
domínio Público. Rio de Janeiro. Editora Lumen Juris, 2011. 
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UERJ, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Tese de doutorado. Orientadora Profª 
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